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Estado do Rio de Janeiro Poder Judiciário

Tribunal de Justiça
Comarca da Capital 165
Cartório da 46ª Vara Cível
Av. Erasmo Braga, 115 Sl 337C, 339C, 341CCEP: 20020-970 - Centro - Rio de Janeiro - RJ Tel.: 3133-2222 e-mail:
cap46vciv@tjrj.jus.br

Fls.
Processo: 0224118-87.2019.8.19.0001
Processo Eletrônico

Classe/Assunto: Embargos à Execução (por Título Extrajudicial), (contra a Fazenda Pública) e


(Carta Precatória) - Cláusulas Abusivas/Direito do Consumidor

Embargante: ABRACIM ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA CIVIL E MILITAR DE SEGURIDADE SOCIAL


Embargado: BEM BENEFICIOS ADMINISTRADORA DE BENEFICIOS LTDA

___________________________________________________________

Nesta data, faço os autos conclusos ao MM. Dr. Juiz


Ana Paula Pontes Cardoso

Em 15/02/2020

Sentença

Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro


Comarca da Capital
46ª Vara Cível

Processo nº. 0224118-87.2019.8.19.0001

SENTENÇA

Trata-se de Embargos à Execução, propostos por ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA CIVIL E MILITAR


DE SEGURIDADE SOCIAL - ABRACIM, MÁRCIO ALVARES DE ARAÚJO e SONIA REGINA
CORREIA em face de BEM BENEFÍCIOS ADMINISTRADORA DE BENEFÍCIOS LTDA,
alegando que o ora embargado, pretende reaver quantia decorrente da diferença de valores não
pagos referentes ao suposto não cumprimento de cláusula contratual, constante no aditivo de
número 1 ao contrato firmado entre as partes em seu item "a", onde está expresso que a
executada para obter a manutenção dos valores contratados, e manteria no contrato o
quantitativo mínimo de 600 vidas.

Impugnam em sua totalidade os documentos apresentados pela exequente, ora embargada,


em especial a planilha com as informações mensais de quantitativos de vidas, por não
expressarem a realidade dos fatos.

Sustentam que a Embargada ao inserir no contrato a cláusula em comento o fez de maneira


unilateral e com a intenção de obter vantagem.

110 ANAPAULACARDOSO
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Esclarecem que é facultado ao beneficiário a opção de aderir a um contrato, não sendo obrigado a
nele se manter. Por conta de vários fatores, dentre eles condições financeiras, insatisfação no
serviço, óbitos, dentre outros, o beneficiário tem o direito de solicitar sua exclusão do
contrato de adesão, podendo invocar a RN 412 da ANS que garante ao consumidor o
cancelamento imediato do contrato.

Aduzem que o valor apresentado como devido não se reveste da liquidez, nem da certeza,
necessárias a que possa ser exigido pela via executiva, bem como, que não condiz com a
realidade fática do contrato.

Alegam que a exequente ocultou informação importantíssima ao juízo, qual seja, de que fora
proibida pela operadora de Saúde Unimed Vale do Aço de efetuar implantações de novas vidas a
partir de janeiro de 2019, fato este que impediu não só a exequente de aumentar sua carteira de
beneficiários, assim como impediu a ora Embargante de também incluir seus beneficiários no
contrato.

Afirmam que jamais deixou de ter em sua carteira de beneficiários junto a embargada número
inferior a 600 vidas.

Alegam ainda que os números reais de beneficiários no contrato nos meses de outubro, novembro
e dezembro de 2018 são bem superiores ao apresentado na execução, e que a
exequente/embargada deixava de promover inclusões e reativações de vidas dentro do próprio
mês solicitado, efetuando o acerto no mês subsequente.

Ressaltam que em momento algum foi apresentada pelo embargado nos autos da execução
embargada, um demonstrativo de cálculo com minuciosa descrição do suposto débito, motivo
pelo qual, é inconteste a total ausência de exigibilidade, liquidez e certeza do montante
correspondente ao valor exequendo.

Sustentam que o demonstrativo apresentado com a inicial, como prova documental, é insuficiente
para a comprovação do débito, o que enseja a obrigatória realização de perícia contábil no
referido demonstrativo, o que desde já se requer.

Requerem sejam providos os presentes Embargos para:

a) Declarar nula a execução promovida pelo embargado, nos termos do artigo 608, I, do
Código de Processo Civil, eis que não estão presentes os requisitos da liquidez e certeza do
crédito executado;

b) Declarar a nulidade das cláusulas contratuais que infringem normas de ordem pública,
assim como a inexigibilidade dos valores delas recorrentes;

c) Condenar o embargado ao pagamento de honorários advocatícios e custas processuais.

Impugnação aos Embargos às fls.143/145, alegando que as normas que regem a relação jurídica
entre as partes não é de ordem consumerista, e que a atividade fim da associação não é de
adquirir planos de saúde na forma de adesão.

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Esclarece que o preço de face do produto é moldado conforme todas as circunstâncias afetas a
existência do próprio contrato, e o número de beneficiários mínimos foi definido na assinatura do
contrato.

Ressalta que não poderia manter o contrato com menos de seiscentas vidas no preço
fixado, apontando para 10% de multa pelo não implemento.

Alega que quando a operadora de saúde Unimed Vale do Aço impediu a venda de novos
contratos fora de uma área de abrangência, os Embargantes poderiam ter buscado novos
formatos de composição, procurando recompor não o equilíbrio contratual, haja vista que a
cláusula mínima de vidas é anterior à cláusula de barreira, mas sim uma limitação ou
flexibilização dos patamares. Contudo, quedou-se inerte, simplesmente ignorando seu dever
firmado no nascedouro contratual. Requer a improcedência dos embargos.

As partes se manifestaram às fls.152/154, e fls.158, vindo os autos a conclusão.

RELATADOS. DECIDO.

Trata-se de Embargos à Execução, propostos por Associação Brasileira Civil e Militar de


Seguridade Social - Abracim, Márcio Alvares de Araújo e Sonia Regina Correia em face de Bem
Benefícios Administradora de Benefícios Ltda, alegando em síntese, que o valor apresentado
como devido não se reveste da liquidez nem da certeza necessárias a que possa ser exigido
pela via executiva, bem como, que não condiz com a realidade fática do contrato.

Alega o Embargado que não são verdadeiras as alegações dos Embargantes, e que não poderia
manter o contrato com menos de seiscentas vidas no preço fixado, apontando para 10%
de multa pelo não implemento, razão pela qual, requer a extinção dos Embargos e o
prosseguimento da execução.

A matéria controvertida nos autos reside na exequibilidade do título executivo.

Compulsando a documentação trazida nos autos, verifica-se que não assiste razão aos
Embargantes, pois não há qualquer nulidade na execução.

O título é líquido, certo e exigível, como faz prova o Acordo de Cooperação Técnica para Oferta e
Disponibilização de Plano e ou Seguro Saúde/Dental juntado às fls.43/54, e seu Aditivo I, no qual
consta estampado às fls.55/63, cláusula "a", que dispõe que "...Durante a vigência deste aditivo
será cobrado o faturamento mínimo mensal de 600 (seiscentas) vidas a partir inclusive da fatura
de 15 de maio de 2018, até esta data a ABRACIM deverá incluir vidas para atingir este
quantitativo. Se em até 30/04/2018, a ABRACIM não tiver com o quantitativo mínimo de 600
(seiscentas) vidas, o preço será reajustado em 10 (dez)% automaticamente para o boleto de
vencimento 15/05/2018."

Trata-se de clausula valida, sendo da essência do plano de saúde coletivo que haja um numero
mínimo de vidas aderindo àquele plano, para que se torne economicamente viável. O quantitativo
mínimo, porem, pode variar de operadora para operadora.

Da análise dos autos, no entanto, verifica-se que os Embargantes não comprovaram o pagamento
das parcelas previstas no contrato a partir do mês de outubro de 2018, conforme se vê na
notificação/cobrança de fls.39/40 (Execução em apenso), motivo pelo qual, assiste razão ao
Embargado quanto à pretensão ao recebimento do valor devido.

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Impende mencionar que caberia aos Embargantes ter provado suas alegações no que tange a
nulidade do título executivo, o que não ocorreu, razão pela qual, verifica-se que não há qualquer
nulidade na execução, revelando-se manifestamente protelatórios os presentes Embargos, uma
vez que a Embargante não atendeu ao disposto no artigo 918 do Código de Processo Civil,
impondo-se a improcedência do pedido.

Assim, restaram comprovadas a relação contratual entre as partes, a dívida e a inadimplência


dos executados.

Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTES OS EMBARGOS, condenando os Embargantes ao


pagamento das custas judiciais, bem como ao pagamento de honorários advocatícios, no
percentual de 10% sobre o valor da execução.

Após o trânsito em julgado, certificado o correto recolhimento de custas, dê-se baixa e arquivem-
se.

Prossiga-se na execução.
P.R.I.

Rio de Janeiro, 14 de fevereiro de 2020.

Ana Paula Pontes Cardoso


Juíza de Direito

Rio de Janeiro, 15/02/2020.

Ana Paula Pontes Cardoso - Juiz Titular

___________________________________________________________

Autos recebidos do MM. Dr. Juiz

Ana Paula Pontes Cardoso

Em ____/____/_____

Código de Autenticação: 48DD.F3Z7.GWNB.ENL2


Este código pode ser verificado em: www.tjrj.jus.br – Serviços – Validação de documentos
Øþ

110 ANAPAULACARDOSO

Assinado em 15/02/2020 08:58:41


ANA PAULA PONTES CARDOSO:20718 Local: TJ-RJ

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