Você está na página 1de 41

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB

DH – DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

SOCIEDADE DOS ARTÍFICES E OPERÁRIOS:


ORIGENS, IDÉIAS E PRÁTICAS POLÍTICAS.

WELLINGTON MACHADO FERREIRA


VITÓRIA DA CONQUISTA/BA
FEVEREIRO-2006
WELLINGTON MACHADO FERREIRA

GÊNESE DA SOCIEDADE DOS ARTÍFICES E


OPERÁRIOS E IDÉIAS POLÍTICAS QUE NORTEARAM
AS PRÁTICAS DOS GRUPOS SOCIAIS EM ITAPETINGA.

Monografia apresentada à Disciplina de


Trabalho Monográfico Orientado – TMO,
do Curso de Licenciatura Plena em História
da Universidade Estadual do Sudoeste da Ba-
hia – UESB, sob orientação do professor Be-
larmino

VITÓRIA DA CONQUISTA – BA
FEVEREIRO – 2006

2
AGRADECIMENTOS

Aos meus orientadores Belarmino e Cristiano, professores de História


Contemporânea e Metodologia, a quem agradeço a paciência e compreensão nos momentos
de dificuldades de trabalho, financeiro e de saúde.
Aos companheiros funcionários da Câmara Municipal de Itapetinga, pela presteza e
boa vontade na disponibilização dos documentos históricos para manuseio e consulta.
Aos amigos do IBGE, pelo tempo e atenção dedicados nas consultas.
À Diretoria da Sociedade Beneficente dos Artífices e Operários de Itapetinga, pela
confiança em ceder os documentos originais da entidade.
A todos os antigos associados da Sociedade dos Artífices, pelas horas concedidas
em entrevistas e conversas informais. Foram vitais para o entendimento de uma época.
Obrigado a todos os funcionários e professores do Departamento de História e do
Colegiado, pela amizade, acolhida e atenção concedida. Muito mais ainda a todos os que
foram meus professores, todos formando um time de primeira linha. Muito obrigado.

3
DEDICATÓRIA

Dedico essa monografia a minha esposa Bela e aos meus filhos Ian Caio, Rebecca e
Iasmin, por terem compreendido a minha ausência do convívio familiar por motivo de
estudo e trabalho, temendo por minha vida na estrada, diariamente, nos seis anos que me
desloquei de Itapetinga para Vitória da Conquista. Muito obrigado.

4
RESUMO

A configuração histórica da Micro-Região Agro-Pastoril de Itapetinga ocorre nas


primeiras décadas do século XX, numa simbiose dos interesses do modo de produção
capitalista, à época em que a formação econômica e social do sistema, ligada a uma
mentalidade tradicional , lhe confere uma natureza arcaica, devido ao seu padrão de
“acumulação primitiva”, com os interesses privados daqueles que se constituirão sua elite
agrária.
No processo que se segue à chegada dos primeiros desbravadores, denominados
como pioneiros, a montagem de um projeto estruturante se dá, senão em meio a crises de
ordem econômica, política e social. Para garantir o êxito do empreendimento, o latifúndio
extensivo de pecuária envida esforços para, mediante ação de intelectuais organicamente a
seu serviço, garantir sua hegemonia, formatando um bloco ideológico favorável.
O surgimento de uma organização de caráter popular e trabalhista significa uma
demarcação de espaço de um setor marginalizado do projeto construtor da região, não
deixando de atrair a atração e o interesse do grupo social dominante. Na Formação Social
vigente no período, os resquícios do antigo coronelismo imperial e repúblico-oligárquico
se manifestam buscando o controle dessa nova força social, através da cooptação de suas
lideranças que lhes abrem espaços para o doutrinamento sistemático em torno do discurso
lacunar da igualdade social, do interesse maior e comum e do projeto de emancipação do
município.

Palavras-chave:
Crise política - Modo de Produção – Formação Social – Coronelismo – Classes – Bloco
Ideológico – Região – Micro-Região Agro-Pastoril – Discurso Lacunar – Sindicalismo –
Conflito – Hegemonia – História Social – Idéias Políticas.

5
SUMÁRIO
Pág.
APRESENTAÇÃO......................................................................................07
JUSTIFICATIVA.........................................................................................09
1.0. PRESSUPOSTOS METODOLÓGICO-CONCEITUAIS....................09
1.1. METODOLOGIA DA PESQUISA......................................................09
1.1.1. MÉTODO DE ABORDAGEM.........................................................09
1.1.2. CATEGORIAS TEÓRICAS.............................................................10
1.1.3. MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO: FONTES DE INFORMAÇÃO
E PROCEDIMENTOS................................................................................13
1.1.3.1. FONTES SECUNDÁRIAS............................................................13
1.1.3.2. FONTES PRIMÁRIAS..................................................................13

2.0. CAPÍTULO 1 – REFERENCIAL HISTÓRICO: DINÃMICA


DO PROCESSO DE FORMAÇÃO DA MICRO-REGIÃO
AGRO-ASTORIL DE ITAPETINGA....................................................15
2.1. EVOLUÇAO HISTÓRICA DE ITAPETINGA: A OCUPAÇÃO DO
ESPAÇO.....................................................................................................15
2.2. CONTEXTUALIZAÇÃO REGIONAL: A BAHIA NOS ANOS 30-40:
RESISTÊNCIAS DO CORONELISMO....................................................17
2.3. PROCESSO DE INDUSTRILAIZAÇÃO E A FORMAÇÃO DA
CLASSE OPERÁRIA NO BRASIL...........................................................19
3.0. GÊNESE E PAPEL DA SOCIEDADE BENEFICENTE DOS
ARTÍFICES E OPERÁRIOS DE ITAPETINGA NO PROCESSO DE
CONSOLIDAÇÃO DA MICRO-REGIÃO............................................25
3.1. GRUPOS SOCIAIS E DEMANDAS NO PROCESSO DE EMANCI-
ÇÃO POLÍTICA DO MUNICÍPIO DE ITAPETINGA.............................25

6
3.2. A SOCIEDADE BENEFICENTE DOS ARTÍFICES E OPERÁRIOS..27
4.0. IDÉIAS E PRÁTICAS POLÍTICAS EM ITAPETINGA.................32
4.1. ANÁLISE DA PESQUISA MONOGRÁFICA: ORGANIZAÇÕES SO-
CIAIS, IDÉIAS E PRÁTICAS POLÍTICAS.................................................32

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. .....37


BIBLIOGRAFIA................................................................................... .......38

7
APRESENTAÇÃO

No aspecto teórico, este estudo insere-se no debate sobre a crise do Estado Populista
e das idéias políticas que gravitaram em seu entorno, nas décadas de 40 e 50 do século XX.
Estudar a diversidade de idéias e suas manifestações, mesmo que num processo circunscrito
a um período que já dista mais de meio século, é de vital importância para a compreensão
do desenvolvimento do pensamento político no Brasil e de suas relações com as forças
sociais em atividade e interação nesse período.
As ideologias que nortearam os conflitos políticos no Brasil antes e após a
Revolução de 1930, aparentemente superadas pelos fatos históricos de envergadura, na
verdade, estiveram latentes e pouco à vista, até mesmo como estratégia de sobrevivência
dos grupos sociais que as carregavam. Essas ideologias são o sustentáculo dos grupos que
permeiam a estrutura econômica da sociedade e lhes confere a legitimidade da luta pelo
poder político.
Analisando as idéias políticas que foram introduzidas no Brasil, seja no seu
processo histórico endógeno, seja por influência de imigrantes, como no caso do
coronelismo e no das ideologias de esquerda, podemos compreender como os grupos
econômicos, ao planejarem e executarem um modelo de sociedade, utiliza-se da prática
política e escamoteia a idéia que direciona essa prática. A construção de um espaço
geográfico, a partir de todo um processo de expropriação violenta e predatório do espaço
natural, obedecendo uma lógica de re-ordenamento do modo de produção capitalista na
macro-região da Bahia, implicou na montagem de um projeto de espaço, economia, cultura,
sociedade e poder, no qual a participação dos setores populares nas decisões e
encaminhamentos estaria vetada, precisava de uma estratégia inteligente.
As relações sociais são produzidas, adotando-se a tática da coexistência pacífica, da
cooptação política e na utilização dos espaços sociais subalternos como apoio e
sustentação. Ao mesmo tempo, aspectos políticos que reproduzem o autoritarismo
coronelista, a cultura da perseguição e do apadrinhamento conduz à formação dos currais
eleitorais e do voto de cabresto. Permanências de um tempo considerado superado.
Espera-se, assim que este trabalho, limitado por inúmeros aspectos, possa constituir-
se uma modesta contribuição para o estudo das relações políticas e de poder na história.

8
JUSTIFICATIVA

A necessidade da pesquisa surgiu a partir de um primeiro contato com a


documentação de fundação da Sociedade Beneficente dos Artífices e Operários de
Itapetinga. Imediatamente algumas indagações foram tomando forma, principalmente sobre
o papel social que uma entidade de trabalhadores autônomos cumpriu no processo de
formação da cidade e as idéias que circulavam os grupos em interação, quando da fundação
desta.
O objeto da pesquisa foi tomando forma mais nítida quando foi percebido o jogo de
interesse dos diferentes grupos sociais, entre as décadas de 30 e 50, seus conflitos,
composições e estratégias para a consolidação da hegemonia das classes proprietárias no
poder.
Apesar de trabalhar, predominantemente, ao nível da superestrutura, não há como
fugir da problemática econômica que, no modo de produção capitalista, no fim de tudo,
indica os níveis de tensão e os interesses maiores.
A relevância desse trabalho está em buscar contribuir para identificar os elementos
ideológicos e idéias políticas que sustentaram práticas políticas e sociais num período da
história marcado pelas crises políticas. É um esboço de história política e social que possui
a intenção de ajudar estudantes de história a compreender, por uma ótica, as relações de
poder numa sociedade fundada por estratos conservadores e autoritários, bem como a
trajetória da construção de uma micro-região econômica sob a hegemonia das elites
agrárias.
O estudo, apesar de enfocar um período histórico anterior, ajuda-nos a entender as
relações de mando e poder no presente, em muitas realidades do interior do Brasil e da
Bahia.

9
1.0. PRESSUPOSTOS METODOLÓGICO-CONCEITUAIS

1.1. Metodologia da Pesquisa:

1.1.1. Método de abordagem:

A pesquisa, caracterizada como um estudo teórico-empírico, apóia-se na ciência


social histórica e na concepção materialista da história. Tem como método de investigação
a dialética, onde a partir da realidade empírica e com a mediação teórica, procura-se
construir categorias complexas com o objetivo de se aproximar da realidade. Pode-se
afirmar que se trata de um estudo qualitativo.
Parte-se do princípio de que sujeito e objeto se relacionam dinamicamente, podendo
o primeiro intervir ativamente no conhecimento dos objetos. O conhecimento histórico só é
produzido quando as determinações do seu objeto são apreendidas, explicando o que elas
de fato determinam; dessa forma, o fato histórico é social. Entende-se que as sociedade
(totalidades concretas) mudam, transformam-se, principalmente em épocas de crise, logo as
determinações que explicam os fatos históricos também mudam. Os fatos expressam-se no
pensamento por conceitos, e as relações entre fatos se expressam através de abstrações mais
gerais, formuladas em conceitos mais simples. Tomamos como referência as análises e
conceitos marxistas sobre a ideologia, a política, o poder, o Estado e as classes sociais.
O entendimento é que a explicação do todo somente será alcançado através de
categorias simples (estrutura teórica). A política, por exemplo, é uma categoria simples e
expressa a relação da estrutura econômica com a superestrutura jurídico-política de
determinada sociedade.
A investigação limitar-se-á, na temática proposta, gênese da Sociedade dos Artífices
e Operários: idéias políticas que nortearam as práticas dos grupos sociais em Itapetinga,
buscar analisar o contexto e o impacto do surgimento de uma entidade social, na afirmação
de uma identidade frente à consolidação da hegemonia dos latifundiários, no processo de
formação, emancipação e crescimento do município de Itapetinga, nas décadas de 1940 e
1950.

10
O caminho a ser percorrido, metodologicamente será pautado pelas categorias do
materialismo dialético, destacando-se a contradição (luta e unidade dos contrários) como
elemento necessário à análise das crises políticas, dos antagonismos sociais e de suas
veladas alianças visando a estabilidade e a governabilidade. Evidentemente que, em se
tratando de abordar a origem de uma entidade social, de caráter popular e artesão, com
denominação operária, estaremos caminhando, também, nos trilhos da História Social e da
História Política, com a instrumentação teórica forjada a partir da Escola dos Annales.

1.1.2. Categorias Teóricas:

A dificuldade maior que se apresenta na tentativa de nos aproximarmos do real, a


partir de abstrações teóricas, é encontrar um fio condutor único para a identificação de
categorias de cunho sócio-antropológico.
Os homens, objetos centrais das ciências, focados enquanto agentes coletivos,
encontram-se num ininterrupto processo de interação, a partir de interesses específicos de
caráter ora econômico, ora social. Esse processo, sempre permeado de interferências
múltiplas, sofre um corte, sendo perpassado pelas disputas em relação ao poder político.
Sendo os homens compartimentados, como seres sociais, em coletividades, esses
agrupamentos se constituem, nas suas diversas articulações, com o predomínio das relações
econômicas, em classes, frações ou grupos sociais. Essas classes, por sua vez, se amoldam,
enquanto grupos diferenciados, gravitando em torno do poder, amparados por uma
sustentação ideológica e um aparato jurídico-político, encontrando-se a categoria simples
ideologia expressa no âmago da formação social capitalista, na instância jurídica.
Em Itapetinga, observamos que, nas décadas de 1940 e 1950 do século XX, uma
movimentação social, acompanhando a ascensão econômica do latifúndio, apontam para a
identificação de grupos sociais distintos que, de forma dissimulada, disputam o espaço
sócio-político, em busca da hegemonia.
A tarefa que se nos impõe é, com uma certa dificuldade, buscar uma abordagem
teórico-conceitual que se aproxime ao máximo daquilo que se apresentou como realidade.
A partir da constatação de que o surgimento da cidade se deu nos marcos de um Modo de

11
Produção específico (MPC), obedecendo a lógica de re-acomodação, consolidação e
expansão do sistema, trata-se, agora, de perceber na Formação Social se os agrupamentos
humanos se constituíram em classes com interesses distintos e divergentes e quais as idéias
político-ideológicas permearam suas práticas e discursos. O surgimento da Sociedade
Beneficente dos Artífices e Operários de Itapetinga aponta a presença de uma autêntica
classe operária em Itapetinga, na década de 1940?
Estudemos a categoria classe social. Para Marta Harnecker, Marx não formulou um
conceito fechado, definitivo sobre o tema, mas arriscou formular que seriam grupos sociais
antagônicos em que um se apropria do trabalho do outro por causa do lugar diferente que
ocupam na estrutura econômica de um Modo de Produção determinado´. Essa conceituação
emana, fundamentalmente do pressuposto econômico e coloca as classes sociais como
realidades estruturadas, a posteriori, pelas relações econômicas.
Buscando uma definição mais elaborada, numa visão mais estruturalista, Georges
Gurvitch entende as classes sociais como “ agrupamentos particulares de fato e à distância,
caracterizados por sua supra-funcionalidade, a sua tendência para uma estruturação
elaborada, sua resistência à penetração pela sociedade global e sua incompatibilidade
radical com as outras classes”. Ou seja, Gurvitch apreende classe enquanto estrutura que se
particulariza e possui hierarquização interior.
Segundo Thompson, “classe é um fenômeno histórico, que unifica uma série de
acontecimentos díspares, aparentemente desconexos, tanto na matéria-prima da
consciência, como na experiência”. Para ele “classe evoca uma relação histórica não-
estática, que impede a imobilização da categoria para eventuais análises, uma vez que não
pode ser decomposta. O exame das classes sociais só se torna possível em períodos de
efervescência política, de mudanças sociais”. (...) “ A classe se define pelos homens
enquanto vivem sua própria história”.
Poulantzas busca uma aproximação do conceito de classes sociais a partir do estudo
de alguns textos do próprio Marx, acentuando o aspecto político na sua definição. A classe
operária somente se torna classe para si, enquanto partido político organizado e ativo na
luta pela conquista do poder.
Outra categoria que se apresenta para análise do contexto físico em que se
processou a história dos grupos sociais e de suas respectivas idéias políticas, é a de região.

12
Estamos esboçando trabalhos monográficos que se inserem, no quadro da produção
acadêmica do sudoeste da Bahia como História Regional. À medida em que esse trabalho
expande seu leque de objetos cada vez mais cheio de especificidades, o horizonte da
história se amplia, abrindo espaços nunca dantes sonhados para a realização de pesquisas
que, pouco a pouco, vão preenchendo espaços vazios, silêncios. O historiador ou estudante
de história passa a reconhecer no vocábulo regional, o chão de sua reflexão, a demarcação
geográfica do espaço, mais que físico, cultural, econômico, político, ecológico e, sobretudo,
social de seu trabalho.
O conceito de região vai ganhando uma nova dimensão, a partir da contribuição dos
adeptos da geografia crítica, que negam categoricamente as premissas do determinismo
geográfico no processo de formação e consolidação das sociedades, afirmando a
importância da ação humana na transformação do espaço. Entenda-se até aqui, região como
espaço tanto físico como de múltiplas relações. Região, enquanto demarcação espacial das
relações, não é uma realidade a priori, um mero dado objetivo, mas algo que se objetiva
com abstrações construídas no seio das contradições da sociedade, a partir dos interesses
das classes ou grupos sociais dominantes, sempre numa perspectiva da lógica da
acumula~]ao do capital. De uma trajetória particularizada, até sua incorporação sistêmica
na Divisão Nacional do Trabalho, a região se impõe como parte vital e dinâmica num todo
articulado que, no decurso histórico, solicita e absorve ações governamentais voltadas para
a sua consolidação. O Modo de Produção, mesmo sofrendo alterações significativas no
direcionamento das prioridades para a aceleração da acumulação capitalista em outros
pontos regionais mais centrais, não abandona a complementariedade das regiões periféricas
tradicionais em construção. Itapetinga se insere nessa lógica, quando da montagem de sua
micro-região pastoril, nas décadas iniciais do século passado.
Outra categoria a ser abordada é a de Formação Social. Para os marxistas, trata-se
de uma formulação que indica a existência real de uma sociedade historicamente
determinada, num momento específico, sendo uma unidade complexa na qual domina um
certo modo de produção, mesmo que esta possua restos de antigos modos de produção,
formas embrionárias de novos modos, bem como as relações sociais e idéias que lhes
pertencem. Para estudarmos uma formação social, devemos dirigir nossa atenção para ao
forma como se produzem os bens materiais, quais as relações de produção que ocorrem,

13
qual destas relações é a dominante, que efeitos produzem nos níveis político, ideológico e
jurídico.
Ao estudarmos as idéias que predominaram em Itapetinga nas décadas de 40 e 50,
precisamos levar em conta a categoria Formação Social, em busca de uma possível
identificação de elementos mentais oriundos de um período histórico anterior, em que
predominavam relações pré-capitalistas de produção e a política se assentava no
mandonismo autoritário do coronelismo imperial e da República Velha.

1.1.3. Método de investigação (fontes de informações e procedimentos)

A pesquisa adotou dois tipos de fontes como base: as bibliográficas e documentais


(fontes secundárias); e as fontes primárias de consulta, através de entrevistas gravadas e
escritas.

1.1.3.1. Fontes secundárias:

Utilizou-se como recursos secundários para esta pesquisa, dissertações de mestrado,


livros, documentos históricos da Sociedade dos Artífices, registros do IBGE, Livro de Atas
da Câmara Municipal de Itapetinga.

1.1.3.2. Fontes Primárias:

Nessa etapa, buscou-se o contato com a realidade, valorizando os relatos e


experiências daqueles que, concretamente, fizeram a história da região e que constituem
fonte importante de informações. Para na realização dessa etapa, sistematizou-se entrevistas
qualificadas com indivíduos que estiveram diretamente envolvidos no processo de fundação
da Sociedade Beneficente dos Artífices e Operários de Itapetinga.

O universo da pesquisa foi delimitado, levando-se em consideração a existência


ativa da SBAOI, documentos disponíveis e remanescentes ainda vivos do período histórico
enfocado.

14
2.0. CAPÍTULO 1 - REFERENCIAL HISTÓRICO: DINÃMICA DO
PROCESSO DE FORMAÇÃO DA MICRO-REGIÃO PASTORIL DE ITAPETINGA

2.1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DE ITAPETINGA: A OCUPAÇÃO DO ESPAÇO

Itapetinga é uma cidade recente. Um espaço que se constituiu num tempo


relativamente muito próximo e, por isso, ainda ao alcance da memória. Sua história ainda
está sendo escrita, colhendo-se os frutos que flutuam na superfície, no visível, a partir dfe
um olhar vencedor, dominante, dos setores que desbravaram suas virgens terras e que,
expulsando os nativos indígenas, submetendo os novos segmentos sociais subalternos, se
impuseram econômica, social e politicamente.
Entre 1912 e 1926, seguindo uma lógica de expansão da atividade pecuarista em
Vitória da Conquista, por uma estrada que ligava Canavieiras àquele centro, desce
Bernadino Francisco de Souza que se fixa à margem direita do Rio Catolé. Em seguida,
chega Augusto de Carvalho que, separando 40 hectares de terras, funda a fazenda Astrolina
e, em 1926, separa uma área no centro da mata e manda construir um aglomerado de casas
de pau-a-pique, logo depois acrescido por galpões e barracões, denominado “Arraial de
Augusto”. É o início do povoamento.
A população inicial do povoado será acrescida, em pouco tempo, por imigrantes de
outras localidades da Bahia, atraídos pelo desenvolvimento da pecuária bovina extensiva. É
o desenvolvimento econômico da região, a partir da atividade pecuária que determina o
ritmo do crescimento do povoado, tanto no aspecto físico-urbano, quanto no de atração
populacional. Evidentemente que, paralelo ao aspecto econômico, a localização geográfica,
situando o povoado numa posição estratégica, como entreposto entre Itabuna/Ilhéus e
Itambé/Vitória da Conquista contribuiu sobremaneira para o crescimento em importância
do povoado, antes ligado a Vitória da Conquista e, posteriormente, a Itambé.
Entre as décadas de 1930/1940 o povoado será elevado à categoria de Vila e sofrerá
um aumento populacional substancial. As classes sociais, ainda muito difusas e

15
aparentemente de pouca ou nenhuma diferenciação, em duas décadas começam a se
delinear.
Alguns fatos históricos indicam uma forte mobilização social, suscitando a
necessidade de uma reflexão sobre as forças que se constituem antagônicas no jogo do
poder político local, mesmo que um tanto quanto dissimulado. Trata-se das fundações de
entidades como a ACI (Associação Cultural Itapetinguense), na década de 1930 e, quase
uma década depois, da SBAOI (Sociedade Beneficente dos Artífices e Operários de
Itapetinga).
A dinâmica social, pouco percebida pela população local, vai imprimindo um ritmo
mais acelerado ao desenvolvimento da Vila e da sociedade. As transformações físicas e
populacionais vão determinar uma maior estratificação social e a economia, inicialmente
assentada na criação local e comercialização do gado com outras regiões, propicia o
surgimento de atividades ligadas ao fabrico de subprodutos do leite e do couro. A demanda
por habitações atrai trabalhadores da construção civil (pedreiros), bem como carpinteiros,
serralheiros e pintores. O comércio se abastece de produtos vindos de Salvador e outras
regiões da Bahia.
A sociedade, agora socialmente mais complexa, constituída por categorias sociais
diferenciadas nas posses e nos interesses, necessitava de um controle mais efetivo, menos
distante daquele emanado pelo governo de Itambé, localizado a 60 km. Nesse contexto, os
representantes maiores dos proprietários rurais, denominados “coronéis”, mesmo após a
queda da República Velha, encaminham a fundação de uma Associação Cultural. A partir
daí, essa instituição esteve à frente de todas as ações voltadas para o controle social e a
consolidação do poder político do grupo que a constituiu. O primeiro sistema de
comunicação, biblioteca, cursos, a luta pela emancipação do município, a primeira sessão
da Câmara. A ação cultural, diga-se, ideológica e política construiu as condições, na
opinião pública, para garantir a conquista e manutenção do poder político para os
pecuaristas de Itapetinga.
A vocação econômica da Vila de Itatinga, a bem da verdade, correspondeu a uma
necessidade exógena, do sistema capitalista periférico, no Estado da Bahia,
descentralizando a pecuária extensiva de Feira de Santana, através do incentivo a abertura
de novas áreas criatórias. Procurava-se espaços em que houvessem grandes áreas

16
disponíveis para o desmatamento imediato, com vistas ao plantio de gramíneas e Abertura
de pastos para o gado bovino. A atividade demandava quantias altas para o investimento na
aquisição dos rebanhos e, de resto, a infra-estrutura natural minimizaria os custos.

2.2. CONTEXTUALIZAÇÃO REGIONAL – A BAHIA NOS ANOS 30-40: AS


RESISTÊNCIAS DO CORONELISMO.

A proclamação da República no Brasil encontrou a Bahia vivendo o apogeu do


domínio “coronelista”. Os coronéis eram respeitados pelo poder constituído; senhores
absolutos de regiões interioranas por eles governadas, mantinham verdadeiros exércitos
para garantir sua autoridade. Nessa fase inicial da República, o cargo de Governador era
exercido por pessoa indicada ou nomeada pelo Presidente. A situação era muito conturbada
em várias regiões. Na Bahia, nada menos que sete Governadores ocuparam a direção do
Estado em apenas dois anos. Para entendermos as permanências do coronelismo e as
práticas políticas autoritárias, é preciso que voltemos ao passado, que mergulhemos nas
raízes históricas dessa prática que, nos dias atuais ainda teima em marcar presença, de
forma dissimulada ou aberta, principalmente no interior do Nordeste brasileiro.
O coronelismo, como fenômeno social desponta no Brasil a partir do poder local
dos latifundiários que, protegidos pela força das armas e pelo status que lhes confere a
posse da terra, fazem as leis ou se tornam a expressão da própria lei. É na localidade do
interior, num ambiente marcadamente rural e de pobreza extrema, que emerge a figura
sombria do coronel. A autonomia municipal parece ser a “pedra de toque” de sua
existência, entretanto, um estudo mais aprofundado identifica, na história do Brasil,
justamente um esvaziamento do município, das Câmaras Municipais, num esforço da Coroa
para favorecer, num primeiro momento, os grandes latifundiários contra a concorrência dos
pequenos proprietários e produtores. A partir daí, podemos concluir que, na prática, o
verdadeiro e efetivo poder na Colônia era o econômico e especificamente o latifúndio
monocultor e escravocrata. As raízes históricas do Coronelismo podem, portanto, ser
encontradas num período bem anterior à Regência e às determinações do padre Diogo
Feijó.

17
Em seguida, observa-se uma tendência ao fortalecimento do poder central
metropolitano, que procura restringir a influência da nobreza rural da colônia, expressa nas
Câmaras Municipais. No século XVIII, período em que o sistema colonial está sendo
contestado pela intelectualidade iluminista, a partir na fase de Mineração do Brasil, os
cargos dirigentes serão diretamente exercidos por mandatários metropolitanos,
independentemente das Câmaras Municipais aqui existentes. A afirmação do poder
metropolitano tinha em vista o enfraquecimento das elites coloniais e o esvaziamento no
sentimento autonomista. A Guerra dos Emboabas foi um momento que caracterizou a
postura da Coroa, frente aos conflitos e interesses existentes entre os colonos nativos e
estrangeiros.
Somente após o 7 de Abril, com a abdicação de D. pedro I, nota-se que a
Aristocracia agrária se apossa, efetivamente, do poder no Brasil. No período Regencial, o
Ato Adicional promove uma tentativa de descentralização e a criação da Guarda Nacional é
um marco na instituição do Coronelismo quando, em virtude das dificuldades de defesa e
aplicação da justiça em todo o país, se delega aos chefes políticos locais essa tarefa,
concedendo-lhes o título de coronéis. Ainda nesse momento, percebe-se uma oposição das
Assembléias Estaduais para a concessão de maior autonomia para os municípios.
Na República Velha, as coisas não evoluem muito. Mas, justamente nesse período, a
força política do coronelismo emerge, em meio às revoltas messiânicas, ao Cangaço e à
resistência das oligarquias locais em serem substituídas. Nesse período da história do
Brasil, pode-se ver uma relação estreita e simbiótica do poder central e regional com as
localidades dominadas pelas oligarquias e pelos coronéis. Na verdade, a Política dos
Governadores, sustentada pelo Coronelismo, dava sustentação, no plano nacional, à Política
do Café-com-Leite.
A Revolução de 1930 coloca no poder central, as forças industriais que haviam se
desenvolvido no período da República Oligárquica, à revelia desta, evidentemente. Getúlio
Vargas personifica as classes dominantes e intermediárias que desejam a modernidade do
país, nem que isto seja feito a força. O incentivo à industrialização, a proteção da indústria
nacional e controle estatal de setores estratégicos da economia brasileira são iniciativas do
governo de Getúlio Vargas em todas as suas fases. Nesse momento, desmontar a máquina
da República Velha é prioridade nacional. Os interventores nomeados por Vargas nos

18
Estados da federação tratam de se impor e, aos poucos, os coronéis vão perdendo o antigo
excesso de poder.
Em diversos momentos da história do Brasil, vemos o controle do voto, em
benefício das oligarquias locais e regionais, que convivem harmoniosamente, contra todo o
risco de oposição e de possibilidade de arrebatamento do poder. Na República Velha, o
“voto de cabresto” era uma prática comum, adotada pelos coronéis, principalmente no
sertão nordestino. Ainda hoje, a força econômica, oriunda da posse da terra, ao conceder
espaço para trabalho, favores ocasionais às famílias de camponeses sem terra, resultam na
cobrança de fidelidade eleitoral, nos moldes do clássico coronelismo.
Para a compreensão de certos fenômenos políticos deslocados no tempo, como os
que acontecem na Bahia, no Maranhão, em Pernambuco e em outros Estados menos
desenvolvidos da Federação, onde os índices de analfabetismo, desemprego e pobreza são a
regra. Importante destacar que, o grande inibidor histórico do coronelismo revelou ser,
justamente, a cura dos males sociais citados; a saber: a educação e conscientização do
cidadão, a atividade econômica que lhe tire da dependência de outrem, enfim, a
modernização.
A construção do espaço micro-regional agro-pastorial de Itapetinga realizou-se nos
marcos do declínio da República Velha, sendo os pioneiros desse processo, identificados
com o título e as práticas mandonistas, concedidos pelo papel econômico que
representavam, como grandes latifundiários. Os fatores inibidores dessas práticas, citadas
anteriormente, não são, de forma alguma, perseguidos como metas pelos donos do poder
econômico local e, posteriormente, donos da política. Suas idéias políticas caminham na
direção da subordinação subserviente da população em formação na conciliação forjada
pela concessão de benefícios menores ou pela perseguição política aberta aos indóceis.
A cidade alcança a maturidade política, emancipando-se de Itambé, durante o
governo de Régis Pacheco (1951-1955). É o período em que a efervescência política, no
plano nacional, se dá sob a batuta do Populismo e os novos partidos aglutinam setores
sociais específicos, guiados pelas ideologias em conflito no plano internacional. O governo
de Régis Pacheco é marcado por investimentos em infra-estrutura no Estado e pelo
incentivo às atividades econômicas.

19
No período anterior, os resquícios de autoritarismo da República Velha se fazem
perpetuar após a Revolução de 1930, com a política de intervenção da Era Vargas, tanto das
fases provisória e constitucional, quanto da fase do Estado Novo. Entretanto, no período
dominado por Getúlio Vargas, diferentemente do que ocorria na República Oligárquica, os
trabalhadores se tornam o centro das atenções e das políticas governamentais e um espírito
corporativo, um senso de organização classista e setorial passa a grassar na sociedade
brasileira, atingindo, de forma confusa, o interior.

2.3. O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO E A FORMAÇÃO DA CLASSE


OPERÁRIA NO BRASIL

As origens da classe operária no Brasil remontam ao século XIX, quando o país


começa, lentamente a inserir-se nos quadros do sistema capitalista internacional. Questões
de ordem objetiva, que se impuseram, como a posição hegemônica da Inglaterra na
economia mundial e a expansão dos mercados, forçaram o re-ordenamento do sistema,
constituindo-se , desse modo uma Divisão Internacional do Trabalho e a demarcação de
limites entre países centrais, pioneiros da industrialização e os países periféricos,
retardatários desse processo.
A industrialização brasileira ocorre de forma lenta e aos saltos, constituindo-se num
processo cheio de falhas, com graves conseqüências para o país. Algumas tentativas
históricas foram realizadas, a começar pelas medidas industrializantes do Marquês de
Pombal, que buscava incentivar a produção manufatureira na metrópole e
complementarmente, nas colônias, para que Portugal conseguisse vencer a terrível crise
financeira na qual se encontrava. Após a queda de Pombal, o Alvará de D. Maria (a louca),
proíbe as manufaturas coloniais, ordena sua destruição e, dessa forma, tolhe, precocemente,
nosso nascer industrial. O golpe de morte nas manufaturas restantes no Brasil ocorre com o
Tratado de Comércio e Navegação de D. JoãoVI, uma vez que os produtos internos jamais
poderiam concorrer em preços, quantidade e qualidade com os produtos industrializados da
Inglaterra.

20
A Tarifa Alves Branco, no Segundo Reinado, sob o pretexto de incentivo e proteção
às nossas indústrias, na verdade, sobre-taxou os produtos importados, como medida de
melhoramento do tesouro do Império, em grande dificuldade financeira. Até mesmo o surto
industrializante da Era Mauá não lançou raízes mais profundas, frustrando as espectativas
de uma parcela da população que desejava a modernização de nossa economia.
O declínio da atividade agrícola no Brasil, encontra um grande vácuo, até o início
da industrialização, o que provoca conseqüências muito negativas, dado a ausência de uma
mão-de-obra especializada para a indústria que só tardiamente chegará.
Outra grande dificuldade para a industrialização do Brasil foi a ausência, no século
XIX, de fontes de energia modernas, como o carvão mineral. As jazidas eram escassas, de
baixo teor calorífico e de difícil acesso, além de distante dos grandes centros urbanos,
potencialmente industrializáveis. Além disso, o país carecia de uma ativa siderurgia, apesar
de termos em nosso território, matérias-primas em abundância, como o ferro. Agrega-se a
tantas dificuldades para a industrialização, a extensão territorial do país, com sua precária
rede de transportes e comunicação, além de um deficiente mercado consumidor, resultante
da manutenção, por muito tempo, do escravismo.
Somente em fins do século XIX, os fatores favoráveis à industrialização do Brasil
se farão notar, com a produção de algodão em larga escala, como matéria-prima das
indústrias têxteis e a disponibilização de mão-de-obra livre e barata, em razão da absorção
do trabalho dos ex-escravos pela lavoura monocultora. No dizer de Caio Prado Júnior:
“São estas as circunstâncias principais que condicionarão o desenvolvimento
de uma pequena indústria, sobretudo têxtil, na segunda metade do século passado.
Ela terá um caráter local limitado a pequenos mercados de curto rais(...) O número
de estabelecimentos industriais, de pouco mais de 200, em 1881, ascende para mais
de 600. O capital invertido sobe então a 400.000 contos (cerca de 20 milhões de li-
brás), sendo 60% na indústria têxtil, 15% na de alimentação, 10% na de produtos
químicos e análogos, 4% na indústria de madeira, 3% na de vestuário e objetos de
toucador, 3% na metalurgia. (...) Em, 1907 realiza-se o primeiro censo geral e com-
pleto das indústrias brasileiras. Serão encontrados 3.258 estabelecimentos industri-
ais com 665.663$000 de capital, e empregando 150.841 operários”.

A grande concentração industrial se dará em São Paulo, por diversas circunstâncias


favoráveis que lá se reuniam. Além do progresso geral do Estado, graças ao

21
desenvolvimento da lavoura cafeeira, a concentração de capitais e o grande contingente
populacional. A imigração vai contribuir com a habilitação técnica do trabalhador europeu,
muito superior ao nacional, recém saído da escravidão. Ademais, o recente aproveitamento
da energia elétrica.
A indústria de maior significação é a têxtil, caracterizada pela concentração. Os
demais ramos fabris estão dispersos e com poucos investimentos de capitais.
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) será outro grande fator de expansão e
consolidação industrial, principalmente pelo reforço das exportações para as nações
beligerantes. No primeiro censo realizado após a Guerra, em 1920, os estabelecimentos
industriais somarão 13.336, com 1.815.156 contos de capital e 275.512 operários. O caráter
da indústria, entretanto, permanece inalterado. A mudança fica por conta da passagem da
indústria de alimentos para primeiro lugar, em função da introdução da técnica de
congelamento de carnes.
No período da Guerra e no pós-Guerra, o crescimento industrial brasileiro se
processa de forma intensa, tanto pelo afluxo de capitais oriundos das exportações, como
das políticas cambiais. A partir de 1924, até 1930, a indústria brasileira sofre um
decréscimo. Os produtos importados invadem o país, retraindo a produção nacional. Grande
número de empresas fecha. A indústria nacional somente ganhará novo impulso a partir da
Era Vargas, entre 1930-45 e 1950-54, com o estabelecimento de uma grande indústria de
base e o controle estatal de importantes setores da economia.
O operariado brasileiro surge com a indústria. De caráter heterogêneo, as massas
camponesas, oriundas das plantações de café, somente aos poucos vão se incorporando às
indústrias urbanas. De forma mais imediata, a mão-de-obra imigrante em maior número e a
nacional livre, em menor escala, constitui o operariado inicial do Brasil. A origem da classe
operária brasileira, remonta aos fins do século XIX e se vincula ao processo de
transformação de nossa economia.
As primeiras formas de organização da classe operária nacional foram as
Sociedades de Socorro e Auxílio Mútuo (beneficentes), que objetivavam ajudar
materialmente os operários nos momentos mais difíceis, como nas greves ou em épocas de
dificuldades econômicas. Essas associações mutualistas tinham caráter economicista e, de

22
certa forma, filantrópica, uma vez que existiam fundamentadas na solidariedade de classe,
sem possuir qualquer programa político.
A corrente de pensamento socialista atuou no seio da classe operária brasileira
pouco antes do predomínio do anarquismo. Esse movimento socialista, reflexo do
socialismo europeu, foi introduzido por imigrantes de origem européia, nas últimas décadas
do século XIX. A fase inicial do movimento operário no Brasil, foi virtualmente dominada
por um movimento socialista de caráter reformista, onde se misturavam idéias
proudhonianas (anarquistas), saint-simoniana, cristãs e marxistas. O destaque dado, na
história do anarquismo, dá-se pela radicalidade de suas idéias e propostas que ameaçavam
mais de perto as classes dominantes e que resultaram em legislações mais repressivas.
Quando a ideologia socialista chega ao Brasil, a classe operária mal havia surgido. É em
1890 q ue irão surgir os três primeiros partidos operários: o Partido Operário do RS, o
Partido Operário de São Paulo e o Partido Operário ou Partido Socialista Brasileiro, no Rio
de Janeiro. Tratavam-se de partidos reformistas, baseados em uma plataforma mais de
classe média, do que do operariado. Suas propostas visavam diminuir os conflitos entre o
Capital e o Trabalho e a melhoria das condições de vida das classes média e operária. É no
decorrer da década de 90 que as modernas teorias socialistas européias começam a
influenciar. É a partir da fundação do segundo Partido Socialista Brasileiro que este deixa
clara a sua condição de seguidor das doutrinas marxistas. Defende a luta econômica da
classe operária através da greve e a luta eleitoral, além de propor, em seu programa, a
socialização da assistência médica, eletricidade, água e educação. Recomendava a leitura
das principais obras de Marx e Engels. A tentativa do PSB de espalhar suas influências
pelos demais Estados frutificou em São Paulo, onde surgiu o Centro Socialista
Internacional, que tinha como interesse central, organização de cooperativas, ligas de
resistência, greves e outras formas de organização da classe trabalhadora. A intenção de
formação de um grande partido é frustrada pelos anarquistas que, em 1906, no 1º
Congresso Operário Brasileiro, no Rio de Janeiro, derrota essa proposta.
O Anarquismo no Brasil, chega também com os imigrantes europeus. Por volta de
1890, o sul do país assistiria a uma fracassada experiência de comunidade anarquista, a
Colônia Cecília, fundada por Giovanni Rossi e imigrantes italianos, em terras doadas por D.
Pedro II, exclusivamente para uma experiência comunitária. Em fins do século XIUX e

23
início do século XX, a influência anarquista no movimento operário passou a ser crescente.
A greve de 1917 foi, em grande parte, comandada pelos anarquistas. O movimento
anarquista somente admitia a greve como forma de organização das lutas operárias.
Desfavoráveis a qualquer tipo de organização e controle, os anarquistas atuavam junto aos
operários brasileiros exercendo uma influência mais qualitativa do que quantitativa.
Extremamente combativos e radicais, causavam uma comoção junto aos industriais, que
solicitavam ao Estado uma ação repressiva mais eficiente.
Os anarco-sindicalistas que atuavam no movimento operário, negavam a importância da
luta política, privilegiando, exclusivamente, a luta dentro das fábricas, através do que eles
chamavam de ação direta. Repudiavam a necessidade da constituição de um partido político
para a classe operária e via nos sindicatos o modelo de organização para a sociedade
anarquista. Os grandes levantes grevistas de 1917 a 1920, mostraram a força da ação
anarco-sindicalista no Brasil. As limitações do movimento anarco-sindicalista se refletiam
em suas reivindicações exclusivamente econômicas, negando a luta política e não exigindo
do Estado uma legislação trabalhista, porque os anarquistas eram contra as leis do Estado.
Não admitiam a existência de um partido político para a classe operária, nem a aliança
desta com outros setores subalternos da sociedade, o que isolava o operariado, tornando-o
presa fácil do Estado e da repressão policial. Além desses fatores, que demonstravam a
incapacidade teórica, ideológica e política da direção anarquista na condução das greves
desse período, a vitória, no plano mundial, das idéias socialistas marxistas na Revolução
Russa, enfraqueceram, de forma abrupta o anarco-sindicalismo e o movimento anarquista
no Brasil.
A influência dos comunistas no movimento operário torna-se crescente, após a
fundação do Partido Comunista do Brasil (PCB), em 1922. No início, a preocupação dos
membros do PCB era estudar o marxismo-leninismo, formar quadros e formular uma linha
política para dirigir o processo da revolução brasileira. Atuantes no movimento sindical,
onde predominavam os anarco-sindicalistas, os comunistas criaram a Federação Regional
do Rio de Janeiro em 1929 e realizaram o Congresso Sindical Nacional, com representantes
de sindicatos de todo o país, de onde se originou a Confederação Geral dos Trabalhadores
do Brasil, congregando sindicalistas de influência comunista. Por influência dos comunistas
foi fundado o Bloco Operário e Camponês e, na década de 30, a Aliança Nacional

24
Libertadora (ANL). A atuação dos comunistas se dá num âmbito social mais geral, em
virtude de ter o Estado pós-Revolução de 1930, incorporado a sindicalismo dentro de sua
influência e estrutura oficial, via Ministério do Trabalho.

25
3.0. CAPÍTULO 2 –
GÊNESE E PAPEL DA SOCIEDADE BENEFICENTE DOS ARTIFICES E
OPERÁRIOS DE ITAPETINGA NO PROCESSO DE CONSOLIDAÇÃO DA
MICRO-REGIÃO.

3.1. Grupos sociais e demandas no processo de emancipação do município –


A conquista predatória da região, nas décadas de 1910 e 1920, a transposição
econômica da pecuária extensiva, na busca da diversificação do setor pecuário pelo interior
da Bahia e a facilidade de apropriação das terras locais mediante a expropriação dos
nativos, constituíram-se em fatores que possibilitaram a transformação rápida do espaço
natural em espaço geográfico, agora, mais racionalmente ocupado. Quando Augusto
Carvalho decide mandar erguer os galpões e barracões numa clareira aberta na mata, a
intenção é iniciar um núcleo povoador. Rapidamente outras regiões da Bahia recebem
notícias atraentes sobre a localização da área, o que provoca um afluxo de pessoas que
realizavam as mais diversas atividades profissionais. Pedreiros, alfaiates, sapateiros,
pintores, carpinteiros, além de homens ligados a atividades do campo, em pouco tempo
chegam ao “Arraial de Augusto”, tornando-se os primeiros habitantes daquilo que já está
em franca constituição e expansão, ou seja, a micro-região econômica pastoril, no contexto
da economia capitalista baiana.
Duas décadas, após a ereção do Arraial de Augusto, são suficientes para a evolução
de um projeto que, inicialmente mal esboçado, ganha corpo e apoio. De Arraial de Augusto
a Vila de Itatinga, a sociedade incorpora o sonho da emancipação. A primeira denominação
já traz em si a indicação da posse privada, não somente das terras, como também do
governo sobre as pessoas. O Arraial está, então, sob o jurisdição administrativa de Vitória
da Conquista e sua elevação à categoria de Vila se dá, entretanto, nos marcos do controle de
Itambé.
A dinâmica social alterada pelo processo migratório coloca, diante dos grandes
proprietários rurais, a tarefa de se ocuparem, além da administração das terras e do gado,
também com a administração da população do núcleo urbano. No entanto, a diversificação
das ocupações e procedência das pessoas que haviam fixado residência permanente na Vila

26
de Itatinga, trazia consigo, várias formas de ver a comunidade, a política e o poder. A
ambientação política da Vila, na década de 1930 é a do domínio de Getúlio Vargas e sua
prática intervencionista autoritária, desestruturante dos fundamentos da República
Oligárquica. Isso não significa que os detentores do poder econômico local, dominantes na
esfera política, mesmo que sem o arcabouço institucional desta, comunguem com o projeto
getulista. Pelo contrário; aparentemente, o grande interior do país, incluindo-se a região de
Itatinga, é o palco da resistência renitente do coronelismo tradicional. Protegidos pelas
dificuldades de acesso e pela grande dimensão territorial, alimentados pelo receio de perder
o controle patrimonial e político, os latifundiários buscam encontrar formas de não-
enfrentamento direto com seus oponentes e não chamar a atenção repressiva de instâncias
estaduais e nacionais.
Segundo depoimentos, muitos profissionais liberais trouxeram consigo, idéias que
rompiam com os silêncios políticos próprios de áreas isoladas, colocando em discussão, os
fatos e decisões em vigor no plano nacional. O levante comunista de 1935 e o
anticomunismo institucional que se seguiu, o golpe do Estado Novo, a Segunda Guerra
Mundial, tudo era razão de discussões nas praças, bares , vendas e rodas de amigos. O fim
do Estado Novo, a redemocratização, a Constituinte, o banimento do Partido Comunista, o
governo Dutra, entre outros fatos e acontecimentos, encontram a Vila de Itatinga e sua
comunidade em plena campanha pela autonomia político-administrativa.
Alguns aspectos, de caráter mais local são determinantes na mobilização da
população de Itatinga, capitaneada, evidentemente pelo fazendeiros, maiores interessados
em continuar à frente do futuro município, tais como: centralização dos serviços médico-
hospitalares em Itambé ou Vitória da Conquista; falta de estrutura urbana mais completa
por não possuir caráter de cidade emancipada; necessidade de locomoção em péssimas
condições para resolver problemas de ordem jurídica, etc.
A grande iniciativa, ainda na década de 1930, partiu de ruralistas, tendo à frente,
Jovino Oliveira, com a fundação da Associação Cultural Itapetinguense (ACI). Como
entidade de caráter cultural, a entidade atuou como centro propagador das idéias políticas
de seu grupo fundador, aglutinando forças através de ações estrategicamente planejas, com
vistas a convencer a sociedade a cerrar fileiras em torno da idéia da emancipação política
de Itatinga. O primeiro serviço de som público, com músicas, noticiário, propagandas foi

27
montado e ativado pela ACI. A luta pela construção do Colégio Alfredo Dutra e inúmeras
reuniões, campanhas de fundos, tudo foi direcionado para o grande projeto da
independência administrativa, em mais de uma década.
A leitura que se pode fazer desses eventos é de que o elemento político, o interesse
de grupo, a idéia de poder autônomo utilizou-se do víeis cultural e ideológico para o triunfo
jurídico-institucional. A dimensão cultural ganha um caráter universalista e unifica o
discurso, relegando para as margens, eventuais diferenças ideológicas e conflitos de
interesse econômico ou político. O bem maior passa a ser a emancipação, com todas as
vantagens que isso possa trazer ao nível de disponibilizar serviços e ganhos para todos, sem
esclarecer quem seria o destinatário do prejuízo político.
O momento que antecede a emancipação política de Itatinga, ao nível das idéias
políticas, delineia o que se seguirá após esse fato. O pano de fundo das relações sociais é o
do escamoteamento do discurso político definido, das ideologias em conflito nos planos
regional e nacional, tudo em benefício do interesse econômico local e em detrimento da
democracia, negação maior dos ranços de coronelismo das elites fundadoras da micro-
região. O discurso unificador, na época, foi o do progresso, da organização, da unidade dos
interesses de toda a comunidade, negando as diferenças sociais e políticas e as contradições
latentes.

3.2. A Sociedade Beneficente dos Artífices e Operários de Itapetinga –


Presentes na comunidade da Vila há algumas décadas, vários artesãos, autônomos
em seus ofícios, entre os quais podemos destacar os alfaiates, barbeiros, sapateiros,
pedreiros, pintores, ferreiros, sofrem as influências das idéias sindicalistas muito difundidas
nas décadas de 20 e 30, mas principalmente das idéias corporativistas da Era Vargas e do
Estado Novo.
Segundo relatos colhidos em entrevistas com remanescentes desses artesãos, os
mesmos constituíam um grupo, apesar de ainda não organizado, antes de 1948, capaz de
mobilizar rapidamente a opinião pública da Vila. Em encontros informais, em suas oficinas
de trabalho, estavam em constante contato com a população e, conscientes ou não,
opinavam acerca dos assuntos políticos, do cotidiano, dos problemas, enfim, formavam a
opinião pública da época. Sendo assim, sem o saber, encontravam-se no centro dos

28
acontecimentos próximos ou não, exercendo um papel fundamental na sociedade,
conduzindo-a, sem a dirigir. Esse fato não deixou de despertar a atenção do grupo
hegemônico da Vila, certamente colocando-o em discussão aberta em suas reuniões.
A Ata de Fundação da Sociedade Beneficente dos Artífices e Operários de
Itapetinga elucida as razões subjetivas de seu surgimento. A necessidade de se criar uma
entidade que organizasse os trabalhadores autônomos, ocorria, principalmente, pela
carência de recursos na comunidade, pelas demandas de caráter médico-hospitalar, jurídico
e financeiras, pelo desejo de uma certa proteção, uma vez não advinda do Estado, na base
da ajuda mútua, entre outras razões.
O aspecto objetivo, comentamos de passagem, um pouco antes. O discurso
populista, inaugurado por Vargas, colocava as massas trabalhadoras do Brasil no centro das
atenções. O personagem principal dos discursos de Getúlio eram os “trabalhadores do
Brasil”, o que criava uma cultura política e social de caráter proletário e estimulava um
certo orgulho do status de operário. Entretanto, os trabalhadores aos quais Vargas e o
Estado Populista se dirigiam eram aqueles submissos pela legislação estadonovista,
agregados oficialmente ao Ministério do Trabalho, beneficiários dos direitos trabalhistas.
Havia uma mentalidade difundida pelo DIP e outros instrumentos de propaganda
governamental de que, trabalhador beneficiado é trabalhador organizado, sindicalizado.
Para os trabalhadores autônomos, esse discurso não era uma realidade tangível, uma vez
que, não vinculados à iniciativa privada ou estatal, não auferiam vantagens das leis
trabalhistas em vigor e, tendo ajudantes em suas oficinas, corriam riscos de serem
obrigados a, como empregadores, pagar os custos dos salários e obrigações.
No interior do país, a situação do trabalhador autônomo era, diferentemente do que
ocorria nos grandes e médios centros urbanos, praticamente proletarizada. Poucos serviços,
preços proporcionais à renda das populações locais, criavam contextos que deixavam esses
profissionais em dificuldades de sobrevivência. Sua situação social era observável pelo seu
nível de consumo: oficinas alugadas; renda mensal baixa e variável; alimentação com
pouca ou nenhuma diversificação do cardápio, apenas com produtos acessíveis e
produzidos na região; vestuário simplificado; baixa ou nenhuma vida social em festas,
bailes; sem posse de meio de transporte próprio; residências simples e reduzidas, na maioria
alugadas, etc.

29
Tratando-se de um grupo social de caráter heterogêneo, uma vez que seus
integrantes possuíam ofícios diferenciados, com demandas específicas oriundas de cada
ofício, no momento histórico em foco, o elemento comum que os congrega é a autonomia e
a carências de assistência para suas necessidades mais imediatas numa vila relativamente
distante e isolada dos grandes centros do Estado e do país.
No dia 15 de Novembro de 1948, num feriado nacional, dá-se a fundação da
Sociedade Beneficente dos Artífices e Operários de Itapetinga. Conforme a Ata de
fundação, após abertura da sessão, vários participantes fazem uso da palavra, justificando a
importância da criação da entidade, já esperada há um certo tempo pelos trabalhadores
artesãos e da construção civil, ao tempo em que fazem referência aos objetivos centrais da
mesma, relacionados à ajuda mútua e assistência. Conforme os estatutos:
“& único – A Sociedade aqui referida pelas iniciais SBAOI, reger-se-á pelos presentes estatutos que a definirá como
beneficente e protetora dos seus filiados.
Art 2º. – Tendo em vista as suas finalidades, a SBAOI deverá: a) Cooperar e tudo fazer ao seu alcance para a melhoria das
condições de vida de seus associados, primando sempre pela união e a solidariedade humana, pelo progresso e pela
compreensão mútua entre seus associados; b)Ter em vista a promoção de intercâmbio cultural e associativo entre as
Sociedade congêneres existentes no país, bem como promover o congraçamento com os sindicatos operários, no sentido
de esclarecer os trabalhadores a respeito de seus deveres e direitos; c) Tudo fazer e sugerir no sentido de atender os
interesses da SBAOI, tendo sempre em vista a harmonia e a união; d) Manter, na medida do possível, assistência médica,
dentária e judiciária em favor dos associados; e) Manter escola para os filhos dos associados e dar aulas noturnas de
alfabetização de adultos entre os associados que desejarem alfabetizar-se; f) Manter a biblioteca da SBAOI, tendo em
vista o aprimoramento cultural dos associados, adotando-se o critério sadio da seleção de livros e obras todos dedicados
aos verdadeiros princípios políticos da confraternização humana, recomendando-se os tratados referente à legislação
trabalhista e outros de interesse do trabalhador; g) Na medida do possível, manter uma escola de corte e costura e outros
cursos práticos de real valor para as esposas e filhas dos associados, que venham preferir tais habilitações, estendendo
esses ofícios às esposas e filhas dos trabalhadores; h) Manter, assim que seja possível, uma cooperativa de consumo para a
melhoria do nível de vida dos seus associados.

A composição da entidade se deu com os sócios fundadores, efetivos, benfeitores,


honorários, beneméritos e correspondentes. A diretoria foi definida com nove cargos:
Presidente e Vice-Presidente, Primeiro e Segundo Secretários, Primeiro e Segundo
Tesoureiros, uma Comissão Fiscal e de Sindicância, composta de três membros. Ao
Presidente competia escolher e nomear encarregados remunerados para desempenho de
algumas funções na entidade, tais como: cobradores, bibliotecários, procuradores, etc.

30
A eleição de uma diretoria, tendo à frente o sr. Ismael Cruz Lima, alfaiate,
determina a continuidade da ação da Sociedade como instituição viva e dinâmica, presente
na vida da comunidade itatinguense.
O que chama a atenção para uma reflexão mais profunda do evento em foco, ou
seja, o surgimento de uma agremiação ligada aos trabalhadores, com discurso associativo e
sindical, mas esvaziado no conteúdo da luta classista, é o contexto nacional e local, em que,
no primeiro caso, observa-se uma investida conservadora do governo Dutra contra os
sindicatos e partidos combativos, seu alinhamento total com os interesses americanos na
Guerra Fria e, no segundo caso, no âmbito local, o discurso defensivo, conservador e
unificador dos coronéis da política, em busca do triunfo de seu projeto de autonomia
político-administrativo para Itatinga.
A sociedade, mais estratificada, especifica suas demandas a partir dos pólos sociais
que buscam se afirmar. Num momento anterior, na década de 30, o surgimento da ACI
correspondia a uma demanda das camadas altas e médias da sociedade itatinguense, mas no
final da década seguinte, exatamente em fins de 1948, as camadas mais populares se dão
conta de suas dificuldades específicas e buscam se agregar em volta de um projeto
alternativo que, se não nega o projeto do outro grupo social, aponta para não depositar sua
confiança exclusivamente nele .
Podemos, com base nessa observação, inferir que, antes mesmo que a sociedade
política se organizasse em Itatinga, a sociedade civil buscou afirmar-se para apresentar um
modelo social e solucionar seus problemas imediatos.
A Sociedade Beneficente dos Artífices e Operários de Itapetinga, organizada em
meio a uma conjuntura permeada de contradições, surge como um símbolo da contradição.
Não significa um referencial combativo da luta de classes, por não possuir dirigentes
filiados a nenhuma corrente ideológica do pensamento sindical do Brasil, pretende ser uma
entidade apolítica, mas aferra-se ao discurso da união classista, da luta por direitos, da
referência à legislação trabalhista, etc.
O papel importante que se coloca para o desempenho dessa entidade é o de centro
de debate e discussão da realidade local, formador da opinião pública e presença nítida de
um setor popular organizado na Vila e no processo político em curso. Os setores mais
privilegiados da região já não podem ignorar o poder de influência e de mobilização dos

31
trabalhadores locais. É uma nova força social que, de forma direta ou indireta, contribuirá
na evolução política do município que surgirá independente, a partir de 12 de Dezembro de
1952.
Retomando alguns pontos importantes, a gênese da Sociedade dos Artífices,
independente dos discursos de seus integrantes e dirigentes, aponta para a compreensão de
que, num período posterior, a entidade cumpre mais um papel de serviço aos interesses das
classes proprietárias em ascensão do que aos próprios filiados. Constitui-se de artesãos e
trabalhadores autônomos que, individualmente, em pequeno número, buscam aglutinar-se
para ganhar expressão social e direcionar suas parcas demandas.
Na concepção do movimento operário brasileiro do início do século, as sociedades
beneficentes e de auxílio mútuo eram condenáveis por se constituírem em instrumentos
arrefecedores das lutas, desmobilizadores, sendo assim, indiretamente colocadas a serviço
do patronato. Num momento posterior à emancipação política do município de Itapetinga,
podemos ver que o papel da Sociedade dos Artífices não foi o de colocar o conflito de
interesses, idéias ou práticas na ordem do dia, mas o de permitir um trânsito tranqüilo e
superficial de alguns de seus dirigentes pela esfera de poder das oligarquias locais.
Curiosamente, o discurso do consenso é fortalecido pelo silêncio que se faz a
respeito das agremiações políticas criadas no período pós-emancipação da cidade. Não há
registro algum sobre a identificação dos partidos políticos organizados para concorrer à
administração das instâncias públicas de poder, antes de 1957.

32
4.0. CAPITULO 3 – IDÉIAS E PRÁTICAS POLÍTICAS EM ITAPETINGA

4.1. Análise da Pesquisa Monográfica: Organizações sociais, idéias e práticas políticas-

O tempo histórico que antecede a independência político-administrativa de


Itapetinga face ao município de Itambé, constitui-se como momento de confluência
aparente de idéias e objetivos, em que grupos sociais distintos parecem vivenciar um idílio,
sem contradições e conflitos.
As idéias tendem a concentrar-se em torno de uma instituição cultural, fundada por
proprietários rurais que se destacam no cenário social como legítimos líderes da
comunidade. Ora, essa legitimidade, a priori, se funda na mentalidade arraigada da tradição
coronelista, própria da cultura nordestina, mesmo que se tenha em conta a década que
separa a derrocada da República Velha, pela mítica Revolução de 30. Há resíduos
ideológicos que perduram nas práticas sociais e políticas, uma vez que o sustentáculo destes
encontra-se no poder econômico e em suas forças coercitivas.
As permanências que se observa de idéias políticas oriundas de uma época, anterior
ao Estado Novo, demonstram a sobrevivência, nas camadas sociais existentes, de práticas
eivadas pelo autoritarismo, ora se impondo nas discussões que se faziam nas organizações
que se destacavam no período, ora na orientação do voto popular pela coerção física ou
intimidatória, pela perseguição sistemática.
As idéias dominantes se faziam aceitar, no conjunto da comunidade, pelo total
controle dos parcos recursos de comunicação e pela propaganda feita em torno de projetos
construtores ou estruturantes, com a tônica do benefício geral.
A ação efetiva do pecuarista Jovino Oliveira, na estruturação de um centro
irradiador das idéias de emancipação da Vila de Itatinga, demandou uma estratégia que, no
fundo, assentava os alicerces do futuro poder político local nas mãos do latifúndio.
Evidentemente que este processo significou a marginalização de setores ligados às camadas
subalternas da comunidade, no que tange à participação conseqüente nas decisões e
propostas. No entanto, estas camadas não deixaram de expressar sua existência e idéias,
ainda que de forma, também subalterna.

33
Os trabalhadores de Itapetinga, dispersos em atividades manufatureiras, da
construção civil e da prestação de serviços, constituía-se num grupo social que não possuía
a organicidade e a consciência coletiva capaz de formular um projeto de poder alternativo.
Suas demandas se limitavam a aspectos de satisfação mínima de algumas necessidades,
diluídas no anseio da própria comunidade, tais como a assistência médico-hospitalar,
escolar, jurídica e ao abastecimento a um custo menor.
As ideologias políticas que perpassavam a esfera nacional entre 1930 e 1952,
oscilantes enquanto idéias hegemônicas, chegavam à Vila de Itatinga com seus conteúdos
muito diluídos, não somente porque a discussão intelectual era muito simplificada pela
pouca presença de profissionais liberais de formação superior, como também pelas rápidas
mudanças da política nacional que grassava ora no terreno do autoritarismo do Estado
Novo, ora na onda conservadora de anticomunismo da guerra fria e do governo Dutra.
Entretanto alguns cidadãos, advindos de grandes centros urbanos do país, traziam
consigo, idéias presentes na disputa ideológica mais geral. É conhecida a filiação
integralista de notáveis dirigentes políticos da futura emancipada Itapetinga, como José Vaz
Sampaio Espinheira e Renato Oliveira Leite. Por outro lado, figuras populares conhecidas
como Vi Pereira, Milton Santos, entre outros, eram identificados como partidários do
comunismo.
Antes de 1964, apesar de coexistirem campos políticos radicalmente opostos,
filiados do facismo tupiniquim e do comunismo stalinista não travavam uma guerra aberta
na afirmação de seus interesses. Também não se pode afirmar, pelos testemunhos, que
havia uma colaboração estreita entre esses grupos.
O comportamento político dos grupos mais conservadores, capitaneados por ex-
adeptos do integralismo indicava, justamente, uma fidelidade aos princípios dessa
ideologia, demonstrando-se isso pela tendência, na prática, ao controle absoluto do poder
político; pelas decisões centradas na figura do chefe, líder maior; pelo culto à personalidade
do supremo mandatário; pelo uso da perseguição política e, às vezes, da coerção física de
opositores. Percebe-se uma afinidade entre aspectos personalistas do poder na ideologia
facista e nas práticas mandonistas do coronelismo local, bem como no populismo que
caracterizou a república brasileira até o golpe civil-militar de 1964.

34
Os resquícios do autoritarismo político se faziam sentir a cada disputa eleitoral, após
o processo que culminou com a emancipação política de Itapetinga e nas relações do poder
executivo local com o legislativo e com a própria comunidade.
Mais que descrever as relações de poder presentes na história de Itapetinga, nossa
intenção é contribuir para o resgate do pensamento político-ideológico das camadas
colocadas à margem do processo histórico. A ausência da fala, da expressão escrita, por si
só indica uma potencialidade silenciada. No silêncio ou nos laconismos, as forças ou
sujeitos históricos demonstram suas discordâncias (ou não) quanto à reconhecida razão
hegemônica. No específico desse trabalho monográfico, trata-se do projeto esboçado e
levado a efeito pelas camadas sociais abastadas, para a construção do espaço geográfico
que identificamos como micro-região agro-pastoril de Itapetinga, sua configuração
espacial, funcionalidade econômica, relações culturais, jurídicas, político-ideológicas,
sociais e de poder.
A organização de setores pertencentes às camadas populares em associações ou
sindicatos, indica uma movimentação social na direção de uma demarcação de espaço,
independentemente da filiação partidária específica. Começa a se esboçar um esforço
coletivo para agremiar alguns trabalhadores dispersos e, sem o discurso explícito, forjar um
certo espírito corporativo, de identidade social e arregimentação de força para o exercício
da pressão.
Quando voltamos o olhar para esse período histórico e observamos essa
movimentação, não podemos esquecer o impacto e a influência, mesmo que silenciosos,
exercidos pela religiosidade, seja sob sua expressão católica ou protestante, interferindo nas
relações sociais e políticas, no sentido de minimizar possíveis contendas e enfrentamentos
de caráter mais radical. O catolicismo atuou de forma mais aberta, pela proximidade do
padre João Félix com os tradicionais dirigentes políticos, obtendo certos benefícios
materiais para o sustento de sua atividade pastoral local. Sua contrapartida na relação
promíscua com o poder econômico em político, se expressava no conteúdo de seus
sermões, no aconselhamento pessoal ou em diálogos informais com os fiéis. O discurso
pode não ter sido político ou politizado, mas servia para esvaziar a reflexão, desviar a
atenção das polêmicas locais e, conseqüentemente, influenciar a ação dos homens,

35
sedimentando, destarte, uma certa concórdia social, bem ao gosto das camadas
hegemônicas do latifúndio conservador local.
Quanto à influência protestante, pereceu-nos circunscrita à dimensão pessoal dos
adeptos dessa corrente religiosa. A Primeira Igreja Batista, nos primórdios da cidade,
possuía pequeno número de participantes, sendo estes instruídos para o comportamento
social recatado, marcado pela austeridade e seriedade moral nos costumes. Não há
registros, testemunhos ou indícios de orientação política interna das agremiações
protestantes por parte de pastores, mas uma completa alienação face aos problemas sociais
e políticos. Marcadamente anticomunistas, sua formação e postura sempre tenderam para o
alinhamento com setores conservadores, tanto no exercício da política, como na
participação eleitoral.
A partir de uma análise mais acurada da documentação disponível, tanto nos anais
da Câmara Municipal, ano de 1957, como em atas de entidades associativas de classes e
culturais, observa-se um discurso voltado para escamotear a dimensão política e os
conflitos sociais.
Poulantzas define o campo jurídico-político das relações sociais, sob o Modo de
Produção Capitalista, como “campo dominante, sobrepondo-se ao fator econômico
que é determinante, em última instância, porém não-dominante, justamente com o
objetivo de respaldá-lo”. Segundo Poulantzas, “as leis, as determinações sociais
formais e a moral se organizam para moldar uma sociedade, aparentemente
amparada em conflitos superficiais ou sem conflitos”. (POULANTZAS, 1977, pág. 74).
A realidade de Itapetinga, no período em foco, presencia a existência de indivíduos
conscientes da conjuntura política nacional, bastante conflitiva e marcada pelo avanço do
discurso populista, paralelo ao discurso anti-popular e conservador dos partidários da UDN
e do PSD de Eurico Gaspar Dutra. Há toda uma preocupação em não se permitir os
acirramentos dos discursos, pela não manifestação das posições políticas, ao menos em
ambientes sociais.
No livro de Atas da Associação Profissional dos na Indústria da Construção Civil,
anos de 1954 a 1960, encontram-se registros de falas proibindo a manifestação política
dentro das organizações sociais, presenças constantes de políticos ligados ao poder local,
como Jovino Oliveira, palestrando sobre igualdade social, conclamando todos à concórdia,

36
transmitindo notícias de benefícios trabalhistas, prometendo escola gratuita aos filhos de
trabalhadores, além de registros de membros da Sociedade dos Artífices, assinando como
vereadores (Rozalvo Cipriano de Souza, Otávio Lacerda Rolim e Ismael Cruz Lima).
Em Ata de 1957, a Câmara Municipal de Itapetinga registra, num discurso do sr.
Ismael Cruz Lima, a primeira referência a partidos políticos.
O discurso lacunar é freqüente na história da configuração espacial política de
Itapetinga. Objetiva esconder o conflito, as divergências, para manter seguro o poder.
Lideranças oriundas de organizações de trabalhadores e populares são cooptadas pelo poder
político local e se transformam em políticos que gravitam em torno do núcleo de
latifundiários dirigentes, ex-integralistas e udenistas de plantão.
As idéias políticas oriundas do integralismo, das práticas coronelistas, do
mandonismo autoritário do Estado Novo e do populismo se impõem no modelo transposto
para a região de Itapetinga. As idéias que emanavam do movimento socialista, anarquista,
do sindicalismo livre e do comunismo, não conseguiram encontrar ressonância nos grupos
sociais populares da sociedade itapetinguense, apesar de alguns indivíduos possuírem tais
idéias, sem vínculos orgânicos externos ou internos. É uma época de crise e da hegemonia
do capitalismo em expansão. Triunfa o poder econômico. Triunfa o latifúndio.

37
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao concluir este trabalho monográfico, a partir da análise de uma documentação


disponível sobre aspectos políticos da realidade de Itapetinga num período histórico
circunscrito a duas décadas que atravessam a emancipação política do município, fica a
compreensão de que houve um processo de edificação do espaço geográfico, com a nítida
intervenção do modo de produção vigente, em sua fase de rearticulação e expansão na
Bahia, com foco na economia primária, em que agentes sociais em interação trabalharam
para a configuração de um modelo de sociedade.
A ação estruturante ou fundadora da micro-região agro-pastoril de Itapetinga,
iniciada pela elite ruralista latifundiária levou em conta o delineamento de todo o processo,
desde a escolha do sítio urbano, das terras de criação, o tipo de economia, passando pela
atração populacional, mobilizando esforços coletivos para ampliar influências, arrefecer
possíveis conflitos, cooptar lideranças populares e consolidar o poder político do latifúndio
em harmonia com seu poder econômico. Penetrando todo o processo, as idéias políticas em
evidência não foram fundadoras, nem inovadoras, mas readaptação de velhas práticas do
passado imperial e da República Oligárquica, tais como o coronelismo, o voto de cabresto,
o curral eleitoral, o mandonismo e a perseguição política. Pudemos observar, no decorrer da
pesquisa, que a flexibilidade das classes dominantes tradicionais, provoca a mutação de
suas formas de intervenção, para garantir a manutenção de seus privilégios corporativos.
Nessa conjuntura, novos elementos sociais parecem surgir para demarcar terreno,
ocupar seus espaços e propor formas solidárias de administrar o coletivo. A fundação da
Sociedade dos Artífices e Operários, constituiu-se numa reação dos grupos sociais
subalternos, anteriormente dispersos por seu caráter artesanal, portanto individual de
produção, contra o processo de alijamento e marginalização levada à prática pelos
latifundiários nos encaminhamentos e discussões políticas sobre a emancipação do
município. Entretanto, suas lideranças, pela frágil posição social e econômica que
ocupavam na comunidade e à frente de suas atividades, como a aristocracia operária
européia, foram facilmente seduzidas pelo poder econômico e político e, sucumbindo,
tornaram-se intermediários do diálogo fraterno entre os interesses distintos dos grupos
sociais divergentes e, até mesmo representantes políticos da elite conservadora.

38
Outra constatação que se verificou pela mediação da teoria foi a de que o setor que
se aglutinou em torno da instituição denominada Sociedade Beneficente dos Artífices e
Operários de Itapetinga, em nenhum momento se constituiu, de fato, uma classe operária.
Nunca existiu um operariado, no sentido exato do termo, na Micro-Região Agro-Pastoril de
Itapetinga. Isso devido ao caráter econômico agro-pastoril da região, inibidor de qualquer
atração industrial, naquele momento histórico e pelo fato de que a classe operária não
possui as mesmas características dos artífices (artesãos) e trabalhadores da construção civil
presentes na entidade. Nenhuma das formulações teóricas sobre classe social se aplica aos
trabalhadores urbanos que fundaram a Sociedade dos Artífices. Neste sentido, ajuda-nos a
formulação de Duarte Pereira.

39
.
BIBLIOGRAFIA
CARONE, Edgard. A Primeira República. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1973.
BERNARDO, Antonio Carlos. Tutela e Autonomia Sindical: Brasil, 1930-1945. São Paulo:
T.A. Queiroz, 1982.
PEDRÃO, Fernando. Os Anos Obscuros da Bahia: 1915-1950. Salvador: Revista do
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, 1997.
LE GOFF et Alli. História: Novos Problemas, in: História Social e Ideologias. Rio de
Janeiro: Martins Fontes, 1988.
_____________ História: Novos Problemas, in: A Operação Histórica. Rio de Janeiro:
Martins Fontes, 1988.
OTT, Carlos. Pré-História da Bahia. Salvador: Livraria Progresso Editora, 1958.
SILVA, Marcos A. (org.) . República em Migalhas – História Regional e Local. São Paulo:
Marco Zero/ANPUH, 1990.
BENEDICTIS, Massimo Ricardo. A Bahia de Hoje. Vitória da Conquista: O Radar Gráfica
Editora Ltda, 1991.
WEHLING, Arno; WEHLING, Maria José de. Memória Social e Documento: Uma
Abordagem Interdisciplinar. Rio de Janeiro: UNI-RIO, Mestrado Memória Social e
Documento, 1997.
OLIVEIRA, Francisco de. Elegia Para Uma Re(li)gião: Sudene, Nordeste, Planejamento e
Conflito de Classe. São Paulo: Paz e Terra, 1981.
POULANTZAS, Nicos. Poder Político e Classes Sociais. São Paulo: Martins Fontes, 1977.
PINHEIRO, Israel. Bahia: A Política Sem Memória. Salvador: Revista da Bahia, nº. 21,
Maio, 1996.
MOURA, Judith Jabur. Histórias e Causos de Itapetinga. Vitória da Conquista: UESB,
1998.
THOMPSON, E. P. A Formação da Classe Operária Inglesa I: A Árvore da Liberdade.
São Paulo: Paz e Terra, 1997.
_______________ A Voz do Passado- História Oral. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
SILVA, Maurício Gomes da. Itapetinga – Quero Te Conhecer. Itapetinga: Gráfica
Moderna, 2002.

40
HARNECKER, Marta. Fundamentos do Materialismo Histórico. São Paulo: Global, 1980.
CHAUÍ, Marilena. “Apontamentos para uma Crítica da Ação Integralista Brasileira”. In:
Ideologia e Mobilização Popular. São Paulo: CEDEC, 1978.
REZENDE, Antonio Paulo. História do Movimento Operário Brasileiro. São Paulo: Ática,
1990.
PEREIRA, Duarte. Um Perfil da Classe Operária: a ditadura nas fábricas. São Paulo:
Hucitec, 1981.

41

Você também pode gostar