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PSICANÁLISE APLICADA: PARA ALÉM DOS EFEITOS TERAPÊUTICOS, O

INÉDITO?

Ademir José Venil Da Silva1


Patrícia Fátima Mendes Guedes2

Ricardo Mégre Álvares da Silva³


Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - Unileste

RESUMO
O presente artigo teve a finalidade de verificar como em contexto de poucos
atendimentos, a psicanálise aplicada pode provocar, para além dos efeitos
terapêuticos rápidos, também uma implicação subjetiva, um movimento para algo
inédito, resgatando algo de suas premissas fundamentais. Para isso buscou-se
através de uma pesquisa teórica em psicanálise, nos textos de Freud, Lacan e
Miller, que quais são as premissas são essenciais para que a técnica não se
sobreponha à ética. Assim, abordou-se o conceito de psicanálise pura, percorreu-
sepercorreram-se formas de expansão da psicanálise ao longo da história e por fim,
tentou-se pensar sobre o que seria ou não psicanálise. A experiência de Barreto e
de Célio Garcia completam o arsenal teórico que nos permitiu concluir ser
necessário não ceder de marcar a falta, e levar o discurso analítico para tais campos
promovendo uma articulação que contemple a extensão e a intenção
analíticapsicanalítica.

1
Psicólogo (Unileste); Membro da Cidadela Analítica do Vale do Aço.
2
Psicóloga, Psicanalista, Especialista em Psicanálise Aplicada a Saúde Mental (Unileste); Membro do
Centro de Estudos e Pesquisa em Psicanálise do Vale do Aço (CEPP); Psicóloga da Secretaria
Municipal de Saúde de Coronel Fabriciano; Mestranda em Gestão Integrada do Território pela
Univale, Coordenadora do Curso de Pós-graduação lato sensu em Clínica Psicanalítica na
Contemporaneidade (Unileste), Docente do Curso de Psicologia do Unileste.

³Psicólogo, Psicanalista, Especialista em Psicanálise e Saúde Mental (Unileste); Mestre em Estudos


Psicanalíticos (UFMG); Membro fundador da Cidadela Analítica do Vale do Aço; Docente do Curso de
Psicologia do da Faculdade Pitágoras.
Palavras-chave: Psicanálise aplicada, efeitos terapêuticos rápidos, implicação
subjetiva.

3
ABSTRACT
The following arcticle has the purpose of checking how few calls in the context of the
applied psychoanalysis can cause, besides the rapid therapeutic effect, also a
subjective implication, an unprecedented move, recovering something of its
fundamental assumptions. We seek through theoretical research in psychoanalysis,
in the writings of Freud, Lacan and Miller, assumptions that are essential for the
technique does not overlap with ethics. So, we approach the concept of pure
psychoanalysis, we used forms of expansion of psychoanalysis throughout history
and finally, we tried to think about what would or would not psychoanalysis. The
experience Barreto and Celio Garcia complete the theoretical arsenal that allowed us
to conclude the necessity to mark the fault and take the analytic discourse to other
fields promoting articulation covering the extension and analytical intent.

Keywords: Applied psychoanalysis, therapeutic effects fast, subjective implication.

Introdução

Desde sua criação, a Psicanálise é criticada por diversos seguimentos da


sociedade, como vertentes conservadoras da religião e das ciências. Segundo
Freud, “A sociedade não pode responder com simpatia a uma implacável exposição
de seus efeitos danosos e deficientes. Porque destruímos ilusões, somos acusados
de comprometer os ideais” (FREUD, 1910/1990, p. 132). Percebe-se, portanto, que
o próprio Freud, se achava advertido quanto à resistência da sociedade em relação
ao método psicanalítico.
Porém, não raramente a psicanálise é convocada pelo social, na
universidade, na saúde pública, na educação, enfim, nos mais diversos setores,da
sociedade onde a sua aplicação seja julgada possível, utilizando no intuito de se
utilizar de sua experiência investigativa para apontar causas, efeitos e ações que
colaborem nestas nas mais diversas áreas. Porém, muitas vezes, estes campos
demandam algo que a psicanálise só poderia atender se abandonasse sua ética, a
do bem dizer, i
impedindo a associação livre e fazendo mau uso da transferência, quando não
contra-transferindo, e atuasse com base em preceitos comuns do mundo atual: a
pressa, pressão, produtividade, lucratividade e tudo omais que cerca a lógica
capitalista.
No presente trabalho faz-se uma investigação acerca da atuação aplicação da
psicanálise em um campo em que tem sido muito utilizada: em contextos de poucos
atendimentos, como Unidades de saúde pública, clínicas escola e nos CPCT’s
(Centro Psicanalítico de Consulta e Tratamento) 3, onde é convocada a produzir
efeitos terapêuticos rápidos. Utilizaremos, no presente artigo, o conceito de efeitos
terapêuticos como o desaparecimento de sintomas.
O interesse por tal tema foi despertado no autor do presente artigo,
principalmente pela ocasião de estagiar tanto na clínica escola do Centro
Universitário do Leste de Minas Gerais, quanto na rede pública de Coronel
Fabriciano, onde pôde perceber a necessidade de haver maior alinhamento entre
teoria e prática. Devido à ansiosa espera por parte dos estagiários em causar efeitos
terapêuticos, muitas vezes, pode-se confundir psicanálise e com outros tipos
métodos de tratamentos psicoterápicos. Assim, surge a ambição por tentar uma
elucidação, no sentido de buscar a inserção da psicanálise nestes lugares antes
inabitados por ela. Abrindo uma discussão que poderia contribuir para que uma
suposta, se torne uma efetiva, inserção.
O senso comum, por vezes traz a psicanálise como um tratamento que seria
sempre longo, que pode demorar mais de dez anos. Confundindo confundindo o fim
da análise com o surgimento de efeitos terapêuticos. É neste último sentido que
falaremos em poucos atendimentos. Poucos em relação ao que comumente se
pensa espera da psicanálise. Há algum tempo surgiram vários trabalhos
demonstrando, através de casos clínicos, que a psicanálise produz efeitos
terapêuticos rápidos, inclusive sendo utilizada em contextos de poucos atendimentos
e de gratuidade, como nos CPCTs por exemplo. Mas esta ênfase na terapêutica,
com tratamentos gratuitos e tempo prefixado, nos leva a pensar o que de psicanálise
ainda há nesta aplicação e o que poderia ser feito para garantir que a técnica não se
sobreponha à ética.
3
Dispositivo utilizado nos Institutos de formação da Associação Mundial de Psicanálise (AMP), neste
início de século.
Diante desta questão, buscou-se, neste trabalho, verificar como, em contextos
de poucos atendimentos, além dos efeitos terapêuticos rápidos da psicanálise, se
pode produzir uma implicação subjetiva, mudanças no posicionamento do sujeito
que não o deixem alienado acomodado ao alívio dos de alguns sintomas, mas, que
lhe provoquem movimento em direção a novas retificações subjetivas.
Trata-se de uma pesquisa exploratória que, de acordo com Gil (2002) permite
maior liberdade ao tratar dos conceitos abordados no problema, além da
possibilidade de elaborarmos hipóteses ou alternativas como respostas.
Em relação aos procedimentos, trata-se de uma pesquisa teórica em
psicanálise. De acordo com Garcia-Roza (1994) a proposta da pesquisa teórica em
psicanálise seria a possibilidade de remeter seus conceitos fundamentais a uma
análise mais crítica que, aqui, vai se ater mais especificamente a à sua
aplicabilidade, com aà terapêutica como objetivo principal em contexto de poucos
atendimentos.
O corpus desta pesquisa é composto por livros, artigos e revistas de autores
da psicanálise. Além das obras de Freud e de Lacan, utilizou-se de publicações de
outros psicanalistas, como Miller, Célio Garcia e Barreto, principalmente.
O artigo perpassa pelas considerações de Freud e Lacan sobre a psicanálise
pura e a formação do analista, tomando também como referência considerações de
Miller, para então discutir a aplicação da psicanalise à terapêutica, onde a vasta
experiência de Barreto nos auxilia fundamentalmente, chegando ao contexto de
poucos atendimentos e a demanda por efeitos terapêuticos rápidos, trazendo falas
de outros autores contemporâneos, para tomarmos conhecimento, tanto das
vantagens observadas, quanto das críticas em relação a esta psicanálise que seria
rápida e gratuita. Assim pôde-se pensar sobre o limite tênue entre o que é
psicanálise e o que não é, sobre uma extensão que contemple a intenção.

2 Psicanálise pura

O termo psicanálise pura surge em Freud (1919/1990), no artigo “Linhas de


Progresso na Terapia Psicanalítica”. Em 1919, dirigindo-se aos psicanalistas, Freud
postula sobre a necessidade de se estender a aplicação do método psicanalítico a
mais pessoas, acrescentando serem necessárias para isso algumas adaptações.
Afirma sobre a necessidade de misturar o ouro da psicanálise pura ao cobre da
sugestão e talvez até mesmo lançar mão da hipnose. Nesse ponto, porém, devemos
estar advertidos de que o autor, cinco anos antes, em “Recomendações ao médico
que pratica a psicanálise” (FREUD, 1912/2010), havia se posicionado em relação à
aplicabilidade de seu método nas instituições asseverando que, apesar de eventuais
desvios provocados por particularidades institucionais, a psicanálise pura seria a
saída ideal, mesmo em condições aparentemente desfavoráveis à sua
aplicabilidade, o que demonstra a preocupação de Freud quanto à diferenciação
entre a psicanálise e uma psicologia da consciência, atento ao que eram aparentes
melhoras transitórias e aos efeitos danosos decorrentes da aplicação desta última.
Afinal o que seria a psicanálise pura para Freud? Ainda em “Recomendações
ao médico que pratica a psicanálise”, o autor postula que a única regra fundamental
da psicanálise é a associação livre, onde o paciente diz tudo que lhe vem à cabeça,
sem selecionar material algum. O analista, da mesma forma, também não seleciona
material na fala do paciente, pois tudo o que ele diz tem o mesmo valor, cada fala,
mesmo que de imediato pareça sem sentido, posteriormente se apresenta como
significado ligando-se a uma nova fala. Assim, anotar falas do paciente durante a
sessão poderia prejudicar o tratamento, pois seria exatamente uma seleção de
material. Com relação a anotações com fins científicos, Freud orienta que o ideal é
que sejam feitas após o término da sessão (FREUD, 1912/2010).
Apesar das recomendações, Freud salienta que não se trata de normas
obrigatórias, podendo cada analista trabalhá-las a seu modo, desde que não abra
mão da associação livre (FREUD, 1912/2010). Por diversas vezes, em sua obra, o
autor reforça a importância dos pensamentos espontâneos, que é outra expressão
para a associação livre, orientando que até mesmo a interpretação de sonhos deve
ser deixada de lado, caso prejudique a espontaneidade no andamento do
tratamento.

Sei que não apenas para o analisando, mas também para o médico significa
pedir muito abandonar as ideias conscientes intencionais, durante o
tratamento, e entregar-se totalmente a uma orientação que sempre nos
parece “casual”. Mas posso garantir que somos recompensados cada vez
que nos decidimos a ter fé em nossas afirmações teóricas e nos
convencemos a não disputar à direção do inconsciente o estabelecimento
das conexões (FREUD, 1911/2010, pp.128-129).
Temos, portanto, no conjunto denominado “Artigos sobre técnica”, indicações
suficientemente claras do que para Freud seria a psicanálise pura: uma psicanálise
que tenha sua condução pautada na rigorosa observância da regra áurea da
associação livre, acompanhada de uma abstenção de intervenções no campo das
sugestões (MÉGRE, 2013).
Neste momento, iremos recorrer ao ensino de Lacan, buscando localizar o
conceito de psicanálise pura. Por ocasião do ato de fundação da Escola Francesa
de Psicanálise, na proposição de 1967, Lacan (1967), afirma que psicanálise pura é
a práxis e doutrina da psicanálise propriamente dita, psicanálise didática. Ou seja,
aquela que tem como objetivo último, a formação do analista. Ainda neste texto, o
autor faz críticas à formação do analista nos moldes da IPA (Associação
Psicanalítica Internacional), onde o candidato à analista se submete a uma análise
didática, com um analista escolhido pela Associação. Nesse modelo o final de
análise, segundo Lacan, coincide com a identificação ao analista didata (LACAN,
1967/2003).
Para Lacan (1967/2003) o fim da análise se dá através de uma destituição
subjetiva do analisando, configurando sua passagem para a posição de analista. “A
passagem de psicanalisante a psicanalista tem uma porta cuja dobradiça é o resto
que constitui a divisão entre eles, porque esta divisão não é outra senão a do sujeito,
da qual esse resto é a causa” (LACAN, 1967/2003, p. 259).
Assim, a falta que angustia pode paralisar o sujeito, como também pode
causar o movimento. A dobradiça de que fala Lacan é justamente a falta que divide
e deixa sempre um resto.
Para Lacan (1967/2003), “Nessa reviravolta em que o sujeito vê soçobrar a
segurança que extraia da fantasia em que se constituiu, para cada um, sua janela
para o real, o que se percebe é que a apreensão do desejo não é outra senão a de
um des-ser” (Lacan, 1967/2003, p. 259). Sendo assim, o sujeito não mais se
reconhece como aquilo que é, mas como uma falta-a-ser, sempre em movimento e
com a possibilidade de se tornar algo que ainda falta.
Miller (1993) traz considerações interessantes, ao nosso tema, em seu
seminário “A lógica na direção da cura” realizado em Belo Horizonte, por ocasião do
IV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano. Segundo ele, o fim da análise nada tem
a ver com o fim do sofrimento. A vida é sofrida, sempre haverá desejos impossíveis
de se realizar, mas, o sujeito chega a um ponto onde dá conta de continuar sua
análise, agora sem um sujeito-suposto-saber. Afinal ele é o sujeito que sabe sobre
si; o único, aliás, ele é o analista.
Lacan (1967/2003) chama de travessia do fantasma o momento em que o
analisante chega ao cerne da questão. Este, nada mais é que a falta-a-ser, ou seja,
ocorre uma destituição subjetiva. Destituição esta que vem acompanhada do que se
pode chamar de desaparição do Outro, Este Outro que o sujeito até então creditava
a função de nomeá-lo, dizê-lo, torná-lo plenamente feliz, completo. E do
desvanecimento da demanda.
O fim da análise é marcado, não apenas, pelo consentimento da castração, é,
na verdade, o desaparecimento da demanda. Não se tem mais o que pedir ao
analista; aliás, porque pedi-lo, se sabe que ele não poderá atender? Ele não é o
Outro. Parece desesperador pensar que neste ponto o sujeito está desamparado.
Podemos dizer que na falta-a-ser não há Outro que lhe faça ser e nem mesmo há a
demanda a direcionar a este que não existe. Por isso, torna-se necessário um Outro
substituto. Um paradoxo! Um Outro para quem já sabe de sua inexistência (MILLER,
1993).
Mas, o que temos é isto: psicanalistas discutindo psicanálise. A Escola torna-
se assim o Outro para os desamparados analistas. Uma questão importante é que o
sujeito frente o desaparecimento do Outro, não se pense a si como sendo o próprio
Outro, pois neste caso seria impossível conduzir uma análise (MILLER, 1993).

3 A expansão da psicanálise e sua aplicabilidade no social

Ao estudarmos sobre a psicanálise percebe-se que sua práxis é um


tratamento e uma transmissão ao mesmo tempo. Assim, é como se clínica e escola
fossem a mesma coisa, mas, diferente do que acontece em outros saberes, o
conhecimento, ou o savoir faire, o “saber fazer” se dá, não trabalhando o outro, mas
sim a si mesmo. Por isso Freud dá muita importância à análise para quem pretende
ser analista (Freud, 1912/2010).
A psicanálise se difundiu como Freud desejava, mas ainda apresenta alguns
complicadores, como, por exemplo, o ensino da psicanálise na universidade. Algo
problemático, pois, o discurso da psicanálise postula a incompletude, a falta, a
dúvida, enquanto que o discurso da ciência, veiculado na universidade representa o
lugar de um saber todo, da certeza e da razão (MONTEIRO, 2001).
Poderíamos questionar, então, porque a psicanalise entra na universidade.
Sabemos que muitas questões levam a isto e não é de nossos objetivos neste
trabalho aprofundar nesta questão, mas algo aí nos intriga. A função de marcar a
falta nos impediria de entrar em consenso, mas para a psicanálise entrar no campo
universitário, ambos tem de dar e receber algo, ambos tem de ganhar e perder algo,
e assim, isto não seria um consenso? Ou seria um consentimento necessário, porém
levando o discurso analítico junto?
Na universidade a psicanálise, enquanto teoria, é transmitida inclusive a quem
pode nunca passar pela experiência analítica e, ainda assim, com um diploma de
psicologia dizer que trabalha clinicamente com psicanálise. Podemos pensar que
isto já seja submeter-se à psicologia e ao diploma em um discurso do Mestre, aquele
que se utiliza do saber alheio a seu favor. Ao passo que um militante da psicanálise
pode também se utilizar de seu papel de professor para profanar dentro da própria
universidade, desmascarando o poderio do Mestre que tenta passar despercebido
através do discurso universitário, o qual se utiliza da credibilidade empírico/científica
para legitimar o saber do outro como sendo seu, servindo de disfarce ao Mestre.
Profanar o Mestre é o que Lacan faz em seu seminário 17, ministrado dentro de uma
faculdade, causando muito incômodo (LACAN, 1969-1970/1992).
Freud (1919/1990) insiste na necessidade de estender a psicanálise a mais
pessoas, e que, para isso, há de se fazer algumas adaptações. Segundo ele é
preciso misturar o ouro da psicanálise pura ao cobre da sugestão. Porém, também
não se abstém da difícil tarefa de analisar sua própria criação, enfrentando as
distorções teóricas que seus próprios seguidores instalavam na psicanálise. Isto ele
mesmo comprova em “A história do movimento Psicanalítico” onde faz toda uma
critica teórico/política a Jung e Adller (FREUD, 1915/1990).
Alguns psicanalistas, depois da morte de Freud, postularam algumas teorias
dissonantes com o pensamento dele, acreditando, inclusive, na necessidade de
fortalecer o ego do sujeito para que ele não adoecesse (LACAN, 1954-1955/1992).
Ou seja, fortalecendo o recalque e suprimindo os sintomas, calando. Seria então
psicanálise? Frente a questões como esta, Lacan não se cala e faz questão de
apontar deturpações, o que culmina em sua “excomunhão” da IPA (Associação
Internacional de Psicanálise). Porém, a saída da IPA não o impediu de continuar seu
ensino (LACAN, 1967/2003).
Como podemos perceber ao longo da história, tentativas de expandir a
psicanálise, por vezes pode resultar em um deslizamento para algo contraditório
com a invenção freudiana. Recentemente presenciamos um movimento que, a
princípio, pode parecer bastante interessante e até necessário, mas, que deve ser
melhor teorizado e investigado para que não se torne uma deturpação da invenção
freudiana e do ensino de Lacan. Aqui nos referimos à aplicação da psicanálise em
contextos de poucos atendimentos e de gratuidade, onde se busca, sobretudo, os
efeitos terapêuticos rápidos da psicanálise - a psicanálise aplicada à terapêutica
(BARRETO, 2010).
Segundo Barreto (2010), a psicanálise aplicada à terapêutica atende,
geralmente, com número reduzido de atendimentos e gratuitamente. Isso quer dizer
que há uma expansão da psicanálise a um público que ainda não está familiarizado
com este tipo de experiência, com o qual não se teve contato. Ou seja, pessoas que
antes não teriam a oportunidade de fazer uma psicanálise, agora têm. Mas,
podemos dizer que sempre trata-se de intervenção analítica?
Podemos perceber que a expansão da psicanálise é algo necessário e
igualmente difícil de que aconteça sem nenhum risco das tentativas desta expansão
culminarem em sua falsificação, faltando algo da ética da psicanálise. Faz-se
necessário que se implique a ética da psicanálise às suas aplicações, como também
em sua transmissão, também para que a proposta de Lacan (1967), seja atendida.

A proposta da ‘Proposição’ é de acertar na mosca, no ponto de junção, de


passagem entre analisando e analista, “única maneira de manter a via da
Psicanálise” e a probabilidade de seu ato. Última tentativa para que a
Psicanálise aplicada (a clínica), se faça em função da Psicanálise pura; a
extensão em função da intenção; última tentativa para que a Escola tenha
Psicanalistas (“da sua experiência mesma”) (FINGERNANN, 1992, p.55).

Segundo Barreto (2010), a psicanálise em contexto de atendimento gratuito,


com número reduzido de atendimentos, pode ser utilizada. Porém, não se deve
esquecer de que se trata de psicanálise aplicada, longe de ser a psicanálise pura,
esta se encontra aplicada à terapêutica, que não é o objetivo principal da psicanálise
mas, que vem como um acréscimo à mudança de posicionamento e a implicação
que se espera do sujeito analisante.
A psicanálise aplicada à terapêutica exige do analista uma posição mais
ousada, com intervenções mais pontuais e diretas. A fim de se obter os efeitos
terapêuticos rápidos da psicanálise. O que não é o mais interessante no que condiz
à dimensão política da psicanálise e ao caráter de tempo do sujeito tão caro à
psicanálise pura. Mas que nestes contextos, infelizmente, faz-se necessário
(BARRETO, 2010).
À primeira vista esta possibilidade de oferecer psicanálise de graça, aos
desavisados pode parecer interessante, mas Barreto afirma que:

Não há psicanálise de graça. A questão é: quem paga uma psicanálise? A


esse respeito, temos três momentos. Num primeiro, paradigmático, o
analisante paga a psicanálise. Depois, temos um segundo momento, onde
se introduz um terceiro, que é a instituição (a seguridade social, o convênio,
etc.). O que está sendo proposto agora é realmente uma novidade: O
psicanalista paga a psicanálise. Isso não me passou despercebido, e ficou a
martelar-me: por que, além de pagar com sua pessoa, o analista deveria
pagar ainda mais? (BARRETO, 2010, p. 323)

O autor complementa: “Não sejamos ingênuos. Nesse mato há coelho. E,


talvez, o coelho seja este: os analistas do CPCT não cobram, e ainda pagam,
porque não se trata de um ato analítico, mas de um acting out” (BARRETO, 2010, p.
323). Ou seja, uma atuação inconsciente, própria do discurso da histérica, que
supõe que o Outro sabe sobre ela, que faz tudo pelo Outro, que atua para o Outro.
Outro que o analista não tem.
“O CPCT seria um acting out resultante de uma contratransferência atuada; a
contratransferência do Campo Freudiano à subjetividade de nossa época” [...]
(Barreto, p. 325). Podemos entender que responder à demanda, de um lugar
comum, atendendo aos pedidos do Outro seria sair do lugar de fazer desejar para
fazer gozar e gozar junto. O “analista” cairia então nas identificações imaginárias
(LAURENT, 1999). Ou seja, esta psicanálise aplicada estaria respondendo à
demanda do social. Estaria obedecendo ao imperativo de pressa, pressão, dinâmica,
imposto pelo mestre Capital. Estaria dando ao social o que ele pede, deixando de
lado as premissas fundamentais da psicanálise e se convertendo ao ideal
contemporânea, que tenta manter o círculo do consumismo, ou seja, se
transformando completamente em um tipo de psicoterapia e falsificando a
psicanálise. Pois estaria na mesma mão do grande Outro unificador, ajustando o
sujeito para o bem comum e desconsiderando o bem dizer.
O que Barreto (2010) nos mostra é que neste caso não há psicanálise. Freud
(1913/2010) chama a atenção para a importância do pagamento no tratamento
analítico, ressaltando as questões simbólicas relativas ao dinheiro para os sujeitos
falantes. Ir ao analista não pode ser como ir à manicure ou ao shopping, portanto o
preço não pode ser um instrumento de gozo, mas sim de falta. Se o sujeito não paga
de forma alguma, corre-se o risco de uma perda na suposição de saber e aquilo que
nos é tão caro: a implicação do sujeito. E o analista atuaria como um ator de
novelas, talvez uma distração ao cliente.
Considerando as criticas da psicanálise em relação à lógica de mercado,
podemos inferir que não só o dinheiro pode ser um preço a pagar, o analista deve
saber manejar esta relação de preço/falta com cada analisante que lhe chega nos
serviços aparentemente gratuitos. Cabe ao analista fazer com que o sujeito
reconheça algo como um pagamento (Mégre).
No que concerne ao tempo também há algo passível de interrogação. Utiliza-
se da hipótese dos ciclos para prefixar o tempo de análise. “Sente-se que nas
análises há ciclos, especialmente nos momentos que o analisante pensa em ir
embora. Depois, ele se liga a uma nova etapa, e retoma um trajeto mais longo.
Estamos aqui diante de ciclos iniciais completos” (MILLER, 2008, apud SANTIAGO,
2007, p. 13).
Mas, podemos pensar que nos autorizar a determinar se este ciclo será
completo em um mês, ou em quatro meses, ou um ano é pretensioso demais.
Talvez seja mais interessante reconhecer que só se é possível perceber o fim de um
ciclo no momento em que ele acontece. A hipótese dos ciclos pode ser vista como
algo fantástico, mas de forma alguma nos dá subsídios para prever o tempo de cada
ciclo, de cada sujeito. Porém, um tempo sem fim, sem limite, com infinitas
possibilidades é um discurso de outro tipo de tratamento, não o psicanalítico. O
sujeito ao longo da vida se depara com fins, mortes e lutos.
Visto que nos espaços onde se trabalha com limitação de tempo, o objetivo
não é que o analisante se torne um analista, este “fim” de análise acaba sendo
determinado pelos efeitos terapêuticos. Isto porque se vendo livre dos sintomas os
sujeitos, por vezes, vão embora. A questão é que as Unidades de Saúde e clínicas
escola são instituições representantes do social, supostamente interessadas no bem
estar do cidadão, muitas vezes confundindo com a noção de sujeito.
O sujeito não é o cidadão. Um e outro representam duas posturas,
emergência ou constituição de sentido. O cidadão é, de inicio, um,
qualquer um; o sujeito é singularidade que se afirma por ocasião de
um acontecimento a que ele passa a dever fidelidade (GARCIA, 2000,
p. 23).

É por esta singularidade que o analista se interessa, é a escuta do sujeito


pontual. Os cidadãos têm necessidades comuns, os sujeitos têm desejos e questões
singulares; pelos quais o social, por vezes, não se interessa. Neste sentido a
psicanálise, mesmo dentro das instituições, vai além do que seria um representante
do social. A sua intenção vai além de promover o bem-estar (GARCIA, 2000).
Novamente aqui teremos de dar e receber algo. Oferecemos os efeitos
terapêuticos. Ora, por que não exigir uma implicação subjetiva? Afinal a angústia em
se implicar com o que há de mais obscuro em si mesmo pode ser uma forma de
pagamento muito justa. Lacan teve um analisante que no inicio do tratamento, nada,
em dinheiro, lhe pagava. (MILLER, 2011).
Trabalhando com psicanálise aplicada, sem se abster de fundamentos
estruturais da teoria e ética enraizadas na psicanálise pura, começamos a nos
aproximar da difusão da psicanálise com a intenção analítica. Então, a grande
questão pode ser como os pacientes deixam a psicanálise aplicada e o que surge
depois dela. Os usuários podem deixar o tratamento com sentimento de estar
curado, nada faltar, tudo ser possível. Isso poderia ser um bem-estar. Ou podem
deixá-lo sabendo que falta algo, que caminharam sim, resolveram algo, mas que não
são completos nem completáveis. Se estes sujeitos vão embora da mesma forma
com que chegam, tendo como diferença apenas o desaparecimento dos sintomas,
pode-se dizer que a terapêutica teve sucesso. Mas aí não se foi além dela, e por
tanto talvez tenha se perdido ate mesmo da psicanálise aplicada.
Santiago (2007) diz que este método da psicanálise aplicada à terapêutica
pode ser uma revitalização do desejo do analista (o desejo de que haja psicanálise).
Mas adverte que nada desta revitalização seria possível se a psicanálise aplicada
não ousasse atingir algo da verdadeira natureza da psicanálise pura.
Alvarenga (2009) explicita que:

Ao produzir os efeitos terapêuticos rápidos, estaríamos tentando nos


confirmar aos ideais terapêuticos do mercado? É verdade que entramos
nessa empreitada com a psicanálise aplicada à terapêutica com a idéia de
fazer a psicanálise continuar a valer no mercado, mas é certo que
produzimos nos tratamentos conduzidos efeitos que não creio ser abusivo
chamar de analíticos. O que tentei demonstrar foi como, longe de sugerir
aos sujeitos que nos procuram no CPCT uma solução, ou adapta-los ao
discurso do mestre, exacerbamos a relação de cada um com o S¹ que lhe é
próprio, permitindo-lhe um novo uso dele, o que me parece testemunhar o
uso, aplicado à terapêutica, do discurso do analista (ALVARENGA, 2009, p.
101).

Outra forma da psicanálise entrar no social é o que Célio Garcia (2000) nos
propõe: a Clínica do Social. Não uma psicanálise aplicada ao social, atendendo a
seus “pedidos”. Mas, uma psicanálise implicada pelo social. Trazendo o discurso
analítico para fora do consultório, deitando o social no divã. Pois, se por um lado a
psicanálise responsabiliza o sujeito, por outro, não raramente o social abstém-se de
suas responsabilidades, criminalizando, excluindo e adoecendo os sujeitos. Na
Clínica do Social o discurso psicanalítico é introduzido nas discussões políticas. A
psicanálise tem algo a dizer. Em seu dizer silencioso o discurso psicanalítico tem por
finalidade quebrar a dinâmica e fazer surgir algo novo; não ser mais um para entrar
no consenso, mas ocupar exatamente o lugar do menos um (LAURENT, 1999). Pois
não se pretende a boa governança, mas sim a apontar para o impossível que o
consenso e a gestão dos possíveis faz questão de desconsiderar (LEBRUN, 2009).
Podemos então trabalhar com a hipótese de que a psicanálise pura é aquela
que deita o sujeito no divã, e a Clínica do Social a que deita o social no divã, sendo
ela uma clinica psicanalítica implicada pelo social e não aplicada a ele. Neste
sentido, podemos interrogar: seria esta psicanálise aplicada à terapêutica com
pressa de resultados, uma psicanálise aplicada ao social e, portanto, atendendo a
demanda do social? Parece-nos, ainda, uma incógnita, precisamos ir além para
verificar se ela deita mesmo alguém no divã e se realmente há uma escuta do
cidadão/sujeito. Destas questões, percebemos a necessidade de que, não só os
psicanalistas, mas, também a psicanálise esteja sempre em análise.

4 Psicanálise ou não...

A psicanálise, para além da finalidade da formação do analista, tem efeitos.


Algumas pessoas podem procurar a análise para resolver algo pontual e ao
considerarem que atingiram um efeito suficiente, a interrompem. Alguns mais
esclarecidos podem já de início informar ao analista que o que buscam não é uma
análise completa, se é que se pode chamar assim (BARRETO, 2010). Os efeitos
analíticos são imprevisíveis, no sentido de que o analista não sabe no que,
exatamente, sua intervenção acarretará; justamente por não ser balizada por
desejos do sujeito atrás do divã. A Interpretação diz nada mais que sobre a verdade
do sujeito analisante, nada mais quea partir daquilo aquilo que ele mesmo disse sem
pensar. As interpretações, por vezes causam desconforto para o analisante, já que é
o ressoar daquilo que não se quer escutar, daquilo que se disse sem querer dizer.
Afinal, o sujeito em análise, deve dizer tudo que vem a sua mente, o que incluiria
falar também o que seus pensamentos intencionais se negam a dizer (FREUD,
1912/2010).
O primeiro efeito necessário para a operação da psicanálise é a implicação do
sujeito. Assumir sua responsabilidade em seu sofrimento. Somente através da
implicação subjetiva é que o sujeito se move para algo novo, para algo que nunca
foi. Estabelecendo um novo posicionamento, uma nova lógica, e não restabelecendo
um posicionamento anterior, entendido como normal, mas que, contraditoriamente,
culminou no adoecimento do sujeito. Depois da psicanálise não se sabe no que o
sujeito se transformará, mas se sabe de que não será o mesmo de antes. Após
algum tempo de análise o sujeito passa a perceber o que de seu sofrimento é
responsabilidade sua e o que no outro o faz sofrer. Daí o que fará é escolha sua,
sem sugestões do analista (BARRETO, 2010). Não há necessidade de o analista
ajudar o paciente a fazer sínteses, pois ao retirar as resistências, os conteúdos já se
rearranjam. O sujeito é quem deve fazer as suas sínteses; do contrário estaríamos
moldando-o a nosso modo (FREUD, 1919/1990).
Sobre o inicio do tratamento Freud afirma:

Antes de tudo, a iniciação do tratamento leva o doente a mudar sua atitude


consciente para com a doença. Normalmente ele contentou em lamentá-la,
desprezá-la como absurdo, subestimá-la na sua importância, e de resto deu
prosseguimento, ante as suas manifestações ao comportamento repressor,
à política de avestruz que praticava com suas origens. Pode então ocorrer
que ele não saiba exatamente as precondições de sua fobia, que não
escute as palavras corretas de suas ideias obsessivas ou não apreenda o
verdadeiro propósito de seu impulso obsessivo. Naturalmente isso não
ajuda a terapia. Ele tem de conquistar a coragem de dirigir sua atenção para
sua doença. A própria doença não deve mais ser algo desprezível pra ele,
mas sim tornar-se um digno adversário, uma parcela do seu ser
fundamentada em bons motivos, de que cabe extrair algo valioso para sua
vida futura (FREUD, 1914/2010, p. 203).
Assim, percebe-se que em psicanálise, este primeiro efeito é o de fazer com
que o sujeito seja ativo no tratamento, mais do que pode acontecer na medicina e
em outros tipos de tratamentos psicológicos, nos quais o papel ativo é
principalmente do terapeuta que supõe conhecer os parâmetros de saúde/doença,
certo/errado, direcionando o sujeito para um caminho mais saudável (LACAN, 1969-
1970/1992).
Ainda acompanhando o ensino de Lacan (1969-1970/1992), o analista não
ocupa um lugar de mestre, sugerindo caminhos, pensamentos mais aliviantes, ações
mais úteis, mas sim de suposto saber, onde o analisante entrega ao analista suas
palavras, para que lhe sejam devolvidas. O analista conduz o tratamento, mas, a
rigor quem faz uma análise é o analisante e ele é responsável por enfrentar seu
sofrimento, e suas escolhas inconscientes, que ainda assim são suas, de sua
responsabilidade.
Psicanálise não é uma terapia, no sentido de que não pretende nem promete
a cura. O que o analista oferece é sua escuta, seu dizer silencioso que provem do
desejo do analista, que nada mais é que o desejo de que haja psicanálise (LACAN,
1969-1970/1992). Desejo de escutar. Escuta esta diferenciada por se tratar da
escuta do inconsciente.

Esquece-se, com efeito, sua pregnante razão de ser, que é constituir a


psicanálise como uma experiência original, levá-la ao ponto em que nela
figura a finitude, para permitir o a posteriori, efeito de tempo que, como
sabemos, lhe é radical. Essa experiência é essencial para isolá-la da
terapêutica, que não distorce a psicanálise somente por relaxar seu rigor.
Observaria eu, com efeito, que não há definição possível da terapêutica
senão a de restabelecimento de um estado primário. Definição, justamente,
impossível de enunciar na psicanálise (LACAN, 1967/2003, p. 251).

Enfim, tudo em psicanálise está às voltas com o discurso do analista (LACAN,


1969-1970/1992). O sujeito fala, para o psicoterapeuta, para o médico, para o
professor, para o pai, para todos e para o analista. O que difere é a escuta, o
discurso analítico. É isso o que provoca uma mudança na atividade consciente do
analisante. Sendo assim, para que a psicanálise aplicada atinja algo da psicanálise
pura é necessário que se vá além da terapêutica; o que está atrelado ao discurso a
que o analista se despende.
Em outros tipos de tratamentos psicológicos o paciente diz o que quer mudar
e o terapeuta lhe aplica técnicas que o levam ao que pede. Muitas vezes voltar a um
estado anterior de bem-estar, desconsiderando que o homem tem quereres e
desejos e que o que o ego quer não é exatamente o que o inconsciente deseja. Na
psicanálise, o sujeito diz o que quer mudar e a psicanálise lhe interroga sobre seus
desejos, afinal o que ele pede é o que deseja? (FORBES, 2003). O analista ousa
escutá-lo, o impossível. O discurso do analista, nada mais é que o discurso do
desejo inconsciente do analisante. O caminho do analisante é estranho ao analista.
Não lhe compete mostrar o seu caminho; o analisante tem seus caminhos. Por que
tomaria emprestado o do analista? Para isso já existe a religião, a ciência e tantos
outros mestres (LACAN, 1969-1970/1992).
O método analítico é árduo e, muitas vezes, o analisante se defende do
encontro com seus próprios desejos. “É do arsenal do passado que o doente retira
as armas com que se defende do prosseguimento da terapia, as quais temos de lhe
arrancar peça por peça” (FREUD, 1914/2010, p. 202).
Miller (2008) se expressa demonstrando grande entusiasmo com os efeitos
atingidos nos CPCT’s. Em vários momentos ele demonstra empolgante satisfação
com os efeitos terapêuticos rápidos. Ele também se refere aos acontecimentos
políticos do momento - a saber, a tentativa de regulamentação externa da
psicanálise, discutida por Aflalo (2012), no livro “O assassinato frustrado da
psicanálise”. O que nos leva a questionar se Miller não estaria preocupado em
demonstrar uma utilidade pública da psicanálise e que perdas se teria com esta
empreitada. Anos depois, Miller publica alguns trabalhos trazendo críticas ao que
defendeu em época anterior. Em uma entrevista concedida a Jorge Forbes, em
2009, ele diz que já esperava efeitos negativos dos CPCT’s e que era uma
experiência; que seu erro foi não tê-la parado antes. Porém, em seu livro “Efeitos
terapêuticos rápidos em psicanálise” (2008) não demonstra estar precavido, mas sim
entusiasmado.

[...] um afeto perigoso para o analista é a ambição terapêutica de realizar,


com seu novo e discutido método, algo que tenha efeito convincente em
outras pessoas. (...) Um antigo cirurgião teve por lema a seguinte frase: Je
le pansai, Dieu le guérit 4. O analista deveria contentar-se com algo assim.
(FREUD, 1912/2010, p. 155).

Talvez tamanha tensão política, sucedida por uma vitória, tenha provocado
em Miller um mal súbito de otimismo. Ao ponto de declarar a seguinte proposta:
4
"Eu trato, Deus cura", diz Freud, citando Ambroise Paré.
Acho que, já nessas instituições que se abriram em Paris, em Barcelona e
em outros lugares, podemos pensar que nossa missão seja levar o sujeito
até o fechamento de seu primeiro ciclo, que pode ser breve. A questão a
trabalhar é como definir o primeiro ciclo (MILLER, 2008, p. 83).

Pensar que a psicanálise tem a missão de fechar algo, seja onde for, é ir
contra sua premissa fundamental. A falta, o impossível. Seria na verdade a missão
de fazer o sujeito passar pelo primeiro ciclo, na esperança de que o desejo ocupe o
lugar do gozo do sintoma, fazendo abrir um novo ciclo, agora sem a pressão dos
sintomas? Fazendo a expansão em função da intenção? Liberando o efeito
revolucionário que há no sintoma? Garcia (2011) diz que:

Interpretar o sintoma é pouco, nem sempre ou raras vezes resolve. A


medicina chama tratamento sintomático aquele que se restringe aos
sintomas, não atingindo as causas. Uma coisa é liberar alguém do sintoma,
outra coisa é liberar o sintoma. Essa a nossa orientação. Vamos considerar
que a ação do psicanalista consiste não em revolucionar o sujeito, mas
liberar o efeito revolucionário que há no sintoma, desencadear o efeito
revolucionário subentendido no sintoma. (GARCIA, 2011, p. 216-217).

Essa orientação de Garcia (2011) nos propõe que se provoque ainda mais
movimento, diferente do que nos leva a pensar Miller (2008) quando diz que nossa
missão é a de fechar; o que nos leva a pensar em uma inércia.
Torna-se necessário que pensemos na estrutura dos três tempos da análise.
O primeiro é o momento de olhar, no qual se estabelece a transferência; o segundo
é tempo para compreender, em que o analista compreende a queixa e a devolve
para que o sujeito compreenda, compreensão esta diferente do conceito de
compreensão empática, podemos dizer que é onde se acontece a interpretação; e o
terceiro é momento de concluir, o corte lacaniano, conclusão que paradoxalmente
não fecha, abre ainda mais o sujeito em sua fenda, em sua falta e lhe devolve a
duvida para que se movimente (BARRETO, 2010).
Assim, pode-se inferir que fechar o primeiro ciclo esteja na dimensão do
tempo de compreender e que no limite pontual entre a interpretação e o corte, o
analista se satisfaça com o alívio do sujeito ao eleger um novo significante para
sustentar um imaginário, do lado do analista, bem-estar. Abstendo-se de marcar a
falta. E deixando o sujeito ir embora feliz. Agora lembramo-nos de Barreto (2010)
dizendo que os analistas estão fazendo acting out. Parece que neste caso, os
analistas estão mesmo cuidando da felicidade do Outro, o social. Outro que o
analista não tem, ou não deveria ter. Vejamos em Lacan como este cuidado nem
sempre funciona e que a melhor das intenções pode ser desastrosa.
Lacan (1967/2003) diz que se retirarmos o Édipo, a psicanálise em extensão
torna-se inteiramente da alçada do delírio de Schreber. Façamos um breve uso do
mito para pensarmos esta psicanálise aplicada à terapêutica rápida.
Se todos nós já fomos um pequeno Édipo um dia, poderíamos ter seu mesmo
destino? Pode-se pensar que isso depende das escolhas que tomamos, dos
caminhos que trilhamos, afinal, do tratamento a que nos infligimos.

Édipo, num certo sentido não fez complexo de Édipo, é preciso recordar
isso, e ele se pune por uma falta que não cometeu. Ele apenas matou um
homem que ignorava ser seu pai, e que ele encontrou na estrada – para
utilizar um modo verossímil segundo o qual o mito nos é apresentado –
onde ele fugia por ter ouvido falar de algo nada bom que era prometido em
relação ao pai. Foge daqueles que acredita serem seus pais, e querendo
evitar o crime, ele o encontra. Tampouco sabe que atingindo a felicidade, a
felicidade conjugal, e a de seu ofício de rei, de ser o guia de uma
comunidade feliz, é com sua mãe que ele dorme. Pode-se portanto colocar
a questão do que significa o tratamento que ele se inflige. Que tratamento?
Ele renuncia àquilo mesmo que o cativou. Ele foi, propriamente, ludibriado,
tapeado, por seu próprio acesso à felicidade. Para além do serviço dos
bens, e até mesmo do pleno êxito de seus serviços, ele entra na zona onde
procura seu desejo (LACAN, 1959-1960/1991, p. 365).

Lacan (1959 – 1960 / 1991) afirma que a priori os sujeitos trazem uma
demanda de felicidade. Os sujeitos procuram a clínica porque algo os impede de
serem felizes, a saber, a não satisfação de todos os seus desejos que, por vezes,
culmina em sintomas. O que fazer com os sintomas? Muitos decidem, outros são
encaminhados, como nos serviços públicos, a suprimi-los, seja pela medicação, pela
sugestão, ou por algum artifício que promova um alívio imediato. Mas, não
poderíamos pensar que esta escolha, muito se parece com a de Édipo em fugir de
seus pais? Ora, o verdadeiro perigo não estava no mais aparente, seus pais
adotivos. Assim como o sintoma, apenas diz de algo muito mais profundo. Édipo se
acovarda e foge. Mais tarde, percebe que esta estratégia não funcionou. A
prevenção não garante que o mal esteja excluído da vida do sujeito. Neste sentido,
suprimir os sintomas dos analisantes e deixá-los partirem aliviados, sem marcar a
falta, não seria como preparar suas “matutagens” e dizê-los que estão prontos para
fazer a grande viagem, garantindo-lhes que o caminho é seguro? Afinal, continuar
em análise é perigoso?
Como poderíamos garantir aos nossos analisantes que o caminho é seguro?
Os chamamos de analisantes e não de analisados. Ainda que cheguemos ao ponto
de nomeá-los analisados, eles não caminharão em um mundo sem barras, sem
outros. Talvez, esta seja a missão da psicanálise aplicada à terapêutica: Além de
provocar os efeitos terapêuticos rápidos, nossa ética não é muito cômoda, cabe ao
analista dar a triste notícia de que a vida é sofrida. Não só para determinado sujeito,
mas para todos. Fugir de tal sofrimento é uma opção, por vezes, desastrosa. A outra
opção é enfrentá-la. A primeira pode ser seguida por muitos tipos de tratamentos,
mas no método psicanalítico trata-se da segunda. Esta enunciação de que o que se
obteve não é a cura, nos parece necessária para que depois do fechamento do
primeiro ciclo, abra-se o segundo. Assim, o sujeito pode até ir embora, mas não
alienado e pensando-se curado, mas sim sabendo de uma falta radical e irredutível
inerente ao sujeito falante. Talvez seja este o discurso, nada prazeroso, a que o
analista é incumbido e que muda radicalmente a posição, antes confortável, do
sujeito pós-efeitos terapêuticos. Colocando a dúvida como o ponto de partida para o
caminho do sujeito. Isto seria um ato analítico (LACAN, 1969-1970/1992).

Considerações Finais

Se a psicanálise é pura ou aplicada não é o mais importante. O mais


importante é que antes de tudo e, sobretudo, seja realmente psicanálise e que antes
de ser aplicada, seja implicada. Que preze por sua dimensão política, diga o que tem
a dizer e não se deixe ser mais um instrumento do mestre contemporâneo - o
capital. Pois a psicanálise não é mais uma, e sim menos uma! Levar apenas a
terapêutica aos campos de atuação pode ser muita coisa, menos uma: psicanálise.
Não queremos curar ninguém, todos têm algo de incurável, a terapêutica é um dos
efeitos do tratamento analítico, mas o surgimento de algo inédito é o que nos
interessa.
Isso não quer dizer que há uma nocividade generalizada nos demais tipos de
tratamentos, podendo ser, inclusive, recomendáveis. A ameaça que preocupa é a
das práticas que acolhem os sofredores que pedem ajuda, utilizando-se para isso da
palavra e da escuta e apresentando-se como sendo inspiradas na psicanálise,
chegando inclusive ao limite de se definirem como psicanálise. A proliferação de
teorias e praticas que se apresentam à maneira do originado que poderia substituir o
original, aponta para a possibilidade de um sucateamento ou mesmo uma
eliminação do autêntico, restando apenas sua derivação (MÉGRE, 2013).
Se não se pode vencer o inimigo, então, junte-se a ele. Ou melhor, junte-o a
nós... É o que podem tentar fazer com a Psicanálise! Querem abrir espaço para que
ela entre com a terapêutica, querem seus efeitos terapêuticos, a academia quer as
descobertas acerca do inconsciente, mas não querem se avier com o que ela
denuncia. O que querem, muitas vezes, é cumplicidade para manipular os possíveis
e velar o impossível.
Devemos sim ir ao social, mas não para aplicar a psicanálise aos objetivos do
Outro. O colégio, por exemplo, muitas vezes chama a psicologia, a pedagogia, a
psiquiatria, e quem mais se dispuser na empreitada de fazer restabelecer a antiga
escola, os antigos alunos, o modelo que ainda é entendido como normal. Todas
estas áreas podem entrar nesta missão sem se deixar de ser. Se a psicanálise entra
nesta empreitada, acaba por perder sua essência, deixa de ser psicanálise. E
assume uma função que não é sua. Abre mão da causa analítica pela causa do
Outro.
Se se utiliza de teorias e descobertas da psicanálise para um
restabelecimento de normalidades, então já não é psicanálise. Pode ter se
transformado em outra coisa, pode ser sociologia, filosofia, antropologia, pedagogia,
pode ser tudo menos psicanálise. O professor quer deitar o aluno no divã, a
empresa quer deitar o funcionário no divã, a justiça quer deitar o réu no divã, mas
nenhum destes quer ele se deitar no divã. E muitas vezes os “analistas” cedem a
isso. Por quê? Ora, se os pais já não fazem sua função pelo medo de perder o amor
dos filhos (LEBRUN, 2009)... Não estaria também esta “psicanálise” com medo de
perder o amor do grande Outro, o seu lugar no social?...
Uma psicanálise submetida ao social é por si só uma ilusão, ilusão que não
cabe a mais ninguém, senão à própria, destruir. Do contrário, este será o tão
sonhado, por muitos, fim da Psicanálise. Convidam-nos para o social não para que
entremos com o que temos a dizer, mas sim exatamente para, em uma estratégia
política, calar a psicanálise. Esta “IncLUSÃO” vem como um presente de grego.
Mas, a este cavalo de Tróia os analistas hão de não abrir os portões.
Os efeitos terapêuticos da psicanálise acontecem muito rapidamente e sua
presença no serviço público pode trazer contribuições não apenas no âmbito
terapêutico, mas também nas discussões das políticas públicas. Levando o discurso
analítico não só para o consultório e aplicando a técnica da psicanálise para extrair
efeitos terapêuticos, mas levando também a sua ética para provocar que surja algo
novo, seja no sujeito analisante, seja na instituição. O que se pôde perceber é que
acima de qualquer aplicação, a psicanálise é sempre movida pela implicação, que
neste caso é a implicação pelo social. O que pode ser atingido pela articulação entre
a psicanálise aplicada à terapêutica e a Clínica do Social de Célio Garcia.
O que por hora podemos afirmar é que uma prática clínica que produz efeitos
terapêuticos, mas que não implique em uma mudança no posicionamento do sujeito,
em fazer surgir algo inédito, em quebrar a dinâmica, em apontar para o impossível,
marcar a falta, pode ser louvada por quem quer que seja, pode ser uma psicoterapia
de grande valia para o social, porém, jamais será uma psicanálise. Pois ao atender a
demanda ortopédica do social, inexoravelmente deixa-se de escutar a demanda do
sujeito. Assim, não denunciando os efeitos danosos e deficientes da sociedade, mas
recobrindo-os com uma bela maquiagem. Desse modo a psicanálise poderia ser
aceita de bom grado, mas teríamos de mudar o nome para psicoterapia de
inspiração psicanalítica, porém seria mais uma, pois já temos muitas dispostas a
este trabalho social.
Antonio Quinet fala de uma psicanálise aplicada pela arte, pois a
psicanálise só se aplica à sujeitos. Neste sentido poderíamos usar o veneno
como antídoto; e aquilo que se apresenta como problema se torna solução. A
psicanálise não se aplicaria à terapêuticas, mas antes seria aplicada pela
terapia. Psicólogos, Psiquiatras e outros “terapeutas” se utilizariam deste
chamado do social para aplicar ali a Psicanálise. ???????????????????
Talvez para um outro artigo.....
http://coloquioarteepsicanalise.blogspot.com.br/

Sabe-se da limitação de um pequeno artigo para tratar de um assunto


inesgotável, mas simplesmente por ser inesgotável não importaria o tamanho, ainda
faltaria. Mas o que se pretendeu aqui foi discutir algo controverso mesmo entre os
psicanalistas mais renomados. Este assunto já foi muito debatido e ainda causa
dúvidas, o que para a psicanálise é algo interessante, já que nos posicionamos na
suposição de saber e não em sua personificação. Por isso a necessidade de
escutar, duvidar, analisar. Nossa intenção não é dar um novo significante,
interrompendo o texto no momento de compreender, mas sim no momento de
concluir, com um corte: ironicamente, nenhum analista pode responder se o que faz
é psicanálise, apenas o psicanalisante.

Referências

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capa, 2012. 21 cm, 179 p. Opção Lacaniana, n. 9.

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