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Fernando Pinto do Amaral, “O arquipélago das sombras”, in Antero de Quental, Poesia Completa 1842-1891, Dom
Quixote, 2001
A dualidade que rege Antero também é analisada por Amélia Pinto Pais em
termos de dicotomia luz/sombra, em que ao primeiro polo correspondem os
sonetos marcados pelo otimismo crente e revolucionário, nos quais o poeta é
guiado pela Razão, enquanto ao segundo polo correspondem os poemas
marcados pelo pessimismo desencantado de quem desistiu de perseguir o
sonho.
Amélia Pinto Pais, História da Literatura em Portugal – Uma perspetiva didática, vol. 2, Areal, 2004
Síntese de conteúdos
Angústia existencial
• Disforia da consciência da inutilidade da vida
• Angústia existencial, pessimismo, tédio e vazio de viver
• Inquietação metafísica, espiritual
• Ânsia do Absoluto
• Entrega à Noite, como libertação, refúgio
(Poemas exemplificativos: “O Palácio da Ventura”; “Despondency”; “Lacrimae
Rerum”)
Configurações do Ideal
• Busca filosófica ou metafísica
• Dilema interior: razão abstrata vs. sentimento (consciência, religião,
realidade)
• Espírito religioso
• Importância do Sonho
(Poemas exemplificativos: “Hino à Razão”; “Ideal”; “A Um Poeta”)
Tensão
• Espírito lúcido e crítico, com exaltação do Amor e da Razão
(Poema exemplificativo: “Hino à Razão”)
vs.
• Pessimismo, desejo de morte, repouso em Deus, como figura apaziguadora
(Poema exemplificativo: “Na Mão de Deus”)
► Linguagem, estilo e estrutura
O discurso conceptual
O Palácio da Ventura
(2) ofegante.
(3) estrondo.
• Não é neste local que o poeta poderá exorcizar os seus medos, os seus
desesperos, as suas angústias.
Um dos mais conhecidos poemas de Antero, “O Palácio da Ventura” é a
expressão metafórica do balanço de vida do sujeito poético, pressagiando já
o desalento que marcará poemas posteriores.
Hino à Razão
Razão, irmã do Amor e da Justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece.
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre, só a ti submissa.
Por ti é que a poeira movediça
De astros, sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.
Por ti, na arena trágica, as nações
Buscam a liberdade entre clarões;
E os que olham o futuro e cismam, mudos,
Por ti, podem sofrer e não se abatem,
Mãe de filhos robustos, que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!
Para o poeta, a tríade Razão, Amor e Justiça é una e indivisível, o que nos
permite caracterizá-lo como um profeta dos valores universais.
Despondency
O soneto
Nuno Júdice, “Prefácio à Edição dos Sonetos de 1861”, in Antero de Quental, Sonetos (organização, introdução e
notas de Nuno Júdice), INCM, 2002
Lacrimae Rerum (1)
(A Tommaso Cannizzaro)
• O “eu” lírico busca uma resposta que lhe dê conforto, mas a Noite arrasta-se
lentamente, enquanto interlocutora muda, como a tripla adjetivação
acentua (v. 10).
• “E, perdido num sonho imenso” (v. 13), o sujeito poético apenas ouve o
suspiro das “coisas tenebrosas”, que acentuam o drama de uma existência
vazia.
• O anseio por respostas conduz o “eu” poético a locais noturnos e solitários,
onde espera encontrar a chave para a sua angústia existencial.