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Seqüestro de Carbono: Do Conceito a Análise do

Potencial Econômico no Brasil

1. Introdução:

O
conceito de seqüestro de carbono foi consagrado pela Conferência de
Kyoto, em 1997, com a finalidade de conter e reverter o acúmulo de
CO2 na atmosfera, visando a diminuição do efeito estufa.

A conservação de estoques de carbono nos solos, florestas e outros


tipos de vegetação, a preservação de florestas nativas, a implantação de
florestas e sistemas agroflorestais e a recuperação de áreas degradadas são
algumas ações que contribuem para a redução da concentração do CO2 na
atmosfera.

Os resultados do efeito do Seqüestro de Carbono podem ser


quantificados através da estimativa da biomassa da planta acima e abaixo do
solo, do cálculo de carbono estocado nos produtos madeireiros e pela
quantidade de CO2 absorvido no processo de fotossíntese. Para se proceder à
avaliação dos teores de carbono dos diferentes componentes da vegetação
(parte aérea, raízes, camadas decompostas sobre o solo, entre outros) e, por
conseqüência, contribuir para estudos de balanço energético e do ciclo de
carbono na atmosfera, é necessário, inicialmente, quantificar a biomassa
vegetal de cada componente da vegetação.

2. História

As Mudanças Climáticas Globais (MCG) representam um dos maiores


desafios da humanidade. Pois, além de ser um problema global - como o
próprio nome diz, envolve vários setores da sociedade, necessita de uma
tomada de consciência da importância da questão e exige mudanças em
muitos hábitos de consumo e comportamento.

As crescentes emissões de Dióxido de Carbono (CO2 ) e outros gases


como o metano ( CH4 ) e o óxido nitroso (NO2 ) na atmosfera têm causado
sérios problemas, como o efeito estufa. Devido à quantidade com que é
emitido, o CO2 é o gás que mais contribui para o aquecimento global. Suas
emissões representam aproximadamente 55% do total das emissões mundiais
de gases do efeito estufa. O tempo de sua permanência na atmosfera é, no
mínimo, de 100 anos. Isto significa que as emissões de hoje têm efeitos de
longa duração, podendo resultar em impactos no regime climático, ao longo
dos séculos.

Evidências científicas apontam que caso a concentração de CO2


continue crescendo, a temperatura média da terra vai aumentar (entre 1,4 e 5,8
° C até 2100), causando aumento no nível dos mares, efeitos climáticos
extremos (enchentes, tempestades, furacões e secas), alterações na
variabilidade de eventos hidrológicos (aumento do nível do mar, mudanças no
regime das chuvas, avanço do mar sobre os rios, escassez de água potável) e
colocando em risco a vida na terra (ameaça à biodiversidade, à agricultura, à
saúde e bem-estar da população humana).

Historicamente, os países industrializados têm sido responsáveis pela


maior parte das emissões de gases de efeito estufa. Contudo, na atualidade,
vários países em desenvolvimento, entre eles China, Índia e Brasil, também se
encontram entre os grandes emissores. No entanto, numa base per capita, os
países em desenvolvimento continuam tendo emissões consideravelmente
mais baixas do que os países industrializados.

Estima-se que, em 1998, o Brasil tinha emitido pelo menos 285 milhões
de toneladas de carbono, das quais cerca de 85 milhões resultaram da queima
de combustíveis fósseis (71% do uso de combustíveis líquidos; e 15,6% da
queima de carvão mineral; 4% de gás natural). Esse número é relativamente
baixo quando comparado às emissões provenientes da queima de
combustíveis fósseis de outros países. Isto é devido ao fato de que a matriz
energética brasileira é considerada relativamente limpa pelos padrões
internacionais uma vez que se baseia na energia hidrelétrica (renovável). A
maior parte das emissões do Brasil (2/3) provém de atividades de uso da terra,
tais como o desmatamento e as queimadas, o que, atualmente, representa 3%
das emissões globais.

As nações participantes da Convenção de Mudança Climática, que


ocorreu em junho de 1992 na cidade do Rio de Janeiro, se comprometeram a
ratificar uma convenção afim de criar mecanismos que diminuíssem as
emissões dos gases causadores do efeito estufa. Estes mecanismos dizem
respeito à capacidade de as fontes de energia emitirem baixos níveis dos
gases causadores do efeito estufa, e também as alternativas para absorção de
CO2, através dos projetos de seqüestro de carbono.

Desta forma, os países desenvolvidos e as indústrias criaram uma


nova utilidade e um novo mercado para o carbono, que consiste no carbono
capturado e mantido pela vegetação. O interesse e o investimento no
seqüestro de carbono e a comercialização de créditos de carbono são a forma
através da qual estas indústrias e os países industrializados podem equilibrar
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suas emissões e mantê-las a níveis seguros. As normas e regras de


comercialização e as quantidades de carbono retidas pela vegetação ainda não
são totalmente conhecidas e estabelecidas, ressaltando assim a importância
dos projetos de pesquisa desenvolvidos nesta área.

3. Problemas do Aquecimento Global

A queima de combustíveis fósseis e o desmatamento emitem grandes


quantidades de gases, em especial o CO2 na atmosfera. Este gás absorve
bem a radiação terrestre. Quando ocorre o aumento deste gás, ocorre o
aumento da temperatura e da quantidade de vapor de água na atmosfera,
ocorrendo aquecimento da superfície terrestre.

As plantas verdes absorvem CO2 durante a fotossíntese, mas


atualmente tem sido liberada uma quantidade de gás maior que a capacidade
de absorção das plantas. O CO2 acumulado na atmosfera bloqueia a saída de
radiação quente para o espaço e manda de volta esta radiação aquecida,
causando o chamado Efeito Estufa.

Emissões de metano, óxido de nitrogênio e os clorofluorcarbonetos


(CFC's) também contribuem para o efeito estufa. Os países industrializados
são responsáveis por cerca de 71% da emissão global de CO2. Os países em
desenvolvimento, com 80% da população mundial, produzem
aproximadamente 18% da emissão total.

Os maiores efeitos do aquecimento global considerados por alguns


cientistas são: os efeitos que a mudança climática causará na produção
mundial de alimentos, mudanças na agricultura e a venda de commodities (o
que poderá modificar a estrutura do comércio mundial).

4. O Ciclo de Carbono e as Florestas

O Ciclo do Carbono consiste na transferência do carbono na natureza,


através das várias reservas naturais existentes, sob a forma de dióxido de
carbono. Para equilibrar o processo de respiração, o carbono é transformado
em dióxido de carbono.

Outras formas de produção de dióxido de carbono são através das


queimadas e da decomposição de material orgânico no solo. Os processos
envolvendo fotossíntese nas plantas e árvores funcionam de forma contrária.
Na presença da luz, elas retiram o dióxido de carbono, usam o carbono para
crescer e retornam o oxigênio para atmosfera. Durante a noite, na transpiração,
este processo inverte, e a planta libera CO2 excedente do processo de
fotossíntese.
Os reservatórios de CO2 na terra e nos oceanos são maiores que o
total de CO2 na atmosfera. Pequenas mudanças nestes reservatórios podem
causar grandes efeitos na concentração atmosférica. O carbono emitido para
atmosfera não é destruído, mas sim redistribuído entre diversos reservatórios
de carbono, ao contrário de outros gases causadores do efeito estufa, que
normalmente são destruídos por ações químicas na atmosfera. A escala de
tempo de troca de reservas de carbono pode variar de menos de um ano a
décadas, ou até mesmo milênios.

Tal fato indica que a perturbação atmosférica causada pela


concentração do CO2 para que possa voltar ao equilíbrio não pode ser definido
ou descrito através de uma simples escala de tempo constante. Para alguns
parâmetros científicos, a estimativa de vida para o dióxido de carbono
atmosférico é definida em aproximadamente cem anos. A utilização de uma
escala simples pode criar interpretações errôneas.

A redução do desmatamento poderá contribuir muito


consideravelmente para a redução do ritmo de aumento dos gases causadores
do efeito estufa, possibilitando outros benefícios, como a conservação dos
solos e da biodiversidade. Esta redução do desmatamento deve estar
associada a alternativas econômicas, para garantir a qualidade de vida das
populações das regiões florestais.

5. Valores Econômicos Associados ao Seqüestro de Carbono

No Protocolo de Kyoto foi estabelecido que os países desenvolvidos


comprometeram-se formalmente a reduzir suas emissões de gases para
atenuar o efeito estufa em 5% abaixo dos níveis de1990 com o objetivo para o
período 2008 - 2012. Tal ação significa a redução de centenas de milhões de
toneladas por ano, com um custo enorme para estas economias. Espera-se
que estes países, por sua vez, repassem os comprometimentos aos seus
respectivos setores industriais, através da criação de impostos sobre emissões
de gases causadores do efeito estufa. Estes setores deverão encontrar
alternativas de se adaptar aos novos custos de produção ou aos limites de
emissões.

O segundo ponto importante do protocolo é que será aceito o conceito


de comercialização de créditos de seqüestro ou redução de gases causadores
do efeito estufa. Sendo assim, os países ou empresas que reduzirem as
emissões abaixo de suas metas poderão vender este crédito para outro país ou
empresas que não atingiram o grau de redução esperado.

Um terceiro ponto do acordo diz respeito aos métodos aceitos para


realizar as reduções das emissões. Geralmente, os métodos preferidos por
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vários países são baseados em processos para melhoria da eficiência na


utilização e na transmissão de energia, processos industriais e sistema de
transporte. Outra alternativa é a substituição de combustíveis muito poluentes
(carvão mineral ou diesel) por outros combustíveis menos ricos em carbono. O
protocolo também considera a absorção de CO2 pela vegetação como um
método para compensar as emissões, sendo um ponto interessante para
países com aptidão florestal, pois também pode gerar outros recursos do setor
florestal, trazendo conseqüências de ordem econômica, ambiental e social.

As metas de redução de emissões de CO2 , deverão ser alcançadas


principalmente através de políticas públicas e regulamentações que limitem
emissões diretamente, ou que criem incentivos para melhor eficiência dos
setores energético, industrial e de transporte, e que promovam maior uso de
fontes renováveis de energia. Dentre as metas, os países do Anexo I (países
desenvolvidos) poderão abater uma porção de suas metas por meio dos seus
sumidouros, especificamente as florestas.

Além das ações de caráter nacional, os países poderão cumprir parte


de suas metas de redução através dos três mecanismos de flexibilização
estabelecidos pelo Protocolo de Kyoto e que estão descritos a seguir:

• Comércio de emissões: este mecanismo permite que dois países


sujeitos a metas de redução de emissões (países do Anexo I)
façam um acordo pelo qual o país A, que tenha diminuído suas
emissões para níveis abaixo da sua meta, possa vender o excesso
das suas reduções para o país B, que não tenha alcançado tal
condição.

• Implementação conjunta: permitido entre os países do Anexo I,


onde um país A, implementa projetos que levem à redução de
emissões em um país B, no qual os custos com a redução sejam
mais baixos.

• Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL): os países do Anexo


I poderão desenvolver projetos que contribuam para o
desenvolvimento sustentável de países em desenvolvimento (não
pertencentes ao Anexo I) de modo a ajudar na redução de suas
emissões. Essas iniciativas gerariam créditos de redução para os
países do Anexo I, e ao mesmo tempo ajudariam os países em
desenvolvimento, pois estes se beneficiariam de recursos
financeiros e tecnológicos adicionais para financiamento de
atividades sustentáveis e da redução de emissões globais.

Ressalta-se que as reduções obtidas deverão ser adicionais a


quaisquer outras que aconteceriam sem a implementação das atividades do
projeto. Os projetos também deverão oferecer benefícios reais, mensuráveis e
em longo prazo para mitigação do aquecimento global. É interessante observar
que há possibilidade de utilizar as reduções certificadas de emissões obtidas
durante o período 2000 - 2008 para auxiliar no cumprimento da redução
estabelecida durante o período 2008 - 2012.

O financiamento de atividades sustentáveis pelo MDL levaria a menos


dependência de combustíveis fósseis nos países em desenvolvimento e,
portanto, a menos emissões a longo prazo. Os projetos MDL poderão ser
implementados nos setores energético, de transporte e florestal. Dentro do
setor florestal, projetos de florestamento e reflorestamento poderão participar.
No entanto, projetos que visam a redução do desmatamento e queimadas ou a
conservação de florestas estão excluídos deste mecanismo até o momento.

Nos países em desenvolvimento, os custos relacionados à


implementação de projetos que diminuam emissões de gases de efeito estufa
são, em geral, menores do que nos países desenvolvidos. Isto torna o MDL
atrativo para aqueles pertencentes ao Anexo I.

Além disso, o MDL busca incentivar o desenvolvimento sustentável,


levando à criação de novos mercados que valorizam a redução de emissões de
gases de efeito estufa, e criando oportunidades para a transferência de
tecnologia e novos recursos para países em desenvolvimento, como o Brasil.
Mesmo assim, as expectativas são de que o MDL seja o menos utilizado dos
mecanismos de flexibilização. Isso se deve ao fato dos Estados Unidos, maior
investidor em potencial dos mecanismos, terem anunciado que não pretendem
ratificar o Protocolo de Kyoto antes de 2012, o que provoca uma diminuição da
demanda por métodos alternativos para a redução de emissões por países do
Anexo I.

O Brasil poderá se beneficiar do MDL tanto com projetos nos setores


energéticos, de transporte e florestal. Exemplos de projetos no setor energético
são: implementação de sistema de energia solar, eólica, co-geraçao através de
processos químicos e de aproveitamento de biomassa. No setor florestal, pode-
se falar em projetos de "florestamento" e reflorestamento, os quais permitem
que o carbono, pelo crescimento das árvores, seja removido da atmosfera.
Assim, a floresta plantada atuaria como um sumidouro de carbono ou
promoveria, como tem sido usado, o "seqüestro de carbono". Esse seqüestro é
possível porque a vegetação realiza a fotossíntese, processo pelo qual as
plantas retiram carbono da atmosfera, em forma de CO2 , e o incorporam a sua
biomassa (troncos, galhos e raízes). Exemplos de tais projetos são o
reflorestamento, a silvicultura e o enriquecimento de florestas degradadas.

Como a maior parte das emissões de CO2 do Brasil provém de


desmatamentos e queimadas, a maior contribuição do Brasil para a redução de
emissões seria através da mitigação e do controle do desmatamento e
queimadas.
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6. Mercado de Carbono

Desde a convenção de Kyoto quando mais de 160 países discutiram as


mudanças climáticas no planeta, verifica-se que esta preocupação saiu dos
cadernos de ciência dos grandes jornais, alojando-se nas páginas de finanças
e negócios. As preocupações como o meio ambiente se tornaram
preocupações econômicas. O valor econômico da proteção ao meio ambiente
surgiu quando os países se comprometeram a cortar, em média, 5,2% de
emissões de dióxido de carbono sobre os valores registrados em 1990, com
prazo até 2005.

A tributação foi a primeira idéia para a formalização do controle


econômico sobre a poluição, mas isto afetaria a relação do custo/benefício no
setor de produção ou elevaria o custo final ao consumidor. Assim, para que
fossem alcançados os parâmetros globais de poluição, surgiu outro conceito,
ou seja, os países poderiam negociar direitos de poluição entre si. Um país
com altos níveis de emissão de gases na atmosfera poderia pagar a outro país
que estivesse com os níveis de poluição abaixo do limite comprometido.

A partir de então, além da idéia global da comercialização dos limites


de poluição, muitas empresas começaram a sondar tal mercancia.

Nos EUA, já encontramos legislação específica sobre a emissão de


poluentes. O órgão ambiental americano - Environment Protection Agency -
emite direitos para a emissão de volumes de poluição, títulos que simbolizam
os limites de poluição que determinada empresa deve cumprir no ano. A cada
ano tais limites sofrem reduções.

Caso esta empresa obtenha sucesso na redução anual, poluindo


menos do que o limite estabelecido, ela terá um saldo que poderá ser
comercializado no mercado com outras empresas que não conseguiram
cumprir o limite ''materializado'' pelos títulos adquiridos.

Com a valorização econômica, a fiscalização e todos os demais custos


operacionais para a redução da poluição acabam sendo arcados pelo mercado
de commoditties, não repassando o impacto financeiro para a relação
custo/benefício ou para o custo final. Esta é a maneira mais econômica e eficaz
para a fiscalização e a diminuição da poluição.

Dentro deste contexto econômico, o Brasil se encontra em uma


posição extremamente valorizada, já que possui um amplo espaço ambiental.
Desta forma, as empresas e os países altamente industrializados, obrigadas a
frearem o aquecimento do planeta, reduzindo a emissão de gases, poderão
participar de projetos de reflorestamento, adoção de tecnologias limpas, etc.
O Brasil tem no meio ambiente a sua maior riqueza. A preservação
ambiental pode ser a origem da entrada de divisas no País. O Brasil receberia
pela sua baixa emissão de gases, receberia pela enorme capacidade ambiental
de absorção e regeneração atmosférica.

7. O que são créditos de carbono?

Certificados de Redução de Emissões (CERs)

Créditos de carbono são Certificados de Redução de Emissões (CERs)


que autorizam o direito de poluir. O princípio é simples. As agências de
proteção ambiental reguladoras emitem certificados autorizando emissões de
toneladas de dióxido de enxofre, monóxido de carbono e outros gases
poluentes. Inicialmente, selecionam-se indústrias que mais poluem no país e, a
partir daí são estabelecidas metas para a redução de suas emissões.

As empresas recebem bônus negociáveis na proporção de suas


responsabilidades. Para cada bônus cotado em dólares ou euros, equivale a
uma tonelada de poluentes. Quem não cumpre as metas de redução
progressiva estabelecidas por lei, tem que comprar certificados das empresas
mais bem sucedidas. O sistema tem a vantagem de permitir que cada empresa
estabeleça seu próprio ritmo de adequação às leis ambientais. Estes
certificados podem ser comercializados através das bolsas de valores e de
mercadorias, como o exemplo do Clean Air de 1970 e os contratos na bolsa
estadunidense. (Emission Trading – Joint Implementation).

Há várias empresas especializadas no desenvolvimento de projetos


que reduzem o nível de gás carbônico na atmosfera e na negociação de
certificados espalhadas pelo mundo, preparadas para vender cotas dos países
subdesenvolvidos e países em desenvolvimento que, em geral emitem menos
poluentes, para os que poluem mais. Enfim, estão negociando contratos de
compra e venda de certificados que conferem aos países desenvolvidos o
direito de poluir.

Segundo Sergio Besserman Vianna, presidente do Instituto Brasileiro


de Geografia e Estatística - IBGE, "O aquecimento global é uma realidade
inegável. Se ele não for tratado pelo mercado financeiro, algum outro
mecanismo terá de ser criado para fazê-lo", disse para a Folha de S. Paulo.

Por sua vez, Eduardo Viola, Professor Titular do Departamento de


Relações Internacionais e Centro de Desenvolvimento Sustentável da
Universidade de Brasília (UnB), analisa:

Está claro hoje que para proteger o ambiente precisamos ir além dos
mecanismos rígidos de comando e controle que predominaram no mundo nos
últimos 30 anos.
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A criação de mecanismos de mercado que valorizam os recursos


naturais é uma extraordinária inovação cujo primeiro exemplo deu-se nos EUA
com a emenda de 1990 ao Clean Air de 1970. Por causa dessa Emenda de
1990, que criou as cotas comercializáveis de poluição nas bacias aéreas
regionais dos EUA, a poluição do ar diminuiu numa media de 40% nos EUA
entre 1991 e 1998. Várias iniciativas, seguindo o mesmo princípio, estão em
processo de ser adotadas em vários países e internacionalmente (o Protocolo
de Kyoto 1997 estabelece as cotas de emissões de carbono comercializáveis
entre os países do Anexo 1 e o Clean Development Mechanism entre países
desenvolvidos de um lado e médios e pobres do outro).

Os volumes do mercado de carbono têm estimativas das mais variadas


e, na maior parte das matérias publicadas pela imprensa os índices não batem.
Cada fonte indica um dado diferente; desde U$ 500 milhões até US$ 80 bilhões
por ano – os analistas de investimentos consideram algumas destas
estimativas insignificante, comparado com alguns setores que giram volumes
equivalentes num mês. Por outro lado, existem outras estimativas com valores
astronômicos em relação ao número de projetos credenciáveis. Há também
quem esteja prevendo a formação de uma bolha ambiental.

O que está ocorrendo é uma forte demanda por países industrializados


e uma expectativa de que esse mercado esteja sendo um "grande negócio",
uma fonte de investimentos, do ponto de vista estritamente financista. Neste
caso, a posição do Brasil é estratégica, em função de uma série de
considerações que faremos adiante.

8. Qual a posição do Brasil?

Acontece que, no caso do Brasil, como também da África, são exigidos


uma série de certificações e avais em função dos riscos de crédito, por todas
as questões de credibilidade: o chamado "Risco Brasil". O Brasil não é
considerado no mercado internacional um bom pagador. Já tivemos
escândalos financeiros que assustaram investidores sérios, atraindo ao país
investimentos de curtíssimo prazo, capital especulativo e volátil, além dos
chamados farejadores das Ilhas Cayman que adoram negócios "nebulosos"
para ancorar as operações de lavagem de dinheiro.

Tudo isso entra na contabilidade dos empréstimos internacionais e o


risco que corremos é de acontecer de o dinheiro com taxa baixa ou a fundo
perdido chegar na mão do pequeno com taxas altíssimas. Não se deve
esquecer ainda da vulnerabilidade deste indivíduo diante de contratos
complexos, projetos duvidosos e pressões de especuladores, interessados em
comprar terras abaixo do preço do mercado para se credenciarem a esses
investimentos.
Existem grandes diferenças entre os Clean Development Mechanism
(CDM) e as commodities ambientais. Os CDM’s ou MDL’s (Mecanismos de
Desenvolvimento Limpo), em síntese, são alternativas que implicam em
assumir uma responsabilidade para reduzir as emissões de poluentes e
promover o desenvolvimento sustentável. Trata-se de um mecanismo de
investimentos pelo qual países desenvolvidos podem estabelecer metas de
redução de emissões e de aplicação de recursos financeiros em projetos como
reflorestamentos, produção de energia limpa. As empresas, por exemplo, ao
invés de utilizar combustíveis fósseis que são altamente poluentes, passariam
a utilizar energia produzida em condições sustentáveis, como é o caso da
biomassa.

Existe, enfim, uma gama enorme de projetos ambientais e operações


de engenharia financeira que podem ser desenvolvidos no Brasil, proprietário
das sete matrizes ambientais. (água, energia, biodiversidade, madeira, minério,
reciclagem e controle de emissão de poluentes – água, solo e ar)

Nem toda operação financeira com MDL gera necessariamente uma


commodity tradicional e muito menos uma commodity ambiental, ou seja: a
troca de créditos de cotas entre países desenvolvidos, que estabelecem limites
de "direitos de poluir" (joint implementation e emission trading), pode ser
transformada em títulos comercializáveis em mercados de balcão (contratos de
gaveta – side letters), ou em mercados organizados (bolsas, interbancários,
intergovernamentais etc). Mas afirmar que poluição é mercadoria é um absurdo
conceitual e chamá-la de commodity ambiental é uma contradição.

Em primeiro lugar, a poluição não pode ser considerada mercadoria,


ainda mais quando se deseja eliminá-la. Em segundo, não serão os pequenos
produtores os contemplados nesta troca porque ela é realizada entre grandes
corporações nacionais e transnacionais. Além disso, só é possível realizar tais
trocas em um mercado fortemente globalizado, já que esses títulos migrarão de
um país para o outro com a mesma velocidade que migram os investimentos
globalizados, num círculo restrito de países mais ou menos desenvolvidos, o
que vai contra os princípios e metas dos ODMs - Objetivos do Desenvolvimento
do Milênio das Nações Unidas.

Se de um lado as commodities ambientais têm como seu principal


diferencial o modelo da pirâmide, no qual os contemplados pelos recursos
financeiros devem diretamente ser os excluídos, o trading emission (compra e
venda de créditos de carbono) atendem ao tradicional modelo das operações
financeiras que todos nós já estamos cansados de conhecer. Não seria a
repetição um mecanismo já explorado, falacioso, trazendo o argumento
ambiental e causando confusão de conceituação?

Mas os Créditos de Carbono (Certificados de Redução de Emissões -


CERs) podem e devem ser aplicados na produção de commodities ambientais,
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Do Conceito a Análise do Potencial Econômico no Brasil

observadas duas condições: se o projeto de controle de emissão de poluentes


estiver gerando uma commodity como energia (biomassa), madeira,
biodiversidade, água, minério, reciclagem e se o modelo vier promover a
geração de ocupação e renda e financiar educação, saúde, pesquisa e
preservação de áreas protegidas. Em outras palavras, precisa também atender
às reivindicações do movimento ambientalista e de grupos de direitos
humanos, engajados nesta luta ingrata para preservar o meio ambiente. Nesse
sentido, um projeto de reflorestamento com pinus e eucalipto ou soja e gado
não pode invadir uma área como a Amazônia, ainda que a comunidade
científica prove com todos os meios que pinus e eucaliptos, por exemplo,
captam mais carbono do que uma floresta nativa.

9. SEQÜESTRO DE CARBONO

O aumento da poluição atmosférica, criando o chamado “efeito estufa”


e elevando a temperatura terrestre, é objeto de preocupações mundiais e foi
item destacado na Conferência de Meio Ambiente e Desenvolvimento,
realizada no Rio em 1992.

Trabalhos científicos e acadêmicos são produzidos em todas as


regiões do globo, com as naturais divergências.

Alguns cientistas e empresas importantes (petróleo e carvão) alegam


que não há, ainda, comprovação científica de que as variações e mudanças
climáticas recentes são causadas pela ação humana e que podem ser
resultantes de causas naturais, porque há milhares de anos o clima mudou,
significativamente, sem a contribuição da população humana.

Estas controvérsias não reduzem a gravidade e as ameaças


conseqüentes da crescente poluição atmosférica.

Com base na Convenção de Clima, aprovada na RIO 92 e ratificada


por centenas de países, em Kioto em 1997, foi definido o compromisso de
redução de 5,2% (média) das emissões, com base em 1990, a ser efetivado
entre 2008 a 2012.

Na mesma reunião foi discutido um protocolo estabelecendo um


Mecanismo de Flexibilização e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.

Anualmente, realizam-se reuniões sobre a matéria sem resultados


finais, porque os países ricos e industrializados se negam a investir o
necessário para fazer a redução prometida.

“O Banco Mundial calcula que os custos de redução das emissões


internamente nos países desenvolvidos foram avaliados em US$ 580,00 por
tonelada de carbono no Japão, enquanto nos EUA os custos do abatimento
atingiriam US$ 180,00 e na Comunidade Européia US$ 270,00 por tonelada de
carbono”. Klabin, Israel – FBDS – Parcerias Estratégicas, no. 9 – Outubro 2000
– CEE MCT, págs 35 a 53

Os Mecanismos de Flexibilização e do Desenvolvimento Limpo visam


permitir que uma empresa poluidora possa fazer compensação de sua
emissão, investindo em projetos que comprovem o seqüestro do carbono.

Mesmo não estando ainda aprovado, já existem alguns projetos em


implantação com este objetivo, inclusive com apoio do Banco Mundial, que
organizou um fundo privado de cem milhões de dólares para promover projetos
via MDL (Mecanismos de Desenvolvimento Limpo).

No Brasil já existem projetos sendo desenvolvidos.

Todos estão seguros de que terão oportunidade de comercializar


certificados de seqüestro de carbono.

10. UMA ANÁLISE DO POTENCIAL

Nosso país tem energia solar, espaço, competência técnica e


operacional para desenvolver um grande programa de reflorestamento para
seqüestrar carbono da atmosfera. Por isto temos as maiores produtividades
florestais do globo terrestre. (quadro SBS)

Toda a atividade florestal deverá absorver o que de melhor se conhece,


em inovações tecnológicas na matéria. O reflorestamento deverá ser
rigorosamente correto, do ponto de vista ambiental, social e econômico. Todas
as florestas deverão ser plantadas para múltiplos produtos.

Ninguém duvida da existência de uma enorme capacidade técnica


disponível, no Brasil, para organizar os modelos financeiros e econômicos
viabilizadores de negócios rentáveis.

Os problemas fundiários envolvidos devem ser tratados em estudo a


parte, pelas suas peculiaridades, implicações jurídico-sociais e políticas e
existência de várias possibilidades de solução.

11. DIRETRIZES ESSENCIAIS

Serão decisivas para o desenvolvimento deste trabalho, pelo menos,


quatro diretrizes essenciais:
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Do Conceito a Análise do Potencial Econômico no Brasil

1) Aprovação pelo Governo Federal, de uma norma básica para


viabilizar o programa de seqüestro de carbono no Brasil. Além
das definições legais fundiárias, de uma clara definição normativa
para as certificações, dos principais limites técnicos, ambientais e
sociais, haverá necessidade de desburocratizar a aprovação de
plantio de florestas pelo IBAMA.

2) A organização de um sistema de acompanhamento físico e


controle financeiro dos projetos, com transparência e participação
da sociedade, visando prevenir e punir qualquer desvio de
conduta na sua execução.

3) Um sistema de financiamento para romper a inércia dos projetos


aprovados. Junto dele o BNDES deverá participar, decisivamente,
das soluções mencionadas no item anterior.

4) Um excelente desempenho na capacidade de comunicação


social, visando, informar, corretamente não só a minoria
privilegiada dos brasileiros, mas, também, parcelas mais amplas
da sociedade.

12. DADOS FÍSICOS - FINANCEIROS

Uma pequena demonstração que pode ser utilizada para cálculos


financeiros para áreas florestadas. Importante frisar que, já existem valores de
quantidade de carbono para a floresta em pé/nativa.

ÁREA DE PLANTIO

AREA REGENERADA

CUSTO DO PLANTIO US$ XXXXXXXX/ha

ÁREA NATIVA/EM PÉ

INVESTIMENTO US$ XXXXXXXXXXX

SEQUESTRO DE CARBONO

a) FLORESTA PLANTADA

1 ha = 10 TC/ano

XXXXXXXXXXXXXXXde áreas x 10 = XXXXXXXXXXXXXX TC/ano


b) FLORESTA REGENERADA

1 ha = 4 TC/ano

Qtde da Área x 4 = XXXXXXXXX TC/ano

Total de carbono seqüestrado ano = XXXXXXXXXXXX TC/ano

Valor de mercado 1 TC = US$ 20,00 (valor aproximado)

20 x XXXXXXXXXXX = US$ XXXXXXXXXXXXX

13. Referências

Agenda 21. Comissão Pró-Agenda 21 Rio. Disponível em


www.mma.gov.br/port/SE/agen21/perg.html, 12.05.2002

ALMEIDA, L.T. Política Ambiental: Uma análise Econômica. Campinas:


Papirus, 1998, p.04.

COSTA, P..M. A convenção climática e o surgimento de commodities


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Colaboração:

Edgar Alves da Costa Jr.


Extensionista _ Desenvolvimento Rural Sustentável e Agroecologia

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