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Biografia revi
r) .J o poeta sen
poemas qUI
~~JjJi BJ ~J
Inéditos e relançamentos retomam prosa e
influenciol
autores come
Manuel Bandeirí
e Viniciu:
verso do poeta da delicadeza crítica de Morae:
10VíRGULAS
O recorde de público de Machado de
Assis, o prêmio de João Ubaldo. Ribeiro
e outros fatos do idioma
62 ETIMOLOGIA
Documento do sécuio 3 dá
---
18 IMIGRAÇÃO 28 ACORDO 46VARIANTE
JAPONESA ORTOGRÁFICO A influência
Presença portuguesa Josué Machado dos Açores
e centenário da avalia a nova sobre o
imigração mostram geração de estado
que amizade dicionários brasileiro de
entre japoneses que chega Santa Catarina,
e lusófonos é com a unificação por Mónica
de longa data da grafia Cristina Corréa
REViSTA
LINGUA
ANO 111- NÚMERO --
35 - SETEMBRO
www.rellistillingl.la.com.br
15SN:1808-3498
DE 2008
Escritórios Regionais
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Ungua portuguesa é uma revista mensal da Editora segmento. Esta
Impacto: Escolha do momento de surpresa rítmica. publicaç~o não se responsabiliza por idéias e conceitos emitidos err
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4
I
I
luizeosta@editorasegmenlo.com.br
a"~ M
ANER
~""'''''.o''.~·
gua 33, julho), pois refletimos de". Uso freqüente nas ex- PRESENTE
acerca da análise tradicional pressões "dentre nós'; "dentre Receboa revistadesdemaio
de frases com pronome "se", tôs", "dentre vocês", "dentre como um presente de uma
partícula apassivadora e índice outros". "Alguns dentre vocês amiga bibliotecária, que se
de indetenninação do sujeito.O se opõem ao acordo ortogrd- interessou muito pelos artigos
resultado foi bastante satisfató- fico." Melhor usar com verbos da revista acreditando em sua
rio e,de quebra, osalunos ainda de movimento que exigem utilidade para mim, que sou
tiveramde pesquisarmais sobre preposição de: ressurgiu den- professora de Letras. Foi um
a relação lingüística e sintática Ire os mortos; dentre as estre- dos melhores presentes que já
de uma análise gramatical. las, uma sobressaía; dentre os recebi. Sinceramente, gostei
Paula Patrícia Santos nadadores, um destacou-se. muito dos artigos. Pretendo
DIAS GOMES Oliveíra, Aracaju (SE) "Entre",preposição, significa, continuar com a assinatura.
Sempre gostei das novelas entre outras coisas} "a meio Preciso com urgência fazer
de Dias Gomes, mas não tinha DITO & ESCRITO de", "em meio a"} "intervalo cursos, gostaria de participar
idéia da importãncia dele para Como leitor assíduo e re- numa série". Devia decidir-se de algumas oficinas, mas vou
a cultura brasileira. Língua cém-assinante desta concei- entre a mulher ea guilhotina; esperar pelas on-line, porque
(34, agosto) me abriu osolhos. tuada revista, quero ressaltar a decisãofoi tomada entre os moro no interior. Um abraço
Vivao povo brasileiro! como de muito interesse a políticos;a água econia entre a todos da revista.
Luiz Amorim de Aguiar, coluna Dito & Escrito,uma vez suas pernas. A legenda pode- Ange/aMariada Cruz (SP)
Alfenas (MG) que aborda temas relevantes ria ser, sim: "Dirigiu, entre
da escrita, com base em textos outros, osfilmes ...".
SE FOSSE FíSICA correntes de fontes diversas do
MACAU ERRATA
Sou professora-tutora de jornalismo. Mais especifica-
1. Por lapso, o nome
uma universidade particular, Na reportagem sobre a
mente com relação a "Duas
língua portuguesa em Ma- do filólogo português
nos cursos de Licenciatura em Mortes" (Língua 33), que
Letras - Português. Como assí- cau (Língua 33), faz-se Francisco Adolfo Coe-
trata da incorreção de uma
nante e leitora assídua da Lín- referência a um dialeto local lho saiu como Francisco
determinada legenda, gostaria
gua, gostariade parabenizá-los denominado "patuá". Esse Afonso Coelho em Lín-
de saber, sobre a legenda "Di-
gua 33, página 60.
pelaqualidadedosartigosema- termo (proveniente do francês
retor de Tootsie (1982), dentre
térías publicadas. É uma coin- patois), no sentido de dialeto,
2. Embora escrito
outros [...]",0 porquê do uso de
cídência maravilhosa observar inclusive dialeto crioulo de
"dentre" em vez de "entre". corretamente no texto
que a revista sempre aborda Macau, aparece em nossos
Júlio César Ramos, Alvosda Desqualificação
(Língua 34, páginas
assuntos que estou a trabalhar dicionários com a forma pa-
Florianópolis (SC)
em sala de aula com meus alu- toá. Por sua vez patuá (do 36-37), o sobrenome de
nos, assuntos que faço questão Resposta dIJ colunista Jo- tupi patauá) é uma espécie Mayana Zatz foi grafado
incorretamente como
de levar para serem discutidos. sué Machado: "Dentre" é con- de cesto ou balaio.
Como a exemplo de "Se fosse tração das preposições "de" e Mariano Kawka, "Katz" na legenda.
física...",de SírioPossenti (Lín- "entre " Significa "dIJ meio Pinhais (PR)
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SARAIVA INFANTIL DE A a Z
DICIONÁRIO DA LíNGUA
PORTUGUESA ILUSTRADO
SARAIVA JÚNIOR
DICIONÁRIO DA LíNGUA
MINIDICIONÁRIO MINIDICIONÁRIO
SARAIVA ESPANHOL PORTUGUESA
SOARES AMORA MINIDlCIONÁRIO ILUSTRADO
ESPANHOL/PORTUGUÊS
DA LíNGUA ANTONIO OllNTO PORTUGUÊS/ESPANHOL
PORTUGUESA INGLÊS/PORTUGUÊS
PORTUGUÊS/INGLÊS
GRAMÁTICA DA
DICIONÁRIO ILUSTRADO LíNGUA PORTUGUESA
JÚNIOR Roberto Melo Mesquita
INGLÊS/PORTUGUÊS
PORTUGUÊS/INGLÊS GRAMÁTICA
Teima Guimarães Castro Andrade TEXTO, REFLEXÃO E USO
e Terence Edward Hill William Roberto Cereja e
Thereza Cochar Magalhães
.;;:-.
IRACEMA
José de Alencar ~-
O NAVIO NEGREIRO
SENHORA
E OUTROS POEMAS
José de Alencar
O ALIENISTA Castro Alves
Machado de Assis
(( O romance
custa só você, o
lápis e o papel,
embora demande
muito mais tempo e
trabalho. Cinema é
uma atividade muito
mais superficial do
que a literatura. (...)
Digo, com base,
que fazer cinema
é mais fácil. »
GLAU8ER ROCHA (1939-1980,
CINEASTA 8RAsILEIRO
10
A tênue linha entre o amor e o ódio.
Da mesma autora de Uma vida interrompida
Seis anos depois do lançamento do livro que a consagrou perante a crítica e o público,
Alice Sebold volta às livrarias com Qyase noite. Uma leitura perturbadora e fascinante
sobre os laços frágeis e complexos entre mãe e filha.
A
.ediouro .com. br/quasenoite AG I R
Um lançamento Agir. Já nas livrarias. WNW
Humberto Werneck
muito rascunho. O hipopóta-
Língua portuguesa - De on- tão. Se não fosse arrastado
mo, por exemplo, é um rascu-
de veio o interesse por uma ã boemia por Ovalle, não
nho de Deus."Ovallefazia esse
figura tão gauche na vida? seria exposto ãquelas cenas,
tipo de analogia. E não repetia
Humberto Werneck - histórias, a estados de espírito.
palavras que lia. Contavauma
Gostode personagensque não Ovalle deixou-se extravasar
passagem da Bíblia na base
são de primeiro plano e, como nos amigos, contando coisas
do "Aí,Jesus abraçou, botou
jornalista, tendo a iluminar que eles aproveitariam. Dante
a cabecinha no ombro de São
os menos manjados. Escolher Milanoescreveusobreo sujeito
João, e disse:'Meu írmãozinho,
Ovalle me foi natural. Em _ Ovalle- que seapaixona por
meu filhinho ...'''.
1961, li Duas Faces, do Ivan um manequim numa vitrine.
Ângelo, em que um conto, Bandeira transformou uma
Via a si mesmo como obra?
Suicida, tinha epígrafe de um história ocorrida na casa de
Eleera a própria. Uma ca-
certoJayme Ovalle:"O suicídio Ovalle no poema em prosa O
Noturno da Rua da Lapa. O
Eu,que não tenho racterísticasua era a gratuida-
é um ato de publicidade". Nos de, o descompromisso de for-
velho Germano, de Encontro religião, tenho
meus 16 anos, achei aquilo o malizar uma obra. Qualquer
máximo. Corri ã biblioteca, Marcado, do Fernando Sa- por padroeira
artista reserva o melhor de si
mas não vi registro dele, só a bino, é Ovalle decalcado. Há Sherazade. Se não
para a obra. Já Ovalle tinha
menção como compositor de uma infinidade de crônicas contar a história
consciência de que: 1) era ar-
Azulão. Depois, volta e meia do Fernando em que Ovalle direito, o sultão tista; 2) não tinha meios para
lia essenome, Ovalle.Aíme dei é o modelo, mesmo que não corta minha formalizar a arte contida nele.
conta de que ele esteve numa tenha se impregnado de um
cabeça. Se escrevi Era eufartado de arte e a extra-
periferia da cultura. Nunca no espírito ovalliano.
algo e você parou vasava no convívio.Sentia que
centro, mas por ali, resvalando
Como define esse espírito? de ler no meio, não escreveria algo altura
ã
E mesmo assim foi um Quando o conheceu, notou também que ele tinha 'uns
gênio criador? Sua arte era conversar. buraquinhos no rosto: e lhe perguntou:
Sim, mas não tinha preo- Foi assim que ele criou - Vocé teve muitas espinhas quando era rapaz?
- Não, não, eu apanhei de garfo .."
cupação autoral. Imagino que, uma teoria,a NovaGnomonia,
se aflorassealgo numa conver- que saltou de uma conversa de
sa, Drummond ou Bandeira bar. É a divisão da humani-
hesitassem: "Não, isto que eu dade em categorias. Imagino
ia dizer vale poema, não vou quantas conversas interessan-
entregar aqui, na porta da tíssimas ninguém registrou.
livraria José Olyrnpío". Com Mas Bandeira estava ali e, por
Ovalle, não. A consolidação acaso, a registrou. É Ovalleem
de uma obra, ele só tentou em estado puro: uma teoria ao sa-
Londres, entre 1933 e 37. Foi bor da conversa. Há um episó-
quando pôs suas músicas em dio muito legal: após a morte
partitura e escreveu poesias de Schmidt em 1965, a viúva,
em inglês. Não se sentia na Yedda,sobrinha de Ovalle,teve
obrigação de guardar algo de lidar com questõespráticas.
para uma obra. Foi a uma mesa branca, para
ver se baixava o espírito do
Ainda assim, sua não-obra marido. Quem baixou foi
follnRuente •.. Ovalle, que teria dito: "Aqui
A influência dele não era estamos todos nus". Essa frase
só vista nas coisas que outros virou a epígrafe de um poema
colhiam, mas na maneira de Bandeira, Mensagem do
como ele vivia. Como não era Além. Até medi unicamente
artista, viviapoeticamente. Era Ovalle foi influente.
um gerador de poesia, diz Fer-
nando Sabino. Suas impres- Ele era devoto, mas sensua-
sões digitais na obra alheia lista. Como conciliava?
estão muito mais numa ma- Nocristianismo dele cabia
neira de ver o mundo. Muitos tudo, porque não estava preso
fisgaram manias, jeitos,sobras a dogmas. Fazia salada com
dele. Fora as pequenas coisas, candomblé, achava que os
só dele. Tinha, por exemplo, pecados não são os ditos pela
Humberto Werneck
Aclimatação
A receptividade do japonês a novos vocábulos é tanta
que nem expressões regionais brasileiras foram poupadas:
consta do dicionário Português-japonês Romanizado,
de Shigueru Sakane e Noemia Hinata (Vertente, 1986), o
TERMOS RELIGIOSOS "Senhor Tanaka"). A nossa palavra foi Hoje. o padre católico é táza, do mglés
Tentasan (tentação) - Termo reinterpretada como nome de um diabo, tatbet (faza 90 kakai ni kimashtto, "o
encontrado numa traduçâodo Padre o "Senhor Tenta'; tendo sido alterado o padre chegou à igreja"). A origem do
Nosso de 1591: waref(l wo tentasan signihcado da frase para"não nos entre- :.n final não é explicada pela literatura.
ni Iwnas/litamou koto nakare ("não que ao Senhor Tenta': Pode tratar-se do acusativo latino, tão
nos deixeis cair em tontaçáo"). A freqüente na liturgia (Palrem omnipo
sílaba -san é freqüente em japonês Bateren (padre) - Termo comum tentem: Deus Pai), o que explicaria a
e significa "senhor" (Tanaka-son, em obras históricas da era portuguesa. consoante surda interior.
termo "paulista" (San pauro shu) como também se deu: termos japoneses, como Reduto oriental: o bairro da liberdade,
em São Paulo, abrigou parte dos
sinônimo de "teimoso", tal qual usado no "origami", "mangá" e "judô", aclima- japoneses que desembarcaram no país
sul do país, além de "paulistano" com o taram-se no Brasil, livres de alterações
sentido de "desconfiado", ambos os sen- significativas, e hoje usufruem de "livre no Japão. Apresença lusitana restringiu-se
tidos confirmados pelo Houaiss. cidadania" no idioma de chegada. Já ou- à religião e ao comércio, sem interferência
- Alíngua portuguesa serviu de "pon- tros vocábulos sofreram adaptação, como do Estado. Para ela, Brasil e Japão só se
te" entre a cultura japonesa e a brasileira, ponkan (mexerica) ,kabocha (abóbora), aproximaram de fato posteriormente, por
uma vez que Portugal chegou ao Japão na byobu (biombo) ekaki (caqui). " força da necessidade de mão-de-obra.
mesma época em que colonizava o Brasil Eliza Tashiro, professora de japonês - Até mesmo o comércio que se de-
- diz a historiadora Célia Sakurai, autora da USP,minimiza o fato de Japão e Brasil senvolveu entre o Japão e os portugueses,
de Osjaponeses (Contexto, 2007). terem em comum o passado lusitano. Em no leste asiático, é considerado informal,
se O contato pioneiro entre Portugal que pese a presença pioneira de comer- pois em muitos casos não necessitou de
e Japão seria só o início de uma abertura ciantes lusos em seu território, não teria autorização do rei português. Acredito
lenta e gradual para o Ocidente, o inverso havido, para ela, colonização portuguesa que, após a retomada das relações no
século XIX, o intercâmbio estabeleci- ã soberania nacional. Um livro como O do Centro de Estudos Rurais e Urbanos
do entre Portugal e Japão é mais de de Carlos de Souza Moraes, A Ofensiva (Cer-u!USP), assinala que, embora os
caráter diplomático - afirma Tashiro. japonesa no Brasil (Livraria do Globo, seminários fossem de curta duração, o
1942), condenava a entrada desordenada baixo número de reprovações causou
Intolerância lingüística de imigrantes no país, que ele chamava de espanto entre os professores brasileiros.
No plano político-social, o Japão "povoamento" e não "colonização".
começa a adequar-se às exigências do Embora haja diferenças gritantes na Haicai
capitalismo a partir de 1868,início da era estrutura de ambas as línguas, acredita-se A interação de linguagens entre os
Meiji,período de modemização e abertura que os japonesesestavam empenhados em países passou também por formas verbais,
do país. "A nova elite no poder acredita aprender o português. Segundo Tomoo como o haicai, poética japonesa, trazida
que o melhor meio de resistir ao Ocidente Handa, autor de O Imigrante japonês ao Brasil no início do século 20. Consiste
é ocidentalizar o Japão e sua economia. - História de sua Vida no Brasil (T. A. em três versos de 5, 7 e 5 sílabas. Tendem
Para realizar essa tarefa, os japoneses, Queiroz Editor, Ltda., Centro de Estudos a fazer referência natureza, com apreço
à
acostumados a aprender com os estran- Nipo-Brasileiros,1987), entre 1933e 1934 pelo detalhe e poder de sugestão.
geiros,mobilizam todas as suas energias", foram realizados, nas cidades de São Pau- No português, não foram poucos
escreve Sakurai, em Osjaponeses. lo, Presidente Prudente e Lins,seminários os que atribuíram ao haicai um poder
Para se ter idéia da ânsia de aprendiza- com noções de português e cultura geral sanea-dor, responsável por enxugar
do nipônica, nessaépoca uma missãocom- sob orientação de professoresbrasileiros. • certas tendências verborrágicas da lite-
postapor burocratas eestudantes japoneses Aessaaltura, o aprendizadoda língua já ratura. Teria sido a fonte de inspiração
passou meses nos EUAe Europa em busca havia se tomado indispensávela imigrantes para acabar com "o mal da eloqüência
decompreensãosobrea cultura estrangeira quedesejassempassarem examese lecionar. balofa e roçagante", diz Paulo Franchetti,
e suas instituições. É nesse contexto de Em seu ensaioRelatos orais defamt1ias de estudioso do haicai, retomando palavras
abertura doJapão a outrospaíseseculturas, imigrantes ja- do crítico Paulo Prado sobre Oswald de
com incentivo à imigração, que se situa a poneses: ele- Andrade.Já o premiado haicaísta gaúcho
história do povojaponês no Brasil. mentospara Ricardo Silvestrin, colunista do jornal
Séculos depois do contato entre Por- a história da Zero Hora, vê em escritores brasilei-
tugal ejapão, a chegada de japoneses em educação ros a pista da influência
nosso país virou um marco cultural no brasileira, japonesa sobre nossa
Brasil,que só no estado de São Paulo con- a pesquisa- variante do idioma.
centra 1,3 milhão de japoneses e descen- dora Zeilade Bri- - Se formos
dentes. Cerca de 250 mil nativos doJapão to Fabri Demartini, ver a poesia de
vieram ao Brasil até a década de 70. Oswald de An-
No Estado Novo, muitos imigrantes drade, lá tem
eram discriminados por se comunicarem Imagem de capa um espírito do
do livro Os dizer pouco do
em sua própria língua, sobretudo os ja- Japoneses, da
poneses, vistos então como uma ameaça editora Contexto haicai. Mário
20
Quintana também tem vários haicais
nos seus livros. E mesmo a visão de
mundo dele se aproxima da poesia
chinesa e japonesa - afirma Silvestrin.
Difícil equivalência
A tradução do japonês para o por-
tuguês envolve lima busca por equiva-
lências muitas vezes difíceis de serem
estabelecidas. É O caso de baimi, que
em linhas gerais quer dizer "sabor de
haicai". Ou da expressão onomatopaica
para-para (gotejante) e de kiti-kiti,
(algo apertado). Outra que dificilmente
seria traduzida a contento em português
é wabi, profundo sentimento de solidão e
melancolia; e sabi (resignada solidão).
-A mais surpreendente relação entre
japoneses e os lusófonos, no entanto, está
no léxico. EmA Língua Portuguesa em
Viagem (TFM Verlag, 2003), organizado
por Marília Mendes, o pesquisador Georg
Bossong analisa a receptividade do ja-
I
• ponês à língua portuguesa no ensaio "O
elemento português no japonês". Escreve
1 que empréstimos do português na língua
japonesa informam sobre a fonética do
Japão, e divide tais empréstimos em dois
grupos: os termos religiosos, que se rela-
cionam com a atividade jesuítica e foram
desaparecendo aos poucos, e os advindos
da cultura material, que persistem até
hoje. Os exemplos destas páginas podem
dar idéia de uma relação mais estreita do
que fariam imaginar os 18 mil quilôme-
lançada em 1942, obra partidária do regime Vargas atacava a imigração nipônica tros que separam Brasil e Japão. •
róng (penugem, tecido macio, penas). O é descrito assim num dicionário:"legumes com karakana (alfabeto mais recente),
termo composto "penugem de cisne" é e mariscos frescos, delicadamente envol- como os demais estrangeirismos. O
o conceito chinês para veludo. A grafia tos em ovo, dourados em óleo leve': A composto cria a associação"glúten do
chinesa foi adotada no japonês. mas com grafia alternativa com kanjl (ideograma) céu" O termo deve antes relacionar-
a pronúncia portuguesa. com uma mistura de kanji e hiragana (al~ se com o verbo "temperar': Esta tese
fabeto para palavras estrangeiras), ou só é corroborada pelo fato de a forma
renpura [lemp(e)ra] - O prato nacio- com hiragana, demonstra que a palavra é tempra existir no indo-português, com
nal japonês conhcodo em todo o mundo qenuinemente japonesa. Não se escreve o significado de "tempero':
ditava "que mais vale a inteligência do a partir do lance, digamos, 50, a significar até
e encontra-se assim com uma hoje: situação
que a sorte, pois quem se guia pelo juízo
partida, aquilo que já Alfon- de perigo ou risco
inteligente faz suas coisas ordenadamente
so chama de"juego partido'; em geral (similar a
e, mesmo que perdesse não teria culpa,
que correspondem aos "estar sinucado").
pois estaria agindo segundo modo conve-
niente"; enquanto outro sábio, que consi-
derava a sorte como fator preponderante,
apresentou o jogo de dados; etc.
[I IÇ-
Mesmo pessoas que não acompanham
corridas de cavalos intuem que as emoções
do turleemparelham com as de outrasdís-
putas da vida (recorde-se o famoso tango
Por una Cabeza) e falam normalmente
que, digamos, nas eleições municipais de
São Paulo, a disputa está entre Alckmin,
Kassab e Marta, e Maluf corre por fora (o
mesmo Maluf que antes de o PT chegar à
presidência dizia que o PT não era "cavalo
de chegada") ou é um azarão. Se Alckmin
e Kassab se aliassem, a eleição seria uma IMAGENS DO
"barbada" etc. Enfim, é páreo duro e só na
reta final é que se saberá qual candidato
FUTEBOL
cruzará o disco de chegada. Claro que me
refiro aos candidatos dos partidos grandes, Sentido Expressão
Tem o domínio de uma situação Está com a bola toda
porque os outros não pagam placê.
Comete uma falha grosseira Pisou na bola
Naturalmente, com o PSDB dividido,
Teve um bom desempenho Deu show de bola
Alckmin, que é a bola da vez para ser
Identifica-se com os ideais da instituição Veste a camisa
fritado, está numa sinuca de bico e Serra, Aposenta-se Pendura as chuteiras
que só confia no seu taco, deu uma grande Busca o bem da empresa e não aparecer Joga para o time
tacada ao emprestar-lhe um apoio mais Recorre à lei para prevalecer sem razão Quer ganhar no tapetão
para formal. Aliás,ele já tinha cantado essa t retraído e não se mostra como é Está na retranca
jogada nas eleições presidenciais: era óbvio Leva aos subalternos a orientação superior Faz o meio de campo
que era Lula que estava na boca da caçapa. Tem experiência Tem cancha
Fracassa no namoro por falta de iniciativa Quem não faz, toma
(note-se que "cantar a jogada" é expressão
24
originária do snoober, que adaptou-se chave para a compreensão da tendência tão poderosa que chega muitas vezes a
também ao jargão futebolísitico). a criarmos metáforas a partir dos jogos e pensar a realidade como metáfora (para
Seja como for,Alckmin sempre prefere competições esportivas: a imaginação. o Alcorão, cada coisa no mundo é um
o nocaute a jogar a toalha: o que denota Ao contrário do xadrez moderno, sinal de Deus) e, até mesmo, a metáfora
notável falta de jogo de cintura: ainda que consideramos como mera estrutura como realidade. No extremo desse caso,
mais com tantos pesos pesados da política lógica; na Idade Média, o jogo era visto entre as célebres Rubaiyat (literalmen-
paulista na disputa. Maluf, que mesmo como excitantes manobras de guerra te: "quadrinhas") de amar Khayyam
quando está nas cordas, nunca acusa (por exemplo, a torre que, tal como a encontramos esta preciosidade:
o golpe, será que vai usar nos debates a torre que sitiava o inimigo, só podia "Para falar claramente e sem metá-
técnica do dincb e a de aplicar sutilmente mover-se horizontal ou verticalmente; foras [I?)] / Somos as peças do xadrez
golpes baixos ...? os pobres peões, que sucumbiam em jogado pelo Céu / Que brinca conosco no
Curiosamente, do vôlei e do basquete, grande quantidade na batalha etc.), de tabuleiro do ser / E depois ... voltamos, um
quase não há, entre nós, metáforas: pro- política de Estado, de vida etc. E o vemos por um, ã bolsa do Nada."
curando no Google, encontrei uma ou utilizado em muitas pregações religio- A imaginação popular está de pronti-
outra do tipo: "não gostei da entrevista sas da época (o peão que é promovido dão para dar vida à metáfora esportiva. Não
dos Nardoni no Fantástico: o repórter ao chegar à oitava casa e se enche será preciso chegar à próxima Olimpíada
só levantava a bola para eles cortarem". de soberba; os maus bispos, que se para perceber isso. •
E, quando, após infrutíferas buscas movem na diagonal por interesses
por imagens do basquete, finalmente escusos e oblíquos, etc.).
Luiz Jean Lauand é professor titular
encontrei um comentário - no Portal Mas a medalha de ouro vai da Faculdade de Educação da USP.
Gl da Globo - de que certo produto da . para a imaginação oriental, leanlauagusp.br
- e •
COBERTURA BRASILEIRA DE JOGOS GARANTIU
NOVA ACEPÇÃO A UM SOFRIDO VOCÁBULO
POR JOHN ROBERT SCHMITZ
E
m reportagens sobre esportes, es- "colocar ou pôr íim" aos "incômodos 1. "privação parcial ou total de qual-
tampadas na imprensa, o vocábulo jejuns". ili jejuns em questão podem ser quer alimento";
"jejum" apresenta um sentido atribuídos à improdutividade individual 2. "abstinência de alimentos";
diferente que não é percebido de imediato de diíerentes atletas ou à falta de empenho 3. "abstinência ou privação física,
pelos usuários do idioma em geral e nem ou de entrosamento por parte de equipes moral ou intelectual";
sempre registrado pelos especialistas e clubes inteiros. 4. desconhecimento de determinado
(gramáticos, lingüistas e lexicólogos) O "jejum" no mundo dos esportes assunto ou matéria".
que acompanham as mudanças que é, sem dúvida, infeliz. Todos sofrem. Em Com base na freqüência do "jejum"
ocorrem na língua portuguesa contem- primeiro lugar, o próprio atleta que vive nos textos esportivos, estamos diante um
porãnea. Agora que a Olimpíada acabou pressionado pelo técnico, pelos colegas novo uso do vocábulo que merece ser
(e o futebol brasileiro disputou ouro no e pelos dirigentes. Em segundo lugar, o registrado nos dicionários do português.
feminino e só bronze no masculino), vale próprio torcedor que sente empatia com Proponho, por isso, o seguinte verbete:
observar frases retiradas das páginas es- a situação do jogador e com a equipe que "Jejum: carência de suoesso por certo
portivas no Brasil e também em Portugal passa por determinados momentos sem a tempo numa modalidade esportiva - falta
(no caso, o último exemplo): alegria de vitórias. O pobre "sofredor" até de gols, de vitórias, de prêmios, de meda-
"Slater quebrajejum e bate recorde." conta os dias do "jejum", rezando que o lhas e de títulos".
"O Corinthians quer encerrar um período seja breve, amargando saudades A nova acepção conserva O traço
jejum neste sábado." de tempos mais felizes. semântico [+ sofrimento] que faz
"O Fluminense acabou na noite deste parte da prática de "jejuar". A palavra
domingo com um incômodojejum." Verbete "jejum" se origina de latimjejullus,
" ... para cc/ocarfim a umjejum de Os vários exemplos são pertinen- -a, -um. Etimológica e historicamen-
oitôrias que incomoda." tes, pois mostram uma nova acepção te, está associada ao discurso religioso.
"Leão destacapeso tÚJ jejum do Galo no português brasileiro do vocábulo A prática de "jejum" envolve uma
Atlético-MG." "jejum", muito diferente, por exemplo, abstinência de certos alimentos por
"Longo jejum de golas." do que está na versão eletrônica do di- um determinado período de tempo
Há um número de verbos que co- cionário Ilouaiss. Das quatro acepções como penitência. Quando o "jejum"
ocorrem com o substantivo "jejum" como registradas pelo dicionário, as últimas for por tempo indeterminado, a prática
"quebrar", "encerrar", "acabar com" e duas são de sentido íigurado: se torna verdadeira manifestação polí-
tica, isto é, "uma greve de fome" cuja Mundo afora Mas lembremos que O Houaiss
finalidade é fazer os outros "sofrerem" Todos os idiomas têm exemplos de registra outra acepção de "jejum": "des-
e pressioná-los a atenderem ao pedi- vocábulos que ampliam os seus signi- conhecimento de determinado assunto
do do indivíduo em jejum. Quantas ficados e outros que perdem "terreno". ou matéria", mas sem exemplificação
pessoas realmente "padeceram" com Algumas palavras são mais "imperia- com uma oraçào-modelo. Talvez os
o "jejum" de dom Luiz Flávio Cappio, listas" do que outras. A palavra latina leitores deste artigo possam pensar em
bispo de Barra (BA)? Houve sofrimento jejunus deixou a sua marca nas várias alguns exemplos? O Dicionário Brasi-
por parte dos que apoiaram o gesto do línguas romãnicas, pois temosjeune, em leiro da Língua Portuguesa (Mirador
religioso e também por parte dos que francês, ajuno em espanhol, digiuno em Internacional e Companhia Melhora-
queriam, por lima razão ou outra, que italiano, e dejuni em catalão. Mas, em mentos de Sào Paulo, 1976, p. 1005)
ele suspendesse o jejum. português, diferente das outras línguas registra O substantivo jejuno: "que está
O próprio verbo "sofrer" é outro exem- românicas, o referido vocábulo incor- em jejum" e quem ignora certo campo:
plo da expansão de significados de uma porou a acepção de "ausência ou falta" "jejuno em física".
palavra. O NovoAurélioSéculoXXi (Nova na prática esportiva. Em italiano, "estar sem notícias" é
Fronteira, 1999, p. 1876) registra o sentido O vocábulo "jejum" também se usa esseredigiuno de notizie e quem não
figurado do referido verbo: "Os gêneros em contextos nos quais existe uma "fal- sabe nada de matemática é digiuno de
alimentícios sofreram um aumento con- tal>ou "ausência", mas não está presente matemática. Em espanhol, não estar in-
siderável nos últimos anos". O Dicionário necessariamente um sofrimento ou lima formado sobre deterrninado sobre é "estoy
da Lingua Portuguesa Contemporânea privação. Na língua oral, ouvem-se frases en ayunas sobre tal asunto".
(Academia das Ciências de Lisboa e Edito- como: "Depois de um longo jejum, teu O vocábulo "jejum ", originalmente
rial Verbo, 2001, p. 3442) arrola também amigo entra em contato", "Queira des- restrito ao léxico religioso, "invadiu"
a frase: "O preço da gasolina sofreu um culpar o prolongado jejum, mas estive outra área - o mundo dos esportes, graças
grande aumento". Notável condição a de fora em visita familiar". O "jejum" nestes à colaboraçào, é claro, dos usuários do
"sefrer" e "jejum", palavras com cargas exemplos se refere a um intervalo de português brasileiro. •
semânticas ligadas à provação do ser, te- tempo sem notícias dos amigos e colegas
nham ganho no país sentidos talvez mais (nem por correio eletrônico, telefone ou
John Robert SchmiU ê do Departamento de
tênues do que as acepções consagradas até carta) devido à correria da vida moderna lingüística Aplicada do Instituto de Estudos da
há pouco tempo. (ou pós-moderna). linguagem, da Universidade Estadual de Campinas
CHEGAM ÀS
LIVRARIAS OBRAS
ADAPTADAS À
UNIFICAÇÃO
ORTOGRÁFICA, QUE
SERÁ OBRIGATÓRIA
PARA OS DIDÁTICOS
A PARTIR DE 2010
b) Os hiatos ee e 00. (No caso de gg. em crer, dar, ier, ver e de- e) O l! tônico de formas verbais rizotônicas (com
rivados, na 3' pessoa do plural). Como em: "crêem'; "dêem'; "lêem': acento na raiz) quando parte dos grupos ill!.e e gyj; ill!.e
"vêem': "abençôo': "côo': "corôo" "enjôo': "perdôo" e "vôo': e ggi:"apazigúe': "argúem': "averigúe': "obliqúes"
Hora de remarcar os
.. /.
rcronanos
unificação ortográfica entra em às quase 200 mil escolaspúblicas do país. no português. Como ainda há dúvidas
2
será lançado em 2010, diz Breno Lemer, Aeditoras portuguesas apostam suas
trimestre de 2009, anuncia Emerson
diretor-geral da Melhoramentos. Aversão fichas. ATexto,do grupo Leya,editou dois
Santos, diretor-geral da divisão de Livros
completa do Caldas Aulete estará na _ Novo Dicionário da lingua Portugue-
e Periódicos da Editora Positivo.
internet, infonna Paulo Geiger,editor da sa, médio, 1.653páginas, e Novo Grande
Meses depois será lançado o novo
Dicionário da lingua Portuguesa, 2.048
Houaiss, porque a equipe técnica termina Lexikon Editora.
Os minidicionários são capítulo ã páginas em 2 volumes. A Porto Editora
de rever a segunda edição em março de
parte. Houaiss.Aurélio e Micbaelis, com fez o Dicionário de lingua Portuguesa
2009,prevê Mauro Salles de ViUar,diretor
30 mil verbetes, foram lançados para a 2009, "o único com o antes e o depois",
do Instituto Antônio Houaiss.OMichaelis
Bienal do Livrode São Paulo em agosto também médio, 1.728páginas.
já de acordo com a unificação. O da Bechara observa que talvez os por-
Academia Brasileira de Letras, publicado tugueses tenham sido rápidos demais
pela Editora Nacional, sairá até outubro por tratarem de forma discutível e con-
com 33 mil verbetes. Asurpresa na área traditória certos aspectos da grafia não
foi a rapidez com que os portugueses claramente definidos pelo acordo, em
prepararam dicionários conformes ã particular em relação ao hífen. Paulo
unificação e os lançaram já no começo Geiger explica:
do ano. Ainda mais pela resistência que - Oacordo menciona os prefixosJl]i:,
opõem ao acordo e porque ele só deve. l!ffi: e ~, que devem se unir por hífen,
vigorar na Terrinha a partir de 2014. e exclui as formas átonas pre-, pro- e
PQâ: que se aglutinam com o elemento
30
que as vogais ~ e Q soam quase sempre
com timbre aberto?
Algo semelhante se passa com o
prefixo 1];-. Só que no dicionário da
Texto, 1];aparece seguido de hífen antes
de segundo elemento começado com ~,
embora seja átono. Estão lá registrados,
portanto: "re-edição", "re-educação",
"re-eleição", "re-ernpossar". Obviamente,
com o timbre fechado. lmprevisão dos
sábios que redigiram o Acordo, preci-
pitação da editora e provável distração
da equipe que preparou o dicionário. (O
Vocabulário Ortográfico da ABLmanterá
"reedição", "reeducação" etc.)
Bechara: temorde que Portugal recue, a exemplo dos acordos de 1931 e 1945 Nocaso das palavras compostas porverbo
+ substantivo,outros casosde incoerência no
- Por isso, não estou convencido de "catavento", "paralama", "mataburro'', acordo, que registra "guarda-chuva", mas
que o acordo estipula "re-eleger", "re-edu- "matapiolho" etc. E "lerolero", mas "rnandachuva": "paralama", "parabrísa",
car". Ele não é claro quanto a isso. "ruge-ruge". E aí? mas "para-choque" etc.Odicionário da Textc
Por aí se vê que o dicionário da Texto ignora essas diferenças e usa sempre hífen,
Critérios insondáveis saiu com algumas dessas aparentes mas registra incoerências como "lengalen-
Geiger reconhece que o uso do hífen contradições. Registra "preeminên- ga" e "zaz-traz", entre outras.
é problema malresolvido e lembra que cia", "preestabelecer", "preexcelêncía",
critérios continuarão insondáveis. "preexistência" etc. e "pré-escola".
- Houaiss, a quem eu enviara uma Dirão ser clara a diferença: Jl[é:: com o
lista de palavras compostas "duvidosas" timbre aberto, acentuado, é seguido de
quanto ao hífen, devolveu-a anotada, hífen; com timbre fechado, sem acento,
mas sem coerência nem critérios cla- sem hífen. Mas saberão todos, que não
ros: "marca-passo" (verbo + subst), especialistas, reconhecer quando o.pre-
mas "mataborrão"; "limpa-trilhos", fixo é tõnico ou átono? Quando deve ou
mas "pegaladrão"; "bate-estaca", mas não ser acentuado? E no Nordeste, em
1) Em palavras compostas que constituem unidade sintagmáti- 5) Com sufixos de base tupi-guarani que repre-
ca e semântica e nas que designam espécies: ano-luz, azul-escuro, sentam formas adjetivas: =ª.Ç!b ~ e -mirim. se
conta-gotas, guarda-chuva, segunda-feira, tenente-coronel, beija- o primeiro elemento acaba em vogal acentuada ou a
flor, couve-flor, erva-doce, mal-me-quer, bem-te-vi. pronúncia exige a distinção gráfica entre ambos: amoré-
guaçu, manacá-açu, jacaré-açu, paraná-mirim.
2) Com os prefixos gJS:, sota-, soto-, vice-, vizo-: ex-mulher,
seta-piloto, soto-mestre, vice-campeão, vlzo-rei. 6) Com topônimos iniciados por grão e g@efor-
ma verbal ou elementos com artigo: Grã-Bretanha,
3) Com prefixos llil!l!l: e pan- se o segundo elemento começa Santa Rita do Passa-Quatro, Baía de Todos-as-Santos,
por vogal e m ou n: pan-americano, circum-adjacência. Trás-as-Montes etc.
3
cada palavra discutível. Com o trabalho Breno Lerner, da Melhoramentos, é um
cuidadoso ao extremo, a surra dos críticos dos que se queixaram:
será menor. - A dificuidade, neste momento, é
Registrará, por exemplo, "erva mate", a falta de referências. O texto do acordo
mas "erva-de-santo--inácio", nome de plan- é vago em aiguns tópicos, chegando
ta; "bico de papagaio", anomalia em discos a se contradizer em relação ao uso do
da coluna vertebral, sem hífen, como toda hífen. Como até agora não temos o Volp
locução, e "bico-de-papagaio", planta. reformado, cada editor adota sua própria
interpretação do texto.
Solução difícil
Trabalho de base É quase certo, no entanto, que o Volp
O fato é que a Comissão de Lexico-
"O lacunoso acordo", como o chamou ficará pronto a tempo de ser usado pelas
logia e Lexicografia da ABL (Eduardo
Bechara, previa que o Volpseria o trabalho editoras. Assim que o infernal hífen for
Portella, Evanildo Bechara e Alfredo
de base para a preparação dos dicionários. minimamente domado, a ABL poderá
Bosi) se debatia até meados do ano
O atraso na preparação provocou a quei- transmitir a elas os resultados antes de
para solucionar problemas como esses
xa dos editores, que talvez não possam publicar o listão. É a esperança de que
e lançar em novembro o novo Vocabu-
esperar a lista normativa da ABL.Por isso, não haja trombadas interpretativas
lário Ortográfico da Língua Portuguesa
prepararam seus minidicionários como entre dicionários de respeito. •
(Volp) - a relação com a grafia oficial
de 360 mil vocábulos. Embora tais puderam, resolvendo por si as contradi.
problemas pareçam insignificantes, ções do Acordo, ãs vezes com consultas
não podem ficar sem solução bem-fun- tnformaís à ABL.
damentada num catálogo dessa impor-
tância, espécie de bíblia lexicográfica. Paulo Geiger, da lexikon
Editora: versão completa
Por isso, a Comissão decidiu considerar do dicionário na internet
exceções os exemplos contraditórios do
acordo. Bechara admite que o trabalho
não ficará perfeito:
_ Procuramos eliminar dúvidas e
Caldas
Aulete
normatizar o Vocabulário da melhor
maneira possível, mas sempre haverá crí-
ticas. Depois de muita discussão, tivemos
de arbitrar em casos não previstos porque
os problemas vão surgindo do exame de
32
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HÁ TRÊS FORMAS DE CONDUÇÃO DE UM DEBATE QUE
ENTRA NA FASE DA CONFRONTAÇÃO
4/4/2008). Não sabemos até hoje o que a) impor restrições aos pontos de
D
urante a CPI que investigava o
uso dos cartões corporativos do se passou de fato. No entanto, isso não vista que podem ser apresentados ou
governo Lula surgiu a notícia de interessa aos propósitos deste artigo, pois o questionados;
que a Casa Civil da Presidência da Repú- que importa é o tipo de argumento usado, b) pressionar o oponente a abster-se
blica teria elaborado um dossiê com gastos segundo a imprensa. de apresentar uma dada opinião;
realizados no governo Fernando Henrique. c) desacredítar o adversãno.pondoem
Aoposição entendeu que se tratava de uma Rebater dúvida sua experiência, sua imparcialida-
intimidação dos governistas. O ministro Numa discussão, alguém apresenta de, sua integridade ou sua credibilidade.
Jorge Hage, chefe da Controladoria-Geral um ponto de vista e outro põe-no em dú- A primeira forma é estabelecer que
da União, teria dito aos parlamentares: "É vida ou rebate-o. A resolução de disputas certos temas não podem ser discutidos. É
possível que surjam coisas mais graves do pressupõe a explicitação das divergências. o que se tenta fazer, quando um assunto é
que as que já foram descobertas até agora" Num ambiente democrático, as pessoas considerado sacrossanto e, portanto, não
(Veja, 26/3/2008, p. 46). Paulo Bernardo, podem apresentar qualquer opinião ou pode ser questionado: por exemplo, não se
ministro do Planejamento, sugeriu que a pôr em dúvida qualquer idéia ou juízo. podem fazer charges e piadas sobre figuras
Comissão examinasse as chamadas contas Isso significa que o direito à liberdade de religiosas, não se podem questionar as
tipo B, um fundo de despesas que existia expressão implica que não haja restrição atividades de familiares do Presidente da
antes da criação dos cartões corporativos nem aos argumentos nem às pessoas que República e assim por diante.
(Veja, 26/3/2008, p. 48). Um líder do go- os enunciam. Não se pode, portanto, impor Amaneira mais extrema de evitar que
verno teria afirmado: "Se abrir esse baú, condição referente ao conteúdo proposi- alguém diga alguma coisa é impedi-lo
a Matilde (ex-ministra que renunciou a cional nem ao status e à posição do falan- fisicamente, pela morte ou pela prisão.
cargo depois que veio à tona o fato de que te. Em princípio, numa discussão, não se de fazê-lo. Foi o que aconteceu com o
fizera compras numfi-ee-sbop com cartão poderia impedir a apresentação de pontos jornalista Tim Lopes, que estava apu-
do governo) vira uma freira franciscana" de vista nem pôr em dúvida a credibilidade rando a exploração sexual de crianças
(FSP, 15/2/2008, p. A4). do oponente. No entanto, essas afirmações e adolescentes em bailes funk. É o que
Em 20 de fevereiro, a ministra Dilma são teóricas e abstratas. No mundo real, as fazem os ditadores com os oposicionistas.
Rousseff diria a empresários, em um jan- coisas se passam diferentemente. No entanto, isso não é o mais comum. O
tar, que estava levantando gastos tucanos Assim, há três formas de condução da que ocorre numa discussào é intimidar o
e o governo não iria apanhar quieto (FSP' discussão na fase da confrontação: adversário, é fazer uma ameaça, na maior
parte das vezes,velada. Esseprocedimento as conseqüências". Observe-seque há uma apresentação de temas que não estejam
recebeo nome latino deargumentum ad restrição ameaçadora depoisda afirmação na pauta ou proibir a manifestação de pes-
baculum, que poderia ser traduzido como da liberdade de expressão. soas que não estejam credenciadas para
"argumento que apela para o porrete". Foi Outra maneira de evitar que alguém dela participar; num processo, não são
esseo argumento utilizado pelosgovernis- apresente um ponto de vista é colocá-lo admissíveis o testemunho dos esposos ou
tas na CPI do uso do cartão corporativo, como responsável por conseqüências de outros parentes de primeiro grau. Num
quando insinuaram que haveria gastos desagradáveis ao enunciador ou a uma litígio judicial, pode-se pôr em dúvida os
"estranhos" no governo anterior. terceira pessoa, para uma causa, para uma conhecimentos de um perito, já que seu
entidade. É o que se chamaargumentum ponto de vista tem relação com seus co-
Intimidação ad misericordiam (argumento que faz nhecimentos; pode-se, num julgamento,
São argumentos ad baculurn frases apelo ã piedade): "Se você denuncíar esse mostrar a falta de confiabilidade de uma
como: "Proíbo-o de tocar nesse assunto"; caso de corrupção, vocêprejudicará o par- testemunha. Pode-se também apontar
"Não se esqueça de que participarei da tido"; "Se você fizer tal crítica, você fará o contradições no curso de uma discussão.
Comissão que vai julgar sua promoção"; jogo dos adversários"; "Se você tornar isso Os argumentos ad baculum e ad
"Por que você não se cala?" (frase dita público, eu serei prejudicado"; "Se você misericordiam são eficazes, mas revelam
pelo rei da Espanha [uan Carlos I ao apresentar esse ponto de vista, você trará um enunciador argumentativamente frá-
presidente da Venezuela Hugo Chaves danos para a causa da igualdade racial". gil, pois,embora possacalar seu oponente,
durante a Ir Cúpula Ibero-Americana não é capaz de demonstrar cabalmente
(FSP' 13/11/2007) Eficácia o erro ou o despropósito da opinião. São
Esse tipo de argumento, explícita ou Esse tipo de argumento é sempre um usados não só para levar alguém a deixar
implicitamente, mostra que haverá con- instrumento eficaz numa discussão. No de manifestar um ponto de vista,mas tam-
seqüência desagradáveis para o oponente. entanto, há contextos em que seu uso é bém a fazer ou não fazer alguma coisa:
Muitas vezeso argumento ad baculum é válido e outros em que é um meio de evitar "Se você não pagar o resgate, seu filho
muito indireto, poisconsiste em assegurar um ponto de vista pela impossibilidade de será morto"; "Doe agasalhos para os que
enfaticamente que não há nenhuma mostrar seu erro ou seu despropósito. Em morrem de frio no inverno". •
pressão sobre o oponente: "Vocêestá num contextos institucionais, pode-se impedir
José Luiz Fiorin e professor do Departamento de
país livre e, por isso, tem todo o direito de a discussão de certo assunto: por exem- lingüística da USP e organizador, com Margarida Petter;
dizer o que quiser, desde que arque com plo, numa assembléia, pode-se coibir a de AfricQ no Brasil (Contexto)
A TENTATIVA DE OBTER CONOTAÇÃO
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POSITIVA DE DISPARATES, CONTRA-SENSO:
E ABSURDOS MARCA A RETÓRICA POLfTIG
POR IllDORO BLlKsrEIN
do constrangimento
conseguindo assim persuadir os ouvintes ção no significado da mensagem. Assim,
mídia nos tem brindado com
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\
\\
\ compôs até uma paródia
de Vou-me Embora pra
Pasárgada, para uma
paixão de fim de lida.
- Os poemas mostram
Sucessiva e renovada a cada momento. Essaênfase.essarnudan- f • faceta não conhecida, a
Graça aérea como o teu próprio çade tom, a precipitação ".J 1 I história de alumbramento
brusca provocada pela \, J que Bandeira viveu aos 78
~to.
Graça que perturba e que satisfaz. exclamação ("lastima- I ') anos, quando se apaixonou
me e consola-me!"), abre I/I / f / ) i I por uma mulher de 28.
o que eu adoro em ti, terreno para o impacto da ~ \~
Não é a mãe que já perdí. informação final é 'J ' í li J2) Versão de Guignard
Não é a Innã que já perdi. a vida, pulsão vital, rI/ I~
~ ~j
L '--- -- ) para Santa Maria
l! meu paí. impulso da vontade; (VIL: Egipciaca. de Bandeira
42
Elvía identificou semelhanças entre composição. O falho no ser humano é pela importância histórica de sua poesia,
a amostra do novo livro e ao menos três tratado por ele com a reserva permissiva como a de Q!; Sapos, crítica a "certos ridí-
poemas de obras editadas pelo autor, como de um confessor compreensivo. O fatídi- culos do pós-parnasianismo", apresentada
O Fauno. co é nele descrito com leveza, humor e na Semana de ArteModerna, em fevereiro
- Háassociação clara entre alguns dos resignação. É assim que, por uma causa de 1922.Assimcomo Pneumotôrax e Vou-
inéditos e os conhecidos. Apoesia de Ban- de fé, Santa Maria Egipcíaca dá o corpo me Embora pra Pasárgada, ou como
deira tem muito de biográfica, embora na ao balseiro, para atravessar um rio. Que Evocação de Recife ou Poética, pequenas
maioriados poemas de amor que publicou a dama branca (a morte) o visita. Que se grandes peças de uma engrenagem que
ele tenha omitido a fonte de inspiração. toma amigo do rei de Pasárgada. Que uma ajudou a abrir caminho para o verso livre
Dizia-se que ele sublimava paixões. notícia de jornal vira verso. Ou lrene, sua e para uma dicção poética à brasileira.
- Coisa nenhuma e nisso concordo ama preta, entra no céu.
com o crítico ivan junqueira. Gosto em Um poema seu desenvolve quase
Bandeira principalmente da delicadeza de sempre um espanto de observaçào,quando
seu erotismo. Eleé de um lirismo discreto, não pinça um momento fugidio, com a
achava que a língua inglesa facilitava a ironia travessa de um amigo discreto.
tradução, porque nela mesmo a maior Em mais de uma ocasião, o
ternura não ficava "melada". Sua poesia crescendo de seus versos prepara a
era sensual até pela delicadeza que lhe era irrupção no ritmo, que nào raro estala
característica - diz Elvia Bezerra. rente ao final do poema.
A pesquisadora acredita que Bandeira
chegou a um grau de refinamento dessa ~ eu quereria o meu último poema
delicadeza no erotismo em poemas como Que fossetemo dizendo as coisas mais
Arte de Amar ("Deita o teu corpo sobre simples e menos intencionais
outro corpo/ Que os corpos se entendem / Que fosse ardente como um soluço sem
Masas almas, não.") e Unidade, especial- lágrimas
mente o último verso("no momento fugaz Que tivessea beleza das flores quase sem
da unidade"). É essetipode sutileza,defende perfume
Elvia, que permitiria ao leitor fruir vários Apureza da chama em que se consomem
níveisde leitura na obra bandeiriana. os diamantes mais límpidos
Apaixão dos suicidas que se matam
Ritmo dissoluto sem explicação
Manuel Bandeira é o poeta da deli-
cadeza que procura liberdade de movi- Aqui, o penúltimo verso de O
mentos. Tal busca parece tê-lo levado,por Último Poema, num trecho cuja
exemplo, ã experimentação formal (foi extensão fora antecipada (au-
um dos precursores do Modernismo e tri- torizada) pelo segundo verso,
lhou do verso livre à forma fixa, passando prolonga a recitação e faz a
pela poesia concreta). Levou-o também à retomada de fôlego funcionar
predileçào por certos temas, como o des- no poema como uma apre-
conforto ante o confinamento, a lucidez sentação calculada para a
no trágico e a cumplicidade com a morte. constatação final.
Mas,principalmente, o desejode liberdade
de movimentos parece ter levado o poeta Referência
à observação carinhosa sobre o que há de Manuel Bandeira
ordinário no mundo. costuma ser lembra-
O poeta transforma fatos pessoais e do em vestibulares e
a mazela cotidiana em matéria bruta de compêndiosliterários
OBRA AGITA MERCADO EDITORIAL Estou farto do lirismo comedido
LANÇAMENTOS,NOVASANTOLOGIASE REEDiÇÕESAMPLIAM Do lirismo bem comportado
HORIZONTEDACOMPREENSÃODAOBRA DE BANDEIRA Do lirismo funcionário público com livro
de ponto expediente protocolo
Embora a obra poética de Bandeira esteja (desde a festa dos 80 anos do
e manifestações de apreço ao sr. diretor
poeta, em 19 de abril de 1966) agrupada e editada pela Nova Fronteira sob
o título de Estrela da Vida Inteira, há três anos a agência literária Solornbra,
do Rio, tem diversificado a oferta de sua obra. Estou farto do lirismo que pára e vai
Essa a razão de o público brasileiro ter testemunhado a publicação recente averiguar no dicionário o cunho
de novas antologias, como A Aranha e outros Bichos (Nova Fronteira); Belo Belo vernáculo de um vocábulo
e outras Poemas (José Olympio); Para Querer Bem (Moderna) e Bandeira de ()
Bolso (L&PM).Acaba de sair do forno As Cidades eas Musas (Desiderata), seleta Quero antes o lirismo dos loucos
temática organizada por Antonio Carlos secchin, e a Nova Fronteira prepara o O lirismo dos bêbedos
infanto-juvenil As Meninas e o Poeta, reunião de poemas de circunstãncia.
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O gás dado a Bandeira passa ainda pela reedição de obras fora de catálo-
O lirismo dos clowns de Shakespeare
go, como 50 Poemas Escolhidos pelo Autor e Crônicas da Provincia do Brasil
(Cosac Naify); Seleta em Prasa e Verso e Alguns Poemas Traduzidos
(José Olyrnpiol, e a edição, repaginada, de Berimbau e Outras - Não quero mais saber do lirismo que
Poemas (Nova Fronteira). não é libertação.
-,
i poemas, oferecendo um painel dos recur-
sos expressivos que empregava.
crítica. Depois, os temas mudam, e ele vira o tipo de reflexão e muitos dos fatos que o Suas crônicas, no entanto, mostram
o analista da cidade, do cinema. Seu estilo poeta retratou fazem eco até hoje. Na colu- que Bandeira mantinha o espírito aberto.
também muda, refletindo a passagem da na "Música", de setembro de 1925, mostra- Até sobre o idioma. Em "Fala Brasileira",
concepção anterior, simbolista e de poesia se cismado com os clichês da crítica de de Crônica da Província do Brasil, de-
metrificada, para o Modernismo. arte, que nos anos 20 costumava usar, de fende a ampliação de limites da retórica
Bandeira teria mantido a unidade de forma indiscriminada, certas expressões, literária. "É que a linguagem literária en-
estilo de um momento a outro pelo cuida- como "forma" e "técnica". tre nós divorciou-se da vida. Falamos com
do com o idioma, avalia Castafíon. "Existe na forma uma realidade ideal singeleza e escrevemos com afetação."
- Mesmo quando toma liberdades com subjetiva que escapa a essa gente. Fonma Bandeira advoga para a escrita uma
o idioma, o conhecedor da língua se desta- para eles é uma realidade tátil, nada mais. tradição mais próxima da fala, "correta
ca. O Modernismo se instala em sua prosa Arte, fabricação. Ouve-se freqüentemente mas sem afetação literária, da sociedade
na reprodução de falas do cotidiano, no dizer: Fulano tem muita técnica mas não brasileira culta". Para ele, uma expressão
apelo ao oral e ao humor, na incorporação tem sentimento. Esse Fulano, dizemos nós, que muitos achem errada e abusiva pode
de uma visão irônica sobre os fatos. poderá ter muito mecanismo, mas não terá até ter menor energia, menos concisão e
Apesar de feitas no calor do momento, técnica nenhuma se não tem sentimento. elegância. Mas terá "muito mais caráter".
as crônicas de Bandeira mantêm o interes- A técnica, como a arte, é essencialmente Era um homem assim, de dicção
se, não só pelo valor histórico, mas porque expressiva", escreve Bandeira. delicada, mas ousada. •
4
I
- H
á um folguedolitorâneode Santa
Catarina com uma palavra que que vai "engolindo" a molecada na do Brasil, ocorrida em particular nr
pode causar espanto ao visitante brincadeira do boi-de-mamão. Durante litoral catarinense, a de Açores, un
desavisado,de outro Estado. essa festa, que é uma variação do bum- arquipélago situado no nordeste di
ba-rneu-boi, cada garoto tragado pelo oceano Atlãntico, a 2 mil quilômetro
"Brinca, Bemúncia, brinca: monstro deve permanecer debaixo do a leste da Península Ibérica.
pano que constitui o tal bicho-papão, A expressão catarinense deriva d
Ela brinca bem. latim e proveiode abrenúnlias, presenl
se não brincar direito, aumentando-lhe o tamanho.
A explicação pode ser satisfatória na cerimônia católica do batismo, paI
Ela aqui não vem"
para quem quer saber a fonte do folgue- renunciar-se ao mal:
- Renuncias ao demônio?
o que viria a ser "Bemúncia"? Um do, não a origem do termo. A palavra, - Renuncio.
nativo dirá que se trata de figura do fol- na verdade, testemunha uma influência
AÇORIANOS BRASilEIROS. ~
COMO IMIGRANTESDE UM ARQUIP~LAGODO ATLÂNTICO
VIERAMPARARNO SUL DO BRASIL
"
Ao longo dos séculos, abrenúntias tempo e na grande miscigenação que premiado com o Jabuti pelo Dicionário
se fez "brenúncia", "brenunça" ou se reflete no falar atual da região de Novos Termosde Ciênciase Tecnolo-
"bernunuça", tornando-se substantivo (ver página 48). Mas o fato é que gias (com Franco Vidossich, 1996).
(como no nome do monstro) ou em os 6.07\ açorianos imigrados entre Em sua tese de doutoramento,
interjeições, com o sentido de "Deus me 1748 e 1756 para esse litoral - dos Furlan estudou a influência açoriana
livre!","Esconjuro-te!". Tal evolução pode quais certa parcela avançou para o na língua de Santa Catarina, em tra-
ter-se operado em Açores ou no litoral território gaúcho - deixaram legado balho pioneiro: Influência Açoriana
caiarinense. Fato é que o termo no Brasil cultural, sobretudo lingüístico. no Português do Brasil em Santa
se usa apenas em Santa Catarina, o que Determinar as características dessa Catarina, de 1989. Para tais estudos,
justifica considerá-lo um catarinensismo herança e comprová-Ias cientifica- esteve por dez meses em Portugal e
de origem açoriana. mente implica relacioná-las com todas visitou os Açores.
as variantes registradas no tempo em O pesquisador, que coordenou para
Contribuição cultural cada uma das regiões de colonização Santa Catarina o Atlas Lingüístico-
A curiosa derivação do nome da portuguesa. A essa árdua tarefa propôs- Etnográfico da Região Sul (2002),
Bernúncia exernpliíica uma contri- se o professor Oswaldo Antônio Furlan, destaca características lingüísticas
buição cultural cujas pistas são de aposentado pela Universidade Federal de catarinenses que não existiram sem a
difícil resgate porque apagadas no Santa Catarina. Poliglota, Furlan já foi presença açoriana.
47
Açores: a população foi
estimulada a ocupar o
. Brasil para deter avanço
"você" e suprimiu o "tu" no século 19,
Características espanhol no século 18
Os açoriano-catarinenses, por exem- e que em Portugal se usa pouco.
plo, preservam a tendência paroxito- Em frases como: "José, tás bem? fosse
nizante do português. Acrescentam ~ ao mare? como passa o vosso neto? tá
às oxítonas em :.1, :.r, 2, ;z: "sal-e", certo o que vossa mecê conversô? Acra-
"mar-e", "rnes-e", "faz-e", Também dita no que vô te dize".
chiam (ou álveo-palatalizam) o/s/ Os catarinenses com influência aço-
seguido de consoante ou pausa: riana conservam também numerosas
"Se qués, qués; se não qués, diz" (Se formas arcaicas, como "esprito" (espí-
queres, queres; se não queres, dize). rito), "por riba" (por cima) e "pro mó
Tal chiado, registrado pela primeira de", que faz as vezes de conjunção final
vez em Portugal em 1746, já estaria "(para) a fim de".
_ Meu estudo quis verificar o grau de
difundido entre os açorianos de 1748-
1756. Esse dito típico ilustra também validade ou não da hipótese do dialetólogo
que eles ainda preservam, nas formas de Paiva Boléo, de Coimbra, segundo o qual
tratamento familiar, as do latim Ç'tu" haveria forte influência açoriana no por-
e "vós"), bem como o respeitoso "vossa tuguês do Brasil, especialmente em Santa,
mercê", que no Brasil derivou para Catarina. Mas a pesquisa dele se limitou
GARIMPEIRO DE TRADiÇÕES
A HISTÓRIADO PESQUISADORFRANKLlNCASCAESAJUDA A
ENTENDERA INFLU~NCIADO ARQUIP~LAGOA 8 MILKMDO BRASIL
LEGADO EM RISCO
EVOLUÇÃOMETROPOLITANAPODE DEIXARND PASSADO
OS TRAÇOSAÇORIANOSNA LINGUAGEMCATARINENSE
49
a) Usa-se crase em casos como "vou Suponhamos, no entanto, que se quei-
T
odo mundo conhece - ou inventa
- um escritor que teria dito que a à praia", "vou àquela cidade"; ra compreender o fenômeno da crase com
crase foi feita para nos humilhar. b) Não se usa crase em casos como "A base em regras explícitas de gramática.
Aafirmação até parece verdadeira, tantos cidade fica a 80 km" (nunca se escreve Também se trata de tarefa bem simples -
os equívocos cometidos neste caso - mas "à 80 krn"); mais simples do que muitos outros temas
quase sempre numa só direção. Noentan- c) Não se usa crase em casos como de gramática - já que estão envolvidos
to, o uso do acento grave conhecido como "Ela deu um livro a Pedro", (nunca se poucos conceitos e termos técnicos.
crase é simples. Pelo menos, deveria ser, escreve "à Pedro"); Para compreender o fenômeno, é
considerando-se que os conceitos envol- d) Não se usa crase em casos como melhor começar do começo e não reduzi-
vidos não são nada complexos. "Prefiro isso a viajar de trem" (nunca se lo apenas a um de seus casos. Ou seja, é
Pode-se aprender a usar crase corre- escreve "à viajar"). melhor entender. mesmo o que seja a tal
tamente por intuição, ou generalizando a Com esses modelos - na verdade, crase. Ver-se-áque se trata de um fenôme-
partir de casos claros. É possíveleliminar bastam "à praia" e "àquela", e com algu- no absolutamente familiar. •
a maior parte dos erros se ficar claro o ma capacidade para analogias, toma-se Slrio Possenti é professor do Departamento de
que ocorre em: praticamente impossível errar. Lingüística da Unicamp
Drama para alunos e fabricantes Se um aluno aprende a regra básica (só se usa crase diante de palavras
de placas é a grafia, mais especifica- femininas), o que impede ocorrências como "à 80 krn" "à correr" ou "à Pedro",
mente, a colocação ou não de acen- evita a maior parte dos erros correntes.
ª
to grave na letra em casos como Pode-se ir mais longe, ou seja, tornar mais explícita esta regra. Pode-se
"à casa I a casa'; "às oito I as oito': "a utilizar um teste de substituição.
partir / à partir" etc.). A crase está Na maior parte dos casos, pode-se ter razoável certeza de que se deve usar
ligada à regência verbal. Depende crase quando"a" + feminino (à casa) puder ser substituído por "ao" + masculino
em boa medida de o verbo "exigir" (ao rancho).
preposição, como em "ir a': "chegar Ou, alternativamente, se, com a mesma palavra feminina (casa), o sentido
a" (ir à praia, chegar à cidade). permanece mais ou menos o mesmo com a substituição de "a" por "para a" (vou
A regra básica diz que se usa o à casa = vou para a casa).
sinal de crase quando há fusão da Fica visível que a preposlçâo'para'; muitas vezes quase sinônima de "a" ("Vou
preposição "a" com artigo "a" (tam- a Paris" = "Vou para Paris"; "Deu um livro alo) Pedro" = "Deu um livro para (o)
bém com pronomes demonstrativos Pedro"), está no lugar do primeiro "a~ seguida de outro "a" (a + a = para + a).
"aquele", "aquela'; "aquilo"), O que A regra, então, é simplesmente a seguinte:
implica que, excetuados os demons- Usa-se crase diante de palavras femininas, quando ocorre uma preposição
trativos, por começarem por vogal ª' seguida de um artigo (a + a = à).
o sinal de crasesó se usadiante de pa-
lavras femininas. Isso se deve a uma
razão clara: só elas estão precedidas CASOS ESPECIAIS
do artigo "a': Como há seqüências
do tipo lia praia'; "a casa': "a menina" Resta compreender alguns casos especiais:
etc, e, diante delas pode ocorrer de a) "àquele(s), "àquilo" - que não são formas femininas, mas são exemplos bem
um verbo ser seguido da preposição característicos de crase, isto é, de encontro de duas vogais em juntura de palavra;
(como "ir a': "dar a': "chegar a': etc), b) expressões como"móveis à Luís XV"ou"cabelo à Ronaldo"(que usualmente
está criado o ambiente para a ocor- são explicados como signíficando"à moda de ..:');
rência da crase e do conseqüente c) uma lista de expressões que é melhor ter à mão para consulta - e que, com
uso do acento grave. o tempo, se memoriza. Em geral, há explicações razoáveis para elas.
Por exemplo, trata-se sempre de preposição ou de locuções preposicionais
("com a'; "por meio da'; "ao lado da" etc.) mais o artigo "a': Assim, por exemplo, es-
O ENCONTRO creve-se "Escrever à mão" (com a mão?),"sentar à mesa" (ao lado da mesa?) etc.
DE VOGAIS Celso Luft fornece uma regra básica para todos esses casos: a crase serve
para eliminar possível ambigüidade: "à boca miúda", "à caça","à beira" etc. Por
No exemplo "Ele foi à casa da isso, nunca se emprega com palavras masculinas ou com verbos, óbvio: "a bem
dizer': "a lápis':"a contragosto", lia custo" etc.
vovó': por que há acento grave na
vogal que precede "casa"? Porque
essa seqüência deriva de "Ele foi ,
5
Os estais da nova ponte
REDATOR E REPÓRTER CONFUNDIRAM MEDIDAS E BOTARAM NO CÉU A NOVA PONTE COM SEUS CABOS COLORIDOS
Da torre pendem os 144 cabos de aço inglesa,stay, registra JOsé Pedro Machado,
om a inauguração da ponte estaia-
52
•,
.
5
.! \
i
I
.'
LE\lNARDD DA VINCI
!f52·1S19
pinfr. escultor,
cie ista, arquiteto.
eng nheiro e músi
R I.,A,5 DE 1 20
• • SSOl-\S E 2 "
ECONHECI"EN O TRABALHOS, COM PARTlCIPI>CÃO DE I.\"IS DE 3.000 PE O CO I-\E
,~ TO CIEN . ... RE/>.S O
T/F/CO PARA ALUNO E INSTITUiÇÃO' PREMIOS N/>.S5 />.
C ~ NIC-5EME5P
6' CONGRESSOIN1tRNACNlIIALDE INIC~ clEIIliAcA
INT-5EME5P
2008
• A
gramátiCa tradicional nos ensina
es Irra
que o português tem três modos
verbais: indicativo (situação efe-
tiva: "O dia está chuvoso"), subjuntivo
(situação potencial: "Espero que ele
venha") e imperativo (ordem para que
5'
em que Salvador Allende venceu. Recebeu edição, agora com belíssimas ilustrações
poeta chileno Pablo Neruda
56
COMENTARIOS
Si
Aosabor da
•
-: e 1a
A CONFECÇÃO DE POEMAS DE FORMA FIXA
É UM PROCESSO CONTíNUO DE DESCOBERTA
DE NOVAS SOLUÇÕES LINGüíSTICAS
QUE OBRIGA O ARTISTA A SER MAIS CRIATIVO
POR BRAUlIOTAVARES
/~~~~
/~/
'/
vocabulário. o som das palavras, a cadência, o modo autor preferevanar tamanhos, mas de ' ~
como elas se organizam na frase, as pequenas surpresas maneira regular - digamos, alternando .'...;' -::~
poéticas às quais só chegamos porque não pudemos usar versosde 7 e de 10sílabas. Vanar a extensão dos ' -::~
a primeira coisa que nos veio à cabeça. versos na estrofe é bom recurso contra a monotonia. ' ". /
OlavoBilac,em livroscomo.larças de FogoouAlma In- •/
Exercício quieta, tem poemas em que versosdediferentestamanhos •,-
A regra não é obrigatória, claro. Há poetas que são são usados de maneira simétrica ao longo das estrofes.
excelentes nas formas fixas mas não em versolivre (que Isto dá ao poema, ao mesmo tempo, boa variedade de
em princípio parece mais fácil). E existem muitos que ritmos e um formato geral harmonioso. •
se exprimem bem no verso livre, mas não conseguiriam
Braulio Tavares é compositor e autor de Contando Hist6rias em Versas
escrever cinco decassílabos seguidos nem para ganhar (Editora 34, 2(05). btavares 13@terra.com.br
um prêmio. Isto tem a ver com a Índole de cada um, a 8109: mundotantasmobloqspot.corn
Soneto
Talvez a forma fixa mais popular em português,
depois da quadra, seja o soneto, cujos versos em geral
têm 10sílabas em duas estrofes de quatro versos (quar-
tetos) e 2 de três (tercetos). Aoitava, usada por Camões
em Os Lusíadas, é estrofe de oito versos decassílabos,
cuia ordem de rimas é: ABABABCC. Na poesia popular
00. ordeste usa-se ainda a décima cultivada na Penín-
:bérica no Renascimento: dez versos que seguem o
esquema de rimas ABBMCCDDC.
O poema rnetriJicado não tem de ter todos os versos
do mesmo tamanho. Em muitas formas poéticas o
9.'8"111'11,,., 111',""
'"''
5'
,
A palavra absurda POR LUIZ COSTA PEREIRA JUNIOR
LíNGUA INDICA
Os livros
o Gato Malhado Faz de
de Sayuri
e a Andorinha Conta que
é Verdade De Lúcia
Sinhá Hiratsuka,
De"Jorge Amado, Com- De Silva na Tavano,
Editora Girafinha, Edições sM,
panhia das Letrinhas,
32 p., RS 21 144 p., RS 22
128 p., RS 34.
Pedro adora histórias contadas: Mesmo na guerra, sayuri tem comida
o mau humor do Gato lhe rendeu a
fama de malvado. Na floresta, ninguém pelo pai e pela mãe - tanto que vive no ~ à mesa e a companhia de quem ama. Sua
se aproximava dele, só a andorinha si- mundo da lua, a inventar personagens e : única tristeza é ver seus livros enterrados
brincadeiras. Na escola, o menino acaba : no quintal por força das circunstãncias. Ela
nhá - curiosa que era. Da amizade entre descobrirá que não foi a única a guardaras
descobrindo mais amigos para brincar:
diferentes nasce um sentimento maior,
de faz-de-conta-que-é-verdade. : livros que começam a brotar pela casa.
para surpresa dos demais bichos.
AURELlNHO
O grupo Positivo lançou o Aurelinho,
CO-RüM educativo para estimular as Requisitos do sistema
crianças a perceber a correspondência
e re o som das letras e a representação Microsoft Windows 985E, 2000, XP
grá ca de uma palavra. No computador, Pentium IV 1.2 Ghz
a criança interage com uma versão ele- Pentium IV 2.4 Ghz (recomendado)
trônica do dicionário Aurelinho, pode 256MB RAM
brincar de libertar as palavras que foram 512 MB RAM (recomendado)
escondidas por um monstro roxo cha- 800 MB de espaço livre em disco
mado Ted. Quanto mais se ganha num Resolução minima 800 x 600, '6 bits
jogo-da-velha, por exemplo, mais se Unidade de CD-RüM 12X
ajuda a libertar palavras aprisionadas por Placade som compatível com Windows.
um feitiço de Ted.
6
A PRONÚNCIA DOS
ANTIGO~ DOCUMENTO ATRIBUíDO A GRAMÁTICO
DO SÉCULO 3 DÁ PISTAS DE COMO SE
DIZIAM PALAVRAS NO IMPÉRIO ROMANO
E A RAZÃO DE CERTOS TERMOS TEREM
ASSUMIDO A FORMA ATUAL
1I
I
I uniforme em seus primórdios é
comum, mas incorreto. Essa visão
tem suas raízes no mito da torre de Ba-
"galego", em contato com o espaço "leo-
nês", embora seja difícil crer que existisse
um idioma galego uno ou um leonês uno
falavam uma língua iraniana.
Colcha de retalhos
Antes do estabelecimento do latim,
bel, descrito no livro bíblico de Gênesis numa época em que só o provençal tinha
e reforçada pela imagem romântica das algum tipo de padronização. À medida ainda mais caos: na Península falava-se
árvores genealógicas das línguas desde que Portugal descia rumo ao sul, na sua fenício e grego. Somente na área cor-
August Schleicher. Mas, estudando a formação, mesclava-se essa fala com O respondente ao futuro Portugal viviam
língua mais intimamente, percebe-se que árabe e com o moçárabe, sem falar que muitas tribos que, provavelmente, falavam
é o contrário que ocorre: no início, toda nas tropas e nos novos habitantes havia línguas indo-européias, sobretudo célticas,
língua é caótica. Um sistema uniforme quem falasse dialetos franceses, sobretudo mas é bem provável que línguas de outros
viria muito depois. o borguinhão (e sabe-se lá qual mais). troncos convivessem ali desde a pré-
Uma representação visual mais real Antes desse episódio, havia mais história, como ainda hoje testemunha a
seria assim: cada palavra de uma língua caos: o latim ali falado, que geraria língua basca na Espanha. Os textos falam
seria uma árvore, o que inclui princi- o galego e O leonês, diversamente do de turdetanos, túrdulos, igeditanos, presu-
palmente suas múltiplas raízes. Uma latim escrito dos grandes escritores ros, gróvios, brácaros, zelas. Os chamados
língua, porém, não seria uma árvore, mas e da Igreja Católica, se diferenciava lusitanos viviam entre o Douro e O Tejo
e falavam uma língua indo-européia de dade racial, cultural ou lingüística
afiliação muito discutível, dada a escassez para dar-nos a segurança de algum
de testemunhos escritos. Mais tarde, o orgulho patriótico infantil. São
nome "lusitano" seria (abusivamente) colchas de retalhos feitas de
incorporado a toda a nação portuguesa. outras colchas de retalhos.
O romantismo presente nessas de- O estudo científico da lin-
nominações obscurece o entendimento guagem separou-seda gramá-
de leigos e de alguns estudiosos da lin- tica ao aprender a valorizar
guagem - filólogos ou lingüistas. Falar documentos tidos como de
desses povos é como interpretar ruínas e pouco valor literário, já no
cacos de vasos, relacionando-os a outras final do século 18. Não é
ruínas e outros cacos. Não há continui- preciso, aliás, a existência de
UMBIGO
Curiosa é a forma imbilicus
em vez de umbilicus (AP58) Des-
se étimo vem a forma popular (e
desprezada, aqui e em Portugal)
"embigo" presente nos textos
medievais, mas abandonada em
prol da forma preferida pelos pu-
ristas, "umbigo': Assim, "umbigo"
e"embigo" coexistiam nos textos,
mas "umbigo" foi considerada a
forma correta pela semelhança
com o umbiticus latino. Não se
trata de uma forma culta, mas
de uma semi-erudita. Como em
muitos outros casos, o eruditis-
mo só aparece nas derivações
sufixais (como em "umbilical").
MESA
A desnasalização também
é um fenômeno nagrado pelo
Appefldix Diz que o correto é
anso e não "asa" (AP 76) Essa
palavra portuguesa deriva dire
tamente da forma vulgar, assim
ccmornesa" que também já era
desna)dlizada no latim vutq.tr,
diíerenterncntc do latim cl,íssi-
co, que dizia mema.
- -_._-
Pronúncia antiga
Um caso espetacular de sobrevi-
vência é o de uma lista de 227 palavras
na gramática de Valério Probo e, por
isso, conhecida como APpendix Probi
(AP). A lista não foi feita por ele, mas
algum acidente histórico fez que fosse
associada ã sua gramática, dando-lhe
sobrevida. Trata-se de um dos documen-
tos mais importantes para conhecer,
entre outras coisas, a pronúncia do
latim do século 3 d.C.
Com apenas 19anos, serafim da Silva
Neto (1917-1960) ofereceu ao público
brasileiro uma das melhoresediçõesdessa
I
obra, mencionada até pelo romanista
italiano Carlo Tagliavini. Aobra de Silva
Neto comenta cada uma das palavras,
associando-as a outras similares em por-
tuguês e em outras línguas, bem como
" aponta outras fontes, inclusive o CorpUS
Inscriptionum Latinarum.
Alista atribuída a ValérioProbo traz
importantes pistas para pequenos misté-
rios etimológicos. Enquanto não quiser-
mos pôr a mão na massa para resolverde
fato essespequenos enigmas e estivennoS
apenas à busca de fatos espetaculares,
infelizmente reinarão a especulação, o
achismo e o amadorismo nos estudos
etimológicos da língua portuguesa. •
C
omer gato por lebre é ser enganado.Já "vender gato
por lebre" é enganar alguém, e com dolo. Em ambos
os casos, há ludíbrio. O sujeito é vítima ou vigarista.
Historicamente, tem sido notório o gradual convívio de
cães e gatos como companheiros do ser humano. Em Portugal,
inclusive, é conhecido o ditado "casa sem gato nem cão, casa
de velhaco ou ladrão".
Uma lei do século 13 fixava o preço da pele do gato, além
das peles de vitela, cordeiro, cabrito, raposa, lontra, marta e outros
bichos. Era barata, um terço da de raposa, sem falar nas peles de luxo
como a de lontra ou de marta, o que demonstra que o gato ainda
não era considerado totalmente doméstico - servia para ser comido e
I
,I
omo fazer uma imagem em inacabáveis lixas", no desconcertante de música. Rigoroso engenheiro da
66
OUTUBRO 2008
SEG TER QUA QUI SE:.<SÁB DOM
Vívian Rio
[] t '17 t 20 de OUll1'Jr'J
João Jonas
Datas: 08, 15, 22 e 29 de outubro
Escrita criativa
Explorar a expressão criativa. O escrever como criação livre é pleno de história pessoal, e não se desenvolve
somente com o domínio de técnicas mas, antes, através do contato com a forma espontânea de escrever. Este
projeto de oficina de escrita visa exercitar o percurso de cada um, conforme suas possibilidades e limites: a
fluidez de narrar desenvolve uma voz tanto na escrita quanto na postura pessoal.
João Jonas
D.1t. O" 10 1'" 24 e n de cutuh o das 10h<O às 21h
~
Vocênão Jaz i~
do que mudou na
LÍnBua PortuBuesa?
Fica tranquil?!
ara de se preocupar,
seja aut0te:j!ciente e
consulte o~Míni Houaiss.