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Capítulo 2

Abastecimento de Água
2.1. Introdução

Um Sistema de Abastecimento de Água pode ser concebido e projetado para


atender a pequenos povoados ou a grandes cidades, variando nas características e
no porte de suas instalações. Caracteriza-se pela retirada da água da natureza,
adequação de sua qualidade, transporte até os aglomerados humanos e
fornecimento à população em quantidade compatível com suas necessidades.

Como definição o Sistema de Abastecimento Público de Água constitui-se no


conjunto de obras, instalações e serviços, destinados a produzir e distribuir água a
uma comunidade, em quantidade e qualidade compatíveis com as necessidades da
população, para fins de consumo doméstico, serviços públicos, consumo industrial e
outros usos.

A água constitui elemento essencial à vida vegetal e animal. O homem necessita de


água de qualidade adequada e em quantidade suficiente para atender a suas
necessidades, para proteção de sua saúde e para propiciar o desenvolvimento
econômico.

Sob o ponto de vista sanitário, a solução coletiva é a mais interessante por diversos
aspectos como:

 mais fácil proteger o manancial;


 mais fácil supervisionar o sistema do que fazer supervisão de grande
número de mananciais e sistemas;
 mais fácil controlar a qualidade da água consumida;
 redução de recursos humanos e financeiros (economia de escala).

Os sistemas individuais são soluções precárias para os centros urbanos, embora


indicados para as áreas rurais onde a população é dispersa e, também, para as
áreas periféricas de centros urbanos, para comunidades urbanas com

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características rurais ou, ainda, para as áreas urbanas, como solução provisória,
enquanto se aguardam soluções mais adequadas. Mesmo para pequenas
comunidades e para áreas periféricas, a solução coletiva é, atualmente, possível e
economicamente interessante, desde que se adotem projetos adequados.

2.2. Generalidades

2.2.1. Importância Sanitária e Social

Sob o aspecto sanitário e social, o abastecimento de água visa, fundamentalmente,


a:

 controlar e prevenir doenças;

 implantar hábitos higiênicos na população como, por exemplo, a


lavagem das mãos, o banho e a limpeza de utensílios e higiene do ambiente;

 facilitar a limpeza pública;

 facilitar as práticas desportivas;

 propiciar conforto, bem-estar e segurança;

 aumentar a esperança de vida da população.

Em 1958, o extinto Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), realizou pesquisas


na cidade de Palmares, situada no Estado de Pernambuco, onde demonstrou-se a
possibilidade de redução de mais de 50% na mortalidade infantil por diarreia com a
implantação do sistema de abastecimento de água.

2.2.2. Importância Econômica

Sob o aspecto econômico, o abastecimento de água visa, em primeiro lugar, a:

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 aumentar a vida média pela redução da mortalidade;

 aumentar a vida produtiva do indivíduo, quer pelo aumento da vida


média quer pela redução do tempo perdido com doença;

 facilitar a instalação de indústrias, inclusive a de turismo, e


consequentemente ao maior progresso das comunidades;

 facilitar o combate a incêndios.

2.3. Doenças Relacionadas com a Água

De várias maneiras a água pode afetar a saúde do homem: através da ingestão


direta, na preparação de alimentos; na higiene pessoal, na agricultura, na higiene do
ambiente, nos processos industriais ou nas atividades de lazer.

Os riscos para a saúde relacionados com a água podem ser distribuídos em duas
categorias:

 riscos relacionados com a ingestão de água contaminada por


agentes biológicos (bactérias, vírus e parasitos), através de contato direto, ou
por meio de insetos vetores que necessitam da água em seu ciclo biológico;

 riscos derivados de poluentes químicos e radioativos,


geralmente efluentes de esgotos industriais, ou causados por acidentes
ambientais.

Os principais agentes biológicos encontrados nas águas contaminadas são as


bactérias patogênicas, os vírus e os parasitos. As bactérias patogênicas
encontradas na água e/ou alimentos constituem uma das principais fontes de
morbidade e mortalidade em nosso meio. São responsáveis por numerosos casos
de enterites, diarreias infantis e doenças epidêmicas (como o cólera e a febre

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tifoide), que podem resultar em casos letais.

Quadro 5 – Doenças Relacionadas com o Abastecimento de Água

Transmissão Doença AgentePatogênico Medida

Cólera Vibrio cholerae


Febre tifoide Salmonella typhi -Implantar sistema de
Leptospirose Leptospira interrogans abastecimento e tratamento da
Giardíase Giardia lamblia água, com fornecimento em
Pela água Amebíase Entamoeba histolytica quantidade e qualidade para
Hepatite infecciosa Hepatite virus A consumo, uso doméstico e
Diarreia aguda Balantidium coli, Cryptosporidium, coletivo;
Baccilus cereus, S. aureus,
Campylobacter, E. coli
enterotoxogênica e -Proteção de contaminação dos
enteropatogênica, Shigella, Yersinia mananciais e fontes de água;
enterocolitica,
Astrovirus, Calicivirus, Norwalk,
Rotavirus A e B

Escabiose Sarcoptes scabiei

-Implantar sistema adequado de


Pediculose (piolho) Pediculus humanus esgotamento sanitário;
Tracoma
Clamydia trachoma
Pela falta de -Instalar abastecimento de água
limpeza, Conjuntivite Haemophilus aegyptius preferencialmente com
higienização bacteriana aguda encanamento no domicílio;
com a água
Salmonella typhimurium
Salmonelose
-Instalar melhorias sanitárias
Trichuris trichiura domiciliares e coletivas;
Tricuríase

Enterobius vermiculares -Instalar reservatório de água


Enterobíase
adequado com limpeza
Ancilostomíase Ancylostoma duodenale sistemática;

Ascaridíase Ascaris lumbricoides

Malária Plasmodium vivax, P. malarie e P.


Fonte: Adaptado de SAUNDERS, 1976. falciparum -Eliminar o aparecimento de
Dengue criadouros com inspeção
Através de Grupo B dos arbovírus sistemática e medidas de
vetores que se Febre amarela controle (drenagem, aterro e
relacionam RNA vírus outros);
com a água Filariose
Wuchereria bancrofti
-Dar destinação final adequada
aos resíduos sólidos;
Associada à Esquistossomose Schistosoma mansoni
água

-Controle de vetores e
hospedeiros intermediários;

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4. A Água na Natureza

A água abrange quase 4/5 da superfície terrestre; desse total, 97,0% referem-se aos
mares e os 3% restantes às águas doces. Dentre as águas doces, 2,7% são
formadas por geleiras, vapor de água e lençóis existentes em grandes
profundidades (mais de 800 m), não sendo economicamente viável seu
aproveitamento para o consumo humano.

Em consequência, constata-se que somente 0,3% do volume total de água do


planeta pode ser aproveitado para nosso consumo, sendo 0,01% encontrada em
fontes de superfície (rios, lagos) e o restante, ou seja, 0,29%, em fontes
subterrâneas (poços e nascentes).

A água subterrânea vem sendo acumulada no subsolo há séculos e somente uma


fração desprezível é acrescentada anualmente através das chuvas ou retirada pelo
homem. Em compensação, a água dos rios é renovada cerca de 31 vezes,
anualmente.

A precipitação média anual, na terra, é de cerca de 860 mm. Entre 70 e 75% dessa
precipitação voltam à atmosfera como evapotranspiração (Figura 4).
Figura 4 – Distribuição da Água na Natureza
Água Salgada Água doce AGUA (100 %) 97 % 3 % Água doce sem aproveitamento
Água doce aproveitável ÁGUA DOCE (3 %) 2,7 % 0,3 %

2.4.1. Ciclo Hidrológico

O ciclo hidrológico é o contínuo movimento da água em nosso planeta. É a


representação do comportamento da água no globo terrestre, incluindo ocorrência,
transformação, movimentação e relações com a vida humana. É um verdadeiro
retrato dos vários caminhos da água em interação com os demais recursos naturais.

A água existe em forma de vapor, na atmosfera, e é proveniente da evaporação de


todas as superfícies líquidas (oceanos, mares, rios, lagos, lagoas) ou das superfícies

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umedecidas com água, como a superfície dos solos. Parte da água que se encontra
na atmosfera, resulta de fenômenos hidrológicos e também de fenômenos vitais,
como a respiração e transpiração (Figura 5).

2.4.1.1. Precipitação

A precipitação compreende toda a água que cai da atmosfera na superfície da terra.


A umidade atmosférica provém da evaporação da água das camadas líquidas
superficiais, por efeito da ação térmica das radiações solares. O resfriamento desses
vapores condensados, em formas de nuvens, leva à precipitação pluvial, sobre a
superfície do solo e dos oceanos. A parcela da água precipitada sobre a superfície
sólida pode seguir duas vias distintas que são: escoamento superficial e infiltração.
As principais formas de precipitação são: chuva, granizo, orvalho ou neve.

2.4.1.2. Escoamento Superficial

É a água de chuva que, atingindo o solo, corre sobre as superfícies do terreno,


preenche as depressões, fica retida em obstáculos e, finalmente, atinge os córregos,
rios, lagos e oceanos. Na grande superfície exposta dos oceanos ela entra em
processo de evaporação e condensação, formando as nuvens que voltam a
precipitar sobre o solo.

2.4.1.3. Infiltração

É por meio da infiltração que a água de chuva penetra por gravidade nos interstícios
do solo, chegando até as camadas de saturação, constituindo assim os aquíferos
subterrâneos, ou lençol freático. Estes depósitos são provedores de água para
consumo humano e também para a vegetação terrestre. Dependendo do modo
como esteja confinada, essa água pode afluir em certos pontos em forma de
nascentes. A água acumulada pela infiltração é devolvida à atmosfera, por meio da
evaporação direta do próprio solo e pela transpiração dos vegetais através das
folhas. A este conjunto de evaporação e transpiração, chamamos
evapotranspiração.

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Convém ressaltar, que a maior ou menor proporção do escoamento superficial, em
relação à infiltração, é influenciada fortemente pela ausência ou presença de
cobertura vegetal, uma vez que esta constitui barreira ao rolamento livre, além de
tornar o solo mais poroso. Esse papel da vegetação, associado à função
amortecedora do impacto das gotas de chuva sobre o solo, é, pois, de grande
importância na prevenção dos fenômenos de erosão, provocados pela ação
mecânica da água sobre o solo.

Figura 5– Ciclo Hidrológico

2.4.2. Qualidade da Água

A água não é encontrada pura na natureza. Ao cair em forma de chuva, já carreia


impurezas do próprio ar. Ao atingir o solo seu grande poder de dissolver e carrear
substâncias altera ainda mais suas qualidades.

Dentre o material dissolvido encontram-se as mais variadas substâncias como, por


exemplo, substâncias calcárias e magnesianas que tornam a água dura; substâncias
ferruginosas que dão cor e sabor diferentes à mesma e substâncias resultantes das
atividades humanas, tais como produtos industriais, que a tornam imprópria ao
consumo. Por sua vez, a água pode carrear substâncias em suspensão, tais como
partículas finas dos terrenos por onde passa e que dão turbidez à mesma; pode

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também carrear substâncias animadas, como algas, que modificam seu sabor, ou
ainda, quando passa sobre terrenos sujeitos à atividade humana, pode levar em
suspensão micro-organismos patogênicos.

2.4.2.1. Padrões de Potabilidade

A água própria para o consumo humano, ou água potável, deve obedecer a certos
requisitos de ordem:
– organoléptica: não possuir sabor e odor objetáveis;
 física: ser de aspecto agradável; não ter cor e turbidez acima
dos limites estabelecidos nos padrões de potabilidade;
 química: não conter substâncias nocivas ou tóxicas acima dos
limites de tolerância para o homem;
 biológica: não conter micro-organismos patogênicos;
 radioativa: não ultrapassar o valor de referência previsto na
Portaria 036 do Ministério da Saúde, de 19.01.90;
 segundo recomendações da Portaria 036/90 do M.S, o pH
deverá ficar situado no intervalo de 6,5 a 8,5 e a concentração mínima de
cloro residual livre em qualquer ponto da rede de distribuição, deverá ser de
0,2 mg/l.

As exigências humanas quanto à qualidade da água crescem com o progresso


humano e o da técnica. Justamente para evitar os perigos decorrentes da má
qualidade da água, são estabelecidos padrões de potabilidade. Estes apresentam os
Valores Máximos permissíveis (VMP) com que elementos nocivos ou características
desagradáveis podem estar presentes na água, sem que esta se torne
inconveniente para o consumo humano.
 Características Físicas e Organolépticas
 a água deve ter aspecto agradável. A medida é pessoal;
 deve ter sabor agradável ou ausência de sabor objetável. A
medida do sabor é pessoal;
 não deve ter odores desagradáveis ou não ter odor objetável. A
medida do odor é também pessoal;

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 a cor é determinada pela presença de substâncias em
dissolução na água e não afeta sua transparência;
 a turbidez é devida a matéria em suspensão na água (argila,
silte, matéria orgânica, etc.) e altera sua transparência.
 Características Químicas
São fixados limites de concentração por motivos de ordens sanitária e
econômica.
– Substâncias relacionadas com aspectos econômicos:

a) substâncias causadoras de dureza, como os cloretos, sulfatos e bicarbonatos de


cálcio e magnésio. As águas mais duras consomem mais sabão e, além disso, são
inconvenientes para a indústria, pois incrustam-se nas caldeiras e podem causar
danos e explosões.

– Substâncias relacionadas com o pH da água:

a) a água de baixo pH, isto é, ácida, é corrosiva. Águas de pH elevado, isto é,


alcalinas, são incrustativas. Alcalinidade e dureza são expressas em mg/L de
CaCO3.
– Substâncias indicadoras de poluição por matéria orgânica:

a) compostos nitrogenados: nitrogênio amoniacal, nitritos e nitratos. Os compostos


de nitrogênio provêm de matéria orgânica e sua presença indica poluição recente ou
remota. Quanto mais oxidados são os compostos de nitrogênio, tanto mais remota é
a poluição. Assim, o nitrogênio amoniacal indica poluição recente e os nitratos
indicam que a poluição ocorreu há mais tempo;

b) oxigênio consumido: a água possui normalmente oxigênio dissolvido em


quantidade variável conforme a temperatura e a pressão. A matéria orgânica em
decomposição exige oxigênio para sua estabilização; consequentemente, uma vez
lançada na água, consome o oxigênio nela dissolvido. Assim, quanto maior for o
consumo de oxigênio, mais próxima e maior terá sido a poluição;

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c) cloretos: os cloretos existem normalmente nos dejetos animais. Estes, sob certas
circunstâncias, podem causar poluição orgânica dos mananciais.

– Características Bacteriológicas

A água é normalmente habitada por vários tipos de micro-organismos de vida livre e


não parasitária, que dela extraem os elementos indispensáveis à sua subsistência.
Ocasionalmente, são aí introduzidos organismos parasitários e/ou patogênicos que,
utilizando a água como veículo, podem causar doenças, constituindo, portanto, um
perigo sanitário potencial.

É interessante notar que a quase totalidade dos seres patogênicos é incapaz de


viver em sua forma adulta ou reproduzir-se fora do organismo que lhe serve de
hospedeiro e, portanto, tem vida limitada quando se encontram na água, isto é, fora
do seu habitat.

Alexander Houston demonstrou, em 1908, que, quando uma água contaminada com
bacilos de febre tifoide era armazenada por uma semana, mais de 90% dessas
bactérias eram destruídas. São vários os agentes de destruição normal de
organismos patogênicos nas águas armazenadas. Além da temperatura, destacam-
se os efeitos da luz, a sedimentação, a presença ou não de oxigênio dissolvido,
parasitas ou predadores de bactérias, substâncias tóxicas ou antibióticas produzidas
por outros micro-organismos como algas e fungos, etc.

Entre os principais tipos de organismos patogênicos que podem encontrar-se na


água, estão as bactérias, vírus, protozoários e helmintos.

Devido à grande dificuldade para identificação dos vários organismos patogênicos


encontrados na água, dá-se preferência, para isso, a métodos que permitam a
identificação de bactérias do “grupo coliforme” que, por serem habitantes normais do
intestino humano, existem, obrigatoriamente, em águas poluídas por matéria fecal.

As bactérias coliformes são normalmente eliminadas com a matéria fecal, à razão de


50 a 400 bilhões de organismos por pessoa por dia. Dado o grande número de

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coliformes existentes na matéria fecal (até 300 milhões por grama de fezes), os
testes de avaliação qualitativa desses organismos na água têm uma precisão ou
sensibilidade muito maior do que a de qualquer outro teste.

Observação: “No Brasil os padrões de potabilidade da água para o consumo


humano são estabelecidos pelo Ministério da Saúde”, atualmente encontra-se em
vigor a portaria MS-036/90.

2.4.3. Planejamento e Coleta de Amostras de Água para Análise

A qualidade da água é avaliada por meio de análises.

Analisar toda a massa de água destinada ao consumo é impraticável; por isso,


colhem-se amostras e, através de sua análise, conclui-se qual a qualidade da água.
Os métodos de análise fixam o número de amostras e o volume de água necessário,
a fim de que o resultado seja o mais correto possível ou, em outras palavras,
represente melhor o que realmente se passa em uma massa líquida cuja qualidade
se deseja saber.

O resultado da análise de uma amostra de água de um manancial, rede pública, etc.,


dada a variação constante das águas dos mesmos, na realidade revela, unicamente,
as características apresentadas pela água no momento em que foi coletada.

A amostra de água para análises físico-químicas comuns deve ser coletada em


frasco apropriado e convenientemente tampado. As amostras devem ser enviadas
com a máxima brevidade ao laboratório.
– Planejamento

Planejamento é a elaboração de um roteiro para realização de determinada tarefa.


Ao coletar, deve-se realizar um planejamento para obter uma amostra representativa
e resultados satisfatórios dentro da realidade da amostragem. Um bom
planejamento de amostragem inclui:

 metodologia de coleta;

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 tipos de amostras (simples ou composta);
 pontos de amostragem;
 tempo de coleta;
 preservação;
 transporte;
 equipamentos necessários;
 coletor bem treinado;
 parâmetros a serem analisados.

 Cuidado na Obtenção de Amostras

Em caso de água de torneira, ou proveniente de bomba, deixar escorrer por certo


tempo, desprezando as primeiras águas. Em água de poço raso, não se deve coletar
da superfície, mas mergulhar o frasco com a boca para baixo. Em água de rio,
coletar a amostra abaixo da superfície, colocando o gargalo em sentido contrário ao
da corrente (Figuras 6, 7, 8 e 9).

 Amostras para Exames Bacteriológicos

O frasco de coleta deve ser fornecido pelo laboratório.

Para amostras de água clorada, este frasco deverá conter antes da esterilização
Tiossulfato de Sódio em concentração suficiente para neutralizar o cloro residual.

Para amostras de água que recebem resíduos domésticos ou industriais ou que


contenham altas concentrações de íons de metais pesados como cobre e zinco etc.,
adiciona-se um quelante (Ácido Etilenodiaminotetracético (EDTA), que complexa os
íons dos metais pesados) e o Tiossulfato de Sódio antes da esterilização.
 Cuidados na Amostragem para Análise Bacteriológica
 verificar se o ponto de amostragem recebe água diretamente da
rede de distribuição;
 em caso de água de torneira ou bombas deixar correr as
primeiras águas (torneira de dois a três minutos e bombas cinco minutos);

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 não tocar com os dedos na parte da tampa que fica no interior
do vidro.

A análise bacteriológica deve ser feita o mais cedo possível. As amostras devem ser
conservadas a temperatura de 4 ºC a 10 ºC, para evitar a proliferação dos micro-
organismos. O tempo máximo permitido entre a coleta da amostra e a análise é de
seis a oito horas para águas pouco poluídas, e de até 24 horas para água clorada.

Figura 6 – Coleta de Amostra de Água para Exame

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– Amostras para Análise Físico-Química e Radioativas:

Consultar as normas analíticas referentes aos parâmetros de interesse, bem


como os responsáveis pelas análises sobre os detalhes, tipos de frascos, volume de
amostra a ser coletado, preservação, transporte e demais cuidados que devem ser
tomados por ocasião da amostragem, como exemplificado no Quadro nº 6.
Quadro 6 – Parâmetro para Análise Físico-Química
Parâmetro Volume Frasco Preservação Prazo
Cor 500 ml P.V. R 48 Horas
Turbidez 200 ml P.V. R 24 Horas
Dureza 200 ml P.V. Ácido Nítrico até pH<2 6 meses
Cloreto 200 ml P.V. Não há 28 Dias
Fluoreto 500 ml P. Não há 28 Dias

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Nitrato 200 ml P.V. R 48 Horas
Observar o sentido da correnteza e a
profundidade mínima.
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Abreviaturas:
P= Polietileno
V= Vidro neutro ou borossilicato
R= Refrigerar a 4 ºC
· Ficha de Coleta

Registrar todas as informações possíveis de serem obtidas no campo,


preenchendo uma ficha por amostra contendo os dados referentes ao parâmetro de
interesse.

Dados mínimos necessários:


– identificar a localidade, município e estado;
– número do registro da amostra;
– identificar o tipo de amostra;
– registrar a ocorrência de chuvas nas últimas 24 horas;
– registrar análises de campo (temperatura da amostra, temperatura do ar,
pH, Cloro residual, etc.);
– data e hora da coleta;
– nome e assinatura do responsável pela coleta.

2.5. Quantidade de Água para Fins Diversos

O homem precisa de água com qualidade satisfatória e quantidade suficiente,


para satisfazer suas necessidades de alimentação, higiene e outras, sendo um
princípio considerar a quantidade de água, do ponto de vista sanitário, de grande
importância no controle e na prevenção de doenças, como nos casos de
gastroenterites.

O volume de água necessário para abastecer uma população é obtido levando em


consideração os seguintes aspectos:

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2.5.1. Parcelas Componentes dos Diferentes Usos da Água

· Demanda de Água
– Doméstico:

a) bebida;
b) cozinha;
c) banho;
d) lavagem de roupas e utensílios;
e) limpeza da casa;
f) descarga dos aparelhos sanitários;
g) rega de jardins;
h) lavagem dos veículos.

– Comercial:

a) hotéis;
b) pensões;
c) restaurantes;
d) estabelecimento de ensinos particulares;
e) postos de abastecimento de combustível;
f) padarias;
g) açougues.

– Industrial:

a) transformação de matéria prima;


b) entra na composição do produto;
c) fins agropecuários;
d) clubes recreativos.

– Público:

a) fontes;

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b) irrigação de jardins públicos;
c) limpeza pública;
d) edifícios públicos.

– Segurança:

a) combate de Incêndio.

É necessário o desenvolvimento de estratégias para redução de perdas físicas de


água nas unidades de adução, tratamento, reservação, rede de distribuição e ramais
prediais.

O desperdício nas unidades de consumo deve ser evitado

2.5.2. Consumo Médio de Água por Pessoa por Dia (Consumo Per Capita)

O “per capita” de uma comunidade é obtido, dividindo-se o total de seu consumo de


água por dia pelo número total da população servida.

A quantidade de água consumida por uma população varia conforme a existência ou


não de abastecimento público, a proximidade de água do domicílio, o clima, os
hábitos da população. Havendo abastecimento público, varia, ainda, segundo a
existência de indústria e de comércio, a qualidade da água e o seu custo.

Nos projetos de abastecimento público de água, o “per capita” adotado varia de


acordo com a natureza da cidade e o tamanho da população. Normalmente adota-se
as seguintes estimativas de consumo:

–População Abastecida sem Ligações Domiciliares:


Adotam-se os seguintes consumos per capita:
- abastecida somente com torneiras públicas ou chafarizes, de 30 a 50
l/hab/dia;
- além de torneiras públicas e chafarizes, possuem lavanderias públicas, de
40 a 80 l/hab./dia;

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- abastecidas com torneiras públicas e chafarizes, lavanderias públicas e
sanitário ou banheiro público, de 60 a 100 l/hab./dia.
· Populações Abastecidas com Ligações Domiciliares:
Quadro 7

2.5.3. Fatores que Afetam o Consumo de Água em Uma Cidade

· De Caráter Geral:

- tamanho da cidade;
- crescimento da população;
- características da cidade (turística, comercial, industrial);
- tipos e quantidades de indústrias;
- clima mais quente e seco, maior o consumo de água verificado;
- hábitos e nível socioeconômico da população.

·Fatores Específicos:

- qualidade de água (sabor, odor, cor);


- custo da água: valor da tarifa;
- a disponibilidade de água;
- a pressão na rede de distribuição;
- percentual de medição da água distribuída;
- ocorrência de chuvas.

2.5.4. As Variações de Consumo

No sistema de abastecimento de água ocorrem variações de consumo


Significativas, que podem ser anuais, mensais, diárias, horárias e instantâneas. No
projeto do sistema de abastecimento de água, algumas dessas variações de
consumo são levadas em consideração no cálculo do volume a ser consumido. São
elas:
 Anuais: o consumo “per capita” tende a aumentar com o passar do tempo e

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com o crescimento populacional. Em geral aceita-se um incremento de 1% ao ano
no valor desta taxa;
 Mensais: as variações climáticas (temperatura e precipitação) promovem
uma variação mensal do consumo. Quanto mais quente e seco for o clima maior é o
consumo verificado;
 Diária: ao longo do ano, haverá um dia em que se verifica o maior consumo.
É utilizado o coeficiente do dia de maior consumo (K1), que é obtido da
relação entre o máximo consumo diário verificado no período de um ano e o
consumo médio diário. O valor usualmente adotado no Brasil para K1 é 1,20;
 Horária: ao longo do dia tem-se valores distintos de pique de vazões horária.
Entretanto haverá “uma determinada hora” do dia em que a vazão de
consumo será máxima. É utilizado o coeficiente da hora de maior consumo
(K2), que é a relação entre o máximo consumo horário verificado no dia de
maior consumo e o consumo médio horário do dia de maior consumo. O
consumo é maior nos horários de refeições e menores no início da
madrugada. O coeficiente K1 é utilizado no cálculo de todas as unidades do
sistema, enquanto K2 é usado apenas no cálculo da rede de distribuição.

2.6. Medições de Vazão

– Em Pequenos Córregos e Fontes:

O Método mais simples para medição de vazão consiste em:

- recolher a água em um recipiente de volume conhecido (tambor, barril, etc.);


- contar o número de segundos gastos para encher completamente o
recipiente.
Exemplo: Se um tambor de 200 litros fica cheio em 50 segundos, a vazão
será:
Q = 200 litros / 50 seg = 4,0 litros/segundo

Para ter-se a vazão em:


- Litros por minuto (l/min): multiplica-se por 60;
- Litros por hora (l/h): multiplica-se por 3.600;

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- Litros por dia (l/d): multiplica-se por 86.400.

Observação: No caso de correntes de volume e velocidade muito pequenos, devem


ser utilizados tambores de 18 litros de capacidade.

– Em Função da Área e da Velocidade

A vazão aproximada de uma corrente do tipo médio pode ser determinada através
do conhecimento da velocidade da água e da área da seção transversal de um
trecho da veia líquida.

- Determinação da Velocidade

Como é mostrado na Figura 2, sobre uma das margens da corrente marcam-se, a


uma distância fixada, dois pontos de referência, A e B. Solta-se, a partir da
referência A, e na linha média da corrente, um flutuador (rolha de cortiça, bola de
borracha, pedaço de madeira, etc.) e anota-se o tempo gasto para que ele atinja a
referência B.

Exemplo: se a distância entre A e B é de 10 metros e o tempo gasto pelo flutuador


para percorrê-la é de 20 segundos, então, a velocidade da corrente é:

Velocidade = Distância / Tempo V = 10m / 20s = 0,50m/s

- Determinação da Seção Transversal

Em corrente de seção transversal aproximadamente constante ao longo de um certo


trecho, procede-se da seguinte maneira:

Escolhe-se uma seção (F-F) intermediária entre os pontos A e B e determina-se a


largura que a corrente aí apresenta. Procede-se a uma sondagem ao longo da
seção (FF), utilizando-se varas, paus, ou escalas graduadas.
Exemplo: Suponhamos que os dados são os seguintes:
Largura da corrente em F-F = 4,00m

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Profundidade média = 1,00m + 1,20m + 0,80m / 3 = 1,00m

A área média da seção transversal será:


Am = 4,00m x 1,00m = 4,00m²

Finalmente vem para vazão da corrente:


Q = área média da seção transversal x velocidade
Q = 4,00m² x 0,50m/s = 2,00m³/s = 2.000l/s.

CAPÍTULO IV
CAPTAÇÃO
IV. 1. FONTES DE ÁGUA PARA ABASTECIMENTO

O homem possui dois tipos de fontes para seu abastecimento que são as águas
superficiais (rios, lagos, canais, etc.) e subterrâneas (lençóis subterrâneos).
Efetivamente essas fontes não estão sempre separadas. Em seu deslocamento pela
crosta terrestre a água que em determinado local é superficial pode ser subterrânea
em uma próxima etapa e até voltar a ser superficial posteriormente.

As águas de superfície são as de mais fácil captação e por isso havendo, pois, uma
tendência a que sejam mais utilizadas no consumo humano. No entanto, temos que
menos de 5% da água doce existente no globo terrestre encontram-se disponíveis
superficialmente, ficando o restante armazenado em reservas subterrâneas.

Logicamente que nem toda água armazenada no subsolo pode ser retirada em
condições economicamente viáveis, principalmente as localizadas em profundidades
excessivas e confinadas entre formações rochosas.

Quanto a sua dinâmica de deslocamento as águas superficiais são frequentemente


renovadas em sua massa enquanto que as subterrâneas podem ter séculos de
acumulação em seu aquífero, pois sua renovação é muito mais lenta pelas
dificuldades óbvias, principalmente nas camadas mais profundas.

IV. 2. TIPOS DE MANANCIAIS

21
A captação tem por finalidade criar condições para que a água seja retirada do
manancial abastecedor em quantidade capaz de atender o consumo e em qualidade
tal que dispense tratamentos ou os reduza ao mínimo possível. É, portanto, a
unidade de extremidade de montante do sistema.

Chama-se de manancial abastecedor a fonte de onde se retira a água com


condições sanitárias adequadas e vazão suficiente para atender a demanda. No
caso da existência de mais de um manancial, a escolha é feita considerando-se não
só a quantidade e a qualidade mas, também, o aspecto econômico, pois nem
sempre o que custa inicialmente menos é o que convém, já que o custo maior pode
implicar em custo de operação e manutenção menor.

Na escolha de manancial, também deve-se levar em consideração o consumo atual


provável, bem como a previsão de crescimento da comunidade e a capacidade ou
não de o manancial satisfazer a este consumo. Todo e qualquer sistema é projetado
para servir, por certo espaço de tempo, denominado período de projeto. Estes
reservatórios podem dos seguintes tipos: superficiais (rios e lagos), subterrâneos
(fontes naturais, galerias filtrantes, poços) e águas pluviais (superfícies
preparadas).Embora, como citado anteriormente, os mananciais de superfície
pareçam de mais fácil utilização, as águas subterrâneas são aproveitadas desde a
antiguidade. Egípcios e chineses já eram peritos na escavação do solo com a
finalidade exclusiva de obterem água, a mais de 2000 anos antes de Cristo. A
própria Bíblia Sagrada do Cristianismo revela fatos como o bíblico poço de José, no
Egito, com cerca de 90 metros de profundidade cavado na rocha, e o gesto de
Moisés criando uma fonte na rocha.

IV. 3. ÁGUAS SUPERFICIAIS

Devido a água ser essencial para subsistência humana (nosso organismo necessita
ser reabastecido com cerca de 2,5 litros desse líquido por dia) normalmente temos
as comunidades urbanas formadas às margens de rios ou desembocaduras destes.
Quando estudamos dados geográficos ou históricos das grandes cidades
percebemos sua associação com um ou mais rios, por exemplo, Londres-Tâmisa,
ParisSena, Roma-Pó, Lisboa-Tejo, Nova Iorque-Hudson, Buenos Aires-Prata, São

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Paulo-Tietê, RecifeCapibaribe/Beberibe, Manaus-Negro, Belém-Amazonas,
Teresina-Parnaíba, Natal-Potengi, etc.

Ruínas de comunidades de mais de 5000 anos, escavadas na Índia, revelaram a


existência de sistemas de abastecimento de água e de drenagem construídos com
alvenaria de pedras trabalhadas, que incluíam inclusive piscinas para banhos
coletivos e práticas de natação.

Os egípcios, também por volta de 3000 anos antes de Cristo, já construíam


barragens de pedras com até mais de dez metros de altura para armazenamento de
água potável para abastecimento doméstico e irrigação. Também historicamente é
registrado que o rei Salomão, biblicamente famoso, promoveu de forma intensa a
construção de aquedutos. Agricultores árabes aproveitavam as águas armazenadas
em crateras de vulcões extintos como reservatórios para irrigação.

IV. 3.1. Condições para captação

IV. 3.1.1. Condições a serem analisadas

As águas superficiais empregadas em sistemas de abastecimento geralmente são


originárias de um curso de água natural. Opções mais raras seriam captações em
lagos naturais ou no mar com dessalinização posterior. As condições de
escoamento, a variação do nível d’água, a estabilidade do local de captação, etc, é
que vão implicar em que sejam efetuadas obras preliminares a sua captação e a
dimensão destas obras. Basicamente as condições a serem analisadas são:

 quantidade de água;
 qualidade da água;
 garantia de funcionamento;
 economia das instalações;
 localização.

IV. 3.1.2. Quantidade de água

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São três as situações que podemos nos deparar quando vamos analisar a
quantidade de água disponível no possível manancial de abastecimento:

 a vazão é suficiente na estiagem;


 é insuficiente na estiagem, mas suficiente na média;
 existe vazão, mas inferior ao consumo previsto.
A primeira situação é a ideal, pois, havendo vazão suficiente continuamente, o
problema seguinte é criar a forma mais conveniente de captação direta da
correnteza. Esta é a forma mais comum onde os rios são perenes (ou perenizados
artificialmente).

A segunda hipótese significa que durante determinado período do ano não vamos
encontrar vazão suficiente para cobertura do consumo previsto. Como na média a
vazão é suficiente, então durante o período de cheias haverá um excesso de vazão
que se armazenado adequadamente poderá suprir o deficit na estiagem. Este
armazenamento normalmente é conseguido através das barragens de acumulação
que são reservatórios construídos para acumularem um volume tal que durante a
estiagem compensem as demandas com o volume armazenado em sua bacia
hidráulica. Esta é a forma mais frequente para sistemas com vazões de consumo
para comunidades superiores a 5000 habitantes, no interior do Nordeste Brasileiro,
onde é comum o esvaziamento completo dos rios nos períodos de seca.

A terceira situação é a mais delicada quanto ao aproveitamento do manancial. Como


não temos vazão suficiente, a solução mais simplista é procurarmos outro manancial
para a captação. Se regionalmente não podemos contar com outro manancial que
supra a demanda total, então poderemos ser obrigados a utilizarmos mananciais
complementares, ou seja, a vazão a ser fornecida pelo primeiro não é suficiente,
mas reunida com a captada em um manancial complementar (ou em mais de um)
viabiliza-se o abastecimento, dentro das condições regionais. É a situação mais
comum no abastecimento dos grandes centros urbanos.

IV.3.1.3. Qualidade da água

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Na captação de águas superficiais parte-se do princípio sanitário que é uma água
sempre suspeita, pois está naturalmente sujeita a possíveis processos de poluição e
contaminação. É básico, sob o ponto de vista operacional do sistema, captar águas
de melhor qualidade possível, localizando adequadamente a tomada e efetivando-se
medidas de proteção sanitária desta tomada, como, por exemplo, no caso de
tomada em rios, instalar a captação a montante de descargas poluidoras e da
comunidade a abastecer.

Especificamente, as tomadas em reservatórios de acumulação não devem ser tão


superficiais nem também tão profundas, para que não ocorram problemas de
natureza física, química ou biológica. Superficialmente ações físicas danosas podem
ter origem através de ventos, correntezas (principalmente durante os períodos de
enchentes com extravasão do reservatório) e impactos de corpos flutuantes. Nas
partes mais profundas sempre teremos maior quantidade de sedimentos em
suspensão, dificultando ou encarecendo a remoção de turbidez nos processos de
tratamento.

Agentes químicos poderão está presentes a qualquer profundidade mas há uma


tendência das águas mais próximas da superfície terem maiores teores de gases
dissolvidos (CO2, por exemplo), de dureza e de ferro e manganês e seus
compostos.

Biologicamente, nas camadas superiores da massa de água, temos maior


proliferação de algas. Essa ocorrência dá gosto ruim e odor desagradável a estas
águas, dificultando o tratamento, principalmente em regiões de clima quente e
ensolarado. A profundidade desta lâmina, a partir da superfície livre, dependerá da
espessura da zona fótica, que por sua vez vai depender da transparência da água
armazenada, visto que o desenvolvimento algológico depende da presença de luz
no ambiente aquático, isto é, a espessura da camada vai depender de até onde a luz
solar penetrará na água. Enquanto isso no fundo dos lagos gerasse uma massa
biológica, chamada de plânkton, que também confere características impróprias para
utilização da água ali acumulada.

IV.3.1.4. Garantia de funcionamento

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Para que não hajam interrupções imprevistas nos sistemas decorrentes de
problemas na captação, devemos identificar com precisão, antes da elaboração do
projeto da captação, as posições do nível mínimo para que a entrada de sucção
permaneça sempre afogada e do nível máximo para que não haja inundações
danosas às instalações de captação. A determinação da velocidade de
deslocamento da água no manancial também é de suma importância para
dimensionamento das estruturas de captação que estarão em contato com a
correnteza e ondas e sujeitas a impactos com corpos flutuantes.

Além da preocupação com a estabilidade das estruturas, proteção contra


correntezas, inundações, desmoronamentos, etc., devemos tomar medidas que não
permitam obstruções com a entrada indevida de corpos sólidos, como peixes, por
exemplo. Esta proteção é conseguida com emprego de grades, telas ou crivos,
conforme for o caso, antecedendo a entrada da água na canalização (Figura IV.1).

Figura IV. 1 – Exemplo de captação com grade e crivo

IV. 3.1.5. Economia nas instalações

Os princípios básicos da engenharia são a simplicidade, a técnica e a economia. A


luz destes princípios o projeto da captação deve se guiar por soluções que envolvam
o menor custo sem o sacrifício da funcionalidade. Para que isto seja conseguido
devemos estudar com antecedência, a permanência natural do ponto de captação, a
velocidade da correnteza, a natureza do leito de apoio das estruturas a serem
edificadas e a vida útil destas, a facilidade de acesso e de instalação de todas as

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edificações necessárias (por exemplo, a estação de recalque, quando for o caso,
depósitos, etc.), a flexibilidade física para futuras ampliações e os custos de
aquisição do terreno.

IV. 3.1.6. Localização

A princípio, a localização ideal é aquela que possibilite menor percurso de adução


compatibilizado com menores alturas de transposição pela mesma adutora no seu
caminhamento. Partindo deste princípio, o projetista terá a missão de otimizar a
situação através das análises das várias alternativas peculiares ao manancial a ser
utilizado.

Para melhor rendimento operacional, é importante que, além das medidas sanitárias
citadas em 2.1.3., a captação em rios seja em trechos retos, pois nestes trechos há
menor possibilidade de assoreamentos. Quando a captação for em trecho curvo
temos que na margem côncava haverá maior agressividade da correnteza, enquanto
que na convexa maiores possibilidades de assoreamentos, principalmente de areia e
matéria orgânica em suspensão. É, portanto, preferível a captação na margem
côncava, visto que problemas erosivos podem ser neutralizados com proteções
estruturais na instalação, enquanto que o assoreamento seria um problema contínuo
durante a operação do sistema.

A captação em barragens deve situar-se o mais próximo possível do maciço de


barramento considerando que nestes locais há maior lâmina disponível, correntezas
de menores velocidades, menor turbidez, condições mais favoráveis para captação
por gravidade, etc.

Em lagos naturais as captações devem ser instaladas, de preferência, em posições


intermediárias entre as desembocaduras afluentes e o local de extravasão do lago.

IV. 3.2. Exemplos de captação (com figuras autoexplicativas)

IV. 3.2.1. Captação em cursos de água com pequenas vazões e baixa flutuação
de nível

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a) Margens estáveis

b) Margens sujeitas a erosão

c) Margens instáveis

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d) Leitos rochosos com lâmina líquida muito baixa

e) Leitos arenosos com lâmina líquida muito baixa

1-Barramento com enrocamento

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2-Barramento com vertedouro móvel

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f) Leitos arenosos com areia em suspensão

IV. 3.2.2. Com pequenas vazões e grande oscilação de nível

a) em leitos rochosos

b) Leitos arenosos

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IV. 3.2.3. Com grandes vazões e pequena oscilação de nível

Neste caso as instalações de captação são similares às de captações mostradas em


2.2.1. a, b e c, provavelmente, com as bombas instaladas afogadas quando as
vazões a serem captadas, também, forem significativas.

IV. 3.2.4. Com grandes vazões e grande oscilação de nível

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IV. 3.2.5. Captação em reservatórios de acumulação

Se há necessidade de reservatório de acumulação significa haver variação do nível


da água na captação, pois durante o período de estiagem a vazão de entrada será
inferior à de saída. Professor Carlos Fernandes de Medeiros Filho – UFCG 44

Quando a captação é prevista no projeto do reservatório é comum a construção de


torres de tomada com saída através do maciço da barragem. Em caso contrário
emprega-se o poço seco de derivação e, para vazões pequenas, sifonamento por
sobre o maciço ou a captação com os conjuntos sobre balsas e com a sucção e a
parte móvel do recalque em mangotes flexíveis.

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34
IV. 4. ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

IV. 4.1. Mananciais

Os reservatórios de águas subterrâneas são chamados de lençóis. Essas águas


podem estar acumuladas em dois tipos de lençóis: o freático ou o cativo. O lençol
freático caracteriza-se por está assentado sobre uma camada impermeável de
subsolo, rocha por exemplo, e submetido a pressão atmosférica local. O lençol
cativo caracteriza-se por está confinado entre duas camadas impermeáveis de
crosta terrestre e submetido a uma pressão superior a pressão atmosférica local.

IV. 4.2. Captações em lençol freático

A captação do lençol freático pode ser executada por galerias filtrantes, drenos,
fontes ou poços fráticos. O emprego de galerias filtrantes é característico de terrenos
permeáveis (Figura IV.2), mas de pequena espessura (aproximadamente de um a
dois metros) onde há necessidade de se aumentar a área vertical de captação para
coleta de maior vazão (Figura IV.3). Estas galerias em geral são tubos furados, que
convergem para um poço de reunião, de onde a água é retirada em geral por
bombeamento, não sendo incomum outros métodos mais rudimentares.

Figura IV.2 – Posição da Galeria Filtrante

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IV. 3 – Detalhe para construção da galeria filtrante

Quando o lençol freático é muito superficial, as canalizações coletoras ficam na


superfície ou a pequenas profundidades de aterramento, então temos os chamados
drenos. Podem ser construídos com tubos furados ou simplesmente com manilhas
cerâmicas não rejuntadas.

As galerias são mais comuns sob leitos arenosos de rios com grande variação de
nível, enquanto que os drenos são mais comuns em áreas onde o lençol é aflorante
permanecendo praticamente no mesmo nível do terreno saturado ou sob leitos
arenosos de rios com pequena variação de nível.

Os poços são mais frequentes porque normalmente o lençol freático tem grande
variação de nível entre os períodos de chuvas, ou seja, durante os períodos de
estiagem, necessitando de maiores profundidades de escavações para garantia da
permanência da vazão de captação. Logicamente as camadas permeáveis também
são de espessuras consideráveis, podendo em algumas situações ser necessário o
emprego de captores radiais partindo da parte mais profunda do poço para que este
tenha rendimento mais efetivo.

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Os tipos de poços empregados na captação de água do lençol freático são o raso
comum, o amazonas e o tubular. O poço raso, popularmente chamado de cacimba
ou cacimbão, é um poço construído escavando-se o terreno, em geral na forma
cilíndrica, com revestimento de alvenaria ou com peças pré-moldadas (tubulões),
com diâmetro da ordem de um a quatro metros por cinco a vinte de profundidade em
média, a depender da posição do lençol freático. A parte inferior, em contato com o
lençol deve ser de pedra arrumada, de alvenaria furada ou de peças cilíndricas pré-
moldadas furadas quando for o caso. Dependendo da estabilidade do terreno o
fundo do poço pode exigir o não revestimento (Figura IV.4).

Figura III. 4 – Estrutura típica de um poço raso comum

Para evitar o carreamento de areia para o interior dos poço ou mesmo dos orifícios
pode-se envolver a área de drenagem com uma camada de pedregulho e areia
grossa, externamente. A retirada da água do seu interior deve ser através de
bombeamento por medida de segurança sanitária, mas para abastecimentos
singelos são frequentes o uso de sarilhos e outras bombas manuais.

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O poço amazonas é uma variável do escavado, próprio de áreas onde o terreno é
muito instável por excesso de água no solo (areias movediças). Seu método
construtivo é que o caracteriza, pois sua construção tem de ser executada por
pessoal especializado, empregando peças pré-fabricadas a medida que a
escavação vai desenvolvendo-se. Sua denominação deve-se ao fato de ser muito
comum na região amazônica em função de que os terrenos terem este
comportamento, principalmente nas épocas de enchentes. São poços para
pequenas vazões, destinados a abastecerem pequenas comunidades. Dependendo
da vazão solicitada e da capacidade do lençol abastecedor os poços freáticos
podem ser classificados da seguinte maneira:

a) quanto a modalidade de construção,


 escavados (profundidades até 20 m, diâmetros de 0,80 a 3,00 m, vazão até
20 l/s);
 perfurados;
 cravados.

b) quanto ao tipo de lençol


 rasos;
 profundos.

IV.4.2. Captações em lençol cativo

A captação de lençóis cativos normalmente é feita através de poços artesianos e,


mais raramente, por fontes de encosta.

NOTA: A designação artesiano é datada do século XII, derivada do nome da cidade


de Artois, França, onde historicamente em 1126, foi perfurado com sucesso pela
primeira vez, um poço desta natureza. Um dos poços artesianos mais famosos da
história, principalmente pelos seus registros de sondagens, etapas de perfuração e
métodos de recuperação de ferramentas, é o de Grenelle, próximo a Paris,
perfurado de 1833 a 1841, com 549 metros de profundidade, permaneceu por mais
de 15 anos como o mais profundo do mundo; outro famoso poço próximo a Paris é o

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de Passy, concluído em 1857, com 0,70 m de diâmetro e produção de 21.150 m3
/dia a uma altura de 16,50 metros acima do solo.

CAPÍTULO V
ADUÇÃO
V.1. DEFINIÇÃO

É o conjunto de encanamentos, peças especiais e obras de arte destinados a


promover o transporte da água em um sistema de abastecimento entre

 captação e reservatório de distribuição;


 captação e ETA;
 captação a rede de distribuição;
 ETA e reservatório;
 ETA e rede;
 reservatório à rede;
 reservatório a reservatório.

V.2. CLASSIFICAÇÃO

 de acordo com a energia de movimentação do líquido: gravidade, recalque e


mista;
 de acordo com o modo de escoamento do líquido: livre, forçada e mista;
 de acordo com a natureza da água: bruta e tratada (Figura V.1).

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Figura V.1 – Esquema da terceira adutora de Campina Grande

V.3. VAZÃO DE DIMENSIONAMENTO

 adução contínua sem reservatório Q = K1. K2. q . P / 86 400 (l/s);


 adução contínua com reservatório Q = K1 . q . P / 86 400 (l/s).
 adução descontínua com reservatório Q = K1 . q . P / n . 3 600 (l/s) para "n"
horas de funcionamento diariamente.

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