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Índice
Referências históricas
Primeira fase Modernista no Brasil (1922-1930)
Segunda fase Modernista no Brasil - (1930-1945)
Segunda fase Modernista no Brasil (1930-1945) - Prosa
Terceira fase Modernista no Brasil (1945- +/- 1960)
"Todo este sangue de mil raças / corre em minhas veias / sou
brasileiro / mas do Brasil sem colarinho / do Brasil negro / do Brasil
índio."
--Sérgio Milliet
Iniciou-se no Brasil com a SAM de 1922. Mas nem todos os participantes da Semana
eram modernistas: o pré-modernista Graça Aranha foi um dos oradores. Apesar de não
ter sido dominante no começo, como atestam as vaias da platéia da época, este estilo,
com o tempo, suplantou os anteriores. Era marcado por uma liberdade de estilo e
aproximação da linguagem com a linguagem falada; os de primeira fase eram
especialmente radicais quanto a isto.
Referências históricas
• Início do século XX: apogeu da Belle Époque. O burguês comportado, tranqüilo,
contando seu lucro. Capitalismo monetário. Industrialização e Neocolonialismo.
• Reivindicações de massa. Greves e turbulências sociais. Socialismo ameaça.
• Progresso científico: eletricidade. Motor a combustão: automóvel e avião.
• Concreto armado: “arranha-céu”. Telefone, telégrafo. Mundo da máquina, da
informação, da velocidade.
• Primeira Guerra Mundial e Revolução Russa.
• Abolir todas as regras. O passado é responsável. O passado, sem perfil,
impessoal. Eliminar o passado.
• Arte Moderna. Inquietação. Nada de modelos a seguir. Recomeçar. Rever.
Reeducar. Chocar. Buscar o novo: multiplicidade e velocidade, originalidade e
incompreensão, autenticidade e novidade.
• Vanguarda - estar à frente, repudiar o passado e sua arte. Abaixo o padrão
cultural vigente.
Primeira fase Modernista no Brasil (1922-1930)
Caracteriza-se por ser uma tentativa de definir e marcar posições. Período rico em
manifestos e revistas de vida efêmera.
Um mês depois da SAM, a política vive dois momentos importantes: eleições para
Presidência da República e congresso (RJ) para fundação do Partido Comunista do
Brasil. Ainda no campo da política, surge em 1926 o Partido Democrático que teve
entre seus fundadores Mário de Andrade.
Principais autores desta fase: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira,
Antônio de Alcântara Machado, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de
Almeida e Plínio Salgado.
Características
Manifestos e Revistas
Recebe este nome, pois klaxon era o termo usado para designar a buzina externa dos
automóveis. Primeiro periódico modernista, é conseqüência das agitações em torno da
SAM. Inovadora em todos os sentidos: gráfico, existência de publicidade, oposição
entre o velho e o novo.
“— Klaxon sabe que o progresso existe. Por isso, sem renegar o passado, caminha para
diante, sempre, sempre.”
“— A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela sob
o azul cabralino, são fatos estéticos.”
A Revista (1925-1926)
Responsável pela divulgação dos ideais modernistas em MG. Teve apenas três números
e contava com Drummond como um de seus redatores.
Verde-Amarelismo (1926-1929)
Contou com duas fases (dentições): a primeira com 10 números (1928 e 1929) direção
Antônio Alcântara Machado e gerência de Raul Bopp; a segunda foi publicada
semanalmente em 16 números no jornal Diário de São Paulo (1929) e seu “açougueiro”
(secretário) era Geraldo Ferraz. É uma nova etapa do nacionalismo Pau-Brasil e
resposta ao grupo Verde-amarelismo. A origem do nome movimento esta na tela
“Abaporu” de Tarsila do Amaral.
“A nossa independência ainda não fo proclamada. Frase típica de D. João VI: — Meu
filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a
dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da
Fonte.” (Revista de Antropofagia, nº 1)
Outras Revistas
Autores
Foi um importante escritor modernista da primeira fase, apesar de não ter participado da
SAM, integrando o grupo somente em 25. Produziu prosa ficcional, renovando sua
estrutura para construir histórias curtas e do cotidiano. Privilegia o imigrante,
principalmente o italiano, e sua fusão, ampliando o universo cultural de São Paulo.
Apesar de não ser tão radical como os outros modernistas contemporâneos seus, usava
uma linguagem em seus contos que se aproximava muito do falado. Seus personagens
do livro de contos Brás, Bexiga e Barra Funda falavam uma mistura de italiano e
português. Retrata uma realidade citadina e realista, num tom divertido, enfatizando a
vida difícil dos imigrantes e sua ascensão.
Nunca chegou a completar seu romance Mana Maria, que foi publicado um ano depois
de sua prematura morte. Pouco antes do fim da vida, rompeu relações com Oswald de
Andrade por motivos ideológicos, ao mesmo tempo em que sua amizade com Mário de
Andrade se estreitava.
Brás, Bexiga e Barra Funda - contos com fragmentação de episódios, até registro de
cenas sem interesse, mapeamento de São Paulo, exótico nos nomes das personagens,
menção a produtos de consumo da época, gírias esquecidas etc.
“Ali na Rua Oriente a ralé quando muito andava de bonde. De automóvel ou carro só
mesmo em dia de enterro ou casamento. Por isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de
realização muito difícil. Um sonho. (...) Gaetaninho saiu correndo. Antes de alcançar a
bola um bonde o pegou. Pegou e matou. / No bonde vinha o pai do Gaetaninho. / A
gurizada assustada espalhou a notícia na noite. / — Sabe o Gaetaninho? / — Que é que
tem? / — Amassou o bonde! / (...) às dezesseis horas do dia seguinte saiu um enterro da
Rua do Oriente e Gaetaninho não ia na boléia de nenhum dos carros do
acompanhamento. Ia no da frente dentro de um caixão fechado com flores pobres por
cima.”
Obras principais:
Escreveu para Terra Roxa e Outras Terras (um de seus fundadores), para a Revista
Antropofagia e para a Revista Nova (que dirigiu).
Paulista, Cassiano deixou uma obra marcada pelas tendências de seu tempo sem,
entretanto, deixar um estilo próprio. Iniciou sua carreira com Dentro da Noite (1915)
neo-simbolismta, passou por tendências parnasianas em A Frauta de Pã (1917, para
integrar-se ao Verde-amarelismo com Vamos Caçar Papagaios (1926). Com o
formalismo de 45, torna-se meditativo e melancólico. Em 1960, entra para a corrida
vanguardista com experimentalismo e franca adesão ao Concretismo e à Poesia Praxis.
Obras principais:
• Poesia:
o Dentro da Noite (1915)
o A Frauta de Pã (1917)
o Vamos Caçar Papagaios (1926)
o Martim-Cererê (1928)
o Deixa Estar, Jacaré (1931)
o O Sangue das Horas (1943)
o Um Dia depois do Outro (1947)
o A Face Perdida (1950)
o Poemas Murais (1950)
o Sonetos (1952)
o João Torto e A Fábula (1956)
o Arranha-Céu de Vidro (1956)
o Poesias Completas (1957)
o Montanha Russa (1960)
o A Difícil Manhã (1960)
o Jeremias sem Chorar (1964)
• Prosa:
o O Brasil no Original (1936)
o O Negro na Bandeira (1938)
o A Academia e a Prosa Moderna (1939)
o Pedro Luís Visto Pelos Modernos (1939)
o Marcha para o Oeste (1943)
o A Academia e a Língua Brasileira (1943)
o A Poesia na Técnica do Romance (1953)
o O Homem Cordial (1959)
o 22 e a Poesia de Hoje (1962)
o Reflexos sobre a Poética de Vanguarda (1966)
Sempre se ajustou aos padrões e foi disciplinado, com mestria sobre a língua e seus
dispositivos técnicos. Exímio poeta que pode ter sua obra dividida em três etapas:
Ritmo Absoluto e Libertinagem são frutos de um processo de integração com o Rio. Sua
poesia contagia-se de uma visão erótico-sentimental, resultante da forma de encarar o
amor a partir da experiência do corpo. Libertinagem usa lirismo solto, repleto de cenas
do cotidiano, com verdadeiras aulas de solidariedade e ternura.
“Irene preta / Irene boa / Irene sempre de bom humor. / Imagino Irene
entrando no céu: / — Licença, meu branco! / E São Pedro bonachão: /
— Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.”
--Irene no Céu, in Libertinagem
Em Estrela da Manhã, atinge a plenitude de seu lirismo libertário, mostrando que tudo
pode ser matéria poética: um clássico esquecido, uma frase de criança, uma notícia de
jornal, a casa em que morava e até mesmo uma propaganda de três sabonetes (Baladas
das três mulheres do sabonete Araxá).
Obras principais:
• Poesia:
o A Cinza das Horas (1917)
o Carnaval (1919)
o O Ritmo Dissoluto (1924)
o Libertinagem (1930)
o Estrela da Manhã (1936)
o Lira dos Cinquent’Anos (1940)
o Belo, Belo (1948)
o Mafuá do Malungo (1948)
o Opus 10 (1952)
o Estrela da Tarde (1963)
o Estrela da Vida Inteira (1966)
• Prosa:
o Crônicas da Província do Brasil (1937)
o Guia de Ouro Preto (1938)
o Noções de História das Literaturas (1940)
o Literatura Hispano-Americana (1949)
o Gonçalves Dias (1952)
o Itinerário de Pasárgada (1954)
o De Poetas e de Poesia (1954)
o Flauta de papel (1957)
o Andorinha, Andorinha (seleção de Carlos Drummond de Andrade, 1966)
o Colóquio Unilateralmente Sentimental (1968)
Injetou em tudo que fez um senso de problemático brasileirismo, daí sua investida no
folclore. De jeito simples, sua coloquialidade desarticulou o espírito nacional de uma
montanha de preconceitos arcaicos. Lutou sempre por uma literatura brasileira e com
temas brasileiros.
Sua faceta de teórico de estética literária pode ser avaliado em A Escrava que não é
Isaura, onde expõe pequenos e paliativos remédios da farmacopéia didático-técnico-
poética do Modernismo.
Na obra Lira Paulistana, Mário faz uma interpretação poética de seu destino e
integração com a cidade de São Paulo. O reflexo do eu na transparência do rio Tietê
mostra as águas do rio como se fosse um espelho mágico.
--Macunaíma
Obras Principais
• Poesia
o Há uma Gota de Sangue em casa Poema (1917)
o Paulicéia Desvairada (1922)
o Losango Cáqui (1926)
o Clã do Jabuti (1927)
o Remate de males (1930)
o Poesias (1941)
o Lira Paulistana (1946)
o O Carro da Miséria (1946)
o Poesias Completas (1955)
• Conto
o Primeiro Andar (1926)
o Balazarte (1934)
o Contos Novos (1946)
• Romance
o Amar, Verbo Intransitivo (1927)
o Macunaíma (1928)
• Ensaio
o A Escrava que não é Isaura (1925)
o O Aleijadinho e Álvares de Azevedo (1935)
o O Baile das Quatro Artes (1943)
o Aspectos da Literatura Brasileira (1943)
o O Empalhador de Passarinhos (1944)
o O Banquete (1978)
• Crônicas
o Os Filhos da Candinha (1943)
• Musicologia e Folclore
o Ensaio sobre Música Brasileira (1928)
o Compêndio de História da Música (1929)
o Modinhas e Lundus Imperiais (1930)
o Música, Doce Música (1933)
o Namoros com a Medicina (1939)
o Música do Brasil (1941)
o Danças Dramáticas do Brasil (1959)
o Música de Feitiçaria (1963)
• História da Arte
o Padre Jesuíno de Monte Melo (1946)
o outros folhetos reunidos nas Obras Completas
Foi um dos principais artistas da Semana de Arte Moderna e lançou o Movimento Pau-
Brasil e a Antropofagia, corrente que pretendia devorar a cultura européia e brasileira da
época e criar uma verdadeira cultura brasileira. Fazendeiro de café, perdeu tudo e foi à
falência em 1929 com o crash da Bolsa de Valores. Militante esquerdista, passou a
divulgar o Comunismo junto com Pagu em 1931, mas desligou-se do Partido em 1945.
Sua obra é marcada por irreverência, coloquialismo, nacionalismo, exercício de
demolição e crítica. Incomodar os acomodados, estimular o leitor através de palavras de
coragem eram constantes preocupações desse autor.
relicácio - “No baile da Corte / Foi o Conde d’Eu quem disse / Pra
Dona Benvinda / Que farinha de Suruí / Pinga de Parati / Fumo de
Baependi / É comê bebê pitá e caí”
--Pau-Brasil
Com a crise econômica de 1929, Oswald passa por difíceis condições financeiras e se vê
obrigado a conjugar o verbo “crakar”
Falido economicamente, Oswald vai se pendurar nos “reis da vela”, os agiotas do beco
do escarro (zona bancária de SP). Com isso, o autor vai recolhendo material para sua
peça O Rei da Vela.
Serafim Ponte Grande é o romance que testemunha a fase de identidade ideológica com
a esquerda. Serafim encarna o mito do herói latino-americano individual que parte como
um louco em busca da libertação e da utopia. . Oswald projeta em Serafim o herói que
vai remar sempre contra a corrente do inconformismo, procurando romper, através da
crítica, do sarcasmo e da ironia as rédeas sufocantes do ser burguês. Por ser o sonhe de
Serafim individual, acaba frustrando-se e, depois de aprender as duras realidades da
vida, torna-se um irrecuperável marginal que cai fora do sistema.
Morreu sofrendo dificuldades de saúde e financeiras, mas sem perder o contato com os
artistas da época.
epitáfio - “Eu sou redondo, redondo / Redondo, redondo eu sei / Eu sou uma
redond’ilha / Das mulheres que beijei / Vou falecer do oh! amor / Das mulheres de
minh’ilha / Minha caveira rirá ah! ah! ah! / Pensando na redondilha”
Obras principais:
• Poesia
o Pau-Brasil (1925)
o Primeiro Caderno de Poesia do Aluno Oswald de Andrade (1927)
o Poesias Reunidas (edição póstuma)
• Romance
o Os Condenados (I - Alma, II - Estrela do Absinto, III - A escada, 1922 a
1934)
o Memórias Sentimentais de João Miramar (1924)
o Serafim Ponte Grande (1933)
o Marco Zero (I - A Revolução Melancólica, II - Chão, 1943 a 1946)
• Manifestos, teses e ensaios
o Manifesto Pau-Brasil (1925)
o Manifesto Antropófago (1928)
o A Arcádia e a Inconfidência (1945)
o Ponta de Lança (1945)
o A Crise da Filosofia Messiânica (1946)
o A Marcha das Utopias (1966)
• Teatro
o O Homem e o Cavalo (1934)
o O Rei da Vela (1937)
o A Morta (1937)
o O Rei Floquinhos (Infantil, 1953)
• Memórias
o Um Homem sem Profissão (1954)
• Crônicas
o Telefonemas (edição póstuma)
Textos
Evocação do Recife
Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais.
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois — Recife das revolu
ções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância (...)
--Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Pasárgada
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
--Fragmentos do livro de poesias Pau-Brasil, de Oswald de Andrade
erro de português
Durante algum certo tempo, a poesia das gerações de 22 e 30 conviveram. Não se trata,
portanto, de uma sucessão brusca. A maioria dos poetas de 30 absorveria parte da
experiência de 22: liberdade temática, gosto da expressão atualizada ou inventiva, verso
livre, anti-academicismo.
Características
• Repensar a historia nacional com humor e ironia - " Em outubro de 1930 / Nós
fizemos — que animação! — / Um pic-nic com carabinas." (Festa Familiar -
Murilo Mendes)
• Verso livre e poesia sintética - " Stop. / A vida parou / ou foi o automóvel?"
(Cota Zero, Carlos Drummond de Andrade)
• Nova postura temática - questionar mais a realidade e a si mesmo enquanto
indivíduo
• Tentativa de interpretar o estar-no-mundo e seu papel de poeta
• Literatura mais construtiva e mais politizada.
• Surge uma corrente mais voltada para o espiritualismo e o intimismo (Cecília,
Murilo Mendes, Jorge de Lima e Vinícius)
• Aprofundamento das relações do eu com o mundo
• Consciência da fragilidade do eu - "Tenho apenas duas mãos / e o sentimento do
mundo" (Carlos Drummond de Andrade - Sentimento do Mundo)
• Perspectiva única para enfrentar os tempos difíceis é a união, as soluções
coletivas - " O presente é tão grande, ano nos afastemos, / Ano nos afastemos
muito, vamos de mãos dadas." (Carlos Drummond de Andrade - Mãos dadas)
Ironia fina, lucidez, e calma, traduzidos numa linguagem flexível, rica, mas rica de
dimensões humanas.
A partir de Lição das Coisas (1962), há maior preocupação maior com objetos,
valorizando mais os aspectos visuais e sonoros - tendência concreto-formalista.
Carlos Drummond de Andrade propõe a divisão temática de sua obra, numa seleção que
faz para sua Antologia Poética:
1. o indivíduo
2. a terra natal
3. a família
4. os amigos
5. o choque social
6. o conhecimento amoroso
7. a própria poesia
8. exercícios lúdicos
9. uma visão, ou tentativa de, da existência
Obras:
• Poesia:
o Alguma Poesia (1930)
o Brejo das Almas (1934)
o Sentimento do Mundo (1940)
o Poesias (1942)
o A Rosa do Povo (1945)
o Poesia até agora (1948)
o Claro Enigma (1951)
o Viola de Bolso (1952)
o Fazendeiro do Ar e Poesia até Agora (1953)
o Viola de Bolso Novamente Encordoada (1955)
o Poemas (1959)
o A Vida Passada a Limpo (1959)
o Lição de Coisas (1962)
o Versiprosa (967)
o Boitempo (1968)
o Menino Antigo (1973)
o As Impurezas do Branco (1973)
o Discurso da Primavera e outras Sombras (1978)
• Prosa:
o Confissões de Minas (ensaios e crônicas, 1944)
o Contos de Aprendiz (1951)
o Passeios na Ilha (ensaios e crônicas, 1952)
o Fala, Amendoeira (1957)
o a Bolsa e a Vida (crônicas e poemas, 1962)
o Cadeira de Balanço (crônicas e poemas, 1970)
o O Poder Ultrajovem e mais 79 Textos em Prosa e Verso (1972)
Mineiro, que caminha das sátiras e poemas-piada, ao estilo oswaldiano, para uma poesia
religiosa, sem perder o contato com a realidade. Poeta modernista mais infuenciado pelo
Surrealismo europeu.
Guerra foi tema de diversos poemas seus. Seus textos caracterizam-se por novas formas
de expressão, e livre associação de imagens e conceitos.
A partir de Tempo e Eternidade (1935), parte para a poesia mística e religiosa. Dilema
entre poesia e Igreja, finito e infinito, material e espiritual, sem abandonar a dimensão
social.
Essa condição barroca de sua poesia associa-se a um trabalho das imagens visuais.
Empolgado com a beleza, afirmava que tudo era belo pois pertencia `a Criação. Só as
ações humanas justificavam o feio.
Obras : Poemas (1930), História do Brasil (1932), Tempo e Eternidade (com Jorge de
Lima, 1935), A Poesia em Pânico (1938), O Visionário (1941), As Metamorfoses
(1944), O Discípulo de Emaús (prosa, 1944), Mundo Enigma, (1945), Poesia Liberdade
(1947), Janela do Caos (1948), Contemplação de Ouro Preto (1954), Poesias (1959),
Tempo Espanhol (1959), Poliedro (1962), Idade do Serrote (Memórias, 1968),
Convergência (1972), Retratos Relâmpago (1973), Ipotesi (1977)
Tem ainda um poema épico à moda de Camões e Dante, usando 10 cantos para mostrar
o dilema barroco de um homem indeciso entre o material e o espiritual.
Mulher Proletária
Mulher proletária,
0 operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.
--Poesias, 1975
Obras:
Cecília Meireles
Órfã, carioca, foi criada pela avó e fez Magistério e lecionou Literatura em várias
universidades.
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje, / assim calmo, assim triste, assim
magro, / nem estes olhos tão vazios, / nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força, / tão paradas e frias e mortas; / eu
não tinha este coração / que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança, / tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
--Flor de Poemas
Assim sua obra apresenta uma atmosfera de sonho, fantasia,em contraste com solidão e
padecimento. Linguagem simbólica, com imagens sugestivas e constantes apelos
sensoriais (metáforas, sinestesias, aliterações e assonâncias).
Rômulo rema
Obras:
• Poesia : Espectros (1919), Nunca mais... e Poema dos Poemas (1923), Baladas
para EI-rei (1925), Viagem (1939), Vaga Música (1942), Mar Absoluto (1945),
Retrato Natural (1949), Ama em Leonoreta (1952), Doze Noturnos de Holanda e
o Aeronauta (1952) Romanceiro da Inconfidência (1953), Pequeno Oratório de
Santa Clara (1955) Pistóia, Cemiério Militar Brasileiro (1955) Canções (1956),
Romance de Santa Cecília (1957), A Rosa (1957), Metal Rosicler (1960),
Poemas Escritos na Índia (1962) Antologia Poética (1963) Solombra (1963), Ou
isto ou Aquilo (1965), Crônica Trovada da Cìdade de San Sebastian (1965)
Poemas Italianos (1968)
• Teatro : O Menino Atrasado (1966)
• Ficção : Olhinhos de Gato (s/d)
• Prosa poética : Giroflê, Giroflá (1956), Evocação Lírica de Lisboa (1948)
Eternidade de Israel (1959)
• Crônica : Escolha o seu Sonho (1964) Inéditos (1968)
Vinícius de Moraes
Carioca conhecido como Poetinha, participou também da MPB desde a Bossa-nova até
sua morte. Assim como Cecília, inicia sua carreira ligado ao neo-simbolismo da
corrente espiritualista e também a renovação católica de 30.
Obras:
Textos
Como chegavas do casulo, / — inacabada seda viva — / tuas antenas — fios soltos / da
trama de que eras tecida, / e teus olhos, dois grãos da noite / de onde o teu mistério surg
ia,
como caíste sobre o mundo / inábil, na manhã tão clara, / sem mãe, sem guia, sem cons
elho, / e rolavas por uma escada / como papel, penugem, poeira, / com mais sonho e sil
êncio que asas,
minha mão tosca te agarrou / com uma dura, inocente culpa, / e é cinza de lua teu corpo
, / meus dedos, sua sepultura. / Já desfeita e ainda palpitante, / expiras sem noção nenhu
ma.
Ó bordado do véu do dia, / transparente anêmona aérea! /não leves meu rosto contigo: /
leva o pranto que te celebra, / no olho precário em que te acabas, / meu remorso ajoelha
do leva! (...)
Pudeste a etéreos paraísos / ascender teu leve fantasma, / e meu coração penitente ser a
rosa desabrochada / para servir-te mel e aroma, / por toda a eternidade escrava!
E as lágrimas que por ti choro / fossem o orvalho desses campos, / — os espelhos que r
efletissem / — vôo e silêncio — os teus encantos, / com a ternura humilde e o remorso /
dos meus desacertos humanos!
(Retrato Natural)
--Cecília Meireles
Autores Principais
Cearense, viveu na infância o problema da seca que atingiu uma propriedade de sua
família. Em 1930 (aos 20 anos) publica o romance O Quinze, que lhe angaria um
prêmio e reconhecimento público.
Obras:
Suas obras Menino de Engenho, Doidinho, Bangüê, Moleque Ricardo, Usina e Fogo
Morto compõem o que se convencionou chamar de “ciclo da cana de açúcar”. Nestas
obras J. L. Rego narra a gradativa decadência dos engenhos e a transformação pela qual
passam a economia e a sociedade nordestina. Sua técnica narrativa se mantém nos
moldes tradicionais da literatura realista: linearidade, construção do personagem
baseado na descrição dos caracteres, linguagem coloquial, registro da vida e dos
costumes. O tom memorialista é o fio condutor de uma literatura que testemunha uma
sociedade em desagregação: a sociedade do engenho patriarcalista, escravocrata. As
obras mais representativas desta fase são Menino de Engenho e Fogo Morto. A primeira
é a história de um menino, órfão de pai e mãe, que é criado no Engenho Santa Rosa, de
seu avô José Paulino, típico representante do latifundiário nordestino. Há momento de
grande emoção na obra, como a descrição da enchente, o castigo dos escravos, a
descoberta da própria sexualidade.
Fogo Morto é considerada sua melhor obra: dividida em três partes que se
interrelacionam, compõe um quadro social e humano do Nordeste. Mestre José Amaro,
seleiro, orgulhoso de sua profissão, sofre as pressões do coronel Lula de Holanda,
senhor do Engenho Santa Fé, em decadência econômica. Antônio Silvino, cangaceiro, é
o terror da região e ataca os engenhos. O capitão Vitorino Carneiro da Cunha, lunático,
é uma espécie de místico e profeta do sertão.
Além destas obras, José Lins escreveu: Pedra Bonita e Cangaceiros, onde continua a
traçar um quadro da vida nordestina, aproveitando agora elementos do folclore e do
cordel. Estes romances pertencem ao “ciclo do cangaço, misticismo e seca”. Além
destes, escreveu também Água-mãe e Eurídice, de ambientação urbana.
Obras:
Alagoano, faz jornalismo e política estreando com Caetés (1933). Em Maceió conheceu
alguns escritores do grupo regionalista: José Lins, Jorge Amado, Raquel de Queirós.
Nessa época redige S. Bernardo e Angústia.
Envolvendo-se em política, é preso e acusado de comunista, essas experiências pessoais
são retratadas em Memórias do Cárcere. Em 1945 ingressa no Partido Comunista e
empreende uma viagem aos países socialistas, narrada no livro Viagem.
Luta pela sobrevivência é o ponto de ligação entre seus personagens, onde a lei maior é
a lei da selva. A morte é uma constante em suas obras como final trágico e irreversível
(suicídios em Caetés e São Bernardo, assassinato em Angústia e as mortes do papagaio
e da cadela Baleia em Vidas Secas).
Seua personagens são seres oprimidos e moldados pelo meio. Tanto Paulo Honório
(personagem de São Bernardo), quanto Luís da Silva (de Angústia) são o que se chama
de “herói problemático”, em conflito com o meio e consigo mesmos, em luta constante
para adaptar-se e sobreviver, insatisfeitos e irrealizados. Linguagem sintética e concisa.
Obras : Caetés (1933), S. Bernardo (1934), Angústia (1936), Vidas Secas (1938), Dois
Dedos (1945), Insônia (1947), Infância (1945), Memórias do Cárcere (1953), Histórias
de Alexandre (1944), Viagem (1953), Linhas Tortas (1962) etc.
Nasceu na zona cacaueira baiana e depois morou em Salvador, essas referências são
fontes de inspiração para suas obras. Estréia com O País do Carnaval e, levado por
Rachel de Queiroz, filia-se ao Partido Comunista Brasileiro, por onde mais tarde torna-
se deputado. Sofre perseguições políticas, exila-se e mais tarde é preso.
Sua família rica foi à falência e o escritor teve que trabalhar sem possibilidade de seguir
estudos. Em Porto Alegre, entra em contato com a vida literária e inicia-se no
jornalismo. Começa então a publicar contos e romances, entre os quais, Clarissa, que
logo se tornou um sucesso. Viajou para vários países, lecionou Literatura Brasileira nos
EUA e trabalhou na OEA. Voltando ao Brasil, dedica-se a escrever e produz uma vasta
obra.
A prosa tanto no romance quanto nos contos busca uma literatura intimista, de
sondagem psicológica, introspectiva, com destaque para Clarice Lispector. Ao mesmo
tempo, o regionalismo adquire uma nova dimensão com Guimarães Rosa e sua
recriação dos costumes e da fala sertaneja, penetrando fundo na psicologia do jagunço
do Brasil central. Um traço característico comum a Clarice e Guimarães Rosa é a
pesquisa da linguagem, por isso são chamados instrumentalistas. Enquanto Guimarães
Rosa preocupa-se com a manutenção do enredo com o suspense, Clarice abandona
quase que completamente a noção de trama e detém-se no registro de incidentes do
cotidiano ou no mergulho para dentro dos personagens.
Na poesia, surge uma geração de poetas que se opõem às conquistas e inovações dos
modernistas de 22. A nova proposta foi defendida, inicialmente, pela revista Orfeu
(1947). Assim, negando a liberdade formal, as ironias, as sátiras e outras “brincadeiras”
modernistas, os poetas de 45 buscam uma poesia mais “equilibrada e séria”. Os modelos
voltam a ser os Parnasianos e Simbolistas. Principais autores (Ledo Ivo, Péricles
Eugênio da Silva Ramos, Geir de Campos e Darcy Damasceno). No fim dos anos 40,
surge um poeta singular, pois não está filiado esteticamente a nenhuma tendência: João
Cabral de Melo Neto.
Referências históricas
1945 = fim da 2ª GM, início da Era Atômica (Hiroxima e Nagasaki), ONU, Declaração
dos Direitos do Homem, Guerra Fria. No Brasil, fim da ditadura Vargas,
redemocratização brasileira, retomada de perseguições políticas, ilegalidades e exílios.
Autores Principais
Mineiro, formou-se em Medicina e clinicou pelo interior, foi ministro e pela carreira
diplomática esteve em Hamburgo, Bogotá e Paris. Foi eleito membro da ABL e faleceu
3 dias depois de sua posse.
O livro Grande Sertão: Veredas (1956), romance narrado em primeira pessoa por
Riobaldo num monólogo ininterrupto onde o autor e o leitor parecem ser os ouvintes
diretos do personagem, G. Rosa recuperou a tradição regionalista, renovando-a. Há um
clima fantástico na narrativa: Riobaldo conta suas aventuras de jagunço que quer vingar
a morte de seu chefe, Joca Ramiro, assassinado pelo bando de Hermógenes.
Ucraniana, veio com meses para o Brasil - por isso, sentia se “brasileira”. Tem por
formação Direito. Em 1944 forma-se e publica o livro que escreveu durante o curso -
Perto do Coração Selvagem surpreendendo a crítica e agradando ao público.
Casa-se com um diplomata, afastando-se do Brasil durante longos períodos, mas sem
interromper a produção artística.
Obras:
Morte e Vida Severina, obra mais popular de João Cabral, é um auto de Natal do
folclore pernambucano. Sua linha narrativa segue dois movimentos que aparecem no
título: “morte” e “vida”. No primeiro movimento, há o trajeto de Severino, personagem-
protagonista, que segue do sertão para Recife, em face da opressão econômico-social.
Severino tem a força coletiva de um personagem típico: representa o retirante
nordestino. No segundo movimento, o da “vida”, o autor chama a atenção para a
confiança no homem e em sua capacidade de resolver problemas.
Obras:
Textos
— Mas, Deus me valha! Eu já nem sei o que faço, pois ela ainda
confessa!
— Você acha que se pode... que se pode roubar? — Bem... talvez não.
— Sim, roubei porque. quis. Só roubarei quando quiser. Não faz mal
nenhum.
Mas ísso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com nome de
Severino filhos de tantas Marias mulheres de outros tantos, já finados,
Zacarias, vivendo na mesma serra magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça
grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre
as mesmas pernas finas, e iguais também porque o sangue que usamos
tem pouca tinta.
No Brasil, este movimento possui como marco simbólico a Semana de Arte Moderna,
realizada em 1922, na cidade de São Paulo, devido ao Centenário da Independência. No
entanto, devemos lembrar que o modernismo já se mostrava presente muito antes do
movimento de 1922. As primeiras mudanças na cultura brasileira que tenderam para o
modernismo datam de 1913 com as obras do pintor Lasar Segall; e no ano de 1917, a
pintora Anita Malfatti , recém-chegada da Europa, provoca uma renovação artística com
a exposição de seus quadros. A este período chamamos de Pré-Modernismo (1902-
1922), no qual se destacam literariamente, Lima Barreto, Euclides da Cunha, Monteiro
Lobato e Augusto dos Anjos; nesse período ainda podemos notar certa influência de
movimentos anteriores como realismo/naturalismo, parnasianismo e simbolismo.
A partir de 1922, com a Semana de Arte Moderna tem início o que chamamos de
Primeira Fase do Modernismo ou Fase Heróica (1922-1930), esta fase caracteriza-se
por um maior compromisso dos artistas com a renovação estética que se beneficia pelas
estreitas relações com as vanguardas européias (cubismo, futurismo, surrealismo, etc.),
na literatura há a criação de uma forma de linguagem, que rompe com o tradicional,
transformando a forma como até então se escrevia; algumas dessas mudanças são: a
Liberdade Formal (utilização do verso livre, quase abandono das formas fixas – como o
soneto, a fala coloquial, ausência de pontuação, etc.), a valorização do cotidiano, a
reescritura de textos do passado, e diversas outras; este período caracteriza-se também
pela formação de grupos do movimento modernista: Pau-Brasil, Antropófago, Verde-
Amarelo, Grupo de Porto Alegre e Grupo Modernista-Regionalista de Recife.
Temos ainda a Terceira Fase do Modernismo (1945- até 1960); alguns estudiosos
consideram a fase de 1945 até os dias de hoje como Pós-Modernista, no entanto, as
fontes utilizadas para a confecção deste artigo, tratam como Terceira Fase do
Modernismo o período compreendido entre 1945 e 1960 e como Tendências
Contemporâneas o período de 1960 até os dias de hoje. Nesta terceira fase, a prosa dá
sequência às três tendências observadas no período anterior – prosa urbana, prosa
intimista e prosa regionalista, com uma certa renovação formal; na poesia temos a
permanência de poetas da fase anterior, que se encontram em constante renovação, e a
criação de um grupo de escritores que se autodenomina “geração de 45”, e que buscam
uma poesia mais equilibrada e séria, sendo chamados de neoparnasianos.
Literatura: Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Lima Barreto, Augusto dos Anjos,
Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Alcântara Machado, Manuel Bandeira,
Cassiano Ricardo, Carlos D. de Andrade, Cecília Meireles, Vinicius de Morais, Murilo
Mendes, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge de Lima, José Lins do Rego,
Thiago de Mello, Ledo Ivo, Ferreira Gullar, João Cabral de Melo Neto, Clarice
Lispector, Guimarães Rosa, Olavo Bilac, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida,
Ronald de Carvalho, Ribeiro Couto, Raul Bopp, Graça Aranha, Murilo Leite, Mário
Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, Érico Veríssimo;
-
Outras fontes
Modernismo no Brasil
Definição
O modernismo no Brasil tem como marco simbólico a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo,
no ano de 1922, considerada um divisor de águas na história da cultura brasileira. O evento - organizado
por um grupo de intelectuais e artistas por ocasião do Centenário da Independência - declara o
rompimento com o tradicionalismo cultural associado às correntes literárias e artísticas anteriores: o
parnasianismo, o simbolismo e a arte academica. A defesa de um novo ponto de vista estético e o
compromisso com a independência cultural do país fazem do modernismo sinônimo de "estilo novo",
diretamente associado à produção realizada sob a influência de 1922. Heitor Villa-Lobos na música; Mário
de Andrade e Oswald de Andrade, na literatura; Victor Brecheret, na escultura; Anita Malfatti e Di
Cavalcanti, na pintura, são alguns dos participantes da Semana, realçando sua abrangência e
heterogeneidade. Os estudiosos tendem a considerar o período de 1922 a 1930, como a fase em que se
evidencia um compromisso primeiro dos artistas com a renovação estética, beneficiada pelo contato
estreito com as vanguardas européias (cubismo, futurismo, surrealismo etc.). Tal esforço de redefinição
da linguagem artística se articula a um forte interesse pelas questões nacionais, que ganham acento
destacado a partir da década de 1930, quando os ideais de 1922 se difundem e se normalizam. Ainda
que o modernismo no Brasil deva ser pensado a partir de suas expressões múltiplas - no Rio de Janeiro,
Minas Gerais, Pernambuco etc. - a Semana de Arte Moderna é um fenômeno eminentemente urbano e
paulista, conectado ao crescimento de São Paulo na década de 1920, à industrialização, à migração
maciça de estrangeiros e à urbanização.
Apesar da força literária do grupo modernista, as artes plásticas estão na base do movimento. O impulso
teria vindo da pintura, da atuação de Di Cavalcanti à frente da organização do evento, das esculturas de
Brecheret e, sobretudo, da exposição de Anita Malfatti, em 1917. Os trabalhos de Anita desse período (O
Homem Amarelo, a Estudante Russa, A Mulher de Cabelos Verdes, A Índia, A Boba, O Japonês
etc.) apresentam um compromisso com os ensinamentos da arte moderna: a pincelada livre, a
problematização da relação figura/fundo, o trato da luz sem o convencional claro-escuro. A obra de Di
Cavalcanti segue outra direção. Autodidata, Di Cavalcanti trabalha como ilustrador e caricaturista. O traço
simples e estilizado se tornará a marca de sua linguagem gráfica. A pintura, iniciada em 1917, não
apresenta orientação definida. Suas obras revelam certo ecletismo, alternando o tom romântico e
"penumbrista" (Boêmios, 1921) com as inspirações em Pablo Picasso, Georges Braque e Paul Cézanne,
que o levam à geometrização da forma e à exploração da cor (Samba e Modelo no Atelier, ambas de
1925). Os contrastes cromáticos e os elementos ornamentais da pintura de Henri Matisse, por sua vez,
estão na raiz de trabalhos como Mulher e Paisagem, 1931. A formação italiana e a experiência francesa
marcam as esculturas de Brecheret. Autor da maquete do Monumento às Bandeiras, 1920, e de 12
peças expostas na Semana (entre elas, Cabeça de Cristo, Daisy e Torso), Brecheret é o escultor do
grupo modernista, comparado aos escultores franceses Auguste Rodin e Emile Antoine Bourdelle pelos
críticos da época.
Tarsila do Amaral não esteve presente ao evento de 1922, o que não tira o seu lugar de grande expoente
do modernismo brasileiro. Associando a experiência francesa - e o aprendizado com André Lhote, Albert
Gleizes e Fernand Léger - aos temas nacionais, a pintora produz uma obra emblemática das
preocupações do grupo modernista. Da pintura francesa, especialmente das "paisagens animadas" de
Léger, Tarsila retira a imagem da máquina como ícone da sociedade industrial e moderna. As
engrenagens produzem efeito estético preciso, fornecendo uma linguagem aos trabalhos: seus contornos,
cores e planos modulados introduzem movimento às telas, como em E.F.C.B., 1924 e A Gare, 1925. A
essa primeira fase "pau-brasil", caracterizada pelas paisagens nativas e figurações líricas, segue-se um
curto período antropofágico, 1927-1929, que eclode com Abaporu, 1928. A redução de cores e de
elementos, as imagens oníricas e a atmosfera surrealista (por exemplo, Urutu, O Touro e O Sono, de
1928) marcam os traços essenciais desse momento. A viagem à URSS, em 1931, está na origem de uma
guinada social na obra de Tarsila (Operários, 1933), que coincide com a inflexão nacionalista do período,
exemplarmente representada por Candido Portinari. Portinari pode ser tomado como expressão típica do
modernismo de 1930. À pesquisa de temas nacionais e ao forte acento social e político dos trabalhos
associam-se o cubismo de Picasso, o muralismo mexicano e a Escola de Paris (entre outros, Mestiço,
1934, Mulher com Criança, 1938 e O Lavrador de Café, 1939). Lasar Segall, formado no léxico
expressionista alemão, aproxima-se dos modernistas em 1923, quando se instala no país. Parte de sua
obra, ampla e diversificada, registra a paisagem e as figuras locais em sintonia com as preocupações
modernistas (Mulato 1, 1924, O Bebedouro e Bananal, 1927).
Ainda que o termo modernismo remeta diretamente à produção realizada sob a égide de 1922 - na qual
se incluem também os nomes de Vicente do Rego Monteiro, Antonio Gomide, John Graz e Zina Aita - a
produção moderna no país deve ser pensada em chave ampliada, incluindo obras anteriores à década de
1920 - as de Eliseu Visconti e Castagneto, por exemplo -, e pesquisas que passaram ao largo da Semana
de Arte Moderna, como as dos artistas ligados ao Grupo Santa Helena (Francisco Rebolo, Alfredo Volpi,
Clóvis Graciano etc.).