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Modernismo (1922-1960)

Índice

Referências históricas
Primeira fase Modernista no Brasil (1922-1930)
Segunda fase Modernista no Brasil - (1930-1945)
Segunda fase Modernista no Brasil (1930-1945) - Prosa
Terceira fase Modernista no Brasil (1945- +/- 1960)
"Todo este sangue de mil raças / corre em minhas veias / sou
brasileiro / mas do Brasil sem colarinho / do Brasil negro / do Brasil
índio."
--Sérgio Milliet

Iniciou-se no Brasil com a SAM de 1922. Mas nem todos os participantes da Semana
eram modernistas: o pré-modernista Graça Aranha foi um dos oradores. Apesar de não
ter sido dominante no começo, como atestam as vaias da platéia da época, este estilo,
com o tempo, suplantou os anteriores. Era marcado por uma liberdade de estilo e
aproximação da linguagem com a linguagem falada; os de primeira fase eram
especialmente radicais quanto a isto.

Didaticamente, divide-se o Modernismo em três fases: a primeira fase, mais radical e


fortemente oposta a tudo que foi anterior, cheia de irreverência e escândalo; uma
segunda mais amena, que formou grandes romancistas e poetas; e uma terceira, também
chamada Pós-Modernismo por vários autores, que se opunha de certo modo a primeira e
era por isso ridicularizada com o apelido de neoparnasianismo.

Referências históricas
• Início do século XX: apogeu da Belle Époque. O burguês comportado, tranqüilo,
contando seu lucro. Capitalismo monetário. Industrialização e Neocolonialismo.
• Reivindicações de massa. Greves e turbulências sociais. Socialismo ameaça.
• Progresso científico: eletricidade. Motor a combustão: automóvel e avião.
• Concreto armado: “arranha-céu”. Telefone, telégrafo. Mundo da máquina, da
informação, da velocidade.
• Primeira Guerra Mundial e Revolução Russa.
• Abolir todas as regras. O passado é responsável. O passado, sem perfil,
impessoal. Eliminar o passado.
• Arte Moderna. Inquietação. Nada de modelos a seguir. Recomeçar. Rever.
Reeducar. Chocar. Buscar o novo: multiplicidade e velocidade, originalidade e
incompreensão, autenticidade e novidade.
• Vanguarda - estar à frente, repudiar o passado e sua arte. Abaixo o padrão
cultural vigente.
Primeira fase Modernista no Brasil (1922-1930)
Caracteriza-se por ser uma tentativa de definir e marcar posições. Período rico em
manifestos e revistas de vida efêmera.

Um mês depois da SAM, a política vive dois momentos importantes: eleições para
Presidência da República e congresso (RJ) para fundação do Partido Comunista do
Brasil. Ainda no campo da política, surge em 1926 o Partido Democrático que teve
entre seus fundadores Mário de Andrade.

É a fase mais radical justamente em conseqüência da necessidade de definições e do


rompimento de todas as estruturas do passado. Caráter anárquico e forte sentido
destruidor.

Principais autores desta fase: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira,
Antônio de Alcântara Machado, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de
Almeida e Plínio Salgado.

Características

• busca do moderno, original e polêmico


• nacionalismo em suas múltiplas facetas
• volta às origens e valorização do índio verdadeiramente brasileiro
• “língua brasileira” - falada pelo povo nas ruas
• paródias - tentativa de repensar a história e a literatura brasileiras

A postura nacionalista apresenta-se em duas vertentes:

• nacionalismo crítico, consciente, de denúncia da realidade, identificado


politicamente com as esquerdas.
• nacionalismo ufanista, utópico, exagerado, identificado com as correntes de
extrema direita.

Manifestos e Revistas

Revista Klaxon — Mensário de Arte Moderna (1922-1923)

Recebe este nome, pois klaxon era o termo usado para designar a buzina externa dos
automóveis. Primeiro periódico modernista, é conseqüência das agitações em torno da
SAM. Inovadora em todos os sentidos: gráfico, existência de publicidade, oposição
entre o velho e o novo.

“— Klaxon sabe que o progresso existe. Por isso, sem renegar o passado, caminha para
diante, sempre, sempre.”

Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924-1925)

Escrito por Oswald e publicado inicialmente no Correioda Manhã. Em 1925, é


publicado como abertura do livro de poesias Pau-Brasil de Oswald. Apresenta uma
proposta de literatura vinculada à realidade brasileira, a partir de uma redescoberta do
Brasil.

“— A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela sob
o azul cabralino, são fatos estéticos.”

“— A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição


milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.”

A Revista (1925-1926)

Responsável pela divulgação dos ideais modernistas em MG. Teve apenas três números
e contava com Drummond como um de seus redatores.

Verde-Amarelismo (1926-1929)

É uma resposta ao nacionalismo do Pau-Brasil. Grupo formado por Plínio Salgado,


Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo. Criticavam o
“nacionalismo afrancesado” de Oswald. Sua proposta era de um nacionalismo
primitivista, ufanista, identificado com o fascismo, evoluindo para o Integralismo de
Plínio Salgado (década de 30). Idolatria do tupi e a anta é eleita símbolo nacional. Em
maio de 1929, o grupo verde-amarelista publica o manifesto “Nhengaçu Verde-Amarelo
— Manifesto do Verde-Amarelismo ou da Escola da Anta”.

Manifesto Regionalista de 1926

1925 e 1930 é um período marcado pela difusão do Modernismo pelos estados


brasileiros. Nesse sentido, o Centro Regionalista do Nordeste (Recife) busca
desenvolver o sentimento de unidade do Nordeste nos novos moldes modernistas.
Propõem trabalhar em favor dos interesses da região, além de promover conferências,
exposições de arte, congressos etc. Para tanto, editaram uma revista. Vale ressaltar que
o regionalismo nordestino conta com Graciliano Ramos, José Lins do Rego, José
Américo de Almeida, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e João Cabral - na 2ª fase
modernista.

Revista Antropofagia (1928-1929)

Contou com duas fases (dentições): a primeira com 10 números (1928 e 1929) direção
Antônio Alcântara Machado e gerência de Raul Bopp; a segunda foi publicada
semanalmente em 16 números no jornal Diário de São Paulo (1929) e seu “açougueiro”
(secretário) era Geraldo Ferraz. É uma nova etapa do nacionalismo Pau-Brasil e
resposta ao grupo Verde-amarelismo. A origem do nome movimento esta na tela
“Abaporu” de Tarsila do Amaral.

1ª fase - inicia-se com o polêmico manifesto de Oswald e conta com Alcântara


Machado, Mário de Andrade (2º número publicou um capítulo de Macunaíma), Carlos
Drummons (3º número publicou a poesia “No meio do vaminho”); além de desenhos de
Tarsila, artigos em favor da língua tupi de Plínio Salgado e poesias de Guilherme de
Almeida.
2ª fase - mais definida ideologicamente, com ruptura de Oswald e Mário de Andrade.
Estão nessa segunda fase Oswald, Bopp, Geraldo Ferraz, Oswaldo Costa, Tarsila,
Patrícia Galvão (Pagu). Os alvos das críticas (mordidas) são Mário de Andrade,
Alcântara Machado, Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia e Plínio
Salgado.

“SÓ A ANTROPOFAGIA nos une, Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. /


Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os
coletivismos. De todas as religiões. / De todos os tratados de paz. / Tupi or not tupi, that
is the question.” (Manifesto Antropófago)

“A nossa independência ainda não fo proclamada. Frase típica de D. João VI: — Meu
filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a
dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da
Fonte.” (Revista de Antropofagia, nº 1)

Outras Revistas

• Revista Verde de Cataguazes (MG - 1927-1928)


• revista Estética (RJ - 1924)
• revista Terra Roxa e outras Terras (SP - 1926, colaborador Mário de Andrade)
• revista Festa (RJ - 1927, Cecília Meireles como colaboradora)

Autores

Alcântara Machado (1901-1935)

Foi um importante escritor modernista da primeira fase, apesar de não ter participado da
SAM, integrando o grupo somente em 25. Produziu prosa ficcional, renovando sua
estrutura para construir histórias curtas e do cotidiano. Privilegia o imigrante,
principalmente o italiano, e sua fusão, ampliando o universo cultural de São Paulo.

Apesar de não ser tão radical como os outros modernistas contemporâneos seus, usava
uma linguagem em seus contos que se aproximava muito do falado. Seus personagens
do livro de contos Brás, Bexiga e Barra Funda falavam uma mistura de italiano e
português. Retrata uma realidade citadina e realista, num tom divertido, enfatizando a
vida difícil dos imigrantes e sua ascensão.

Nunca chegou a completar seu romance Mana Maria, que foi publicado um ano depois
de sua prematura morte. Pouco antes do fim da vida, rompeu relações com Oswald de
Andrade por motivos ideológicos, ao mesmo tempo em que sua amizade com Mário de
Andrade se estreitava.

Brás, Bexiga e Barra Funda - contos com fragmentação de episódios, até registro de
cenas sem interesse, mapeamento de São Paulo, exótico nos nomes das personagens,
menção a produtos de consumo da época, gírias esquecidas etc.

“Ali na Rua Oriente a ralé quando muito andava de bonde. De automóvel ou carro só
mesmo em dia de enterro ou casamento. Por isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de
realização muito difícil. Um sonho. (...) Gaetaninho saiu correndo. Antes de alcançar a
bola um bonde o pegou. Pegou e matou. / No bonde vinha o pai do Gaetaninho. / A
gurizada assustada espalhou a notícia na noite. / — Sabe o Gaetaninho? / — Que é que
tem? / — Amassou o bonde! / (...) às dezesseis horas do dia seguinte saiu um enterro da
Rua do Oriente e Gaetaninho não ia na boléia de nenhum dos carros do
acompanhamento. Ia no da frente dentro de um caixão fechado com flores pobres por
cima.”

Laranja da China - luso-brasileiro toma o lugar do italiano, ainda na linha do cotidiano


em suas minúcias. Todos os contos apresentam uma espécie de paródia desde o título: O
Revoltado Robespierre (Sr. Natanael Robespierre dos Anjos).

Obras principais:

• Pathé Baby (1926)


• Brás, Bexiga e Barra Funda (1927)
• Laranja da China (1928)
• Anchieta na Capitania de São Vicente (1928)
• Mana Maria (romance inacabado e publicado pós-morte 1936)
• Cavaquinho e Saxofone (coletânea de artigos e estudos, 1940)

Escreveu para Terra Roxa e Outras Terras (um de seus fundadores), para a Revista
Antropofagia e para a Revista Nova (que dirigiu).

Cassiano Ricardo (1895-1974)

Paulista, Cassiano deixou uma obra marcada pelas tendências de seu tempo sem,
entretanto, deixar um estilo próprio. Iniciou sua carreira com Dentro da Noite (1915)
neo-simbolismta, passou por tendências parnasianas em A Frauta de Pã (1917, para
integrar-se ao Verde-amarelismo com Vamos Caçar Papagaios (1926). Com o
formalismo de 45, torna-se meditativo e melancólico. Em 1960, entra para a corrida
vanguardista com experimentalismo e franca adesão ao Concretismo e à Poesia Praxis.

Obras principais:

• Poesia:
o Dentro da Noite (1915)
o A Frauta de Pã (1917)
o Vamos Caçar Papagaios (1926)
o Martim-Cererê (1928)
o Deixa Estar, Jacaré (1931)
o O Sangue das Horas (1943)
o Um Dia depois do Outro (1947)
o A Face Perdida (1950)
o Poemas Murais (1950)
o Sonetos (1952)
o João Torto e A Fábula (1956)
o Arranha-Céu de Vidro (1956)
o Poesias Completas (1957)
o Montanha Russa (1960)
o A Difícil Manhã (1960)
o Jeremias sem Chorar (1964)
• Prosa:
o O Brasil no Original (1936)
o O Negro na Bandeira (1938)
o A Academia e a Prosa Moderna (1939)
o Pedro Luís Visto Pelos Modernos (1939)
o Marcha para o Oeste (1943)
o A Academia e a Língua Brasileira (1943)
o A Poesia na Técnica do Romance (1953)
o O Homem Cordial (1959)
o 22 e a Poesia de Hoje (1962)
o Reflexos sobre a Poética de Vanguarda (1966)

Guilherme de Almeida (1890-1969)

Sempre se ajustou aos padrões e foi disciplinado, com mestria sobre a língua e seus
dispositivos técnicos. Exímio poeta que pode ter sua obra dividida em três etapas:

• Pré-modernista - Nós (só de sonetos, 1917), A Dança das Horas (1919),


Messidor (contendo os dois anteriores mais A Suave Colheita, 1919), Livro de
Horas de Sóror Dolorosa (1920) e Era Uma Vez..., (1922) - influência
parnasiano-simbolista, habilidoso artista do verso
• Modernismo - A Frauta que Eu Perdi (subtítulo Canções Gregas, 1924) Meu
(1925) e Raça (1925) - versos livres, sonoridade e ressurgir de algumas rimas.
Raça (rapsódia da mestiçagem brasileira) pertence ao nacionalismo estético com
nomeação metonímica (português = velho cavaleiro, índio reluz em cores e preto
= samba), versos grandes, frases nominais e vocábulos mais raros.
• Pós-Modernismo - Você (1930), Acaso (1938), Poesia Vária (1947), Camoniana
(1956) e Pequeno Cancioneiro (1956) - retorno ao ponto de origem: versos
metrificados, rimas raras, sonetos e sentimentalismo. Apanágio da técnica,
reconstitui a maneira de Camões e dos Cancioneiros

“Há uma encruzilhada de três estradas sob a minha cruz de estrelas


azuis: / três caminhos se cruzam — um branco, um verde e um preto
— três hastes da grande cruz. / E o branco que veio do norte, e o verde
que veio da terra, e o preto que veio do leste. / derivam num novo
caminho, completam a cruz unidos num só, fundidos num vértice. /
Fusão ardente na fornalha tropical de barro vermelho, cozido,
estalando ao calor modorrento dos sóis imutáveis: (...)”
--Minha Cruz!, in Raça

Manuel Bandeira (1886-1968)

É uma das figuras mais importantes da poesia brasileira e um dos iniciadores do


Modernismo. Do penumbrismo pós-simbolista de A Cinza das Horas às experiências
concretas da década de 60 de Composições e Ponteios, a poesia de Bandeira destaca-se
pela consciência técnica com que manipulou o verso livre. Participa indiretamente da
SAM, quando Ronald de Carvalho declama seu poema Sapos.
Sempre pensando que morreria cedo (tuberculoso), acabou vivendo muito e marcando a
literatura brasileira. Morte e infância são as molas propulsoras de sua obra. Ironizava o
desânimo provocado pela doença, mas em Cinza das Horas apresenta melancolia e
sofrimento por causa da “dama branca”. Além de ser um poeta fabuloso, também foi
ensaísta, cronista e tradutor. O próprio autor define sua poesia como a do "gosto
humilde da tristeza".

“Febre, hemoptise, dispnéia, e suores noturnos. / A vida inteira que


podia ter sido e que não foi. / Tosse, tosse, tosse. / Mandou chamar o
médico: / — Diga trinta e três. / — Trinta e três... trinta e três... trinta
e três... / — Respire. (...) / — O senhor tem uma escavação no pulmão
esquerdo e o pulmão direito infiltrado. / — Então, doutor, não é
possível tentar o pneumotórax? / — Não. A única coisa a fazer e tocar
um tango argentino.”
--Pneumotórax

Ritmo Absoluto e Libertinagem são frutos de um processo de integração com o Rio. Sua
poesia contagia-se de uma visão erótico-sentimental, resultante da forma de encarar o
amor a partir da experiência do corpo. Libertinagem usa lirismo solto, repleto de cenas
do cotidiano, com verdadeiras aulas de solidariedade e ternura.

“Irene preta / Irene boa / Irene sempre de bom humor. / Imagino Irene
entrando no céu: / — Licença, meu branco! / E São Pedro bonachão: /
— Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.”
--Irene no Céu, in Libertinagem

Em Estrela da Manhã, atinge a plenitude de seu lirismo libertário, mostrando que tudo
pode ser matéria poética: um clássico esquecido, uma frase de criança, uma notícia de
jornal, a casa em que morava e até mesmo uma propaganda de três sabonetes (Baladas
das três mulheres do sabonete Araxá).

Obras principais:

• Poesia:
o A Cinza das Horas (1917)
o Carnaval (1919)
o O Ritmo Dissoluto (1924)
o Libertinagem (1930)
o Estrela da Manhã (1936)
o Lira dos Cinquent’Anos (1940)
o Belo, Belo (1948)
o Mafuá do Malungo (1948)
o Opus 10 (1952)
o Estrela da Tarde (1963)
o Estrela da Vida Inteira (1966)
• Prosa:
o Crônicas da Província do Brasil (1937)
o Guia de Ouro Preto (1938)
o Noções de História das Literaturas (1940)
o Literatura Hispano-Americana (1949)
o Gonçalves Dias (1952)
o Itinerário de Pasárgada (1954)
o De Poetas e de Poesia (1954)
o Flauta de papel (1957)
o Andorinha, Andorinha (seleção de Carlos Drummond de Andrade, 1966)
o Colóquio Unilateralmente Sentimental (1968)

Mário de Andrade (1893-1945)

Um dos organizadores do Modernismo e da SAM, foi o que apresentou projeto mais


consistente de renovação. Começou escrevendo críticas de arte e poesia (ainda
parnasiana) com o pseudônimo de Mário Sobral. Rompeu com o Parnasianismo e o
passado com Paulicéia Desvairada e a Semana, da qual participou ativamente.

Injetou em tudo que fez um senso de problemático brasileirismo, daí sua investida no
folclore. De jeito simples, sua coloquialidade desarticulou o espírito nacional de uma
montanha de preconceitos arcaicos. Lutou sempre por uma literatura brasileira e com
temas brasileiros.

“O passado é lição para se meditar e não para se reproduzir” - afirmava assim a


necessidade de um presente novo, inventivo. Acreditava na arte como instrumento de
debate e de combate, comportamento evidenciado em Paulicéia Desvairada. Esta obra
oferece uma panorâmica da cidade e de sua vida, ao criticar a mania obsessiva de posse,
aqui também satiriza a incompetência dos administradores.

“Oh! Minhas alucinações” / Vi os deputados, chapéus altos / sob o


pálio vesperal, feito de mangas-rosas, / saírem de mãos dadas do
Congresso... / Como um possesso num acesso em meus aplausos / aos
salvadores do meu estado amado! (...) / Mas os deputados, chapéus
altos / Mudavam-se pouco a pouco em cabras! / Crescem-lhes os
cornos, decemlhes as barbichas... (...) / se punham a pastar / rente do
palácio do senhor presidente... / Oh! Minhas alucinações!”
--O rebanho, in Paulicéia Desvairada

Sua faceta de teórico de estética literária pode ser avaliado em A Escrava que não é
Isaura, onde expõe pequenos e paliativos remédios da farmacopéia didático-técnico-
poética do Modernismo.

“Eu creio que os modernistas da Semana de Arte Moderna não


devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição.
O homem atravessa uma fase integralmente política da humanidade.
Nunca jamais ele foi tão ‘momentâneo’ como agora.”
--O Movimento Modernista - conferência

Clã do Jabuti resulta da viagem de descoberta do Brasil, numa aproximação com o


folclore como fonte de criação poética. Apoiando-se nas tradições populares brasileiras,
utiliza a toada, o coco, a moda, o samba para sustentar seus poemas.
Seu primeiro romance é Amar, Verbo Intransitivo que penetra na estrutura familiar da
burguesia paulistana, sua moral e seus preconceitos. Aborda, ao mesmo tempo, os
sonhos e a adaptação dos imigrantes na agitada Paulicéia.

Já em Macunaíma, Herói sem nenhum caráter, cria um anti-herói com um perfil


indolente, brigão, covarde, sincero, mentiroso, trabalhador, preguiçoso, malandro, otário
- multifacetado. Inspirando-se no folclore indígena da Amazônia, mesclando a lendas e
tradições das mais variadas regiões do Brasil, constrói-se um herói que encarna o
homem latino-americano. Macunaíma é uma figura totalmente fora dos esquemas
tradicionais da prosa de ficção, uma aglutinação de alguns possíveis tipos brasileiros.
Sempre na defesa, Macunaíma começa comendo terra e acaba sendo comido pela terra.

Renate de Males já evidencia certo distanciamento em relação ao desvairismo inicial.


Em Contos de Belazarte, manifesta acentuada preocupação com uma análise
psicológico-social das relações familiares, reveladas através de uma linguagem
inovadora (sintático e lexicalmente).

Na obra Lira Paulistana, Mário faz uma interpretação poética de seu destino e
integração com a cidade de São Paulo. O reflexo do eu na transparência do rio Tietê
mostra as águas do rio como se fosse um espelho mágico.

Inspiração - “São Paulo! comoção de minha vida ... / Os meus amores


são flores feitas de original... / Arlequinal!... Traje de losangos...
Cinza e ouro... / Luz e bruma... Forno e inverno morno... / Elegâncias
sutis sem escândalos, sem ciúmes... / Perfumes de Paris... Arys!”
--in Poesias Completas

O Banquete é um explosivo depoimento sobre as linhas mestras do pensamento estético


de Mário de Andrade, além de constituir uma sátira sobre certos comportamentos
típicos no tempo da ditadura estadonovista.

"Pouca saúde e muita saúva os males do Brasil são."

--Macunaíma

Obras Principais

• Poesia
o Há uma Gota de Sangue em casa Poema (1917)
o Paulicéia Desvairada (1922)
o Losango Cáqui (1926)
o Clã do Jabuti (1927)
o Remate de males (1930)
o Poesias (1941)
o Lira Paulistana (1946)
o O Carro da Miséria (1946)
o Poesias Completas (1955)
• Conto
o Primeiro Andar (1926)
o Balazarte (1934)
o Contos Novos (1946)
• Romance
o Amar, Verbo Intransitivo (1927)
o Macunaíma (1928)
• Ensaio
o A Escrava que não é Isaura (1925)
o O Aleijadinho e Álvares de Azevedo (1935)
o O Baile das Quatro Artes (1943)
o Aspectos da Literatura Brasileira (1943)
o O Empalhador de Passarinhos (1944)
o O Banquete (1978)
• Crônicas
o Os Filhos da Candinha (1943)
• Musicologia e Folclore
o Ensaio sobre Música Brasileira (1928)
o Compêndio de História da Música (1929)
o Modinhas e Lundus Imperiais (1930)
o Música, Doce Música (1933)
o Namoros com a Medicina (1939)
o Música do Brasil (1941)
o Danças Dramáticas do Brasil (1959)
o Música de Feitiçaria (1963)
• História da Arte
o Padre Jesuíno de Monte Melo (1946)
o outros folhetos reunidos nas Obras Completas

Oswald de Andrade (1890-1853)

Foi poeta, romancista, ensaísta e teatrólogo. Figura de muito destaque no Modernismo


Brasileiro, ele trouxe de sua viagem a Europa o Futurismo. Formado em Direito,
Oswald era um playboy extravagante: usa luvas xadrez e tinha um Cadillac verde
apenas porque este tinha cinzeiro, para citar apenas algumas de suas muitas
extravagâncias. Amigo de Mário de Andrade, era seu oposto: milionário, extrovertido,
mulherengo (casou-se 5 vezes, as mais célebres sendo as duas primeiras esposas: Tarsila
do Amaral e Patrícia "Pagu" Galvão).

“Viajei, fiquei pobre, fiquei rico, casei, enviuvei, casei, divorciei,


viajei, casei... já disse que sou conjugal, gremial e ordeiro. O que não
me impediu de ter brigado diversas vezes à portuguesa e tomado parte
em algumas batalhas campais.”
--nota autobiográfica - Diário de Notícias

Foi um dos principais artistas da Semana de Arte Moderna e lançou o Movimento Pau-
Brasil e a Antropofagia, corrente que pretendia devorar a cultura européia e brasileira da
época e criar uma verdadeira cultura brasileira. Fazendeiro de café, perdeu tudo e foi à
falência em 1929 com o crash da Bolsa de Valores. Militante esquerdista, passou a
divulgar o Comunismo junto com Pagu em 1931, mas desligou-se do Partido em 1945.
Sua obra é marcada por irreverência, coloquialismo, nacionalismo, exercício de
demolição e crítica. Incomodar os acomodados, estimular o leitor através de palavras de
coragem eram constantes preocupações desse autor.

“A situação ‘revolucionária’ desta bosta mental sul-americana


apresentava-se assim: o contrário do burguês não era o proletário —
era o boêmio! As massas, ignoradas no território e como hoje, sob a
completa devassidão econômica dos políticos e dos ricos. Os
intelectuais brincando de roda.”
--prefácio de Serafim Ponte Grande

Depois de participar da SAM, viaja à Europa e o diário de bordo destas viagens é o


romance cubista Memórias Sentimentais de João Miramar, que os críticos chamaram de
prosa telegráfica. Este romance-caleidoscópio inaugura, no nível da prosa, a tendência
antinormativa da literatura contemporânea, rompendo os modelos realistas. Seus 163
fragmentos registram a trajetória do brasileiro rico de todos os tempos: Europa -
casamento - amante - desquite - vida literária - apertos financeiros - ...

“Beiramávamos em auto pelo espelho de aluguel arborizado das


avenidas marinhas sem sol. / Losango, tênues de ouro
bandeiranacionalizavam o verde dos montes interiores. / No outro lado
azul da baía a Serra dos Órgãos serrava. / Barcos. E o passado voltava
na brisa de baforadas gostosas. Tolah ia vinha derrapava entrava em
túneis. / Copacabana em um duelo arrepiado na luminosa noite varada
pelas frestas da cidade.”
--66. Botafogo, in Memórias Sentimentais de João Miramar

Em Paris, deslumbrado, descobriu a própria Terra: tinha nventado a poesia de


exportação — o Pau-Brasil. Poemas-pílilas, onde mistura-se a linguagem antiga dos
cronistas e jesuítas com o modo de falar atual. Com essa mistura, tempera seus poemas
com sua fina ironia.

relicácio - “No baile da Corte / Foi o Conde d’Eu quem disse / Pra
Dona Benvinda / Que farinha de Suruí / Pinga de Parati / Fumo de
Baependi / É comê bebê pitá e caí”
--Pau-Brasil

O momento esteticamente mais radical do Modernismo foi a Antropofagia. Invocando a


cultura e os costumes primitivos do Brasil, este movimento afirma a necessidade de
sermos um povo antropófago, para não nos atrofiarmos culturalmente. Deve-se filtrar as
contribuições estrangeiras para alcançar uma síntese transformadora.

Com a crise econômica de 1929, Oswald passa por difíceis condições financeiras e se vê
obrigado a conjugar o verbo “crakar”

“Eu empobreço de repente / Tu enriqueces por minha causa / Ele azula


para o sertão / Nós entramos em concordata / Vós protestais por
preferência / Eles escafedem a massa / Sê pirata / Sede trouxas /
Abrindo o pala / Pessoal sarado / Oxalá eu tivesse sabido que esse
verbo era irrregular.”
--Memórias Sentimentais de João Miramar

Falido economicamente, Oswald vai se pendurar nos “reis da vela”, os agiotas do beco
do escarro (zona bancária de SP). Com isso, o autor vai recolhendo material para sua
peça O Rei da Vela.

Serafim Ponte Grande é o romance que testemunha a fase de identidade ideológica com
a esquerda. Serafim encarna o mito do herói latino-americano individual que parte como
um louco em busca da libertação e da utopia. . Oswald projeta em Serafim o herói que
vai remar sempre contra a corrente do inconformismo, procurando romper, através da
crítica, do sarcasmo e da ironia as rédeas sufocantes do ser burguês. Por ser o sonhe de
Serafim individual, acaba frustrando-se e, depois de aprender as duras realidades da
vida, torna-se um irrecuperável marginal que cai fora do sistema.

“— Tudo é tempo e contra-tempo! E o tempo é eterno. Eu sou uma


forma vitoriosa do tempo. Em luta seletiva, antropofágica. Com outras
formas do tempo: moscas, eletro-éticas, cataclismas, polícias e
marimbondos! / Ó criadores das elevações ertificiais do destino eu vos
digo! A felicidade do homem é uma felicidade guerreira. Tenho dito.
Viva a rapaziada! O gênio é uma longa besteira!”
--Serafim Ponte Grande

Morreu sofrendo dificuldades de saúde e financeiras, mas sem perder o contato com os
artistas da época.

epitáfio - “Eu sou redondo, redondo / Redondo, redondo eu sei / Eu sou uma
redond’ilha / Das mulheres que beijei / Vou falecer do oh! amor / Das mulheres de
minh’ilha / Minha caveira rirá ah! ah! ah! / Pensando na redondilha”

Obras principais:

• Poesia
o Pau-Brasil (1925)
o Primeiro Caderno de Poesia do Aluno Oswald de Andrade (1927)
o Poesias Reunidas (edição póstuma)
• Romance
o Os Condenados (I - Alma, II - Estrela do Absinto, III - A escada, 1922 a
1934)
o Memórias Sentimentais de João Miramar (1924)
o Serafim Ponte Grande (1933)
o Marco Zero (I - A Revolução Melancólica, II - Chão, 1943 a 1946)
• Manifestos, teses e ensaios
o Manifesto Pau-Brasil (1925)
o Manifesto Antropófago (1928)
o A Arcádia e a Inconfidência (1945)
o Ponta de Lança (1945)
o A Crise da Filosofia Messiânica (1946)
o A Marcha das Utopias (1966)
• Teatro
o O Homem e o Cavalo (1934)
o O Rei da Vela (1937)
o A Morta (1937)
o O Rei Floquinhos (Infantil, 1953)
• Memórias
o Um Homem sem Profissão (1954)
• Crônicas
o Telefonemas (edição póstuma)

Textos

Evocação do Recife

Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais.
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois — Recife das revolu
ções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância (...)
--Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada


Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada


Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica


Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada.
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste


Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
--Manuel Bandeira
pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
--Fragmentos do livro de poesias Pau-Brasil, de Oswald de Andrade
erro de português

Quando o português chegou


Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
o português.
--Fragmentos do livro de poesias Pau-Brasil, de Oswald de Andrade
Mário de Andrade

Eu insulto o burguês! O burguês níquel,


o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros!
que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os ‘Printemps’ com as unhas!
Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas! (...)

Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!


Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo1 Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burguês!...


--Fragmentos de Ode ao Burguês

Segunda fase Modernista no Brasil - (1930-1945)


Estende-se de 1930 a 1945, sendo um período rico na produção poética e também na
prosa. O universo temático se amplia e os artistas passam a preocupar-se mais com o
destino dos homens, o estar-no-mundo.

“A segunda fase colheu os resultados da precedente, substituindo o


caráter destruidor pela intenção construtiva, “pela recomposição de
valores e configuração da nova ordem estética”.
--Cassiano Ricardo

Durante algum certo tempo, a poesia das gerações de 22 e 30 conviveram. Não se trata,
portanto, de uma sucessão brusca. A maioria dos poetas de 30 absorveria parte da
experiência de 22: liberdade temática, gosto da expressão atualizada ou inventiva, verso
livre, anti-academicismo.

A poesia prossegue a tarefa de purificação de meios e formas iniciada antes, ampliando


a temática na direção da inquietação filosófica e religiosa, com Vinícius de Moraes,
Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, Murilo Mendes, Carlos Drummond de
Andrade, ao tempo em que a prosa alargava a sua área de interesse para incluir
preocupações novas de ordem política, social e econômica, humana e espiritual. À piada
sucedeu a gravidade de espírito, a seriedade da alma, propósitos e meios. Uma geração
grave, preocupada com o destino do homem e com as dores do mundo, pelos quais se
considerava responsável, deu à época uma atividade excepcional.

O humor quase piadístico de Drummond receberia influencias de Mário e Oswald de


Andrade. Vinícius, Cecília, Jorge de Lima e Murilo Mendes apresentam certo
espiritualismo que vinha do livro de Mário Há uma gota de Sangue em cada Poema
(1917).
A geração de 30 não precisou ser combativa como a de 22. Eles já encontraram uma
linguagem poética modernista estruturada. Passaram então a aprimorá-la e extrair dela
novas variações, numa maior estabilidade.

O Modernismo já estava dinamicamente incorporado `as praticas literárias brasileiras,


sendo assim os modernistas de 30 estão mais voltados ao drama do mundo e ao
desconcerto do capitalismo.

"Este é tempo de partido, / tempo de homens partidos. (...) Os homens


pedem carne. Fogo. Sapatos. / As leis ano bastam. Os lírios ano
nascem da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se / na pedra."
--Carlos Drummond de Andrade, in Nosso Tempo

Características

• Repensar a historia nacional com humor e ironia - " Em outubro de 1930 / Nós
fizemos — que animação! — / Um pic-nic com carabinas." (Festa Familiar -
Murilo Mendes)
• Verso livre e poesia sintética - " Stop. / A vida parou / ou foi o automóvel?"
(Cota Zero, Carlos Drummond de Andrade)
• Nova postura temática - questionar mais a realidade e a si mesmo enquanto
indivíduo
• Tentativa de interpretar o estar-no-mundo e seu papel de poeta
• Literatura mais construtiva e mais politizada.
• Surge uma corrente mais voltada para o espiritualismo e o intimismo (Cecília,
Murilo Mendes, Jorge de Lima e Vinícius)
• Aprofundamento das relações do eu com o mundo
• Consciência da fragilidade do eu - "Tenho apenas duas mãos / e o sentimento do
mundo" (Carlos Drummond de Andrade - Sentimento do Mundo)
• Perspectiva única para enfrentar os tempos difíceis é a união, as soluções
coletivas - " O presente é tão grande, ano nos afastemos, / Ano nos afastemos
muito, vamos de mãos dadas." (Carlos Drummond de Andrade - Mãos dadas)

Autores Principais - Poesia

Carlos Drummond de Andrade

Mineiro, trabalha lecionando em Itabira e, em 45, trabalha na diretoria de um jornal


comunista. Maior nome da poesia contemporânea, registrando a realidade cotidiana e os
acontecimentos da época.

Ironia fina, lucidez, e calma, traduzidos numa linguagem flexível, rica, mas rica de
dimensões humanas.

Poesias refletem os problemas do mundo e do ser humano diante dos regimes


totalitários, da 2a GM e da guerra fria.

Poesia de Drummond apresenta uns momentos de esperança, mas prevalece a descrença


diante do rumo dos acontecimentos.
Nega formas de fuga da realidade, volta-se para o momento presente.

"Ano serei o poeta de um mundo caduco. / Também ano cantarei o


mundo futuro. / Estou preso `a vida e olho meus companheiros. (...) O
tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, / a
vida presente."
--Mãos Dadas

A partir de Lição das Coisas (1962), há maior preocupação maior com objetos,
valorizando mais os aspectos visuais e sonoros - tendência concreto-formalista.

Carlos Drummond de Andrade propõe a divisão temática de sua obra, numa seleção que
faz para sua Antologia Poética:

1. o indivíduo
2. a terra natal
3. a família
4. os amigos
5. o choque social
6. o conhecimento amoroso
7. a própria poesia
8. exercícios lúdicos
9. uma visão, ou tentativa de, da existência

Obras:

• Poesia:
o Alguma Poesia (1930)
o Brejo das Almas (1934)
o Sentimento do Mundo (1940)
o Poesias (1942)
o A Rosa do Povo (1945)
o Poesia até agora (1948)
o Claro Enigma (1951)
o Viola de Bolso (1952)
o Fazendeiro do Ar e Poesia até Agora (1953)
o Viola de Bolso Novamente Encordoada (1955)
o Poemas (1959)
o A Vida Passada a Limpo (1959)
o Lição de Coisas (1962)
o Versiprosa (967)
o Boitempo (1968)
o Menino Antigo (1973)
o As Impurezas do Branco (1973)
o Discurso da Primavera e outras Sombras (1978)
• Prosa:
o Confissões de Minas (ensaios e crônicas, 1944)
o Contos de Aprendiz (1951)
o Passeios na Ilha (ensaios e crônicas, 1952)
o Fala, Amendoeira (1957)
o a Bolsa e a Vida (crônicas e poemas, 1962)
o Cadeira de Balanço (crônicas e poemas, 1970)
o O Poder Ultrajovem e mais 79 Textos em Prosa e Verso (1972)

Murilo Mendes (1902-1975)

Mineiro, que caminha das sátiras e poemas-piada, ao estilo oswaldiano, para uma poesia
religiosa, sem perder o contato com a realidade. Poeta modernista mais infuenciado pelo
Surrealismo europeu.

Guerra foi tema de diversos poemas seus. Seus textos caracterizam-se por novas formas
de expressão, e livre associação de imagens e conceitos.

A partir de Tempo e Eternidade (1935), parte para a poesia mística e religiosa. Dilema
entre poesia e Igreja, finito e infinito, material e espiritual, sem abandonar a dimensão
social.

"Eu amo minha família sobrenatural, / Aquela que ano herdei, /


Aquela que ama o Eterno. / São poetas, são musas, são iluminados /
Que vivem mirando os seus fins transcendentes. / Que vivem mirando
os seus fins transcendentes. / 'o mundo, minha família sobrenatural
ano te possuiu. / Minha angústia vive nela e com ela, / E eu formarei
poetas no futuro / `A sua imagem e semelhança. E todos ajuntando
novos membros ao corpo / De que Cristo Jesus é a cabeça / Irradiarão
as palavras do Eterno."
--communicantes

Também é poeta especulador, que usa a linguagem em busca de novos conceitos.

"O poema é texto? O poeta? / O poema é o texto + o poeta? / O poema


é o poeta - o texto? / O texto é o contexto do poeta / Ou o poeta do
contexto do texto? / O texto visível é o texto total / O antetexto e o
antitexto / Ou as ruínas do texto? / O texto abole / Cria / Ou restaura?"
--Texto de Consulta

Essa condição barroca de sua poesia associa-se a um trabalho das imagens visuais.
Empolgado com a beleza, afirmava que tudo era belo pois pertencia `a Criação. Só as
ações humanas justificavam o feio.

Consciência do caos, do mundo esfacelado, civilização decadente. Trabalho do poeta é


tentar ordenar esse caos.

" (...) A infância vem da eternidade. / Depois só a morte magnífica /


— Destruição da mordaça: / E talvez já' a tivesse entrevisto / Quando
brincavas com o pião / Ou quando desmontaste o besouro. Entre duas
eternidades / Balançam-se espantosas / Fome de amor e a música: /
Rude doçura / 'Ultima passagem livre. Só vemos o céu pelo avesso."
--Poesia de Liberdade
Para Murilo, a beleza é fundamental. Mulher, para Murilo, éigual a amor, abordada de
forma erótica.

"Tudo o que te rodeia e te serve


Aumenta a fascinação, o segredo
Teu véu se interpõe entre ti e meu corpo,
é a grade do meu cárcere. (...)
Tudo o que faz parte de ti — desde teus sapatos —
Está unido ao pecado e ao prazer,
`A teologia, ao sobrenatural."
--Em Pânico, in Antologia Poética

Obras : Poemas (1930), História do Brasil (1932), Tempo e Eternidade (com Jorge de
Lima, 1935), A Poesia em Pânico (1938), O Visionário (1941), As Metamorfoses
(1944), O Discípulo de Emaús (prosa, 1944), Mundo Enigma, (1945), Poesia Liberdade
(1947), Janela do Caos (1948), Contemplação de Ouro Preto (1954), Poesias (1959),
Tempo Espanhol (1959), Poliedro (1962), Idade do Serrote (Memórias, 1968),
Convergência (1972), Retratos Relâmpago (1973), Ipotesi (1977)

Jorge de Lima (1898-1953)

Alagoano ligado diretamente à política, estréia com a obra XVI Alexandrinos


fortemente influenciado pelo Parnasianismo, o que lhe deu o título de Príncipe dos
Poetas Alagoanos. Sua obra posteriormente chega a uma poesia social, paralela a uma
poesia religiosa.

Na poesia social apresenta-se a cor local, através do resgate da memória do autor de


menino branco com infância cheia de imagens de negros escravos e engenhos. Por
vezes, amplia a abordagem com denúncia das desigualdades sociais.

“A filha de Pai João tinha um peito de / Turina para os filhos de Ioiô


mamar: / Quando o peito secou a filha de Pai João / Também secou
agarrada num / Ferro de engomar. / A pele de Pai João ficou na ponta /
Dos chicotes. / A força de Pai João fìcou no cabo Da enxada e da
foice. / A mulher de Pai João o branco / A roubou para fazer
mucamas."
--Pai João

A partir de Tempo e Eternidade, há a preocupação da restauração da Poesia em Cristo.


Essa temática religiosa também está presente em A Túnica Inconsútil e Mira Coeli.

Tem ainda um poema épico à moda de Camões e Dante, usando 10 cantos para mostrar
o dilema barroco de um homem indeciso entre o material e o espiritual.

Mulher Proletária

Mulher proletária - única fábrica


que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.

Mulher proletária,
0 operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.
--Poesias, 1975

Obras:

• Poesia - XIV Alexandrinos (1914), O Mundo do Menino Impossível (1925),


Poemas (1927), Novos Poemas (1929), Poemas Escolhidos (1932), Tempo e
Eternidade (em colaboração com Murilo Mendes, 1935), Quatro Poemas Negros
(1937), A Túnica lnconsútil (1938), Poemas Negros (1947), Livro de Sonetos
(1949), Obra Poética (incluindo os anteriores e mais Anunciação e Encontro de
Mira-Celi), 1950), Invenção de Orfeu (1952)
• Romance - Salomão e as mulheres (1927), O Anjo (1934), Calunga (1935), A
Mulher Obscura (1939), Guerra Dentro do Beco (1950)
• Teatro - A Filha da Mãe D'Água, As Mãos, Ulisses
• Cinema - Os Retirantes (argumento de filme)

Cecília Meireles

Órfã, carioca, foi criada pela avó e fez Magistério e lecionou Literatura em várias
universidades.

Estréia com o livro Espectros (1919), participando da corrente espiritualista, sob a


influência dos poetas que formariam o grupo da revista Festa (neo-simbolista).

Suas principais características são sensibilidade forte, intimisno, introspecção, viagem


para dentro de si mesma e consciência da transitoriedade das coisas (tempo =
personagem principal). Para ela as realidades não são para se filosofar, são
inexplicáveis, basta vivê-las.

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje, / assim calmo, assim triste, assim
magro, / nem estes olhos tão vazios, / nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força, / tão paradas e frias e mortas; / eu
não tinha este coração / que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança, / tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida

a minha face?
--Flor de Poemas

Assim sua obra apresenta uma atmosfera de sonho, fantasia,em contraste com solidão e
padecimento. Linguagem simbólica, com imagens sugestivas e constantes apelos
sensoriais (metáforas, sinestesias, aliterações e assonâncias).

Rômulo rema

Rômulo rema no rio. / A romã dorme no ramo, / a romã rubra. (E o céu.


)
O remo abre o rio. / O rio murmura,
A romã rubra dorme / cheia de rubis. (E o céu.)
Rômulo rema no rio.
Abre-se a romã. / Abre-se a manhã.
Rolam rubis rubros do céu.
No rio, / Rômulo rema.
--Ou isto ou aquilo

Obras:

• Poesia : Espectros (1919), Nunca mais... e Poema dos Poemas (1923), Baladas
para EI-rei (1925), Viagem (1939), Vaga Música (1942), Mar Absoluto (1945),
Retrato Natural (1949), Ama em Leonoreta (1952), Doze Noturnos de Holanda e
o Aeronauta (1952) Romanceiro da Inconfidência (1953), Pequeno Oratório de
Santa Clara (1955) Pistóia, Cemiério Militar Brasileiro (1955) Canções (1956),
Romance de Santa Cecília (1957), A Rosa (1957), Metal Rosicler (1960),
Poemas Escritos na Índia (1962) Antologia Poética (1963) Solombra (1963), Ou
isto ou Aquilo (1965), Crônica Trovada da Cìdade de San Sebastian (1965)
Poemas Italianos (1968)
• Teatro : O Menino Atrasado (1966)
• Ficção : Olhinhos de Gato (s/d)
• Prosa poética : Giroflê, Giroflá (1956), Evocação Lírica de Lisboa (1948)
Eternidade de Israel (1959)
• Crônica : Escolha o seu Sonho (1964) Inéditos (1968)

Vinícius de Moraes

Carioca conhecido como Poetinha, participou também da MPB desde a Bossa-nova até
sua morte. Assim como Cecília, inicia sua carreira ligado ao neo-simbolismo da
corrente espiritualista e também a renovação católica de 30.

Vários de seus poemas apresentam tom bíblico, mas há, concomitantemente, um


sensualismo erótico. Essa dualidade acentua a contradição entre o prazer da carne e a
formação religiosa. Valoriza o momento com presença de imediatismos (de repente
constante). Temática constante o jogo entre felicidade e infelicidade, onde muitas vezes
associa a inspiração poética com a tristeza, sem abandonar o social.
“É melhor ser alegre que ser triste / A alegria é a melhor coisa que
existe / É assim como a luz no coração”
--Samba da Bênção
“Para que vieste / Na minha janela / Meter o nariz? / Se foi por um
verso / Não sou mais poeta / Ando tão feliz.”
--A um Passarinho

Obras:

• Poesia: O Caminho para a Distância (1933), Forma e Exegese (1935), Ariana, a


Mulher (1936), Novos Poemas (1938), Cinco Elegias (1943), Poemas, Sonetos e
Baladas (1946), Pátria Minha (1949), Livro de Sonetos (1956), O Mergulhador
(1965), A Arca de Noé (1970), O Dever e o Haver (inédito)
• Teatro: Orfeu da Conceição (Tragédia carioca em três atos, escrita em versos,
1954), Cordélia e O Peregrino (em versos, 1965), Pobre Menina Rica (comédia
musicada, 1962), Chacina de Barros Filho (drama, inédito)
• Prosa: Reportagens Poéticas (inéditas em livro), O Amor dos Homens (crônicas,
1960), Para viver um Grande Amor (crônicas, 1962), Para uma menina com uma
Flor (crônicas, 1966), Crônicas (in J. B. de 15/6/69 a 20/10/69)

Textos

Fragmentos de Procura da Poesia, in A Rosa do Povo

Ano facas versos sobre acontecimentos.


Ano ha' criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
ano aquece nem ilumina. (...)
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda ano é poesia. (...)
O canto ano é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança, nada significam.
A poesia (ano tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto. (...)
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas ano há desespero,
há calma e frescura na superfície inata
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escreve-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silencio.
Ano forces o poema a desprender-se do limbo.
Ano colhas no chão o poema que se perdeu.
Ano adules o poema. Aceita-o
como ele aceitara' a sua forma definitiva e concentrada no espaço.

Chega perto e contempla as palavras.


Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave? (...)
--Carlos Drummond de Andrade
Canção do Exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia


Onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente ano pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade


e ouvir um sabiá com certidão de idade!
--Murilo Mendes
Elegia a uma pequena borboleta

Como chegavas do casulo, / — inacabada seda viva — / tuas antenas — fios soltos / da
trama de que eras tecida, / e teus olhos, dois grãos da noite / de onde o teu mistério surg
ia,
como caíste sobre o mundo / inábil, na manhã tão clara, / sem mãe, sem guia, sem cons
elho, / e rolavas por uma escada / como papel, penugem, poeira, / com mais sonho e sil
êncio que asas,
minha mão tosca te agarrou / com uma dura, inocente culpa, / e é cinza de lua teu corpo
, / meus dedos, sua sepultura. / Já desfeita e ainda palpitante, / expiras sem noção nenhu
ma.
Ó bordado do véu do dia, / transparente anêmona aérea! /não leves meu rosto contigo: /
leva o pranto que te celebra, / no olho precário em que te acabas, / meu remorso ajoelha
do leva! (...)
Pudeste a etéreos paraísos / ascender teu leve fantasma, / e meu coração penitente ser a
rosa desabrochada / para servir-te mel e aroma, / por toda a eternidade escrava!
E as lágrimas que por ti choro / fossem o orvalho desses campos, / — os espelhos que r
efletissem / — vôo e silêncio — os teus encantos, / com a ternura humilde e o remorso /
dos meus desacertos humanos!
(Retrato Natural)
--Cecília Meireles

Segunda fase Modernista no Brasil (1930-1945) - Prosa


Romances caracterizados pela denúncia social, verdadeiro documento da realidade
brasileira, atingindo elevado grau de tensão nas relações do eu com o mundo. Uma das
principais características do romance brasileiro é o encontro do escritor com seu povo.
Há uma busca do homem brasileiro nas diversas regiões, por isso o regionalismo ganha
importância, com destaque às relações do personagem com o meio natural e social.

Os escritores nordestinos merecem destaque especial, por sua denúncia da realidade da


região pouco conhecida nos grandes centros. O 1° romance nordestino foi A Bagaceira
de José Américo de Almeida. Esses romances retratam o surgimento da realidade
capitalista, a exploração das pessoas, movimentos migratórios, miséria, fome, seca etc.

Autores Principais

Rachel de Queiroz (1910 - )

Cearense, viveu na infância o problema da seca que atingiu uma propriedade de sua
família. Em 1930 (aos 20 anos) publica o romance O Quinze, que lhe angaria um
prêmio e reconhecimento público.

Participa ativamente da política, militando no Partido Comunista Brasileiro e é presa em


1937, por suas idéias esquerdistas. A partir de 1940 dedica-se à crônica e ao teatro.
Quebrou uma velha tradição, ao tornar-se (1977) a primeira mulher a ingressar na
Academia Brasileira de Letras.

Sua literatura caracteriza-se, a princípio, pelo caráter regionalista e sociológico, com


enfoque psicológico, que tende a se valorizar e a aprofundar-se à proporção que sua
obra amadurece. Seu estilo é conciso e descarnado, sua linguagem fluente, seus diálogos
vivos e acessíveis, o que resulta numa narrativa dinâmica e enxuta.

O Quinze e João Miguel há coexistência do social e ppsicológico. Caminho de Pedras é


o ponto máximo de sua literatura engajada e de esquerda (mais social e político). As
Três Marias abandona o aspecto social, enfatizando a análise psicológica.

Obras:

• Romances: O Quinze(1930) e João Miguel (1932) - seca; coronelismo; impulsos


passionais / Caminho de Pedras (1937) e As Três Marias (1939) - literatura
engajada, esquerdizante, social e política, trata ainda da emancipação feminina /
O Galo de Ouro (folhetim em “O Cruzeiro”) / Memorial de Maria Moura (1992;
surpreende seu público e é adaptado para a televisão)
• Teatro: Lampião (1953), A Beata Maria do Egito (1958, raízes folclóricas), A
Sereia Voadora.
• Crônica: A Donzela e a Moura Torta (1948), Cem Crônicas Escolhidas (1958),
O Brasileiro Perplexo (1963, Histórias e Crônicas), O Caçador de Tatu (1967)
• Literatura Infantil: O Menino Mágico, Andira.
José Lins do Rego (1901 - 1957)

Paraibano, é considerado um dos melhores representantes da literatura regionalista do


Modernismo. Em Recife, aproxima-se de José Américo de Almeida e Gilberto Freire,
intelectuais responsáveis pela divulgação do modernismo no nordeste e pela
preocupação regionalista. Mais tarde também conhece Graciliano Ramos, e depois para
o Rio de Janeiro, onde participa ativamente da vida literária. Sua infância no engenho
influenciou fortemente sua obra.

Suas obras Menino de Engenho, Doidinho, Bangüê, Moleque Ricardo, Usina e Fogo
Morto compõem o que se convencionou chamar de “ciclo da cana de açúcar”. Nestas
obras J. L. Rego narra a gradativa decadência dos engenhos e a transformação pela qual
passam a economia e a sociedade nordestina. Sua técnica narrativa se mantém nos
moldes tradicionais da literatura realista: linearidade, construção do personagem
baseado na descrição dos caracteres, linguagem coloquial, registro da vida e dos
costumes. O tom memorialista é o fio condutor de uma literatura que testemunha uma
sociedade em desagregação: a sociedade do engenho patriarcalista, escravocrata. As
obras mais representativas desta fase são Menino de Engenho e Fogo Morto. A primeira
é a história de um menino, órfão de pai e mãe, que é criado no Engenho Santa Rosa, de
seu avô José Paulino, típico representante do latifundiário nordestino. Há momento de
grande emoção na obra, como a descrição da enchente, o castigo dos escravos, a
descoberta da própria sexualidade.

Fogo Morto é considerada sua melhor obra: dividida em três partes que se
interrelacionam, compõe um quadro social e humano do Nordeste. Mestre José Amaro,
seleiro, orgulhoso de sua profissão, sofre as pressões do coronel Lula de Holanda,
senhor do Engenho Santa Fé, em decadência econômica. Antônio Silvino, cangaceiro, é
o terror da região e ataca os engenhos. O capitão Vitorino Carneiro da Cunha, lunático,
é uma espécie de místico e profeta do sertão.

Além destas obras, José Lins escreveu: Pedra Bonita e Cangaceiros, onde continua a
traçar um quadro da vida nordestina, aproveitando agora elementos do folclore e do
cordel. Estes romances pertencem ao “ciclo do cangaço, misticismo e seca”. Além
destes, escreveu também Água-mãe e Eurídice, de ambientação urbana.

Obras:

• Romances: Menino de Engenho (1932), Doidinho (1933), Bangüê (1934), O


Moleque Ricardo (1935), Usina (1936), Pureza (1937), Pedra Bonita (1938),
Riacho Doce (1939), Água-mãe (1941), Fogo Morto (1943), Eurídice (1947),
Cangaceiros (1953).
• Literatura infantil, memórias e crônicas: Histórias da Velha Totônia (1936),
Gordos e Magros (1942), Seres e Coisas (1952), Meus Verdes Anos (1956).

Graciliano Ramos (1892-1953)

Alagoano, faz jornalismo e política estreando com Caetés (1933). Em Maceió conheceu
alguns escritores do grupo regionalista: José Lins, Jorge Amado, Raquel de Queirós.
Nessa época redige S. Bernardo e Angústia.
Envolvendo-se em política, é preso e acusado de comunista, essas experiências pessoais
são retratadas em Memórias do Cárcere. Em 1945 ingressa no Partido Comunista e
empreende uma viagem aos países socialistas, narrada no livro Viagem.

Considerado o melhor romancista moderno da literatura brasileira. Levou ao limite o


clima de tensão presente nas relações entre o homem e o meio natural, o homem e o
meio social. Mostrou que essas tensões são capazes de moldar personalidades e
transformar comportamentos, até mesmo gerar violência.

Luta pela sobrevivência é o ponto de ligação entre seus personagens, onde a lei maior é
a lei da selva. A morte é uma constante em suas obras como final trágico e irreversível
(suicídios em Caetés e São Bernardo, assassinato em Angústia e as mortes do papagaio
e da cadela Baleia em Vidas Secas).

Antonio Candido propõe uma divisão da obra em 3 partes:

romances em 1ª pess. (Caetés, São Bernardo e Angústia) - pesquisa da alma humana e


retrato e análise da sociedade

romances em 3ª pess. (Vidas Secas) - enfoca modos se der e as condições de existência


no meio da seca

autobiografias (Infância e Memórias do Cárcere) - coloca-se como caso humano, como


uma necessidade de depor, denunciar

Seua personagens são seres oprimidos e moldados pelo meio. Tanto Paulo Honório
(personagem de São Bernardo), quanto Luís da Silva (de Angústia) são o que se chama
de “herói problemático”, em conflito com o meio e consigo mesmos, em luta constante
para adaptar-se e sobreviver, insatisfeitos e irrealizados. Linguagem sintética e concisa.

Obras : Caetés (1933), S. Bernardo (1934), Angústia (1936), Vidas Secas (1938), Dois
Dedos (1945), Insônia (1947), Infância (1945), Memórias do Cárcere (1953), Histórias
de Alexandre (1944), Viagem (1953), Linhas Tortas (1962) etc.

Jorge Amado (1912 -)

Nasceu na zona cacaueira baiana e depois morou em Salvador, essas referências são
fontes de inspiração para suas obras. Estréia com O País do Carnaval e, levado por
Rachel de Queiroz, filia-se ao Partido Comunista Brasileiro, por onde mais tarde torna-
se deputado. Sofre perseguições políticas, exila-se e mais tarde é preso.

Na vasta ficção de Jorge Amado convivem lirismo, sensualismo, misticismo, folclore,


idealismo, engajamento político, exotismo. Este painel, sem dúvida, bastante rico,
aliado a uma linguagem coloquial, fluida, espontânea, aparentemente sem elaboração,
tem sido responsável pela grande aceitação popular de sua obra. Além disso, seus heróis
são marginais, pescadores, marinheiros, prostitutas e operários; todos personagens de
origem popular. Suas obras estão ambientadas no quadro rural e urbano da Bahia e seu
aspecto documental a torna autenticamente regionalista.

Podemos dividir assim a sua produção:


• Ciclo do Cacau: Cacau, Suor, Terras do Sem Fim, São Jorge de Ilhéus -
problemas coletivos, “realismo socialista”.
• Romances líricos, com um fundo de problemática social: Jubiabá, Mar Morto,
Capitães de Areia.
• Romances de costumes provincianos, geralmente sentimentais e eróticos:
Gabriela, Cravo e Canela, Dona Flor e Seus Dois Maridos.

Obra bastante vasta, incluindo ainda escritos de pregação partidária (Cavaleiro da


Esperança, Os Subterrâneos da Liberdade).

Obras : A.B.C de Castro Alves; O Cavaleiro da Esperança. A vida de Luis Carlos


Prestes; Agonia da Noite; O Amor de Soldado; Os Ásperos Tempos; Bahia Amada
Amado (Jorge Amado e Maureen Bisilliat); Bahia de Todos os Santos; A Bola e o
Goleiro; Brandão entre o Mar e o Amor; Cacau; O Capeta Carybe; Capitães de Areia; O
Capitão de Longo Curso; Compadre de Ogum; A Descoberta da América pelos Turcos;
Dona Flor e seus Dois Maridos; Farda Fardão Camisola de Dormir; Gabriela, Cravo e
Canela; O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá; Jubiaba; Tereza Batista Cansada de
Guerra; O Sumiço da Santa; Suor; Tenda dos Milagres; A Luz no Túnel; Terras do Sem
Fim; Mar Morto; Tieta do Agreste; Tocaia Grande; Os velhos Marinheiros; O Menino
Grapuina; O Milagre dos Pássaros; A Morte e a Morte de Quincas Berro D’gua;
Navegação de Cabotagem; O País do Carnaval; Os Pastores da Noite; São Jorge dos
Ilhéus; Seara Vermelha; O Capitão de Longo Curso; Os Primeiros Subterrâneos da
Liberdade, I; Os Subterrâneos da Liberdade,II; Os Subterrâneos da Liberdade,III; Os
Subterrâneos da Liberdade,IV.

Érico Veríssimo (1905-1975)

Sua família rica foi à falência e o escritor teve que trabalhar sem possibilidade de seguir
estudos. Em Porto Alegre, entra em contato com a vida literária e inicia-se no
jornalismo. Começa então a publicar contos e romances, entre os quais, Clarissa, que
logo se tornou um sucesso. Viajou para vários países, lecionou Literatura Brasileira nos
EUA e trabalhou na OEA. Voltando ao Brasil, dedica-se a escrever e produz uma vasta
obra.

Escritor de grandes dimensões, em sua produção se incluem romances, crônicas,


literatura infantil. Os romances que compõem a trilogia O Tempo e o Vento (O
Continente, O Retrato, O Arquipélago) traçam um painel histórico de várias gerações:
desde a época colonial sucedem-se as lutas entre portugueses e espanhóis, farrapos e
imperiais, maragatos e pica-paus (nomes dos partidos em guerra política). Duas
famílias, os Terra Cambará e os Amaral, são durante dois séculos o fio narrativo que
unifica a história. Érico Veríssimo compõe uma verdadeira saga romanesca, com todas
as suas características: guerras intermináveis, aventuras, amores, traições, gerações que
se sucedem, criando um painel histórico da comunidade rio-grandense e do próprio
Brasil. A obra é uma aglutinação de novelas, onde ressaltam as figuras épicas de Ana
Terra e do Capitão Rodrigo Cambará. O estilo de Érico Veríssimo é coloquial, poético,
intimista. Sua técnica de construção é o contraponto: onde várias histórias se
desenvolvem paralelamente, a ação concentrada e o dinamismo. Em suas últimas obras,
como O Prisioneiro, O Senhor Embaixador e Incidente em Antares, desenvolveu a
ficção política, ambientada nos dias atuais.
Obras : Fantoches; Clarissa; Música ao Longe; Caminhos Cruzados; Um Lugar ao Sol;
Olhai os Lírios do Campo; Saga; O Resto é Silêncio; Noite; O Tempo e o Vento: O
Continente, O Retrato, O Arquipélago; O Senhor Embaixador; Incidente em Antares;
Aventuras de Tibicuera; Gato Preto em Campo de Neve.

Terceira fase Modernista no Brasil (1945- +/- 1960)


A literatura brasileira, assim como o cenário sócio-político, passa por transformações.

A prosa tanto no romance quanto nos contos busca uma literatura intimista, de
sondagem psicológica, introspectiva, com destaque para Clarice Lispector. Ao mesmo
tempo, o regionalismo adquire uma nova dimensão com Guimarães Rosa e sua
recriação dos costumes e da fala sertaneja, penetrando fundo na psicologia do jagunço
do Brasil central. Um traço característico comum a Clarice e Guimarães Rosa é a
pesquisa da linguagem, por isso são chamados instrumentalistas. Enquanto Guimarães
Rosa preocupa-se com a manutenção do enredo com o suspense, Clarice abandona
quase que completamente a noção de trama e detém-se no registro de incidentes do
cotidiano ou no mergulho para dentro dos personagens.

Na poesia, surge uma geração de poetas que se opõem às conquistas e inovações dos
modernistas de 22. A nova proposta foi defendida, inicialmente, pela revista Orfeu
(1947). Assim, negando a liberdade formal, as ironias, as sátiras e outras “brincadeiras”
modernistas, os poetas de 45 buscam uma poesia mais “equilibrada e séria”. Os modelos
voltam a ser os Parnasianos e Simbolistas. Principais autores (Ledo Ivo, Péricles
Eugênio da Silva Ramos, Geir de Campos e Darcy Damasceno). No fim dos anos 40,
surge um poeta singular, pois não está filiado esteticamente a nenhuma tendência: João
Cabral de Melo Neto.

Referências históricas

1945 = fim da 2ª GM, início da Era Atômica (Hiroxima e Nagasaki), ONU, Declaração
dos Direitos do Homem, Guerra Fria. No Brasil, fim da ditadura Vargas,
redemocratização brasileira, retomada de perseguições políticas, ilegalidades e exílios.

Autores Principais

Guimarães Rosa (1908 - 1967)

Mineiro, formou-se em Medicina e clinicou pelo interior, foi ministro e pela carreira
diplomática esteve em Hamburgo, Bogotá e Paris. Foi eleito membro da ABL e faleceu
3 dias depois de sua posse.

A obra de G. Rosa é extremamente inovadora e original. Seu livro, Sagarana (1946),


vem colocar uma espécie de marco divisor na literatura moderna do Brasil: é uma obra
que se pode chamar de renovadora da linguagem literária. Seu experimentalismo
estético, aliando narrativas de cunho regionalista a uma linguagem inovadora e
transfigurada, veio transformar completamente o panorama da nossa literatura.

O livro Grande Sertão: Veredas (1956), romance narrado em primeira pessoa por
Riobaldo num monólogo ininterrupto onde o autor e o leitor parecem ser os ouvintes
diretos do personagem, G. Rosa recuperou a tradição regionalista, renovando-a. Há um
clima fantástico na narrativa: Riobaldo conta suas aventuras de jagunço que quer vingar
a morte de seu chefe, Joca Ramiro, assassinado pelo bando de Hermógenes.

Sua narrativa é entremeada por reflexões metafísicas em torno dos acontecimentos e


dois fatos se repropõem constantemente: seu pacto com o Diabo e seu amor por
Diadorim (na verdade, Deodorina, filha de Joca Ramiro, disfarçada de jagunço). As
dúvidas de Riobaldo têm raízes místicas e sua narrativa torna-se então não mais um
documento regionalista, mas uma obra de caráter universal, que toca em problemas que
inquietam todos os homens: o significado da existência, as dimensões da realidade. Mas
não é só isto que é novo em G. Rosa: sua linguagem é extremamente requintada.

Recuperando as matrizes arcaicas da língua portuguesa e fundindo-as com a fala


sertaneja, G. Rosa chega a criar um linguajar mítico, onde o novo e o primitivo perdem
as dimensões tornando-se um linguajar ao mesmo tempo real e irreal, pessoal e
universal. Arcaísmos, neologismos, rupturas, fusões, toda uma técnica elaboradíssima
que torna seu discurso literário ímpar em toda a nossa literatura.

Grande Sertão: Veredas e as novelas de Corpo de Baile incluem e revitalizam recursos


da expressão poética: células rítmicas, aliterações, onomatopéias, ousadias mórficas,
elipses, cortes e deslocamentos de sintaxe, vocabulário insólito, arcaico ou neológico,
associações raras, metáforas, anáforas, metonímias, fusão de estilos.

“ — Êpa! Nomopadrofilhospiritossantamêin! Avança, cambada de


filhos-da-mãe, que chegou minha vez!... / E a casa matraqueou que
nem panela de assar pipocas, escurecida à fumaça dos tiros, com os
cabras saltando e miando de maracajás, e Nhô Augusto gritando qual
um demônio preso e pulando como des demônios soltos. / — Ô
gostosura de fim-de-mundo!...”
--A Hora e a Vez de Augusto Matraga

Obras : Sagarana (1946), Corpo de Baile (depois desdobrado em Manuelzão e


Miguilim, No Urubuquaquá no Pinhém, Noites do Sertão, 1956), Grande Sertão:
Veredas (1956), Primeiras Estórias (1962), Tutaméia - Terceiras Estórias (1967): Estas
Estórias (1969), Ave, Palavra (1970).

Clarice Lispector (1925 - 1977)

Ucraniana, veio com meses para o Brasil - por isso, sentia se “brasileira”. Tem por
formação Direito. Em 1944 forma-se e publica o livro que escreveu durante o curso -
Perto do Coração Selvagem surpreendendo a crítica e agradando ao público.

Casa-se com um diplomata, afastando-se do Brasil durante longos períodos, mas sem
interromper a produção artística.

Principal nome da poesia intimista da moderna literatura brasileira, questionamento do


ser, “estar-no-mundo”, a pesquisa do ser humano, resultando no romance introspectivo.

Características de sua producão literária:


• sondagem dos mecanismos mais profundos da mente humana;
• técnica “impressionista” de apreensão dessa realidade interior (predominância de
impressões, de sensações);
• ruptura com a seqüência linear da narrativa;
• predomínio do tempo psicológico e, portanto, subversão do tempo cronológico;
• características físicas das personagens diluem-se: muitas nem nome apresentam;
• as ações passam a ter importância secundária, servindo principalmente como
ilustração de características psicológicas das personagens (introspecção
psicológica);
• introdução da técnica do fluxo da consciência - quebra os limites espaço-
temporais e o conceito de verossimilhança, fundindo presente e passado,
realidade e desejo na mente dos personagens, cruzando vários eixos e planos
narrativos sem ordem ou lógica aparente;
• presença da epifania (“revelação”): aparentemente equilibradas e bem ajustadas,
subitamente as personagens sentem um estranhamento frente a um fato banal da
realidade. Nesse momento, mergulham num fluxo de consciência, do qual
emergem sentindo-se diferentes em relação a si mesmas e ao mundo que as
rodeia; esse desequilíbrio momentâneo por certo mudará sua vida
definitivamente;
• suas principais personagens são mulheres, mas não se limitam ao espaço do
ambiente familiar: Clarice visa a atingir valores essenciais humanos e universais
tais como a falsidade das relações humanas, o jogo das aparências, o
esvaziamento do mundo familiar, as carências afetivas e as inseguranças delas
decorrentes, a alienação, a condição da mulher, a coexistência dos contrastes,
das ambigüidades, das contradições do ser, num processo meio “barroco”;
• fusão de prosa e poesia, com emprego de figuras de linguagem: metáforas,
antíteses (eu x não-eu, ser x não ser), paradoxos, símbolos e alegorias,
aliterações e sinestesias;
• uso de metalinguagem - “Algumas pessoas cosem para fora; eu coso para
dentro”- em associação com os processos intimistas e psicológicos, político-
sociais, filosóficos e existenciais (A Hora da Estrela, 1977). “Depois que
descobri em mim mesma como é que se pensa, nunca mais pude acreditar no
pensamento dos outros”.

Obras:

• Romances : Perto do Coração Selvagem (1944); O Lustre (1946); A Cidade


Sitiada (1949); A Maçã no Escuro (1961); A Paixão segundo G. H. (1964); Uma
Aprendizagem ou Livro dos Prazeres (1969); Água Viva (1973); A Hora da
Estrela (1977).
• Contos : Alguns Contos (1952); Laços de Família (1960); A Legião Estrangeira
(1964); Felicidade Clandestina (1971), Imitação da Rosa (1973), A Via - Crucis
do Corpo (1974); A Bela e a Fera (1979).
• Entrevista : De Corpo Inteiro
• Literatura infantil : Mistério do Coelhinho Pensante (1967); A Mulher que
Matou os Peixes (1969); A Vida Íntima de Laura (1974), Quase de Verdade.

João Cabral de Melo Neto (1920 - )


Pernambucano, passa a infância em engenhos de açúcar em contato com a terra e o povo
(o que despertou seu interesse pelo folclore nordestino e pela literatura de cordel), com
a palavra escrita (livros e jornais, desde os dois anos de idade) e a parentela ilustre e
culta (primo de Manuel Bandeira e Gilberto Freire). É eleito por unanimidade para a
ABL (1969)

Estreou em 1942 com Pedra do Sono de forte influência de Carlos Drummond de


Andrade e Murilo Mendes. Ao publicar O Engenheiro, em 1945, traça os rumos
definitivos de sua obra. Em 1956, escreve o poema dramático Morte e Vida Severina,
que, encenado em 1966, com músicas de Chico Buarque, consagra-o definitivamente.

Só pertenceria à Geração de 45 se levado em conta o critério cronológico; pois


esteticamente afasta-se da proposta do grupo.

Características de sua produção literária: no início da carreira, apresenta um tendência à


objetividade, convivendo com imagens surrealistas e oníricas (relativas aos sonhos): aos
poucos, afasta-se da influência surrealista e aprofunda a tendência à substantivação, à
economia da linguagem, submetendo as palavras a um processo crescente de depuração,
com uso de metáforas, personificações, alegorias e metonímias (a pedra; a faca; o cão);
a partir de 1945, influenciado por uma concepção arquitetônica, procede à
geometrização do poema, aproximando a arte do Poeta à do Engenheiro; a preocupação
com o descarnamento, com a confecção da poesia dessacralizada, afastada cada vez
mais do subjetivismo e da introspecção, leva-o à elaboração do poema objeto.

Nele, o fruir poético atinge-se através da lógica do raciocínio, da razão, eliminando-se


emoções superficiais (ruptura total com o sentimentalismo); o Poeta questiona o próprio
ato de escrever e a função da poesia; na década de 50, surge e amadurece a preocupação
política e principalmente a denúncia social do Nordeste e sua gente: os “severinos”
retirantes, as tradições e o folclore regional, a herança medieval, a estrutura agraria
canavieira, injusta e desigual... Aparece ainda a paisagem da Espanha, que apresenta
pontos em comum com o cenário nordestino. Continua viva e atuante a reflexão sobre a
Arte em suas várias manifestações, desde a pintura (Miró, Picasso, Vicente do Rego
Monteiro), a literatura (Paul Valéry, Cesário Verde, Augusto dos Anjos, Graciliano
Ramos, Drummond), passando pelo futebol e fechando com a sua própria maneira de
poetar: “Sempre evitei falar de mim, falar-me. Quis falar de coisas. Mas na seleção
dessas coisas não haverá um falar de mim?” (Morte e Vida Severina - Auto de Natal
Pernambucano)

Morte e Vida Severina, obra mais popular de João Cabral, é um auto de Natal do
folclore pernambucano. Sua linha narrativa segue dois movimentos que aparecem no
título: “morte” e “vida”. No primeiro movimento, há o trajeto de Severino, personagem-
protagonista, que segue do sertão para Recife, em face da opressão econômico-social.
Severino tem a força coletiva de um personagem típico: representa o retirante
nordestino. No segundo movimento, o da “vida”, o autor chama a atenção para a
confiança no homem e em sua capacidade de resolver problemas.

Obras:

• Prosa : Considerações sobre a Poeta Dormindo (1941); Juan Miró (1950)


• Poesia : Pedra do Sono (1942); Engenheiro (1945); Psicologia da Composição
(1947); O cão sem Plumas (1950); Rio (1954); Poemas reunidos (os livros
anteriores mais Os Três Mal-Amados, 1954); Duas Águas (os livros anteriores
mais Morte e Vida Severina, Paisagens com figuras e Uma Faca só Lâmina,
1956); Quaderna (1960); Dois Parlamentos (1961); Terceira Feira (os dois livros
anteriores mais Serial, 1961); A Educação pela Pedra (1966), Poesias Completas
(1968); Museu de Tudo (1975); Escola das Facas (1987); Auto do Frade (1984);
Agrestes (1985); Crime na Calle Relator (1987); Sevilha Andando (1987-1993).

Textos

Fragmento de Perto do Coração Selvagem

No momento em que a tia foi pagar a compra, Joana tirou o livro e


meteu cuidadosamente entre os outros, embaixo do braço. A tia
empalideceu. Na rua a mulher buscou as palavras com cuidado: —
Joana... Joana, eu vi...

Joana lançou-lhe um olhar rápido. Continuou silenciosa: — Mas você


não diz nada? — não se conteve a tia, a voz chorosa.— Meu Deus,
mas o que vai ser de você? — Não sé assuste, tia.

— Mas uma menina ainda... Você sabe o que fez ? — Sei...

— Sabe... sabe a palavra...?

— Eu roubei o livro, não é isso?

— Mas, Deus me valha! Eu já nem sei o que faço, pois ela ainda
confessa!

— A senhora me obrigou a confessar.

— Você acha que se pode... que se pode roubar? — Bem... talvez não.

— Por que então...? — Eu posso.

— Você?! — gritou a tia.

— Sim, roubei porque. quis. Só roubarei quando quiser. Não faz mal
nenhum.

— Deus me ajude quando faz mal Joana?

— Quando a gente rouba e tem medo. Eu não estou contente nem


triste.
--Clarice Lispector
O retirante explica ao leitor quem é e a que vai (in Morte e Vida
Severina)
— O meu nome é Severino, não tenho outro de pia. Como há muitos
Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar
Severino de Maria; como há muitos Severinos com mães chamadas
Maria. fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias.

Mas isso ainda diz pouco: há muìtos na freguesia, por causa de um


coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta
sesmaria. Como então dizer quem fala ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino da Maria do Zacarias, lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.

Mas ísso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com nome de
Severino filhos de tantas Marias mulheres de outros tantos, já finados,
Zacarias, vivendo na mesma serra magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça
grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre
as mesmas pernas finas, e iguais também porque o sangue que usamos
tem pouca tinta.

E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte


igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de
velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um
pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca
em qualquer idade, e até gente não nascida). Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina: a de abrandar estas pedras suando-se muito
em cima, a'de tentar despertar terra sempre mais extinta, a de querer
arrancar algum roçado da cinza, Mas, para que me conheçam melhor
Vossas Senhorias e melhor possam seguir a história de minha vida,
passo a ser o Severino que em vossa presença emigra.
--Cabral de Melo Neto
O artista ordena o caos (in Grande Sertão: Veredas)

Olhe: conto ao senhor. Se diz que, no bando de Antônio Dó, tinha um


grado jagunço, bem remediado de posses - Davidão era o nome dêle.
Vai, um dia, coisas dessas que às vêzes acontecem, êsse Davidão
pegou a ter mêdo de morrer. Safado, pensou, propôs êste trato a um
outro, pobre dos mais pobres, chamado Faustino: o Davidão dava a êle
dez contos de réis, mas, em lei de caborje — invisível no sobrenatural
— chegasse primeiro o destino do Davidão morrer em combate, então
era o Faustino quem morria, em vez dêle. E o Faustino aceitou,
recebeu, fechou. Parece que, com efeito, no poder de feitiço do
contrato êle muito não acreditava. Então, pelo seguinte, deram um
grande fogo, contra os soldados do Major Alcides do Amaral, sitiado
forte em São Francisco. Combate quando findou, todos os dois
estavam vivos, o Davidão e o Faustino. A de ver ? Para nenhum dêles
não tinha chegado a hora-e-dia. Ah, e assim e assim foram, durante os
meses, escapos, alteração nenhuma não havendo; nem feridos êles não
saíam...Que tal, o que o senhor acha? Pois, mire e veja: isto mesmo
narrei a um rapaz de cidade grande, muito inteligente, vindo com
outros num caminhão, para pescarem no Rio. Sabe o que o môço me
disse? Que era assunto de valor, para se compor uma estória em livro.
Mas que precisava de um final sustante!, caprichado. O final que êle
daí imaginou, foi um: que, um dia, o Faustino pegava também a ter
mêdo, queria revogar o ajuste! Devolvia o dinheiro. Mas o Davidão
não aceitava, não queria, por forma nenhuma. Do discutir, ferveram
nisso, ferravam numa luta corporal. A fino, o Faustino se provia na
faca, investia, os dois rolavam no chão, embolados. Mas, no confuso,
por sua própria mão dêle, a faca cravava no coração do Faustino, que
falecia...

Apreciei demais essa continuação inventada. A quanta coisa limpa


verdadeira uma pessoa de alta instrução não concebe! Aí podem
encher êste mundo de outros movimentos, sem os êrros e volteios da
vida em sua lerdeza de sarrafaçar. A vida disfarça? Por exemplo.
Disse isso ao rapaz pescador, a quem sincero louvei. E êle me indagou
qual tinha sido o fim, na verdade de realidade, de Davidão e Faustino.
O fim? Quem sei. Soube sòmente só que o Davidão resolveu deixar a
jagunçagem - deu baixa do bando, e, com certas promessas, de ceder
uns alqueires de terra, e outras vantagens de mais pagar, conseguiu do
Faustino dar baixa também, e viesse morar perto dêle, sempre. Mais
dêles, ignoro. No real da vida, as coisas acabam com menos formato,
nem acabam. Melhor assim. Pelejar por exato, dá êrro contra a gente.
Não se queira. Viver é muito perigoso...
--Guimarães Rosa

O modernismo foi um movimento literário e artístico do início do séc. XX, cujo


objetivo era o rompimento com o tradicionalismo (parnasianismo, simbolismo e a arte
acadêmica), a libertação estética, a experimentação constante e, principalmente, a
independência cultural do país. Apesar da força do movimento literário modernista a
base deste movimento se encontra nas artes plásticas, com destaque para a pintura.

No Brasil, este movimento possui como marco simbólico a Semana de Arte Moderna,
realizada em 1922, na cidade de São Paulo, devido ao Centenário da Independência. No
entanto, devemos lembrar que o modernismo já se mostrava presente muito antes do
movimento de 1922. As primeiras mudanças na cultura brasileira que tenderam para o
modernismo datam de 1913 com as obras do pintor Lasar Segall; e no ano de 1917, a
pintora Anita Malfatti , recém-chegada da Europa, provoca uma renovação artística com
a exposição de seus quadros. A este período chamamos de Pré-Modernismo (1902-
1922), no qual se destacam literariamente, Lima Barreto, Euclides da Cunha, Monteiro
Lobato e Augusto dos Anjos; nesse período ainda podemos notar certa influência de
movimentos anteriores como realismo/naturalismo, parnasianismo e simbolismo.
A partir de 1922, com a Semana de Arte Moderna tem início o que chamamos de
Primeira Fase do Modernismo ou Fase Heróica (1922-1930), esta fase caracteriza-se
por um maior compromisso dos artistas com a renovação estética que se beneficia pelas
estreitas relações com as vanguardas européias (cubismo, futurismo, surrealismo, etc.),
na literatura há a criação de uma forma de linguagem, que rompe com o tradicional,
transformando a forma como até então se escrevia; algumas dessas mudanças são: a
Liberdade Formal (utilização do verso livre, quase abandono das formas fixas – como o
soneto, a fala coloquial, ausência de pontuação, etc.), a valorização do cotidiano, a
reescritura de textos do passado, e diversas outras; este período caracteriza-se também
pela formação de grupos do movimento modernista: Pau-Brasil, Antropófago, Verde-
Amarelo, Grupo de Porto Alegre e Grupo Modernista-Regionalista de Recife.

Na década de 30, temos o início do período conhecido como Segunda Fase do


Modernismo ou Fase de Consolidação (1930-1945), que é caracterizado pelo
predomínio da prosa de ficção. A partir deste período, os ideais difundidos em 1922 se
espalham e se normalizam, os esforços anteriores para redefinir a linguagem artística se
une a um forte interesse pelas temáticas nacionalistas, percebe-se um amadurecimento
nas obras dos autores da primeira fase, que continuam produzindo, e também o
surgimento de novos poetas, entre eles Carlos Drummond de Andrade.

Temos ainda a Terceira Fase do Modernismo (1945- até 1960); alguns estudiosos
consideram a fase de 1945 até os dias de hoje como Pós-Modernista, no entanto, as
fontes utilizadas para a confecção deste artigo, tratam como Terceira Fase do
Modernismo o período compreendido entre 1945 e 1960 e como Tendências
Contemporâneas o período de 1960 até os dias de hoje. Nesta terceira fase, a prosa dá
sequência às três tendências observadas no período anterior – prosa urbana, prosa
intimista e prosa regionalista, com uma certa renovação formal; na poesia temos a
permanência de poetas da fase anterior, que se encontram em constante renovação, e a
criação de um grupo de escritores que se autodenomina “geração de 45”, e que buscam
uma poesia mais equilibrada e séria, sendo chamados de neoparnasianos.

Principais representantes do Pré-Modernismo e do Modernismo no Brasil:

Pintura: Anita Malfatti, Lasar Segall, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Candido


Portinari, Rego Monteiro, Alfredo Volpi;

Literatura: Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Lima Barreto, Augusto dos Anjos,
Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Alcântara Machado, Manuel Bandeira,
Cassiano Ricardo, Carlos D. de Andrade, Cecília Meireles, Vinicius de Morais, Murilo
Mendes, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge de Lima, José Lins do Rego,
Thiago de Mello, Ledo Ivo, Ferreira Gullar, João Cabral de Melo Neto, Clarice
Lispector, Guimarães Rosa, Olavo Bilac, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida,
Ronald de Carvalho, Ribeiro Couto, Raul Bopp, Graça Aranha, Murilo Leite, Mário
Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, Érico Veríssimo;

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Outras fontes

Modernismo no Brasil

Definição
O modernismo no Brasil tem como marco simbólico a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo,
no ano de 1922, considerada um divisor de águas na história da cultura brasileira. O evento - organizado
por um grupo de intelectuais e artistas por ocasião do Centenário da Independência - declara o
rompimento com o tradicionalismo cultural associado às correntes literárias e artísticas anteriores: o
parnasianismo, o simbolismo e a arte academica. A defesa de um novo ponto de vista estético e o
compromisso com a independência cultural do país fazem do modernismo sinônimo de "estilo novo",
diretamente associado à produção realizada sob a influência de 1922. Heitor Villa-Lobos na música; Mário
de Andrade e Oswald de Andrade, na literatura; Victor Brecheret, na escultura; Anita Malfatti e Di
Cavalcanti, na pintura, são alguns dos participantes da Semana, realçando sua abrangência e
heterogeneidade. Os estudiosos tendem a considerar o período de 1922 a 1930, como a fase em que se
evidencia um compromisso primeiro dos artistas com a renovação estética, beneficiada pelo contato
estreito com as vanguardas européias (cubismo, futurismo, surrealismo etc.). Tal esforço de redefinição
da linguagem artística se articula a um forte interesse pelas questões nacionais, que ganham acento
destacado a partir da década de 1930, quando os ideais de 1922 se difundem e se normalizam. Ainda
que o modernismo no Brasil deva ser pensado a partir de suas expressões múltiplas - no Rio de Janeiro,
Minas Gerais, Pernambuco etc. - a Semana de Arte Moderna é um fenômeno eminentemente urbano e
paulista, conectado ao crescimento de São Paulo na década de 1920, à industrialização, à migração
maciça de estrangeiros e à urbanização.

Apesar da força literária do grupo modernista, as artes plásticas estão na base do movimento. O impulso
teria vindo da pintura, da atuação de Di Cavalcanti à frente da organização do evento, das esculturas de
Brecheret e, sobretudo, da exposição de Anita Malfatti, em 1917. Os trabalhos de Anita desse período (O
Homem Amarelo, a Estudante Russa, A Mulher de Cabelos Verdes, A Índia, A Boba, O Japonês
etc.) apresentam um compromisso com os ensinamentos da arte moderna: a pincelada livre, a
problematização da relação figura/fundo, o trato da luz sem o convencional claro-escuro. A obra de Di
Cavalcanti segue outra direção. Autodidata, Di Cavalcanti trabalha como ilustrador e caricaturista. O traço
simples e estilizado se tornará a marca de sua linguagem gráfica. A pintura, iniciada em 1917, não
apresenta orientação definida. Suas obras revelam certo ecletismo, alternando o tom romântico e
"penumbrista" (Boêmios, 1921) com as inspirações em Pablo Picasso, Georges Braque e Paul Cézanne,
que o levam à geometrização da forma e à exploração da cor (Samba e Modelo no Atelier, ambas de
1925). Os contrastes cromáticos e os elementos ornamentais da pintura de Henri Matisse, por sua vez,
estão na raiz de trabalhos como Mulher e Paisagem, 1931. A formação italiana e a experiência francesa
marcam as esculturas de Brecheret. Autor da maquete do Monumento às Bandeiras, 1920, e de 12
peças expostas na Semana (entre elas, Cabeça de Cristo, Daisy e Torso), Brecheret é o escultor do
grupo modernista, comparado aos escultores franceses Auguste Rodin e Emile Antoine Bourdelle pelos
críticos da época.

Tarsila do Amaral não esteve presente ao evento de 1922, o que não tira o seu lugar de grande expoente
do modernismo brasileiro. Associando a experiência francesa - e o aprendizado com André Lhote, Albert
Gleizes e Fernand Léger - aos temas nacionais, a pintora produz uma obra emblemática das
preocupações do grupo modernista. Da pintura francesa, especialmente das "paisagens animadas" de
Léger, Tarsila retira a imagem da máquina como ícone da sociedade industrial e moderna. As
engrenagens produzem efeito estético preciso, fornecendo uma linguagem aos trabalhos: seus contornos,
cores e planos modulados introduzem movimento às telas, como em E.F.C.B., 1924 e A Gare, 1925. A
essa primeira fase "pau-brasil", caracterizada pelas paisagens nativas e figurações líricas, segue-se um
curto período antropofágico, 1927-1929, que eclode com Abaporu, 1928. A redução de cores e de
elementos, as imagens oníricas e a atmosfera surrealista (por exemplo, Urutu, O Touro e O Sono, de
1928) marcam os traços essenciais desse momento. A viagem à URSS, em 1931, está na origem de uma
guinada social na obra de Tarsila (Operários, 1933), que coincide com a inflexão nacionalista do período,
exemplarmente representada por Candido Portinari. Portinari pode ser tomado como expressão típica do
modernismo de 1930. À pesquisa de temas nacionais e ao forte acento social e político dos trabalhos
associam-se o cubismo de Picasso, o muralismo mexicano e a Escola de Paris (entre outros, Mestiço,
1934, Mulher com Criança, 1938 e O Lavrador de Café, 1939). Lasar Segall, formado no léxico
expressionista alemão, aproxima-se dos modernistas em 1923, quando se instala no país. Parte de sua
obra, ampla e diversificada, registra a paisagem e as figuras locais em sintonia com as preocupações
modernistas (Mulato 1, 1924, O Bebedouro e Bananal, 1927).

Ainda que o termo modernismo remeta diretamente à produção realizada sob a égide de 1922 - na qual
se incluem também os nomes de Vicente do Rego Monteiro, Antonio Gomide, John Graz e Zina Aita - a
produção moderna no país deve ser pensada em chave ampliada, incluindo obras anteriores à década de
1920 - as de Eliseu Visconti e Castagneto, por exemplo -, e pesquisas que passaram ao largo da Semana
de Arte Moderna, como as dos artistas ligados ao Grupo Santa Helena (Francisco Rebolo, Alfredo Volpi,
Clóvis Graciano etc.).

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