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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES

PSICOLOGIA, EDUCAÇÃO E TEMAS CONTEMPORÂNEOS

Sexualidade e psicanálise

Giovanna Galvão NºUSP: 10798649


Isabelle Gomes NºUSP: 10798607
Laura Ralo NºUSP: 10720812
Maria Fernanda Salgado NºUSP: 10723412
Rafaella Vieira NºUSP: 10798566

Profº. Drº. Ivan Ramos Estêvão

São Paulo
2020
Introdução

​O presente trabalho tem por objetivo abordar na visão psicanalítica, uma noção
expandida da sexualidade, a uma disposição psíquica universal, não apenas de
forma bio-anatômica, mas como essência da vida humana, sendo portanto um
grande desafio, uma vez que a sexualidade tem função social normatizadora. Em
“Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, Freud introduz ideias em relação a
perversões, fetichismo, sadomasoquismo e à homossexualidade, em que a
psicanálise poderia permitir uma nova visão sobre a oposição entre inato e
adquirido, assim como a quebra da barreira entre o normal e patológico. Vale
ressaltar que antes de Freud, não há propriamente um conceito clínico sobre a
sexualidade, iniciando então o diálogo sobre a sexualidade para o campo da ciência
e também sobre as pulsões sexuais; articulando pulsão com o conceito de
inconsciente.
A pesquisa psicanalítica se opõe com o máximo de decisão que se destaquem
os homossexuais, colocando-os em um grupo à parte do resto da humanidade,
como possuidores de características especiais. O primeiro dos três aspectos que
Freud chama atenção, quando fala da relação entre neurose e perversão e enumera
os pontos que aproximam ambas, é a homossexualidade, e também, é a maneira
pela qual Freud retirará a homossexualidade do campo da patologia. A
bissexualidade era uma disposição psicológica responsável pelas diferentes
escolhas de objeto, homossexual e heterossexual, considerando que em todo
sujeito encontramos ambas as formas de escolha de objeto em quantidades
diversas. Além de introduzir a categoria inédita de “perversão polimorfa” para
designar a sexualidade infantil, o uso mesmo do termo – “perversão” – por Freud é
extremamente ponderado: para ele, esta palavra não pode ser usada como censura,
e sua utilização não deve moral. Ademais, ele apresenta 4 elementos – fonte, força,
objeto e alvo/objetivo – em que a estrutura da pulsão comporta uma relação com o
alvo, a satisfação, que reconsidera o saber sexológico em vigor na época: a busca
de uma satisfação é inerente à própria pulsão e independe do objeto, é considerado
como inteiramente variável.
Por fim, Freud relata as constituições sexuais inatas na formação diferenciada
das zonas erógenas, valendo também da mesma forma com a inclusão das fontes
indiretas de excitação sexual. Suas teorias geraram grande polêmica na sociedade
conservadora no século XX, portanto revolucionaram a ciência da época e
influenciaram amplamente o pensamento sobre sexualidade. De acordo com a
historiadora e psicanalista francesa Elisabeth Roudinesco, se a cultura hoje adquiriu
grande liberdade na matéria sexual, isso se deve à Freud, sendo dele também o
efeito.

Conceitos centrais

A Psicanálise considera a sexualidade como chave para a compreensão da


mente humana, dessa forma, conceitos fundamentais da teoria psicanalítica
fundamentam a investigação de Freud sobre a sexualidade e sua importância na
formação psíquica dos seres humanos, partindo da infância até a vida adulta.
Precursor no que se diz respeito à sexualidade infantil, Freud descarta a teoria que
caracteriza a pulsão sexual como ausente durante a infância a fim de desvendar a
origem dessas pulsões, após se observar casos de histeria em adultos, originados
na infância. A pulsão sexual é considerada como a existência da necessidade
sexual biológica do animal. Essa necessidade é caracterizada pela força variável de
excitação sexual denominada libido.
Considerado antigamente como perverso o desvio de uma função normal,
principalmente no que se tange a sexualidade, Freud passa a questionar o que
ilustra esse “normal” e o conceito orgânico de perversão. Entende-se então, através
da psicanálise que o ser humano é naturalmente perverso, uma vez que considera
como perverso um amplo âmbito de tudo que compõe a sexualidade sem o objetivo
de procriação, ou seja, satisfação de desejo e prazer próprio através da pulsão
sexual considerada normal. A compreensão das funções sexuais para além do ato
sexual, como por exemplo, por questões de saúde, é conhecida como sublimação.
Para Freud a sexualidade infantil se faz presente no estímulo de zonas erógenas
em busca de satisfação, através da sucção e estimulação do próprio próprio corpo,
na qual a pulsão sexual está diretamente direcionada à autonomia da criança, ação
denominada auto-erótica. Após ocorrer a atração da própria genitália, a criança
tende a se interessar pelas zonas erógenas alheias, porém, o sentimento de
vergonha antes inexistente é desenvolvido. Dessa forma, ocorre o recalcamento
dessas inclinações, causando sentimentos negativos que representam casos de
neurose -angústia e sofrimento que são causados pelo inconsciente-, fator de
grande estímulo do sintoma.

Análise

Para o entendimento pleno da obra “Três Ensaios Sobre a Teoria da


Sexualidade”, é necessário o conhecimento de três questões norteadoras sobre a
temática: a pulsão, o recalcamento e a sublimação.
A pulsão sexual, segundo Freud, não pode ser reduzida somente a simples
manifestações dos repertórios sexuais, como cópula, masturbação e outros, o
objeto de pulsão pode ser qualquer meio onde se possa satisfazer a pulsação. O
mesmo não é previamente determinado, é variável, sua única característica
necessária é permitir a satisfação das pulsões. Estes tendem a ser objetos parciais,
partes do corpo por exemplo como o dedo, as mãos, contudo, podem ser também
objetos fantasiados, que por um lado, estarão sempre à disposição dos movimentos
das pulsões sexuais. Trata-se, de maneira geral, do impulso energizado pela libido.
Assim, a pulsão sexual ​não se limita às atividades repertoriadas da sexualidade
biológica, mas constitui o fator primordial que impulsiona toda a série de
manifestações psíquicas, estando, portanto, no fundamento do aparelho psíquico e
de seu funcionamento. O ego começa a ser visto como objeto de investimento
libidinal e esse investimento, quando bem estruturado, começou a servir como fator
organizador das pulsões sexuais na esfera psíquica. ​Essas experiências com os
impulsos relacionados à sexualidade estão presentes em toda a vida do indivíduo,
recalcadas ou não.
O recalcamento é construído através da teoria da defesa, de maneira
inconsciente. Dessa maneira, há a criação de um bloqueio da lembrança,
pensamento ou ideia a fim de não gerar um sofrimento por uma experiência
traumática. O recalcamento produz um efeito amnésico, porém não é equivalente à
uma supressão. Nesse caso, as excitações correspondentes continuam a ser
produzidas como antes, mas são impedidas por um obstáculo psíquico de atingir
seu alvo e empurradas para muitos outros caminhos, até que se consigam
expressar como sintomas.
A sublimação é um processo postulado por Freud, a fim de explicar atividades
humanas sem qualquer relação aparente com a sexualidade, mas que encontrariam
o seu elemento propulsor na força da pulsão sexual. Freud descreve como
atividades de sublimação principalmente a atividade artística e a investigação
intelectual. Diz-se que a pulsão é sublimada na medida em que é derivada para um
novo objetivo não sexual e em que visa objetos socialmente valorizados, como
artes, esportes, estudos, trabalhos, atividades sociais.
A ideia contemporânea de que a pulsão sexual tem início somente em conjunto
com as atividades sexuais, que a criança não possui pulsão sexual e este quesito só
é desenvolvido durante a puberdade é completamente equivocado e cheio de
conclusões apressadas.
É importante salientar que o período infantil é caracterizado pela amnésia que
encobre os primeiros anos, até os seis ou oito anos de vida e ao mesmo tempo, é o
período da vida em que mais deixam marcas e se tornam determinantes para todo o
desenvolvimento posterior. Esta amnésia semelhante à que observamos nos
neuróticos em relação às vivências posteriores, e cuja essência consiste num mero
impedimento da consciência (recalcamento).
Dentro da sexualidade infantil, sabe-se que o recém-nascido traz consigo
pequenas características sexuais que continuam em desenvolvimento durante a
infância, porém depois sofrem uma supressão progressiva, que pode ser rompida
por avanços regulares do desenvolvimento sexual ou suspensa pela individualidade.
Assim, a vida sexual da criança costuma expressar-se numa forma acessível à
observação por volta dos três ou quatro anos de idade.
Durante essa supressão progressiva, de latência total ou parcial, há a presença
de forças anímicas que, posteriormente, surgirão como bloqueios no caminho da
pulsão sexual e aparecerão como forma de diques, como vergonha, asco,
exigências de ideais estéticos e morais, completamente relacionados com a
educação recebida pela criança e organicamente condicionado e fixado pela
hereditariedade.
Há diversas manifestações da sexualidade infantil, e, como consequência,
organizações sexuais pré-genitais, incluindo a fase oral, a fase anal e a fase fálica.
A fase oral no recém nascido é caracterizada pela boca como a principal zona
erógena, nela a atividade oral ainda não se separou da nutrição, com a presença de
fantasias orais de ataque e incorporação através da sucção (chupar) e/ou mordida.
Polimorfia: todo objeto é uma possibilidade. Ao crescer, há uma repugnância natural
ao canibalismo como forma de repulsão aos nossos impulsos infantis, quando
bebês. Há manifestações da fase no período adulto, com a oralidade adulta: o beijo,
sexo oral, prazer do comer (derivado da satisfação sexual oral infantil).
Há a fase anal sádica no bebê, caracterizada pela zona anal (intestino, reto,
ânus) como a principal zona erógena e a presença de fantasias anais, como
retenção, liberação, controle (sadismo), sujeira/limpeza (escatológicas – fascínio
com as fezes e urina). Saímos da fase anal sádica pelo mesmo motivo que fez nós
abandonarmos a fase oral, o sistema de controle dos nossos impulsos,
caracterizados por processos educacionais. Isso não quer dizer que ainda há traços
da fase anal sádica nos adultos.
A fase fálica, já no início da adolescência, caracteriza-se pelo pênis e clitóris
como a principal zona erógena. É uma fase exibicionismo voyeurismo, com a
presença de fantasias fálicas de potência, poder, competitividade e rivalidade.
Com a chegada da puberdade, há diversas mudanças na questão sexual. Até
então, a pulsão sexual era auto-erótica, partindo de pulsões e zonas erógenas
distintas a fim de buscar um certo tipo de prazer com alvo sexual exclusivo. A partir
deste momento, ela encontra um objeto sexual. Com o pleno conhecimento da
existência das zonas genitais, surge no homem a noção de um membro agora
capaz de ereção e, consequentemente, um novo alvo sexual: a penetração em
alguma cavidade que excite a sua zona genital.
Assim, com o desenvolvimento individual da sexualidade ao longo da vida dos
indivíduos, há presença de maneiras muito diversificadas de atração e orientação
sexual. Podem ser invertidos absolutos, invertidos anfígenos, invertidos ocasionais
ou possuírem inclinações homossexuais.
Frente ao exposto, segundo Freud, há uma predisposição originariamente
bissexual que, no curso do desenvolvimento, vai transformando-se em
monossexualidade, com resíduos íntimos do sexo atrofiado. A questão da
disposição sexual promove ao indivíduo tanto de centros cerebrais masculinos e
femininos quanto de órgãos sexuais somáticos. Tais centros desenvolvem-se na
puberdade, na influência de glândulas e hormônios sexuais.
Frente aos exemplos de influência ao indivíduo quanto à sexualidade, outros
fatores acabam sendo deixados de lado, mesmo entendendo que a sexualidade
está ligada a muitos aspectos e acontecimentos ao longo da vida que podem ou não
causar algum efeito. Por isso é necessário uma avaliação minuciosa de todos
elementos que demonstrem o mínimo efeito em relação ao objeto estudado.
Conclusão

A sexualidade é uma dimensão humana essencial, e deve ser entendida na


totalidade dos seus sentidos como tema e área de conhecimento, buscando garantir
amadurecimento e consciência da própria sexualidade e expandir os estudos que
cercam o tema.
O primeiro teórico a falar sobre a sexualidade infantil foi Sigmund Freud. A
sexualidade infantil surge ligada às necessidades orgânicas e acaba se
apresentando auto erótica, procurando a satisfação de seus desejos em seu próprio
corpo. Ao nascer, a criança possui em sua estrutura sensorial, a boca e os lábios
como zonas erógenas mais desenvolvidas e é por meio dos lábios que ela
experimenta os primeiros momentos de prazer. O recém nascido traz consigo traços
sexuais que se desenvolvem por certo tempo, mas logo sofre uma supressão
progressiva, associada ao desenvolvimento da individualidade e pressão familiar e
social.
Constituindo-se como um diálogo entre a biologia, a sexologia e a psicopatologia,
como pôde nos mostrar Frank Sulloway (SULLOWAY, 1981. p. 264), oferecendo o
quadro geral destas influências no pensamento freudiano; os “Três Ensaios”
autenticaram a concepção freudiana da sexualidade, provenientes de descobertas
clínicas importantes que trouxeram a sexualidade ao primeiro plano de investigação
teórica psicanalítica.
Para Freud, diferenciar a sexualidade da genitalidade apresentou a vantagem de
permitir levar as manifestações sexuais das crianças e dos chamados perversos
para o mesmo âmbito dos adultos normais. Salienta-se por esse fato que a
homossexualidade, a mais importante das perversões para Freud (FREUD, 1925
[1924]/1992. p. 36), quase não merece ser chamada de perversão; ela pode ser
remetida à bissexualidade psíquica constitucional de todos os seres humanos e aos
efeitos secundários da primazia fálica.
A partir dessas observações, fica evidente a importância dos estudos de Freud
na busca da plena liberdade sexual e como suporte para profissionais e famílias que
atuam na compreensão integral de seus pacientes e familiares. Além disso, a luta
contemporânea contra a homofobia também conta com os esclarecimentos a nível
psíquico sobre a naturalidade da condição de atração sexual pelo sexo masculino e
feminino simultaneamente.

Referências bibliográficas

Sexualidades e gênero: desafios da psicanálise


Cândida Sé Holovko, Cristina Maria Cortezzi - 2017

Três ensaios sobre a teoria da sexualidade


Sigmund Freud - 1905

A teoria freudiana da sexualidade 100 anos depois (1905-2005)


Psychê — São Paulo — jan-jun/2007

A sexualidade segundo a teoria psicanalítica freudiana e o papel dos pais nesse


processo
Elis Regina da Costa, Kênia Eliane de Oliveira - Goiás - 2011

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