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188-189 Compreensão 1.1 a. preso; b. Ana Plácido; c. amigos; d. cadeia da Relação; e. quinze; f. Amor de perdição; g. amores; h. Simão; i. Teresa; j. Mariana; k. chorar
do Oral
1.2
a. O protagonista da obra e o autor estiveram presos na cadeia da Relação do Porto.
b. As razões da prisão de Simão e de Camilo são as mesmas – a relação amorosa.
c. Simão é tio-avô de Camilo.
1.3
a. Camilo conhece Ana Plácido num baile de Carnaval e apaixona-se por ela.
b. 1850
c. Ana Plácido casa com Manuel Pinheiro Alves.
d. Camilo vai para Lisboa com o objetivo de se tornar escritor.
e. Camilo vive uma relação adúltera e escandalosa com Ana Plácido.
f. Ana Plácido foge de casa e vai viver com Camilo para Lisboa.
g. O marido de Ana Plácido instaura um processo jurídico contra a mulher e o amante, acusando-os de adultério.
h. Ana Plácido e Camilo são presos.
1.4
a. Os filhos de duas famílias inimigas – Simão Botelho e Teresa Albuquerque – apaixonam-se e estão dispostos a morrer pelo seu amor.
Simão
b. Apresenta-se forte de compleição
c. É belo
d. É parecido com a mãe
e. É um jovem turbulento mas transformado pelo amor
f. Ostenta mau génio
Teresa
g. É uma jovem fidalga de Província
h. É rica
i. É bem-nascida
j. Tem 15 anos
k. É bonita
l. Está apaixonada por Simão
Sentidos 11, Unidade 3.2 – Camilo Castelo Branco, Amor de perdição Cenários de Resposta
Mariana
m. É uma jovem do povo
n. Tem 24 anos
o. Possui belas formas
p. Tem um rosto belo e triste
q. Está apaixonada por Simão
189 Expressão Oral Resposta de caráter pessoal. Contudo apresentam-se tópicos orientadores para a planificação da expressão oral.
Introdução
– Constatação estatística do aumento de divórcios em Portugal e tomada de posição sobre o tema.
Desenvolvimento
– Apresentação de possíveis razões para o facto:
• os casamentos precipitados que não têm por base uma relação sólida;
• a emancipação da mulher;
• a facilidade com que hoje em dia as pessoas se conhecem através das redes sociais e o interesse que conseguem despertar umas nas outras.
– Indicação de possíveis consequências do aumento do número de divórcios:
• a desestruturação da família tradicional;
• a frustração pessoal, familiar e social;
• a perceção do divórcio como um acontecimento banal;
•…
Conclusão
– Retoma da posição inicialmente tomada e fecho do texto.
192-193 Educação Literária 1. Na Introdução, torna-se evidente que a obra se vai centrar na personagem Simão António Botelho – que é tio de Camilo. Assim, torna-se justificável que o
Introdução
subtítulo da obra seja “Memórias de uma família”.
2. Pelo facto de se servir de um registo real, existente na cadeia da Relação do Porto, e de optar pela sua transcrição, Camilo está a assumir desde o início que
aquilo que vai narrar é baseado numa história verídica.
3.1 A metáfora presente na expressão salienta o facto de Simão ser ainda bastante jovem, já que a “manhã da vida” se associa à juventude.
3.2 É evidente a existência de duas fases na vida de Simão Botelho aos dezoito anos: uma primeira fase de alegria, associada à descoberta do amor; outra de
desalento, causado pelo abandono e pelo fracasso desse amor.
4. A primeira parte do enunciado – “amou” – remete para a introdução da obra, momento em que Simão se apaixona. A segunda parte – “perdeu-se” –
funciona como uma síntese do desenvolvimento, ou seja, evidencia que este amor não será consumado, mas antes a causa da destruição das personagens. A
última parte – “morreu amando” – refere-se ao desenlace trágico da obra, com a morte, por amor, de Simão Botelho.
Sentidos 11, Unidade 3.2 – Camilo Castelo Branco, Amor de perdição Cenários de Resposta
5. O destinatário é o leitor, como se pode verificar no segmento “Não seria fiar demasiadamente na sensibilidade do leitor”. (l. 12)
6. O narrador acredita que, no geral, os leitores sentirão comiseração por Simão – “Não seria fiar demasiadamente na sensibilidade do leitor, se cuido que o
degredo de um moço de dezoito anos lhe há de fazer dó.” (ll. 12-13) – sobretudo o público feminino que, no seu entender, terá todos os motivos para chorar
– “O leitor decerto se compungia; e a leitora, se lhe dissessem em menos de uma linha a história daqueles dezoito anos, choraria!” (ll. 22-23)
7.1 [C]
7.2 [C]
7.3 [A]
7.4 [D]
194 Informar 1. A partir da Introdução, consegue perceber-se que Camilo está preso no mesmo local onde, anos antes, esteve também preso o seu tio e pela mesma razão –
o amor por uma mulher que, no caso concreto de Camilo, era Ana Plácido, com quem fugiu, uma vez que ela era casada. Foi, por isso, acusado do crime de
adultério, facto que poderia ser punido com o degredo e essa foi a pena atribuída a Simão Botelho. É evidente, ainda, a aproximação do escritor ao herói da
novela, no abandono a que ambos parecem ter sido votados: Camilo, porque perdeu os pais quando era ainda uma criança, Simão, que no seu destino
trágico, se viu abandonado pela família.
195 Informar 1. São características do herói romântico a defesa da liberdade, que pode conduzir a comportamentos de rebeldia, ao individualismo, ao idealismo e à ânsia
pelo absoluto, traduzíveis no vigor anímico e na tentativa de superação do herói ou no seu isolamento e desistência, quando finda a esperança de atingir
certos ideais.
196-197 Educação Literária 1.1 O narrador convoca a astúcia e a perspicácia dos seus leitores, para que possa ser bem-sucedido no retrato que pretende traçar de Teresa. Assim, declara
Capítulo IV
que, pela leitura do capítulo anterior, qualquer leitor atento facilmente depreenderia as características de Teresa que vai enunciar.
(1ª parte)
1.2 O narrador pretende denunciar a hipocrisia da sociedade que leva, muitas vezes, os indivíduos a escudarem-se na mentira e na falsidade de forma a melhor
poderem atingir os seus fins.
2. Teresa evidencia todas as características enunciadas porque, quando confrontada com a vontade do pai em casá-la com Baltasar, enfrenta-o, sem medo,
confessando odiar o seu primo e preferir morrer a casar com ele. É também evidente a sua força e a sua determinação no facto de não derramar uma única
lágrima, quando o pai fica irado, a amaldiçoa e quando ordena que fique trancada no quarto.
3. Teresa ama incondicionalmente e com a força da paixão Simão Botelho. Está, por isso, disposta a enfrentar o pai e a tornar-se insubmissa. Recusa-se
perentoriamente a casar com Baltasar, afirmando, inclusivamente, estar disposta a morrer por amor, tópico tão ao gosto dos românticos.
4. É evidente que era expectável socialmente que os filhos, sobretudo as filhas, obedecessem em tudo aos seus pais. Por isso, Tadeu sentiu-se no direito de
escolher um marido para Teresa, convicto de que estaria a fazer o melhor por ela – “a violência de um pai é sempre amor”. De qualquer forma, o casamento
por amor começa a impor-se nesta época, como a obra demonstra e hoje em dia, na sociedade portuguesa, a opinião das filhas é tida em conta,
nomeadamente no que ao casamento diz respeito, já que o mesmo é visto como um ato de amor bilateral.
5. No diálogo é visível a autoridade que Tadeu exercia sobre Teresa. Pela diferença de tratamento, Tadeu serve-se da segunda pessoa do singular para se referir
à filha − “Vais hoje dar a mão de esposa a teu primo Baltasar” (l. 31) − ao passo que Teresa se dirige ao pai recorrendo à terceira pessoa do singular – “E será
o pai feliz com o meu sacrifício?” (l. 50). O uso abundante de frases do tipo imperativo por parte de Tadeu é também diferenciador, pois tal está ao serviço
das ordens que dá à filha – “Entra nesse quarto” (l. 68). Por outro lado, o diálogo evidencia o elevado estatuto social de ambas as personagens por causa do
Sentidos 11, Unidade 3.2 – Camilo Castelo Branco, Amor de perdição Cenários de Resposta
uso de uma linguagem erudita, percetível nas linhas 35-37, por exemplo.
198-199 Educação Literária 1. O narrador não nutre qualquer afeição por Baltasar Coutinho. Assume uma posição subjetiva na medida em que, ironicamente, se contrapõe à opinião de
Capítulo IV
Tadeu de Albuquerque sobre o sobrinho. Apesar de o pai de Teresa considerar que ele era um composto de excelências, cheio de virtudes e qualidades, o
(2ª parte)
narrador atribui a Baltasar apenas um defeito – “a absoluta carência de brios.” (l. 2)
2. “’Ainda há pouco eu era tão feliz!... Feliz!’, repetiu ele, erguendo-se de golpe. ‘Quem pode ser feliz com a desonra duma ameaça impune!... Mas eu perco-a!
Nunca mais eu hei de vê-la... Fugirei como um assassino, e meu pai será o meu primeiro inimigo, e ela mesma há de horrorizar-se da minha vingança…” (ll.
29-32)
2.1 Simão sente-se dividido entre o amor e o ódio. O ódio que sente por Baltasar Coutinho e que o leva a desejar matá-lo; o amor que o une a Teresa e que ele
acredita que não resistirá se ele se vingar do seu primo, uma vez que passará a ser um assassino foragido de quem a própria Teresa se há de horrorizar.
Assim, este conflito interior deixa transparecer várias marcas do herói romântico: o amor intenso, por um lado, que leva o seu protagonista a assumir uma
atitude de rebeldia para o defender a todo o custo, e, por outro, a defesa da nobreza de caráter, virtude considerada de excelência pelos românticos.
2.2 Apesar de, num primeiro impulso, Simão ter pretendido levar avante o seu desejo de vingança dirigindo-se a Castro Daire, acabou por mudar o seu
propósito, tendo optado por ir a Viseu para se encontrar com Teresa na noite do dia seguinte.
3. Os adjuvantes de Simão são o arrieiro, o primo ferrador deste e a mendiga que era a responsável pela troca de correspondência com Teresa.
200 Compreensão 1.
do Oral
a. uma exposição sobre um tema; b. demonstrativo; c. elucidação; d. objetividade; e. ilustrar
2.
2.1 [B]
2.2 [A]
2.3 [D]
2.4 [C]
3.
[C], [E], [A], [D], [B]
201 Leitura 1.
a. Artigo de opinião.
b. O casamento infantil.
c. “O casamento infantil é uma violação grosseira dos direitos humanos”. (l. 1)
− Argumentos:
d. O casamento infantil é uma realidade, mesmo em países que o proíbem.
e. As crianças que casam “perdem” todos os seus direitos (escolarização, saúde e intervenção social).
Sentidos 11, Unidade 3.2 – Camilo Castelo Branco, Amor de perdição Cenários de Resposta
202-203 Educação Literária 1. É percetível, no diálogo entre o padre e a freira, uma crítica ao clero, uma vez que são colocados em causa alguns votos a que aquela classe está obrigada: o
Capítulo X
voto de castidade, visível nas considerações que o padre tece a propósito de Mariana e nos ciúmes da prioresa por ter sido relegada para segundo plano; o
(1ª parte)
voto de pobreza, dados os hábitos de consumo de vinho e de tabaco (simonte).
2. As reticências sugerem uma pausa no discurso, de forma a melhor acentuar a ironia presente nas palavras do narrador. Assim, e se no início da frase o leitor
é levado a acreditar que a prioresa estaria a chorar por despeito, depois da pausa no discurso, percebe que, afinal, as lágrimas eram provocadas pelo tabaco,
o que reforça a crítica.
3. Quando vê Teresa, Mariana não consegue esconder a sua frustração em relação ao amor que sente por Simão. Tem consciência de que é impossível ser
correspondida, por pertencer a um estrato social mais baixo e, sobretudo, por Teresa ser uma mulher extremamente bela.
4. Mariana é, sem dúvida, o exemplo de mulher abnegada e altruísta. Apesar de apaixonada, mas conhecendo o caráter intempestivo do seu amado, Mariana,
para proteger Simão, sujeita-se a realizar uma missão dolorosa: servir de intermediária entre Simão e Teresa. Facilita assim a comunicação e o
relacionamento daquele casal.
5. Resposta pessoal.
6. É evidente o realismo e a verosimilhança do diálogo. Através dele, conseguem-se evidenciar características específicas de determinado grupo social, neste
caso, o povo. Assim, faz-se uso de uma linguagem marcadamente familiar e popular – “O dianho!” (l. 57) – evidenciam-se marcas de coloquialidade inerentes
ao mesmo – “Eu, cá por mim, nada; mas conheço uma pessoa que lhe quer muito.” (l. 50) – e até se expressam níveis de intimidade – “Como tu estás rica,
Mariana!... […] Eu não quero a tua chita, rapariga” (ll. 64-65).
204-205 Educação Literária 1. A diferença social entre as duas é evidente na forma como Mariana se dirige a Teresa − serve-se de expressões como “vossa excelência” ou “minha senhora”.
Capítulo X
Também o narrador faz questão de acentuar essa diferença, na medida em que, assumindo a perspetiva de Mariana através da focalização interna, se refere
(2ª parte)
à filha de Tadeu de Albuquerque como D. Teresa. Por seu lado, Teresa não faz uso de qualquer título para se dirigir a Mariana.
2. A recusa pode justificar-se pelo facto de Mariana evidenciar algum orgulho pessoal. Agia não em favor de Teresa mas de Simão e, se alguém lhe ficaria em
dívida seria Simão. Para todos os efeitos, Mariana vê em Teresa uma rival e seria ofensivo para si própria aceitar aquela oferenda.
3. Funcionando João da Cruz como protótipo do pragmatismo do homem do povo, o ferrador, ao contrário de Simão, considera o amor um sentimento fútil.
Por isso, segundo ele, nenhum homem devia perder a cabeça ou deixar-se arruinar por causa de uma mulher, havendo tantas à disposição. Neste
seguimento, defende que Simão tinha todas as condições para facilmente arranjar uma à sua altura sem ter de se incomodar, o que revela a defesa do
Sentidos 11, Unidade 3.2 – Camilo Castelo Branco, Amor de perdição Cenários de Resposta
casamento como um ato que não pressupunha forçosamente a existência de amor, posição que se coaduna com a da sociedade sua contemporânea.
206-207 Educação Literária 1. O início do excerto aponta, desde logo, para uma atmosfera trágica, na medida em que, na carta que Simão escreve a Teresa, é notória a natureza negativa
Capítulo X
do cenário descrito, através do uso de expressões disfóricas como “Considero-te perdida, Teresa.” (l. 3), “Tudo, em volta de mim, tem uma cor de morte.”
(3ª parte)
(l. 4), “Parece que o frio da minha sepultura me está passando o sangue e os ossos.” (ll. 4-5) Também as palavras de Mariana, decorrentes da sua capacidade
premonitória, vaticinam um destino trágico, como se pode constatar em “É a última vez que ponho a mesa ao senhor Simão em minha casa!” (l. 28) ou em
“Choro, porque me parece que o não tornarei a ver; ou, se o vir, será de modo que oxalá que eu morresse antes de o ver.” (ll. 37-38). No final do excerto, é
também notório o peso de um destino trágico, quer quando Simão afirma “O destino há de cumprir-se…” (l. 68) quer quando o narrador anuncia que Simão
tinha “desaparecido nas trevas” (l. 69).
2. Apesar de ser evidente o amor que Simão nutre por Teresa, o herói deixa, no entanto, transparecer que acima desse sentimento acaba por estar o seu
pundonor e o seu desejo de vingança pelo infame que se atravessa no seu caminho. Por outro lado, é manifesta a crença num amor puro e absoluto, capaz
de transcender as barreiras do mundo terreno e de se concretizar num plano divino e eterno.
3. A perdição por amor que pode, inclusivamente, conduzir à morte; a melancolia de Simão, refletida também pela envolvência taciturna em que se encontra; a
crença na sacralização do amor, sob a influência da fé cristã; a defesa da honra, associada a um sentimento de vingança e à manifestação de atos de rebeldia,
são características do herói romântico.
4. Predicado − “Considero- -te perdida”; complemento direto − “te”; predicativo do complemento direto − “perdida”; vocativo − “Teresa”.
5. Oração subordinada substantiva completiva.
6.
a. gramatical (referencial)
b. gramatical (frásica)
c. lexical (substituição)
d. gramatical (interfrásica)
208-210 Educação Literária 1. O narrador adota uma perspetiva omnisciente. É conhecedor daquilo em que Simão está a pensar e dos sentimentos que esses pensamentos lhe provocam −
Capítulo X
o sentimento de vingança que lhe assalta o espírito, quando lhe ocorre à mente “a imagem odiosa de Baltasar Coutinho” (ll. 9-10).
(4ª parte)
2. Enquanto Simão se apresenta como o protótipo do herói reto, honrado e corajoso, Baltasar revela ser cobarde e mesquinho. Manifesta uma mentalidade
machista quando afirma “Se meu tio a obrigasse, desde menina, a uma obediência cega, tê-la-ia agora submissa, e ela não se julgaria autorizada a escolher
marido.” (ll. 35-37), pois deixa transparecer aquilo em que os homens seus contemporâneos acreditavam – que as mulheres jovens deviam uma obediência
cega a seus pais e que não tinham direito de escolher com quem casavam. Contrariamente, Simão evidencia uma mentalidade compatível com os tempos
modernos, na medida em que se assume como um defensor e um crente no amor.
3. Apesar de a vontade de vingança ter tido um peso muito significativo na conduta de Simão, já que o levou a cometer o ato atroz de retirar a vida a um ser
humano, o herói da obra acaba por revelar a sua dignidade e honra, escusando-se a fugir à justiça e responsabilizando-se pelos seus atos.
4. O facto de o meirinho-geral estar disposto a deixar Simão fugir por saber que era filho do corregedor denuncia a corrupção instalada na justiça, uma vez que
se percebe que ela não funcionava da mesma maneira para todos, sendo as classes poderosas, geralmente, favorecidas.
Sentidos 11, Unidade 3.2 – Camilo Castelo Branco, Amor de perdição Cenários de Resposta
211 Informar 1. O tema do amor-paixão assume diferentes facetas no Amor de perdição. Assim, por um lado, é tido como um sentimento avassalador, febril e egoísta, muitas
vezes associado ao desejo de vingança sobre aqueles que se possam constituir como uma ameaça à sua plena realização. Tal é visível, por exemplo, no
capítulo IV – “O académico, chegando ao período das ameaças, já não tinha clara luz nos olhos para decifrar o restante da carta. Tremia sezões, e as artérias
frontais arfavam-lhe entumecidas. Não era sobressalto do coração apaixonado: era a índole arrogante que lhe escaldava o sangue. Ir dali a Castro Daire, e
apunhalar o primo de Teresa na sua própria casa, foi o primeiro conselho que lhe segredou a fúria do ódio.” (p. 198, ll. 13-18). Pode também ser visto em
articulação direta com a paixão de Cristo, não só pelo sofrimento que atinge as personagens que se amam e que se traduz, por exemplo, na separação dos
dois amantes, mas também porque o amor pode conduzir à sacralização dos amantes: “Hás de pensar com muita saudade no teu esposo do Céu, e nunca
tirarás de mim os olhos da tua alma para veres ao pé de ti o miserável que nos matou a realidade de tantas esperanças formosas.", "Tu verás esta carta
quando eu estiver num outro mundo, esperando as orações das tuas lágrimas. As orações! Admiro-me desta faísca de fé que me alumia nas minhas trevas!...
Tu deras-me com o amor a religião, Teresa.” (p. 206, capítulo X, ll. 14-19).
213-215 Educação Literária 1. Exemplos que ilustram a sacralização do amor: “perdoa à tua esposa do Céu” (ll. 14-15); “A infeliz espera-te noutro mundo, e pede ao Senhor que te
Conclusão resgate.” (ll. 19-20); “Adeus! À luz da eternidade parece-me que já te vejo, Simão!” (l. 73)
(1ª parte)
2. Teresa acaba por confessar que poderia ter poupado o sofrimento de Simão em relação à sua própria morte, se omitisse este facto. Tal como confessa, caso
o degredado acreditasse que a sua amada estava viva, isso poderia alimentar-lhe a alma e o ânimo, durante os dez anos que se seguiriam na Índia. Teresa
queria ainda que ele soubesse que, ao retirar-lhe a última réstia de esperança na partida para o degredo, ela tinha acabado por sucumbir.
3.1 Depois da notícia da morte de Teresa, Simão fica a velá-la no camarote. O ambiente descrito traduz o momento presente de tristeza e de angústia,
sobretudo quando o narrador afirma que “atento a um assobio da ventania: devia de soar-lhe como um ai plangente” (ll. 6-7) por ser um “silvo agudo”.
Contrariamente, o passado e o espaço evocado na carta de Teresa refletem um ambiente de magia e de felicidade, em plena comunhão com a Natureza
(veja-se a presença de elementos como árvores, rio, céu estrelado, Lua). A carta evoca, assim, um passado em que ambos acreditavam na possibilidade de
concretizar plenamente o seu amor, num espaço idílico como o descrito.
4. Teresa vê a morte como um alívio para o seu sofrimento e como a única forma de alcançar a paz, na medida em que, não podendo satisfazer a maior
necessidade da sua vida que é partilhá-la com Simão, vive de tal forma infeliz que o seu espírito só alcança alguma serenidade quando dorme.
5. Teresa termina a carta, rogando a Simão que lhe dedique o seu amor eterno, fazendo-o prometer não mais amar alguém. Esta atitude é compreensível uma
vez que, estando Teresa a morrer, não o queria fazer sem ter a garantia de que o seu amor perpetuaria.
6. Coesão gramatical temporal.
7.1 “te” – complemento direto; “noutro mundo” – complemento oblíquo; “ao Senhor” – complemento indireto; “que te resgate” – complemento direto.
8. “o último fio”.
Sentidos 11, Unidade 3.2 – Camilo Castelo Branco, Amor de perdição Cenários de Resposta
216-217 Educação Literária 1. Assiste-se a uma concentração temporal na medida em que no relato dos acontecimentos se recorre a resumos e a elipses daquilo que aconteceu de mais
Conclusão relevante durante um período de nove dias, desde o dia do embarque de Simão, o mesmo em que morre Teresa, até à morte do protagonista e ao suicídio
(2ª parte) de Mariana.
2. Em vida o triângulo foi sempre evidente, na medida em que Simão era desejado pelas duas mulheres e, apesar de o seu coração estar destinado a uma delas,
a outra desempenhou também um papel significativo na sua vida. No delírio final, Simão acaba por evocar e apelar para a continuação desse triângulo numa
outra vida, agora numa perspetiva muito mais sacralizada, quando, interpelando Mariana, afirma “Tu virás ter connosco; ser-te-emos irmãos no Céu… O mais
puro anjo serás tu… se és deste mundo, irmã” (ll. 43-44). Acresce ainda que Mariana está disposta a dar continuidade a esse triângulo, já que, após a morte
de Simão, nove dias depois da morte de Teresa, opta por se suicidar.
3. O visualismo trágico da cena final é evidenciado, por exemplo, pelo facto de se narrarem ações muito rápidas, que se sucedem quase em simultâneo e que
fogem ao controlo humano, ou pela invocação de sensações auditivas e, sobretudo, visuais nas descrições: “E, antes que o baque do cadáver se fizesse ouvir
na água, todos viram, e ninguém já pôde segurar Mariana, que se atirara ao mar.” (ll. 73-74); “Viram-na, um momento, bracejar” (l. 78).
2.2 As formas verbais apontam para três tempos distintos: um passado de sofrimento, expresso através do pretérito perfeito − “o que eu já chorei por ti”; o
presente onde o sujeito lírico estabelece um compromisso – “Juro, meu amor” – e o futuro que evidencia a crença num amor sólido, intenso e eterno – “O
nosso amor de sempre / Brilhará p’ra sempre”; “Mas sempre / P’ra sempre / Vou gostar de ti”.
3. A letra desta música gira à volta de duas ideias fundamentais: o compromisso de um amor eterno, evidente em versos como “O nosso amor de sempre /
Brilhará, p'ra sempre”, e o sofrimento amoroso, visível em “Ai, meu amor / O que eu já chorei por ti”, temáticas também evidentes no Amor de perdição.
Assim, Teresa e Simão, ao mesmo tempo que sofrem a dor da separação, fazem juras de amor eterno, chegando mesmo a acreditar na consumação do seu
amor numa outra dimensão.
223 VERIFICAR 1.
a. F − Tadeu de Albuquerque é contra o namoro dos dois, porque Simão é filho do corregedor que lhe foi contrário numa sentença.
b. F − Desde o início, Teresa recusa casar com Baltasar, confessando o seu amor por Simão.
c. V
d. V
e. F − Pelas atitudes de Mariana, Simão apercebe-se rapidamente de que ela está apaixonada por si.
f. F − Mariana tem uma conduta irrepreensível no auxílio que presta a Simão na sua relação com Teresa, ainda que o ame.
g. V
h. F − Foi por opção que Mariana resolveu acompanhar Simão na sua condenação ao degredo. No entanto, quando este morre, a filha de João da Cruz, movida
pelo imenso amor que nutria por Simão, decide acabar com a vida por sentir que esta já não fazia sentido sem ele.
i. V
j. F − Mariana, a mendiga e o arrieiro revelam-se também adjuvantes.
k. F − Simão apresenta comportamentos divergentes ao longo da obra: primeiro, caracteriza-se por ser rebelde, depois, quando se apaixona, revela-se sereno e
mais amadurecido. Em seguida, deixa-se levar pela fúria e pela defesa da honra, quando mata Baltasar, e, finalmente, ainda que contrário aos ditames
sociais, assume uma grande dignidade, ao responsabilizar-se pelos seus atos.
l. V
m. V
n. V
o. F − São frequentes os juízos de valor tecidos pelo narrador, quer demonstrando simpatia quer desprezo pelas diferentes personagens.
p. V
q. V