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Faculdade de Direito
Direito Administrativo I
Professor: Alexandre Aragão
Aula do dia 01/08/2006
Servidões administrativas:
A doutrina, até por ausência de uma disciplina legislativa mais específica sobre a servidão
administrativa, tende a aplicar analogicamente, no que couber (isso envolve discussões em
relação ao cabimento ou não da disciplina analógica), a lei geral da desapropriação – o Decreto-
lei 3.365/41.
Uma servidão administrativa se institui, inicialmente, com o advento do decreto
declaratório de utilidade pública que, neste caso, não é para fins de desapropriação, mas para fins
de instituição de servidão administrativa. Da mesma forma, haverá a ação de instituição de
servidão administrativa, que vai calcular a indenização a ser paga ao particular, dono do imóvel
sobre o qual houve a incidência do ônus real obrigatório, independente do seu consenso.
Naturalmente, também poderá haver o acordo judicial ou extrajudicial, em relação ao valor da
desapropriação.
Apesar de haver divergências doutrinárias, a jurisprudência entende que a servidão
administrativa, como qualquer outro direito real, deve ser inscrita no Registro Geral de Imóveis e
essa simples inscrição consuma completamente a servidão. Na lei 6.015/73 (lei dos Registros
Públicos), em seu art. 168, I, alínea f, está prevista a inscrição das servidões em geral. Esta última
expressão, “servidões em geral”, estendendo o entendimento doutrinário, que engloba as
servidões civis e administrativas.
A capacidade dos entes para a instituição das servidões administrativas seguirá a disciplina
da desapropriação. Há os entes públicos que poderão fazer a declaração de utilidade pública, mas
a promoção da instituição da servidão (propositura da ação judicial e pagamento pela servidão)
poderá ser atribuída, por lei ou por contrato, a alguma entidade da Administração Indireta ou a
alguma concessionária ou permissionária (e.g. as concessionárias de transmissão de energia
elétrica promovem, muito regularmente, a instituição de servidões administrativas. A própria
ANEEL (autarquia), neste caso, excepcionalmente, tem autorização da lei emitir a declaração de
utilidade pública para fins de desapropriação ou para a instituição de servidões administrativas,
competência normalmente atribuída ao Chefe do Executivo da União).
III) Indenização:
Requisições administrativas:
Na Constituição, sobre as requisições, também podemos citar o art. 22, III, que dispõe:
“Compete privativamente à União legislar sobre. III – Requisições civis e militares em caso de
iminente perigo (requisição civil) e em tempos de guerra (requisição militar - não é necessário
caracterizar-se o estado de iminente perigo, que é presumido. Contudo, deve respeitar o elemento
da adequação no princípio da proporcionalidade).
O principal dispositivo legislativo sobre requisições é o Decreto-lei 4.812/42.
Diferentemente da desapropriação, a requisição é auto-executável (desnecessária a imissão
em posse, declaração de utilidade pública etc) e a indenização é posterior.
Uma importante forma de requisição administrativa é uma que se configura não somente
como intervenção na propriedade particular, mas também no domínio econômico, que são as
requisições administrativas por abuso de poder econômico, por ilícitos contra a economia
popular. Esta modalidade de requisição está prevista na Lei delegada nº 4/62 (uma das poucas leis
delegadas) e no Decreto-lei 2/66 (e.g. fiscais do Sarney no Plano Cruzado – os preços eram
tabelados e os produtores, para pressionarem o governo ou venderem os produtos no mercado
externo, onde não eram tabelados, começaram a deixar de vender os produtos no mercado
interno, provocando a escassez dos produtos).
Ocupação temporária:
Tombamento:
Qualquer bem pode ser objeto de tombamento: bens móveis, imóveis. É difícil, contudo,
imaginar um bem incorpóreo que tenha valor histórico, artístico ou cultural que necessite ser
tombado. Podemos imaginar um exemplo do último caso, em que fosse tombada a música
Cidade Maravilhosa, a fim de que não fizessem outras versões que viessem a macular a música
ou seu autor. É bastante comum o tombamento de bens móveis: obras de arte, fotos, gravações de
fitas etc.
O nome tombamento vem da inscrição no livro do tombo, aqueles livros enormes que
acolhiam listas, seja de número de processos, com o fim de escrituração.
Inexiste ordem de hierarquia para o tombamento, diversificando-se da desapropriação e
aproximando-se da servidão administrativa. O município, e.g., poderá tombar um bem federal
pelas mesmas razões em aquele poderá instituir uma servidão administrativa no bem deste. Se há
a disposição de que será utilizado, na servidão administrativa, o Decreto-lei 3.365/41 o que a esta
couber e, mesmo assim não se considera aplicável o dispositivo que estabelece essa hierarquia de
capacidade de tombamento somente dos entes maiores em face dos menores, entende-se que o
mesmo ocorrerá em relação ao tombamento, até porque este tem uma legislação própria, que não
estabelece nenhuma restrição ao tombamento de bens de entes maiores.
Obs.: Leis federais são leis que se aplicam somente à União federal (e.g. leis sobre
servidores públicos da União). Há algumas leis, contudo, que são editadas pelo Poder Legislativo
da União, mas que têm como alvo a República Federativa do Brasil, ou seja, todos os entes
federados – a estas leis damos o nome de Leis nacionais. Ambos os tipos de lei são editadas pelo
Congresso, sendo que o primeiro tipo será legislado pelo Congresso em sua função de órgão
legislativo da União enquanto o segundo tipo será legislado pelo Congresso em sua função de
órgão legislativo da República Federativa do Brasil, que engloba todos os entes da Federação.
Essa distinção é essencial, e.g., para o direito tributário, no qual sempre competirá à União
estabelecer normas gerais e competirá ao Estado estabelecer normas especiais. Isto porque,
muitas vezes, temos, no mesmo diploma legislativo, normas gerais e normas especiais. Então,
diz-se que numa lei há normais federais, porque são especiais e, conseqüentemente, aplicam-se
somente à União (a União só tem competência concorrente para estabelecer normas gerais para
todos, podendo estabelecer normas especiais somente para ela mesmo), e há normas gerais, que
serão normas nacionais.
Um diploma nacional, com algumas regras federais espalhadas dentro dele, que dispõe
sobre algumas regras do tombamento, é o Decreto-lei 25/37 (regulamentado pelo Decreto
20.303/64). Podemos observar que toda a legislação de intervenção do Estado na propriedade é
toda do tempo do Estado-Novo. Este decreto (20.303/64) é, principalmente, uma norma
disciplinadora federal, pois aplica-se só à União, estabelecendo a competência, e.g. do IPAN nos
tombamentos federais e como isso deve ser realizado.
Poder-se-ia pensar que sempre que um bem pudesse ser tombado por um ente, poderia ser
tombado por todos os outros? A resposta a essa pergunta é negativa, visto que pode perfeitamente
haver bens de interesse de preservação, e.g., em razão de valores de história local e não de valores
de história regional ou nacional. Seria inconstitucional, portanto, a União fazer um tombamento
como o citado anteriormente, por ser um interesse local. As regras gerais, contudo, são regidas
pelo Decreto-lei 25/37.
Obs. 2: Normas gerais são as normas (ou regras) que estabeleçam princípios, os
instrumentais para sua garantia de sua observância ou suas exceções. As demais normas, por
exclusão, serão normais específicas (normas executoras, detalhadoras das normas gerais). A
tendência é alargar-se ao máximo a identificação do que é norma geral, até por uma questão de
segurança jurídica. Os Municípios e Estados não desejam criar muitas normas específicas, visto
que estas são muito discutidas, já têm muita jurisprudência mais consolidada sobre elas etc.
Culturalmente, os Estados e Municípios são muito modestos no exercício de suas competências
concorrentes, preferindo a aplicação das normais federais como normas nacionais.
IV) Procedimento: