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MATRÍCULA: 20191530044
Rio de Janeiro
2021
Resenha sobre o texto de Leslie Bethell, ‘O Brasil e a ideia de “América Latina”
em perspectiva histórica’.
Iniciando sua proposição teórica, Leslie Bethell traz uma análise histórica da
conjuntura política que envolvera, por anos, as defasadas relações entre Brasil e
América Hispânica, num contexto histórico-político de disparidade entre ambas.
Iniciando a sua avaliação a partir da origem do conceito “povos latinos”, Bethell ressalta
como a outra América – isto é, aquela que não tange aos Estados Unidos da América
(EUA) – sempre fora objeto de aspirações imperialistas, de dominação política e,
sobretudo, exploração econômica por parte de terceiras nações.
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Faz-se necessário destacar a relevante diferença entre o uso dessas duas palavras: (1) a respeito do
“desenvolvimento”, o autor deste documento refere-se à origem e significância dada ao conceito de
“América Latina”; (2) já no que refere-se ao conceito de “uso”, às diferentes aplicações deste mesmo
conceito para contextos políticos diferentes.
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Apesar do que fora exposto acima, Bethell também preocupa-se em esclarecer aos leitores que seu
apontamento não constitui-se em uma regra: um dos exemplos que poder-se-ia citar é a Geração de 37
que, surgida em meados do século XIX na Argentina, consista em um grupo de pensadores que tomavam
este país como uma póstera potência na América Espanhola. Parte deste pensamento, afirma Leslie,
provinha da assimilação de ideias inglesas e francesas, motivo pelo qual esse mesmo grupo jamais
incorreram em condenar as práticas imperialistas francesas e norte-americanas.
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Dito isto, é possível notar a escalada estadunidense pela independência das
Américas e, com isso, a póstera e consequente consolidação dos EUA como monopólio
dessas nações: embora Leslie não deixe isto claro em seu texto – talvez, eximindo-se de
especular sobre o mérito –, a Doutrina Monroe emergiu em um contexto internacional
no qual os EUA objetavam a construção de uma confederação das Américas. Entretanto,
como dito anteriormente, com o surgimento do sentimento de nacionalismo nas
Américas, as relações interamericanas eram tensionadas.
Por fim, o texto de Leslie Bethell ressalta a história dos avanços e retrocessos na
diplomacia entre as nações da América Hispânica e Portuguesa, com riqueza de detalhes
sobre momentos históricos decisivos à mudança no eixo diplomático (como na Guerra
Fria), bem como frisa, com maestria, o caso em que Brasil passara reconhecer-se como
latino-americano, apenas quando os EUA assim o decidiram denominar – ou , ainda,
assim quando assim determinaram.
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seu objeto de estudo3 (Silva, 2005). Afinal, nas primeiras linhas de seus escritos
(Gonzalez, s/d), a autora não se esvai em seu intento de transparecer aos leitores o seu
engajamento e profunda ligação histórica e social para com as causas que defende (e,
pelas quais, também luta): a saber, o movimento negro e o feminista.
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Max Horkheimer, filósofo influente da Escola de Frankfurt, proponente de uma inovadora ideia sobre
conceito de teoria: a partir das ciências naturais, o autor verifica que estas consistem em um meio
instrumental de prever, conhecer e, sobretudo, dominar a natureza. Comparativamente, as ciências sociais
divergem em alguns aspectos, mas assemelham-se levemente em outros para com as ciências naturais:
como diferenças, é possível citar que as ciências sociais não podem distanciar-se do seu objeto de análise,
tal qual as ciências naturais, uma vez que este mesmo objeto é composto pelo próprio cientista social;
destarte, assume-se que os interesses e contexto no qual os objetos são analisados, interferem na
elaboração das teorias e, portanto, na construção do conhecimento (Silva, 2005).
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Apesar de ser seu foco, as sociedades latino-americanas não são as únicas a exercerem a ocultação de
certas minorias, como destaca a autora. Realizando uma releitura do contexto político-racial – guerras
inclusas – no qual Portugal e Espanha estavam inseridos no século XVI, Gonzalez contempla a ideia de
que a administração da estratificação social no continente americano é oriunda (e herdeira) de práticas
europeias de descriminação social; as quais foram positivadas (juridicamente falando) em países como o
Brasil. No entanto, a autora não peca por generalizar, considerando contextos institucionais e históricos
diferentes, como o caso do elogioso Estatuto de Autonomia das Regiões da Costa Atlântica de Nicarágua:
um exemplo latino de um avanço concreto, frente aos movimentos políticos étnicos e raciais.
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Portanto, a singularidade sobre a qual escreve Gonzales é ímpar, diante o fato de
que o movimento feminista, enquanto contribuinte dessa exclusão por omissão, aliena-
se de seu principal objetivo: a destituição e superação do sistema patriarcal-racista.
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singularidades não são positivadas enquanto direitos, tampouco sua dignidade
resguardada por leis.
A fim de que seja possível inserir o texto do autor camaronês Achile Mbembe,
Necropolítica, como foco de uma crítica, é preciso definir os limites dos conceitos que
orbitam sua proposta, a saber: a política como condutora da morte e a soberania como
sua legitimadora. Diante de conceitos como estes, aos leitores que comumente
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assimilam o conceito de “soberania” à condição na qual uma nação será autônoma e
livre de interferências políticas externas diretas para constituir-se por Estado e leis que
lhes permitam usufruir de direitos políticos, poderiam sobressaltar-lhes os olhos ao
entrar em contato com o conceito de soberania enquanto institucionalização da política
de morte. No entanto, é nestas linhas que Mbembe contrapõe sua definição ao suposto
equívoco de tomar a soberania nos moldes acima.
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institucionalização do poder soberano – que, para Bodin, se encerraria na forma de
Estado –, para Mbembe, a soberania institucionaliza a destruição da própria natureza
humana7. Entretanto, a supracitada explanação não satisfaz inteiramente a compreensão
de Mbembe a respeito da soberania. Isso pode ser sanado com o seguinte trecho de seu
texto, referindo a Gorges Betaille:
7
Aqui, o autor refere-se não à natureza ideológica ou metafísica, mas à biológica.
8
Meios pelos quais a destruição é realizada de maneira eficiente e institucionalizada (MBEMBE, 2016).
9
Neste caso, a maneira como o poder controla a vida humana (MBEMBE, 2016).
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BIBLIOGRAFIA
MBEMBE, Achile. Necropolítica. Rio de Janeiro: Artes & Ensaios – Revista do ppgav
– UFRJ, 2016.