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A controvérsia acerca dos efeitos da evolução tecnológica no emprego, nos salários

e no trabalho tem origens remotas nos primórdios da Revolução Industrial. O


presente Caderno questiona os fundamentos das narrativas mais correntes acerca do
‘futuro do trabalho’. Mostra, na primeira secção, que o debate académico sobre os
ritmos, a direção e os impactos da inovação tecnológica sobre o emprego e o
trabalho está longe de ser conclusivo. Rejeitando exercícios especulativos, procura
distinguir profecias de automação total, de transformações tecnológicas que já
reorganizam a forma como o trabalho é prestado. A segunda secção, depois de passar
em revista abordagens convencionais da inovação e da tecnologia na teoria
económica, convoca contributos da economia política marxista que enfatizam o papel
instrumental da tecnologia para o controlo do trabalho e sua desqualificação.
Argumenta-se na terceira secção que, em mercados capturados por um punhado de
empresas tecnológicas financeirizadas, o incentivo à inovação radical, promotora de
ganhos significativos de produtividade, é diminuto, tendendo a ser substituído por
inovações de produto incrementais e pela reestruturação do trabalho. Este processo
torna-se particularmente visível na emergência das plataformas digitais
monopolistas, ditas colaborativas, cuja principal inovação se encontra na promoção
de novas formas de desqualificação e desvalorização do trabalho. Finalmente, a
conclusão sintetiza os diferentes contributos apresentados, entendidos como
condição analítica para uma abordagem dos impactos tecnológicos que não sendo
centrada em antecipações acerca dos impactos incertos no emprego enfatize as
consequências realmente experimentadas no processo de trabalho e no trabalhador,
recuperando, ao mesmo tempo, a dimensão política para o centro de debate.

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