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cadete de cavalaria, da qual herdou a presunção («justi- o peito», l. 16). No entanto, nas considerações que tece,
fica-se nobre dos quatro costados», l. 9). assume a narração na primeira pessoa, colocando-se no
tempo da escrita («eu perdi o meu», l. 10; «tenho», l. 11;
2. O corregedor, inicialmente, desvaloriza as queixas de Manuel
«eu submeto», l. 13; «eu trago para aqui») e assumindo-
perante os comportamentos de Simão, considerando o filho
se como narrador-personagem ao interpelar o narratário
mais novo corajoso tal como o seu bisavô («O corregedor
(«A desgraça afervora, ou quebranta o amor? Isso é que
admira a bravura de seu filho Simão, e diz […] que o rapaz
eu submeto à decisão do leitor inteligente», ll. 12-13).
é a figura e o génio de seu bisavô […], o mais valente fidalgo
Quanto à ciência a focalização é omnisciente, dado ter um
que dera Trás-os-Montes», ll. 4-6). Desculpa-lhe o compor-
conhecimento total da ação e das personagens («Simão
tamento desregrado perante a aprovação nos exames («O
Botelho almejava um raio de sol», l. 15; «o pavimento do
pai maravilha-se do talento do filho, e desculpa-o da extra-
céu, que o da abóboda do seu cubículo pesava-lhe sobre o
vagância por amor do talento», ll. 10-11). Posteriormente, e
peito», l. 16; «Ânsia de viver era a sua; não era já a ânsia
induzido pela mulher, cria uma certa antipatia por Simão («O
de amar», l. 17). E, quanto à posição, é nitidamente um
corregedor via as coisas pelos olhos de sua mulher, e tomou
narrador subjetivo, pelas considerações tecidas acerca da
parte no desgosto dela, e na aversão ao filho», ll. 16-17) e,
verdade.
após o episódio no chafariz, fica furioso com a atitude do
filho, mandando-o prender («ordenava ao meirinho-geral
que o prendesse à sua ordem», l. 26). D. Rita repreende a
Grupo II
escolha de amizades de Simão («censura a indigna eleição
1.1 (C); 1.2 (B); 1.3 (A); 1.4 (C); 1.5 (A); 1.6 (B); 1.7 (D).
que faz», l. 15) e cria-lhe uma certa inimizade perante os
motejos à sua genealogia («Simão zomba das genealo- 2.1 Oração subordinada adjetiva relativa explicativa.
gias, e mormente do general Caldeirão que morreu frito. 2.2 Complemento do nome.
Isto bastou para ele granjear a malquerença de sua mãe», 2.3 «a vida do romancista na cadeia portuense».
ll. 15-16). Contudo, revela algum amor maternal, ao pro-
porcionar-lhe a fuga para Coimbra, após a ordem de prisão
dada pelo corregedor («mas irritada como mãe, mandou, por Grupo III
portas travessas, dinheiro ao filho para que, sem detença, Sugestões de tópicos de abordagem:
fugisse para Coimbra, e esperasse lá o perdão do pai», • Os «homens vulgares», no seu íntimo, apresentam a
ll. 27-28). vontade de lutar desregrada e incondicionalmente pe-
3. No episódio do chafariz, Simão revela um comportamento los ideais, aproximando-se do conceito de herói român-
rebelde e violento («partiu muitas cabeças», l. 23) na tico. Contudo, verifica-se que a maioria controla os
defesa de um criado do seu pai que fora espancado por seus atos, condicionada pelas normas sociais.
ter quebrado algumas vasilhas, apresentando atitudes • Em Amor de Perdição, Simão Botelho surge como um
extemporâneas e inflamadas («rematou o trágico espetá- «herói romântico» por se destacar na luta pela liber-
culo pela farsa de quebrar todos os cântaros», ll. 23-24), dade do ser humano (ideais jacobinos assumidos pu-
próprias de um herói romântico. blicamente), apresentando comportamentos de rebeldia
na busca desses ideais («convive com os mais famosos
Texto B perturbadores da academia»; procura companheiros na
plebe; parte em defesa de um criado que fora espanca-
4. O narrador salienta o facto de a verdade ser um obstáculo
do,…). Simão e Teresa destacam-se na busca do absoluto
à criação da arte, por ser feia e fria, questionando, assim,
no âmbito amoroso, apresentando força anímica na supe-
a sua reprodução fiel no romance, a revelação daquilo que
ração das barreiras e interdições, visível na revolta contra
de pior existe no ser humano. Estas considerações afigu-
o poder patriarcal (Domingos Botelho e Tadeu de Albu-
ram-se paradoxais perante a decisão de apresentar «factos
querque) e na eliminação, por Simão, do seu rival Bal-
e não teses» no seu livro. Contudo, desculpando-se com a
tasar. Mariana, filha de João da Cruz, nessa busca de ab-
perda do juízo, o narrador justifica a sua opção, pois pre-
soluto, viola as convenções sociais ao seguir Simão para
tende revelar a mudança de postura de Simão, mostrando
o degredo, sendo uma jovem solteira. Teresa e Mariana
a fealdade da verdade: o egoísmo, o fraquejar conducente
mantêm-se firmes na sua resolução e na sua paixão até ao
à abdicação do ideal amoroso («Ânsia de viver era a sua;
fim (morte). No entanto, o idealismo de Simão condu-lo
não era já a ânsia de amar», l. 17).
a agir sozinho, a centrar-se em si mesmo (egocentrismo),
5. O narrador, quanto à presença, é heterodiegético, pois não não aceitando as soluções que a sociedade lhe apresenta,
participa na história, narrando na terceira pessoa («Simão nomeadamente a fuga e a prisão em Vila Real, por signifi-
Botelho almejava um raio de sol», l. 15; «pesava-lhe sobre carem a assunção de uma derrota, e, também, a dada al-
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tura, colocar o seu bem-estar acima do dos outros e acima tem também para a tragicidade a ela inerente, através do
do ideal amoroso, acabando por se destruir física e moral- adjetivo «grave» e a comparação com o «mármore grego»,
mente e arrastando os outros (Teresa e Mariana) nessa des- lembrando a frieza da morte e os finais funestos das tra-
truição. gédias gregas.
• …
Texto B
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