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2.

A metáfora surge, na primeira fala de Manuel de Sousa,


no sentido conotativo do verbo «iluminar», sugerindo uma
Grupo II
receção cheia de luz, quando associada ao incêndio do 1.1 (D); 1.2 (A); 1.3 (B); 1.4 (A); 1.5 (C); 1.6 (D); 1.7 (B).
palácio. Surge, igualmente, a ironia reveladora do seu
2.1 «o estatuto».
patriotismo: a receção dos «muito poderosos e excelentes
senhores governadores destes reinos» será feita com fogo 2.2 Oração subordinada adjetiva relativa restritiva.
e destruição, tal como estes contribuíram para a destrui- 2.3 «Que é o de alguém sem outro lugar no mundo»:
ção da identidade portuguesa. valor explicativo; «que não seja o daquele retrato»:
valor restritivo.
3. Os elementos que contribuem para um crescendo da ten-
são dramática são o teor do monólogo de Manuel de Sousa,
Grupo III
no qual se predispõe a morrer em nome da honra e contra a
tirania; as didascálias das duas cenas a sugerir, na primeira, Sugestões de tópicos de abordagem:
os movimentos rápidos e enérgicos da personagem, («Arre- • O passado deve ser encarado como um exemplo de
bata», l. 5; «corre» l. 5; «atira», l. 6), a rapidez com que o como a sociedade e o Homem evoluíram e do que deve
fogo deflagra («vê-se atear logo uma labareda imensa», l. 6), e não deve ser feito no presente e no futuro.
bem como o barulho que se ouvia («Ouve-se alarido», l. 7); • O povo português olha para o passado, nomeadamente
e, na segunda, novamente a sugestão de movimento («acu- para a Era dos Descobrimentos, e lamenta a perda de um
dindo»; «os afugenta», l. 12), da intensidade do fogo («uma Império glorioso, nada fazendo para a criação de um novo
coluna de fogo salta nas tapeçarias», l. 12) e do pavor que se «Império», por se encontrar preso a esse mesmo passado.
instalara («redobram os gritos»; «ouve-se rebate de sinos», • O desaparecimento de D. Sebastião e a consequente
l. 18); e o terror de D. Madalena ao ver o quadro do marido perda da independência portuguesa marcaram profun-
a ser consumido pelas chamas. Todos estes elementos con- damente o povo português que ficou à espera do re-
ferem um caráter trágico ao final do Ato I, presente no apelo gresso do Desejado e ainda hoje espera por um Messias
à fuga, insistente e amedrontado, no deflagrar das chamas, que o retire da situação precária em que se encontra.
nos gritos, no rebate dos sinos, culminando na informação • Exemplos deste saudosismo: o discurso dos mais
final da última didascália, «cai o pano» (l. 18), a simbolizar a velhos relativamente à superioridade do passado,
queda conducente à desagregação daquela família. visível na repetição da expressão «No meu tempo…».
• O saudosismo português é, muitas vezes, fator impedi-
tivo de avanço e de progresso por se olhar somente
Texto B
para trás, para o passado, e não para a frente, para o
4. O reconhecimento, na cena final, dá-se quando Maria futuro.
confirma a presença do Romeiro ao reagir ao som da • …
sua voz («– É aquela voz, é ele, é ele!», l. 3), permitindo
aos circunstantes a sua identificação e, consequente-
mente, a constatação, aos olhos de todos, da ilegitimidade Teste 3 (p. 10)
de Maria, não havendo qualquer saída possível senão a Grupo I
morte: Maria, não aguentando a «vergonha», morre e os Texto A
seus pais «morrem» para o mundo mundano, entregando-
1. O relacionamento entre Simão e a sua família é confli-
-se à vida religiosa.
tuoso: o seu irmão Manuel tem-lhe medo, por recear
5. O «Ninguém», como se caracteriza o Romeiro, traduz, no que o seu «génio sanguinário» lhe ponha a vida em
final do Ato II, o modo como se sente naquele momento, ao risco; a sua mãe, que lhe censura as más companhias,
verificar que a sua esposa refizera a vida. No final da obra, vê a sua genealogia ser alvo de troça, criando uma certa
representa a impossibilidade de assunção da sua verdadeira antipatia pelo filho; o seu pai, inicialmente admira-
identidade – D. João de Portugal –, pelas consequências -lhe a coragem e, perante a aprovação nos exames,
que a mesma acarretaria. Contudo, quando se dá o reconhe- orgulha-se dele, desculpando-lhe a «extravagância»,
cimento do Romeiro por Maria, a ausência de identidade é mas, depois, solidário com a mulher e subserviente à
transferida para esta, passando a ser «ninguém» devido à mesma, iguala a sua postura; e as irmãs, à exceção da
sua ilegitimidade. No desfecho, dá-se a dissolução da união mais nova, à qual Simão nada recusava, têm-lhe medo.
de D. Madalena e de Manuel de Sousa Coutinho, quando se A personalidade de Simão, agitadora e avessa «em génio»,
transformam em «ninguém» na vida terrena, assumindo uma contrasta com a do seu irmão Manuel, apresentado como
nova identidade ao ingressarem na vida religiosa. medroso («se vê ameaçado na vida», l. 2; «aterrado»,
l. 7), como regrado («viver monasticamente», l. 12) e
como submisso à vontade da mãe, que pretende que seja

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cadete de cavalaria, da qual herdou a presunção («justi- o peito», l. 16). No entanto, nas considerações que tece,
fica-se nobre dos quatro costados», l. 9). assume a narração na primeira pessoa, colocando-se no
tempo da escrita («eu perdi o meu», l. 10; «tenho», l. 11;
2. O corregedor, inicialmente, desvaloriza as queixas de Manuel
«eu submeto», l. 13; «eu trago para aqui») e assumindo-
perante os comportamentos de Simão, considerando o filho
se como narrador-personagem ao interpelar o narratário
mais novo corajoso tal como o seu bisavô («O corregedor
(«A desgraça afervora, ou quebranta o amor? Isso é que
admira a bravura de seu filho Simão, e diz […] que o rapaz
eu submeto à decisão do leitor inteligente», ll. 12-13).
é a figura e o génio de seu bisavô […], o mais valente fidalgo
Quanto à ciência a focalização é omnisciente, dado ter um
que dera Trás-os-Montes», ll. 4-6). Desculpa-lhe o compor-
conhecimento total da ação e das personagens («Simão
tamento desregrado perante a aprovação nos exames («O
Botelho almejava um raio de sol», l. 15; «o pavimento do
pai maravilha-se do talento do filho, e desculpa-o da extra-
céu, que o da abóboda do seu cubículo pesava-lhe sobre o
vagância por amor do talento», ll. 10-11). Posteriormente, e
peito», l. 16; «Ânsia de viver era a sua; não era já a ânsia
induzido pela mulher, cria uma certa antipatia por Simão («O
de amar», l. 17). E, quanto à posição, é nitidamente um
corregedor via as coisas pelos olhos de sua mulher, e tomou
narrador subjetivo, pelas considerações tecidas acerca da
parte no desgosto dela, e na aversão ao filho», ll. 16-17) e,
verdade.
após o episódio no chafariz, fica furioso com a atitude do
filho, mandando-o prender («ordenava ao meirinho-geral
que o prendesse à sua ordem», l. 26). D. Rita repreende a
Grupo II
escolha de amizades de Simão («censura a indigna eleição
1.1 (C); 1.2 (B); 1.3 (A); 1.4 (C); 1.5 (A); 1.6 (B); 1.7 (D).
que faz», l. 15) e cria-lhe uma certa inimizade perante os
motejos à sua genealogia («Simão zomba das genealo- 2.1 Oração subordinada adjetiva relativa explicativa.
gias, e mormente do general Caldeirão que morreu frito. 2.2 Complemento do nome.
Isto bastou para ele granjear a malquerença de sua mãe», 2.3 «a vida do romancista na cadeia portuense».
ll. 15-16). Contudo, revela algum amor maternal, ao pro-
porcionar-lhe a fuga para Coimbra, após a ordem de prisão
dada pelo corregedor («mas irritada como mãe, mandou, por Grupo III
portas travessas, dinheiro ao filho para que, sem detença, Sugestões de tópicos de abordagem:
fugisse para Coimbra, e esperasse lá o perdão do pai», • Os «homens vulgares», no seu íntimo, apresentam a
ll. 27-28). vontade de lutar desregrada e incondicionalmente pe-
3. No episódio do chafariz, Simão revela um comportamento los ideais, aproximando-se do conceito de herói român-
rebelde e violento («partiu muitas cabeças», l. 23) na tico. Contudo, verifica-se que a maioria controla os
defesa de um criado do seu pai que fora espancado por seus atos, condicionada pelas normas sociais.
ter quebrado algumas vasilhas, apresentando atitudes • Em Amor de Perdição, Simão Botelho surge como um
extemporâneas e inflamadas («rematou o trágico espetá- «herói romântico» por se destacar na luta pela liber-
culo pela farsa de quebrar todos os cântaros», ll. 23-24), dade do ser humano (ideais jacobinos assumidos pu-
próprias de um herói romântico. blicamente), apresentando comportamentos de rebeldia
na busca desses ideais («convive com os mais famosos
Texto B perturbadores da academia»; procura companheiros na
plebe; parte em defesa de um criado que fora espanca-
4. O narrador salienta o facto de a verdade ser um obstáculo
do,…). Simão e Teresa destacam-se na busca do absoluto
à criação da arte, por ser feia e fria, questionando, assim,
no âmbito amoroso, apresentando força anímica na supe-
a sua reprodução fiel no romance, a revelação daquilo que
ração das barreiras e interdições, visível na revolta contra
de pior existe no ser humano. Estas considerações afigu-
o poder patriarcal (Domingos Botelho e Tadeu de Albu-
ram-se paradoxais perante a decisão de apresentar «factos
querque) e na eliminação, por Simão, do seu rival Bal-
e não teses» no seu livro. Contudo, desculpando-se com a
tasar. Mariana, filha de João da Cruz, nessa busca de ab-
perda do juízo, o narrador justifica a sua opção, pois pre-
soluto, viola as convenções sociais ao seguir Simão para
tende revelar a mudança de postura de Simão, mostrando
o degredo, sendo uma jovem solteira. Teresa e Mariana
a fealdade da verdade: o egoísmo, o fraquejar conducente
mantêm-se firmes na sua resolução e na sua paixão até ao
à abdicação do ideal amoroso («Ânsia de viver era a sua;
fim (morte). No entanto, o idealismo de Simão condu-lo
não era já a ânsia de amar», l. 17).
a agir sozinho, a centrar-se em si mesmo (egocentrismo),
5. O narrador, quanto à presença, é heterodiegético, pois não não aceitando as soluções que a sociedade lhe apresenta,
participa na história, narrando na terceira pessoa («Simão nomeadamente a fuga e a prisão em Vila Real, por signifi-
Botelho almejava um raio de sol», l. 15; «pesava-lhe sobre carem a assunção de uma derrota, e, também, a dada al-

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tura, colocar o seu bem-estar acima do dos outros e acima tem também para a tragicidade a ela inerente, através do
do ideal amoroso, acabando por se destruir física e moral- adjetivo «grave» e a comparação com o «mármore grego»,
mente e arrastando os outros (Teresa e Mariana) nessa des- lembrando a frieza da morte e os finais funestos das tra-
truição. gédias gregas.
• …
Texto B

4. A crítica de costumes pretende atingir o meio jornalístico,


Teste 4 (p. 15) repleto de situações de compadrio e de corrupção. Neves
Grupo I propunha-se a encobrir o amigo Guedes e não divulgar a
Texto A carta, por questões de conveniência política; assim que
1. Toda a descrição de Maria Monforte remete para a ideia sabe quem é o verdadeiro Dâmaso e o associa a perdas de
de beleza, mas também de fatalidade, o que se vai tra- eleições e de dinheiro (do partido), prontifica-se a publi-
duzir no seu comportamento na intriga: adultério, car, desde logo, a carta.
fuga com a filha e consequente abandono do filho e do 5. O uso do itálico em «meu» visa destacar o mal-entendido
marido. Esta conduta tem consequências trágicas: sui- acerca dos «Dâmasos»; Ega e Neves referiam-se a pes-
cídio de Pedro, incesto dos filhos e, em última análise, soas diferentes: o Dâmaso do Neves é o Dâmaso Guedes; o
morte de Afonso. Vejam-se os exemplos de presságio: Dâmaso de Ega é o Dâmaso Salcede.
«Maria, abrigada sob uma sobrinha escarlate, trazia um
vestido cor-de-rosa cuja roda, toda em folhos, quase
Grupo II
cobria os joelhos de Pedro, sentado ao seu lado [...] e
a sua face, grave e pura como um mármore grego, apa- 1.1 (D); 1.2 (A); 1.3 (C); 1.4 (D); 1.5 (B); 1.6 (D); 1.7 (C).
recia realmente adorável, iluminada pelos olhos de um
azul sombrio, entre aqueles tons rosados.» (ll. 3-6). 2. Oração subordinada substantiva completiva; oração
A sombrinha vermelha de Maria, que «envolvia» Pedro, subordinada adverbial final; oração subordinada adjetiva
impressionou Afonso e pressagia o fim nefasto do pri- relativa restritiva.
meiro, nomeadamente, o momento em que Afonso o
encontra morto, numa poça de sangue: «Afonso não res- Grupo III
pondeu: olhava cabisbaixo aquela sombrinha escarlate
Sugestões de tópicos de resposta:
que agora se inclinava sobre Pedro, quase o escondia,
• Definição de mass media: conjunto dos meios de co-
parecia envolvê-lo todo – como uma larga mancha de san-
municação social (televisão, rádio, imprensa,…).
gue alastrando a caleche sob o verde triste das ramas.»
• Têm uma grande influência na vida em sociedade,
(ll. 9-11).
porque conseguem moldar a opinião das populações,
2. Por exemplo: «Afonso não respondeu: olhava cabis- através da informação que difundem. A sua função
baixo aquela sombrinha escarlate que agora se deveria ser reportar a informação (decisões, atitudes,
inclinava sobre Pedro, quase o escondia, parecia acontecimentos,…) sem parcialidade, divulgando
envolvê-lo todo – como uma larga mancha de sangue objetivamente os factos. Porém, muitas vezes ultra-
alastrando a caleche sob o verde triste das ramas.» passam essa linha ética por vários motivos: políticos,
(ll. 9-11): revela um Pedro sufocado por Maria Mon- económicos, entre outros.
forte e a mancha de sangue prenuncia a sua morte. • Cada vez mais, os cidadãos são chamados à partici-
Por outro lado, podemos verificar o seu nervosismo pação nas decisões da vida pública, pelo que os meios
e falta de assertividade, quando enfrenta o pai, nos de comunicação são instrumentalizados pelos chama-
seguintes excertos: «– Meu pai – disse, esforçando- dos lobbies, forças de vários quadrantes, que tentam
-se por ser claro e decidido – venho pedir-lhe licença para pressionar as tomadas de decisão. Apesar de o cidadão
casar com uma senhora que se chama Maria Monforte.» comum pensar que opta livremente, sempre que inter-
(ll. 14-15), e «Pedro, mais branco que o lenço que vém nos assuntos públicos, é de alguma forma limi-
tinha na mão, exclamou todo a tremer, quase em solu- tado pelas informações/opiniões que foram veiculadas
ços: – Pois pode estar certo, meu pai, que hei de casar!» pelos mass media: por exemplo, pelo tempo de antena
(ll. 22-23). que um certo candidato teve, pelos debates a que as-
sistiu, é tudo controlado pelos meios de comunicação.
3. Entre outros recursos expressivos, sugerem-se: adjeti-
Outro exemplo é o poder que os media têm para des-
vação expressiva, «grave e pura» (l. 5); a comparação,
viar a atenção de um determinado assunto ou de certa
«como um mármore grego» (l. 5). Estes dois recursos
personalidade, dando relevância a outra ocorrência ou
enfatizam a beleza de Maria Monforte, contudo reme-

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