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AS CONDIÇÕES DO TRABALHO DOCENTE NA UNIVERSIDADE DA

AMAZÔNIA/GRUPO SER EDUCACIONAL: EFEITOS DA


FINANCEIRIZAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR PRIVADO
Por
 Elen Lúcia Marçal de Carvalho
 -
RC: 47761 -03/04/2020
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ARTIGO ORIGINAL

CARVALHO, Elen Lúcia Marçal de [1], SOUZA, Reinaldo Antônio do Amor Divino de [2]

CARVALHO, Elen Lúcia Marçal de. SOUZA, Reinaldo Antônio do Amor Divino de. As
condições do trabalho docente na Universidade da Amazônia/Grupo Ser
Educacional: Efeitos da financeirização no Ensino Superior Privado. Revista
Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 03, Vol. 10, pp. 133-
154. Março de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de
acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/trabalho-docente

Contents [hide]
 RESUMO
 1. INTRODUÇÃO
 1.1 O TRABALHO DOCENTE NO CENÁRIO DA FLEXIBILIZAÇÃO MUNDIALIZADA DO
TRABALHO
 2. GRUPO SER EDUCACIONAL NA AMAZÔNIA: ATUALIZADAS CONFIGURAÇÕES NO
TRABALHO DOCENTE
 2.1 GOVERNANÇA CORPORATIVA COMO MECANISMO GERADOR DE
INTENSIFICAÇÃO E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE
 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
 4. REFERÊNCIAS
 APÊNDICE – REFERÊNCIAS DE NOTA DE RODAPÉ

RESUMO

Este artigo versa sobre o trabalhador docente inserido no Ensino Superior privado
mercantil. A investigação centra-se na Universidade da Amazônia (UNAMA)
comprada pelo Grupo Ser Educacional S.A em 2014. Pretende-se identificar pontos
na tomada de decisões da Gestão desta Empresa que resultam em intensificação e
precarização do trabalho docente. Atualmente este trabalhador tem seu universo
constituído por transformações do mundo do trabalho resultantes da crise estrutural
do capital, fatos que representam em mais exigências no desempenhar de suas
funções, o qual deverá ser flexível, polivalente e multifacetado. Essa configuração se
acentua ainda mais por conta das circunstâncias financeirizadas em que o ensino
superior privado brasileiro se encontra repousado, aspecto que se exige mais da
força de trabalho para aumentar as taxas de juros do capital. Abordar o trabalho do
docente na atual conjuntura de crise do capital é inserir no campo do debate a
reflexão sobre o mundo do trabalho na contemporaneidade e suas atualizadas
exigências de adequação deste trabalhador aos princípios da competitividade,
individualidade e produtividade. Os dados apontam que existe uma lógica
homogênea entre as empresas educacionais mercantilizadas quanto a reorganização
do trabalho docente, todas suas ações são orientadas pelas exigências do mercado e
do capital.

Palavras Chave: Ensino Superior Privado-mercantil, trabalho flexível, trabalho


docente, exploração, intensificação.

1. INTRODUÇÃO

Na atualidade os trabalhadores vivenciam um acirramento de questões conflituosas


que envolvem o trabalho na sociedade capitalista contemporânea, as
transformações no mundo do trabalho demandam ao trabalhador determinações
concretas que transformam a dinâmica de seu trabalho, bem como suas relações
sociais e subjetividades psicológicas.

Para compreendermos esta dinâmica de transformações no mundo do trabalho é


necessário uma breve incursão acerca das contradições que se engendram no
conjunto da sociedade capitalista, onde a luta de classes se gesta na dinâmica
social, no qual o trabalho é necessariamente constitutivo de determinações oriundas
das transformações operadas no aprofundamento da crise estrutural do capital.
Neste sentido, o trabalhador é ao mesmo tempo parte da reprodução da dominação
capitalista e parte explorada, visto que se encontra no bojo do processo da produção
capitalista, enquanto mediador de suas necessidades sociais e humanas e da
reprodução de antagonismos de interesses do capital, essa dicotomia leva a um
constante conflito, entre capital e o trabalho.
Pretendemos neste artigo, desvelar as principais questões vivenciadas pelos
trabalhadores docentes no desenvolvimento de suas atividades, o qual tem seu
universo constituído por transformações externas ocorridas no mundo do trabalho,
advindas da crise estrutural do capital, fatos que refletem em mais atribuições ao
trabalhador: flexibilidade, polivalência, multifacetado e resiliente. Nestes termos, é
exigido ao trabalhador, e em especial ao trabalhador docente, adaptação às
transformações operadas no mundo capitalista, aspecto que atinge não somente a
dinâmica de seu trabalho, mas, sobretudo, suas subjetividades psicossociais.

As análises centram-se nas condições de trabalho docente desenvolvidas na


Universidade da Amazônia, instituição de ensino superior comprada em 2014 pela
Ser Educacional, companhia de capital aberto que negocia suas ações na bolsa de
valores. Busca-se identificar pontos de sua Governança Corporativa (GC) que
resultam em precarização, intensificação, adoecimento e indícios de alienação deste
trabalhador docente. Acreditamos na hipótese de que as condições de trabalho dos
professores, e a intensa oligopolização e mercantilização do ensino superior privado
brasileiro, são influenciadas pelo processo de transformação ocorrido no capitalismo
mundializado, tendo como enfoque a reprodução ampliada do capital. E estes
trabalhadores, em grande parte, sequer tomam consciência destas ligações
prejudiciais a sua classe.

Além disso, tomamos como hipótese os arranjos identificados por Andréa Araujo do
Vale (2011) em sua Tese de Doutorado, ao estudar a Universidade Estácio de Sá,
mantida também por empresa de capital aberto. A ideia de que as formas de
organização do trabalho no capitalismo dito flexível afetam diretamente a
subjetividade do trabalhador, produzindo uma série de práticas que visam
desmontar suas resistências, de maneira a atingi-los em sua dignidade,
desqualificando-os e assediando-os moralmente (VALE, 2011).

Este artigo encontra-se estruturado em três seções. Na primeira, abordaremos a


respeito da restruturação da acumulação de capitais posterior ao esgotamento do
padrão taylorista/fordista, e os impactos nas condições da classe-que-vive-do-
trabalho[3]. Ainda nesta seção, abordaremos a respeito do trabalho docente no
contexto da flexibilização mundial do trabalho e da mercantilização e financeirização
do ensino superior privado brasileiro. Na segunda seção, descreveremos sobre a
empresa de capital aberto, Grupo Ser Educacional, a compra da Universidade da
Amazônia (UNAMA) e as transformações ocorridas nesta instituição em relação aos
trabalhadores docentes. Na última parte discorreremos a respeito das estratégias de
organização administrativa desta empresa e as possíveis repercussões nas condições
de trabalho dos professores.

1.1 O TRABALHO DOCENTE NO CENÁRIO DA FLEXIBILIZAÇÃO


MUNDIALIZADA DO TRABALHO

Para Marx (2004), o trabalho representa atributo inerente aos seres humanos, é
atividade vital de satisfação das carências necessárias à manutenção da sua
existência física, um meio fundamental para o processo de humanização (MARX,
2004, p. 84). Por intermédio do trabalho, o homem se transforma e transforma a
natureza, ou seja, o homem, ao transformar a natureza, humaniza-se e objetiva-se
a partir daquilo que constrói (Ibidem, 2004).

Todavia, a conjuntura social e econômica atual impõe a humanidade – como infere


Ricardo Antunes em sua introdução a obra de István Mészáros – uma sujeição aos
desígnios da lógica destrutiva do sistema capitalista em sua face mais
contemporânea, a financeirizada (MÉSZÁROS, 2011, p. 09). Nesta configuração, o
mundo do trabalho, a globalização do mundo do trabalho como pontua Octavio Ianni
(1994), impacta principalmente os trabalhadores docentes, foco de nossa
abordagem, assim como os serviços educacionais como um todo –  que em grande
medida eram oferecidos pelo setor público e a partir da década de 1990 segue em
ritmo acelerado de transformação em mercadoria[4] –, e em especial o ensino
superior privado, deverão se adequar as determinações deste capital financeiro,
assumindo cada vez mais uma postura subserviente ao modelo mercantilizado, fato
que acentua, cada vez mais, as formas de gestão que prioriza
a precarização e intensificação da força de trabalho[5]. Este cenário demonstra
justamente o outro lado do entendimento sobre trabalho que Marx (2004) identifica
como algo alienante, transformados em fatores patogênicos, nocivos à saúde.

Esta conjuntura, por outro lado, não se manifestou como algo desconectado da
dinâmica histórica, tampouco, apresentou-nos como algo surgente. São resultados
de processos complexos ocorridos, mais decididamente, a partir da década de 1970,
momento em que tivemos a transição do padrão taylorista/fordista de acumulação
do capital e produção concentrada à uma organização do trabalho e produção
caracterizada como flexível, fragmentada e enxuta, um sistema inaugurado e
implementado nas fábricas da Toyota (Toyotismo).
Temos, portanto, um momento histórico no capitalismo em que modelos de
produção e acumulação racional do capital são ressignificados, de forma a ampliar
marginalmente o seu mais-valor. Neste cenário de transformações profundas, o
trabalho torna-se flexibilizado e fragmentado, o trabalhador é estimulado a ser
polivalente e adequar-se rapidamente às mudanças do processo produtivo. Quanto
ao mercado, este torna-se mundializado, competitivo, financeirizado[6], uma
condição que não se encontram prostradas apenas no plano econômico, mas que
interfere em todas as dimensões (CHESNAIS, 1996).

Estas questões permitiram que, em fins da década de 1960, o capitalismo se


reestruturasse e se retirasse desta crise por meio de atualizados mecanismos e
instrumentos, os quais seriam elementos constitutivos de novas crises futuras: (1)
desregulamentação, liberalização e hipertrofia das atividades financeiras; (2)
hegemonia dos organismos financeiros; (3) transferência da riqueza produtiva para
a esfera financeira; (4) disseminação do capital especulativo parasitário[7]; (5)
geração fraudulenta de recursos financeiros; (6) maior concentração de capitais; (7)
incremento acentuado das privatizações, flexibilização do processo produtivo, dos
mercados e da força de trabalho, dentre outros elementos (ANTUNES, 2009, 2015;
CHESNAIS, 1996; CARCANHOLO, SABADINI, 2009).

O esgotamento do modelo de produção taylorista/fordista expressou naquele


momento uma crise do sistema capitalista. A solução desta crise, a resposta dos
capitalistas a ela, como em outro momento histórico, realizou-se de forma
fenomênica, ou seja, não houve a proposição de modificação e reparos estruturais,
mas apenas remediações superficiais que, em tempos depois, foram objetos de
novas crises, agora ininterruptas e estruturais como a transcorrida nos Estados
Unidos em 2008, com a disseminação fácil do crédito subprime às famílias norte-
americanas, endividando-as, e forte especulação imobiliária, com criação de capital
fictício em escalada, os quais foram transferidos pelo mercado financeiro o que
gerou uma crise mundializada sem precedentes[8]. Neste sentido, ampliam-se
o precariado[9], intensifica-se a produtividade do trabalho e reduzem-se direitos
sociais e trabalhistas, dentre outros fenômenos.

Portanto, em meio a tanta destruição de forças produtivas, da natureza e do meio


ambiente, há também, em escala mundial, uma ação destrutiva contra a força
humana de trabalho, que tem enormes contingentes precarizados  ou mesmo à
margem do processo produtivo, elevando a intensidade dos níveis de desemprego
estrutural. Apesar do significativo avanço tecnológico encontrado (que poderia
possibilitar, em escala mundial, uma real redução da jornada ou do tempo de
trabalho), pode-se presenciar em vários países, como a Inglaterra e o Japão, para
citar países do centro do sistema, uma política de prolongamento da jornada de
trabalho (ANTUNES, 2009, p. 35).

A partir do trecho destacado podemos considerar que quanto mais a lógica desta
nova ordem capitalista se intensifica, em bases financeiras e de amplitude
mundializada, acentuam-se os elementos destrutivos do corpo social. Ao aumentar a
competitividade e a concorrência entre os capitais, isto é, quanto maior for a
necessidade dos capitalistas em maximizar seus lucros, e de seus acionistas, maior
será a degradação da força humana que vive do trabalho. Isto é, mais expressivo
será a amplitude do trabalho abstrato, entendido por Marx (2004) como algo
alienante, patogênico, nocivo à saúde, uma atividade estranha que “inverte a
relação a tal ponto que o homem […] faz de sua atividade vital, da sua essência,
apenas um meio para sua existência” (MARX, 2004, p. 85).

Neste contexto, de fragmentações do trabalho, perda de representatividade sindical


(solidariedade, coletividade, organicidade, unicidade) e propagação ideológica da
conciliações entre classes (consentimento), em suma, de transformações no mundo
do trabalho, abordar o trabalho docente é trazer para o campo das discussões uma
temática que nos leva a refletir sobre até que medida às mudanças são refletidas em
exigências de adequação a estes trabalhadores. Ainda mais neste momento, em que
os serviços majoritariamente oferecidos pelo segmento público (saúde, educação,
seguridade social) estão se transformando em mercadoria, elemento que se insere
no debate como um plus negativo nas condições dos trabalhadores docentes.

Contudo, pela forte abrangência do mercado financeiro, da mundialização do capital


de forma financeirizada, o segmento educacional é colocado em órbita na bolsa de
valores, buscando a rentabilidade sem limites do capital dos investidores, exigências
que recaem nas costas dos trabalhadores[10]. Neste sentido, mesmo o trabalhador
docente sendo considerado como um intelectual ultra qualificado, a exploração que o
capitalista exerce em sua função é relativamente proporcional a realizada com
qualquer outro tipo de trabalhador, busca-se desmedidamente a mais-valia.
Portanto, frente a este contexto, entendemos que a educação, assim como algum
outro serviço essencial ao público, não pode ser medido ou determinado pelo
mercado. Menos ainda, ser plataforma de ampliação do capital.
Um fato é certo, o professor da UNAMA se apresenta como mão-de-obra, ou força
de trabalho qualificado, pertencente ao mundo do trabalho, a uma totalidade. Posto
que, em alguma medida “as suas condições de vida e de trabalho passam a ser
determinadas pelas relações, processos e estruturas de apropriação econômica e
dominação política que operam em escala global” (IANNI, 1994, p. 10). Isto é, as
forças econômicas, políticas, sociais e culturais de escala mundial, influenciam as
condições materiais e espirituais da vida dos trabalhadores docentes (Ibidem,
1994).

2. GRUPO SER EDUCACIONAL NA AMAZÔNIA: ATUALIZADAS


CONFIGURAÇÕES NO TRABALHO DOCENTE

A tendência de expansão do ensino superior privado no Brasil se concretiza, além de


utilizar outros meios orgânicos, pelo movimento de aquisição e fusão das empresas
de grande porte que atuam na área educacional, as quais adquirem pequenas e
médias Instituições de Ensino Superior (IES). Este movimento inicial permite a
criação de oligopólios educacionais com vistas a abertura de capital na bolsa de
valores, processo entendido por Romualdo Portela de Oliveira como uma maneira de
consolidação e aumento do poder destas empresas, de maneira a eliminar a
concorrência e induzir uma forte centralização da oferta.

Esse quadro sinaliza um novo momento para a educação no país. De um lado, o


risco de todo o setor privado tradicional que, de alguma forma, buscava garantir
padrões mínimos de qualidade, como é o caso do setor comunitário, entrar em
colapso. De outro, a forte concentração da oferta, ancorada unicamente no lucro,
coloca a qualidade do ensino em segundo plano e, dessa forma, compromete a
formação das futuras gerações de trabalhadores brasileiros (OLIVEIRA, 2017, p. 34).

Os estudos de Chaves (2010), Carvalho (2013) e Ghirardi; Klafke (2017), apontam


que a partir de 2007 os movimentos de aquisição e fusão no Brasil se iniciaram de
maneira intensa, com uma relativa diminuição a partir de 2010[11]. Mesmo assim,
segundo Ghirardi; Klafke (2017), entre 2007 a 2012 houveram 120 transações
comerciais somente entre os principais oligopólios educacionais atuantes no país:
Anhanguera, Kroton, Estácio, Laureate, Ser Educacional, Anima e DeVry. Em
operações que envolveram mais de um milhão de alunos (GHIRARDI; KLAFKE, 2017,
p. 61).
Em consoante as operações dos oligopólios educacionais, o Grupo Ser Educacional
realizou inúmeras transações comerciais com o apoio de investidores externos.
Destaca-se o Banco Mundial (BM), bancos privados e empresas de private equity,
como a estadunidense Cartesian Capital Group, que direcionaram milhões de
reais[12] para transformar o empreendimento educacional de Janguiê Diniz de local,
centralizado em Pernambuco, em nacional, alcançando todas as regiões do país.

À vista disso, em 18 de outubro de 2013, o Grupo Ser Educacional, mediante oferta


pública inicial de ações (IPO)[13], passou a negociar suas ações na bolsa de valores
mobiliários brasileira “B3”, no segmento de listagem “Novo Mercado”[14]. Permitiu
que a empresa se expandisse por intermédio de aquisições e fusões de pequenas e
médias instituições de ensino: Universidade Maurício de Nassau (UNINASSAU),
Faculdade Maurício de Nassau, Faculdade Joaquim Nabuco, Universidade da
Amazônia (UNAMA)[15], Faculdade do Tapajós (FIT), Universidade Universus Veritas
(UNIVERITAS). E diversos outros institutos e Faculdades menores, ligadas às marcas
principais.

Esta ação de formação de oligopólios educacionais e abertura de capital na bolsa de


valores exige dos empreendimentos a utilização de estratégias administrativas e de
organização estrutural alinhados ao mercado de ações. Por exemplo, quando o BM
emite algum financiamento impõe – como pré-requisito de recebimento pela parte
interessada – que a alocação do capital seja realizada de acordo com seus
interesses. Tal fato é evidente no documento “The dividends of learning”: “[…] o
Banco junta-se ao governo para analisar o setor educacional do país, incluindo uma
avaliação de seu desenvolvimento, políticas educacionais, prioridades de
investimento” (WORLD BANK, 1990, p 24).

Portanto, a metodologia de ação do Grupo Ser educacional no mercado deve se


adequar não ao fator qualitativo do objeto ofertante (ensino), mas aos anseios
economicistas dos investidores. Esta adequação é condição sine qua non a todas
suas mantidas, como a restruturação administrativa/organizativa ocorrida na
UNAMA, para procedimentos regidos pela lógica econômica voltada ao lucro de seus
acionistas. Como informação empírica, realizamos entrevistas com estudantes do
Diretório Central dos Estudantes (DCE) e obtivemos a informação que a lógica do
Grupo Ser Educacional nesta universidade se pautou na eliminação de espaços de
convivência dos alunos, considerado pela administração como espaços ociosos, para
transformá-los em ambientes rentáveis.
A universidade vai reordenar os espaços, não vai mais permitir, você não vai mais
poder trazer som pra cá, não vai mais poder realizar sua assembleia aqui, você não
pode mais ocupar este espaço. As pessoas, enfim, que conviviam com suas
realidades, eram perseguidas pelos guardas, até humilhadas. Eu vi casos de pessoas
ligadas ao movimento estudantil de o chefe da segurança ameaçar estes estudantes
que não conseguia mais pagar suas mensalidades, mas que frequentavam a
universidade, o espaço da universidade, que é aberto, eram públicos, ser
humilhados, serem rechaçados pelos seguranças e terem sua privacidade expostas
(C.G.J., 2018)[16].

A reorganização dos espaços de maneira a torna-los rentáveis, se apresenta como


um meio necessário a empresa – somente a ela e seus acionistas financeiros – para
atender a demanda crescente de matrículas que imperou na UNAMA a partir da
gestão do Grupo Ser Educacional. Os dados obtidos a partir dos Microdados do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP)
indicam que o crescimento de matrículas entre 2013 a 2018 foi na ordem de
110,2%. Um salto de 10.594 matrículas, antes da compra da UNAMA, para 23.245
em 2018, depois do negócio[17]. No primeiro ano de gestão do Grupo Ser na
UNAMA, o Lucro Líquido Ajustado (LLA), somente com esta universidade, quase que
triplicou. Ou seja, o lucro destinado aos acionistas em 2013 representava R$ 6,4
milhões, ao passo que em fins de 2014 era de R$ 16,5 milhões (GRUPO SER
EDUCACIONAL, 2014).

Quando relacionamos a quantidade de matrículas com a de docentes da UNAMA,


demarcando o período anterior e posterior do negócio de compra e venda desta
universidade, os resultados apresentam um crescimento exponencial das matrículas
pela quantidade de docente. Este aspecto é um dentre outros que evidencia a
intensificação do trabalho deste professor. Na Tabela 1, a seguir, apresentamos esta
relação.

Tabela 1. Razão entre quantidade de matrículas por professor na UNAMA, entre o


período de 2013 a 2018.

Razão A/B

Ano Número de Matrículas (A) – mil Número de Docentes (B)


Aprox.

2013 11.130 477 24


2014 12.151 497 25
2015 18.938 587 33
2016 18.918 442 43
2017 21.042 297 71
2018 23.245 505 46

Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados coletados pelo mestrando Tarcísio
Cordeiro nos Microdados do INEP. A relação realizada entre as categorias foi uma
construção nossa, adequada para este estudo.

No ano anterior a compra da UNAMA, 2013, temos uma relação entre número de
matrículas efetivadas e número de Docentes contratados na razão de 24 estudantes
matriculados para cada docente. No período da efetivação da compra, 2014, até os
momentos seguintes da transição da administrativa anterior, caracterizada por uma
gestão tradicional (familiar), para a organização profissional da nova empresa, não
tivemos uma alteração significativa. Contudo, no ano de 2015, com a gestão do
Grupo Ser Educacional implementada, a relação entre a quantidade de matrículas
por docente passou para 33, um acréscimo de 33,5% em referência a 2013. O salto
quantitativo mais expressivo houve em 2017, quando tivemos na UNAMA 71
estudantes para cada docente, razão que diminuiu em 2018 para 46. Quando
relacionamos com o início do período histórico apresentado, temos um crescimento
de 92% da relação entre matrículas de estudantes para cada trabalhador docente.

Os resultados destas análises, oportunizadas no parágrafo anterior, e o crescimento


de matrículas de estudantes na UNAMA encontrar-se no estágio de 110,2%,
enquanto que de professores foi de apenas 6%, refletem a lógica mercadológica de
bases neoliberais seguida pelo Grupo Ser Educacional, uma postura homogênea
entre todos os oligopólios educacionais que submete o trabalho docente às diretrizes
da acumulação do capital. Estes dados, todavia, sugerem que a intensificação e
ampliação da jornada de trabalho dos professores, para conseguir atender a
demanda crescente de estudantes matriculados, é uma realidade tangível, que
alcança, inclusive, o tempo destinado ao descanso destes trabalhadores.

Os contratos de trabalho nas IES mantidas pelos oligopólios educacionais estão


sendo realizados na modalidade de professor horista, por períodos semestrais ou por
carga horária de disciplina, que podem ser caracterizados como
trabalho intermitente[18], previsto na nova Lei trabalhista nº 13.467/2017 (BRASIL,
2017).  Lembremos do caso da Estácio, também de capital aberto, que dias depois
da implementação da reforma desta Lei demitiu 1.200 professores, readmitindo uma
parcela deste total no formato de trabalho sem vínculo empregatício permanente,
com menos direitos e qualificação. Como aponta editorial de Lucas Amorim (2017),
na Revista Exame:
A demissão em massa é o mais novo episódio da maciça reestruturação de custos
não só da instituição de ensino fluminense, como de todo o setor de educação
superior. […] Os cortes da Estácio, neste sentido, são apenas a ponta de lança de
um movimento de enxugamento que pode ganhar força ao longo de 2018. Segundo
dados da Atmã, a Kroton aloca 19,8% de sua receita para gastos com professores,
enquanto a média de instituições isoladas está em 41%. […] EXAME apurou que a
Estácio está aumentando o número de alunos por professor em sala da aula, como
forma de reduzir custos (AMORIM, 2017).

Podemos encontrar explicações destes traços de intensificação e exploração do


trabalho docente no livro O Capital de Karl Marx. Este infere que a produção
capitalista não é tão somente produção de mercadoria, é fundamentalmente
produção de mais-valia: “O trabalhador produz não para si, mas para o capital. Não
basta, portanto, que produza em geral. Ele tem de produzir mais-valia. Apenas é
produtivo o trabalhador que produz mais-valia para o capitalista ou serve à
autovalorização do capital” (MARX, 1984, p. 205). Desta forma, podemos considerar
que o trabalho docente, mesmo imaterial, é extremamente produtivo ao capital. A
partir dele, a administração destes oligopólios projeta ações de captura do trabalho
excedente em forma de mais-valia, algo que impacta na condição deste trabalhador
docente, pois será exigido dele maior dispêndio de sua capacidade física, cognitiva e
emotiva (DAL ROSSO, 2008).

Para nosso intento neste estudo, de verificar as condições do trabalho docente na


UNAMA, é imprescindível destacarmos, a partir das obras de Antunes (2015), Dal
Rosso (2008) e Braga (2017), algumas compreensões a respeito da intensificação e
precarização estrutural do trabalho neste contexto da mundialização do capital. A
intensificação pode encontrar-se alicerçada em três aspectos, não excluindo outras
possibilidades: (1) desregulamentação do trabalho, reduz-se a quantidade de
trabalhadores estabilizados por contratos de trabalho terceirizado e
subcontratados[19]; (2) pressão psicológica nos trabalhadores contratados e sua
submissão às decisões da empresa por força do contexto de desemprego estrutural
e (3) imposição de princípios mercantis de eficiência e competição, compressão do
tempo/espaço, de maneira que as atividades destes trabalhadores transborde do
período laboral e alcance o tempo do descanso.

Quanto ao primeiro aspecto, demonstramos o movimento de demissão e contratação


realizada por algumas empresas educacionais, exemplificamos com o caso da
Estácio. No entanto, esta mesma estratégia foi ação tomada também pelo Grupo Ser
Educacional logo depois da compra da UNAMA, como infere as denúncias realizadas
pelo DCE/UNAMA e Sindicato dos Professores da Rede Privada (SINPRO)
reproduzidos em jornal de grande circulação no Estado do Pará:

[…] cerca de 40 docentes foram liberados das atividades na universidade para


contratação de profissionais com menor tempo de experiência e salários menores. ‘A
Unama possuía uma estrutura de professores com vasta experiência, boas
qualificações. O que vemos, em todo Brasil, é a chegada do capital estrangeiro
quebrando essa estrutura. Temos a substituição dos antigos professores por novos,
em início de carreira, com salários menores’, afirma Antônio Penela, um dos
representantes do SINPRO” (DIÁRIO ONLINE, 2015).

Este movimento de demissão/contratação se apresenta como um elemento, dentre


outros, de redução dos gastos com o pessoal: troca-se professores de larga
experiência por jovens de pouca qualificação. Além disso, permite a intensificação do
trabalho destes novos contratados, pois sabem da concorrência no mercado de
trabalho e o contingente de desempregados, e então aceitam qualquer ganho
salarial e intensidade de horas trabalhadas. Temos, portanto, o complemento dos
dois primeiros aspectos apresentados, o processo demissão/contratação em níveis
de subcontratações, e a pressão psicológica oriunda do desemprego e da
desregulamentação das condições de trabalho que atinge o trabalhador.
Apresentamos trecho de entrevista realizada com estudante da UNAMA, por meio da
qual observamos os elementos de intensificação e exploração do professor a partir
do questionamento “Há precarização de trabalho na UNAMA?”:

Total!! E vai desde o terceirizado até os professores. […]. [o] professor na maioria
das vezes tem que trabalhar em casa, às 11 da noite, com celular do lado para
resolver problemas da universidade. É um trabalho quase que integral, é um assédio
que eles sofrem também, por conta dessa dinâmica. Então, depois de dar aula, o
professor tem que organizar a turma, ver nota, e de noite ficar resolvendo coisas da
universidade. Você sai do trabalho, mas ele chega na sua casa, e não recebe nada a
mais por isso. Tem um professor que foi demitido que falava assim: “0800 não vou
fazer”. Ele sempre teve um bom currículo, doutor, sempre bom professor, sempre
respeitou a UNAMA, uma figura importante, mas foi demitido. […]. Então o cara vai
ser sugado a todo o momento. Além disso, alguns deles ainda são requisitados para
fazer a propaganda da UNAMA nas escolas particulares, para encher a UNAMA. Eles
fazem isso. Eles levam alunos que ganham hora complementar. Aí você vai para o
Santa Rosa, Santa Catarina. Eles levam toda a equipe de marketing, eles vão
[professor e alunos] montam barraquinha, dão caneta, dão lanche, camisas. E aí?
Os estudantes têm que estar lá de graça, só ganhando hora complementar, e os
professores no “0800” como se estivessem recebendo, sem reclamar e, às vezes, no
sábado e no domingo (risos). Porque prova do ENEM é no domingo, de concurso é
no domingo (C. G. J., 2018, acréscimos nossos).

Quanto ao terceiro aspecto informado, o qual contribuí para a intensificação do


trabalhador docente e manutenção deste sistema de controle social dos
trabalhadores pelos detentores do capital, expressa-se também pela imposição dos
princípios mercantis de eficiência e competição no âmbito das relações sociais entre
os trabalhadores. Agora, diferentemente de tempos atrás, estamos observando uma
lógica em que os capitalistas estão refinando os mecanismos de dominação que vai
além do âmbito do processo de trabalho, alcança a subjetividade da vida privada do
trabalhador. Este fenômeno de dominação é presente nos oligopólios educacionais
brasileiros e para manter utilizam de instrumentos metodológicos de administração
como a Governança Corporativa, meio técnico de exigibilidade pelo mercado
financeiro, a qual iremos tratar na seção seguinte.

2.1 GOVERNANÇA CORPORATIVA COMO MECANISMO GERADOR


DE INTENSIFICAÇÃO E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO
DOCENTE

No mundo dos negócios a Governança Corporativa (GC) se apresenta como um


sistema de organização técnico e objetivo que conduz o empreendimento a altos
níveis de gerenciamento, o qual é utilizado como variável por investidores que
pretendem aumentar sua rentabilidade por meio da aplicação de capital em
companhias que atendem às boas práticas de governança corporativa (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2015). Nestes termos, a GC propõe
alternativas de gestão que alcance resultados eficientes sobre o gerenciamento dos
recursos de capital das empresas que buscam tal organização com o foco em obter
sucesso em suas negociações na bolsa de valores e atrair investidores no mercado
de capitais.

Caio Polizel e Herbert Steinberg afirmam que a GC é o caminho correto de


renovação e modernização das instâncias de poder de uma organização, que
“valores tradicionais e preconizados anteriormente pelas IES necessitam refutação”
(POLIZEL, STEINBERG, 2013, p. 13), incorporando, no lugar, a técnica, o
profissionalismo, a eficácia, enfim, mecanismos objetivos (Ibidem).

Para a Comissão de Valores Imobiliários (CVM), a postulação sobre a GC se


apresenta como algo a serviço primordialmente do mercado financeiro e dos
acionistas que nele atuam. Para tal entidade a GC se define centralmente como
“conjunto de práticas que tem por finalidade […] proteger todas as partes
interessadas, tais como investidores e credores, facilitando o acesso ao capital”
(COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS, 2002, p. 02).

Portanto, em síntese, a GC utilizaria de metodologias tecnicistas e princípios


determinados – Transparência, Equidade, Prestação de contas, Responsabilidade
Corporativa – de forma a organizar empresas, com a política de profissionalizar sua
gestão interna, para torná-la uma companhia voltada, centralmente, na busca de
maximizar os seus lucros e ampliar sua competitividade no mercado global de
capitais (INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2015;
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS, 2002; POLIZEL, STEINBERG, 2013).

Segundo informações do Grupo Ser educacional, de sua página eletrônica destinada


aos investidores, e replicada no site da BM&FBOVESPA, a GC do Grupo, em visão
geral, encontra-se alinhada a estas recomendações. Principalmente as
determinações do IBGC, o mais destacado fomentador das práticas sobre este tema
no Brasil. Segundo esta entidade ligada ao mercado de capitais, algumas questões
objetivas de estruturação devem ser introduzidas em empresas que almejam
permanecer atraentes aos investidores do mercado de ações. Substancialmente
devem adotar o uso técnico e organizado de instrumentos gerenciais que visam à
essência das boas práticas de governança com o foco no cuidado no processo de
tomada de decisão. E no que diz respeito a estes ditames, o Grupo Ser Educacional
segue de maneira criteriosa.

As tomadas de decisões do Grupo Ser Educacional em relação as suas mantidas


seguem parâmetros estruturados por meios administrativos interligados a outros
mais abrangentes: As Diretorias administrativas locais são orientadas pelo Conselho
de Administração, este localizado na estrutura da mantenedora. Esta estrutura é
determinada por orientações do mercado de ações, local em que impera,
atualmente, os ganhos a partir de especulações financeiras[20]. Na posição mediana
temos a GC, constituída por dois movimentos complementares: atualiza-se a partir
das mutações economicistas do mercado, e as emitem como exigências de
adequação às empresas, sempre na dinâmica da ampliação dos capitais investidos.
Na base deste esquema, existe o serviço educacional e os trabalhadores que o
colocam em prática, parte substantiva de tal empresa, a qual é a expressão
produtiva (material), transformando em mercadoria o ensino superior para valorizar
o capital dos investidores.

Esta totalidade apresentada, mediada pela GC, apresenta a sequência lógica que as
empresas educacionais de capital aberto seguem, nada relacionado à qualidade
educacional, tampouco valoriza o trabalho docente, deste requer apenas sua
intensificação para extrair a mais-valia. A função destas empresas educacionais
restringiu-se, portanto, a obtenção do mais-valor aos acionistas, pois o “mais-valor
está na raiz do lucro monetário” (HARVEY, 2018, p. 23). Não se tem o interesse de
valorizar o ensino superior no sentido de qualificar indivíduos críticos de seu mundo,
com visão e atitudes coletivas, apenas a reprodução de características neoliberais,
da concorrência, individualismo e competição. Elementos esses que alcançam as
relações entre os próprios professores, os quais perpetuam este individualismo
competitivo acarretando o aumento do sofrimento subjetivo destes trabalhadores.

As informações que obtivemos do Grupo Ser Educacional em relação a questão


indica que a empresa remunerou muito bem os seus investidores. Segue gráfico que
demonstra tais valores:

Gráfico 1. Resultados da Ser Educacional de 2009 a 2013, referente aos índices da


Receita Líquida e Lucro Líquido Ajustado.
Fonte: Construído pelos autores com base nas informações em documentos
da Ser Educacional relações com investidores: Planilhas e Demonstrações
financeiras do Grupo Ser Educacional.
A partir do Gráfico 1 podemos identificar que após o seu primeiro IPO o Grupo Ser
Educacional duplicou os juros do capital investido pelos acionistas, em menos de 1
ano de abertura do capital na bolsa de valores. Esta situação também é identificada
na UNAMA quando a mantenedora quase triplicou os seus lucros (GRUPO SER
EDUCACIONAL, 2014), informação descrita na seção anterior destes escritos.

Nesta dinâmica empresarial do Grupo Ser Educacional, em maximizar seus índices


de rentabilidade, a GC realiza seu papel a contendo. Contribui para que,
administrativamente, os oligopólios educacionais sejam transformados em espaço de
acumulação capitalista. Neste sentido, a formação da força de trabalho nestas IES
privadas-mercantis alinha-se, como aponta Vale (2011), ao atual projeto burguês de
sociabilidade: uma formação aquém ao exigido pelo trabalho qualificado (VALE,
2011). Isto é, formam-se trabalhadores para serem utilizados em subempregos, que
atendam a ideologia do empreendedorismo de maneira flexível, polivalente e
multifacetado, resiliente em sua essência.

A cultura do medo, vigilância, controle, permanente contingente de desempregados,


forte individualismo competitivo, dentre outros elementos, permite também que a
organização sindical dos professores não consiga espaços significativos nestas IES
privadas-mercantis. Farias Junior (2014), em sua Tese de Doutorado, aponta que é
visível tal neutralização da classe, sua imobilidade frente a dominação, ao
sofrimento e a perda de dignidade do profissional (FARIAS JUNIOR, 2014, p. 21). No
entanto, esta postura é mediada pela condição dos trabalhadores inseridos nestas
IES mantidas por oligopólios educacionais, e também pelo contexto do mundo do
trabalho, como aponta ainda este autor:

O ato de ministrar aulas no ensino privado constitui um sutil convite ao


enfraquecimento de uma subjetividade que possa operar resistência aos ditames do
capital. Ocorre que muitos trabalhadores docentes “optam” por esse modo de se
submeter à exploração capitalista por necessitar garantir uma forma de subsistência
e a docência no ensino privado oferece essa possibilidade para muitos e representa
para muitos desses, a única fonte de renda. É oportuno registrar que tais docentes,
em função de atuarem em uma instituição privada, têm sua autonomia reduzida e
muitas vezes lhes é exigido que se comportem como “animador de auditório” nas
salas com número excessivo de alunos (Ibidem, 2014, p. 22).

Por último, podemos apontar a posição favorável do Estado brasileiro ao crescimento


do ensino superior privado de sentido estrito, o qual permitiu o crescimento em
escala dos oligopólios educacionais de capital aberto. Este fato, como apontamos,
fez com que demandasse da utilização gerencial da GC como determinante do
conjunto de processos administrativos com vistas a ampliação do capital investido
destas empresas. Esta configuração, em perspectivas macros, desestrutura de
maneira geral as outras formas de administração institucional, que não
seguem stricto sensu o ideal do lucro, como as IES Confessionais e Comunitárias.
Nos estudos de Moraes (2013), em que trata a respeito da organização de uma
Universidade Confessional do Rio Grande do Sul, infere que a racionalidade
economicista no segmento do ensino superior a partir da década de 1990, fez com
que instituições sem fins lucrativos seguisse, paulatinamente, práticas de caráter
comercial para se manterem funcionando:
Estas instituições comunitárias que atuam no ensino superior fazem, ainda, de
maneira qualitativa, com ensino de excelência, comparável ao desenvolvido nas
universidades públicas. Contudo, para manter a qualidade, e fazer frente às
empresas educacionais privadas mercantis, implica em grande esforço de toda a
comunidade acadêmica. Nessa perspectiva, como pontua Moraes (2013), ocorre um
processo mais intensificado do trabalho docente:

Cria-se, portanto, a figura do professor (a) vendedor (a), um campo novo de


preocupações para este profissional. Agora este trabalhador não mais se dedica à
docência, ao ensino, à produção e pesquisa acadêmica, mas, também, ao índice de
satisfação e permanência dos discentes, um fator numérico, dentre outros, que
incide em seu psíquico como uma nova causa de pressão cotidiana para sua
permanência no emprego.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observamos nos escritos deste artigo que o trabalho e o mundo produtivo,


principalmente a partir da década de 1970, foi atingido por transformações
profundas. Aquela empresa imensa, de maquinário pesado, com milhares de
trabalhadores, a qual centraliza em um mesmo ambiente todas as manufaturas da
produção, a empresa taylorista/fordista, ela foi completamente alterada para uma
lógica/ideia de produção fragmentada, flexibilizada e terceirizada. Isto é, uma
empresa enxuta que se esparrama geograficamente por diversos países, utilizando
seja de trabalho intelectual, imaterial, seja de trabalho transferido, ou mesmo
contratado temporariamente (intermitente), que expressa a compressão do
tempo/espaço.

O sistema educacional brasileiro, principalmente, o segmento do ensino superior


privado, encontra-se em estágio avançado de cooptação pela esfera empresarial
com fins lucrativos, estruturados em grandes companhias que são reconhecidos no
campo da pesquisa por oligopólios educacionais. Estes, por sua vez, são
administrados profissionalmente e seguem os princípios gerenciais modernos das
boas práticas da governança corporativa, exigências do mercado de capitais para se
conseguir investimentos.

A visão destas grandes empresas educacionais, Grupo Ser como exemplo, se


direciona em ampliar o seu campo de ação, ofertando cursos e expandindo as
matrículas, de maneira sempre exponencial e flexível. Além disso, sua atuação
necessita enxugar de forma ampliada seus custos operacionais, e neste balanço
contábil os custos com os salários dos professores é estratégia primeira, pois grande
parte do mais-valor, o lucro monetário (HARVEY, 2018), encontra-se atrelado à
“produção que se cria riqueza, a partir da combinação social de formas de trabalho
humano, de diferentes qualificações” (CHESNAIS, 1996, p. 15). Neste sentido, o
trabalhador docente, quando inserido nesta lógica mercadológica, sofre de todas as
metamorfoses processadas no mundo do trabalho. Algo que demonstramos ser
homogeneizado quando abordamos o trabalho dentro de empresas educacionais
com fins lucrativos.

Por outro lado, para empreendermos nestes exames teóricos e empíricos,


necessitamos de uma postura investigativa pautada em métodos de análise crítica
que preze pela mediação entre o particular e a totalidade. Um comportamento que
possibilitará o entendimento a respeito dos determinantes que infligem na condição
do trabalhador docente em uma IES privada mercantil. Um movimento que
buscamos perseguir nestes escritos, com a pretensão de sair da aparência, da
fenomenologia, e alcançar a essência.

Com esta base metodológica, conseguimos identificar algumas questões perversas


que norteiam as situações dos trabalhadores docentes, com o destaque para a lógica
das atenções dos capitalistas, que atuam no ensino, não serem a qualidade da
oferta do serviço, tampouco as condições humanas e subjetividades destes
trabalhadores, mas ao atendimento das demandas do capital.

Pretendemos com este artigo suscitar novas questões em torno da temática do


trabalho, especificamente, em relação ao nosso objeto: o trabalho docente inserido
em IES privadas mercantis. Temos a pretensão de desvelar ao público o momento
tão crítico de desconstrução dos direitos adquiridos pelo conjunto da classe
trabalhadora, bem como, contribuir com as lutas coletivas da nossa classe. O tempo
é pleno de desafios e a conjuntura nos impõe estudos que possam demarcar esta
questão, em contribuir com produções sobre a temática. Sendo assim, acreditamos
que esta discussão, se apresenta como expressão da questão social ainda não
devidamente aprofundada, com diversas lacunas a serem investigadas.

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APÊNDICE – REFERÊNCIAS DE NOTA DE RODAPÉ

3. Ver em Antunes (2009, p. 37).

4. Ver nos artigos de Silva Jr. & Sguissardi (2005), Chaves (2010) e Sguissardi
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brasileira, expansão e massificação do segmento educacional superior pelo setor
privado, exame das reformas do ensino superior, anulação da fronteira entre o
público e o privado/mercantil etc., são algumas temáticas abordadas por estes
autores.

5. Entendemos como precarização e intensificação os apontamentos elaborados por


Dal Rosso (2008) e Ricardo Antunes (2015). A intensificação do trabalho representa
qualquer “processo de quaisquer naturezas que resultam em um maior dispêndio
das capacidades físicas, cognitivas e emotivas do trabalhador com o objetivo
de elevar quantitativamente ou melhorar qualitativamente os resultados” (DAL
ROSSO, 2008, p. 23, grifo nosso). Um dispêndio de constante crescimento exigido
por força de caracterizações externas, por exemplo: necessidade de aumento do
mais-valor da empresa para majoração do capital investido dos acionistas. Quanto a
precarização, Antunes (2015) relaciona-a com a perda da razão social do trabalho. É
quando ocorre uma profunda flexibilização das relações trabalhistas, momento em
que a terceirização se torna pujante. O acréscimo da crise do sistema capitalista e a
introjeção dos dogmas neoliberais pelos Estados permitem as desregulamentações
das leis e direitos trabalhistas, ocorrendo perdas substanciais aos trabalhadores.
Para este autor a precarização é uma realidade mundial sofrida pela classe que vive
do trabalho, fenômeno articulado com o desemprego estrutural, que força o
trabalhador a sujeitar-se as alterações das relações trabalhistas (ANTUNES, 2015).

6. Em Chesnais (1996; 1998) a financeirização é tratada como uma lógica de ação


atualizada pelo novo contexto do sistema capitalista. Ela é sistêmica e de escopo
mundial, influencia quaisquer relações econômicas internacionais. Ou seja, a
financeirização é um regime de acumulação com dominação financeira (CHESNAIS,
1998).

7. Termo utilizado por Carcanholo e Sabadini (2009, p. 40), em seu artigo “Capital
fictício e lucros fictícios”. Para o autor, a categoria “Capital fictício” é central na obra
de Karl Marx, imprescindível na compreensão da atual configuração do capitalismo.
A valoração do lucro a partir da comercialização de títulos é a representação legal do
Capital fictício (CARCANHOLO; SABADINI, 2009).

8. A respeito dos eventos desta crise ver as 17 contradições e o fim do


capitalismo de David Harvey (2016), e o documentário de Michael Moore (2009)
“Capitalismo: uma história de amor”.

9. Para este estudo utilizamos o entendimento de Ruy Braga (2017) sobre o conceito
de precariado. Para este autor o termo refere-se ao proletariado precarizado e a
superpopulação relativa (termo marxista) que assegura às empresas fonte
inesgotável de força de trabalho barato, uma forma de ganho substancial de mais-
valor por meio da compressão salarial e diminuição dos custos da produção (BRAGA,
2017, p. 31).

10. Para Chesnais (1996; 1998) estamos em um momento de prevalência de um


contexto característico do “Darwinismo social” em que as disputas ocorrem sejam
em ambientes imensuráveis, entre nações, até em contextos micros entre
empresas, em uma constante de enfrentamentos onde quem se salva é considerado
como o mais capaz, o mais apto.

11. Carvalho (2013) apresenta de forma quantitativa as aquisições e fusões por ano,
ver página 769.

12. Constam em Atas tanto empréstimos com organismos financeiros, como envio
emissão de debêntures a bancos internacionais. Exponho alguns exemplos: em 21
de novembro de 2012 ocorreram duas reuniões do Conselho Administrativo do
Grupo Ser Educacional em que foram aprovadas a emissão de debêntures no valor
de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais) junto ao Banco Santander e o
empréstimo junto ao International Finance Corporation (IFC), financeira vinculada
ao BM, no valor de R$ 80.000.000,00 (oitenta milhões de reais) (GRUPO SER
EDUCACIONAL, 2012a; 2012b).
13. Autorização da oferta de ações da Ser Educacional S.A registrada na CVM sob o
nº 23.221 em 18/10/2013. Dias antes, a IPO da companhia foi autorizada pelo seu
Conselho Administrativo em reunião datada em 30/09/2013, tendo o fato da
abertura de capital como primeiro ponto de pauta segundo Ata da reunião (GRUPO
SER EDUCACIONAL, 2013). Conhecida por sua expressão em inglês Initial Public
Offering, é o termo técnico que designa o primeiro movimento de uma empresa na
direção de abrir seu capital no mercado de ações. Conforme a Price Water House
Coopers, Auditores Independentes, este procedimento é solicitar à CVM autorização
para realizar a venda de ações ao público (PRICE WATER HOUSE COOPERS, 2011, p.
07). Com a aprovação do órgão regulamentador, a empresa emite e vende as ações
no mercado. Os recursos obtidos são destinados ao caixa da empresa (Ibidem,
2011, p. 08).

14. Os segmentos de listagem da B3 – Bovespa Mais, Bovespa Mais Nível 2, Novo


Mercado, Nível 2 e Nível 1 – seguem padrões diferenciados de Governança
Corporativa com o intuito em atrair investidores. Cada segmento possui regras que
visam assegurar direitos aos acionistas, bem como dispor sobre a divulgação de
informações aos participantes do mercado (BOLSA DE VALORES DE SÃO PAULO,
[2019b]).

15. Ver o documento “Grupo Ser Educacional assina contrato de compra da UNAMA
e FIT” (GRUPO SER EDUCACIONAL, 2014). Ver também duas publicações do
Diretório Central dos Estudantes em que oferecem um olha crítico a respeito da
venda da UNAMA: (1) “Na calada da noite: vendida a Universidade da Amazônia ao
Grupo Ser Educacional! Vamos à Lua por qualidade!” e (2) “Grande manifestação na
UNAMA contra Reitoria omissa questiona venda, cobra melhorias e delibera
campanha de paralisação de cursos” (DIRETÓRIO CENTRAL DOS ESTUDANTES DA
UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA, 2013a; 2013b).

16. Trecho de entrevista realizada com o estudante C.G.J., na cidade de Belém (PA),
no dia 20 de setembro de 2018.

17. Informo que os dados quantitativos apresentados foram coletados pelo


mestrando Tarcísio Cordeiro, vinculado ao Grupo de Estudo e Pesquisa sobre
Educação Superior da Universidade Federal do Pará (GEPES/UFPA), os quais serão
tratados em sua Dissertação de Mestrado. Pelo contato de nossas investigações, o
pesquisador colaborou gentilmente com este estudo cedendo as informações.
18. Trabalho intermitente é a modalidade de trabalho na qual a prestação de
serviços não é continua. Este fenômeno encontra-se consolidado no Artigo 443 da
CLT em seu parágrafo 3º. Ver em Brasil (2017).

19. Cf. as observações de Antunes (2009; 2015) em que aborda a terceirização,


“uberização”, dentre outros fenômenos no trabalho, como metamorfoses do mundo
do trabalho. Em entrevista à “Série Conversações”, vídeo curto intitulado “A
terceirização do trabalho”, Ricardo Antunes expõe as singularidades da terceirização,
o autor caracteriza-a como um meio para a empresa: (1) reduzir custos; (2) direitos
trabalhistas e (3) dividir os trabalhadores, implantando conflitos na classe (A
TERCEIRIZAÇÃO do trabalho, 2015).

20. Cf. afirmação em Leda Paulani (2009), em que divulga números indicativos da
sobrepujança da órbita financeira. Seus dados denunciam o movimento de
transferência da riqueza produtiva para a esfera financeira.

[1]
 Doutoranda em Educação – PPGED/UFPA, Mestrado em Serviço Social-PPGSS-
UFPA, Graduada em Serviço Social.

[2]
 Doutorando em Educação- PPGED/UFPA, Mestre em Educação PPGED/UFPA,
Graduado em Ciências Sociais.

Enviado: Fevereiro, 2020.

Aprovado: Março, 2020.

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