Você está na página 1de 26

LIDIA LANA GASTELOIS

entre - folhas

Belo Horizonte
Universidade do Estado de Minas Gerais – Escola Guignard
2014
LIDIA LANA GASTELOIS

entre - folhas

Memorial apresentado a Universidade do Estado de Minas


Gerais – UEMG/Escola Guignard – como parte dos
requisitos para obtençã o do título de Graduado em Artes
Plá sticas, na habilitaçã o em Cerâ mica. .

Orientador: Prof. Maria Betâ nia Silveira

Belo Horizonte
Universidade do Estado de Minas Gerais – Escola Guignard
2014
“Trinta raios formam o núcleo,
mas o vazio entre eles realiza
a essência da roda.
Da argila nascem potes,
Mas o vazio neles realiza
A essência do pote.
As paredes com janelas e
Portas formam a casa,
Mas o vazio neles realiza
A essência da casa.
Fundamentalmente
A matéria:
Contém a utilização,
O que não é matéria
Contém a essência.”

1.
Lao Tseu (VI-V A.C)

1. (traduçã o nossa)
AGRADECIMENTOS

Agradeço
As forças que me ajudaram a enfrentar as tempestades.
Assim como a arvore que me cedeu suas generosas
folhas.

Agradeço a minha filha, Lou, minha grande companheira da vida que


me lembra todos os dias a potencialidade da transformaçã o

Agradeço,
A minha orientadora Betâ nia Silveira que caiu do céu abrindo espaços internos.
Assim como Marcelino Peixoto pelo auxilio precioso na busca do caminho.
RESUMO

Este trabalho faz uma reflexã o sobre a prá tica da Cerâ mica e suas conexõ es
com outras categorias artísticas como a fotografia e a performance. Sã o apresentados,
além de trabalhos plá sticos, os procedimentos técnicos, bem como relato do percurso
originá rio da pesquisa.
A pesquisa apoia em textos teó ricos sobre a impressã o como gesto artístico,
tendo por base o texto, Empreinte de Georges Didi-Huberman e Antropologia do gesto
de Stephane Malysse. Faz-se um relaçã o da teoria e da pratica, apresentando
referencias iconográ ficas com a finalidade de aproximar formalmente a pesquisa que
realizo e a produçã o histó rica.
Para tanto, apresenta trabalhos autorais realizadas no período de 2014, que
sã o realizados no limite da categoria já tradicional da Cerâ mica e sua expansã o para
além do espaço bidimensional.
LISTA DAS IMAGENS UTILIZADAS

FIGURA 1 –.............................................................................................. fotografia PeB capa

FIGURA 2........................................................................................Caraça 1970


9

FIGURA 2 – .........................................................................................Serra do cipó , 1999


10

FIGURA 3 – ..............................................................................................Paris 1992


11

FIGURA 4 - ..............................................................Selos / pedras ou ilhas flutuantes


13
FIGURA 4 ........................ Giuseppe Penone
FIGURA5 - .....................................................................em frente à escola Guignard
2014 13

FIGURA 6 – ................................................................................... Testes 2014


14

FIGURA7-.................................................................................folhas Oxido de ferro


14

FIGURA 8 – ....................................................................................................Raku 2013


15

FIGURA 9...................................... folhas


FIGURA 10.......................
SUMÁRIO

1.introdução

2 . Disparador
2.1 Atravessando a paisagem.
2.2 Em formação: o caminho
2.3 Indicadores

3. Metodologia
1.1Colheitas
1.2Atelier, testes
1.3Queima
1.4Fotografia externas, de volta a natureza
4. resultados
4.1 desdobramentos possíveis

5. Bibliografia
1. introdução

A arte contemporâ nea expande o limites e abre barreiras proporcionando ao artista


liberdade e possibilidade de transitar de uma linguagem para outra. A Cerâ mica nesta
linguagem plá stica/poética; é o fruto de um fazer artesanal que reflete a impressã o de
uma matéria sobre a outra, que se deixa imprimir.
Portanto torna-se importante para mim pensar sobre a utilizaçã o da impressã o como
gesto artístico. Neste sentido norteia esta pesquisa leituras de texto de Georges Didi-
Huberman, Escritos para o Catalogo de exposiçã o, "Empreinte", do Centro Georges
Pompidou, Paris, 1997 e o livro Gesto Artístico do Fulano de tal.
Este memorial apresenta além de realizaçõ es plá sticas, os procedimentos técnicos
necessá rios ao processo, bem como o relato de percurso originá rio de pesquisa e uma
reflexã o sobre a impressã o como gesto artístico.
As referencias iconográ ficas da Cerâ mica artística encontradas ao longo deste texto
tem a finalidade de aproximar formalmente a pesquisa que realizo à produçã o
histó rica contemporâ nea da arte. Para tanto apresento trabalhos autorais realizados
no ano de 2014 que estã o localizados no limite entre a linguagem da Cerâ mica e sua
expansã o para além da tradiçã o.
Este trabalho apresenta minha pesquisa para a obtençã o do título de graduada em
Cerâ mica. No capítulo 1 trato de elucidar o percurso que me levou ao curso de Artes.
No Capítulo 2 apresento meu percurso acadêmico até a escolha da especializaçã o em
Cerâ mica.
No capítulo 3 apresento os trabalhos plá sticos relativos a pesquisa. Descrevo-os em
seu cará ter formal, simbó lico e histó rico, bem como o processo de trabalho envolvido
na produçã o de Cerâ mica.
Ao final da pesquisa estabeleço consideraçõ es e aponto caminhos possíveis de
desdobramentos desta pesquisa.
2. disparador

2.1 Atravessando a paisagem

me lembro deste dia, onde ao fundo as nuvens se derramavam


sobre o vale… se despertando lentamente com o sol. Ao lado,
ainda, meu irmã o querido que era meu companheiro discreto,
suave e amoroso. Colhemos flores e vimos o sol nascer. Meu pai
preparou um buraco no chã o para o fogo, colheu lenhas por ali.
Fez um chá e passou manteiga no pã o... A colheita nas mã os.
Tenho a certeza que existe um lugar intocá vel, inabalá vel e
sagrado da beleza e da memoria.

Desde muito cedo a arte faz parte da minha vida. Sempre descobri o mundo,
questionei, entendi, transformei, através dela e da relaçã o que estabeleci com a
natureza, da qual faço parte. E através da qual conheci, ainda criança suas forças
elementais.
O mundo se constró i através do pró prio mundo. Faço parte de um todo e vivo neste
planeta terra regido pelas leis da natureza. Em meus caminhos deixei também minhas
marcas e intervençõ es, as paredes e o chã o, muitas vezes, acolheram traços
deixados pelas minhas açõ es e gestos.
As minhas viagens familiares eram sobre tudo caminhadas em parque florestais,
acampamentos “selvagens”, navegaçõ es a vela. É ramos confrontados muito cedo à
força dos elementos naturais. A percepçã o sensorial do meio ambiente era
fundamental para as soluçõ es dos desafios encontrados.
Aprendi a ouvir o meu entorno, a admirar o movimento dos astros, suas influencias
nas marés. Desta forma, aprendi a respeitar e a escutar as possíveis alteraçõ es dos
fenô menos como as chuvas e as tempestades, alternando rotas e criando novos
caminhos. Consequentemente a transformaçã o no meu fazer e a minha percepçã o do
mundo.

Serra do Cipó , 1999

Aos 8 anos comecei a frequentar o atelier de Cerâ mica da artista e professora


Terezinha Veiga em Belo Horizonte. Considero que este foi um inicio do meu
trabalho de atelier. Naquele momento, esperava com impaciência o dia da semana
chegar, era um grande prazer o contato com a matéria argila. Guardo, ainda, peças
que desenvolvi naquela época como marcas do inicio de um caminho plá stico. A
cerâ mica durante toda a minha formaçã o de artista sempre ressurgiu de alguma
forma. Posteriormente, também na minha adolescência, segui o atelier da artista e
ceramista Erli Fantini.

Paralelamente à s artes plá sticas, desenvolvi também minha formaçã o na dança na


Escola Corpo. Atuei como bailarina no corpo de baile da Fundaçã o Clovis Salgado
durante dois anos. Minha primeira relaçã o formal com o espaço foi através da dança.
Desenvolvi, a experimentaçã o com o corpo da estrutura espacial tridimensional.
Assim esta minha passagem pela dança marcou o meu olhar e a minha maneira de
ocupar o espaço.

Paris, 1992
Aos 23 anos, fui morar na França, onde iniciei meus estudos em Artes Plá sticas na
universidade de Paris I. Durante quatro anos estive mergulhada na cultura europeia,
entre exposiçõ es, concertos e visitas “exó ticas”, mergulhei esta vez em um banho
cultural de muita diversidade.
A universidade trabalhava de uma forma conceitual e tive, nesta formaçã o, uma visã o
bastante contemporâ nea das arte visuais e de suas produçõ es. A minha orientaçã o foi
para a fotografia, o cinema experimental e o desenho. A universidade nã o oferecia
ateliers, as aulas eram sobretudo teó ricas em formato de seminá rios. Esta estadia foi
extremamente rica mas exigiu que eu fizesse uma ruptura com a vida mais ligada a
natureza. Como todas as pessoas sou construçã o de cultura e natureza porem na
minha expressã o poéticas a natureza aparece com força.

2.2 Em formação: o caminho

Ao ingressar na Escola Guignard tinha uma vontade muito grande da pratica, assim
pude aproveitar bastante os ateliers dados e a pratica me pareceu fundamental para a
elaboraçã o dos processos criativos e teó ricos.

Desde o inicio da minha formaçã o na Guignard concentrei-me na busca de um


aprimoramento do desenho e da cerâ mica. Desenvolvi também um trabalho paralelo
em ateliers, muitas vezes com professores da pró pria Escola . Estes ateliers tiveram
uma contribuiçã o no questionamento para alcançar a pratica e o entendimento da
arte.

Em meu trabalho plá stico a natureza sempre apareceu de alguma forma. No 4°


período na Cerâ mica desenvolvi trabalhos em torno do reino mineral com a serie das
pedras no desenho e ilhas flutuantes na Cerâ mica. Pude realizar também no 4°
período uma pesquisa cientifica intitulada Imagens cerâmicas de Belo Horizonte. Já no
7° período trouxe como objeto de afeto para uma aula de desenho, uma folha de
umbaú ba, através da observaçã o desta folha no desenho desenvolvi uma serie de
experimentaçõ es com diferentes suporte e grafites, carvã o, nanquim. e paralelo na
cerâ mica desenvolvi a modelagem de pequena s folhas.
série Selos, acervo pessoal da artista, Belo Horizonte 2010

Pedras ou Ilhas flutuantes, acervo pessoal da artista, Belo Horizonte, 2010


2.3 O gesto. de folha a folha. Impressão

(...)"aparição única de um longínquo tão próximo esteja


ele."(...) Walter Benjamin.

No desenvolvimento de meus ú ltimos trabalhos a textura veio aparecendo com


frequência. Consequentemente busco a possibilidade de deixar uma marca, fazer uma
pressã o, uma impressã o, deixando um traço no contato da matéria para criar o espaço
de uma ausência.....

A impressã o é um gesto feito para deixar uma marca sobre alguma superfície. De
gestos mais elementares como carimbo, frottage para buscar diferentes resultados
como um traço no chã o, a marca de uma textura até moldes para a duplicaçã o ou a
repetiçã o de uma forma ou matriz. Se olharmos para a arte a contemporâ nea
podemos ver a utilizaçã o da impressã o sob diversas formas. Segundo Didi Huberman
este simples gesto sobe através dos tempos onde já o homem experimentava deixar
seu traço como as marcas do contorno das mã os nas cavernas. Por tanto gostaria de
“estudar” a impressã o como gesto técnico e como processo onde vamos de encontro a
questõ es ligadas a estrutura do tempo e da memoria.

A impressão é um gesto técnico, oras a técnica é uma estrutura do


tempo, da memoria, não somente do progresso, mas pelo simples fato
que tantos artistas do século XX tenham investido um campo
operatório literalmente pré-histórico (fazer impressões), isso nos
indica caminhos para o pensar sobre a condição temporal da obra de
arte moderna. P. 2

Logo, fazer uma impressã o abre na arte contemporâ nea uma serie de
questionamentos pois suas formas processuais criam maneiras de colocar relaçõ es
entre o objeto e seu “duplo”.

Porque cada impressão vai liberar uma espécie paradoxal de


eficiência e de magia: magia que seria aquela singular da tomada do
corporal e universalizaste como a produção serial; a que produz
semelhanças extremas que não são mimesis mas duplicação, ou ainda
a de produzir semelhanças como negativos, contra-formas,
dessemelhanças. P.3.

No inicio da pesquisa entre-folhas, recolhia na parte externa da escola Guingard


algumas folhas secas no chã o para estudar possibilidades de modelagem. As folhas
sempre foram moldadas nas mã os. Através de placas onde recorto as formas e
carimbo as texturas das folhas com as mã os através uma leve pressã o para deixar a
marca com o verso da folha que de positiva passa a ser negativa.

" A impressão supõe um gesto que se cumpre em um ato. Geralmente


um gesto que da margem a uma marca durável e um resultado
mecânico que resulta em um negativo ou em um relevo. Se trata então
de um dispositivo técnico completo. Rudimentar, podemos dizer,
pensando no termo 'técnicas contemporâneas'. (...) A técnica não quer
dizer então progresso ou novidade, ela olha em todos os sentidos , o
tempo. O valor heurístico (conjunto de regras e métodos que conduzem
à descoberta, à invenção e à resolução de problemas) da impressão o
seu valor de experimentação aberta para ser fundamental para o que
estamos discutindo. Isto daria à impressão um duplo significado, o de
processo e paradigma, ela reúne em si os dois sentidos da palavra
experiência: o sentido físico de um protocolo experimental e o sentido
de uma apreensão do mundo." 1.

Didi-Hubermann contextualiza esta forma de abordagem da impressã o. Me


concentrarei em situar da processo do gesto do meu trabalho como semelhança por
contato e a impressão como gesto, pois quando escolho a impressã o como sistema
operató rio da minha pesquisa considero que se torna necessá rio uma reflexã o em
torno deste processo para compreender e situar dentro do contexto contemporâ neo.

"algumas questões em torno do tema da impressão podem ser pensadas: o


processo da impressão seria contato da origem ou perda da origem? Ela
manifesta a autenticidade da presença (como processo do contato) ou ao
contrario a perda da unicidade que leva a sua possibilidade de reprodução...p. 4 2
1. 2. (nota rodapé) Didi huberman, Catalogo de exposiçã o, "Empreinte", Centro Georges Pompidou,
Paris, 1997, Traduçã o, Patrícia Franca , adaptaçã o e traduçã o para o mestrado em Artes Visuais EBA-
UFMG

Em seu texto Didi-Huberman faz uma analise histó rica da utilizaçã o deste recurso,
fazendo um paralelo na arte contemporâ nea da utilizaçã o baseado no texto de Walter
Benjamin com a mudança dos paradigmas da arte na apariçã o da fotografia e da
perda da "aura". Fazendo uma analise dos trabalhos de Marcel Duchamp e da
utilizaçã o da impressã o como procedimento.

A necessidade da compreensã o desta operaçã o me levou também a certos artistas


como Giuseppe Penone que trabalha diretamente sobre intervençõ es em meios
naturais num dialogo com o tempo deixando sempre uma marca.

Portanto a minha pesquisa este ano na Cerâ mica está assim voltada para esta relaçã o
com o meio natural e com a “tomada” de impressã o das folhas que recolho. Na
cerâ mica há possibilidade de deixar uma marca que remete a presença de uma
ausência, pois a folha da á rvore nã o está mais ali e surge como uma imagem de quem
o vê.

2.4 Indicadores.

No desenvolvimento desta pesquisa alguns artistas foram surgindo como


apontadores de afinidades na compreensã o da arte e me influenciaram na forma de
percepçã o do meu trabalho. Dois artistas se destacaram, particularmente no desenho
de vegetais de Matisse e Ellsworth Kelly, assim como Karl Blossfeldt que ficou bem
mais conhecido por suas fotografias de vegetais em preto e branco que elaborava
para suas aulas de desenho. Outro artista de referencia e Giuseppe Penone. Penone
interfere na natureza e espera que a continuidade da obras se construa com o tempo.
Muitas vezes o registro de seu corpo desenha na natureza, como por exemplo a mã o
de bronze que abraça a arvore e sua silhueta traçada no tronco. O que vai me
interessar no seu fazer é a incorporaçã o da textura em seus trabalhos. Como a
memoria do traço das folhas em meu trabalho. Cada folha é ú nica e aparece em
negativo na folha de argila e de porcelana, nã o só possibilitando a sua
reprodutibilidade técnica, como eternizando ou dando uma nova vida a um elemento
que representa a efemeridade como é a folha dá á rvore.

Giuseppe Penone

3. Metodologia

3.1 Colheitas

Primeiramente, as folhas foram empregadas para o experimento da modelagem com a


pressã o das mã os sobre a placa de argila. Eu trabalhava com placas finas de 3
milímetros, acolhia na palma da mã o cada folha e com uma leve pressã o marcava seus
veios para recortar em seguida a forma de barro. Buscava, em cada folha o desenho
do seu movimento.

colheita, em frente à Escola Guignard, 2014

Porém, as folhas secas quebravam muitas vezes com manipulaçã o das mã os. Eu
precisava buscar uma soluçã o! Cheguei a deixar as folhas da á rvore de molho na á gua,
porém elas continuavam frá geis e quebradiças Eu precisava delas ainda hidratadas da
seiva. As folhas ainda verdes sã o bem mais moldá veis e a possibilidade de adentrar na
forma e na texturas sã o bem maiores. Recolho diariamente as folhas de algumas das
as á rvores em frente ao atelier.

3.2 Atelier, testes

Na primeira etapa do trabalho em atelier pesquisei como seria a melhor maneira para
a modelagem da folha. Pensei também na possibilidade de criar uma forma de gesso,
ideia que foi rapidamente descartada. A unicidade de cada folha é importante para a
impressã o de cada uma delas que deixaram suas marcas impressas na argila. Como
diz Didi-Huberman trazem à tona os sentidos da presença e da ausência como modo
operató rio no qual o corpo do artista somado ao corpo do vegetal criam um nova
forma.
Desenvolvi testes de esmaltes nas folhas, buscando uma coloraçã o para a superfície.
Utilizei esmaltes ( da Lorena). As folhas foram pintadas na superfície e cobertas de
uma pequena camada de esmalte fosco (tal e tal), porém o resultado nã o foi
satisfató rio pois as nuances de tons se igualavam na queima. Comecei a trabalhar com
a massa buscando outras cores e tonalidade de argilas, utilizei argila tabaco com
chamote fino do Fornecedor Bruno e terracota do fornecedor Pascoal, para a
porcelana utilizei A TAL. Experimentei acréscimo de Ó xido de Ferro vermelho na
massa cerâ mica para pesquisar diferentes tonalidades avermelhadas acrescentando
Oxido de ferro à 10 e 15 % para trabalhar com diferentes tons na massa.

testes, argila, 8 cm, 2014


Para adequar o materialidade da argila à proposta da modelagem das folhas fui
buscar possibilidades da maleabilidade da massa cerâ mica. A folha demanda, devido a
sua sutil movimentaçã o uma flexibilidade, busquei para tanto algumas
experimentaçõ es com o Paper Clay. Primeiramente trabalhei com a proporçã o de
volume, preparando a massa cerâ mica e calcula-se a parte de papel em uma
proporçã o de 20 % da massa em relaçã o ao volume da argila contida em um
recipiente fundo. Esta medida foi feita com uma régua em pé dentro do balde. Achei
este método pouco objetivo e optei por trabalhar com outro método a partir do peso
calculando em uma balança de precisã o. Calcula-se a partir do peso da massa seca
somando assim 15 % de papel hú mido e exprimido para tirar o excesso de H2O.

folhas, Oxido de ferro

Finalmente quando iniciei os ensaios fotográ ficos percebi a folha de cerâ mica se
mimetizava demasiadamente com o meio. Decidi buscar algo que de alguma forma
marcasse o contraste do meu fazer com o meio natural. Apos fazer algumas
modelagens das folhas em porcelana, decidi trabalhar com a esta matéria por sua
forma distinta das matéria orgâ nica e por sua a massa bastante maleá vel e adequada
ao trabalho. O contraste com o meio natural trazia a minha forma para o exterior,
destacando-se da natureza e deixando o meu traço no meio natural.
3.3 A queima

Busquei diferentes tipos de queima para o processo das folhas utilizei o raku e a
queima elétrica. Para o raku somente algumas peças foram queimadas, pois devido a
fina espessura nao conseguimos a combustã o da folha. No caminho do formo para a
serragem as peças esfriavam e nao entravam na combustã o da matéria seca no
processo, a serragem.

Algumas das folhas moldadas com massas como, Paper Clay de tabaco com chamote
fino ou acrescentada de Oxido de ferro foram queimadas em fornos de alta
temperatura à 1250°C, porém algumas folhas ficaram só queimadas em baixa 1100°C
para permitir a diferença de tonalidades. A queima das peças em porcelana foram
feitas em fornos elétricos à 1250 °C .
Raku, 2013

3.4 Fotografias externas, de volta a natureza

Para os ensaios fotográ ficos reuni as folhas de porcelana e cuidadosamente embalei-


as dentro de uma caixa. As fotos e filmagens foram feitas em locais externos, pensei
no contraste das folhas com o meio natural, folhas sobre minério, arvore, sobre a pele
tomando lugares novamente nas arvores.
Adriana Moura, amiga, fotografa, registra estas imagens.
Escolhemos locais como na serra do Rola Moça, Mata do Engenho e locais urbanos em
Belo Horizonte.
Corremos atrá s da luz ideal.
Em todas as performances iniciei espalhando as folhas pelo terrenos.
Espalhava e recolhia as folhas.
Silenciosamente começá vamos o trabalho.
Espalhava, recolhia e tornava a espalhar as folhas.
O vento, o barulho das folhas e o som da porcelana.
Minhas folhas, meus passos , em recomeço,
deixando a minha marca.
entre-folhas

4. considerações finais . desdobramentos possíveis

A possibilidade de pensar sobre o gesto de imprimir a partir das folhas que recolho na
natureza, e posteriormente, a materializaçã o dessas numa produçã o cerâ mica e a
instalaçã o delas no meio externo, tem sido um trabalho transformador, de profunda
reflexã o sobre os meus pró prios gestos e trabalhos artísticos.
Ao mesmo tempo, o decorrer da pesquisa trouxe novas questõ es sobre o significado
da obra e de sua relaçã o com o espaço circundante e outro suporte artístico.
Modifiquei no decorrer da pesquisa a mise-en-scène das peças de cerâ mica, que em
principio seriam montadas no espaço expositivo. entre-folhas poderia ter muitas
soluçõ es de instalaçõ es. Porém essas instalaçõ es foram ganhando sentido com a
possibilidade de acontecerem no meio externo de onde as pró prias folhas matrizes
vinham. Este fato significa para mim um sinal de retorno e de dialogo com as origens.
O suporte fotográ fico e o vídeo sã o possibilidades de registros assim como
desdobramentos do trabalho que passam a dialogar com linguagens distintas para
coexistir numa ó tica contemporâ nea que busca por meio da impressã o de elementos
naturais no barro prolongar a vida poética da á rvore através da minha presença e
açã o. As peças confeccionadas voltam para o mundo para imprimir nele a minha
marca.

«Trente rayons forment le moyeu,


Mais le vide entre eux réalise
L’essence de la roue.
De l’argile naissent les pots,
Mais le vide en eux réalise
L’essence du pot.
Les murs avec des fenêtres et
Des portes forment la maison,
Mais le vide en eux réalise
L’essence de la maison.
Fondamentalement

: La matière
Renferme l’utilisation,
Ce qui n’est pas la matière
Renferme l’essence.»

Lao Tseu (VI-V siècle avant Jésus-Christ)

5.referências Bibliográficas

CAUQUELIN, Anne, L’invention du paysage, Ediçoes 70, Lisboa, 2008

CRAGG, Tony, Monografie bilangue, Editions du Centre Georges Pompidou, Paris,


1995

DIDI-HUBERMAN, George; Catalogo de exposiçã o, Empreinte, Centro Georges


Pompidou, Paris, 1997, Traduçã o, Patrícia Franca , adaptaçã o e traduçã o para o
mestrado em Artes Visuais EBA-UFMG

HANS Christian Adam Karl BLOSSFELDT, Karl, Taschen, Koln, 2014


JOLY, Martine. O que é uma imagem? In: JOLY, Martine. Introduçã o à aná lise da
imagem. Campinas/SP: Papirus, 1996. p. 13-40

JOLY, Martine. A aná lise da imagem: desafios e métodos. In: JOLY, Martine. Introduçã o
à aná lise da imagem. Campinas/SP: Papirus, 1996. p. 41-68

MALYSSE, Stéphane, Antropologia do gesto artístico.

TABERGHIEN, Gilles A ;, Nature , Art, Paysage, Editora Actes sud, 2001..

Você também pode gostar