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Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2ª REGIÃO

HABEAS CORPUS (TURMA) Nº 5011757-73.2021.4.02.0000/RJ


RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL WILLIAM DOUGLAS RESINENTE DOS SANTOS
PACIENTE/IMPETRANTE: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS
ADVOGADO: RAFAEL PUCCI MORAES (OAB SC060719)
ADVOGADO: BRUNO RIBEIRO DA SILVA (OAB SC059045)
ADVOGADO: JONAS DE OLIVEIRA (OAB SC033395)
ADVOGADO: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS (OAB RJ212728)
PACIENTE/IMPETRANTE: EDUARDO FAUZI RICHARD CERQUISE
ADVOGADO: RAFAEL PUCCI MORAES (OAB SC060719)
ADVOGADO: BRUNO RIBEIRO DA SILVA (OAB SC059045)
ADVOGADO: JONAS DE OLIVEIRA (OAB SC033395)
ADVOGADO: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS (OAB RJ212728)
ADVOGADO: DIEGO ROSSI MORETTI (OAB SC054505)
PACIENTE/IMPETRANTE: RAFAEL PUCCI MORAES
ADVOGADO: RAFAEL PUCCI MORAES (OAB SC060719)
ADVOGADO: BRUNO RIBEIRO DA SILVA (OAB SC059045)
ADVOGADO: JONAS DE OLIVEIRA (OAB SC033395)
ADVOGADO: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS (OAB RJ212728)
PACIENTE/IMPETRANTE: JONAS DE OLIVEIRA
ADVOGADO: RAFAEL PUCCI MORAES (OAB SC060719)
ADVOGADO: BRUNO RIBEIRO DA SILVA (OAB SC059045)
ADVOGADO: JONAS DE OLIVEIRA (OAB SC033395)
ADVOGADO: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS (OAB RJ212728)
PACIENTE/IMPETRANTE: BRUNO RIBEIRO DA SILVA
ADVOGADO: RAFAEL PUCCI MORAES (OAB SC060719)
ADVOGADO: BRUNO RIBEIRO DA SILVA (OAB SC059045)
ADVOGADO: JONAS DE OLIVEIRA (OAB SC033395)
ADVOGADO: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS (OAB RJ212728)
IMPETRADO: JUÍZO FEDERAL DA 2ª VF CRIMINAL DO RIO DE JANEIRO
IMPETRADO: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

EMENTA

PENAL. PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE


TERRORISMO. DENÚNCIA QUE DESCREVE ATO DE
SABOTAGEM PRATICADO CONTRA PRODUTORA
AUDIOVISUAL, SEM MOTIVAÇÃO DE XENOFOBIA,
DISCRIMINAÇÃO OU PRECONCEITO DE RAÇA, COR, ETNIA
E RELIGIÃO. AUSÊNCIA DE  FINALIDADE DE PROVOCAR
TERROR SOCIAL OU GENERALIZADO.  ATIPICIDADE.
EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO. CRIME
DE  INCÊNDIO.  AUSÊNCIA DE INTERESSE DA UNIÃO.
DECLARAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL
E NULIDADE ABSOLUTA DOS ATOS PROCESSUAIS A

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PARTIR DO OFERECIMENTO DA DENÚNCIA, INCLUSIVE.
PRISÃO PREVENTIVA MANTIDA. ORDEM PARCIALMENTE
CONCEDIDA. 

I - Habeas corpus impetrado contra ato judicial, visando à revogação


da prisão preventiva do paciente e ao trancamento parcial da ação
penal, na qual lhe foram imputados os delitos tipificados no art. 2º,
§1º,  IV da Lei nº 13.260/2016, e no art. 250, §1º, II, 'b' do CP, em
razão de suposta prática de ato de sabotagem ao funcionamento  da
PORTA DOS FUNDOS PRODUTORA E DISTRIBUIDORA
AUDIOVISUAL LTDA., com motivação religiosa e preconceituosa,
além de  intuito de provocar terror social, mediante arremessos de
"coquetéis molotov", que causaram incêndio e danos ao imóvel
ocupado pela produtora.

II -  Terrorismo, ontologicamente, é o uso de violência física ou


psicológica, através de ataques localizados a elementos ou instalações
de um governo ou da população, destinado a incutir medo, terror, com
o objetivo de obter efeitos psicológicos que ultrapassem o círculo das
vítimas diretas ou primárias.  Sobressai do tipo penal que se pretende
imputar ao paciente, além do seu requisito finalístico ("provocar terror
social ou generalizado”), o elemento motivacional, ou seja, o móbil do
crime - "razões de preconceito ou discriminação de xenofobia,
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião".

III - "Para que se possa definir o que pode ser considerado terrorista,
de se ter em mente que são condutas delitivas capazes de alterar a paz
pública, aptas a gerar um sentimento de intranquilidade, cujo ato
cometido transcende o concreto dano causado, comunicando ao resto
da população que qualquer um pode ser a próxima vítima. (...). Para a
consecução de atividades terroristas, é preciso empregar um método
(terrorista) idôneo a instrumentalizar as vítimas, de modo a infundir o
terror, o medo, o pânico na população, para alcançar os fins políticos
perseguidos. Para isso, a atividade delitiva contra as pessoas tem que
ser realizada de modo reiterado (contínuo) e indiscriminado
(aleatório), posto que a mensagem que um atentado terrorista pretende
transmitir é de que, caso a finalidade perseguida não seja alterada,
novos atentados iguais ou ainda mais destrutivos irão ocorrer. Sem o
prognóstico de repetição e sem a existência de aleatoriedade, o ato
terrorista não supera a lesão dos direitos da pessoa concreta" (KEHL,
Jones Mariel. Crime de Terrorismo e Crime Político: Definições,
aproximações e distinções" Revista de Direito Penal, Processo Penal e
Constituição, Porto Alegre, v. 4, n. 2, p. 118 – 139, Jul/Dez. 2018).

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IV - Não se encontram mínimos indícios de que a finalidade do agente
tenha sido "provocar terror social ou generalizado" ou que a conduta
tenha sido motivada por "razões de xenofobia, discriminação ou
preconceito de raça, cor, etnia e religião".  O ato de arremessar
"coquetéis molotov" à sede da produtora PORTA DOS FUNDOS, em
declarada retaliação à veiculação do vídeo "A primeira Tentação de
Cristo", por si só, não traz em si  a finalidade intrínseca de infundir
terror, medo ou pânico na população. Ao contrário, antes denota um
comportamento voltado diretamente às vítimas individualmente
consideradas, quais sejam os responsáveis por aquela empresa, sendo
que o fato foi episódico e isolado, não tendo sido mencionado na
denúncia ou resultado de peças de informação, qualquer outro ato
semelhante imputado ao intitulado movimento "Comando da
Insurgência Popular Nacionalista, da Família Integralista Brasileira",
do qual o paciente seria integrante.

V - Não há crime sem motivo. Motivos qualificam crimes e agravam


penas. Porém, para o crime de terrorismo, o motivo, a razão que
constitui elementar do tipo, só é suficiente por si no caso de xenofobia.
Quando envolve raça, cor, etnia ou religião, o motivo, a razão, não
subsiste isolada, não integra a figura típica por si, sozinha, precisa de
um dos complementos que, ao sucederem a vírgula, deslocam o termo
na frase e constrói o sentido nas expressões: razão de discriminação de
religião ou razão de preconceito de religião.

VI - O tipo penal do  art. 2º, caput, da Lei nº 13.260/2016  não se


satisfaz com a “motivação religiosa”. Não basta que o agente tenha um
motivo e que este motivo seja religioso. É necessário, imprescindível
para a adequação típica, que o  motivo  seja  o  preconceito  religioso, o
que não está na denúncia, não está nas peças de informação.  Dizer,
como disse a acusação na denúncia, que a conduta tem motivação
religiosa, não tem a menor relevância para a adequação típica na figura
do crime de terrorismo porque não é o mesmo que dizer que a conduta
é motivada por preconceito ou discriminação religiosa.

VII - Com relação à imputação do crime previsto no art. 2º, §1º, IV, da
Lei  nº 13.260/2016, infere-se da denúncia a atipicidade da conduta
imputada ao paciente, em razão da ausência de indícios mínimos da
presença do requisito finalístico e motivação específica para o ato, o
que afasta a incidência do art. 11 da Lei nº 23.260/2016.

VIII - Não havendo interesse da UNIÃO com relação ao crime


remanescente (art. 250, §1º, II, 'b' do CP), também se afasta a
competência da Justiça Federal para processar e julgar a ação penal
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originária, impondo-se o declínio da competência em favor da Justiça
Estadual.

IX - Julgado procedente em parte o pedido, com a extinção, sem


julgamento de mérito, da  ação penal originária, quanto aos fatos
capitulados no crime do art. 2º, §1º, IV, da Lei nº 13.260/2016, e
concessão parcial da ordem de habeas corpus para declarar a
incompetência de jurisdição da Justiça Federal para processar e julgar
a ação penal, bem como os demais procedimentos a ela vinculados, e
pronunciar a nulidade absoluta de todos os atos processuais a partir do
oferecimento da denúncia, inclusive (arts.  564, I, 573, § 2º e  572,  a
contrario sensu, todos do CPP, e art. 109, IV, da CRFB c/c art. 11 da
Lei nº 13.260/2016), restando mantidos os efeitos  da  decisão que
decretou a prisão preventiva do paciente até que o Juízo de Direito a
quem couber, por distribuição, o processo e julgamento da ação penal,
reaprecie-o.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a


Egrégia 2a. Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região decidiu,
por maioria, vencido o relator, JULGAR PROCEDENTE EM PARTE o pedido e
EXTINGUIR, sem julgamento de mérito, a ação penal nº 5095856-
33.2020.4.02.5101, quanto aos fatos capitulados crime no art. 2º, §1º, IV, da Lei nº
13.260/2016. Em consequência, CONCEDER PARCIALMENTE a ordem de
habeas corpus para, excluída a incidência do artigo 11 da Lei referida, DECLARAR
a incompetência de jurisdição da Justiça Federal para processar e julgar a ação penal
originária, bem como os demais procedimentos a ela vinculados e pronunciar a
nulidade absoluta de todos os atos processuais a partir do oferecimento da denúncia,
inclusive (arts. 564, I, 573 § 2º, e 572, a contrario sensu, todos do CPP, e art. 109,
IV, da CRFB c/c art. 11 da Lei nº 13.260/2016). Os efeitos da decisão que decretou a
prisão preventiva são mantidos até que o Juízo de Direito a quem couber, por
distribuição, o processo e julgamento da ação penal, reaprecie-o; TUDO NOS
TERMOS DO VOTO DO DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELLO
GRANADO, nos termos do relatório, votos e notas de julgamento que ficam
fazendo parte integrante do presente julgado.

Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 2022.

Documento eletrônico assinado por MARCELLO FERREIRA DE SOUZA GRANADO, Relator do


Acórdão, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 2ª
Região nº 17, de 26 de março de 2018. A conferência da autenticidade do documento está disponível no

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Signatário (a): MARCELLO FERREIRA DE SOUZA GRANADO

Data e Hora: 9/2/2022, às 12:54:14

 
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HABEAS CORPUS (TURMA) Nº 5011757-73.2021.4.02.0000/RJ


RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL WILLIAM DOUGLAS RESINENTE DOS SANTOS
PACIENTE/IMPETRANTE: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS
PACIENTE/IMPETRANTE: EDUARDO FAUZI RICHARD CERQUISE
PACIENTE/IMPETRANTE: RAFAEL PUCCI MORAES
PACIENTE/IMPETRANTE: JONAS DE OLIVEIRA
PACIENTE/IMPETRANTE: BRUNO RIBEIRO DA SILVA
IMPETRADO: JUÍZO FEDERAL DA 2ª VF CRIMINAL DO RIO DE JANEIRO
IMPETRADO: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

RELATÓRIO

Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado por


BRUNO RIBEIRO DA SILVA e outros, em favor de EDUARDO FAUZI
RICHARD CERQUISE, contra ato praticado pelo Juízo da 2ª Vara Federal
Criminal/SJRJ, nos autos n. 5095856-33.2020.4.02.5101, visando, em liminar e no
mérito, ao trancamento parcial da ação penal e à revogação da prisão preventiva.

Os impetrantes sustentam, em síntese, ausência de justa causa para o


exercício da ação penal, eis que se imputa ao paciente a prática de ato terrorista sem
que estejam presentes diversos elementos do tipo.

Afirmam que na peça acusatória não é possível extrair o especial


motivo de agir, a conotação do ato nada tem de homofóbica ou preconceituosa,
tendo sido uma reação, segundo os manifestos de seus autores, a ofensa anterior
perpetrada pela Produtora Porta dos Fundos, no “Especial de Natal”, em face da
população cristã (Jesus Cristo teria sido chamado de “bastardo” e Maria de
“prostituta adúltera).

Alegam que a data e hora do ato (madrugada da véspera de Natal),


quando inexistente movimentação de indivíduos na via pública, afastam a finalidade
de provocar terror social ou generalizado.

Asseveram que uma produtora cultural voltada ao entretenimento, sem


qualquer menosprezo às suas atividades, não se enquadra como prestadora de
serviços fundamentais ao funcionamento da sociedade, estes sim tutelados pela Lei
Antiterrorismo. Realçam que as plataformas nas quais difunde seu conteúdo são, de
fato, os veículos de comunicação.

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Pontuam que não estão presentes os núcleos do tipo penal (“sabotar” e
“apoderar-se”), pois o local atacado não era o mesmo onde eram produzidos os
vídeos da Produtora, mas apenas uma sede administrativa.

Aduzem que se está diante de um nítido caso em que um grupo buscou


exercer a defesa de um direito constitucionalmente consagrado: o direito à liberdade
de consciência, crença e culto, o que, por si só, afasta o crime de terrorismo.
Destacam que o filme objeto do protesto chegou a ter sua exibição suspensa pelo
Poder Judiciário, diante de seu conteúdo.

Ressaltam que ainda que manifestantes eventualmente vandalizem


bens públicos ou particulares em protestos, reivindicando a defesa de seus direitos e
garantias, tal fato não permite sua responsabilização por terrorismo.

Por fim, argumentam que diante do afastamento do crime de


terrorismo, nos termos do que explicitaram, só resta o de incêndio, que foi
denunciado equivocadamente como majorado (o local incendiado não servia para o
desenvolvimento das atividades culturais), de modo que inviável a manutenção de
sua prisão preventiva, pois a pena hipotética do paciente (diante da pena mínima em
abstrato e das circunstâncias judiciais) não se distanciaria do limite de 4 anos (médio
potencial ofensivo).

O writ foi instruído com documentos.

No evento 2, o Exmo. Desembargador Federal FLAVIO OLIVEIRA


LUCAS indeferiu o pedido liminar.

Foram prestadas informações (evento 9).

O i. Procurador Regional da República Dr. JOSÉ AUGUSTO SIMÕES


VAGOS opinou pela denegação da ordem (evento 13).

É o relatório. Inclua-se na próxima pauta de julgamento disponível.

Intime-se como de praxe.

Documento eletrônico assinado por WILLIAM DOUGLAS RESINENTE DOS SANTOS, na forma do
artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 2ª Região nº 17, de 26 de
março de 2018. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
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Signatário (a): WILLIAM DOUGLAS RESINENTE DOS SANTOS

Data e Hora: 19/10/2021, às 12:13:47

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PACIENTE/IMPETRANTE: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS
PACIENTE/IMPETRANTE: EDUARDO FAUZI RICHARD CERQUISE
PACIENTE/IMPETRANTE: RAFAEL PUCCI MORAES
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PACIENTE/IMPETRANTE: BRUNO RIBEIRO DA SILVA
IMPETRADO: JUÍZO FEDERAL DA 2ª VF CRIMINAL DO RIO DE JANEIRO
IMPETRADO: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

VOTO

Inicialmente, friso que o trancamento de ação penal em sede habeas


corpus constitui medida excepcional, que somente deve ser adotada quando houver
comprovação, de plano, da manifesta atipicidade da conduta, da incidência de causa
de extinção da punibilidade ou completa ausência de indícios de autoria ou de prova
da existência do fato. Nesse sentido tem se posicionado os Tribunais Superiores:

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.


ESTUPRO DE VULNERÁVEL. TENTATIVA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
ATIPICIDADE DA CONDUTA. NÃO OCORRÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO.

1. O trancamento da ação penal, por meio do habeas corpus, é medida excepcional,


sendo cabível somente quando houver inequívoca comprovação da atipicidade da
conduta, da incidência de causa de extinção da punibilidade ou da ausência de
indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade do delito, situações não
constatadas na espécie. (...)”

(STJ, Quinta Turma, AgRg no RHC 145235/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS,
DJe 25/06/2021, unânime)

“AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. CRIMES DE ROUBO


MAJORADO E ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. DENÚNCIA. INÉPCIA.
INOCORRÊNCIA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. IMPOSSIBILIDADE.
INEXISTÊNCIA DE FLAGRANTE ILEGALIDADE OU TERATOLOGIA.

1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal orienta-se no sentido de que não


é inepta a denúncia que expõe de forma compreensível e coerente os fatos e todos
os requisitos exigidos, permitindo ao acusado a compreensão da imputação e,

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consequentemente, o pleno exercício do seu direito de defesa. Precedentes.

(...)

4. O trancamento da ação penal pela via do habeas corpus é medida


excepcionalíssima, admitida apenas nos casos de constatação, de plano, da
atipicidade da conduta, da incidência de causa de extinção da punibilidade ou da
ausência de indícios de autoria e materialidade. Precedentes.

5. Agravo regimental conhecido e não provido.”

(STF, Primeira Turma, HC 172640 AgR, Rel. Ministro ROSA WEBER, DJe
30/06/2021, unânime)

O paciente é acusado de ter, em concurso com terceiros (ainda não


identificados), atirado “coquetéis molotov” por motivos religiosos, em 24 de
dezembro de 2019 (por volta das 5h20min), contra imóvel ocupado pela empresa
Porta dos Fundos Produtora e Distribuidora Audiovisual Ltda., o que teria não só
causado incêndio no local, como também colocado em risco integridade e vida de
vigilante em serviço.

Foram-lhe imputados os delitos tipificados no art. 2º, §1º, inc. IV da


Lei nº 13.260/2016, e no art. 250, §1º, inc. II, 'b' do CP.

A denúncia foi recebida em decisão, prolatada em janeiro de 2021


(evento 4 dos autos originários), que enfatizou que ela “contém a exposição do fato
criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e a
classificação legal do crime. Dessa forma, a peça permite precisar com acuidade os
limites da imputação, viabilizando o exercício da ampla defesa e a aplicação da lei
penal”.

Observo que, segundo consta nos autos originários, ainda não houve a
citação do paciente – a qual aguardava sua extradição e agora, diante de nova
determinação da autoridade impetrada, será realizada no estrangeiro – tendo a defesa
apresentado neste writ diversas teses que visam ao trancamento da ação penal
quanto ao crime terrorismo e o afastamento de causa de aumento de pena no de
incêndio, cujo acolhimento afirma tornar inviável a manutenção da ordem de prisão.

Como bem se sabe, não cabe a esta instância revisora conhecer de


questões não submetidas ao Juízo a quo, sob pena de supressão de instância
(burla ao princípio do juiz natural).

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Seria mais adequado, desse modo, que as teses ora veiculadas tivessem
sido primeiramente analisadas na origem (na fase do art. 397 do CPP). No entanto,
como para o recebimento da denúncia é necessária a presença de justa causa,
conheço da impetração no que tange, apenas, às alegações concernentes a ela.

A justa causa, quando decorre de exame da acusação já formalizada,


deve observar aspecto formal (objeto da presente irresignação), a partir da existência
de elementos típicos, e material, com base na presença de elementos indiciários
(autoria e materialidade)

Como já explicitado, apenas a atipicidade manifesta da conduta


permite o trancamento pretendido.

Nesse passo, cumpre transcrever o referido dispositivo da Lei n.


13.260/2016:

“Art. 2º O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos


previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de
raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror
social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a
incolumidade pública.

§ 1º São atos de terrorismo:

(...)

IV - sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça a


pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do controle total ou parcial,
ainda que de modo temporário, de meio de comunicação ou de transporte, de
portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde,
escolas, estádios esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionem serviços
públicos essenciais, instalações de geração ou transmissão de energia, instalações
militares, instalações de exploração, refino e processamento de petróleo e gás e
instituições bancárias e sua rede de atendimento;

V - atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa:”

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Verifico que não é possível afastar, de plano, motivação religiosa para
a prática do ato, segundo se observa das circunstâncias do caso, notadamente, da
data escolhida para sua realização e do manifesto do paciente (lido em vídeo
publicado na rede mundial de computadores) sobre conteúdo do Especial de Natal
do Porta dos Fundos (no qual personagens bíblicos foram retratados).

Transcrevo trecho do referido manifesto (no qual se assumiu a autoria


do ato), veiculado na própria exordial (fls. 04/05):

“O PORTA DOS FUNDOS resolveu fazer um ATAQUE DIRETO CONTRA A FÉ


DO POVO BRASILEIRO, se escondendo atrás do véu da LIBERDADE DE
EXPRESSÃO. Esses malditos servos do Grande Capital blasfemaram contra o
Espírito Santo, quando chamaram Nosso Senhor Jesus Cristo de bastardo e Maria
de prostituta e adúltera. Por isso não merecem qualquer perdão.”

Se esta foi, de fato, a motivação ou se estava presente outra, de forma


isolada ou concomitante (como, por exemplo, a de homofobia), é matéria a ser
analisada após a instrução da ação penal pelo Juízo de origem.

No que concerne à finalidade de provocar terror social ou


generalizado, esta também foi suficientemente indicada na peça acusatória.

Pontuo que é notório que o alvo e a data escolhidos trariam grande


repercussão midiática, como acabou ocorrendo, a qual seria mais do que suficiente
para propagar a mensagem pretendida (em tese, intimidatória), sendo despiciendo o
horário em que ocorreu (o qual possivelmente tendia a evitar flagrante por parte de
autoridades públicas).

Não só o próprio ataque ao imóvel, mais também o conteúdo


(afirmam, inclusive, que se incumbirão de ser a espada de Deus e que tem de
expurgar os traidores do espírito nacional) e a estética do vídeo (similar, como
observado pelo parquet, a de vídeos de organizações terrorista contemporâneas) em
que sua autoria é assumida, reforçam a intuito de incutir medo/terror nos produtores
do Porta dos Fundos e em pessoas que tenham/professem uma visão não
“tradicional”, sejam elas adeptas ou não do cristianismo, dos símbolos religiosos que
o teriam motivado.

Quanto ao verbo nuclear típico sabotar, como bem pontuado no


parecer ministerial, este deve ser entendido como “danificar” de modo deliberado
instalações com a finalidade de estragar o local, paralisando atividades resguardadas
pela norma.

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Em que pesem os argumentos defensivos, no que tange à natureza da
mencionada produtora de vídeos e dos serviços prestados por ela, prematuro o
afastamento pretendido, devendo eles serem submetidos, oportunamente, à
autoridade impetrada.

A pretensão de diferenciar que produção cultural seria relevante


socialmente diante de seu conteúdo, não se mostra adequada a um primeiro olhar,
além de colocar em risco, a princípio, os valores resguardados pela Constituição.

De toda forma, não cabe a esta Corte revisora adentrar nesta discussão
neste momento processual. Matéria que extrapola análise cabível da justa causa.

Também não é adequado firmar, sem que a questão tenha sido objeto
de debate na origem, se as atividades dela se enquadram como de meio de
comunicação, ainda que aparentemente sim.

Ora, o fato de um jornal televisivo, por exemplo, não ter estúdio


próprio e transmitir suas reportagens em parceria lhe retira a natureza de meio de
comunicação? Parece haver um consenso que não.

Então, não parece lógico que uma produtora de vídeos, sejam eles de
que conteúdo forem, não teria a referida natureza só por veicula-los através de
plataformas de comunicação de terceiros.

Do mesmo modo, não cabe discutir, nesta estreita via, a alegação, que
também é de mérito, de que o referido ato se enquadraria no exercício de defesa de
um direito à liberdade de consciência, crença e culto (invocando excludente de
tipicidade prevista no art. 2º, §2º da Lei de Terrorismo).

Tal dispositivo tem aplicação controversa e eventual atipicidade não se


mostra manifesta.

Por fim, como rechaçado o trancamento pretendido e nem conhecido o


pedido de exclusão de causa de aumento da pena do crime de incêndio, sequer cabe
tratar da tese concernente à prisão preventiva.

Sem embargo, esclareço que a quantidade de pena máxima em abstrato


do crime mencionado acima (superior a quatro anos), mesmo que sem a causa de
aumento objurgada, observa o disposto no art. 313, I, do CPP, não cabendo projeção
de eventuais penas.

Ante o exposto, voto no sentido de CONHECER EM PARTE DO


WRIT E, NA PARTE CONHECIDA, O DENEGAR.

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Documento eletrônico assinado por WILLIAM DOUGLAS RESINENTE DOS SANTOS, na forma do
artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 2ª Região nº 17, de 26 de
março de 2018. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
https://eproc.trf2.jus.br, mediante o preenchimento do código verificador 20000706976v2 e do código CRC
23d36c81.

Informações adicionais da assinatura:

Signatário (a): WILLIAM DOUGLAS RESINENTE DOS SANTOS

Data e Hora: 26/10/2021, às 15:18:58

 
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13/02/2022 03:25 Extrato de Ata

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EXTRATO DE ATA DA SESSÃO ORDINÁRIA DE


19/10/2021

HABEAS CORPUS (TURMA) Nº 5011757-73.2021.4.02.0000/RJ


RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL WILLIAM DOUGLAS RESINENTE DOS SANTOS
PRESIDENTE: DESEMBARGADOR FEDERAL FLAVIO OLIVEIRA LUCAS
PROCURADOR(A): ROGÉRIO JOSÉ BENTO SOARES DO NASCIMENTO
SUSTENTAÇÃO ORAL PRESENCIAL: DIEGO ROSSI MORETTI POR BRUNO RIBEIRO DA
SILVA
SUSTENTAÇÃO ORAL PRESENCIAL: ROGÉRIO JOSÉ BENTO SOARES DO NASCIMENTO
POR MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PACIENTE/IMPETRANTE: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS
ADVOGADO: RAFAEL PUCCI MORAES (OAB SC060719)
ADVOGADO: BRUNO RIBEIRO DA SILVA (OAB SC059045)
ADVOGADO: JONAS DE OLIVEIRA (OAB SC033395)
ADVOGADO: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS (OAB RJ212728)
PACIENTE/IMPETRANTE: EDUARDO FAUZI RICHARD CERQUISE
ADVOGADO: RAFAEL PUCCI MORAES (OAB SC060719)
ADVOGADO: BRUNO RIBEIRO DA SILVA (OAB SC059045)
ADVOGADO: JONAS DE OLIVEIRA (OAB SC033395)
ADVOGADO: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS (OAB RJ212728)
ADVOGADO: DIEGO ROSSI MORETTI (OAB SC054505)
PACIENTE/IMPETRANTE: RAFAEL PUCCI MORAES
ADVOGADO: RAFAEL PUCCI MORAES (OAB SC060719)
ADVOGADO: BRUNO RIBEIRO DA SILVA (OAB SC059045)
ADVOGADO: JONAS DE OLIVEIRA (OAB SC033395)
ADVOGADO: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS (OAB RJ212728)
PACIENTE/IMPETRANTE: JONAS DE OLIVEIRA
ADVOGADO: RAFAEL PUCCI MORAES (OAB SC060719)
ADVOGADO: BRUNO RIBEIRO DA SILVA (OAB SC059045)
ADVOGADO: JONAS DE OLIVEIRA (OAB SC033395)
ADVOGADO: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS (OAB RJ212728)
PACIENTE/IMPETRANTE: BRUNO RIBEIRO DA SILVA
ADVOGADO: RAFAEL PUCCI MORAES (OAB SC060719)
ADVOGADO: BRUNO RIBEIRO DA SILVA (OAB SC059045)
ADVOGADO: JONAS DE OLIVEIRA (OAB SC033395)
ADVOGADO: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS (OAB RJ212728)
IMPETRADO: JUÍZO FEDERAL DA 2ª VF CRIMINAL DO RIO DE JANEIRO
IMPETRADO: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Certifico que a 2a. TURMA ESPECIALIZADA, ao apreciar os autos do processo em


epígrafe, proferiu a seguinte decisão:
APÓS O VOTO DO DESEMBARGADOR FEDERAL WILLIAM DOUGLAS
RESINENTE DOS SANTOS NO SENTIDO DE CONHECER EM PARTE DO WRIT
E, NA PARTE CONHECIDA, O DENEGAR, PEDIU VISTA O DESEMBARGADOR

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13/02/2022 03:25 Extrato de Ata

FEDERAL MARCELLO FERREIRA DE SOUZA GRANADO. AGUARDA O


DESEMBARGADOR FEDERAL FLAVIO OLIVEIRA LUCAS. DETERMINADA A
JUNTADA DA TRANSCRIÇÃO DAS NOTAS DO JULGAMENTO.

VOTANTE: DESEMBARGADOR FEDERAL WILLIAM DOUGLAS RESINENTE DOS SANTOS


PEDIDO VISTA: DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELLO FERREIRA DE SOUZA
GRANADO
VOTANTE: DESEMBARGADOR FEDERAL FLAVIO OLIVEIRA LUCAS
FLÁVIA MUNIC MEDEIROS PEREIRA
Secretária

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HABEAS CORPUS (TURMA) Nº 5011757-73.2021.4.02.0000/RJ


RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL WILLIAM DOUGLAS RESINENTE DOS SANTOS
PACIENTE/IMPETRANTE: RAFAEL PUCCI MORAES
PACIENTE/IMPETRANTE: JONAS DE OLIVEIRA
PACIENTE/IMPETRANTE: BRUNO RIBEIRO DA SILVA
PACIENTE/IMPETRANTE: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS
PACIENTE/IMPETRANTE: EDUARDO FAUZI RICHARD CERQUISE
IMPETRADO: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
IMPETRADO: JUÍZO FEDERAL DA 2ª VF CRIMINAL DO RIO DE JANEIRO

VOTO-VISTA

(Desembargador Federal MARCELLO GRANADO)  Conforme


relatado, trata-se de  habeas corpus  impetrado em favor de  EDUARDO FAUZI
RICHARD CERQUISE, contra ato praticado pelo Juízo da 2ª Vara Federal
Criminal/SJRJ, nos autos nº 5095856-33.2020.4.02.5101, visando  ao trancamento
parcial da ação penal e à revogação da prisão preventiva do paciente.

O Relator, Desembargador Federal William Douglas Resinente dos


Santos, votou pela denegação da ordem.

Pois bem, este habeas corpus refere-se à ação penal na qual o ora
paciente foi denunciado nos seguintes termos (evento 1, denuncia2 dos autos
originários):

"Na madrugada do dia 24 de dezembro de 2019, por vota das


5h20mim, o denunciado, em comunhão de ações e desígnios com
terceiras pessoas, ainda não identificadas, calcados na motivação
religiosa e preconceituosa a seguir descrita e com o inequívoco intuito
de provocar terror social, sabotou o funcionamento da Porta dos
Fundos Produtora e Distribuidora Audiovisual Ltda, com sede à Rua
Capitão Salomão, nº 42, Humaitá, nesta Cidade, eis que atirou, contra
o imóvel ocupado pelo aludido veículo de comunicação, coquetéis
molotov, que causaram o incêndio e os consequentes danos descritos
no laudos acostados no Documento 35.3, Página 80, ao Documento
35.4, Página 11, e no Documento 35.38, Página 19, ao Documento
35.39, Página 9.

O incêndio causado pelo o denunciado e seus comparsas, além de


haver exposto a perigo a sede do aludido veiculo de comunicação,
também expôs a perigo a vida e a integridade física de Marcelo do
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Carmo Braga, vigilante que guardava o imóvel, que só não foi
atingido pelo fogo porque conseguiu debelá-lo rapidamente, eis que
havia um extintor de incêndio ao seu alcance. As imagens captadas
pelas câmeras de segurança, em especial a abaixo colacionada, não
deixam dúvida de que o patrimônio da produtora, assim como vida e a
integridade física de Marcelo, foi exposto a perigo, especialmente
porque este último ficou encurralado no cômodo em que se
encontrava, eis que única saída ficou tomada pelo fogo.

(...).

A motivação religiosa do ato terrorista está estampada na petição


apresentada pelo advogado do próprio denunciado (v. Documento
35.13, Página 44), onde está expressamente registrada a insatisfação
deste último com a veiculação, através da plataforma de vídeos
Netflix, da encenação intitulada "A Primeira Tentação de Cristo",
produzida pela Porta dos Fundos, onde, segundo ele, teria ocorrido o
"escárnio" de importantes personagens do catolicismo. Esta
motivação religiosa estava, ademais, aditivada por preconceito
homossexual, já que a indignação do denunciado e seus asseclas
decorreu diretamente do fato de o vídeo produzido sugerir que Jesus
Cristo teria tido uma experiência gay durante os quarenta dias que
passou no deserto, conforme se vê do vídeo anexo, publicado através
do link https://www.youtube.com/watch?v=PK7kcCsgET4 (acessado
em 10/12/2020).

No trecho abaixo, o denunciado, além de assumir a autoria do ato


terrorista, ratifica a sua motivação religiosa (Documento 35.19,
Página 11):

(...) O ato foi belo e moral e a única alternativa possível ao criminoso


Especial de Natal do Porta dos Fundos e não por menos está
recebendo apoio massivo do povo brasileiro. A mídia, por outro lado,
se cala sobre o fato de o ato ter sido puramente REATIVO a um outro
crime, esse sim, de muito mais violento e de muito maior potencial
ofensivo. A ofensa do Porta dos Fundos contra Jesus Cristo e a nação
brasileira foi, essa sim, criminosa e gratuita. Não se brinca com Jesus
Cristo, mas vandalizar a imagem de Jesus da maneira como foi feita
equivale a uma declaração de guerra contra o povo brasileiro e a
espiritualidade popular. Alguém tinha que fazer alguma coisa. (...)

Ainda quanto à motivação religiosa, vale transcrever, na íntegra, o


"manifesto" lido pelo denunciado - conforme por ele mesmo admitido
no Documento 35.41, Página 12, ao Documento 35.42, Página 15 - no

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vídeo publicado na rede mundial de computadores, cujos termos
constam do Relatório de Imagens (Deep Web), acostado nos
Documentos 35.34 e 35.35:

Nós, do Comando da Insurgência Popular Nacionalista, da Família


Integralista Brasileira, reivindicamos a AÇÃO DIRETA
REVOLUCIONÁRIA, que buscou JUSTIÇAR os anseios do povo
brasileiro contra a atitude de BLASFEMA, BURGUESA e
ANTIPATRIÓTICA que o grupo de militantes marxistas culturais
PORTA DOS FUNDOS tomou quando produziu o seu ESPECIAL DE
NATAL a mando da mega-corporação bilionária NETFLIX, deixando
claro para todo o povo brasileiro mais uma vez, como o grande capital
anda de mãos dadas com os ditos socialistas. Na verdade, são apenas
BURGUESES fantasiadas de vermelho. Tudo isso na intenção de
destruir o nosso povo, nossas crianças, nosso PATRIMÔNIO
IMATERIAL, com o intuito de nós enfraquecer, nos dividir. Temos o
prazer de declarar que as INQUIETAÇÕES advindas do espírito
popular, hoje foram parcialmente satisfeitas. O PORTA DOS
FUNDOS resolveu fazer um ATAQUE DIRETO CONTRA A FÉ DO
POVO BRASILEIRO, se escondendo atrás do véu da LIBERDADE DE
EXPRESSÃO. Esses malditos servos do Grande Capital blasfemaram
contra o Espírito Santo, quando chamaram Nosso Senhor Jesus Cristo
de bastardo e Maria de prostituta e adúltera. Por isso não merecem
qualquer perdão. Hoje a sede da PORTA DOS FUNDOS, na intenção
de desagravo, uma vez à justiça brasileira, à moda de JUDAS,
VENDEU UMA SENTENÇA ILEGAL em favor da NETFLIX, que é
uma corporação milionárias. À justiça burguesa, covarde e corrupta,
vendida para o Grande Capital, luta contra o povo. Mas quando a
revolução INTEGRALISTA vier, todos estarão condenados ao
justiçamento revolucionário. Nós INTEGRALISTAS, não renegaremos
o nosso papel histórico e nos incumbiremos de ser a espada de Deus.
A Revolução Integralista é a Revolução do Espírito. O Brasil é Cristão
e jamais deixará de ser. E nem a guerra e as perseguições nos
mudaram jamais. Somos homens e mulheres de fibra e coragem, e não
nos curvaremos ante as BLASFÊMIAS contra o nome do Nosso
Senhor. O Brasil foi fundado sob a cruz de Cristo e é Cristo a única
solução para os problemas do Brasil. Quando ESCARNECEM DO
NOME DO SENHOR, os malditos agentes da GUERRA CULTURAL
cospem em tudo que é Brasil, em tudo que ele representa. O grupo
PORTA DOS FUNDOS, o GRUPO PORTA DOS FUNDOS é antes de
tudo um agente BURGUÊS CULPADO DO CRIME DE LESA-
PÁTRIA. Temos fé que Deus tem maravilhas guardadas para o Brasil,
mas antes de tudo temos que expurgar os traidores do espírito
nacional.
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A veiculação do dito manifesto deu-se através do vídeo anexo,
merecendo ser destacado o fato de os indivíduos estarem com os rostos
cobertos e de se utilizarem do símbolo integralista, qual seja, a letra
sigma do alfabeto grego, conforme se vê da imagem abaixo:

(...).

Vê-se claramente que a publicação deste vídeo macabro não tem outro
propósito senão a de incutir terror social, o que corrobora a assertiva
de que se trata de um ato verdadeiramente terrorista. Ademais, o vídeo
denota que o denunciado procura dar contornos políticos ao aludido
ato terrorista, alegando ser membro de um suposto movimento
integralista, tal como se isso pudesse legitimar suas ações. No entanto,
como se sabe, o único movimento verdadeiramente integralista
ocorrido no Brasil deu-se na década de 1930, quando se fundou a
Ação Integralista Brasileira - AIB, uma entidade ultranacionalista,
que, sob o lema "Deus, Pátria e Família", tentou, sem sucesso, trazer
para o país os mesmos preceitos da Itália facista. Atualmente, porém,
não há nenhuma representação integralista significativa na sociedade
brasileira, não havendo um único partido político legalmente
constituído que veicule tais ideais. E, ainda que houvesse, não serviria
de legitimador ao ato terrorista acima mencionado.

Tem-se, portanto, que a conduta acima descrita traduz-se em ato de


violência, de cunho religioso e preconceituoso, sem qualquer conteúdo
político legítimo, praticado com o objeto de causar terror social e que
sabotou o funcionamento de um veículo de comunicação, estando
assim presentes todos os requisitos exigidos pela Lei nº 13.260/2016
para a sua caracterização como ato de terrorismo. Além disso, sói
evidente o intuito incendiário do denunciado e seus comparsas, que,
com tal conduta, expuseram a risco a vida e a integridade física do
vigilante que ali se encontrava, e o imóvel ocupado pela Porta dos
Fundos, destinado à produção cultural."

Foram imputados ao paciente os delitos tipificados no art. 2º, §1º, IV


da Lei nº 13.260/2016, e no art. 250, §1º, II, 'b' do CP, os quais ora transcrevo:

"Lei nº 13.260/2016

Art. 2º O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos


atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou
preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a
finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a
perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública.

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§ 1º São atos de terrorismo:

(...);

IV - sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave


ameaça a pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do
controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de
comunicação ou de transporte, de portos, aeroportos, estações
ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas,
estádios esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionem
serviços públicos essenciais, instalações de geração ou transmissão de
energia, instalações militares, instalações de exploração, refino e
processamento de petróleo e gás e instituições bancárias e sua rede de
atendimento;

Código Penal

Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade


física ou o patrimônio de outrem:

Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.

 § 1º - As penas aumentam-se de um terço:

(...);

  b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de


assistência social ou de cultura;"

Quanto à competência da Justiça Federal para processar e julgar ações


penais por crime de terrorismo está prevista no art. 11 da  Lei nº 13.260/2016:

"Art. 11. Para todos os efeitos legais, considera-se que os crimes


previstos nesta Lei são praticados contra o interesse da União,
cabendo à Polícia Federal a investigação criminal, em sede de
inquérito policial, e à Justiça Federal o seu processamento e
julgamento, nos termos do  inciso IV do art. 109 da Constituição
Federal ."

Dito isso, divirjo integralmente do voto do  Relator, por entender


que a competência para processar e julgar a ação penal originária pertence à
Justiça Estadual, e não à Justiça Federal.

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Terrorismo, ontologicamente, é o uso de violência física ou
psicológica, através de ataques localizados a elementos ou instalações de um
governo ou da população, destinado a incutir medo, terror, com o objetivo de obter
efeitos psicológicos que ultrapassem o círculo das vítimas diretas ou primárias.

Sobressai do tipo penal que se pretende imputar ao paciente, além do


seu requisito finalístico ("provocar terror social ou generalizado”), o elemento
motivacional, ou seja, o móbil do crime - "razões de PRECONCEITO OU
DISCRIMNAÇÃO de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e
religião".

Nas palavras do professor Jones Mariel Kehl1:

"Em que pese as dificuldades de uma definição que abarque todas


facetas possíveis do fenômeno do terrorismo, os delitos desse jaez
caracterizam-se pela comissão de infrações comuns, com a
virtualidade de criar um estado psicológico de terror generalizado na
população (AVILÉS GÓMEZ, 2004, p. 337-339), alterando a paz
pública, em vistas de alcançar determinado objetivo1.

Assim, o terrorismo contém um desvalor adicional em comparação


com a delinquência comum (homicídio, lesões, etc.), tendo em vista
que cada ato terrorista concreto contribui à criação de uma situação
de medo coletivo capaz de alterar a normalidade da convivência das
pessoas e, em consequência, o próprio exercício dos direitos
fundamentais (REINARES, 2003, p. 10). Daí que o ato terrorista
transcende o próprio dano concretamente causado, posto que
transmite uma mensagem de ameaça à segurança do resto da
sociedade, que se dá por meio da intimidação massiva2.

A partir disso, pode-se dizer que o bem jurídico atacado pelo


terrorismo é, além do bem jurídico concreto protegido pelos crimes
comuns (vida, integridade física, liberdade, etc.), a paz pública, aqui
entendida em seu viés subjetivo, como estado coletivo de
tranquilidade e sossego (LLOBET AMGLÍ, 2010, p. 480), em
referência a esse plus no desvalor da atividade terrorista3.

(...).

(...). Assim, para que seja delito terrorista, é preciso que haja uma
projeção estratégica orientada a modificar a estrutura constitucional
do Estado4.

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Em conta disso, o bem jurídico atacado pelo terrorismo é triplo: em
primeiro lugar, o bem jurídico concreto protegido pelos crimes
comuns; em segundo lugar, a paz pública; e; por último, as vias
democráticas de tomada de decisões políticas, no sentido do poder do
povo como único legitimado para decidir sobre o conteúdo das leis e
das políticas públicas (LLOBET AMGLÍ, 2010, p. 59).  Portanto, as
condutas terroristas atacam um bem jurídico individual e, também,
bens supraindividuais.

(...).

Com efeito, a palavra terrorismo implica – em linguagem comum –


sobretudo uma determinada forma de uso de violência (CANCIO
MELIÁ, 2010, p. 167).  Assim, o rótulo de terrorismo deve ser
atribuído a condutas delitivas violentas, reiteradas e indiscriminadas,
dirigidas contra bens jurídicos individuais, capazes de
instrumentalizar as pessoas para obter fins políticos. A partir disso,
infere-se que o terrorismo faz uso de um determinado método (método
terrorista), uma vez que utiliza uma violência de tal intensidade
suscetível de causar terror na sociedade...

(...).

(...). O que é necessário é que o tipo de violência utilizado seja


objetivamente idôneo para infundir esse estado de terror (LAMARCA
PÉREZ, 1984, p. 77-78).

Considerando que cada ato concreto terrorista, além de lesionar o


bem jurídico pessoal atacado por este atentado, transcende o dano
específico, sendo uma estratégia de comunicação simbólica (CANCIO
MELIÁ, 2010, p. 167), cuja mensagem de um atentado terrorista é que
se voltará a executar outro ato destrutivo caso siga inalterado o que se
pretende modificar, a atividade delitiva terrorista contra as pessoas
deve ser realizada de modo reiterado (contínuo) e indiscriminado
(aleatório). Sem o prognóstico de repetição e sem a existência de
aleatoriedade, o ato terrorista não supera a lesão dos direitos da
pessoa concreta, não havendo de ser falar no plus do desvalor da
ação.

(...).

Quando há um ataque terrorista, a vítima atacada concretamente,


além de ter seus bens fundamentais lesionados, também é
instrumentalizada (CANCIO MELIÁ, 2010, p. 168), o que ocorre em

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dois níveis. Por um lado, enquanto instrumentalização de primeiro
nível, a mensagem enviada por um ato terrorista dirige-se a toda
sociedade ou a um determinado grupo e comunica a alteração da paz
pública (a transformação de um estado de tranquilidade e sossego
social em uma situação de medo ou terror coletivo pela própria vida).
Neste primeiro nível de instrumentalização, o elemento de
indiscriminação ganha relevo, porque a vítima concreta, ao possuir
valor simbólico, enquanto portadora da mensagem, comunica que a
qualquer um pode ocorrer o mesmo, promovendo, assim, a
intimidação massiva.

(...). ...a criação desse terror geral é um fim e também um meio


(LLOBET AMGLÍ, 2010, p. 68-71).

(...) o essencial é que haja um prognóstico de repetição objetivamente


constatável, na medida em que, não sendo assim, não será possível a
configuração de uma atividade que verdadeiramente seja capaz de
atentar contra a paz pública e de coagir o Estado.

No que diz respeito à  indiscriminação delitiva, percebe-se que a


atividade das organizações terroristas geralmente afeta a toda a
população de um ou de vários Estados, de modo que qualquer membro
dessa sociedade apresenta-se como uma potencial vítima,
caracterizando o elemento aleatoriedade7.

(...).

...não será terrorista a atividade que atentar exclusivamente contra a


propriedade e outros bens materiais, bem como aquela que somente
produzir alteração pública mediante danos materiais9.

(...).

2.6 Sobre o elemento teleológico: a finalidade política

Inexiste consenso a respeito da finalidade última perseguida pelo


fenômeno terrorista11: se é somente política ou se pode ter outra
natureza, essencialmente social (LAQUEUR, 2000, p. 48).  Tal
divergência geralmente ocorre porque não se discute o que se entende
por finalidade política.

De todo modo, cabe deixar patente que os fins que aqui interessam
não são os desejos ou objetivos individuais, senão o programa coletivo
de atuação, o sentido próprio do sistema de injusto que é a

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organização terrorista: o programa de atuação da organização12.  O
que importa não é tanto o objetivo, a finalidade da atividade,
enquanto fim subjetivo-individual, senão sua interseção em razão de
ser da organização, enquanto projeção estratégica do coletivo
(CANCIO MELIÁ, 2010, p. 180-181).

(...) para quem entende que terrorismo possui finalidade política,


tomam – ampliando o conceito de finalidade política – como
equivalente à paz pública e à ordem democrática, não incluindo a
persecução de fins sociais de modo explícito, embora estes se infiltrem
no político13.  (...) quem faz alusão à finalidade social, pensa num
conceito mais reduzido de finalidade política.  Na prática, entretanto,
parece não haver muitas diferenças entre ambas as posturas: dizer que
o terrorismo persegue fins políticos não significa nada14.

O problema não radica no rótulo que se dá à finalidade perseguida


pelo terrorismo, se política, social, religiosa ou qualquer outra
palavra. O fundamental é o conteúdo da finalidade buscada pela
atividade terrorista. Então, a tarefa é estabelecer o que se entende por
finalidade política15 perseguida pelo terrorismo.

Com efeito, somente deve ser reputada terrorista a atividade delitiva


que instrumentaliza as pessoas com a finalidade última de coagir os
governos constituídos ou em constituição. Assim, somente se poderá
falar de terrorismo quando a violência gerar a instrumentalização
em duplo nível: tal violência há de ser capaz de aterrorizar a
população e, com isso, busca a interlocução com os governos, seja
com a intenção de mudar alguma de suas políticas concretas
(política territorial, política exterior, política religiosa, etc.), seja para
modificar a ordem política constituída (converter um Estado de
Direito em um Estado totalitário, um Estado laico em um Estado
confessional, etc.) (LLOBET AMGLÍ, 2010, p. 89).

(...).

Para que se possa definir o que pode ser considerado terrorista, de se


ter em mente que são condutas delitivas capazes de alterar a paz
pública, aptas a gerar um sentimento de intranquilidade, cujo ato
cometido transcende o concreto dano causado, comunicando ao
resto da população que qualquer um pode ser a próxima vítima. (...).

(...).

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Posto isso, é possível verificar o que é preciso fazer para alcançar
essa finalidade, isto é, distinguir o terrorismo enquanto fenômeno
delitivo do terrorismo enquanto método. Se terrorista é aquela conduta
violenta direcionada contra bens personalíssimos (vida, integridade
física, liberdade) que se realiza de modo indiscriminado e reiterado
com a finalidade de obter determinadas mudanças políticas, as
organizações terroristas caracterizam-se por executar crimes capazes
de instrumentalizar a vida, a integridade física e a liberdade das
pessoas (método terrorista) para obter os objetivos políticos
pretendidos (finalidade terrorista).

Para a consecução de atividades terroristas, é preciso empregar um


método (terrorista) idôneo a instrumentalizar as vítimas, de modo a
infundir o terror, o medo, o pânico na população, para alcançar os
fins políticos perseguidos. Para isso, a atividade delitiva contra as
pessoas tem que ser realizada de modo reiterado (contínuo) e
indiscriminado (aleatório), posto que a mensagem que um atentado
terrorista pretende transmitir é de que, caso a finalidade perseguida
não seja alterada, novos atentados iguais ou ainda mais destrutivos
irão ocorrer. Sem o prognóstico de repetição e sem a existência de
aleatoriedade, o ato terrorista não supera a lesão dos direitos da
pessoa concreta." Grifei

  Não se encontram mínimos indícios de que a finalidade do agente


tenha sido "provocar terror social ou generalizado" ou que a conduta tenha
sido motivada por "razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça,
cor, etnia e religião".

O ato de arremessar "coquetéis molotov" à sede da produtora


PORTA DOS FUNDOS, em declarada retaliação à veiculação do vídeo "A
primeira Tentação de Cristo", por si só, não traz em si a finalidade intrínseca
de infundir terror, medo ou pânico na população. Ao contrário, antes denota
um comportamento voltado diretamente às vítimas individualmente
consideradas, quais sejam os responsáveis por aquela empresa.

Quanto ao manifesto veiculado pelo paciente na rede mundial de


computadores, foi dirigido diretamente a sujeitos passivos  individualizados e  pelo
agente rotulado "grupo de militantes marxistas culturais PORTA DOS FUNDOS".

Destaco restar evidente que o fato foi episódico e isolado, não tendo
sido mencionado na denúncia ou resultado de peças de informação, qualquer outro
ato semelhante imputado ao intitulado movimento "Comando da Insurgência
Popular Nacionalista, da Família Integralista Brasileira", do qual o paciente seria
integrante.

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Portanto, não vislumbro qualquer elemento de convicção no sentido de
que o paciente teria buscado "provocar terror social ou generalizado", ou seja, que
tenha pretendido atingir a paz coletiva e a intimidação massiva da sociedade.

Por outro lado, a acusação insiste, para justificar a imputação de crime


de terrorismo, em "motivação religiosa" para a conduta do paciente. Chega a dizer
que estaria “aditivada de preconceito homossexual”.

Neste sentido, destaco, além do que já foi reproduzido no relatório, o


seguinte trecho da denúncia:

“A motivação religiosa do ato terrorista está estampada na petição


apresentada pelo advogado do próprio denunciado (v. Documento
35.13, Página 44), onde está expressamente registrada a insatisfação
deste último com a veiculação, através da plataforma de vídeos
Netflix, da encenação intitulada "A Primeira Tentação de Cristo",
produzida pela Porta dos Fundos, onde, segundo ele, teria ocorrido o
"escárnio" de importantes personagens do catolicismo. Esta
motivação religiosa estava, ademais, aditivada por preconceito
homossexual, já que a indignação do denunciado e seus asseclas
decorreu diretamente do fato de o vídeo produzido sugerir que Jesus
Cristo teria tido uma experiência gay durante os quarenta dias que
passou no deserto, conforme se vê do vídeo anexo(...)"

Não cuidarei, obviamente, de tratar se a conduta do paciente pode


representar alguma espécie de preconceito homossexual, ou de que parte, do ponto
de vista “vitimológico” pode ter havido preconceito Afinal, se fosse enveredar por
esses caminhos, talvez tivesse que tratar do possível preconceito religioso da própria
“vítima” com a conduta precedente, livre, por certo, mas talvez construída e
externada sem fundamento, sem respeitosa reflexão. Obviamente, neste contexto,
“preconceito” está posto no sentido vernacular, clássico, original e puro: “um juízo
de valor preconcebido sobre algo ou sobre alguém que se pauta em uma opinião
construída sem fundamento, conhecimento nem reflexão”.

Saber quem foi preconceituoso com questões sexuais simplesmente


não vem ao caso; não tem absolutamente nenhuma relevância para o enfrentamento
do ponto nuclear da controvérsia significativa para a solução da competência da
Justiça Federal: saber se a conduta do paciente (descrita ou indiciariamente
demonstrada) constitui, ao menos em tese crime de terrorismo ou não.

Importa, em verdade, observar a literalidade da descrição típica, neste


ponto sim, de suma importância do ponto de vista da subsunção, do caput do art. 2º,
da Lei 13.260/2016:

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“Art. 2º O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos
dos atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia,
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando
cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado,
expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade
pública. ”

Destaco a relevantíssima expressão de aglutinação elementar: “razões


de discriminação ou preconceito de religião”

A denúncia afirma motivação religiosa e as circunstâncias do fato


também não deixam de evidenciar motivação religiosa. Parece-me não haver dúvida
disso.

Motivo, do latim motivus, é o que causa movimento; é o que leva


coisas ou pessoas a se moverem; está relacionado a motio, movimento.

O ser humano é impulsionado por motivos. Pleonasticamente “move-


se por motivos”.

Não há crime sem motivo. Motivos qualificam crimes e agravam


penas. Porém, para o crime de terrorismo, o motivo, a razão que constitui elementar
do tipo, só é suficiente por si no caso de xenofobia. Quando envolve raça, cor, etnia
ou religião, o motivo, a razão, não subsiste isolada, não integra a figura típica por si,
sozinha, precisa de um dos complementos que, ao sucederem a vírgula, deslocam o
termo na frase e constrói o sentido nas expressões: razão de discriminação de
religião ou razão de preconceito de religião.

Sublinho: tipo penal não se satisfaz com a “motivação religiosa”. Não


é isso que está no tipo. Não é isso que está no tipo penal especial de terrorismo. Não
é isso que “ está em jogo”.

O operador do Direito atento e cuidadoso percebe, especialmente sob o


filtro da função garantidora dos tipos penais e da necessária interpretação restritiva,
que o tipo penal em questão vai muito além da exigência de um “motivo religioso”.

Não basta que o agente tenha um motivo e que este seja religioso. É
necessário, imprescindível para a adequação típica, que o motivo seja o preconceito
religioso. Isso não está na denúncia, não está nas peças de informação, não está em
lugar nenhum.

Dizer, como disse a acusação na denúncia, que a conduta tem


motivação religiosa, não tem a menor relevância para a adequação típica na figura
do crime de terrorismo porque não é o mesmo que dizer que a conduta é motivada

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POR PRECONCEITO OU DISCRIMINAÇÃO RELIGIOSA. Isto não está dito. Isto
não está, sequer, indiciariamente demonstrado nas peças de informação.

Não importam os motivos de ordem religiosa do paciente, mas se teria


arremessado coquetéis “molotov” à sede do Porta dos Fundos por nutrir sentimento
de preconceito ou discriminação quanto à religião dos responsáveis pelo vídeo "A
primeira Tentação de Cristo", o que, rigorosamente, não pode ser extraído dos
elementos de convicção apontados na denúncia. Obviamente não é o caso.

Não há qualquer referência, ou ao menos indício (muito ao contrário),


que os sujeitos que integram o denominado Porta dos Fundos professassem ou
professem alguma religião ou sequer tivessem praticado algum ato que pudesse ser
identificado com algum culto religioso, que pudesse vir a ser objeto de alguma
suposta discriminação ou preconceito da parte do paciente.

Ouso dizer que, ao que tudo indica, a conduta do paciente foi uma
reação (se justificada ou não, será objeto de regular processo e julgamento) que nada
tem a ver com preconceito seu (basta saber o significado de “preconceito”) a uma
conduta preconceituosa (no sentido vernacular clássico e puro, como disse linhas
acima) da tal PORTA DOS FUNDOS  a valores religiosos caros a mais de 2,18
bilhões de habitantes do planeta Terra.

Assim, com relação à imputação do crime previsto no art. 2º, §1º, IV,


da Lei nº 13.260/2016, infere-se da denúncia a atipicidade da conduta imputada ao
paciente, em razão da ausência de indícios mínimos da presença do requisito
finalístico e motivação específica para o ato, o que afasta a incidência do art. 11 da
Lei nº 23.260/2016.

Não havendo interesse da UNIÃO com relação ao crime remanescente


(art. 250, §1º, II, 'b', do CP), também se afasta a competência da Justiça Federal para
processar e julgar a ação penal originária, impondo-se o declínio da competência em
favor da Justiça Estadual (Vara Criminial da Comarca da Capital do Estado do Rio
de Janeiro a quem couber, por distribuição).

Por tudo isso, voto no sentido de JULGAR PROCEDENTE  EM


PARTE o pedido e EXTINGUIR, sem julgamento de mérito, a  ação penal nº
5095856-33.2020.4.02.5101, quanto aos fatos capitulados crime no art. 2º, §1º, IV,
da Lei nº 13.260/2016. Em consequência, CONCEDER  PARCIALMENTE a
ordem de habeas corpus para, excluída a incidência do artigo 11 da Lei referida,
DECLARAR a incompetência de jurisdição da Justiça Federal para processar e
julgar a ação penal originária, bem como os demais procedimentos a ela
vinculados e pronunciar a nulidade absoluta de todos os atos processuais a partir do
oferecimento da denúncia, inclusive (arts. 564, I, 573 § 2º, e 572, a contrario sensu,
todos do CPP, e art. 109, IV, da CRFB c/c art. 11 da Lei nº 13.260/2016). Os efeitos

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da  decisão que decretou a prisão preventiva são mantidos até que o Juízo de
Direito a quem couber, por distribuição, o processo e julgamento da ação penal,
reaprecie-o.

Documento eletrônico assinado por MARCELLO FERREIRA DE SOUZA GRANADO, Desembargador


Federal, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 2ª
Região nº 17, de 26 de março de 2018. A conferência da autenticidade do documento está disponível no
endereço eletrônico https://eproc.trf2.jus.br, mediante o preenchimento do código verificador
20000743439v75 e do código CRC 8807d138.

Informações adicionais da assinatura:

Signatário (a): MARCELLO FERREIRA DE SOUZA GRANADO

Data e Hora: 8/2/2022, às 19:49:46

1. KEHL, Jones Mariel. Crime de Terrorismo e Crime Político: Definições, aproximações e distinções"
Revista de Direito Penal, Processo Penal e Constituição, Porto Alegre, v. 4, n. 2, p. 118 – 139, Jul/Dez.
20181.1 Cf. Reinares (2005) “Un acto de violencia es terrorista si el impacto psíquico que provoca en una
sociedad oalgúnsegmento de la misma, en términos de ansiedad y miedo, excede con creces sus
consecuenciasmateriales, esto es, los daños físicos ocasionados intencionadamente a personas o cosas.
Quienes instigan oejecutan el terrorismo pretenden así condicionar las actitudes y los comportamientos de
gobernantes ogobernados. Suele perpetrarse de manera sistemática e impredecible, por lo común dirigido
contra blancosdotados de alguna relevancia simbólica en sus correspondientes entornos culturales o marcos
institucionales dereferencia. Blancos a menudo de oportunidad, cuyo menoscabo o destrucción son utilizados
para transmitirmensajes y dotar de credibilidad a eventuales amenazas proferidas, lo cual convierte al
terrorismo en unmétodo extremista tanto de propaganda como de control social”. (...)2. Cf. Cancio Meliá
(2010, p. 130-131): “[...] se trata de una estrategia de comunicación: se pretende atacar (más exactamente:
provocar, desafiar) al poder del Estado. Por lo tanto, la específica peligrosidad de las organizaciones terroristas
está, entonces, más allá de las concretas lesiones de bienes jurídicos individuales, en un ataque (ideal) al
Estado”.3. Cf. De La Corte Ibáñez (2013, p. 153): “Por su parte, el término „terrorismo‟ tiende a designar un
tipoparticular deactividad violenta; aunque, por extensión, se usa frecuentemente para hacer referencia a
aquellosindividuos, grupos y organizaciones que lo practican de forma sistemática. Ante todo, lo que distingue
a losactos de terrorismo de otros tipos de acción violenta es su capacidad para provocar un intenso
impactopsicológico y social (ansiedad o temor) desproporcionado con respecto a los daños físicos ocasionados
a laspersonas u objetos elegidos como blanco de la agresión”.4. Cf. Cancio Meliá (2010, p. 184), refere a
especial gravidade do injusto dos delitos de terrorismo, posto que, além de atacar os bens jurídicos individuais
e recorrer à intimidação massiva, coloca em questão os mecanismos de tomada de decisão estabelecidos no
Estado.(...).7. Cf. Walzer (2001, p. 269): “Esa aleatoriedad es la característica determinante de la actividad
terrorista”.(...)9. Cf. Llobet Amglí (2010, p. 78): “[...] Por ejemplo, los actos de un grupo ecologista que
ejecute permanentemente delitos de daños contra los edifícios e instituciones de um Gobierno poco respetuoso
con el medio ambiente ; o los grupos antiglobalización que realizam desordenes públicos”.11. Cf. Pérez
Cepeda (2007, p. 161): “De tal manera que el concepto jurídico de terrorismo tiene tres planos: lacomisión
dedelitos comunes, la finalidad de atemorizar a los ciudadanos y el fin último político o social.Desde una
perspectiva penal, la finalidad o móvil último no es objeto de una valoración jurídica, lo esenciales el recurso
a la violencia o terror como táctica política”.(...)12. Cf. Llobet Amglí (2010, p. 108): “[...] no es necesario que
cada acto realizado por un grupo terrorista se dirijadirectamentea cambiar la política de los gobiernos, sino
que es la organización que los ejecuta la que ha deperseguirlos en términos generales”13. Cf. García San
Pedro (1993, p. 127): “no existe razón para diferenciar entre lo social y lo político pues yadesde su origen,en
el siglo pasado, la lucha social se incorpora permanentemente a la política,transformándose la ideología social
en incuestionablemente política”.14. Para Chomsky (SHAFRITZ; GIBBONS JR.; SCOTT (Coord.), 1991, p.
264), os objetivos políticos têm a vercom ocontrole sobre determinadas regiões e utiliza o termo terrorismo
para se referir a “the threat or use ofviolence to intimidate or coerce (generally for political ends)”.
 
5011757-73.2021.4.02.0000 20000743439
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EXTRATO DE ATA DA SESSÃO VIRTUAL DE 31/01/2022

HABEAS CORPUS (TURMA) Nº 5011757-73.2021.4.02.0000/RJ


RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL WILLIAM DOUGLAS RESINENTE DOS SANTOS
PRESIDENTE: DESEMBARGADOR FEDERAL FLAVIO OLIVEIRA LUCAS
PROCURADOR(A): JOAO AKIRA OMOTO
PACIENTE/IMPETRANTE: BRUNO RIBEIRO DA SILVA
ADVOGADO: RAFAEL PUCCI MORAES (OAB SC060719)
ADVOGADO: BRUNO RIBEIRO DA SILVA (OAB SC059045)
ADVOGADO: JONAS DE OLIVEIRA (OAB SC033395)
ADVOGADO: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS (OAB RJ212728)
PACIENTE/IMPETRANTE: RAFAEL PUCCI MORAES
ADVOGADO: RAFAEL PUCCI MORAES (OAB SC060719)
ADVOGADO: BRUNO RIBEIRO DA SILVA (OAB SC059045)
ADVOGADO: JONAS DE OLIVEIRA (OAB SC033395)
ADVOGADO: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS (OAB RJ212728)
PACIENTE/IMPETRANTE: JONAS DE OLIVEIRA
ADVOGADO: RAFAEL PUCCI MORAES (OAB SC060719)
ADVOGADO: BRUNO RIBEIRO DA SILVA (OAB SC059045)
ADVOGADO: JONAS DE OLIVEIRA (OAB SC033395)
ADVOGADO: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS (OAB RJ212728)
PACIENTE/IMPETRANTE: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS
ADVOGADO: RAFAEL PUCCI MORAES (OAB SC060719)
ADVOGADO: BRUNO RIBEIRO DA SILVA (OAB SC059045)
ADVOGADO: JONAS DE OLIVEIRA (OAB SC033395)
ADVOGADO: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS (OAB RJ212728)
PACIENTE/IMPETRANTE: EDUARDO FAUZI RICHARD CERQUISE
ADVOGADO: RAFAEL PUCCI MORAES (OAB SC060719)
ADVOGADO: BRUNO RIBEIRO DA SILVA (OAB SC059045)
ADVOGADO: JONAS DE OLIVEIRA (OAB SC033395)
ADVOGADO: CAIO CEZAR SILVA DOS SANTOS (OAB RJ212728)
ADVOGADO: DIEGO ROSSI MORETTI (OAB SC054505)
IMPETRADO: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
IMPETRADO: JUÍZO FEDERAL DA 2ª VF CRIMINAL DO RIO DE JANEIRO

Certifico que este processo foi incluído na Pauta da Sessão Virtual do dia 31/01/2022,
na sequência 59, disponibilizada no DE de 19/01/2022.

Certifico que a 2a. TURMA ESPECIALIZADA, ao apreciar os autos do processo em


epígrafe, proferiu a seguinte decisão:
PROSSEGUINDO NO JULGAMENTO, APÓS O VOTO DO DESEMBARGADOR
FEDERAL MARCELLO FERREIRA DE SOUZA GRANADO NO SENTIDO DE
JULGAR PROCEDENTE EM PARTE O PEDIDO E EXTINGUIR, SEM
JULGAMENTO DE MÉRITO, A AÇÃO PENAL Nº 5095856-33.2020.4.02.5101,
QUANTO AOS FATOS CAPITULADOS CRIME NO ART. 2º, §1º, IV, DA LEI Nº
13.260/2016. EM CONSEQUÊNCIA, CONCEDER PARCIALMENTE A ORDEM
DE HABEAS CORPUS PARA, EXCLUÍDA A INCIDÊNCIA DO ARTIGO 11 DA
Ê
https://eproc.trf2.jus.br/eproc/controlador.php?acao=acessar_documento&doc=21644414155358962919437320368&evento=2164441415535896… 1/2
13/02/2022 03:24 Extrato de Ata

LEI REFERIDA, DECLARAR A INCOMPETÊNCIA DE JURISDIÇÃO DA


JUSTIÇA FEDERAL PARA PROCESSAR E JULGAR A AÇÃO PENAL
ORIGINÁRIA, BEM COMO OS DEMAIS PROCEDIMENTOS A ELA
VINCULADOS E PRONUNCIAR A NULIDADE ABSOLUTA DE TODOS OS
ATOS PROCESSUAIS A PARTIR DO OFERECIMENTO DA DENÚNCIA,
INCLUSIVE (ARTS. 564, I, 573 § 2º, E 572, A CONTRARIO SENSU, TODOS DO
CPP, E ART. 109, IV, DA CRFB C/C ART. 11 DA LEI Nº 13.260/2016). OS EFEITOS
DA DECISÃO QUE DECRETOU A PRISÃO PREVENTIVA SÃO MANTIDOS ATÉ
QUE O JUÍZO DE DIREITO A QUEM COUBER, POR DISTRIBUIÇÃO, O
PROCESSO E JULGAMENTO DA AÇÃO PENAL, REAPRECIE-O; E O VOTO DO
DESEMBARGADOR FEDERAL FLAVIO OLIVEIRA LUCAS ACOMPANHANDO
A DIVERGÊNCIA; A 2A. TURMA ESPECIALIZADA DECIDIU, POR MAIORIA,
VENCIDO O RELATOR, JULGAR PROCEDENTE EM PARTE O PEDIDO E
EXTINGUIR, SEM JULGAMENTO DE MÉRITO, A AÇÃO PENAL Nº 5095856-
33.2020.4.02.5101, QUANTO AOS FATOS CAPITULADOS CRIME NO ART. 2º,
§1º, IV, DA LEI Nº 13.260/2016. EM CONSEQUÊNCIA, CONCEDER
PARCIALMENTE A ORDEM DE HABEAS CORPUS PARA, EXCLUÍDA A
INCIDÊNCIA DO ARTIGO 11 DA LEI REFERIDA, DECLARAR A
INCOMPETÊNCIA DE JURISDIÇÃO DA JUSTIÇA FEDERAL PARA
PROCESSAR E JULGAR A AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA, BEM COMO OS
DEMAIS PROCEDIMENTOS A ELA VINCULADOS E PRONUNCIAR A
NULIDADE ABSOLUTA DE TODOS OS ATOS PROCESSUAIS A PARTIR DO
OFERECIMENTO DA DENÚNCIA, INCLUSIVE (ARTS. 564, I, 573 § 2º, E 572, A
CONTRARIO SENSU, TODOS DO CPP, E ART. 109, IV, DA CRFB C/C ART. 11
DA LEI Nº 13.260/2016). OS EFEITOS DA DECISÃO QUE DECRETOU A PRISÃO
PREVENTIVA SÃO MANTIDOS ATÉ QUE O JUÍZO DE DIREITO A QUEM
COUBER, POR DISTRIBUIÇÃO, O PROCESSO E JULGAMENTO DA AÇÃO
PENAL, REAPRECIE-O; TUDO NOS TERMOS DO VOTO DO
DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELLO GRANADO.

RELATOR DO ACÓRDÃO: DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELLO FERREIRA DE


SOUZA GRANADO
VOTANTE: DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELLO FERREIRA DE SOUZA GRANADO
VOTANTE: DESEMBARGADOR FEDERAL FLAVIO OLIVEIRA LUCAS
FLÁVIA MUNIC MEDEIROS PEREIRA
Secretária

https://eproc.trf2.jus.br/eproc/controlador.php?acao=acessar_documento&doc=21644414155358962919437320368&evento=2164441415535896… 2/2

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