E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO
CURSOS DE GRADUAÇÃO - EAD
Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação – Prof. Dr. Stefan Vasilev Krastanov e
Prof. Ms. Rubens Arantes Corrêa.
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E
FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO
Caderno de Referência de Conteúdo
Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Claretiana, 2010 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013
370.1 C84
ISBN: 978-85-67425-65-8
Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Rita Cristina Bartolomeu Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.
CRC
Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Origem da problemática pedagógica e diferentes vertentes pedagógicas na Anti-
guidade. Educação na Antiguidade: Egito e Grécia Antiga. A Educação na época
helenística e romana. Idade Média e sua concepção educativa. A Educação na
Idade Média: Período Patrístico e Período Escolástico. Problemas pedagógicos
na Modernidade. Período Humanístico e Renascentista. A Educação na Era Mo-
derna e Contemporânea. Modelos contemporâneos da Educação.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1. INTRODUÇÃO
Vamos iniciar nosso estudo de Fundamentos Históricos e
Filosóficos da Educação, por meio da qual você terá a oportuni-
dade de se familiarizar com as principais vertentes da educação,
situadas em um percurso histórico-filosófico. Consideramos esse
conhecimento, mesmo que prévio, indispensável para a formação
de docentes e para a posterior atuação profissional, pois ele con-
tribui para ampliá-la e complementá-la.
Para que você compreenda com clareza nosso propósito
com este estudo, tentaremos expor nesta introdução, o mais breve
8 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação
Abordagem Geral
Prof. Dr. Stefan Vasilev Krastanov
Vamos lá?
Como já foi dito no Tópico Introdução, a formação, no senti-
do literal, é o processo que leva a ato as potencialidades da pessoa
humana, isto é, a ampliação de seus limites, a partir dos quais o
homem desenvolve suas possibilidades. Aristóteles em sua Meta-
física, ensinava que a formação é o processo que traz à tona aquilo
que era potência, a realização do ser.
Observe, a seguir, a metáfora comunicada pelas Figuras 1 e 2.
• a natureza;
• os outros homens;
• e as coisas.
Esses aspectos determinantes, segundo Rousseau se devem
contemplar na sua relação mútua para o alcance da plena e inte-
gral formação humana, uma vez que,
antes do Iluminismo todo processo educativo foi ineficaz, porque
derivava de duas fontes apenas, ou seja, os homens e as coisas.
Ignorava aquela base que é primeiríssima, a saber, a natureza (apud
GILES, 1987, p. 177).
zar os valores da cultura, pois ela dita, por intermédio das massas,
o gosto e as regras.
Esse processo de industrialização da cultura é observado,
com olhos bastante críticos, por muitos filósofos e sociólogos, as-
sumindo a dimensão de principal problema da cultura e da edu-
cação contemporâneas. Assim, a escola de Frankfurt, encabeçada
por Adorno e Horkheimer, ressalta o efeito devastador dessa in-
dustrialização, levando a cultura à pobreza, à vulgarização, à limi-
tação e à banalização. A massa inautêntica precisa de ídolos, e ela
os escolhe por seu gosto.
A indústria cultural propaga modelos, ideias e paradigmas
que são incorporados pela massa. O homem-massa não tem sua
própria "cara", mas, em compensação disso, tem a oportunidade
de escolher uma daquelas "caras" que, na indústria cultural, se
propaga. O eu impessoal, como bem nota Heidegger em Ser e
tempo, domina plenamente o espaço cultural.
Todavia, há quem veja, na indústria cultural, um meio pre-
cioso para a formação do homem, na medida em que esse ho-
mem, pela mesma indústria, tem acesso aos valores culturais que
antes foram inacessíveis para ele.
De qualquer maneira, temos de deixar bem claro que, com
o surgimento da mass medias e da indústria cultural, o âmbito pe-
dagógico mudou, de vez, a sua cara. As novas ferramentas entram,
definitivamente, no cenário escolar. A figura do docente diante do
quadro-negro cede lugar aos projetores multimídia (data show),
com imagens e efeitos visuais e virtuais.
Com essas mudanças, as questões sobre o incerto futuro pe-
dagógico estão em pauta:
• Seria uma desqualificação do professor e de seus ensina-
mentos clássicos?
• Seria uma questão de reeducação do mestre a partir de
ensinamentos tecnológicos mais eficientes para a forma-
ção humana?
Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados no CRC Fundamentos Históricos
e Filosóficos da Educação. Por uma opção pedagógica do autor, os
termos do Glossário não seguem uma ordem alfabética, mas uma
ordem cronológica da importância que cada um dos conceitos ad-
quire ao longo do estudo deste material. Veja, a seguir, a definição
dos principais conceitos:
1) Academia: é a escola que Platão fundou, em 387 a.C., nos
jardins localizados em Atenas, os quais pertenciam, con-
forme a lenda, ao herói Academo.
2) Paradigma: modelo.
3) Paideia: pode-se aludir ao termo "formação". É o pro-
cesso em que algo que não tem forma a adquire grada-
tivamente.
4) Ostracismo: estratégia pedagógica baseada na compe-
tição. Os antigos acreditavam que, somente por meio
da disputa e da concorrência, o indivíduo humano pode
alcançar a excelência. O ostracismo era, pois, o modelo
pedagógico mais significativo da educação homérica.
5) Pólis: Cidade-Estado com sua própria organização social,
econômica, cultural e militar. Essa forma de vida estatal
era preconizada, sobretudo, na Grécia Clássica.
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com a prática do ensino pode ser uma forma de você
avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução de ques-
tões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando
para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma
maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir
uma formação sólida para a sua prática profissional.
Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gabari-
to, que lhe permitirá conferir as suas respostas sobre as questões
autoavaliativas de múltipla escolha.
ATENÇÃO!
As questões de múltipla escolha são as que têm como resposta
apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por ques-
tões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos matemá-
ticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada, inalterada.
Já as questões abertas dissertativas obtêm por resposta uma in-
terpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso, normalmente, não
há nada relacionado a elas no tópico Gabarito. Você pode comentar
suas respostas com o seu tutor ou com seus colegas de turma.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
Dicas (motivacionais)
O estudo deste CRC convida você a olhar de forma mais apu-
rada a Educação como processo de emancipação do ser humano.
É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas
e científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-
partilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se
descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a
notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto,
uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno dos cursos de Graduação na modalidade
EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente.
Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor
presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-
mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades
nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
© Caderno de Referência de Conteúdo 33
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES. Metafísica. Bauru: Edipro, 2006. (Clássicos Edipro)
CAMBI, F. História da pedagogia. Tradução de Álvaro Lorencini. São Paulo: Unesp, 1999.
GILES, T. R. História da educação. 3 ed. São Paulo: EPU, 1987.
MANACORDA, M. A. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. Tradução de
Gaetano lo Monaco. São Paulo: Cortez, 1989.
JAEGER, W. W. Paidéia: a formação do homem grego. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2003.
ROUSSEAU, J. Emílio ou da educação. Tradução de Roberto Leal Ferreira. 2. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1999.
1
1. OBJETIVOS
• Compreender como se organizam os conteúdos de Fun-
damentos Históricos e Filosóficos da Educação e discutir
sobre o seu propósito.
• Analisar e conhecer determinados conceitos necessários
ao estudo.
• Compreender as estruturas pedagógicas do mundo anti-
go, bem como as propostas dos principais filósofos sobre
a Paideia dos cidadãos das civilizações antigas.
2. CONTEÚDOS
• Introdução aos conteúdos de Fundamentos Históricos e
Filosóficos da Educação e formas de participação, intera-
ção e apropriação dos conteúdos.
• Programa para o desenvolvimento dos estudos.
36 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
O surgimento e o desenvolvimento da problemática pedagó-
gica acompanham a gênese da sociedade desde seus primórdios
até os dias atuais. Assim, torna-se presente o questionamento so-
bre os fundamentos da educação, isto é, sobre as razões que tor-
nam possível esse fenômeno social e cultural. Tal questionamento
se reduz à pergunta sobre o fundamento no âmbito da reflexão
filosófica.
A educação encontra-se na base de qualquer sistema polí-
tico e social, sendo suporte indispensável para a realização tan-
to dos fins subjetivos (do indivíduo) como dos fins objetivos (da
sociedade). O grande desafio com o qual a educação sempre se
depara é como reconciliar os fins subjetivos com os objetivos. Essa
será a base da nossa reflexão, tendo como norteadora a gênese
histórica da educação.
© U1 - A Educação no Mundo Antigo 37
Figura 1 Papiro.
Figura 2 Grécia.
© U1 - A Educação no Mundo Antigo 41
Período clássico
Por volta dos séculos 5 a.C e 4 a.C., a cultura grega entra no pe-
ríodo clássico do seu desenvolvimento. Nesse período, entre as pólis
gregas, duas merecem destaque, revelando dois modelos diferentes
de educação. Com efeito, trataremos de Esparta e Atenas.
Esparta
Por volta do ano 800 a.C., na estrutura social da Grécia, surge
a cidade-Estado, chamada pólis. Havia várias polis, com estruturas
política e social próprias. Entre elas, frequentemente explodiam
conflitos seguidos por guerras. Essa é a razão pela qual mantinha
os cidadãos em prontidão constante para, se necessário, travar lu-
tas em sua defesa, pois o bem do Estado conferia o maior valor às
ações humanas. Talvez, a manifestação mais clara dessa mentali-
Estado. Mas, para tal fim, era necessário que ele convencesse os
outros das suas capacidades.
Os sofistas, como mestres profissionais, prometiam, em tro-
ca de dinheiro, tornar apta qualquer pessoa que quisesse dedicar-
-se à vida pública. Estes fatores propiciaram o surgimento de es-
colas, nas quais se dava muita importância à oratória (a arte de
bem falar e arte de disputa), e, por meio desses conhecimentos,
preparava-se o discípulo para o ingresso na vida social.
Todavia, essas intenções sofísticas de fazer que todo homem
pudesse participar na vida pública foram vistas por Sócrates e ou-
tros como algo desonroso. Por um lado, porque vendiam o conhe-
cimento como se fosse mercadoria, por outro, porque incitavam a
possibilidade de os plebeus entrarem na vida pública.
Embora Sócrates e outros contestassem o sucesso individual,
a carreira na vida pública e a vantagem pessoal, tal fato deveria
ocorrer em detrimento da realização plena do homem por meio das
virtudes morais. Talvez essa seja a razão da forte repulsa de Sócra-
tes, o primeiro teórico da ética, e de seu genuíno discípulo, Platão,
contra os sofistas. Vejamos o que Sócrates pensava a esse respeito!
Sócrates
Sócrates, diferentemente dos sofistas que acentuam o relati-
vismo humano, interrogava-se, permanentemente, sobre a natureza
humana, procurando a essência comum entre os homens. Sócrates,
com a célebre frase "conhece-te a ti mesmo", fazia com que o indi-
víduo a procurasse em si mesmo a sua essência humana, que é co-
mum entre os homens. Como afirmava o velho mestre, tal essência
era a moral, mas uma moral não baseada na lei inexorável dos costu-
mes, mas sim na obrigação interna, no dever que ditado pela própria
consciência. O indivíduo deveria consultar o seu próprio "demônio"
para achar os motivos do seu agir.
Sócrates tornou-se o pai da filosofia moral com base racio-
nalista; assim, podemos entender sua frase marcante: "O conheci-
© U1 - A Educação no Mundo Antigo 47
Alegoria da caverna–––––––––––––––––––––––––––––––––––
Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após ge-
ração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão
algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar
e a olhar apenas para frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem
para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre,
de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no inte-
rior.
A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os
prisioneiros – no exterior – portanto, - há um caminho ascendente ao longo do
qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de ma-
rionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo
tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.
Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxer-
gam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas,
mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transpor-
tam.
Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas
são as próprias coisas.
Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens
(estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna.
Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior
e imaginam que toda luminosidade possível é a que reina na caverna.
Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria
um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os ou-
tros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos
anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e,
deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.
Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade
é a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-
-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, pros-
seguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante
toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas
projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a pró-
pria realidade.
© U1 - A Educação no Mundo Antigo 49
está claro que a educação deve ser uma só". (ARISTÓTELES, 1973,
cap. I). Como Platão em A república, Aristóteles, na sua Política,
concorda que cabe à educação o papel fundamental de garantir a
saúde do Estado. Dessa maneira, a formação individual do sujeito
deve ser norteada pela sua formação social à luz do projeto políti-
co do Estado.
Neste tópico, você pôde analisar as propostas pedagógicas
gregas do período clássico. No tópico a seguir, conhecerá as mu-
danças que ocorreram na Grécia na época do helenismo. Este pe-
ríodo é marcado pelas conquistas de Alexandre, o Grande, e pelo
sincretismo cultural, que criava uma cultura nova, à que chama-
mos helenismo. Acompanhe!
8. EDUCAÇÃO ROMANA
A educação romana tem por objetivo a formação de virtudes
cívicas. Trata-se de uma educação voltada às necessidades do Es-
tado, baseanda, por muito tempo, nos mandamentos sagrados das
"Doze Tábuas". Ela dispensava a formação intelectual do indivíduo.
O ideal promovido por essas tábuas contemplava um código civil
inspirado na fidelidade à tradição, à dignidade, à firmeza, à cora-
gem e à piedade. A respeito dessa questão, em seu livro História
da educação, Thomas Ramson Giles (1989, p. 31) afirma: "O ideal
romano é prático, pois orienta-se para a lei e para a ordem, o dever
do Estado, às tradições ancestrais e à dignidade auto suficiente".
Essa citação mostra, claramente, que o ideal da sabedoria e
da virtude que a educação romana contemplava, na consiste em
aprender as artes que são necessárias para o Estado. Nesse caso,
estamos diante de uma educação voltada para a sociedade e sua
conservação. O fato de a escrita ter sido utilizada, sobretudo, para
copiar leis, tratados e orações, e não desempenhar o papel de vin-
cular novas ideias, como ocorria no período clássico, mostra o ca-
ráter conservativo da sociedade romana.
O papel fundamental dessa formação cívica cabia à família e
se centrava na figura do pai e no seu poder absoluto. Era na família
que as crianças aprendiam as virtudes morais, a reta conduta e as
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar
as questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nes-
ta unidade, ou seja, das estruturas pedagógicas do mundo antigo,
bem como das propostas dos principais filósofos sobre a Paideia
dos cidadãos das civilizações antigas.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em
responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda-
dos para sanar as suas dúvidas. Este é o momento ideal para que
você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu-
cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma
cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco-
bertas com os seus colegas.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Leia as afirmações e assinale a alternativa correta:
I – A pedagogia de Platão buscava harmonizar a formação individual e so-
cial.
II – A pedagogia de Platão, assim como a socrática, valorizava apenas a for-
mação subjetiva.
III – A pedagogia socrática valoriza, unicamente, a formação subjetiva.
Com base nesses dados, podemos afirmar que:
a) As alternativas I e II estão corretas.
b) As alternativas I e III estão corretas.
c) Somente a alternativa I está correta.
Gabarito
Depois de responder às questões autoavaliativas, é impor-
tante que você confira o seu desempenho, a fim de que possa sa-
ber se é preciso retomar o estudo desta unidade. Assim, confira, a
seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas pro-
postas anteriormente:
1) b.
2) e.
3) d.
4) c.
10. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você conheceu as primeiras concepções
educativas da sociedade organizada, que se inicia no Antigo Egito.
Ainda, pôde analisar as propostas educativas que mais se destaca-
ram na Grécia durante o período clássico, além de compreender
os principais objetivos da educação romana. Para isso, conheceu
alguns aspectos históricos e as principais propostas pedagógicas
daqueles filósofos que mais se destacaram no período proposto
para este estudo.
Devido à grande influência dos pensadores gregos (sofistas,
Sócrates, Platão, Isócrates e Aristóteles) no desenvolvimento cultu-
ral do Ocidente, dedicamos maior atenção aos aspectos históricos
e filosóficos da educação na Grécia Antiga, mesmo porque a cul-
tura grega invadiu fortemente o Império Romano e todo Ocidente
cristão teve, consequentemente, suas raízes culturais na Grécia
Antiga. Na Unidade 2, você terá a oportunidade de acompanhar
como essa influência grega continuou na Idade Média, atravessan-
do o Império Romano. Esperamos que os objetivos propostos te-
nham sido alcançados. Bom estudo!
11. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 Papiro. Disponível em: <http://www.legambientearcipelagotoscano.it/
biodiversita/flora/habitat/naturalizzate/cyperus%20papyrus%20papiro.jpg.JPG>.
Acesso: 04 jun. 2008.
Figura 2 Grécia Antiga. Disponível em: <http://www.resortvacationstogo.com/images/
maps/cc/111.gif>. Acesso em: 30 jun. 2008.
Figura 3 Paideia isocrática: a prudência, a força, a temperança e a justiça como bases
do desenvolvimento do homem. Disponível em: <http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/
opombo/hfe/momentos/escola/isocrates/images/vaso_pintura.gif>. Acesso em: 30 jun.
2008.
Figura 4 Mouseion Alexandrino. Disponível em: <http://lemurianmouseion.files.
wordpress.com/2007/04/buildalex.jpg>. Acesso: 01 jul. 2008.
Sites pesquisados
OLIVEIRA, J. R. Platão e a filosofia da educação. Disponível em: <http://www.cfh.ufsc.
br/~wfil/platao.htm>. Acesso em: 27 set. 2010.
2
1. OBJETIVOS
• Comparar o quadro da pedagogia medieval com o da pe-
dagogia grega e reconhecer as mudanças ocorridas.
• Analisar as principais características da Paideia cristã.
• Identificar as gêneses do processo educativo ao longo da
Idade Média.
2. CONTEÚDOS
• Mudanças na concepção pedagógica cristã em relação à
grega.
• Educação na Alta Idade Média.
• Educação na Baixa Idade Média.
66 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação
Santo Agostinho
Depois do seu batismo em Milão pelo bispo Ambrósio,
Agostinho (354-430) regressa à sua povoação natal, Ta-
gaste – a actual Souk-Ahras, na Argélia. Aí vive como
um monge na cidade. A sua casa assemelha-se a um
"cenáculo de amigos" que praticam a oração perpétua,
a caridade, a aprendizagem da sabedoria e a amizade
espiritual.
Agostinho é eleito bispo de Hipona (hoje Annaba). Tal
como a sua obra literária e teológica, que impregnou a
cultura cristã, os seus preceitos de vida monástica con-
tinuam a aplicar-se em muitas comunidades ou ordens
religiosas, como acontece, por exemplo, com os Domi-
nicanos (Imagem e texto disponíveis em: <http://www.
snpcultura.org/pedras_angulares_vida_monastica_3.html>. Acesso em: 31 jan.
2011).
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Desde seu surgimento até os dias atuais, a problemática pe-
dagógica acompanha intimamente a gênese social, política e cul-
tural da sociedade organizada. Isso porque a educação é encarre-
gada de promover a formação do homem como sujeito capaz de
atuar e interagir no âmbito social. A educação vem, pois, à tona
como uma ferramenta indispensável para amparar e sustentar a
base da sociedade organizada. Ao mesmo tempo, ela deve condu-
zir o indivíduo à plena realização das suas potencialidades.
Na unidade anterior, vimos o surgimento e o posterior de-
senvolvimento da problemática pedagógica, começando pelo An-
tigo Egito, período homérico, período clássico, seguindo-se pelo
período helenístico e, por fim, pelo romano. Observamos, nesse
primeiro momento, o esboço de vários modelos educativos que
servirão de base para o pensamento pedagógico posterior.
Você verá como a herança clássica, representada por Só-
crates, Platão, Aristóteles, Isócrates e outros, foi de importância
paradigmal na sucessiva busca de modelos pedagógicos, servindo
como fonte de inspiração para a posteridade.
Nesta unidade, vamos refletir sobre a mudança ocorrida na
concepção pedagógica a partir da época medieval e suas novas
propostas inspiradas na figura de Cristo. Vamos analisar as prin-
cipais preocupações e problemas com os quais a pedagogia cristã
se depara e com os quais tem de lidar. Abordaremos os diferentes
modelos pedagógicos que se delineiam ao longo desse período,
refletindo sobre eles e avaliando-os pelo olhar crítico da reflexão
filosófica.
Santo Agostinho
O período em que a religião cristã toma contato e incorpo-
ra a herança helênica da filosofia clássica denomina-se Patrística.
Nessa empreitada, Santo Agostinho tem grande destaque. Como
De Magistro ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
CAPÍTULO X
Se é possível ensinar algo sem sinais. As coisas não se aprendem pelas palavras
AGOSTINHO
— Parece-te que podemos mostrar sem sinal tudo o que podemos fazer, logo
após sermos interrogados, ou excetuas algo?
ADEODATO
— Eu, na verdade, venho pensando neste gênero de coisas, mas não consigo
encontrar nada que se possa ensinar sem sinal, excluindo, talvez, o próprio falar
e o ensinar, mas este só quando alguém pergunta o que é ensinar. Pois vejo que
quem pergunta — faça eu o que fizer após a sua interrogação para que aprenda
— não o pode aprender pela própria coisa, que deseja lhe seja mostrada; como,
por exemplo: se a mim, que parei de andar ou que estou fazendo outra coisa, al-
guém perguntasse que é caminhar e eu, imediatamente, começando a caminhar,
procurasse ensinar-lhe ou demonstrar-lhe isto sem sinal; como poderia evitar
que ele acreditasse que caminhar é apenas o quanto andei? Ora, se ele pensar
isso, estará enganado, porque julgará que não caminhará quem andar ou mais
ou menos de quanto eu tiver andado. E o que disse apenas desta palavra aplica-
-se também a todas aquelas que concedi poderem mostrar-se sem sinal, menos
as duas que excluí.
AGOSTINHO
— Concordo com isto, mas não te parece que falar é uma coisa e ensinar é
outra?
ADEODATO
— Certamente, pois se fossem a mesma coisa não se poderia ensinar senão
falando; mas, porque se ensinam muitas coisas com outros sinais além das pa-
lavras, quem poderia duvidar desta diferença?
AGOSTINHO
— Ensinar e significar são a mesma coisa ou diferem em algo?
ADEODATO
— Creio que a mesma.
AGOSTINHO
— Fala corretamente quem diz que nós usamos de sinais (que significamos) para
ensinar?
ADEODATO
— Sem dúvida.
AGOSTINHO
— Se alguém dissesse que ensinamos para usar sinais (para significar), não
seria facilmente refutado pela afirmação precedente?
ADEODATO
— Seria.
AGOSTINHO
— Se, portanto, usarmos os sinais para ensinar, não ensinamos para usar os
sinais: uma coisa é ensinar e outra é usar os sinais (significar).
ADEODATO
— Dizes a verdade, e eu não respondi corretamente dizendo que são a mesma
coisa.
AGOSTINHO
— Agora, responde a isto: quem ensina o que é ensinar o faz usando sinais ou
diversamente?
ADEODATO
— Não vejo como o poderia fazer diversamente.
AGOSTINHO
— Então é falso o que há pouco disseste, isto é, que não se pode ensinar sem
sinais a quem pergunte o que é ensinar, porque estamos vendo que nem isto se-
quer podemos fazer sem usar sinais, pois me concedeste que uma coisa é usar
sinais (significar) e outra ensinar. Se são duas coisas diferentes e uma se mostra
pela outra, quer dizer que não se mostra certamente por si, como te pareceu.
Portanto, nada encontramos até agora que possa ser mostrado por si, salvo a
palavra, que, entre as outras coisas, significa também a si mesma: porém, por
ser ela também um sinal, nada temos que pareça poder ensinar-se sem sinais.
ADEODATO
— Nada tenho a opor.
© U2 - Educação na Idade Média 73
AGOSTINHO
— Concluiu-se portanto, que nada se pode ensinar sem sinais, e que o próprio
conhecimento há de ser a nós mais caro do que os sinais, através dos quais o
alcançamos, embora nem todas as coisas que se expressam por eles possam
ser preferidas aos seus próprios sinais.
ADEODATO
— Assim parece.
AGOSTINHO
— Lembras quantos rodeios demos para chegar a tão pequeno resultado? Desde
o momento em que começamos a trocar palavras, o que fizemos durante muito
tempo, fatigamo-nos bastante para encontrar estas três coisas: 1) se era possível
ensinar sem sinais; 2) se havia sinais preferíveis às coisas que expressam; 3) se
o conhecimento das coisas pode ser melhor que os sinais. Mas há uma quarta
coisa que gostaria de saber já: se as coisas por nós encontradas, tu as julgas de
tal maneira que não deixem em ti possibilidade de dúvida.
ADEODATO
— Gostaria mesmo que, depois de tantos rodeios, tivéssemos chegado à certe-
za, mas esta tua pergunta me suscita certa inquietação, que me proíbe de as-
sentir. Tenho a impressão, pois, que não me farias esta pergunta se não tivesses
alguma objeção a apresentar: e a própria complicação das coisas não me permi-
te ver tudo e responder com segurança, por medo de que, entre tantos véus, se
esconda algo que os olhos da minha mente não possam divisar.
AGOSTINHO
— Recebo com prazer a tua dúvida, porque revela uma alma não leviana e isto
assegura grandemente a tranqüilidade. É muito difícil não se perturbar quando o
que nós guardávamos com consenso fácil e pacífico por discussões contrárias é
derrubado e como que arrebatado das mãos. Por isso, como é eqüitativo ceder
depois de observar e examinar bem os motivos, assim é perigoso manter como
coisa conhecida o que não é. Porque, às vezes, quando desaba aquilo que pre-
sumíamos seguramente estável e permanente, há o receio de chegarmos a tão
grande ódio ou medo da razão que nos pareça não dever mais emprestar fé nem
sequer à verdade mais evidente. Mas, vamos! Reexaminemos agora um pouco
mais depressa se tens razão de duvidar. Pergunto-te, portanto, se alguém, des-
conhecendo as armadilhas que se preparam aos pássaros com varas e visco,
deparasse com um caçador armado destes instrumentos, mas que vai indo pelo
caminho sem ter começado ainda a sua tarefa, e, vendo o caçador, começasse
a apressar o passo, e, como acontece, estranhando em seu íntimo tudo aquilo,
perguntasse a si mesmo que poderiam querer dizer aqueles apetrechos; e o
caçador, em se vendo observado e admirado, para fazer mostra de si, exibisse
a cana e, com ela e o gavião, alcançasse e pegasse um passarinho que está
passando por ele: o caçador, sem usar de sinais, mas pela própria coisa, não
ensinaria ao seu espectador o que esse queria saber?
ADEODATO
— Tenho a impressão de que o caso é semelhante àquele de que já falei, isto
é, de quem pergunta o que é caminhar. Aqui também não vejo que foi mostrada
toda a arte de caçar.
AGOSTINHO
— É fácil libertar-se desta impressão; acrescento pois: se aquele espectador fos-
se tão inteligente que compreendesse por completo toda a arte de caçar só pelo
que viu, isto já seria o bastante para demonstrar, sem mais, que alguns homens
podem ser instruídos sem sinais sobre algumas coisas, se bem que não sobre
todas.
ADEODATO
— Então também posso acrescentar isto: quem pergunta o que é caminhar, se
for bem inteligente, compreenderá por completo (em geral) o que é caminhar,
depois de se lhe mostrar com poucos passos.
AGOSTINHO
— Podes, nem eu me oponho, antes estou contente. Vês, portanto, termos am-
bos chegado a esse resultado que umas coisas podem ser ensinadas sem sinais,
e, conseqüentemente, é falso aquilo que há pouco nos parecia verdadeiro, isto
é, não existir nada que se possa mostrar ou ensinar sem sinais; e apresentam-se
à mente não uma ou duas coisas, senão milhares que, sem necessitarem de ne-
nhum sinal, podem mostrar-se por si mesmas. Logo, como podemos duvidar, eu
te pergunto? Deixando de lado os numerosos espetáculos em que alguns atores
representam em todos os teatros as coisas sem sinais, Deus e a natureza não
apresentam e mostram por si mesmos, a quem os observa, o sol e a luz, que tudo
invade e veste, a lua e as estrelas, a terra e os mares e os inumeráveis seres,
que neles são gerados? Mas, se considerarmos isto com maior atenção, talvez
não encontres nada que se possa aprender pelos seus próprios sinais. Com efei-
to, se me for apresentado um sinal e eu me encontrar na condição de não saber
de que coisa é sinal, este nada poderá ensinar-me; se, ao contrário, já sei de que
é sinal, que aprendo por meio dele? Assim, quando leio "Et saraballae eorum non
sunt immutatae" (E as suas coifas não foram deterioradas), a palavra (coifas) não
me mostra a coisa que significa. Pois se certos objetos que servem para cobrir a
cabeça se chamam com este nome de "saraballae" (coifas), porventura, depois
de ouvi-lo, aprendi o que é cabeça e o que é cobertura? Eu, ao contrário, já antes
conhecia estas coisas, delas adquiri conhecimento sem que as ouvisse chamar
assim por outrem, mas vendo-as com os meus próprios olhos.
Quando as duas sílabas com que dizemos "caput" (cabeça) repercutiram pela
primeira vez no meu ouvido, sabia tão pouco o que significavam como quando
ouvi e li pela primeira vez "saraballae". Porém, ouvindo muitas vezes dizer "ca-
put" (cabeça) e notando e observando a palavra quando era pronunciada, reparei
facilmente que ela denotava aquela coisa que, por tê-la visto, a mim já era co-
nhecidíssima. Mas antes de achar isto, aquela palavra era para mim apenas um
som, e aprendi que ela era um sinal quando encontrei aquilo de que era sinal, o
que aprendi não pelo significado, mas pela visão direta do objeto. Portanto, mais
através do conhecimento da coisa se aprende o sinal do que se aprende a coisa
depois de ter o sinal.
Para que compreendas isto mais claramente, imagina nós estarmos ouvindo
neste momento, pela primeira vez, pronunciar a palavra "caput" (cabeça), e que,
por não sabermos se esta voz é só um som ou se quer também significar algo,
começaremos a procurar o que é "caput" (cabeça). (Lembra-te que nós que-
remos ter conhecimento não da coisa que é significada, mas do próprio sinal,
conhecimento que nós não temos enquanto ignorarmos de que coisa é sinal.)
Se a nós, que estamos fazendo esta pesquisa, fosse mostrada ou apontada com
o dedo a própria coisa, então, depois de vê-la, temos conhecimento do sinal;
isto é, sabemos o que quer dizer aquele sinal, que antes apenas tínhamos ouvi-
do, mas não compreendido. Nesse sinal há duas coisas: o som e o significado;
ora, o som não foi certamente percebido como sinal de algo, mas como simples
percussão no ouvido; enquanto o significado foi apreendido pela visão da coisa
© U2 - Educação na Idade Média 75
que é significada. Como o apontar do dedo não pode significar senão aquilo
para que o dedo está apontando, e o dedo não está apontado para o sinal, mas
para aquela parte do corpo que se chama "caput" (cabeça), assim eu, por meio
desse gesto, não posso conhecer a coisa, que já conhecia, nem o sinal para o
que o dedo estava apontado. Mas não quero dar demasiada atenção ao gesto
de apontar o dedo, porque, para mim, ele é mais o sinal do ato de indicar do que
das próprias coisas indicadas, como acontece quando dizemos "ecce" (eis), e
costumamos acompanhar este advérbio também com o dedo apontado, como se
não bastasse um só desses dois sinais para indicar. E disto maximamente procu-
rarei convencer-te, se puder: que não aprendemos nada por meio desses sinais
que chamamos palavras: antes, como já disse, aprendemos o valor da palavra,
ou seja, o significado que está escondido no som através do conhecimento ou
da própria percepção da coisa significada; mas não a própria coisa através do
significado. E o que disse da cabeça, poderia dizer do que serve para cobrir a
cabeça e de muitíssimas outras coisas; que, embora conhecidas de mim, nunca,
até agora, tive por isto conhecimento daquelas "saraballae" (coifas). Se alguém
com um gesto me indicar estas "saraballae" (coifas) ou mas pintar, ou me mostrar
algo de semelhante a elas, não direi, como aliás conseguiria se quisesse falar um
pouco mais, que não mas ensinou, porém direi que não me ensinou com as pa-
lavras o que está diante de mim. Se eu, no momento em que as vejo, por acaso
fosse avisado com as palavras: "Ecce saraballae" (eis as coifas), aprenderia uma
coisa que não sabia, não pelas palavras que foram pronunciadas, mas pela visão
da própria coisa, por meio da qual conheci e gravei também o valor do nome.
Pois, quando aprendi a própria coisa, não acreditei nas palavras de outrem, mas
nos meus olhos; talvez acreditasse também nelas, mas apenas para despertar a
atenção, ou seja, para procurar com os olhos o que era para eu ver.
CAPÍTULO XI
Não aprendemos pelas palavras que repercutem exteriormente, mas pela ver-
dade que ensina interiormente.
AGOSTINHO
— Até aqui chega o valor das palavras, das quais, porque quero atribuir-lhes
muito, direi que apenas incitam a procurar as coisas, sem, porém mostrá-las
para que as conheçamos. No entanto, ensina-me algo quem apresentar diante
dos meus olhos ou a um dos sentidos do corpo ou também à própria mente, as
coisas que quero conhecer.
Com as palavras não aprendemos senão palavras; antes, o som e o ruído das
palavras, porque, se o que não é sinal não pode ser palavra, não sei também
como possa ser palavra aquilo que ouvi pronunciado como palavra enquanto
não lhe conhecer o significado. Só depois de conhecer as coisas se consegue,
portanto, o conhecimento completo das palavras; ao contrário, ouvindo somente
as palavras, não aprendemos nem sequer estas.
Com efeito, não tivemos conhecimento das palavras que aprendemos nem po-
demos declarar ter aprendido as que não conhecemos, senão depois que lhes
percebemos o significado, o que se verifica não mediante a audição das vozes
proferidas, mas pelo conhecimento das coisas significadas. Ao serem proferi-
das palavras, é perfeitamente razoável que se diga que nós sabemos ou não
sabemos o que significam; se o sabemos, não foram elas que no-lo ensinaram,
apenas o recordaram; se não o sabemos, nem sequer o recordam, mas talvez
nos incitem a procurá-lo.
Se disseres que daqueles objetos que servem para cobrir a cabeça e dos quais
temos o nome (coifas) apenas através do som podemos adquirir noção só depois
de vê-los; e que, portanto, nem sequer o seu nome conhecemos completamente
senão depois de conhecermos os próprios objetos; e se acrescentares que, no
entanto, de nenhum outro modo, senão pelas palavras, conseguimos aprender
o que se narra a respeito dos três jovens, isto é, que com sua fé e religião ven-
ceram o rei e as chamas, quais foram os hinos de louvor que cantaram a Deus,
quais as honras que mereceram do próprio inimigo, responder-te-ei que todas
as coisas significadas por aquelas palavras já eram de nosso conhecimento.
Pois eu já tinha na minha mente o que significa três jovens, o que é forno, o
que é fogo, o que é rei, o que quer dizer ser preservado do fogo e, finalmente,
todas as outras coisas significadas por aquelas palavras. Mas desconhecidos,
como aquelas "saraballae" (coifas), ficam para mim os jovens Ananias, Azarias
e Misael; nem os seus nomes me ajudaram ou poderiam ajudar a conhecê-los.
E confesso que, mais que saber, posso dizer acreditar que tudo aquilo que se lê
naquela narração histórica aconteceu naquele tempo assim como foi escrito; e
os próprios historiadores a que emprestamos fé não ignoravam esta diferença.
Diz o profeta: "Se não credes, não entendereis"; certamente não diria isto se não
julgasse necessário pôr uma diferença entre as duas coisas. Portanto, creio tudo
o que entendo, mas nem tudo que creio também entendo.
Tudo o que compreendo conheço, mas nem tudo que creio conheço. E não ig-
noro quanto é útil crer também em muitas coisas que não conheço, utilidade que
encontro também na história dos três jovens. Pois, não podendo saber a maioria
das coisas, sei porém quanto é útil acreditar nelas. No que diz respeito a todas as
coisas que compreendemos, não consultamos a voz de quem fala, a qual soa por
fora, mas a verdade que dentro de nós preside à própria mente, incitados talvez
pelas palavras a consultá-la.
Quem é consultado ensina verdadeiramente, e este é Cristo, que habita, como
foi dito, no homem interior, isto é: a virtude incomutável de Deus e a sempiterna
Sabedoria, que toda alma racional consulta, mas que se revela a cada um quanto
é permitido pela sua própria boa ou má vontade. E se às vezes há enganos, isto
não acontece por erro da verdade consultada, como não é por erro da luz ex-
terna que os olhos, volta e meia, se enganam: luz que confessamos consultar a
respeito das coisas sensíveis, para que no-las mostre na proporção em que nos
é permitido distingui-las (AGOSTINHO, 1980).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Como você pôde perceber, a proposta agostiniana de edu-
cação é permeada pela sua teoria do conhecimento, que é total-
mente envolvida por uma dimensão religiosa. Essa concepção de
conhecimento agostiniana, que pode ser expressa, resumidamen-
te, em sua fórmula "creio para compreender", revela, claramente,
o caráter religioso da sua concepção educativa.
Nesse sentido, podemos afirmar que, para Agostinho, o ver-
dadeiro mestre, aquele que realmente nos educa, no sentido mais
amplo do termo, ou seja, aquele que nos torna melhores, é Jesus
Cristo.
© U2 - Educação na Idade Média 77
O mosteiro e a família
O mosteiro apresentava a forma mais organizada da nova
educação. Ali, no isolamento, os monges, por meio do trabalho, da
contemplação e dos estudos, ansiavam a perfeição, pois esta tor-
nava possível a graça divina. Justamente nas escolas monásticas,
desenvolvia-se o trabalho erudito. O monasticismo foi responsá-
vel pela criação de uma autêntica cultura cristã fundamentada no
crescimento espiritual e religioso.
Em virtude do novo ideal de renovação espiritual, as estru-
turas da família sofreram mudanças. O amor penetrou profunda-
mente na família cristã; ele é que iria reger as relações entre os
membros da família e, também, o poder absoluto do pai, como
fora na Antiguidade. A figura do pai não se associava mais com
aquele "tirano", que dispunha da vida dos seus filhos, mas com
amor e misericórdia. O papel da mulher, na família cristã, também
teve seu significado alterado, igualando-se ao do homem na im-
portância da criação dos filhos. Estes, por sua vez, simbolizavam
inocência e pureza – qualidades que o próprio Cristo enfatizava
para a renovação espiritual.
Nova mentalidade
Em seu estudo sobre a História da pedagogia, Cambi (1999,
p. 142) refere-se à importância que a Idade Média teve para a cul-
tura europeia:
A Idade Média é o tempo do cristianismo e da Igreja, mas é tam-
bém a época dos povos e das idéias comuns da Europa: idéias mi-
tos, idéias tradições, idéias legendas que construíram o arcabouço
fundamental dos povos europeus.
PARA 4. Dos sinais sensíveis que são recebidos na potência sensitiva recebe o
intelecto as intenções inteligíveis, das quais usa para produzir em si mesmo a
ciência. A causa eficiente próxima, com efeito, da ciência não são os sinais, mas a
razão que discorre dos princípios às conclusões, como foi dito no corpo do artigo.
PARA 5. Naquele que ensina preexistia a ciência, não em ato completo, mas como
em razões seminais, pelo fato de que as concepções universais, cujo conhecimen-
to é em nós naturalmente ínsito, são como germes de tudo o que é conhecido em
seguida. Embora pela virtude criada as razões seminais não são levadas em nós
ao ato como se fossem infusas em nós por uma virtude criada, entretanto o que é
nelas original e virtualmente pode pela ação da virtude criada ser levado ao ato.
PARA 6. Não se diz que quem ensina transfunde a ciência no discípulo, como se
aquela mesma ciência em número que está no mestre, se faz no discípulo, mas
porque, pelo ensinamento, se faz no discípulo a ciência semelhante à que está
no mestre, levada da potência ao ato, como foi dito no corpo do artigo.
PARA 7. Assim como se diz que o médico, embora opere do exterior, operando
só a natureza interiormente, produz a saúde, assim se diz que o homem ensina a
verdade, embora anuncie do exterior, ensinando Deus interiormente.
PARA 8. Agostinho no livro Do Mestre, ao provar que só Deus ensina, não quer excluir
que o homem ensine exteriormente, mas dizer que só Deus ensina interiormente.
PARA 9. Verdadeiramente pode-se dizer que o homem é verdadeiro mestre, e
ensinando a verdade e iluminando a mente, não infundindo a luz à razão, mas
ajudando a luz da razão para a perfeição da ciência, através daquelas coisas que
propõe exteriormente. De acordo com isso, se diz em Efésios III, 8-9: "A mim,
o mínimo entre todos os santos, foi dada esta graça... iluminar a todos sobre a
dispensação do sacramento oculto pelos séculos em Deus".
PARA 10. Dupla é a sapiência: criada e incriada, e ambas são infusas no homem,
e por sua infusão o homem pode mudar-se para melhor ao caminhar.
A sapiência incriada não é de modo algum mutável; a criada, porém, muda-se em
nós por acidente, não por si. É de se considerá-la duplamente:
De um modo, segundo a relação às coisas eternas a respeito das quais é, e
assim é totalmente imutável.
Doutro modo, segundo a existência que tem no sujeito, e assim muda-se por aci-
dente, mudando-se o sujeito que, tendo a ciência em potência, passa a tê-la em
ato. Com efeito, as formas inteligíveis, das quais consiste a sapiência, são tanto
similitudes das coisas quanto formas que aperfeiçoam o intelecto.
PARA 11. No discípulo se representam as formas inteligíveis das quais se cons-
titui a ciência aceita por meio do ensinamento, de modo imediato através do
intelecto agente, mas de modo mediato, por meio daquele que ensina. O que
ensina propõe, com efeito, os sinais das coisas inteligíveis, das quais o intelecto
agente recebe as intenções inteligíveis, e as representa ao intelecto possível.
Donde as palavras mesmas do que ensina ouvidas, ou vistas quando escritas,
desse modo se têm para causar a ciência no intelecto, assim como as coisas
que são fora da alma, pois de umas e outras o intelecto recebe as intenções
inteligíveis, embora as palavras do que ensina mais proximamente se têm para
causar a ciência do que os sensíveis existentes fora da alma, enquanto sinais
das intenções inteligíveis.
PARA 12. Não há símile do intelecto e da visão corporal. A visão corporal, com
efeito, não é força colativa [collativa], de modo que de alguns de seus objetos
chegue em outros, mas todos os seus objetos são a ela visíveis, tão logo a eles
se converte. Donde aquele que possui a potência visual tem-se desse modo para
intuir todos os visíveis, como aquele que tem o hábito para considerar aquelas
coisas que habitualmente sabe. E assim o que vê não precisa ser estimulado
por outro para ver, senão enquanto, por meio de outro, sua vista é dirigida para
algum visível, como pelo dedo ou algo semelhante.
Mas a potência intelectiva, como é colativa, passa de alguns [objetos] a outros,
donde não se tem igualmente em relação a todos os inteligíveis a ser considera-
dos, mas imediatamente vê alguns, como aquelas coisas que são por si mesmas
evidentes, nas quais implicitamente se contêm algumas outras que não pode
entender senão por ofício da razão, explicando aquelas coisas que se contêm
nos princípios; donde, para conhecer desse modo, antes de ter o hábito, não só
está em potência acidental, mas também em potência essencial. Necessita, com
efeito, do motor que a leve ao ato pelo ensinamento, como se diz na Fís. VIII
[com. 32]: do que não precisa aquele que habitualmente já conhece algo.
O que ensina estimula, pois, o intelecto para saber aquelas coisas que ensina,
como o motor essencial que deduz da potência ao ato; mas, mostrando uma coi-
sa à visão corporal, estimula-a, como motor por acidente, enquanto o que tem o
hábito da ciência pode ser estimulado a considerar a respeito de algo.
PARA 13. A certeza da ciência nasce toda da certeza dos princípios: então as
conclusões são sabidas por certeza quando se resolvem nos princípios. E dessa
forma, que algo seja sabido por certeza é pela luz da razão, ínsita internamente
por ação divina, luz pela qual fala em nós Deus; não pelo homem que ensina
exteriormente, senão enquanto resolve as conclusões nos princípios, ao nos en-
sinar. Disso, porém, não receberíamos a certeza da ciência se não existisse em
nós a certeza dos princípios, nos quais se resolvem as conclusões.
PARA 14. O homem que ensina exteriormente não incute a luz inteligível, mas é causa
de certo modo da espécie inteligível, enquanto nos propõe alguns sinais de intenções
inteligíveis, que o nosso intelecto recebe daqueles sinais, e abriga em si mesmo.
PARA 15. Quando se diz: Nada pode formar a mente senão Deus, entende-se da
última forma da mente, sem a qual é julgada informe, mesmo que tenha outras for-
mas. Esta é, com efeito, aquela forma na qual se converte ao Verbo e a ele inere. Por
ela somente a natureza racional se diz formada, como se evidencia em Agostinho
no Comentário Literal ao Gênesis [Livro IX, cap. XXV e Livro das 83 Questões, p. 5].
PARA 16. A culpa está na vontade, no qual só Deus pode imprimir, como ficará
claro no artigo seguinte. A ignorância está no intelecto, no qual também a virtude
criada pode imprimir, como o intelecto agente imprime as espécies inteligíveis
no intelecto possível, mediante o que das coisas sensíveis e do ensinamento do
homem é causada a ciência em nossa alma, como foi dito no corpo do artigo.
PARA 17. Como foi dito, a certeza da ciência alguém apenas tem de Deus so-
mente, que nos comunicou a luz da razão, pela qual conhecemos os princípios,
dos quais nasce a certeza da ciência; e também a ciência é, de certo modo,
causada em nós pelo homem, como se disse no corpo do artigo.
PARA 18. Interrogado antes da elocução do mestre, o discípulo responderia cer-
tamente sobre os princípios através dos quais é ensinado; não, porém, sobre as
conclusões que alguém lhe ensina: donde não aprende os princípios do mestre,
mas só as conclusões (AQUINO, 2000).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
© U2 - Educação na Idade Média 89
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Com a difusão do cristianismo, iniciou-se uma profunda alteração de pa-
radigmas. Em virtude disso, impuseram-se novas necessidades e desafios
diante da educação. As ideias de amor, fraternidade, humildade, solidarie-
dade etc. romperam com o modelo estático bipolar da pedagogia antiga.
O fator religioso veio à tona como aspecto integrante da sociedade. Com
base nessa constatação, assinale a alternativa que melhor corresponde a
essa nova visão educativa:
a) Somente por meio da educação religiosa, o homem poderia salvar sua vida.
b) As ideias de amor entre os homens, bem como de amor a Deus e ao
próximo, tornaram-se pilares dessa nova educação, inspirada nos valores
religiosos.
c) Os pilares da educação deveriam passar por profundas reformas sobre a
maneira ética de ser e de viver.
d) A ideia de amor entre os homens não serve como parâmetro para a edu-
cação das pessoas.
e) Tudo era permitido na educação, desde que as pessoas pudessem viver
dignamente.
2) Sobre a educação na Idade Média, podemos dizer:
a) Que privilegiava a formação espiritual em detrimento da formação cor-
poral.
b) Que privilegiava a formação corporal em detrimento da espiritual.
c) Que favoreceu a educação democrática por causa dos valores de solida-
riedade, igualdade e fraternidade ensinados por Cristo.
d) Que procurava harmonizar a formação corporal e espiritual.
e) As alternativas "c" e "d" estão corretas.
3) O rompimento dos paradigmas econômicos e políticos vigentes no modelo
estático da época medieval causou uma revolução multifacetal: econômica,
política, social, ideológica, geográfica e pedagógica. Essas profundas altera-
ções colocaram grandes desafios diante da educação, e, por isso, ela teria
de produzir:
Gabarito
Depois de responder às questões autoavaliativas, é impor-
tante que você confira o seu desempenho, a fim de que possa sa-
ber se é preciso retomar o estudo desta unidade. Assim, confira, a
seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas pro-
postas anteriormente:
1) b.
2) a.
3) d.
4) d.
9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você pôde comparar a pedagogia medieval
com a pedagogia grega, reconhecendo as mudanças ocorridas, ana-
lisar as principais características da Paideia cristã e identificar as gê-
neses do processo educativo ao longo da Idade Média. Para isso,
© U2 - Educação na Idade Média 91
3
1. OBJETIVOS
• Reconhecer a importância da época moderna para a edu-
cação.
• Examinar a reestruturação da escola moderna.
• Conhecer as principais vertentes pedagógicas da Moder-
nidade.
• Investigar a relação entre o processo de formação indivi-
dual e o de formação social.
2. CONTEÚDOS
• Época moderna.
• Reformismo religioso e educação.
• Modernidade.
• Iluminismo.
94 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, você teve a oportunidade de familia-
rizar-se com os problemas pedagógicos presentes na época me-
dieval. Vimos que seu caráter opressivo e dogmático não propor-
© U3 - Educação na Modernidade 97
6. RENASCIMENTO
O primeiro traço específico da cultura renascentista é o rom-
pimento da hierarquia medieval, manifestada em graus divinos e
terrestres. Isso ocorreu pela aproximação gradativa do homem a
Deus, uma vez que o homem pretendia criar mundos e até corri-
gir as falhas da construção divina. Rafael, por exemplo, costumava
dizer que o artista deve apresentar, em suas obras, não o mundo
como foi criado (por Deus), mas como deveria ter sido criado. As-
sim, pode-se entender que, segundo a visão renascentista, o ho-
mem é o que faz de si mesmo, e não aquilo que tinha herdado via
sangue nobre, isto é, propriedade ou status.
Essa nova visão, que rompeu com a tradição medieval, indica
que o ser humano possui valor por si mesmo. Tal era a essência do
humanismo renascentista. Apesar do golpe que a teoria de Copér-
nico infligiu no orgulho humano, destituindo-o da posição central
do universo, a nova visão de homem impôs-se como posição cen-
tral do humanismo. Este, por sua vez, inspirou-se na ideia de Pro-
tágoras, segundo a qual o homem é a medida de todas as coisas.
Desse modo, o homem é criador e denominador do mundo; tudo
passa a ser avaliado por seu caleidoscópio.
Em sentido literal, "Renascimento" significa ressurreição dos
ideais greco-romanos da arte, da moral, da política e da educação.
No entanto, não podemos reduzir essa época gloriosa da história
humana a, apenas, uma réplica do mundo antigo. O Renascimento
é o anúncio de uma nova época – uma época de descobertas cien-
Studia Humanitatis
O Renascimento tem mérito por ter forjado um novo ho-
mem e uma nova virtude. O novo homem é o cidadão, alguém
© U3 - Educação na Modernidade 101
Erasmo de Roterdã
Erasmo é considerado o representante mais ilustre do Hu-
manismo do século 16. No âmbito pedagógico, Erasmo se propõe
o desafio de renovar o sistema educacional. Seu ponto de partida
são as críticas que dirige ao modelo escolástico de educação e sua
própria esterilidade.
As novas condições históricas impuseram a necessidade de
superação dos modelos antigos, e Erasmo, mais do que qualquer
outro, sente as influências dessa época de transição. Por volta de
Martinho Lutero
Outra figura proeminente no processo de renovação cristã
na educação é Lutero, quer partindo de seu postulado protestan-
te, segundo o qual a salvação do homem só ocorre pela fé, sem a
mediação da Igreja, Lutero prepara o solo para um entendimen-
to novo de educação: caso a fé seja a base da salvação humana,
inspirando-se nos textos sagrados, então, para se ter acesso a tais
textos, o indivíduo necessita ser alfabetizado.
Essa é a razão que fundamenta a proposta luterana de alfabe-
tização geral do povo. Assim, vem à tona a importância das escolas
públicas, das quais, segundo Lutero, a salvação humana depende.
© U3 - Educação na Modernidade 105
Contrarreforma
A divisão do mundo cristão, operada por Lutero e sua pro-
posta protestante, causou a reação da Igreja católica em termos
Companhia de Jesus
Fundada em 1539, por Ignácio de Loyola, a Companhia de
Jesus foi um dos instrumentos desse novo intuito. Segundo tal es-
tratégia pedagógica, a formação do homem deveria suprir o de-
senvolvimento dos seus dons naturais e alcançar o fim para o qual
ele foi criado.
A princípio, a Companhia de Jesus seguiu o modelo huma-
nista de educação, baseado nas leituras dos clássicos e, sobretudo,
de Aristóteles na versão tomista. Inicialmente, a Companhia era
frequentada pelos que pretendiam dedicar sua vida ao sacerdó-
cio, aplicando-se aos estudos de retórica, lógica, ética, metafísica,
teologia, língua grega e hebraica. Mais tarde, por volta de 1548,
suas escolas abriram as portas também àqueles que não neces-
sariamente dedicariam sua vida ao sacerdócio. Em sua missão
educativa, a Companhia inaugurou várias instituições de ensino,
espalhadas por toda Europa, tornando-se a instituição pedagógica
mais difundida no continente.
Os planos de ensino da Companhia de Jesus contemplavam
rigorosamente a disciplina escolar, horários de aula, exercícios,
© U3 - Educação na Modernidade 107
8. A EDUCAÇÃO NA MODERNIDADE
A partir da Modernidade, a pedagogia ganha status de obje-
to de saber científico. A educação moderna ocupa cada vez mais
o papel de primeira importância na sociedade, que é, por assim
dizer, a formação do cidadão.
Como Foucault (apud CAMBI, 1999) sublinha, uma das ca-
racterísticas da visão moderna de educação é a do controle. Ela
visa a formação de um indivíduo formal e normativo. Obviamente,
tal educação é fortemente marcada pelo aspecto social, em detri-
mento do aspecto individual e subjetivo. Para funcionar o organis-
mo estatal, cada membro deste deve passar por devida instrução,
que é a educação. Em virtude desse aspecto social, a pedagogia
moderna altera profundamente os papéis dos principais promoto-
res da educação, a saber, a família e a escola.
Conforme Cambi (1999), a família é, por assim dizer, o in-
cubatório no qual os filhos se tornam aptos para o exercício da
vida social. À escola, por sua vez, cabe a promoção do papel ideo-
lógico, uma vez que ela é o aparato ideológico do Estado, como
diz Althusser, aparato que produz força de trabalho, mas também
ideologia (CAMBI, 1999). Contudo, a Modernidade revela-nos uma
escola que também promove a emancipação do sujeito, para que
este se torne ativo e crítico. Assim, a ideologia estatal e a crítica
pessoal convivem dialeticamente na sociedade moderna.
A Modernidade, em sua versão inicial, isto é, na época do
Renascimento, retoma o modelo clássico de Paideia, ou seja, o
modelo de Isócrates, de Platão e dos estoicos e neoplatônicos.
Essa retomada é, também, uma tentativa de circunscrição do novo
ideal da Modernidade, a partir dos valores clássicos numa versão
moderna. Na nova versão curricular, estudos políticos e religiosos
e as disciplinas de matemática e ciências assumiram o papel de
protagonistas, sobretudo após o ano 1600. Na medida em que o
Estado nacional moderno se tornou um fato, na formação peda-
Rabelais
Rabelais, em sua famosa obra Gargantua e Pantagruel, diri-
ge uma crítica implacável contra as instituições pedagógicas orga-
nizadas pelo clero, chegando ao ponto de ridicularizá-las pela sua
esterilidade e inutilidade. Sua proposta de ensino consiste num
ideal que une as virtudes morais ao desenvolvimento das faculda-
des intelectuais. Para tal fim, o ensino deve incluir nos seus currí-
culos o estudo de línguas, filosofia clássica, matemática, música,
história e direito civil.
Rabelais deu um passo avançado nos programas de ensino,
incluindo nestes o estudo da natureza. Tal estudo incluía não só a
natureza circundante, mas também a natureza humana estudada
sob forma de anatomia – algo que só alguns séculos depois entra-
ria nas ementas. A seguir, utilizaremos um trecho da sua mais cé-
lebre obra Gargantua e Pantagruel, na qual, em poucas palavras,
descreve seu ideal de ensino:
Pelo que, meu filho, exorto-o a empregar a sua juventude no
processo dos estudos e da virtude. Você está em Paris, com seu
preceptor Epistemon; este, por orientações práticas e verbais, e
aquela, por louváveis exemplos, podem-no instruir. Entendo e que-
ro que aprenda perfeitamente as línguas, primeiramente a grega,
como quer Quintiliano; secundariamente, a latina; depois a hebrai-
ca por causa da santas epístolas; a caldaica e arábica pela mesma
razão; que forme seu estilo, quanto à grega, à imitação de Platão;
quanto à latina, a maneira de Cícero; que não haja história que não
tenha presente na memória a qual o ajudará a geografia de tudo
quanto se tem escrito.
Das artes liberais, Geometria, Aritmética e Música, dei-lhe algum
gosto quando ainda pequeno, entre cinco e seis anos de idade, e da
Astronomia saiba todas as regras. Deixe a Astrologia divina e a arte
de Lúlio como abuso e vaidade. Do Direito Civil quero que saiba de
cor os belos textos e compare-os com a Filosofia.
Quanto ao conhecimento dos fatos da natureza, quero que se ador-
ne cuidadosamente deles; que não haja mar, ribeiro ou fonte dos
quais não conheça os peixes; todos os pássaros do ar, todas as árvo-
Montaigne
Michel de Montaigne nos apresenta um notável avanço no
pensamento pedagógico. Ele abertamente critica a fé no poder da
razão, que é, cada vez mais, difundida e propagada pela Moderni-
dade. O atual ensino, segundo o pensador, não passa de transmis-
são de conhecimentos e erudição sem uma presença real na vida.
É o que ele sublinha no seguinte trecho:
Mas, o que é pior, nossos estudantes e aqueles a quem ensinarão
não se nutrem nem se alimentam muito mais que isso; a ciência
passa assim de mão em mão, com o único objetivo de entender
os outros e contar estórias, como moeda recolhida, inútil a qual-
quer uso, e empregada apenas para calcular e depois atirar-se fora
(MONTAIGNE, 1946, p. 86, tradução mossa).
Descartes
Descartes é outro protagonista do pensamento moderno
cuja contribuição é incomensurável.
Apesar de ter passado por uma formação jesuíta, Descartes
bem cedo se declarou decepcionado pelo modelo escolástico de
educação. Em sua obra Discurso do método, ele afirma que tudo o
que aprendeu no colégio é cheio de dúvidas e não apresenta ne-
nhuma verdade que pudesse resistir a elas. Dessa forma, a dúvida
© U3 - Educação na Modernidade 115
A razão substitui Deus, sem que este seja totalmente negado; ela
se torna o suporte indispensável para toda atividade humana – éti-
ca, política, econômica etc.
O Iluminismo travou uma guerra implacável contra o caráter
absolutista das instituições políticas e religiosas e contra as desi-
gualdades e diferenças sociais de classe. Vale lembrar que os pro-
tagonistas desse movimento histórico são filósofos e pensadores.
Estes assumem uma posição radical na luta contra as instituições
conservativas, tornando-se vanguarda da nova ideologia. Os no-
mes de destaque são: Barão de Montesquieu, Voltaire e Diderot,
e suas ideias alcançaram todos os campos da atividade humana
– ciência, religião, ética, política etc. No âmbito religioso, os filó-
sofos iluministas introduziram a concepção deísta, que apresen-
ta uma saída bastante efetiva, por meio da qual o homem liberta
suas mãos das orações para construir um novo mundo, ordenado
e perfeito, segundo as leis racionais.
Nesse âmbito de profundas alterações, mudanças e transi-
ções, a velha visão conservativa lutou pela sua manutenção e so-
brevivência, e a nova visão mostrou-se bastante forte para per-
mitir que a primeira se conservasse. Tudo isso fez que a política
educativa ficasse no meio de sérias contradições. Por um lado, as
enraizadas instituições de ensino, promovidas, em sua maioria,
pelas ordens religiosas, espalhadas por toda a Europa, impediam o
desaparecimento da velha visão pedagógica. Por outro, a marcha
histórica, seguindo seu curso natural, abriu as portas de uma nova
mundivisão. Nesse momento, a educação encontrava-se em atra-
so se comparada com outras áreas humanas. Esse atraso foi facil-
mente explicado pela sua tendência em garantir a conservação do
sistema vigente.
Lembremo-nos de que uma das missões educativas é a per-
petuação da ordem vigente. Todavia, começa a criação de novos
modelos educativos justamente pelos protagonistas da Moderni-
dade. Os novos mentores da educação insistem em três aspectos
básicos que devem permear a educação, a saber:
© U3 - Educação na Modernidade 119
Jean-Jacques Rousseau
Influenciado pelas ideias de Locke, Rousseau, em sua obra
de teor pedagógico – Emílio –, esboça uma original doutrina edu-
cativa, que permanece, no entanto, no leito das teorias utopistas.
O tratado sobre a educação, exposto em Emílio, definitivamente
rompe com o tradicional entendimento de educação, mostrando-
-se de acordo com o espírito iluminista.
Rousseau esta ciente de que a transformação social só será
possível se for amparada por uma educação que reflita o espírito do
Iluminismo. Rousseau vê no retorno à natureza, ou, pelo menos, no
retorno ao espírito da natureza, a possibilidade de uma mudança
social. Nisso, consiste a razão da sua constatação de que o homem
nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Esse pensamento será o
critério que irá permear o novo ideal rousseauniano de educação.
© U3 - Educação na Modernidade 121
Kant
Kant trouxe contribuições preciosas para o campo da filo-
sofia, as quais tiveram um impacto profundo sobre o posterior
desenvolvimento do pensamento filosófico, mudando totalmen-
te sua face deste e delineando novos problemas e soluções. Suas
contribuições, entretanto, não se limitaram à revolução copernica-
na, ao criticismo e à filosofia transcendental; sua filosofia foi além
desse campo puramente teórico e especulativo ao introduzir um
entendimento novo sobre a razão prática – a moral formal.
A moral formal rompeu com as tendências eudemonistas,
que visavam, como meta suprema da vida humana, a partir de
boas ações, o alcance da felicidade; é como se esta fosse o prêmio
prometido em troca de bom serviço. Kant, ao contrário da ten-
dência eudemonista, fundamenta a moral na natureza humana.
Conforme tal entendimento, o homem não age moralmente com
vista de um fim, pois já está na natureza humana o princípio desse
agir moral, isto é, o homem é livre da necessidade natural, mas,
justamente por isso, obedece à lei moral, norteado pelo imperati-
vo categórico.
Pestalozzi
No final do século 18 e início do século 19, aparece, no ce-
nário pedagógico, a figura de Pestalozzi e seu projeto de reformu-
lação da educação.
Assim como Kant, Pestalozzi sofre enorme influência do pen-
samento pedagógico de Rousseau. Sua intenção inicial de Pesta-
lozzi foi a de aplicar, na prática, a teoria pedagógica de Rousseau,
exposta em Emílio. O mérito de Pestalozzi é descrito por Thomas
Giles (1989, p. 189) assim:
[...] apesar das amargas derrotas sociais, conseguiu formular uma
pedagogia modelo para a escola elementar secular moderna. O
que, além de outras contribuições revolucionárias ao processo
educativo, lhe garante lugar de destaque na história da educação
ocidental.
Hegel
Na derrota prussiana, Hegel via o "mal necessário" para a
ressurreição do espírito alemão. A construção da Alemanha (1801-
1803) é uma obra escrita sob a influência da situação histórica. A
análise da história dos acontecimentos, passando pelo olho indi-
ferente do historiador Hegel, aprova o que ocorria naquele mo-
mento, chegando, assim, a uma visão positiva da guerra, tida como
necessária para a saúde de um Estado.
Hegel vê, na causa da derrota, um impulso da liberdade, que
fez que o Estado alemão se dividisse. Temos aqui uma valorização
do Estado em detrimento da liberdade do indivíduo, o qual se tor-
nou a causa do enfraquecimento do Estado. Portanto, o papel da
educação, na visão de Hegel, consiste em promover a dissolução
da subjetividade do indivíduo e torná-lo alheio à vontade do Esta-
do; isto é, reconciliar os seus fins particulares com os propósitos
do Estado. Trata-se, grosso modo, de uma formação (bildung) na
qual o indivíduo se eleva gradativamente do inferior (estado subje-
tivo) para o superior (estado objetivo) até que, no fim, por meio da
marcha negativa da dialética, alcança o estado absoluto – a plena
identidade de fins subjetivos e objetivos.
Para a compreensão da lógica interna deste processo, faz-se neces-
sária a análise das principais noções hegelianas: consciência, auto-
consciência e Espírito. A compreensão das noções de consciência
envolve a relação da consciência com um objeto (consciência é
sempre consciência para um objeto, algo que está diante de um
sujeito). Esta é a certeza sensível. À medida que a consciência per-
cebe que o objeto diante dela não é algo estranho a ela, mas é ela
mesma, torna-se autoconsciência; com efeito: autoconsciência é a
descoberta que o em-si do objeto é a própria consciência, de que a
consciência é a própria verdade (HEGEL, 1973, p. 152).
Gabarito
Depois de responder às questões autoavaliativas, é importante
que você confira o seu desempenho, a fim de que possa saber se é pre-
ciso retomar o estudo desta unidade. Assim, confira, a seguir, as respos-
tas corretas para as questões autoavaliativas propostas anteriormente:
1) c.
2) e.
3) c.
4) c.
12. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você conheceu a importância da época
moderna para a educação, examinou a reestruturação da escola
moderna, verificou as principais vertentes pedagógicas da Mo-
dernidade e investigou a relação entre o processo de formação
individual e de formação social.
Nesse sentido, estudou as principais correntes filosóficas
da Modernidade e os principais aspectos históricos que geraram
as profundas mudanças que caracterizam a passagem do período
medieval para o período moderno, tais como: o reformismo reli-
gioso e o Iluminismo.
O impacto desses fatores históricos e filosóficos na educação
foi enorme. Gerou uma confiança extraordinária na formação de
um homem racionalmente potente, que, pelo uso maduro de suas
capacidades teórico-cognitivas, iria criar uma sociedade mais justa
e feliz.
No entanto, esse ideal de realização racional do humano não
conseguiu alicerçar a sociedade que almejava. Estouraram as guer-
ras e uma nova época surgia. Já não confiantes na força da razão
em conduzir o homem à sua perfeição, surgem propostas com as
de Nietzsche, Marx, entre outros.
Tais propostas configuram o novo norte da educação con-
temporânea, influenciando não só esta, mas todas as áreas da cul-
tura humana.
13. E-REFERÊNCIA
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é o Iluminismo?. Disponível em: <http://www2.crb.
ucp.pt/historia/kant.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2011.
© U3 - Educação na Modernidade 137
4
1. OBJETIVOS
• Conhecer o caráter científico da educação contemporâ-
nea.
• Compreender a relação entre o processo da formação in-
dividual e o da formação social no mundo contemporâ-
neo.
• Compreender as diferentes vertentes da pedagogia con-
temporânea.
• Analisar historicamente a gênese da educação contempo-
rânea.
2. CONTEÚDOS
• Contemporaneidade e Revolução Francesa.
• Utilitarismo.
• Marxismo.
140 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação
• Nietzsche e Dilthey.
• Educação no século 20.
• Dewey.
• Pedagogia e ciência.
• Guerra Fria.
• Pós-guerra.
• Mass media e educação.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, você estudou as principais ideias e ver-
tentes pedagógicas oriundas do pensamento moderno. Vimos que
o homem moderno começou a tomar consciência de si e dos seus
direitos e deveres.
Nesta unidade, teremos a oportunidade de conhecer os
principais problemas que subjazem à pedagogia contemporânea.
Dando continuidade às questões herdadas das épocas anteriores,
a educação contemporânea, que assume uma nova face, torna-se
mais sistemática, assumindo caráter de ciência específica com pro-
blemática própria. Em contrapartida, o avanço notável das ciências
e das tecnologias coloca novos desafios diante da educação, de
forma que o modelo tradicional de ensino, aos poucos, cede lugar
aos meios virtuais de aprendizagem.
6. UTILITARISMO NA EDUCAÇÃO
Por volta do século 19, um avanço considerável no âmbito pe-
dagógico ocorre sob a influência do utilitarismo britânico. Jeremy
Bentham é o grande protagonista desse movimento, pois, partindo
da sua concepção utilitarista, introduz um princípio que deve su-
postamente reger a sociedade na base de máximo prazer e mínima
dor. Em outras palavras, o bem comum na sociedade consiste em
promover maior bem para maior número de pessoas.
Esse princípio, segundo Bentham, vai contra as teorias re-
formadoras que contemplam os interesses e os privilégios da bur-
guesia. O fato inegável da existência do povo carente, coberto de
7. MARXISMO E EDUCAÇÃO
O modelo marxista de educação, como já vimos, mostra-se mais
progressivo e, contudo, mais ideológico do que o modelo capitalista,
obedecendo à estrutura interna da teoria política e econômica marxista.
Marx apresenta-nos um modelo bastante específico de edu-
cação, baseado na gênese dialética do materialismo. Ele afirma
que o homem, na época capitalista, é alienado de si e do seu traba-
lho, mas está depositada nele a garantia da superação dessa alie-
nação. No entanto, o trabalho (ou melhor, as relações materiais do
trabalho) possuem traços expressamente dialéticos que mantêm a
condição permanente de mudança, pois é o trabalho que instaura
a oposição das classes e é justamente esta, no seu desenvolvimen-
to, que traz a mudança no cenário social.
O ideal formativo no qual Marx insiste, diz respeito ao ho-
mem que une em si habilidades intelectuais a habilidades manuais
e profissionais. Assim, esse ideal, que descreve o homem univer-
sal, está na base da superação da divisão social de trabalho, a qual
pressupõe a divisão de saber prático e saber intelectual.
Em termos pedagógicos, Marx critica, rigorosamente, a divi-
são da escola, uma vez que ela promove e perpetua a divisão das
classes. Em contrapartida, o mentor comunista vê, na educação,
a vanguarda da luta da superação das classes sociais, assumindo
importante papel ideológico na sociedade.
O homem universal – o ideal da proposta educativa de Marx
– deve se formar em três aspectos: espiritual, físico e politécnico.
Esse último é muito importante na sua proposta educativa, pois
une os saberes técnicos e científicos à sua aplicação prática.
O projeto pedagógico de Marx, de acordo com a sua propos-
ta política, requer igualdade de ensino, de forma que os menos
privilegiados recebam a mesma formação que os mais privilegia-
dos. Assim, a mensagem educativa de Marx é a de que a igualdade
de ensino prepara as condições da igualdade social.
8. EDUCAÇÃO NO SÉCULO 19
No fim do século 19, a educação estava vivendo as aporias
da sociedade contemporânea, suscitadas pela relação adversa en-
tre a burguesia e o proletariado. Em geral, estamos diante de uma
época bastante contraditória, que buscava freneticamente novas
propostas e modelos de mudanças e renovação.
Em meio à ansiedade de renovação, de busca de novos va-
lores, apareceu a marcante figura de Nietzsche. Ele acusa toda a
tradição ocidental, desde suas raízes, de inquisição contra a vida e
contra os valores vitais em prol de um sentido além-mundano, o
qual, por sua vez, gerou o percurso histórico niilista.
A crítica de Nietzsche não omite a educação e a sua preten-
são conformista e ideológica; ela insiste na necessidade de uma
total reavaliação, ou melhor, de uma transvaloração de todos os
valores, os quais norteiam e dão amparo a esse niilismo. Ele ainda
propõe novos critérios, de acordo com os valores vitais, para a de-
volução do sentido da vida.
No âmbito educativo, ele insiste em um modelo novo que
contemple o desenvolvimento de todas as aptidões do homem.
Retoma, para tal fim, a Paideia homérica na sua versão agônica.
Em um dos seus prefácios, intitulado Disputa em Homero, Nietzsche
(2004, p. 74) vê a educação como jogo estético de disputa:
Com o intuito de ver aquele sentimento bem distintamente, em
suas expressões ingênuas, o sentimento de necessidade de dispu-
ta quando se deve preservar a saúde da cidade-estado, pensemos
no sentido original do ostracismo: expresso, por exemplo, quando
os efésios vão banir Hermodoro. "Entre nós ninguém deve ser o
melhor; se alguém for, todavia, então que seja em outra parte e na
companhia de outros" por que ninguém deve ser o melhor? Por
que com isso a disputa teria de se esgotar e o fundamento eterno
da vida da cidade helênica estaria em perigo [...].
É este o germe da noção helênica de disputa: ela detesta o domínio
de um só e teme seus perigos, ela cobiça, como proteção contra o
gênio – um segundo gênio.
© Nome da unidade 149
mitiram que ele superasse seu pensamento idealista e adotasse uma linha mais
prática e empírica baseada na Teoria do Conhecimento que estava de acordo
com a Escola Americana do Pensamento, de bases pragmáticas.
A mudança ocorrida em seus estudos e conclusões levou Dewey a publicar uma
série de ensaios que tinham o título coletivo "O pensamento e seus temas". Es-
ses trabalhos foram publicados por Dewey juntamente com outros professores
da Universidade de Chicago numa obra conhecida como "Estudos em Teoria
Lógica" (1903).
Outra experiência definidora de rumos para a obra de Dewey foi a fundação e di-
reção de uma escola-laboratório em Chicago onde teve a oportunidade de aplicar
novas idéias e métodos pedagógicos. Desse seu trabalho surgiu a sua primeira
obra dedicada especificamente a educação, "A Escola e a Sociedade" (1889).
Problemas com a administração dessa escola em Chicago acabaram levando
Dewey a mudar de ares em 1904 quando ele, já respaldado por sua reputação
como autor, professor e filósofo, mudou-se para a Universidade Columbia, em
Nova Iorque.
A chegada a Columbia deu-lhe novos subsídios, pois se encontrava em uma ins-
tituição mais tradicional, que já havia abrigado alguns dos maiores pensadores
norte-americanos. Era um período propício a entrar em contato com pensadores
e filósofos representativos de outras linhas de pensamento.
Dessa época surgiram vários artigos sobre a teoria do conhecimento e a metafí-
sica, dentre os quais muitos foram selecionados e publicados em dois livros: "A
influência de Darwin na filosofia e outros ensaios sobre o pensamento contem-
porâneo" (1910) e "Ensaios em lógica experimental" (1916).
A produção na área da educação foi reforçada em seu período de trabalho na
Universidade de Columbia com o surgimento de duas obras de grande importân-
cia: "Como nós pensamos" (1910), em que aplicava a Teoria do Conhecimento
a Educação; e "Democracia e Educação" (1916), sua maior contribuição à pe-
dagogia.
Além de teorizar em educação, filosofia e psicologia, Dewey também era conhe-
cido publicamente por posicionar-se como analista de temas contemporâneos.
Contribuía com revistas populares como The New Republic e Nation e tomava
partido em causas com as quais se identificava, como foram os casos da luta
pelo voto feminino ou seus esforços em favor da criação de sindicatos para pro-
fessores (MACHADO, 2010).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Modelo marxista
O pensamento marxista, que fundamenta e dá suporte teó-
rico aos projetos pedagógicos marxistas, apesar de revelar uma
face acentuadamente ideológica, mostra-se bastante original e
progressivo. A ideia marxista de uma formação integral e universal
tenta resgatar o homem da sua alienação, cujo domínio, o traba-
lho, se reduz a mero meio de sobrevivência.
© Nome da unidade 157
Guerra Fria
A partir da segunda metade do século 20, o desenvolvimen-
to da pedagogia norteou-se, basicamente, pela Guerra Fria e suas
duas faces. A esse respeito, Cambi (1999, p. 601) menciona:
A Oeste, a pedagogia envolveu-se na defesa dos princípios da de-
mocracia liberal e da organização capitalista (isto é, da propriedade
privada, do mercado, da consciência, da liberdade da imprensa), da
autonomia do indivíduo e da liberdade dos povos, classes, grupos,
minorias (ainda que depois – na realidade – muitos desses princípios
fossem esmagados no Ocidente) e colocou-se nos Estados Unidos e
na Europa, na Alemanha e na Itália, sobretudo a serviço desses prin-
cípios de educação liberal democrática. A Leste, elaborou uma pe-
dagogia do Estado, fixada a partir dos clássicos do marxismo, muitas
vezes rigidamente dogmática, ainda que depois – na ação e nas insti-
tuições – submetida a muitas correções e a sensíveis transformações.
Pós-Guerra
A necessidade de uma educação obrigatória e para todos sur-
ge com o avanço tecnológico. O mundo tecnológico requer mão-
-de-obra qualificada e instruída. Nesse momento, a educação toma
frente como suporte imprescindível do progresso tecnológico.
Essa nova função da educação está notavelmente presente
no período pós-guerra, especialmente nos países industrializados.
Além do seu papel intelectual e cultural, a escola contemporânea
está encarregada de formar perfis profissionais.
Naturalmente, o ideal democrático que a escola contempo-
rânea deve promover requer, ao menos, um rompimento parcial
com o caráter ideológico que a ela se atribui. Aos poucos, a escola
da segunda metade do século 20 tornava-se cada vez mais crítica
e menos sujeita a manipulações. Todavia, ela não deixou de cum-
prir a sua principal missão atribuída pelo Estado: formar cidadãos
aptos a participar na vida pública, a eleger seus representantes, a
reivindicar os seus direitos e a cumprir os seus deveres para com a
sociedade; enfim, serem plenos agentes no âmbito social.
© Nome da unidade 163
Gabarito
Depois de responder às questões autoavaliativas, é impor-
tante que você confira o seu desempenho, a fim de que possa sa-
ber se é preciso retomar o estudo desta unidade. Assim, confira, a
seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas pro-
postas anteriormente:
1) b.
2) a.
3) d.
14. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você conheceu o caráter científico da edu-
cação contemporânea e a relação entre o processo da formação
individual e da formação social. Além disso, pôde compreender
as diferentes vertentes da pedagogia contemporânea, analisando
historicamente a gênese da educação dessa época. Nesse sentido,
conheceu, também, as principais mudanças históricas do período,
como a Revolução Francesa e a Guerra Fria.
Além de conhecer os principais fatores históricos, conheceu
as principais propostas filosóficas que ainda influenciam nossa
concepção educativa, tais como o utilitarismo, o marxismo e as
propostas de Nietzsche e Dilthey.
Terminado com "chave de ouro" seu estudo sobre os prin-
cipais aspectos históricos e filosóficos da educação, iremos, na
Unidade 5, abordar as principais mudanças históricas da educação
brasileira. Vamos lá?
15. E-REFERÊNCIAS
Sites pesquisados
MACHADO, J. L. A. John Dewey e a escola ativa. Disponível em: <http://www.
planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=447>. Acesso em: 18 out. 2010.
NIETZSCHE, F. W. Disputa em Homero. In: ______. Cinco prefácios para cinco livros não
escritos. Tradução e prefácio Pedro Süssekind. 2 ed. Rio de Janeiro: 7 Letras. Disponível
em: < http://pt.scribd.com/doc/3378183/Nietzsche-Cinco-Prefacios>. Acesso em: 15 jul.
2011.
5
1. OBJETIVOS
• Conhecer um pequeno panorama histórico da educação
no Brasil desde a fase colonial até o período contemporâ-
neo da República.
• Compreender os comentários sobre a herança legada pe-
los jesuítas e pela Igreja Católica no desenvolvimento da
educação formal no Brasil.
• Investigar o "sentido da educação no Brasil", levando em
conta a relação entre Estado, educação e sociedade.
2. CONTEÚDOS
• Educação jesuítica.
• Ensino Régio.
• Educação na época da Monarquia.
• Educação na República.
170 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nesta unidade, estudaremos os fundamentos históricos,
filosóficos e sociológicos que marcaram a educação no Brasil ao
longo de cinco séculos. Iniciaremos nosso estudo pelos jesuítas,
que tiveram importância decisiva no projeto português de expan-
são mercantil-cristão e, posteriormente, passaremos ao estudo
das Reformas Pombalinas, que colocaram em cena o Estado como
agente educacional. No século 19, o Brasil atingiu a condição de
país soberano, estruturando-se em torno do regime monárquico,
e, com ele, novas iniciativas foram tomadas no campo da educa-
ção escolar. Finalmente, a última parte vai contemplar o estudo da
educação brasileira no período republicano.
Boa leitura!
5. EDUCAÇÃO JESUÍTICA
Os jesuítas foram referências fundamentais e básicas em
termos de educação, no Brasil Colônia, de 1549, quando desem-
barcaram em Salvador, na Bahia, a bordo de uma expedição que
trazia o primeiro Governador-Geral, Tomé de Souza, a 1759, quan-
do foram expulsos pelo Marquês de Pombal. Podemos dizer que,
mesmo ao longo desses quase 200 anos, as práticas formais de
educação estiveram sob o controle desses padres, membros da
Companhia de Jesus.
6. ENSINO RÉGIO
O século 18 foi marcado por profundas transformações tan-
to nos campos econômico e político como no das ideias. Na reali-
dade, tais mudanças já vinham ocorrendo desde o século anterior,
quando um conjunto de revoluções, intitulado Revoluções Ingle-
sas, abriu caminho para a consolidação dos ideais da burguesia,
ávida por parte da política, pois poder econômico já possuía. Mas
apenas no século 18 a radicalização desses processos revolucioná-
rios foi determinante, a tal ponto que o historiador britânico Eric J.
Hobsbawm o batiza "Era das Revoluções Burguesas".
No campo econômico, assistimos a emergência da Revo-
lução Industrial na Inglaterra, constituindo-se em uma transfor-
mação radical no processo de produção, pois a base produtiva
da sociedade foi o que incorporou máquinas na fabricação de
mercadorias, acelerando a industrialização como nunca ocorrera
na história do homem. Com a industrialização, o capitalismo deu
um salto adiante, colocando em xeque as práticas mercantilistas
em vigor até então.
Em termos políticos, o Estado nacional absolutista começou
a dar sinais de esgotamento, sobretudo com a emergência da Re-
volução Americana de 1776 a 1777, que culminou com a Indepen-
dência dos EUA e com a eclosão da Revolução Francesa de 1789,
que, juntas, se constituíram em modelos de movimentos revolu-
cionários antiabsolutistas tanto na Europa como na América.
Do ponto de vista cultural, a propagação das ideias ilumi-
nistas foi decisiva para o aparecimento de um novo conceito de
homem, de política e de valores a serem defendidos. O "Século
das Luzes" constituiu-se em um movimento intelectual de cará-
© Aspectos Históricos da Educação no Brasil 177
8. EDUCAÇÃO NA REPÚBLICA
Como se sabe, a República no Brasil foi fruto de um golpe mi-
litar em 15 de novembro de 1889, como resultado de uma conver-
gência de interesses entre setores do Exército, elite do café de São
Paulo e setores intelectuais de classe média. Passados os primei-
ros tempos, marcados por enorme euforia com o futuro do país,
surgiram as cisões dentro do grupo republicano, levando muitos
a se "desiludirem" com os rumos tomados pelo novo regime. A
partir de 1894, o poder passou a ser controlado pela oligarquia do
café, que permaneceu hegemônico até 1930.
A base da economia permaneceu agrário-exportadora, e a
sociedade, predominantemente rural, com elevados índices de
analfabetismo. A nascente república, na realidade, deu continui-
dade à "vocação" agrícola do Brasil, e a manutenção das estrutu-
ras fundamentais do país interessava à elite política, ou seja, em
um cenário predominantemente rural e agrário, não existia a ne-
cessidade de investimentos em educação escolar.
Por conta disso, a política educacional ditada pelo Estado
pouco alterou a trajetória da escola que existia nos tempos da Mo-
narquia, continuando a priorizar os ensinos secundário e superior,
mantendo o princípio constitucional de que cabia aos Estados le-
gislar sobre ensino primário.
Além do mais, a respeito da falta de prioridade em relação
à educação básica, algumas poucas iniciativas foram tomadas du-
rante a Primeira República (1889-1930) – também chamada de
República Velha –; todas, porém, com caráter reformista, pouco
ou nada modificaram o panorama educacional brasileiro: Refor-
ma Benjamim Constant (1891), Reforma Rivadávia Correia (1911),
Reforma Carlos Maximiano (1915) e Reforma Luiz Alves/Rocha Vaz
(1925).
A 1ª Guerra Mundial (1914-1918) impôs ao Brasil a necessi-
dade de produzir internamente produtos até então importados,
Após o golpe militar de 1945, que pôs fim aos 15 anos da Era
Vargas, o debate em torno do Brasil seria retomado por uma nova
geração de intelectuais, como Florestan Fernandes, Caio Prado Jú-
nior, Nelson Werneck Sodré, criando um clima de efervescência
até, pelo menos, o final dos anos 1960.
A queda de Vargas abriu caminho para um curto período
de democracia, tendo como pano de fundo o contexto da Guerra
Fria, ou seja, do embate entre capitalismo e comunismo patroci-
nado por EUA e URSS, duas superpotências vitoriosas na 2ª Guerra
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Leia o trecho abaixo:
O Ratio constituía-se num plano educacional extremamente rígido
em termos de práticas pedagógicas e controle de ideias. Estava di-
vidido em três etapas: as humanas, os cursos superiores de filosofia
e teologia e a complementação dos estudos na Europa, sobretudo
em Portugal, na medieval Universidade de Coimbra. Daí o caráter
elitista dessa educação, pois somente os filhos dos mais ricos po-
diam concluir seus estudos no Velho Mundo. Aos nativos, bastavam
a catequização e o ensino de práticas profissionais ou agrícolas.
O período educacional no Brasil que coincide com a descrição acima é:
a) Ensino Régio.
b) Educação na época da Monarquia.
c) Educação jesuítica.
d) Educação na República.
e) Educação no golpe militar.
2) O pensador que influenciou Anísio Teixeira – um dos principais representan-
tes da escola nova – se chama:
© Aspectos Históricos da Educação no Brasil 195
a) Karl Marx.
b) John Dewey.
c) Jeremy Bentham.
d) John Stuart Mill.
e) Nietzsche.
3) Sobre a educação brasileira no período republicano, podemos afirmar cor-
retamente que:
a) As escolas de nível elementar e as de nível secundário continuaram iso-
ladas tal como no modelo das aulas régias da época de Pombal, privile-
giando elementos das camadas aristocráticas.
b) A política educacional ditada pelo Estado pouco alterou a trajetória da
escola que existia nos tempos da Monarquia, continuando a priorizar os
ensinos secundário e superior, mantendo o princípio constitucional de
que cabia aos Estados legislarem sobre o ensino primário.
c) A conclusão dos estudos dava-se no Reino, principalmente na Universi-
dade de Coimbra, também reformada por Pombal, a fim de aproximá-la
do ensino de "espírito científico" que marcava as demais universidades.
d) A Constituição de 1824 previa, em seu Artigo 179, a gratuidade da educa-
ção em nível primário para todos os cidadãos, mas que, em termos prá-
ticos, pouco acrescentou à realidade da educação existente até então.
e) A iniciativa educacional de particulares, tomada por protestantes que
fundaram escolas primárias em São Paulo e de adeptos da filosofia posi-
tivista, que exerceu forte influência sobre uma parte da intelectualidade
brasileira da segunda metade do século 19 e das primeiras décadas do
século 20.
4) A colonização do Brasil foi obra de um duplo projeto. Aponte qual das alter-
nativas seguintes é a correta:
a) Econômico e cultural-religioso.
b) Puramente econômico.
c) Puramente religioso.
d) Puramente cultural.
e) Cultural-religioso e libertador.
Gabarito
Depois de responder às questões autoavaliativas, é impor-
tante que você confira o seu desempenho, a fim de que possa sa-
ber se é preciso retomar o estudo desta unidade. Assim, confira, a
seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas pro-
postas anteriormente:
1) c.
2) b.
3) b.
4) a.