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Texto de divulgação do conhecimento geocientífico.

Elaborado para a Disciplina: Sedimentologia do Curso de Licenciatura em Geociências e Educação


Ambiental do IG-USP.
Público-alvo: alunos do Ensino Médio.
Autor: Rodrigo Pelegrin Ribeiro rodrigopelegrin@gmail.com

Quem tem medo de Estromatólito??

Você sabe o que são estromatólitos? Não! Não tem nem idéia?
Não, não estou xingando você e nem ninguém da sua família...
Apesar desse nome esquisito e complicado os estromatólitos são formas de vida muito simples que
surgiram há muitos e muitos anos quando nosso planeta era bem mais jovem.
Embora fossem abundantes nos oceanos do Pré-Cambriano, estromatólitos são raros nos oceanos
modernos. Ah! Desculpe-me... Esqueci de explicar o que significa um oceano Pré-Cambriano! Bom, acho
que é justamente aí que os desconhecidos estromatólitos mostram sua importância. Fala-se muito sobre a
História da Terra e das grandes mudanças sofridas pelo nosso querido planeta durante esses bilhões de
anos, mas, com exceção dos enormes e famosos dinossauros, são poucas as coisas do dia a dia que nos
permitem conhecer um pouco dessa história.
Os Estromatólitos são mais interessantes do que os próprios “Dinos” porque além de terem uma história
ainda mais antiga do que a dos lagartões (que devem ter aparecido por aqui há mais ou menos 130
milhões de anos atrás) não estão completamente extintos!! É isso mesmo! Os Estromatólitos podem ser
considerados verdadeiros “fósseis-vivos” e é provável que seus antepassados mais antigos tenham surgido
por aqui há mais de três bilhões e meio de anos atrás!! E aí eu volto pro começo da explicação do Pré-
Cambriano. O longo período de existência da Terra, e dos organismos que nela vivem, pode ser
grosseiramente dividido em duas fases. Uma maior, que vai do início da formação da Terra até cerca de
uns 500 milhões de anos atrás e outra fase mais recente, que compreende vários períodos e épocas
estendendo-se até os dias de hoje. Como o primeiro período da segunda fase, aquele que teve início há
500 milhões de anos atrás, tem o nome de Período Cambriano é comum chamarmos qualquer data
anterior àquela de Pré-Cambriana.
É difícil compreender claramente a escala de grandeza do tempo geológico. Imagine que toda a História
da Terra, do seu surgimento até os dias de hoje, acontecesse em apenas um ano. Isso mesmo! Apenas 365
dias! Nesse caso, um pouco mais de onze meses e meio do ano corresponderiam ao que chamamos de
Pré-Cambriano e apenas no dia 18 de novembro teria início o Período Cambriano. Dentro dessa mesma
idéia poderíamos imaginar que os Dinossauros apareceriam por volta do dia 13 de dezembro e duas
semanas depois (26/12) já estariam extintos!! E o que falar do Homem moderno então... Nossa espécie
passou a fazer parte dessa história apenas no último dia do ano! E no final da tarde!! Realmente somos
caçulinhas nessa História...
Agora procure se lembrar um pouco das suas aulas de Biologia, aquelas em que o professor teima em
repetir insistentemente aquele monte de nomes chatos e complicados!! Lembrou? Claro que sim! Afinal
você deve ser um daqueles que vive reclamando que a Biologia até que seria legal se não tivesse tanto
nome pra “decorar”, não é mesmo?
Acertei? Então antes de te explicar o que são os estromatólitos vou te dar uma dica! E aproveita que é de
graça!! Hehehe... Deixe a decoreba pra lá!!!! Tem maneiras muito mais legais de aprender sobre a vida do
que simplesmente passar horas memorizando nomes que sumirão da sua cabeça assim que você terminar
a prova!! Isso quando eles não somem da cabeça na hora da prova!!! Ou você nunca passou pela sensação
do “branco total”, justo na hora que você mais precisava de sua memória?
Pois bem, então você precisa ter em mente que se a idéia de uma origem única para a vida na Terra é
verdadeira e confiável, as primeiras formas de vida devem ter sido organismos bastante simples. Se as
formas de vida atuais, que compartilham características como a organização celular e o metabolismo
próprio, são em sua grande maioria formadas por células do tipo eucarionte (aquelas que tem uma
membrana ao redor do material genético, formando um núcleo definido!), então o grupo das bactérias
com suas células sem núcleo definido constituem um grupo biologicamente primitivo quando comparado
a todos os outros. O próprio registro fóssil ajuda a confirmar essa hipótese. A partir de técnicas bastante
sofisticadas os cientistas conseguem estimar a idade de muitas rochas e também dos organismos nelas
encontrados. Imagine se encontrássemos em uma Lagoa de água salgada formações rochosas muito
antigas e junto com elas formas primitivas de vida, em forma de colunas com pequenos “capacetes” por
cima. Olhando com mais atenção para esses pequenos seres poderíamos descobrir que as tais colunas
formaram-se através da atividade metabólica de organismos unicelulares, especialmente as algas azul-
esverdeadas ou cianobactérias que, utilizando-se dos cristais de sal dissolvidos na água, produziam um
material que endurecia ao ser liberado no ambiente e formava as tais colunas que podemos ver hoje em
lugares como Shark Bay (Austrália), Solar Lake (Israel ), Salt Lake (EUA), Ilha de Hai-Nan (China) e
Golfo do México, entre outros.
Mas você não precisa ir até esses lugares distantes para observar esses curiosos organismos pré-
históricos! Eles podem ser encontrados e observados aqui mesmo no Brasil, por exemplo na localidade de
Lagoa Salgada, no município de Campos, estado do Rio de Janeiro.
Essa localidade não é a única no Brasil com registro da presença de estromatólitos, mas é particularmente
importante porque nela as algas formadoras das colunas de carbonato encontram-se em plena atividade!!
Isso mesmo! Essa pequena lagoa abriga a única ocorrência de estromatólitos recentes do Brasil e,
provavelmente, também da América do Sul...
Não é incrível? É quase como viajar no tempo para observar os primeiros organismos que habitaram o
nosso planeta. E tudo isso a menos de 600 quilômetros da gente!
Agora você está pronto pra dar um “show” de conhecimento e desafiar os seus amigos a dizerem quais
são os organismos mais antigos que eles conhecem. Aposto que alguns encherão a boca pra falar dos
“jovens dinossauros” e aí você vai poder mostrar a eles que apesar de pequeninos, os estromatólitos são
sobreviventes de tempos remotos onde nem nós e nem os dinossauros sequer pensávamos em existir!!

Figura 1 - Estromatólitos recentes


na borda oeste da Lagoa Salgada.

Figura 2 – corte de um estromatólito,


mostrando a disposição em colunas.

Fonte: http://www.unb.br/ig/sigep/sitio041/sitio041.htm

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