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CADÊNCIAS NA MÚSICA TONAL

Cadência musical é um processo que combina principalmente elementos


melódicos, harmônicos e rítmicos característicos, proporcionando ao ouvinte a
sensação de finalização de uma frase ou seção musical. O ritmo das cadências se
organiza através da diminuição dos valores das figuras e uma simplificação do
contraponto naquele momento.

As cadências nos sugerem, por exemplo, se a peça vai continuar, ou não, a


partir daquele ponto. É através das cadências que identificamos ou confirmamos a
tonalidade de um trecho musical (quando se trata de música tonal).

Há duas categorias gerais de cadências:

1. Cadências conclusivas: são as que terminam no acorde de tônica em estado


fundamental.

2. Cadências suspensivas: são as que não finalizam no acorde de tônica, ou


com a tônica em primeira inversão, e, portanto, não geram a sensação de finalização
no trecho musical.

1. Cadências Conclusivas:

1.1 Cadência Autêntica Perfeita (CAP): é a cadência típica de finalização de uma


peça musical, caracterizada pela sequência V-I (Dominante – Tônica) precedidos
tradicionalmente por um acorde de subdominante (ii ou IV). Rameau disse, em seu
Tratado de Harmonia (1722): ‘’A cadência perfeita é certa maneira de terminar o fluxo
musical tão satisfatória que após ela não desejamos mais nada’’.

Abaixo, estão exemplos de cadências perfeitas.

Ex. 1 – Cadência Autêntica Perfeita: Credo, c. 109 – 117, Missa a 4 vozes a cappella – Claudio Monteverdi
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Ex. 2 – Cadência Autêntica Perfeita: Asa Branca - Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira

1.2 Cadência Plagal (CPl): É a cadência que como o próprio nome diz, remete
aos modos eclesiásticos da música modal. O movimento harmônico, nesse caso, tem
caráter sucessivo, pois se realiza através de movimentos fracos entre fundamentais de
acordes (5ªJ ascendente ou 4ªJ descendente). Esta cadência é realizada pelo
encadeamento de acordes: IV – I (Subdominante – Tônica).

Ex. 3 - Cadência Plagal: Sicut Cervus, c. 55-58, Giovanni Pierluigi da Palestrina


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Ex. 4 Cadência Plagal: Yesterday – The Beatles

2. Cadências Suspensivas:

2.1 Cadência de Engano ou Cadência Deceptiva (CdE): é aquela que não resolve
com o acorde esperado conforme o contexto que foi gerado naquele momento. As
progressões harmônicas mais típicas são: V-vi, nas tonalidades maiores, e V-VI, nas
tonalidades menores.

Normalmente, a Cadência de Engano ocorre próximo ao final de uma peça ou


de uma seção importante, o que gera a necessidade de mais uma frase completa para
finalizar a música no acorde de tônica e produz uma quebra da simetria frasal.

Ex. 5 – Cadência deceptiva: Andante molto, c. 1-8. 2° mov. Sonata D. 568 para piano – Franz Schubert
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A Cadência Deceptiva também pode ocorrer para finalizar uma seção


intermediária da música, geralmente finaliza uma parte com menor importância
temática.

Ex. 6 Cadência Deceptiva: Andante molto, c. 20-27. 2° mov. Sonata para piano D. 568 – Franz Schubert

Ex. 7 – Cadência de engano: Quando o carnaval chegar, c.1-8 – Francisco Buarque de Holanda
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2.2 Cadência à Dominante (CàD): é aquela em que o momento final da frase


musical é apoiado sobre o acorde de dominante. Também denominada como Meia-
Cadência, Semicadência ou Cadência Interrompida.

Há várias formas de conduzir até a Cadência à Dominante. Frequentemente, os


acordes mais comuns que preparam esta cadência são o IV ou o ii, também pode
ocorrer com a Dominante da Dominante (V/V).

Os encadeamentos mais comuns para a Semicadência são estes:

Tonalidades maiores:

 IV – V (|Subdominante – Dominante)

 ii – V (Subdominante relativa – Dominante)

 V/V – V (Dominante da dominante – Dominante)

Tonalidades menores:

 iv – V (|Subdominante – Dominante)

 VI – V (Subdominante Relativa – Dominante)

 V/V – V (Dominante da dominante – Dominante)

Ex. 8 – Cadência à Dominante: Sarabanda, Sonata Op. 8 para violino – Arcangelo Corelli
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Ex. 9 – Cadência à Dominante: João e Maria – Francisco Buarque de Holanda

2.3 Cadência Imperfeita (CI): é a cadência em que os acordes são encadeados


da mesma forma que na Cadência Autêntica Perfeita, com a diferença de que o acorde
de Tônica é usado em 1ª inversão (V-I6), diminuindo a força de resolução da mesma. O
que produz um sentido incompleto, na finalização, semelhante ao que ocorre na
Cadência Deceptiva. Por esta razão, também é uma cadência muito empregada
próximo ao final de uma peça ou seção para gerar a necessidade de mais uma frase, de
caráter conclusivo, para concluir a música.
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Ex. 10 – Cadência Imperfeita: Allegro, Eine Kleine Nachtmusik K.525 – Wolfgang Amadeus Mozart

Na Cadência Imperfeita, muitas vezes, o acorde de Dominante que precede a


tônica, também está invertido para produzir um efeito ainda mais incompleto, pois, na
tradição da música tonal, uma conclusão se dá através do movimento forte entre as
fundamentais dos acordes de Dominante e Tônica, no baixo, através de um salto de 5ªJ
descendente ou de 4ªJ ascendente no registro grave.
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Ex. 11 – Cadência Imperfeita: Prelúdio, suíte BWV 996 para alaúde – Johann Sebastian Bach

Alguns autores atuais consideram como sendo Imperfeita qualquer cadência


realizada com o encadeamento dos acordes de Dominante – Tônica, em que não há o
salto característico de finalização (5ªJ descendente ou de 4ªJ ascendente) no baixo.

Por isso, com o tempo houve certa ampliação da noção tradicional de Cadência
Imperfeita como sendo realizada apenas através do movimento V – I6.

Atualmente, considera-se como sendo uma Cadência Imperfeita qualquer


movimento entre a Dominante e a Tônica em que não ocorre um salto de 5ªJ ou 4ªJ no
baixo; o V grau pode ser substituído por outro acorde com função de dominante.

Abaixo, estão algumas possibilidades de Cadência Imperfeita:

 V – I6 (em Dó Maior: G – C/E)


 V6 – I (em Dó Maior: G/B – C)
 V43 – I6 (em Dó Maior: G7/D – C)
 V2 – I6 (em Dó Maior: G/F – C/E)
 viiº – I (em Dó Maior: Bm(b5) – C)
 viiº7 – I (em Dó Maior: Bº – C)
 SubV7 – I (em Dó Maior: Db7 – C)
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Em certos gêneros musicais, como o Jazz e a Bossa Nova, estas três últimas cadências
podem ser consideradas conclusivas. Por isso, sugere-se que o acorde de tônica esteja
invertido.

 viiº – I6 (em Dó Maior: Bm(b5) – C/E)


 viiº43 – I6 (em Dó Maior: Fº – C/E)
 viiº43 – I64 (em Dó Maior: Fº – C/G)
 Sub V65 – I6 (em Dó Maior: Db7/F – C/E)

Ex. 12 – Cadência imperfeita: Sampa – Caetano Veloso

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