Instituto de Ciência Política (IPOL) Universidade de Brasília (UnB) Sumário Evolução do Conceito de Democracia A Democracia Grega A Democracia Européia nos Séculos XVIII e XIX A Democracia de Massas no Século XX O Esgotamento do Modelo Representativo Novas Alternativas: – A Democracia participativa – A Democracia via Internet Evolução do Conceito de Democracia Para os gregos, o Estado não era uma abstração, mas uma realidade palpável. A cidade não era um produto da razão; era, isto sim, um povo, um conjunto de cidadãos, dotados de inabalável consciência social e de zelo pela tradição.
O ateniense via na participação da vida pública o supremo bem a
ser almejado por um homem.
A cidadania era o grande objetivo do ateniense, pois, além de lhe
assegurar a participação afetiva na vida pública, lhe garantia os direitos subjetivos.
Já se disse que a maioria dos ideais políticos modernos - justiça,
liberdade, governo constitucional - surgiu na antiga Grécia.
Foram os gregos os primeiros a lançar as sementes da idéia
democrática, sementes que foram conservadas pelos filósofos da Idade Média e que frutificaram na modernidade.
É esta evolução que veremos a seguir
A Democracia Grega Jaguaribe afirma que um dos traços mais marcantes da cultura Política grega é o conceito de cidadania;
Esse fato, segundo ele, define a vinculação da pessoa
a uma determinada pólis por laços de família e estabelece a permanente obrigação de defesa da cidade e da contribuição para o seu bem geral e o direito de opinar sobre os seus destinos;
Nesse sentido, todas as cidades gregas podem ser
consideradas democráticas, ainda que com variações, em função da participação dos cidadãos. A Participação dos Cidadãos
Apesar de estimular a participação, a sociedade
grega premiava também o mérito;
Os ‘melhores’ eram aqueles que tinham mais
capacidades ou virtudes, que poderiam ser herdadas dos pais ou adquiridas pela educação;
No plano funcional, os serviços públicos deveriam
ser prestados pelos melhores cidadãos, ou seja, os mais qualificados, de forma não-remuneradas. As Classes Populares As Classes Populares foram sendo admitidas aos poucos no serviço militar e para as funções cívicas;
As famosas Reformas de Péricles não foram nada mais do que
a incorporação da totalidade dos cidadãos ao processo decisório e aos tribunais;
Paralelamente, incluiu-se uma remuneração para a prestação
dos serviços cívicos;
Mesmo nas Pólis que se mantiveram oligárquicas, foram
criados processos pelos quais os cidadãos comuns podiam expressar sas opiniões sobre as decisões públicas.
Havia o sistema do ostracismo, criado para punir políticos.
As Liberdades Benjamim Constant destacou a importante diferença entre as Liberdades antigas e as modernas.
Nas cidades-estados greco-romanas, praticava-se um civismo
voluntário, no qual os homens livres partilhavam as atividades públicas e o próprio poder, recorrendo às assembléias e comícios.
Para Constant, a característica mais significativa da liberdade
moderna era que os indivíduos não podiam ser obrigados a afazer nada que não desejassem, almejavam ser deixados em paz e sendo-lhes indiferente em geral o chamado cívico à participação.
Usufruir da liberdade pessoal, bem como da independência
financeira conquistada, sem qualquer tipo de constrangimento ou coação social, era a sua maior ambição.
Nota-se , portanto, que na democracia grega a idéia de
representação não existia, sendo os direitos individuais , entre os quais se inclui a liberdade- eram inalienáveis a um ‘representante’. A Democracia Européia nos Séculos XVIII e XIX A importância de Hobbes (1588-1689), de Locke (1632-1704) e de Stuart Mill (1806-1873), são inegáveis para a democracia moderna;
Com Hobbes, temos o desenvolvimento do conceito de Representação.
Muito embora o conteúdo de seu Pacto seja autoritário, o Soberano Absoluto de Hobbes ‘representa’ os seus súditos, que abriram mão de suas liberdades em troca de segurança;
Com Locke, ao contrário de Hobbes, os direitos individuais são mantidos
pelos próprios cidadãos, e apenas abrem mão do direito de fazer justiça por si mesmos, para o Soberano. Assim, os indivíduos preservam seus Direitos Naturais, entre os quais se inclui o de liberdade;
No caso de Stuart Mill, ele enfatiza a diferença entre liberdades individuais e
liberdades públicas - ao contrário de Rousseau, que vai insistir muito na idéia de uma Vontade Geral. Stuart Mill defender, então, o sistema de eleição proporcional (P.R.) para se obter o Governo Representativo surgindo o conceito de Sistema Político. É a derrota da Vontade Geral de Rousseau. Sistema Político: Conceito e Funções
Conceito: conjunto de instituições, grupos e processos
políticos caracterizados por um certo grau de interdependência recíproca que tem o Estado e a Sociedade Civil como eixo de sua existência.
Funções Principais:
Levar as vontades (e não ‘A Vontade Geral’, e as demandas
da Sociedade Civil ao Estado, pelos ‘Representantes’, criando-se o ‘Governo Representativo’ de Mill Dar Retorno (‘feedback’) das Demandas que chegam ao sistema político Permitir a troca (ou saída) dos grupos que estão no poder pacificamente. Condições para o Funcionamento do ‘Governo Representativo’ (Mill)
Liberdade de Criação de Associações
Liberdade de Expressão e Comunicação
Eleições Livres e Competitivas
Existência de Partidos Políticos
Estabelecimento de um Sistema Eleitoral
(Proporcional, Majoritário ou Misto). Funções dos Partidos Políticos ‘La Palombara’ Eleger os ‘Representantes’, os quais , por sua vez, representarão a sociedade civil Recrutar e Socializar as lideranças Políticas; Criar uma sentimento de ‘identidade’; Permitir a Participação dos Diversos Grupos Sociais no Sistema Político; Comunicação (Troca de Informações); Publicidade; Educação; Fiscalização e Supervisão (‘Sentinela’); Apresentação de Alternativas ao Governo; Agregar interesse diversos de Grupos de Pressão; Defender interesses Difusos da Sociedade Civil; Tribunícia (denúncia). A Democracia de Massas no Século XX (Joel Frederico da Silveira)
As relações entre atores e instituições políticas passa a ser
mediadas por um novo ator, que são os meios de comunicação de massas e a opinião pública, qe acabam por se revelar de grande complexidade.
Os meios audiovisuais de comunicação tendem a constituir-se para
o público como as principais fontes de informação sobre a política, gerando estratégias de conflito entre atores políticos e jornalistas no que respeita ao controlo da ordenação dos acontecimentos e seleção dos que são considerados como relevantes.
Nesse contexto, e tendo em consideração a concorrência entre os
diferentes canais audiovisuais, o recurso à dramatização e personalização dos fenômenos políticos na construção das notícias tende a combinar informação com divertimento.
É neste contexto que se situa um importante debate sobre novas
formas de deslegitimação dos sistemas políticos e com especial ênfase na velha questão da crise dos sistemas de representação próprios às democracias liberais. O Esgotamento do Modelo Representativo O declínio dos parlamentos, ou o esgotamento da democracia representativa, face às exigências contemporâneas da participação – reflete uma valorização da cidadania.
Os parlamentos e os Partidos sofrem de uma crise que afeta a sua
participação no processo das decisões sociais, a sua legitimidade e, até mesmo, em circunstâncias limite, a sua institucionalidade.
Quanto à à crise do Parlamento, pode-se perceber, que a função
legislativa, que é o cerne da sua justificação, sofre o duplo assédio: do poder legisferante do Executivo, em bases concorrenciais e, até mesmo, privilegiadas; e dos processos alternativos de articulação e normatização sociais, em muitos casos promovidos pelo Executivo, em outras circunstâncias auto-centrados, como manifestações da emergência de uma nova sociedade civil.
Há um conflito entre o conceito tradicional de sociedade civil como
o somatório dos interesses privados em conflito, e o novo conceito da sociedade civil como uma dimensão alternativa de explicitação do interesse público e da sua estruturação em bases comunitárias ou, mesmo, corporativas - ou seja não-estatais O Esgotamento do Modelo Representativo Surge um conflito entre democracia representativa x democracia direta, democracia parlamentar x democracia participativa, permeando, de uma forma mais densa de implicações, o fenômeno contemporâneo do corporativismo de Estado, que erode as bases da concepção tradicional do Estado democrático de direito;
O Estado passa a atuar como uma corporação, privilegiando os
interesses próprios e a sobrevivência dos respectivos agentes ao interesse coletivo e à realização da sua finalidade política;
O pressuposto básico da democracia liberal, que vê no Estado um
ente capaz de realizar o interesse público, fica comprometida.
Ao longo de todo o projeto da modernidade essa contradição
manteve-se latente, alimentando, no entanto, o conflito manifesto entre as razões de Estado e os direitos da cidadania.
Ideologicamente criou-se a disputa coletivismo x liberalismo, cujo
antagonismo permitiu avançar definições importantes da política democrática, mas tem-nos conduzido a distorções graves no processo da sua institucionalização. Novas Alternativas: A Democracia participativa
A democracia participativa poderá fazer a transição do declínio da
democracia representativa dos parlamentos para a instantânea e eficaz e legitimante aplicação dos mecanismos plebiscitários da Constituição, instaurando assim, em definitivo, as bases democráticas do poder.
Com a Crise de Legitimidade dos Partidos Políticos, os defensores
da democracia participativa buscam criar novos espaços de discussão e participação para a sociedade civil.
Suas inspirações de contratualismo e soberania são baseados na
Vontade Geral de Rousseau.
O desafio é que o nosso Governo Representativo de Stuart Mill não
quer dar lugar à Democracia Participativa. Novas Alternativas: A Democracia via Internet (José Magalhães - O enigma da democracia eletrónica) Na transição para o séc. XXI, o debate sobre o advento das democracias eletrónicas tem tido o estatuto de um filho de um Deus menor.
Muito longe do centro das polémicas dominantes sobre a reforma dos
sistemas políticos, a «democracia electrónica» tem sido vista por uns como utopia redentora e por outros como «pesadelo climatizado», susceptível de vibrar o golpe mortal no modelo político hoje dominante a nível mundial.
Posta perante esta nova bipolarização, a matriz democrática que venceu o
embate do século contra as «democracias populares» parece hoje perplexa e sem estratégia segura para o futuro digital.
As sociedades da informação do futuro parecem condenadas a nascer com
pecado original de ciberanalfabetismo. Instituições ainda afeitas à era Gutenberg assistem a um espantoso galope de tratados e acordos internacionais, directivas, leis, resoluções e outros instrumentos reguladores de questões consideradas de tecnicidade «impenetrável» (estatudo do chip, protocolos criptográficos, implicações da disseminação de gravações musicais em MP3). Novas Alternativas: A Democracia via Internet (José Magalhães)
Perfila-se assim o risco de que decisões relevantes para a renovação da
política sejam tomadas não apenas sem transparência, mas à margem das instituições ou tomadas erradamente. Por outro lado, a explosão das redes electrónicas, não acarreta automaticamente inovações positivas: não deve subestimar-se o risco real de ditaduras electrónicas ou do resvalar de democracias para estádios de sobre-vigilância liberticida, nem podem esquecer-se os perigos de agravamento do fosso mundial entre «países online» e «países offline». Existem, porém, factores favoráveis à mudança. A comunicação instantânea e interactiva pode propiciar o advento de uma cidadania digital sem fronteiras, facultar instituições internacionais e administrações públicas mais transparentes e abrir caminho à reinvenção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, com mais e melhores garantias de velhos direitos, acrescidos de novas liberdades outrora impensáveis.
Na era da globalização, não se divisa no horizonte qualquer metamorfose
gloriosa e súbita do nosso contentamento descontente, nem as nossas democracias podem continuar a ser democracias sem um «suplemento electrónico». Como pode ser obtido à escala nacional e mundial? Funções do Cyber Espace na Democracia Digital Eleger os ‘Representantes’ (‘urna eletrônica’). Consultar a População com Referendos;
Criar uma sentimento de ‘identidade’ (os Grupos de Orkut);
Permitir a Participação de todos no Sistema Político (Quem não
tem um PC pode ir a um Cyber Café);
Comunicação (Troca de Informações), Educação e Publicidade;
Fiscalização e Supervisão (‘Sentinela’. ex.: Contas Abertas);
Defender interesses Difusos da Sociedade Civil e Apresentar de
Alternativas ao Governo;
Fazer Denúncias (Função Tribunícia)
Vantagens da ‘Democracia Digital’ sobre os Partidos Políticos Maior Credibilidade que os Partidos
Não é dominada por Oligarquias Corruptas como os Partidos
Permite o aumento da Comunicação
Cria um novo ‘Locus’ de Comunicação e Participação neutro;
Facilitar o acesso dos cidadãos ao sistema Político
Reduz os custos das Campanhas
Permite a realização de referendo (e mesmo eleições , como
nos Países Baixos) com baixíssomo custo. Conclusão As TICs e a Democracia Digital permitem a concretização dos sonho de Rousseau de uma Democracia Participativa
As TICs e a Democracia Digital permitirão que, no futuro, as
eleições e as campanhas sejam feitas pela internet;
As TICs e a Democracia Digital permitem que a crise de
legitimidade pela qual passam as democracias representativas e os Partidos seja superada com a utilização cada vez maior de decisões em tempo real.
A Democracia Digital retomo o ideal grego de participação de
cada cidadão nas Praças Públicas:O Cyberspace é a nova praça pública do século XXI.