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A Evolução da Democracia

e a Democracia Digital

Prof. Ricardo Caldas


Instituto de Ciência Política (IPOL)
Universidade de Brasília (UnB)
Sumário
 Evolução do Conceito de Democracia
 A Democracia Grega
 A Democracia Européia nos Séculos XVIII e
XIX
 A Democracia de Massas no Século XX
 O Esgotamento do Modelo Representativo
 Novas Alternativas:
– A Democracia participativa
– A Democracia via Internet
Evolução do Conceito de Democracia
 Para os gregos, o Estado não era uma abstração, mas uma realidade
palpável. A cidade não era um produto da razão; era, isto sim, um
povo, um conjunto de cidadãos, dotados de inabalável consciência
social e de zelo pela tradição.

 O ateniense via na participação da vida pública o supremo bem a


ser almejado por um homem.

 A cidadania era o grande objetivo do ateniense, pois, além de lhe


assegurar a participação afetiva na vida pública, lhe garantia os
direitos subjetivos.

 Já se disse que a maioria dos ideais políticos modernos - justiça,


liberdade, governo constitucional - surgiu na antiga Grécia.

 Foram os gregos os primeiros a lançar as sementes da idéia


democrática, sementes que foram conservadas pelos filósofos da
Idade Média e que frutificaram na modernidade.

 É esta evolução que veremos a seguir


A Democracia Grega
 Jaguaribe afirma que um dos traços mais marcantes
da cultura Política grega é o conceito de cidadania;

 Esse fato, segundo ele, define a vinculação da pessoa


a uma determinada pólis por laços de família e
estabelece a permanente obrigação de defesa da
cidade e da contribuição para o seu bem geral e o
direito de opinar sobre os seus destinos;

 Nesse sentido, todas as cidades gregas podem ser


consideradas democráticas, ainda que com variações,
em função da participação dos cidadãos.
A Participação dos Cidadãos

 Apesar de estimular a participação, a sociedade


grega premiava também o mérito;

 Os ‘melhores’ eram aqueles que tinham mais


capacidades ou virtudes, que poderiam ser herdadas
dos pais ou adquiridas pela educação;

 No plano funcional, os serviços públicos deveriam


ser prestados pelos melhores cidadãos, ou seja, os
mais qualificados, de forma não-remuneradas.
As Classes Populares
 As Classes Populares foram sendo admitidas aos poucos no
serviço militar e para as funções cívicas;

 As famosas Reformas de Péricles não foram nada mais do que


a incorporação da totalidade dos cidadãos ao processo
decisório e aos tribunais;

 Paralelamente, incluiu-se uma remuneração para a prestação


dos serviços cívicos;

 Mesmo nas Pólis que se mantiveram oligárquicas, foram


criados processos pelos quais os cidadãos comuns podiam
expressar sas opiniões sobre as decisões públicas.

 Havia o sistema do ostracismo, criado para punir políticos.


As Liberdades
 Benjamim Constant destacou a importante diferença entre as
Liberdades antigas e as modernas.

 Nas cidades-estados greco-romanas, praticava-se um civismo


voluntário, no qual os homens livres partilhavam as atividades
públicas e o próprio poder, recorrendo às assembléias e comícios.

 Para Constant, a característica mais significativa da liberdade


moderna era que os indivíduos não podiam ser obrigados a afazer
nada que não desejassem, almejavam ser deixados em paz e
sendo-lhes indiferente em geral o chamado cívico à participação.

 Usufruir da liberdade pessoal, bem como da independência


financeira conquistada, sem qualquer tipo de constrangimento ou
coação social, era a sua maior ambição.

 Nota-se , portanto, que na democracia grega a idéia de


representação não existia, sendo os direitos individuais , entre os
quais se inclui a liberdade- eram inalienáveis a um ‘representante’.
A Democracia Européia
nos Séculos XVIII e XIX
 A importância de Hobbes (1588-1689), de Locke (1632-1704) e de Stuart
Mill (1806-1873), são inegáveis para a democracia moderna;

 Com Hobbes, temos o desenvolvimento do conceito de Representação.


Muito embora o conteúdo de seu Pacto seja autoritário, o Soberano
Absoluto de Hobbes ‘representa’ os seus súditos, que abriram mão de suas
liberdades em troca de segurança;

 Com Locke, ao contrário de Hobbes, os direitos individuais são mantidos


pelos próprios cidadãos, e apenas abrem mão do direito de fazer justiça por
si mesmos, para o Soberano. Assim, os indivíduos preservam seus Direitos
Naturais, entre os quais se inclui o de liberdade;

 No caso de Stuart Mill, ele enfatiza a diferença entre liberdades individuais e


liberdades públicas - ao contrário de Rousseau, que vai insistir muito na
idéia de uma Vontade Geral. Stuart Mill defender, então, o sistema de
eleição proporcional (P.R.) para se obter o Governo Representativo surgindo
o conceito de Sistema Político. É a derrota da Vontade Geral de Rousseau.
Sistema Político:
Conceito e Funções

 Conceito: conjunto de instituições, grupos e processos


políticos caracterizados por um certo grau de
interdependência recíproca que tem o Estado e a Sociedade
Civil como eixo de sua existência.

 Funções Principais:

 Levar as vontades (e não ‘A Vontade Geral’, e as demandas


da Sociedade Civil ao Estado, pelos ‘Representantes’,
criando-se o ‘Governo Representativo’ de Mill
 Dar Retorno (‘feedback’) das Demandas que chegam ao
sistema político
 Permitir a troca (ou saída) dos grupos que estão no poder
pacificamente.
Condições para o Funcionamento
do ‘Governo Representativo’ (Mill)

 Liberdade de Criação de Associações

 Liberdade de Expressão e Comunicação

 Eleições Livres e Competitivas

 Existência de Partidos Políticos

 Estabelecimento de um Sistema Eleitoral


(Proporcional, Majoritário ou Misto).
Funções dos Partidos Políticos
‘La Palombara’
 Eleger os ‘Representantes’, os quais , por sua vez,
representarão a sociedade civil
 Recrutar e Socializar as lideranças Políticas;
 Criar uma sentimento de ‘identidade’;
 Permitir a Participação dos Diversos Grupos Sociais no Sistema
Político;
 Comunicação (Troca de Informações);
 Publicidade;
 Educação;
 Fiscalização e Supervisão (‘Sentinela’);
 Apresentação de Alternativas ao Governo;
 Agregar interesse diversos de Grupos de Pressão;
 Defender interesses Difusos da Sociedade Civil;
 Tribunícia (denúncia).
A Democracia de Massas no Século XX
(Joel Frederico da Silveira)

 As relações entre atores e instituições políticas passa a ser


mediadas por um novo ator, que são os meios de comunicação de
massas e a opinião pública, qe acabam por se revelar de grande
complexidade.

 Os meios audiovisuais de comunicação tendem a constituir-se para


o público como as principais fontes de informação sobre a política,
gerando estratégias de conflito entre atores políticos e jornalistas
no que respeita ao controlo da ordenação dos acontecimentos e
seleção dos que são considerados como relevantes.

 Nesse contexto, e tendo em consideração a concorrência entre os


diferentes canais audiovisuais, o recurso à dramatização e
personalização dos fenômenos políticos na construção das notícias
tende a combinar informação com divertimento.

 É neste contexto que se situa um importante debate sobre novas


formas de deslegitimação dos sistemas políticos e com especial
ênfase na velha questão da crise dos sistemas de representação
próprios às democracias liberais.
O Esgotamento do Modelo Representativo
 O declínio dos parlamentos, ou o esgotamento da democracia
representativa, face às exigências contemporâneas da participação
– reflete uma valorização da cidadania.

 Os parlamentos e os Partidos sofrem de uma crise que afeta a sua


participação no processo das decisões sociais, a sua legitimidade e,
até mesmo, em circunstâncias limite, a sua institucionalidade.

 Quanto à à crise do Parlamento, pode-se perceber, que a função


legislativa, que é o cerne da sua justificação, sofre o duplo assédio:
do poder legisferante do Executivo, em bases concorrenciais e, até
mesmo, privilegiadas; e dos processos alternativos de articulação e
normatização sociais, em muitos casos promovidos pelo Executivo,
em outras circunstâncias auto-centrados, como manifestações da
emergência de uma nova sociedade civil.

 Há um conflito entre o conceito tradicional de sociedade civil como


o somatório dos interesses privados em conflito, e o novo conceito
da sociedade civil como uma dimensão alternativa de explicitação
do interesse público e da sua estruturação em bases comunitárias
ou, mesmo, corporativas - ou seja não-estatais   
O Esgotamento do Modelo Representativo
 Surge um conflito entre democracia representativa x democracia
direta, democracia parlamentar x democracia participativa,
permeando, de uma forma mais densa de implicações, o fenômeno
contemporâneo do corporativismo de Estado, que erode as bases
da concepção tradicional do Estado democrático de direito;

 O Estado passa a atuar como uma corporação, privilegiando os


interesses próprios e a sobrevivência dos respectivos agentes ao
interesse coletivo e à realização da sua finalidade política;

 O pressuposto básico da democracia liberal, que vê no Estado um


ente capaz de realizar o interesse público, fica comprometida.

 Ao longo de todo o projeto da modernidade essa contradição


manteve-se latente, alimentando, no entanto, o conflito manifesto
entre as razões de Estado e os direitos da cidadania.

 Ideologicamente criou-se a disputa coletivismo x liberalismo, cujo


antagonismo permitiu avançar definições importantes da política
democrática, mas tem-nos conduzido a distorções graves no
processo da sua institucionalização.
Novas Alternativas:
A Democracia participativa

 A democracia participativa poderá fazer a transição do declínio da


democracia representativa dos parlamentos para a instantânea e
eficaz e legitimante aplicação dos mecanismos plebiscitários da
Constituição, instaurando assim, em definitivo, as bases
democráticas do poder. 

 Com a Crise de Legitimidade dos Partidos Políticos, os defensores


da democracia participativa buscam criar novos espaços de
discussão e participação para a sociedade civil.

 Suas inspirações de contratualismo e soberania são baseados na


Vontade Geral de Rousseau.

 O desafio é que o nosso Governo Representativo de Stuart Mill não


quer dar lugar à Democracia Participativa.
Novas Alternativas: A Democracia via Internet
(José Magalhães - O enigma da democracia eletrónica)
 Na transição para o séc. XXI, o debate sobre o advento das democracias
eletrónicas tem tido o estatuto de um filho de um Deus menor.

 Muito longe do centro das polémicas dominantes sobre a reforma dos


sistemas políticos, a «democracia electrónica» tem sido vista por uns
como utopia redentora e por outros como «pesadelo climatizado»,
susceptível de vibrar o golpe mortal no modelo político hoje dominante a
nível mundial.

 Posta perante esta nova bipolarização, a matriz democrática que venceu o


embate do século contra as «democracias populares» parece hoje
perplexa e sem estratégia segura para o futuro digital.

 As sociedades da informação do futuro parecem condenadas a nascer com


pecado original de ciberanalfabetismo. Instituições ainda afeitas à era
Gutenberg assistem a um espantoso galope de tratados e acordos
internacionais, directivas, leis, resoluções e outros instrumentos
reguladores de questões consideradas de tecnicidade
«impenetrável» (estatudo do chip, protocolos criptográficos, implicações
da disseminação de gravações musicais em MP3).
Novas Alternativas: A Democracia via Internet
(José Magalhães)

 Perfila-se assim o risco de que decisões relevantes para a renovação da


política sejam tomadas não apenas sem transparência, mas à margem das
instituições ou tomadas erradamente. Por outro lado, a explosão das redes
electrónicas, não acarreta automaticamente inovações positivas: não deve
subestimar-se o risco real de ditaduras electrónicas ou do resvalar de
democracias para estádios de sobre-vigilância liberticida, nem podem
esquecer-se os perigos de agravamento do fosso mundial entre «países
online» e «países offline».
 Existem, porém, factores favoráveis à mudança. A comunicação instantânea
e interactiva pode propiciar o advento de uma cidadania digital sem
fronteiras, facultar instituições internacionais e administrações públicas mais
transparentes e abrir caminho à reinvenção da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, com mais e melhores garantias de velhos direitos,
acrescidos de novas liberdades outrora impensáveis.

 Na era da globalização, não se divisa no horizonte qualquer metamorfose


gloriosa e súbita do nosso contentamento descontente, nem as nossas
democracias podem continuar a ser democracias sem um «suplemento
electrónico». Como pode ser obtido à escala nacional e mundial?
Funções do Cyber Espace
na Democracia Digital
 Eleger os ‘Representantes’ (‘urna eletrônica’).

 Consultar a População com Referendos;

 Criar uma sentimento de ‘identidade’ (os Grupos de Orkut);

 Permitir a Participação de todos no Sistema Político (Quem não


tem um PC pode ir a um Cyber Café);

 Comunicação (Troca de Informações), Educação e Publicidade;

 Fiscalização e Supervisão (‘Sentinela’. ex.: Contas Abertas);

 Defender interesses Difusos da Sociedade Civil e Apresentar de


Alternativas ao Governo;

 Fazer Denúncias (Função Tribunícia)


Vantagens da ‘Democracia Digital’
sobre os Partidos Políticos
 Maior Credibilidade que os Partidos

 Não é dominada por Oligarquias Corruptas como os Partidos

 Permite o aumento da Comunicação

 Cria um novo ‘Locus’ de Comunicação e Participação neutro;

 Facilitar o acesso dos cidadãos ao sistema Político

 Reduz os custos das Campanhas

 Permite a realização de referendo (e mesmo eleições , como


nos Países Baixos) com baixíssomo custo.
Conclusão
 As TICs e a Democracia Digital permitem a concretização dos
sonho de Rousseau de uma Democracia Participativa

 As TICs e a Democracia Digital permitirão que, no futuro, as


eleições e as campanhas sejam feitas pela internet;

 As TICs e a Democracia Digital permitem que a crise de


legitimidade pela qual passam as democracias representativas
e os Partidos seja superada com a utilização cada vez maior de
decisões em tempo real.

 A Democracia Digital retomo o ideal grego de participação de


cada cidadão nas Praças Públicas:O Cyberspace é a nova praça
pública do século XXI.

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