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PROJUDI - Processo: 0046378-68.2019.8.16.0182 - Ref. mov. 33.

1 - Assinado digitalmente por Caroline Helvig dos Passos


27/04/2020: PROFERIDA DECISÃO POR JUIZ LEIGO. Arq: Decisão

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJSU5 9C2RF RYABV GP4YU
PODER JUDICIÁRIO
Comarca da Região Metropolitana de Curitiba
8º Juizado Especial Cível do Foro Central

Autos: 0046378-68.2019.8.16.0182
Promoventes: Barbara Falcone e Marcos Roberto
Marques
Promovidos: KLM Cia Real Holandesa de Aviação
e TAM Linhas Aéreas S.A

PROJETO DE SENTENÇA

Dispensado o relatório, nos termos do artigo 38 da Lei


9.099/95.
Afirmam os promoventes terem adquirido passagens
aéreas das promovidas para passeio turístico por diversos países na Europa,
contudo, ocorreram falhas sucessivas na prestação de serviços, tais como: o
extravio temporário de bagagens por culpa da promovida TAM, havendo a
necessidade de comprar roupas e materiais de higiene pessoal; cancelamento
do voo pela KLM, sem qualquer justificativa, não dando opções de embarque
por outras cias e/ou outro meio de transporte, necessitando os autores contatar
de Lisboa a agente de viagens do Brasil para ajudá-los; atraso de voo operado
pela companhia aérea TAM no voo de retorno e perda de conexão sem
auxílio/informações, além da realocação para voo em outro aeroporto sem
quaisquer justificativas, somado a desídia, negligência e extremo descaso das
rés que culminaram com angústia, sofrimento e transtornos. Diante disso,
pretendem a condenação da 2ª promovida ao pagamento de indenização por
danos materiais no importe de R$ 489,10, bem como a condenação solidária das
promovidas ao pagamento de indenização por danos morais no importe de R$
15.000,00, para cada autor.
Rejeito as preliminares arguidas pela promovida Tam
Linhas Aéreas S.A, não há que se falar em inépcia da inicial, pois a falta de
documentos comprobatórios, diz respeito a instrução processual e,
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consequentemente, ao mérito da demanda. Também, não há que se falar em
ilegitimidade passiva, pois a inicial descreve a falha de ambas as promovidas na

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prestação de serviços.

Passo à análise do mérito.

No caso concreto, a parte autora pleiteia reparação por


danos materiais e morais, de modo que a análise de mérito perpassa os preceitos
dispostos nas Convenções e Tratados Internacionais 1 e no Código de Defesa do
Consumidor, respectivamente.
Pois bem. A defesa de mérito rege-se pelos princípios
da impugnação específica e da eventualidade, nos termos do artigo 341 do
Código de Processo Civil.
Cabia, portanto, à parte reclamada contrapor a
narrativa e os documentos trazidos pela parte autora. Porém, não impugnaram
de maneira especificada na peça de defesa os alegados transtornos sofridos,
ante a ausência de reacomodação em voo próximo, perda de conexão, falta de
emissão do documento de extravio temporário das bagagens, ou, ainda, quanto
ao apontado descaso no trato com os clientes.
A KLM afirmou que “...o voo de Lisboa a Amsterdam
necessitou ser cancelado haja vista a verificação de necessidade de nova
manutenção na aeronave que procederia ao transporte”, a Tam por sua vez,
afirmou que a autora não comprova o suposto extravio de bagagem, bem como
que “...o atraso do voo não ocorreu em função da vontade desta Ré, afinal, tal
medida apenas foi necessária diante as alterações realizadas na malha aérea e
por questões de segurança houve o atraso do voo”, deixando de provar fatos
impeditivos, modificativos ou extintivos (art. 373, II, do Código de Processo Civil).
A readequação da malha aérea é fato previsível no
ramo de suas atividades, além disso, é dever das companhias aéreas garantir
que suas aeronaves estejam em perfeitas condições para realizar as viagens
agendadas.
Assim, em que pese afirmar que não tem a obrigação
de indenizar, sorte não lhes socorre.

1
O julgado do STF, ao apreciar o tema 210, de repercussão geral, entendeu que os
Tratados Internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de
passageiros, têm prevalência ao CDC na fixação do valor da condenação por danos
materiais (RE 636331) em casos como o de morte ou lesão, de atraso de voo, dano ou
extravio de bagagem.
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Senão vejamos as disposições da Resolução nº. 400/16
da ANAC, descumpridas pelas empresa aéreas:

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Art. 21. O transportador deverá oferecer as alternativas de
reacomodação, reembolso e execução do serviço por outra
modalidade de transporte, devendo a escolha ser do
passageiro, nos seguintes casos: II -cancelamento de voo ou
interrupção do serviço; (…) IV -perda de voo subsequente pelo
passageiro, nos voos com conexão, inclusive nos casos de troca
de aeroportos, quando a causa da perda for do transportador.

Art. 28. A reacomodação será gratuita, não se sobreporá aos


contratos de transporte já firmados e terá precedência em
relação à celebração de novos contratos de transporte,
devendo ser feita, à escolha do passageiro, nos seguintes
termos: I - em voo próprio ou de terceiro para o mesmo
destino, na primeira oportunidade; ou II - em voo próprio do
transportador a ser realizado em data e horário de
conveniência do passageiro. (sem destaque no original).

Sobre o extravio de bagagem, em recentes decisões


(RE 636.331 e ARE 766618), o Supremo Tribunal Federal fixou a seguinte tese:

"Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as


normas e os tratados internacionais limitadores da
responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros,
especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm
prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor"

E, à luz do artigo 17 da Convenção de Montreal, que


sucedeu a Convenção de Varsóvia, o transportador é responsável pelo dano
causado em caso de perda/extravio da bagagem que se encontrava sob a sua
custódia.
Não bastando, em consonância com o disposto no
artigo 734 do Código Civil, o transporte aéreo é obrigação de resultado, pelo qual
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a empresa de transporte assume a tarefa de levar o passageiro como também de
entregar suas bagagens no destino.

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Ao descumprir as normas que regulam o transporte
aéreo de passageiros em razão de seus próprios interesses, origina-se a
responsabilidade civil da companhia aérea em indenizar o incômodo causado ao
seu passageiro.
Além disso, o simples cancelamento ou atraso do voo,
de per si, já caracteriza a prestação de serviço como inadequada, posto que o
contrato de transporte é de resultado, sendo irrelevante a demonstração dos
danos suportados pelos passageiros (art. 14 do Código de Defesa do
Consumidor).

Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos
à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Aplica-se ao caso em tela a responsabilidade objetiva


decorrente da atividade de risco, visto que o consumidor não pode suportar os
riscos decorrentes dos serviços prestados pelo fornecedor.
Não resta dúvida que os transtornos advindos da falha
na prestação do serviço ultrapassaram os meros dissabores ou aborrecimentos,
configurando efetivo dano moral “in re ipsa”.
Nesse sentido:

RECURSO INOMINADO. DANOS MATERIAIS E MORAIS. VOO AÉREO


INTERNACIONAL. EXTRAVIO TEMPORÁRIO DE BAGAGEM. ATRASO DE
VOO. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. DANO MATERIAL E MORAL
CONFIGURADOS. LIMITAÇÃO DA INDENIZAÇÃO MATERIAL AOS
GASTOS EFETIVAMENTE COMPROVADOS DENTRO DO LIMITE
ESTABELECIDO DE 1.000 DIREITOS ESPECIAIS DE SAQUES POR
PASSAGEIRO. REDUÇÃO PROPORCIONAL DO DANO MORAL. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO. (TJPR - 2ª Turma Recursal - 0058876-
70.2017.8.16.0182 - Curitiba - Rel.: Glaucio Francisco Moura
Cruvinel, j. em 29.11.2019).
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RECURSO INOMINADO. TRANSPORTE AÉREO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. ATRASO/CANCELAMENTO DE VOO.

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RELAPSIA DA EMPRESA AÉREA. DANO MORAL. DEVER DE INDENIZAR.
IN RE IPSA APLICAÇÃO DO ENUNCIADO N. 4.1 DAS TRU/PR. QUANTUM
INDENIZATÓRIO ADEQUADO. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. Conforme Enunciado n. 4.1 da
TRU/PR, o cancelamento e/ou atraso de voo somado ao descaso no
trato com o cliente enseja reparação moral. 2. A fixação do valor da
indenização por danos morais deve ser estipulada observando-se a
culpa do ofensor, a concorrência do ofendido, a capacidade
econômica das partes e o caráter punitivo e pedagógico da
condenação, norteado pelos princípios da proporcionalidade e
razoabilidade, à luz do caso concreto. Observados esses requisitos, o
valor arbitrado em Sentença bem atende as finalidades do instituto e
está em harmonia com os precedentes julgados por esta 2ª Turma
Recursal. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJPR - 2ª Turma
Recursal - 0008419-58.2016.8.16.0056 - Cambé - Rel.: Rafael Luis
Brasileiro Kanayama - J. 14.03.2018).

Não obstante esse fato, importante é registrar que o


dano moral caracterizado é o presumido, não se exigindo prova do efetivo abalo
moral experimentado, vez que decorre tão somente do fato danoso.
Destaco as disposições dos artigos 186 e 927 do
Código Civil:

“Art. 186 Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência


ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
(...)
Art. 927 Aquele que, por ato ilícito (artigos 186 e 187), causar dano
a outrem, fica obrigado a repará-lo.”

Para o arbitramento do valor da indenização por dano


moral, deve-se ter como critério de aferição, além da gravidade do fato também
a situação financeiro-econômica do litigante, sempre com o cuidado de não
proporcionar, por um lado, um valor que para a parte autora se torne
inexpressivo e, por outro, que seja uma causa de enriquecimento injusto para a
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vítima, devendo ser considerado, também, o efeito inibitório que deverá
desempenhar a sanção pecuniária perante o agente ofensor.

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Assim sendo, considerando as peculiaridades do caso
e, ainda, observando os princípios legais, entendo como razoável, a fixação da
condenação, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a título de danos morais,
para cada autor.
Quanto aos danos materiais o artigo 22 da Convenção
de Montreal, que sucedeu a Convenção de Varsóvia, limita os danos materiais ao
patamar de 1.000 DES (um mil Direitos Especiais de Saque), o qual nesta data
totaliza o montante de R$ 7.785,74, e como a pretensão inicial de danos
materiais não supera a mencionada limitação, faz jus ao recebimento de R$
489,10, referentes aos gastos com bens essenciais.
Nessas condições, JULGO PARCIALMENTE
PROCEDENTE o pedido para o fim de condenar a reclamada Tam linhas Aéreas
S.A ao pagamento de R$ 489,10 (quatrocentos e oitenta e nove reais e dez
centavos) a título de danos materiais, importância a ser devidamente atualizada
pela média do INPC/IGP-DI desde o desembolso e com incidência de juros de
mora a razão de 1%, a partir da citação. E ainda, condenar as promovidas,
solidariamente, ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$
5.000,00 (cinco mil reais), à cada promovente, importância a ser devidamente
atualizada pelos índices INPC/IGP-DI, a incidir desde a sentença e corrigida com
juros de mora de 1 (um) ponto ao mês, desde a citação (Enunciado 4.5, ‘a’, das
Turmas Recursais do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná).
Consequentemente, julgo extinto o feito com resolução
de mérito, o que faço com fundamento no art. 487, I, do Código de Processo Civil.
Isento do pagamento de custas e honorários
advocatícios, nos termos do art. 55 da Lei 9.099/95.
É a decisão que se submete a Vossa
Excelência, Juiz Supervisor para apreciação, nos termos do artigo 40 da Lei nº.
9.099/95.
Intimações e diligências necessárias.
Oportunamente, arquivem-se com as devidas baixas.

Curitiba, 23 de abril de 2020.

Caroline Helvig dos Passos


27/04/2020: PROFERIDA DECISÃO POR JUIZ LEIGO. Arq: Decisão

Juíza Leiga
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