7908433208815
PM-CE
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO CEARÁ
Soldado
EDITAL Nº01 – SOLDADO PMCE, DE 27 DE JULHO DE 2021
DICA
• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho.
• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área.
• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total.
• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo.
• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.
• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame.
• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.
Vida Social
Sabemos que faz parte algumas abdicações na vida de quem estuda para concursos públicos, mas sempre que possível é importante
conciliar os estudos com os momentos de lazer e bem-estar. A vida de concurseiro é temporária, quem determina o tempo é você,
através da sua dedicação e empenho. Você terá que fazer um esforço para deixar de lado um pouco a vida social intensa, é importante
compreender que quando for aprovado verá que todo o esforço valeu a pena para realização do seu sonho.
Uma boa dica, é fazer exercícios físicos, uma simples corrida por exemplo é capaz de melhorar o funcionamento do Sistema Nervoso
Central, um dos fatores que são chaves para produção de neurônios nas regiões associadas à aprendizagem e memória.
DICA
Motivação
A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.
Caso você não seja aprovado de primeira, é primordial que você PERSISTA, com o tempo você irá adquirir conhecimento e experiência.
Então é preciso se motivar diariamente para seguir a busca da aprovação, algumas orientações importantes para conseguir motivação:
• Procure ler frases motivacionais, são ótimas para lembrar dos seus propósitos;
• Leia sempre os depoimentos dos candidatos aprovados nos concursos públicos;
• Procure estar sempre entrando em contato com os aprovados;
• Escreva o porquê que você deseja ser aprovado no concurso. Quando você sabe seus motivos, isso te da um ânimo maior para seguir
focado, tornando o processo mais prazeroso;
• Saiba o que realmente te impulsiona, o que te motiva. Dessa maneira será mais fácil vencer as adversidades que irão aparecer.
• Procure imaginar você exercendo a função da vaga pleiteada, sentir a emoção da aprovação e ver as pessoas que você gosta felizes
com seu sucesso.
Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.
A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Se você quer aumentar as suas chances
de passar, conheça os nossos materiais, acessando o nosso site: www.apostilasolucao.com.br
Vamos juntos!
ÍNDICE
Raciocínio Lógico-Matemático
1. Estrutura lógica de relações arbitrárias entre pessoas, lugares, objetos ou eventos fictícios; dedução de novas informações das relações
fornecidas e avaliação das condições usadas para estabelecer a estrutura daquelas relações. Compreensão e análise da lógica de uma
situação, utilizando as funções intelectuais: raciocínio verbal, raciocínio matemático, raciocínio sequencial, orientação espacial e tem-
poral, formação de conceitos, discriminação de elementos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Operações com conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3. Raciocínio lógico envolvendo problemas aritméticos, geométricos e matriciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Noções de Criminologia
1. O crime como fato social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Instituições sociais relacionadas com o crime: as Polícias, o Poder Judiciário, o Ministério Público, os sistemas penitenciários etc. . . 02
3. A extensão da criminalidade no mundo e no Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02
4. O crime como fenômeno de massa: narcotráfico, terrorismo e crime organizado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
5. O crime como fenômeno isolado: estudo do homicídio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
6. Classificação de tipos criminosos: criminoso nato; criminoso ocasional; criminoso habitual ou profissional; criminoso passional; crim-
inoso alienado; criminoso menor (delinquência juvenil); a mulher criminosa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
7. As atividades repressivas, preventivas e educacionais para diminuir os índices de criminalidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Seguraça Pública
1. Direitos Humanos: desarmamento e combate aos preconceitos de gênero, étnico, racial, geracional, de orientação sexual e de diver-
sidade cultural. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Criação e fortalecimento de redes sociais e comunitárias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
3. Instituições de segurança pública e do sistema prisional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
4. Enfrentamento do crime organizado e da corrupção policial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
5. Garantia do acesso à Justiça. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
6. Valorização dos espaços públicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
7. Participação da sociedade civil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
8. Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Atualidades/História do Ceará
1. Atualidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Meio ambiente e sociedade: problemas, políticas públicas, organizações não governamentais, aspectos locais e aspectos
globais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
3. Descobertas e inovações científicas na atualidade e seus impactos na sociedade contemporânea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
4. Mundo Contemporâneo: elementos de política internacional e brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
5. Cultura internacional e cultura brasileira (música, literatura, artes, arquitetura, rádio, cinema, teatro, jornais, revistas e tele-
visão) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
6. Elementos de economia internacional contemporânea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
7. Panorama da economia brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
8. História do Ceará. O período colonial: a ocupação do território: disputas entre nativos e portugueses; acesso à terra: sesmarias e a
economia pecuária. O período imperial: o Ceará na Confederação do Equador; importância da economia do algodão; a escravidão
negra no Ceará. O Ceará e a “República Velha”: a política oligárquica: coronelismo e clientelismo; movimentos sociais religiosos e
“banditismo”; O período 1930/1964: o Ceará durante o Estado-Novo; repercussões da redemocratização; “indústria da seca”: DNOCS
e SUDENE. Os governos militares e o “novo” coronelismo; a “modernização conservadora”. A “nova” República: os “governos das
mudanças” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
1
LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
– Retorne ao texto sempre que necessário. zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
Além disso, é importante entender com cuidado e atenção os precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
enunciados das questões. se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
– Reescreva o conteúdo lido. podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
Para uma melhor compreensão, podem ser feitos resumos, casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
tópicos ou esquemas. outro e a parceria deu certo.
Além dessas dicas importantes, você também pode grifar Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
palavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
vocabulário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
são uma distração, mas também um aprendizado. falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso-
compreensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
nossa imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens.
nosso foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes, além As informações que se relacionam com o tema chamamos de
de melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de memória. subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram,
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida-
seletas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto
ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à
do texto. conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães.
O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi
a identificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se capaz de identificar o tema do texto!
as ideias secundárias, ou fundamentações, as argumentações,
ou explicações, que levem ao esclarecimento das questões Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-se-
apresentadas na prova. cundarias/
Compreendido tudo isso, interpretar significa extrair um
significado. Ou seja, a ideia está lá, às vezes escondida, e por isso IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM
o candidato só precisa entendê-la – e não a complementar com TEXTOS VARIADOS
algum valor individual. Portanto, apegue-se tão somente ao texto, e
nunca extrapole a visão dele. Ironia
Ironia é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que
IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou
O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem).
principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex-
identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen- pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um
tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja, novo sentido, gerando um efeito de humor.
você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo Exemplo:
significativo, que é o texto.
Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um
texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o
título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre
o assunto que será tratado no texto.
Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atraí-
do pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
estudos?
Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?
CACHORROS
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
Exemplo:
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au- Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li-
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas. berdade para quem recebe a informação.
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas.
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão, Fato
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes. O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência
do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato pode é
Diferença entre compreensão e interpretação uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma manei-
A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do ra, através de algum documento, números, vídeo ou registro.
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta- Exemplo de fato:
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O A mãe foi viajar.
leitor tira conclusões subjetivas do texto.
Interpretação
Gêneros Discursivos É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos
Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso- quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou sas, previmos suas consequências.
totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apon-
novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No tamos uma causa ou consequência, é necessário que seja plausível.
romance nós temos uma história central e várias histórias secun- Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferen-
dárias. ças sejam detectáveis.
Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente Exemplos de interpretação:
imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso- A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única tro país.
ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
encaminham-se diretamente para um desfecho. do que com a filha.
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
Parágrafo Língua escrita e língua falada
O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser forma- falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
do por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, e
dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos rela- ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada é
cionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apre- mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta na
sentada na introdução. conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão
do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas
Embora existam diferentes formas de organização de parágra- pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li-
fos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalís- berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante.
ticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em
três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvolvem Linguagem popular e linguagem culta
a ideia-núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em pa- Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua-
rágrafos curtos, é raro haver conclusão. gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala,
nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja
Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procurou
uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em que
irá identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo o diálogo é usado para representar a língua falada.
escrito. Normalmente o tema e o problema são dados pela própria
prova. Linguagem Popular ou Coloquial
Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase
Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de lin-
ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possí- guagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo
vel usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleo-
citações de pessoas que tenham autoridade no assunto. nasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação,
que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular
Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado está presente nas conversas familiares ou entre amigos, anedotas,
e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias maneiras irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas, na
diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando uma expressão dos esta dos emocionais etc.
pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias con-
clusões a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento. A Linguagem Culta ou Padrão
É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que
Outro aspecto que merece especial atenção são os conecto- se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas ins-
res. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais truídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediên-
fluente, visando estabelecer um encadeamento lógico entre as cia às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem
ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do pe- escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial,
ríodo, e o tópico que o antecede. mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas,
Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi-
ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também cas, noticiários de TV, programas culturais etc.
para a clareza do texto.
Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advér- Gíria
A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como
bios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas
arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam
vezes o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro,
a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa-
sem coerência.
gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos.
Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumenta-
Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam
tivos, e por conta disso é mais fácil para os leitores.
o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de
Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa es-
comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os
trutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento
novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode
mais direto. acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário
de pequenos grupos ou cair em desuso.
NÍVEIS DE LINGUAGEM Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”,
“mina”, “tipo assim”.
Definição de linguagem
Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias Linguagem vulgar
ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos, Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco
gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar
da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti- há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na
cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa comida”.
linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal).
As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com Linguagem regional
o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa-
incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pala-
social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua vras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazônico,
e caem em desuso. nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino.
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
Tipos e genêros textuais Tipo textual expositivo
Os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abran- A dissertação é o ato de apresentar ideias, desenvolver racio-
gentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem cínio, analisar contextos, dados e fatos, por meio de exposição,
como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição e discussão, argumentação e defesa do que pensamos. A dissertação
explicação. Eles apresentam estrutura definida e tratam da forma pode ser expositiva ou argumentativa.
como um texto se apresenta e se organiza. Existem cinco tipos clás- A dissertação-expositiva é caracterizada por esclarecer um as-
sicos que aparecem em provas: descritivo, injuntivo, expositivo (ou sunto de maneira atemporal, com o objetivo de explicá-lo de ma-
dissertativo-expositivo) dissertativo e narrativo. Vejamos alguns neira clara, sem intenção de convencer o leitor ou criar debate.
exemplos e as principais características de cada um deles.
Características principais:
Tipo textual descritivo • Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
A descrição é uma modalidade de composição textual cujo • O objetivo não é persuadir, mas meramente explicar, infor-
objetivo é fazer um retrato por escrito (ou não) de um lugar, uma mar.
pessoa, um animal, um pensamento, um sentimento, um objeto, • Normalmente a marca da dissertação é o verbo no presente.
um movimento etc. • Amplia-se a ideia central, mas sem subjetividade ou defesa
Características principais: de ponto de vista.
• Os recursos formais mais encontrados são os de valor adje- • Apresenta linguagem clara e imparcial.
tivo (adjetivo, locução adjetiva e oração adjetiva), por sua função
caracterizadora. Exemplo:
• Há descrição objetiva e subjetiva, normalmente numa enu- O texto dissertativo consiste na ampliação, na discussão, no
meração. questionamento, na reflexão, na polemização, no debate, na ex-
• A noção temporal é normalmente estática. pressão de um ponto de vista, na explicação a respeito de um de-
• Normalmente usam-se verbos de ligação para abrir a defini- terminado tema.
ção. Existem dois tipos de dissertação bem conhecidos: a disserta-
• Normalmente aparece dentro de um texto narrativo. ção expositiva (ou informativa) e a argumentativa (ou opinativa).
• Os gêneros descritivos mais comuns são estes: manual, anún- Portanto, pode-se dissertar simplesmente explicando um as-
cio, propaganda, relatórios, biografia, tutorial. sunto, imparcialmente, ou discutindo-o, parcialmente.
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
-exemplo). É importante salientar, portanto, que não devemos ficar Dissertativo-argumentativo Editorial Jornalístico
de mãos atadas à espera de uma atitude do governo só quando o Carta de opinião
caos se estabelece; o povo tem e sempre terá de colaborar com uma Resenha
cobrança efetiva (conclusão). Artigo
Ensaio
Tipo textual narrativo Monografia, dissertação de
O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta mestrado e tese de doutorado
um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu-
gar, envolvendo certos personagens. Toda narração tem um enredo, Narrativo Romance
personagens, tempo, espaço e narrador (ou foco narrativo). Novela
Crônica
Características principais: Contos de Fada
• O tempo verbal predominante é o passado. Fábula
• Foco narrativo com narrador de 1ª pessoa (participa da his- Lendas
tória – onipresente) ou de 3ª pessoa (não participa da história –
onisciente). Sintetizando: os tipos textuais são fixos, finitos e tratam da for-
• Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em ma como o texto se apresenta. Os gêneros textuais são fluidos, infi-
prosa, não em verso. nitos e mudam de acordo com a demanda social.
Exemplo: INTERTEXTUALIDADE
Solidão A intertextualidade é um recurso realizado entre textos, ou
João era solteiro, vivia só e era feliz. Na verdade, a solidão era seja, é a influência e relação que um estabelece sobre o outro. As-
o que o tornava assim. Conheceu Maria, também solteira, só e fe- sim, determina o fenômeno relacionado ao processo de produção
liz. Tão iguais, a afinidade logo se transforma em paixão. Casam-se. de textos que faz referência (explícita ou implícita) aos elementos
Dura poucas semanas. Não havia mesmo como dar certo: ao se uni- existentes em outro texto, seja a nível de conteúdo, forma ou de
rem, um tirou do outro a essência da felicidade. ambos: forma e conteúdo.
Nelson S. Oliveira Grosso modo, a intertextualidade é o diálogo entre textos, de
Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/contossur- forma que essa relação pode ser estabelecida entre as produções
reais/4835684 textuais que apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escri-
ta), sendo expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música,
GÊNEROS TEXTUAIS dança, cinema), propagandas publicitárias, programas televisivos,
Já os gêneros textuais (ou discursivos) são formas diferentes provérbios, charges, dentre outros.
de expressão comunicativa. As muitas formas de elaboração de um
texto se tornam gêneros, de acordo com a intenção do seu pro- Tipos de Intertextualidade
dutor. Logo, os gêneros apresentam maior diversidade e exercem • Paródia: perversão do texto anterior que aparece geralmen-
funções sociais específicas, próprias do dia a dia. Ademais, são te, em forma de crítica irônica de caráter humorístico. Do grego (paro-
passíveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preser- dès), a palavra “paródia” é formada pelos termos “para” (semelhante)
vando características preponderantes. Vejamos, agora, uma tabela e “odes” (canto), ou seja, “um canto (poesia) semelhante a outro”. Esse
que apresenta alguns gêneros textuais classificados com os tipos recurso é muito utilizado pelos programas humorísticos.
textuais que neles predominam. • Paráfrase: recriação de um texto já existente mantendo a
mesma ideia contida no texto original, entretanto, com a utilização
de outras palavras. O vocábulo “paráfrase”, do grego (paraphrasis),
Tipo Textual Predominante Gêneros Textuais
significa a “repetição de uma sentença”.
Descritivo Diário • Epígrafe: recurso bastante utilizado em obras e textos cientí-
Relatos (viagens, históricos, etc.) ficos. Consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha
Biografia e autobiografia alguma relação com o que será discutido no texto. Do grego, o ter-
Notícia mo “epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior)
Currículo e “graphé” (escrita).
Lista de compras • Citação: Acréscimo de partes de outras obras numa produção
Cardápio textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem expressa
Anúncios de classificados entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro autor.
Injuntivo Receita culinária Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação sem re-
Bula de remédio lacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o termo
Manual de instruções “citação” (citare) significa convocar.
Regulamento • Alusão: Faz referência aos elementos presentes em outros
Textos prescritivos textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois
termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar).
Expositivo Seminários • Outras formas de intertextualidade menos discutidas são
Palestras o pastiche, o sample, a tradução e a bricolagem.
Conferências
Entrevistas ARGUMENTAÇÃO
Trabalhos acadêmicos O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa-
Enciclopédia ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva
Verbetes de dicionários de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente,
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
propõe. outro fundado há dois ou três anos.
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo der bem como eles funcionam.
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
vista defendidos. acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu- pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi-
tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera
que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur- associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos,
sos de linguagem. essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol
Para compreender claramente o que é um argumento, é bom não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo
voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori-
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de zado numa dada cultura.
escolher entre duas ou mais coisas”.
Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des- Tipos de Argumento
vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar. Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa-
Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu-
coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre- mento. Exemplo:
cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-
mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna Argumento de Autoridade
uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas
domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para
que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos- servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur-
sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra. so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor
O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a
um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto
enunciador está propondo. um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver-
Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação. dadeira. Exemplo:
O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende “A imaginação é mais importante do que o conhecimento.”
demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre-
missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para
admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe-
crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea- cimento. Nunca o inverso.
mento de premissas e conclusões. Alex José Periscinoto.
Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento: In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2
A é igual a B.
A é igual a C. A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor-
Então: C é igual a A. tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela,
o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se
Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente, um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem
que C é igual a A. acreditar que é verdade.
Outro exemplo:
Todo ruminante é um mamífero. Argumento de Quantidade
A vaca é um ruminante. É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú-
Logo, a vaca é um mamífero. mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento
Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz
também será verdadeira. largo uso do argumento de quantidade.
No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se Argumento do Consenso
mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau- É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se
sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como
confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o
da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de
banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con- que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu-
fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as - Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al-
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi-
as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao tal por três dias.
confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu-
mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen-
carentes de qualquer base científica. tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser
ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação
Argumento de Existência deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar texto tem sempre uma orientação argumentativa.
aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar- traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um
gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo
do que dois voando”. ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza.
Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto
(fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre- dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó-
tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não
a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci- outras, etc. Veja:
to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa “O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca-
afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser vam abraços afetuosos.”
vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela
comparação do número de canhões, de carros de combate, de na- O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras
vios, etc., ganhava credibilidade. e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse
fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até,
Argumento quase lógico que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada.
É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra-
e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros:
chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi- - Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am-
cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá-
elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí- rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser
veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en- usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor
tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica. positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas
Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo” de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente,
não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável. injustiça, corrupção).
Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente - Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por
aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con- um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são
correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir
tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se o argumento.
fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais - Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con-
com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e
indevidas. atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por
exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite
Argumento do Atributo que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido,
É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi- uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir
cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais outros à sua dependência política e econômica”.
raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o
que é mais grosseiro, etc. A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa-
Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce- ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi-
lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza, dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação,
alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor tende o assunto, etc).
a associar o produto anunciado com atributos da celebridade. Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani-
Uma variante do argumento de atributo é o argumento da festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men-
competência linguística. A utilização da variante culta e formal da tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas
língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social- (como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente,
mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto,
em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de
sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve
dizer dá confiabilidade ao que se diz.
construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali-
Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde
dades não se prometem, manifestam-se na ação.
de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei-
A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer
ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade-
verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a
quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa
que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz.
estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico:
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um
- Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em
conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui
por bem determinar o internamento do governador pelo período a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar-
de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001. gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che-
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo - evidência;
de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se - divisão ou análise;
convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu - ordem ou dedução;
comportamento. - enumeração.
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli-
da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro- A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão
posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o
empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen- A forma de argumentação mais empregada na redação acadê-
tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí- mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que
mica e até o choro. contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con-
Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades, clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con-
expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa- clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa
vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen- maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não
ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos caracteriza a universalidade.
dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silo-
“tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta- gística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do
ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo é o
ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, de- silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se em
bate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à
possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, de
de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação de
um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos fun- fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa para
damentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista. o efeito. Exemplo:
Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu-
mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis- Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal)
curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia. Fulano é homem (premissa menor = particular)
Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições, Logo, Fulano é mortal (conclusão)
é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e
seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve- A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia-
zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre, se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse
essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par-
aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol- te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci-
ver as seguintes habilidades: dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo:
- argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma O calor dilata o ferro (particular)
ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total- O calor dilata o bronze (particular)
mente contrária; O calor dilata o cobre (particular)
- contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os O ferro, o bronze, o cobre são metais
argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta- Logo, o calor dilata metais (geral, universal)
ria contra a argumentação proposta;
- refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos- Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido
ta. e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas
também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos,
A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar- pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu-
gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata,
válidas, como se procede no método dialético. O método dialético uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são
não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas. algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção
Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem
sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques-
essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de
tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.
argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples de
Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé-
sofisma no seguinte diálogo:
todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do
- Você concorda que possui uma coisa que não perdeu?
simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes-
- Lógico, concordo.
ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões
- Você perdeu um brilhante de 40 quilates?
verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co-
- Claro que não!
meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio
de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana, - Então você possui um brilhante de 40 quilates...
é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar
os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos Exemplos de sofismas:
e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.
A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a Dedução
argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro Todo professor tem um diploma (geral, universal)
regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma Fulano tem um diploma (particular)
série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa)
da verdade:
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
Indução nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são
O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (parti- empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação,
cular) no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e
Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular) espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís-
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades. ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens
Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial.
– conclusão falsa)
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão,
Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio,
pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são profes- sabiá, torradeira.
sores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Redentor. Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá.
Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou infun- Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo.
dadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise su- Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira.
perficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, basea- Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus.
dos nos sentimentos não ditados pela razão.
Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen- Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé-
tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda- tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de
de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é
outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de
processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par- uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais
ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro
demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é
classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por- indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração
que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou
pesquisa. seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização.
Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados; (Garcia, 1973, p. 302304.)
a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in-
todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de- trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres-
pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio-
síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém, nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam.
que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição
reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos
o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria
de vista sobre ele.
todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina-
A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua-
das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então,
gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma
o relógio estaria reconstruído.
ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a
Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por
espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen-
meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con-
cia dos outros elementos dessa mesma espécie.
junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise,
Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição
que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo-
é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A
sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As
operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa-
relacionadas: lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou
Análise: penetrar, decompor, separar, dividir. metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica
Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir. tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos:
- o termo a ser definido;
A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias - o gênero ou espécie;
a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação - a diferença específica.
de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco-
lha dos elementos que farão parte do texto. O que distingue o termo definido de outros elementos da mes-
Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in- ma espécie. Exemplo:
formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca-
racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen- Na frase: O homem é um animal racional classifica-se:
tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe- Elemento especie diferença
lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as a ser definido específica
partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos: É muito comum formular definições de maneira defeituosa,
análise é decomposição e classificação é hierarquisação. por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par-
Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme- tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é
nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é
classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me- forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan-
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973, ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme,
p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”. segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no
Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos: entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela
- o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece,
que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está assim, desse ponto de vista.
realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de
ou instalação”; elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são
exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de-
para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade; pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de-
- deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade, pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente,
definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”; respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí,
definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem” além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no
não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem); interior, nas grandes cidades, no sul, no leste...
- deve ser breve (contida num só período). Quando a definição, Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de se estabe-
ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos lecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma ideia ou opinião.
ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan- Na analogia, são comuns as expressões: da mesma forma, tal como, tanto
dida;d quanto, assim como, igualmente. Para estabelecer contraste, empregam-
- deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) + -se as expressões: mais que, menos que, melhor que, pior que.
cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar
diferenças). o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se:
Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade
As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir-
paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi-
consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala- bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no
vra e seus significados. corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer
A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem- uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li-
pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou
necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais
com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do caráter confirmatório que comprobatório.
mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda- Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli-
mentação coerente e adequada. cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por
Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás- consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse
sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento caso, incluem-se
da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco- - A declaração que expressa uma verdade universal (o homem,
nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes, mortal, aspira à imortalidade);
as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mistu- - A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula-
rando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a dos e axiomas);
reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis- - Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de natureza
sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão des-
são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está conhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se discute);
expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que parece absurdo).
elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os pro-
cessos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de
raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo espe- um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con-
cífico de relação entre as premissas e a conclusão. cretos, estatísticos ou documentais.
Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se
argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação: realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau-
exemplificação, explicitação, enumeração, comparação. sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência.
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações,
de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes- julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opiniões
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprovada, e só os
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa- fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que expresse uma
nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados opinião pessoal só terá validade se fundamentada na evidência dos
apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade dos argumentos,
causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por- porém, pode ser contestada por meio da contra-argumentação ou re-
que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em futação. São vários os processos de contra-argumentação:
virtude de, em vista de, por motivo de. Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demonstran-
Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli- do o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraargu-
car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar mentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”;
esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta- Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses
ção. Na explicitação por definição, empregamse expressões como: para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver-
quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista, dadeira;
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi- Conclusão
nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali- - a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/conse-
dade da afirmação; quências maléficas;
Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: consis- - síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos
te em refutar um argumento empregando os testemunhos de auto- apresentados.
ridade que contrariam a afirmação apresentada;
Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de- Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda-
sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se ção: é um dos possíveis.
em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes.
Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados Coesão e coerência fazem parte importante da elaboração de
estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen- um texto com clareza. Ela diz respeito à maneira como as ideias são
to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em organizadas a fim de que o objetivo final seja alcançado: a com-
uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para con- preensão textual. Na redação espera-se do autor capacidade de
traargumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento mobilizar conhecimentos e opiniões, argumentar de modo coeren-
é que gera o controle demográfico”. te, além de expressar-se com clareza, de forma correta e adequada.
Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para
desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao Coerência
desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui- É uma rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto.
da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação se-
elaboração de um Plano de Redação. mântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na
linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com
Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução outra”).
tecnológica Coerência é a unidade de sentido resultante da relação que se
- Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreen-
a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos- der a outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma
ta, justificar, criando um argumento básico; das partes ganha sentido. Coerência é a ligação em conjunto dos
- Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e elementos formativos de um texto.
construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação A coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito
que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos
(rever tipos de argumentação); elementos textuais.
- Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias que A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante
estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias podem ser de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as propo-
listadas livremente ou organizadas como causa e consequência); sições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística,
- Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de
argumento básico; imediato a coerência de um discurso.
- Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que
poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em A coerência:
argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu- - assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto;
mento básico; - situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão conceitual;
- Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se- - relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, com
quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às o aspecto global do texto;
partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou - estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases.
menos a seguinte:
Coesão
Introdução É um conjunto de elementos posicionados ao longo do texto,
- função social da ciência e da tecnologia; numa linha de sequência e com os quais se estabelece um vínculo
- definições de ciência e tecnologia; ou conexão sequencial. Se o vínculo coesivo se faz via gramática,
- indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico. fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do vocabulário,
tem-se a coesão lexical.
Desenvolvimento A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre pala-
- apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol- vras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos
vimento tecnológico; gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os compo-
- como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as nentes do texto.
condições de vida no mundo atual; Existem, em Língua Portuguesa, dois tipos de coesão: a lexical,
- a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica- que é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, nomes ge-
mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub- néricos e formas elididas, e a gramatical, que é conseguida a partir
desenvolvidos; do emprego adequado de artigo, pronome, adjetivo, determinados
- enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social; advérbios e expressões adverbiais, conjunções e numerais.
- comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas- A coesão:
sado; apontar semelhanças e diferenças; - assenta-se no plano gramatical e no nível frasal;
- analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur- - situa-se na superfície do texto, estabele conexão sequencial;
banos; - relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes
- como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar componentes do texto;
mais a sociedade. - Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases.
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
Significação de palavras
As palavras podem ter diversos sentidos em uma comunicação. E isso também é estudado pela Gramática Normativa: quem cuida
dessa parte é a Semântica, que se preocupa, justamente, com os significados das palavras. Veremos, então, cada um dos conteúdos que
compõem este estudo.
Antônimo e Sinônimo
Começaremos por esses dois, que já são famosos.
O Antônimo são palavras que têm sentidos opostos a outras. Por exemplo, felicidade é o antônimo de tristeza, porque o significado
de uma é o oposto da outra. Da mesma forma ocorre com homem que é antônimo de mulher.
Já o sinônimo são palavras que têm sentidos aproximados e que podem, inclusive, substituir a outra. O uso de sinônimos é muito im-
portante para produções textuais, porque evita que você fique repetindo a mesma palavra várias vezes. Utilizando os mesmos exemplos,
para ficar claro: felicidade é sinônimo de alegria/contentamento e homem é sinônimo de macho/varão.
Hipônimos e Hiperônimos
Estes conceitos são simples de entender: o hipônimo designa uma palavra de sentido mais específico, enquanto que o hiperônimo
designa uma palavra de sentido mais genérico. Por exemplo, cachorro e gato são hipônimos, pois têm sentido específico. E animais domés-
ticos é uma expressão hiperônima, pois indica um sentido mais genérico de animais. Atenção: não confunda hiperônimo com substantivo
coletivo. Hiperônimos estão no ramo dos sentidos das palavras, beleza?!?!
Outros conceitos que agem diretamente no sentido das palavras são os seguintes:
Conotação e Denotação
Observe as frases:
Amo pepino na salada.
Tenho um pepino para resolver.
As duas frases têm uma palavra em comum: pepino. Mas essa palavra tem o mesmo sentido nos dois enunciados? Isso mesmo, não!
Na primeira frase, pepino está no sentido denotativo, ou seja, a palavra está sendo usada no sentido próprio, comum, dicionarizado.
Já na segunda frase, a mesma palavra está no sentindo conotativo, pois ela está sendo usada no sentido figurado e depende do con-
texto para ser entendida.
Para facilitar: denotativo começa com D de dicionário e conotativo começa com C de contexto.
Ambiguidade
Observe a propaganda abaixo:
https://redacaonocafe.wordpress.com/2012/05/22/ambiguidade-na-propaganda/
Perceba que há uma duplicidade de sentido nesta construção. Podemos interpretar que os móveis não durarão no estoque da loja, por
estarem com preço baixo; ou que por estarem muito barato, não têm qualidade e, por isso, terão vida útil curta.
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
Essa duplicidade acontece por causa da ambiguidade, que é justamente a duplicidade de sentidos que podem haver em uma palavra,
frase ou textos inteiros.
Agora chegamos no assunto que causa mais temor em muitos estudantes. Mas eu tenho uma boa notícia para te dar: o estudo da
sintaxe é mais fácil do que parece e você vai ver que sabe muita coisa que nem imagina. Para começar, precisamos de classificar algumas
questões importantes:
• Oração: Enunciado que se forma com um verbo ou com uma locução verbal.
Este filme causou grande impacto entre o público.
A inflação deve continuar sob controle.
Bom, já está a clara a diferença entre frase, oração e período. Vamos, então, classificar os elementos que compõem uma oração:
• Sujeito: Termo da oração do qual se declara alguma coisa.
O problema da violência preocupa os cidadãos.
• Predicado: Tudo que se declara sobre o sujeito.
A tecnologia permitiu o resgate dos operários.
• Objeto Direto: Complemento que se liga ao verbo transitivo direto ou ao verbo transitivo direto e indireto sem o auxílio da prepo-
sição.
A tecnologia tem possibilitado avanços notáveis.
Os pais oferecem ajuda financeira ao filho.
• Objeto Indireto: Complemento que se liga ao verbo transitivo indireto ou ao verbo transitivo direto e indireto por meio de preposi-
ção.
Os Estados Unidos resistem ao grave momento.
João gosta de beterraba.
• Adjunto Adverbial: Termo modificador do verbo que exprime determinada circunstância (tempo, lugar, modo etc.) ou intensifica um
verbo, adjetivo ou advérbio.
O ônibus saiu à noite quase cheio, com destino a Salvador.
Vamos sair do mar.
• Agente da Passiva: Termo da oração que exprime quem pratica a ação verbal quando o verbo está na voz passiva.
Raquel foi pedida em casamento por seu melhor amigo.
• Adjunto Adnominal: Termo da oração que modifica um substantivo, caracterizando-o ou determinando-o sem a intermediação de
um verbo.
Um casal de médicos eram os novos moradores do meu prédio.
• Complemento Nominal: Termo da oração que completa nomes, isto é, substantivos, adjetivos e advérbios, e vem preposicionado.
A realização do torneio teve a aprovação de todos.
• Predicativo do Sujeito: Termo que atribui característica ao sujeito da oração.
A especulação imobiliária me parece um problema.
• Predicativo do Objeto: Termo que atribui características ao objeto direto ou indireto da oração.
O médico considerou o paciente hipertenso.
• Aposto: Termo da oração que explica, esclarece, resume ou identifica o nome ao qual se refere (substantivo, pronome ou equivalen-
tes). O aposto sempre está entre virgulas ou após dois-pontos.
A praia do Forte, lugar paradisíaco, atrai muitos turistas.
• Vocativo: Termo da oração que se refere a um interlocutor a quem se dirige a palavra.
Senhora, peço aguardar mais um pouco.
Tipos de orações
As partes de uma oração já está fresquinha aí na sua cabeça, não é?!?! Estudar os tipos de orações que existem será moleza, moleza.
Vamos comigo!!!
Temos dois tipos de orações: as coordenadas, cuja as orações de um período são independentes (não dependem uma da outra para
construir sentido completo); e as subordinadas, cuja as orações de um período são dependentes (dependem uma da outra para construir
sentido completo).
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
As orações coordenadas podem ser sindéticas (conectadas uma a outra por uma conjunção) e assindéticas (que não precisam da
conjunção para estar conectadas. O serviço é feito pela vírgula).
Explicativas Marina não queria falar, ou seja, ela estava de João Carlos e Maria estão radiantes, alegria que dá inveja.
mau humor.
Orações Subordinadas
Subjetivas É certo que ele trará os a sobremesa do
Exercem a função de sujeito jantar.
Completivas Nominal Estou convencida de que ele é solteiro.
Exercem a função de complemento
nominal
Predicativas O problema é que ele não entregou a
Orações Subordinadas Substantivas Exercem a função de predicativo refeição no lugar.
Apositivas Eu lhe disse apenas isso: que não se
Exercem a função de aposto aborrecesse com ela.
Objetivas Direta Espero que você seja feliz.
Exercem a função de objeto direto
Objetivas Indireta Lembrou-se da dívida que tem com ele.
Exercem a função de objeto indireto
Explicativas Os alunos, que foram mal na prova de
Explicam um termo dito anteriormente. quinta, terão aula de reforço.
SEMPRE serão acompanhadas por
vírgula.
Orações Subordinadas Adjetivas
Restritivas Os alunos que foram mal na prova de quinta
Restringem o sentido de um termo terão aula de reforço.
dito anteriormente. NUNCA serão
acompanhadas por vírgula.
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
Olha como esse quadro facilita a vida, não é?! Por meio dele, conseguimos ter uma visão geral das classificações e subclassificações
das orações, o que nos deixa mais tranquilos para estudá-las.
EMPREGO DE TEMPOS E MODOS VERBAIS. . FUNÇÕES DAS CLASSES DE PALAVRAS. FLEXÃO NOMINAL E VERBAL.
PRONOMES: EMPREGO, FORMAS DE TRATAMENTO E COLOCAÇÃO
CLASSES DE PALAVRAS
Substantivo
São as palavras que atribuem nomes aos seres reais ou imaginários (pessoas, animais, objetos), lugares, qualidades, ações e sentimen-
tos, ou seja, que tem existência concreta ou abstrata.
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS: Rodrigo por preposição com o mesmo valor e a mesma função que um ad-
designa determinado ser /Brasil jetivo: golpe de mestre (golpe magistral), jornal da tarde (jornal
vespertino).
entre outros da mesma /Belo Horizonte/Estátua da
espécie. São sempre iniciados Liberdade
Flexão do Adjetivos
por letra maiúscula.
• Gênero:
SUBSTANTIVOS COMUNS: biscoitos/ruídos/estrelas/ – Uniformes: apresentam uma só para o masculino e o femini-
referem-se qualquer ser de cachorro/prima no: homem feliz, mulher feliz.
uma mesma espécie. – Biformes: apresentam uma forma para o masculino e outra
SUBSTANTIVOS CONCRETOS: Leão/corrente para o feminino: juiz sábio/ juíza sábia, bairro japonês/ indústria
japonesa, aluno chorão/ aluna chorona.
nomeiam seres com existência /estrelas/fadas
própria. Esses seres podem /lobisomem
• Número:
ser animadoso ou inanimados, /saci-pererê
– Os adjetivos simples seguem as mesmas regras de flexão de
reais ou imaginários.
número que os substantivos: sábio/ sábios, namorador/ namorado-
SUBSTANTIVOS ABSTRATOS: Mistério/ res, japonês/ japoneses.
nomeiam ações, estados, bondade/ – Os adjetivos compostos têm algumas peculiaridades: luvas
qualidades e sentimentos que confiança/ branco-gelo, garrafas amarelo-claras, cintos da cor de chumbo.
não tem existência própria, ou lembrança/
seja, só existem em função de amor/ • Grau:
um ser. alegria – Grau Comparativo de Superioridade: Meu time é mais vito-
rioso (do) que o seu.
SUBSTANTIVOS COLETIVOS: Elenco (de atores)/
– Grau Comparativo de Inferioridade: Meu time é menos vito-
referem-se a um conjunto acervo (de obras artísticas)/
rioso (do) que o seu.
de seres da mesma espécie, buquê (de flores)
– Grau Comparativo de Igualdade: Meu time é tão vitorioso
mesmo quando empregado
quanto o seu.
no singular e constituem um
– Grau Superlativo Absoluto Sintético: Meu time é famosíssi-
substantivo comum. mo.
NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS – Grau Superlativo Absoluto Analítico: Meu time é muito fa-
QUE NÃO ESTÃO AQUI! moso.
– Grau Superlativo Relativo de Superioridade: Meu time é o
Flexão dos Substantivos mais famoso de todos.
• Gênero: Os gêneros em português podem ser dois: masculi- – Grau Superlativo Relativo de Inferioridade; Meu time é me-
no e feminino. E no caso dos substantivos podem ser biformes ou nos famoso de todos.
uniformes
– Biformes: as palavras tem duas formas, ou seja, apresenta Artigo
uma forma para o masculino e uma para o feminino: tigre/tigresa, o É uma palavra variável em gênero e número que antecede o
presidente/a presidenta, o maestro/a maestrina substantivo, determinando de modo particular ou genérico.
– Uniformes: as palavras tem uma só forma, ou seja, uma única • Classificação e Flexão do Artigos
forma para o masculino e o feminino. Os uniformes dividem-se em – Artigos Definidos: o, a, os, as.
epicenos, sobrecomuns e comuns de dois gêneros. O menino carregava o brinquedo em suas costas.
a) Epicenos: designam alguns animais e plantas e são invariá- As meninas brincavam com as bonecas.
veis: onça macho/onça fêmea, pulga macho/pulga fêmea, palmeira – Artigos Indefinidos: um, uma, uns, umas.
macho/palmeira fêmea. Um menino carregava um brinquedo.
b) Sobrecomuns: referem-se a seres humanos; é pelo contexto Umas meninas brincavam com umas bonecas.
que aparecem que se determina o gênero: a criança (o criança), a
testemunha (o testemunha), o individuo (a individua). Numeral
c) Comuns de dois gêneros: a palavra tem a mesma forma tanto É a palavra que indica uma quantidade definida de pessoas ou
para o masculino quanto para o feminino: o/a turista, o/a agente, coisas, ou o lugar (posição) que elas ocupam numa série.
o/a estudante, o/a colega. • Classificação dos Numerais
• Número: Podem flexionar em singular (1) e plural (mais de 1). – Cardinais: indicam número ou quantidade:
– Singular: anzol, tórax, próton, casa. Trezentos e vinte moradores.
– Plural: anzóis, os tórax, prótons, casas. – Ordinais: indicam ordem ou posição numa sequência:
Quinto ano. Primeiro lugar.
• Grau: Podem apresentar-se no grau aumentativo e no grau – Multiplicativos: indicam o número de vezes pelo qual uma
diminutivo. quantidade é multiplicada:
– Grau aumentativo sintético: casarão, bocarra. O quíntuplo do preço.
– Grau aumentativo analítico: casa grande, boca enorme.
– Fracionários: indicam a parte de um todo:
– Grau diminutivo sintético: casinha, boquinha
Dois terços dos alunos foram embora.
– Grau diminutivo analítico: casa pequena, boca minúscula.
Pronome
Adjetivo
É a palavra que substitui os substantivos ou os determinam,
É a palavra invariável que especifica e caracteriza o substanti-
indicando a pessoa do discurso.
vo: imprensa livre, favela ocupada. Locução adjetiva é expressão
composta por substantivo (ou advérbio) ligado a outro substantivo • Pronomes pessoais vão designar diretamente as pessoas em
uma conversa. Eles indicam as três pessoas do discurso.
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
• Pronomes de Tratamento são usados no trato com as pessoas, normalmente, em situações formais de comunicação.
• Pronomes Demonstrativos são utilizados para indicar a posição de algum elemento em relação à pessoa seja no discurso, no tempo
ou no espaço.
• Pronomes Indefinidos referem-se à 3º pessoa do discurso, designando-a de modo vago, impreciso, indeterminado. Os pronomes
indefinidos podem ser variáveis (varia em gênero e número) e invariáveis (não variam em gênero e número).
• Pronomes Interrogativos são palavras variáveis e invariáveis utilizadas para formular perguntas diretas e indiretas.
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
Ex: O “coffe break” da festa estava ótimo. • Isola o nome do lugar nas datas.
Rio de Janeiro, 21 de julho de 2006.
Vírgula
São várias as regras que norteiam o uso das vírgulas. Eviden- • Isolar conectivos, tais como: portanto, contudo, assim, dessa
ciaremos, aqui, os principais usos desse sinal de pontuação. Antes forma, entretanto, entre outras. E para isolar, também, expressões
disso, vamos desmistificar três coisas que ouvimos em relação à conectivas, como: em primeiro lugar, como supracitado, essas infor-
vírgula: mações comprovam, etc.
1º – A vírgula não é usada por inferência. Ou seja: não “senti- Fica claro, portanto, que ações devem ser tomadas para ame-
mos” o momento certo de fazer uso dela. nizar o problema.
2º – A vírgula não é usada quando paramos para respirar. Em
alguns contextos, quando, na leitura de um texto, há uma vírgula, o
leitor pode, sim, fazer uma pausa, mas isso não é uma regra. Afinal,
cada um tem seu tempo de respiração, não é mesmo?!?! ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS
3º – A vírgula tem sim grande importância na produção de tex-
tos escritos. Não caia na conversa de algumas pessoas de que ela é ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS
menos importante e que pode ser colocada depois. As palavras são formadas por estruturas menores, com
Agora, precisamos saber que a língua portuguesa tem uma or- significados próprios. Para isso, há vários processos que contribuem
dem comum de construção de suas frases, que é Sujeito > Verbo > para a formação das palavras.
Objeto > Adjunto, ou seja, (SVOAdj).
Maria foi à padaria ontem. Estrutura das palavras
Sujeito Verbo Objeto Adjunto As palavras podem ser subdivididas em estruturas significativas
menores - os morfemas, também chamados de elementos mórficos:
Perceba que, na frase acima, não há o uso de vírgula. Isso ocor- – radical e raiz;
re por alguns motivos: – vogal temática;
1) NÃO se separa com vírgula o sujeito de seu predicado. – tema;
2) NÃO se separa com vírgula o verbo e seus complementos. – desinências;
3) Não é aconselhável usar vírgula entre o complemento do – afixos;
verbo e o adjunto. – vogais e consoantes de ligação.
Radical: Elemento que contém a base de significação do
Podemos estabelecer, então, que se a frase estiver na ordem vocábulo.
comum (SVOAdj), não usaremos vírgula. Caso contrário, a vírgula Exemplos
é necessária: VENDer, PARTir, ALUNo, MAR.
Ontem, Maria foi à padaria.
Maria, ontem, foi à padaria. Desinências: Elementos que indicam as flexões dos vocábulos.
À padaria, Maria foi ontem.
Dividem-se em:
Além disso, há outros casos em que o uso de vírgulas é neces-
sário: Nominais
• Separa termos de mesma função sintática, numa enumera- Indicam flexões de gênero e número nos substantivos.
ção. Exemplos
Simplicidade, clareza, objetividade, concisão são qualidades a pequenO, pequenA, alunO, aluna.
serem observadas na redação oficial. pequenoS, pequenaS, alunoS, alunas.
• Separa aposto.
Aristóteles, o grande filósofo, foi o criador da Lógica. Verbais
• Separa vocativo. Indicam flexões de modo, tempo, pessoa e número nos verbos
Brasileiros, é chegada a hora de votar. Exemplos
• Separa termos repetidos. vendêSSEmos, entregáRAmos. (modo e tempo)
Aquele aluno era esforçado, esforçado. vendesteS, entregásseIS. (pessoa e número)
• Separa certas expressões explicativas, retificativas, exempli- Indica, nos verbos, a conjugação a que pertencem.
ficativas, como: isto é, ou seja, ademais, a saber, melhor dizendo, Exemplos
ou melhor, quer dizer, por exemplo, além disso, aliás, antes, com 1ª conjugação: – A – cantAr
efeito, digo. 2ª conjugação: – E – fazEr
O político, a meu ver, deve sempre usar uma linguagem clara, 3ª conjugação: – I – sumIr
ou seja, de fácil compreensão.
Observação
• Marca a elipse de um verbo (às vezes, de seus complemen- Nos substantivos ocorre vogal temática quando ela não indica
tos). oposição masculino/feminino.
O decreto regulamenta os casos gerais; a portaria, os particula- Exemplos
res. (= ... a portaria regulamenta os casos particulares) livrO, dentE, paletó.
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
Vogal e consoante de ligação: São os elementos que se Prefixos
interpõem aos vocábulos por necessidade de eufonia. Os prefixos existentes em Língua Portuguesa são divididos em:
Exemplos vernáculos, latinos e gregos.
chaLeira, cafeZal.
Vernáculos: Prefixos latinos que sofreram modificações ou
Afixos foram aportuguesados: a, além, ante, aquém, bem, des, em, entre,
Os afixos são elementos que se acrescentam antes ou depois do mal, menos, sem, sob, sobre, soto.
radical de uma palavra para a formação de outra palavra. Dividem- Nota-se o emprego desses prefixos em palavras como:
se em: abordar, além-mar, bem-aventurado, desleal, engarrafar, maldição,
Prefixo: Partícula que se coloca antes do radical. menosprezar, sem-cerimônia, sopé, sobpor, sobre-humano, etc.
Exemplos
DISpor, EMpobrecer, DESorganizar. Latinos: Prefixos que conservam até hoje a sua forma latina
original:
Sufixo a, ab, abs – afastamento: aversão, abjurar.
Afixo que se coloca depois do radical. a, ad – aproximação, direção: amontoar.
Exemplos ambi – dualidade: ambidestro.
contentaMENTO, reallDADE, enaltECER. bis, bin, bi – repetição, dualidade: bisneto, binário.
Processos de formação das palavras centum – cem: centúnviro, centuplicar, centígrado.
Composição: Formação de uma palavra nova por meio da circum, circun, circu – em volta de: circumpolar, circunstante.
junção de dois ou mais vocábulos primitivos. Temos: cis – aquem de: cisalpino, cisgangético.
com, con, co – companhia, concomitância: combater,
Justaposição: Formação de palavra composta sem alteração na contemporâneo.
estrutura fonética das primitivas. contra – oposição, posição inferior: contradizer.
Exemplos de – movimento de cima para baixo, origem, afastamento:
passa + tempo = passatempo decrescer, deportar.
gira + sol = girassol des – negação, separação, ação contrária: desleal, desviar.
dis, di – movimento para diversas partes, ideia contrária:
Aglutinação: Formação de palavra composta com alteração da distrair, dimanar.
estrutura fonética das primitivas. entre – situação intermediaria, reciprocidade: entrelinha,
Exemplos entrevista.
em + boa + hora = embora ex, es, e – movimento de dentro para fora, intensidade,
vossa + merce = você privação, situação cessante: exportar, espalmar, ex-professor.
extra – fora de, além de, intensidade: extravasar, extraordinário.
Derivação: im, in, i – movimento para dentro; ideia contraria: importar,
Formação de uma nova palavra a partir de uma primitiva. ingrato.
Temos: inter – no meio de: intervocálico, intercalado.
intra – movimento para dentro: intravenoso, intrometer.
Prefixação: Formação de palavra derivada com acréscimo de justa – perto de: justapor.
um prefixo ao radical da primitiva. multi – pluralidade: multiforme.
Exemplos ob, o – oposição: obstar, opor, obstáculo.
CONter, INapto, DESleal. pene – quase: penúltimo, península.
per – movimento através de, acabamento de ação; ideia
Sufixação: Formação de palavra nova com acréscimo de um pejorativa: percorrer.
sufixo ao radical da primitiva. post, pos – posteridade: postergar, pospor.
Exemplos pre – anterioridade: predizer, preclaro.
cafezAL, meninINHa, loucaMENTE. preter – anterioridade, para além: preterir, preternatural.
pro – movimento para diante, a favor de, em vez de: prosseguir,
Parassíntese: Formação de palavra derivada com acréscimo de procurador, pronome.
um prefixo e um sufixo ao radical da primitiva ao mesmo tempo. re – movimento para trás, ação reflexiva, intensidade, repetição:
Exemplos regressar, revirar.
EMtardECER, DESanimADO, ENgravidAR. retro – movimento para trás: retroceder.
satis – bastante: satisdar.
Derivação imprópria: Alteração da função de uma palavra sub, sob, so, sus – inferioridade: subdelegado, sobraçar, sopé.
primitiva. subter – por baixo: subterfúgio.
Exemplo super, supra – posição superior, excesso: super-homem,
Todos ficaram encantados com seu andar: verbo usado com superpovoado.
valor de substantivo. trans, tras, tra, tres – para além de, excesso: transpor.
tris, três, tri – três vezes: trisavô, tresdobro.
Derivação regressiva: Ocorre a alteração da estrutura fonética ultra – para além de, intensidade: ultrapassar, ultrabelo.
de uma palavra primitiva para a formação de uma derivada. Em uni – um: unânime, unicelular.
geral de um verbo para substantivo ou vice-versa.
Exemplos Grego: Os principais prefixos de origem grega são:
combater – o combate a, an – privação, negação: ápode, anarquia.
chorar – o choro ana – inversão, parecença: anagrama, analogia.
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
anfi – duplicidade, de um e de outro lado: anfíbio, anfiteatro.
anti – oposição: antipatia, antagonista. • Pseudo e todo são invariáveis quando empregados na forma-
apo – afastamento: apólogo, apogeu. ção de palavras compostas:
arqui, arque, arce, arc – superioridade: arcebispo, arcanjo. Cuidado com os pseudoamigos./ Ele é o chefe todo-poderoso.
caco – mau: cacofonia.
cata – de cima para baixo: cataclismo, catalepsia. • Mesmo, próprio, anexo, incluso, quite e obrigado variam de
deca – dez: decâmetro. acordo com o substantivo a que se referem:
dia – através de, divisão: diáfano, diálogo. Elas mesmas cozinhavam./ Guardou as cópias anexas.
dis – dualidade, mau: dissílabo, dispepsia.
en – sobre, dentro: encéfalo, energia. • Muito, pouco, bastante, meio, caro e barato variam quando
endo – para dentro: endocarpo. pronomes indefinidos adjetivos e numerais e são invariáveis quan-
epi – por cima: epiderme, epígrafe. do advérbios:
eu – bom: eufonia, eugênia, eupepsia. Muitas vezes comemos muito./ Chegou meio atrasada./
hecto – cem: hectômetro. Usou meia dúzia de ovos.
hemi – metade: hemistíquio, hemisfério.
hiper – superioridade: hipertensão, hipérbole. • Só varia quando adjetivo e não varia quando advérbio:
hipo – inferioridade: hipoglosso, hipótese, hipotermia. Os dois andavam sós./ A respostas só eles sabem.
homo – semelhança, identidade: homônimo.
meta – união, mudança, além de: metacarpo, metáfase. • É bom, é necessário, é preciso, é proibido variam quando o
míria – dez mil: miriâmetro. substantivo estiver determinado por artigo:
mono – um: monóculo, monoculista. É permitida a coleta de dados./ É permitido coleta de dados.
neo – novo, moderno: neologismo, neolatino.
para – aproximação, oposição: paráfrase, paradoxo. Concordância Verbal
penta – cinco: pentágono. O verbo concorda com seu sujeito em número e pessoa:
peri – em volta de: perímetro. O público aplaudiu o ator de pé./ A sala e quarto eram enor-
poli – muitos: polígono, polimorfo. mes.
pro – antes de: prótese, prólogo, profeta.
Sufixos Concordância ideológica ou silepse
Os sufixos podem ser: nominais, verbais e adverbial. • Silepse de gênero trata-se da concordância feita com o gêne-
ro gramatical (masculino ou feminino) que está subentendido no
Nominais contexto.
Coletivos: -aria, -ada, -edo, -al, -agem, -atro, -alha, -ama. Vossa Excelência parece satisfeito com as pesquisas.
Aumentativos e diminutivos: -ão, -rão, -zão, -arrão, -aço, -astro, Blumenau estava repleta de turistas.
-az. • Silepse de número trata-se da concordância feita com o nú-
Agentes: -dor, -nte, -ário, -eiro, -ista. mero gramatical (singular ou plural) que está subentendido no con-
Lugar: -ário, -douro, -eiro, -ório. texto.
Estado: -eza, -idade, -ice, -ência, -ura, -ado, -ato. O elenco voltou ao palco e [os atores] agradeceram os aplau-
Pátrios: -ense, -ista, -ano, -eiro, -ino, -io, -eno, -enho, -aico. sos.
Origem, procedência: -estre, -este, -esco. • Silepse de pessoa trata-se da concordância feita com a pes-
soa gramatical que está subentendida no contexto.
Verbais O povo temos memória curta em relação às promessas dos po-
Comuns: -ar, -er, -ir. líticos.
Frequentativos: -açar, -ejar, -escer, -tear, -itar.
Incoativos: -escer, -ejar, -itar.
Diminutivos: -inhar, -itar, -icar, -iscar.
REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL
Adverbial = há apenas um
MENTE: mecanicamente, felizmente etc. • Regência Nominal
A regência nominal estuda os casos em que nomes (substan-
tivos, adjetivos e advérbios) exigem outra palavra para completar-
-lhes o sentido. Em geral a relação entre um nome e o seu comple-
CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL mento é estabelecida por uma preposição.
Casos Especiais de Concordância Nominal Esta palavra combina com Esta preposição
• Menos e alerta são invariáveis na função de advérbio:
Colocou menos roupas na mala./ Os seguranças continuam Acessível a
alerta.
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
Outros casos
ORTOGRAFIA OFICIAL 1. Prefixo terminado em vogal:
– Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo.
ORTOGRAFIA OFICIAL – Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto,
• Mudanças no alfabeto: O alfabeto tem 26 letras. Foram rein- semicírculo.
troduzidas as letras k, w e y. – Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracis-
O alfabeto completo é o seguinte: A B C D E F G H I J K L M N O mo, antissocial, ultrassom.
PQRSTUVWXYZ – Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-on-
• Trema: Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a das.
letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue,
gui, que, qui. 2. Prefixo terminado em consoante:
– Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub-
Regras de acentuação -bibliotecário.
– Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das – Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, su-
palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima persônico.
sílaba) – Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante.
Observações:
Como era Como fica • Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra
alcatéia alcateia iniciada por r: sub-região, sub-raça. Palavras iniciadas por h perdem
essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade.
apóia apoia
• Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de pala-
apóio apoio vra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano.
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
• O prefixo co aglutina-se, em geral, com o segundo elemento,
mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, coope- EXERCÍCIOS
rar, cooperação, cooptar, coocupante.
• Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-al- 1. Levando-se em consideração os conceitos de frase, oração
mirante. e período, é correto afirmar que o trecho abaixo é considerado um
• Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam (a):
a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva, “A expectativa é que o México, pressionado pelas mudanças
pontapé, paraquedas, paraquedista. americanas, entre na fila.”
• Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, (A) Frase, uma vez que é composta por orações coordenadas e
usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar, subordinadas.
recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu. (B) Período, composto por três orações.
(C) Oração, pois possui sentido completo.
Viu? Tudo muito tranquilo. Certeza que você já está dominando (D) Período, pois é composto por frases e orações.
muita coisa. Mas não podemos parar, não é mesmo?!?! Por isso
vamos passar para mais um ponto importante. 2. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – MECÂNICO DE VEÍCULOS –
2007) Leia a seguinte sentença: Joana tomou um sonífero e não
dormiu. Assinale a alternativa que classifica corretamente a segun-
da oração.
ACENTUAÇÃO GRÁFICA
(A) Oração coordenada assindética aditiva.
(B) Oração coordenada sindética aditiva.
Acentuação é o modo de proferir um som ou grupo de sons (C) Oração coordenada sindética adversativa.
com mais relevo do que outros. Os sinais diacríticos servem para (D) Oração coordenada sindética explicativa.
indicar, dentre outros aspectos, a pronúncia correta das palavras. (E) Oração coordenada sindética alternativa.
Vejamos um por um:
3. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – BIBLIOTECÁRIO – 2007) Leia a
Acento agudo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre seguinte sentença: Não precisaremos voltar ao médico nem fazer
aberto. exames. Assinale a alternativa que classifica corretamente as duas
Já cursei a Faculdade de História. orações.
Acento circunflexo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre (A) Oração coordenada assindética e oração coordenada
fechado. adversativa.
Meu avô e meus três tios ainda são vivos. (B) Oração principal e oração coordenada sindética aditiva.
Acento grave: marca o fenômeno da crase (estudaremos este (C) Oração coordenada assindética e oração coordenada
caso afundo mais à frente). aditiva.
Sou leal à mulher da minha vida. (D) Oração principal e oração subordinada adverbial consecu-
tiva.
As palavras podem ser: (E) Oração coordenada assindética e oração coordenada
– Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-cu- adverbial consecutiva.
-já, ra-paz, u-ru-bu...)
– Paroxítonas: quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa, 4. (EMPASIAL – TJ/SP – ESCREVENTE JUDICIÁRIO – 1999) Anali-
sa-bo-ne-te, ré-gua...) se sintaticamente a oração em destaque:
– Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima “Bem-aventurados os que ficam, porque eles serão recompen-
(sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…) sados” (Machado de Assis).
(A) oração subordinada substantiva completiva nominal.
As regras de acentuação das palavras são simples. Vejamos: (B) oração subordinada adverbial causal.
• São acentuadas todas as palavras proparoxítonas (médico, (C) oração subordinada adverbial temporal desenvolvida.
íamos, Ângela, sânscrito, fôssemos...) (D) oração coordenada sindética conclusiva.
• São acentuadas as palavras paroxítonas terminadas em L, N, (E) oração coordenada sindética explicativa.
R, X, I(S), US, UM, UNS, OS, ÃO(S), Ã(S), EI(S) (amável, elétron, éter,
fênix, júri, oásis, ônus, fórum, órfão...) 5. (FGV – SENADO FEDERAL – TÉCNICO LEGISLATIVO – ADMI-
• São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em A(S), NISTRAÇÃO – 2008) “Mas o fato é que transparência deixou de ser
E(S), O(S), EM, ENS, ÉU(S), ÉI(S), ÓI(S) (xarás, convéns, robô, Jô, céu, um processo de observação cristalina para assumir um discurso de
dói, coronéis...) políticas de averiguação de custos engessadas que pouco ou quase
• São acentuados os hiatos I e U, quando precedidos de vogais nada retratam as necessidades de populações distintas.”.
(aí, faísca, baú, juízo, Luísa...) A oração grifada no trecho acima classifica-se como:
(A) subordinada substantiva predicativa;
Viu que não é nenhum bicho de sete cabeças? Agora é só trei- (B) subordinada adjetiva restritiva;
nar e fixar as regras. (C) subordinada substantiva subjetiva;
(D) subordinada substantiva objetiva direta;
(E) subordinada adjetiva explicativa.
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
6. (FUNCAB – PREF. PORTO VELHO/RO – MÉDICO – 2009) No (C) Poucos estudiosos se despõem a discutir o empacto das
trecho abaixo, as orações introduzidas pelos termos grifados são composições do músico na cultura ocidental.
classificadas, em relação às imediatamente anteriores, como: (D) Salvo algumas exceções, a maioria das óperas do compositor
“Não há dúvida de que precisaremos curtir mais o dia a dia, termina em uma cena de reconciliação entre os personagens.
mas nunca à custa de nossos filhos...” (E) Alguns acreditam que o valor da obra do compositor se
(A) subordinada substantiva objetiva indireta e coordenada deve mais à árdua dedicação do que a arroubos de inspiração.
sindética adversativa;
(B) subordinada adjetiva restritiva e coordenada sindética 11. (FUNIVERSA – CEB – ADVOGADO – 2010) Assinale a alter-
explicativa; nativa em que todas as palavras são acentuadas pela mesma razão.
(C) subordinada adverbial conformativa e subordinada adver- (A) “Brasília”, “prêmios”, “vitória”.
bial concessiva; (B) “elétrica”, “hidráulica”, “responsáveis”.
(D) subordinada substantiva completiva nominal e coordenada (C) “sérios”, “potência”, “após”.
sindética adversativa; (D) “Goiás”, “já”, “vários”.
(E) subordinada adjetiva restritiva e subordinada adverbial (E) “solidária”, “área”, “após”.
concessiva.
12. (CESGRANRIO – CMB – ASSISTENTE TÉCNICO ADMINISTRA-
TIVO – 2012) Algumas palavras são acentuadas com o objetivo ex-
7. (ACEP – PREF. QUIXADÁ/CE – PSICÓLOGO – 2010) No perío-
clusivo de distingui-las de outras. Uma palavra acentuada com esse
do “O essencial é o seguinte: //nunca antes neste país houve um
objetivo é a seguinte:
governo tão imbuído da ideia // de que veio // para recomeçar a
(A) pôr.
história.”, a oração sublinhada é classificada como:
(B) ilhéu.
(A) coordenada assindética; (C) sábio.
(B) subordinada substantiva completiva nominal; (D) também.
(C) subordinada substantiva objetiva indireta; (E) lâmpada.
(D) subordinada substantiva apositiva.
13. (CESGRANRIO – SEPLAG/BA – PROFESSOR PORTUGUÊS –
8. (FDC – PROFESSOR DE PORTUGUÊS II – 2005) Marque a série 2010) Estabelece relação de hiperonímia/hiponímia, nessa ordem,
em que o hífen está corretamente empregado nas cinco palavras: o seguinte par de palavras:
(A) pré-nupcial, ante-diluviano, anti-Cristo, ultra-violeta, infra- (A) estrondo – ruído;
-vermelho. (B) pescador – trabalhador;
(B) vice-almirante, ex-diretor, super-intendente, extrafino, (C) pista – aeroporto;
infra-assinado. (D) piloto – comissário;
(C) anti-alérgico, anti-rábico, ab-rupto, sub-rogar, antihigiênico. (E) aeronave – jatinho.
(D) extraoficial, antessala, contrassenso, ultrarrealismo, con-
trarregra. 14. (VUNESP – SEAP/SP – AGENTE DE ESCOLTA E VIGILÂNCIA
(E) co-seno, contra-cenar, sobre-comum, sub-humano, infra- PENITENCIÁRIA – 2012) No trecho – Para especialistas, fica uma
-mencionado. questão: até que ponto essa exuberância econômica no Brasil é
sustentável ou é apenas mais uma bolha? – o termo em destaque
9. (ESAF – SRF – AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL – 2003) tem como antônimo:
Indique o item em que todas as palavras estão corretamente em- (A) fortuna;
pregadas e grafadas. (B) opulência;
(A) A pirâmide carcerária assegura um contexto em que o (C) riqueza;
poder de infringir punições legais a cidadãos aparece livre de (D) escassez;
qualquer excesso e violência. (E) abundância.
(B) Nos presídios, os chefes e subchefes não devem ser exata-
mente nem juízes, nem professores, nem contramestres, nem 15. (FCC – TRE/MG – TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2005) As liberda-
suboficiais, nem “pais”, porém avocam a si um pouco de tudo des ...... se refere o autor dizem respeito a direitos ...... se ocupa a
isso, num modo de intervenção específico. nossa Constituição. Preenchem de modo correto as lacunas da frase
(C) O carcerário, ao homogeinizar o poder legal de punir e o acima, na ordem dada, as expressões:
poder técnico de disciplinar, ilide o que possa haver de violen- (A) a que – de que;
to em um e de arbitrário no outro, atenuando os efeitos de (B) de que – com que;
revolta que ambos possam suscitar. (C) a cujas – de cujos;
(D) No singular poder de punir, nada mais lembra o antigo po-
(D) à que – em que;
der do soberano iminente que vingava sua autoridade sobre o
(E) em que – aos quais.
corpo dos supliciados.
(E) A existência de uma proibição legal cria em torno dela um
16. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2008)
campo de práticas ilegais, sob o qual se chega a exercer con-
Assinale o trecho que apresenta erro de regência.
trole e aferir lucro ilícito, mas que se torna manejável por sua
(A) Depois de um longo período em que apresentou taxas de
organização em delinqüência.
crescimento econômico que não iam além dos 3%, o Brasil
10. (FCC – METRÔ/SP – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO JÚNIOR fecha o ano de 2007 com uma expansão de 5,3%, certamente
– 2012) A frase que apresenta INCORREÇÕES quanto à ortografia é: a maior taxa registrada na última década.
(A) Quando jovem, o compositor demonstrava uma capacida- (B) Os dados ainda não são definitivos, mas tudo sugere
de extraordinária de imitar vários estilos musicais. que serão confirmados. A entidade responsável pelo estudo
(B) Dizem que o músico era avesso à ideia de expressar senti- foi a conhecida Comissão Econômica para a América Latina
mentos pessoais por meio de sua música. (CEPAL).
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LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
(C) Não há dúvida de que os números são bons, num momen- 20. (CESGRANRIO – PETROBRAS – TÉCNICO DE ENFERMAGEM
to em que atingimos um bom superávit em conta-corrente, DO TRABALHO – 2011) Há ERRO quanto ao emprego dos sinais de
em que se revela queda no desemprego e até se anuncia a pontuação em:
ampliação de nossas reservas monetárias, além da descoberta (A) Ao dizer tais palavras, levantou-se, despediu-se dos convi-
de novas fontes de petróleo. dados e retirou-se da sala: era o final da reunião.
(D) Mesmo assim, olhando-se para os vizinhos de continen- (B) Quem disse que, hoje, enquanto eu dormia, ela saiu sorra-
te, percebe-se que nossa performance é inferior a que foi teiramente pela porta?
atribuída a Argentina (8,6%) e a alguns outros países com (C) Na infância, era levada e teimosa; na juventude, tornou-se
participação menor no conjunto dos bens produzidos pela tímida e arredia; na velhice, estava sempre alheia a tudo.
América Latina. (D) Perdida no tempo, vinham-lhe à lembrança a imagem
(E) Nem é preciso olhar os exemplos da China, Índia e Rússia, muito branca da mãe, as brincadeiras no quintal, à tarde, com
com crescimento acima desses patamares. Ao conjunto inteiro os irmãos e o mundo mágico dos brinquedos.
da América Latina, o organismo internacional está atribuindo (E) Estava sempre dizendo coisas de que mais tarde se arre-
um crescimento médio, em 2007, de 5,6%, um pouco maior penderia. Prometia a si própria que da próxima vez, tomaria
do que o do Brasil. cuidado com as palavras, o que entretanto, não acontecia.
17. (VUNESP – TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – 21. (FCC – INFRAERO – ADMINISTRADOR – 2011) Está inteira-
2011) Assinale a alternativa em que a concordância verbal está cor- mente correta a pontuação do seguinte período:
reta. (A) Os personagens principais de uma história, responsáveis
(A) Haviam cooperativas de catadores na cidade de São Paulo. pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes, de peque-
(B) O lixo de casas e condomínios vão para aterros. nas providências que, tomadas por figurantes aparentemente
(C) O tratamento e a destinação corretos do lixo evitaria que sem importância, ditam o rumo de toda a história.
35% deles fosse despejado em aterros. (B) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
(D) Fazem dois anos que a prefeitura adia a questão do lixo. pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes, de peque-
(E) Somos nós quem paga a conta pelo descaso com a coleta nas providências que tomadas por figurantes, aparentemente
de lixo. sem importância, ditam o rumo de toda a história.
(C) Os personagens principais de uma história, responsáveis
18. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2012) pelo sentido maior dela dependem muitas vezes de pequenas
Assinale a opção que fornece a correta justificativa para as relações providências, que, tomadas por figurantes aparentemente,
de concordância no texto abaixo. sem importância, ditam o rumo de toda a história.
O bom desempenho do lado real da economia proporcionou (D) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
um período de vigoroso crescimento da arrecadação. A maior lucra- pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes de peque-
tividade das empresas foi decisiva para os resultados fiscais favo- nas providências, que tomadas por figurantes aparentemente
ráveis. Elevaram-se, de forma significativa e em valores reais, de- sem importância, ditam o rumo de toda a história.
flacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as (E) Os personagens principais de uma história, responsáveis,
receitas do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), a Contribuição pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes de pequenas
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), e a Contribuição para o Finan- providências, que tomadas por figurantes, aparentemente,
ciamento da Seguridade Social (Cofins). O crescimento da massa de sem importância, ditam o rumo de toda a história.
salários fez aumentar a arrecadação do Imposto de Renda Pessoa
Física (IRPF) e a receita de tributação sobre a folha da previdência 22. (CESGRANRIO – BNDES – ADVOGADO – 2004) No título do
social. Não menos relevantes foram os elevados ganhos de capital, artigo “A tal da demanda social”, a classe de palavra de “tal” é:
responsáveis pelo aumento da arrecadação do IRPF. (A) pronome;
(A) O uso do plural em “valores” é responsável pela flexão de (B) adjetivo;
plural em “deflacionados”. (C) advérbio;
(B) O plural em “resultados” é responsável pela flexão de (D) substantivo;
plural em “Elevaram-se”. (E) preposição.
(C) Emprega-se o singular em “proporcionou” para respeitar
as regras de concordância com “economia”. 23. Assinale a alternativa que apresenta a correta classificação
(D) O singular em “a arrecadação” é responsável pela flexão morfológica do pronome “alguém” (l. 44).
de singular em “fez aumentar”. (A) Pronome demonstrativo.
(E) A flexão de plural em “foram” justifica-se pela concordân- (B) Pronome relativo.
cia com “relevantes”. (C) Pronome possessivo.
(D) Pronome pessoal.
19. (CESGRANRIO – FINEP – TÉCNICO – 2011) A vírgula pode (E) Pronome indefinido.
ser retirada sem prejuízo para o significado e mantendo a norma
padrão na seguinte sentença: 24. Em relação à classe e ao emprego de palavras no texto, na
(A) Mário, vem falar comigo depois do expediente. oração “A abordagem social constitui-se em um processo de traba-
(B) Amanhã, apresentaremos a proposta de trabalho. lho planejado de aproximação” (linhas 1 e 2), os vocábulos subli-
(C) Telefonei para o Tavares, meu antigo chefe. nhados classificam-se, respectivamente, em
(D) Encomendei canetas, blocos e crachás para a reunião. (A) preposição, pronome, artigo, adjetivo e substantivo.
(E) Entrou na sala, cumprimentou a todos e iniciou o discurso. (B) pronome, preposição, artigo, substantivo e adjetivo.
(C) conjunção, preposição, numeral, substantivo e pronome.
(D) pronome, conjunção, artigo, adjetivo e adjetivo.
(E) conjunção, conjunção, numeral, substantivo e advérbio.
28
LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
25. (CONSULPLAN – ANALISTA DE INFORMÁTICA (SDS-SC) – Para agravar a tragédia, a empresa declarou que existem riscos
2008) A alternativa em que todas as palavras são formadas pelo de rompimento nas barragens de Germano e de Santarém. Segun-
mesmo processo de formação é: do o Departamento Nacional de Produção Mineral, pelo menos 16
(A) responsabilidade, musicalidade, defeituoso; barragens de mineração em todo o País apresentam condições de
(B) cativeiro, incorruptíveis, desfazer; insegurança. “O governo perdeu sua capacidade de aparelhar ór-
(C) deslealdade, colunista, incrível; gãos técnicos para fiscalização”, diz Malu. Na direção oposta
(D) anoitecer, festeiro, infeliz; Ao caminho da segurança, está o projeto de lei 654/2015, do
(E) reeducação, dignidade, enriquecer. senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê licença única em um
tempo exíguo para obras consideradas estratégicas. O novo mar-
26. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL – co regulatório da mineração, por sua vez, também concede priori-
2010) No verso “Para desentristecer, leãozinho”, Caetano Veloso dade à ação de mineradoras. “Ocorrerá um aumento dos conflitos
cria um neologismo. A opção que contém o processo de formação judiciais, o que não será interessante para o setor empresarial”, diz
utilizado para formar a palavra nova e o tipo de derivação que a Maurício Guetta, advogado do Instituto Sócio Ambiental (ISA). Com
palavra primitiva foi formada respectivamente é: o avanço dessa legislação outros danos irreversíveis podem ocorrer.
(A) derivação prefixal (des + entristecer); derivação parassinté- FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/441106_A+LA MA+-
tica (en + trist + ecer); QUE+AINDA+SUJA+O+BRASIL
(B) derivação sufixal (desentriste + cer); derivação imprópria
(en + triste + cer); 29. Observe as assertivas relacionadas ao texto lido:
(C) derivação regressiva (des + entristecer); derivação paras- I. O texto é predominantemente narrativo, já que narra um
sintética (en + trist + ecer); fato.
(D) derivação parassintética (en + trist + ecer); derivação prefi- II. O texto é predominantemente expositivo, já que pertence ao
xal (des + entristecer); gênero textual editorial.
(E) derivação prefixal (en + trist + ecer); derivação parassintéti- III. O texto é apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
ca (des + entristecer). que se trata de uma reportagem.
IV. O texto apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
27. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL – se trata de um editorial.
2010) A palavra “Olhar” em (meu olhar) é um exemplo de palavra
formada por derivação: Analise as assertivas e responda:
(A) parassintética; (A) Somente a I é correta.
(B) prefixal; (B) Somente a II é incorreta.
(C) sufixal; (C) Somente a III é correta
(D) imprópria; (D) A III e IV são corretas.
(E) regressiva.
30. Observe as assertivas relacionadas ao texto “A lama que
28. (FEMPERJ – VALEC – JORNALISTA – 2012) Intertextualidade ainda suja o Brasil”:
é a presença de um texto em outro; o pensamento abaixo que NÃO I- O texto é coeso, mas não é coerente, já que tem problemas
se fundamenta em intertextualidade é: no desenvolvimento do assunto.
(A) “Se tudo o que é bom dura pouco, eu já deveria ter morri- II- O texto é coerente, mas não é coeso, já que apresenta pro-
do há muito tempo.” blemas no uso de conjunções e preposições.
(B) “Nariz é essa parte do corpo que brilha, espirra, coça e se III- O texto é coeso e coerente, graças ao bom uso das classes
mete onde não é chamada.” de palavras e da ordem sintática.
(C) “Une-te aos bons e será um deles. Ou fica aqui com a IV- O texto é coeso e coerente, já que apresenta progressão
gente mesmo!” temática e bom uso dos recursos coesivos.
(D) “Vamos fazer o feijão com arroz. Se puder botar um ovo,
tudo bem.” Analise as assertivas e responda:
(E) “O Neymar é invendável, inegociável e imprestável.” (A) Somente a I é correta.
(B) Somente a II é incorreta.
Leia o texto abaixo para responder a questão. (C) Somente a III é correta.
A lama que ainda suja o Brasil (D) Somente a IV é correta.
Fabíola Perez(fabiola.perez@istoe.com.br)
Leia o texto abaixo para responder as questões.
A maior tragédia ambiental da história do País escancarou um
dos principais gargalos da conjuntura política e econômica brasilei- UM APÓLOGO
ra: a negligência do setor privado e dos órgãos públicos diante de Machado de Assis.
um desastre de repercussão mundial. Confirmada a morte do Rio
Doce, o governo federal ainda não apresentou um plano de recu- Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
peração efetivo para a área (apenas uma carta de intenções). Tam- — Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrola-
pouco a mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela da, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
anglo-australiana BHP Billiton. A única medida concreta foi a aplica- — Deixe-me, senhora.
ção da multa de R$ 250 milhões – sendo que não há garantias de — Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com
que ela será usada no local. “O leito do rio se perdeu e a calha pro- um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
funda e larga se transformou num córrego raso”, diz Malu Ribeiro, — Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
coordenadora da rede de águas da Fundação SOS Mata Atlântica, Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem
sobre o desastre em Mariana, Minas Gerais. “O volume de rejeitos o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos
se tornou uma bomba relógio na região.” outros.
29
LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
— Mas você é orgulhosa. 31. De acordo com o texto “Um Apólogo” de Machado de Assis
— Decerto que sou. e com a ilustração abaixo, e levando em consideração as persona-
— Mas por quê? gens presentes nas narrativas tanto verbal quanto visual, indique
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa a opção em que a fala não é compatível com a associação entre os
ama, quem é que os cose, senão eu? elementos dos textos:
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora
que quem os cose sou eu, e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pe-
daço ao outro, dou feição aos babados…
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e
mando…
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel su-
balterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o
trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto…
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa.
Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que
tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a
costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, en-
fiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando (A) “- Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda en-
orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre rolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?” (L.02)
os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a (B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é
isto uma cor poética. E dizia a agulha: agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar?”
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? (L.06)
Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é (C) “- Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adian-
que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo te, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu
e acima… faço e mando...” (L.14-15)
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela (D) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há
agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa
o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a
ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era eles, furando abaixo e acima.” (L.25-26)
tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-pli- (E) “- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para
c-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha
costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até de costura. Faze como eu, que não abro caminho para nin-
que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile. guém. Onde me espetam, fico.” (L.40-41)
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que
a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para 32. O diminutivo, em Língua Portuguesa, pode expressar outros
dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da valores semânticos além da noção de dimensão, como afetividade,
bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, pejoratividade e intensidade. Nesse sentido, pode-se afirmar que
alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, os valores semânticos utilizados nas formas diminutivas “unidi-
perguntou-lhe: nha”(L.26) e “corpinho”(L.32), são, respectivamente, de:
— Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da (A) dimensão e pejoratividade;
baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que (B) afetividade e intensidade;
vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para (C) afetividade e dimensão;
a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? (D) intensidade e dimensão;
Vamos, diga lá. (E) pejoratividade e afetividade.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de ca-
beça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: 33. Em um texto narrativo como “Um Apólogo”, é muito co-
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é mum uso de linguagem denotativa e conotativa. Assinale a alterna-
que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze tiva cujo trecho retirado do texto é uma demonstração da expressi-
como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, vidade dos termos “linha” e “agulha” em sentido figurado.
fico. (A) “- É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de
Contei esta história a um professor de melancolia, que me dis- nossa ama, quem é que os cose, senão eu?” (L.11)
se, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a (B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agu-
muita linha ordinária! lha. Agulha não tem cabeça.” (L.06)
(C) “- Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um
pedaço ao outro, dou feição aos babados...” (L.13)
(D) “- Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordi-
nária!” (L.43)
(E) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pou-
co?” (L.25)
30
LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
34. De acordo com a temática geral tratada no texto e, de modo 31 E
metafórico, considerando as relações existentes em um ambiente
de trabalho, aponte a opção que NÃO corresponde a uma ideia pre- 32 D
sente no texto: 33 D
(A) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação
equânime em ambientes coletivos de trabalho; 34 D
(B) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação
equânime em ambientes coletivos de trabalho;
(C) O texto indica que, em um ambiente coletivo de trabalho, ANOTAÇÕES
cada sujeito possui atribuições próprias.
(D) O texto sugere que o reconhecimento no ambiente cole-
tivo de trabalho parte efetivamente das próprias atitudes do ______________________________________________________
sujeito.
(E) O texto revela que, em um ambiente coletivo de trabalho, ______________________________________________________
frequentemente é difícil lidar com as vaidades individuais.
______________________________________________________
______________________________________________________
GABARITO ______________________________________________________
______________________________________________________
1 B ______________________________________________________
2 C
______________________________________________________
3 C
4 E ______________________________________________________
5 A ______________________________________________________
6 D
______________________________________________________
7 B
______________________________________________________
8 D
9 B ______________________________________________________
10 C ______________________________________________________
11 A
______________________________________________________
12 A
13 E ______________________________________________________
14 D ______________________________________________________
15 A
______________________________________________________
16 D
______________________________________________________
17 E
18 A ______________________________________________________
19 B ______________________________________________________
20 E
______________________________________________________
21 A
22 A ______________________________________________________
23 E _____________________________________________________
24 B
_____________________________________________________
25 A
______________________________________________________
26 A
27 D ______________________________________________________
28 E ______________________________________________________
29 C
______________________________________________________
30 D
31
LÍNGUA PORTUGUESA / INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES
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RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
1. Estrutura lógica de relações arbitrárias entre pessoas, lugares, objetos ou eventos fictícios; dedução de novas informações das rela-
ções fornecidas e avaliação das condições usadas para estabelecer a estrutura daquelas relações. Compreensão e análise da lógica de
uma situação, utilizando as funções intelectuais: raciocínio verbal, raciocínio matemático, raciocínio sequencial, orientação espacial e
temporal, formação de conceitos, discriminação de elementos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Operações com conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3. Raciocínio lógico envolvendo problemas aritméticos, geométricos e matriciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
ESTRUTURA LÓGICA DE RELAÇÕES ARBITRÁRIAS ENTRE PESSOAS, LUGARES, OBJETOS OU EVENTOS FICTÍCIOS;
DEDUÇÃO DE NOVAS INFORMAÇÕES DAS RELAÇÕES FORNECIDAS E AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES USADAS PARA
ESTABELECER A ESTRUTURA DAQUELAS RELAÇÕES. COMPREENSÃO E ANÁLISE DA LÓGICA DE UMA SITUAÇÃO, UTI-
LIZANDO AS FUNÇÕES INTELECTUAIS: RACIOCÍNIO VERBAL, RACIOCÍNIO MATEMÁTICO, RACIOCÍNIO SEQUENCIAL,
ORIENTAÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL, FORMAÇÃO DE CONCEITOS, DISCRIMINAÇÃO DE ELEMENTOS
RACIOCÍNIO VERBAL
Avalia a capacidade de interpretar informação escrita e tirar conclusões lógicas.
Uma avaliação de raciocínio verbal é um tipo de análise de habilidade ou aptidão, que pode ser aplicada ao se candidatar a uma vaga.
Raciocínio verbal é parte da capacidade cognitiva ou inteligência geral; é a percepção, aquisição, organização e aplicação do conhecimento
por meio da linguagem.
Nos testes de raciocínio verbal, geralmente você recebe um trecho com informações e precisa avaliar um conjunto de afirmações,
selecionando uma das possíveis respostas:
A – Verdadeiro (A afirmação é uma consequência lógica das informações ou opiniões contidas no trecho)
B – Falso (A afirmação é logicamente falsa, consideradas as informações ou opiniões contidas no trecho)
C – Impossível dizer (Impossível determinar se a afirmação é verdadeira ou falsa sem mais informações)
ESTRUTURAS LÓGICAS
Precisamos antes de tudo compreender o que são proposições. Chama-se proposição toda sentença declarativa à qual podemos atri-
buir um dos valores lógicos: verdadeiro ou falso, nunca ambos. Trata-se, portanto, de uma sentença fechada.
• Sentença fechada: quando a proposição admitir um ÚNICO valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será considerada
uma frase, proposição ou sentença lógica.
1
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
• Proposições compostas (ou moleculares ou estruturas lógicas): aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições sim-
ples. As proposições compostas são designadas pelas letras latinas maiúsculas P,Q,R, R..., também chamadas letras proposicionais.
ATENÇÃO: TODAS as proposições compostas são formadas por duas proposições simples.
Negação ~ Não p
Conjunção ^ peq
Disjunção Inclusiva v p ou q
Disjunção Exclusiva v Ou p ou q
Condicional → Se p então q
2
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Bicondicional ↔ p se e somente se q
Em síntese temos a tabela verdade das proposições que facilitará na resolução de diversas questões
Exemplo:
(MEC – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA OS POSTOS 9,10,11 E 16 – CESPE)
A figura acima apresenta as colunas iniciais de uma tabela-verdade, em que P, Q e R representam proposições lógicas, e V e F corres-
pondem, respectivamente, aos valores lógicos verdadeiro e falso.
Com base nessas informações e utilizando os conectivos lógicos usuais, julgue o item subsecutivo.
A última coluna da tabela-verdade referente à proposição lógica P v (Q↔R) quando representada na posição horizontal é igual a
( ) Certo
( ) Errado
Resolução:
P v (Q↔R), montando a tabela verdade temos:
R Q P [P v (Q ↔ R) ]
V V V V V V V V
V V F F V V V V
V F V V V F F V
V F F F F F F V
3
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
F V V V V V F F
F V F F F V F F
F F V V V F V F
F F F F V F V F
Resposta: Certo
Proposição
Conjunto de palavras ou símbolos que expressam um pensamento ou uma ideia de sentido completo. Elas transmitem pensamentos,
isto é, afirmam fatos ou exprimem juízos que formamos a respeito de determinados conceitos ou entes.
Valores lógicos
São os valores atribuídos as proposições, podendo ser uma verdade, se a proposição é verdadeira (V), e uma falsidade, se a proposi-
ção é falsa (F). Designamos as letras V e F para abreviarmos os valores lógicos verdade e falsidade respectivamente.
Com isso temos alguns aximos da lógica:
– PRINCÍPIO DA NÃO CONTRADIÇÃO: uma proposição não pode ser verdadeira E falsa ao mesmo tempo.
– PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO: toda proposição OU é verdadeira OU é falsa, verificamos sempre um desses casos, NUNCA
existindo um terceiro caso.
“Toda proposição tem um, e somente um, dos valores, que são: V ou F.”
• Sentença fechada: quando a proposição admitir um ÚNICO valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será considerada
uma frase, proposição ou sentença lógica.
Exemplos
r: Thiago é careca.
s: Pedro é professor.
• Proposições compostas (ou moleculares ou estruturas lógicas): aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições
simples. As proposições compostas são designadas pelas letras latinas maiúsculas P,Q,R, R..., também chamadas letras proposicionais.
Exemplo
P: Thiago é careca e Pedro é professor.
ATENÇÃO: TODAS as proposições compostas são formadas por duas proposições simples.
Exemplos:
1. (CESPE/UNB) Na lista de frases apresentadas a seguir:
– “A frase dentro destas aspas é uma mentira.”
– A expressão x + y é positiva.
– O valor de √4 + 3 = 7.
– Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira.
– O que é isto?
Há exatamente:
(A) uma proposição;
(B) duas proposições;
4
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
(C) três proposições;
(D) quatro proposições;
(E) todas são proposições.
Resolução:
Analisemos cada alternativa:
(A) “A frase dentro destas aspas é uma mentira”, não podemos atribuir valores lógicos a ela, logo não é uma sentença lógica.
(B) A expressão x + y é positiva, não temos como atribuir valores lógicos, logo não é sentença lógica.
(C) O valor de √4 + 3 = 7; é uma sentença lógica pois podemos atribuir valores lógicos, independente do resultado que tenhamos
(D) Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira, também podemos atribuir valores lógicos (não estamos considerando a quantidade
certa de gols, apenas se podemos atribuir um valor de V ou F a sentença).
(E) O que é isto? - como vemos não podemos atribuir valores lógicos por se tratar de uma frase interrogativa.
Resposta: B.
Negação ~ Não p
Conjunção ^ peq
Disjunção Inclusiva v p ou q
Disjunção Exclusiva v Ou p ou q
Condicional → Se p então q
5
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Bicondicional ↔ p se e somente se q
Exemplo:
2. (PC/SP - Delegado de Polícia - VUNESP) Os conectivos ou operadores lógicos são palavras (da linguagem comum) ou símbolos (da
linguagem formal) utilizados para conectar proposições de acordo com regras formais preestabelecidas. Assinale a alternativa que apre-
senta exemplos de conjunção, negação e implicação, respectivamente.
(A) ¬ p, p v q, p ∧ q
(B) p ∧ q, ¬ p, p -> q
(C) p -> q, p v q, ¬ p
(D) p v p, p -> q, ¬ q
(E) p v q, ¬ q, p v q
Resolução:
A conjunção é um tipo de proposição composta e apresenta o conectivo “e”, e é representada pelo símbolo ∧. A negação é repre-
sentada pelo símbolo ~ou cantoneira (¬) e pode negar uma proposição simples (por exemplo: ¬ p ) ou composta. Já a implicação é uma
proposição composta do tipo condicional (Se, então) é representada pelo símbolo (→).
Resposta: B.
Tabela Verdade
Quando trabalhamos com as proposições compostas, determinamos o seu valor lógico partindo das proposições simples que a com-
põe. O valor lógico de qualquer proposição composta depende UNICAMENTE dos valores lógicos das proposições simples componentes,
ficando por eles UNIVOCAMENTE determinados.
• Número de linhas de uma Tabela Verdade: depende do número de proposições simples que a integram, sendo dado pelo seguinte
teorema:
“A tabela verdade de uma proposição composta com n* proposições simples componentes contém 2n linhas.”
Exemplo:
3. (CESPE/UNB) Se “A”, “B”, “C” e “D” forem proposições simples e distintas, então o número de linhas da tabela-verdade da propo-
sição (A → B) ↔ (C → D) será igual a:
(A) 2;
(B) 4;
(C) 8;
(D) 16;
(E) 32.
Resolução:
Veja que podemos aplicar a mesma linha do raciocínio acima, então teremos:
Número de linhas = 2n = 24 = 16 linhas.
Resposta D.
• Contradição: possui todos os valores lógicos, da tabela verdade (última coluna), F (falsidades). A contradição é a negação da Tauto-
logia e vice versa.
Princípio da substituição: Seja P (p, q, r, ...) é uma contradição, então P (P0; Q0; R0; ...) também é uma contradição, quaisquer que sejam
as proposições P0, Q0, R0, ...
• Contingência: possui valores lógicos V e F ,da tabela verdade (última coluna). Em outros termos a contingência é uma proposição
composta que não é tautologia e nem contradição.
6
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Exemplos:
4. (DPU – ANALISTA – CESPE) Um estudante de direito, com o objetivo de sistematizar o seu estudo, criou sua própria legenda, na qual
identificava, por letras, algumas afirmações relevantes quanto à disciplina estudada e as vinculava por meio de sentenças (proposições).
No seu vocabulário particular constava, por exemplo:
P: Cometeu o crime A.
Q: Cometeu o crime B.
R: Será punido, obrigatoriamente, com a pena de reclusão no regime fechado.
S: Poderá optar pelo pagamento de fiança.
Ao revisar seus escritos, o estudante, apesar de não recordar qual era o crime B, lembrou que ele era inafiançável.
Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o item que se segue.
A sentença (P→Q)↔((~Q)→(~P)) será sempre verdadeira, independentemente das valorações de P e Q como verdadeiras ou falsas.
( ) Certo
( ) Errado
Resolução:
Considerando P e Q como V.
(V→V) ↔ ((F)→(F))
(V) ↔ (V) = V
Considerando P e Q como F
(F→F) ↔ ((V)→(V))
(V) ↔ (V) = V
Então concluímos que a afirmação é verdadeira.
Resposta: Certo.
Equivalência
Duas ou mais proposições compostas são equivalentes, quando mesmo possuindo estruturas lógicas diferentes, apresentam a mesma
solução em suas respectivas tabelas verdade.
Se as proposições P(p,q,r,...) e Q(p,q,r,...) são ambas TAUTOLOGIAS, ou então, são CONTRADIÇÕES, então são EQUIVALENTES.
Exemplo:
5. (VUNESP/TJSP) Uma negação lógica para a afirmação “João é rico, ou Maria é pobre” é:
(A) Se João é rico, então Maria é pobre.
(B) João não é rico, e Maria não é pobre.
(C) João é rico, e Maria não é pobre.
(D) Se João não é rico, então Maria não é pobre.
(E) João não é rico, ou Maria não é pobre.
Resolução:
Nesta questão, a proposição a ser negada trata-se da disjunção de duas proposições lógicas simples. Para tal, trocamos o conectivo
por “e” e negamos as proposições “João é rico” e “Maria é pobre”. Vejam como fica:
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RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Resposta: B.
Leis de Morgan
Com elas:
– Negamos que duas dadas proposições são ao mesmo tempo verdadeiras equivalendo a afirmar que pelo menos uma é falsa
– Negamos que uma pelo menos de duas proposições é verdadeira equivalendo a afirmar que ambas são falsas.
ATENÇÃO
As Leis de Morgan exprimem que NEGAÇÃO CONJUNÇÃO em DISJUNÇÃO
transforma: DISJUNÇÃO em CONJUNÇÃO
CONECTIVOS
Para compôr novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos.
ATENÇÃO: Sentenças interligadas pelo conectivo “e” possuirão o valor verdadeiro somente quando todas as sentenças, ou argumen-
tos lógicos, tiverem valores verdadeiros.
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RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Exemplos:
R: Paulo é professor ou administrador
S: Maria é jovem ou idosa
No primeiro caso, o “ou” é inclusivo,pois pelo menos uma das proposições é verdadeira, podendo ser ambas.
No caso da segunda, o “ou” é exclusivo, pois somente uma das proposições poderá ser verdadeira
Ele pode ser “inclusivo”(considera os dois casos) ou “exclusivo”(considera apenas um dos casos)
Exemplo:
R: Paulo é professor ou administrador
S: Maria é jovem ou idosa
No primeiro caso, o “ou” é inclusivo,pois pelo menos uma das proposições é verdadeira, podendo ser ambas.
No caso da segunda, o “ou” é exclusivo, pois somente uma das proposições poderá ser verdadeiro
Observe que uma subjunção p→q somente será falsa quando a primeira proposição, p, for verdadeira e a segunda, q, for falsa.
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RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Conectivo “Se e somente se” (↔)
Se p e q são duas proposições, a proposição p↔q1 é chamada bijunção ou bicondicional, que também pode ser lida como: “p é con-
dição necessária e suficiente para q” ou, ainda, “q é condição necessária e suficiente para p”.
Considere, agora, a seguinte bijunção: “Irei à praia se e somente se fizer sol”. Podem ocorrer as situações:
1. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
2. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
3. Não fez sol e fui à praia. (Eu menti)
4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade). Sua tabela verdade:
Observe que uma bicondicional só é verdadeira quando as proposições formadoras são ambas falsas ou ambas verdadeiras.
ATENÇÃO: O importante sobre os conectivos é ter em mente a tabela de cada um deles, para que assim você possa resolver qualquer
questão referente ao assunto.
Em resumo:
Exemplo:
(PC/SP - DELEGADO DE POLÍCIA - VUNESP) Os conectivos ou operadores lógicos são palavras (da linguagem comum) ou símbolos (da
linguagem formal) utilizados para conectar proposições de acordo com regras formais preestabelecidas. Assinale a alternativa que apre-
senta exemplos de conjunção, negação e implicação, respectivamente.
(A) ¬ p, p v q, p ∧ q
(B) p ∧ q, ¬ p, p -> q
(C) p -> q, p v q, ¬ p
(D) p v p, p -> q, ¬ q
(E) p v q, ¬ q, p v q
Resolução:
A conjunção é um tipo de proposição composta e apresenta o conectivo “e”, e é representada pelo símbolo ∧. A negação é repre-
sentada pelo símbolo ~ou cantoneira (¬) e pode negar uma proposição simples (por exemplo: ¬ p ) ou composta. Já a implicação é uma
proposição composta do tipo condicional (Se, então) é representada pelo símbolo (→).
Resposta: B
CONTRADIÇÕES
São proposições compostas formadas por duas ou mais proposições onde seu valor lógico é sempre FALSO, independentemente do
valor lógico das proposições simples que a compõem. Vejamos:
A proposição: p ^ ~p é uma contradição, conforme mostra a sua tabela-verdade:
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RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
- Somente uma contradição implica uma contradição:
Exemplo:
(PEC-FAZ) Conforme a teoria da lógica proposicional, a propo-
sição ~P ∧ P é:
(A) uma tautologia.
(B) equivalente à proposição ~p ∨ p.
(C) uma contradição. Propriedades
(D) uma contingência. • Reflexiva:
(E) uma disjunção. – P(p,q,r,...) ⇒ P(p,q,r,...)
– Uma proposição complexa implica ela mesma.
Resolução:
Montando a tabela teremos que: • Transitiva:
– Se P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...) e
P ~p ~p ^p Q(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...), então
P(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...)
V F F
– Se P ⇒ Q e Q ⇒ R, então P ⇒ R
V F F
F V F Regras de Inferência
• Inferência é o ato ou processo de derivar conclusões lógicas
F V F de proposições conhecidas ou decididamente verdadeiras. Em ou-
tras palavras: é a obtenção de novas proposições a partir de propo-
Como todos os valores são Falsidades (F) logo estamos diante sições verdadeiras já existentes.
de uma CONTRADIÇÃO.
Resposta: C Regras de Inferência obtidas da implicação lógica
A proposição P(p,q,r,...) implica logicamente a proposição Q(p,-
q,r,...) quando Q é verdadeira todas as vezes que P é verdadeira.
Representamos a implicação com o símbolo “⇒”, simbolicamente
temos:
P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...).
Exemplo:
• Modus Ponens
Observe:
- Toda proposição implica uma Tautologia:
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RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
• Modus Tollens Vejamos algumas formas:
- Todo A é B.
- Nenhum A é B.
- Algum A é B.
- Algum A não é B.
• Teorema
P(p,q,r,..) ⇒ Q(p,q,r,...) se e somente se P(p,q,r,...) → Q(p,q,r,...)
Observe que:
→ indica uma operação lógica entre as proposições. Ex.: das
proposições p e q, dá-se a nova proposição p → q.
⇒ indica uma relação. Ex.: estabelece que a condicional P →
Q é tautológica.
Inferências
Tais proposições afirmam que o conjunto “A” está contido no
• Regra do Silogismo Hipotético
conjunto “B”, ou seja, que todo e qualquer elemento de “A” é tam-
bém elemento de “B”. Observe que “Toda A é B” é diferente de
“Todo B é A”.
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RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Em síntese:
Resolução:
Temos um quantificador particular (alguns) e uma proposição
do tipo conjunção (conectivo “e”). Pede-se a sua negação.
Resolução:
Se a afirmação é falsa a negação será verdadeira. Logo, a nega-
ção de um quantificador universal categórico afirmativo se faz atra-
vés de um quantificador existencial negativo. Logo teremos: Pelo
menos um professor não é psicólogo.
Resposta: E
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RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
• Equivalência entre as proposições Vejamos a tabela abaixo as proposições categóricas:
Basta usar o triângulo a seguir e economizar um bom tempo na
resolução de questões.
TIPO PREPOSIÇÃO DIAGRAMAS
TODO
A
AéB
Exemplo:
(PC/PI - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL - UESPI) Qual a negação NENHUM
lógica da sentença “Todo número natural é maior do que ou igual E
AéB
a cinco”?
(A) Todo número natural é menor do que cinco.
Existe pelo menos um elemento que
(B) Nenhum número natural é menor do que cinco.
pertence a A, então não pertence a B, e
(C) Todo número natural é diferente de cinco.
vice-versa.
(D) Existe um número natural que é menor do que cinco.
(E) Existe um número natural que é diferente de cinco.
Resolução:
Do enunciado temos um quantificador universal (Todo) e pede-
-se a sua negação.
O quantificador universal todos pode ser negado, seguindo o
esquema abaixo, pelo quantificador algum, pelo menos um, existe
ao menos um, etc. Não se nega um quantificador universal com To- Existe pelo menos um elemento co-
dos e Nenhum, que também são universais. mum aos conjuntos A e B.
Podemos ainda representar das seguin-
ALGUM tes formas:
I
AéB
Diagramas lógicos
Os diagramas lógicos são usados na resolução de vários proble-
mas. É uma ferramenta para resolvermos problemas que envolvam
argumentos dedutivos, as quais as premissas deste argumento po-
dem ser formadas por proposições categóricas.
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RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
- Algum teatro é casa de cultura
ALGUM
O
A NÃO é B
Visto que na primeira chegamos à conclusão que C = CC
Segundo as afirmativas temos:
Perceba-se que, nesta sentença, a aten- (A) existem cinemas que não são teatros- Observando o último
ção está sobre o(s) elemento (s) de A que diagrama vimos que não é uma verdade, pois temos que existe pelo
não são B (enquanto que, no “Algum A é menos um dos cinemas é considerado teatro.
B”, a atenção estava sobre os que eram B,
ou seja, na intercessão).
Temos também no segundo caso, a dife-
rença entre conjuntos, que forma o con-
junto A - B
Exemplo:
(GDF–ANALISTA DE ATIVIDADES CULTURAIS ADMINISTRAÇÃO
– IADES) Considere as proposições: “todo cinema é uma casa de
cultura”, “existem teatros que não são cinemas” e “algum teatro é
casa de cultura”. Logo, é correto afirmar que
(A) existem cinemas que não são teatros.
(B) existe teatro que não é casa de cultura.
(B) existe teatro que não é casa de cultura. – Errado, pelo mes-
(C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro.
mo princípio acima.
(D) existe casa de cultura que não é cinema.
(C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro. – Errado,
(E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema.
a primeira proposição já nos afirma o contrário. O diagrama nos
afirma isso
Resolução:
Vamos chamar de:
Cinema = C
Casa de Cultura = CC
Teatro = T
Analisando as proposições temos:
- Todo cinema é uma casa de cultura
Resposta: E
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RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO
Chama-se argumento a afirmação de que um grupo de propo-
sições iniciais redunda em outra proposição final, que será conse-
quência das primeiras. Ou seja, argumento é a relação que associa
um conjunto de proposições P1, P2,... Pn , chamadas premissas do
argumento, a uma proposição Q, chamada de conclusão do argu-
mento.
Argumentos Válidos
Dizemos que um argumento é válido (ou ainda legítimo ou bem
construído), quando a sua conclusão é uma consequência obrigató-
ria do seu conjunto de premissas.
Será sempre assim a representação gráfica de uma sentença
Exemplo: “Nenhum A é B”: dois conjuntos separados, sem nenhum ponto em
O silogismo... comum.
P1: Todos os homens são pássaros. Tomemos agora as representações gráficas das duas premissas
P2: Nenhum pássaro é animal. vistas acima e as analisemos em conjunto. Teremos:
Q: Portanto, nenhum homem é animal.
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RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Exemplo:
P1: Todas as crianças gostam de chocolate.
P2: Patrícia não é criança.
Q: Portanto, Patrícia não gosta de chocolate.
Este é um argumento inválido, falacioso, mal construído, pois as premissas não garantem (não obrigam) a verdade da conclusão.
Patrícia pode gostar de chocolate mesmo que não seja criança, pois a primeira premissa não afirmou que somente as crianças gostam de
chocolate.
Utilizando os diagramas de conjuntos para provar a validade do argumento anterior, provaremos, utilizando-nos do mesmo artifício,
que o argumento em análise é inválido. Comecemos pela primeira premissa: “Todas as crianças gostam de chocolate”.
Analisemos agora o que diz a segunda premissa: “Patrícia não é criança”. O que temos que fazer aqui é pegar o diagrama acima (da
primeira premissa) e nele indicar onde poderá estar localizada a Patrícia, obedecendo ao que consta nesta segunda premissa. Vemos
facilmente que a Patrícia só não poderá estar dentro do círculo das crianças. É a única restrição que faz a segunda premissa! Isto posto,
concluímos que Patrícia poderá estar em dois lugares distintos do diagrama:
1º) Fora do conjunto maior;
2º) Dentro do conjunto maior. Vejamos:
Finalmente, passemos à análise da conclusão: “Patrícia não gosta de chocolate”. Ora, o que nos resta para sabermos se este argumen-
to é válido ou não, é justamente confirmar se esse resultado (se esta conclusão) é necessariamente verdadeiro!
- É necessariamente verdadeiro que Patrícia não gosta de chocolate? Olhando para o desenho acima, respondemos que não! Pode
ser que ela não goste de chocolate (caso esteja fora do círculo), mas também pode ser que goste (caso esteja dentro do círculo)! Enfim, o
argumento é inválido, pois as premissas não garantiram a veracidade da conclusão!
17
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
4º) Utilizando as operações lógicas com os conectivos, considerando premissas verdadeiras e conclusão falsa.
É indicado este caminho quando notarmos que a aplicação do terceiro método não possibilitará a descoberta do valor lógico da con-
clusão de maneira direta, mas somente por meio de análises mais complicadas.
Em síntese:
Exemplo:
Diga se o argumento abaixo é válido ou inválido:
(p ∧ q) → r
_____~r_______
~p ∨ ~q
Resolução:
-1ª Pergunta) O argumento apresenta as palavras todo, algum ou nenhum?
A resposta é não! Logo, descartamos o 1º método e passamos à pergunta seguinte.
18
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
- 2ª Premissa) ~r é verdade. Logo: r é falsa! A condicional só será F quando a 1ª for verdadeira e a 2ª falsa,
- 1ª Premissa) (p ∧ q)r é verdade. Sabendo que r é falsa, utilizando isso temos:
concluímos que (p ∧ q) tem que ser também falsa. E quando uma O que se quer saber é: Se Maria foi ao cinema, então Fernando
conjunção (e) é falsa? Quando uma das premissas for falsa ou am- estava estudando. // B → ~E
bas forem falsas. Logo, não é possível determinamos os valores Iniciando temos:
lógicos de p e q. Apesar de inicialmente o 3º método se mostrar 4º - Quando chove (F), Maria não vai ao cinema. (F) // A → ~B
adequado, por meio do mesmo, não poderemos determinar se o = V – para que o argumento seja válido temos que Quando chove
argumento é ou NÃO VÁLIDO. tem que ser F.
3º - Quando Cláudio fica em casa (V), Maria vai ao cinema (V).
Resolução pelo 4º Método // C → B = V - para que o argumento seja válido temos que Maria
Considerando a conclusão falsa e premissas verdadeiras. Tere- vai ao cinema tem que ser V.
mos: 2º - Quando Cláudio sai de casa(F), não faz frio (F). // ~C → ~D
- Conclusão) ~p v ~q é falso. Logo: p é verdadeiro e q é verda- = V - para que o argumento seja válido temos que Quando Cláudio
deiro! sai de casa tem que ser F.
Agora, passamos a testar as premissas, que são consideradas 5º - Quando Fernando está estudando (V ou F), não chove (V).
verdadeiras! Teremos: // E → ~A = V. – neste caso Quando Fernando está estudando pode
- 1ª Premissa) (p∧q)r é verdade. Sabendo que p e q são ver- ser V ou F.
dadeiros, então a primeira parte da condicional acima também é 1º- Durante a noite(V), faz frio (V). // F → D = V
verdadeira. Daí resta que a segunda parte não pode ser falsa. Logo:
r é verdadeiro. Logo nada podemos afirmar sobre a afirmação: Se Maria foi ao
- 2ª Premissa) Sabendo que r é verdadeiro, teremos que ~r é cinema (V), então Fernando estava estudando (V ou F); pois temos
falso! Opa! A premissa deveria ser verdadeira, e não foi! dois valores lógicos para chegarmos à conclusão (V ou F).
Resposta: Errado
Neste caso, precisaríamos nos lembrar de que o teste, aqui no
4º método, é diferente do teste do 3º: não havendo a existência si- (PETROBRAS – TÉCNICO (A) DE EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO
multânea da conclusão falsa e premissas verdadeiras, teremos que JÚNIOR – INFORMÁTICA – CESGRANRIO) Se Esmeralda é uma fada,
o argumento é válido! Conclusão: o argumento é válido! então Bongrado é um elfo. Se Bongrado é um elfo, então Monarca
é um centauro. Se Monarca é um centauro, então Tristeza é uma
Exemplos: bruxa.
(DPU – AGENTE ADMINISTRATIVO – CESPE) Considere que as Ora, sabe-se que Tristeza não é uma bruxa, logo
seguintes proposições sejam verdadeiras. (A) Esmeralda é uma fada, e Bongrado não é um elfo.
• Quando chove, Maria não vai ao cinema. (B) Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.
• Quando Cláudio fica em casa, Maria vai ao cinema. (C) Bongrado é um elfo, e Monarca é um centauro.
• Quando Cláudio sai de casa, não faz frio. (D) Bongrado é um elfo, e Esmeralda é uma fada
• Quando Fernando está estudando, não chove. (E) Monarca é um centauro, e Bongrado não é um elfo.
• Durante a noite, faz frio.
Resolução:
Tendo como referência as proposições apresentadas, julgue o Vamos analisar cada frase partindo da afirmativa Trizteza não é
item subsecutivo. bruxa, considerando ela como (V), precisamos ter como conclusão
Se Maria foi ao cinema, então Fernando estava estudando. o valor lógico (V), então:
( ) Certo (4) Se Esmeralda é uma fada(F), então Bongrado é um elfo (F)
( ) Errado →V
(3) Se Bongrado é um elfo (F), então Monarca é um centauro
Resolução: (F) → V
A questão trata-se de lógica de argumentação, dadas as pre- (2) Se Monarca é um centauro(F), então Tristeza é uma bruxa(F)
missas chegamos a uma conclusão. Enumerando as premissas: →V
A = Chove (1) Tristeza não é uma bruxa (V)
B = Maria vai ao cinema
C = Cláudio fica em casa Logo:
D = Faz frio Temos que:
E = Fernando está estudando Esmeralda não é fada(V)
F = É noite Bongrado não é elfo (V)
A argumentação parte que a conclusão deve ser (V) Monarca não é um centauro (V)
Lembramos a tabela verdade da condicional: Como a conclusão parte da conjunção, o mesmo só será verda-
deiro quando todas as afirmativas forem verdadeiras, logo, a única
que contém esse valor lógico é:
Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.
Resposta: B
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RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
01. Três homens, Luís, Carlos e Paulo, são casados com Lúcia, Patrícia e Maria, mas não sabemos quem ê casado com quem. Eles tra-
balham com Engenharia, Advocacia e Medicina, mas também não sabemos quem faz o quê. Com base nas dicas abaixo, tente descobrir o
nome de cada marido, a profissão de cada um e o nome de suas esposas.
a) O médico é casado com Maria.
b) Paulo é advogado.
c) Patrícia não é casada com Paulo.
d) Carlos não é médico.
Vamos montar o passo a passo para que você possa compreender como chegar a conclusão da questão.
1º passo – vamos montar uma tabela para facilitar a visualização da resolução, a mesma deve conter as informações prestadas no
enunciado, nas quais podem ser divididas em três grupos: homens, esposas e profissões.
3º passo preenchimento de nossa tabela, com as informações mais óbvias do problema, aquelas que não deixam margem a nenhuma
dúvida. Em nosso exemplo:
- O médico é casado com Maria: marque um “S” na tabela principal na célula comum a “Médico” e “Maria”, e um “N” nas demais
células referentes a esse “S”.
ATENÇÃO: se o médico é casado com Maria, ele NÃO PODE ser casado com Lúcia e Patrícia, então colocamos “N” no cruzamento
de Medicina e elas. E se Maria é casada com o médico, logo ela NÃO PODE ser casada com o engenheiro e nem com o advogado (logo
colocamos “N” no cruzamento do nome de Maria com essas profissões).
– Paulo é advogado: Vamos preencher as duas tabelas (tabela gabarito e tabela principal) agora.
– Patrícia não é casada com Paulo: Vamos preencher com “N” na tabela principal
– Carlos não é médico: preenchemos com um “N” na tabela principal a célula comum a Carlos e “médico”.
20
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N
Notamos aqui que Luís então é o médico, pois foi a célula que ficou em branco. Podemos também completar a tabela gabarito.
Novamente observamos uma célula vazia no cruzamento de Carlos com Engenharia. Marcamos um “S” nesta célula. E preenchemos
sua tabela gabarito.
4º passo – após as anotações feitas na tabela principal e na tabela gabarito, vamos procurar informações que levem a novas conclu-
sões, que serão marcadas nessas tabelas.
Observe que Maria é esposa do médico, que se descobriu ser Luís, fato que poderia ser registrado na tabela-gabarito. Mas não vamos
fazer agora, pois essa conclusão só foi facilmente encontrada porque o problema que está sendo analisado é muito simples. Vamos con-
tinuar o raciocínio e fazer as marcações mais tarde. Além disso, sabemos que Patrícia não é casada com Paulo. Como Paulo é o advogado,
podemos concluir que Patrícia não é casada com o advogado.
Verificamos, na tabela acima, que Patrícia tem de ser casada com o engenheiro, e Lúcia tem de ser casada com o advogado.
Concluímos, então, que Lúcia é casada com o advogado (que é Paulo), Patrícia é casada com o engenheiro (que e Carlos) e Maria é
casada com o médico (que é Luís).
Preenchendo a tabela-gabarito, vemos que o problema está resolvido:
21
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS Agora, completando o restante:
Paulo viajou para Salvador, pois a nenhum dos três viajou. En-
Carlos Engenheiro Patrícia tão, Arnaldo viajou para Fortaleza e Luiz para Goiânia
Luís Médico Maria
Paulo Advogado Lúcia Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador
Luiz N S N N
Exemplo: (TRT-9ª REGIÃO/PR – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMI-
NISTRATIVA – FCC) Luiz, Arnaldo, Mariana e Paulo viajaram em janeiro, Arnaldo S N N N
todos para diferentes cidades, que foram Fortaleza, Goiânia, Curitiba e Mariana N N S N
Salvador. Com relação às cidades para onde eles viajaram, sabe-se que: Paulo N N N S
− Luiz e Arnaldo não viajaram para Salvador;
− Mariana viajou para Curitiba; Resposta: B
− Paulo não viajou para Goiânia;
− Luiz não viajou para Fortaleza. Quantificador
É um termo utilizado para quantificar uma expressão. Os quan-
É correto concluir que, em janeiro, tificadores são utilizados para transformar uma sentença aberta ou
(A) Paulo viajou para Fortaleza. proposição aberta em uma proposição lógica.
(B) Luiz viajou para Goiânia.
(C) Arnaldo viajou para Goiânia.
(D) Mariana viajou para Salvador. QUANTIFICADOR + SENTENÇA ABERTA = SENTENÇA FECHADA
(E) Luiz viajou para Curitiba.
Tipos de quantificadores
Resolução:
Vamos preencher a tabela: • Quantificador universal (∀)
− Luiz e Arnaldo não viajaram para Salvador; O símbolo ∀ pode ser lido das seguintes formas:
22
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
• Quantificador existencial (∃) (CESPE) Se R é o conjunto dos números reais, então a proposi-
O símbolo ∃ pode ser lido das seguintes formas: ção (∀ x) (x ∈ R) (∃ y) (y ∈ R) (x + y = x) é valorada como V.
Resolução:
Lemos: para todo x pertencente ao conjunto dos números reais
(R) existe um y pertencente ao conjunto dos números dos reais (R)
tal que x + y = x.
– 1º passo: observar os quantificadores.
X está relacionado com o quantificador universal, logo, todos
Exemplo: os valores de x devem satisfazer a propriedade.
“Algum matemático é filósofo.” O diagrama lógico dessa frase Y está relacionado com o quantificador existencial, logo, é ne-
é: cessário pelo menos um valor de x para satisfazer a propriedade.
– 2º passo: observar os conjuntos dos números dos elementos
x e y.
O elemento x pertence ao conjunto dos números reais.
O elemento y pertence ao conjunto os números reais.
– 3º passo: resolver a propriedade (x+ y = x).
A pergunta: existe algum valor real para y tal que x + y = x?
Existe sim! y = 0.
X + 0 = X.
O quantificador existencial tem a função de elemento comum. Como existe pelo menos um valor para y e qualquer valor de
A palavra algum, do ponto de vista lógico, representa termos co- x somado a 0 será igual a x, podemos concluir que o item está cor-
muns, por isso “Algum A é B” possui a seguinte forma simbólica: (∃ reto.
(x)) (A (x) ∧ B). Resposta: CERTO
Aplicando temos:
x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Escrevendo da forma (∃ x) ∈
N / x + 2 = 5 (lê-se: existe pelo menos um x pertencente a N tal que x OPERAÇÕES COM CONJUNTOS
+ 2 = 5), atribuindo um valor que, colocado no lugar de x, a sentença
será verdadeira? Conjunto está presente em muitos aspectos da vida, sejam eles
A resposta é SIM, pois depois de colocarmos o quantificador, cotidianos, culturais ou científicos. Por exemplo, formamos conjun-
a frase passou a possuir sujeito e predicado definidos e podemos tos ao organizar a lista de amigos para uma festa agrupar os dias da
julgar, logo, é uma proposição lógica. semana ou simplesmente fazer grupos.
Os componentes de um conjunto são chamados de elementos.
ATENÇÃO: Para enumerar um conjunto usamos geralmente uma letra
– A palavra todo não permite inversão dos termos: “Todo A é B” maiúscula.
é diferente de “Todo B é A”.
– A palavra algum permite a inversão dos termos: “Algum A é Representações
B” é a mesma coisa que “Algum B é A”. Pode ser definido por:
-Enumerando todos os elementos do conjunto: S={1, 3, 5, 7, 9}
Forma simbólica dos quantificadores -Simbolicamente: B={x>N|x<8}, enumerando esses elementos
Todo A é B = (∀ (x) (A (x) → B). temos:
Algum A é B = (∃ (x)) (A (x) ∧ B). B={0,1,2,3,4,5,6,7}
Nenhum A é B = (~ ∃ (x)) (A (x) ∧ B).
Algum A não é B= (∃ (x)) (A (x) ∧ ~ B). – Diagrama de Venn
Exemplos:
Todo cavalo é um animal. Logo,
(A) Toda cabeça de animal é cabeça de cavalo.
(B) Toda cabeça de cavalo é cabeça de animal.
(C) Todo animal é cavalo.
(D) Nenhum animal é cavalo.
Resolução:
A frase “Todo cavalo é um animal” possui as seguintes conclu-
sões:
– Algum animal é cavalo ou Algum cavalo é um animal.
– Se é cavalo, então é um animal.
Nesse caso, nossa resposta é toda cabeça de cavalo é cabeça
de animal, pois mantém a relação de “está contido” (segunda forma Há também um conjunto que não contém elemento e é repre-
de conclusão). sentado da seguinte forma: S = c ou S = { }.
Resposta: B Quando todos os elementos de um conjunto A pertencem tam-
bém a outro conjunto B, dizemos que:
A é subconjunto de B
23
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Ou A é parte de B Exemplos
A está contido em B escrevemos: A ⊂ B N é um conjunto infinito (O cardinal do conjunto N (#N) é infi-
nito (∞));
Se existir pelo menos um elemento de A que não pertence a A = {½, 1} é um conjunto finito (#A = 2);
B: A ⊄ B B = {Lua} é um conjunto singular (#B = 1)
{ } ou ∅ é o conjunto vazio (#∅ = 0)
Símbolos
∈: pertence Pertinência
∉: não pertence O conceito básico da teoria dos conjuntos é a relação de perti-
⊂: está contido nência representada pelo símbolo ∈. As letras minúsculas designam
⊄: não está contido os elementos de um conjunto e as maiúsculas, os conjuntos. Assim,
⊃: contém o conjunto das vogais (V) é:
⊅: não contém V={a,e,i,o,u}
/: tal que A relação de pertinência é expressa por: a∈V
⟹: implica que A relação de não-pertinência é expressa por:b∉V, pois o ele-
⇔: se,e somente se mento b não pertence ao conjunto V.
∃: existe
∄: não existe Inclusão
∀: para todo(ou qualquer que seja) A Relação de inclusão possui 3 propriedades:
∅: conjunto vazio Propriedade reflexiva: A⊂A, isto é, um conjunto sempre é sub-
N: conjunto dos números naturais conjunto dele mesmo.
Z: conjunto dos números inteiros Propriedade antissimétrica: se A⊂B e B⊂A, então A=B
Q: conjunto dos números racionais Propriedade transitiva: se A⊂B e B⊂C, então, A⊂C.
Q’=I: conjunto dos números irracionais
R: conjunto dos números reais Operações
Igualdade União
Propriedades básicas da igualdade Dados dois conjuntos A e B, existe sempre um terceiro formado
Para todos os conjuntos A, B e C,para todos os objetos x ∈ U, pelos elementos que pertencem pelo menos um dos conjuntos a
temos que: que chamamos conjunto união e representamos por: A∪B.
(1) A = A. Formalmente temos: A∪B={x|x ∈ A ou x ∈ B}
(2) Se A = B, então B = A.
(3) Se A = B e B = C, então A = C. Exemplo:
(4) Se A = B e x ∈ A, então x∈ B. A={1,2,3,4} e B={5,6}
Se A = B e A ∈ C, então B ∈ C. A∪B={1,2,3,4,5,6}
Dois conjuntos são iguais se, e somente se, possuem exata- Interseção
mente os mesmos elementos. Em símbolo: A interseção dos conjuntos A e B é o conjunto formado pelos
Para saber se dois conjuntos A e B são iguais, precisamos saber elementos que são ao mesmo tempo de A e de B, e é representada
apenas quais são os elementos. por : A∩B. Simbolicamente: A∩B={x|x∈A e x∈B}
Não importa ordem:
A={1,2,3} e B={2,1,3}
Classificação
Definição
Chama-se cardinal de um conjunto, e representa-se por #, ao
número de elementos que ele possui.
Exemplo:
Exemplo A={a,b,c,d,e} e B={d,e,f,g}
Por exemplo, se A ={45,65,85,95} então #A = 4. A∩B={d,e}
Definições Diferença
Dois conjuntos dizem-se equipotentes se têm o mesmo cardi- Uma outra operação entre conjuntos é a diferença, que a cada
nal. par A, B de conjuntos faz corresponder o conjunto definido por:
Um conjunto diz-se A – B ou A\B que se diz a diferença entre A e B ou o comple-
a) infinito quando não é possível enumerar todos os seus ele- mentar de B em relação a A.
mentos A este conjunto pertencem os elementos de A que não perten-
b) finito quando é possível enumerar todos os seus elementos cem a B.
c) singular quando é formado por um único elemento A\B = {x : x∈A e x∉B}.
d) vazio quando não tem elementos
24
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Não importa se há repetição:
A={1,2,2,3} e B={1,2,3}
Relação de Pertinência
Relacionam um elemento com conjunto. E a indicação que o
elemento pertence (∈) ou não pertence (∉)
Exemplo: Dado o conjunto A={-3, 0, 1, 5}
0∈A
2∉A
Relações de Inclusão
Relacionam um conjunto com outro conjunto.
Simbologia: ⊂(está contido), ⊄(não está contido), ⊃(contém),
⊅ (não contém)
Exemplo:
A = {0, 1, 2, 3, 4, 5} e B = {5, 6, 7} A Relação de inclusão possui 3 propriedades:
Então os elementos de A – B serão os elementos do conjunto A Exemplo:
menos os elementos que pertencerem ao conjunto B. {1, 3,5}⊂{0, 1, 2, 3, 4, 5}
Portanto A – B = {0, 1, 2, 3, 4}. {0, 1, 2, 3, 4, 5}⊃{1, 3,5}
Complementar Aqui vale a famosa regrinha que o professor ensina, boca aber-
Sejam A e B dois conjuntos tais que A⊂B. Chama-se comple- ta para o maior conjunto.
mentar de A em relação a B, que indicamos por CBA, o conjunto
cujos elementos são todos aqueles que pertencem a B e não per- Subconjunto
tencem a A. O conjunto A é subconjunto de B se todo elemento de A é tam-
A⊂B⇔ CBA={x|x∈B e x∉A}=B-A bém elemento de B.
Exemplo: {2,4} é subconjunto de {x∈N|x é par}
Exemplo
A={1,2,3} B={1,2,3,4,5} Operações
CBA={4,5}
União
Representação Dados dois conjuntos A e B, existe sempre um terceiro formado
-Enumerando todos os elementos do conjunto: S={1, 2, 3, 4, 5} pelos elementos que pertencem pelo menos um dos conjuntos a
-Simbolicamente: B={x∈ N|2<x<8}, enumerando esses elemen- que chamamos conjunto união e representamos por: A∪B.
tos temos: Formalmente temos: A∪B={x|x ∈A ou x∈B}
B={3,4,5,6,7}
Exemplo:
- por meio de diagrama: A={1,2,3,4} e B={5,6}
A∪B={1,2,3,4,5,6}
Interseção
Quando um conjunto não possuir elementos chama-se de con- A interseção dos conjuntos A e B é o conjunto formado pelos
junto vazio: S=∅ ou S={ }. elementos que são ao mesmo tempo de A e de B, e é representada
por : A∩B.
Igualdade Simbolicamente: A∩B={x|x ∈A e x ∈B}
Dois conjuntos são iguais se, e somente se, possuem exata-
mente os mesmos elementos. Em símbolo:
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RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
A∩B={d,e} Exemplo
(MANAUSPREV – Analista Previdenciário – FCC/2015) Em um
Diferença grupo de 32 homens, 18 são altos, 22 são barbados e 16 são care-
Uma outra operação entre conjuntos é a diferença, que a cada cas. Homens altos e barbados que não são carecas são seis. Todos
par A, B de conjuntos faz corresponder o conjunto definido por: homens altos que são carecas, são também barbados. Sabe-se que
A – B ou A\B que se diz a diferença entre A e B ou o comple- existem 5 homens que são altos e não são barbados nem carecas.
mentar de B em relação a A. Sabe-se que existem 5 homens que são barbados e não são altos
A este conjunto pertencem os elementos de A que não perten- nem carecas. Sabe-se que existem 5 homens que são carecas e não
cem a B. são altos e nem barbados. Dentre todos esses homens, o número
de barbados que não são altos, mas são carecas é igual a
A\B = {x : x ∈A e x∉B}. (A) 4.
(B) 7.
(C) 13.
(D) 5.
(E) 8.
B-A = {x : x ∈B e x∉A}.
Exemplo:
A = {0, 1, 2, 3, 4, 5} e B = {5, 6, 7}
Então os elementos de A – B serão os elementos do conjunto A
menos os elementos que pertencerem ao conjunto B. Se todo homem careca é barbado, não teremos apenas homens
Portanto A – B = {0, 1, 2, 3, 4}. carecas e altos.
Homens altos e barbados são 6
Complementar
O complementar do conjunto A( ) é o conjunto formado pelos
elementos do conjunto universo que não pertencem a A.
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RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Sabemos que 18 são altos Resolução
A nossa primeira conta, deve ser achar o número de candidatos
que não são físicos, biólogos e nem químicos.
n (F ∪B∪Q)=n(F)+n(B)+n(Q)+n(F∩B∩Q)-n(F∩B)-n(F∩Q)-
-n(B∩Q)
n(F ∪B∪Q)=80+90+55+8-32-23-16=162
Temos um total de 250 candidatos
250-162=88
Resposta: A.
7+y+5=16
Y=16-12
Y=4
Progressão Geométrica: Multiplica-se constantemente um
Então o número de barbados que não são altos, mas são care-
mesmo número.
cas são 4.
Nesse exercício ficará difícil se pensarmos na fórmula, ficou
grande devido as explicações, mas se você fizer tudo no mesmo dia-
grama, mas seguindo os passos, o resultado sairá fácil.
Exemplo
(SEGPLAN/GO – Perito Criminal – FUNIVERSA/2015) Suponha
que, dos 250 candidatos selecionados ao cargo de perito criminal:
Sequência de Figuras: Esse tipo de sequência pode seguir o
1) 80 sejam formados em Física; mesmo padrão visto na sequência de pessoas ou simplesmente so-
2) 90 sejam formados em Biologia; frer rotações, como nos exemplos a seguir. Exemplos:
3) 55 sejam formados em Química;
4) 32 sejam formados em Biologia e Física; Exemplos:
5) 23 sejam formados em Química e Física; Analise a sequência a seguir:
6) 16 sejam formados em Biologia e Química;
7) 8 sejam formados em Física, em Química e em Biologia.
27
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Resolução:
A sequência das figuras completa-se na 5ª figura. Assim, continua-se a sequência de 5 em 5 elementos. A figura de número 277 ocu-
pa, então, a mesma posição das figuras que representam número 5n + 2, com n N. Ou seja, a 277ª figura corresponde à 2ª figura, que é
representada pela letra “B”.
Resposta: B
(CÂMARA DE ARACRUZ/ES - AGENTE ADMINISTRATIVO E LEGISLATIVO - IDECAN) A sequência formada pelas figuras representa as
posições, a cada 12 segundos, de uma das rodas de um carro que mantém velocidade constante. Analise-a.
Após 25 minutos e 48 segundos, tempo no qual o carro permanece nessa mesma condição, a posição da roda será:
Resolução:
A roda se mexe a cada 12 segundos. Percebe-se que ela volta ao seu estado inicial após 48 segundos.
O examinador quer saber, após 25 minutos e 48 segundos qual será a posição da roda. Vamos transformar tudo para segundos:
25 minutos = 1500 segundos (60x25)
1500 + 48 (25m e 48s) = 1548
Agora é só dividir por 48 segundos (que é o tempo que levou para roda voltar à posição inicial)
1548 / 48 = vai ter o resto “12”.
Portanto, após 25 minutos e 48 segundos, a roda vai estar na posição dos 12 segundos.
Resposta: B
EXERCÍCIOS
1. (CRF/MT - AGENTE ADMINISTRATIVO – QUADRIX/2017) Num grupo de 150 jovens, 32 gostam de música, esporte e leitura; 48
gostam de música e esporte; 60 gostam de música e leitura; 44 gostam de esporte e leitura; 12 gostam somente de música; 18 gostam
somente de esporte; e 10 gostam somente de leitura. Ao escolher ao acaso um desses jovens, qual é a probabilidade de ele não gostar de
nenhuma dessas atividades?
(A) 1/75
(B) 39/75
(C) 11/75
(D) 40/75
(E) 76/75
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RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
2. (CRMV/SC – RECEPCIONISTA – IESES/2017) Sabe-se que 7. (IFBAIANO – ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO –
17% dos moradores de um condomínio tem gatos, 22% tem cachor- FCM/2017) Em meio a uma crescente evolução da taxa de obesida-
ros e 8% tem ambos (gatos e cachorros). Qual é o percentual de de infantil, um estudioso fez uma pesquisa com um grupo de 1000
condôminos que não tem nem gatos e nem cachorros? crianças para entender o comportamento das mesmas em relação à
(A) 53 prática de atividades físicas e aos hábitos alimentares.
(B) 69 Ao final desse estudo, concluiu-se que apenas 200 crianças pra-
(C) 72 ticavam alguma atividade física de forma regular, como natação, fu-
(D) 47 tebol, entre outras, e apenas 400 crianças tinham uma alimentação
adequada. Além disso, apenas 100 delas praticavam atividade física
3. (MPE/GO – SECRETÁRIO AUXILIAR – MPEGO/2017) Em e tinham uma alimentação adequada ao mesmo tempo.
uma pesquisa sobre a preferência entre dois candidatos, 48 pessoas Considerando essas informações, a probabilidade de encontrar
votariam no candidato A, 63 votariam no candidato B, 24 pessoas nesse grupo uma criança que não tenha alimentação adequada
votariam nos dois; e, 30 pessoas não votariam nesses dois candida- nem pratique atividade física de forma regular é de:
tos. Se todas as pessoas responderam uma única vez, então o total (A) 30%.
de pessoas entrevistadas foi: (B) 40%.
(A) 141. (C) 50%.
(B) 117. (D) 60%.
(C) 87. (E) 70%.
(D) 105.
(E) 112. 8. (TRF 2ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – CONSUL-
PLAN/2017) Uma papelaria fez uma pesquisa de mercado entre 500
4. (DESENBAHIA – TÉCNICO ESCRITURÁRIO – INSTITUTO de seus clientes. Nessa pesquisa encontrou os seguintes resultados:
AOCP/2017) Para realização de uma pesquisa sobre a preferência • 160 clientes compraram materiais para seus filhos que cur-
de algumas pessoas entre dois canais de TV, canal A e Canal B, os sam o Ensino Médio;
entrevistadores colheram as seguintes informações: 17 pessoas • 180 clientes compraram materiais para seus filhos que cur-
preferem o canal A, 13 pessoas assistem o canal B e 10 pessoas sam o Ensino Fundamental II;
gostam dos canais A e B. Assinale a alternativa que apresenta o total • 190 clientes compraram materiais para seus filhos que cur-
de pessoas entrevistadas. sam o Ensino Fundamental I;
(A) 20 • 20 clientes compraram materiais para seus filhos que cursam
(B) 23 Ensino Médio e Fundamental I;
(C) 27 • 40 clientes compraram materiais para seus filhos que cursam
(D) 30 Ensino Médio e Fundamental II;
(E) 40 • 30 clientes compraram materiais para seus filhos que cursam
Ensino Fundamental I e II; e,
5. (SAP/SP – AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA – MS- • 10 clientes compraram materiais para seus filhos que cursam
CONCURSOS/2017) Numa sala de 45 alunos, foi feita uma votação Ensino Médio, Fundamental I e II.
para escolher a cor da camiseta de formatura. Dentre eles, 30 vota-
ram na cor preta, 21 votaram na cor cinza e 8 não votaram em ne- Quantos clientes da papelaria compraram materiais, mas os filhos
nhuma delas, uma vez que não farão as camisetas. Quantos alunos NÃO cursam nem o Ensino Médio e nem o Ensino Fundamental I e II?
votaram nas duas cores? (A) 50.
(A) 6 (B) 55.
(B) 10 (C) 60.
(C) 14 (D) 65.
(D) 18
9. (ANS - TÉCNICO EM REGULAÇÃO DE SAÚDE SUPLEMEN-
6. (IBGE – AGENTE CENSITÁRIO MUNICIPAL E SUPERVISOR TAR – FUNCAB/2016) Foram visitadas algumas residências de uma
– FGV/2017) Na assembleia de um condomínio, duas questões in- rua e em todas foram encontrados pelo menos um criadouro com
dependentes foram colocadas em votação para aprovação. Dos 200 larvas do mosquito Aedes aegypti. Os criadouros encontrados fo-
condôminos presentes, 125 votaram a favor da primeira questão, ram listados na tabela a seguir:
110 votaram a favor da segunda questão e 45 votaram contra as P. pratinhos com água embaixo de vasos de planta.
duas questões. R. ralos entupidos com água acumulada.
Não houve votos em branco ou anulados. K. caixas de água destampadas
O número de condôminos que votaram a favor das duas ques-
tões foi: NÚMERO DE CRIADOUROS
(A) 80;
(B) 75; P 103
(C) 70; R 124
(D) 65; K 98
(E) 60.
PER 47
PEK 43
REK 60
P, R E K 25
29
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
De acordo com a tabela, o número de residências visitadas foi: 3. Resposta: B
(A) 200.
(B) 150.
(C) 325.
(D) 500.
(E) 455.
GABARITO
1. Resposta: C
24+24+39+30=117
4. Resposta: A
N(A∪B)=n(A)+n(B)-n(A∩B)
N(A∪B)=17+13-10=20
5. Resposta: C
Como 8 não votaram, tiramos do total: 45-8=37
N(A ∪B)=n(A)+n(B)-n(A∩B)
37=30+21- n(A∩B)
n(A∩B)=14
6. Resposta: A
32+10+12+18+16+28+12+x=150 N(A∪B)=200-45=155
X=22 que não gostam de nenhuma dessas atividades N(A∪B)=n(A)+n(B)-n(A∩B)
P=22/150=11/75 155=125+110- n(A∩B)
n(A∩B)=80
2. Resposta: B
7. Resposta: C
Sendo x o número de crianças que não praticam atividade física
e tem uma alimentação adequada
N(A ∪B)=n(A)+n(B)-n(A∩B)
1000-x=200+400-100
X=500
P=500/1000=0,5=50%
8. Resposta: A
Sendo A=ensino médio
B fundamental I
C=fundamental II
X=quem comprou material e os filhos não cursam ensino mé-
dio e nem ensino fundamental
n(A∪B∪C) =n(A)+n(B)+n(C)+n(A∩B∩C)-n(A∩B)-n(A∩C)-n(B∩C)
500-x=160+190+180+10-20-40-30
9+8+14+x=100 X=50
X=100-31
X=69%
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RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
9. Resposta: A ANOTAÇÕES
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38+20+42+18+25+22+35=200 residências
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Ou fazer direto pela tabela:
P+R+K+(P∩R∩K)-( P∩R)- (R∩K)-(P∩K) ______________________________________________________
103+124+98+25-60-43-47=200
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ANOTAÇÕES
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RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
1. Características básicas das organizações formais modernas: tipos de estrutura organizacional, natureza, finalidades e critérios de de-
partamentalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Processo organizacional: planejamento, direção, comunicação, controle e avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3. Organização administrativa: centralização, descentralização, concentração e desconcentração; organização administrativa da União;
administração direta e indireta; agências executivas e reguladoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
4. Gestão de processos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
5. Gestão de contratos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
6. Planejamento estratégico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
7. Inovações introduzidas pela Constituição de 1988: agências executivas; serviços essencialmente públicos e serviços de utilidade pú-
blica; delegação de serviços públicos a terceiros; agências reguladoras; convênios e consórcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
8. Relações humanas no trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
9. Ética e cidadania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Existem vários modelos de organização, Organização Empresarial, Organização Máquina, Organização Política entre outras. As organi-
zações possuem seus níveis de influência. O nível estratégico é representado pelos gestores e o nível tático, representado pelos gerentes.
Eles são importantes para manter tudo sob controle. O gerente tem uma visão global, ele coordena, define, formula, estabelece uma
autoridade de forma construtiva, competente, enérgica e única.
As Organizações formais possuem uma estrutura hierárquica com suas regras e seus padrões. Os Organogramas com sua estrutura
bem dimensionada podem facilitar a autonomia interna, agilizando o processo de desenvolvimento de produtos e serviços. O mundo
empresarial cada vez mais competitivo e os clientes a cada dia mais exigentes levam as organizações a pensar na sua estrutura, para se
adequar ao que o mercado procura. Com os órgãos bem dispostos nessa representação gráfica, fica mais bem objetivada a hierarquia bem
como o entrosamento entre os cargos.
As organizações fazem uso do organograma que melhor representa a realidade da empresa, vale lembrar que o modelo piramidal
ficou obsoleto, hoje o que vale é a contribuição, são muitas pessoas empenhadas no desenvolvimento da empresa, todos contribuem com
ideias na tomada de decisão.
Com vistas às diversidades de informações, é preciso estar atento para sua relevância, nas organizações as informações são importan-
tes, mesmo em tomada de decisões. É necessário avaliar a qualidade da informação e saber aplicar em momentos oportunos.
Para o desenvolvimento de sistemas de informação, há que se definir qual informação e como ela vai ser mantida no sistema, deve
haver um estudo no organograma da empresa verificando assim quais os dados e quais os campos vão ser necessários para essa implanta-
ção. Cada empresa tem suas características e suas necessidades, e o sistema de informação se adéqua a organização e aos seus propósitos.
Para as organizações as pessoas são as mais importantes, por isso tantos estudos a fim de sanar interrogações a respeito da comple-
xidade do ser humano.
Para que todos esses conceitos e objetivos sejam desenvolvidos de fato, precisamos nos ater à questão dos níveis de hierarquia e às
competências gerenciais, ao que isso representa na teoria, na prática e no comportamento individual de cada profissional envolvido na
administração.
NÍVEIS HIERÁRQUICOS
Existem basicamente três níveis hierárquicos dentro de uma organização, que são divididos em:
Nível Estratégico (ou Nível Institucional) – Elabora as estratégias, faz o planejamento estratégico da empresa normalmente esse
posto é assumido por presidentes e alta direção da empresa, os representantes deste nível devem possuir principalmente habilidades
conceituais.
Nível Tático (ou Nível Intermediário) – Este nível é desempenhado pelos Gerentes é um nível departamental, e seus integrantes ne-
cessitam em especial de habilidades humanas para motivar e liderar os integrantes do nível operacional.
Nível Operacional – Estes são os supervisores que necessitam de habilidades técnicas por trabalharem de forma mais ligada à pro-
dução.
É de suma importância que os níveis hierárquicos estejam bem definidos dentro da organização para que cada um saiba o seu lugar e
suas competências. Administrar é interpretar os objetivos da organização e transformá-los em ação por meio de planejamento, organiza-
ção, controle e direção de todos os níveis organizacionais.
A seguir vocês poderão ver dois demonstrativos que discriminam as características de atuação de cada um dos níveis citados.
NÍVEIS
CARACTERÍSTICAS
ESTRATÉGICO TÁTICO OPERACIONAL
Abrangência Instituição Unidade, Departamento Setor, Equipe
Área Presidência, Alto Comitê Diretoria, Gerência Coordenação, Líder Técnico
Perfil Visão, Liderança Experiência, Eficácia Técnica, Iniciativa
Horizonte Longo Prazo Médio Prazo Curto Prazo
Foco Destino Caminho Passos
Diretrizes Visão, Objetivo Planos de ação, projetos Processos, atividades
Conteúdo Abrangente, Genérico Amplo, mas sintético Específico, Analítico
Executar, manter, Controlar,
Ações Determinar, Definir, orientar Projetar, Gerenciar
analisar
Software Painel de Controle Planilha Aplicações específicas
Marcio D’Ávila
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Idalberto Chiavenato
Fatores como a crescente competitividade entre as organizações provocam significativas mudanças no mercado, o que faz com que as
competências gerenciais se tornem grandes diferenciais.
A gestão por competência se propõe a integrar e orientar esforços, principalmente no que ser refere à gestão de pessoas, visando
desenvolver e sustentar competências consideradas fundamentais aos objetivos organizacionais.
As empresas buscam ideias de mudanças comportamentais, atitudes, valores e crenças que façam a diferença na postura dos profis-
sionais.
Competências gerenciais: “Um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que algumas pessoas, grupos ou organizações do-
minam melhor do que outras, o que as faz se destacar em determinado contexto”.
Claude Lévy-Leboyer
Para alguns autores, podemos resumir as habilidades necessárias para o desenvolvimento eficiente e eficaz na administração em:
1. Conhecimento – Estar a par das informações necessárias para poder desempenhar com eficácia as suas funções.
2. Habilidade – Estas podem ser divididas em:
Técnicas (Funções especializadas)
Administrativas (compreender os objetivos organizacionais)
Conceituais (compreender a totalidade)
Humanas (Relações Humanas), Políticas (Negociação).
3. Atitude e Comportamento – Sair do imaginário e colocar em prática, fazer acontecer. Maneira de agir, ponto de referência para a
compreensão da realidade.
2
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Cada dimensão é independente, mas ambas estão interligadas. Vantagens da Organização Linear
Tommas Durant afirma ainda que o desenvolvimento das compe- - Estrutura simples e de fácil compreensão.
tências está na aprendizagem individual e coletiva. - Nítida e clara delimitação das responsabilidades dos órgãos
ou cargos.
Atitude (Querer Fazer) - Facilidade de implantação.
Ter atitude e ações é fazer acontecer. - Estabilidade, permitindo uma tranquila manutenção do fun-
São competências que permitem as pessoas interpretarem e cionamento.
julgarem a realidade e a si próprias. Na área gerencial veja algumas
atitudes que se destacam: Desvantagens da Organização Linear
» Saber ouvir; - Mais adequado para pequenas empresas.
» Automotivação; - Estabilidade pode levar à rigidez e à inflexibilidade da orga-
» Autocontrole; nização.
» Dar e receber feedback; - Pode tornar-se autocrática.
» Resolução de problemas; - Ênfase exagerada na função de chefia e comando.
» Determinação; - Chefe torna-se um generalista, não pode se especializar.
» Pro-atividade; - Congestionamento das linhas formais de comunicação na me-
» Honestidade e ética nos negócios, etc. dida em que a empresa cresce.
- Comunicações demoradas e sujeitas a intermediários e a dis-
Conhecimento (Saber Fazer) torções.
O conhecimento é essencial para a realização dos processos da
organização. De acordo com o nível de conhecimento de um ge- Organização Funcional
rente, existe o essencial, aquele que todo profissional deve saber, Tipo de estrutura organizacional que aplica o princípio funcio-
como dominar os procedimentos, conceitos, informações necessá- nal ou princípio da especialização das funções para cada tarefa.
rios ao funcionamento da empresa. E, aquele mais específico, em Princípio funcional separa, distingue e especializa: é o germe
que é necessário analisar os indivíduos e o contexto de trabalho. do staff.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Características da Organização Linha-Staff Estrutura Matricial
- Fusão da estrutura linear com a estrutura funcional, com pre- É um tipo de estrutura mista, uma excelente alternativa para
domínio da primeira. organizações que desenvolvem projetos, mas também adotam as
- Coexistência entre as linhas formais de comunicação com as estruturas: divisional, funcional, staff etc. é indicado para empresas
linhas diretas de comunicação. que desenvolvem vários projetos, mas que se utilizam de diversas
- Separação entre órgãos operacionais (executivos) e órgãos de tecnologias. As principais características são:
apoio (assessores). - Multidimensional, pois se utiliza de características de estrutu-
- Hierarquia versus especialização. ras permanentes, por função, produtos e projetos;
- Permanente, sendo temporários apenas os grupos de cada
Vantagens da Organização Linha-Staff projeto;
- Assegura assessoria especializada e inovadora, mantendo o - Adaptativa e flexível: quanto mais complexa a ambiência orga-
princípio da autoridade única. Os serviços prestados não precisam nizacional, mais complexa deve ser a estrutura da empresa;
ser aceitos como estão recomendados. - Combina a estrutura hierárquica vertical tradicional com uma
- Atividade conjunta e coordenada dos órgãos de linha e órgãos estrutura superposta, horizontal, de coordenadores de projetos/
de staff. produtos.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
parcial da empresa. A reengenharia não se confunde com a melho- lizando o processo de desenvolvimento de produtos e serviços. O
ria contínua, pois pretende criar um processo inteiramente novo e mundo empresarial cada vez mais competitivo e os clientes a cada
não o aperfeiçoamento gradativo e lento do processo atual. A reen- dia mais exigentes levam as organizações a pensar na sua estrutura,
genharia trás consequência para a organização: os departamentos para se adequar ao que o mercado procura. Com os órgãos bem
tendem a desaparecer; estrutura organizacional horizontalizada; dispostos nessa representação gráfica, fica mais bem objetivada a
atividades baseadas em equipe; a avaliação deixa de ser a atividade hierarquia bem como o entrosamento entre os cargos.
e passa a ser os resultados alcançados; os gerentes passam a ficar As organizações fazem uso do organograma que melhor repre-
mais próximo das operações e das pessoas e passam a ser educado- senta a realidade da empresa, vale lembrar que o modelo piramidal
res dotados de habilidades interpessoais. ficou obsoleto, hoje o que vale é a contribuição, são muitas pessoas
- Benchmarking – é um processo contínuo de avaliar produtos, empenhadas no desenvolvimento da empresa, todos contribuem
serviços e práticas dos concorrentes mais fortes e daquelas empre- com ideias na tomada de decisão.
sas que são reconhecidas como líderes empresariais. Isso permite Com vistas às diversidades de informações, é preciso estar
comparações entre empresas para identificar o “melhor do melhor” atento para sua relevância, nas organizações as informações são
e alcançar um nível de superioridade ou vantagem competitiva. importantes, mesmo em tomada de decisões. É necessário avaliar a
- Equipes de alto desempenho – as organizações estão migran- qualidade da informação e saber aplicar em momentos oportunos.
do velozmente para o trabalho em equipe, visando obter a partici- Para o desenvolvimento de sistemas de informação, há que
pação das pessoas na busca de respostas rápidas às mudanças no se definir qual informação e como ela vai ser mantida no sistema,
ambiente de negócios. deve haver um estudo no organograma da empresa verificando as-
- Gestão de projetos – todas as organizações desempenham sim quais os dados e quais os campos vão ser necessários para essa
algum tipo de trabalho e este envolve operações e projetos. O fim implantação. Cada empresa tem suas características e suas neces-
de um projeto é alcançado quando os objetivos do projeto são atin- sidades, e o sistema de informação se adéqua a organização e aos
gidos ou quando fica claro que seus objetivos não podem ser atin- seus propósitos.
gidos. Para as organizações as pessoas são as mais importantes, por
isso tantos estudos a fim de sanar interrogações a respeito da com-
As tendências organizacionais no mundo moderno se caracte- plexidade do ser humano. Maslow diz que em primeiro na base da
rizam por: pirâmide vem às necessidades fisiológicas, como: fome, sede sono,
- Cadeias de comando mais curtas (enxugar níveis hierárqui- sexo, depois ele nomeia segurança como o segundo item mais im-
cos). portante, estabilidade no trabalho, por exemplo, logo depois ne-
- Menos unidade de comando (a subordinação ao chefe está cessidades afetivo-sociais, como pertencer a um grupo, ter amigos,
sendo substituída pelo relacionamento horizontal em direção ao família; necessidades de status e estima, aqui podemos dar como
cliente). exemplo a necessidade das pessoas em ter reconhecimento, por
- Maior responsabilidade e autonomia às pessoas. seu trabalho por seu empenho, no topo Maslow colocou as neces-
- Ênfase nas equipes de trabalho. sidades de autorrealização, em que o indivíduo procura tornar-se
- Organizações estruturadas sobre unidades autônomas e au- aquilo que ele pode ser explorando suas possibilidades.
tossuficientes, com metas e resultados a alcançar. O raciocínio de Viktor Frankl “vontade de sentido” também é
- Infoestrutura (permite uma organização integrada sem neces- coerente, ele nos atenta para o fato de que nem sempre a pirâmide
sariamente estar concentrada em um único local). de Maslow ocorre em todas as escalas de uma forma sequencial,
- Preocupação maior com o alcance dos objetivos e metas do de acordo com ele, o que nos move é aquilo que faz com que nossa
que com o comportamento variado das pessoas. vida tenha sentido, nossas necessidades aparecem de forma alea-
- Foco no negócio básico e essencial (enxugamento e terceiriza- tória, são nossas motivações que nos levam a agir. Os colaboradores
ção visando reorientar a organização para aquilo que ela foi criada). são estimulados, fazendo o que gostam, as pessoas alocam mais
- As pessoas deixam de ser fornecedoras de mão de obra para tempo nas atividades em que estão motivados. Sendo assim um
serem fornecedoras de conhecimentos capazes de agregar valor ao funcionário trabalhando em uma determinada tarefa, pode sentir
negócio. autorrealização sem necessariamente ter passado por todas as es-
calas da pirâmide. Mas o que é realização para um, não é realização
Estruturas Organizacionais para todas as pessoas. O ser humano é insaciável, quando realiza
De acordo com Chiavenato a estrutura garante a totalidade de algo que desejou intensamente, logo cobiçara outras coisas.
um sistema e permite sua integridade, assim são as organizações, O comportamento das pessoas nas organizações afeta dire-
diversos órgãos agrupados hierarquicamente, os sistemas de res- tamente na imagem, no sucesso ou insucesso da mesma, o com-
ponsabilidade, sistemas de autoridade e os sistemas de comunica- portamento dos colaboradores refletem seu desempenho. Há uma
ções são componentes estruturais. necessidade das pessoas de ter incentivos para que o trabalho flua,
Existem vários modelos de organização, Organização Empre- a motivação é intrínseca, mas os estímulos são imprescindíveis para
sarial, Organização Máquina, Organização Política entre outras. As que a motivação pelo trabalho continue gerando resultados para a
organizações possuem seus níveis de influência. O nível estratégico empresa.
é representado pelos gestores e o nível tático, representado pelos Os lideres são importantes no processo de sobrevivência no
gerentes. Eles são importantes para manter tudo sobcontrole. O mercado, Lacombe descreveu que o líder tem condição de exer-
gerente tem uma visão global, ele coordena, define, formula, esta- cer, função, tarefa ou responsabilidade quando é responsável pelo
belece uma autoridade de forma construtiva, competente, enérgica grupo. Um líder precisa ser motivado, competente, conseguir con-
e única. Fayol nomeia 16 diferentes atribuições dos gerentes. Os ge- quistar e conhecer as pessoas, ter habilidades e intercalar objetivos
rentes são responsáveis pelo elo entre o nível operacional, onde os pessoais e organizacionais. O estilo do líder Democrático contribui
colaboradores desenvolvem os produtos e serviços da organização. na condução das organizações, ele delega não só tarefas, mas pode-
As Organizações formais possuem uma estrutura hierárquica res, isso é importante para estimular os mais diversos profissionais
com suas regras e seus padrões. Os Organogramas com sua estru- dentro da organização.
tura bem dimensionada podem facilitar a autonomia interna, agi-
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
No processo de centralização a tomada de decisões é unilateral, deixando os colaboradores travados, sem poder de opinião. Já no
processo de descentralização existe maior estimulo por parte dos funcionários, podendo opinar eles se sentem parte ativa da empresa.
Existem benefícios assegurados por leis e benefícios espontâneos. Um bom plano de benefícios motivam os colaboradores. O funcio-
nário hoje com todo seu conhecimento adquirido na empresa tem sido tratado como ativo não mais como recurso. Dar estímulos como os
benefícios contribuem para a permanência do funcionário na organização. São inúmeras vantagens tanto para o empregado quanto para
o empregador. Reduzindo insatisfações e aumentando a produção, gerando assim resultados satisfatórios.
Estrutura:
Toda empresa possui um dos dois tipos de estrutura: Formal e informal.
Formal: Deliberadamente planejada e formalmente representada, em alguns aspectos pelo seu organograma.
- Ênfase a posições em termos de autoridades e responsabilidades.
- É estável.
- Está sujeita a controle.
- Está na estrutura.
- Líder formal.
- É representada pelo organograma da empresa e seus aspectos básicos.
- Reconhecida juridicamente de fato e de direito.
- É estruturada e organizada.
Informal: Surge da interação social das pessoas, o que significa que se desenvolve espontaneamente quando as pessoas se reúnem.
Representa relações que usualmente não aparecem no organograma.
São relacionamentos não documentados e não reconhecidos oficialmente entre os membros de uma organização que surgem inevi-
tavelmente em decorrência das necessidades pessoais e grupais dos empregados.
- Está nas pessoas.
- Sempre existirão.
- A autoridade flui na maioria das vezes na horizontal.
- É instável.
- Não está sujeita a controle.
- Está sujeita aos sentimentos.
- Líder informal.
- Desenvolve sistemas e canais de comunicação.
Desvantagens
- Desconhecimento das chefias.
- Dificuldade de controle.
- Possibilidade de atritos entre pessoas
- Fatores que condicionam o aparecimento da estrutura informal.
- Interesses comuns
- Interação provocada pela própria estrutura formal.
- Defeitos na estrutura formal.
- Flutuação do pessoal dentro da empresa.
- Períodos de lazer.
- Disputa do poder.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
A estrutura informal será bem utilizada quando:
- Os objetivos da empresa forem idênticos aos objetivos dos indivíduos.
- Existir habilidade das pessoas em lidar com a estrutura informal.
Estrutura Funcional
São estruturas divididas por departamentos pelos critérios funcionais no primeiro nível. Segundo Fayol as funções principais do pri-
meiro nível são: produção, comercialização, finanças e administração.
As estruturas funcionais são agrupadas na mesma unidade, pessoas que realizam atividades dentro de uma mesma área técnica ou
de conhecimento, como por exemplo a área financeira, a área de produção, a área comercial, a área de recursos humanos, entre outras.
A necessidade de especialização por áreas técnicas e a existência de pouca variedade de produtos constituem as principais razões para a
criação deste tipo de estrutura. Trata-se do desenho que agrupa pessoas com base em suas habilidades e conhecimento ou na utilização
de recursos similares, para aumentar a efetividade da organização no alcance de seu principal objetivo, fornecer aos clientes produtos
de qualidade a preços razoáveis. As diferentes funções surgem em resposta ao aumento de complexidade das tarefas e à medida que as
funções aumentam e se especializam, as habilidades melhoram e as competências surgem, dando vantagem competitiva à organização.
A estrutura funcional é a primeira a se desenvolver porque fornece às pessoas a oportunidade de aprenderem umas com as outras. Reunidas em
um mesmo grupo funcional, elas podem aprender as melhores técnicas para realização de suas tarefas; as mais habilidosas podem treinar os novos
empregados e serem promovidas a supervisores ou gerentes. Assim vão aumentando as habilidades e o conhecimento da organização.
As organizações são inicialmente organizadas por função para facilitar o gerenciamento do aumento de especialização e divisão do tra-
balho, mas à medida que elas continuam a crescer e se diferenciar, os problemas de controle vão surgindo. Com o aumento das habilidades
da organização para produzir melhores produtos e serviços, os clientes também aumentam suas demandas que por sua vez pressionam
ainda mais a capacidade de produzir mais e mais rapidamente. Os custos crescem e a pressão para se manter na liderança dos concorren-
tes causa ainda mais exigência por produtos de mais qualidade. Os tipos de clientes atraídos pela empresa podem mudar com o aumento
da oferta de produtos e serviços, e pode ser difícil identificar e atender as necessidades de novos clientes numa estrutura funcional.
O desafio para as organizações é de como controlar o aumento de complexidade das atividades à medida que elas crescem e se dife-
renciam.
Quando as funções se desenvolvem e criam suas hierarquias próprias, elas se distanciam umas das outras, ocasionando problemas
de comunicação.
O crescimento e aumento da quantidade e complexidade de funções, produtos e serviços requerem informações para medir as con-
tribuições dos grupos funcionais; sem elas a organização pode não estar fazendo o melhor uso de seus recursos. Pode também requerer
o estabelecimento em regiões geográficas diversas, e com mais de uma localização, é preciso um sistema de informação para balancear
a necessidade entre centralização e descentralização de autoridade. Se a alta gerência gastar muito tempo para solucionar problemas de
coordenação do dia-a-dia, os problemas estratégicos de longo prazo ficam sem tratamento.
O redesenho da estrutura permitindo maior integração entre funções pode auxiliar os gerentes a resolver problemas de controle as-
sociados à estrutura funcional. O termo reengenharia tem sido usado para se referir ao processo de redesenhar como as tarefas são agru-
padas em papéis e funções, visando aumentar a efetividade da organização. A reengenharia envolve repensar e redesenhar radicalmente
os processos de negócios para se ter melhorias dramáticas em medidas de desempenho (custo, qualidade, serviço e velocidade). O foco
de atenção está nos processos de negócio, que envolvem atividades entre funções. A habilidade dos grupos para trabalharem através das
funções é o fator principal para garantir o fornecimento de produtos e serviços com qualidade e custo baixo.
“As estruturas funcionais foram criadas com uma visão voltada para a sua realidade interna, ou seja, para si própria”. Esse tipo de pensa-
mento dominou e ainda domina a maioria das empresas que conhecemos. Nesse estágio as funções são todas divididas por etapas, onde são
fragmentados processos de trabalho. Trata-se de um trabalho individual e voltado a tarefas. Esse tipo de estruturação tem sido padrão nas
empresas. O agrupamento funcional dos grupos de trabalho, porém tem sido questionado a partir de iniciativas competitivas como: qualidade
total, redução do tempo de ciclo e aplicação da tecnologia da informação, que tem conduzido a organização funcional a mudanças fundamentais.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
equipe comprometida com as atividades da empresa e que irá ocor- 2. Excesso de especialização, por existir apenas profissionais
rer a concentração de recursos onde vão resultar um elevado grau totalmente dedicados as suas funções, perde-se a visão sistêmica
de especialização e de controle das atividades. Esta especialização da empresa. Estes responsáveis são voltados exclusivamente em
permite um avanço na aprendizagem e na redução de custos ope- obter a otimização de suas funções e não tem a visão ampla de
racionais com o passar do tempo. A promoção na carreira tende a todas as funções o que causa, se necessário, a falta de substituição
ser mais fácil, pois, existe a possibilidade de desenvolvimento de do executivo principal.
competências profissionais em tarefas mais específicas. 3. Dificuldade de coordenação, quanto maior a diversidade
A organização funcional tenta tirar vantagem do conhecimento dos produtos e serviços oferecidos pela empresa, maior é a dificul-
dos funcionários, agrupando todos aqueles que possuem o mes- dade de coordenar, existem instrumentos para auxiliar a coordena-
mo perfil e mesma formação técnica juntos em unidades altamente ção, como , comitês, grupos de trabalhos, reuniões, etc. Quando
especializadas e produtivas. O plano de carreira neste tipo de or- a empresa utiliza de forma excessiva estes instrumentos, eles pró-
ganização é claro e como esses funcionários só possuem um chefe prios podem-se tornar novos problemas, quando isto acontece esta
não há conflitos de autoridade. Isso faz da organização funcional estrutura organizacional não é mais adequada.
uma excelente executora de operações, ou seja, trabalho contínuo, 4. Pirâmide alta: excesso de níveis, quanto maior a empresa
repetitivo e produtivo. maior são os níveis da estrutura. O excesso de níveis torna-se cada
vez mais distante a comunicação ou sentimento do executivo prin-
As Desvantagens das Estruturas Funcionais cipal com os responsáveis pelas funções.
A coordenação das diversas funções é feita no topo, e tende 5. Amplitude de supervisão alta: dificuldade de avaliação de
a atrasar as decisões que envolvem coordenação entre funções a pessoas e resultados, com esta amplitude de supervisões grandes,
ponto de prejudicar a empresa. torna-se mais importante gerir e controlar os níveis do que os pró-
A estrutura funcional não facilita a visão sistêmica da empresa, prios resultados das funções e das pessoas.
isto é, cada administrador de sua função não esta preparado para Nos casos citados poderá haver situações que estes sintomas
assumir a função principal, pois é totalmente focado a sua função, não são tão graves, mas no caso de haver estes sintomas acredita-
para que este quadro mude são necessárias medidas de inclusão mos que a estrutura funcional não seja a melhor opção.
à função principal como: treinamentos especializados, rodízios de
funções, assessoria ao principal executivo, etc,. Elaboração da estrutura organizacional
Na estrutura funcional não é possível comparar o desempenho É o conjunto ordenado de responsabilidades, autoridades, co-
de uma função com a outra, por serem de naturezas distintas. Des- municações e decisões das unidades organizacionais de uma em-
ta maneira a estrutura funcional dificulta o controle, a não ser por presa.
comparações de outros períodos e com descontos para as peculia- - Não é estática.
ridades. - É representada graficamente pelo organograma.
No caso de empresas pequenas estas desvantagens não costu- - É dinâmica.
mam ser um problema grave, pelo fato de que cada responsável de - Deve ser delineada de forma a alcançar os objetivos institu-
cada função estarem mais próximos uns dos outros e até mesmo cionais.
com o principal executivo. - (Delinear = Criar, aprimorar).
- Deve ser planejada.
Quando usar a Estrutura Funcional
Geralmente ao iniciar, uma empresa simples adota o modelo O Planejamento deve estar voltado para os seguintes objeti-
de estrutura funcional, e à medida que vai diversificando seus pro- vos:
dutos ou serviços ela irá analisar os sinais que indicam a mudança - Identificar as tarefas físicas e mentais que precisam ser de-
para outro tipo de estrutura, sinais como: a empresa deixa de ser sempenhadas.
pequena, o grau da diversidade e alguns sintomas de exaustão do - Agrupar as tarefas em funções que possam ser bem desempe-
modelo de estrutura funcional. nhadas e atribuir sua responsabilidade a pessoas ou grupos.
- Proporcionar aos empregados de todos os níveis:
VERTICALIZAÇÃO E HORIZONTALIZAÇÃO -- Informação.
Verticalização ou integração vertical é quando a empresa co- -- Recursos para o trabalho.
meça a atuar em mais um estágio produtivo, exemplo, ela deixa de -- Medidas de desempenho compatíveis com objetivos e me-
comprar para produzir, isto é, a substituição de transações de mer- tas.
cado por transações internas. -- Motivação.
Horizontalização ou integração horizontal, neste caso a empre-
sa usa seus recursos para produzir outros produtos/serviços que Tipos de estrutura organizacional
não é o seu principal, por exemplo, a empresa usa seu parque de - Funcional.
máquinas para produzir produtos que não são insumos dos existen- - Clientes.
tes e nem usar os existentes como insumos. - Produtos.
- Territorial.
SINTOMAS QUE INDICAM A EXAUSTÃO DO MODELO FUNCIO- - Por projetos.
NAL - Matricial.
1. Centralização excessiva no topo, quando a empresa deixa
de ser pequena e passa a ser de médio ou grande porte, a comuni- Desenvolvimento, implantação e avaliação de estrutura orga-
cação entre o responsável da função e o principal executivo torna- nizacional
-se mais distante, pelo fato que deste principal executivo estar com
excesso de trabalho, isto ocasiona demora nas decisões e perde- No desenvolvimento considerar:
-se a agilidade e flexibilidade no que pode gerar muitos problemas - Seus componentes.
como a tomadas de decisões erradas. - Condicionantes.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
- Níveis de influência. - Fator sistema de objetivos e estratégias
- Níveis de abrangência. Quando os objetivos e estratégias estão bem definidos e claros,
é mais fácil organizar. Sabe-se o que se espera de cada um.
Implantação / Ajustes
- Participação dos funcionários - Fator tecnologia
- Motivar Conhecimentos
Equipamentos
Avaliar
- Quanto ao alcance dos objetivos Implantação da estrutura organizacional
- Influencia dos aspectos formais e informais Três aspectos devem ser considerados:
- A mudança na estrutura organizacional.
Componentes da estrutura organizacional - O processo de implantação; e
Sistema de responsabilidade, constituído por: - As resistências que podem ocorrer.
- Departamentalização;
- Linha e assessoria; e Avaliação da estrutura organizacional
- Especialização do trabalho. • Levantamento
• Análise
Sistema de autoridade, constituído por: • Avaliação
- Amplitude administrativa ou de controle; • Políticas de avaliação de estruturas.
- Níveis hierárquicos;
- Delegação; Departamentalização
- Centralização/descentralização. É uma divisão do trabalho por especialização dentro da estru-
tura organizacional da empresa.
Sistema de comunicações (Resultado da interação das unida- Departamentalização é o agrupamento, de acordo com um cri-
des organizacionais), constituída por: tério específico de homogeneidade, das atividades e corresponden-
- O que, te recursos (humanos, financeiros, materiais e equipamentos) em
- Como, unidades organizacionais.
- Quando, Existem diversas maneiras básicas pelas quais as organizações
- De quem, decidem sobre a configuração organizacional que será usada para
- Para quem. agrupar as várias atividades. O processo organizacional de deter-
minar como as atividades devem ser agrupadas chama-se Depar-
Condicionantes da estrutura organizacional. tamentalização.
São Quatro:
- Objetivos e estratégias, Formas de Departamentalizar:
- Ambiente, - Função
- Tecnologia, - Produto ou serviço
- Recursos humanos. - Território
- Cliente
Níveis de influência da estrutura organizacional. - Processo
- Projeto
São três:
- Matricial
- Nível estratégico,
- Mista
- Nível tático,
- Nível operacional.
Deve-se notar, no entanto, que a maioria das organizações usa
uma abordagem da contingência à Departamentalização: isto é, a
Níveis de abrangência da estrutura organizacional.
maioria usará mais de uma destas abordagens usadas em algumas
Três níveis podem ser considerados quando do desenvolvi-
das maiores organizações. A maioria usa a abordagem funcional na
mento e implantação da estrutura organizacional: cúpula e outras nos níveis mais baixos.
- Nível da empresa,
- Nível da UEN – Unidade Estratégica de Negócio Departamentalização por Funções: A Departamentalização
- Nível da Corporação. funcional agrupa funções comuns ou atividades semelhantes para
formar uma unidade organizacional. Assim todos os indivíduos que
Condicionantes da estrutura organizacional. executam funções semelhantes ficam reunidos, todo o pessoal de
vendas, todo o pessoal de contabilidade, todo o pessoal de secreta-
- Fator humano ria, todas as enfermeiras, e assim por diante.
A empresa funciona por meio de pessoas, a eficiência depende A Departamentalização funcional pode ocorrer em qualquer
da qualidade intrínseca e do valor e da integração dos homens que nível e é normalmente encontrada muito próximo à cúpula.
ela organiza.
Ao desenvolver uma estrutura organizacional deve-se levar em Vantagens: As vantagens principais da abordagem funcional
consideração o comportamento e o conhecimento das pessoas que são:
irão desempenhar funções. • Mantém o poder e o prestígio das funções principais
Não podemos esquecer da MOTIVAÇÃO. • Cria eficiência através dos princípios da especialização.
• Centraliza a perícia da organização.
- Fator ambiente externo • Permite maior rigor no controle das funções pela alta admi-
Avaliação das mudanças e suas influências. nistração.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
• Segurança na execução de tarefas e relacionamento de co- A principal vantagem:
legas. - A adaptabilidade uma determinada clientela.
• Aconselhada para empresas que tenham poucas linhas de
produtos. Desvantagens:
- Dificuldade de coordenação.
Desvantagens: Existem também muitas desvantagens na abor- - Subutilização de recursos e concorrência entre os gerentes
dagem funcional. Entre elas podemos dizer: para concessões especiais em benefício de seus próprios clientes.
• A responsabilidade pelo desempenho total está somente na
cúpula. Departamentalização por Processo ou Equipamento: É o agru-
• Cada gerente fiscaliza apenas uma função estreita pamento de atividades que se centralizam nos processos de pro-
• O treinamento de gerentes para assumir a posição no topo dução ou equipamento. É encontrada com mais frequência em
é limitado. produção. As atividades de uma fábrica podem ser grupadas em
• A coordenação entre as funções se torna complexa e mais perfuração, esmerilamento, soldagem, montagem e acabamento,
difícil quanto à organização em tamanho e amplitude. cada qual em seu departamento.
• Muita especialização do trabalho.
Vantagens:
Departamentalização de Produto: É feito de acordo com as ati- - Maior especialização de recursos alocados.
vidades inerentes a cada um dos produtos ou serviços da empresa. - Possibilidade de comunicação mais rápida de informações
Exemplos de Departamentalização de produto: técnicas.
1- Lojas de departamentos Desvantagens:
2- A Ford Motor Company tem as suas divisões Ford, Mercury - Possibilidade de perda da visão global do andamento do pro-
e Lincoln Continental. cesso.
3- Um hospital pode estar agrupado por serviços prestados, - Flexibilidade restrita para ajustes no processo.
como cirurgia, obstetrícia, assistência coronariana.
Departamentalização por Projeto: Aqui as pessoas recebem
Vantagens: Algumas das vantagens da Departamentalização de atribuições temporárias, uma vez que o projeto tem data de inicio
produtos são: e término. Terminado o projeto as pessoas são deslocadas para ou-
- Pode-se dirigir atenção para linhas especificas de produtos ou tras atividades. Por exemplo: uma firma contábil poderia designar
serviços. um sócio (como administrador de projeto), um contador sênior, e
- A coordenação de funções ao nível da divisão de produto tor- três contadores juniores para uma auditoria que está sendo feita
na-se melhor. para um cliente. Uma empresa manufatureira, um especialista em
- Pode-se atribuir melhor a responsabilidade quanto ao lucro. produção, um engenheiro mecânico e um químico poderiam ser
- Facilita a coordenação de resultados. indicados para, sob a chefia de um administrador de projeto, com-
- Propicia a alocação de capital especializado para cada grupo pletar o projeto de controle de poluição. Em cada um destes casos,
de produto. o administrador de projeto seria designado para chefiar a equipe,
- Propicia condições favoráveis para a inovação e criatividade. com plena autoridade sobre seus membros para a atividade espe-
cífica do projeto.
Desvantagens:
- Exige mais pessoal e recursos de material, podendo daí resul- Departamentalização de Matriz: A Departamentalização de ma-
tar duplicação desnecessária de recursos e equipamento. triz é semelhante à de projeto, com uma exceção principal. No caso da
- Pode propiciar o aumento dos custos pelas duplicidades de Departamentalização de matriz, o administrador de projeto não tem
atividade nos vários grupos de produtos.
autoridade de linha sobre os membros da equipe. Em lugar disso, a
- Pode criar uma situação em que os gerentes de produtos se
organização do administrador de projeto é sobreposta aos vários de-
tornam muito poderosos, o que pode desestabilizar a estrutura da
partamentos funcionais, dando a impressão de uma matriz.
empresa.
A organização de matriz proporciona uma hierarquia que res-
ponde rapidamente às mudanças em tecnologia. Por isso, é tipica-
Departamentalização Territorial: Algumas vezes mencionadas
mente encontrada em organização de orientação técnica, também
como regional, de área ou geográfica. É o agrupamento de ativida-
é usada por empresas com projetos de construção complexos
des de acordo com os lugares onde estão localizadas as operações.
Uma empresa de grande porte pode agrupar suas atividades de Vantagens:
vendas em áreas do Brasil como a região Nordeste, região Sudes- - Permitem comunicação aberta e coordenação de atividades
te, e região Sul. Muitas vezes as filiais de bancos são estabelecidas entre os especialistas funcionais relevantes.
desta maneira. - Capacita a organização a responder rapidamente à mudança.
- São abordagens orientadas para a tecnologia.
As vantagens e desvantagens da Departamentalização territo-
rial são semelhantes às dadas para a Departamentalização de pro- Desvantagens:
duto. Tal grupamento permite a uma divisão focalizar as necessida- - Pode haver choques resultantes das prioridades.
des singulares de sua área, mas exige coordenação e controle da
administração de cúpula em cada região. Departamentalização Mista - É o tipo mais frequente, cada par-
te da empresa deve ter a estrutura que mais se adapte à sua reali-
Departamentalização por Cliente: A Departamentalização de dade organizacional.
cliente consiste em agrupar as atividades de tal modo que elas
focalizem um determinado uso do produto ou serviço. A Departa- A MELHOR FORMA DE DEPARTAMENTALIZAR
mentalização de cliente é usada principalmente no grupamento de Para evitar problemas na hora de decidir como departamenta-
atividade de vendas ou serviços. lizar, pode-se seguir certos princípios:
10
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
- Princípio do maior uso – o departamento que faz maior uso de Nível Individual – Estuda as expectativas, motivações, as habili-
uma atividade deve tê-la sob sua jurisdição. dades e competências que cada colaborador demonstra individual-
- Principio do maior interesse – o departamento que tem maior mente através de seu trabalho.
interesse pela atividade deve supervisiona-la. Nível Grupal – Estuda a formação das equipes, grupos, as fun-
- Principio da separação e do controle – As atividades do con- ções desempenhadas por estes, a comunicação e interação uns com
trole devem estar separadas das atividades controladas. os outros, além da influência e o poder do líder neste contexto.
- Principio da supressão da concorrência – Eliminar a concor-
rência entre departamentos, agrupando atividades correlatas no
mesmo departamento.
PROCESSO ORGANIZACIONAL: PLANEJAMENTO, DIRE-
Outro critério básico para departamentalização está baseado ÇÃO, COMUNICAÇÃO, CONTROLE E AVALIAÇÃO
na diferenciação e na integração, os princípios são:
PLANEJAR
Diferenciação, cujo princípio estabelece que as atividades dife- É a função administrativa em que se estima os meios que pos-
rentes devem ficar em departamentos separados. A diferenciação sibilitarão realizar os objetivos (prever), a fim de poder tomar de-
ocorre quando: cisões acertadas, com antecipação, de modo que sejam evitados
- O fator humano é diferente, entraves ou interrupções nos processos organizacionais.
- A tecnologia e a natureza das atividades são diferentes, É também uma forma de se evitar a improvisação.
- Os ambientes externos são diferentes,
- Os objetivos e as estratégias são diferentes. Nesta função, o gerente especifica e seleciona os objetivos a
serem alcançados e como fazer para alcançá-los.
Integração – Quanto mais atividades trabalham integradas, Exemplos: o chefe de seção dimensiona os recursos necessários (ma-
maior razão para ficarem no mesmo departamento. teriais, humanos, etc.), em face dos objetivos e metas a serem atingidos; a
montagem de um plano de ação para recuperação de uma área avariada.
Comportamento Organizacional “é um campo de estudo que
investiga o impacto que indivíduos, grupos e a estrutura têm so- Planejamento: funciona como a primeira função administrado-
bre o comportamento dentro das organizações com o propósito de ra, pois serve de base para as demais.
aplicar este conhecimento em prol do aprimoramento da eficácia - É uma reflexão que antecede a ação;
de uma organização.”
- É um processo permanente e contínuo;
Visa trazer maior entendimento sobre as lacunas empresariais
- É sempre voltado para o futuro;
para o desenvolvimento contínuo e assertivo de soluções, afim de:
- É uma relação entre as coisas a serem feitas e o tempo dispo-
reter talentos, evitar o turnover e promover engajamento e harmo-
nível para tanto;
nia entre os stakeholders.
-- É mais uma questão de comportamento e atitude da administra-
Entender o comportamento organizacional é fundamental na
ção do que propriamente um elenco de planos e programas de ação;
dinâmica de manutenção e melhoria da gestão de pessoas, pois
- É a busca da racionalidade nas tomada de decisões;
baliza o trabalho dos líderes e confere a estes a possibilidade de
prever, e especialmente evitar problemas individuais ou coletivos - É um curso de ação escolhido entre várias alternativas de ca-
entre os colaboradores. minhos potenciais;
Comportamento organizacional refere-se a comportamentos - É interativo, pois pressupõem avanços e recuos, alterações e
relacionados a cargos, trabalho, absenteísmo, rotatividade no em- modificações em função de eventos novos ocorridos no ambiente
prego, produtividade, desempenho humano e gerenciamento. externo e interno da empresa.
Também inclui motivação, liderança, poder, comunicação inter- - O planejamento é um processo essencialmente participativo, e
pessoal, estrutura e processos de grupo, aprendizagem, desenvol- todos os funcionários que são objetos do processo devem participar.
vimento e percepção de atitude, processo de mudanças, conflitos. - Para realizar o planejamento, a empresa deve saber onde está
As organizações possuem aspectos formais, as pessoas, porém, agora (presente) e onde pretende chegar (futuro).
são complexas, pouco previsíveis, e seus comportamentos são in- - Para isso, deve dividir o planejamento em sete fases sequen-
fluenciados por uma infinidade de variáveis. ciais, como veremos abaixo.
11
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
1.Definir: visão e missão do negócio 5. Definir objetivos e Metas
São elementos que identificam de forma clara e precisa o que
Visão a empresa deseja e pretende alcançar. A partir dos objetivos e de
É a direção em que a empresa pretende seguir, ou ainda, um todos os dados levantados acima, são definidas as metas.
quadro do que a empresa deseja ser. Deve refletir as aspirações da As Metas existem para monitorar o progresso da empresa. Para
empresa e suas crenças. cada meta existe normalmente um plano operacional, que é o con-
Fórmula base para definição da visão: junto de ações necessárias para atingi-la; Toda meta, ao ser defini-
Verbo em perspectiva futura + objetivos desafiadores + até da, deve conter a unidade de medida e onde se pretende chegar.
quando.
6. Formular e Implementar a estratégia
Missão Até aqui, você definiu a missão e visão do seu negócio e definiu
A declaração de missão da empresa deve refletir a razão de ser metas e objetivos visando atender sua missão em direção à visão
da empresa, qual o seu propósito e o que a empresa faz. declarada. Agora, é necessário definir-se um plano para se atingir as
Fórmula base para definição da Missão: metas estabelecidas, ou seja, a empresa precisa de uma formulação
Fazer o quê + Para quem (qual o público?) + De que forma. de estratégias para serem implantadas.
Após o desenvolvimento das principais estratégias da empresa,
2. Analisar o ambiente externo deve-se adotar programas de apoio detalhados com responsáveis,
Uma vez declarada a visão e missão da empresa, seus dirigen- áreas envolvidas, recursos e prazos definidos.
tes devem conhecer as partes do ambiente que precisam monito-
rar para atingir suas metas. É preciso analisar as forças macroam- 7. Gerar Feedback e Controlar
bientais (demográficas, econômicas, tecnológicas, políticas, legais, À medida que implementa sua estratégia, a empresa precisa
sociais e culturais) e os atores microambientais (consumidores, rastrear os resultados e monitorar os novos desenvolvimentos nos
concorrentes, canais de distribuição, fornecedores) que afetam sua ambientes interno e externo. Alguns ambientes mantêm-se está-
habilidade de obter lucro. veis de um ano para outro. O ideal é estar sempre atento à realiza-
ção das metas e estratégias, para que sua empresa possa melhorar
Oportunidades a cada dia.
Um importante propósito da análise ambiental é identificar no-
vas oportunidades de marketing e mercado. Princípios aplicados ao planejamento
I - Princípio da definição dos objetivos (devem ser traçados com
Ameaças clareza, precisão)
Ameaça ambiental é um desafio decorrente de uma tendência II - Princípio da flexibilidade do planejamento (poderá e deverá
desfavorável que levaria a deterioração das vendas ou lucro. ser alterado sempre que necessário e possível).
3. Analisar o ambiente interno Com esta primeira função montaremos o plano teórico, com-
Você saberia dizer quais são as qualidades e o que pode ou pletando assim o ciclo de planejamento: Estabelecer objetivos, to-
deve ser melhorado na sua empresa? Esses são os pontos fortes/ mar decisões e elaborar planos.
forças e fracos/fraquezas do seu negócio.
ORGANIZAR
4. Analisar a situação atual É a função administrativa que visa dispor adequadamente os
Depois de identificados os pontos fortes e pontos fracos e ana- diferentes elementos (materiais, humanos, processos, etc.) que
lisadas as oportunidades e ameaças, pode-se obter a matriz FOFA compõem (ou vierem a compor) a organização, como objetivo de
(força ou fortalezas, oportunidades, fraquezas e ameaças) ou SWOT aumentar a sua eficiência, eficácia e efetividade.
(strengths, weaknesses, opportunities e threats). Inclua os pontos
fortes e fracos de sua empresa, juntamente com as oportunidades DIREÇÃO
e ameaças do setor, em cada uma das quatro caixas: Podemos dividir essa função em duas subfunções:
COMANDAR
É a função administrativa que consiste basicamente em:
Decidir a respeito de “que” (como, onde, quando, com que,
com quem) fazer, tendo em vista determinados objetivos a serem
conseguidos.
Determinar as pessoas, as tarefas que tem que executar.
É fundamental para quem comanda desfrutar de certo poder:
•Poder de decisão.
•Poder de determinação de tarefas a outras pessoas.
•Poder de delegar – a possibilidade de conferir á outro parte
do próprio poder.
•Poder de propor sanções àqueles que cumpriram ou não ás
determinações feitas.
COORDENAR
A análise FOFA fornece uma orientação estratégica útil. É a função administrativa que visa ligar, unir, harmonizar todos
os atos e todos os esforços coletivos através da qual se estabelece
um conjunto de medidas, que tem por objetivo harmonizar recur-
sos e processos. Dois tipos de Coordenação:
12
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
•Vertical/Hierárquico: É aquela que se faz com as pessoas sem- dela necessitam. Em terceiro lugar, a informação deve ser comu-
pre dentro de uma rigorosa observância das linhas de comando (ou nicada de forma adequada e eficiente. As linhas de comunicação
escalões hierárquicos estabelecidos). devem ser tão diretas, breves e pessoais quanto possível. A infor-
•Horizontal: É aquela que se estabelece entre as outras pes- mação deve ser clara, consistente e pontual - nem muito precoce
soas sem observância dos níveis hierárquicos dessas mesmas pes- nem (o que é um problema mais comum) muito atrasada.
soas. Essa coordenação possibilita a comunicação entre as pessoas
de vários departamentos e de diferentes níveis hierárquicos. Risco Comunicação de Baixo Para Cima
Básico: Desmoralização ou destruição das linhas de comando ou A comunicação de baixo para cima vai dos níveis mais baixos da
hierarquia. hierarquia para os mais altos.
Os administradores devem facilitar a comunicação de baixo
CONTROLAR para cima.
Esta função se aplica tanto a coisas quanto a pessoas. Mas os administradores devem também motivar as pessoas a
Para que a função de controle possa efetivamente se processar fornecer informações valiosas.
e aumentar a eficiência do trabalho, é fundamental que o estabele-
cido ou determinado esteja perfeito, claramente explicado. Comunicação Horizontal
“O que perturba o bom entendimento não são regras do jogo Muita informação precisa ser partilhada entre pessoas do mes-
muito exigentes, mas sim regras esclarecidas após o jogo iniciado.” mo nível hierárquico. Essa comunicação horizontal pode ocorrer
É a função administrativa através da qual se verifica se o que foi entre pessoas da mesma equipe de trabalho. Outro tipo de comuni-
estabelecido ou determinado foi cumprido (sem entrar especifica- cação importante deve ocorrer entre pessoas de departamentos di-
mente nos méritos e se deu ou não bons resultados). ferentes. Por exemplo, um agente de compras discute um problema
Um sistema de controle deve ter: com um engenheiro de produção, ou uma força-tarefa de chefes de
•um objetivo, um padrão, uma linha de atuação, uma norma, departamento se reúne para discutir uma preocupação particular.
uma regra “decisorial”, um critério, uma unidade de medida; Especialmente em ambientes complexos, nos quais as decisões
•um meio de medir a atividade desenvolvida; de uma unidade afetam a outra, a informação deve ser partilhada
•um procedimento para comparar tal atividade com o critério horizontalmente.
fixado;
As empresas integrantes da GE poderiam operar de forma com-
•algum mecanismo que corrija a atividade como critério fixa-
pletamente independente. Mas cada uma deve ajudar as outras.
do. O processo de controle é realizado em quatro fases a saber:
Transferem entre si recursos técnicos, pessoas, informação, ideias e
- Estabelecimento de padrões ou critérios;
dinheiro. A GE atinge esse alto nível de comunicação e cooperação
- Observação do desempenho;
através de um fácil acesso entre as divisões e ao CEO; uma cultura
- Comparação do desempenho com o padrão estabelecido;
de abertura, honestidade, confiança e obrigação mútua; e reuniões
- Ação para corrigir o desvio entre o desempenho atual e o de- trimestrais em que todos os altos executivos se reúnem informal-
sempenho esperado. mente para partilhar informações e ideias. Os mesmos tipos de coi-
sas são feitas também nos níveis inferiores.
COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL
Ser um comunicador habilidoso é essencial para ser um bom Comunicação Formal e Informal
administrador e líder de equipe. Mas a comunicação também deve As comunicações organizacionais diferem em sua formalidade.
ser administrada em toda a organização. A cada minuto de cada dia, As comunicações formais são oficiais, episódios de transmissão de
incontáveis bits de informação são transmitidos em uma organiza- informação sancionados pela organização. Podem mover-se de bai-
ção. Serão discutidas as comunicações de cima para baixo, de baixo xo para cima, de cima para baixo ou horizontalmente, muitas vezes
para cima, horizontal e informal nas organizações. envolvendo papel.
A comunicação informal é menos oficial.
Comunicação de Cima Para Baixo A função de controle está relacionada com as demais funções
A comunicação de cima para baixo refere-se ao fluxo de infor- do processo administrativo: o planejamento, a organização e a di-
mação que parte dos níveis mais altos da hierarquia da organização, reção repercutem nas atividades de controle da ação empresarial.
chegando aos mais baixos. Entre os exemplos estão um gerente pas- Muitas vezes se torna necessário modificar o planejamento, a orga-
sando umas atribuições a sua secretária, um supervisor fazendo um nização ou a direção, para que os sistemas de controle possam ser
anúncio a seus subordinados e o presidente de uma empresa dando mais eficazes.
uma palestra para sua equipe de administração. Os funcionários de- A avaliação intimida. É comum os gerentes estarem ocupados
vem receber a informação de que precisam para desempenhar suas demais para se manterem a par daquilo que as pessoas estão fa-
funções e se tornar (e permanecer) membros leais da organização. zendo e com qual grau de eficiência. É quando gerentes não sabem
Muitas vezes, os funcionários ficam sem a informação adequa- o que seu pessoal está fazendo, não podem avaliar corretamente.
da. Um problema é a sobrecarga de informação: os funcionários são Como resultado, sentem-se incapazes de substanciar suas impres-
bombardeados com tanta informação que não conseguem absor- sões e comentários sobre desempenho - por isso evitam a tarefa.
ver tudo. Grande parte da informação não é muito importante, mas Mas quando a seleção e o direcionamento são feitos correta-
seu volume faz com que muitos pontos relevantes se percam. mente, a avaliação se torna um processo lógico de fácil implemen-
Quanto menor o número de níveis de autoridade através dos tação. Se você sabe o que seu pessoal deveria fazer e atribui tare-
quais as comunicações devem passar, tanto menor será a perda ou fas, responsabilidades e objetivos com prazos a cada funcionário
distorção da informação. especificamente, então você terá critérios com os quais medir o de-
sempenho daquele indivíduo. Nessa situação, a avaliação se torna
Administração da comunicação de cima para baixo uma simples questão de determinar se, e com que eficiência, uma
Os administradores podem fazer muitas coisas para melhorar a pessoa atingiu ou não aquelas metas.
comunicação de cima para baixo. Em primeiro lugar, a administra- Os gerentes costumam suor que se selecionarem boas pessoas
ção deve desenvolver procedimentos e políticas de comunicação. e as direcionarem naquilo que é esperado, as coisas serão bem fei-
Em segundo lugar, a informação deve estar disponível àqueles que tas. Eles têm razão. As coisas serão feitas, mas se serão bem feitas
13
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
e quanto tempo levará para fazê-las são fatores incertos. A avaliação permite que se determine até que ponto uma coisa foi bem feita e
se foi realizada no tempo certo. De certa forma, a avaliação é como um guarda de trânsito. Você pode colocar todas as placas indicadoras
de limite de velocidade do mundo: não serão respeitadas a não ser que as pessoas saibam que as infrações serão descobertas e multadas.
Isso parece lógico, mas é surpreendente quantos gerentes adiam continuamente a avaliação enquanto se concentram em atribuições
urgentes mas, em última análise, menos importantes. Quando a avaliação é adiada, os prazos também são prorrogados, porque funcio-
nários começam a sentir que pontualidade e qualidade não são importantes. Quando o desempenho cai, mais responsabilidades são
deslocadas para o gerente - que, assim, tem ainda menos tempo para direcionar e avaliar funcionários.
O termo “estratégia”, nas últimas décadas, ganhou destaque e ocupa um lugar privilegiado na linguagem coloquial, como reflexo do
status conquistado nos estudos relativos à sobrevivência das organizações em mercados cada vez mais competitivos. A origem do vocábulo
“estratégia” está na Grécia Antiga, significando a “arte do general”, o “chefe do exército”, numa conotação voltada para a guerra, significan-
do um caminho a ser percorrido. (STEINER e MINER, 1981).
No entanto, os diferentes conceitos de estratégia, uns mais restritos e outros mais abrangentes, não impedem que haja integração e
sobreposição de teorias e enfoques no pensamento de um grupo de teóricos e em um determinado campo orientador (vide Quadro
1). Reconhecidamente, estratégia trata-se de um conceito de grande emprego acadêmico e empresarial, sendo sua concepção, ao
longo do tempo, construída com vistas ao melhor desempenho da organização.
Segundo a literatura consultada, a análise do conceito de estratégia, obrigatoriamente, inicia-se pelos estudos de Chandler (1962), nos
quais se observa que o campo orientador da definição está apontado para a racionalidade econômica. A proposta conceitual apresentada
pelo autor é da estratégia vista a partir da definição dos objetivos organizacionais e da adoção de ações, tendo como ponto principal a
alocação dos recursos da organização, que muitas vezes, são limitados. A empresa deveria prestar maior atenção no uso dos recursos de
uma maneira mais racional e eficiente. Entre outras coisas, o que chamou a atenção do autor foi a formação de uma estrutura administra-
tiva para mobilizar, sistematicamente, o uso dos recursos, dentro de cada atividade funcional, coordenação com a demanda de mercado,
o fluxo e a determinação do nível de atividade dos departamentos funcionais.
Modelo SWOT
SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities e Threats) é uma técnica que auxilia a elaboração do planejamento estratégico das
Organizações que começou a ser desenvolvido nos anos 60-70, nas escolas americanas. O objetivo é focalizar a combinação das forças e
fraquezas da organização com as oportunidades e ameaças do mercado.
Os pontos fracos e fortes de uma empresa são constituídos dos seus recursos, que incluem os recursos humanos (experiências, capa-
cidades, conhecimentos, habilidades); os recursos organizacionais (sistemas e processos da empresa como estratégias, estrutura, cultura,
etc.); e os recursos físicos (instalações, equipamentos, tecnologia, canais, etc.).
Já as oportunidades são situações externas e não controláveis pela empresa, atuais ou futuras que, se adequadamente aproveitadas
pela empresa, podem influência-lá positivamente. Quanto as ameaças são situações externas e não controláveis pela empresa, atuais ou
futuras que, se não eliminadas, minimizadas ou evitadas pela empresa, podem afetá-la negativamente Montana e Charnov (2005), expli-
cam que essa abordagem utiliza a opinião dos executivos da organização para avaliar os pontos importantes do planejamento.
Para tanto, são realizadas entrevistas com os executivos e as informações obtidas são agrupadas em uma matriz. Assim, considerarão
que esses executivos têm um entendimento abrangente da organização no que se refere aos seus pontos fortes, fraquezas, oportunidades
e ameaças.
O objetivo da SWOT é levantar estratégias para, no contexto do planejamento estratégico, manter pontos fortes, reduzir a intensidade
de pontos fracos, aproveitando-se de oportunidades e protegendo-se de ameaças. A análise também é útil para revelar pontos fortes que
ainda não foram plenamente utilizados e identificar pontos fracos que podem ser corrigidos.
Diante da predominância de pontos fortes ou fracos, e de oportunidades ou ameaças, podem-se adotar estratégias que busquem a
sobrevivência, a manutenção, crescimento ou desenvolviment
As definições de pontos fortes e fracos da organização são uns dos principais desafios dessa técnica. Para solucionar esse problema
busca-se identificar quais aspectos da organização são duradouros e imutáveis durante períodos relativamente longos e quais aspectos são
necessariamente mais responsivos às mudanças no mercado e às pressões de forças ambientais.
A função principal da análise SWOT é levar ao estabelecimento de objetivos para a organização. Analisando-se as variáveis incontro-
láveis do ambiente externo, tais como de aspectos sócio-econômicos, políticos, de legislação entre outros, pode-se esperar um cenário
otimista ou pessimista. Tal cenário é então confrontado com a capacidade da empresa e assim avalia-se os meios para competir em merca-
dos concorridos. Desse modo, são estabelecidos os objetivos que irão definir o que deverá ser feito para os próximos anos. É, pois, nesse
sentido, que se afirma que a estratégia e a Inteligência Competitiva devem andar juntas (Stollenwerk, 2005).
14
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Passos para utilização da técnica do SWOT, com base em Mon-
tana e Charnov (2005) e Oliveira (2004):
- Criar uma lista de executivos e funcionários-chave – A aborda-
gem do SWOT utiliza a opinião dos executivos e funcionários para
inventariar questões importantes para a organização. Baseia-se na
suposição de que as metas e objetivos de uma empresa são encon-
trados na mente de seus executivos. Por isso também é considerada
uma técnica de brainstorming.
- Desenvolver entrevistas individuais – As entrevistas são o for-
mato viável para proceder ao levantamento das informações junto
aos executivos-chave. Nessa ocasião, costuma-se usar uma sequên-
cia de itens para serem avaliados sob o ponto de vista da empresa
como oportunidades, ameaças, pontos fortes e pontos fracos. Esse
procedimento facilita a posterior classificação das respostas.
- Organizar as informações – A premissa básica para a organiza-
ção das informações é a própria estrutura SWOT, por meio de uma
matriz. O que os entrevistados veem como bom em suas operações
atuais são os pontos fortes da empresa; o que eles veem como ruim
são os pontos fracos. O que eles veem como bom no ambiente ex-
terno em termos de futuras operações são as oportunidades; o que
eles veem como ruim são as ameaças. a) Poder de barganha dos fornecedores:
- Priorização das questões – A decisão de quais questões de- O poder de negociação dos fornecedores se manifesta na ca-
vem ter prioridade requer novamente o envolvimento dos entre- pacidade dos mesmos de elevar os preços ou reduzir a qualidade
vistados. Desse modo, realiza-se o feedback entre entrevistado e dos bens e serviços fornecidos. É maior quando é mais concentrado
entrevistador e se obtêm o envolvimento de todo o grupo. Algumas do que a indústria da qual participa, quando tem clientes diversi-
técnicas como GUT (Gravidade, Urgência e Tendência) podem aju- ficados, quando o produto fornecido é importante para o negócio
dar nesta fase, inclusive para definir a postura estratégica da em- do cliente e quando os concorrentes dos fornecedoresapresentam
presa: sobrevivência, desenvolvimento, manutenção, crescimento. produtos diferenciados com custo de mudança alto. Em outras pa-
- Definição das questões-chave – De posse da matriz e das lavras, o poder dos fornecedores será grande quando os comprado-
questões priorizadas é possível se estabelecer o que deve ser feito. res tiverem dificuldade em trocar ou utilizar mais de um fornecedor.
Nessa fase emerge a estratégia da organização, portanto tem-se a
condição de definir os objetivos da empresa para um determinado b) Poder de barganha dos compradores:
período. Do ponto de vista da IC, podem ser identificas as questões O poder de barganha dos compradores é tanto maior quanto a
chaves (KIT - Key Intelligence Topics ou KIQ- Key Intelligence Ques- importância de suas compras para a indústria. Quando forte, afeta
tions). a indústria forçando os preços para baixo, exigindo melhorias na
qualidade, nos serviços de manutenção, na compatibilidade dos
O SWOT é uma ferramenta utilizada para fazer análise do am- produtos e nas garantias, gerando, consequentemente, aumento
biente ou de cenários, porém a sua utilização é bastante diversi- acirrado da competição entre os concorrentes. O poder de barga-
ficada. Devido a sua simplicidade há registros de aplicação dessa nha dos compradores é alto quando os mesmos se encontram con-
técnica desde para processos de planejamento, até para estudos centrados, quando compram grandes volumes, quando o preço dos
específicos na escolha de uma carreira profissional, por exemplo. É produtos representa um custo alto para os compradores, quando os
em última instância, uma ferramenta de apoio à tomada de decisão custos de mudança são baixos, se representam ameaça de integra-
e, nesse sentido, tem sido bastante difundida no ambiente da inte- ção para trás, quando o produto comprado não é muito importante
para os negócios do comprador ou quando o comprador tem total
ligência competitiva.
acesso à informação.
As cinco forças de porter
c) Pressão dos produtos substitutos:
O modelo das cinco forças competitivas de Porter (1997) per-
Toda indústria concorre com produtos substitutos, produtos
mite a identificação e atribuição causal das principais forças que
que podem desempenhar a mesma função dos produtos de deter-
atuam no ambiente competitivo de cada empresa ou organização.
minada indústria. Quanto melhor a relação desempenho/preço dos
Após desenvolvida essa análise, cada empresa pode identificar suas
produtos substitutos, maior a pressão sobre o lucro da indústria.
forças e fraquezas frente a indústria e se posicionar estrategicamen- Maior atenção deve ser dada a produtos substitutos que estejam
te (tomar decisões) de forma a se defender das forças identificadas. sujeitos a tendências de melhoramento do seu trade-off de preço/
Cinco forças são determinantes para se medir a competitivida- desempenho com o produto da indústria em questão, ou que são
de: poder de barganha dos fornecedores, ameaça de novos entran- produzidos por indústrias com lucros altos, pois podem implemen-
tes, poder de barganha dos clientes, ameaça de produtos substitu- tar aperfeiçoamentos de desempenho e redução de preço.
tos e rivalidade entre competidores.
d) Ameaça de novos entrantes:
Novos entrantes representam uma ameaça porque geralmen-
te chegam bem capitalizados e com forte intenção de conquistar
alguma parcela do mercado. Consequentemente, com um novo en-
trante, os preços podem cair e os custos serem inflacionados, dimi-
nuindo a rentabilidade do negócio. Os três aspectos principais que
protegem as empresas de uma determinada indústria contra novos
entrantes são:
15
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
1) as barreiras de entrada;
2) a expectativa de retaliação por parte dos concorrentes já atuantes no mercado e
3) o preço de entrada dissuasivo.
O primeiro, quando forte, envolve a necessidade de altos investimentos em infraestrutura, equipamentos, estoques, marketing, entre
outros, pela nova empresa; e/ou alto custo de produção fora da economia de escala; e/ou altos custos de mudança; e/ou a diferenciação
do produto em função de uma curva de experiência significativa, além da consolidação da imagem de uma nova marca; e/ou impossibili-
dade de acesso a tecnologias patenteadas, matérias primas, canais de distribuição já estabelecidos e benefícios governamentais. A expec-
tativa de retaliação, o segundo aspecto de proteção, é diretamente proporcional aos recursos de contra-ataque disponíveis nas empresas
já participantes do mercado e à ameaça que o novo entrante parece representar.
O terceiro fator de proteção contra a entrada de novas empresas consiste no conceito hipotético de preço de entrada dissuasivo, o
qual ocorre quando o preço estimado dos custos necessários para que um novo entrante supere as barreiras de entrada está acima dos
preços praticados na indústria, desestimulando a entrada de novas empresas.
16
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Essa forma clássica de interpretar estratégia remete-nos aos vimentação das empresas dentro de uma dada indústria. Mais do
trabalhos em torno da racionalidade econômica limitada à capaci- que estabelecer estratégias para atingir objetivos, uma organização
dade da memória, desenvolvidos por March e Simon (1981), numa deveria preocupar-se em se posicionar, adequadamente, no mer-
perspectiva ambiental de equilíbrio e adaptação (ROULEAU; SE- cado. Assim, as estratégias conduzem as organizações a possíveis
GUIN, 1995), o que nos faz pensar que a discussão sobre estratégia equilíbrios no mercado.
tenha se iniciado, implicitamente, antes de Chandler (1962) cunhar Com os estudos de Porter (1985), o que se observa é a emer-
o termo numa perspectiva sistêmica, onde estão os principais escri- gência de um campo novo e complexo para o desenvolvimento de
tos estratégicos. estudos organizacionais. Os debates teóricos passam a centrar-se
Em 1965, Ansoff desenvolve uma outra perspectiva, na qual a em proposições de grandes grupos de autores, com visões seme-
estratégia é vista como ações e decisões voltadas ao comportamen- lhantes, que são analisados a partir do seu conjunto na forma de
to organizacional. Ao comparar os estudos de Ansoff (1965) aos de escolas do pensamento de estratégia.
Chandler (1962), constata-se uma mudança no campo de análise Mintzberg (1987a; 2000), ao reconhecer a necessidade da na-
sob o mesmo foco orientador. Pode-se considerar que ocorreu uma tureza humana em definir conceitos em função do uso aleatório
evolução nesse período de estudos, ao focalizar estratégia no cam- de alguns termos no campo organizacional, especialmente o de
po organizacional sob a ótica econômica, determinando e relevan- estratégia, apresenta cinco definições básicas. A base de suas dis-
do a não preocupação exclusivamente com o campo econômico, cussões está em duas características essenciais: planejamento das
mas à gestão enquanto processo em busca dos melhores resulta- ações, desenvolvimento e implementação consciente. Seus estudos
dos. Os autores utilizam uma ênfase conceitual diferente para estra- revelaram o ecletismo conceitual do termo estratégia, sob a con-
tégia, apesar de se reconhecer certo grau de complementaridade cepção dos cinco P’s. Ao observar que nem todos os planos tor-
ao longo do tempo. nam-se modelos, que nem todos os modelos se desenvolvem com
base em planos, bem como que nem todas as estratégias são mais
Schendel e Hofer (1978) seguem a proposta de Ansoff (1965), que posições e menos que perspectivas. Nesse sentido, Mintzberg
inovando a compreensão de estratégia ao deslocarem o termo “re- (1987a) reconhece a complementaridade dos diferentes conceitos
gras para a ação” para “meios para cometer a ação”, em busca dos e observa que estratégia, como modelo, introduz um outro impor-
resultados da organização. Aqui, a discussão está centrada na vi- tante fenômeno nas organizações, que é o de “convergência” e de
são interna (conteúdo e tarefas) para a interação da organização “realização de consistência no comportamento”. Cada definição
com o ambiente externo (processo). De acordo com os autores, a adiciona elementos à compreensão de estratégia, encoraja-nos a
estratégia descreve as características fundamentais do ajuste que orientar questões fundamentais sobre organizações no geral.
uma organização realiza entre suas competências, recursos, opor- Em síntese, os estudos em torno do conceito de estratégia
tunidades e ameaças do ambiente externo, de forma a atingir seus deixam transparecer que um elemento básico na definição de es-
objetivos. tratégia é a distinção que se faz entre estratégias desejadas pela
Em relação ao contexto sistêmico que envolve a organização, organização e aquelas, realmente, levadas à execução. Enquanto
Schendel e Hofer (1978) reconhecem a interferência do ambiente os planos dizem respeito às estratégias desejadas, os padrões são
na eficácia da estratégia delineada. Porém, Ansoff (1965) traz a estratégias efetivamente realizadas. Uma outra distinção refere-se
ideia de ecossistema, indicando possibilidades de o ambiente ofe- às estratégias deliberadas e estratégias emergentes ou flexíveis.
recer elementos para o equilíbrio dos agentes. (MINTZBERG, 1987a, 1987b). As primeiras ocorrem por mudanças
Schendel e Hofer (1978), no entanto, ao se referirem ao am- planejadas. As últimas são resultantes de mudanças não planejadas
biente, observam que esse condiciona a participação ou não de al- e sua ocorrência se dádesestruturadamente, fazendo a organização
guns agentes, por meio de elementos de restrição, que precisam aprender a partir dos erros cometidos.
ser “controlados”.
Miles e Snow (1978), por sua vez, focalizam o processo de Escolas do pensamento de estratégia e os modelos de análise
adaptação organizacional através da interrelação de estratégia, es- O resultado da presente revisão histórica do conceito de es-
trutura e processos, que dão origem a um modelo de análise da tratégia oferece elementos teóricos para discutir o pensamento
estratégia formado por dois elementos básicos. Um é a abordagem estratégico numa perspectiva evolucionista. As sobreposições de
geral do processo de adaptação, especificando as principais linhas autores e de pensamentos, identificadas nos trabalhos publicados
de decisão que a empresa deve tomar para se manter alinhada e nos últimos quarenta anos, fez com que o campo da estratégia evo-
ajustada ao seu ambiente. luísse cientificamente e oferecesse diferentes modelos de análise.
O outro elemento é uma tipologia organizacional, retratando Ao mesmo tempo, se observa que pesquisas empíricas, no Brasil,
os diferentes padrões de comportamento adaptativo utilizados pe- continuam sendo desenvolvidas segundo as orientações clássicas.
las empresas. Talvez, esse fenômeno possa ser explicado pelo conjunto de
A tipologia proposta por Miles e Snow (1978) classifica as uni- conceitos, teorias e modelos que se encontravam dispersos em li-
dades de negócio em quatro categorias (prospectoras, defensoras, vros e periódicos científicos, até 1998, quando foram reunidos por
analisadoras e reativas), com vistas a trazer o conceito de estratégia Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000). Por meio da seleção de ca-
atrelado aos mecanismos reativos da organização. O objetivo final racterísticas e de orientações das proposições teóricas, foi possível
era fazer com que a organização visualizasse as forças presentes no aos autores o agrupamento de estudos e modelos utilizados em ad-
ambiente e se antecipasse ao “jogo do mercado”, que traz forças ministração estratégica, que passaram a formar as “escolas do pen-
que condicionam o ingresso dos competidores e, também, deter- samento” em estratégia. Com o intuito de compreender cada uma
mina as condições de permanência daqueles que já estão inseridos das escolas e, ao mesmo tempo, oferecer elementos teóricos para o
no “jogo.” (MILES et al, 1978). desenvolvimento de estudos empíricos, a seguir, elas são apresen-
No entanto, foi com os estudos de Porter, em 1980, que essa tadas em três grandes blocos, seguindo os modelos orientadores:
discussão ganhou dimensão e importância na gestão das organi- prescritivo, descritivo e integrativo.
zações. Porter (1985), após estudar a concorrência na indústria,
observou que o mercado apresentava barreiras, entrada de novos
competidores, bem como de mobilidade, que dificultavam a mo-
17
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Modelo Prescritivo triz de crescimento participação de mercado, como é conhecida a
As primeiras propostas teóricas do pensamento de estratégia matriz BCG, se transforma num “esboço de planejamento” (KOTLER,
no campo organizacional nascem da necessidade de adequar or- 1993) para a tomada de decisão estratégica, a partir da avaliação
ganização e ambiente (contexto), por meio de modelos gerenciais de cada negócio e na fixação do objetivo mais viável para a organi-
que propunham “formar” estratégias. A ação deveria fluir da razão zação, tendo como referência a posição dinâmica e não a posição
e, por conseguinte, a formação da estratégia deveria estar centrada estática atual dos negócios. A base reporta ao pensamento estraté-
no executivo principal, supostamente, o mais preparado para de- gico desenvolvido por Sun Tzu (2004), que ensina estratégias e táti-
senvolver esse raciocínio dentro das organizações da época, anos cas de ação amplamente utilizadas nas organizações empresariais.
sessenta. Entretanto, gerenciar o posicionamento dos produtos da or-
As premissas orientadoras das escolas formadoras do modelo ganização não é algo tão simples, pois envolve custos em relação
prescritivo estavam em separar o estrategista (executivo principal, à escala da produção e a compreensão da estrutura do mercado,
aquele que forma a estratégia) dos implementadores (funcionários, que impõe condições de ingresso e permanência de um produto em
aqueles que executam a ação), ou seja, a conformação do pensa- cada quadrante proposto pela Matriz BCG.
mento mecanicista clássico de separar o pensamento da ação. Para
que a execução ocorra exatamente como o previsto, o modelo de Então, Porter, em 1980, explica essa relação da organização
formação de estratégia deve ser mantido simples e informal, pres- com o mercado (condições externas, estratégias internas), que con-
supondo ambiente estável, até o momento da sua implementação. duz os estrategistas a formularem as estratégias a serem seguidas
As estratégias, por sua vez, deveriam ser explícitas para levar sim- pela organização, considerando um conjunto de condições por ele
plicidade às organizações complexas. O estrategista monitora o pro- definido como sendo as “cinco forças competitivas” que influen-
cesso de implementação, por meio de sistemas de planejamento, ciam a concorrência em uma indústria.
orçamento e controle. As cinco forças competitivas que determinam a estrutura de
Apesar de as escolas do modelo prescritivo terem sido muito uma indústria, na visão de Porter (1980), são as ameaças de no-
difundidas e representarem a visão mais clássica e influente do pro- vos entrantes ou de produtos substitutos, o poder de barganha dos
cesso de formação da estratégia, foram criticadas por separarem fornecedores e dos clientes e a intensidade da rivalidade entre em-
formulação de implementação da estratégia e, assim, estabelece- presas concorrentes. Todos os fatores anteriores, observa o autor,
rem pouca interação com o ambiente externo e promoverem mais convergem para a rivalidade entendida como sendo um cruzamen-
“controle estratégico” do que “planejamento estratégico”. Daí, se to entre guerra aberta e diplomacia pacífica entre os diferentes con-
originou outra crítica: dos modelos prescritivos serem inflexíveis correntes.
durante o processo de implementação, pressuporem estabilidade Com base na orientação do “modelo de Porter”, a organiza-
ambiental num mundo complexo, apresentarem um foco estreito ção tem condições de se posicionar, estrategicamente, no merca-
da gestão empresarial orientado para o econômico em detrimento do: liderança em custo, diferenciação ou foco (atender segmentos
do social e político ou econômico não quantificável.(MINTZBERG; de mercados estreitos). Mas, por outro lado, ao inclinar-se para as
AHLSTRAND; LAMPEL, 2000). condições externas (estrutura da indústria), elimina o equilíbrio de-
Os modelos utilizados para “formar” a estratégia numa pers- sejado entre interno externo, enfatiza o “grande”, o “estabelecido”,
pectiva prescritiva podem ser considerados o SWOT, o Modelo Stei- o “maduro” e, ainda, reduz a estratégia como posição genérica à
ner (ampliado pelo Sistema de Planos hierarquias de planejamento fórmulas e cálculos que impedem o aprendizado, a criatividade e o
do Standford Research Institute), a Matriz BCG e o Modelo de Aná- empenho pessoal e ignora os detalhes triviais do negócio (MINTZ-
lise Competitiva (“modelo de Porter”). BERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000).
O modelo SWOT tem origem nos estudos de Andrews apresen- Em 1995, impulsionados por evidências empíricas que explica-
tados na sessão anterior, ao qual foram incluídos elementos novos, vam o sucesso de empresas como uma “consequência de elas esta-
como responsabilidade social (ética da sociedade na qual a orga- rem vendendo aquilo que seus clientes desejam [...] e que o con-
nização opera) e valores gerenciais (crenças e preferências dos es- corrente não consegue oferecer” (PISCOPO; OLIVEIRA JR., 2004),
trategistas). A ênfase está na avaliação da organização em relação e, portanto, estando além das explicações porterianas, Treacy e
ao ambiente externo e interno onde o primeiro revela ameaças e Wieserma (1995) oferecem abordagem alternativa, por meio das
oportunidades e, o segundo, as forças e fraquezas da organização. disciplinas de valor: excelência operacional, liderança em produtos
(CALVALCANTI, 2003). e intimidade com o cliente.
O Modelo Steiner de planejamento estratégico, por sua vez, Por sua vez, os recursos intangíveis incluem exemplos como a
nada mais é do que a divisão em etapas claramente delineadas da reputação da empresa, as habilidades administrativas relacionadas
proposta apresentada no modelo SWOT. Como elemento inovador, com processos de decisão, habilidades tecnológicas não documen-
foram incluídas listas de verificação e técnicas de monitoramento tadas, habilidades de coordenação e gerenciamento, cultura orga-
do processo, orientadas pela análise financeira com ênfase para a nizacional, reputação da empresa e de seus produtos, conhecimen-
“criação de valor”. Na escola de posicionamento, criação de valor é to intrínseco de seus recursos humanos e relacionamentos com
um termo utilizado como sinônimo de métodos associados ao cál- fornecedores e clientes, entre outros. (WILK, 2000).
culo do “valor para o acionista”. Para Miller e Shamsie (1996), diferentes tipos de recursos ex-
Uma outra inovação apresentada a partir do Modelo de Steiner plicam a performance da empresa em ambientes diferentes. Mas,
à formação de estratégia foi a operacionalização da estratégia, por sozinhos, provavelmente, os recursos não produzem uma vantagem
meio de planos minuciosamente articulados em níveis de hierar- competitiva sustentável em ambientes dinâmicos. Portanto, os re-
quia: estratégico, de desenvolvimento corporativo e de operações. cursos podem ser adequadamente gerenciados para produzir valor.
Assim, com a adequação aos elementos do modelo original, as Integração e posicionamento efetivo de recursos aumentam a difi-
ações empreendidas pela organização deixavam claramente sepa- culdade de competidores imitarem ou desenvolverem substitutos
radas as etapas planejamentode ações e controle de desempenho efetivos para aquele conjunto específico de recursos.
nos níveis corporativo, funcional e operacional. Confirmando as limitações do modelo prescritivo porteriano
Outro modelo, Matriz BCG, oferece elementos para o estrate- à formulação de estratégias em economias interconectadas, Hax e
gista definir objetivos, estratégia e orçamento de cada unidade de Wilde (1999) apresentam o Modelo Delta, que enfatiza a amarração
negócios em relação ao portfólio de negócios da organização. A ma- (bonding) entre os principais stakeholders externos (consumidores,
18
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
fornecedores, concorrentes, substitutos e complementadores). mentar mudanças. A visão dessa escola abandona o “plano” pro-
Segundo esse modelo, o posicionamento competitivo pode ser re- posto no modelo prescritivo e oferece flexibilidade para a constru-
presentado pela figura de um triângulo, cujos vértices são: melhor ção de uma estratégia empreendedora deliberada e emergente, ao
produto, soluções totais para o cliente e lockin no sistema, ou seja, mesmo tempo. O comportamento organizacional, por sua vez, se
dependendo da opção estratégica da empresa, a competição dar- caracteriza como reativo diante das incertezas ambientais.
-se-á na economia do sistema, na economia do cliente ou na eco- Na escola do aprendizado, o Modelo de Processo de Geração
nomia do produto. de Estratégia de Empreendimento Corporativo Interno (ICV) apre-
Em síntese, o modelo prescritivo do pensamento de estratégia sentado por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), considera a
clássico, por ter separado a formulação da implementação da estra- formulação de estratégia como uma atividade gerencial conduzida
tégia, foi interpretado como um risco para a organização. Há uma pelo empreendedor e que envolve múltiplas relações, tanto nos ní-
linha muito estreita entre intuição inconsciente e análise formal do veis corporativo (contexto estrutural e estratégico) quanto na mé-
estrategista que o distancia do ambiente real, bem como transfor- dia gerência (processos básicos).
ma o processo de formulação de estratégia numa sequência arbi- Paulino et al. (2001) observam que, no âmbito nacional, há
trária de atividades de coleta e manuseio de informações externas, crescente interesse por linhas de estudos que enfatizam os fatores
relegando a um segundo plano a estrutura interna da organização, internos como diferenciais para a formulação de estratégias. A cria-
tratada mais como uma análise das capacidades. ção coletiva do conhecimento, atrelada à percepção dos estrate-
Nesse sentido, o Modelo Delta ultrapassa a dimensão estática gistas e ao processo mental de formulação da estratégia, no entan-
da estratégia separada da execução e, por meio da descrição dos to, apresentaram um crescimento de 2%, em 1997, para 13%, em
processos adaptativos efetividade operacional, customer targeting 2000, nos artigos encaminhados ao Encontro Nacional dos Progra-
(atraindo, satisfazendo e retendo o consumidor) e inovação (corren- mas de PósGraduação em Administração. Essa tendência também é
te contínua de lançamentos de novos produtos e serviços), oferece observada nos estudos internacionais.
a dinamicidade requerida pelo ambiente corrente de complexidade De acordo com Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), diante
e incertezas por expandir o espectro da posição estratégica. das incertezas do ambiente, a organização que necessita de nova
estratégia pode não ter outra escolha, senão aprender coletiva-
Modelo Descritivo mente.
Com base nas deficiências percebidas nas diferentes escolas do Dentro do que parecem ser respostas passivas ou reativas a for-
pensamento de estratégia sob orientação prescritiva, os teóricos ças externas, a organização, realmente, aprende e cria, o que per-
avançam seus estudos, resgatando escritos clássicos dos anos 1940 mite afirmar que a estratégia é um processo de aprendizagem tanto
e 1950 para promover um novo modo de pensar a estratégia em- individual quanto coletivo e, portanto, a proposta apresentada por
presarial. O resultado é um conjunto de textos que procuram des- Mariotto (2003) parece em muito contribuir.
crever como as estratégias são, de fato, formuladas pelas organiza- No entanto, a escola ambiental retoma a razão subjetiva que
ções, valorizando procedimentos menos formatados racionalmente se faz presente no mercado, a de que o ambiente é um conjunto
(processos deliberados) e mais emergentes (padrão realizado não de forças e, portanto, é o agente central no processo de geração de
pretendido). estratégia.
A premissa central do modelo descritivo é considerar a estraté- Caso a organização não consiga responder, com eficácia, às
gia como elemento de natureza complexa e imprevisível do ambien- forças ambientais, será eliminada. Esse pensamento tem respaldo
te organizacional, tanto nos níveis micro quanto macro de análise, nas teorias organizacionais (ecologia populacional e teoria institu-
que precisa fazer uso da subjetividade humana para a compreensão cional), que explicam o comportamento organizacional, por meio
do contexto externo e das capacidades internas para a formulação de agrupamentos em nichos distintos com vistas a evitar a “morte”.
da estratégia. Os modelos de análise que emergem desse novo pen- Mas, os teóricos organizacionais também observam que o “ambien-
sar voltam-se das forças presentes no ambiente externo para a so- te” seleciona, naturalmente, as espécies que irão ou não sobreviver
brevivência organizacional. Na escola do poder, que às forças naturais, como uma analogia ao ambiente, segundo as
traz o conceito de estratégia como um processo de negociação, ciências naturais de Darwin.
destaca-se o Modelo de Processo de Formulação de Estratégia dos A grande contribuição da escola ambiental, no entanto, foi res-
Interessados, que é uma tentativa de lidar com as forças políticas tabelecer o equilíbrio perdido entre a visão global da formação de
que se fazem presentes na organização através da abordagem ra- estratégia, posicionando o ambiente como uma das três forças cen-
cional de onde nascem duas correntes distintas do pensamento em trais no processo, ao lado de liderança e organização. Esse status
estratégia. conquistado permite o avanço dos estudos sob uma outra perspec-
Uma corrente segue o modelo positivista, no qual o processa- tiva, o da integração de todas essas correntes.
mento e a estruturação do conhecimento organizacional emerge
como “filme objetivo do mundo”. É um pensamento da escola cog- Modelo Integrativo
nitiva, formada por uma coleção solta de pesquisas associadas a As ideias de Darwin ganham mais força na escola da configura-
outras escolas. Utilizam-se da psicologia cognitiva como base. Outra ção, que representa o modelo integrativo. Darwin defendia a idéia
corrente segue o modelo subjetivista de interpretação do mundo. A de que, na natureza, há agrupadores e separadores que, com o pas-
formação de estratégia é um processo cognitivo, que tem lugar na sar do tempo, configuram processos transformacionais. Os agrupa-
mente do estrategista, por meio de “molduras/mapas” do conheci- dores vêem o mundo em categorias claras e precisas. Assim, uma
mento. Assim, as estratégias emergem como perspectivas que dão premissa do modelo integrativo é que as nuances de variabilidade
forma à maneira pela qual as pessoas lidam com as informações são deixadas de lado, em favor do agrupamento global; os margi-
do ambiente, apesar de reduzir o grau de controle organizacional. nais são ignorados em favor das tendências centrais.
Torna-se importante mencionar a contribuição da escola em- Conseqüentemente, a organização gera estratégias a partir
preendedora, através dos estudos de Schumpeter, em 1947, e o dela e do contexto que a cerca, os estados sucessivos dessa configu-
modelo de mudança apresentado por Kurt Lewin, em 1951. Se as ração geram períodos de transformação, que podem ser descritos e
estratégias emergem como perspectivas, a organização precisa ter interpretados pelos ciclos de vida das organizações.
pessoas com espírito empreendedor e visão sistêmica para imple-
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) explicam configuração e pela identificação dos pontos fortes e fracos da organização, e das
transformação no delineamento estratégico das organizações, ob- empresas e oportunidades diagnosticadas em seu ambiente de
servando que a configuração tende a ser pesquisada e descrita por atuação. Da porta para fora, o planejamento cumpriria a função de
acadêmicos, enquanto que a transformação tende a ser praticada e orientar as ações da organização para que ela possa buscar oportu-
prescrita pelos gestores. nidades e a própria sobrevivência.
Nesse sentido, Hafsi (1996) descreve a estratégia como gestão Assim, a estratégia é fruto de processos racionais de reflexão,
das relações da organização com o seu ambiente, numa interação aprendizagem, elaboração, pensamento e intervenção, além de
constante com seus principais parceiros, sem ignorar o contexto no processos não racionais e simbólicos, construídos a partir da “vi-
qual está inserida e a realidade sócioeconômica. vência” cotidiana da organização em seus embates internos e com
As organizações, durante as suas atividades produtivas, sofrem o ambiente.
influências, dependendo do tipo de relações que mantêm com seus
governantes, cidadãos e sociedade que a cerca. A relação política Desenvolver a visão estratégica e a missão do negócio.
(CHANLAT, 1996) nos espaços interorganizacionais, portanto, passa Através da visão é possível identificar quais são as expectativas
a ser essencial na emergência de estratégias empresariais. e os desejos dos acionistas, conselheiros e elementos da alta admi-
Por fim, na visão de Mintzberg, Ahlstand e Lampel (2000), a nistração da empresa, tendo em vista que esses aspectos propor-
orientação do modelo integrativo, em torno das configurações, re- cionam o grande delineamento do planejamento estratégico a ser
presenta abordagem falha à teorização, por serem fáceis de enten- desenvolvido e implementado. A gerência deve definir: “quem são”,
der e de ensinar e há uma diversidade no mundo organizacional que “o que fazem” e “para onde estão direcionados”, estabelecendo um
precisa ser considerada. As empresas que observam os autores, não curso para a organização.
são estáticas ou revolucionárias; a maior parte delas trabalha sob a A visão pode ser considerada como os limites que os principais
ótica do incrementalismo. De qualquer forma, o modelo integrativo responsáveis pela empresa conseguem enxergar dentro de um pe-
ofereceu possibilidades de reconciliação de todas as escolas ante- ríodo de tempo mais longo e uma abordagem mais ampla. Ela deve
riores e contribui com o pensamento de estratégia ao descrever a ser resultante do consenso e do bom senso de um grupo de líderes
estabilidade relativa da estratégia dentro de determinados estados, e não da vontade de uma pessoa.
interrompidos por “saltos” para novos estados. A missão é a razão de ser da empresa. Neste ponto procura-se
A reflexão e a análise da literatura citada neste trabalho mos- determinar qual o negócio da empresa, por que ela existe, ou ainda
tram que o conceito de estratégia e os modelos de análise da rea- em que tipos de atividades a empresa deverá concentrar-se no fu-
lidade organizacional não seguem uma linearidade temporal. O turo. Aqui se procura responder à pergunta básica: “Aonde se quer
estudo revelou que não existe uma definição conceitual que possa chegar com a empresa?” “Na realidade, a missão da empresa repre-
ser inserida nos manuais de administração e ensinada na academia senta um horizonte no qual a empresa decide atuar e vai realmente
como algo certo e determinado. O conceito, bem como os modelos entrar em cada um dos negócios que aparecem neste horizonte,
de análise, não permitem a sua aplicabilidade a todos os tipos de desde que seja viável sobre os vários aspectos considerados”.
organizações, indistintamente, mesmo que se considerem as confi- Esses negócios identificados no horizonte, uma vez considera-
gurações do contexto. dos viáveis e interessantes para a empresa, passam a ser denomina-
Diante da necessidade das organizações adequarem estruturas dos propósitos da empresa.
e contexto de forma contínua, não se pode optar por apenas um Os objetivos correspondem à explicitação dos setores de atua-
modelo de análise, prescritivo ou descritivo, da estratégia. É preciso ção dentro da missão que a empresa já atua ou está analisando a
que a academia avance, em termos teóricos, no desenho de um possibilidade de entrada no setor, ainda que esteja numa situação
modelo integrativo que contemple a um só tempo a diversidade e de possibilidade reduzida. As empresas precisam de objetivos estra-
complexidades ambiental e suas consequentes interconexões. Essa tégicos e objetivos financeiros. Os objetivos estratégicos referem-se
configuração estratégica precisa representar as organizações que à competitividade da empresa e as perspectivas de longo prazo do
estão em constante movimento incremental, devido ao contexto negócio. Os objetivos financeiros relacionam-se com medidas como
de forte competição e/ou orientação não econômica (por exemplo, o crescimento das receitas, retorno sobre o investimento, poder de
organizações do terceiro setor) e que oferece elementos de análise empréstimo, fluxo de caixa e retorno dos acionistas.
àquelas que buscam posições estratégicas, além das tradicional- A empresa bem-sucedida tem uma visão do que pretende, e esta
mente apresentadas pela visão porteriana. visão trabalhada quanto a seus propósitos e a seu modelo de gestão
A academia tem importante papel a desempenhar na identi- constitui a missão que fornece à empresa o seu impulso e sua direção.
ficação de elementos teóricos quesustentem um processo de teo-
rização forte no campo da estratégia e, na mesma intensidade, Elaborar uma estratégia para atingir os objetivos
precisa assumir o outro papel, o de disseminadora de novos conhe- Estabelecer estratégia significa definir de que maneira pode se
cimentos. Para tanto, seria prudente fazer opções didáticopedagó- atingir os objetivos de desempenho da empresa. A estratégia é con-
gicas por discutir em aulas de graduação artigos científicos clássicos cebida como uma combinação de ações planejadas e reações adap-
e contemporâneos, em detrimento dos manuais de administração táveis para a indústria em desenvolvimento e eventos competiti-
estratégica. Talvez, assim, os estrategistas estariam melhor prepa- vos. Raramente a estratégia da empresa resiste ao tempo sem ser
rados para selecionar o melhor modelo de análise entre os diversos alterada. Há necessidade de adaptação de acordo com as variáveis
disponíveis na literatura. do mercado, necessidades e preferências do consumidor, manobras
estratégias de empresas concorrentes.
O que é estratégia?
O conceito de estratégia é realmente amplo, e seu uso corrente Implementar e executar a estratégia
permite associá-lo desde a um curso de ação bastante preciso até A implementação da estratégia é a sua execução, a fim de se
ao posicionamento organizacional, em última análise, a toda razão obter o desempenho programado dentro do prazo previsto. Os
de ser da empresa.
principais aspectos da implementação da estratégia:
A estratégia pode ser considerada um instrumento: o planeja-
• Desenvolver uma organização capaz de executar a estratégia
mento estratégico. Essa parte do planejamento estratégico corres-
com sucesso.
ponderia aos caminhos selecionados para serem trilhados primeiro
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
• Desenvolver orçamentos que direcionam os recursos para ati- da estratégia. As ambições, valores, filosofias de negócio, atitudes
vidades internas críticas para o sucesso estratégico. perante o risco e crenças éticas dos gerentes têm influências im-
•Estabelecer políticas de apoio à estratégia. portantes sobre a estratégia e são impregnadas nas estratégias que
• Motivar as pessoas para perseguir os objetivos energicamen- eles elaboram. Os valores gerenciais também modelam a qualidade
te e, se necessário, modificar seu comportamento de trabalho para ética da estratégia de uma empresa, quando os gerentes têm for-
adequar melhor as necessidades para execução da estratégia com tes convicções éticas, exigem que sua empresa observe um estrito
sucesso. código de ética em todos os aspectos do negócio, como por exem-
• Associar a estrutura de recompensas com a realização dos plo, falar mal dos produtos rivais. As políticas, práticas, tradições e
resultados programados. crenças filosóficas da organização são combinadas para estabelecer
• Criar uma cultura corporativa e clima de trabalho que con- uma cultura distinta. Em alguns casos as crenças e cultura da em-
duzam à implementação da estratégia de maneira bem-sucedida. presa chegam a dominar a escolha das mudanças estratégicas.
• Instalar uma série de sistemas internos de apoio que capaci-
tem o pessoal para executar seu papel estratégico eficientemente Planejamento Estratégico
todos os dias.
• Instituir as melhores práticas e programas para a melhoria Conceitos, métodos e técnicas
contínua. O planejamento estratégico poderia ser definido como um pro-
• Exercer a liderança interna necessária para avançar com a cesso de gestão que apresenta, de maneira integrada, o aspecto
implementação e continuar melhorando a maneira de execução da futuro das decisões institucionais, a partir da formulação da filoso-
estratégia. fia, da instituição, sua missão, sua orientação, seus objetivos, suas
metas, seus programas e as estratégias a serem utilizadas para as-
Avaliar o desempenho segurar sua implementação. É a identificação de fatores competiti-
A missão da empresa, os objetivos, a estratégia e a aborda- vos de mercado e potencial interno, para atingir metas e planos de
gem da implementação nunca finalizam porque sempre ocorrem ação que resultem em vantagem competitiva, com base na análise
novas situações que acarretam ajustes corretivos. A gerência tem sistemática de mudanças ambientais previstas para um determi-
a responsabilidade de procurar atingir um melhor desempenho, nado período. Portanto, o planejamento estratégico não deve ser
descobrindo meios de melhorar a estratégia existente e a maneira considerado apenas como uma afirmação das aspirações de uma
com que ela está sendo executada; portanto precisam manter-se empresa, pois inclui também o que deve ser feito para transformar
próximos de situações de mudança nas condições externas a fim de essas aspirações em realidade. Quando se considera a metodologia
revisar periodicamente a missão da empresa, os objetivos de de- para o desenvolvimento do planejamento estratégico nas empre-
sempenho, a estratégia e as abordagens de execução da estratégia. sas, têm-se duas possibilidades, que se definem:
• em termos da empresa como um todo, “aonde se quer che-
gar e depois se estabelece “como a empresa está para se chegar à
Fatores externos da empresa
situação desejada”; ou
• considerações políticas, legais de cidadania da comunidade;
• em termos da empresa como um todo “como se está” e
• atratividade da indústria, mudanças da indústria e condições
depois se estabelece “aonde se quer chegar”. Pode-se considerar
competitivas;
uma terceira possibilidade que é definir “aonde se quer chegar”
• oportunidades e ameaças da empresa. A tarefa de fazer com
juntamente com “como se está para chegar lá”. Cada uma dessas
que a estratégia de uma empresa seja socialmente responsável,
possibilidades tem a sua principal vantagem. No primeiro caso, é a
significa conduzir as atividades organizacionais eticamente e no
possibilidade de maior criatividade no processo pela não existência
interesse público geral, responder positivamente às prioridades e de grandes restrições. A segunda possibilidade apresenta a grande
expectativas sociais emergentes, demonstrar boa vontade de exe- vantagem de colocar o executivo com o pé no chão quando inicia o
cutar as ações antes que ocorra um confronto legal, equilibrar os processo de planejamento estratégico.
interesses dos acionistas com os interesses da sociedade como um
todo e comportar-se como um bom cidadão na comunidade. A es- O planejamento estratégico é o processo por meio do qual a
tratégia de uma empresa deve fazer uma combinação perfeita da estratégia organizacional será explicitada.
indústria com as condições competitivas e ainda precisa ser dire- Podemos identificar, como características do planejamento es-
cionada para conquistar oportunidades de crescimento. Do mesmo tratégico:
modo a estratégia deve ser equipada para proporcionar defesa do - É responsabilidade da cúpula da organização;
bem-estar da empresa e do seu desempenho futuro contra amea- - Envolve a organização como um todo;
ças externas. - Planejamento de longo prazo;
- Outros níveis do planejamento (tático e operacional) serão
Fatores internos da empresa desdobrados dele.
• pontos fortes e pontos fracos da empresa e capacidades com-
petitivas; Um bom planejamento estratégico deve, em seu início, incluir a
• ambições pessoais, filosofia de negócio e princípios éticos definição do referencial estratégico da organização. Este referencial
dos executivos; é o grande guia das organizações, são as diretrizes que norteiam a
• valores compartilhados e cultura da empresa. A estratégia sua atuação e o seu posicionamento frente ao mercado. Represen-
deve ser muito bem combinada com os pontos fortes, os pontos tam o planejamento estratégico no seu nível mais amplo e são as
fracos e com as capacidades competitivas da empresa, ou seja, bases para que a organização possua uma estratégia sólida e sus-
deve ser baseada naquilo que ela faz bem e deve evitar aquilo que tentável.
ela não faz bem. Os pontos fortes básicos de uma organização cons- Esse referencial inclui o negócio, a missão, a visão de futuro e
tituem uma importante consideração estratégia pelas habilidades e os valores organizacionais.
capacidades que fornecem para aproveitar determinada oportuni- Missão: pode ser entendida como o papel que a empresa terá
dade, aonde podem proporcionar vantagem competitiva para a em- perante a sociedade, enfim, quais são os benefícios que a sua ativi-
presa no mercado e potencialidade que tem para se tornar a base dade produtiva - seja ela industrial, comercial ou prestação de ser-
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
viços - trará para a coletividade ou, pelo menos, aos seus clientes. ção, as vantagens competitivas (elementos capazes de diferenciar
Missão é, portanto, a função social da atividade da empresa dentro a organização de outras no mercado), o desempenho atual e o uso
de um contexto global. de recursos.
Vejamos quatro exemplos de missão organizacional: B) Análise do ambiente. Na classificação do Maximiano, esta
Receita Federal do Brasil: “Exercer a administração tributária e etapa abrange apenas o ambiente externo.
o controle aduaneiro, com justiça fiscal e respeito ao cidadão, em C) Análise interna. É a análise do ambiente interno.
benefício da sociedade”. D) Elaboração do plano estratégico.
MPOG – “Promover o planejamento participativo e a melhoria
da gestão pública para o desenvolvimento sustentável e socialmen- A análise de ambiente corresponde à avaliação de variáveis
te includente do País”. do ambiente interno (pontos fortes e pontos fracos) e variáveis do
TCU – “Assegurar a efetiva e regular gestão dos recursos públi- ambiente externo (oportunidades e ameaças) relevantes para a or-
cos, em benefício da sociedade”. ganização. As variáveis do ambiente interno normalmente são con-
Petrobrás – “Atuar de forma segura e rentável nas atividades de troláveis, enquanto as variáveis do ambiente externo estão fora da
indústria de óleo, gás e energia, nos mercados nacional e interna- governabilidade da organização.
cional, fornecendo produtos e serviços de qualidade, respeitando
o meio ambiente, considerando os interesses dos seus acionistas e Segundo Djalma de Oliveira o Planejamento Estratégico apre-
contribuindo para o desenvolvimento do país”. senta estas etapas:
a) Diagnóstico estratégico: abrange a definição da visão, a aná-
Negócio: É o ramo de atuação da organização, delimita o cam- lise externa, análise interna e análise dos concorrentes;
po em que ela estará desenvolvendo suas atividades. Está muito b) Definição da missão: esta nós já vimos: é a definição da ra-
ligado ao tipo de produto ou serviço que a organização oferece e zão de ser da empresa e as consequências de tal definição;
nem sempre é tão óbvio. Por exemplo, o negócio da Copenhagen c) Definição dos instrumentos prescritivos e quantitativos:
não é chocolates e sim presentes finos. Para exemplificar com uma instrumentos prescritivos são aqueles que irão dizer como a organi-
organização pública, o negócio do TCU é o “controle externo da ad- zação deve atuar para alcançar os objetivos definidos. Instrumentos
ministração pública e da gestão dos recursos públicos federais”. quantitativos, basicamente, são aqueles ligados ao planejamento
orçamentário;
Visão de futuro: É considerada como os limites que os princi- d) Controle e avaliação: são verificações, etapas em que se
pais responsáveis pela empresa conseguem enxergar dentro de um avalia se o que está sendo feito corresponde ao que foi planejado.
período de tempo mais longo e uma abordagem mais ampla. Repre-
senta o que a empresa quer ser em um futuro próximo ou distante Modelo ou matriz de Ansoff
A visão deve ser:
- Compartilhada e apoiada por todos na organização
- Abrangente e detalhada
- Positiva e inovadora
- Desafiadora mas viável
- Transmitir uma promessa de novos tempos
- Agregar um aspecto emocional
Exemplos de visão:
Receita Federal: “Ser uma instituição de excelência em adminis-
tração tributária e aduaneira, referência nacional e internacional”.
TCU: “Ser instituição de excelência no controle e contribuir
para o aperfeiçoamento da administração pública”.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
- Diferenciação: Consiste em “procurar projetar uma forte iden- concorrentes. Pois não somente grandes organizações, como em-
tidade própria para o serviço ou produto, que o torne nitidamente presas de diversos portes se organizam em redes para buscar uma
distinto dos produtos e serviços dos concorrentes. Isso significa en- melhor eficiência econômica e produtiva.
fatizar uma ou mais vantagens competitivas, como qualidade, ser- Com a veloz e contínua mudança do ambiente mercadológico,
viço, prestígio para o consumidor, estilo do produto ou aspecto das as empresas tiveram que se adaptar a uma nova forma de orga-
instalações. nização e administração. Empresas com rigidez hierárquica e em
- Liderança de custo: consiste em oferecer produtos ou servi- seus sistemas de produção e administração mecanicista ficam cer-
ços mais baratos do que os concorrentes. tamente em desvantagem competitiva num ambiente de incertezas
- Estratégias de foco: concentração ou nicho: Consiste em es- e instabilidades. Porque não terão a agilidade, a especialização e
colher um segmento do mercado e concentrar-se nele. Por exem- o conhecimento necessários para responderem a demandas contí-
plo, produtores de alimentos orgânicos oferecem um alimento mais nuas de seus clientes ou possíveis clientes.
caro, mas concentrado em um nicho específico de clientes. A formação das redes organizacionais advém de vários aspec-
tos, dentre eles:
Planejamento Estratégico Situacional (PES) a) Respostas às mudanças mercadológicas que aumentar a in-
O PES foi sintetizado pelo economista chileno Carlos Matus, terdependência entre as empresas, pois estas não sobreviveriam
para pensar a arte de governar. Este método “pressupõe constante isoladas num ambiente altamente mutável e de alta competitivi-
adaptação do planejamento a cada situação concreta onde é aplica- dade;
do”. Além disso, o PES leva em consideração, em suas formulações
teóricas, as interferências dos campos político, econômico e social b) Complementaridade entre empresas que desempenham pa-
nos planos de governo. péis que podem ser integrados numa produção;
Definição de planejamento segundo Matus: “Planejar significa c) Busca de redução de custos operacionais e de infraestrutura;
pensar antes de agir, pensar sistematicamente, com método; expli- d) Aumento do poder negocial - quando empresas que utilizam
car cada uma das possibilidades e analisar suas respectivas vanta- mesmas matérias-primas se unem para obterem descontos em fun-
gens e desvantagens; propor-se objetivos”. ção de aquisição em grandes quantidades;
Outro ponto importante deste conteúdo são os momentos do e) Busca de ganhos em tecnologia - quando empresas similares
PES: de unem para acelerar o desenvolvimento tecnológico através de
• Momento explicativo: compreende-se a realidade, identifi- conhecimentos compartilhados.
cando-se os problemas que os atores sociais declaram. Abandona
o conceito de setor, utilizado no planejamento tradicional, e passa Segundo Villela (2006), organizações em rede possuem maio-
a trabalhar com o conceito de problemas. “Na explicação da reali- res chances de superar externalidades e melhorar sua competitivi-
dade temos que admitir e processar informação relativa a outras dade, mas cooperar e competir simultaneamente necessita de mu-
explicações de outros atores sobre os mesmos problemas, isto é, a danças de comportamento, percepções e de capacitação. Grandes
abordagem deve ser sempre situacional, posicionada no contexto”. empresas parecem ser mais capacitadas a formarem redes eficien-
• Momento normativo: como se formula o plano. Produzir as tes, em contrapartida empresas menores têm maior dificuldade
respostas de ação em um contexto de incerteza. Definir a situação de compreensão e adaptação às formações de redes. Sendo que
ideal. “O central neste modelo de planejamento é discutir a eficácia empresas menores em princípio são as mais vulneráveis em termos
de cada ação e qual a situação objetivo que sua realização objetiva, mercadológicos e competitivos e que mais necessitam se agrupar
cada projeto e isso só pode ser feito relacionando os resultados de- vis a vis à concorrência.
sejados com os recursos necessários e os produtos de cada ação” Entende-se que a estrutura de redes empresariais é uma evolu-
• Momento estratégico: examinar a viabilidade política do pla- ção nas estruturas e nas relações entre as organizações, e especial-
no e do processo de construção de viabilidade política das opera- mente em redes hierárquicas (como no caso da Microsoft), o papel
ções não viáveis na situação inicial. Adequa o “deve ser” ao “pode de liderança e estratégico é exercido pela empresa que domina os
ser”. Busca desenhar as melhores estratégias para viabilizar a máxi- conhecimentos de mercado, produtos e serviços.
ma eficácia do plano. Segundo Fleury (2005), as empresas que dominam suas respec-
• Momento tático-operacional: o momento do fazer. “Neste tivas redes têm em comum o fato de deterem os conhecimentos e
momento é importante debater o sistema de gestão da organização competências específicas em suas áreas de atuação. Em suas ca-
e até que ponto ele está pronto para sustentar o plano e executar deias, essas empresas-líderes são as producer driven (comandadas
as estratégias propostas”. por produtores) que lideram por terem um conjunto de competên-
cias mais completo e desenvolvido, elas dominam as atividades re-
Os principais pressupostos teóricos do método PES são resumi- lacionadas ao marketing e desenvolvimento de produtos, e subcon-
dos em quatro perguntas, segundo Matus, que apontam as diferen- tratam as atividades as atividades operacionais e desenvolvimento
ças entre o PES e os demais métodos de planejamento estratégico: de subsistemas. Essas empresas possuem um maior conhecimento
1) como explicar a realidade? das necessidades e estratégias do cliente final, o que lhes possibilita
2) como conceber um plano? melhor desenvolverem suas próprias estratégias. E para permane-
3) como tornar viável o plano necessário? cerem do controle da rede, desenvolvem competências relaciona-
4) como agir a cada dia de forma planejada? das à inovação e coordenação. A Microsoft domina com competên-
cia sua rede empresarial, desde a produção (com foco inovativo)
REDES E ALIANÇAS até entrega ao cliente final, esta feita por seus parceiros (revendas
autorizadas).
A organização em rede tem por finalidade buscar uma melhor
eficiência econômica e produtiva.
Segundo Britto (2002), pode-se citar alguns tipos de estruturas
O conceito de redes de empresas é muito importante para en-
em rede conforme abaixo:
tendermos o modelo de negócios de empresas transnacionais, e
a) Alianças estratégicas - entre organizações para cooperação
como se relacionam com seus clientes, parceiros, fornecedores e
na produção e tecnologia;
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
b) Programas de cooperação - visando inovação entre as organizações;
c) Subcontratação e terceirização - que originariam redes verticais;
d) Cooperativas- atuação entre organizações de um mesmo ramo de forma a flexibilizar seus sistemas produtivos;
e) Distritos industriais - diversas organizações próximas geograficamente numa mesma região;
f) Sistemas nacionais ou regionais de inovação - baseados no nível de especialização e interação entre diversas organizações que visam
à inovação em seus ramos de atividade.
Mintzberg e Quin (2001) demonstram cinco tipos de relacionamentos entre empresas em rede conforme a figura a seguir:
A cooperação entre as empresas é vista como um fator que molda mercados e as alianças estratégicas entre elas têm sido uma opção
para o fortalecimento e a própria sobrevivência de algumas redes de empresas.
Com a necessidade da sofisticação advinda da globalização, as alianças estratégicas e redes de empresa expandiram suas atuações e
relacionamentos entre empresas congêneres, clientes, fornecedores e espacialmente nos canais de distribuição que constitui uma área de
atuação importante para aumentar a capilaridade nas vendas e no atendimento aos clientes finais (STERN et al, 1996).
Para que uma aliança estratégica seja bem delineada, é importante o gerenciamento de seus contratos com clientes, distribuidores,
revendas, institutos de tecnologia, outros fabricantes etc. É de fundamental importância a boa gestão de sua rede de contratos. Neste
caso o entendimento do conceito de nexo de contratos é importante. Assim, ao invés de conceberem a empresa como uma unidade
decisória ou unidade produtiva cujas fronteiras e principais características organizacionais são determinadas pela tecnologia em uso, os
autores desta abordagem vão defini-la como uma ficção legal que serve como um “nexo” para um conjunto de relações contratuais entre
os indivíduos... Em outras palavras a empresa nada mais é do que uma rede de contratos entre os proprietários dos recursos produtivos
(PONDÉ, in KUPFER, 2002, p 289).
PLANEJAMENTO TÁTICO
Planejamento é a primeira das funções administrativas, e está relacionada com tudo aquilo que a organização pretende fazer, execu-
tar, alcançar.
Podemos considerar o planejamento como “o ato de determinar as metas da organização e os meios para alcançá-las”.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Na prática temos três tipos de planejamentos:
Planejamento Tático – relaciona-se a objetivos de curto prazo, e com maneiras e ações que, geralmente, afetam somente uma parte
da empresa.
Tem como eixo central otimizar determinadas áreas de resultados, e não a empresa como um todo. Portanto, trabalha com decompo-
sição dos objetivos e políticas estabelecidas no planejamento estratégico.
O planejamento tático é desenvolvido em níveis organizacionais inferiores, ou seja, é realizado no nível gerencial ou departamental,
tendo como principal finalidade a utilização eficiente dos recursos disponíveis para a consecução de objetivos previamente fixados, segun-
do uma estratégia predeterminada, bem como as políticas orientadoras para o processo decisório organizacional.
Características Principais:
- Processo permanente e contínuo;
- Aproxima o estratégico do operacional;
- Aproxima os aspectos incertos da realidade;
- É executado pelos níveis intermediários da organização;
- Pode ser considerado uma forma de alocação de recursos;
- Tem alcance mais limitado do que o planejamento estratégico, ou seja, é de médio prazo;
- Produz planos mais bem direcionados às atividades organizacionais.
Questões essenciais:
- O quê fazer?
- Dá para fazer?
- Vale a pena fazer?
- Quem faz?
- Como fazer bem?
- Funciona?
- Quando fazer?
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Desenvolvimento de planejamentos táticos
PLANEJAMENTO OPERACIONAL
Pode ser considerado como a formalização, principalmente através de documentos escrito das metodologias de desenvolvimento e
implantações estabelecidas.
Portanto, nesta situação, tem-se basicamente os planos de ação, ou planos operacionais.
Os planejamentos operacionais correspondem a um conjunto de partes homogêneas do planejamento tático, e devem conter com
detalhes: os recursos necessários a seu desenvolvimento e implantação; os procedimentos básicos a serem adotados; os produtos ou
resultados finais esperados; os prazos estabelecidos e os responsáveis pela sua execução e implantação.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
ADMINISTRAÇÃO POR OBJETIVOS.
Administração por Objetivos corresponde a um procedimento que permite aplicar as quatro funções do processo administrativo,
quais sejam planejamento, organização, direção e controle.
Esse conceito foi mais difundido através de Peter Drucker, que defendia que os propósitos da organização e os propósitos dos indiví-
duos que nela atuam precisam estar alinhados, ou seja, existe uma correlação de objetivos entre eles, metas da organização com foco em
desempenho do profissional proporcionando resultados efetivamente satisfatórios para ambos.
Esse alinhamento de metas se dá através do aumento na eficácia dos canais de comunicação e da ótica de percepção entre os níveis
de gestão, minimizando conflitos e divergências quanto à opinião de cada um, estimulando assim a pratica de um processo participativo,
o que nos permite destacar como principais características o estabelecimento de objetivos em comum entre níveis de gerenciamento e
gerenciados, de objetivos por departamento, objetivos interligados entre setores, construção de planos operacionais e um processo con-
tinuo de avaliação desses planos.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
No entanto, como em qualquer situação, temos dois lados, portanto, a APO também apresenta algumas desvantagens, como vemos
abaixo.
E para finalizar, ressaltamos que ao usarmos da APO, é fundamental que as metas estejam clara e sucintamente estabelecidas, para
que todos as conheçam e as executem, permitindo assim uma melhor definição dos objetivos da organização, um aumento no estimulo
dos profissionais envolvidos e uma probabilidade de se executar um planejamento mais eficaz com avaliações mais pontuais e objetivas.
BALANCED SCORECARD
O Balanced Scorecard é uma nova ferramenta de medição de desempenho, desenvolvida por David Norton e Robert Kaplan, baseado
em dados financeiros e não financeiros, que proporciona uma gestão estratégica nos diversos setores de uma organização, que busque a
realização de metas estratégicas de longo prazo.
O uso do Balanced Scorecard no planejamento estratégico atua diretamente na organização. É uma técnica que visa à integração e
balanceamento de todos os principais indicadores de desempenho existentes em uma empresa, desde os financeiros/administrativos até
os relativos aos processos internos, estabelecendo objetivos da qualidade (indicadores) para funções e níveis relevantes dentro da organi-
zação, ou seja, desdobramento dos indicadores corporativos em setores, com metas claramente definidas.
Assim, esse modelo traduz a missão e a estratégia de uma empresa em objetivos e medidas tangíveis. As medidas representam o equi-
líbrio entre os diversos indicadores externos (voltados para acionistas e clientes), e as medidas internas dos processos críticos de negócios
(como a inovação, o aprendizado e o crescimento).
Através da observação dos resultados obtidos em outras empresas, Kaplan e Norton concluíram que o Balanced Scorecard deixara de
ser um sistema de medição para se tornar rapidamente um sistema de gestão, com o qual os executivos estavam não somente comuni-
cando a estratégia, mas também efetuando a sua gerência. O Balanced Scorecard emergiu porque é um sistema capaz de compreender a
estratégia empresarial e comunicá-la a toda a organização.
O Balanced Scorecard sinaliza em quais segmentos de mercado se deve competir e que clientes conquistar. Oferece uma visão do
futuro e um caminho para chegar até ele. Deve ser utilizado pelos executivos que precisam tomar uma série de decisões: a respeito de
suas operações, de seus processos de produção, de seus objetivos, produtos e clientes, ou seja, visando atingir o Planejamento Estratégico
da organização. Os indicadores devem traduzir a estratégia da empresa e devem ser utilizadas para auxiliar qualquer um na organização e
tentar atingir as prioridades estratégicas. Somente assim as empresas serão capazes de não apenas criar estratégia, mas também imple-
mentá-las.
Por contemplar medidas não financeiras pode auxiliar as empresas frente às mudanças do meio ambiente onde os ativos intangíveis
da organização ganharam maior importância como fonte de vantagem competitiva no final do século XX.
O Balanced Scorecard é baseado em quatro perspectivas (financeira, clientes, processos internos e aprendizado/crescimento), for-
mando um conjunto coeso e interdependente, com seus objetivos e indicadores se inter-relacionando e formando um fluxo ou diagrama
de causa e efeito que se inicia na perspectiva do aprendizado e crescimento e termina na perspectiva financeira. Apresenta-se como uma
medida bastante atual para a gestão estratégica, por permitir integração com as atuais pratica de qualidade e mensuração de custos ado-
tados pelas empresas de excelência de classe mundial que objetivam manter-se no mercado.
Mapas Estratégicos
O novo contexto organizacional caracterizado pelo crescente processo de mudanças, flexibilidade, rapidez e desenvolvimento de
aptidões, exige das empresas e dos funcionários uma serie de competências e habilidades estratégicas para que permaneçam atuando de
forma satisfatória e competitiva.
A estratégia surge como fator primordial para atuar sobre essas mudanças proporcionando uma melhor e mais eficiente redefinição
dos objetivos das empresas, além de ações favoráveis a serem implementadas, ou seja, caracteriza-se como o conjunto dos meios que uma
organização utiliza para alcançar seus objetivos. Tal processo envolve as decisões que definem os produtos e os serviços para determinados
clientes e a posição da empresa em relação a seus concorrentes e etc.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Dessa forma, a viabilização para traduzir a estratégia em termos gerenciais, alinhar a organização à estratégia, transformar a mesma
em tarefa de todos, converter a estratégia em princípio contínuo, e mobilizar a mudança por meio de lideranças, será alcançada através da
adoção e implementação de um mapa estratégico.
Mapas estratégicos têm a função de equilibrar ideias contraditórias, baseando-se em proposições diferenciadas de valores para os
clientes, fornecer as reais estratégias do negócio, auxiliando ainda na viabilização de unir forças para superação de problemas e dificulda-
des referente as a mudanças do cenário global.
O Balanced Scorecard é uma ferramenta de avaliação que está sendo cada vez mais usada para medir desempenho. A estratégia da
organização é avaliada segundo perspectiva financeira, perspectiva de cliente e medidas operacionais (WILLYERD, 1997).
Cabe ressaltar que o Scorecard não deve apenas derivar da estratégia organizacional, mas tem que deixar transparecer essa estratégia
aos observadores possibilitando, também, a visualização dos seus objetivos e medidas. Quando atinge esse grau de transparência, o Balan-
ced Scorecard conseguiu traduzir a visão e a estratégia num conjunto integrado de medidas de desempenho (KAPLAN e NORTON, 2004).
O Balanced Scorecard oferece um método simples para articular a estratégia e monitorar o progresso das metas estabelecidas. Pos-
sibilita traduzir a estratégia de longo prazo da organização em termos de específico, ou seja, metas em áreas diferentes da organização
(financeiro, cliente, negócio interno, inovação e aprendizado) (GENDRON, 1997).
Mapa Estratégico é considerado uma outra ferramenta, que utiliza as mesmas perspectivas do Balanced Scorecard. O mesmo tem o
intuito de fornecer um modelo para uma representação simples da organização, das relações de causa e efeito entre os objetivos tanto
das dimensões aprendizado/crescimento e processos internos (vetores do desempenho), quanto das dimensões mercadológica e econô-
mico-financeira (resultados) da estratégia.
KAPLAN E NORTON (2004) explicam que o mapa estratégico acrescenta uma segunda camada de detalhes ao Balanced Scorecard,
ilustrando a dinâmica temporal da estratégia, e também adiciona um nível de detalhe que melhora a clareza e o foco, ao mesmo tempo
em que o Balanced Scorecard traduz os objetivos do mapa estratégico em indicadores e metas. Porém, as organizações devem lançar um
conjunto de programas que criarão valor e condições para que se realizem as metas e os objetivos de todos os indicadores.
De acordo com os mesmos autores, existem alguns princípios que norteiam o mapa estratégico, são eles:
- A estratégia equilibra forças contraditórias;
- A estratégia baseia-se em proposição de valor diferenciada para os clientes;
- Cria-se valor por meio dos processos internos;
- A estratégia compõe-se de temas complementares e simultâneos;
- Alinhamento estratégico determina o valor dos ativos intangíveis.
O mapa estratégico tanto é viável para o setor privado, quanto para o setor público e entidades sem fins lucrativos.
Perspectiva Financeira
KAPLAN e NORTON (2004) definem que a perspectiva financeira descreve os resultados tangíveis da empresa em ternos financeiros
tradicionais. Nessa perspectiva torna-se necessário o balanceamento entre duas forças contraditórias: que são as de longo prazo, que
abrange a profundidade; e as de curto prazo que tem como foco apenas a lucratividade, e este equilíbrio entre estas forças de crescimento
e da produtividade é que irá indicar se está existindo a conexão com a estratégia.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Perspectiva do cliente
Segundo o mesmo autor, a perspectiva do cliente geralmente inclui vários indicadores para o acompanhamento de resultados de uma
estratégia bem formulada e bem implementada, esses são:
- Satisfação do cliente;
- Retenção dos clientes;
- Rentabilidade dos clientes;
- Participação de mercado;
- Participação nas compras dos clientes.
Perspectiva Interna
Os processos internos cumprem dois componentes vitais da estratégia da organização:
- Valor para o cliente;
- Melhoram os processos e reduz os custos para a dimensão produtividade da perspectiva financeira.
Vale alertar as organizações para um fato já comprovado: estratégias de negócio geralmente não são ruins, o que temos são im-
plementações de estratégia ruins. Este fato remete há um problema clássico de gerência, ou seja, como podemos gerenciar uma área,
departamento ou organização, se não podemos mensurar nosso retorno financeiro, desempenho do nosso pessoal, nossos processos e a
relação com nossos clientes?
Há algumas décadas, existiam apenas sistemas de monitoração de desempenho gerencial baseados em indicadores financeiros e
contábeis. Isso se devia ao fato de que as empresas possuíam valores diferentes das organizações atuais. Se analisarmos a frase clássica de
Henry Ford, presidente da companhia de automóveis Ford, veremos claramente isso. Henry Ford dizia: “forneceremos aos nossos clientes
o automóvel que pretendam, desde que seja um Ford modelo T de cor preta”. Atualmente, o mercado encontra-se de forma diferente ao
da época na qual Henry Ford fez essa afirmação. As empresas são obrigadas a fornecer o máximo de customização de produtos, objetivan-
do atingir o maior número possível de clientes e seguirem competitivas no mercado.
Antigamente, o paradigma de valor estava diretamente associado aos ativos tangíveis, tais como máquinas, equipamentos e edifícios.
Hoje, o referencial foi mudando e o valor de uma organização passou a ser baseado em grande parte dos ativos intangíveis, como capaci-
dade de inovar, valor da marca, aptidão para implementar a estratégia, dentre outros.
Neste contexto, os professores Robert Kaplan e David Norton da Havard University, criaram uma ferramenta cuja proposta é ajudar
as organizações de quaisquer tipo e tamanho a efetivamente implantarem suas estratégias. Esta ferramenta, chamada de BSC (Balanced
Scorecard), resultou das necessidades de captar toda a complexidade da performance na organização e tem sido ampla e crescentemente
utilizada em empresas e organizações.
Entre suas contribuições estão a composição e a visualização de medidas de performance que reflitam a estratégia de negócios da
empresa. O BSC deve levar à criação de uma rede de indicadores de desempenho que deve atingir todos os níveis organizacionais, tornan-
do-se, assim, uma ferramenta para comunicar e promover o comprometimento geral com a estratégia da corporação.
Em resumo, Balanced Scorecard “É um modelo de gestão que auxilia as organizações na tradução de sua estratégia em objetivos ope-
racionais. Isso ajuda a direcionar o comportamento das pessoas na empresa e influencia o comportamento da mesma”. Em seus artigos,
Kaplan e Norton apresentam a medição do desempenho organizacional abrangendo quatro dimensões críticas - financeira, clientes, pro-
cessos internos e aprendizagem e crescimento - denominadas de perspectivas, para a gestão estratégica da organização.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
A figura abaixo, apresentada no livro a Estratégia em Ação, ilustra o conceito das perspectivas vinculadas à estratégia.
Na nossa visão, podemos analisar essas perspectivas hierarquicamente, partindo do aprendizado e crescimento até as finanças, ou
seja, se investimos nas pessoas, melhoramos nossos processos internos, se melhoramos nossos processos internos, satisfazemos nossos
clientes e então, consequentemente, nós ganhamos dinheiro. Não é simples, mas entendemos ser o caminho, alertando que “ganhar di-
nheiro” não precisa ser levado ao pé da letra, pois organizações vão além e, principalmente, devem contribuir com a sociedade.
NOÇÕES GERAIS
Para que a Administração Pública possa executar suas atividades administrativas de forma eficiente com o objetivo de atender os
interesses coletivos é necessária a implementação de tecnicas organizacionais que permitam aos administradores públicos decidirem,
respeitados os meios legias, a forma adequada de repartição de competencias internas e escalonamento de pessoas para melhor atender
os assuntos relativos ao interesse público.
Celso Antonio Bandeira de Mello, em sua obra Curso de Direito Administrativo assim afirma: “...o Estado como outras pessoas de Di-
reito Público que crie, pelos múltiplos cometimentos que lhe assistem, têm de repartir, no interior deles mesmos, os encargos de sua alçada
entre diferentes unidades, representativas, cada qual, de uma parcela de atribuições para decidir os assuntos que lhe são afetos...”
A Organização Administrativa é a parte do Direito Administrativo que normatiza os órgãos e pessoas jurídicas que a compõem, além
da estrutura interna da Administração Pública.
Em âmbito federal, o assunto vem disposto no Decreto-Lei n. 200/67 que “dispõe sobre a organização da Administração Pública Fede-
ral e estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa”.
O certo é que, durante o exercício de suas atribuições, o Estado pode desenvolver as atividades administrativas que lhe compete por
sua própria estrutura ou então prestá-la por meio de outros sujeitos.
A Organização Administrativa estabelece as normas justamente para regular a prestação dos encargos administrativos do Estado bem
como a forma de execução dessas atividades, utilizando-se de técnicas administrativas previstas em lei.
Administração Direta
A Administração Pública Direta é o conjunto de órgãos públicos vinculados diretamente ao chefe da esfera governamental que a in-
tegram.
DECRETO-LEI 200/67
Art. 4° A Administração Federal compreende:
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
I - A Administração Direta, que se constitui dos serviços integra- Assim, como técnica administrativa de organização da execu-
dos na estrutura administrativa da Presidência da República e dos ção das atividades administrativas, o exercício do serviço público
Ministérios. poderá ser por:
Centralização: Quando a execução do serviço estiver sendo
Por característica não possuem personalidade jurídica própria, feita pela Administração direta do Estado, ou seja, utilizando-se do
patrimônio e autonomia administrativa e cujas despesas são reali- conjunto orgânico estatal para atingir as demandas da sociedade.
zadas diretamente por meio do orçamento da referida esfera. (ex.: Secretarias, Ministérios, departamentos etc.).
Dessa forma, o ente federativo será tanto o titular como o pres-
Assim, é responsável pela gestão dos serviços públicos executa- tador do serviço público, o próprio estado é quem centraliza a exe-
dos pelas pessoas políticas por meio de um conjunto de órgãos que cução da atividade.
estão integrados na sua estrutura.
Outra característica marcante da Administração Direta é que Descentralização: Quando estiver sendo feita por terceiros que
não possuem personalidade jurídica, pois não podem contrair direi- não se confundem com a Administração direta do Estado. Esses ter-
tos e assumir obrigações, haja vista que estes pertencem a pessoa ceiros poderão estar dentro ou fora da Administração Pública (são
política (União, Estado, Distrito Federal e Municípios). sujeitos de direito distinto e autônomo).
A Administração direta não possui capacidade postulatória, ou Se os sujeitos que executarão a atividade estatal estiverem vin-
seja, não pode ingressar como autor ou réu em relação processual. culadas a estrutura centra da Administração Pública, poderão ser
Exemplo: Servidor público estadual lotado na Secretaria da Fazenda autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de econo-
que pretende interpor ação judicial pugnando o recebimento de al- mia mista (Administração indireta do Estado). Se estiverem fora da
guma vantagem pecuniária. Ele não irá propor a demanda em face Administração, serão particulares e poderão ser concessionários,
da Secretaria, mas sim em desfavor do Estado que é a pessoa polí- permissionários ou autorizados.
tica dotada de personalidade jurídica com capacidade postulatória Assim, descentralizar é repassar a execução de das atividades
para compor a demanda judicial. administrativas de uma pessoa para outra, não havendo hierarquia.
Pode-se concluir que é a forma de atuação indireta do Estado por
Administração Indireta meio de sujeitos distintos da figura estatal
São integrantes da Administração indireta as fundações, as au- Desconcentração: Mera técnica administrativa que o Estado
tarquias, as empresas públicas e as sociedades de economia mista. utiliza para a distribuição interna de competências ou encargos de
sua alçada, para decidir de forma desconcentrada os assuntos que
DECRETO-LEI 200/67 lhe são competentes, dada a multiplicidade de demandas e interes-
Art. 4° A Administração Federal compreende: ses coletivos.
[...] Ocorre desconcentração administrativa quando uma pessoa
II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes ca- política ou uma entidade da administração indireta distribui com-
tegorias de entidades, dotadas de personalidade jurídica própria: petências no âmbito de sua própria estrutura a fim de tornar mais
a) Autarquias; ágil e eficiente a prestação dos serviços.
b) Empresas Públicas; Desconcentração envolve, obrigatoriamente, uma só pessoa
c) Sociedades de Economia Mista. jurídica, pois ocorre no âmbito da mesma entidade administrativa.
d) fundações públicas. Surge relação de hierarquia de subordinação entre os órgãos
Parágrafo único. As entidades compreendidas na Administra- dela resultantes. No âmbito das entidades desconcentradas temos
ção Indireta vinculam-se ao Ministério em cuja área de competência controle hierárquico, o qual compreende os poderes de comando,
estiver enquadrada sua principal atividade. fiscalização, revisão, punição, solução de conflitos de competência,
delegação e avocação.
Essas quatro pessoas ou entidades administrativas são criadas
para a execução de atividades de forma descentralizada, seja para Diferença entre Descentralização e Desconcentração
a prestação de serviços públicos ou para a exploração de atividades As duas figuras técnicas de organização administrativa do Esta-
econômicas, com o objetivo de aumentar o grau de especialidade do não podem ser confundidas tendo em vista que possuem con-
e eficiência da prestação do serviço público. Têm característica de ceitos completamente distintos.
autonomia na parte administrativa e financeira A Descentralização pressupõe, por sua natureza, a existência
O Poder Público só poderá explorar atividade econômica a títu- de pessoas jurídicas diversas sendo:
lo de exceção em duas situações previstas na CF/88, no seu art. 173: a) o ente público que originariamente tem a titularidade sobre
- Para fazer frente à uma situação de relevante interesse cole- a execução de certa atividade, e;
tivo; b) pessoas/entidades administrativas ou particulares as quais
- Para fazer frente à uma situação de segurança nacional. foi atribuído o desempenho da atividade em questão.
O Poder Público não tem a obrigação de gerar lucro quando Importante ressaltar que dessa relação de descentralização não
explora atividade econômica. Quando estiver atuando na atividade há que se falar em vínculo hierárquico entre a Administração Cen-
econômica, entretanto, estará concorrendo em grau de igualdade tral e a pessoa descentralizada, mantendo, no entanto, o controle
com os particulares, estando sob o regime do art. 170 da CF/88, sobre a execução das atividades que estão sendo desempenhadas.
inclusive quanto à livre concorrência.
Por sua vez, a desconcentração está sempre referida a uma úni-
DESCONCENTRAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO ca pessoa, pois a distribuição de competência se dará internamen-
No decorrer das atividades estatais, a Administração Pública te, mantendo a particularidade da hierarquia.
pode executar suas ações por meios próprios, utilizando-se da es-
trutura administrativa do Estado de forma centralizada, ou então
transferir o exercício de certos encargos a outras pessoas, como en-
tidades concebidas para este fim de maneira descentralizada.
32
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
CRIAÇÃO, EXTINÇÃO E CAPACIDADE PROCESSUAL DOS ÓR- Na realidade, o órgão não se confunde com a pessoa jurídica,
GÃOS PÚBLICOS embora seja uma de suas partes integrantes; a pessoa jurídica é o
todo, enquanto os órgãos são parcelas integrantes do todo.
Conceito O órgão também não se confunde com a pessoa física, o agente
Órgãos Públicos, de acordo com a definição do jurista adminis- público, porque congrega funções que este vai exercer. Conforme
trativo Celso Antônio Bandeira de Mello “são unidade abstratas que estabelece o artigo 1º, § 2º, inciso I, da Lei nº 9.784/99, que disci-
sintetizam os vários círculos de atribuição do Estado.” plina o processo administrativo no âmbito da Administração Públi-
Por serem caracterizados pela abstração, não tem nem vonta- ca Federal, órgão é “a unidade de atuação integrante da estrutura
de e nem ação próprias, sendo os órgão públicos não passando de da Administração direta e da estrutura da Administração indireta”.
mera repartição de atribuições, assim entendidos como uma uni- Isto equivale a dizer que o órgão não tem personalidade jurídica
dade que congrega atribuições exercidas por seres que o integram própria, já que integra a estrutura da Administração Direta, ao con-
com o objetivo de expressar a vontade do Estado. trário da entidade, que constitui “unidade de atuação dotada de
Desta forma, para que sejam empoderados de dinamismo e personalidade jurídica” (inciso II do mesmo dispositivo); é o caso
ação os órgãos públicos necessitam da atuação de seres físicos, su- das entidades da Administração Indireta (autarquias, fundações,
jeitos que ocupam espaço de competência no interior dos órgãos empresas públicas e sociedades de economia mista).
Nas palavras de Celso Antônio Bandeira de Mello, os órgãos:
para declararem a vontade estatal, denominados agentes públicos.
“nada mais significam que círculos de atribuições, os feixes indivi-
duais de poderes funcionais repartidos no interior da personalidade
Criação e extinção
estatal e expressados através dos agentes neles providos”.
A criação e a extinção dos órgãos públicos ocorre por meio de Embora os órgãos não tenham personalidade jurídica, eles
lei, conforme se extrai da leitura conjugada dos arts. 48, XI, e 84, podem ser dotados de capacidade processual. A doutrina e a ju-
VI, a, da Constituição Federal, com alteração pela EC n.º 32/2001.6 risprudência têm reconhecido essa capacidade a determinados ór-
Em regra, a iniciativa para o projeto de lei de criação dos órgãos gãos públicos, para defesa de suas prerrogativas.
públicos é do Chefe do Executivo, na forma do art. 61, § 1.º, II da Nas palavras de Hely Lopes Meirelles, “embora despersonaliza-
Constituição Federal. dos, os órgãos mantêm relações funcionais entre si e com terceiros,
“Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qual- das quais resultam efeitos jurídicos internos e externos, na forma
quer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal legal ou regulamentar. E, a despeito de não terem personalidade
ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribu- jurídica, os órgãos podem ter prerrogativas funcionais próprias que,
nal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e quando infringidas por outro órgão, admitem defesa até mesmo
aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. por mandado de segurança”.
§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as Por sua vez, José dos Santos Carvalho Filho, depois de lembrar
leis que: que a regra geral é a de que o órgão não pode ter capacidade pro-
[...] cessual, acrescenta que “de algum tempo para cá, todavia, tem evo-
luído a ideia de conferir capacidade a órgãos públicos para certos tipos
II - disponham sobre: de litígio. Um desses casos é o da impetração de mandado de seguran-
[...] ça por órgãos públicos de natureza constitucional, quando se trata da
defesa de sua competência, violada por ato de outro órgão”. Admitindo
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração a possibilidade do órgão figurar como parte processual.
pública, observado o disposto no art. 84, VI; Desta feita é inafastável a conclusão de que órgãos públicos
possuem personalidade judiciária. Mais do que isso, é lícito dizer
Entretanto, em alguns casos, a iniciativa legislativa é atribuída, que os órgãos possuem capacidade processual (isto é, legitimidade
pelo texto constitucional, a outros agentes públicos, como ocorre, para estar em juízo), inclusive mediante procuradoria própria,
por exemplo, em relação aos órgãos do Poder Judiciário (art. 96, II, Ainda por meio de construção jurisprudencial, acompanhando
c e d, da Constituição Federal) e do Ministério Público (127, § 2.º), a evolução jurídica neste aspecto tem reconhecido capacidade pro-
cuja iniciativa pertence aos representantes daquelas instituições. cessual a órgãos públicos, como Câmaras Municipais, Assembleias
Trata-se do princípio da reserva legal aplicável às técnicas de Legislativas, Tribunal de Contas. Mas a competência é reconhecida
organização administrativa (desconcentração para órgãos públicos apenas para defesa das prerrogativas do órgão e não para atuação
e descentralização para pessoas físicas ou jurídicas). em nome da pessoa jurídica em que se integram.
Atualmente, no entanto, não é exigida lei para tratar da orga-
nização e do funcionamento dos órgãos públicos, já que tal matéria PESSOAS ADMINISTRATIVAS
pode ser estabelecida por meio de decreto do Chefe do Executivo.
De forma excepcional, a criação de órgãos públicos poderá ser Pessoas Políticas
instrumentalizada por ato administrativo, tal como ocorre na insti-
tuição de órgãos no Poder Legislativo, na forma dos arts. 51, IV, e Autarquias
52, XIII, da Constituição Federal. As autarquias são pessoas jurídicas de direito público criadas
Neste contexto, vemos que os órgãos são centros de compe- por lei para a prestação de serviços públicos e executar as ativida-
tência instituídos para praticar atos e implementar políticas por in- des típicas da Administração Pública, contando com capital exclusi-
termédio de seus agentes, cuja conduta é imputada à pessoa jurídi- vamente público.
ca. Esse é o conceito administrativo de órgão. É sempre um centro O Decreto-lei 200/67 assim conceitua as autarquias:
de competência, que decorre de um processo de desconcentração Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se:
dentro da Administração Pública. I - Autarquia - o serviço autônomo, criado por lei, com perso-
nalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar ati-
Capacidade Processual dos Órgãos Públicos vidades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu
Como visto, órgão público pode ser definido como uma unida- melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descen-
de que congrega atribuições exercidas pelos agentes públicos que o tralizada.
integram com o objetivo de expressar a vontade do Estado.
33
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
As autarquias são regidas integralmente por regras de direito sistentes ou oponentes, têm suas causas processadas e julgadas na
público, podendo, tão-somente, serem prestadoras de serviços e Justiça Federal, o mesmo foro apropriado para processar e julgar
contando com capital oriundo da Administração Direta (ex.: IN- mandados de segurança contra agentes autárquicos.
CRA, INSS, DNER, Banco Central etc.). Quanto às autarquias estaduais e municipais, os processos em
que encontramos como partes ou intervenientes terão seu curso na
Características: Temos como principais características das au- Justiça Estadual comum, sendo o juízo indicado pelas disposições
tarquias: da lei estadual de divisão e organização judiciárias.
- Criação por lei: é exigência que vem desde o Decreto-lei nº 6 Nos litígios decorrentes da relação de trabalho, o regime po-
016/43, repetindo-se no Decreto-lei nº 200/67 e no artigo 37, XIX, derá ser estatutário ou trabalhista. Sendo estatutário, o litígio será
da Constituição; de natureza comum, as eventuais demandas deverão ser processa-
- Personalidade jurídica pública: ela é titular de direitos e obri- das e julgadas nos juízos fazendários. Porém, se o litígio decorrer
gações próprios, distintos daqueles pertencentes ao ente que a ins- de contrato de trabalho firmado entre a autarquia e o servidor, a
tituiu: sendo pública, submete-se a regime jurídico de direito públi- natureza será de litígio trabalhista (sentido estrito), devendo ser re-
co, quanto à criação, extinção, poderes, prerrogativas, privilégios, solvido na Justiça do Trabalho, seja a autarquia federal, estadual ou
sujeições; municipal.
- Capacidade de autoadministração: não tem poder de criar o Responsabilidade civil: prevê a Constituição Federal que as pes-
próprio direito, mas apenas a capacidade de se auto administrar a soas jurídicas de direito público respondem pelos danos que seus
respeito das matérias especificas que lhes foram destinadas pela agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros.
pessoa pública política que lhes deu vida. A outorga de patrimônio A regra contida no referido dispositivo, consagra a teoria da
próprio é necessária, sem a qual a capacidade de autoadministra- responsabilidade objetiva do Estado, aquela que independe da in-
ção não existiria. vestigação sobre a culpa na conduta do agente.
Pode-se compreender que ela possui dirigentes e patrimônio
próprios. Prerrogativas autárquicas: as autarquias possuem algumas
- Especialização dos fins ou atividades: coloca a autarquia entre prerrogativas de direito público, sendo elas:
as formas de descentralização administrativa por serviços ou fun- - Imunidade tributária: previsto no art. 150, § 2 º, da CF, veda
cional, distinguindo-a da descentralização territorial; o princípio da a instituição de impostos sobre o patrimônio, a renda e os serviços
especialização impede de exercer atividades diversas daquelas para das autarquias, desde que vinculados às suas finalidades essenciais
as quais foram instituídas; e ou às que delas decorram. Podemos, assim, dizer que a imunidade
- Sujeição a controle ou tutela: é indispensável para que a au- para as autarquias tem natureza condicionada.
tarquia não se desvie de seus fins institucionais. - Impenhorabilidade de seus bens e de suas rendas: não pode ser
- Liberdade Financeira: as autarquias possuem verbas próprias usado o instrumento coercitivo da penhora como garantia do credor.
(surgem como resultado dos serviços que presta) e verbas orça- - Imprescritibilidade de seus bens: caracterizando-se como
mentárias (são aquelas decorrentes do orçamento). Terão liberdade bens públicos, não podem ser eles adquiridos por terceiros através
para manejar as verbas que recebem como acharem conveniente, de usucapião.
dentro dos limites da lei que as criou. - Prescrição quinquenal: dívidas e direitos em favor de terceiros
- Liberdade Administrativa: as autarquias têm liberdade para contra autarquias prescrevem em 5 anos.
desenvolver os seus serviços como acharem mais conveniente - Créditos sujeitos à execução fiscal: os créditos autárquicos são
(comprar material, contratar pessoal etc.), dentro dos limites da lei inscritos como dívida ativa e podem ser cobrados pelo processo es-
que as criou. pecial das execuções fiscais.
Patrimônio: as autarquias são constituídas por bens públicos, Contratos: os contratos celebrados pelas autarquias são de
conforme dispõe o artigo 98, Código Civil e têm as seguintes carac- caráter administrativo e possuem as cláusulas exorbitantes, que
terísticas: garantem à administração prerrogativas que o contratado comum
a) São alienáveis não tem, assim, dependem de prévia licitação, exceto nos casos de
b) impenhoráveis; dispensa ou inexigibilidade e precisam respeitar os trâmites da lei
c) imprescritíveis 8.666/1993, além da lei 10.520/2002, que institui a modalidade lici-
d) não oneráveis. tatória do pregão para os entes públicos.
Pessoal: em conformidade com o que estabelece o artigo 39 Isto acontece pelo fato de que por terem qualidade de pessoas
da Constituição, em sua redação vigente, as pessoas federativas jurídicas de direito público, as entidades autárquicas relacionam-se
(União, Estados, DF e Municípios) ficaram com a obrigação de insti- com os particulares com grau de supremacia, gozando de todas as
tuir, no âmbito de sua organização, regime jurídico único para todos prerrogativas estatais.
os servidores da administração direta, das autarquias e das funda-
ções públicas. Empresas Públicas
Empresas públicas são pessoas jurídicas de Direito Privado, e
Controle Judicial: as autarquias, por serem dotadas de persona- tem sua criação por meio de autorização legal, isso significa dizer
lidade jurídica de direito público, podem praticar atos administrati- que não são criadas por lei, mas dependem de autorização legis-
vos típicos e atos de direito privado (atípicos), sendo este último, lativa.
controlados pelo judiciário, por vias comuns adotadas na legislação O Decreto-lei 200/67 assim conceitua as empresas públicas:
processual, tal como ocorre com os atos jurídicos normais pratica- Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se:
dos por particulares. [...]
Foro dos litígios judiciais: a fixação da competência varia de II - Empresa Pública - a entidade dotada de personalidade jurí-
acordo com o nível federativo da autarquia, por exemplo, os litígios dica de direito privado, com patrimônio próprio e capital exclusivo
comuns, onde as autarquias federais figuram como autoras, rés, as- da União, criado por lei para a exploração de atividade econômica
34
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
que o Governo seja levado a exercer por fôrça de contingência ou O Decreto-lei 200/67 assim conceitua as empresas públicas:
de conveniência administrativa podendo revestir-se de qualquer das Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se:
formas admitidas em direito. [...]
As empresas públicas têm seu próprio patrimônio e seu capital III - Sociedade de Economia Mista - a entidade dotada de perso-
é integralmente detido pela União, Estados, Municípios ou pelo Dis- nalidade jurídica de direito privado, criada por lei para a exploração
trito Federal, podendo contar com a participação de outras pessoas de atividade econômica, sob a forma de sociedade anônima, cujas
jurídicas de direito público, ou também pelas entidades da admi- ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União ou a
nistração indireta de qualquer das três esferas de governo, porém, entidade da Administração Indireta.
a maioria do capital deve ser de propriedade da União, Estados,
Municípios ou do Distrito Federal. As sociedades de economia mista são:
- Pessoas jurídicas de Direito Privado.
Foro Competente - Exploradoras de atividade econômica ou prestadoras de ser-
A Justiça Federal julga as empresas públicas federais, enquanto viços públicos.
a Justiça Estadual julga as empresas públicas estaduais, distritais e - Empresas de capital misto.
municipais. - Constituídas sob forma empresarial de S/A.
35
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
IV - Fundação Pública - a entidade dotada de personalidade ju- Nos termos do art. 2º da Lei n. 9.637/98, a outorga da qualifica-
rídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de ção constitui decisão discricionária, pois, além da entidade preen-
autorização legislativa, para o desenvolvimento de atividades que cher os requisitos exigidos na lei, o inciso II do referido dispositivo
não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, condiciona a atribuição do título a “haver aprovação, quanto à con-
com autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos veniência e oportunidade de sua qualificação como organização so-
respectivos órgãos de direção, e funcionamento custeado por recur- cial, do Ministro ou titular de órgão supervisor ou regulador da área de
sos da União e de outras fontes. atividade correspondente ao seu objeto social e do Ministro de Estado
da Administração Federal e Reforma do Estado”. Assim, as entidades
Apesar da legislação estabelecer que as fundações públicas são que preencherem os requisitos legais possuem simples expectativa de
dotadas de personalidade jurídica de direito privado, a doutrina ad- direito à obtenção da qualificação, nunca direito adquirido.
ministrativa admite a adoção de regime jurídico de direito público Evidentemente, o caráter discricionário dessa decisão, permitindo
a algumas fundações. outorgar a qualificação a uma entidade e negar a outro que igualmente
As fundações que integram a Administração indireta, quando atendeu aos requisitos legais, viola o princípio da isonomia, devendo-
forem dotadas de personalidade de direito público, serão regidas -se considerar inconstitucional o art. 2º, II, da Lei n. 9.637/98.
integralmente por regras de Direito Público. Quando forem dotadas Na verdade, as organizações sociais representam uma espécie
de personalidade de direito privado, serão regidas por regras de di- de parceria entre a Administração e a iniciativa privada, exercendo
reito público e direito privado, dada sua relevância para o interesse atividades que, antes da Emenda 19/98, eram desempenhadas por
coletivo. entidades públicas. Por isso, seu surgimento no Direito Brasileiro está
O patrimônio da fundação pública é destacado pela Adminis- relacionado com um processo de privatização lato sensu realizado por
tração direta, que é o instituidor para definir a finalidade pública. meio da abertura de atividades públicas à iniciativa privada.
Como exemplo de fundações, temos: IBGE (Instituto Brasileiro Geo- O instrumento de formalização da parceria entre a Administra-
gráfico Estatístico); Universidade de Brasília; Fundação CASA; FU- ção e a organização social é o contrato de gestão, cuja aprovação
NAI; Fundação Padre Anchieta (TV Cultura), entre outras. deve ser submetida ao Ministro de Estado ou outra autoridade su-
pervisora da área de atuação da entidade.
Características: O contrato de gestão discriminará as atribuições, responsabi-
- Liberdade financeira; lidades e obrigações do Poder Público e da organização social, de-
- Liberdade administrativa; vendo obrigatoriamente observar os seguintes preceitos:
- Dirigentes próprios; I - especificação do programa de trabalho proposto pela organi-
- Patrimônio próprio: zação social, a estipulação das metas a serem atingidas e os respec-
tivos prazos de execução, bem como previsão expressa dos critérios
As fundações governamentais, sejam de personalidade de di- objetivos de avaliação de desempenho a serem utilizados, median-
reito público, sejam de direito privado, integram a Administração te indicadores de qualidade e produtividade;
Pública. Importante esclarecer que não existe hierarquia ou subor- II - a estipulação dos limites e critérios para despesa com re-
dinação entre a fundação e a Administração direta. O que existe é muneração e vantagens de qualquer natureza a serem percebidas
um controle de legalidade, um controle finalístico. pelos dirigentes e empregados das organizações sociais, no exercí-
As fundações são dotadas dos mesmos privilégios que a Admi- cio de suas funções;
nistração direta, tanto na área tributária (ex.: imunidade prevista no III - os Ministros de Estado ou autoridades supervisoras da área
art. 150 da CF/88), quanto na área processual (ex.: prazo em dobro). de atuação da entidade devem definir as demais cláusulas dos con-
As fundações respondem pelas obrigações contraídas junto a tratos de gestão de que sejam signatários.
terceiros. A responsabilidade da Administração é de caráter subsi-
diário, independente de sua personalidade. A fiscalização do contrato de gestão será exercida pelo órgão ou
As fundações governamentais têm patrimônio público. Se ex- entidade supervisora da área de atuação correspondente à ativida-
tinta, o patrimônio vai para a Administração indireta, submetendo- de fomentada, devendo a organização social apresentar, ao término
-se as fundações à ação popular e mandado de segurança. As par- de cada exercício, relatório de cumprimento das metas fixadas no
ticulares, por possuírem patrimônio particular, não se submetem contrato de gestão.
à ação popular e mandado de segurança, sendo estas fundações Se descumpridas as metas previstas no contrato de gestão, o
fiscalizadas pelo Ministério Público. Poder Executivo poderá proceder à desqualificação da entidade
como organização social, desde que precedida de processo admi-
nistrativo com garantia de contraditório e ampla defesa.
DELEGAÇÃO SOCIAL
Por fim, convém relembrar que o art. 24, XXIV, da Lei n. 8.666/93
prevê hipótese de dispensa de licitação para a celebração de contra-
Organizações sociais
tos de prestação de serviços com a s organizações sociais, qualificadas
Criada pela Lei n. 9.637/98, organização social é uma qualifica-
no âmbito das respectivas esferas de governo, para atividades contem-
ção especial outorgada pelo governo federal a entidades da inicia-
pladas no contrato de gestão. Excessivamente abrangente, o art. 24,
tiva privada, sem fins lucrativos, cuja outorga autoriza a fruição de
XXIV, da Lei n. 8.666/93, tem a sua constitucionalidade questionada
vantagens peculiares, como isenções fiscais, destinação de recursos
perante o Supremo Tribunal Federal na ADIn 1.923/98. Recentemente,
orçamentários, repasse de bens públicos, bem como empréstimo foi indeferida a medida cautelar que suspendia a eficácia da norma, de
temporário de servidores governamentais. modo que o dispositivo voltou a ser aplicável.
As áreas de atuação das organizações sociais são ensino, pes-
quisa científica, desenvolvimento tecnológico, proteção e preserva- Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público
ção do meio ambiente, cultura e saúde. Desempenham, portanto, As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, popu-
atividades de interesse público, mas que não se caracterizam como larmente denominadas OSCIP é um título fornecido pelo Ministério
serviços públicos stricto sensu, razão pela qual é incorreto afirmar da Justiça do Brasil, cuja finalidade é facilitar a viabilidade de parce-
que as organizações sociais são concessionárias ou permissionárias. rias e convênios com todos os níveis de governo e órgãos públicos
(federal, estadual e municipal).
36
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
OSCIPs são ONGs criadas por iniciativa privada, que obtêm um Art. 3o A qualificação instituída por esta Lei, observado em
certificado emitido pelo poder público federal ao comprovar o cum- qualquer caso, o princípio da universalização dos serviços, no res-
primento de certos requisitos, especialmente aqueles derivados de pectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será conferi-
normas de transparência administrativas. Em contrapartida, podem da às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos
celebrar com o poder público os chamados termos de parceria, que objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades:
são uma alternativa interessante aos convênios para ter maior agili- I - promoção da assistência social;
dade e razoabilidade em prestar contas. II - promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio
Uma ONG (Organização Não-Governamental), essencialmente histórico e artístico;
é uma OSCIP, no sentido representativo da sociedade, OSCIP é uma III - promoção gratuita da educação, observando-se a forma
qualificação dada pelo Ministério da Justiça no Brasil. complementar de participação das organizações de que trata esta
A lei que regula as OSCIPs é a nº 9.790/1999. Esta lei traz a Lei;
possibilidade das pessoas jurídicas (grupos de pessoas ou profissio- IV - promoção gratuita da saúde, observando-se a forma com-
nais) de direito privado sem fins lucrativos serem qualificadas, pelo plementar de participação das organizações de que trata esta Lei;
Poder Público, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse V - promoção da segurança alimentar e nutricional;
Público - OSCIPs e poderem com ele relacionar-se por meio de par- VI - defesa, preservação e conservação do meio ambiente e pro-
ceria, desde que os seus objetivos sociais e as normas estatutárias moção do desenvolvimento sustentável;
atendam os requisitos da lei. VII - promoção do voluntariado;
Um grupo privado recebe a qualificação de OSCIP depois que o VIII - promoção do desenvolvimento econômico e social e com-
estatuto da instituição, que se pretende formar, tenha sido analisa- bate à pobreza;
do e aprovado pelo Ministério da Justiça. Para tanto, é necessário IX - experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócio-
que o estatuto atenda a certos pré-requisitos que estão descritos -produtivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, em-
nos artigos 1º, 2º, 3º e 4º da Lei nº 9.790/1999. Vejamos: prego e crédito;
X - promoção de direitos estabelecidos, construção de novos di-
Art. 1º Podem qualificar-se como Organizações da Sociedade reitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar;
Civil de Interesse Público as pessoas jurídicas de direito privado sem
XI - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos hu-
fins lucrativos que tenham sido constituídas e se encontrem em
manos, da democracia e de outros valores universais;
funcionamento regular há, no mínimo, 3 (três) anos, desde que os
XII - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias al-
respectivos objetivos sociais e normas estatutárias atendam aos re-
ternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos
quisitos instituídos por esta Lei.
técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas
§ 1o Para os efeitos desta Lei, considera-se sem fins lucrativos
neste artigo.
a pessoa jurídica de direito privado que não distribui, entre os seus
XIII - estudos e pesquisas para o desenvolvimento, a disponibi-
sócios ou associados, conselheiros, diretores, empregados ou doa-
lização e a implementação de tecnologias voltadas à mobilidade de
dores, eventuais excedentes operacionais, brutos ou líquidos, divi-
pessoas, por qualquer meio de transporte.
dendos, bonificações, participações ou parcelas do seu patrimônio,
Parágrafo único. Para os fins deste artigo, a dedicação às ati-
auferidos mediante o exercício de suas atividades, e que os aplica
vidades nele previstas configura-se mediante a execução direta de
integralmente na consecução do respectivo objeto social.
projetos, programas, planos de ações correlatas, por meio da doa-
§ 2o A outorga da qualificação prevista neste artigo é ato vincu-
ção de recursos físicos, humanos e financeiros, ou ainda pela presta-
lado ao cumprimento dos requisitos instituídos por esta Lei.
ção de serviços intermediários de apoio a outras organizações sem
Art. 2o Não são passíveis de qualificação como Organizações
fins lucrativos e a órgãos do setor público que atuem em áreas afins.
da Sociedade Civil de Interesse Público, ainda que se dediquem de
Art. 4o Atendido o disposto no art. 3o, exige-se ainda, para qua-
qualquer forma às atividades descritas no art. 3o desta Lei:
lificarem-se como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Pú-
I - as sociedades comerciais;
blico, que as pessoas jurídicas interessadas sejam regidas por esta-
II - os sindicatos, as associações de classe ou de representação
tutos cujas normas expressamente disponham sobre:
de categoria profissional;
I - a observância dos princípios da legalidade, impessoalidade,
III - as instituições religiosas ou voltadas para a disseminação
moralidade, publicidade, economicidade e da eficiência;
de credos, cultos, práticas e visões devocionais e confessionais;
II - a adoção de práticas de gestão administrativa, necessárias
IV - as organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas
e suficientes a coibir a obtenção, de forma individual ou coletiva, de
fundações;
benefícios ou vantagens pessoais, em decorrência da participação
V - as entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar
no respectivo processo decisório;
bens ou serviços a um círculo restrito de associados ou sócios;
III - a constituição de conselho fiscal ou órgão equivalente, dota-
VI - as entidades e empresas que comercializam planos de saú-
do de competência para opinar sobre os relatórios de desempenho
de e assemelhados;
financeiro e contábil, e sobre as operações patrimoniais realizadas,
VII - as instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas
emitindo pareceres para os organismos superiores da entidade;
mantenedoras;
IV - a previsão de que, em caso de dissolução da entidade, o
VIII - as escolas privadas dedicadas ao ensino formal não gra-
respectivo patrimônio líquido será transferido a outra pessoa jurídi-
tuito e suas mantenedoras;
ca qualificada nos termos desta Lei, preferencialmente que tenha o
IX - as organizações sociais;
mesmo objeto social da extinta;
X - as cooperativas;
V - a previsão de que, na hipótese de a pessoa jurídica perder a
XI - as fundações públicas;
qualificação instituída por esta Lei, o respectivo acervo patrimonial
XII - as fundações, sociedades civis ou associações de direito
disponível, adquirido com recursos públicos durante o período em
privado criadas por órgão público ou por fundações públicas;
que perdurou aquela qualificação, será transferido a outra pessoa
XIII - as organizações creditícias que tenham quaisquer tipo de
jurídica qualificada nos termos desta Lei, preferencialmente que te-
vinculação com o sistema financeiro nacional a que se refere o art.
nha o mesmo objeto social;
192 da Constituição Federal.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
VI - a possibilidade de se instituir remuneração para os diri- Entidades de Apoio
gentes da entidade que atuem efetivamente na gestão executiva As entidades de apoio fazem parte do Terceiro Setor e são pes-
e para aqueles que a ela prestam serviços específicos, respeitados, soas jurídicas de direito privado, criados por servidores públicos
em ambos os casos, os valores praticados pelo mercado, na região para a prestação de serviços sociais não exclusivos do Estado, pos-
correspondente a sua área de atuação; suindo vínculo jurídico com a Administração direta e indireta.
VII - as normas de prestação de contas a serem observadas pela Atualmente são prestadas no Brasil através dos serviços de lim-
entidade, que determinarão, no mínimo: peza, conservação, concursos vestibulares, assistência técnica de
a) a observância dos princípios fundamentais de contabilidade equipamentos, administração em restaurantes e hospitais univer-
e das Normas Brasileiras de Contabilidade; sitários.
b) que se dê publicidade por qualquer meio eficaz, no encerra- O bom motivo da criação das entidades de apoio é a eficiência
mento do exercício fiscal, ao relatório de atividades e das demons- na utilização desses entes. Através delas, convênios são firmados
trações financeiras da entidade, incluindo-se as certidões negativas com a Administração Pública, de modo muito semelhante com a
de débitos junto ao INSS e ao FGTS, colocando-os à disposição para celebração de um contrato
exame de qualquer cidadão;
c) a realização de auditoria, inclusive por auditores externos Associações Públicas
independentes se for o caso, da aplicação dos eventuais recursos Tratam-se de pessoas jurídicas de direito público, criadas por
objeto do termo de parceria conforme previsto em regulamento; meio da celebração de um consórcio público com entidades fede-
d) a prestação de contas de todos os recursos e bens de origem rativas.
pública recebidos pelas Organizações da Sociedade Civil de Interes- Quando as entidades federativas fazem um consórcio público,
se Público será feita conforme determina o parágrafo único do art. elas terão a faculdade de decidir se essa nova pessoa criada será de
70 da Constituição Federal. direito privado ou de direito público. Caso se trate de direito públi-
Parágrafo único. É permitida a participação de servidores pú- co, caracterizar-se-á como Associação Pública. No caso de direito
blicos na composição de conselho ou diretoria de Organização da privado, não se tem um nome específico.
Sociedade Civil de Interesse Público. A finalidade da associação pública é estabelecer finalidades
de interesse comum entre as entidades federativas, estabelecendo
Pode-se dizer que as OSCIPs são o reconhecimento oficial e le- uma meta a ser atingida.
gal mais próximo do que modernamente se entende por ONG, es- Faz parte da administração indireta de todas as entidades fede-
pecialmente porque são marcadas por uma extrema transparência rativas consorciadas.
administrativa. Contudo ser uma OSCIP é uma opção institucional,
não uma obrigação. Conselhos Profissionais
Em geral, o poder público sente-se muito à vontade para se Trata-se de entidades que são destinadas ao controle e fiscali-
relacionar com esse tipo de instituição, porque divide com a socie- zação de algumas profissões regulamentadas. Eis que tem-se uma
dade civil o encargo de fiscalizar o fluxo de recursos públicos em grande controvérsia, quanto à sua natureza jurídica.
parcerias. O STF considera que como se trata de função típica do Estado,
A OSCIP, portanto, é uma organização da sociedade civil que, o controle e fiscalização do exercício de atividades profissionais não
em parceria com o poder público, utilizará também recursos públi- poderia ser delegado a entidades privadas, em decorrência disso,
cos para suas finalidades, dividindo dessa forma o encargo adminis- chegou-se ao entendimento que os conselhos profissionais pos-
trativo e de prestação de contas. suem natureza autárquica.
Assim, não estamos diante de entes de colaboraçao, mas sim
Entidades de utilidade pública de pessoas jurídicas de direito público.
Figuram ainda como entidades privadas de utilidade pública: Fazendo-se um comparativo, a Constituição Federal não admite
que esses conselhos tenham personalidade jurídica de direito pri-
Serviços sociais autônomos vado, gozando de prerrogativas que são conferidas ao Estado. Os
São pessoas jurídicas de direito privado, criados por intermé- conselhos profissionais com natureza autárquica é uma forma de
dio de autorização legislativa. Tratam-se de entes paraestatais de descentralizar a atividade administrativa que não pode mais ser de-
cooperação com o Poder Público, possuindo administração e patri- legada a associações profissionais de caráter privado.
mônio próprios.
Para ficar mais fácil de compreender, basta pensar no sistema
“S”, cujo o qual resulta do fato destas entidades ligarem-se à es-
trutura sindical e terem sua denominação iniciada com a letra “S” GESTÃO DE PROCESSOS
– SERVIÇO.
Integram o Sistema “S:” SESI, SESC, SENAC, SEST, SENAI, SENAR Ao analisar um processo, a equipe de projeto deve partir sem-
e SEBRAE. pre da perspectiva do cliente (interno ou externo), de forma a aten-
Estas entidades visam ministrar assistência ou ensino a algu- der às suas necessidades e preferências, ou seja, o processo começa
mas categorias sociais ou grupos profissionais, sem fins lucrativos. e termina no cliente, como sugerido na abordagem derivada da filo-
São mantidas por dotações orçamentárias e até mesmo por contri- sofia do Gerenciamento da Qualidade Total (TQM). Dentro dessa li-
buições parafiscais. nha, cada etapa do processo deve agregar valor para o cliente, caso
Ainda que sejam oficializadas pelo Estado, não são partes inte- contrário será considerado desperdício, gasto, excesso ou perda; o
grantes da Administração direta ou indireta, porém trabalham ao que representaria redução de competitividade e justificaria uma
lado do Estado, seja cooperando com os diversos setores as ativida- abordagem de mudança.
des e serviços que lhes são repassados. Entender como funcionam os processos e quais são os tipos
existentes é importante para determinar como eles devem ser ge-
renciados para obtenção de melhores resultados.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Afinal, cada tipo de processo tem características específicas e - Maior frequência de entrada e saída de profissionais (turno-
deve ser gerenciado de maneira específica. ver) tem dificultado a gestão de conhecimento e a documentação
A visão de processos é uma maneira de identificar e aperfei- das regras de negócio, gerando como resultado maior dificuldade
çoar as interfaces funcionais, que são os pontos nos quais o traba- como na integração e treinamento de novos colaboradores.
lho que está sendo realizado é transferido de um setor para o se-
guinte. Nessas transferências é que normalmente ocorrem os erros Os efeitos destas e outras situações têm levado um número
e a perda de tempo. crescente de empresas a buscar uma nova forma de gerenciar seus
Todo trabalho realizado numa organização faz parte de um pro- processos. Muitas começam pelo desenvolvimento e revisão das
cesso. Não existe um produto ou serviço oferecido sem um proces- normas da organização ou ainda pelo mapeamento de processos.
so. A Gestão por Processos é a forma estruturada de visualização Entretanto, fazer isso de imediato é colocar o “carro na frente dos
do trabalho. bois”.
Em vez disso, o ponto de partida inicial é identificar os proces-
O objetivo central da Gestão por Processos é torná-los mais sos relevantes e como devem ser operacionalizados com eficiência.
eficazes, eficientes e adaptáveis. Questões que podem ajudar nesta análise são:
Eficazes: de forma a viabilizar os resultados desejados, a elimi- - Qual o dimensionamento de equipe ideal para a execução e o
nação de erros e a minimização de atrasos; controle dos processos?
Eficientes: otimização do uso dos recursos; - Qual o suporte adequado de ferramentas tecnológicas?
Adaptáveis: capacidade de adaptação às necessidades variá- - Quais os métodos de monitoramento e controle do desempe-
veis do usuário e organização. nho a serem utilizados?
Deve-se ter em mente que, quando os indivíduos estiverem - Qual é o nível de integração e interdependência entre proces-
realizando o trabalho através dos processos, eles estarão contri- sos?
buindo para que a organização atinja os seus objetivos. Esta relação
deve ser refletida pela equipe de trabalho, através da consideração A resposta a essas questões representa a adoção de uma visão
de três variáveis de processo: abrangente por parte da organização sobre os seus processos e de
como estão relacionados. Essa “visão” é o que chama de uma abor-
Objetivos do processo: derivados dos objetivos da organização, dagem de BPM. Sua implantação deve considerar no mínimo cinco
das necessidades dos clientes e das informações de benchmarking 5 diferentes passos fundamentais:
disponíveis; 1. Tradução do negócio em processos: É importante definir
quais são os processos mais relevantes para a organização e aqueles
Design do processo: deve-se responder a pergunta: “Esta é me- que os suportam. Isso é possível a partir do entendimento da Visão
lhor forma de realizar este processo?” Estratégica, como se pretende atuar e quais os diferenciais atuais
e desejados para o futuro. Com isso, é possível construir o Mapa
Administração do processo: deve-se responder as seguintes Geral de Processos da Organização.
perguntas: “Vocês entendem os seus processos? Os sub objetivos 2. Mapeamento e detalhando os processos: A partir da defini-
dos processos foram determinados corretamente? O desempenho ção do Mapa Geral de Processos inicia-se a priorização dos proces-
dos processos é gerenciado? Existem recursos suficientes alocados sos que serão detalhados. O mapeamento estruturado com a defi-
em cada processo? As interfaces entre os processos estão sendo nição de padrões de documentação permite uma análise de todo o
gerenciadas?” potencial de integração e automação possível. De forma comple-
Realizando estas considerações, a equipe estabelecerá a exis- mentar são identificados os atributos dos processos, o que permite,
tência da ligação principal entre o desempenho da organização e o por exemplo, realizar estudos de custeio das atividades que com-
individual no desenvolvimento de uma estrutura mais competitiva, põe o processo, ou ainda dimensionar o tamanho da equipe que
além de levantar informações que servem para comparar as situa- deverá realizá-lo.
ções atuais e desejadas da organização, de forma a impulsionar a
mudança. 3. Definição de indicadores de desempenho: O objetivo do
Falar em processos é quase sinônimo de falar em eficiência, BPM é permitir a gestão dos processos, o que significa medir, atuar
redução de custos e qualidade, por isso é recorrente na agenda de e melhorar! Assim, tão importante quanto mapear os processos é
qualquer executivo. O atual dinamismo das organizações, aliado ao definir os indicadores de desempenho, além dos modelos de con-
peso cada vez maior que a tecnologia exerce nos negócios, vem fa- trole a serem utilizados.
zendo com que o tema processos e, mais recentemente, gestão por 4. Gerando oportunidades de melhoria: A intenção é garan-
processos (Business Process Management, ou BPM) seja discutido tir um modelo de operação que não leve a retrabalho, perda de
e estudado com crescente interesse pelas empresas. esforço e de eficiência, ou que gere altos custos ou ofereça riscos
ao negócio. Para tal é necessário identificar as oportunidades de
Os principais fatores que tem contribuído para essa tendência melhoria, que por sua vez seguem quatro alternativas básicas: in-
são: crementar, simplificar, automatizar ou eliminar. Enquanto que na
- Aumento da demanda de mercado vem exigindo desenvolvi- primeira busca-se o ganho de escala, na última busca-se a simples
mento e lançamento de novos produtos e serviços de forma mais exclusão da atividade ou transferência da mesma para terceiros.
ágil e rápida. 5. Implantando um novo modelo de gestão: O BPM não deve
- Com a implantação de Sistemas Integrados de Gestão, os ser entendido como uma revisão de processos. A preocupação
chamados ERPs, existe a necessidade prévia de mapeamento dos maior é assegurar melhores resultados e nesse caminho trata-se de
processos. Entretanto é muito comum a falta de alinhamento entre
uma mudança cultural. É necessária maior percepção das relações
processos, mesmo depois da implantação sistema.
entre processos. Nesse sentido, não basta controlar os resultados
- As regras e procedimentos organizacionais se mostram cada
dos processos, é preciso treinar e integrar as pessoas visando gerar
vez mais desatualizados devido ao ambiente de constante mudan-
fluxo de atividades mais equilibrado e de controles mais robustos.
ça. Em tal situação erros são cometidos ou decisões são posterga-
das por falta de uma orientação clara.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
É por causa desse último passo que a implantação de BPM deve Mapeamento de Processos
ser tratada de forma planejada e orientada em resultados de curto, O mapeamento de processos é uma ferramenta gerencial ana-
médio e longo prazo. lítica e de comunicação que têm a intenção de ajudar a melhorar os
O BPM representa uma visão bem mais abrangente, onde a processos existentes ou de implantar uma nova estrutura voltada
busca por ganhos está vinculada a um novo modelo de gestão. Co- para processos. A sua análise estruturada permite, ainda, a redução
locar tal modelo em prática requer uma nova forma de analisar e de custos no desenvolvimento de produtos e serviços, a redução
decidir como será o dia-a-dia da organização de hoje, amanhã, na nas falhas de integração entre sistemas e melhora do desempenho
semana que vem, no próximo ano e assim por diante. da organização, além de ser uma excelente ferramenta para possi-
bilitar o melhor entendimento dos processos atuais e eliminar ou
Podemos classificar processos de negócio em três tipos dife- simplificar aqueles que necessitam de mudanças.
rentes: O mapeamento do processo teve suas origens em uma varie-
- Processos primários (ou processos essenciais) dade de áreas, sendo que, a origem da maioria das técnicas como o
- Processos de suporte diagrama de fluxo, o diagrama de cadeia, o diagrama de movimen-
- Processos de gerenciamento to, os registros fotográficos, os gráficos de atividades múltiplas e os
gráficos de processo podem ser atribuídas a Taylor e a seus estudos
Processos primários de melhores métodos de se realizar tarefas e organização racional
Processos primários são ponta a ponta, interfuncionais e entre- do trabalho na Midvale Steel Works.
gam valor aos clientes. São frequentemente chamados de proces- O mapeamento do processo serve para indicar a sequência de
sos essenciais, pois representam as atividades essenciais que uma atividades desenvolvidas dentro de um processo. Deve ser feito de
organização desempenha para cumprir sua missão. Esses processos forma gráfica, utilizando-se a ferramenta fluxograma, para repre-
formam a cadeia de valor onde cada passo agrega valor ao passo sentá-lo.
anterior conforme medido por sua contribuição na criação ou en- Uma grande quantidade de aprendizado e melhoria nos pro-
trega de um produto ou serviço, em última instância, gerando valor cessos pode resultar da documentação e exame dos relacionamen-
aos clientes. tos input output representados em um mapa de processos. Afinal,
Michael Porter descreveu cadeias de valor como compostas de a realização deste mapa possibilita a identificação das interfaces crí-
atividades “primárias” e atividades “de suporte”. A cadeia de valor ticas, a definição de oportunidades para simulações de processos, a
do processo de negócio descreve a forma de contemplar a cadeia implantação de métodos de contabilidade baseados em atividades
de atividades (processos) que fornecem valor ao cliente. Cada uma e a identificação de pontos desconexos ou ilógicos nos processos.
dessas atividades tem seus próprios objetivos de desempenho vin- Desta forma, o mapeamento desempenha o papel essencial de de-
culados a seu processo de negócio principal. Processos primários safiar os processos existentes, ajudando a formular uma variedade
podem mover-se através de organizações funcionais, departamen- de perguntas críticas, como por exemplo:
tos ou até entre organizações e prover uma visão completa ponta- Esta complexidade é necessária?
-a-ponta de criação de valor. São possíveis simplificações?
Atividades primárias são aquelas envolvidas com a criação físi- Existe excesso de transferências interdepartamentais?
ca de um produto ou serviço, marketing e transferência ao compra- As pessoas estão preparadas para as suas funções?
dor, e suporte pós-venda, referidos como agregação de valor. O processo é eficaz?
O trabalho é eficiente?
Processos de suporte Os custos são adequados?
Esses processos são desenhados para prover suporte a proces-
sos primários, frequentemente pelo gerenciamento de recursos e Em um mapa de processos consideram-se atividades, informa-
ou infraestrutura requerida pelos processos primários. O principal ções e restrições de interface de forma simultânea. A sua repre-
diferenciador entre processos primários e de suporte, é que proces- sentação inicia-se do sistema inteiro de processos como uma única
sos de suporte não geram valor direto aos clientes, ao passo que os unidade modular, que será expandida em diversas outras unidades
processos primários sim. Como exemplos de processos de suporte mais detalhadas, que, conectadas por setas e linhas, serão decom-
têm-se: gerenciamento de tecnologia da informação, de infraestru- postas em maiores detalhes de forma sucessiva. Esta decomposição
tura ou capacidade, e de recursos humanos. é que garantirá a validade dos mapas finais. Assim sendo, o mapa
Cada um desses processos de suporte pode envolver um ciclo de processos deve ser apresentado em forma de uma linguagem
de vida de recursos e estão frequentemente associados a áreas fun- gráfica que permita:
cionais. Contudo, processos de suporte podem e geralmente atra- - Expor os detalhes do processo de modo gradual e controlado;
vessam fronteiras funcionais. - Encorajar concisão e precisão na descrição do processo;
O fato de processos de suporte não gerarem diretamente valor - Focar a atenção nas interfaces do mapa do processo;
aos clientes não significa que não sejam importantes para a organi- - Fornecer uma análise de processos poderosa e consistente
zação. Os processos de suporte podem ser fundamentais e estraté- com o vocabulário do design.
gicos à organização na medida em que aumentam sua capacidade
de efetivamente realizar os processos primários. Conhecendo os processos
O primeiro passo para uma organização adotar a Gestão por
Processos de gerenciamento Processos é conhecer os seus principais processos organizacionais.
São utilizados para medir, monitorar e controlar atividades de A identificação dos processos deve ser realizada seguindo os se-
negócios. Tais processos asseguram que um processo primário, ou guintes passos:
de suporte, atinja metas operacionais, financeiras, regulatórias e A identificação dos processos consiste em relacionar os pro-
legais. Os processos de gerenciamento não agregam diretamente cessos da organização ou área funcional;
valor aos clientes, mas são necessários a fim de assegurar que a Essa enumeração deve ser feita de forma ampla, posterior-
organização opere de maneira efetiva e eficiente. mente o processo será detalhado até se chegar ao nível de detalha-
mento desejado;
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
O nível de detalhamento que importa é aquele mais adequado para a análise que se pretende realizar;
A abordagem de processo adota o conceito de hierarquia de processos e do detalhamento em níveis sucessivos. Dessa forma, os pro-
cessos podem ser subdivididos em subprocessos e agrupados em macroprocessos.
Dependendo do problema e da oportunidade, um processo pode ser aperfeiçoado através de mudanças realizadas no processo em si,
ou dentro do sistema o qual esteja inserido. Mas o primeiro passo para a melhoria do processo é conhecê-lo.
Mapeando os Processos
O mapeamento do processo serve para indicar a sequência de atividades desenvolvidas dentro de um processo. Tal etapa inicia-se
determinando as seguintes informações:
- Nome do processo;
- Objetivos do processo;
- Entradas do processo (fornecedores e insumos);
- Necessidades dos clientes (quem são, requisitos, normas de orientação);
- Recursos necessários;
- Formas de controle;
- Saídas do processo (produtos e resultados esperados).
Comece pelo seu produto prioritário (produto crítico). Não queira fazer tudo perfeito da primeira vez. Não tenha medo de errar. O
mapeamento inicial deve refletir a situação real e não aquela que se imagina que seja a ideal.
O mapeamento deve conter as tarefas prioritárias para a sua execução. A forma de determinar as tarefas prioritárias é por intermédio
de reunião com os responsáveis pelo processo.
As tarefas prioritárias são aquelas que:
- Se houver um pequeno erro, afetam fortemente a qualidade do processo;
- Já ocorreram acidentes no passado;
- Ocorrem “problemas” na visão dos supervisores e responsáveis.
Fluxograma
O fluxograma é uma ferramenta de baixo custo e de alto impacto, utilizada para analisar fluxos de trabalho e identificar oportunidades
de melhoria. São diagramas da forma como o trabalho acontece, através de um processo.
O fluxograma permite uma ampla visualização do processo e facilita a participação das pessoas. Serve, ainda, para documentar um
órgão ou seção específica envolvida em cada etapa do processo, permitindo identificar as interfaces do mesmo. O seu estudo permite
aperfeiçoar os fluxos para maximizar as etapas que agregam valor e minimizar os custos, além de garantir a realização de tarefas indispen-
sáveis para a segurança de um sistema específico.
A simbologia apresentada traz apenas os símbolos mais comumente utilizados. Outros símbolos poderão ser empregados para ma-
peamento dos processos.
O fluxo do processo desenhado deve retratar com clareza as relações entre as áreas funcionais da organização. O maior potencial de
melhoria, muitas vezes, é encontrado nas interfaces das áreas funcionais.
Enfatiza-se a documentação dos processos, seguindo a premissa de que, para realizar alguma melhoria no processo, é preciso primeiro
conhecê-lo e entendê-lo e que a qualidade de um produto ou serviço é reflexo da qualidade e gerenciamento do processo utilizado em
seu desenvolvimento.
A partir do momento em que um fluxograma foi criado para um processo crítico, é uma boa ideia mantê-lo atualizado com todas as
mudanças de procedimento no trabalho. Se isso for feito, sempre haverá uma referência rápida de como o trabalho deve ser realizado.
Elaborando Fluxogramas
Utiliza-se o fluxograma com dois objetivos: garantir a qualidade; e aumentar a produtividade. É o início da padronização. Todos os
gerentes devem estabelecer os fluxogramas dos processos sob sua autoridade.
Tenha em mãos o mapeamento do processo realizadopara iniciar o desenho do fluxograma. Explicite as tarefas conduzidas em cada
processo. Quantas tarefas existem em sua área de trabalho? Quantas pessoas trabalham em cada uma das tarefas?
O fluxograma é o instrumento mais eficiente para fazer a própria análise. Os fluxogramas mostram claramente o que está acontecendo
e oferecem um método fácil de localização de fraquezas no sistema ou áreas onde poderiam ser introduzidas melhorias.
Quando o fluxograma estiver pronto, critique-o. Convoque um grupo de pessoas e por meio de um brainstorming pergunte:
- Este processo é necessário?
- Cada etapa do processo é necessária?
- É possível simplificar?
- É possível adotar novas tecnologias (em todo ou em parte)?
- O que é possível centralizar/descentralizar?
Para a elaboração do fluxograma é necessário utilizar algumas figuras que padronizam as tarefas que estão sendo realizadas. Existe
uma série de figuras e, até certo ponto, uma divergência entre diferentes autores. O importante é que cada organização defina os seus
padrões e os sigam, podendo criar novos símbolos que forem necessários.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
O quadro abaixo apresenta os principais símbolos utilizados na elaboração dos fluxogramas.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
- Todas as palavras que apareçam no fluxograma devem ser es- Processos e certificação ISO 9000:2000.
critas em letras claras e legíveis; A crescente quantidade da oferta de serviços e produtos tanto
- Faça o fluxograma o mais simples e o mais direto possível. Evi- do mercado interno quanto do mercado externo fez com que clien-
te disposições que levem o leitor através de uma floresta de traços tes passassem a procurar fornecedores que oferecessem soluções
e setas; para atender suas necessidades. Este fator foi muito difundido por
- Evite o cruzamento de linhas. Um semicírculo, indicando a in- Feigenbaum através de sua publicação denominada Controle de
dependência das Qualidade Total (TQC – Total Quality Control). Nela, dois fatores pas-
- linhas ao se cruzarem é um recurso imperfeito. Evite o proble- saram a ser importantes para a qualidade de um produto, são eles:
ma logo de início. Isto normalmente pode ser obtido com uma nova 1. foco no cliente; e,
disposição das informações no papel; 2. sistema de qualidade.
- Coloque os funcionários ou departamentos que tenham gran-
de troca de documentos ou informações entre si, em colunas adja- Sobre o foco no cliente Feigenbaum afirma que a qualidade
centes. Evite o aparecimento de longas setas que cruzem o papel de quem estabelece é o cliente e não o engenheiro, nem o pessoal de
um lado para outro, sobre colunas não utilizadas; marketing ou a alta administração. Sendo assim, a qualidade não
- Assegure-se de que o início e o término de um fluxo são cla- começa ao final do processo de fabricação ou durante o processo
ramente visíveis, de forma que o leitor saiba para onde ir antes de mas sim desde a concepção do projeto passando por todos as eta-
descer aos detalhes; pas do processo. Neste novo contexto do TQC, Feigenbaum diz que
- Evite detalhes excessivos, mas assegure-se de cobrir todos os a qualidade deve ser pensada de forma sistêmica onde todos os
pontos importantes de controle. envolvidos no processo devem ser integrados e estar comprome-
tidos com a qualidade. Ishikawa através do controle total de quali-
Monitorando os Processos dade estilo japonês afirma que todas as divisões e empregados se
O que se pode medir, se pode gerenciar. Gerenciar significa ter envolvam no estudo e na promoção da qualidade através de cursos
o controle sobre os processos, tendo informações sobre o seu de- e seminários que demonstrem os benefícios do comprometimento
sempenho, que levarão a tomada consciente de decisão. Isso não com este novo conceito.
quer dizer que todas as tarefas e atividades de um processo de- Neste novo conceito que passou a ditar a forma como as em-
verão ser monitoradas. Mas aquelas que podem causar problemas presas deveriam pensar na qualidade de seus serviços e produtos
sim. Mesmo que isso signifique monitorar um item de cada vez. dois novos termos ganharam forças, a chamada qualidade assegu-
Uma forma de monitorar um processo é utilizando indicadores de rada e a garantia de qualidade.
desempenho. Os indicadores são formas de representações quan- Antes da formação do conceito da qualidade total, na era do
tificáveis das características de um processo e de seus produtos ou controle estatístico, uma prática comum entre a relação cliente-for-
serviços. Utilizamos indicadores para controlar e melhorar a qua- necedor era a conferência de produtos pelas duas pontas, ou seja,
lidade e o desempenho destes produtos ou serviços ao longo do quando o fornecedor ia despachar um produto ele fazia uma ins-
tempo. peção e quando este chegava no cliente nova inspeção era feita e
Muitas organizações têm dificuldades em criar indicadores de com isso acontecia uma duplicidade de esforços e custos. Maximia-
desempenho, devido ao fato de que eles enfatizam os indicadores no(2005) afirma que na era da qualidade total, as empresas perce-
de resultado, aqueles relacionados ao produto final da organização, beram que poderiam inspecionar seus fornecedores a fim de exigir
e não a maneira como os processos estão sendo desempenhados. que estes entregassem com a sua qualidade assegurada ou qualida-
de garantida. E para garantir sua mantenabilidade as empresas sub-
metiam seus fornecedores a periódicas auditorias, com base numa
Basicamente podemos ter dois tipos de indicadores.
lista de perguntas ou critérios. A inspeção ou auditoria serve para
Os indicadores resultantes (outcomes) e os indicadores direcio-
decidir se um fornecedor tem ou não condições de continuar com
nadores (drivers).
tal e também para escolher novos fornecedores. Os fornecedores
que eram aprovados ou continuavam a sê-lo, passavam à condição
Os indicadores resultantes:
de credenciados ou qualificados. (MAXIMIANO, 2005).
- Permitem saber se o efeito desejado foi obtido;
Neste contexto, procurando atribuir certificações e estabelecer
- Ligados ao resultado final do processo;
normalizações para todas as áreas de conhecimentos foi criado a
- Baixa frequência de análise (longo prazo); ISO 9000 que faz parte da “Familia ISO” criada pela Internacional
- Mostram o passado; Organization for Standardization,mais conhecida pela sigla ISO que
- Mais comparáveis. dá nome a uma organização internacional, não governamental, com
sede em Genebra, Suiça e tem origem na palavra grega “isos”, que
Os indicadores direcionadores: significa “igual”. (ROTH, 1998). A ISO é composta por centenas de
- Permitem analisar as causas presumidas do efeito, de forma organizações ou institutos de padronização que traduzem as nor-
proativa; mas criadas por ela para aplicação em seus paises temos como
- Ligados às tarefas intermediárias do processo; exemplos a ABNT no Brasil, Q90 nos Estados Unidos e BS 5750 na
- Alta frequência de análise (curto prazo); Grã-Bretanha. (MOREJÓN,2005). Segundo JORDÃO (2010) para im-
- Antecipam o futuro; plantar a norma, a empresa precisa primeiro dizer o que faz, depois,
- Menos comparáveis. fazer o que disse que faz. Para isso, escreve-se as atividades da for-
ma que são realizadas e posteriormente verifica-se se todos fazem
Os indicadores direcionadores medem as causas, os fatores da forma que está escrito.
que levam aos efeitos. Estes por sua vez, são monitorados pelos in- Caso contrário, revisa-se a documentação ou treina-se as pes-
dicadores resultados. Entre eles existe uma relação de causa e efei- soas a fazerem como está escrito. Assim, depois de um ciclo de
to, que se tomada partido, auxilia no gerenciamento do processo e verificações e melhorias, todos farão como está escrito. Obtêm-se,
na tomada de decisão. então, uma padronização da forma de se realizar os processos. Só
que isso acontece elevando-se o nível de cada processo, já que se
padroniza a melhor maneira de se fazer o que precisa ser feito.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Durante a implantação da norma cria-se também o hábito de 2. ISO 9001:2000 (Requisitos) está norma especifica os requisi-
registrar o que se faz. tos necessários para que a empresa possa trabalhar normalizada e
Esses registros evidenciam a forma como foram realizadas as finalizando produtos e serviços que satisfaçam seus clientes.
atividades, para se ter um histórico do que aconteceu e para se 3. ISO 9004:2000 (Guia para melhoria do Desempenho) está
obter dados importantes para a tomada de decisão. Além disso, norma apresenta um guia para melhoria continua do desempenho
facilitam a programação das atividades futuras melhorando a per- de toda a empresa.
formance da equipe. 4. ISO 19011 (Guia para auditoria de sistemas de gestão de
Históricamente a norma ISO 9000 teve como base diversas nor- qualidade e ambiental) está norma apresenta um guia de condução
mas que na época eram mais focadas para um determinado ramo de auditoria interna e externa para verificar se o processo adotado
de atividade dentre elas podemos citar três importantes normas a consegue atingir os objetivos definidos.
Canadian Standards Association(CSA) Z299 voltada para o setor pe-
trólifero, a Code of Federal Regulations (CFR) específica para o setor Completando a Família ISO 9000 temos os manuais de quali-
nucleo-elétricas e a British Standards (BS) 5750 que norma que re- dades documentos que fornecem informações consistentes sobre o
gulamentava as empresas na Grã-Bretanha. Segundo ROTH (1998), sistema de gestão da qualidade, os planos da qualidade documen-
está norma inglesa trouxe a conceituação, assim como a canadense tos que descrevem como o sistema de gestão de qualidade é apli-
CSA Z299 trouxe mais várias categorias para a gestão da qualidade. cado no projeto, as diretrizes que são documentos que estabelecem
Criada em 1987 baseado principalmente na norma BS 5740, a recomendações ou sugestões, as especificações são documentos que
norma ISSO 9000 tinha como finalidade estabelecer normas para estabelecem requisitos e os registros que são documentos que forne-
garantia da qualidade nos produtos e serviços oferecidos pelas em- cem evidência objetiva de atividades desempenhadas ou de resultados
presas certificadas/credenciadas. E para tal está foi dividada em ou- alcançados. É evidente que a definição de quais documentos irão com-
tras 5 “sub-normas”, a ISO 8402, a ISO 9000, a ISO 9001, ISO 9002, por o processos fica a cargo da empresa pois isso varia de acordo com
ISO 9003 e a ISO 9004. seu tipo, tamanho e complexidade. (NBR ISO 9000:2000).
Procurando realizar a constante melhoria nas práticas para ga- Como citado a norma ISO 9000:2000 passou a trabalhar com
rantia da qualidade foi previsto a revisão e atualização da norma a qualidade de processos levando as empresa a atuar de forma sis-
sempre que passado o período de 5 anos pelas organizações e insti- têmica e transparente, ou seja, com a normalização de seus pro-
tutos que compõe a organização. cessos estas passaram a acredita que o sucesso de seus produtos
Entretanto sua primeira revisão veio apenas em 1994 e tornou- e serviços estariam atrelados a implementação e manutenção de
-se conhecida como ISO 9000:1994; nela ficou definido que seriam um sistema de gestão concebido para melhorar, continuamente, o
mantidas a série de normas ISSO 9000 a ISO 9004 - idealizadas em desempenho em consideração, ao mesmo tempo, as necessidade
1987 – divididas em dois tipos as normas contratuais tratadas na de todas as partes envolvidas. E para isso a norma definiu os 8 prin-
ISO 9000 e as diretrizes nas normas ISO 9001, ISO 9002, ISO 9003. A cípios de gestão da qualidade citados a seguir:
norma ISO 9004 trata da implementação de um sistema de gestão
de qualidade. (MOREJÓN,2005). 1. Foco no cliente
Em 15 de dezembro de 2000, a nova edição revisada da ISO O grande fonte de renda das empresas é o recebimento de seus
9000 foi lançada, a ela foi atribuído o nome de ISO 9000:2000 para clientes e para isso é importante que está atinja os objetivos requi-
diferenciar das antigas normas. Está procurava solucionar alguns sitados e assim sua satisfação.
problemas encontrados na primeira revisão dentre eles:
• inadequação para organizações pequenas; 2. Liderança
• muitas normas e diretrizes; Uma equipe necessidade de líder que orientem e estabeleçam
• intensas críticas ao modelo de 20 elementos; e, metas a serem atingidas além de manter um ambiente de trabalho
• terminologia confusa. satisfatório, organizado e integrado.
As medidas adotadas pelas ISO para solucionar os problemas 3. Envolvimento das Pessoas
identificados na primeira versão conseguiram facilitar a aplicação Para que a empresa consiga atingir a satisfação de seus clientes
em todos os tipos de organização e simplificar a terminologia. Sua é necessário que todo o processo esteja integrado e funcionando
principal alteração foi a mudança de qualidade de produtos para de forma sistêmica e o pré-requisito para que isto aconteça é ne-
qualidade de processos, ou seja, um resultado desejado é alcança- cessário todos os envolvidos no processo estejam comprometidos.
do mais eficientemente quando as atividades e os recursos relacio-
nados são gerenciados como um processo. (NBR ISO 9000:2000). 4. Abordagem de Processo
Outro ponto e não menos importante foi a migração do objetivo Um processo pode ser definido como um conjunto de ativida-
da norma de atender os requisitos dos clientes para a satisfação des interrelacionadas que transformam entradas em saídas. E para
do cliente juntamente com a melhoria continua de todo o processo que está saída tenha um resultado satisfatório é essencial que este
da empresa. Por fim, podemos ressaltar a alteração na estrutura da conjunto seja tratado na forma de processo.
norma como mostrada na Figura 2.
Buscando simplificar a terminologia e melhora o entendimento 5. Abordagem Sistema para a Gestão
de seus requisites a nova estrutura a ISO 9000, foi dividida em 4 Tratar os processos interrelacionados com um sistema ajuda a
normas principais com seus objetivos específicos como descritos a identificá-los, entendê-los e gerenciá-los de forma eficiente procu-
seguir: rando atingir seus objetivos.
1. ISO 9000:2000 (Fundamentos e Vocabulário) está norma
descreve os conceitos do sistema de gestão da qualidade e define 6. Melhoria Continua
a terminologia utilizada pela família ISO 9000. Está norma também Estar em constante processo de crescimento é o grande dese-
apresenta os 8 princípios da gestão da qualidade que serão descri- jo da maioria das empresas porém para isso é necessário que este
tos mais há frente. pensameto seja buscado através da melhoria dos processos da em-
presa.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
7. Tomada de decisão baseada em fatos
Os documentos registros gerados durante o processo podem oferecer informações sobre os desempenhos alcançados em um deter-
minado período de tempo e com base nelas a equipe pode tomar suas decisões tornando-as mais eficientes e eficazes.
Quando o foco passou de qualidade de produto para controle da qualidade de processos ficou evidente que deveria haver uma gestão
para controlá-los. Está gestão deve ser realizada através da comparação de suas saídas com os objetivos e metas propostas em seu início e
com base nisso dois caminhos podem ser tomados. Se os resultados forem de acordo com o previsto, o processo pode ser mantido. Caso
contrário, a equipe deve avaliar os pontos em que não houve conformidade, planejar ações corretivas para corrigir estes desvios. E uma das
ferramentas metodológicas empregadas para este processo é o ciclo PDCA (Plan –Do – Check – Act, ou Planejar, Executar, Verificar, Agir)
idealizado por Shewart e teve Deming como o responsável pelo seu desenvolvimento e aplicação NASCIMENTO (2001 apud WERKEMA,
1995) complementa que o ciclorepresenta o caminho a ser seguido para que as metas estabelecidas possam ser cumpridas.
A Figura 3 apresenta a estrutura do ciclo PDCA. Este ciclo deve girar sistematicamente procurando corrigir as falhas encontradas. Sus-
cintamente, o ciclo começa com o P (Planejar) onde devem ser definidos as metas e métodos para atingi-las. Passa pelo D (Executar) onde
além de executar o que foi planejado na primeira etapa são colhidas informações para utilizar na etapa seguinte. Na etapa C (Verificar) são
comparadas as metas estabelecidas com os resultados obtidos na fase anterior. E por fim, a etapa A (Agir) onde a equipe pode normalizar
as operações caso as metas forem atingidas ou analisar os motivos que levaram a desvios no processo. E com base neste ciclo a equipe irá
girar consecutivamente, buscando a melhoria contínua do processo e a eliminação de desvios do processo.
Para finalizar, vale ressaltar que a ISO não tem qualquer obrigação de controlar e fiscalizar a aplicação da norma, ou seja, a aplicação
deve partir da necessidade ou vontade da empresa interessadas. Entretanto a constante busca por qualidade está se tornando um forte
diferencial entre as empresas, pesquisas realizadas pelo INMETRO demonstram que a qualidade seguido pelo tempo de entrega são gran-
des fatores decisivos quando as empresas decidem adquirir produtos. E neste contexto, empresas que tem em seu portfolio o certificado
ISSO 9001 demonstra para outras empresas que está compromissada com a qualidade de produtos e serviços e pode ser considerado
fator eliminatório entre as empresas. Sendo assim também tem comprovado através de pesquisas que o número de empresas que estão
procurando as certificações ISO tem crescido tangencialmente, dados estatísticos mostram que existem mais de 130004 com certificados
válidos no Brasil sendo 76684 localizado no Estado de São Paulo. Isto apenas vem para comprovar que as empresas cada vez mais estão
preocupadas com seu sistema de gestão de qualidade e estão procurando isso através das certificações ISO.1
Processo:
é a combinação de máquinas, métodos, material e mão-de-obra envolvidos na produção de um determinado produto ou serviço.
Controle:
é o conjunto de decisões que tem por objetivo a satisfação de determinados padrões ou especificações por parte dos produtos focados
no cliente.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
O CEP estabelece:
1. Informação permanente sobre o comportamento do processo;
2. Utilização da informação para detectar e caracterizar as causas que geram instabilidade no processo;
3. Indicação de ações para corrigir e prevenir as causas de instabilidade;
4. Informações para melhoria contínua do processo.
1. O Processo
Entendemos como processo a combinação de fornecedores, produtores, pessoas, equipamentos, materiais de entrada, métodos e
meio ambiente que trabalham juntos para produzir o resultado (produto), e os clientes correspondemaos elementos que utilizam o resul-
tado
Os efeitos das ações deveriam ser monitorados para que uma análise e ação posterior pudesse ser tomada, se necessária.
Definições
Variabilidade: É o conjunto de diferenças nas variáveis (diâmetros, pesos, densidades, etc.) ou atributos (cor, defeitos, etc.) presentes
universalmente nos produtos e serviços resultantes de qualquer atividade. Podemos classificá-las em comuns ou aleatórias e especiais ou
assinaláveis.
Variabilidade do processo: Um processo está sob controle estatístico (estável) quando não existem causas especiais. O fato de um
processo estar sob controle estatístico não implica que o mesmo está produzindo dentro de um nível de qualidade aceitável. O nível de
qualidade de um processo é estudado via uma técnica denominada análise de capacidade/performance.
O objetivo é desenvolver uma estratégia de controle para o processo que nos permite separar eventos relacionados a causas especiais
de eventos relacionados a causas comuns (falhas na sistemática do processo). Desta forma, para um dado processo, um gráfico de controle
pode indicar a ocorrência de causas especiais de variação.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
O ciclo de melhoria e o controle do processo
1. Analisar o processo
Dentre as perguntas a serem respondidas a fim de alcançar um melhor conhecimento do processo, estão:
- O que o processo deveria estar fazendo?
-- O que está sendo esperado de cada estágio do processo?
-- Quais são as definições operacionais das saídas em potencial?
- O que pode estar errado?
-- O que pode variar neste processo?
-- O que já sabemos a respeito da variabilidade deste processo?
-- Que parâmetros são mais sensíveis à variação?
- O que o processo está fazendo?
-- Este processo está gerando refugo ou resultados que requeiram retrabalhos?
-- Este processo produz um resultado que esteja num estado de controle estatístico?
-- O processo é capaz?
-- O processo é confiável?
Muitas técnicas discutidas de desenvolvimento de processos podem ser aplicadas para garantir um melhor entendimento do proces-
so. Estas atividades incluem:
- Reuniões em grupo
- Consulta a pessoas que desenvolveram e operam o processo
- Revisão da história do processo
- Construção de uma planilha de FMEA
As cartas de controle desenvolvidas neste módulo são ferramentas poderosas que devem ser usadas durante todos os ciclos de me-
lhoria do processo. Esses métodos estatísticos simples ajudam a distinguir as causas comuns e as causas especiais de variação do processo.
Quando um estado de controle do processo é alcançado o nível atual da capacidade do processo pode ser avaliado.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
2. Manter o controle do processo • administrando contratos de vários tipos, como os relacio-
Uma vez adquirida uma compreensão melhor do processo, nados a fornecedores, obtenção de crédito (antecipação de recebí-
devemos mantê-lo dentro de um nível apropriado de capacidade. veis, financiamentos, empréstimos etc.), contratação de colabora-
Processos são dinâmicos e podem mudar, logo o desempenho do dores, entre outros;
processo deve ser monitorado, para que medidas eficazes de pre- • melhorando o controle de cronogramas e vencimentos de
venção contra mudanças indesejáveis possam ser executadas. pagamentos inclusos nos acordos, beneficiando, entre outros pon-
A mudança desejável deve também ser entendida e institucio- tos, o ciclo financeiro e o ciclo operacional do empreendimento
nalizada. Quando sinalizado que uma mudança no processo ocor- etc.
reu, medidas rápidas e eficientes devem ser tomadas para isolar as
causas e agir sobre elas. Todas essas atribuições beneficiam a empresa, gerando redu-
ção de custos e, consequentemente, melhorando o lucro e outras
3. Aperfeiçoar o processo contas que constituem o DRE e o Balanço Patrimonial do negócio.
A melhoria do processo através da redução de variação, espe-
cificamente envolve a introdução (proposital) de mudanças dentro O papel do gestor de contratos
do processo, e a avaliação dos efeitos causados. O objetivo é uma O papel do gestor de contratos é amplo, já que ele deve acom-
melhor compreensão do processo, para que as causas comuns de panhar todas as fases de um contrato, analisando e checando se o
variação possam ser reduzidas posteriormente. A intenção desta que foi estabelecido está em conformidade com o realizado. Para
redução é a melhoria da qualidade ao menor custo. tanto, ele deve registrar eventos relacionados a cada acordo, visan-
Assim que novos parâmetros do processo tenham sido deter- do a obter maior controle para fins de auditoria.
minados, o ciclo volta ao estágio de Analisar o Processo. Uma vez Além disso, ele precisa detectar desvios e ocorrências desali-
que alterações foram introduzidas, a estabilidade do processo pre- nhadas às cláusulas contratuais e procurar meios de solucioná-los.
cisa ser reconfirmada. O processo continua então a se mover em Também deve ser apto a buscar o cumprimento de obrigações con-
torno do Ciclo de melhoria do processo. tratuais que envolvam documentos gerenciais e contábeis, como
notas fiscais, atas, inventários, entre outros.
Inclusive, ele precisa exigir que os contratos sejam feitos e
cumpridos com qualidade, objetivando a mitigação de riscos e a
GESTÃO DE CONTRATOS economia. Realizar análises críticas, observar pontos de ajustes e
sugerir melhorias são outras ações que devem ser tomadas quando
O que é gestão de contratos necessário.
Gestão de contratos não tem a ver só com o arquivamento e
o controle de documentos em depósitos ou no ambiente virtual. Como organizar os contratos de forma eficiente
Ela acompanha todo o ciclo de vida de cada documento, desde sua Contratos administrativos, de fornecedores, de clientes etc.
criação, passando pela execução e chegando até o término de sua precisam ser controlados adequadamente. Para isso, é fundamen-
vigência/utilidade. tal adotar procedimentos de organização, que ajudam a monitorar
Esse processo também assegura benefícios a contratados e e a otimizar o trabalho do gestor de contratos e de sua equipe. Veja
contratantes, além de fornecer apoio e informações para o geren- alguns:
ciamento financeiro e a gestão de projetos de uma empresa. • garantir que a companhia tenha recursos suficientes para
executar o que for estabelecido nos contratos;
A importância da gestão de contratos • manter um acompanhamento constante de prazos de
As organizações privadas e públicas são pressionadas constan- vencimento dos documentos;
temente para diminuírem os custos, elevarem a performance finan- • garantir que os envolvidos tenham conhecimento detalha-
ceira e reduzirem os riscos operacionais. Além disso, também preci- do do conteúdo contratual;
sam maximizar o capital de giro por meio de economia de recursos • montar uma tabela de planejamento que organize as ati-
e investimentos planejados. vidades e eventos constantes nos acordos, bem como suas etapas.
Para conquistar esses objetivos, além de eliminar desperdícios Isso pode ser feito, inclusive, por meio de planilhas ou em um siste-
e otimizar fluxos de trabalho, é preciso monitorar as variações or- ma de gestão que automatize esse processo, como um ERP;
çamentárias, controlar adequadamente o fluxo de caixa e negociar • checar frequentemente se as cláusulas contratuais estão
contratos mais vantajosos. Além disso, é necessário ter atenção a sendo realmente cumpridas;
regulamentos e legislações. • implantar sistemas que acompanham vencimentos e de-
Todos esses pontos podem ser aperfeiçoados direta ou indire- mais prazos. Isso evita custos extras com juros e multas devido a
tamente por uma boa gestão de contratos. Afinal, ela é a respon- atrasos;
sável por lidar com a crescente complexidade e o volume dos con- • assegurar que cada contrato, após arquivado, seja facil-
tratos atuais, tendo por objetivo uma administração eficaz desses mente encontrado;
documentos. Para tanto, ela atua: • verificar renovações e rescisões, buscando evitar que es-
• dando suporte para a elevação do poder de negociação ses processos gerem custos financeiros ou problemas jurídicos à
da empresa e para a maximização dos benefícios de cada contrato; companhia.
• supervisionando, de forma eficaz, o cumprimento de obri-
gações contratuais; Para garantir uma boa organização dos contratos, é fundamen-
• aumentando o controle sobre as condições que podem tal contar com uma equipe especializada na gestão desses docu-
ser aceitas nos contratos, protegendo a empresa de acatar valores mentos. É interessante que seus integrantes tenham conhecimen-
e cláusulas incluídas pelos fornecedores sem realizar pesquisas e tos sobre planejamento e confecção desses acordos. Habilidades
cotações com outras organizações; de negociação são diferenciais, pois ajudam na obtenção de mais
• fornecendo apoio para a gestão de obrigações, fazendo vantagens para o negócio.
com que as partes de um acordo tenham vantagens estratégicas;
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Como entender o ciclo de vida dos contratos Também é preciso contar com um bom sistema de gerencia-
Uma boa gestão do ciclo de vida do contrato ajuda a mitigar ris- mento para organizar os contratos e facilitar a sua busca. Digitali-
cos e diminuir custos. Para isso, primeiro, é preciso entender quais zá-los é uma opção positiva para diminuir as chances de perdas de
as etapas desse ciclo, que são: documentos e facilitar a administração.
• pré-contratação: identifica-se a necessidade de um pro- Com uma boa gestão de contratos, você conseguirá melhorar a
duto, serviço ou parceria. Depois, ocorre a definição dos requisitos empresa, pois as negociações passam a ser otimizadas. Isso resulta
necessários para a negociação, como formas de pagamento, tipo em economias de custos, prazos mais condizentes com as condi-
de entrega, exigências para a contratação etc. Após isso, cria-se o ções do negócio e maior controle dos acordos.
rascunho do contrato;
• contratação: negociação e formalização do acordo. As Fonte: https://blog.biva.com.br/empreendedor/gestao-de-contratos/
cláusulas são debatidas e, se necessário, realizam-se ajustes no do-
cumento. Aspectos econômicos, técnicos e jurídicos precisam estar Contratos Administrativos
corretamente registrados. Após aprovação pelas partes, o contrato Contrato Administrativo é o contrato celebrado pela Adminis-
é assinado; tração Pública, com base em normas de direito público, com o pro-
• pré-execução (técnica): são feitas as ações iniciais para a pósito de satisfazer as necessidades de interesse público. Previsto
execução do que consta no contrato, como aquisição de insumos, na Lei 8666/93 (Licitações e Contratos). Os contratos administrati-
contratação de colaboradores, organização de materiais etc. Essa e vos serão formais, consensuais, comutativos, e, em regra, intuitu
outras etapas devem ter cronogramas de entregas e vistorias; personae. As normais gerais sobre contrato de trabalho são de com-
• pré-execução (administrativa): aqui, acontecem a compila- petência da União, podendo os Estados, Distrito Federal e Municí-
ção, a estruturação e o armazenamento da documentação contratual; pios legislarem supletivamente.
• pré-execução (financeira): o financeiro recebe o fluxo
de pagamentos e dados econômicos de cada acordo. Nessa e nas Cláusulas exorbitantes – faz parte dos requisitos essenciais para
demais fases, é preciso definir certidões, termos necessários para qualificação do contrato administrativo, busca garantir a regular sa-
execução do contrato, notificar envolvidos sobre prazos, liberar ati- tisfação do interesse público presente no contrato administrativo.
vidades etc; São cláusulas que asseguram certas desigualdades entre as partes..
• execução: o objeto do contrato é entregue e as ações
administrativas de acompanhamento do documento são feitas de- Extinção unilateral do contato – A Administração em defesa do
talhadamente. Nessa etapa, os pagamentos são controlados, reali- interesse público e da legalidade pode findar a relação contratual
za-se a prorrogação de termos, ocorre o registro de aditivos, entre sem anuência do particular.
outras ações; Dessa forma, é cabível nos seguintes casos:
• encerramento: se a data de vigência do contrato expirar a) interesse público;
e não ocorrer renovação, conclui-se a negociação. É nessa etapa b) inadimplemento ou descumprimento de obrigações a cargo
que se verifica se todas as ações previstas nas cláusulas contratuais do contratado particular;
foram feitas adequadamente. c) ilegalidade.
Como gerir contratos empresariais Manutenção do equilíbrio econômico e financeiro – Visa asse-
Uma gestão de contratos efetiva atua minuciosamente com or- gurar uma remuneração justa ao contratante. O reajuste pode ocor-
ganização, programação e planejamento de ações relacionadas à rer nos seguintes casos:
administração desses documentos. Algumas empresas contam com a) reajustamento contratual de preços;
setores específicos para isso, enquanto outras delegam as ativida- b) cláusulas rebus sic stantibus e pacta sunt servanda;
des dessa área para a controladoria ou o departamento adminis-
c) fato do príncipe e fato da administração;
trativo.
d) caso fortuito e força maior.
Para otimizar o gerenciamento dos contratos, é importante
contar com indicadores de desempenho, métricas de resultados
Possibilidade de revisão de preços e de tarifas contratualmente
e análises de históricos. Também é preciso analisar orçamentos e
fixadas – visa preservar o contrato dos efeitos inflacionários e rea-
cotações para verificar se há viabilidade nos acordos prontos, em
juste de preços decorrente de fato superveniente.
vigência ou que ainda serão feitos.
Esse item é essencial para assegurar maior sustentabilidade
financeira para a empresa, de modo que ela consiga atingir seus Inoponibilidade da exceção de contrato não cumprido – A parte
objetivos com os acordos e obtenha benefícios. Além disso, é im- contratante não pode exigir da outra uma obrigação sem ter cum-
portante definir, por exemplo: prido a sua.
• responsabilidades de cada uma das partes e os cargos que
ajudarão na gestão do contrato; Controle do Contrato - o acompanhamento e fiscalização do
• prioridades de serviços, produtos ou demais ações previs- contrato pode ser realizado pela Administração ou qualquer pessoa
tas nas cláusulas; interessada.
• prazos de disponibilização de produtos ou serviços;
• datas para liberação da equipe para começar a gerenciar Possibilidade de aplicação de penalidades - sanções aplicadas
os principais pontos dos contratos. ao contratado pela inexecução total ou parcial do contrato, as mais
leves são a advertência e a multa, dependendo como o contrato
Como guardar os contratos de maneira organizada preveja. Mais graves são a suspensão temporária de participação
Primeiramente, lembre-se de fazer, ao menos, uma cópia de em licitação e impedimento de contratar com a administração por
cada contrato final e manter documentos relacionados a ele. Ex- prazo não superior a 2 anos, e declaração de idoneidade para lici-
tensões nos acordos ou modificações, como ordens de mudança, tar e contratar com a Administração pública, esta última por prazo
devem ser executadas em conformidade com as cláusulas desses indeterminado.
documentos, sendo guardadas junto a eles.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Formalização – o contrato administrativo deve ser aprovado reflete tanto numa capacidade de auto-organização (normatização
por instrumento (documento hábil a exteriorizar a vontade pactua- própria) quanto numa capacidade de autogoverno (administrar-se
da). A forma deve ser escrita, a exceção ocorre nas pequenas com- pelos membros eleitos pelo eleitorado da unidade federada).
pras. Qualquer alteração deverá ser feita por termo de aditamento.
As minutas devem ser aprovadas pela assessoria jurídica. Deve ha- Artigo 18, §1º, CF. Brasília é a Capital Federal.
ver previsão orçamentária. Deve ser celebrada com prestação de Brasília é a capital da República Federativa do Brasil, sendo um
garantia. dos municípios que compõem o Distrito Federal. O Distrito Federal
tem peculiaridades estruturais, não sendo nem um Município, nem
um Estado, tanto é que o caput deste artigo 18 o nomeia em sepa-
rado. Trata-se, assim, de unidade federativa autônoma.
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Artigo 18, §2º, CF. Os Territórios Federais integram a União, e
sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado origem serão reguladas em lei complementar.
em tópicos anteriores. Apesar dos Territórios Federais integrarem a União, eles não
podem ser considerados entes da federação, logo não fazem parte
da organização político-administrativa, não dispõem de autonomia
política e não integram o Estado Federal. São meras descentraliza-
INOVAÇÕES INTRODUZIDAS PELA CONSTITUIÇÃO DE ções administrativo-territoriais pertencentes à União. A Constitui-
1988: AGÊNCIAS EXECUTIVAS; SERVIÇOS ESSENCIAL- ção Federal de 1988 aboliu todos os territórios então existentes:
MENTE PÚBLICOS E SERVIÇOS DE UTILIDADE PÚBLICA; Fernando de Noronha tornou-se um distrito estadual do Estado de
DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS A TERCEIROS; Pernambuco, Amapá e Roraima ganham o status integral de Esta-
AGÊNCIAS REGULADORAS; CONVÊNIOS E CONSÓR- dos da Federação.
CIOS Artigo 18, §3º, CF. Os Estados podem incorporar-se entre si,
subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou for-
Da organização político-administrativa marem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação
O artigo 18 da Constituição Federal tem caráter genérico e re- da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do
gulamenta a organização político-administrativa do Estado. Basica- Congresso Nacional, por lei complementar.
mente, define os entes federados que irão compor o Estado brasi- Artigo 18, §4º, CF. A criação, a incorporação, a fusão e o des-
leiro. membramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do
Neste dispositivo se percebe o Pacto Federativo firmado entre período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão
os entes autônomos que compõem o Estado brasileiro. Na federa- de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municí-
ção, todos os entes que compõem o Estado têm autonomia, caben- pios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Munici-
do à União apenas concentrar esforços necessários para a manu- pal, apresentados e publicados na forma da lei.
tenção do Estado uno.
O pacto federativo brasileiro se afirmou ao inverso do que os Como se percebe pelos dispositivos retro, é possível criar, in-
Estados federados geralmente se formam. Trata-se de federalismo corporar e desmembrar os Estados-membros e os Municípios. No
por desagregação – tinha-se um Estado uno, com a União centrali- caso dos Estados, exige-se plebiscito e lei federal. No caso dos mu-
zada em suas competências, e dividiu-se em unidades federadas. nicípios, exige-se plebiscito e lei estadual.
Difere-se do denominado federalismo por agregação, no qual uni- Ressalta-se que é aceita a subdivisão e o desmembramento no
dades federativas autônomas se unem e formam um Poder federal âmbito interno, mas não se permite que uma parte do país se sepa-
no qual se concentrarão certas atividades, tornando o Estado mais re do todo, o que atentaria contra o pacto federativo.
forte (ex.: Estados Unidos da América). Art. 19, CF. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
No federalismo por agregação, por já vir tradicionalmente das e aos Municípios:
bases do Estado a questão da autonomia das unidades federadas, I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los,
percebe-se um federalismo real na prática. Já no federalismo por embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus repre-
desagregação nota-se uma persistente tendência centralizadora. sentantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma
Prova de que nem mesmo o constituinte brasileiro entendeu o da lei, a colaboração de interesse público;
federalismo que estava criando é o fato de ter colocado o município II - recusar fé aos documentos públicos;
como entidade federativa autônoma. No modelo tradicional, o pac- III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.
to federativo se dá apenas entre União e estados-membros, motivo Embora o artigo 19 traga algumas vedações expressas aos en-
pelo qual a doutrina afirma que o federalismo brasileiro é atípico. tes federados, fato é que todo o sistema constitucional traz impe-
Além disso, pelo que se desprende do modelo de divisão de dimento à atuação das unidades federativas e de seus administra-
competências a ser estudado neste capítulo, acabou-se esvaziando dores. Afinal, não possuem liberdade para agirem como quiserem
a competência dos estados-membros, mantendo uma concentra- e somente podem fazer o que a lei permite (princípio da legalidade
ção de poderes na União e distribuindo vasta gama de poderes aos aplicado à Administração Pública).
municípios.
Art. 18, caput, CF. A organização político-administrativa da Repartição de competências e bens
República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, O título III da Constituição Federal regulamenta a organização
o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos do Estado, definindo competências administrativas e legislativas,
desta Constituição. bem como traçando a estrutura organizacional por ele tomada.
Ainda assim, inegável, pela redação do caput do artigo 18, Bens Públicos são todos aqueles que integram o patrimônio da
CF, que o Brasil adota um modelo de Estado Federado no qual são Administração Pública direta e indireta, sendo que todos os demais
considerados entes federados e, como tais, autônomos, a União, bens são considerados particulares. Destaca-se a disciplina do Có-
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Esta autonomia se digo Civil:
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Artigo 98, CC. São públicos os bens de domínio nacional per- § 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura,
tencentes as pessoas jurídicas de direito público interno; todos os ao longo das fronteiras terrestres, designada como faixa de fron-
outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem. teira, é considerada fundamental para defesa do território nacio-
Artigo 99, CC. São bens públicos: nal, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei.
I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, Artigo 26, CF. Incluem-se entre os bens dos Estados:
ruas e praças; I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e
II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destina- em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorren-
dos a serviço ou estabelecimento da administração federal, esta- tes de obras da União;
dual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias; II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no
III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios
jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, ou terceiros;
de cada uma dessas entidades. III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram- IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.
-se dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito
público a que se tenha dado estrutura de direito privado. 1) Competência organizacional-administrativa exclusiva da
Artigo 100, CC. Os bens públicos de uso comum do povo e os de União A Constituição Federal, quando aborda a competência da
uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualifi- União, traz no artigo 21 a expressão “compete à União” e no artigo
cação, na forma que a lei determinar. 22 a expressão “compete privativamente à União”. Neste sentido,
Artigo 101, CC. Os bens públicos dominicais podem ser aliena- questiona-se se a competência no artigo 21 seria privativa. Obvia-
dos, observadas as exigências da lei. mente, não seria compartilhada, pois os casos que o são estão enu-
Artigo 102, CC. Os bens públicos não estão sujeitos a usuca- merados no texto constitucional.
pião. Com efeito, entende-se que o artigo 21, CF, enumera compe-
Artigo 103, CC. O uso comum dos bens públicos pode ser gra- tências exclusivas da União. Estas expressões que a princípio seriam
tuito ou retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela enti- sinônimas assumem significado diverso. Exclusiva é a competência
dade a cuja administração pertencerem. da União que não pode ser delegada a outras unidades federadas
(somente pode ser exercida pela União); privativa é a competên-
Os bens da União estão enumerados no artigo 20 e os bens dos cia da União que pode ser delegada (por exemplo, para os Estados,
Estados-membros no artigo 26, ambos da Constituição, que seguem quando estes poderão elaborar lei específica sobre matérias que
abaixo. Na divisão de bens estabelecida pela Constituição Federal seriam de competência única da União).
denota-se o caráter residual dos bens dos Estados-membros por- O artigo 21, que traz as competências exclusivas da União, tra-
que exige-se que estes não pertençam à União ou aos Municípios. balha com questões organizacional-administrativas.
Artigo 21, CF. Compete à União:
Artigo 20, CF. São bens da União: I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser organizações internacionais;
atribuídos; II - declarar a guerra e celebrar a paz;
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, III - assegurar a defesa nacional;
das fortificações e construções militares, das vias federais de comu- IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que for-
nicação e à preservação ambiental, definidas em lei; ças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele perma-
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de neçam temporariamente;
seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a interven-
com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele ção federal;
provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais; VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material
IV - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com ou- bélico;
tros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, VII - emitir moeda;
excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as
aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental operações de natureza financeira, especialmente as de crédito,
federal, e as referidas no art. 26, II; câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência
V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona privada;
econômica exclusiva; IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de orde-
VI - o mar territorial; nação do território e de desenvolvimento econômico e social;
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos; X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
VIII - os potenciais de energia hidráulica; XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei,
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um ór-
e pré-históricos; gão regulador e outros aspectos institucionais;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito ou permissão:
Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da administração di- a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
reta da União, participação no resultado da exploração de petróleo b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveita-
ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia mento energético dos cursos de água, em articulação com os Esta-
elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plata- dos onde se situam os potenciais hidroenergéticos;
forma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeropor-
compensação financeira por essa exploração. tuária;
51
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre por- I - igualdade de tarifas, fretes, seguros e outros itens de custos
tos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites e preços de responsabilidade do Poder Público;
de Estado ou Território; II - juros favorecidos para financiamento de atividades priori-
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e interna- tárias;
cional de passageiros; III - isenções, reduções ou diferimento temporário de tributos
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres; federais devidos por pessoas físicas ou jurídicas;
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Públi- IV - prioridade para o aproveitamento econômico e social dos
co do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos rios e das massas de água represadas ou represáveis nas regiões de
Territórios; baixa renda, sujeitas a secas periódicas.
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o § 3º Nas áreas a que se refere o § 2º, IV, a União incentivará a
corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar recuperação de terras áridas e cooperará com os pequenos e mé-
assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de servi- dios proprietários rurais para o estabelecimento, em suas glebas, de
ços públicos, por meio de fundo próprio; fontes de água e de pequena irrigação.
XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geo-
grafia, geologia e cartografia de âmbito nacional; 2) Competência legislativa privativa da União
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões A competência legislativa da União é privativa e, sendo assim,
públicas e de programas de rádio e televisão; pode ser delegada. As matérias abaixo relacionadas somente po-
XVII - conceder anistia; dem ser legisladas por atos normativos com abrangência nacional,
XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as ca- mas é possível que uma lei complementar autorizar que determina-
lamidades públicas, especialmente as secas e as inundações; do Estado regulamente questão devidamente especificada.
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos
hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; Artigo 22, CF. Compete privativamente à União legislar sobre:
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusi- I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
ve habitação, saneamento básico e transportes urbanos; marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional II - desapropriação;
de viação; III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e
XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária em tempo de guerra;
e de fronteiras; IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifu-
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer são;
natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o V - serviço postal;
enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comér- VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos
cio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes metais;
princípios e condições:
VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de va-
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será
lores;
admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso
VIII - comércio exterior e interestadual;
Nacional;
IX - diretrizes da política nacional de transportes;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercializa-
X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima,
ção e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos,
aérea e aeroespacial;
agrícolas e industriais;
XI - trânsito e transporte;
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, co-
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
mercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou
inferior a duas horas; XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da XIV - populações indígenas;
existência de culpa; XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho; de estrangeiros;
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições
atividade de garimpagem, em forma associativa. para o exercício de profissões;
XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito
Envolve a competência organizacional-administrativa da União Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios,
a atuação regionalizada com vistas à redução das desigualdade re- bem como organização administrativa destes
gionais, descrita no artigo 43 da Constituição Federal: XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia
Artigo 43, CF. Para efeitos administrativos, a União poderá ar- nacionais;
ticular sua ação em um mesmo complexo geoeconômico e social, XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança
visando a seu desenvolvimento e à redução das desigualdades re- popular;
gionais. XX - sistemas de consórcios e sorteios;
§ 1º Lei complementar disporá sobre: XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico,
I - as condições para integração de regiões em desenvolvimen- garantias, convocação e mobilização das polícias militares e corpos
to; de bombeiros militares;
II - a composição dos organismos regionais que executarão, na XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária
forma da lei, os planos regionais, integrantes dos planos nacionais e ferroviária federais;
de desenvolvimento econômico e social, aprovados juntamente com XXIII - seguridade social;
estes. XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;
§ 2º Os incentivos regionais compreenderão, além de outros, XXV - registros públicos;
na forma da lei: XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
52
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as II - orçamento;
modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas III - juntas comerciais;
e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, IV - custas dos serviços forenses;
obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas V - produção e consumo;
e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III; VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, de-
XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa maríti- fesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e
ma, defesa civil e mobilização nacional; controle da poluição;
XXIX - propaganda comercial. VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turís-
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Esta- tico e paisagístico;
dos a legislar sobre questões específicas das matérias relaciona- VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consu-
das neste artigo. midor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico
e paisagístico;
3) Competência organizacional-administrativa compartilhada IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia,
União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios com- pesquisa, desenvolvimento e inovação;
partilham certas competências organizacional-administrativas. Sig- X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas
nifica que qualquer dos entes federados poderá atuar, desenvolver causas;
políticas públicas, nestas áreas. Todas estas áreas são áreas que ne- XI - procedimentos em matéria processual;
cessitam de atuação intensa ou vigilância constantes, de modo que XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;
mediante gestão cooperada se torna possível efetivar o máximo XIII - assistência jurídica e Defensoria pública;
possível os direitos fundamentais em casa uma delas. XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de
deficiência;
Artigo 23, CF. É competência comum da União, dos Estados, do XV - proteção à infância e à juventude;
Distrito Federal e dos Municípios: XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias ci-
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições vis.
democráticas e conservar o patrimônio público; § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garan- União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
tia das pessoas portadoras de deficiência; § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor não exclui a competência suplementar dos Estados.
histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens natu- § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados
rais notáveis e os sítios arqueológicos; exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas pe-
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de culiaridades.
obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cul- § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais sus-
tural; pende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à
ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; O estudo das competências concorrentes permite vislumbrar
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qual- os limites da atuação conjunta entre União, Estados e Distrito Fede-
quer de suas formas; ral no modelo Federativo adotado no Brasil, visando à obtenção de
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; uma homogeneidade nacional, com preservação dos pluralismos
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abaste- regionais e locais.
cimento alimentar; O cerne da distinção da competência entre os entes federados
IX - promover programas de construção de moradias e a me- repousa na competência da União para o estabelecimento de nor-
lhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; mas gerais. A competência legislativa dos Estados-membros e dos
X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginali- Municípios nestas questões é suplementar, ou seja, as normas es-
zação, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos; taduais agregam detalhes que a norma da União não compreende,
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos notadamente trazendo peculiaridades regionais.
de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus No caso do artigo 24, CF, a União dita as normas gerais e as
territórios; normas suplementares ficam por conta dos Estados, ou seja, as pe-
XII - estabelecer e implantar política de educação para a segu- culiaridades regionais são normatizadas pelos Estados. As normas
rança do trânsito. estaduais, neste caso, devem guardar uma relação de compatibili-
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a dade com as normas federais (relação hierárquica). Diferentemente
cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Mu- da competência comum em que as leis estão em igualdade de con-
nicípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem- dições, uma não deve subordinação à outra.
-estar em âmbito nacional. Entretanto, os Estados não ficam impedidos de criar leis regu-
lamentadoras destas matérias enquanto a União não o faça. Sobre-
4) Competência legislativa compartilhada vindo norma geral reguladora, perdem a eficácia os dispositivos de
Além de compartilharem competências organizacional-admi- lei estadual com ela incompatível.
nistrativas, os entes federados compartilham competência para
legislar sobre determinadas matérias. Entretanto, excluem-se do 5) Limitações e regras mínimas aplicáveis à competência orga-
artigo 24, CF, os entes federados da espécie Município, sendo que nizacional-administrativa autônoma dos Estados-membros
estes apenas legislam sobre assuntos de interesse local. Artigo 25, CF. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Cons-
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal le- tituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Cons-
gislar concorrentemente sobre: tituição.
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e ur- § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes
banístico; sejam vedadas por esta Constituição.
53
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante con- 6) Limitações e regras mínimas aplicáveis à competência orga-
cessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, veda- nizacional-administrativa autônoma dos Municípios
da a edição de medida provisória para a sua regulamentação. Os Municípios gozam de autonomia no modelo federativo bra-
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir sileiro e, sendo assim, possuem capacidade de auto-organização,
regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, normatização e autogoverno.
constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para inte- Notadamente, mediante lei orgânica, conforme se extrai do ar-
grar a organização, o planejamento e a execução de funções públi- tigo 29, caput, CF, o Município se normatiza, devendo esta lei guar-
cas de interesse comum. dar compatibilidade tanto com a Constituição Federal quanto com
a respectiva Constituição estadual. O dispositivo mencionado traça,
O documento que está no ápice da estrutura normativa de um ainda, regras mínimas de estruturação do Poder Executivo e do Le-
Estado-membro é a Constituição estadual. Ela deve guardar compa- gislativo municipais.
tibilidade com a Constituição Federal, notadamente no que tange Por exemplo, só haverá eleição de segundo turno se o muni-
aos princípios nela estabelecidos, sob pena de ser considerada nor- cípio tiver mais de duzentos mil habitantes. Destaca-se, ainda, a
ma inconstitucional. exaustiva regra sobre o número de vereadores e a questão dos sub-
A competência do Estado é residual – tudo o que não obrigato- sídios. Incidente, também a regra sobre o julgamento do Prefeito
riamente deva ser regulamentado pela União ou pelos Municípios, pelo Tribunal de Justiça.
pode ser legislado pelo Estado-membro, sem prejuízo da já estuda- O artigo 29-A, CF, por seu turno, detalha os limites de despesas
da competência legislativa concorrente com a União. com o Poder Legislativo municipal, permitindo a responsabilização
O §3º do artigo 25 regulamenta a conurbação, que abrange do Prefeito e do Presidente da Câmara por violação a estes limites.
regiões metropolitanas (um município, a metrópole, está em desta-
que) e aglomerações urbanas (não há município em destaque), e as Artigo 29, CF. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada
microrregiões (não conurbadas, mas limítrofes, geralmente identifi- em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada
cada por bacias hidrográficas). por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promul-
A estrutura e a organização dos Poderes Legislativo e Executi- gará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na
vo no âmbito do Estado-membro é detalhada na Constituição es- Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:
tadual, mas os artigos 27e 28 trazem bases regulamentadoras que I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para
devem ser respeitadas. mandato de quatro anos, mediante pleito direto e simultâneo rea-
lizado em todo o País;
Artigo 27, CF. O número de Deputados à Assembleia Legislati- II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro
va corresponderá ao triplo da representação do Estado na Câmara domingo de outubro do ano anterior ao término do mandato dos
dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, será acrescido que devam suceder, aplicadas as regras do art. 77, no caso de Mu-
de tantos quantos forem os Deputados Federais acima de doze. nicípios com mais de duzentos mil eleitores;
§ 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, III - posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1º de janeiro do
aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema elei- ano subsequente ao da eleição;
toral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de man- IV - para a composição das Câmaras Municipais, será observa-
do o limite máximo de: (Vide ADIN 4307)
dato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas.
a) 9 (nove) Vereadores, nos Municípios de até 15.000 (quinze
§ 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei
mil) habitantes;
de iniciativa da Assembleia Legislativa, na razão de, no máximo,
b) 11 (onze) Vereadores, nos Municípios de mais de 15.000
setenta e cinco por cento daquele estabelecido, em espécie, para os
(quinze mil) habitantes e de até 30.000 (trinta mil) habitantes;
Deputados Federais, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57,
c) 13 (treze) Vereadores, nos Municípios com mais de 30.000
§ 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
(trinta mil) habitantes e de até 50.000 (cinquenta mil) habitantes;
§ 3º Compete às Assembleias Legislativas dispor sobre seu re-
d) 15 (quinze) Vereadores, nos Municípios de mais de 50.000
gimento interno, polícia e serviços administrativos de sua secreta- (cinquenta mil) habitantes e de até 80.000 (oitenta mil) habitantes;
ria, e prover os respectivos cargos. e) 17 (dezessete) Vereadores, nos Municípios de mais de 80.000
§ 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo legis- (oitenta mil) habitantes e de até 120.000 (cento e vinte mil) habi-
lativo estadual. tantes;
f) 19 (dezenove) Vereadores, nos Municípios de mais de 120.000
Artigo 28, CF. A eleição do Governador e do Vice-Governador (cento e vinte mil) habitantes e de até 160.000 (cento sessenta mil)
de Estado, para mandato de quatro anos, realizar-se-á no primeiro habitantes;
domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de g) 21 (vinte e um) Vereadores, nos Municípios de mais de
outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do tér- 160.000 (cento e sessenta mil) habitantes e de até 300.000 (trezen-
mino do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em pri- tos mil) habitantes;
meiro de janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais, h) 23 (vinte e três) Vereadores, nos Municípios de mais de
o disposto no art. 77. 300.000 (trezentos mil) habitantes e de até 450.000 (quatrocentos e
§ 1º Perderá o mandato o Governador que assumir outro cargo cinquenta mil) habitantes;
ou função na administração pública direta ou indireta, ressalvada i) 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de
a posse em virtude de concurso público e observado o disposto no 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes e de até 600.000
art. 38, I, IV e V. (seiscentos mil) habitantes;
§ 2º Os subsídios do Governador, do Vice-Governador e dos Se- j) 27 (vinte e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de
cretários de Estado serão fixados por lei de iniciativa da Assembleia 600.000 (seiscentos mil) habitantes e de até 750.000 (setecentos
Legislativa, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, cinquenta mil) habitantes;
II, 153, III, e 153, § 2º, I. k) 29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de
750.000 (setecentos e cinquenta mil) habitantes e de até 900.000
(novecentos mil) habitantes;
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
l) 31 (trinta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de VII - o total da despesa com a remuneração dos Vereadores
900.000 (novecentos mil) habitantes e de até 1.050.000 (um milhão não poderá ultrapassar o montante de cinco por cento da receita
e cinquenta mil) habitantes; do Município;
m) 33 (trinta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, pala-
1.050.000 (um milhão e cinquenta mil) habitantes e de até 1.200.000 vras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Muni-
(um milhão e duzentos mil) habitantes; cípio;
n) 35 (trinta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de IX - proibições e incompatibilidades, no exercício da verean-
1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes e de até 1.350.000 ça, similares, no que couber, ao disposto nesta Constituição para
(um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes; os membros do Congresso Nacional e na Constituição do respectivo
o) 37 (trinta e sete) Vereadores, nos Municípios de 1.350.000 Estado para os membros da Assembleia Legislativa;
(um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes e de até X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;
1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes; XI - organização das funções legislativas e fiscalizadoras da Câ-
p) 39 (trinta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais mara Municipal;
de 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes e de até XII - cooperação das associações representativas no planeja-
1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes; mento municipal;
q) 41 (quarenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico
de 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes e de até do Município, da cidade ou de bairros, através de manifestação de,
2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitantes; pelo menos, cinco por cento do eleitorado;
r) 43 (quarenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de XIV - perda do mandato do Prefeito, nos termos do art. 28,
2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitantes e de até parágrafo único (assumir outro cargo).
3.000.000 (três milhões) de habitantes;
s) 45 (quarenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de Artigo 29-A, CF. O total da despesa do Poder Legislativo Mu-
3.000.000 (três milhões) de habitantes e de até 4.000.000 (quatro nicipal, incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos os gastos
milhões) de habitantes; com inativos, não poderá ultrapassar os seguintes percentuais, re-
t) 47 (quarenta e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de lativos ao somatório da receita tributária e das transferências pre-
4.000.000 (quatro milhões) de habitantes e de até 5.000.000 (cinco vistas no § 5o do art. 153 e nos arts. 158 e 159, efetivamente reali-
milhões) de habitantes; zado no exercício anterior:
u) 49 (quarenta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais I - 7% (sete por cento) para Municípios com população de até
de 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes e de até 6.000.000 (seis 100.000 (cem mil) habitantes; (Redação dada pela Emenda Consti-
milhões) de habitantes; tuição Constitucional nº 58, de 2009) (Produção de efeito)
v) 51 (cinquenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de II - 6% (seis por cento) para Municípios com população entre
6.000.000 (seis milhões) de habitantes e de até 7.000.000 (sete mi- 100.000 (cem mil) e 300.000 (trezentos mil) habitantes;
lhões) de habitantes; III - 5% (cinco por cento) para Municípios com população entre
w) 53 (cinquenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais 300.001 (trezentos mil e um) e 500.000 (quinhentos mil) habitantes;
de 7.000.000 (sete milhões) de habitantes e de até 8.000.000 (oito IV - 4,5% (quatro inteiros e cinco décimos por cento) para
milhões) de habitantes; e Municípios com população entre 500.001 (quinhentos mil e um) e
x) 55 (cinquenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 3.000.000 (três milhões) de habitantes;
8.000.000 (oito milhões) de habitantes; V - 4% (quatro por cento) para Municípios com população entre
V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretários 3.000.001 (três milhões e um) e 8.000.000 (oito milhões) de habi-
Municipais fixados por lei de iniciativa da Câmara Municipal, ob- tantes;
servado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e VI - 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) para Muni-
153, § 2º, I; cípios com população acima de 8.000.001 (oito milhões e um) ha-
VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respectivas Câ- bitantes.
maras Municipais em cada legislatura para a subsequente, obser- § 1o A Câmara Municipal não gastará mais de setenta por cen-
vado o que dispõe esta Constituição, observados os critérios estabe- to de sua receita com folha de pagamento, incluído o gasto com o
lecidos na respectiva Lei Orgânica e os seguintes limites máximos: subsídio de seus Vereadores.
a) em Municípios de até dez mil habitantes, o subsídio máximo § 2o Constitui crime de responsabilidade do Prefeito Municipal:
dos Vereadores corresponderá a vinte por cento do subsídio dos De- I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste artigo;
putados Estaduais; II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou
b) em Municípios de dez mil e um a cinquenta mil habitantes, o III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei Or-
subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a trinta por cento çamentária.
do subsídio dos Deputados Estaduais; § 3o Constitui crime de responsabilidade do Presidente da Câ-
c) em Municípios de cinquenta mil e um a cem mil habitantes, mara Municipal o desrespeito ao § 1o deste artigo.
o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a quarenta por As competências legislativas e administrativas dos municípios
cento do subsídio dos Deputados Estaduais; estão fixadas no artigo 30, CF. Quanto à competência legislativa, é
d) em Municípios de cem mil e um a trezentos mil habitantes, suplementar, garantindo o direito de legislar sobre assuntos de in-
o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a cinquenta por teresse local.
cento do subsídio dos Deputados Estaduais; Artigo 30, CF. Compete aos Municípios:
e) em Municípios de trezentos mil e um a quinhentos mil habi- I - legislar sobre assuntos de interesse local;
tantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a sessenta II - suplementar a legislação federal e a estadual no que cou-
por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; ber;
f) em Municípios de mais de quinhentos mil habitantes, o sub- III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem
sídio máximo dos Vereadores corresponderá a setenta e cinco por como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de pres-
cento do subsídio dos Deputados Estaduais; tar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;
55
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação § 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se o
estadual; disposto no art. 27.
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de conces- § 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do Dis-
são ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o trito Federal, das polícias civil e militar e do corpo de bombeiros
de transporte coletivo, que tem caráter essencial; militar.
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União
e do Estado, programas de educação infantil e de ensino funda- Artigo 33, CF. A lei disporá sobre a organização administrativa
mental; e judiciária dos Territórios.
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e § 1º Os Territórios poderão ser divididos em Municípios, aos
do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; quais se aplicará, no que couber, o disposto no Capítulo IV deste
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territo- Título.
rial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e § 2º As contas do Governo do Território serão submetidas ao
da ocupação do solo urbano; Congresso Nacional, com parecer prévio do Tribunal de Contas da
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural lo- União.
cal, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. § 3º Nos Territórios Federais com mais de cem mil habitantes,
A fiscalização dos Municípios se dá tanto no âmbito interno além do Governador nomeado na forma desta Constituição, haverá
quanto no externo. Externamente, é exercida pelo Poder Legislativo órgãos judiciários de primeira e segunda instância, membros do Mi-
com auxílio de Tribunal de Contas. A constituição, no artigo 31, CF, nistério Público e defensores públicos federais; a lei disporá sobre as
veda a criação de novos Tribunais de Contas municipais, mas não eleições para a Câmara Territorial e sua competência deliberativa.
extingue os já existentes.
Artigo 31, CF. A fiscalização do Município será exercida pelo Intervenção
Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sis- A intervenção consiste no afastamento temporário das prer-
temas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma rogativas totais ou parciais próprias da autonomia dos entes fede-
da lei. rados, por outro ente federado, prevalecendo a vontade do ente
§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido interventor. Neste sentido, necessária a verificação de:
com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Municí- a) Pressupostos materiais – requisitos a serem verificados
pio ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde quanto ao atendimento de uma das justificativas para a interven-
houver. ção.
§ 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre b) Pressupostos processuais – requisitos para que o ato da in-
as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de tervenção seja válido, como prazo, abrangência, condições, além da
prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara autorização do Poder Legislativo (artigo 36, CF).
Municipal. A intervenção pode ser federal, quando a União interfere nos
§ 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias, Estados e no Distrito Federal (artigo 34, CF), ou estadual, quando os
anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e Estados-membros interferem em seus Municípios (artigo 35, CF).
apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos ter- Artigo 34, CF. A União não intervirá nos Estados nem no Distri-
mos da lei. to Federal, exceto para:
§ 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de I - manter a integridade nacional;
Contas Municipais. II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federa-
ção em outra;
7) Peculiaridades da competência organizacional-administra- III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;
tiva do Distrito Federal e Territórios IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas uni-
O Distrito Federal não se divide em Municípios, mas em re- dades da Federação;
giões administrativas. Se regulamenta por lei orgânica, mas esta lei V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
orgânica aproxima-se do status de Constituição estadual, cabendo a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois
controle de constitucionalidade direto de leis que a contrariem pelo anos consecutivos, salvo motivo de força maior;
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas
O Distrito Federal possui um governador e uma Câmara Legis- nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;
lativa, eleitos na forma dos governadores e deputados estaduais. VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
Entretanto, não tem eleições municipais. O Distrito Federal tem 3 VII - assegurar a observância dos seguintes princípios consti-
senadores, 8 deputados federais e 24 deputados distritais. tucionais:
Quanto aos territórios, não existem hoje no país, mas se vierem a) forma republicana, sistema representativo e regime demo-
a existir serão nomeados pelo Presidente da República. crático;
b) direitos da pessoa humana;
Artigo 32, CF. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Muni- c) autonomia municipal;
cípios, reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com in- d) prestação de contas da administração pública, direta e in-
terstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara direta.
Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios estabeleci- e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impos-
dos nesta Constituição. tos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na
§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legisla- manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços
tivas reservadas aos Estados e Municípios. públicos de saúde”.
§ 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador, observa-
das as regras do art. 77, e dos Deputados Distritais coincidirá com a Artigo 35, CF. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem
dos Governadores e Deputados Estaduais, para mandato de igual a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto
duração. quando:
56
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos veredito da Corte Excelsa, autorizando o ato interventivo simples-
consecutivos, a dívida fundada; mente acata o resultado do veredito da Corte Excelsa, autorizando
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei; o ato interventivo.”.
III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita muni-
cipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e Por fim temos a provocada, dependendo de provimento de re-
serviços públicos de saúde; presentação, dita assim por Pedro Lenza: “a) art.,, combinado com o
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para art.,, primeira parte no caso de ofensa aos princípios constitucionais
assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Es- sensíveis, previstos no art.,, da, a intervenção federal dependerá de
tadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão provimento, pelo STF, de representação do Procurador-Geral da Re-
judicial”. pública, b) art. 34, VI, primeira parte, combinado com o art. 36, III,
Artigo 36, CF. A decretação da intervenção dependerá: segunda parte para prover a execução de lei federal (pressupondo
I - no caso do art. 34, IV (livre exercício dos Poderes), de solicita- ter havido recusa à execução de lei federal), a intervenção depen-
ção do Poder Legislativo ou do Poder Executivo coacto ou impedi- derá de provimento de representação do Procurador-Geral da Re-
do, ou de requisição do Supremo Tribunal Federal, se a coação for pública pelo STF (EC n./2004 e trata-se, também, de representação
exercida contra o Poder Judiciário; interventiva, regulamentada pela Lei n. 12562/2011).”
II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, de
requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Após o decreto expedido pelo Presidente da República, o Congres-
Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral; so fará o Controle Politico, aprovado ou rejeitando a Intervenção Fe-
III de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de represen- deral. Mediante rejeição, o Presidente deverá cessá-lo imediatamente,
tação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII sob pena de cometer crime de Responsabilidade, nos ditames do art.
(observância de princípios constitucionais), e no caso de recusa à 85, II (atentado contra os Poderes constitucionais do Estado).
execução de lei federal.
§ 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, Aprovada a Intervenção, o Presidente nomeará um Interventor,
o prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará o afastando, até que volte para a normalidade, as autoridades envol-
vidas. Não havendo mais motivos para a intervenção, estes poderão
interventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacional
ter seus cargos restabelecidos, salvo algum impedimento legal (art.
ou da Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro
36, § 4.º).
horas.
§ 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional ou a As-
1) Princípios da Administração Pública
sembleia Legislativa, far-se-á convocação extraordinária, no mes-
Os valores éticos inerentes ao Estado, os quais permitem que
mo prazo de vinte e quatro horas.
ele consolide o bem comum e garanta a preservação dos interesses
§ 3º Nos casos do art. 34, VI e VII (execução de decisão/lei fe-
da coletividade, se encontram exteriorizados em princípios e regras.
deral e violação de certos princípios constitucionais), ou do art. 35, Estes, por sua vez, são estabelecidos na Constituição Federal e em
IV (idem com relação à intervenção em municípios), dispensada a legislações infraconstitucionais, a exemplo das que serão estudadas
apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislati- neste tópico, quais sejam: Decreto n° 1.171/94, Lei n° 8.112/90 e
va, o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato impug- Lei n° 8.429/92.
nado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade. Todas as diretivas de leis específicas sobre a ética no setor pú-
§ 4º Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afas- blico partem da Constituição Federal, que estabelece alguns princípios
tadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal. fundamentais para a ética no setor público. Em outras palavras, é o
Espécies de Intervenção federal: texto constitucional do artigo 37, especialmente o caput, que permite
Existem algumas espécies de Intervenção Federal: a espontâ- a compreensão de boa parte do conteúdo das leis específicas, porque
nea, na qual o Presidente da República age por oficio e a provocada possui um caráter amplo ao preconizar os princípios fundamentais da
por solicitação, quando o impedimento recair sobre o legislativo. administração pública. Estabelece a Constituição Federal:
A Intervenção espontânea pode ser feita a qualquer momento Artigo 37, CF. A administração pública direta e indireta de qual-
quando há algum dos motivos do art. 34, I, II, III e V, CF. Já a pro- quer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
vocada dependerá de solicitação do Poder Legislativo ou do Poder Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
Executivo coacto ou impedido, como preconiza o art. 34, IV, com- moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...]
binado com o art. 36, I, primeira parte. Uma boa observação a ser
quanto à Intervenção Provocada feita é que o Presidente pode agir São princípios da administração pública, nesta ordem:
arbitrariamente, por força conveniência e oportunidade de decretar Legalidade
o ato interventivo, tratando-se, assim, de um Poder Discricionário. Impessoalidade
Moralidade
Há, ainda, a requisitada, que nas palavras de Uadi Lammêgo Publicidade
Bulos é “decretada pelo residente da República, que se limita a sus- Eficiência
pender a execução do ato impugnado, estabelecendo a duração e
os parâmetros da medida interventiva. Essa espécie de intervenção Para memorizar: veja que as iniciais das palavras formam o vo-
inadmite controle politico por parte do Congresso Nacional, poden- cábulo LIMPE, que remete à limpeza esperada da Administração Pú-
do ser requisitada: (i) pelo STF, nas hipóteses de garantia do próprio blica. É de fundamental importância um olhar atento ao significado
Poder Judiciário (, art.,, c/c o art.,, 211 parte); ou (ii) pelo STF, STJ de cada um destes princípios, posto que eles estruturam todas as
ou TSE, para preservar a autoridade das ordens e decisões judi- regras éticas prescritas no Código de Ética e na Lei de Improbidade
ciais (, art.,, 211 parte, c/c o art.,). Na intervenção por requisição, Administrativa, tomando como base os ensinamentos de Carvalho
o Presidente da República age de modo vinculado, ou seja, deve- Filho2 e Spitzcovsky3:
rá, necessariamente, decretar o ato interventivo, exceto se for caso
2 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 23. ed.
de suspensão da executoriedade do ato impugnado (, art.,). Desse
Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
modo, o Presidente da República simplesmente acata o resultado do
3 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Método, 2011.
57
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
a) Princípio da legalidade: Para o particular, legalidade significa II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a infor-
a permissão de fazer tudo o que a lei não proíbe. Contudo, como mações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X
a administração pública representa os interesses da coletividade, ela e XXXIII;
se sujeita a uma relação de subordinação, pela qual só poderá fazer o III - a disciplina da representação contra o exercício negligente
que a lei expressamente determina (assim, na esfera estatal, é preciso ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública.
lei anterior editando a matéria para que seja preservado o princípio da
legalidade). A origem deste princípio está na criação do Estado de Direi- e) Princípio da eficiência: A administração pública deve man-
to, no sentido de que o próprio Estado deve respeitar as leis que dita. ter o ampliar a qualidade de seus serviços com controle de gastos.
b) Princípio da impessoalidade: Por força dos interesses que Isso envolve eficiência ao contratar pessoas (o concurso público
representa, a administração pública está proibida de promover seleciona os mais qualificados ao exercício do cargo), ao manter
discriminações gratuitas. Discriminar é tratar alguém de forma di- tais pessoas em seus cargos (pois é possível exonerar um servidor
ferente dos demais, privilegiando ou prejudicando. Segundo este público por ineficiência) e ao controlar gastos (limitando o teto de
princípio, a administração pública deve tratar igualmente todos remuneração), por exemplo. O núcleo deste princípio é a procura
aqueles que se encontrem na mesma situação jurídica (princípio por produtividade e economicidade. Alcança os serviços públicos
da isonomia ou igualdade). Por exemplo, a licitação reflete a im- e os serviços administrativos internos, se referindo diretamente à
pessoalidade no que tange à contratação de serviços. O princípio conduta dos agentes.
da impessoalidade correlaciona-se ao princípio da finalidade, pelo Além destes cinco princípios administrativo-constitucionais
qual o alvo a ser alcançado pela administração pública é somente diretamente selecionados pelo constituinte, podem ser apontados
o interesse público. Com efeito, o interesse particular não pode in- como princípios de natureza ética relacionados à função pública a
fluenciar no tratamento das pessoas, já que deve-se buscar somen- probidade e a motivação:
te a preservação do interesse coletivo. a) Princípio da probidade: um princípio constitucional incluído
c) Princípio da moralidade: A posição deste princípio no artigo dentro dos princípios específicos da licitação, é o dever de todo o
37 da CF representa o reconhecimento de uma espécie de morali- administrador público, o dever de honestidade e fidelidade com o
dade administrativa, intimamente relacionada ao poder público. A Estado, com a população, no desempenho de suas funções. Possui
administração pública não atua como um particular, de modo que contornos mais definidos do que a moralidade. Diógenes Gasparini4
enquanto o descumprimento dos preceitos morais por parte deste alerta que alguns autores tratam veem como distintos os princípios
particular não é punido pelo Direito (a priori), o ordenamento jurí- da moralidade e da probidade administrativa, mas não há carac-
dico adota tratamento rigoroso do comportamento imoral por par- terísticas que permitam tratar os mesmos como procedimentos
te dos representantes do Estado. O princípio da moralidade deve distintos, sendo no máximo possível afirmar que a probidade ad-
se fazer presente não só para com os administrados, mas também ministrativa é um aspecto particular da moralidade administrativa.
no âmbito interno. Está indissociavelmente ligado à noção de bom b) Princípio da motivação: É a obrigação conferida ao admi-
administrador, que não somente deve ser conhecedor da lei, mas nistrador de motivar todos os atos que edita, gerais ou de efeitos
também dos princípios éticos regentes da função administrativa. concretos. É considerado, entre os demais princípios, um dos mais
TODO ATO IMORAL SERÁ DIRETAMENTE ILEGAL OU AO MENOS IM- importantes, uma vez que sem a motivação não há o devido pro-
PESSOAL, daí a intrínseca ligação com os dois princípios anteriores. cesso legal, uma vez que a fundamentação surge como meio inter-
d) Princípio da publicidade: A administração pública é obriga- pretativo da decisão que levou à prática do ato impugnado, sendo
da a manter transparência em relação a todos seus atos e a todas verdadeiro meio de viabilização do controle da legalidade dos atos
informações armazenadas nos seus bancos de dados. Daí a publica- da Administração.
ção em órgãos da imprensa e a afixação de portarias. Por exemplo, Motivar significa mencionar o dispositivo legal aplicável ao caso
a própria expressão concurso público (art. 37, II, CF) remonta ao concreto e relacionar os fatos que concretamente levaram à aplica-
ideário de que todos devem tomar conhecimento do processo sele- ção daquele dispositivo legal. Todos os atos administrativos devem
tivo de servidores do Estado. Diante disso, como será visto, se negar ser motivados para que o Judiciário possa controlar o mérito do ato
indevidamente a fornecer informações ao administrado caracteriza administrativo quanto à sua legalidade. Para efetuar esse controle,
ato de improbidade administrativa. devem ser observados os motivos dos atos administrativos.
No mais, prevê o §1º do artigo 37, CF, evitando que o princípio Em relação à necessidade de motivação dos atos administra-
da publicidade seja deturpado em propaganda político-eleitoral: tivos vinculados (aqueles em que a lei aponta um único comporta-
mento possível) e dos atos discricionários (aqueles que a lei, dentro
Artigo 37, §1º, CF. A publicidade dos atos, programas, obras, dos limites nela previstos, aponta um ou mais comportamentos
serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter edu- possíveis, de acordo com um juízo de conveniência e oportunida-
cativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo de), a doutrina é uníssona na determinação da obrigatoriedade de
constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção motivação com relação aos atos administrativos vinculados; toda-
pessoal de autoridades ou servidores públicos. via, diverge quanto à referida necessidade quanto aos atos discri-
cionários.
Somente pela publicidade os indivíduos controlarão a legali- Meirelles5 entende que o ato discricionário, editado sob os li-
dade e a eficiência dos atos administrativos. Os instrumentos para mites da Lei, confere ao administrador uma margem de liberdade
proteção são o direito de petição e as certidões (art. 5°, XXXIV, CF), para fazer um juízo de conveniência e oportunidade, não sendo ne-
além do habeas data e - residualmente - do mandado de segurança. cessária a motivação. No entanto, se houver tal fundamentação, o
Neste viés, ainda, prevê o artigo 37, CF em seu §3º: ato deverá condicionar-se a esta, em razão da necessidade de ob-
Artigo 37, §3º, CF. A lei disciplinará as formas de participação servância da Teoria dos Motivos Determinantes. O entendimento
do usuário na administração pública direta e indireta, regulando majoritário da doutrina, porém, é de que, mesmo no ato discricio-
especialmente: nário, é necessária a motivação para que se saiba qual o caminho
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos
em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento 4GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade 5MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros,
dos serviços; 1993.
58
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
adotado pelo administrador. Gasparini6, com respaldo no art. 50 Prevê o artigo 12 da Lei nº 8.112/1990:
da Lei n. 9.784/98, aponta inclusive a superação de tais discussões Artigo 12, Lei nº 8.112/1990. O concurso público terá validade
doutrinárias, pois o referido artigo exige a motivação para todos de até 2 (dois) anos, podendo ser prorrogado uma única vez, por
os atos nele elencados, compreendendo entre estes, tanto os atos igual período.
discricionários quanto os vinculados. §1º O prazo de validade do concurso e as condições de sua rea-
lização serão fixados em edital, que será publicado no Diário Oficial
2) Regras mínimas sobre direitos e deveres dos servidores da União e em jornal diário de grande circulação.
O artigo 37 da Constituição Federal estabelece os princípios § 2º Não se abrirá novo concurso enquanto houver candidato
da administração pública estudados no tópico anterior, aos quais aprovado em concurso anterior com prazo de validade não expira-
estão sujeitos servidores de quaisquer dos Poderes em qualquer do.
das esferas federativas, e, em seus incisos, regras mínimas sobre o
serviço público: O edital delimita questões como valor da taxa de inscrição,
casos de isenção, número de vagas e prazo de validade. Havendo
Artigo 37, I, CF. Os cargos, empregos e funções públicas são candidatos aprovados na vigência do prazo do concurso, ele deve
acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabeleci- ser chamado para assumir eventual vaga e não ser realizado novo
dos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei. concurso.
Aprofundando a questão, tem-se o artigo 5º da Lei nº Destaca-se que o §2º do artigo 37, CF, prevê:
8.112/1990, que prevê: Artigo 37, §2º, CF. A não-observância do disposto nos incisos II
Artigo 5º, Lei nº 8.112/1990. São requisitos básicos para inves- e III implicará a nulidade do ato e a punição da autoridade respon-
tidura em cargo público: sável, nos termos da lei.
I - a nacionalidade brasileira; Com efeito, há tratamento rigoroso da responsabilização da-
II - o gozo dos direitos políticos; quele que viola as diretrizes mínimas sobre o ingresso no serviço
III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais; público, que em regra se dá por concurso de provas ou de provas
IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo; e títulos.
V - a idade mínima de dezoito anos; Artigo 37, V, CF. As funções de confiança, exercidas exclusiva-
VI - aptidão física e mental. mente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em
§ 1º As atribuições do cargo podem justificar a exigência de comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos ca-
outros requisitos estabelecidos em lei. [...] sos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se
§ 3º As universidades e instituições de pesquisa científica e apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento.
tecnológica federais poderão prover seus cargos com professores,
técnicos e cientistas estrangeiros, de acordo com as normas e os Observa-se o seguinte quadro comparativo7:
procedimentos desta Lei.
Função de Confiança Cargo em Comissão
Destaca-se a exceção ao inciso I do artigo 5° da Lei nº 8.112/1990
e do inciso I do artigo 37, CF, prevista no artigo 207 da Constituição, Exercidas exclusivamente por Qualquer pessoa, observado
permitindo que estrangeiros assumam cargos no ramo da pesquisa, servidores ocupantes de cargo o percentual mínimo
ciência e tecnologia. efetivo. reservado ao servidor de
Artigo 37, II, CF. A investidura em cargo ou emprego público carreira.
depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou Com concurso público, já que Sem concurso público,
de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do somente pode exercê-la o ressalvado o percentual
cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomea- servidor de cargo efetivo, mas mínimo reservado ao
ções para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação a função em si não prescindível servidor de carreira.
e exoneração. de concurso público.
Preconiza o artigo 10 da Lei nº 8.112/1990:
Artigo 10, Lei nº 8.112/90. A nomeação para cargo de carreira Somente são conferidas É atribuído posto (lugar)
ou cargo isolado de provimento efetivo depende de prévia habilita- atribuições e responsabilidade num dos quadros da
ção em concurso público de provas ou de provas e títulos, obedeci- Administração Pública,
dos a ordem de classificação e o prazo de sua validade. conferida atribuições e
Parágrafo único. Os demais requisitos para o ingresso e o de- responsabilidade àquele que
senvolvimento do servidor na carreira, mediante promoção, serão irá ocupá-lo
estabelecidos pela lei que fixar as diretrizes do sistema de carreira Destinam-se apenas às Destinam-se apenas às
na Administração Pública Federal e seus regulamentos. atribuições de direção, chefia e atribuições de direção, chefia
No concurso de provas o candidato é avaliado apenas pelo seu assessoramento e assessoramento
desempenho nas provas, ao passo que nos concursos de provas e
títulos o seu currículo em toda sua atividade profissional também De livre nomeação e De livre nomeação e
é considerado. Cargo em comissão é o cargo de confiança, que não exoneração no que se refere exoneração
exige concurso público, sendo exceção à regra geral. à função e não em relação ao
Artigo 37, III, CF. O prazo de validade do concurso público será cargo efetivo.
de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual período.
Artigo 37, IV, CF. Durante o prazo improrrogável previsto no Artigo 37, VI, CF. É garantido ao servidor público civil o direito à
edital de convocação, aquele aprovado em concurso público de pro- livre associação sindical.
vas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre
novos concursados para assumir cargo ou emprego, na carreira. 7 http://direitoemquadrinhos.blogspot.com.br/2011/03/quadro-comparati-
6GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004. vo-funcao-de-confianca.html
59
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
A liberdade de associação é garantida aos servidores públicos ressalvados os cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os
tal como é garantida a todos na condição de direito individual e de cargos eletivos e os cargos em comissão declarados em lei de livre
direito social. nomeação e exoneração.
Artigo 37, VII, CF. O direito de greve será exercido nos termos e
nos limites definidos em lei específica. Sobre a questão, disciplina a Lei nº 8.112/1990 nos artigos 40
e 41:
O Supremo Tribunal Federal decidiu que os servidores públicos Art. 40. Vencimento é a retribuição pecuniária pelo exercício de
possuem o direito de greve, devendo se atentar pela preservação cargo público, com valor fixado em lei.
da sociedade quando exercê-lo. Enquanto não for elaborada uma Art. 41. Remuneração é o vencimento do cargo efetivo, acres-
legislação específica para os funcionários públicos, deverá ser obe- cido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei.
decida a lei geral de greve para os funcionários privados, qual seja a § 1º A remuneração do servidor investido em função ou cargo
Lei n° 7.783/89 (Mandado de Injunção nº 20). em comissão será paga na forma prevista no art. 62.
Artigo 37, VIII, CF. A lei reservará percentual dos cargos e em- § 2º O servidor investido em cargo em comissão de órgão ou
pregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e defini- entidade diversa da de sua lotação receberá a remuneração de
rá os critérios de sua admissão. acordo com o estabelecido no § 1º do art. 93.
§ 3º O vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens de
Neste sentido, o §2º do artigo 5º da Lei nº 8.112/1990: caráter permanente, é irredutível.
Artigo 5º, Lei nº 8.112/90. Às pessoas portadoras de deficiên- § 4º É assegurada a isonomia de vencimentos para cargos de
cia é assegurado o direito de se inscrever em concurso público para atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder, ou entre ser-
provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a de- vidores dos três Poderes, ressalvadas as vantagens de caráter indi-
ficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas vidual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho.
até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso. § 5º Nenhum servidor receberá remuneração inferior ao salá-
rio mínimo.
Prossegue o artigo 37, CF:
Artigo 37, IX, CF. A lei estabelecerá os casos de contratação por Ainda, o artigo 37 da Constituição:
tempo determinado para atender a necessidade temporária de ex- Artigo 37, XI, CF. A remuneração e o subsídio dos ocupantes
cepcional interesse público. de cargos, funções e empregos públicos da administração direta,
autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes
A Lei nº 8.745/1993 regulamenta este inciso da Constituição, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos
definindo a natureza da relação estabelecida entre o servidor con- detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os
tratado e a Administração Pública, para atender à “necessidade proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos
temporária de excepcional interesse público”. cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de
“Em se tratando de relação subordinada, isto é, de relação que qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal,
comporta dependência jurídica do servidor perante o Estado, duas em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplican-
opções se ofereciam: ou a relação seria trabalhista, agindo o Es- do-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos
tado iure gestionis, sem usar das prerrogativas de Poder Público, Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no
ou institucional, estatutária, preponderando o ius imperii do Esta- âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e
do. Melhor dizendo: o sistema preconizado pela Carta Política de Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desem-
1988 é o do contrato, que tanto pode ser trabalhista (inserindo-se bargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e
na esfera do Direito Privado) quanto administrativo (situando-se no vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em es-
campo do Direito Público). [...] Uma solução intermediária não dei- pécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do
xa, entretanto, de ser legítima. Pode-se, com certeza, abonar um Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério
sistema híbrido, eclético, no qual coexistam normas trabalhistas e Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos.
estatutárias, pondo-se em contiguidade os vínculos privado e admi-
nistrativo, no sentido de atender às exigências do Estado moderno, Artigo 37, XII, CF. Os vencimentos dos cargos do Poder Legis-
que procura alcançar os seus objetivos com a mesma eficácia dos lativo e do Poder Judiciário não poderão ser superiores aos pagos
empreendimentos não-governamentais”8. pelo Poder Executivo.
Artigo 37, X, CF. A remuneração dos servidores públicos e o Prevê a Lei nº 8.112/1990 em seu artigo 42:
subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados Artigo 42, Lei nº 8.112/90. Nenhum servidor poderá perce-
ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em ber, mensalmente, a título de remuneração, importância superior
cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e à soma dos valores percebidos como remuneração, em espécie, a
sem distinção de índices. qualquer título, no âmbito dos respectivos Poderes, pelos Minis-
Artigo 37, XV, CF. O subsídio e os vencimentos dos ocupantes tros de Estado, por membros do Congresso Nacional e Ministros do
de cargos e empregos públicos são irredutíveis, ressalvado o dis- Supremo Tribunal Federal. Parágrafo único. Excluem-se do teto de
posto nos incisos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II, remuneração as vantagens previstas nos incisos II a VII do art. 61.
153, III, e 153, § 2º, I. Com efeito, os §§ 11 e 12 do artigo 37, CF tecem aprofunda-
Artigo 37, §10, CF. É vedada a percepção simultânea de pro- mentos sobre o mencionado inciso XI:
ventos de aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 Artigo 37, § 11, CF. Não serão computadas, para efeito dos li-
e 142 com a remuneração de cargo, emprego ou função pública, mites remuneratórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo,
as parcelas de caráter indenizatório previstas em lei.
8 VOGEL NETO, Gustavo Adolpho. Contratação de servidores para atender a ne-
Artigo 37, § 12, CF. Para os fins do disposto no inciso XI do caput
cessidade temporária de excepcional interesse público. Disponível em: <http://
deste artigo, fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar,
www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_39/Artigos/Art_Gustavo.htm>.
em seu âmbito, mediante emenda às respectivas Constituições e
Acesso em: 23 dez. 2014.
60
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Lei Orgânica, como limite único, o subsídio mensal dos Desembar- Art. 119, Lei nº 8.112/1990. O servidor não poderá exercer
gadores do respectivo Tribunal de Justiça, limitado a noventa in- mais de um cargo em comissão, exceto no caso previsto no pará-
teiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal dos grafo único do art. 9o, nem ser remunerado pela participação em
Ministros do Supremo Tribunal Federal, não se aplicando o disposto órgão de deliberação coletiva.
neste parágrafo aos subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica à remu-
e dos Vereadores. neração devida pela participação em conselhos de administração e
Por seu turno, o artigo 37 quanto à vinculação ou equiparação fiscal das empresas públicas e sociedades de economia mista, suas
salarial: subsidiárias e controladas, bem como quaisquer empresas ou enti-
Artigo 37, XIII, CF. É vedada a vinculação ou equiparação de dades em que a União, direta ou indiretamente, detenha participa-
quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração ção no capital social, observado o que, a respeito, dispuser legisla-
de pessoal do serviço público. ção específica.
Os padrões de vencimentos são fixados por conselho de políti-
ca de administração e remuneração de pessoal, integrado por ser- Art. 120, Lei nº 8.112/1990. O servidor vinculado ao regime
vidores designados pelos respectivos Poderes (artigo 39, caput e § desta Lei, que acumular licitamente dois cargos efetivos, quando
1º), sem qualquer garantia constitucional de tratamento igualitário investido em cargo de provimento em comissão, ficará afastado de
aos cargos que se mostrem similares. ambos os cargos efetivos, salvo na hipótese em que houver compa-
Artigo 37, XIV, CF. Os acréscimos pecuniários percebidos por tibilidade de horário e local com o exercício de um deles, declarada
servidor público não serão computados nem acumulados para fins pelas autoridades máximas dos órgãos ou entidades envolvidos.
de concessão de acréscimos ulteriores.
A preocupação do constituinte, ao implantar tal preceito, foi “Os artigos 118 a 120 da Lei nº 8.112/90 ao tratarem da acu-
de que não eclodisse no sistema remuneratório dos servidores, ou mulação de cargos e funções públicas, regulamentam, no âmbito
seja, evitar que se utilize uma vantagem como base de cálculo de do serviço público federal a vedação genérica constante do art. 37,
um outro benefício. Dessa forma, qualquer gratificação que venha incisos VXI e XVII, da Constituição da República. De fato, a acumu-
a ser concedida ao servidor só pode ter como base de cálculo o pró- lação ilícita de cargos públicos constitui uma das infrações mais co-
prio vencimento básico. É inaceitável que se leve em consideração muns praticadas por servidores públicos, o que se constata obser-
outra vantagem até então percebida. vando o elevado número de processos administrativos instaurados
Artigo 37, XVI, CF. É vedada a acumulação remunerada de car- com esse objeto. O sistema adotado pela Lei nº 8.112/90 é relativa-
gos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, mente brando, quando cotejado com outros estatutos de alguns Es-
observado em qualquer caso o disposto no inciso XI: tados, visto que propicia ao servidor incurso nessa ilicitude diversas
a) a de dois cargos de professor; oportunidades para regularizar sua situação e escapar da pena de
b) a de um cargo de professor com outro, técnico ou científico; demissão. Também prevê a lei em comentário, um processo admi-
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de nistrativo simplificado (processo disciplinar de rito sumário) para a
saúde, com profissões regulamentadas. apuração dessa infração – art. 133” 10.
Artigo 37, XVIII, CF. A administração fazendária e seus servido-
Artigo 37, XVII, CF. A proibição de acumular estende-se a em- res fiscais terão, dentro de suas áreas de competência e jurisdição,
pregos e funções e abrange autarquias, fundações, empresas pú- precedência sobre os demais setores administrativos, na forma da
blicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias, e socieda- lei.
des controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público.
Artigo 37, XXII, CF. As administrações tributárias da União, dos
Segundo Carvalho Filho9, “o fundamento da proibição é impe- Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais
dir que o cúmulo de funções públicas faça com que o servidor não ao funcionamento do Estado, exercidas por servidores de carreiras
execute qualquer delas com a necessária eficiência. Além disso, po- específicas, terão recursos prioritários para a realização de suas
rém, pode-se observar que o Constituinte quis também impedir a atividades e atuarão de forma integrada, inclusive com o compar-
cumulação de ganhos em detrimento da boa execução de tarefas tilhamento de cadastros e de informações fiscais, na forma da lei
públicas. [...] Nota-se que a vedação se refere à acumulação remu- ou convênio.
nerada. Em consequência, se a acumulação só encerra a percepção
de vencimentos por uma das fontes, não incide a regra constitucio- “O Estado tem como finalidade essencial a garantia do bem-
nal proibitiva”. -estar de seus cidadãos, seja através dos serviços públicos que dis-
A Lei nº 8.112/1990 regulamenta intensamente a questão: ponibiliza, seja através de investimentos na área social (educação,
Artigo 118, Lei nº 8.112/1990. Ressalvados os casos previstos saúde, segurança pública). Para atingir esses objetivos primários,
na Constituição, é vedada a acumulação remunerada de cargos deve desenvolver uma atividade financeira, com o intuito de obter
públicos. recursos indispensáveis às necessidades cuja satisfação se compro-
§ 1o A proibição de acumular estende-se a cargos, empregos meteu quando estabeleceu o “pacto” constitucional de 1988. [...]
e funções em autarquias, fundações públicas, empresas públicas, A importância da Administração Tributária foi reconhecida ex-
sociedades de economia mista da União, do Distrito Federal, dos pressamente pelo constituinte que acrescentou, no artigo 37 da
Estados, dos Territórios e dos Municípios. Carta Magna, o inciso XVIII, estabelecendo a sua precedência e de
§ 2o A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condiciona- seus servidores sobre os demais setores da Administração Pública,
da à comprovação da compatibilidade de horários. dentro de suas áreas de competência”11.
§ 3o Considera-se acumulação proibida a percepção de venci-
mento de cargo ou emprego público efetivo com proventos da ina-
10 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos Servidores Públicos da União.
tividade, salvo quando os cargos de que decorram essas remunera-
Disponível em: <http://www.canaldosconcursos.com.br/artigos/almirmorga-
ções forem acumuláveis na atividade.
do_artigo1.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2013.
9CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 23. ed. 11 http://www.sindsefaz.org.br/parecer_administracao_tributaria_sao_paulo.
Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. htm
61
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Artigo 37, XIX, CF. Somente por lei específica poderá ser criada ou Municipal, ou seja todos os entes federativos. De forma mais
autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de socie- simples, podemos dizer que o governo deve comprar e contratar
dade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complemen- serviços seguindo regras de lei, assim a licitação é um processo for-
tar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação. mal onde há a competição entre os interessados.
Artigo 37, XX, CF. Depende de autorização legislativa, em cada Artigo 37, §5º, CF. A lei estabelecerá os prazos de prescrição
caso, a criação de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que
anterior, assim como a participação de qualquer delas em empresa causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de res-
privada. sarcimento.
Órgãos da administração indireta somente podem ser criados A prescrição dos ilícitos praticados por servidor encontra disci-
por lei específica e a criação de subsidiárias destes dependem de plina específica no artigo 142 da Lei nº 8.112/1990:
autorização legislativa (o Estado cria e controla diretamente deter- Art. 142, Lei nº 8.112/1990. A ação disciplinar prescreverá:
minada empresa pública ou sociedade de economia mista, e estas, I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com demis-
por sua vez, passam a gerir uma nova empresa, denominada subsi- são, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e destituição de
diária. Ex.: Transpetro, subsidiária da Petrobrás). “Abrimos um pa- cargo em comissão;
rêntese para observar que quase todos os autores que abordam o II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão;
assunto afirmam categoricamente que, a despeito da referência no III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto á advertência.
texto constitucional a ‘subsidiárias das entidades mencionadas no § 1o O prazo de prescrição começa a correr da data em que o
inciso anterior’, somente empresas públicas e sociedades de eco- fato se tornou conhecido.
nomia mista podem ter subsidiárias, pois a relação de controle que § 2o Os prazos de prescrição previstos na lei penal aplicam-se às
existe entre a pessoa jurídica matriz e a subsidiária seria própria de infrações disciplinares capituladas também como crime.
pessoas com estrutura empresarial, e inadequada a autarquias e § 3o A abertura de sindicância ou a instauração de processo
fundações públicas. OUSAMOS DISCORDAR. Parece-nos que, se o disciplinar interrompe a prescrição, até a decisão final proferida por
legislador de um ente federado pretendesse, por exemplo, auto- autoridade competente.
rizar a criação de uma subsidiária de uma fundação pública, NÃO § 4o Interrompido o curso da prescrição, o prazo começará a
haveria base constitucional para considerar inválida sua autoriza- correr a partir do dia em que cessar a interrupção.
ção”12.
Ainda sobre a questão do funcionamento da administração in- Prescrição é um instituto que visa regular a perda do direito
direta e de suas subsidiárias, destaca-se o previsto nos §§ 8º e 9º de acionar judicialmente. No caso, o prazo é de 5 anos para as in-
do artigo 37, CF: frações mais graves, 2 para as de gravidade intermediária (pena de
Artigo 37, §8º, CF. A autonomia gerencial, orçamentária e fi- suspensão) e 180 dias para as menos graves (pena de advertência),
nanceira dos órgãos e entidades da administração direta e indireta contados da data em que o fato se tornou conhecido pela adminis-
poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus tração pública. Se a infração disciplinar for crime, valerão os prazos
administradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação prescricionais do direito penal, mais longos, logo, menos favoráveis
de metas de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei ao servidor. Interrupção da prescrição significa parar a contagem
dispor sobre: do prazo para que, retornando, comece do zero. Da abertura da
I - o prazo de duração do contrato; sindicância ou processo administrativo disciplinar até a decisão final
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direi- proferida por autoridade competente não corre a prescrição. Pro-
tos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes; ferida a decisão, o prazo começa a contar do zero. Passado o prazo,
III - a remuneração do pessoal. não caberá mais propor ação disciplinar.
Artigo 37, § 9º, CF. O disposto no inciso XI aplica-se às empre- Artigo 37, §7º, CF. A lei disporá sobre os requisitos e as restri-
sas públicas e às sociedades de economia mista e suas subsidiá- ções ao ocupante de cargo ou emprego da administração direta e
rias, que receberem recursos da União, dos Estados, do Distrito Fe- indireta que possibilite o acesso a informações privilegiadas.
deral ou dos Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou
de custeio em geral. A Lei nº 12.813, de 16 de maio de 2013 dispõe sobre o conflito
Continua o artigo 37, CF: de interesses no exercício de cargo ou emprego do Poder Executivo
Artigo 37, XXI, CF. Ressalvados os casos especificados na legis- federal e impedimentos posteriores ao exercício do cargo ou em-
lação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados prego; e revoga dispositivos da Lei nº 9.986, de 18 de julho de 2000,
mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de e das Medidas Provisórias nºs 2.216-37, de 31 de agosto de 2001, e
condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam 2.225-45, de 4 de setembro de 2001.
obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da pro- Neste sentido, conforme seu artigo 1º:
posta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências Artigo 1º, Lei nº 12.813/2013. As situações que configuram
de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do conflito de interesses envolvendo ocupantes de cargo ou emprego
cumprimento das obrigações. no âmbito do Poder Executivo federal, os requisitos e restrições a
ocupantes de cargo ou emprego que tenham acesso a informações
A Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, regulamenta o art. 37, privilegiadas, os impedimentos posteriores ao exercício do cargo ou
inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e emprego e as competências para fiscalização, avaliação e preven-
contratos da Administração Pública e dá outras providências. Licita- ção de conflitos de interesses regulam-se pelo disposto nesta Lei.
ção nada mais é que o conjunto de procedimentos administrativos
(administrativos porque parte da administração pública) para as 3) Atos de improbidade administrativa
compras ou serviços contratados pelos governos Federal, Estadual A Lei n° 8.429/1992 trata da improbidade administrativa, que
é uma espécie qualificada de imoralidade, sinônimo de desones-
12 ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Administrativo Descomplicado. São Paulo:
tidade administrativa. A improbidade é uma lesão ao princípio da
GEN, 2014.
62
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
moralidade, que deve ser respeitado estritamente pelo servidor b) Ato de improbidade administrativa que importe lesão ao
público. O agente ímprobo sempre será um violador do princípio erário (artigo 10, Lei nº 8.429/1992)
da moralidade, pelo qual “a Administração Pública deve agir com O grupo intermediário de atos de improbidade administrativa
boa-fé, sinceridade, probidade, lhaneza, lealdade e ética”13. se caracteriza pelos elementos: causar dano ao erário ou aos cofres
A atual Lei de Improbidade Administrativa foi criada devido ao públicos + gerando perda patrimonial ou dilapidação do patrimô-
amplo apelo popular contra certas vicissitudes do serviço público nio público. Assim como o artigo anterior, o caput descreve a fór-
que se intensificavam com a ineficácia do diploma então vigente, o mula genérica e os incisos algumas atitudes específicas que exem-
Decreto-Lei nº 3240/41. Decorreu, assim, da necessidade de acabar plificam o seu conteúdo15.
com os atos atentatórios à moralidade administrativa e causadores Perda patrimonial é o gênero, do qual são espécies: desvio, que
de prejuízo ao erário público ou ensejadores de enriquecimento ilí- é o direcionamento indevido; apropriação, que é a transferência in-
cito, infelizmente tão comuns no Brasil. devida para a própria propriedade; malbaratamento, que significa
Com o advento da Lei nº 8.429/1992, os agentes públicos desperdício; e dilapidação, que se refere a destruição16.
passaram a ser responsabilizados na esfera civil pelos atos de im- O objeto da tutela é a preservação do patrimônio público, em
probidade administrativa descritos nos artigos 9º, 10 e 11, ficando todos seus bens e valores. O pressuposto exigível é a ocorrência de
sujeitos às penas do art. 12. A existência de esferas distintas de res- dano ao patrimônio dos sujeitos passivos.
ponsabilidade (civil, penal e administrativa) impede falar-se em bis Este artigo admite expressamente a variante culposa, o que
in idem, já que, ontologicamente, não se trata de punições idênti- muitos entendem ser inconstitucional. O STJ, no REsp n° 939.142/
cas, embora baseadas no mesmo fato, mas de responsabilização em RJ, apontou alguns aspectos da inconstitucionalidade do artigo.
esferas distintas do Direito. Contudo, “a jurisprudência do STJ consolidou a tese de que é indis-
Destaca-se um conceito mais amplo de agente público previsto pensável a existência de dolo nas condutas descritas nos artigos
pela lei nº 8.429/1992 em seus artigos 1º e 2º porque o agente pú- 9º e 11 e ao menos de culpa nas hipóteses do artigo 10, nas quais
blico pode ser ou não um servidor público. Ele poderá estar vincu- o dano ao erário precisa ser comprovado. De acordo com o minis-
lado a qualquer instituição ou órgão que desempenhe diretamente tro Castro Meira, a conduta culposa ocorre quando o agente não
o interesse do Estado. Assim, estão incluídos todos os integrantes pretende atingir o resultado danoso, mas atua com negligência,
da administração direta, indireta e fundacional, conforme o preâm- imprudência ou imperícia (REsp n° 1.127.143)”17. Para Carvalho
bulo da legislação. Filho18, não há inconstitucionalidade na modalidade culposa, lem-
Pode até mesmo ser uma entidade privada que desempenhe brando que é possível dosar a pena conforme o agente aja com dolo
tais fins, desde que a verba de criação ou custeio tenha sido ou ou culpa.
seja pública em mais de 50% do patrimônio ou receita anual. Caso O ponto central é lembrar que neste artigo não se exige que
a verba pública que tenha auxiliado uma entidade privada a qual o sujeito ativo tenha percebido vantagens indevidas, basta o dano
o Estado não tenha concorrido para criação ou custeio, também ao erário. Se tiver recebido vantagem indevida, incide no artigo an-
haverá sujeição às penalidades da lei. Em caso de custeio/criação terior. Exceto pela não percepção da vantagem indevida, os tipos
pelo Estado que seja inferior a 50% do patrimônio ou receita anual, exemplificados se aproximam muito dos previstos nos incisos do
a legislação ainda se aplica. Entretanto, nestes dois casos, a sanção art. 9°.
patrimonial se limitará ao que o ilícito repercutiu sobre a contri-
buição dos cofres públicos. Significa que se o prejuízo causado for c) Ato de Improbidade Administrativa Decorrentes de Conces-
maior que a efetiva contribuição por parte do poder público, o res- são ou Aplicação Indevida de Benefício Financeiro ou Tributário
sarcimento terá que ser buscado por outra via que não a ação de (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016)
improbidade administrativa. Uma das alterações recentes à disciplina do ISS visou evitar a
A legislação em estudo, por sua vez, divide os atos de improbi- continuidade da guerra fiscal entre os municípios, fixando-se a alí-
dade administrativa em três categorias: quota mínima em 2%.
a) Ato de improbidade administrativa que importe enriqueci- Com efeito, os municípios não poderão fixar dentro de sua
mento ilícito (artigo 9º, Lei nº 8.429/1992) competência constitucional alíquotas inferiores a 2% para atrair e
O grupo mais grave de atos de improbidade administrativa se fomentar investimentos novos (incentivo fiscal), prejudicando os
caracteriza pelos elementos: enriquecimento + ilícito + resultante municípios vizinhos.
de uma vantagem patrimonial indevida + em razão do exercício de Em razão disso, tipifica-se como ato de improbidade adminis-
cargo, mandato, emprego, função ou outra atividade nas entidades trativa a eventual concessão do benefício abaixo da alíquota míni-
do artigo 1° da Lei nº 8.429/1992. ma.
O enriquecimento deve ser ilícito, afinal, o Estado não se opõe
que o indivíduo enriqueça, desde que obedeça aos ditames morais, d) Ato de improbidade administrativa que atente contra os
notadamente no desempenho de função de interesse estatal. princípios da administração pública (artigo 11, Lei nº 8.429/1992)
Exige-se que o sujeito obtenha vantagem patrimonial ilícita. Nos termos do artigo 11 da Lei nº 8.429/1992, “constitui ato de
Contudo, é dispensável que efetivamente tenha ocorrido dano aos improbidade administrativa que atenta contra os princípios da ad-
cofres públicos (por exemplo, quando um policial recebe propina ministração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres
pratica ato de improbidade administrativa, mas não atinge direta- de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às institui-
mente os cofres públicos).
15 Ibid.
Como fica difícil imaginar que alguém possa se enriquecer ili-
16 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 23. ed.
citamente por negligência, imprudência ou imperícia, todas as con-
Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
dutas configuram atos dolosos (com intenção). Não cabe prática
17BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Improbidade administrativa: desonesti-
por omissão.14
dade na gestão dos recursos públicos. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/
portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=103422>. Acesso
13 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematizado. 15. ed. São em: 26 mar. 2013.
Paulo: Saraiva, 2011. 18 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 23. ed.
14 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Método, 2011. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
63
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
ções [...]”. O grupo mais ameno de atos de improbidade adminis- Carvalho Filho21 tece considerações a respeito de algumas das
trativa se caracteriza pela simples violação a princípios da adminis- sanções:
tração pública, ou seja, aplica-se a qualquer atitude do sujeito ativo - Perda de bens e valores: “tal punição só incide sobre os bens
que viole os ditames éticos do serviço público. Isto é, o legislador acrescidos após a prática do ato de improbidade. Se alcançasse an-
pretende a preservação dos princípios gerais da administração pú- teriores, ocorreria confisco, o que restaria sem escora constitucio-
blica19. nal. Além disso, o acréscimo deve derivar de origem ilícita”.
O objeto de tutela são os princípios constitucionais. Basta a vul- - Ressarcimento integral do dano: há quem entenda que engloba
neração em si dos princípios, sendo dispensáveis o enriquecimento dano moral. Cabe acréscimo de correção monetária e juros de mora.
ilícito e o dano ao erário. Somente é possível a prática de algum - Perda de função pública: “se o agente é titular de mandato,
destes atos com dolo (intenção), embora caiba a prática por ação a perda se processa pelo instrumento de cassação. Sendo servidor
ou omissão. estatutário, sujeitar-se-á à demissão do serviço público. Havendo
Será preciso utilizar razoabilidade e proporcionalidade para contrato de trabalho (servidores trabalhistas e temporários), a per-
não permitir a caracterização de abuso de poder, diante do conteú- da da função pública se consubstancia pela rescisão do contrato
do aberto do dispositivo. Na verdade, trata-se de tipo subsidiário, com culpa do empregado. No caso de exercer apenas uma função
ou seja, que se aplica quando o ato de improbidade administrativa pública, fora de tais situações, a perda se dará pela revogação da
não tiver gerado obtenção de vantagem designação”. Lembra-se que determinadas autoridades se sujeitam
Com efeito, os atos de improbidade administrativa não são cri- a procedimento especial para perda da função pública, ponto em
mes de responsabilidade. Trata-se de punição na esfera cível, não que não se aplica a Lei de Improbidade Administrativa.
criminal. Por isso, caso o ato configure simultaneamente um ato - Multa: a lei indica inflexibilidade no limite máximo, mas fle-
de improbidade administrativa desta lei e um crime previsto na le- xibilidade dentro deste limite, podendo os julgados nesta margem
gislação penal, o que é comum no caso do artigo 9°, responderá o optar pela mais adequada. Há ainda variabilidade na base de cál-
agente por ambos, nas duas esferas. culo, conforme o tipo de ato de improbidade (a base será o valor
do enriquecimento ou o valor do dano ou o valor da remuneração
Em suma, a lei encontra-se estruturada da seguinte forma: ini- do agente). A natureza da multa é de sanção civil, não possuindo
cialmente, trata das vítimas possíveis (sujeito passivo) e daqueles caráter indenizatório, mas punitivo.
que podem praticar os atos de improbidade administrativa (sujeito - Proibição de receber benefícios: não se incluem as imunida-
ativo); ainda, aborda a reparação do dano ao lesionado e o ressar- des genéricas e o agente punido deve ser ao menos sócio majoritá-
cimento ao patrimônio público; após, traz a tipologia dos atos de rio da instituição vitimada.
improbidade administrativa, isto é, enumera condutas de tal natu- - Proibição de contratar: o agente punido não pode participar
reza; seguindo-se à definição das sanções aplicáveis; e, finalmente, de processos licitatórios.
descreve os procedimentos administrativo e judicial.
No caso do art. 9°, categoria mais grave, o agente obtém um 4) Responsabilidade civil do Estado e de seus servidores
enriquecimento ilícito (vantagem econômica indevida) e pode ain- O instituto da responsabilidade civil é parte integrante do direi-
da causar dano ao erário, por isso, deverá não só reparar eventual to obrigacional, uma vez que a principal consequência da prática de
um ato ilícito é a obrigação que gera para o seu auto de reparar o
dano causado mas também colocar nos cofres públicos tudo o que
dano, mediante o pagamento de indenização que se refere às per-
adquiriu indevidamente. Ou seja, poderá pagar somente o que enri-
das e danos. Afinal, quem pratica um ato ou incorre em omissão
queceu indevidamente ou este valor acrescido do valor do prejuízo
que gere dano deve suportar as consequências jurídicas decorren-
causado aos cofres públicos (quanto o Estado perdeu ou deixou de
tes, restaurando-se o equilíbrio social.22
ganhar). No caso do artigo 10, não haverá enriquecimento ilícito,
A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal, podendo re-
mas sempre existirá dano ao erário, o qual será reparado (even-
cair sobre os herdeiros do autor do ilícito até os limites da herança,
tualmente, ocorrerá o enriquecimento ilícito, devendo o valor ad-
embora existam reflexos na ação que apure a responsabilidade civil
quirido ser tomado pelo Estado). Na hipótese do artigo 10-A, não conforme o resultado na esfera penal (por exemplo, uma absolvição
se denota nem enriquecimento ilícito e nem dano ao erário, pois por negativa de autoria impede a condenação na esfera cível, ao
no máximo a prática de guerra fiscal pode gerar. Já no artigo 11, o passo que uma absolvição por falta de provas não o faz).
máximo que pode ocorrer é o dano ao erário, com o devido ressar- A responsabilidade civil do Estado acompanha o raciocínio de
cimento. Além disso, em todos os casos há perda da função pública. que a principal consequência da prática de um ato ilícito é a obri-
Nas três categorias, são estabelecidas sanções de suspensão dos gação que gera para o seu auto de reparar o dano, mediante o pa-
direitos políticos, multa e vedação de contratação ou percepção de gamento de indenização que se refere às perdas e danos. Todos os
vantagem, graduadas conforme a gravidade do ato. É o que se de- cidadãos se sujeitam às regras da responsabilidade civil, tanto po-
preende da leitura do artigo 12 da Lei nº 8.929/1992 como §4º do dendo buscar o ressarcimento do dano que sofreu quanto respon-
artigo 37, CF, que prevê: “Os atos de improbidade administrativa dendo por aqueles danos que causar. Da mesma forma, o Estado
importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função tem o dever de indenizar os membros da sociedade pelos danos
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, que seus agentes causem durante a prestação do serviço, inclusi-
na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal ve se tais danos caracterizarem uma violação aos direitos humanos
cabível”. reconhecidos.
A única sanção que se encontra prevista na Lei nº 8.429/1992
mas não na Constituição Federal é a de multa. (art. 37, §4°, CF). Trata-se de responsabilidade extracontratual porque não de-
Não há nenhuma inconstitucionalidade disto, pois nada impediria pende de ajuste prévio, basta a caracterização de elementos gené-
que o legislador infraconstitucional ampliasse a relação mínima de ricos pré-determinados, que perpassam pela leitura concomitante
penalidades da Constituição, pois esta não limitou tal possibilidade do Código Civil (artigos 186, 187 e 927) com a Constituição Federal
e porque a lei é o instrumento adequado para tanto20. (artigo 37, §6°).
19 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Método, 2011. 21 Ibid.
20 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 23. ed. 22 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 9. ed. São Paulo: Sarai-
Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. va, 2005.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Genericamente, os elementos da responsabilidade civil se en- Assim, o Estado responde pelos danos que seu agente causar
contram no art. 186 do Código Civil: aos membros da sociedade, mas se este agente agiu com dolo ou
Artigo 186, CC. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, culpa deverá ressarcir o Estado do que foi pago à vítima. O agente
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, causará danos ao praticar condutas incompatíveis com o comporta-
ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. mento ético dele esperado.23
A responsabilidade civil do servidor exige prévio processo ad-
Este é o artigo central do instituto da responsabilidade civil, ministrativo disciplinar no qual seja assegurado contraditório e am-
que tem como elementos: ação ou omissão voluntária (agir como pla defesa. Trata-se de responsabilidade civil subjetiva ou com cul-
não se deve ou deixar de agir como se deve), culpa ou dolo do agen- pa. Havendo ação ou omissão com culpa do servidor que gere dano
te (dolo é a vontade de cometer uma violação de direito e culpa é ao erário (Administração) ou a terceiro (administrado), o servidor
a falta de diligência), nexo causal (relação de causa e efeito entre a terá o dever de indenizar.
ação/omissão e o dano causado) e dano (dano é o prejuízo sofrido Não obstante, agentes públicos que pratiquem atos violadores
pelo agente, que pode ser individual ou coletivo, moral ou material, de direitos humanos se sujeitam à responsabilidade penal e à res-
econômico e não econômico). ponsabilidade administrativa, todas autônomas uma com relação
1) Dano - somente é indenizável o dano certo, especial e anor- à outra e à já mencionada responsabilidade civil. Neste sentido, o
mal. Certo é o dano real, existente. Especial é o dano específico, artigo 125 da Lei nº 8.112/90:
individualizado, que atinge determinada ou determinadas pessoas. Artigo 125, Lei nº 8.112/1990. As sanções civis, penais e admi-
Anormal é o dano que ultrapassa os problemas comuns da vida em nistrativas poderão cumular-se, sendo independentes entre si.
sociedade (por exemplo, infelizmente os assaltos são comuns e o
Estado não responde por todo assalto que ocorra, a não ser que na No caso da responsabilidade civil, o Estado é diretamente acio-
circunstância específica possuía o dever de impedir o assalto, como nado e responde pelos atos de seus servidores que violem direitos
no caso de uma viatura presente no local - muito embora o direito à humanos, cabendo eventualmente ação de regresso contra ele.
segurança pessoal seja um direito humano reconhecido). Contudo, nos casos da responsabilidade penal e da responsabilida-
2) Agentes públicos - é toda pessoa que trabalhe dentro da ad- de administrativa aciona-se o agente público que praticou o ato.
ministração pública, tenha ingressado ou não por concurso, possua São inúmeros os exemplos de crimes que podem ser praticados
cargo, emprego ou função. Envolve os agentes políticos, os servido- pelo agente público no exercício de sua função que violam direitos
res públicos em geral (funcionários, empregados ou temporários) e humanos. A título de exemplo, peculato, consistente em apropria-
os particulares em colaboração (por exemplo, jurado ou mesário). ção ou desvio de dinheiro público (art. 312, CP), que viola o bem
3) Dano causado quando o agente estava agindo nesta qualida- comum e o interesse da coletividade; concussão, que é a exigência
de - é preciso que o agente esteja lançando mão das prerrogativas de vantagem indevida (art. 316, CP), expondo a vítima a uma situa-
do cargo, não agindo como um particular. ção de constrangimento e medo que viola diretamente sua dignida-
de; tortura, a mais cruel forma de tratamento humano, cuja pena é
Sem estes três requisitos, não será possível acionar o Estado agravada quando praticada por funcionário público (art. 1º, §4º, I,
para responsabilizá-lo civilmente pelo dano, por mais relevante Lei nº 9.455/97); etc.
que tenha sido a esfera de direitos atingida. Assim, não é qualquer Quanto à responsabilidade administrativa, menciona-se, a títu-
dano que permite a responsabilização civil do Estado, mas somente lo de exemplo, as penalidades cabíveis descritas no art. 127 da Lei
aquele que é causado por um agente público no exercício de suas nº 8.112/90, que serão aplicadas pelo funcionário que violar a ética
funções e que exceda as expectativas do lesado quanto à atuação do serviço público, como advertência, suspensão e demissão.
do Estado. Evidencia-se a independência entre as esferas civil, penal e
É preciso lembrar que não é o Estado em si que viola os direitos administrativa no que tange à responsabilização do agente público
humanos, porque o Estado é uma ficção formada por um grupo de que cometa ato ilícito.
pessoas que desempenham as atividades estatais diversas. Assim, Tomadas as exigências de características dos danos acima co-
viola direitos humanos não o Estado em si, mas o agente que o re- lacionadas, notadamente a anormalidade, considera-se que para o
presenta, fazendo com que o próprio Estado seja responsabilizado Estado ser responsabilizado por um dano, ele deve exceder expec-
por isso civilmente, pagando pela indenização (reparação dos danos tativas cotidianas, isto é, não cabe exigir do Estado uma excepcional
materiais e morais). Sem prejuízo, com relação a eles, caberá ação vigilância da sociedade e a plena cobertura de todas as fatalidades
de regresso se agiram com dolo ou culpa. que possam acontecer em território nacional.
Prevê o artigo 37, §6° da Constituição Federal: Diante de tal premissa, entende-se que a responsabilidade civil
Artigo 37, §6º, CF. As pessoas jurídicas de direito público e as de do Estado será objetiva apenas no caso de ações, mas subjetiva
direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos no caso de omissões. Em outras palavras, verifica-se se o Estado se
danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, omitiu tendo plenas condições de não ter se omitido, isto é, ter dei-
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos xado de agir quando tinha plenas condições de fazê-lo, acarretando
de dolo ou culpa. em prejuízo dentro de sua previsibilidade.
São casos nos quais se reconheceu a responsabilidade omissiva
do Estado: morte de filho menor em creche municipal, buracos não
Este artigo deixa clara a formação de uma relação jurídica autô-
sinalizados na via pública, tentativa de assalto a usuário do metrô
noma entre o Estado e o agente público que causou o dano no de-
resultando em morte, danos provocados por enchentes e escoa-
sempenho de suas funções. Nesta relação, a responsabilidade civil
mento de águas pluviais quando o Estado sabia da problemática e
será subjetiva, ou seja, caberá ao Estado provar a culpa do agente
não tomou providência para evitá-las, morte de detento em prisão,
pelo dano causado, ao qual foi anteriormente condenado a reparar.
incêndio em casa de shows fiscalizada com negligência, etc.
Direito de regresso é justamente o direito de acionar o causador
Logo, não é sempre que o Estado será responsabilizado. Há ex-
direto do dano para obter de volta aquilo que pagou à vítima, consi-
cludentes da responsabilidade estatal, notadamente: a) caso for-
derada a existência de uma relação obrigacional que se forma entre
tuito (fato de terceiro) ou força maior (fato da natureza) fora dos
a vítima e a instituição que o agente compõe.
alcances da previsibilidade do dano; b) culpa exclusiva da vítima.
23 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Método, 2011.
65
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
5) Exercício de mandato eletivo por servidores públicos § 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni-
A questão do exercício de mandato eletivo pelo servidor públi- cípios disciplinará a aplicação de recursos orçamentários provenien-
co encontra previsão constitucional em seu artigo 38, que notada- tes da economia com despesas correntes em cada órgão, autarquia
mente estabelece quais tipos de mandatos geram incompatibilida- e fundação, para aplicação no desenvolvimento de programas de
de ao serviço público e regulamenta a questão remuneratória: qualidade e produtividade, treinamento e desenvolvimento, mo-
Artigo 38, CF. Ao servidor público da administração direta, au- dernização, reaparelhamento e racionalização do serviço público,
tárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de produtividade.
as seguintes disposições: § 8º A remuneração dos servidores públicos organizados em
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º.
ficará afastado de seu cargo, emprego ou função;
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, Artigo 40, CF. Aos servidores titulares de cargos efetivos da
emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remune- União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas
ração; suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência
III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibili- de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do res-
dade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego pectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensio-
ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não nistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e
havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior; atuarial e o disposto neste artigo.
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício § 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de
de mandato eletivo, seu tempo de serviço será contado para todos que trata este artigo serão aposentados, calculados os seus proven-
os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento; tos a partir dos valores fixados na forma dos §§ 3º e 17:
V - para efeito de benefício previdenciário, no caso de afas- I - por invalidez permanente, sendo os proventos proporcio-
tamento, os valores serão determinados como se no exercício es- nais ao tempo de contribuição, exceto se decorrente de acidente
tivesse. em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou
incurável, na forma da lei;
6) Regime de remuneração e previdência dos servidores pú- II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo
blicos de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta
Regulamenta-se o regime de remuneração e previdência dos e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar;
servidores públicos nos artigo 39 e 40 da Constituição Federal: III - voluntariamente, desde que cumprido tempo mínimo de
Artigo 39, CF. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- dez anos de efetivo exercício no serviço público e cinco anos no
nicípios instituirão conselho de política de administração e remu- cargo efetivo em que se dará a aposentadoria, observadas as se-
neração de pessoal, integrado por servidores designados pelos res- guintes condições:
pectivos Poderes. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se
de 1998 e aplicação suspensa pela ADIN nº 2.135-4, destacando-se homem, e cinquenta e cinco anos de idade e trinta de contribuição,
a redação anterior: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- se mulher;
nicípios instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico b) sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos
único e planos de carreira para os servidores da administração pú- de idade, se mulher, com proventos proporcionais ao tempo de
blica direta, das autarquias e das fundações públicas”). contribuição.
§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais compo- § 2º Os proventos de aposentadoria e as pensões, por ocasião
nentes do sistema remuneratório observará: de sua concessão, não poderão exceder a remuneração do respecti-
I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos vo servidor, no cargo efetivo em que se deu a aposentadoria ou que
cargos componentes de cada carreira; serviu de referência para a concessão da pensão.
II - os requisitos para a investidura; § 3º Para o cálculo dos proventos de aposentadoria, por oca-
III - as peculiaridades dos cargos. sião da sua concessão, serão consideradas as remunerações utili-
§ 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas zadas como base para as contribuições do servidor aos regimes de
de governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores previdência de que tratam este artigo e o art. 201, na forma da lei.
públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos requisi- § 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados
tos para a promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração para a concessão de aposentadoria aos abrangidos pelo regime
de convênios ou contratos entre os entes federados. de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis
§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o complementares, os casos de servidores:
disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV,XVI, XVII, XVIII, XIX, I - portadores de deficiência;
XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de II - que exerçam atividades de risco;
admissão quando a natureza do cargo o exigir. III - cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais
§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os que prejudiquem a saúde ou a integridade física.
Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão § 5º Os requisitos de idade e de tempo de contribuição serão
remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela úni- reduzidos em cinco anos, em relação ao disposto no § 1º, III, a, para
ca, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, o professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo exer-
prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, cício das funções de magistério na educação infantil e no ensino
obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. fundamental e médio.
§ 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni- § 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos
cípios poderá estabelecer a relação entre a maior e a menor remu- acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada a percepção
neração dos servidores públicos, obedecido, em qualquer caso, o de mais de uma aposentadoria à conta do regime de previdência
disposto no art. 37, XI. previsto neste artigo.
§ 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário publicarão § 7º Lei disporá sobre a concessão do benefício de pensão por
anualmente os valores do subsídio e da remuneração dos cargos e morte, que será igual:
empregos públicos.
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
I - ao valor da totalidade dos proventos do servidor falecido, até de permanência equivalente ao valor da sua contribuição previden-
o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de ciária até completar as exigências para aposentadoria compulsória
previdência social de que trata o art. 201, acrescido de setenta por contidas no § 1º, II.
cento da parcela excedente a este limite, caso aposentado à data § 20. Fica vedada a existência de mais de um regime próprio
do óbito; ou de previdência social para os servidores titulares de cargos efeti-
II - ao valor da totalidade da remuneração do servidor no cargo vos, e de mais de uma unidade gestora do respectivo regime em
efetivo em que se deu o falecimento, até o limite máximo estabele- cada ente estatal, ressalvado o disposto no art. 142, § 3º, X.
cido para os benefícios do regime geral de previdência social de que § 21. A contribuição prevista no § 18 deste artigo incidirá ape-
trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da parcela exceden- nas sobre as parcelas de proventos de aposentadoria e de pensão
te a este limite, caso em atividade na data do óbito. que superem o dobro do limite máximo estabelecido para os be-
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preser- nefícios do regime geral de previdência social de que trata o art.
var-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios 201 desta Constituição, quando o beneficiário, na forma da lei, for
estabelecidos em lei. portador de doença incapacitante.
§ 9º O tempo de contribuição federal, estadual ou municipal
será contado para efeito de aposentadoria e o tempo de serviço 7) Estágio probatório e perda do cargo
correspondente para efeito de disponibilidade. Estabelece a Constituição Federal em seu artigo 41, a ser lido
§ 10. A lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem em conjunto com o artigo 20 da Lei nº 8.112/1990:
de tempo de contribuição fictício. Artigo 41, CF. São estáveis após três anos de efetivo exercício
§ 11. Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma total dos os servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em vir-
proventos de inatividade, inclusive quando decorrentes da acumu- tude de concurso público.
lação de cargos ou empregos públicos, bem como de outras ativi- § 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
dades sujeitas a contribuição para o regime geral de previdência I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
social, e ao montante resultante da adição de proventos de inativi- II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegu-
dade com remuneração de cargo acumulável na forma desta Cons- rada ampla defesa;
tituição, cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e III - mediante procedimento de avaliação periódica de desem-
exoneração, e de cargo eletivo. penho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa.
§ 12. Além do disposto neste artigo, o regime de previdência § 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor
dos servidores públicos titulares de cargo efetivo observará, no que estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se
couber, os requisitos e critérios fixados para o regime geral de pre- estável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização,
vidência social. aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade com remu-
§ 13. Ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo em co- neração proporcional ao tempo de serviço.
missão declarado em lei de livre nomeação e exoneração bem como § 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o ser-
de outro cargo temporário ou de emprego público, aplica-se o regi- vidor estável ficará em disponibilidade, com remuneração propor-
me geral de previdência social. cional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em
§ 14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, outro cargo.
desde que instituam regime de previdência complementar para os § 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obriga-
seus respectivos servidores titulares de cargo efetivo, poderão fixar, tória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída
para o valor das aposentadorias e pensões a serem concedidas pelo para essa finalidade.
regime de que trata este artigo, o limite máximo estabelecido para
os benefícios do regime geral de previdência social de que trata o Art. 20, Lei nº 8.112/1990. Ao entrar em exercício, o servidor
art. 201. nomeado para cargo de provimento efetivo ficará sujeito a estágio
§ 15. O regime de previdência complementar de que trata o § probatório por período de 24 (vinte e quatro) meses, durante o qual
14 será instituído por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo, a sua aptidão e capacidade serão objeto de avaliação para o de-
observado o disposto no art. 202 e seus parágrafos, no que couber, sempenho do cargo, observados os seguinte fatores:
por intermédio de entidades fechadas de previdência complemen- I - assiduidade;
tar, de natureza pública, que oferecerão aos respectivos participan- II - disciplina;
tes planos de benefícios somente na modalidade de contribuição III - capacidade de iniciativa;
definida. IV - produtividade;
§ 16. Somente mediante sua prévia e expressa opção, o dispos- V - responsabilidade.
to nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que tiver ingressa- § 1º 4 (quatro) meses antes de findo o período do estágio pro-
do no serviço público até a data da publicação do ato de instituição batório, será submetida à homologação da autoridade competen-
do correspondente regime de previdência complementar. te a avaliação do desempenho do servidor, realizada por comissão
§ 17. Todos os valores de remuneração considerados para o cál- constituída para essa finalidade, de acordo com o que dispuser a lei
culo do benefício previsto no § 3° serão devidamente atualizados, ou o regulamento da respectiva carreira ou cargo, sem prejuízo da
na forma da lei. continuidade de apuração dos fatores enumerados nos incisos I a V
§ 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentado- do caput deste artigo.
rias e pensões concedidas pelo regime de que trata este artigo que § 2º O servidor não aprovado no estágio probatório será exone-
superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime rado ou, se estável, reconduzido ao cargo anteriormente ocupado,
geral de previdência social de que trata o art. 201, com percentual observado o disposto no parágrafo único do art. 29.
igual ao estabelecido para os servidores titulares de cargos efetivos. § 3º O servidor em estágio probatório poderá exercer quais-
§ 19. O servidor de que trata este artigo que tenha completado quer cargos de provimento em comissão ou funções de direção,
as exigências para aposentadoria voluntária estabelecidas no § 1º, chefia ou assessoramento no órgão ou entidade de lotação, e so-
III, a, e que opte por permanecer em atividade fará jus a um abono mente poderá ser cedido a outro órgão ou entidade para ocupar
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
cargos de Natureza Especial, cargos de provimento em comissão do direta, é um gestor de pessoas, afinal, essa relação, que é uma via
Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS, de níveis 6, 5 e de mão dupla, envolve um aspecto interpessoal em todas as ativi-
4, ou equivalentes. dades envolvidas, desde um seleção de profissionais até a análise
§ 4º Ao servidor em estágio probatório somente poderão ser de desempenho, mesmo havendo, dentro da organização, um setor
concedidas as licenças e os afastamentos previstos nos arts. 81, específico que trate dos aspectos relacionados à Gestão de Pessoas
incisos I a IV, 94, 95 e 96, bem assim afastamento para participar e RH.
de curso de formação decorrente de aprovação em concurso para Dentre os setores da organização, talvez seja o que mais tenha
outro cargo na Administração Pública Federal. sofrido mudanças nos últimos tempos.
§ 5º O estágio probatório ficará suspenso durante as licenças e E estamos aqui falando de mudanças tanto no aspecto concre-
os afastamentos previstos nos arts. 83, 84, § 1o, 86 e 96, bem assim to como no aspecto conceitual.
na hipótese de participação em curso de formação, e será retomado Mudanças muito pontuais da era da Administração de Recursos
a partir do término do impedimento. Humanos para o que hoje chamamos de Gestão de Pessoas foram
fundamentais para que o processo de busca pela excelência das
O estágio probatório pode ser definido como um lapso de tem- organizações pudesse evoluir na medida que evoluiu, passando a
po no qual a aptidão e capacidade do servidor serão avaliadas de considerar o funcionário não mais um recurso e, sim, um valor in-
acordo com critérios de assiduidade, disciplina, capacidade de ini- telectual.
ciativa, produtividade e responsabilidade. O servidor não aprovado A Gestão de Pessoas é uma área muito sensível à mentalidade
no estágio probatório será exonerado ou, se estável, reconduzido que predomina nas organizações. Ela é contingencial e situacional,
ao cargo anteriormente ocupado. Não existe vedação para um ser- pois depende de vários aspectos, como a cultura que existe em
vidor em estágio probatório exercer quaisquer cargos de provimen- cada organização, da estrutura organizacional adotada, das carac-
to em comissão ou funções de direção, chefia ou assessoramento terísticas do contexto ambiental, do negócio da organização, da
no órgão ou entidade de lotação. tecnologia utilizada, dos processos internos e de uma infinidade de
Desde a Emenda Constitucional nº 19 de 1998, a disciplina do outras variáveis importantes.
estágio probatório mudou, notadamente aumentando o prazo de 2 O papel da Administração de RH para o de Gestão de Pessoas
anos para 3 anos. Tendo em vista que a norma constitucional preva- tem como definição, o ato de trabalhar com e através de pessoas
lece sobre a lei federal, mesmo que ela não tenha sido atualizada, para realizar os objetivos tanto da organização quanto de seus
deve-se seguir o disposto no artigo 41 da Constituição Federal. membros.
Uma vez adquirida a aprovação no estágio probatório, o ser- A maneira pela qual as pessoas se comportam, decidem, age,
vidor público somente poderá ser exonerado nos casos do §1º do trabalham, executam, melhoram suas atividades, cuidam dos clien-
artigo 40 da Constituição Federal, notadamente: em virtude de tes e tocam os negócios das empresas varia em enormes dimen-
sentença judicial transitada em julgado; mediante processo admi- sões. E essa variação depende, em grande parte, das políticas e di-
nistrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa; ou mediante retrizes das organizações a respeito de como lidar com as pessoas
procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma em suas atividades. Em muitas organizações, falava-se até pouco
de lei complementar, assegurada ampla defesa (sendo esta lei com- tempo em relações industriais, em outras organizações, fala-se em
plementar ainda inexistente no âmbito federal. administração de recursos humanos, fala-se agora em administra-
ção de pessoas, com uma abordagem que tende a personalizar e a
8) Dos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Terri- visualizar as pessoas como seres humanos, dotados de habilidades
tórios e capacidades intelectuais.
Prevê o artigo 42, CF: Porém, a evolução não para, e chegamos ao momento em que
Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bom- desenvolver uma gestão de pessoas já não atende às circunstancias
beiros Militares, instituições organizadas com base na hierarquia do cenário atual, fazendo-se necessário desenvolver uma gestão
e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos com pessoas, ou seja, significa tocar a organização juntamente com
Territórios. os colaboradores e parceiros internos que mais entendem dela, dos
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e seus negócios e do seu futuro.
dos Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, as disposições Uma nova visão das pessoas não mais como um recurso orga-
do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo nizacional, um objeto servil ou mero sujeito passivo do processo,
a lei estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, mas fundamentalmente como um sujeito ativo e provocador das
inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos decisões, empreendedor das ações e criador da inovação dentro
governadores. das organizações.
§ 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Distrito Fe- Estamos falando hoje de profissionais proativos, dotados de
deral e dos Territórios aplica-se o que for fixado em lei específica do visão própria e, sobre tudo, de inteligência, a maior e a mais avan-
respectivo ente estatal. çada e sofisticada habilidade humana.
Gestão de Pessoas atua na área do subsistema social, e há na
organização também o subsistema técnico. A interação da gestão
de pessoas com outros subsistemas, especialmente o técnico, en-
RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO volve alinhar objetivos organizacionais e individuais.
As pessoas precisam ter competência para realizar as ativida-
Trata-se de um conjunto de ações integradas sobre a relação des que possam contribuir com a organização, do contrário poderia
de trabalho, ações essas que estão diretamente relacionadas ao haver inúmeras consequências negativas nas mais diferentes áreas
desempenho e à eficácia dos profissionais e aos resultados das or- (financeira, por exemplo). É também por isso que a área de gestão
ganizações. de pessoas sempre atua em parceria com outras áreas.
Se analisarmos essa relação, percebemos que, independente A seguir, veremos alguns aspectos estão envolvidos na gestão
da área ou setor da organização, o profissional que ocupa um cargo de pessoas dentro dessa proposta atual:
de liderança, gerencia ou coordenação, de uma forma direta ou in- - Comportamento
68
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
- Processo de decisão Processos de Desenvolver Pessoas - são os processos utilizados
- Ação e execução para capacitar e incrementar o desenvolvimento profissional e pes-
- Relacionamento interpessoal soal. Incluem treinamento e desenvolvimento das pessoas, progra-
- Comprometimento interpessoal e organizacional mas de mudanças e desenvolvimento de carreiras e programas de
- Perspectiva de futuro comunicação e consonância.
- Envolvimento com processos Processos de Manter Pessoas - são os processos utilizados para
- Desenvolvimento de habilidades capacitar e incrementar o desenvolvimento profissional e pessoal.
- Identificação de capacidades intelectuais – Construindo um Incluem treinamento e desenvolvimento das pessoas, programas
patrimônio intelectual de mudanças e desenvolvimento de carreiras e programas de co-
municação e consonância.
Como vimos acima, a Gestão de Pessoas tem sido a responsável Processos de Monitorar Pessoas - são os processos utilizados
pela excelência das organizações bem sucedidas e pelo aporte de para acompanhar e controlar as atividades das pessoas e verificar
capital intelectual que simboliza, mais do que tudo, a importância resultados. Incluem banco de dados e sistemas de informações ge-
do fator humano em plena Era da Informação e do Conhecimento. renciais.
Como pudemos perceber, existe um processo evolutivo na for-
ma como se trata as pessoas dentro da organização, saindo de um Gerir todo o contexto de informações e situações envolvidas
conceito onde pessoas eram consideradas recursos até chegar no nessa relação requer um mecanismo de controle mais eficiente do
conceito de pessoas como parceiros, sendo nessa transição, as mu- que aqueles utilizados antigamente que simplesmente registravam
danças práticas são bem claras, conforme vemos a seguir: dados necessários para geração de documentação utilizada no de-
partamento pessoal.
Pessoas como Recursos Pessoas como Parceiros Falamos hoje em gerir informações que agreguem valor ao pro-
cesso decisional da organização, tais como aqueles relacionados à
Horário rigidamente estabe- Colaboradores agrupados em
competência, resultados, desempenho, produtividade, eficiência e
lecido equipes
eficácia, entre outros.
Preocupação com normas e Metas negociadas e compar-
Quando falamos em políticas e sistemas de informações ge-
regras tilhadas
renciais, estamos falando em um tripé que envolve três aspectos
Subordinação ao chefe Preocupação com resultados
fundamentais para a eficácia do sistema:
Fidelidade à organização Satisfação do cliente
- Dado: elemento em estado bruto, primário e isolado, sem sig-
Dependência da chefia Vinculação à missão e à visão
nificação capaz de gerar uma ação.
Alienação em relação à organ- Interdependência entre colegas
- Informação: é o dado trabalhado e processado dentro das es-
ização Participação e comprometi-
pecificidades exigidas pelos usuários, com significado próprio, rele-
mento
vante e utilizado para causar uma ação proveniente do processo de
Ênfase na especialização
tomada de decisão.
Executoras de tarefas Ênfase na ética e
- sistema: combinação de partes coordenadas para um mesmo
responsabilidade
resultado, ou de maneira a formar um conjunto organizado.
Ênfase nas destrezas manuais Fornecedores de atividade
Valorização da mão de obra
Outro fator importante é a forma como essas informações se-
Ênfase no conhecimento
rão usadas, afinal, dados coletados por si só não contribuem para
Inteligência e talento
esse processo, portanto, necessário se faz que haja uma análise e
Valorização do intelecto
classificação desses dados, relacionando entre si as informações e
suas possíveis aplicabilidades. É necessário que os gestores consi-
A Gestão de Pessoas é caracterizada pela: participação, capaci-
gam agregar valor às suas decisões e às ações adotadas através das
tação, envolvimento e desenvolvimento do capital humano da orga-
informações que os sistemas fornecem, informações essas que já
nização, que é formado pelas pessoas que a compõem.
vem com uma carga analítica dos cenários, tanto interno quanto
Cabe à área de gestão de pessoas a função de humanizar as
empresas. externo, que a organização está inserida e que vão, diretamente in-
Atualmente nas relações de trabalho vem ocorrendo mudanças fluenciar no desempenho de seus projetos e ações e no alcance dos
conforme as exigências que o mercado impõe ou na forma de gerir objetivos que possua.
pessoas. No subsistema gestão de pessoas, para facilitar essa classifica-
Podemos dizer que, dentro de um processo atual de gestão de ção e interação de dados, o sistema deve registrar dados diversos
pessoas, temos seis aspectos básicos, como veremos agora: sobre o colaborador e sua relação com a organização, tais como:
- Dados pessoais
Processos de Agregar Pessoas - são os processos utilizados para - Dados sobre cargos e os encarregados dessas funções
incluir novas pessoas na empresa. Podem ser denominados proces- - Dados sobre os setores e departamentos existentes na orga-
sos de provisão ou de suprimento de pessoas. Incluem recrutamen- nização
to e seleção de pessoas - Dados sobre remuneração e benefícios
Processos de Aplicar Pessoas - são os processos utilizados para - Dados sobre processos de treinamento e capacitação desen-
desenhar as atividades que as pessoas irão realizar na empresa, volvidos e/ou necessários
orientar e acompanhar seu desempenho. Incluem desenho organi- - Dados sobre aspectos relacionados à saúde ocupacional, en-
zacional e desenho de cargos, análise e descrição de cargos, orien- tre outros.
tação das pessoas e avaliação do desempenho.
Processos de Recompensar Pessoas - são os processos utiliza- Cabe à administração decidir, diante do investimento envolvi-
dos para incentivar as pessoas e satisfazer suas necessidades indivi- do, qual o melhor e mais indicado sistema a ser implantado, consi-
duais mais elevadas. Incluem recompensas, remuneração e benefí- derando os processos envolvidos e as expectativas da organização,
cios e serviços sociais lembrando também que, o sistema só será eficaz se as informações
69
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
por ele fornecidas forem constantemente atualizadas e revistas, precisa conhecer a motivação humana e saber conduzir pessoas, ou
conforme o desenvolvimento dos processos em andamento na or- seja, precisa ser líder. “Liderança é a influência interpessoal exerci-
ganização. da numa situação e dirigida por meio do processo de comunicação
A Teoria das Relações Humanas vem com a nova ideia de que humana à consecução de um ou de diversos objetivos específicos”
para a maioria dos trabalhadores, a preocupação com a parte psi- (Tannenbaum, Weschler e Maparik) Foram delineadas três teorias
cológica e social é mais importante do que a preocupação com o de liderança:
aspecto material e financeiro mudando a velha concepção de que Teoria dos traços de personalidade: Certas pessoas possuem na
a condição física era o principal caminho para os melhores resulta- própria personalidade traços que podem ser utilizados para definir
dos produtivos do operário e que a fadiga era ocasionada, também um futuro líder, bem como avaliar a eficácia da liderança.
e principalmente, pelo fator psicológico. A organização passava, a Teoria dos estilos de liderança: Estuda os estilos de comporta-
partir desse momento, a entender que os trabalhadores são seres mento do líder em relação aos seus subordinados. Refere-se ao que
humanos com sentimentos, e não máquinas programadas. Que o líder faz, qual a maneira que ele utiliza para liderar.
as pessoas dependem de motivação e que o alcance dos objeti- Teoria situacional de liderança: Procura explicar que não existe
vos depende diretamente dos grupos informais a que pertencem. apenas um estilo ou característica de liderança válida para qualquer
Que o modo como os grupos se comportam pode ser modificado situação. O verdadeiro líder é versátil a ponto de se encaixar dentro
dependendo do estilo de liderança e supervisão. E que a maneira de qualquer grupo sob as mais variadas condições.
como são estabelecidas as normas dentro dos grupos, de certa for-
ma, regulam o comportamento dos indivíduos. Essa Teoria trouxe a Relações Interpessoais
preocupação de se estudar a influencia da motivação no comporta- Conviver é viver com. Consiste em partilhar a vida, as ativida-
mento do funcionário. E para tal entendimento, é necessário que se des, com os outros. Em todo grupo humano existe a necessidade de
entenda as necessidades humanas fundamentais. Foi notado que o conviver, de estar em relação com outros indivíduos. Além disso, a
comportamento do homem é determinado por certas causas que convivência nos ajuda no processo de reflexão, interiorização pes-
se chamam necessidades ou motivos, que são forças conscientes soal e autorregularão do indivíduo.
ou inconscientes que o leva a determinado comportamento. Exis- O relacionamento interpessoal é a interação de duas ou mais
tem três níveis de motivação, que correspondem às necessidades pessoas e está ligado intimamente com a forma com que cada uma
fisiológicas, que são ligadas à sobrevivência, sendo inatas e instinti- percebe, sente e age perante a outra.
vas, como sono, fome, sede, etc.; às necessidades psicológicas, que O relacionamento entre as pessoas é a mais primitiva forma
são aprendidas no decorrer da vida e que são raramente satisfeitas de convivência e de comunicação, no entanto, apesar dessas duas
por completo. São elas: necessidade de segurança íntima (auto de- características terem evoluído ao longo da existência da espécie
fesa); necessidade de participação (contato humano); necessidade humana, o relacionamento interpessoal ainda encontra muitas difi-
de autoconfiança (auto avaliação); a necessidade de afeição (dar e culdades que tornam a vida do ser humano mais difícil, parecendo
receber carinho); e à necessidade de auto-realização, que é estar muitas vezes, estar andando no sentido contrário da evolução.
realizado por completo em todas as outras necessidades. Simples aspectos de um tratamento como um bom dia, um
obrigado, ou ainda um mero sorriso para muitas pessoas é difícil
CICLO MOTIVACIONAL por em prática. Lembrando que o respeito é conquistado.
O ciclo motivacional parte do princípio de que a motivação, no A mais simples forma de se exigir respeito, é se dando, eis que
sentido psicológico, é a tensão persistente que leva o indivíduo a ao se tratar bem uma pessoa, sendo gentil, cordial e sincero, dis-
algum tipo de comportamento visando a satisfação de uma ou mais pensando um tratamento além daquele que se está acostumado
necessidades. Essa tensão leva a pessoa a fazer algo para chegar à a receber, certamente, daquele indivíduo do qual está recebendo
satisfação de tal necessidade, se ela é satisfeita, o organismo entra gentileza e cordialidade de forma sincera, certamente não mais será
em equilíbrio, até que outra tensão para suprir outra necessidade necessário “exigir” o respeito.
surja. Enfim, a satisfação é simplesmente a liberação de uma ten- Elogiar com sinceridade e economizar as críticas são fatores de-
são e apenas a saciedade de uma necessidade permite o equilíbrio terminantes, pois é natural do ser humano, gostar de ser reconheci-
psicológico. Porém quando a satisfação de alguma necessidade não do em suas atitudes, no entanto, sabe o que é certo e errado, e não
é alcançada, acontece a frustração, que também traz um desequi- gosta de ficar ouvindo sobre seus erros. E não é se fazendo lembrar
líbrio. Mas se o indivíduo, não conseguindo satisfazer tal necessi- de erros que se terá um bom relacionamento, pelo contrário.
dade, tenta satisfazer alguma outra e obtém êxito, acontece uma Saber tratar cada pessoa da forma que ela mais gosta. Cada
compensação. A satisfação de alcançar tal objetivo, compensa a um tem um estilo, um comportamento, uma forma de ser tratado.
frustração por não ter conseguido satisfazer alguma outra neces- Dessa maneira, já se constata que não é possível se tratar todos da
sidade anterior. A Teoria das Relações Humanas trouxe também o mesma forma, sendo necessário entender a característica de cada
estudo sobre o moral dos trabalhadores, que é uma decorrência da um, para então poder lhe tratar melhor, e o resultado disso é sur-
motivação recebida, uma atitude provocada pela satisfação ou não preendente, pois se obtém um tratamento esplendoroso, mesmo
das necessidades da pessoa. Quando o trabalhador tem o moral de quem não sabe tratar bem.
elevado dentro da organização, tem atitudes de interesse, entusias- Um fator de elevada importância, igualmente, é o nome das
mo e impulso positivo, enquanto se o mesmo trabalhador tem o pessoas, portanto, saber e usar no tratamento é necessário e ade-
moral baixo, demonstra atitudes de descaso, desinteresse, pessi- quado. De que vale um bom tratamento, sem que se possa chamar
mismo e apatia em relação ao trabalho, podendo até se estender alguém pelo seu próprio nome? Isso faz parte do bom relaciona-
à vida pessoal. mento, seja ele profissional, amistoso, eventual, ocasional.
Deve-se ter a sensibilidade para se perceber a hora para de-
LIDERANÇA terminados comportamentos, para não agir equivocadamente com
Foi notado também que a liderança informal dentro da orga- intimidade ou com excesso de formalidade, afinal de contas, nin-
nização tem muita influência sobre o comportamento do trabalha- guém gosta de ser tratado de uma forma ou de outra senão o for
dor. A liderança é extremamente essencial dentro de todo tipo de adequadamente.
organização e uma característica essencial no administrador, que
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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Reconhecendo erros, evita que alguém o faça. Tentando esqui- ةter um comportamento maduro e não intolerante. ةsaber agir
var-se do erro que cometeu é a forma mais forte de dar-lhes cada e buscar melhores saídas mesmo sob pressão ou conflitos.
vez mais ênfase. Muito mais sincero e adequado lembrar dos erros, ةa arte de fazer as pessoas se sentirem bem com você e vice
antes que alguém o faça, e pedir as desculpas no momento certo, versa
reconhecendo e propondo-se a não mais cometê-los fará com que ةter respeito, princípios de boas maneiras. Ou seja, ter com-
eles passem totalmente despercebidos. portamentos éticos.
Uma das grandes ferramentas de um bom relacionamento,
também, é o sorriso, pois ele, quando usado de forma sincera e Também para ter e preservar bons relacionamentos Interpes-
oportuna, pode dizer muito, pois o corpo fala! A expressão corporal soais, é preciso, aprender a ouvir e ter a capacidade de se colocar
é muito maior que a expressão verbal. Deixar o sorriso fluir é ser no lugar do outro, aceitar e evitar julgamentos para que o outro não
transparente em seus sentimentos, e assim, sem sombra de duvi- reaja de forma ofensiva.
das se está reconhecendo o esforço do próximo em lhe tratar bem. Desenvolver seus pontos fortes e melhorar os fracos com a co-
Antes de criticar ou reclamar de alguém, deve-se fazer uma au- municação.
toanálise, tentando identificar qual a própria atitude que levou esse O relacionamento interpessoal é, sem sombra de dْvida, um
alguém a agir dessa ou daquela forma. Assim, tentando identificar dos fatores que influenciam no dia-a-dia e no desempenho de um
qual o próprio erro, irá facilitar a boa atitude de alguém para que grupo, cujo resultado depende de parcerias internas para obter me-
ele mesmo reconheça o que fez e que faça o que acha certo fazer, lhores ganhos.
reconhecendo e se desculpando, enquanto que as acusações geram No ambiente organizacional é importante saber conviver com
apenas dissabores, sem que nada se mude. as pessoas, até mesmo por ser um local muito dinâmico e que obri-
O relacionamento interpessoal, muitas vezes é usado e prati- ga uma intensa interação com os outros, inclusive com as mudanças
cado apenas no trabalho, no entanto, ele está presente em todos que ocorrem no entorno, seja de processos, cultura ou até mesmo
os momentos de uma vida, seja com amizade, com cônjuge, com diante de troca de lideranças.
filhos, pais, enfim, com qualquer pessoa que se estabeleça um con- Inevitavelmente, em qualquer profissão e quase em qualquer
tato, seja até por meios digitais. outra atividade, o ser humano necessita estar em relacionamento
ةimportante também se ter a sensibilidade e a capacidade de com seus semelhantes.
entender aos próprios sentimentos, emoções, autoestima, percep- Quando este relacionamento é harmonioso, contributivo, es-
ções, pois assim poderá de forma mais fácil, se entender os senti- pontâneo, gera-se satisfação e progresso.
mentos do outro, podendo, com isso, dispor de uma melhor forma Ao contrário, quando é conflituoso, surgem obstáculos aos de-
de tratamento. Pois cada situação exige uma forma de tratar. A arte senvolvimentos das atividades, gerando “emperramento” nos pro-
de bem relacionar-se é a mesma de gerir os sentimentos dos outros pósitos a alcançar.
e para isso, deve-se ter autocontrole e empatia. Autocontrole para Verificamos algumas ações de relacionamentos com pessoas,
saber encarar cada situação com a necessária ação e empatia para, uns benéficos e outros maléficos:
se colocando no lugar do outro, oferecer exatamente o que se es-
pera receber. Ações Negativas:
Há algumas atitudes que auxiliam no Bom Relacionamento: Comodismo: torna tudo “morno” e não muda nenhum cenário
Mostre interesse pelas outras pessoas; ou panorama.
Sorria; Julgamento: destrói imediatamente qualquer relacionamento.
Lembre-se do nome das pessoas; Irritação: transfere a carga de algo errado para outra pessoa.
Seja um bom ouvinte; Leviandade: desconsidera que os outros têm sentimentos e
Fale sobre o que interessa a outra pessoa; preocupações.
Faça as pessoas se sentirem importantes; Mentira: acaba com a confiança.
Reconheça seu erro; Críticas: forma uma muralha nos relacionamentos, e pode im-
Não imponha opiniões, envolva as pessoas; pedir progressos.
Veja as coisas do ponto de vista das outras pessoas;
Elogie as pessoas; Ações Positivas:
Não critique os erros, valorize os acertos; Aceitação: compreende que as pessoas são falhas e precisam
de ajuda. Auxilia no processo de aproximação no ambiente de tra-
O homem começa a ser pessoa quando é capaz de relacionar- balho.
-se com os outros, quando se torna capaz de dar e receber e dei- Ouvir: permite entender os sentimentos e acontecimentos dos
xa o egocentrismo dar lugar ao alterocentrismo. A capacidade de outros. Impede o julgamento.
estabelecer numerosas pontes de relacionamento interpessoal é Paciência: permite suportar uns aos outros e facilita a convi-
considerada como um dos principais sinais de maturidade psíquica vência.
e comportamental. Pelo fato de vivermos em sociedade, oferece- Elogiar: auxilia nos laços de simpatia mutua e cria empatia en-
mos uma imagem de nós mesmos, assim como formamos conceito tre as pessoas.
sobre cada uma das pessoas que conhecemos. Ou seja, cada um de Interesse: mostra a outra pessoa que ela tem em quem confiar
nós tem um conceito das pessoas que conhece e cada uma delas e contar. Essa atitude firma relações.
tem um conceito de nós. Assim como depositamos em cada pessoa Sorrir: traz a quem o faz e a quem recebe sensação de bem
conhecida um capital de estima maior ou menor, temos com ela estar.
também a nossa cota, de acordo com o nosso desempenho pessoal
e social.
Assim, Relacionamento Interpessoal é a capacidade para inte-
ragir com os outros, usando empatia, atitudes assertivas, ou seja,
identificar, analisar e fornecer.
71
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
O código de ética médica, por exemplo, em seu texto descreve:
ÉTICA E CIDADANIA “O presente código contém as normas éticas que devem ser segui-
das pelos médicos no exercício da profissão, independentemente
Ética e cidadania são dois conceitos fulcrais na sociedade hu- da função ou cargo que ocupem.
mana. A ética e cidadania estão relacionados com as atitudes dos A fiscalização do cumprimento das normas estabelecidas neste
indivíduos e a forma como estes interagem uns com os outros na código é atribuição dos Conselhos de Medicina, das Comissões de
sociedade. Ética, das autoridades de saúde e dos médicos em geral.
Ética é o nome dado ao ramo da filosofia dedicado aos assun- Os infratores do presente Código, sujeitar-se-ão às penas disci-
tos morais. A palavra ética é derivada do grego, e significa aquilo plinares previstas em lei”.
que pertence ao caráter. A palavra “ética” vem do Grego “ethos”
que significa “modo de ser” ou “caráter”. Ética e democracia: exercício da cidadania
Cidadania significa o conjunto de direitos e deveres pelo qual A ética é construída por uma sociedade com base nos valores
o cidadão, o indivíduo está sujeito no seu relacionamento com a históricos e culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma
sociedade em que vive. O termo cidadania vem do latim, civitas que ciência que estuda os valores e princípios morais de uma sociedade
quer dizer “cidade”. e seus grupos.
Um dos pressupostos da cidadania é a nacionalidade, pois Cada sociedade e cada grupo possuem seus próprios códigos
desta forma ele pode cumprir os seus direitos políticos. No Brasil de ética.
os direitos políticos são orquestrados pela Constituição Federal. O Cidadão é um indivíduo que tem consciência de seus direitos e
conceito de cidadania tem se tornado mais amplo com o passar do deveres e participa ativamente de todas as questões da sociedade.
tempo, porque está sempre em construção, já que cada vez mais a É muito importante entender bem o que é cidadania. Trata-se
cidadania diz respeito a um conjunto de parâmetros sociais. de uma palavra usada todos os dias, com vários sentidos. Mas hoje
A cidadania pode ser dividida em duas categorias: cidadania significa, em essência, o direito de viver decentemente.
formal e substantiva. A cidadania formal é referente à nacionalida- Cidadania é o direito de ter uma ideia e poder expressá-la. É
de de um indivíduo e ao fato de pertencer a uma determinada na- poder votar em quem quiser sem constrangimento. É poder pro-
ção. A cidadania substantiva é de um caráter mais amplo, estando cessar um médico que age de negligencia. É devolver um produto
relacionada com direitos sociais, políticos e civis. O sociólogo britâ- estragado e receber o dinheiro de volta. É o direito de ser negro,
nico T.H. Marshall afirmou que a cidadania só é plena se for dotada índio, homossexual, mulher sem ser descriminado. De praticar uma
de direito civil, político e social. religião sem se perseguido.
Há detalhes que parecem insignificantes, mas revelam estágios
Com o passar dos anos, a cidadania no Brasil sofreu uma evolu-
de cidadania: respeitar o sinal vermelho no transito, não jogar papel
ção no sentido da conquista dos direitos políticos, sociais e civis. No
na rua, não destruir telefones públicos. Por trás desse comporta-
entanto, ainda há um longo caminho a percorrer, tendo em conta
mento está o respeito ao outro.
os milhões que vivem em situação de pobreza extrema, a taxa de
No sentido etimológico da palavra, cidadão deriva da palavra
desemprego, um baixo nível de alfabetização e a violência vivida na
civita, que em latim significa cidade, e que tem seu correlato grego
sociedade.
na palavra politikos – aquele que habita na cidade.
Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, “ci-
A ética e a moral têm uma grande influência na cidadania, pois dadania é a qualidade ou estado do cidadão”, entende-se por cida-
dizem respeito à conduta do ser humano. Um país com fortes bases dão “o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um estado,
éticas e morais apresenta uma forte cidadania. ou no desempenho de seus deveres para com este”.
Cidadania é a pertença passiva e ativa de indivíduos em um
Ética profissional é o conjunto de normas éticas que formam a estado - nação com certos direitos e obrigações universais em um
consciência do profissional e representam imperativos de sua con- específico nível de igualdade (Janoski, 1998). No sentido atenien-
duta. se do termo, cidadania é o direito da pessoa em participar das
Ética é uma palavra de origem grega (éthos), que significa “pro- decisões nos destinos da Cidade através da Ekklesia (reunião dos
priedade do caráter”. chamados de dentro para fora) na Ágora (praça pública, onde se
Ser ético é agir dentro dos padrões convencionais, é proceder agonizava para deliberar sobre decisões de comum acordo). Dentro
bem, é não prejudicar o próximo. Ser ético é cumprir os valores es- desta concepção surge a democracia grega, onde somente 10% da
tabelecidos pela sociedade em que se vive. população determinava os destinos de toda a Cidade (eram excluí-
O indivíduo que tem ética profissional cumpre com todas as dos os escravos, mulheres e artesãos).
atividades de sua profissão, seguindo os princípios determinados Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade
pela sociedade e pelo seu grupo de trabalho. para melhorar suas vidas e a de outras pessoas. Ser cidadão é nunca
Cada profissão tem o seu próprio código de ética, que pode se esquecer das pessoas que mais necessitam. A cidadania deve ser
variar ligeiramente, graças a diferentes áreas de atuação. divulgada através de instituições de ensino e meios de comunicação
No entanto, há elementos da ética profissional que são univer- para o bem estar e desenvolvimento da nação. A cidadania consiste
sais e por isso aplicáveis a qualquer atividade profissional, como a desde o gesto de não jogar papel na rua, não pichar os muros, res-
honestidade, responsabilidade, competência etc. peitar os sinais e placas, respeitar os mais velhos (assim como to-
Saiba mais sobre o significado de Ética. das às outras pessoas), não destruir telefones públicos, saber dizer
obrigado, desculpe, por favor, e bom dia quando necessário... até
Código de Ética Profissional saber lidar com o abandono e a exclusão das pessoas necessitadas,
O Código de Ética Profissional é o conjunto de normas éticas, o direito das crianças carentes e outros grandes problemas que en-
que devem ser seguidas pelos profissionais no exercício de seu tra- frentamos em nosso mundo.
balho. “A revolta é o último dos direitos a que deve um povo livre bus-
Este código é elaborado pelos Conselhos, que representam e car, para garantir os interesses coletivos: mas é também o mais im-
fiscalizam o exercício da profissão. perioso dos deveres impostos aos cidadãos.” (Juarez Távora - Militar
e político brasileiro)
72
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA / ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e E na Administração Pública, qual o papel da ética?
sociais estabelecidos na constituição. Os direitos e deveres de um Uma vez que é através das atividades desenvolvidas pela Ad-
cidadão devem andar sempre juntos, uma vez que ao cumprirmos ministração Pública que o Estado alcança seus fins, seus agentes
nossas obrigações permitimos que o outro exerça também seus públicos são os responsáveis pelas decisões governamentais e pela
direitos. Exercer a cidadania é ter consciência de seus direitos eo- execução dessas decisões.
brigações e lutar para que sejam colocados em prática. Exercer a Para que tais atividades não desvirtuem as finalidades estatais
cidadania é estar em pleno gozo das disposições constitucionais. a Administração Pública se submete às normas constitucionais e às
Preparar o cidadão para o exercício da cidadania é um dos objetivos leis especiais. Todo esse aparato de normas objetiva a um compor-
da educação de um país. tamento ético e moral por parte de todos os agentes públicos que
A Constituição da República Federativa do Brasil foi promul- servem ao Estado.
gada em 5 de outubro de 1988, pela Assembleia Nacional Consti-
tuinte, composta por 559 congressistas (deputados e senadores). Princípios constitucionais que balizam a atividade administra-
A Constituição consolidou a democracia, após os anos da ditadura tiva:
militar no Brasil. Devemos atentar para o fato de que a Administração deve pau-
A cidadania está relacionada com a participação social, porque tar seus atos pelos princípios elencados na Constituição Federal, em
remete para o envolvimento em atividades em associações cultu- seu art. 37 que prevê: “A administração pública direta e indireta de
rais (como escolas) e esportivas. qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoali-
Deveres do cidadão dade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”.
- Votar para escolher os governantes; Quanto aos citados princípios constitucionais, o entendimento
- Cumprir as leis; do doutrinador pátrio Hely Lopes Meirelles é o seguinte:
- Educar e proteger seus semelhantes; “- Legalidade - A legalidade, como princípio da administração
- Proteger a natureza; (CF, art. 37, caput), significa que o administrador público está, em
- Proteger o patrimônio público e social do País. toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às
exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar,
Direitos do cidadão sob pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade dis-
- Direito à saúde, educação, moradia, trabalho, previdência so- ciplinar, civil e criminal, conforme o caso. (...)
cial, lazer, entre outros; - Impessoalidade – O princípio da impessoalidade, (...), nada
- O cidadão é livre para escrever e dizer o que pensa, mas pre- mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao admi-
cisa assinar o que disse e escreveu; nistrador público que só pratique o ato para o seu fim legal. E o fim
- Todos são respeitados na sua fé, no seu pensamento e na sua legal é unicamente aquele que a norma de Direito indica expressa
ação na cidade; ou virtualmente como objetivo do ato, de forma impessoal. Esse
- O cidadão é livre para praticar qualquer trabalho, ofício ou princípio também deve ser entendido para excluir a promoção pes-
profissão, mas a lei pode pedir estudo e diploma para isso; soal de autoridades ou servidores públicos sobre suas realizações
- Só o autor de uma obra tem o direito de usá-la, publicá-la e administrativas (...)
tirar cópia, e esse direito passa para os seus herdeiros; - Moralidade – A moralidade administrativa constitui, hoje em
- Os bens de uma pessoa, quando ela morrer, passam para seus dia, pressuposto de validade de todo ato da Administração Pública
herdeiros; (...). Não se trata – diz Hauriou, o sistematizador de tal conceito –
- Em tempo de paz, qualquer pessoa pode ir de uma cidade da moral comum, mas sim de uma moral jurídica, entendida como
para outra, ficar ou sair do país, obedecendo à lei feita para isso. “o conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina interior da
Administração” (...)
A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas - Publicidade - Publicidade é a divulgação oficial do ato para
que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta. Tradicio- conhecimento público e início de seus efeitos externos. (...) O prin-
nalmente ela é entendida como um estudo ou uma reflexão, cientí- cípio da publicidade dos atos e contratos administrativos, além de
fica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes assegurar seus efeitos externos, visa a propiciar seu conhecimento
ou sobre as ações humanas. Mas também chamamos de ética a e controle pelos interessados diretos e pelo povo em geral, através
própria vida, quando conforme aos costumes considerados corre- dos meios constitucionais (...)
tos. A ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes, e pode - Eficiência – O princípio da eficiência exige que a atividade
ser a própria realização de um tipo de comportamento. administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimen-