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Construção
Civil
Maurício Marcelli
Eng.° Civil formado em 1975 pela Es-
cola de Engenharia da Universidade
Mackenzie. Iniciou sua carreira profis-
sional como projetista e durante 15
anos atuou como calculista de estru-
turas de concreto armado, proten-
dido, metálica e madeira, desenvolven-
do inúmeros projetos, inclusive de
obras-de-arte e estradas.
Maurício Marcelli
PIN!
SINISTROS NA CONSTRUÇÃO CIVIL
© Copyright Editora Pini Ltda.
Todos os direitos dc reprodução ou tradução reservados pela Editora Pini Ltda.
Marcelli, M a u r í c i o
Sinistros n a c o n s t u r ç ã o civil: causas e
soluções p a r a d a n o s e prejuízos e m obras /
Maurício Marcelli. ~ São Paulo: Pini, 2007
ISBN 978-85-7266-178-2
1. C o n s t r u ç ã o - A c i d e n t e s 2. C o n s t r u ç ã o -
Falhas 3. Engenharia civil I. Título.
07-1251 CDD-690.2Ó
1 a edição
3 a tiragem: março/10
APRESENTAÇÃO
A maioria das pessoas entende por sinistro apenas os acidentes ocorridos na natureza ou nas edificações,
do tipo incêndio, queda de muro de arrimo, colapso de um prédio, desmoronamento de terra e outras
situações catastróficas.
No entanto, vamos abordar o tema sinistro como tudo aquilo que causa danos ou prejuízos e,
nesse sentido, observaremos que existe uma gama enorme de situações com essa característica
nas edificações.
Nosso objetivo com este trabalho é mostrar os sinistros mais comuns na engenharia civil, discutindo
suas eventuais causas e possíveis soluções, procurando tratar os temas de forma simples, com a fina-
lidade de alertar os que trabalham com projetos e execução de edificações, para algumas situações
|x?ssíveis de resultarem em danos ou prejuízos.
Não iremos entrar no mérito do dimensionamento matemático dos temas que aqui serão analisados,
nem avaliar com profundidade a complexidade de alguns assuntos, tendo em vista que vários casos
exigem especialização profissional e conhecimento es|)ecífico da matéria.
Pretendemos oferecer a todos os profissionais que atuam ou pretendem atuar nessa área da engenharia
civil uma literatura que os ajude a identificar as possíveis causas e conseqüências de algumas anomalias
que ocorrem em nossas edificações, e apresentar soluções alternativas para sanar esses problemas.
Consideramos oportuno chamar a atenção das universidades de Engenharia Civil do Brasil para a neces-
sidade de se criar uma cadeira de ensino voltada para esse tema, |X)is temos observado que cs alunos,
principalmente das boas escolas, concluem o curso conhecendo a maneira correta de como deve ser
feito, mas via de regra eles têm muita dificuldade para lidar com situações adversas, principalmente com
os erros ou falhas, quer nas fases de projeto, execução da obra, quer após a sua conclusão.
A minha esposa, Maria Stella Barbieri Marcelli, pela paciência e incentivos constantes; a
meu filho Leonardo Marcelli, pela dedicação e carinho com que fez todos os desenhos que
ilustram este livro; aos queridos amigos, eng. Nelson Shotaro Yokoi, excelente calculista que
nos deu abrigo e apoio moral; eng. Frederico Falconi, especialista em fundações e mecânica
dos solos, que enriqueceu nosso modesto trabalho fazendo a revisão/correção com importan-
tes comentários sobre os assuntos referentes ao solo; eng a Selene Augusta de Sousa Barreiro,
companheira de trabalho por vários anos, que teve a paciência para ler e comentar o seu
conteúdo com muita competência, experiência e propriedade; e, finalmente, agradeço a Deus
pela oportunidade que me deu para produzir este livro, num momento de grandes dificulda-
des, mas de plena convicção no seu amor pela humanidade e no poder do trabalho executa-
do com carinho e dedicação.
Sumário
1. CONSIDERAÇÕES I N I C I A I S 11
2. S I N I S T R O S EM OBRAS DE TERRA 13
2.1. Generalidades 13
2.2. Aterro sobre solo fraco 14
2.3. Aterro sobre solo inclinado 14
2.4. Aterro com solo impróprio 15
2.5. Aterro executado em camadas com espessura elevada 15
2.6. Aterro mal compactado 16
2.7. Inclinação inadequada dos taludes 16
2.8. Aterro com presença de dutos hidráulicos 17
2.9. Terraplenagem sem tratamento adequado das águas pluviais 17
2.10. Abertura de valas 18
2.11. Sinistro devido à sobrecarga ou corte no talude 19
2.12. Sinistro devido a aterro com presença de turfa ou argila
orgânica em camadas inferiores 21
2.13. Algumas soluções para estabilizar taludes 23
2.13.1. Alívio do empuxo 23
2.13.2. Execução de drenos 23
2.13.3. Impermeabilização da superfície 24
2.13.4. Estruturas de contenção para estabilizar taludes 25
3. S I N I S T R O S EM MUROS DE ARRIMOs 27
3.1. Generalidades 27
3.2. Sinistros em arrimos devido à fundação inadequada 28
3.2.1. Sinistro em arrimos com sapata corrida 28
3.2.2. Sinistro em arrimos com fundação em estacas 29
3.3. Sinistro em arrimos sobre terreno inclinado 30
3.4. Sinistro em arrimos mal projetados 30
3.5. Sinistro em arrimos com sistema de drenagem deficiente 31
3.6. Sinistro devido à abertura de valas próximas de muros de arrimc 32
3.7. Sinistro devido à sobrecarga em muro de arrimo 33
3.8. Sinistro em muros de arrimo de alvenaria estrutural 33
5. REFORÇO DE FUNDAÇÕES 49
5.1. Generalidades 49
5.2. Análise dos danos existentes 50
5.3. Medição da evolução das anomalias 50
5.4. Análise da infra-estrutura e do solo 50
5.5. Análise da superestrutura 51
5.6. Definição da causa e do reforço da fundação 51
5.6.1. Reforço com estaca de reação 52
5.6.2. Reforço com estaca raiz 53
5.6.3. Reforço com injeção de calda de cimento no solo 54
5.6.4. Reforço com brocas 54
5.6.5. Reforço com sapatas 55
23. I N C Ê N D I O 203
23.1. Generalidades 203
23.2. Fenômeno característico do fogo 204
23.3. Classes de incêndio 205
23.4. Temperaturas de fulgor e ignição 206
23.5. Fase inicial e evolução das chamas 206
23.6. Propagação superficial e transversal 209
23.7. Elementos de construção 210
23.8. Avaliação da estrutura no incêndio 211
23.9. Comportamento do concreto no incêndio 213
23.9.1. Condição da água no concreto aquecido 213
23.9.2. Características do cimento no concreto aquecido 214
23.9.3. Características do agregado no concreto aquecido 214
23.9.4. Características da armadura no concreto aquecido 214
23.9.5. Danos no concreto devido a incêndio 216
23.10. Comportamento do aço no incêndio 218
23.10.1. Tratamento térmico dos metais 218
23.10.2. Aços resistentes ao fogo 219
23.11. Comportamento da estrutura de aço nos incêndios 219
23.12. Sistemas de proteção das estruturas metálicas 221
23.13. Controle da propagação da chama e da fumaça 222
23.14. Proteção dos edifícios contra incêndios 223
24. S I N I S T R O S D E V I D O À EXECUÇÃO DE OUTRAS E D I F I C A Ç Õ E S 225
24.1. Generalidades 225
24.2. Devido a escavações, aterros e tratamento inadequado dos taludes 226
24.3. Devido à presença de águas (minas, vazamentos, infiltrações) 231
24.4. Devido ao rebaixamento do lençol freático 231
24.5. Devido à execução de estacas 234
BIBLIOGRAFIA 257
1 Considerações iniciais
Se fosse possível abordar a grande parte dos casos de sinistro ocorridos nos últimos anos no
Brasil, seriam necessários alguns livros para retratar e explicar os fatos ocorridos.
Procurando ser fiel ao escopo deste trabalho, vamos chamar a atenção do leitor para alguns
erros e falhas que se mostraram mais comuns na nossa engenharia civil, sendo que e n alguns
casos esses erros não chegaram a provocar danos maiores, devido a uma rápida e adequada
interferência para correção do problema.
Mas o fato é que ocorreram vários sinistros e por inúmeros motivos, dentre eles podemos desta-
car os erros de projetos ou de obra, causados pela ganância, desconhecimento e negligência
de alguns profissionais que atuam nessa área; no entanto, felizmente eles são apenas uma
pequena parcela.
Vamos abordar neste trabalho como sinistro não somente os fatos e condições que provocaram
o colapso de uma edificação, mas também aqueles responsáveis pelos vícios de qualidade de
uma obra, que são mais comuns nas construções de edifícios prediais e industriais e que em
alguns casos têm potencial para provocar ao longo do tempo elevados prejuízos.
As pessoas que participam de projetos e obras não devem se deixar levar por algumas soluções
de desempenho duvidoso, porém aparentemente vantajosas na redução de custo e prazos, mas
que impliquem procedimentos não recomendados pela boa técnica, ou que não levem em
consideração todos os critérios técnicos recomendados pelas normas brasileiras.
O que ocorre em alguns casos é que o profissional despreparado pode se iludir com soluções e
procedimentos errados, que se mostram aparentemente atraentes pela economia de tempo ou
pelo baixo custo, mas, no entanto, a experiência mostra que atitudes desse tipo normalmente
resultam em sinistros; é só uma questão de tempo.
Essa conduta às vezes é induzida por maus profissionais, que se julgam na maioria das vezes
muito experientes e competentes para desprezar as boas técnicas, e usam como argumento
para defender suas opiniões o fato de já terem executado inúmeras obras daquele jeito "erra-
do" e nunca tiveram nenhum tipo de problema.
Isso não é verdade! O fato é que a maioria dessas obras apresentou problemas, só que eles
procuram não tomar conhecimento e, via de regra, não assumem as suas responsabilidades,
preferindo atribuir a culpa a outros fatores da obra ou a outros profissionais. Agindo dessa forma
se eximem de reparar os danos, e o contratante por sua vez perde a confiança no dite "profis-
sional", preferindo que outros façam os devidos reparos, o que permite que ele realmente acre-
dite na eficiência das suas soluções erradas.
Devemos levar em consideração que podemos encontrar obras executadas sem os devidos
cuidados e que até aquela determinada data não apresentaram problemas; mas basta que ocor-
ra alguma interferência, do tipo construções vizinhas, infiltração de águas pluviais, vazamen-
tos hidráulicos, ação do vento ou do empuxo de terra, para elas apresentarem falhas.
Um dos efeitos colaterais mais perversos desse tipo de procedimento errado é a capacidade de
induzir profissionais menos experientes a acreditar que nem sempre é necessário seguir e res-
peitar todos os ensinamentos preconizados pelas boas escolas de engenharia civil.
d muito importante que os profissionais da construção não se deixem iludir por soluções de
caráter duvidoso, de fácil resolução e baixo custo, caso elas não estejam em conformidade
com as normas e as boas técnicas da engenharia civil. Pode parecer o ideal em curto prazo,
mas tenham certeza de que será uma solução com grandes chances de vir a dar problemas no
futuro, acarretando sempre danos pessoais e grandes prejuízos financeiros.
É sempre mais econômico e seguro fazer da maneira correta logo na primeira vez, visto que os
reparos, restauros e reforços posteriores sempre implicam um custo final mais elevado para a obra.
Pretendemos com este trabalho alertar os profissionais que atuam nessa área para a neces-
sidade de estarem atentos a todo tipo de procedimento que possa levar a um sinistro, uma
vez que ele resultará inevitavelmente em prejuízos materiais e poderá ainda causar danos
pessoais irremediáveis.
2 Sinistros em obras de terra
2.1. GENERALIDADES
Na grande maioria das obras de pequeno e médio porte não são detalhados os procedimentos
técnicos que devem ser observados na execução dos cortes e aterros, como normalmente ocor-
re em projetos maiores, como os rodoviários, ferroviários e de barragens.
É claro que essas obras de grande |x>rte requerem um grau de atenção especial no item movimento
de terra, de tal sorte que os projetos são voltados para todos os detalhes que esta atividade exige.
No entanto, as pequenas edificações industriais ou residenciais também devem receber uma aten-
ção técnica mais adequada quando se trata de obras de terra, tendo em vista que as conseqüências
de uma obra mal executada quase sempre são graves; basta verificar os constantes noticiários de
deslizamento de taludes, muitas vezes com vítimas fatais e sempre com elevados prejuízos.
O que temos constatado com mais freqüência nessas obras é a ausência de um profissional especi-
alizado, principalmente para os casos de corte e aterro, que necessitam de es|>ecificações e cuida-
dos especiais quanto aos procedimentos a serem seguidos para se obter um terrapleno estável.
Quando isso não ocorre e o empreiteiro também não toma os devidos cuidados, o que se veri-
fica é um acúmulo de erros durante a execução da obra, que, via de regra, resulta na ruptura
parcial ou total dos taludes.
Os aterros sobre uma camada de solo mole, que contém materiais orgânicos e principalmente
raízes vegetais, devem ser cuidadosamente estudados, uma vez que surgem elevadas defor-
mações quando não são tomados os devidos cuidados.
Essas camadas de solo fraco apresentam elevadas deformações quando submetidas a um acrés-
cimo significativo de peso. Para resolver o problema podemos pensar na troca desse material
mole quando a sua espessura for pequena; se for elevada, deve-se estudar outra possibilidade
como aterro de pré-carga, drenos verticais e outros, sendo que nesse caso recomendamos a
participação de um engenheiro especializado em mecânica dos solos.
Caso esse material não seja removido, ele irá adensar com o tempo de forma irregular, provo-
cando uma movimentação do aterro e comprometendo tudo o que estiver sobre ele. No caso de
haver edificações com fundações que não previram essa situação, ocorrerá inevitavelmente
um recalque diferencial com o surgimento de trincas generalizadas nas paredes e, dependendo
da magnitude dessas acomodações, poderemos ter um sinistro de graves proporções.
Essa situação também deve ser prevista quando há necessidade de se instalarem máquinas
pesadas sobre solos compressíveis, principalmente se forem equipamentos de precisão ou que
produzam vibrações; nessas condições não será suficiente a execução apenas de uma base de
concreto armado com grande espessura, pois implicará mais peso e conseqüentemente mais
recalque do solo mole logo abaixo.
Inicialmente deverá ser verificada a necessidade de se trocar o solo superficial, conforme cita-
do no item 2.2. Na hipótese de não ser necessário, então é imprescindível que se remova toda
a camada de solo vegetal existente, inclusive as raízes mais profundas, e se executem degraus
conforme desenho 2.3.1, de tal forma que seja possível a execução do aterro em camadas
horizontais devidamente compactadas.
Normalmente o que temos observado é que esses cuidados não são observados na maioria das
obras de aterro sobre superfície inclinada e, via de regra, a ruptura parcial ou total do aterro é
quase sempre inevitável, dependendo apenas do tempo e da intensidade da chuva.
Em obras de pequeno e médio porte, é muito comum que se executem os aterros com o solo
retirado do corte, sem uma análise prévia das suas características, providências que são indis-
pensáveis para avaliar se o material existente apresenta condições mínimas de ser empregado.
U m solo para poder ser utilizado como aterro precisa reunir determinadas condições de
granulometria e umidade, e nesse sentido são necessários alguns ensaios específicos de labo-
ratório. No caso das pequenas obras esse procedimento é economicamente inviável e desne-
cessário, desde que se conte com a participação de um engenheiro especializado em mecâni-
ca dos solos, que poderá fazer uma análise das condições locais e definir os procedimentos
mínimos adequados para se executar a obra de corte e aterro.
Dessa forma, o que ocorre algumas vezes é que se utiliza no aterro o solo extraído da zona de
corte, seja ele qual for, correndo-se o risco de se empregar argilas moles que não aceitam
compactação e se comportam como um "colchão de água", formando os famosos "aterros
borrachudos", ou solos arenosos que devem ser compactados com equipamento vibratório que,
por sua vez, são difíceis de ser empregados em obras de pequeno porte.
O que se verifica na prática é que o solo vegetal encontrado sempre próximo à superfície do
terreno é o mais empregado nos aterros das pequenas obras; no entanto, como o próprio nome
diz, serve para plantar e não para aterrar, pois não é adequado para essa função e sempre que
é utilizado resulta em algum tipo de sinistro para a edificação.
Diante da realidade de que pequenas obras de corte e aterro não comportam estudos mais
sofisticados do solo, recomendamos que se faça pelo menos uma investigação de baixo custo,
através de uma sondagem do subsolo, e se contrate um engenheiro especializado para orientar
todo o trabalho a ser executado.
Este é outro erro comum nos aterros. Acreditar que é possível se conseguir uma compactação
adequada apenas compactando a última camada. O que se consegue é adensar apenas os 20
ou 30 cm superficiais, ficando as camadas inferiores fofas e prontas para recalcarem ao longo
do tempo, prejudicando tudo que estiver sobre ele.
Mesmo em obras de pequeno porte, devemos e podemos realizar um trabalho correto, buscan-
do para tanto executar um aterro com solo adequado e lançado em camadas não superiores a
20 cm, devidamente compactado através do uso de um dos vários tipos de equipamentos de
pequeno e médio porte disponíveis atualmente no mercado da construção civil. Porém, não
devemos dispensar a presença de um profissional qualificado nesse tipo de atividade.
Quando desejamos executar um aterro com controle de qual idade, é necessário que o enge-
nheiro da obra tenha pleno conhecimento do tipo de solo existente na jazida de empréstimo.
Para se obter uma compactação adequada devemos conhecer algumas características básicas
do solo, tal como a granulometria, a umidade ótima e a densidade aparente máxima.
Caso não sejam observadas todas as recomendações técnicas necessárias, corremos o risco de
não ter um aterro compactado adequadamente e nessas condições estaremos sujeitos a ruptu-
ras ou acomodação futura do mesmo, causando conseqüências para as edificações que estive-
rem sobre ele.
Outro fator importante é a correta inclinação do talude, e isso depende basicamente das característi-
cas do solo: um ângulo muito elevado gera instabilidade e conseqüentemente favorece a ruptura; \x>r
sua vez ângulos menos inclinados que o necessário geram custos adicionais e exigem mais espaço.
Dessa forma, é importante que se conheçam bem as características do solo para que >e possa
definir corretamente o ângulo mais adequado de inclinação do talude. Essas inclinações vari-
am também em função de ser um talude de corte ou aterro, sendo que este último é normalmen-
te mais abatido que o de corte.
Outro fator que agrava as condições de estabilidade dos taludes é a falta de drenagem superfi-
cial, como veremos no capítulo 2.13.3, que tem por finalidade permitir um eficiente escoamen-
to das águas pluviais, uma vez que não restam dúvidas de que a percolação da água é o grande
inimigo da estabilidade dos terraplenos.
Nesse sentido, devemos escolher o melhor tipo de proteção superficial em função do tempo de
exposição do talude. No caso de obras provisórias podemos optar pela proteção com lonas plás-
ticas, pinturas betuminosas e revestimento com argamassa de cimento e areia; para situações
definitivas devemos buscar soluções alternativas de longo prazo, sendo a grama a opção mais
empregada, por ser de baixo custo, de fácil aplicação e de aspecto mais agradável e natural.
Outra situação que tem colaborado para a instabilidade dos taludes é a presença de dutos
hidráulicos e sanitários nas proximidades. O fato é que eles sempre estão sujeitos a vazamentos
por diversos motivos e, quando isso ocorre, podemos ter um deslizamento de terra se o proble-
ma não for corrigido a tempo.
Essa condição muitas vezes não é fácil de ser prevista quando os dutos estão enterrados e não
se tem uma planta cadastral dos mesmos, ou um levantamento das possíveis tubulações de
água e esgoto passando pelo local onde será executado o talude.
A execução do aterro no local com tubulações irá gerar uma condição nova de acomodação do solo
local, situação que poderá com o tempo colaborar para que ocorram deformações e rupturas nesses
dutos. Para evitar esse tipo de problema, devemos fazer sempre uma visita prévia ao local onde será
executada a obra, com a finalidade de identificar e cadastrar essas tubulações, se possível.
A água é sem dúvida um dos elementos que têm provocado inúmeros sinistros nos ta udes de
corte aterro ou mesmo natural. A livre percolação das águas pluviais ou superficiais, sem um
sistema eficiente de captação e lançamento das mesmas, é o principal motivo de ruptura dos
taludes, provocando em alguns casos grandes tragédias, quando enormes barrancos são arrasta-
dos pela força da água, destruindo tudo o que estiver no seu caminho.
Devemos ter em mente que a pior situação possível é permitir que águas existentes nas proxi-
midades procurem seu próprio caminho nos locais onde foram efetuadas alterações da topogra-
fia local através de terraplenagens, pois nessas condições elas vão iniciar um processo de
erosão que inevitavelmente comprometerá a estabilidade dos taludes.
Esse comportamento já pode ser percebido em algumas empresas privadas com preocupação
na preservação de seu patrimônio e na redução de custos a médio e longo prazo. No entanto,
a manutenção preventiva é uma atividade que precisa criar uma nova cultura no Brasil, já que
verificamos inúmeros casos de sinistro em que a causa é a ausência de manutenção, pois,
apesar de a edificação ter sido corretamente projetada, não foi capaz de resistir ao descaso e
total abandono.
As obras de aberturas de valas foram até pouco tempo a causa de muitos sinistros na engenharia
civil, em que a falta de escoramento adequado e equipamentos apropriados provocavam desmo-
ronamentos constantes, acarretando muitos prejuízos financeiros e inúmeras vítimas fatais.
Uma situação perigosa é a abertura de valas próximas de edificações com fundação direta;
nesse caso, pode ocorrer um desconfinamento com deformação lateral do solo na região da
base da sapata, resultando na possibilidade de recalques com surgimento de trincas nas alve-
narias ou até colapso parcial da edificação (ver fig. 2.10.1).
Rotação da Prancha
Outra situação semelhante a essa e que também causa danos é a presença de veículos pesados
transitando junto às valas; eles produzem elevada pressão na camada superior do terreno,
aumentando significativamente a pressão da terra sobre as pranchas e estroncas, que em mui-
tos casos não resistem e ocorre então o colapso parcial da obra (ver fig. 2.10.3).
Aumento do
bmpuxo
Em obras de terraplenagem para abertura de rodovias, estrada de ferro e até em vias urbanas,
temos constatado vários sinistros por ruptura de taludes principalmente pela execução de cor-
tos em suas bases. A situação se agrava quando se trata de aterros sobre solos inclinados;
nessas condições o corte no pé do talude provoca instabilidade, resultando na maioria das
vezes na ruptura do talude e no colapso de tudo o que estiver sobre ele.
O aterro fora construído havia mais de vinte anos e se apresentara estável até aquela data; a
terraplenagem efetuada pela empreiteira alterou as condições de equilíbrio existentes, resul-
tando na ruptura do maciço terroso e no conseqüente colapso total da residência que ficava
sobre ele íver fie. 2.11.1).
Edificação
Aterro
Corte
Superfície do
Solo Natural
\ Linha de Ruptura
^ S C o
í t u r a l e Aterro
Mesmo em taludes naturais ou executados através do corte no terreno, a remoção de parte da sua
base gera um desequilíbrio, tornando-o instável e com risco de desmoronamento (ver fig. 2.11.2.a).
Linha de Ruptura
Citam-se a seguir alguns casos em que tivemos oportunidade de participar, com a finalidade de
alertar o leitor para a gravidade desse tipo de situação.
Felizmente esse sinistro ocorreu na fase inicial da construção de uma escola, que estava sendo
implantada sobre esse aterro. Dessa forma, os danos foram apenas materiais, no entanto as
conseqüências poderiam ter sido trágicas se a escola já estivesse em pleno funcionamento.
Algumas edificações que foram construídas no litoral paulista, principalmente em certas áreas
do município de Guarujá, em São Paulo, receberam aterro sobre argila marinha, o que acarre-
tou ao longo do tempo sérios recalques de piso e fundações, comprometendo na maioria dos
casos a estabilidade da edificação.
Para salvar esses imóveis, foi necessário executar alguns serviços de reforço e recupera-
ção da estrutura, bem como a substituição de uma c a m a d a de solo existente por um
material mais leve, no sentido de reduzir o peso sobre a argila marinha e estabilizar os
recalques.
Outra situação interessante ocorreu na cidade de Jacareí, em São Paulo, onde o cons-
trutor por medida de precaução e a critério próprio colocou uma armadura em todo o
contrapiso de concreto, com a finalidade de evitar alguns danos que poderiam surgir na
edificação em função de ter executado um aterro sobre uma camada de solo mole (ar-
gila orgânica).
Apesar da sua boa intenção, o que se verificou, no entanto, após alguns meses do término da
obra, foi o surgimento de inúmeras trincas nas alvenarias, denunciando uma deformação exa-
gerada dos baldrames, apesar de os mesmos terem sido dimensionados e executados correta-
mente para suportar as cargas previstas em projeto.
O que ocorreu, a bem da verdade, foi que a colocação da tela de reforço no contrapiso passou
a funcionar como laje armada e, à medida que houve adensamento da argila orgânica, ela
recalcou e se apoiou sobre os baldrames, gerando com isso um significativo acréscimo de
carga sobre os mesmos, resultando numa condição não prevista no projeto estrutural, o que
provocou a deformação excessiva do elemento estrutural e o surgimento das trincas nas alve-
narias (ver fig. 2.12.1).
A solução nesse caso foi cortar o piso de concreto armado junto aos baldrames de forma a
permitir a sua livre movimentação sem sobrecarregar os baldrames e as fundações.
Contrapiso de Concreto
Armadura do Roforço
1
Adicionada polo Construtor
Afundamento de Piso /
T
•I ••
I
HSBB H
WSÊMÊ s &
O aprendizado que podemos tirar nesse caso é que mesmo havendo preocupação com situa-
ções desse tipo, devemos analisar cuidadosamente as soluções aparentemente viáveis para
resolver ou amenizar a presença da camada de solo ruim, uma vez que o assunto requer co-
nhecimentos específicos e soluções integradas com o restante da obra, caso contrário, pode-
mos agravar as condições existentes, como ocorreu nesse caso.
2.13. ALGUMAS SOLUÇÕES PARA ESTABILIZARTALUDES
A estabilização de taludes é uma especialidade da engenharia civil, que, para apresentar segu-
rança com desempenho técnico e econômico, deve ser analisada e estudada com o máximo de
critério e conhecimento específico, tendo em vista que vão se buscar soluções para controlar
forças da natureza, muitas vezes com valores descomunais e que podem provocar sinistros de
grandes proporções.
Queremos com isso alertar o leitor para a necessidade de se fazer um trabalho detalhado de
pesquisa e levantamento em campo de todas as variáveis que envolvem cada situação especí-
fica, tais como sondagens, ensaios, levantamento planialtimétrico cadastral e outras que se
fizerem necessárias.
Somente após a coleta desses dados poderemos iniciar os estudos para viabilizar algumas solu-
ções para a estabilização do talude, lembrando que em muitos casos a solução ideal implica
uma composição equilibrada de soluções clássicas que, via de regra, são adotadas de forma
isolada, conforme abordaremos a seguir.
2 . 1 3 . 1 . Al ívio do E m p u x o
Em alguns casos, onde a altura do talude é elevada, acima de 6 m, a solução ideal pode ser a
remoção de uma porção do solo para aliviar o empuxo e com isso estabilizar o terrapleno (ver
fig. 2.13.1).
Alguns taludes naturais de encostas, quando o nível do lençol freático for elevado, pedem ser
estabilizados através de drenos sub-horizontais profundos, conforme mostra a fig. 2.13.2.
Dreno Sub-Horlzontal
^ N.A.
DET. DO DRENO
2 . 1 3 . 3 . Impermeabilização da Superfície
Via de regra, a estabilização de um talude implica sempre se adotarem, entre outras medidas, soluções
para impedir a erosão e a penetração cias águas superficiais, devendo-se para tanto providenciar urna
impermeabilização do talude e um eficiente sistema de captação e lançamento dessas águas.
Isso pode ser facilmente comprovado quando viajamos de carro e constatamos inúmeras ruptu-
ras nos taludes ao lado das rodovias, causadas principalmente pela ausência de proteção su-
perficial ou ineficiência do sistema de captação/lançamento das águas pluviais, que, por sua
vez, se existirem não recebem manutenção preventiva e corretiva adequada, conceito que
ainda precisa criar uma cultura no Brasil.
REVESTIMENTO
CHUMBADORQU
GRAMPO CANALETA DE CAPTAÇÃO
NO TOPO DO TALUDE /
TELA
DEAÇCV
BARRA DE \
ANCORAGEM S
PISO DE
CONCRETO
ARMADO
CANALETA DE CAPTAÇÃO
NO PÉ DOTALUDE
Determinadas situações exigem que se faça uma estrutura de contenção para se garantir a
estabilidade do terrapleno; nesses casos, podemos contar com uma grande variedade de
soluções consagradas pelo uso. No entanto, para se escolher a solução de melhor desem-
penho técnico e econômico, é necessário que se definam vários parâmetros, tais como
altura do terrapleno, tipo do solo, presença de água, características de implantação e con-
dições de execução.
MURO D E A R R I M O
GRAVIDADE
O muro de arrimo de ílexão pode ser de alvenaria, de concreto armado ou misto; o tipo a ser
definido vai depender de vários fatores, mas essencialmente da altura do terrapleno, sendo que
os de alvenaria são indicados para alturas menores e o de concreto para alturas maiores.
As estruturas de arrimo atirantadas, por sua vez, já são muito eficientes e práticas quando se
precisa conter terraplenos de altura elevada, sendo por esse motivo de grande aplicação na
estabilização de taludes em obras rodoviárias, industriais ou mesmo predial de grande porte; no
entanto, requerem profissional com conhecimento específico e utilização de equipamento apro-
priado.
Os muros de gravidade podem ser executados com qualquer tipo de material, desde :jue seja
durável, tenha peso elevado e possa ser construído de tal forma que o seu peso próprio seja
capaz de resistir ao empuxo da terra. Normalmente são utilizadas pedras-de-mão simplesmen-
te assentadas ou arrumadas dentro de caixas formadas por telas de aço (gabião); outro material
utilizado é o concreto ciclópico, ou o concreto ensacado.
Algumas soluções específicas utilizam a própria terra como elemento de peso para compor
uma estrutura de contenção; é o que ocorre no caso das terras armadas, em que o solo é
compactado em camadas tendo no seu interior tiras de chapas de aço que são presas na extre-
midade oposta a uma placa pre-moldada de concreto e o conjunto todo acaba funcionando
como muro de arrimo.
3 Sinistros em muros de arrimos
3.1. GENERALIDADES
O s muros cie arrimos têm siclo a causa de vários sinistros no Brasil e por diversos motivos,
principalmente por erros de projeto ou falhas durante a execução da obra. Conforme artigo
publicado pelo prof. Costa Nunes, na revista Estrutura, foram analisados 300 casos de sinistros
em muros de arrimo, sendo constatadas as seguintes incidências de causas:
Como se pode |>erceber, as falhas mais comuns em projeto e execução são devidas à inexistência
ou funcionamento precário do sistema de drenagem; nessa condição surge um esforço adicional no
muro de arrimo em razão do ernpuxo provocado pelas águas represadas, situação que se agrava
principalmente nas épocas de chuvas, onde temos uma maior incidência desse tipo de sinistro.
Além das águas pluviais, os vazamentos em tubulação hidráulico-sanitária também têm sido
um grande gerador de colapso das estruturas de arrimo.
A segunda maior causa de acidentes com muros de arrimo é sem dúvida o dimensionamento incor-
reto das fundações. Em alguns casos onde ocorreram sinistros foi constatado que o ti|X) de fundação
existente era inadequado para as características do muro e principalmente para as do solo.
O processo executivo também é responsável por um grande número de sinistros dos muros de
arrimo; é comum ocorrerem alguns tipos de acidentes, principalmente devido à ruptura parcial
do talude durante as escavações, o que tem sido, infelizmente, a principal causa de morte dos
operários que trabalham nesse tipo de obra.
Durante a execução da maioria dos muros de arrimo não se observa uma inclinação adequada
para os taludes provisórios, nem se coloca escoramento para impedir o desmoronamento da
terra, principalmente porque as condições ideais geram custos adicionais ou dificultam a exe-
cução do muro, uma vez que normalmente não se dispõe do espaço necessário para se dar
uma inclinação estável ao terrapleno e a presença das escoras dificultam sobremaneira a exe-
cução da obra.
O construtor precisa estar ciente das suas responsabilidades e dos riscos inerentes ao processo
executivo de um muro de arrimo, devendo, portanto, tomar todas as providências necessárias
para evitar qualquer tipo de acidente durante a obra e ao mesmo tempo procurar seguir rigoro-
samente as recomendações e especificações do projeto.
Como se pode perceber, os muros de arrimo estão sujeitos a uma série de condições perigosas
e qualquer uma delas poderá gerar um sinistro de graves proporções, implicando, portanto, a
necessidade de se levar muito a sério todas as variáveis que interferem na estabilidade de uma
estrutura de contenção, de forma que o projetista deverá se empenhar para encontrar uma
solução técnica e economicamente adequada para as condições locais.
Os casos de sinistro em muros de arrimo com fundação em sapatas corridas foram devido ao
dimensionamento incorreto das mesmas, ou pelo fato de a fundação não ser adequada para
aquele tipo de solo, ocorrendo então um recalque acentuado com perda da verticalidade do
muro; essa condição aumenta ainda mais a instabilidade da estrutura, uma vez que o conjunto
das forças verticais se desloca cada vez mais para fora do terço central do núcleo de inércia,
podendo evoluir até provocar o colapso do muro de arrimo.
Para evitar esse tipo de problema, elevemos analisar criteriosamente as características do solo
onde será implantada a fundação do muro e verificar se ele é adequado para suportar as ten-
sões que serão geradas naquele ponto. Por outro lado é necessário que se faça um
dimensionamento correto da sapata, para receber as cargas verticais acrescidas dos momentos
provocados pelo empuxo do solo.
Para tanto, é importante que se verifiquem as reações de atrito da base do muro com o solo e, se
o empuxo for maior que a força resistente, será necessário prever uma chave, sendo q j e a sua
eficiência vai depender da observância de todas as etapas construtivas, que visam garantir um
perfeito contato entre a face da chave e o solo, possibilitando assim uma boa ancoragem; caso
contrário, deixará de ser um elemento favorável e poderá se transformar num elemento preju-
dicial à estabilidade do muro (ver fig. 3.2.1).
D= Dcsaprumo Devido
à Rotação da Base
Chave para impedir Enchimento com
Deslizamento do Muro Concreto "Magro"
de Forma a Garantir
Det.-1 uma Ligação adequada
da Chave com o Solo
Alguns sinistros em muros de arrimo com fundação em estaca ocorrem por uma forte tendência
de se querer usar apenas uma linha de estacas, seja por desconhecimento, seja por motivos
econômicos ou por dificuldades executivas. Nessas condições a fundação apresenta pequena
capacidade de absorver momento fletor, resultando, portanto, em pouca eficiência para conter
o empuxo da terra e resultando, no tombamento do muro.
O ideal é que se empreguem sempre duas linhas de estacas, formando um binário resistente,
que é muito eficiente para absorver o momento gerado pelo empuxo do solo.
Ocorreram também alguns casos de ruptura ou deformação excessiva nas estacas ou brocas
dos muros de arrimo, por não terem resistido à força horizontal do empuxo.
As estacas, via de regra, são projetadas para receber esforços verticais, sendo elementos estru-
turais para resistir a pequenas forças horizontais, a não ser em condições especiais, quando
previamente elas são dimensionadas para essa finalidade. No entanto é importante que se
tenha em mente que essa capacidade dependerá também das características do solo.
Solução ~
Fundação com
apenas uma linha
de Estacas não ó Fundação com duas
aconselhável, por não Estacas é mais
ser Eficiente para Eficiente para
absorver momentos Absorver Momentos
Fletores na Base Fletores
O s casos de sinistros em muro de arrimo executados sobre uma superfície com topografia
muito inclinada foram devido a fundações rasas que sofreram um processo de erosão do
terreno próximo à base, p r o v o c a n d o um d e s c o n f i n a m e n t o do solo e a conseqüente
desestabilização do muro.
Há registro também de ruptura do talude onde foi executado o muro de arrimo, provocada pelo
acréscimo de carga que essa nova situação gerou no terrapleno.
Para evitar situações desse tipo, é necessário observar alguns cuidados adicionais na escolha
do tipo de fundação para muros de arrimo em terrenos inclinados, principalmente se houver a
possibilidade de ocorrer erosão. Nesses casos devemos optar por fundações profundas, mesmo
que o solo se mostre adequado para fundação rasa do tipo sapata corrida, pois este é mais
vulnerável ao processo de solapamento do solo ao longo do tempo.
Os casos de sinistro em muros de arrimo por falhas de projeto, infelizmente, ainda são muito
comuns na nossa engenharia. A principal causa é não levar em consideração o valor do empuxo
da água, que, por sua vez, assume valores elevados capazes de provocar o colapso da estrutu-
ra de contenção.
Outra falha comum é não prever sobrecargas adicionais no terrapleno e um eficiente sistema
de drenagem, o que nos remete às condições do parágrafo anterior, sendo que vamos abordar
esse aspecto com detalhes no item 3.5.
Outro erro de projeto que normalmente resulta em sinistro é subestimar o valor potencial do
empuxo. Em alguns casos isso se deu por erro de cálculo e em outros pelo critério errado de
dimensionamento que levou em consideração, de forma muito otimista, alguns parâmetros que
permitem reduzir o valor do empuxo.
Alguns casos mais antigos de sinistro c m muros de arrimo foram decorrentes da corro-
são das armaduras, em função de o elemento estrutural estar normalmente em contato
permanente com a umidade, condição essa, que somada a um cobrimento insuficiente,
favorece o ataque do aço. Essas obras foram executadas durante a vigência da antiga
norma brasileira (NB-1), em que a recomendação na espessura do cobrimento não era
como atualmente.
No Caso dos Muros do Arrimo do Concroto Armado, Dovomos Tomar Cuidados Espoclals para Garantir a Proteção
da Armadura, Atravéz de um Cobrimento maior igual a Três Centímetros e Posterior Impermeabilização da Superfície
do Concreto, tendo em Vista que não será Possível Identificar o Processo de Corrosão.
Há casos de vazamentos em tubulações hidráulicas que com o passar do tempo têm o mesmo
efeito das chuvas. Ou ainda a variação no nível do lençol freático, que apesar de menos co-
mum, também gera empuxos capazes de provocar tal sinistro.
Esse tipo de sinistro normalmente ocorre porque não se prevê em projeto um eficiente sistema
de drenagem ou, quando previsto, não é executado corretamente. Por outro lado, alguns siste-
mas de drenagem vão perdendo a eficiência com o tempo, principalmente pelo fenômeno da
colmatação do elemento drenante, devido ao acúmulo das partículas finas do solo que com o
tempo acabam impedindo a passagem da água, e nessa condição é necessário fazer uma ma-
nutenção nos drenos para que volte a funcionar novamente.
Um sistema de drenagem usado com sucesso em muros de arrimo com altura de até 3,0 m pode
ser visto na figura 3.5.1; no entanto, devemos ter em mente que eles têm uma vida útil que
depende de diversos fatores locais. Então, quando for constatada uma redução da vazão, é
sinal de perda de eficiência do sistema, devendo-se, nessas condições, providenciar a sua
manutenção com urgência.
Para muros com altura elevada, devem-se executar, além dos drenos junto ao muro, outros mais
profundos através da introdução de tubos drenantes com comprimento suficiente para capitar
uma parcela de água em pontos mais afastados da estrutura de contenção.
Tratamento do Talude
(grama,cimentado etc.)
Canaleta de Captação
Detalhe do Buzinote das Águas Pluviais
V /
Manta Geotêxtil
Buzl notes
i
Elemento Drenarte
• (brita + areia)
Obras que geram abertura de valas próximas à base de um muro de arrimo são sempre perigo-
sas, pois criam um dcsconfinamento do solo no seu entorno, possibilitando que as tensões de
compressão produzidas pelo muro de arrimo nas fundações causem uma ruptura do solo de
base, implicando na maioria das vezes sinistros de graves proporções (ver fig. 3.6.1).
Muro de Arrimo
Abertura da Vala
mm]
Tensão do Solo
Fig. 3.6.1. Abertura de valas próximas de muros de arrimo
Em determinados momentos na vida útil de um muro de arrimo, pode ocorrer uma sobrecarga
não prevista no projeto original e aumentar de maneira significativa o empuxo sobre a estrutura
de contenção, provocando o seu desaprumo, ou mesmo um colapso nos casos mais graves.
Esse tipo de situação é provocado normalmente em conseqüência de novas obras nas imedia-
ções, quando se passa a ter um tráfego de veículos pesado próximo ao muro, que, além do seu
peso próprio, ainda recebe o depósito de areia, pedra, terra e outros materiais na parte superior
do arrimo, gerando com isso um significativo acréscimo no empuxo (ver fig. 3.7.1).
Alguns muros de arrimo têm sido executados ultimamente com mais freqüência em alvenaria
estrutural, devido à facilidade e rapidez que esse sistema permite; no entanto, essa solução não
deve ser empregada para alturas elevadas, onde se mostraram de pouca eficiência.
O caso de sinistro nos muros de animo em alvenaria estrutural é devido às falhas no enchimento cios blocos
com graute ou concreto. Isso ocorre [>or dois motivos mais freqüentes: o primeiro, em razão de uma even-
tual otetrução do furo pela argamassa de assentamento dos blocos; o segundo é decorrente do adensamento
incorreto do graute, sendo que na maioria das vezes esses dois erros se somam e o resultado em qualquer
um cJos casos é o surgimento de vazios internos, também conhecidos como bicheiras (ver fig. 3.8.1).
Quando as falhas ocorrem em estruturas de concreto convencional, elas são fáceis de ser
identificadas logo após a desforma, permitindo os reparos necessários. No entanto, o mesmo já
não acontece no caso da alvenaria estrutural, onde não se percebem as falhas de concretagem,
uma vez que ficam dentro dos blocos e, nessas condições, nenhuma providência é tomada
para corrigir o problema, deixando então a ferragem mais vulnerável ao processo de corrosão.
Essas estruturas ficam em contato direto com o solo, onde a umidade é constante, fator que
facilita a corrosão, que por sua vez irá ocorrer num espaço vazio dentro do bloco de concreto.
Por esse motivo, a expansão que acompanha a oxidação da armadura não será percebida e
poderá evoluir até provocar um colapso da estrutura.
Para minimizar esse tipo de problema, recomendamos que as execuções de muros de arrimo de
alvenarias estruturais sejam executadas com muito critério, começando pelo assentamento dos
blocos sem deixar excessos de argamassa no interior dos furos que irão receber o graute. Este
por sua vez deve ser lançado a cada 4 blocos assentados e ter plasticidade e fluidez suficiente
para preencher completamente todo o espaço que tiver armação.
Apesar de todos esses cuidados, ainda corremos o risco de ter algumas falhas de enchimento. Para
contornar essa possibilidade, devemos executar uma impermeabilização eficiente da face do muro
que ficará em contato permanente com o solo, de forma a garantir a proteção das armaduras.
Alertamos que nos reservatórios de água ou de outros produtos líquidos executados em alvena-
ria armada, esse tipo de problema também pode ocorrer, sendo que nesse caso os cuidados
deverão ser redobrados.
Ferragem
4.1. GENERALIDADES
A correta definição de um tipo de fundação é fundamental para garantir vida longa e estabilidade
para uma edificação, haja vista que até em citações bíblicas é dito que o homem que edificar sua
casa sobre a rocha, o vento e a tempestade não a derrubarão; no entanto, aquele que edificar
sobre terreno ruim será arrastado pelo temporal. É claro que essa passagem se refere à base da
vida de um ser humano, mas serve para mostrar a importância de se edificar sobre terreno firme.
Mesmo o leigo sabe que é fundamental uma boa fundação ou alicerce, como costumam cha-
mar, para evitar sérios problemas no futuro, como o surgimento de trincas vivas, que mesmo
tratadas com colocação de ferro ou telas de náilon não resolvem o problema, uma vez que ele
não está na alvenaria, e sim na movimentação das fundações.
A evolução das trincas pode sugerir em alguns casos que há um problema mais sério nas funda-
ções e que com o tempo pode comprometer a estabilidade da edificação, colocando em risco
a segurança de seus usuários. Nessas condições, a correção do problema implica quase sem-
pre soluções de custo elevado e desconforto para o usuário. Por esse motivo é indispensável
que se faça da maneira correta logo na primeira vez, pois com certeza resultará em mais
economia, menos risco e mais conforto.
O profissional menos preparado ou desatento pode incorrer em erros lamentáveis com sérias
conseqüências a médio e longo prazo; isso ocorre em alguns casos pela falta de conhecimento
técnico, ou pela falta de humildade em reconhecer suas limitações. Nesse caso, ele adota
soluções empregadas em obras anteriores, sem avaliar corretamente o seu desempenho ao
longo do tempo, ou verificar se ela é adequada ao solo da nova obra.
Apesar de simples, essa sondagem permite uma classificação do tipo de solo existente e uma
avaliação muito boa da sua resistência, elementos indispensáveis para se definir qual a funda-
ção mais adequada.
Nas obras maiores, como prédios de vários andares ou indústrias de grande porte, os projetistas
não dispensam a sondagem de reconhecimento do subsolo para projetar o tipo de fundação que
vai apresentar o melhor desempenho técnico e econômico.
Nas edificações residenciais, comerciais e industriais de pequeno porte, esses cuidados nor-
malmente não são observados, fazendo com que muitas vezes se cometam erros grosseiros que
resultam em sérios sinistros.
No entanto ainda não é possível prever com total exatidão os recalques absolutos que irão
ocorrer numa fundação. Por outro lado, não existe recalque zero, e fundações projetadas para
ter recalque bem próximo de zero implicariam custos proibitivos, inviabilizando a maioria dos
empreendimentos.
Para se ter um resultado altamente satisfatório, é muito importante que a empresa de sondagem
e o engenheiro projetista sejam reconhecidos pela excelente qualidade dos trabalhos executa-
dos. Ao mesmo tempo é imprescindível que a obra seja acompanhada durante a execução das
fundações, tendo em vista que é muito comum ocorrer variação nas características do solo, o
que irá implicar uma pronta intervenção do projetista.
No capítulo 2.12, tivemos oportunidade de verificar o que ocorre com aterros sobre turfas ou
argilas orgânicas ou solo muito compressível, sendo que neste tópico vamos tratar das suas
conseqüências no comportamento das fundações de uma edificação.
Nessas localidades, o aterro executado, mesmo no caso de pequenas alturas, provocou depois
de uns meses um lento processo de adensamento da camada compressível do subsolo, acarre-
tando afundamento dos pisos e gerando sobrecargas adicionais nos baldrames e nas fundações.
O afundamento dos pisos não ocorreu de maneira uniforme, mas sempre de forma mais acentu-
ada no centro dos ambientes delimitados por alvenarias. Esse fato se justifica tendo em vista
que ocorre uma ligação entre o piso e os elementos de vedação.
Em jacareí, devido à má qualidade de uma camada superficial do solo, onde seria construída
uma escola, a construtora resolveu tomar algumas providências no sentido de minimizar os
possíveis efeitos danosos do aterro na edificação que seria executada no local. Ressalvamos
que a solução dada pela empreiteira foi baseada em seus próprios critérios, sem consultar os
profissionais responsáveis pelo projeto de fundações.
A solução adotada foi a de colocar uma malha de aço em todo o contrapiso de concreto,
passando por sobre os baldrames. Agindo assim, na melhor das intenções, o construtor não se
deu conta de que, com o inevitável afundamento do piso, devido ao recalque do solo fraco, iria
sobrecarregar as vigas baldrames, as fundações e com isso provocar sérias rachaduras nas
alvenarias (ver fig. 2.12.1).
Em casos semelhantes a esse, onde não foram colocadas armaduras no contrapiso, os danos
foram menores, mas mesmo assim o recalque do piso e o atrito lateral com as alvenarias provo-
caram sérios danos na edificação.
A correção adotada para o problema, sem gerar grandes custos e mais transtorno, foi a de
cortar o contrapiso com disco de diamante, o mais próximo possível de todas as alvenarias,
permitindo com isso que o mesmo pudesse recalcar livremente sem carregar consigo os ele-
mentos estruturais de fundação. O desnível remanescente foi corrigido com material de baixo
peso específico, do tipo argila expandida ou tijolos cerâmicos furados.
As soluções preventivas para este tipo de situação podem ser a total remoção da camada de
solo compressível e posterior aterro ou, na impossibilidade de tal remoção por motivos técnicos
ou econômicos, estruturar o piso ou executar o aterro e se aguardar o tempo necessário para a
sua acomodação, e só depois iniciar a obra.
Esta última solução demanda tempo, mas pode ser ideal quando se pretende construir obras de
um ou dois pavimentos, principalmente conjuntos habitacionais horizontais, pois se o aterro for
executado corretamente, será possível a utilização de fundação direta, que apresenta a vanta-
gem da rapidez e do baixo custo.
Há que tomar cuidado também com as fundações profundas, quando a camada compressível
for grande. Nesses casos, o aterro poderá provocar acomodações de tal magnitude a ponto de
gerar atrito negativo nas estacas, produzindo cargas adicionais que, se não forem previamente
consideradas, vão provocar recalques diferenciais nas fundações.
Para contornar esse tipo de problema, o projetista deve reduzir a capacidade nominal das esta-
cas. Para tanto é indispensável que esses cálculos sejam feitos por engenheiro especializado
em fundações, pois assim será possível que ele determine com precisão as cargas de trabalho
que o elemento de fundação poderá receber.
Neste tópico podemos perceber que mesmo para pequenas obras é imprescindível uma sonda-
gem prévia do subsolo, pois no caso de existir uma camada de solo compressível, devem-se
tomar os cuidados especiais citados anteriormente, de forma a não se ter surpresas desagradá-
veis e às vezes desastrosas.
Apenas para se ter uma ordem de grandeza, em alguns casos com aterros de apenas um metro
de altura sobre solo compressível foram constatados recalques de até 20 cm, provavelmente
somado com o aterro mal executado.
A fundação direta através de sapatas isoladas ou corridas são as mais usadas em obras de
pequeno porte; no entanto, são essas as que dão o maior número de problemas. É uma solução
rápida, de baixo custo e muito eficiente, quando adotada corretamente.
O que se verificam nas pequenas obras são a falta de sondagem e a ausência de um engenheiro
de solos para definir a solução ideal. E no caso do ser especificado o uso de sapatas, ele irá
recomendar os cuidados necessários a serem tomados.
Em muitos casos é comum que o assentamento das sapatas isoladas se dê em cotas diferentes,
em função da variação de nível na camada resistente. O construtor inexperiente ou desatento
poderá generalizar a cota de apoio de todas as sapatas, tomando por base apenas uns poucos
pontos de solo que ele julgar adequados para suportar as cargas da edificação.
Nesta situação, acaba ocorrendo que uma ou outra sapata se apóie sobre solo inadequado, causando
então um recalque diferencial, uma vez que este ponto irá recalcar de forma mais acentuada que os
demais, aparecendo então as trincas, inicialmente nas alvenarias e depois na estrutura (ver fig. 4.3.1).
O tamanho das sapatas e o tipo de solo também interferem nos recalques de uma fundação (ver f g. 4.3.2).
Recalque
Argilas Areias
Fig. 4.3.2. Gráficos pressão x recalque de sapatas isoladas, apoiadas em argila e areias
4.4. SINISTRO DEVIDO À FUNDAÇÃO DIRETA EM ATERROS
Exceto em situações específicas, onde o aterro foi projetado e executado para receber sobre
ele as cargas das fundações, devemos evitar o emprego de fundação direta sobre aterros, pois
na maioria das vezes em que isso ocorreu as edificações apresentaram sérios problemas de
recalques, com surgimento de trincas e comprometimento da estrutura, tendo em vista que a
maioria desses aterros é executado sem nenhum controle de qualidade.
Os piores locais são os terrenos que receberam aterro sanitário, ou que foram utilizados no
passado como bota-fora de lixo industrial. Nesses espaços não se deve edificar sem antes efe-
tuar minuciosos estudos envolvendo vários setores da engenharia, pois além de problemas com
as fundações temos o lençol freático contaminado e a presença de gases inílamáveis e tóxicos
que são nocivos à saúde do homem.
No entanto, o que temos observado é que justamente nesses locais ocorre o maior número de
construções clandestinas, que além dos inevitáveis danos que vão surgir nas edificações, iremos
ter também sérios problemas de saúde pública, pela contaminação dos moradores nessa região.
Nos demais casos onde é possível se construir, apesar da presença de um aterro, o engenheiro de
obras e o construtor devem tomar todos os cuidados para atravessar o aterro e buscar um solo
natural adequado para se apoiar a sapata, uma vez que devemos lembrar que não basta ser solo
natural, o mesmo deve apresentar características adequadas para suportar a carga da edificação.
Outro cuidado a ser tomado é com aqueles aterros que pelas características do solo empre-
gado podem enganar o profissional, que poderá entender que se trata de solo natural, ou
então não perceber que apenas parte do terreno é constituído por solo natural, havendo
trechos com aterro.
Em quaisquer das condições citadas anteriormente, iremos ter inevitavelmente recalques dife-
renciais nas fundações, acarretando trincas e rachaduras nas alvenarias e na estrutura, poden-
do levar a edificação ao colapso caso não sejam tomadas as devidas providências a tempo.
Nesses casos, uma solução técnica e economicamente viável é o reforço com estacas de rea-
ção do tipo MEGA, podendo ser de aço para atravessar aterros com muito entulho de obra, ou
de concreto quando o aterro permitir. Deve ser observado no caso das estacas metálicas que os
seus segmentos sejam corretamente soldados ou rosqueados; e no caso das estacas de concre-
to, os módulos devem ser furados na sua parte central, de forma a permitir a instalação de uma
armadura e posterior enchimento de concreto. Essas recomendações têm por finalidade garan-
tir linearidade e vertical idade às estacas.
Nesses casos, deve-se pensar em uma solução alternativa, com o emprego de Estacas Metáli-
cas, Raiz, ou Pré-Moldadas, sendo que esta última, se for de pequeno diâmetro, também pode
encontrar dificuldades para atravessar o aterro.
Outra situação indesejável que pode ocorrer é a cravação de estacas com "nega falsa", onde
a ponta da mesma pára em algum elemento resistente no aterro. Além de o componente de
fundação ter pouca capacidade de suportar cargas, poderá recalcar juntamente com o aterro
se este ainda não estiver estabilizado, trazendo conseqüências desastrosas para a edificação.
Situações desse tipo exigem cuidados especiais, começando pela programação de sondagens
que permitam o mapeamento correto do subsolo e forneçam todos os elementos indispensáveis
para que seja calculada a capacidade real de carga das estacas.
Finalmente, deve ser obrigatório um acompanhamento rigoroso da obra por engenheiro especializa-
do, de forma a se aferir o comprimento de cada estaca com a profundidade do aterro naquele [X)nto,
garantindo assim que a estaca atravesse todo o aterro e atinja o nível de solo previsto em projeto.
Sit.2 Acomodação
do Aterro \
Negativo
Aterro Compressível
Solo Natural
- No caso de a estaca parar no aterro (sit.1) ela irá recalcar na mesma proporção que o aterro acomodar
- No caso de a estaca parar no solo natural (sit. 2) ela ficará sujeita a um acréscimo de carga provocado
pelo atrito negativo
Para elucidar a situação descrita acima, citaremos como exemplo a construção de cinco sobrados
num bairro de Eng. Goulart, em São Paulo, em que o empreiteiro não levou em consideração que o
terreno tinha um acentuado declive e que havia recebido no passado aterros de diversos tipos.
Para agravar ainda mais a situação, o construtor também jogou o entulho gerado pela própria
obra, com a finalidade de amenizar o desnível existente.
Não se dando conta da situação, executou o mesmo tipo de fundação para toda a construção,
ou seja, brocas manuais com aproximadamente 2,00 m de profundidade. Sendo assim, nos
sobrados implantados na parte mais aterrada as brocas não atingiram o solo natural, primeira-
mente pelas dificuldades na abertura das brocas, em função da presença do entulho, e segundo
porque o aterro tinha mais de dois metros de altura nesta região, de tal sorte que as brocas
ficaram curtas e apoiadas somente no aterro.
O empreiteiro tentou com|x?nsar essas dificuldades usando uma quantidade muito maior de concreto
nas bases e nos baldrames, o que serviu apenas para agravar ainda mais o problema, pois agindo
assim colocou mais |X?so sobre um aterro lançado sem compactação e em processo de acomodação.
O resultado não podia ser outro: surgiram várias rachaduras nas alvenarias devidas aos recalques
diferenciais nas fundações. Nesse caso a solução empregada para resolver o problema foi a
utilização de estacas de reação do tipo MEGA, colocadas em pontos estratégicos para se ter
carga de reação e garantir que as mesmas atravessassem o aterro até atingir no solo natural a
camada ideal para que as estacas pudessem suportar as cargas da edificação.
Como se pode perceber, edificar sobre um aterro implica obrigatoriamente uma investigação
detalhada do subsolo, a elaboração criteriosa de um projeto de fundações e, por fim, uma
execução com acompanhamento rigoroso de cada etapa construtiva.
Buscando manter o escopo do nosso trabalho, vamos abordar de forma simplificada os problemas
mais comuns que costumam ocorrer com as fundações em estacas pré-moldadas ou moldadas no
local, sem a pretensão de um aprofundamento 110 mérito da questão, uma vez que esse assunto é
extenso e deve ser alvo de estudo em bibliografia específica. Pelas mesmas razões não iremos
abordar neste capítulo os as|>ectos relativos à mecânica dos solos nos recalques das fundações.
Os problemas que temos observado com mais freqüência na execução das fundações com
estacas são:
Pode ocorrer um erro de locação por falha de projeto ou por erro de medição na obra; eventu-
almente, por ocasião da movimentação do bate-estacas, ele pode não ficar bem posicionado,
ou esbarrar e deslocar o piquete indicador da posição da estaca.
Há situações em que apesar de a estaca ter-se iniciado no ponto certo, ela pode produzir um
deslocamento da posição inicial ou um desaprumo, caso encontre algum obstáculo no seu
caminho, como um fragmento de rocha ou outro elemento qualquer quando se tratar de aterro.
Quando for constatado que uma ou mais estacas não se encontram na posição correta, deve ser
feito um levantamento preciso dessas estacas após a cravação e levar ao conhecimento dos
projetistas da fundação e da estrutura. De posse desses dados, eles poderão fazer uma avalia-
ção da nova distribuição de carga nas estacas, bem como se haverá necessidade de uma
alteração no elemento estrutural.
Se não forem tomadas essas providências, poderemos ter algumas estacas com carga acima do
preconizado no projeto de fundações e, conseqüentemente, uma alteração no comportamento
do bloco de coroamento das estacas. A somatória desses fatores poderá provocar recalques ou
até mesmo a ruptura do elemento estrutural.
4 . 6 . 2 . Erros de C r a v a ç ã o
Durante a cravação das estacas, pode ocorrer sua quebra devido à conduta inadequada do
operador do bate-estaca, deficiência do material que constitui a mesma e camadas de solo
difíceis de serem atravessadas ou a presença de elementos que impeçam a sua penetração.
Mesmo que se tenha o conhecimento prévio da presença de elementos que possam quebrar ou
desviar a estaca, nem sempre é possível se optar por outro tipo de fundação, ou por motivos
técnicos ou na maioria das vezes por razões econômicas.
Nesses casos se torna obrigatório um acompanhamento rigoroso durante a cravação das esta-
cas, objetivando-se aferir a presença do obstáculo para se alterarem os pontos de cravação
onde for necessário.
Pode ocorrer de a estaca parar sobre um elemento estranho dando nega falsa, ou quebrar sem
que o operador perceba. Nesses casos um profissional menos experiente poderá entender que
a estaca atingiu o solo desejável e, no entanto, o que vai ocorrer é um inevitável recalque
diferencial e suas conseqüências na edificação (ver fig. 4.6.2).
Participamos da construção de uma escola na cidade de Santos, no bairro Areia Branca, que
por sua vez se situa junto ao pé de várias montanhas existentes no local. O solo se mostrava
inadequado para fundação rasa, ao mesmo tempo em que apresentava vários matacões no seu
interior, dificultando a cravação de estacas.
Apesar das dificuldades, a solução técnica e economicamente viável adotada pelo engenheiro
de solos foi a utilização de estacas pré-moldadas de concreto armado, com um rigoroso acom-
panhamento de todas as etapas de cravação. Dessa forma foi possível contornar os matacões,
fazendo-se as alterações necessárias no projeto e executar a obra com sucesso.
Nessa ocasião, tivemos a oportunidade de constatar no conjunto habitacional que ficava ao lado
da escola em questão, ainda em fase final de construção, enormes rachaduras nas alvenarias e
várias fissuras nas vigas de concreto, indicando se tratar de recalque diferencial na fundação.
A informação que obtivemos foi a de que se tratava de edificação com estrutura de concreto
armado e fundação em estaca raiz, sendo que provavelmente algumas delas tinharr parado
sobre matacão e recalcado excessivamente.
Nesse caso devemos observar que não se trata de fundação inadequada, mas sim de execução
sem um acompanhamento adequado.
Matacão
\ ..•»"" /
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\ Matacão
' V
\ /
Solo Fraco
4 . 6 . 3 . Nega Falsa
Em solos argilosos, rijos a duros, a estaca poderá apresentar nega durante o processo de crava-
ção, não aprofundando com os golpes da cravação, a não ser aqueles poucos milímetros que
servem para caracterizar a estaca como boa.
No entanto, se for retomada a cravação da estaca no dia seguinte, ela continuará descendo;
este fenômeno é chamado de Relaxação.
Nessas condições um profissional não especializado poderá considerar a estaca como boa e
ela irá recalcar ao longo do tempo, provocando trincas na edificação e podendo comprome-
ter a sua estabilidade. Para evitar que isso ocorra é necessário primeiramente um borr projeto
de fundações, no qual o projetista estime o comprimento correto das estacas e faça um rigo-
roso acompanhamento da obra, pois só assim será possível se prever e programar a recravação
das estacas.
A situação contrária também pode ocorrer. É quando a estaca não dá nega durante a crava-
ção e, se retomada no dia seguinte, não penetra mais. Esse fenômeno pode ocorrer em solos
arenosos, sendo que nessas condições mais uma vez é imprescindível a participação do
engenheiro especialista em fundações, pois só ele poderá definir quando deve ser interrom-
pida a cravação.
4 . 6 . 4 . Erros e m Estacas Moldadas no Local
Vamos abordar neste capítulo apenas as estacas do tipo STRAUSS e do tipo BROCAS, com
escavação manual ou mecânica, nas quais temos encontrado o maior número de erros. As
estacas do tipo FRANK, HÉLICE C O N T I N U A ou BARRETE não serão abordadas neste trabalho,
por serem empregadas em obras muito específicas, exigindo empresas com tecnologia mais
sofisticada para sua execução e profissionais altamente especializados e bem treinados, de
forma a minimizar possíveis falhas.
No caso das estacas tipo STRAUSS, executada com camisa metálica, o problema mais comum
é o surgimento de falhas na concretagem, as famosas "bicheiras". Isso ocorre normalmente no
momento em que se iça o tubo e o concreto vem junto. A situação se agrava quando se tem
armadura em toda a estaca, pois a mesma dificulta a descida do pilão, que, por sua vez, acaba
amassando-a, aumentando o risco do surgimento das bicheiras.
Esses problemas podem ser comprovados nas obras onde se executam estacas STRAUSS como
cortinas e após a escavação do solo é possível se perceber as falhas de concretagem.
Para minimizar essas falhas, deve-se observar que durante o içamento do tubo o pilão pres-
sione o concreto no interior da estaca, de forma a garantir que o mesmo não suba junto com
a camisa de aço. Paralelamente, pode-se utilizar concreto mais fluido, com emprego de
plastificantes, ou utilizando-se um traço mais rico em cimento para permitir um acréscimo
de água.
Nas estacas do tipo STRAUSS, abertas apenas com o pilão sem o uso de camisa metálica,
também chamadas de S O Q U E T Ã O , e nos casos de BROCAS, também sem proteção nas pare-
des, os problemas costumam ocorrer durante a concretagem, devido a possíveis estrangula-
mentos da estaca pelo desmoronamento do solo das paredes laterais, ou mesmo pela contami-
nação do concreto misturado com a terra, afetando em ambos os casos a capacidade de carga
da estaca.
Um agravante na execução das estacas moldadas no local é a presença d'água, que sempre
pode prejudicar a concretagem. Nesses casos não se deve executar sem camisa, e o ideal é
que se remova toda a água, utilizando-se bombas apropriadas. Não aconselhamos usar con-
creto seco na tentativa de compensar a presença de água; pode ser uma solução perigosa, uma
vez que não é possível controlar a relação de água e cimento, que como sabemos é fator
determinante na resistência do concreto.
S*: ^ E n c h i m e n t o
c
^ Vazio Provocado no : ^ Estrangulamento pelo
Içamento do Tubo / de Solo / Amassamento da Ferragem
A situação mais comum acontece em edificações residenciais de pequeno porte, onde não se
tomam os devidos cuidados e acabam ocorrendo os inevitáveis recalques diferenciais, poden-
do em alguns casos mais sérios causar um colapso total ou parcial da edificação (ver fig. 4.7.1).
Esse problema é muito comum também em construções de conjuntos habitacionais, obras in-
dustriais ou em qualquer edificação que ocupe grandes áreas horizontais. Nesses casos a exe-
cução de uma terraplanagem acaba resultando na maioria das vezes num platô horizontal
composto por uma parte em aterro e outra em corte.
Nessas condições é preciso se definir corretamente a linha divisória entre corte e aterro, bem
como o perfil do subsolo visto em vários cortes, de forma a permitir uma visão clara das cama-
das de cada tipo de solo.
Dependendo das características do terreno, é provável que se tenha de usar mais de um tipo de
fundação e, nesse caso, há que tomar muito cuidado com o comportamento específico de cada
uma, visto que fundações diferentes tendem a recalcar diferentemente.
Um erro grosseiro é adotar um único tipo de fundação, sendo que uma solução única pode ser
adequada apenas para corte ou aterro. Vamos esclarecer melhor: pode ser que a solução em
sapata seja adequada para a região em corte, porque neste caso pode ter aflorado um solo mais
resistente; no entanto, quando chegar no aterro poderá ser necessária uma escavação muito
profunda para se atingir o mesmo solo, e a sapata não será a solução ideal nessa região.
Em tal caso, uma solução alternativa seria o uso de tubulões para a região do aterro, tomando-
se o cuidado de verificar possíveis interferências dos bulbos de pressão gerados por sapatas e
tubulões, o que poderia acarretar um acúmulo de tensões num determinado ponto do solo e
conseqüente deformações diferenciais, com inevitáveis danos à edificação.
Para tanto foi contratado um renomado professor de mecânica dos solos para desenvolver um
novo projeto, que por sua vez apresentou como solução alternativa tubulões para todos os pilares.
Mediante o impasse, as duas soluções foram encaminhadas para análise numa universidade
dos Estados Unidos, que optou pela fundação mista, tendo em vista ser mais correta técnica e
economicamente. A solução somente em tubulões era mais cara e apresentava uma séria difi-
culdade executiva, que era a abertura dos tubulões em solo muito duro.
Como se pode ver, diante dessas situações é preciso avaliar criteriosamente cada casc para se
encontrar a solução mais adequada em todos os sentidos, do contrário, corremos o risco de ter
uma fundação com comportamento inadequado, implicando trincas e rachaduras na edificação,
ou até mesmo comprometendo a sua estabilidade.
Convém lembrar que nesse tipo de obra é importante observar as recomendações do capítulo
que trata dos cuidados que devem ser tomados na execução dos aterros, pois uma fundação,
apesar de adequada tecnicamente, poderia perder a sua estabilidade devido a possíveis movi-
mentações que um talude de aterro pode ter.
O rebaixamento do lençol freático consiste em se utilizar alguns sistemas especiais que têm por
finalidade baixar o nível natural da água, de forma a permitir que se execute qualquer tipo de obra.
O rebaixamento do lençol freático é utilizado em todo tipo de obra que requer escavações
em profundidades abaixo do nível da água natural, principalmente em galerias, estação do
metrô, casa de força, barragens, túneis e subsolo de edifícios. Atualmente, em que se exige
cada vez mais um número muito grande de vagas para carros, os edifícios residenciais ou
comerciais vêem-se obrigados a executar escavações profundas para abrigar vários níveis
de garagens subterrâneas.
Podemos encontrar mais algumas informações sobre o rebaixamento do lençol freático no item 24.4.
5 Reforço de fundações
5.1. GENERALIDADES
Há vários tipos ou processos de reforço de fundações; vamos analisar aqueles mais emprega-
dos em edifícios prediais e industriais.
Quando uma fundação apresenta problema de recalque é porque ela não foi corretamente
dimensionada ou foi mal executada, resultando numa deficiência na sua função de transmitir a
carga dos pilares ao solo. Nesses casos devemos considerar cuidadosamente todas as variáveis
que envolvem o problema e avaliar se a solução é aumentar a capacidade do elemento de funda-
ção para receber mais carga, mudar o tipo de fundação ou melhorar as características do solo.
Além desses fatores, devemos investigar todas as possíveis situações que possam estar prejudi-
cando o comportamento das fundações, e somente após um diagnóstico correto da causa é que
temos de pensar na solução mais adequada para resolver o problema.
A primeira providência é uma análise das condições gerais da edificação, em que devemos
observar todas as anomalias existentes, principalmente os desaprumos, as trincas a 45° nas
alvenarias e as fissuras na estrutura.
Essa análise preliminar deve permitir uma tomada de posição com relação à estabilidade do
imóvel e conseqüente segurança de seus usuários. Na hipótese de existir risco de colapso total/
parcial, ou mesmo em caso de haver dúvidas nesse sentido, recomendamos que a primeira
providência seja a de garantir a integridade física das pessoas existentes no local.
Isso posto, devemos iniciar então uma detalhada vistoria, anotando e documentando qjaisquer
anomalias, começando pelo mapeando e medição de todas as trincas na estrutura e alvenarias,
checando deformações de piso, medindo o prumo em vários pontos, detectando possíveis infil-
trações de águas pluviais ou vazamentos em tubulações próximos das fundações e, finalmente,
colhendo informações dos usuários com relação a quaisquer ocorrências ou alterações ocorri-
das na região nos últimos tempos.
Para facilitar os estudos posteriores, devemos fazer um relatório fotográfico, com tantas fotos
quantas forem necessárias, pois elas vão ajudar na visualização e na resolução do problema.
Avaliar, através de informações colhidas no local, a velocidade com que vêm ocorrendo as
deformações. Se os dados fornecidos e levantados no local indicarem que se trata de uma
evolução lenta e a edificação apresentar boas condições de estabilidade, pode-se pensar num
acompanhamento dos recalques através da colocação de marcadores de nivelamento em pon-
tos estratégicos e posterior medições periódicas com aparelhos topográficos de alta precisão.
Paralelamente deverá ser feito um rigoroso acompanhamento na evolução das anomalias (ver
capítulos 17 e 18), de forma a se ter um controle da situação caso seja necessário tomar provi-
dências urgentes para garantir a integridade da edificação.
Se os danos provenientes do recalque das fundações surgiram há pouco tempo e estão evoluindo de
forma rápida, então devemos pensar também numa solução de curto prazo para estabilizar essas
deformações e garantir a estabilidade da edificação, bem como a segurança de seus usuários.
Esta é a fase mais delicada do processo, em que se deve fazer uma criteriosa e detalhada
análise das características geotécnicas do subsolo, do projeto da infra-estrutura, do tipo de
fundação existente e as respectivas cargas nos pilares. Sempre que for possível elevemos
analisar também o relatório de execução, pois pode fornecer elementos importantes na
elucidação dos fatos.
Quando não existirem projetos, o que é muito comum nas obras mais antigas, devemos fazer
um levantamento local que permita identificar o subsolo local, a infra-estrutura, o tipo de funda-
ção existente e se possível um histórico da sua execução. Se não houver sondagem, esta deve-
rá ser providenciada o mais rápido possível, pois é uma informação imprescindível para se
projetar adequadamente um reforço de fundações, além do que é de baixo custo, rápida e fácil
de ser executada.
O tipo de fundação e os elementos que formam sua estrutura são possíveis de ser identificados
através de prospecção local junto aos pilares. Na maioria das vezes causa enormes transtornos
aos usuários do imóvel, porém é um trabalho que deve ser feito quando não dispomos de projetos.
O histórico da execução de uma fundação, que não foi devidamente documentada durante a
obra, só é possível quando localizamos alguém que tenha trabalhado nessa fase da edificação,
o que pode ser feito tentando-se localizar o construtor, ou por sorte em alguns condomínios é
possível encontrar no quadro de funcionários uma pessoa que tenha trabalhado duranle a exe-
cução da obra. De qualquer forma, eles podem fornecer informações de grande valia na inter-
pretação dos fatos que estão colaborando para o surgimento de um recalque diferencial.
Já a Superestrutura pode ser facilmente identificada quando se trata de estrutura aparente, mas
há situações em que é preciso fazer alguns rasgos na argamassa de revestimento, de forma a
permitir localizar os elementos de concreto e, portanto, identificar a malha estrutural.
Devemos ficar atentos para os casos de edificações em alvenarias autoportantes, em que deve-
mos identificar aqueles painéis de alvenaria que têm a função estrutural, ou seja, a responsabi-
lidade de receber as cargas de cada pavimento e levar até a fundação.
O tipo e a malha da Superestrutura vão definir as deformações que a mesma pode aceitar ou
não. As alvenarias autoportantes são mais rígidas, não aceitando muita deformação, já no caso
das estruturas de barras podemos prever um comportamento diferente; no entanto, há que to-
mar alguns cuidados, pois as alvenarias de vedação, apesar de desprezadas nos cálcu os, aca-
bam interagindo como painéis rígidos e, por sua vez, podem em alguns casos alterar o compor-
tamento das estruturas formadas por vigas e pilares.
O ideal é consultar sempre um engenheiro calculista, pois ele será capaz de avaliar com mais
critério as influências que o reforço de fundação poderá produzir na estrutura. Pois em alguns
casos a solução indicada para corrigir um recalque implica erguer ou abaixar uma oarte da
edificação para corrigir o seu prumo.
De posse desses dados e após um detalhado estudo de todas as variáveis que interferem no proble-
ma e suas possíveis conseqüências, poderemos então definir a causa ou causas do problema e
pensar na solução que apresente o melhor desempenho técnico e econômico. Caso contrário, quando
não se tomam todos os cuidados citados anteriormente, corremos o risco de agravar a situação
devido à escolha de um processo executivo inadequado, ou pela definição de um reforço ineficiente.
Devemos sempre ter em mente qual é o comportamento final que desejamos para a nossa
fundação após ser reforçada, pois, com exceção do reforço com estacas do tipo MEGA - que é
ativa, podendo inclusive erguer a edificação, como veremos mais adiante - , todas as demais
são passivas e só irão atuar caso ocorram novas deformações. Para tanto devemos avaliar se é
aceitável que todo o conjunto possa conviver com essa situação.
Apresentaremos a seguir alguns tipos de reforço de fundações utilizados com mais freqüência
em construções prediais e industriais.
5 . 6 . 1 . Reforço c o m Estaca de R e a ç ã o
O reforço com estaca de reação, mais conhecido como estaca MEGA, consiste na cravação de
segmentos de estacas metálicas ou de concreto, com aproximadamente um metro de compri-
mento, utilizando-se para isso macacos hidráulicos equipados com manômetros que indicam o
valor da pressão que está sendo aplicado na estaca (ver fig. 5.6.1).
Esse tipo de reforço baseia-se no princípio da ação e reação das leis da Física, em que o
macaco hidráulico, ao reagir contra a infra-estrutura da edificação, consegue fazer os segmen-
tos de estaca penetrar no solo. Quando o manômetro indicar o valor da pressão estabelecido no
projeto de reforço, a estaca estará concluída, devendo-se então fazer o cunhamento final, ain-
da com o equipamento em carga.
A solução com elementos metálicos pode ser feita utilizando-se peças rosqueáveis, trilhos de
trem ou perfis do tipo ou " H " soldados. Esta solução é mais cara e mais demorada por
causa do custo do material e do tempo gasto no caso de se efetuar a ligação com solda. No
entanto, em aterros com entulho de obras às vezes não se consegue cravar a estaca de
concreto devido à presença de obstáculos que podem ser encontrados no caminho; nesses
casos, como a estaca metálica tem uma seção de área reduzida, encontra mais facilidade
para superar esses obstáculos.
Devem-se tomar alguns cuidados durante a execução dessas estacas; primeiramente, com o
tipo de solo, que deve ter características que permitam a cravação, sem necessitar de uma
carga maior do que aquela que a edificação pode produzir com seu peso próprio, caso contrá-
rio poderá ocorrer uma tendência de levantamento da construção.
O que pode ocorrer é a presença de uma camada superficial do solo mais resistente e logo
abaixo uma mais fraca. Nessas condições corremos o risco de a estaca não atravessar a cama-
da resistente e ficar curta; nesse caso, a estaca não irá penetrar mais, porem poderá recalcar
devido à camada de solo mais fraca logo abaixo.
Nos edifícios que sofreram desaprumos devido a recalques diferenciais, o fenômeno do levan-
tamento é utilizado como recurso para se nivelar a edificação ou diminuir o desaprumo.
Para as sapatas rasas, devemos tomar cuidado com a fase executiva, na qual a escavação abaixo da
sapata para se poder cravar a estaca de reação poderá aumentar o desequilíbrio já existente. Nesses
casos, dependendo da carga e da estrutura, precisamos criar escoramentos provisórios que reduzam
a carga da sapata que será reforçada, ou pensar em soluções alternativas como veremos mais adiante
O fato é que cada situação exige sempre um estudo específico com soluções próprias para
cada tipo de problema, não se devendo adotar soluções empregadas com sucesso em outra
obra, sem antes ter certeza de que as condições são iguais e que esta será a solução mais
adequada técnica e economicamente.
5 . 6 . 2 . Reforço c o m Estaca R a i z
De forma bastante resumida, podemos dizer que uma estaca raiz é executada utilizando-se
camisa metálica de pequeno diâmetro, que permite a injeção, com pressão, da calda de cimen-
to para o solo e com isso formar o corpo da estaca. Ela recebe armadura em toda sua extensão
e utiliza equipamento de pequeno porte, o que a torna vantajosa em diversas situações em que
a disponibilidade de espaço é um problema sério.
Esta solução não é de baixo custo como a estaca M E G A nem permite a correção de desaprumos
na edificação; no entanto, oferece outras vantagens que podem ser determinantes na escolha
do tipo de reforço a ser executado.
Nessas condições, o emprego de estaca raiz pode ser a solução ideal, pois permite que se
trabalhe sobre o piso existente e se perfure as sapatas com brocas especiais, sendo que no final
é possível se fazer a ligação da estaca com a sapata.
Devemos tomar os devidos cuidados na avaliação do comportamento estrutural das sapatas,
tendo em vista que a mesma não foi projetada para receber cargas pontuais, e sim cargas
distribuídas ao longo da face inferior. No entanto, é possível dimensionar uma quantidade de
estacas que, aliada a um posicionamento correto, permite o aproveitamento da sapata.
Nos casos em que isso não for possível, é necessário que se projete um reforço estrutural da sapata,
para que possa trabalhar cie forma adequada a nova configuração de solicitação de esforços.
Para as fundações em estacas, o reforço poderá aproveitar o bloco existente na sua forma
original mediante uma análise prévia do engenheiro de mecânica dos solos e do calculista. O
primeiro deverá avaliar o espaçamento entre as estacas e a sua capacidade final de absorver
carga; o segundo vai analisar o comportamento estrutural do bloco para a nova situação. Pode
ser que após essas verificações haja necessidade de se efetuar um aumento do bloco de apoio
para receber as novas estacas.
Este critério se baseia no princípio das chamadas estacas CCP, que através de injeção de calda
de cimento sob altíssima pressão penetra no solo de tal forma a transformá-lo em solo cimento
com elevada capacidade para suportar cargas.
Essa solução pode ser empregada nos casos de sapatas ou até mesmo de estacas, quando uma
melhora na resistência do solo abaixo do nível das fundações significa uma estabilização dos
recalques diferenciais.
Deve ser executada por firma especializada com experiência comprovada nesse tipo de obra
e que disponha de todos os equipamentos necessários, tendo em vista que o sucesso do traba-
lho vai depender do processo operacional.
Calda de Cimento
5 . 6 . 4 . Reforço c o m Brocas
A sua execução se torna difícil ou até mesmo inviável quando o terreno local é constituído por
aterro com entulho de obra. Nessas condições a escavação não é possível devido à presença
de vários obstáculos que impendem a escavação. Da mesma forma os terrenos arenosos com
nível de água elevado dificultam a escavação devido ao desmoronamento das paredes laterais
da broca, bem como a drenagem do buraco, o que torna difícil o controle da concretagem e
conseqüentemente o resultado do reforço.
Devemos tomar cuidado para não trocar uma solução existente que vem apresentando proble-
mas por outra ineficiente, que além de não resolver só iria prejudicar ainda mais a condição já
precária da edificação.
Em alguns casos a solução é ideal do ponto de vista técnico e econômico, no entanto não é
viável devido ao processo executivo. Essa situação ocorre quando devemos executar algumas
brocas profundas na parte interna da edificação e o seu pé-direito é muito menor que o compri-
mento da broca; nesses casos, a barra de ferro do trado, mesmo que emendado, dificulta muito
a execução.
O reforço de fundações com a utilização de brocas deve sempre que possível ser executado de
forma simétrica em relação ao centro de carga. Agindo assim, iremos evitar esforços excêntricos
nos elementos de fundação, o que via de regra não apresenta um comportamento adequado.
Parede ou Pilar
Fundação Existente
Existente \
Bloco dc Coroamcnto
(Reforço)
n Brocas de Reforço
5 . 6 . 5 . Reforço c o m Sapatas
O reforço com o emprego de sapatas pode ser uma solução viável quando o solo apresentar na
sua cama superior boa capacidade de receber carga e o emprego das sapatas servir para
reduzir a carga nos pilares existentes. Isso é possível nos casos onde se criam apoios interme-
diários nos baldrames, aliviando-se a carga nos elementos originais da fundação.
Em situações em que o solo era adequado para sapata isolada e houve um erro no
dimensionamento das sapatas, ou um acréscimo de carga por mudança de utilização da
edificação, é possível se projetar um reforço ampliando-se essas sapatas.
Para tanto se deve criar em volta da sapata um suplemento em forma de anel, sendo que as
dimensões deverão ser definidas pelo especialista em mecânica dos solos e a ferragem projeta-
do por um engenheiro calculista. Esse processo exige um detalhamento de execução específi-
co, pois deverá prever a ligação do concreto velho com o novo, de forma a garantir um funcio-
namento monolítico do conjunto.
Convém repetir o que já foi dito no início deste capítulo, quando chamamos a atenção do leitor
para uma avaliação no comportamento de cada tipo de reforço, pois com exceção da estaca
de reação que é ativa, todas as demais apresentadas neste trabalho são passivas e, portanto, só
vão entrar em carga se houver novos recalques. É certo que essas novas deformações podem
ser pequenas, no entanto, há que tomar os devidos cuidados na consideração desse fato e
avaliar suas possíveis implicações no comportamento final de todo o conjunto estrutural.
4 Pilar.
^ Alvenaria
Fundação Existente
/ S a p a t a Corrida
_ Fundação Existente 7
Sapata Corrida
6.1. GENERALIDADES
O computador é sem dúvida uma ferramenta indispensável nos nossos dias; é praticamente
impossível viver sem ele, pois passou a ser um aliado fundamental nos escritórios de cálculo
estrutural e na elaboração de todo tipo de desenhos, desde formas até o detalhamento das
ferragens, melhorando assim a qualidade do cálculo e de sua apresentação.
Os erros nos projetos estruturais são passíveis de acontecer, sendo muito difícil encontrar um
escritório que tenha elaborado uma grande quantidade de projetos sem cometer nenhum desli-
ze. O que ocorre é que na maioria das vezes eles são corrigidos a tempo, ou não são graves o
suficiente para provocar algum tipo de sinistro.
No entanto, com o uso cada vez maior do computador, alguns engenheiros que se dedicam ao
cálculo estrutural, principalmente os mais novos, não tiveram tempo de adquirir o que podemos
chamar de "sentimento estrutural", que seria uma noção intuitiva do comportamento estrutural,
da ordem de grandeza das dimensões das peças de concreto, da noção da ferragem necessária
e de seu correto posicionamento no elemento estrutural.
Nesse sentido, temos verificado algumas falhas de projeto decorrentes de informações impreci-
sas que foram passadas para o computador, que por sua vez não tem condições de diferenciar
se a informação passada de um carregamento de viga é 1,2 Tf/m ou 0,12 Tf/m. Sendo assim, se
o engenheiro calculista não estiver atento e ao mesmo tempo não possuir sensibilidade para
perceber o erro, é muito provável que irá para a obra uma viga mal dimensionada.
Em alguns casos o armador, ou até mesmo o mestre-de-obra experiente, pode perceber que
para aquele tipo de viga a ferragem usual é maior e, então, chamar a atenção para que se
corrija o engano. No entanto, dependendo do tipo de obra e principalmente se ela estiver
atrasada no seu cronograma físico, é muito provável que o erro não seja detectado por nin-
guém. Nessas condições, poderemos estar diante de um sinistro que virá a ser de pequenas ou
enormes proporções, dependendo da importância do elemento estrutural.
Outro erro comum é quando se usa o computador para calcular em três dimensões e não se
define corretamente o conceito estrutural, ou não se consideram as cargas acidentais como a
ação do vento, que para algumas estruturas são altamente relevantes. Soma-se a isso o fato de
que em alguns casos os dados fornecidos pelo computador não são interpretados corretamente
pelo projetista, como já tivemos oportunidade de presenciar. Nessas condições, o projeto pode
comprometer a estabilidade de toda a edificação.
Recomendamos que se tomem alguns cuidados no uso do computador, pois ao mesmo tempo
em que facilita sobremaneira a vida de qualquer profissional, induz a um comodismo que, no
caso do calculista, pode ser fatal. É importante que se desenvolva um espírito crítico dc- sempre
verificar se existe uma coerência entre as cargas atuantes, as dimensões e a armadura do
elemento estrutural.
Quando se tratar de pilares, essa verificação deve ser ainda mais criteriosa, uma vez que
esse elemento estrutural não se comporta como as vigas e lajes, que dão sinais de deficiência
através do surgimento de trincas e deformações acentuadas, permitindo assim que se tomem
providências a tempo, já o mesmo não ocorre com o pilar, que pode estar próximo do colapso
e não dar sinais.
Ú devido a esse comportamento do concreto à compressão que devemos dar uma atenção
especial aos pilares, pois são eles os responsáveis, na maioria das vezes, pelos sinistros de
graves proporções, uma vez que ocorrem de maneira inesperada, sem dar avisos com antece-
dência, como já vimos anteriormente, pegando sempre de surpresa os usuários da edificação e
causando grandes danos materiais, quase sempre com vítimas fatais.
O projeto estrutural deve também evitar determinadas situações de execução que acarretem
elevado grau de dificuldade, pois nessas situações é sempre maior a possibilidade de uma falha
executiva. Algumas vezes o projetista não observa a concentração de ferragem em um deter-
minado ponto da estrutura, tendo em vista que a ferragem de cada elemento estrutural está
conforme o preconizado pela ABNT; no entanto, no encontro de um ou mais elementos pode-
mos ter um congestionamento de barras, dificultando sobremaneira a concretagem, o que pos-
sibilita o surgimento de vazios de concretagem, ou as chamadas bicheiras.
Quando a bicheira ocorre no interior de um pilar e fica camuflada pela boa aparência externa,
estamos diante de um problema oculto. E, quando ignoramos a gravidade da situação, podemos
ter conseqüências sérias para a estabilidade da edificação e, principalmente, para a segurança
de seus usuários.
Outro problema que costuma ocorrer é o cobrimcnto incorreto das armaduras, quando tanto o
projetista como a construtora muitas vezes teimam em não seguir as recomendações da ABNT,
cuja preocupação é definir uma proteção mínima da ferragem de forma que ela possa ter um
comportamento adequado em função da agressividade do meio ambiente e não fique vulnerá-
vel à ação de agentes externos com poder oxidante. Quando isto ocorre, a parte oxidada da
armadura sofre uma expansão de volume em até 10 vezes, rompendo o concreto de cobrimento,
reduzindo a seção do elemento estrutural e da própria armadura.
Nessas condições, a situação poderá evoluir para uma perda de função da peça, uma vez que
o processo é evolutivo caso não se corrija a tempo.
Esse tipo de situação é mais crítica quando a peça de concreto ou a face atingida estão ocultas,
situação comum em elementos estruturais submersos ou em contato permanente com o solo,
como no caso de vigas baldrames, blocos de apoio, muros de arrimo e outros. Nessas condi-
ções, o processo de oxidação não será detectado a tempo, evoluindo até provocar um sinistro.
O país todo está repleto dessas edificações, sendo que poucas foram tratadas de forma adequa-
da, uma vez que são elevados os custos para se restaurar corretamente essas estruturas. As
soluções paliativas não têm mostrado resultados satisfatórios, uma vez que o problema não é
atacado da forma correta e o processo de corrosão das armaduras fica interrompido apenas
temporariamente, gerando a necessidade de nova intervenção a médio prazo.
Uma solução definitiva deve começar pela elaboração de um projeto feito por firma especia-
lizada no assunto, que fará um levantamento minucioso de todos os pontos afetados para diagnos-
ticar o grau de evolução dos danos existentes e especificar o tratamento mais adequado do
ponto de vista técnico e econômico. Somente após o cumprimento dessas etapas é que se
poderá providenciar o reparo da edificação, que por sua vez também deverá ser executado por
firma especializada com renomada experiência nesse tipo de obra.
Devemos estar atentos para os casos específicos, que fogem algumas vezes ao escopo da
ABNT. Nesse sentido, alertamos para a necessidade de se avaliarem criteriosamente os proje-
tos de obras industriais, com a finalidade de verificar o potencial de agressividade que as mes-
mas vão produzir no meio ambiente, tanto nas partes externas como no solo local.
Algumas indústrias têm elevado potencial de produzir vapores altamente agressivos para o
concreto e o aço; nessas condições, elevemos recorrer a um cobrimento algumas vezes maior
do que o recomendado pela ABNT, e para tanto precisamos tomar alguns cuidados especiais.
Outras, porém, como no caso das indústrias de decapagem do aço, têm um elevado potencial
para alterar de forma significativa as condições do solo local, tornando o mesmo muito agressi-
vo, chegando em alguns casos a deteriorar o próprio concreto, como tivemos oportunidade de
presenciar numa indústria aqui na cidade de São Paulo.
Assim sendo, recomendamos que o engenheiro projetista de estruturas tenha sempre uma visão
crítica do seu trabalho tanto no aspecto individual de cada elemento estrutural como no geral,
analisando a quantidade de ferragem no encontro das vigas com pilares, ou entre as próprias
vigas. A finalidade é para que pense nas dificuldades ou facilidades que está proporcionando
para a execução da estrutura e no seu meio ambiente ao longo do tempo.
7 Sinistros por travamento
inadequado dos pilares
7.1. GENERALIDADES
Devemos ter sempre em mente que uma estrutura se movimenta constantemente, devido
à ação das cargas acidentais e por efeito da v a r i a ç ã o de temperatura, se não houver
travamento eficiente que garanta o retorno da estrutura às suas condições normais após
ter cessado essas ações. Poderemos, então, ter um efeito cumulativo de deformações
residuais, que poderá evoluir para uma situação irreversível, com possibilidade de perda
da estabilidade global.
Os estudos posteriores apontaram como causa do sinistro uma perda de estabilidade do conjun-
to estrutural, porque as lajes intermediárias não tinham a rigidez necessária para garantir com
eficiência o travamento dos pilares. No entanto, cabe ressalvar que as verificações dos ele-
mentos estruturais de forma isolada mostraram tensões de compressão muito baixas e a seção
de aço acima do teoricamente necessário.
Diante dessa situação não restou outra alternativa senão projetar um reforço para iodos os
reservatórios executados. Nesse momento, o desafio foi encontrar uma solução tecnicamen-
te correta, de baixo custo e fácil execução, tendo em vista que foram executados vários
reservatórios.
Polo exposto anteriormente, podemos perceber a importância de se fazer uma avaliação prévia
do comportamento global de uma estrutura que se está projetando, pois uma verificação isola-
da dos elementos que compõem a malha estrutural pode não ser o suficiente para nos garantir
a sua estabilidade.
Planta de um pavimento tipo, onde a laje pode não ser suficiente para travar os pilares.
MC
! t 4 :
_T_ravamento_
Cx. do
Inexistente Elevador
: !
Travamento
Inexistente 4 : Cx, da
Escada
Corto 1-1
Vista
Pilar
1 1
T
Laje de
Travamento
• • Fundação
8.1. GENERALIDADES
A junta de dilataçao, como o próprio nome diz, é projetada para garantir uma liberdade de
movimentação da estrutura, devido aos efeitos da variação de temperatura que provocam dife-
renças dimensionais nos componentes e na edificação como um todo. Eventuais acomodações
diferenciais das fundações também podem ser absorvidas pelas juntas de movimentação.
Nos casos de edifícios verticais, residenciais ou comerciais, essas juntas ocorrem normalmente
e principalmente nos níveis do pavimento térreo e subsolos, na junção da torre com as
edificações anexas e tem como função permitir uma movimentação térmica e também uma
acomodação diferencial das fundações.
Uma ligação rígida entre a torre e os pavimentos situados no térreo e logo abaixe poderá
produzir tensões localizadas de valores imprevisíveis, dependendo do tipo de fundação e do
subsolo local, uma vez que são corpos com tendências a movimentações diferentes, tanto tér-
micas como de recalque diferencial, podendo em alguns casos romper os elementos estrutu-
rais, caso não estejam dimensionados para absorver esses esforços.
Na cidade de Santos, em São Paulo, os edifícios próximos à praia e que foram executados com
fundação direta, através de sapatas apoiadas diretamente na camada de areia, apresentam
grandes recalques, chegando a superar 1,0 m de profundidade em vários casos, resultando em
muitos prédios que foram executados no passado com a cota do pavimento térreo a 1,0 m
acima do nível da rua e hoje estão a 0,5 m abaixo do nível da rua.
Para essa magnitude de deformações, a junta de dilatação entre a torre e o restante da edificação
deve ser obrigatória e bem projetada para todos os elementos ligados na estrutura da torre
principal ao nível do térreo e subsolos, caso contrário haverá inevitáveis rupturas da estrutura
nesses pontos, a médio e longo prazo.
Apenas para elucidar a curiosidade dos leitores, que não estão acostumados com esse tipo de
situação, esclarecemos que boa parte do subsolo próximo à praia da cidade de Santos é
constituída por uma cama de areia com espessura de aproximadamente 10,0 m, e logo abai-
xo se encontra uma argila marinha muito mole, com algo em torno de 40 m de profundidade
até chegar à rocha.
A camada de areia suporta bem as cargas que nela são aplicadas, o mesmo não ocorrendo com
o solo logo abaixo, que por ser muito mole sofre grandes deformações ao longo do tempo.
Nessas condições a solução tecnicamente adequada seria a cravação de perfiz metálico até
atingir a rocha, tendo em vista que as estacas pré-moldadas de concreto não conseguem atra-
vessar a camada de areia.
No entanto essa solução implicaria a cravação de perfiz metálicos com aproximadamente 50,0
m dc comprimento, gerando altos custos e inviabilizando economicamente a obra. Devemos
ressalvar que apesar disso algumas obras foram executadas com estacas metálicas até atingir a
rocha, apesar do custo elevado dessa solução.
À medida que se caminha em direção a São Vicente, a rocha vai aflorando até surgir r a super-
fície e, nessas condições, as edificações acabam se apoiando diretamente nela, onde a situa-
ção se inverte e as deformações são praticamente zero, podendo-se pensar na junta apenas
como elemento de dilatação térmica.
A liberdade de movimentação, seja por um motivo, seja por outro, é fundamental para garantir
a integridade física da estrutura, do contrário surgiriam tensões elevadas que, se não fossem
corretamente consideradas no projeto, poderiam causar trincas na edificação, cuja evolução
levaria a um sinistro de graves proporções.
Diante desse fato, devemos fazer uma avaliação criteriosa da situação no seu aspecto global,
com a finalidade de verificar a relação entre os custos e benefícios que teremos ao se projetar
a junta de dilatação ou não.
Mas, por outro lado, o que acaba ocorrendo nas obras-de-arte e tem provocado sérios danos
nas estruturas das mesmas e nos cofres públicos é a falta de manutenção dos aparelhos de
apoio, cuja função é permitir a movimentação térmica das vigas. Quando eles deixam de fun-
cionar direito perdem a sua principal função e com isso acabam por acarretar sérios danos na
estrutura, provocando em determinadas situações algum tipo de sinistro.
Em algumas obras, principalmente as industriais, o projetista ou até mesmo o construtor esque-
ce da importância da junta de dilatação e executa panos de alvenarias recheados de vigas e
pilares, com até 60,0 m de extensão e sem junta de dilatação. Normalmente nessas condições
vai surgir inevitavelmente uma grande quantidade de trincas na estrutura e rachaduras nas
alvenarias.
Os sinistros decorrentes das juntas de dilatação, que ocorrem com mais freqüência, são aque-
les por falta de manutenção. É imprescindível que se mantenham os aparelhos de apoio em
perfeitas condições e as frestas das juntas isentas de qualquer tipo de detritos, pois eles irão
impedir a sua livre movimentação e resultar, portanto, na perda da sua função.
Há casos também nas edificações prediais em que o zelador ou outros profissionais contratados
para fazer a manutenção do piso decidem, a critério próprio, "cimentar" a junta de dilatação,
tentando com isso corrigir quebras do piso nessa região ou impedir a infiltração de água para o
andar inferior e, o que é pior, não resolvem nenhum dos problemas e ainda agravam a situação
travando a junta de dilatação.
9 Sinistros por falhas em fôrmas
e escoramentos
9.1. GENERALIDADES
Para que uma estrutura seja executada de fôrma correta, seguindo rigorosamente o projeto
estrutural, quanto à forma e função de cada peça, é necessária a colocação da ferragem certa
no lugar certo e garantir a exatidão e rigidez das fôrmas e escoramentos. Uma fôrma bem
executada, além de garantir prumo, nível e as dimensões corretas da peça, impede a perda da
calda de cimento, que enfraquece o concreto e possibilita a formação de ninhos de pedras.
Devemos ter em mente que, além do asjxícto técnico, uma estrutura lx?m-feita e com ótima aparência
sempre causa boa impressão no cliente, que, via de regra, observa esse ti|X) de serviço e costuma avaliar
a construtora com base nessa primeira impressão ao acompanhar o desenvolvimento da estrutura.
Além dos aspectos que têm a ver com a segurança da edificação, como veremos mais adiante,
alertamos para a necessidade de se projetar e executar corretamente as fôrmas, tendo em vista
que escoramentos e fôrmas, quando projetados ou executados incorretamente, sempre acabam
gerando enormes prejuízos financeiros, pois quase sempre implicam serviços adicionais para
corrigir deformações, comprometendo algumas vezes o aspecto estético da obra.
Citaremos a seguir algumas situações que costumam ocorrer com freqüência na execução das
fôrmas e os cuidados necessários que poderiam ser tomados para evitar alguns danos (|ue mui-
tas vezes são difíceis e caros para ser resolvidos e, o que é pior, nunca ficarão perfeitos como
quando se executa corretamente na primeira vez.
A abertura das fôrmas laterais das vigas ocorre quando não está bem travada na sua borda
superior, o que pode ser resolvido através do uso de mão-francesa ou utilizando-se talas de
madeira que unem as duas bordas superiores das fôrmas (ver fig. 9.2.1).
Em vigas com altura elevada, o travamento superior da fôrma nem sempre é suficiente e nesses
casos se torna obrigatório colocar tirantes intermediários para impedir um "embarrigamento"
da peça. Em vigas de concreto aparente esses cuidados devem ser redobrados para se garantir
um bom acabamento final da peça, tendo em mente que, por melhor que seja o reparo, sempre
deixará marcas que ficam cada vez mais evidentes com o passar do tempo, além do que impli-
cam custos adicionais e atrasos no cronograma da obra (ver fig. 9.2.2).
Na base dos pilares (levemos sempre prever uma janela de inspeção e limpeza, de forma a
garantir que não haverá elementos estranhos nesse ponto, que por sua vez é onde se concentra
a maior pressão de empuxo do concreto, necessitando, portanto, de um reforço adicional para
impedir eventuais aberturas durante a concretagem.
O tipo de reforço a ser executado vai depender das dimensões do pilar e do acabamento final que
será aplicado no concreto. Se o mesmo estiver aparente, deverão ser empregadas fôrmas de
chapa compensada resinadas ou plastificadas, não devendo ter nenhuma deformação. Nos casos
de pilares de grande dimensão, devem-se utilizar tirantes para garantir a integridade da fôrma, ou
quando a sua altura for superior a 2,50 m deve ser prevista janela intermediária para se efetuar a
concretagem em etapas, exceção feita quando se prevê o uso de tremonha (ver fig. 9.3.1).
No entanto, quando o mesmo for de dimensão reduzida e revestido com argamassa, pequenas
deformações inferiores a 1,0 cm ainda poderão ser corrigidas sem maiores transtornos.
Isso ocorre com mais freqüência se a base do escoramento ficar apoiada em solo compressível, ou
sobre estruturas e panos de lajes deformáveis, principalmente se não foram previstos pelo construtor
alguns níveis inferiores de escoramentos. Outros cimbramentos cedem quando as escoras verticais
são executadas sem o contraventamento nas duas direções. Nessas condições pode oco-rer uma
flambagem das escoras e conseqüentemente a deformação vertical da peça concretada.
Quando se apoiam escoramentos diretamente sobre terreno existente, devemos tomar o cuida-
do de verificar a carga que será aplicada sobre o mesmo e analisar as suas características. Para
tanto podemos tomar por base a própria sondagem do subsolo e na ausência da mesma fazer
um prospecção local para identificar o tipo de material.
A finalidade é avaliar se o solo tem capacidade de suportar o peso que nele será aplicado
durante a concretagem, sem sofrer deformações prejudiciais durante o período em que o
escoramento estiver em carga. Caso isso ocorra, poderá comprometer o comportamento estéti-
co e estrutural da peça.
Esse problema assume proporções mais sérias, exigindo maiores cuidados, quando se tem por
base um aterro lançado sem controle, um solo vegetal, ou uma argila orgânica; em qualquer
um desses casos o risco de afundamento do escoramento é grande.
As escoras de madeira ou ferro não devem apoiar-se diretamente sobre o solo ou piso; é preciso
colocar tábuas duplas ou pranchas como elemento de transição, de forma a garantir uma distri-
buição de carga mais uniforme no elemento de apoio. Por sua vez, os pontaletes de madeira
não podem ter mais de uma emenda, devendo ser travados nas duas direções a meia altura,
para evitar o fenômeno da flambagem, e finalmente receber duas cunhas na sua base a fim de
dar maior pressão no tabuleiro e proporcionar uma desforma mais suave.
Nos casos em que o escoramento fica apoiado sobre o último nível concretado, devemos tomar
o cuidado de providenciar o escoramento parcial dos níveis inferiores, de forma tal que não
acorram deformações durante a concretagem.
Quando surgem as deformações, seja por um motivo, seja por outro, a solução adotada na obra,
via de regra, é corrigir a falha aumentando a altura do contrapiso de regularização e a arga-
massa de revestimento no teto. Isso implica gastar mais material e adicionar um peso extra não
previsto na estrutura, que por sua vez tende a gerar mais deformação.
Precisamos ter em mente que algumas peças estruturais com grande vão ou grande balanço
exigem um descimbramento programado, devendo-se na maioria dos casos ser previamente
definido pelo engenheiro calculista.
Em algumas lajes o que tem ocorrido é o surgimento de flechas excessivas devido à retirada do
escoramento antes de o concreto atingir a resistência adequada. O problema se agrava quando
se tenta corrigir esse desnível com o engrossamento do contrapiso e do revestimento no teto.
Tal situação só acrescenta mais carga adicional não prevista em projeto, o que tende a provo-
car novas deformações.
As fôrmas deverão ser executadas com um determinado nível de estanqueidade, para impedir
que a calda de cimento escoe por entre as aberturas durante a vibração do concreto. O escoa-
mento dessa mistura de água, cimento e areia implica o surgimento de bicheiras pela perda
desses materiais, que por sua vez constituem os elementos finos do concreto, ficando dessa
forma prejudicada a resistência final da peça estrutural.
Isso é mais comum de ocorrer no encontro das tábuas ou chapas compensadas nas vigas e
lajes, sendo que no caso dos pilares o ponto crítico é a base, pois nessa região podemos ter a
somatória de fatores que podem prejudicar o concreto; um deles é a segregação do concreto
devido à altura de lançamento e outro é que nesse ponto a pressão é maior e tende a abrir as
fôrmas, facilitando a perda da calda de cimento, o que favorece o surgimento de vazios, com-
prometendo a qualidade e a aparência do concreto.
Para resolver esse problema, devemos colocar tábuas com o cerne voltado para o interior da
fôrma, aplicar preferencialmente mata-juntas ou massa plástica nas juntas, não sendo reco-
mendado o uso tradicional de sacos de cimento ou jornais, tendo em vista que esse procedi-
mento não é eficiente para impedir a fuga de materiais.
10 Sinistros por erros no lançamento
do concreto
Atualmente se usa cada vez mais concreto usinado, mesmo cm pequenas obras, o que repre-
senta uma vantagem técnica quanto ao controle de qualidade do material. No entanto, alguns
profissionais não estão devidamente preparados para lançar o concreto com o equipamento
adequado, o que faz com que se ultrapasse o tempo de início da pega.
Nessas condições ele corre o risco de utilizar um concreto com o tempo vencido para
não ter que jogá-lo fora e, dessa forma, absorver um prejuízo financeiro. Perde-se assim a
vantagem inicial do controle de qualidade e passa-se a ter um produto com resistência
final comprometida.
Outro cuidado a ser observado é a altura de queda livre, que não deverá ser superior a 2,50 m.
Quando não for possível respeitar essa recomendação, devemos tomar as seguintes providências:
Os riscos que se corre quando se lança concreto de alturas acima do recomendado sem os
devidos cuidados é de ocorrer na base da concretagem a segregação da brita, resultando em
ninhos de pedras que normalmente são chamadas de bicheiras. Isso acarreta sérios prejuízos
na resistência do elemento estrutural, uma vez que o concreto nessa região fica formado com
muitos vazios devido à grande presença de brita e pouca areia e cimento.
10.3. ADENSAMENTO
Outro cuidado que se deve observar é com o procedimento de vibração do concreto, cuja finali-
dade é diminuir o número de vazios de tal forma a se obter um concreto denso e compacto. Para
se ter uma idéia da importância dessa etapa da concretagem, mostramos na tabela abaixo (elabo-
rada pelo BAUER) a relação entre a resistência teórica e a porcentagem de vazios.
Tabela 1
Vazios 0% 5% 10% 20% |
Resistência 100% 90% 70% 50% Q
1 0 . 3 . 2 . Adensamento M e c â n i c o
Sempre que possível deve-se dar preferência a esse processo, uma vez que é mais eficiente e
apresenta melhores resultados, principalmente quando se trata de concreto aparente. No en-
tanto, apesar da importância mostrada com relação à vibração do concreto, devemos ter em
mente que um excesso de vibração pode ser pior do que a falta de vibração, pois pode provo-
car uma segregação dos agregados e afloramento superficial da água de hidratação do cimen-
to. Isso costuma ocorrer quando se trata de concreto aparente e o construtor vibra além do
necessário na tentativa de conseguir uma superfície bem lisa.
Para se obter um bom resultado, devemos observar algumas regras básicas durante a vibração:
Quando esses cuidados não são observados, poderemos ficar sujeitos a um comprometimento
da peça em razão de uma significativa perda de resistência no ponto onde a concretagem ficou
deficiente.
Uma das conseqüências de um adensamento errado é que o concreto fica poroso e permeável,
expondo as armaduras e conseqüentemente facilitando a sua corrosão. Esta situação pode se
tornar crítica se houver vazios internos na peça que permitam uma expansão do aço, devido ao
processo de oxidação, sem dar sinais externos; nessas condições, estaremos diante de uma
somatória de fatores ocultos, que poderão levar a estrutura ao colapso.
Essa situação também é crítica quando se trata de elementos estruturais que ficam submersos
ou em contato permanente com o solo, onde a umidade constante, somada à porosidade do
concreto, favorece sobremaneira o ataque das ferragens e, dependendo das condições, o pro-
blema poderá não ser percebido a tempo de se tomarem as providências necessárias.
11.1. GENERALIDADES
A cura do concreto nem sempre é levada a sério, principalmente nas obras de pequenoe médio
porte. Esse problema se agrava quando a obra é executada por empreiteiros com pouco conhe-
cimento técnico, mas que por atuarem muito tempo no ramo da construção acreditam que já
aprenderam tudo, não aceitando novos esclarecimentos por alegarem que todas as obras por
eles executadas nunca deram problemas.
Na verdade o que acontece é que ignoram o tato de que muitas vezes houve necessidade de se
corrigirem seus erros em edificações anteriores, uma vez que isso acaba sendo feito por outros
profissionais mais qualificados.
Em muitos casos esses empreiteiros preferem um dia quente e ensolarado para fazer uma
concretagem, pois acreditam que assim o concreto "secará" mais depressa, permitindo que
possam dar seqüência à obra com mais rapidez.
O que eles não sabem é que a cura do concreto se deve a uma reação química da água com o
cimento, e uma perda d'água por evaporação impede que essa reação ocorra por completo.
Isso vai acarretar uma significativa perda de resistência do concreto e conseqüente prejuízo na
estabilidade da estrutura, sendo a causa de alguns sinistros.
Além da perda de resistência, nos casos em que não se adota nenhum processo de cura, o concreto
ficará mais poroso aumentando a sua permeabilidade. Iremos ter também o surgimento de inúmeras
fissuras superficiais, normalmente com uma profundidade igual ao cobrimento das armaduras.
Essa situação se agrava muito quando temos elevadas temperaturas, baixa umidade e a presen-
ça de ventos fortes durante a concretagem, condições que podem implicar uma perda d'água
muito rápida, podendo chegar a 0,8 kg d'água por m 2 de superfície de concreto em uma hora.
Essa evaporação acentuada e precoce dará origem a fissuras de origem plástica, devido à
retração do concreto, podendo alcançar profundidades de até 10 cm.
Lembramos apenas que temperaturas abaixo de 0°C são altamente danosas para o concreto
fresco, tendo em vista que devido à solidificação da água ocorre uma expansão que rompe as
ligações entre as partículas sólidas, diminuindo consideravelmente a resistência do concreto.
É o processo mais simples de cura, uma vez que devemos molhar periodicamente a superfície
do concreto. Nesse processo corremos o risco de falhas por esquecimento do funcionário en-
carregado dessa operação, sendo que normalmente é designado um ajudante para executar
essa tarefa. A situação se agrava quando o engenheiro da obra não se preocupa em programar
essa atividade no fim de semana.
Esse método consiste em se manter uma lâmina de água com aproximadamente 5 cm ce espes-
sura durante todo o tempo de cura. Podemos dizer que esse é um bom método de cura, sendo
aplicado com sucesso em lajes, pisos ou grandes superfícies planas. Apresenta uma restrição
quanto à necessidade do uso imediato da área nos primeiros dias.
A proteção pode ser feita com lonas plásticas, tomando-se o cuidado de envolver toda a super-
fície e vedando na extremidade para impedir a evaporação da água de amassamento do con-
creto e a passagem de corrente de ar.
Outro sistema adotado para a proteção da superfície é a colocação de uma camada de areia/
terra ou sacos de aniagem, que para serem eficientes devem permanecer úmidos durante todo
o processo de cura.
Apesar de as superfícies laterais dos pilares e vigas estarem protegidas pelas fôrmas, devemos
tomar o cuidado de molhá-las com freqüência para que permaneçam úmidas.
Essa proteção se faz com uma aplicação de aproximadamente 1,0 kg de cloreto de célcio por
metro quadrado de superfície; este por sua vez tem a capacidade de absorver a água do meio
ambiente, mantendo assim a umidade do concreto.
No entanto, lembramos que é muito importante a remoção posterior do sal, que poderia ao
longo do tempo favorecer o ataque químico das armaduras.
12.1. GENERALIDADES
Esse tipo de problema ocorria com mais freqüência no passado, durante um período de aqueci-
mento da economia em que as construções prediais precisavam ser construídas com rapidez
para suprir as necessidades do mercado. A situação teve como agravante o fato de ser uma
época em que o uso do concreto aparente estava no auge.
Alguns produtos que atendem a essa finalidade são à base de cloretos, sendo o mais usado o
cloreto de sódio, que por sua vez, em quantidades acima do recomendado, apresentam um sério
efeito colateral, que é a despassivação da armadura, colaborando para a corrosão da mesma.
O que ocorre nesses casos é que, dependendo da quantidade de cloreto, ele pode destruir a
película passivadora que o meio alcalino natural do concreto forma na amadura, tonando o
problema crítico, pois se trata de um fator que age de dentro para fora, ao mesmo tempo em que
facilita os ataques de fora para dentro. Esse assunto será abordado com mais detalhes no item
13, corrosão do aço.
tências. Por esse motivo e muito empregado na industrialização de elementos pré-moldados de
concreto, uma vez que o fator tempo e qualidade final do produto são primordiais.
As membranas de cura têm a mesma função das pinturas, ou seja, impermeabilizar a superfície
do concreto para que não haja perda de água por evaporação; no entanto, a diferença é que
nesse processo se aplicam emulsões aquosas ou soluções de produtos resinosos ou pa^afínicos
não-incolor, para permitir checar eventuais falhas de aplicação.
O resultado é uma fina película de resina ou parafina, com uma vida útil de 3 a 4 semanas,
sendo que após este período elas se desintegram e são fáceis de ser removidas por escovagem.
Na concretagem de peças que irão consumir grandes volumes de concreto numa única etapa,
poderá haver a necessidade de se prever um resfriamento interno do concreto, tendo em vista
que nesses casos há uma grande liberação de calor durante o processo inicial de cura., poden-
do ocorrer uma retração exagerada devido a uma rápida perda de água provocada pelo calor.
Esse tipo de obra deve receber um acompanhamento de profissionais especializados, pois vai
exigir alguns cuidados especiais, tais como o emprego de gelo ou água gelada na elaboração
do concreto e, dependendo do caso, a utilização de serpentinas de resfriamento que serão
embutidas no interior das formas e por onde passarão grandes quantidades de água gelada,
com a finalidade de resíriar o concreto, impedindo um aquecimento excessivo.
Outro cuidado que se deve tomar na fase inicial da cura do concreto é evitar choques e vibra-
ções com potencial de produzir fissuras na massa de concreto ou prejudicar a aderência da
armadura no mesmo.
1 3 Sinistros devido à corrosão do aço
13.1. GENERALIDADES
A corrosão das armaduras tem sido uma das principais causas de sinistros na construção civil,
acarretando enormes prejuízos financeiros e infelizmente várias vítimas. Para evitar esse tipo
de problema, devemos dar atenção especial às etapas que compõem uma obra, começando
pela elaboração correta do projeto e terminando por uma construção primorosa.
Para haver corrosão, devem concorrer alguns fatores tais como presença de oxigênio, umidade
e o estabelecimento de uma célula de corrosão eletroquímica, conforme mostra a fig. 13.1.1.
Elementos Agressivos
CL S<34 02
Face do Concreto
• -—CL- • .
-S04 t" T •
• .
i Concreto
LI
Fig. 13.1.1. Célula de corrosão eletroquímica do concreto
Os cuidados de projeto devem começar pelo estudo do cobrimento correto que cada elemento
estrutural tem de receber. Primeiramente, precisa-se analisar o tipo de obra, se é industrial,
comercial ou residencial; segundo, se é em concreto aparente e que tipo será utilizado; então,
finalmente, e talvez seja o mais importante de todos, fazer uma avaliação criteriosa da região
onde será implantada a estrutura, objetivando definir o potencial de agressividade da a:mosfera
e do solo local.
Com relação ao meio ambiente, devemos observar as características climáticas do local onde
será implantada a obra. É de esperar que em ambientes secos e com pouca poluição o ataque
às ferragens seja menor do que nos locais úmidos e contaminados por gases, ácidos e fuligem;
nesses casos, é importante verificar o índice de poluição local, que poderá ser devido à emis-
são de gases automotivos, ou gerado pelas indústrias existentes nas proximidades.
O índice de umidade e a variação de temperatura são outros fatores que devem ser observados,
uma vez que somados a qualquer outro elemento agressivo aumentam o potencial de corrosão
do aço. A variação de temperatura pode atuar como catalisador, acelerando a corrosão pelo
processo químico, porém o efeito preponderante ocorre associado com a umidade, provocando
muitas vezes a condensação de água na face do concreto.
Devemos tomar cuidado também com as obras executadas em regiões com atmosfera mari-
nha, em que a proximidade do mar proporciona um meio ambiente mais agressivo. Por outro
lado, lembramos que o concreto é um material poroso, que absorve e retém os elementos agres-
sivos que nele são depositados, aumentando assim com o tempo a concentração de substâncias
agressivas na sua superfície, elevando o potencial de ataque nas armaduras.
Um caso típico é a indústria de decapagem de aço, que, devido a vazamentos em seus tanques
ou reservatórios de produtos químicos, contaminam o solo com substancias ácidas, podendo
em alguns casos deteriorar o próprio concreto, como já tivemos oportunidade de constatar
numa indústria em São Paulo.
Outro tipo de indústria que merece atenção especial é a de galvanoplastia, em que os banhos
ácidos e alcalinos respingam no concreto e, somados aos gases emanados do processo industri-
al, formam um ambiente agressivo que impregna o concreto de substâncias ácidas, podendo
levar a uma deterioração do mesmo e conseqüentemente de sua armadura.
Nessas condições, além dos cuidados adicionais com o cobrimento, devemos também nos
preocupar com a escolha de um concreto que possa resistir ao ataque dos elementos agressivos
que poderão estar presentes no local, pois, do contrário, não irá adiantar um cobrimento ade-
quado se o concreto, ao ser afetado numa primeira etapa, não conseguir proteger a armadura,
que por sua vez, quando atingida, será corroída rapidamente.
No caso de se comprovar uma contaminação atmosférica pela presença de indústrias nas pro-
ximidades, devemos tomar os devidos cuidados com qualquer tipo de edificação que for
construída na região, seja ela residencial, comercial ou industrial. Para tanto será necessário
verificar o potencial de lançamento de gases e fuligens, sendo que os mais freqüentes e agres-
sivos são o H 2 S, O S 0 2 e o Nox.
Devemos ter em mente a necessidade de se verificar o índice de umidade relativa médio da-
quela região, tendo em vista que a umidade acima de 70% já é considerada danosa para a
ferragem. E aliada a gases ácidos lançados na atmosfera, contribui para a redução da alcalinidade
do concreto, aumentando a velocidade de carbonatação e permitindo com isso que a camada
passivadora do aço seja destruída.
Para se ter uma idéia do potencial agressivo da atmosfera industrial, devemos pensar que ela
pode acelerar em até 80 vezes o processo de corrosão de uma estrutura, se comparada com a
mesma edificação implantada numa zona rural, desde que esta última não esteja contaminada
por agentes agressivos, como veremos logo adiante.
As obras executadas perto da costa ou sobre o mar são atingidas por gotículas ou cristais de
água salgada, provenientes da presença de cloreto de sódio e de magnésio na atmosfera mari-
nha. Esses elementos são extremamente agressivos e contribuem para acelerar o processo de
corrosão das armaduras embutidas no concreto.
Para se ter uma idéia do potencial corrosivo das regiões marinhas, devemos ter em monte que
a velocidade de corrosão nesses casos chega a ser 40 vezes superior a uma região considerada
pura ou do tipo rural, onde uma eventual corrosão só poderá ser percebida após 8 anos da
conclusão da obra. No entanto, se a mesma edificação estiver numa atmosfera marinha, os
mesmos sinais deverão aparecer em apenas 2 ou 3 meses.
Outro fenômeno que compromete o concreto nas regiões marinhas é o aumento de tempera-
tura associado a uma diminuição de umidade relativa do ar, sendo que nessas condições as
águas salinas em contato com a superfície do concreto penetram nos seus poros depositando
parte dos sais e causando a eflorescência. Posteriormente, com o aumento da umidade esses
sais são novamente dissolvidos e reingressam para o interior do concreto.
Com a repetição desse ciclo, teremos uma crosta de elevada concentração salina, que depen-
dendo da porosidade do concreto poderá ser afetada em até 3 cm de profundidade. Nessas
condições, qualquer armadura que estiver próxima da superfície será atingida pelo processo de
corrosão; no entanto, devemos lembrar que nesses casos não basta apenas aumentar a espes-
sura do cobrimento, mas principalmente produzir e executar um concreto resistente a esse tipo
de agressão.
Nas obras edificadas nessas regiões, devemos tomar muito cuidado com o tempo de execução
da estrutura, observando-se cautelas na estocagem do aço, que deverá ficar protegido enquan-
to aguarda para ser utilizado, dando-se preferência a estoques pequenos para um giro mais
rápido e menos permanência na obra.
Outra precaução que se deve ler é quanto ao tempo de exposição dos ferros de espera, princi-
palmente se acontecerem eventuais paralisações no andamento da obra, pois pode ocorrer já
nessa fase um início de corrosão que irá prejudicar o desempenho futuro da estrutura.
Para evitar isso, podemos pintar a ferragem de espera com calda de cimento, devendo renová-
la a cada 15 dias e remover um pouco antes da nova concretagem, através cie algumas panca-
das na armadura e jatos d'água.
13.4. EDIFICAÇÕES COM VÁRIOS FATORES AGRESSIVOS
Há locais em que pode haver uma somatória dos agentes agressivos citados anteriormen-
te. Nessas condições, teremos um significativo aumento no potencial de agressividade
dessa região. Isso pode ocorrer em pólos industriais próximos ao litoral, ou em regiões
predominantemente úmidas.
A cidade de Santo André, no estado de São Paulo, é um exemplo típico, onde a umidade
vinda da serra do mar, somada à poluição industrial, gera uma atmosfera ácida com eleva-
do poder de ataque às edificações em concreto aparente, o que já causou muitos danos em
vários prédios.
Para se considerar uma região rural, devemos estar a uma grande distância de qualquer fonte
capaz de gerar uma atmosfera agressiva, tais como pólos industriais, grandes centros urbanos e
orla marinha.
Nessas condições poderemos caracterizar o local como de baixo teor de poluição, com
uma fraca agressão contra o concreto e sua ferragem, sendo, portanto, muito lento o
processo de ataque à película que protege o aço, formada em função da alta alcalinidade
do concreto.
Em ambientes desse tipo, não haverá necessidade de se prever os mesmos cobrimentos que
para regiões mais agressivas, tendo em vista não existir cloreto de sódio nem gases ácidos em
quantidade suficiente para agredir o elemento estrutural, o que implica águas de chuva com
pH da ordem de 6,5.
Esse tipo de situação ocorre em ambientes ou locais fechados, onde é muito baixa a taxa de
renovação do ar. Nesses ambientes não raro encontramos uma concentração de gases agressi-
vos que, dependendo da situação, podem ser gerados pelo próprio ambiente, como acontece
nos coletores de esgotos.
O processo que ocorre nesses casos é devido ao elevado teor de sulfetos que se formam no
interior desses ambientes, sendo que alguns estudos apontam duas causas prováveis: produtos
resultantes de ação bacteriológica e descarga direta de esgotos industriais nos coletores (ver
fig. 13.6.1).
Nas galerias hidráulicas em tubulações de concreto armado, que não estão trabalhando a se-
ção plena, as regiões mais sujeitas ao ataque da corrosão são aquelas situadas na interface do
ar com o concreto e as superiores, devido às diferenças de aeração e concentração de sais. As
partes submersas, que ficam em contato permanente com os fluidos que passam pela tubula-
ção, acabam recebendo uma proteção dos mesmos, na medida em que dificultam o acesso de
oxigênio, tendo um melhor comportamento final.
Umidade na Suf Corrosão Resultante
Limos
Depósitos de U m o s
Uma vez verificados os aspectos mencionados nos itens anteriores e constatada a necessidade
de se proteger adequadamente as ferragens, devemos então tomar os devidos cuidados com o
cobrimento, tendo em vista que o mesmo tem a finalidade de proteger fisicamente e propiciar
um meio alcalino elevado, de tal forma a gerar a passivação do aço.
Qualquer barra da armadura, até mesmo de distribuição, de montagem e de estribos, deve ter
cobrimento de concreto pelo menos igual ao seu diâmetro, mas não menor que o especificado abaixo:
• se o solo não for rochoso, sob a estrutura deverá ser interposta uma camada de concreto
simples, não considerada no cálculo estrutural, com o consumo mínimo de 250 kg de cimento
por metro cúbico e espessura de pelo menos 5,0 cm.
d) para concreto em meio fortemente agressivo: 4,0 cm
Para cobrimento maior que 6,0 cm, deve-se colocar uma armadura de pele complementar, em
rede, cujo cobrimento não deve ser inferior aos limites especificados neste item.
Medidas especiais - além do cobrimento mínimo, deverão ser tomadas medidas especiais
para aumento de proteção da armadura se o concreto for sujeito à abrasão, a altas tempera-
turas, a correntes elétricas ou a agentes fortemente agressivos, tais como ambiente marinho
e agentes químicos.
Nos casos especiais em que poderemos ter uma situação mais agressiva, conforme especifica-
do anteriormente, devemos observar o que segue:
No caso do pastilhamento, as pastilhas devem ser uniformes e distribuídas ao longo de todo o ele-
mento estrutural, e fixadas adequadamente para não caírem durante a concretagem, uma vez que
a sua finalidade principal é garantir um cobrimento uniforme ao longo de toda a peça, tendo em
vista que variações na espessura de cobrimento |Mxlem gerar o fenômeno do surgimento da pilha de
corrosão eletrolítica por concentração e aeração diferencial, como veremos mais adiante.
Existem diferentes tipos de pastilhas, sendo as mais indicadas as de argamassa, devido à me-
lhor aderência no concreto, além de serem as mais baratas e de fácil execução na obra. Deve-
se tomar o cuidado de garantir que elas fiquem com uma qualidade comparável com a do
concreto que será usado na obra, no que diz respeito à resistência, à permeabilidade, à dilata-
ção térmica e à higroscopicidade; do contrário, poderá significar pontos vulneráveis que irão
prejudicar o componente estrutural.
Uma maneira de garantir um padrão semelhante ao do concreto é usar um traço igual ao dele,
simplesmente se retirando os agregados graúdos e reduzindo a água de amassamento.
Em qualquer situação, não devemos ter uma relação de água/cimento superior a 0,5 nem um
traço mais pobre que 1:3, sendo essa relação em massa de materiais secos. Por outro lado, a sua
execução precisa ter uma vibração eficiente para garantir um bom adensamento e, por fim,
receber uma cura prolongada à sombra e com umidade controlada.
Podemos contar ainda com as pastilhas plásticas, que são encontradas no mercado para várias
opções de cobrimento e todo tipo de bitola de aço. Apesar de serem muito práticas, não são
econômicas e apresentam grande desvantagem devido à péssima aderência no concreto.
O local mais apropriado para a colocação das pastilhas é no cruzamento das ferragens, deven-
do ser bem amarradas para não sofrerem eventuais deslocamentos durante a concretagem. As
pastilhas podem ser colocadas conforme indicado na figura 13.7.1.
Pastilha
Fôrma
Det. da Pastilha
4 pontas da Arama
T
^ Armadura Argamassa 1:2
Comprimento
dc Projeto
-f
Com relação aos espaçadores e fixadores de fôrma, os de núcleo perdido têm sido os mais
empregados, principalmente onde há risco de percolação d'água através das paredes do con-
creto. Os dois tipos mais comuns são os totalmente de argamassa e os com núcleo de aço e
extremidade de argamassa. A finalidade desses elementos é fixar a fôrma, impedindo uma
possível abertura ou fechamento da mesma (ver figuras! 3.7.2).
Espaçador em Barra
de Argamassa
Vamos analisar de maneira simplificada o processo de corrosão do aço, apenas com a finalida-
de de ilustrar para o leitor o fenômeno, tendo em vista que um estudo mais detalhado implicaria
um aprofundamento de reações complexas, que foge ao escopo deste trabalho.
O mecanismo de corrosão pode ser dividido em duas etapas. A primeira, devido a reações
químicas, em que ocorre uma oxidação do aço pelo ataque de gases, formando películas de
oxido; isso se dá logo após a sua laminação, podendo servir de proteção temporária, dependen-
do das condições a que ele ficar exposto. A segunda e mais importante para as estruturas de
concreto armado é o ataque eletroquímico, causando a chamada corrosão do aço.
A umidade do ar é sem dúvida um dos fatores atmosféricos que implica diretamente na veloci-
dade de corrosão do aço. No entanto, a simples presença de água pura num ar também puro
tem baixo potencial de corrosão, ou seja, o processo ocorre lentamente. Entretanto, quando se
combina com outros elementos poluentes ou agressivos, passará a ter uma função preponde-
rante no ataque da ferragem.
A função de eletrólito fica por conta da presença da água no concreto e pela formação de
certos produtos durante a hidratação do cimento Ca(OH) 2 .
A diferença de potencial pode ocorrer pela diversidade de umidade, pela aeração, por con-
centrações salinas ou por tensões no aço ou no concreto. As diferenças de aeração normal-
mente são devidas à maior ou menor compacidade do concreto, que por sua vez dej)ende da
pureza de seus componentes e de uma primorosa execução para se obter uma boa qualidade
final do mesmo. Esse fator é importante, tendo em vista que se acredita ser a aeração diferen-
cial a maior e mais freqüente causa geradora de diferenças de potencial.
O oxigênio é oferecido pela atmosfera.
Podemos ter ainda a presença de agentes agressivos que vão acelerar o processo de corrosão.
Eles podem estar contidos ou serem absorvidos posteriormente pelo concreto. Destacamos entre
eles os sulfetos, os cloretos, o dióxido de carbono, os nitritos, o gás sulfídrico, o oxido de enxofre,
a fuligem e outros. Eles quebram ou impendem a formação da película de passivação do aço,
acelerando a corrosão e podendo atuar como catalisadores.
Devemos ter em mente que o concreto é um elemento poroso e que qualquer substância ácida
(gases, líquidos e sólidos) pode peneirar nos seus vazios e contribuir para um aumento do risco
cie corrosão. A situação se agrava muito quando essas substâncias atingem diretamente as
armaduras já em início de corrosão, acelerando o processo.
O cobrimento adequado das armaduras é muito importante, pois representa uma barreira com fun-
ção de proteção física do aço. Nesse sentido, é importante que o concreto tenha uma alta
compacidade, seja homogêneo e não apresente nichos no seu interior, de forma a ser o mais imper-
meável |X)ssível, para garantir uma proteção contra os ataques externos de agentes agressivos.
Como já vimos anteriormente, esses agentes agressivos podem estar na atmosfera, em águas
residuais, águas industriais, águas do mar e dejetos orgânicos.
Outro cuidado muito importante é evitar a presença de elementos agressivos durante o preparo
do concreto, o que pode ocorrer devido ao desconhecimento ou despreparo do profissional.
Nesse caso, corremos o risco de o concreto não cumprir com sua função estrutural e deixar de
ser uma proteção física para a armadura contra os ataques do meio ambiente e, o que é pior, o
problema surgirá de dentro para fora, sendo muito mais difícil de ser sanado.
O s materiais que vão compor o concreto deverão ser analisados previamente, tendo em vista
que os agregados podem conter impurezas orgânicas ou ferruginosas, sendo que os extraídos
de regiões próximas do mar e de águas contaminadas ou salobras também podem conter cloretos,
que, como vimos anteriormente, são altamente prejudiciais para a estrutura.
Além da proteção física, o cobrimento também atua como protetor químico, já que, pelo fato de
ser um ambiente altamente alcalino, forma uma película protetora de caráter passivo. Essa
alcalinidade do concreto deriva das reações de hidratação dos silicatos de cálcio. Desse modo,
o cobrimento do concreto acaba protegendo essa capa de película protetora da armadura,
mantendo a sua estabilidade e evitando que a mesma seja atingida por impactos mecânicos.
Quando não são observadas as recomendações anteriores, estaremos então sujeitos aos oossíveis
danos na estrutura, em que o primeiro sintoma é o surgimento das trincas e de manchas marrom-
avermelhadas, devidas ao processo inicial de corrosão do aço, que sempre ocorre de forma progres-
siva através da formação de oxi-hidróxidos de ferro, que aumentam de volume em até 8 vezes, cau-
sando elevadas pressões no interior do concreto, atingindo valores superiores a 15 MPa (150 kgf/cm-').
Inicialmente, essas tensões provocam uma fissuração do concreto, podendo causar o lascamento
do mesmo, o que favorece a penetração de agentes agressivos e com isso acelera ainda mais o
processo de corrosão.
O primeiro indício se percebe pelo ataque dos estribos de vigas e pilares, pois são eles que
acabam ficando mais próximos da face externa da peça de concreto, principalmente quando
não se colocam pastilhas afastadoras na armadura. Nessas condições o cobrimento acaba fi-
cando deficiente em alguns pontos.
No entanto, devemos ressalvar que o risco será sempre maior nos locais de maior umidade e
mais quentes, tendo em vista que eles estão sujeitos a uma condensação maior, criando um
ambiente mais agressivo, atacando principalmente as lajes.
O risco de corrosão aumenta nos elementos de concreto que estão sujeitos a deformações,
situação que favorece o surgimento de trincas, acentuando os perigos de contaminação
das armaduras. O mesmo não acontece com as peças que estão submetidas apenas a esfor-
ços de compressão, sendo que nesses casos não vão surgir fissuras decorrentes de tração
no concreto.
Devemos evitar também as estruturas que apresentem locais angulosos, ou cantos e arestas
pronunciados, dando sempre preferência para um arredondamento dos cantos e arestas, de
forma a se evitarem pontos favoráveis ao ataque do aço.
t 1
c iML
1
• f —
Vamos abordar neste tópico a influência no processo de corrosão que diferentes pontos de uma
mesma estrutura podem ter. Fica fácil de perceber onde se encontram os pontos mais vulneráveis
quando procuramos os locais de maior umidade, sendo que nesses locais devemos tomar cuidado
com o tipo de concreto a ser empregado e o cobrimento ideal para proteger a armadura.
Quando estudamos os pilares com problema de corrosão, podemos perceber que via de regra o
processo se inicia na base dos mesmos, sendo que aos poucos vai se alastrando para as partes
superiores. Isso ocorre principalmente pelo fato de se ter sempre a possibilidade de uma con-
centração maior de umidade na base, devido à presença de águas pluviais ou de lavagem do
piso. Por sua vez, é possível que em alguns locais a umidade relativa do ar junto ao piso seja
superior à do teto em até 2 0 % .
Devemos tomar cuidado com locais que têm maior potencial de concentrar umidade, devido a
características específicas. C o que ocorre com banheiros, cozinhas, áreas de serviço, lajes de
cobertura diretamente expostas ao sol. Nesses locais existe uma possibilidade maior de haver
condensação de vapor d'água e conseqüente aumento na velocidade de ataque do concreto e
do aço, principalmente quando se trata de concreto aparente.
Devemos levar em consideração, também, que onde há concentração de umidade existe grande
chance de se ter a presença de bolor e fungos, que devido ao seu metabolismo acabam gerando
produtos ácidos de natureza orgânica, contribuindo para baixar o p H do cobrimento do concreto.
Setor 1
{ ALTAMENTE AREJADO
E MAIS SECO
ÚMIDO C O M MENOR
Setor 2
ACESSO DE OXIGÊNIO
Solo
Taxa de Corrosão
ç . , ,
{ENTERRADO SEM
* 1 ACESSO DE OXIGÊNIO
Setor 1 AÉREO
Setor 4 ^ SUBMERSO
Setor 5 ENTERRADO
Taxa de Corrosão
Fig. 13.9.1. Variação das taxas de corrosão para um mesmo elemento estrutural
14 Fissuras no concreto armado
14.1. GENERALIDADES
As trincas em elementos estruturais de concreto armado sempre inspiram maiores cuidados na análise
das causas e nas soluções possíveis. Algumas fissuras podem ser desprezadas ou simplesmente
colmatadas após um correto diagnóstico dos motivos que a geraram, como veremos mais adiante;
outras, por sua vez, deverão receber um tratamento especial para resolver o problema corretamente.
As fissuras de retração hidráulica no concreto são provenientes da cura malfeita, em que a perda
de água de amassamento durante o processo gera tensões internas na peça, provocando uma
retração que resulta em esforços de tração no concreto, o qual, por sua vez, não resiste e surgem
então as fissuras em forma de mapeamento geográfico sem direção definida (ver fig. 14.2.1).
Viga Lajes
Essa situação é um pouco diferente da retração hidráulica que ocorre durante a cura. Nesse
caso, a mudança de umidade a que fica submetida a peça de concreto gera uma variação
dimensional por absorção ou perda higroscópica; essa alteração de volume pode causar fissuras
se houver vínculos que impeçam o elemento de se movimentar. Nesses casos as fissuras pode-
rão aparecer ao longo da peça ou junto aos vínculos.
Apresentamos abaixo uma tabela com alguns valores de referência da umidade de equilíbrio
de alguns materiais em função da umidade relativa do ar.
A Movimentação (%)
.A
Movimentos
Reversíveis
Movimentos
Irreversíveis
- > Tempo
1,6
1,4 1 => a/c 0,70
r 1,2 2 => a/c 0,60
3 => a/c 0,50
5. i,o 4 => a/c 0,40
5 0,8
0,2
0,0
2 0 0 2 5 0 3 0 0 3 5 0 4 0 0 4 5 0 5 0 0 550 6 0 0 6 5 0 7 0 0
CONSUMO DE CIMENTO
(kg/m3)
A fissuração provocada pela retração hidráulica do concreto se torna mais evidente nos painéis
moldados no local da obra, em que normalmente se utilizam formas de chapas metálicas para se
produzir as chamadas paredes monolíticas de concreto, uma vez que se emprega concreto "auto-
adensável" com relação água/cimento elevada e baixa taxa de armadura. Nessas condições, as
trincas surgem normalmente nos pontos mais vulneráveis, em que estão localizadas portas e janelas
(ver fig. 14.3.3).
4 Parede Monolítica
de Concreto
Para se evitarem trincas geradas pela variação de umidade, devemos ter concretos bem dosa-
dos com relação água/cimento próximos do ideal, executados de maneira a resultar em peças
bem adensadas com baixa porosidade. Para as fissuras já existentes, temos de proceder à
colmatação das mesmas com selantes plásticos que possam acompanhar as movimentações
dimensionais e proteger contra os ataques do meio ambiente.
14.4. FISSURAS NO CONCRETO DEVIDO À VARIAÇÃO DE TEMPERATURA
As peças esbeltas e longas, como costuma acontecer em vigas contínuas de vários Iramos, ou
em grandes panos de lajes, estão mais sujeitas às tensões provocadas pela variação de tempe-
ratura, principalmente quando existem vínculos que impendem uma livre movimentação da
peça de concreto.
Devemos ter em mente que cada material possui seu próprio coeficiente de dilatação térmica
e, quando provocamos uma interação de materiais ou elementos diferentes, estamos criando
uma situação de tensão na junção dos mesmos, provocada pela variação de temperatura, uma
vez que eles tendem a se deformar com amplitudes diferentes.
O que temos observado nas construções novas e mesmo nas mais antigas é uma falta de preccupação
por parte dos projetistas em querer resolver ou até mesmo minimizar os efeitos danosos da variação de
temperatura, que |x>r sua vez atinge diariamente tcxlas as edificações do mundo. A solução do proble-
ma está na concepção do projeto, que se não for levada em consideração, via de regra, torna o
problema crônico e de difícil solução posterior, obrigando o usuário muitas vezes a conviver com ele.
Outro efeito que a variação de temperatura provoca é um gradiente térmico entre a face interna e a
externa de uma laje, causando o abaulamento da mesma devido às diferenças de dilatação entre as
faces. Nos apartamentos de cobertura normalmente esse tipo de fissura é comum e pode estar
associado também a uma variação brusca de temperatura da laje, o que costuma acorrer nos dias
quentes na época do verão, quando cai uma chuva intensa no final do dia. Nessas condições, o
concreto foi aquecido durante todo o dia e resíriado na face externa de forma brusca pela chuva.
Já que é impossível evitar a deformação dos materiais pela variação de temperatura ou mesmo
pela absorção higroscópica, devemos então buscar na fase de projeto uma convivência harmô-
nica com o fenômeno, através de soluções criativas que permitam uma livre movimentação
dos elementos de uma edificação sem causar danos à mesma, tendo consciência que no caso
da variação por umidade ou por temperatura a trinca só surge quando se impede o livre movi-
mento da peça através de vínculos.
As fissuras devido à dilatação térmica são ativas (vivas), devendo ser tratadas com selantes
elásticos que protejam a peça e possam acompanhar a movimentação da mesma, podendo-se
tomar por base a recomendação a seguir:
a) em ambiente interno não-agressivo:
A presença de microíissuras, ou seja, com aberturas inferiores a 0,1 mm, em vigas e lajes de
concreto que apresentem deformações dentro do especificado pela ABNT, é freqüente e na
maioria dos casos não deve ser motivo de maiores preocupações, a não ser em ambientes
agressivos onde podem servir de porta de acesso ao ataque das armaduras por agentes corrosi-
vos. Nesses casos, deverão ser tratadas conforme especificado mais adiante.
No entanto, podemos ter uma série muito grande de casos em que as deformações excessivas
associadas às trincas indiquem uma situação de perigo, exigindo estudos específicos para se
avaliar as verdadeiras causas do problema antes que ocorra um sinistro.
Essa situação pode surgir quando o engenheiro calculista não faz uma avaliação correta da
carga que será aplicada no elemento estrutural, ou devido à deficiência dos materiais empre-
gados e em condições de uso quando se aplica uma sobrecarga maior que a prevista em
projeto. Em qualquer uma dessas situações vamos ter flechas e trincas anormais, sendo que,
no caso específico das vigas e lajes, elas vão se apresentar com uma configuração seme-
lhante à da fig.14.5.1.
No caso das lajes, elas também apresentam grandes deformações, porém com uma variação
maior de configuração das trincas, dependendo da relação entre largura e comprimento, tipo
de vinculação, natureza da solicitação e esquema de armadura.
Viga
w w
0
//
Fig. 14.5.1. Trincas de flexão em elementos de concreto armado
Em qualquer uma das situações apresentadas, é necessária uma avaliação criteriosa das condi-
ções em que o elemento estrutural se encontra para se definir pelo procedimento mais adequa-
do técnica e economicamente; cada situação é sempre única e as soluções variadas, como
veremos mais adiante.
Em princípio podemos optar por um reforço quando se deve manter a mesma sobrecarga atuan-
te, ou manter o elemento estrutural na sua forma original e aliviar a carga sobre ele; isso somen-
te se as condições de uso permitirem e não contrariarem as recomendações da A B N T preconi-
zadas para aquela condição específica de uso.
Com relação à segurança do elemento estrutural, numa primeira análise podemos considerar
que as peças isostáticas apresentam menos recursos para absorver os esforços, sendo, portanto,
peças mais sujeitas ao colapso do que os elementos estruturais hiperestáticos, que, pelas pró-
prias características da peça, podem redistribuir os esforços buscando um novo ponto de equi-
líbrio, oferecendo menos riscos em curto prazo, exigindo, no entanto, a mesma atenção e os
mesmos cuidados.
Porém, se a melhor alternativa para resolver o problema indicar para o reforço estrutural, deve-
mos analisar entre as várias maneiras possíveis e optar por aquela que for mais adequada às
circunstância da obra, no que diz respeito ao volume do serviço a ser executado, à facilidade
de obtenção de produtos específicos para o reforço, à disponibilidade de equipamentos especi-
ais, às condições técnicas de execução e à mão-de-obra especializada.
A escolha de um sistema de reforço estrutural deve levar em consideração também que para o
mesmo entrar em carga deve haver deformação da peça em questão, que por sua vez pode
estar no seu limite; e se tiver que fletir ainda mais para o reforço começar a funcionar, poderá
sofrer um colapso.
Para tanto é fundamental corrigir parte da deformação existente com a finalidade de aliviar as
tensões internas, a fim de que assim o reforço possa absorver a parcela de responsabilidade que
se está projetando para ele. Essa situação deixa de existir quando o reforço a ser empregado for
por meio de protenção da peça; nesse caso, o dimensionamento da solução deverá ser cuidado-
samente estudado no seu aspecto técnico para que se obtenha o desempenho desejado.
O reforço com tirantes de protenção normalmente é feito utilizando-se barras de aço com ros-
cas nas extremidades e fixadas nas laterais das vigas, sendo que a tensão é dada por meio de
porcas que através dos elementos de ancoragem tencionam a barra (ver fig. 14.5.2).
Vista Superior
Porém, quando a solução do reforço indicada exigir uma diminuição das flechas existentes, isso
pode ser conseguido com uma redução calculada da sobrecarga, ou através da deflexão do
elemento estrutural com utilização de macacos hidráulicos.
Alertamos que esse processo, como todos os demais, requerem profissionais altamente
especializados para fazer uma análise prévia da situação, desenvolver projetos específicos,
definir os equipamentos e produtos que serão usados e finalmente realizar uma correta seqüên-
cia das etapas e procedimentos que serão adotados no processo de reforço.
Vamos apresentar a seguir algumas opções de reforços para vigas e lajes com problemas de
trincas por excesso de carga, lembrando que cada problema apresenta a sua especificidade,
podendo haver mais de uma solução e mais de um procedimento para a sua correção.
Na fig. 14.5.3, apontamos uma alternativa de reforço na ferragem de flexão em viga de concre-
to. Nesse caso o enchimento pode ser feito com microconcreto bem dosado quando a largura
permitir ou usar graute em situações mais difíceis de preenchimento.
1a Etapa |2a Etapa
•
f—1—»
t %
i
1 20 cm (min.)
Novo Estribo
A Armadura de Reforço
Na fig. 14.5.4 apresentamos outra alternativa, na qual se emprega concreto projetado. Essa
opção torna-se viável quando o volume de serviço a ser executado justifica a mobilização
desse tipo de equipamento, sendo uma excelente alternativa técnica, tendo em vista que o
concreto projetado utiliza baixa relação água/cimento, tem alto poder de aderência e alta
compacidade por se lançado sob alta pressão.
Projetado
Armadura de
Reforço
Laje
% % % % % % % %
Viga
" I —
\ \ R e f o r ç o com
Apoio
Chapa Metálica
rt
Adesivo pino Fixado Çpm
Estrutural Adesivo Estrutural
í
.Chapa Metálica
do Roforço
Para o reforço das lajes valem as mesmas recomendações, conceitos e cuidados que foram
preconizados para as vigas. Na fig. 14.5.6, vamos encontrar os reforços dos momentos volventes
e de flexão, positivo e negativo, utilizando-se armadura adicional, colagem de chapa, enchi-
mento com microconcreto/graute ou concreto projetado.
Armadura de
Corto com Reforço Superfície
Disco Escarificada
Laje_
. ^ ->. i . - 7
\Trlnca
Aplicar Adesivo
Estrutural
E 03
B - Momentos Volvontos com Chapas Motálicas C - Momentos de Flexão Negativo
Armadura de
Reforço
Com Armadura Nova
^Capa Nova
:. • l á : , ê s . • k W r
Aplicar Adesív Pinos de
Estrutural Ancoragem
Superfície Escartfada
o Regularizada Chapa
Metálica
C o m Chapa de A ç o
T Laje
Concreto
Armadura d e / Projetado
Roforço
Queremos chamar a atenção do leitor ao fato de que todas as obras de reforço, apesar da
aparente simplicidade com que estamos abordando o assunto, exigem sempre uma postura
técnica e profissional muito séria; não devemos nos iludir e acreditar que um trabalho dessa
responsabilidade possa ser projetado e executado por pessoas que não estejam qualificadas,
preparadas e treinadas para esse tipo de serviço.
As trincas de cisalhamento normalmente ocorrem nos pontos de cortante máxima e são gera-
das por seção insuficiente, excesso de carga, falta de armadura ou disposta de forma errada
para combater esse tipo de esforço (ver fig. 14.6.1).
Da mesma forma que para as trincas de flexão, podemos reforçar a peça a fim de que a carga
atuante permaneça inalterada, ou reduzir a sobrecarga e manter as condições atuais da estru-
tura. Esta última, por sua vez, vai depender das condições de uso e das recomendações da
norma brasileira. Lembramos que no caso do reforço é necessário primeiro aliviar tensões e
deformações para depois se aplicar o reforço.
Valem as mesmas recomendações citadas no capítulo anterior com relação aos cuidados que
devem ser observados na execução desse tipo de trabalho.
, A ,
U U
Isso ocorre em vigas de eixo curvo, principalmente nas sacadas de edifícios, em vigas ou lajes
que tem flecha excessiva e se apoiam em outras vigas, causando uma rotação nestas ultimas,
ou em lajes em balanço do tipo marquise engastadas apenas na viga.
Todas essas situações provocam uma rotação no plano da seção transversal do elemento estru-
tural e, quando esse esforço gera deformações acima da capacidade de suporte da peça, sur-
gem as fissuras características de torção. Devemos notar que elas são inclinadas aproximada-
mente a 45° e aparecem nas duas faces laterais da viga na forma de segmentos de retas reversas
(ver fig. 14.7.2.A).
A - Viga Balção
Pilar Pilar
•
Viga Suporte
c
B - Laje em Balanço " Engastamento de Outras Vigas
A ferragem ideal para se combater esse esforço deve ser colocada de forma vertical (estribos)
e longitudinal (ferros de pele); no entanto, se a questão é executar um reforço para combater as
tensões de torção já instaladas, podemos recorrer, dentre outros processos, à colocação de
estribos adicionais, em que o sistema de preenchimento de concreto é feito de forma convencio-
nal com uso de formas e lançamento do concreto através de furos feitos na laje (ver fig. 14.7.3A).
No entanto, dependendo das condições locais e do volume de serviço, podemos optar pelo
preenchimento utilizando concreto projetado, sendo esta uma solução eficiente, uma vez o
concreto tem baixa relação água/cimento, fica bem adensado e com ótima aderência por ser
lançado sob alta pressão (ver fig. 14.7.3.B).
Laje Laje
Fôrma
^ Concreto Projetado
Algumas vigas e pilares, dependendo da atuação dos esforços, podem trabalhar num sis-
tema duplo de solicitação, no caso flexão e compressão. Nessas condições, pode haver
um acúmulo de tensões na região comprimida, surgindo algumas trincas características
(ver fig. 14.8.1).
Dependendo das dimensões e da armadura das vigas e pilares, as trincas de tração também
costumam aparecer no mesmo período. Esse tipo de situação costuma ocorrer em vigas e pila-
res que absorvem esforços horizontais devido ao empuxo da terra em estruturas de arrimo, ou
devido ao empuxo de líquidos em grandes tanques de armazenamento.
^ Viga
i
Trincas de
Carga Vertical
Laje ú
1 . Pilar.
\ /
/f\
Trincas do
Compressão
Trincas de Tração ^
Esforços Laterais
(torra/água/vento)
Viga
Peça Comprimida
Essas trincas podem ser evitadas através de um dimensionamento que considere corretamente a ação
de todos os esforços atuantes na peça e, por sua vez, que o uso seja compatível com o carregamento
previsto em projeto. No entanto, se o problema já estiver implantado, |>odemos recorrer ao reforço do
elemento estrutural de várias maneiras: utilizando-se a colagem de chapas de aço, ou a colocação de
armadura suplementar e posterior enchimento com graute ou microconcreto (ver fig. 14.8.2).
A - Colocação de Ferragem e Concreto
EZ
Estribos e m
/ C h a p a s de Aço
3
P i l a r a ser
Reforçado
UL H
fti
Cantoneiras
de Aço
Outras trincas provocadas por compressão ocorrem normalmente em consoles e dentes gerber
e são resultantes da concentração de tensões normais e tangenciais nessa região da peça (ver
fig. 14.8.3).
E
Viga
Aparelho de Apoio
Console
Viga
Aparelho de Apoio
Isso normalmente acontece pela ineficiência ou inexistência do aparelho de apoio, sendo que
em alguns casos a deficiência está no dimensionamento estrutural ou na colocação incorreta
da armadura.
Para evitar esse tipo de problema, devemos calcular levando-se em consideração todos os
esforços que irão atuar no elemento estrutural e especificar corretamente o material que deve-
rá ser empregado para absorver as movimentações da estrutura. Por outro lado, a execução
tem de observar os mesmos critérios de qualidade, para que haja um desempenho final eficien-
te ao longo do tempo.
Por sua vez, devemos ter em mente que existirá sempre a necessidade de se fazer uma manu-
tenção preventiva e corretiva adequada dos aparelhos de apoio, de forma a garantir uma longa
vida útil com bom funcionamento de todo o conjunto; principalmente nas obras-de-arte, onde
eles são muito mais solicitados devido à ação combinada da variação de temperatura e cons-
tante movimentação dos veículos.
O reforço de consoles e dentes gerber pode ser visto na fig.14.8.4; esse caso não considera a
necessidade de se alterar a ferragem existente, porém, se for necessário, deverá ser analisada
a e s p e c i f i c i d a d e de c a d a caso, uma vez que vai depender muito da quantidade, do
posicionamento e da bitola das barras dentro das peças, para se definir em que condições será
possível uma adição de ferragem de reforço.
Pilar
Fôrma
Pilar
Chapas M e t á l i c a ^
Cabos Dywldag
Graute
Tericionados
Pilar
Nos elementos estruturais em que o aço já foi vítima do processo de corrosão, ocorre um aumento
de volume em até oito vezes na parte afetada da armadura, produzindo tensões de tração que o
concreto não resiste, surgindo então pequenas fissuras ao longo das armaduras situadas mais
próximas da superfície do elemento estrutural. Isso, por sua vez, permite que o aço fique mais
exposto ao ataque externo, acelerando o processo de corrosão e transformando essas trincas em
rachaduras, chegando a destacar partes do concreto (ver figs. 14.10.1/14.10.2/14.10.3).
As trincas em concreto armado devido à corrosão das armaduras são muito comuns em nossas
edificações e precisam ser tratadas adequadamente, a fim de bloquear o processo e não agravá-
las como tem ocorrido em algumas obras, nas quais não se procura identificar, diagnosticar e
corrigir as verdadeiras causas do problema.
Para se propor uma solução adequada, devemos analisar a fonte geradora do problema e só
depois de estudar criteriosamente todas as condições envolvidas apresentar uma solução que
tenha um excelente desempenho técnico e econômico. Basicamente podemos dividir as cau-
sas nos seguintes grupos:
• Má execução.
• Concreto inadequado.
• Ambiente agressivo.
• Proteção insuficiente.
• Manutenção inadequada.
• Gradiente térmico.
• Presença de cloreto.
• Desconsideração de cargas dinâmicas.
Agonto Agressivo
J
ÈM ^^XTrinca ao Longo das Armaduras
No capítulo 13, que trata do processo de corrosão das armaduras, pudemos ver com mais
detalhes as causas que dão origem à oxidação da ferragem, bem como os procedimentos reco-
mendados para se evitar isso. Já no capítulo 15, veremos os procedimentos de recuperação do
elemento estrutural vitimado pela corrosão da armadura.
Uma vez que na maioria dos casos de corrosão a fonte geradora é o meio externo, devemos evitar
o fissuramento da peça e proteger onde for necessário. Nesse sentido, a NBR-6118, no seu item
4.2.2, especifica que as fissuras nas superfícies do concreto não deverão ter aberturas su|Xíriores a:
O conceito de peça protegida ou não é um tanto vago, pois depende do material que será
empregado com essa finalidade e de sua espessura. Por outro lado, o potencial de agressividade
de um determinado meio pode variar muito, como já vimos anteriormente; podemos ter diferen-
tes níveis de agressividade em função dos agentes que vão colaborar para isso e da possível
somatória de alguns deles.
Outra dificuldade que se tem é definir uma medição única para uma fissura, uma vez que elas quase
sempre apresentam aberturas variáveis; no entanto, entendemos que para efeito de se avaliar o poten-
cial de corrosão, devemos sempre verificar a abertura máxima e se |X)ssível a sua profundidade.
A determinação da profundidade de uma fissura não é uma tarefa fácil; além de ser complexa, apre-
senta certo grau de incerteza. Podemos usar métodos não destrutivos como o emprego de aparelhos
de ultra-som ou através da aplicação de soluções químicas, do tipo azul de metileno ou fenol*etaleína;
porém, o mais confiável ainda é a extração de um testemunho para análise em laboratório.
Parece-nos intuitivo que, quanto maior a abertura de uma trinca, ou mais profunda ela for, teremos
maior possibilidade cie ataque do aço, tendo em vista que será mais fácil quando se tem una aber-
tura para servir como porta de entrada para todos os elementos nocivos ao aço e ao concreto.
15 Reforço ou restauro do concreto
armado
15.1. GENERALIDADES
Fazendo-se um paralelo com a medicina, em que se tem como certo que o melhor procedimen-
to é o preventivo, na engenharia civil o mesmo se aplica com muita propriedade, tendo em
vista que é sempre muito mais econômico e eficiente quando se tomam todos os cuidados
necessários antes do início da obra.
Quando a causa do ataque ao aço for devida à presença de cloretos incorporados ao concreto,
a solução não é simples e vai requerer um estudo específico para cada caso.
É a fase inicial que requer uma vigilância muito grande do engenheiro responsável, uma vez
que a tendência natural é que o funcionário não dê a devida atenção, por se tratar de um
serviço delicado, lento e que exige muita paciência.
Todos os restauros e reforços estruturais em peças de concreto armado devem seguir uma con-
duta rigorosa na preparação e limpeza do substrato, que são os procedimentos prel minares
obrigatórios antes da execução do reforço/restauro. Não adianta usar sistemas e materiais apro-
priados som preparar adequadamente o substrato, pois o risco de insucesso será muito grande,
a ponto de comprometer integralmente a restauração/reforço.
O primeiro serviço é o de preparo do substrato, e pode ser feito de várias maneiras, dependen-
do das condições locais, da natureza e grandeza dos serviços a serem executados. Na tabela
4, citamos os principais procedimentos de preparo.
Tabela 4 - Procedimentos para preparação do substrato do concreto que deverá receber res-
tauro ou reforço estrutural
Tabela 5 - Procedimentos para limpeza das superfícies do concreto instantes antes da aplica-
ção do material de reforço/restauro
Se esse tempo, chamado de "pot-life" ou tempo dc manuseio, for ultrapassado, vai funcionar de
forma contrária, podendo gerar uma película que atuará como um elemento isolante entre os
materiais, prejudicando a aderência entre os mesmos.
Toda a ferragem oxidada deve ser limpa através de escovação manual/mecânica ou jato de
areia, de forma a ficar totalmente isenta de óleos, graxas e partes oxidadas, tomando-se o
cuidado de garantir que toda a superfície seja atingida pela limpeza, inclusive a face voltada
para o concreto, por ser esta a que apresenta a maior dificuldade de acesso.
Após essa limpeza, precisamos avaliar possíveis reduções de seção nas barras de aço. Caso
isso ocorra, devemos consultar o engenheiro estrutural para verificar a necessidade de substi-
tuição das mesmas, ou a colocação de armadura suplementar. Finalmente elas devem receber
pintura contra corrosão à base de resinas epoxídicas ou de cromato de zinco, antes do restauro
final da peça.
Os seguimentos de armadura que tiverem necessidade de ser trocados poderão ser feitos atra-
vés de emendas entre as barras por um dos processos abaixo especificados.
1 5 . 4 . 1 . Emenda porTranspasse
Quando a peça permitir aberturas que possibilitem a colocação de novas barras de reforço, isso
poderá ser feito com emendas por transpasse, conforme fig. 15.4.1.
Vista Lateral Viga de Concreto
Grampo de Costura
Danificada
Estribos das Vigas
Corte
8.
A = Comprimento de Transpasse
B = Trecho Oxidado com Redução de Seção
Grampo de Costura C = Comprimento de Ancoragem no Concreto
1 5 . 4 . 2 . Emendas c o m Luvas
Outro sistema utilizado para emendar barras é o emprego de luvas de pressão, em que as
extremidades das barras são unidas através de luvas prensadas de tal forma que garantem a
ligação das barras (ver fig.15.4.2).
Luva
± J>
/
Barra
( 1 1 1
1 ^
1 5 . 4 . 3 . Emendas c o m Solda
A emenda por solda é a mais desejada pela aparente facilidade de execução; no entanto, exige
cuidados especiais, sendo que em situações de grande responsabilidade deve ser evitada. A
grande preocupação é que o calor gerado pelo processo da solda pode alterar as propriedades
da estrutura do aço, reduzindo a sua resistência, principalmente quando se tratar de aço classe
B. Para diminuir os efeitos nocivos da solda, deve-se executar com muito cuidado e de forma
alternada, aguardando-se que o aço esfrie entre uma passada e outra, empregando-se eletro-
dos apropriados do tipo E 7018 ou E6013 (AWS) (ver fig.15.4.3).
Cordão do Solda
'Recomendações
- Exige muito Cuidado para não Fragilizar o aço
Principalmente se for Classo B
- Deve ser Evitado e m Reforço com muita Responsabilidade
• Soldar e m Etapas, Esperando Esfriar Totalmente entre
uma Etapa e Outra
•Aplicar nos dois Isolados da Barra
- Usar Eletrodo E-7018 ou E-6013 (AWS)
Os reparos nas peças de concreto podem ser divididos em duas modalidades: superficiais loca-
lizados ou de grandes áreas e profundos. Para as duas situações, podemos contar hoje em dia
com uma grande variedade de produtos industrializados com características diversificadas para
atender a cada situação específica.
É o caso dos grautes que já vêm prontos para ser aplicados, ou compostos separados que po-
dem ser misturados na obra, formando excelentes argamassas de restauro. Podemos ainda usar
aditivos químicos que, incorporados ao microconcreto ou à argamassa, conferem plasticidade
e boa aderência.
O importante nessas argamassas de restauro é que ela tenha alta resistência, boa aderência e princi-
palmente que não retraia, de forma a preencher todo o vazio, obturando definitivamente o problema.
As figuras 15.5.1/15.5.2 mostram algumas soluções típicas de restauros em vigas, lajes e pilares.
Vigas ou Pilares
Fig. 15.5.1. Reparos superficiais localizados com espessura máxima = 2,5 cm
Após o correto tratamento da superfície do concreto, a limpeza e os reparos nas ferragens, então
podemos restaurar o elemento estrutural, usando-se um dos procedimentos especificados a seguir.
É uma solução eficiente, que dispensa o uso de adesivo estrutural em função de ter boa aderên-
cia e que não requer forma; no entanto, apresenta custo elevado e acarreta muita perda de
material devido à reflexão, não sendo indicado para pequenos reparos.
Como o próprio nome diz, são colas à base de epóxi com alto poder de aderir o concreto velho
ao novo, além de ser uma eficiente barreira de proteção contra ataques de agentes agressivos;
no entanto, requer forma e nem sempre apresenta um resultado estético satisfatório.
1 5 . 5 . 4 . Restauro c o m Graute
Fç<;f»<; produtos <;ão efiriontos por <;r»rom auto-aderentes, não ;iprosontnrom rotr;ição e «;orom
fáceis de aplicar; no entanto, requerem formas.
1 5 . 5 . 5 . Restauro c o m M i c r o c o n c r e t o ou Concreto C o m u m
É uma solução de baixo custo, mas que exige formas e alto conhecimento na tecnologia de
preparo do concreto, uma vez que para ser eficiente deverá ser bem dosado e bem preparado,
com baixa relação água/cimento e aplicado com eficiência técnica. Seu uso é recomendado
quando se necessita preencher volumes grandes e o concreto projetado não se mostra adequado.
Nesses casos, o emprego de argamassas poliméricas ou graute resultam em custos elevados.
16 Ensaios e análises no concreto
Com relação às estruturas metálicas, faremos mais adiante algumas considerações quanto a al-
guns ensaios que podem ser utilizados em edificações sinistradas por incêndio ou por corrosão.
• Por esclerometria.
• Por ultra-som.
• Por gamagrafia.
• Método eletromagnético.
• Por prova de carga.
Trata-se de um ensaio que serve para medir a resistência superficial do concreto, através do
impacto provocado por uma ferramenta na sua superfície, sendo que isso pode ser feito através
de aparelhos chamados de esclerômeiro.
Existem dois tipos de esclerômetro; um deles é o de Caedes, que produz o impacto de uma
esfera de aço no concreto, provocando uma deformação na sua superfície, sendo que o resul-
tado se baseia na energia de impacto e na determinação da deformação provocada, avaliando-
se o diâmetro da marca deixada no concreto.
Outro tipo de esclerômetro mais conhecido no Brasil é o Schmidt, que, por sua vez, se baseia
na condição de que toda energia incidente sobre a superfície do concreto se transforme em
energia de deformação e que a energia cinética após o choque pertença exclusivamente ao
esclerômetro.
Para o emprego do esclerômetro devemos evitar regiões densamente armadas, ou com ninhos
de pedras e bicheiras, lixar a superfície do concreto com pedra carborundum, traçar um reticulado
de 20 x 20 cm e aplicar o aparelho sempre dc forma perpendicular à face do concreto.
A nossa experiência com a utilização do esclerômetro recomenda que se tome muito cuidado
na avaliação dos resultados, tendo em vista que é um processo mecânico para avaliar a resis-
tência superficial do concreto, que por sua vez pode não refletir a verdade da resistência
interna do elemento estrutural.
Participamos de uma obra em que foi empregado um lote de cimento que resultou num concre-
to de baixa resistência, apesar do traço empregado estar dentro dos padrões usuais para esse
tipo de obra.
Inicialmente foram efetuados, por uma empresa de comprovada experiência, alguns ensaios de
esclerometria em vários pontos da estrutura, uma vez que os resultados constatados foram
muito discrepantes. Optou-se, então, pela extração de vários corpos-de-prova para ensaios de
compressão em laboratório.
Objetivando-se comparar os resultados, as amostras foram tiradas nos mesmos locais onde se
fez o ensaio esclerométrico. Para nossa surpresa, os valores obtidos nos ensaios de compressão
foram significativamente maiores ou menores que os apresentados pela esclerometria, não
mostrando nenhuma coerência entre os dois processos.
Esse e outros trabalhos semelhantes nos mostraram que, dependendo da gravidade dc proble-
ma, o ensaio de esclerometria não será suficiente para permitir uma conclusão no sentido de
condenar ou validar a segurança de uma estrutura, ou seja, não podemos dispensar outros
ensaios para se avaliar com precisão as reais condições do elemento de concreto que está
sendo analisado.
1 6 . 1 . 2 . Ensaio c o m ultra-som
Esse método é muito utilizado quando se deseja conhecer a homogeneidade do concreto, bus-
cando-se detectar falhas (bicheiras), vazios de concretagem, profundidade de trincas, etc. Vem
ganhando cada vez mais destaque entre os ensaios não-destrutivos por apresentar largas possi-
bilidades de aplicação no estudo de patologia do concreto e no controle de suas qualidades.
Nesse sentido está sendo feita uma série de estudos no Brasil e em outros países onde a tecnologia
do concreto é mais avançada, com a finalidade de se investigar com esse processo várias
características do concreto, tais como a resistência à compressão e outras.
O ensaio consiste basicamente em se transmitir numa das faces da peça de concreto ondas
ultra-sônicas de pequeno comprimento e freqüência superior a 20 Hz, não captadas pela audi-
ção humana, e receber em outro ponto da peça, medindo-se assim a velocidade de propaga-
ção da onda no meio analisado.
Apenas como referência, citamos na tabela 6 os resultados obtidos pelos pesquisadores ingle-
ses Leslie e Cheesmann e endossados pela Associação Brasileira de Cimento Portland, em que
se pode ter uma idéia sobre a resistência e homogeneidade do concreto.
Tabela 6
T-tn •h T
Esse tipo de ensaio é muito útil quando se pretende obter algumas informações cspec'ficas do
concreto a ser analisado, tais como:
• Trincas internas.
• Juntas de concretagem mal executadas.
• Diâmetro e posição das armaduras.
• Corrosão de cabos e armaduras.
E 23
• Falhas na injeção das luvas de protensão.
• Ruptura de fios de protensão.
• Má aderência do concreto na armadura.
• Reconstituição da armadura da peça.
• Local ideal para se extrair corpo-de-prova.
• Verificação da penetração das resinas em vigas e luvas de protensão.
O aparelho usado nesse ensaio é semelhante ao usado nos raios X, onde um corpo é submetido
a uma radiação em uma das suas faces e registrado num filme na face oposta, sendo que para
o concreto se utiliza o raio Gama, usando como fontes radioativas o IRÍDIO, o COBALTO e o
BETRATON, dependendo da espessura de cada peça analisada.
Por se tratar de aparelho que emana radiação, deve ser guardado em ambiente apropriado e
manuseado de forma correta através de controle remoto e delimitação da área onde se está
fazendo o teste, para não contaminar as pessoas da obra.
1 6 . 1 . 4 . Método Eletromagnético
O aparelho usado para se fazer esse ensaio é o pacômetro, que emite um fluxo magnético
através da armadura do concreto, o qual por sua vez varia em função da espessura de cobrimento
do concreto, sendo possível se verificar com facilidade e rapidez o posicionamento exato da
armadura dentro da peça de concreto, bem como o seu desenho, a presença de ganchos, o
final da barra de aço e o afastamento dos estribos. Isso é muito útil para se reconstituírem
projetos e definirem-se pontos de extração de corpo-de-prova sem cortar ferragem interna.
1 6 . 1 . 5 . Prova de Carga
Os raros casos de acidente ocorreram em situações em que a ferragem estava situada fora da
posição de tração do concreto, como, por exemplo, nas lajes em balanço em que a ferragem
deveria estar na face superior da mesma e estava no meio ou na face inferior. Nessas condi-
ções, ao se fazer o carregamento preliminar da laje, na fase inicial da prova de carga, ocorreu
o colapso da peça.
Todo o processo deve ser executado por profissionais altamente treinados e assessorado por
engenheiro estrutural, que vai avaliar o comportamento da estrutura durante o carregamento e
após a sua conclusão, analisando todos os dados produzidos durante o ensaio. Isso é muito
importante para se poder fazer uma avaliação criteriosa das deformações apresentadas.
Para se realizar uma prova do carga, devemos primeiramente delimitar a área ou peça que será
testada, definir o carregamento total a ser colocado, bem como as etapas em que será feito, escolher
que tipo de sobrecarga será empregada e, finalmente, como iremos instrumentar a estrutura para se
obter as informações necessárias que permitirão a elaboração de um laudo conclusivo.
A escolha da área, o valor do carregamento e como ele será aplicado vão depender dos ele-
mentos que se pretende analisar. Nesses casos, normalmente quem define essas variáveis é o
engenheiro estrutural, que fará a análise dos resultados obtidos durante o teste.
Quando a carga a ser colocada não for muito grande, podemos utilizar alguns materiais dispo-
níveis no local. Em se tratando de obra em andamento, é comum o uso de sacos de cimento,
tijolo, areia e, principalmente, água, que pode ser posta sobre pequena piscina feita com lona
plástica ou em tambores e caixas d'água pré-fabricadas.
Todos esses pesos apresentam vantagens e desvantagens dependendo da situação, porém o car-
regamento com lâmina de água oferece maior precisão quanto à uniformidade e aos incrementos
de carga colocados, permitindo uma correlação entre carga e deformação mais precisa.
A instrumentação é outro fator fundamental para o sucesso da operação e deve ser feito com a
correta utilização de alguns instrumentos, tais como o extensômetro, que mede as deformações
verticais da estrutura, com precisão de 0,1 a 0,01 mm; o clinômotro, que permite medir a rota-
ção da peça em determinados pontos com precisão de 2 " (dois segundos) e finalmente o
tensômetro, que pode medir o encurtamento ou alongamento das fibras, ampliando em até
3.000 vezes e com precisão de 0,001 mm.
Uma vez instrumentada a estrutura, o carregamento deve ser feito em etapas com anotação
das medições acusadas pelos aparelhos, bem como uma inspeção visual constante para se
detectar o surgimento de fissuras ou de qualquer outra anomalia. Todos esses dados devem ser
coletados e submetidos a uma apreciação do engenheiro estrutural, que vai avaliar o compor-
tamento da estrutura e definir a seqüência do ensaio.
Ensaios destrutivos do concreto são aqueles nos quais temos de retirar um testemunho da |x?ça para
fazer ensaios de laboratório; isso ocorre quando devemos verificar algumas características especí-
ficas do concreto e para tanto precisamos extrair amostras ou corpos-de-provas da estrutura.
1 6 . 2 . 1 . Ensaio de C o m p r e s s ã o e m Corpo-de-Prova
Com base nos valores individuais dos exemplares de uma amostra, corrigidos em função da
idade, pela interpolação linear, com aproximação até centésimo, poderá ser feito o cálculo da
resistência característica de um lote de concreto à compressão, segundo as normas correspon-
dentes utilizadas no cálculo do projeto estrutural.
Esses picos de temperatura podem ser de 130°C, 285°C, 460 W C, 485 W C, 680°C e 750 M C. Quando
se ensaia uma amostra é possível, por comparação, verificar as temperaturas que ela já atingiu
pela ausência de um dos picos de temperatura. Dessa forma, catalogando as profundidades em
que cada amostra foi extraída, podemos avaliar com relativa precisão quais as temperaturas
que o interior de um elemento de concreto atingiu durante um incêndio.
1 6 . 2 . 3 . Análise M i c r o s c ó p i c a do Concreto
As análises microscópicas dos concretos podem ser realizadas através de Microscopia Eletrô-
nica de Varredura. Trata-se de método interpretativo que baseia suas inferências na morfologia
dos materiais analisados, sendo muito eficiente nos estudos da microestrutura do concreto.
Nas amostras de concretos severamente afetados pelo fogo, podemos perceber claramente
diferenças significativas nas microestruturas e na mineralogia. Os elementos que ficaram ex-
postos às altas temperaturas apresentam microestrutura com aspecto não-coeso, friável, muito
poroso, na qual só se identificam raramente produtos hidratados de cimento.
Nas amostras não modificadas pelo fogo, a microestrutura do concreto é diferente, apresenta-
se maciça e definida por elevados teores de etringita, que ocorre como agulhas finas, dispersas
pela pastas, por placas de hidratados hexagonais, ou seja, com aparência compatível com
concretos de boa qualidade.
Por sua vez, devemos ter em mente também que esses ensaios fornecem dados localizados da
estrutura e, com exceção da prova de carga em toda a extensão, os resultados precisam ser
analisados com critério, tomando-se os devidos cuidados ao se extrapolarem esses valores
para os demais elementos da estrutura que se analisa, pois corremos um sério risco de se vali-
dar ou invalidar a mesma sem ter de fato subsídios suficientes para isso.
1 7 Vistoria em edificações com trincas
17.1. GENERALIDADES
As fissuras sempre foram uma fonte de preocupação para todas as pessoas que participam de
uma edificação, iniciando-se pelo projetista, passando pelo construtor e terminando no usuário.
Elas incomodam, causam desconforto, geram prejuízos financeiros e podem significar proble-
mas mais sérios, como veremos mais adiante.
Quando as fissuras ocorrem em imóveis residenciais, quase sempre são grande fonte do preo-
cupação, tendo em vista que via de regra o morador não sabe avaliar as conseqüências daque-
le problema, ficando muitas vezes angustiado e temeroso com trincas que não representam
nenhum risco de segurança ao seu patrimônio ou aos seus usuários, mas que sempre causam
um desconforto psicológico.
As fissuras quase sempre são indício ou sintoma de que algum problema está acontecendo com
a edificação; esse problema pode ser de natureza simples, não implicando maiores cuidados, a
não ser o de manutenção corretiva, ou ser o aviso de uma situação que se não for cuidada a
tempo e de forma correta poderá levar a uma situação crítica. No entanto, não é viável econo-
micamente projetar e construir de forma a se garantir que não haverá qualquer tipo de trinca,
uma vez que o surgimento das mesmas depende de uma séria de fatores inerentes cu não à
própria obra, bem como dos materiais que serão empregados e o seu comportamento ao longo
do tempo. Todas essas variáveis são difíceis de ser contornadas e uma tentativa nesse sentido
implicaria custos tão elevados que acabariam por inviabilizar o empreendimento.
O engenheiro Albert Joisel afirma que em todas as construções onde se usa cimento existem
fissuras que podem aparecer depois de alguns anos ou até mesmo depois de algumas semanas.
Podem ser evitadas em alguns casos ou pelo menos reduzidas, de maneira a reduzir gastos com
reparações futuras.
Diz também que a postura do construtor é colocar mais cimento no concreto, uma vez que é
ele o responsável pela resistência do mesmo; porém, não leva em consideração que isso vai
provocar um aumento na retração hidráulica.
Por tudo o que temos visto na construção brasileira, acreditamos que os nossos construtores
pensam muito na "retração hidráulica", a ponto de colocarem cimento em quantidades meno-
res que o mínimo necessário e, dessa forma, os problemas acabam sendo mais sérios do que
simplesmente o surgimento de algumas fissuras.
Devemos ter em mente que as edificações são como seres vivos, que sofrem as interferências do
tempo através de um desgaste natural dos materiais nelas empregados, haja vista que nada é eterno.
Por melhor que uma fundação seja projetada e executada, o solo é um material heterogêneo e
sempre sujeito a deformações. Os especialistas em fundações buscam sempre minimizar esse
comportamento diferencial para evitar qualquer tipo de dano na edificação, dentre eles as
indesejáveis fissuras.
No entanto, uma solução que buscasse impedir eventuais recalques diferenciais seria de custo
muito elevado e mesmo assim não se poderia garantir com certeza absoluta o seu comporta-
mento na realidade.
A qualidade dos materiais empregados numa edificação, a composição dos mesmos e a forma
incorreta na sua aplicação são fontes de vários tipos de trincas nas alvenarias e revestimentos.
Materiais de baixa qualidade sofrem deterioração mais rápida e conseqüentemente geram mais
trincas; argamassas muito pobres ou muito ricas em cimento também favorecem o surgimento
de fissuras; e, ainda, uma aplicação incorreta sem chapisco ou elemento colante antes do
emboço e reboco vai provocar inevitavelmente trincas.
Mostraremos mais adiante algumas situações nas quais se constata esse tipo de problema.
Por sua vez, temos também o comportamento da Superestrutura que sofre a influência de vários
fatores externos, dentre eles, destacamos a ação do vento, da umidade e da temperatura, isso
sem falar de possíveis falhas no projeto estrutural, que podem ser de dimensionamento,
conceituai ou devido à falta de junta de dilatação. E qualquer uma dessas situações poderá ser
fonte importante na geração de fissuras, exigindo nesses casos quase sempre uma interferência
tecnicamente delicada e de alto custo.
Algumas fissuras têm origem na concepção do projeto arquitetônico, que obriga materiais
com comportamentos diferenciados a trabalharem juntos, principalmente com relação ao
módulo de elasticidade, dilatação térmica e absorção de umidade de cada um; é o q j e ocor-
re quando se interligam metais, madeira, vidros, plásticos, revestimentos de argamassa, ges-
so e alvenarias, dentre outros, sem prever uma solução tecnicamente adequada para cada
problema específico.
Os critérios de qualidade durante a execução das obras têm papel fundamental no surgimento
futuro de fissuras na estrutura e nas alvenarias, começando pelas fundações que devem ser
acompanhadas por um engenheiro especializado, de modo a garantir que o projeto seja execu-
tado adequadamente e as possíveis alterações possam ser efetuadas de forma correta.
O assunto fissuras é bastante extenso, sendo tratado em várias publicações de maneira ampla e
profunda. No nosso caso, pretendemos enfocar os principais aspectos relativos às fissuras mais
comuns em nossas edificações, objetivando permitir ao leitor um rápido diagnóstico das prová-
veis causas e as soluções que poderão ser adotadas para cada caso.
Situações em que as fissuras são típicas, com características acadêmicas e que permitam fácil
interpretação do problema existente, não são muito comuns na prática; normalmente, as fissuras
existentes numa edificação podem ter causas e origens diferentes, provocando configurações
diversas e dificultando um diagnóstico rápido. Algumas vezes um profissional mais afoito pode
tirar conclusões precipitadas e ser conduzido a um diagnóstico errado, o que por sua vez impli-
cará uma proposta de solução incorreta, que não irá resolver o problema, podendo agravá-lo
em determinadas casos.
Apenas para citar um exemplo, relatamos um fato curioso ocorrido numa obra na cidade de
Jacareí, em São Paulo, onde foi feito um aterro sobre solo compressível e o construtor, preocu-
pado com as possíveis deformações do solo e suas conseqüências no piso, resolveu colocar,
por sua conta, uma malha de aço em todo o piso, passando por cima dos baldrames, a qual não
estava prevista no projeto estrutural.
Após alguns meses começaram a surgir várias trincas horizontais nas bases das alvenarias sem
aberturas e emolduradas pela estrutura, ou junto às portas e janelas de outras paredes. A análise
das mesmas não sugeria recalques diferenciais, por sua vez os cálculos dos baldrames e a sua
execução estavam corretos; então, ficou uma pergunta sem resposta: o que estaria provocando
a deformação dos baldrames? (Ver fig. 17.1.1)
O problema só pôde ser resolvido quando o construtor contou o que tinha feito; nesse instante,
ficou claro que havia ocorrido um assentamento do solo, provocando um recalque no piso, que,
por sua vez, se apoiou nos baldrames em função da armadura que tinha sido colocada na melhor
das intenções. Nessas condições, houve uma sobrecarga não prevista no cálculo original dos
baldrames, gerando deformações excessivas e conseqüentemente as trincas nas alvenarias.
O fato mais curioso é que tivemos a oportunidade de participar de uma outra obra com as
mesmas características, tanto de solo como de aterro, sendo que nessa também houve
recalque do piso, só que este, apesar de não estar armado, provocou uma sobrecarga nos
baldrames apenas pelo atrito do piso com a parede, resultando em trincas semelhantes ao
caso citado anteriormente.
Como se pode perceber por esses dois casos, o fato da colocação da malha de aço parecia ser
o fator determinante para uma sobrecarga dos baldrames, porém a força do atrito entre o piso e
a parede também foi suficiente para provocar o mesmo fenômeno em outra obra. Isso mostra
que nem sempre é fácil se fazer uma avaliação com certeza absoluta dos fatores que levam à
formação de determinadas trincas.
Alguns casos vão exigir a presença de um especialista, que por sua vez terá de recorrer a
ensaios de laboratório, à análise detalhada dos projetos e, dependendo das circunstâncias,
proceder a um acompanhamento através do emprego de instrumentos que permitam avaliar
a evolução das fissuras, principalmente quando se trata de um provável recalque diferencial
das fundações.
Para se fazer um diagnóstico correto devemos analisar um conjunto de fatores que de uma
forma direta ou indireta pode ter colaborado para gerar as fissuras; portanto, é necessário que o
engenheiro, ao vistoriar uma edificação com problemas, assuma uma postura de investigação
criteriosa, procurando observar e coletar o máximo de informações possíveis.
Apresentamos a seguir alguns aspectos que consideramos importantes de ser levantados duran-
te uma vistoria para avaliação de fissuras, uma vez que qualquer um deles pode nos levar a
identificar a origem ou causa do problema.
1 7 . 2 . 1 . Histórico da Edificação
Data de construção, existência de projetos, tipo de fundação, sondagens ou definição das ca-
racterísticas do subsolo local, tipo de estrutura, alvenarias de fechamento e material emprega-
do, reformas e ampliações, reparos anteriores em fissuras, mudança de uso ou de sobrecarga.
Data provável do surgimento de cada uma, evolução das mesmas {comprimento, largura e
profundidade), se a abertura costuma variar de tamanho, abrindo ou fechando em determina-
das épocas do ano, verificação da existência de fissuras nos vizinhos. Identificação das fissuras
"vivas", que são aquelas em movimentação e denunciam que o problema causador está
atuante; ou as "mortas", que são as trincas estabilizadas, cuja causa não está mais agindo
sobre a edificação.
Para se fazer uma primeira avaliação sobre a evolução ou não das fissuras, podemos colocar
selos de gesso ou colar lâminas de vidro. Esses materiais vão denunciar se está ocorrendo uma
movimentação das mesmas; por outro lado, podemos fazer marcações nas extremidades e no
sentido transversal das fissuras, sendo que as anotações devem ser feitas sempre na mesma
hora do dia, registrando os valores observados e as respectivas datas, de tal forma que nos
permitam fazer uma avaliação criteriosa do comportamento das mesmas.
Algumas situações podem indicar uma tendência para a estabilização da movimentação que
foi a fonte geradora da fissura; nesses casos, devemos aguardar o tempo necessário e providen-
ciar a selagem da mesma.
1 7 . 2 . 3 . Histórico d c O c o r r ê n c i a s na Região
Avaliar criteriosamente todos os fatores externos que podem ter acontecido na época do
surgimento das trincas, do tipo: obras vizinhas, vibração provocada por bate-estaca, rebaixa-
mento do lençol freático, escavações, aberturas de novas avenidas na proximidade, ou qual-
quer outro tipo de acontecimento externo incomum.
1 7 . 2 . 4 . Q u a l i d a d e dos Materiais
Muitas fissuras são provenientes das características dos materiais empregados e da forma com
eles foram aplicados. No caso das argamassas de assentamento e revestimento, a qualidade e
a composição dos materiais podem ser fatores determinantes para o surgimento ou não de
trincas, como veremos mais adiante.
1 7 . 2 . 5 . M a p e a m e n t o das Trincas
Devemos fazer um mapeamento por onde passam os dutos hidráulicos e os eletrodjtos das
instalações elétricas.
1 7 . 2 . 7 . Manifestações Patológicas
E 33
Em qualquer situação é sempre importante verificar se as fissuras que estão sendo analisadas
podem de alguma forma indicar uma situação que compromete em curto prazo a estabilidade
da edificação e conseqüentemente a segurança de seus usuários. Diante dessa possibilidade,
devemos tomar todas as medidas de segurança cabíveis, até mesmo, se for o caso, interditando
a edificação, evacuando o local e avaliando as possíveis interferências de um sinistro nas
edificações vizinhas.
1 8 Análise das trincas em alvenarias
Neste item veremos uma das causas principais do surgimento de trincas em revestimento, inde-
pendentemente de a edificação estar ou não num meio agressivo, uma vez que o fenômeno se
deve aos materiais empregados e à presença de umidade. Analisaremos os problemas gerados
pela hidratação retardada de cales e o ataque por sulfato.
1 8 . 1 . 1 . Hidratação Retardada de C a l e s
Quando as argamassas de assentamento das alvenarias são feitas com cales mal hidratadas, podem
apresentar elevados teores de óxido livre de cal e magnésio, que em presença de umidade irão se
hidratar e conseqüentemente aumentar de volume, podendo chegar ao dobro do tamanho anterior.
Esse fenômeno é semelhante ao anterior, uma vez que o resultado final será também uma
expansão das argamassas de assentamento dos elementos que formam a alvenaria; porém, o
processo químico é totalmente diferente, pois nesse caso devemos ter, além da umidade, a
presença de cimento e sul fatos em solução.
O cimento é um elemento constante nas argamassas mistas e a umidade é outro fator constante
a atormentar todas as edificações; fica faltando então a presença do sulfato em solução, que
por sua vez pode vir de diversas fontes, tais como: águas contaminadas, componentes feitos de
argila com alto teor de sais solúveis, através do solo ou da umidade proveniente da lavagem de
pisos e produtos usados no asseio corporal.
Uma vez reunidos esses três elementos, ocorrerá uma reação química entre o aluminato
tricálcico presente no cimento e o sulfato em solução, formando a etringita (sulfoaluminato
tricálcico), mediante uma grande expansão. Esse aumento de volume irá provocar uma série
de trincas nas juntas de assentamento de forma análoga à hidratação retardada de cales.
No entanto, podemos destacar que o ataque por sulfatos produz trincas com maior abertura e
quase sempre surgem acompanhadas de eflorescência (ver fig. 18.1.2).
4-
+ +~
Fig. 18.1.2. Trincas em alvenaria devido ao ataque de sulfetos
As trincas representadas na figura anterior apresentam forma semelhante ao processo do
hidratação retardada de cales, porém diferentes em dois aspectos fundamentais:
Com base no anteriormente exposto, é de esperar que as trincas devidas a reações químicas se
apresentem sempre de forma aberta. De fato isso ocorre na maioria dos casos; entretanto, se
não forem tomadas providências para sanar o problema, com o passar do tempo ocorre um
processo inverso, através de uma diminuição de volume da argamassa de assentamento,
provocada pela perda de elementos finos em função da lavagem pelas águas de chuva.
Nessas circunstâncias, vamos observar que as trincas existentes no revestimento estarão com-
primidas, chegando uma a se sobrepor ligeiramente à outra (ver fig. 18.1.3).
Face Externa
Face Interna
( Argamassa de
Revestimento
Incidência de Á g u ^ /
de Chuva
Abatimento na Espessura
J <—
Devido à Perda de Finos
Pela lavagem da água Tijolo / Bloco
da chuva
Argamassa de '
Revestimento £
A umidade pode atingir a alvenaria de várias formas, sendo as mais comuns aquelas provenientes do solo
|X)r falha no sistema de impermeabilização do respaldo inferior e nas proximidades do piso, pontos |>or
onde se inicia uma infiltração de água, e |X)r capilaridade se alastra [>or boa parte da parede.
As trincas provocadas pela variação de umidade nas alvenarias são devidas a uma dilatação
ou retração do painel em função do ganho ou perda de água do mesmo. Não devemos confun-
dir com a condição dos itens 18.1.1 e18.1.2, em que a umidade é um dos componentes neces-
sários para que ocorra a reação química.
Um painel de alvenaria é um elemento rígido no sentido da maior inércia, não aceitando defor-
mações sem apresentar trincas. Como a variação de umidade provoca uma variação dimensional
da peça (aumentando ou diminuindo de volume), então o surgimento de fissuras é inevitável
(ver fig. 18.2.1).
Trinca
Vigas o Pilaros
Muro de Concreto
• •
Fig. 18.2.1. Trincas em alvenaria devido à variação de umidade
Para evitar esse tipo de problema, que por sua vez é muito prejudicial e caro para se
resolver depois de implantado, recomendamos que se faça um respaldo conforme indica-
do na fig. 18.2.2.
^Contraplso
Interno de Concreto
Elemento do Fundação
Argamassa com
(Tijolo / Bloco I Concreto)
Impermeablllzante
Para se resolver uma situação existente, em que se tem uma ascensão de umidade na base da
alvenia, devemos criar uma barreira eficiente para isso. Podemos fazer de duas formas diferen-
tes; uma delas é criando uma barreira com injeção de produtos químicos na base da parede,
conforme mostra a fig. 18.2.3.
Fazer Furos na Base da Alvenaria e Injetar Produto Químico,
Conforme Especificação do Fabricante
c) Aplicar duas camadas de feltro asfáltico, coladas c o m asfaltos oxidados a quente ou uma
camada de butil ou similar, em toda a extensão do rasgo.
d) Aplicar uma camada de proteção de argamassa de cimento e areia 1:4 e reconstruir a alve-
naria com tijolos recozidos ou prensados em um comprimento de 0,8 m, cuidando que seja
bem cunhada a alvenaria acima. Deixar dentes nas extremidades.
f) Repetir o procedimento como nos outros rasgos, completando assim o fechamento total da parede.
g) Demolir o revestimento úmido existente acima da faixa reconstruída e deixar secar a alve-
naria descoberta.
h) Revestir com emboço internamente em aditivo impermeabilizante, para deixar que a alve-
naria respire. Externamente é aconselhável usar no emboço aditivo impermeabilizante para
uma melhor proteção da alvenaria.
1 - Etapa: Corte Alternado da Parede
Plano do Alvenaria
8of * 10 10 * t 80
Elemento Impermeabilizante
em Toda Extensão do Corto
Quando esse tipo de problema já estiver implantado, devemos fazer uma avaliação da gravida-
de da situação. Para casos mais críticos, é preciso trocar todo o revestimento; nos mais discre-
tos, podemos refazer a pintura usando tinta acrílica para fachadas.
O traço da argamassa com emprego de cimento deve ser bem feito, dosando-se corretamente
os materiais, pois é fundamental para um comportamento eficiente do revestimento como um
todo, principalmente quanto à durabilidade e formação de trincas.
Muitas vezes o profissional menos preparado acredita que deve fazer uma mistura rica em
cimento, uma vez que a responsabilidade pela resistência se deve a ele; nessas concições, o
revestimento estará sujeito a descolamento e a fissuração acentuada, devido ao fenômeno da
retração hidráulica, como foi abordado no capítulo 14.2.
Rara os revestimentos com argamassa à base de cal, devemos ter em mente que o processo de
endurecimento se deve à carbonatação da cal, dependendo para isso do anidrido carbônico
do ar. Rara tanto, a porosidade e espessura do revestimento devem ser tais que favoreçam o
ciclo de endurecimento.
As camadas de reboco normalmente são de pouca espessura, porém ricas em finos, o que
desfavorece a porosidade, principalmente quando não se faz um alisamento intenso, que pode
provocar a concentração de leite de cal na superfície.
Inicialmente elevemos verificar a condição de rugosidade da superfície onde deverá ser aplica-
do o revestimento, tendo em vista que por melhores que sejam o traço e a espessura, se não for
providenciada uma boa ponte de aderência, poderá ocorrer o descolamento do revestimento.
Para as superfícies mais rugosas como alvenarias de tijolo de barro maciço ou cerâmicos, o
chapisco de areia e cimento bem aplicado tem-se mostrado eficiente.
Para revestimento de materiais mais lisos ou superfícies de concretos feitos com formas resinadas,
ou que receberam desmoldante, devemos primeiro proceder a uma limpeza de todo e qualquer
material que possa servir como uma película isolante entre os materiais e posteriormente apli-
car argamassas industrializadas, especialmente desenvolvidas para essa finalidade, ou seja, a
de garantir uma perfeita aderência do revestimento ao substrato.
A aplicação do emboço deve ser feita em camadas nunca superiores a 2 cm. Caso sejam
necessárias espessuras maiores, deverá ser executada em etapas, respeitando o tempo de se-
cagem e endurecimento da aplicação inferior; caso contrário, vai ocorrer uma retração poste-
rior da camada anterior, causando trincas na superfície.
Da mesma forma o reboco também não deve ser aplicado antes do tempo certo nem alisado
demasiadamente, o que provocará o surgimento de leite de cal na superfície do revestimento,
colaborando para impedir a carbonatação da cal presente no emboço.
A solução nesses casos pode ser uma renovação da pintura para as situações mais brandas, em
que as fissuras apresentam aberturas reduzidas e não atingiram grandes proporções; caso con-
trário, deverá ser refeito todo o revestimento, tendo em conta que não se resolve o problema se
for feito apenas de forma parcial, quando se comprova tratar-se de falha executiva.
Os painéis de alvenarias, quando não estão estruturados, resistem muito pouco à ação de for-
ças que provoquem um momento fletor no sentido da menor inércia. Isso pode ocorrer devido à
pressão direta do vento sobre o pano de alvenaria ou sobre as coberturas; estas, por sua vez,
podem gerar outros esforços na parte alta das paredes em função da dilatação térnica, ou
quando se tem uma estrutura cm arco sem tirante.
Outro elemento de alvenaria muito vulnerável são os oitões que, quando desprovidos de pilares
de amarração, acabam trincando pela ação do vento e da cobertura (ver fig. 18.6.1).
Laje em Balanço
Algumas paredes podem ficar sujeitas a momentos fletores localizados, que são gerados pela rota-
ção de elementos de concreto que se apoiam na alvenaria; isso normalmente ocorre quando se
engastam os degraus de uma escada ou se apoiam lajes que apresentem deformações excessivas.
Para se evitar esse tipo de trincas, devemos sempre estruturar adequadamente as paredes para
que essa responsabilidade fique por conta da estrutura, e não das alvenarias.
Não seria economicamente viável se projetar e executar fundações com recalques zero, a não ser
em condições especiais em que se pode descarregar a carga de todos os pilares em rochas contínu-
as e sem fraturas. Como isso é raro de conseguir a um custo compatível para as construções predi-
ais, devemos buscar soluções de projeto que minimizem os recalques e suas conseqüências, uma
vez que dentro de certos limites é perfeitamente possível se conviver com pequenas acomodações.
No entanto, devemos estar atentos para as trincas que indicam um possível recalque diferen-
cial das fundações, haja vista o grande número de sinistros causados por esse motivo, princi-
palmente em edificações de pequeno porte onde não se tomaram os devidos cuidados na
investigação do subsolo nem na escolha do tipo adequado de fundação para ser executado
naquele terreno.
Quando um painel de alvenaria sem aberturas está emoldurado por vigas e pilares, podemos
então ter um caso clássico no qual as trincas apontam para o pilar que está recalcando mais
que os outros. Nesses casos, o que ocorre é fácil de ser entendido com base na análise de uma
pequena seção da alvenaria, onde podemos perceber que a resultante das forças gere trações
que explicam o surgimento das trincas (ver fig. 18.7.1).
Estrutura
No entanto, quando se têm aberturas nas paredes ou elas não são contornadas por vi-
gas e pilares, as trincas podem assumir configurações das mais variadas formas, que
não a de 45°. Nos casos em que há a c o m o d a ç ã o de aterro, normalmente o recalque
vem acompanhado de uma movimentação horizontal provocando rachaduras, confor-
me mostra a fig. 1 8 . 7 . 2 .
Fig. 18.7.2. Trincas devido à acomodação do aterro
Porém, se for edificação antiga sem histórico sério de trincas no passado, devemos verificar
possíveis eventos fortuitos ou não, que possam ter desencadeado o processo de recalque, como
vazamentos em tubulações hidráulicas enterradas, obras novas nas proximidades, escavações,
interferência de árvores próximas, rebaixamento do lençol freático, vibrações devido à crava-
ção de estacas, etc.
Por sua vez, o arquiteto e o engenheiro calculista elevem estar em sintonia com todo o processo,
analisando os prováveis pontos onde possa ter ocorrido um assentamento diferencial e estudan-
do soluções específicas para cada caso.
Devemos lembrar que obras diferentes para um mesmo tipo de solo podem ter soluções diver-
sas, uma vez que vai depender do porte da obra, da grandeza das cargas e do nível de assen-
tamento das fundações.
Para que isso não ocorra, devemos avaliar antecipadamente esse tipo de situação na fase do
projeto de estrutura, buscando um dimensionamento correto nos casos de alvenarias portantes
e adotando-se soluções que evitem flechas excessivas no caso das estruturas convencionais.
Para se resolver um problema já existente numa alvenaria portante, devemos estudar cuidado-
samente um projeto de reforço que permita aumentar a capacidade da parede em suportar
cargas verticais.
Entendemos por massa elástica qualquer produto com capacidade vedante, boa aderência e
principalmente que seja deformável para absorver as movimentações entre a parede e o con-
creto. O mercado possui atualmente uma grande gama desses produtos, com tais característi-
cas e para essa finalidade.
Uma situação muito comum de verificar na maioria das edificações são as trincas que quase
sempre aparecem nos cantos das aberturas de portas e janelas das alvenarias. Isso ocorre devi-
do a uma concentração de tensões que surgem nesses vértices.
Para se combater essas trincas, devem ser construídas vergas e contravergas, ou seja, fazer
uma amarração na parte superior e inferior da abertura (ver fig. 18.9.1).
Fig. 18.9.1. Trincas em alvenaria devido à abertura
Esse tipo de trinca ocorre principalmente nas fundações em sapatas corridas, onde, devido às
características da obra, a distribuição de cargas não é uniforme, em face da presença de aber-
turas nas alvenarias próximas das fundações (ver fig. 18.10.1).
Para minimizar esse efeito, devemos armar a sapata corrida nas duas faces, superior e interior, de
forma que ela possa absorver melhor todos os momentos fletores a que ficar submetida, resultando
numa distribuição mais uniforme das cargas no solo, reduzindo assim as deformações diferenciais.
Algumas edificações comportam-se muito bem sem apresentar fissuras durante vários anos e
num determinado instante surgem trincas sem razão aparente.
O motivo pode ser uma árvore que foi plantada próxima do imóvel e com o passar do tempo
suas raízes cresceram e afetaram o comportamento das fundações.
Nesses casos podemos ter dois tipos de trincas: aquelas devido a um levantamento da edificação,
mais prováveis em construções leves, e outras que apresentam um recalque localizado da
fundação, provocado por um provável adensamento do solo naquele ponto em função da perda
de água para as raízes da árvore {ver fig. 18.11.1).
E 47
Obs.: Há Casos onde as Raízes Procuram a Superfície e Suspendem a Edificação
Para se evitar esse tipo de problema, devemos plantar árvores longe da edificação e, quando
não for possível, dar preferência para vegetações cujo comportamento da raiz seja conhecido
e se tenha segurança que elas não irão prejudicar o comportamento das fundações no futuro.
Quando o problema já se manifestou, é necessário remover a árvore para outro local ou, se isso
for impossível, então se deve cortar a mesma tomando providências para que ela não volte a
crescer num futuro próximo.
Como este é o único capítulo em que vamos falar de vegetação, queremos tomar a liberdade de
fazer um alerta para uma situação que tem causado enormes transtornos a muitas pessoas.
Trata-se dos jardins em sacadas e coberturas de prédios residenciais e comerciais, onde nor-
malmente são plantados dois tipos de plantas, a "Fícus" e a "CHEFLERA". As suas raízes são
extremamente ávidas por água e fazem isso de uma forma acelerada e danosa, infiltrando-se
rapidamente pelos ralos e tubulações, obstruindo totalmente a passagem de água e causando
sérias infiltrações.
Quando uma parede está apoiada sobre uma viga ou laje que se deformam excessivamente,
podemos encontrar algumas configurações diferentes de trincas em função do tipo de alvena-
ria, do envolvimento da mesma pela estrutura e devido às aberturas existentes. Isso tem ocorri-
do em conjuntos habitacionais por razões normalmente de ordem econômica, em que se exe-
cutam estruturas esbeltas com grandes panos de laje ou vãos de viga exagerados.
O resultado na maioria dos casos onde isso ocorreu é o surgimento de inúmeras trincas nas alvenarias,
provocadas |)ela deformação excessiva dos elementos que formam a estrutura (ver fig. 18.12.1 e 18.12.2).
•
Fig. 18.12.2. Trincas provocadas pela deformação maior da viga superior
Situação como a descrita no início deste capítulo, em que os baldrames foram sobreca'regados
pela laje de piso, também é capaz de provocar diversas trincas nas alvenarias e no próprio
componente estrutural.
Outra condição responsável pelo surgimento de várias trincas são os trechos em balanço das
estruturas, uma vez que estão sempre sujeitos a deformações pronunciadas, principalmente
quando dimensionados de forma arrojada (ver fig. 18.12.3).
Alvenaria
Trinca
Estrutura
Esse tipo de situação deve ser previsto antecipadamente na fase de projeto, buscando-se solu-
ções alternativas que minimizem as deformações excessivas da estrutura. Agindo assim, esta-
remos evitando o danoso surgimento das trincas.
Devemos levar em consideração que corrigir esse problema depois da obra pronta é tecnica-
mente complicado e, na maioria das vezes, economicamente inviável, sendo no entanto obri-
gatório quando a situação estiver colocando em risco a estabilidade da edificação e conse-
qüentemente a segurança de seus usuários.
Estrutura
Trinca
I - - ' f -wy
1
de Tração
Trinca
de Tração
Alvenaria Alvenaria
Portante
Para se evitar esse tipo de trincas, devemos criar berços de apoio de modo a delinear o local da trinca
e permitir a rotação do elemento estrutural sem prejudicar a parede de sustentação (ver fig. 18.13.2).
Estrutura
Laje
Massa Elástica
Vedar com Elemento
Massa Elástica Elemento
de Transição
de Transição
Alvenaria
Alvenaria
Uma vez que o problema estiver instalado, é necessário frisar interna e externamente toda a
ligação parede/concreto, para liberar a movimentação, sendo que posteriormente devemos
calafetar a junta com argamassa elástica.
1 9 Sinistros devido à ação dos ventos
19.1. GENERALIDADES
Neste capítulo faremos algumas considerações sobre a importância de levar em conta a ação
do vento em determinadas estruturas. No Brasil, não estamos sujeitos a terremotos, neves, fura-
cões ou grandes vendavais freqüentes, o que leva alguns construtores ou projetistas de estrutu-
ras a não dar a devida importância para estes fenômenos naturais.
O s ventos têm sido a causa de muitos sinistros no Brasil, principalmente em algumas regiões
onde eles ocorrem com maior intensidade. Na região Sul do país, os vendavais acontecem com
mais freqüência e causam enormes danos às edificações, tendo em vista que a maioria delas
não foi projetada ou construída para resistir à ação do vento.
O s sinistros nesses casos atingem mais as edificações altas, localizadas em áreas com maior
incidência de ventos fortes, em pontos onde a topografia ou as edificações próximas favorecem
um aumento da velocidade do vento.
O s prédios mais sujeitos à ação do vento são aqueles construídos com materiais ou componen-
tes leves, em que se emprega madeira ou metálica, sendo que via de regra o telhado é a parte
mais vulnerável da edificação, principalmente quando as inclinações são mais baixas.
No entanto, podem ocorrer sinistros devido ao vento em locais não situados em áreas de maior
risco, porém elas reúnem uma série de características que em determinado momento favore-
cem uma forte atuação do vento.
São regiões onde a topografia local ou mesmo a disposição das edificações colaboram para
aumentar a ação do vento. Por exemplo: a velocidade e a turbulência aumentam atrás de
morros e montanhas; da mesma forma, nos aclives de taludes e colinas há um aumento de
velocidade; porém, pode ocorrer o contrário em vales protegidos por morros e montanhas, em
que a velocidade do vento tende a diminuir.
Onde:
Apenas para se ter uma idéia dos valores de pressão dinâmica, apresentamos na tabela 9 al-
guns valores que foram calculados para uma casa térrea com 3 m de altura, outra assobradada
com 6 m de altura e um edifício industrial com 12 m de altura, numa região com velocidade
básica de 45 m/s e fator de rugosidade 2 (terrenos abertos com poucas obstruções).
Tabela 9
Não vamos nos aprofundar em maiores detalhes para o cálculo desses valores, uma vez que
foge ao escopo do presente trabalho; no entanto, consideramos importante dar ao leitor uma
visão dos fatores externos que interferem no comportamento de uma edificação.
Os ventos são originados pelo gradiente de pressão, ou seja, as diferenças de pressão atmosfé-
rica provocam a movimentação de grandes massas de ar, sendo que isso ocorre pelo calor
irradiado da superfície terrestre para a atmosfera.
Quando o vento incide sobre um edifício, aparecem grandes vórtices, alterando as pressões no
local; ao mesmo tempo em que a construção age como uma barreira não-aerodinâmica, alte-
rando o fluxo de vento no seu entorno (ver fig. 19.1.1).
A face onde incide o vento é denominada "barlavento" e fica sujeita a pressões positivas,
sendo que nessa face ocorre uma diminuição da velocidade do vento. Por sua vez, o fluxo de
vento se divide passando pelas laterais e por sobre a edificação, criando os vórtices ou turbi-
Ihões, que provocam na fachada oposta, denominada de "sotavento", e nas coberturas pouco
inclinadas esforços negativos de sucção.
Na figura 19.1.2, podemos ter uma idéia da distribuição das pressões sobre uma edificação,
quando o vento incide perpendicularmente à cumeeira.
É importante ressalvar que a forma, a altura, a inclinação do telhado e a direção dos ventos
alteram significativamente essas pressões, como veremos mais adiante. No entanto, a figura
19.1.3 mostra a distribuição de pressões em telhados com inclinações diferentes.
Podemos perceber que nos telhados com inclinação de 45°, onde o vento incide cie forma
perpendicular à cumeeira, temos uma pressão de compressão (positiva) na água de barlavento;
situação que se inverte quando essa inclinação passa para 30°, em que os esforços passam a
ser de sucção (negativos). Nos estudos que serão apresentados mais adiante, poderemos perce-
ber melhor os efeitos da forma da edificação e o angulo de incidência do vento na distribuição
de pressões sobre uma edificação.
Outra situação que elevemos ter presente quando analisamos os efeitos do vento nos edifícios,
é que os esforços não se distribuem de forma homogênea em toda a superfície, mas sim de
maneira localizada, como especifica a atual norma brasileira NB-599 (ver fig. 19.1.4).
No entanto, é preciso salientar que os efeitos locais são ações de curta duração e que por sua vez
não atuam simultaneamente, com seus valores máximos, sobre todas as áreas mais vulneráveis.
E 53
A ação do vento se dá por rajadas, que por sua vez "ocorrem em uma seqüência aleatória de
freqüência e intensidade" (Blessmann), sendo que quanto maior for a velocidade de uma raja-
da, menor será a sua duração. Normalmente as pequenas edificações é que são mais atingidas
pelos efeitos das rajadas.
Os maiores danos normalmente são causados nas coberturas, como veremos mais adiante; no
entanto, temos presenciado alguns casos em que eles representam uma ameaça em potencial
à estabilidade lateral de paredes com alturas elevadas e sem travamento no topo, como costu-
ma ocorrer em armazéns, galpões industriais, que são as maiores vítimas da ação do vento,
quando essas edificações não foram projetadas ou executadas de forma adequada.
O que ocorre é que a força do vento atuando nas paredes e coberturas da edificação produz um
esforço horizontal que resulta em momentos fletores nos pilares e nas fundações, devendo ser
prevista uma fundação e uma superestrutura dimensionadas para resistir a esses esforços, o que
não acontece em algumas obras, e com isso temos um risco de sinistro pela ação do vento.
O pior que pode acontecer é quando esse momento não é considerado nem na Infra e nem na
Superestrutura. Nessas condições fica muito reduzida a capacidade da parede em resistir «às
rajadas de vento. Há casos em que o construtor se preocupa com o reforço do pilar e se esque-
ce da fundação, ou vice-versa. O fato é que a fundação e os pilares deverão resistir aos esfor-
ços de vento que atuaram nas paredes e na cobertura.
Ocorreram diversos casos em que paredes inteiras tombaram pela ação do vento, principalmente
nos galpões industriais, onde a sua estabilidade lateral não foi prevista corretamente para resistir
ao empuxo do vento. Nessas edificações, quase sempre as paredes de fechamento externo não
são travadas por outras internas, ficando assim mais vulneráveis a um tombamento.
Nesse sentido, podemos perceber quando viajamos que as indústrias localizadas ao longo das
estradas têm pilares salientes das alvenarias. Isso se deve à necessidade de o elemento estrutu-
ral ficar com sua inércia maior perpendicular ao alinhamento da parede, pois dessa forma terá
melhores condições de resistir ao empuxo lateral do vento.
Com relação ao fechamento lateral de pavilhões e edificações de maior altura, queremos cha-
mar a atenção para o uso cada vez maior de painéis leves que são motivos de sinistro devido a
uma fixação inadequada. Nesses casos é muito importante que se faça um estudo da pressão
do vento de forma a balizar o sistema mais adequado técnica e economicamente para a
solidarização das placas na estrutura.
Devemos também tomar alguns cuidados durante a execução da obra, pois pode haver nessa
fase uma concentração de esforços devido à ação do vento. Esse fato ocorreu durante a cons-
trução de um galpão industrial, onde se tinham levantado apenas três paredes laterais; uma
rajada de vento entrando pela abertura deixada derrubou a parede oposta, apesar de o projeto
estrutural ter dimensionado corretamente a estrutura para a ação do vento.
O que ocorreu é que nesta situação houve uma concentração de esforços acima do previsto,
em função das condições da obra naquele momento (ver fig. 19.1.6).
Essa postura acaba resultando em edificações aparentemente seguras, mas que na verdade
não se pode avaliar qual será o seu comportamento quando, de fato, forem atingidas por fortes
ventos, sendo que nesse momento estarão mais à mercê da sorte do que outra coisa.
O que ocorre algumas vezes é que a estrutura de cobertura, dispondo de alguma reserva na sua
capacidade em resistir esforços, venha a funcionar como um travamento temporário cias pare-
des laterais, colaborando assim a favor da estabilidade do conjunto.
A consideração do vento deve ser feita com muito critério e cuidado, tanto do ponto de vista
técnico como econômico, uma vez que a ação do vento causa grandes esforços, porém quase
sempre de forma localizada. Por esse motivo é que se deve avaliar os pontos de maior pressão
do vento, evitando-se os riscos de um colapso parcial, sem a necessidade de um dimensiona-
mento oneroso que leve em consideração a pior situação em toda a edificação.
Chamamos a atenção para alguns edifícios comerciais modernos, que são projetados com vãos
internos sem alvenarias, em que as divisões de ambientes são feitas com divisórias leves. Nes-
se caso não poderemos contar com o travamento das alvenarias, sendo recomendado então
que se verifique a ação do vento.
O maior número de sinistros devido à ação dos ventos ocorre nas estruturas metálicas de
cobertura, tendo em vista se tratar de elemento leve e, portanto, mais vulnerável à ação das
cargas acidentais.
Por outro lado, a maioria delas é fornecida e instalada por empresas que, para aumentarem seus
lucros ou ganharem a concorrência, tiram a diferença no dimensionamento da estrutura, não se
preocupando em fazer um projeto calculado o detalhado corretamente. Nessas condições,
muitas vezes a ação do vento é ignorada, resultando então em inúmeros casos de sinistros.
A solução de cobertura metálica formada por arcos com tirantes e telhas de chapa fina de aço zincado
tem sido muito empregada, por vencer grandes vãos e ser de baixo custo. No entanto, por ser muito
leve, está mais sujeita aos efeitos de sucção provocados pelo vento, resultando numa inversão de
esforços que ela não tem condições de absorver, implicando inúmeros casos de sinistros.
Normalmente os esforços de valores significativos provocados pelo vento são os de sucção e
atuam sobre áreas não muito extensas, concentrando-se próximo das arestas e quinas das pare-
des, bem como em locais específicos do telhado. Devemos ter em mente que são muitos os
fatores que interferem na ação do vento e que os estudos de laboratório têm colaborado muito
para um melhor entendimento do fenômeno. No entanto, não se consegue reproduzir nos túneis
de vento as mesmas condições da natureza.
Temos observado que, sendo a ação do vento localizada, o que ocorro quase sempre é um
dano parcial e que apenas em circunstâncias excepcionais constatamos um colapso total de
uma estrutura pela ação do vento. Apenas nos casos onde houver uma somatória dos esforços
predominantes de sucção com os eventuais de sobrepressão interna, então poderemos ter um
colapso generalizado.
Geralmente as sucções em coberturas são maiores em telhados com pouca inclinação. Acredi-
tava-se antigamente que os telhados planos eram os que estavam sujeitos aos maiores esforços
de sucção; no entanto, os estudos mostraram que isso ocorre com inclinações entre 8o e 12°
para certas proporções de pavilhões, como veremos mais adiante.
Diante do anteriormente exposto, recomendamos que se analise com cuidado cada tipo de estrutu-
ra que se está projetando, bem como a sua capacidade de resistir os esforços acidentais cb vento.
Esse cuidado deve ser maior em algumas regiões do Brasil, principalmente no Sul, onde temos
presenciado a maior ocorrência de ventos fortes. No entanto, devemos pesquisar sempre o
histórico de onde se está projetando, objetivando verificar se o mesmo já foi vítima de sinistros
provocados por vendavais, o que indicaria a necessidade de se tomar os devidos cuidados.
Dentre os fatores que mais colaboram para alterar os efeitos do vento, vamos analisar de forma
resumida os referentes à direção, à inclinação e ao formato do telhado, e as proporções da
edificação. Porém, existem outros elementos que interferem na ação do vento, tais como:
rugosidade da superfície e edificações capazes de produzirem turbilhonamento, do tipo torres
de igreja, chaminés, obeliscos, edifícios altos etc. Já foram constatados casos de arrancamento
de telhas em coberturas situadas a sotavento de torres de igrejas.
Mostraremos a seguir alguns resultados obtidos em estudos efetuados para coberturas em duas águas,
realizados no Laboratório de Aerodinâmica das Construções (LAC), do curso de Pós-Graduação em
Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em convênio com o IPT- Fundatec.
O objetivo é mostrar para o leitor que o esforço produzido polo vento nas coberturas atua com
mais intensidade em pontos localizados, variando em função da direção do vento, das dimen-
sões da edificação, do formato e da inclinação do telhado. No entanto, não devemos esquecer
que são resultados de laboratórios que levaram em consideração algumas características prin-
cipais da edificação, sendo que na realidade sabemos que uma série de outros fatores também
interfere de forma significativa na ação do vento.
Para facilitar o entendimento dos resultados que serão apresentados em tabelas e desenhos
esquemáticos, apresentamos a seguir a figura 19.2, a qual fornece algumas informações como
ângulos, direção do vento e nomenclaturas básicas.
O coeficiente médio de pressão local, calculado para uma faixa de largura unitária da cobertu-
ra, será designado por Ce (coeficiente de forma local).
_ Corto do Tolhado com uma Água
Em Planta
19.2.1 . V e n t o P e r p e n d i c u l a r à C u m e e i r a
Tabela 10 - Coeficiente de forma para coberturas em duas águas planas, com inclinação de 15'
e vento perpendicular à cumeeira.
Apresentamos na figura a seguir os coeficientes de forma para vento incidindo de modo parale-
lo à cumeeira de telhado com duas águas (ver fig. 19.2.2).
a
•
Elevação
(Perfil de Pressão)
-v
Vento
= o0
I
0
h h/b = 1/2
Apresentamos na figura a seguir os coeficientes de forma para vento incidindo de modo inclina-
do, a 45° em relação à cumeeira de telhado com duas águas (ver fig. 19.2.3).
H
0.1b 0.1b
-1.0 -0.9
-1.5 -1.8
n
5 0.2b
-1.1 -0.9
15°
J
a/4
h
-1.25 -2.3
—b—
0.1b . . 0.1b
-1.2 -1.2
-1.7 -2.1
0.2b
M 7—
-1.3 -1.2
-1.3 -1.0
-1.8 -2.3
-1.26
a/4
^ i ^ — r
-1.8 -2.5
h/b = 1/2 h
Fig. 19.2.3. Ações locais do vento em telhados de duas águas. Ensaios do LAC. Valores médios
Tabela 11 - Pontos de sucção para vento a 45°. Telhado de duas águas com ângulo de 15° (ver fig. 19.2.4).
Ce(min)
a/b h/b
Ponto (1) Ponto (2) Ponto (3)
VA -2,05 -1,06 -1,78
1
VI -2,29 -1,78 -1,87
VA -2,34 -0,99 -1,73
2
Vz -2,36 -1,66 -2,14
VA -2,41 -0,82 -1,55
4
Vi -2,69 -1,67 -2,21
15°
b o1
°3
<>2
a b
t?
Fig. 19.2.4. Vento a 45°, pontos de ce (min)
19.3. COBERTURAS CURVAS
Da mesma forma como foi apresentado na cobertura plana de duas águas, mostraremos a se-
guir alguns resultados obtidos em estudos efetuados para coberturas curvas, realizados no La-
boratório de Aerodinâmica das Construções (LAC), do curso de Pós-Graduação em Engenharia
Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em convênio com o IPT-Fundatec.
Valem as mesmas recomendações feitas para a cobertura plana de duas águas, no que diz
respeito aos esforços com intensidade em pontos localizados e variando conforme as dimen-
sões da edificação, lembrando que são resultados teóricos e que na realidade outros fatores
também interferem na ação dos ventos sobre as edificações.
Para facilitar o entendimento dos resultados que serão apresentados em tabelas e desenhos
esquemáticos, apresentamos a seguir a figura 19.3.
1 9 . 3 . 1 . Vento Paralelo à C u m e e i r a
Apresentamos a seguir, na tabela 13, os resultados dos coeficientes de forma médios, para a
incidência de ventos paralelos à cumeeira de coberturas curvas.
Tabela 13 - Pressão média para vento paralelo à cumeeira. Ver fig. 19.3.1
1 2 3 4 5 6
VENTO
0o
a
ELEVAÇÃO
(PERFIL DA PRESSÃO)
+ CORTE
VENTO
=0
0o
h/b = 1/2
1 9 . 3 . 2 . Vento Perpendicular à C u m e e i r a
Apresentamos a seguir, na tabela 14, os resultados dos coeficientes de forma médios, para a
incidência de ventos perpendiculares à cumeeira de coberturas curvas.
lâbela 14 - Pressão média para vento perpendicular à cumeeira (ver fig. 19.3.2).
VENTO
O h
90°
1 9 . 3 . 3 . Vento a 4 5 ° e m Cobertura C u r v a
Apresentamos a seguir, na fig. 19.3.3, os resultados dos coeficientes de forma localizados, para
a incidência de ventos a 45° com a cumeeira de coberturas curvas.
f/b=
h/b=
, b
A tabela 15 apresenta os pontos de sucção, Cpe min (valores mínimos de Cpe para cada inci-
dência de vento), resultantes das três incidências de vento.
Nas coberturas múltiplas, o vento também produz esforços basicamente de sucção, devendo
nesses casos se observar a linha de escoamento do fluxo incidente, ou seja, a esteira do vento.
Para que se tenha uma idéia melhor da ação do vento em telhados múltiplos, mostraremos a
seguir alguns resultados de coeficientes de forma externos, obtidos em ensaios por D'Havé -
A incidência de sinistros nos telhados ocorre com maior freqüência nos beirais, principalmente
quando o vento incide de forma perpendicular à parede de barlavento, gerando um fluxo de ar
cíefletido que provoca uma sobrepressão no beirai, ou seja, um esforço de baixo para cima, que
por sua vez vai se somar à sucção, podendo nessas condições causar danos no telhado.
Para se ter um termo de comparação, podemos adotar pela norma as faixas de variação dos
coeficientes de pressão para as diversas regiões do telhado (ver tabela 16).
Tabela 16
Tabela 18
O s estudos que foram feitos para avaliar a influência das platibandas mostraram uma gran-
de variação de resultados e m função da altura da platibanda, da inclinação do telhado, da
altura da edificação, do ângulo de incidência do vento e outros. Em face da complexidade
desses resultados e tendo sempre em vista que a proposta do nosso trabalho é alertar para
situações que devem ser evitadas de forma a m i n i m i z a r o risco de um sinistro, mostraremos
apenas três conclusões das sete apresentadas pelo prof. Blessmann no seu livro Ação do
vento em telhados.
• " U m a platibanda de pequena altura é mais nociva do que nenhuma, principalmente com
vento oblíquo."
• " U m a mesma platibanda, dc altura pequena ou média, em geral será tanto mais prejudicial
quanto maior a inclinação da cobertura."
• Davenport, Surry e Stathopoulos (cientistas que pesquisaram os efeitos das platibandas em
coberturas) concluíram que: "o efeito de platibandas é desfavorável e é recomendável evitá-
las quando não forem absolutamente necessárias".
Mostramos até agora os efeitos do vento nas partes externas das edificações. Neste capítulo,
vamos ver alguma coisa sobre os esforços provocados pelo vento devido às pressões internas
em função das aberturas existentes nas paredes de fechamento. Essas considerações são im-
portantes, pois mostram outro fator gerador de sinistros, uma vez que os efeitos internos podem
se sobrepor aos externos, resultando em forças capazes de provocar sérios danos.
Citaremos a seguir alguns conceitos com relação às aberturas, tendo em vista que para se falar
um pouco sobre pressão interna precisamos primeiro entender, mesmo que de forma superficial,
como isso ocorre, tendo em vista serem as aberturas os elementos mais importantes para se
avaliar os esforços que surgiram no interior de uma edificação.
1 9 . 7 . 1 . índice de Permeabilidade
O índice de Permeabilidade é a relação entre a soma das áreas das aberturas existentes em um
painel e a área total do mesmo. Não iremos nos ater a esse item, uma vez que ele tem maior
importância para o cálculo da pressão interna, o que foge ao escopo deste trabalho.
1 9 . 7 . 2 . Abertura D o m i n a n t e
Abertura Dominante é aquela de maior área em relação a cada uma das demais aberturas. Para
se ter uma idéia da importância da Abertura Dominante com relação a sua posição na edificação,
vamos nos ater à fig. 19.7.2, onde temos três situações totalmente distintas.
Fig. A: Nesse caso temos a abertura principal situada a barlavento; podemos perceber que
ocorre uma somatória dos esforços internos e externos, tanto para a cobertura como para a
parede de sotavento. Essa situação se configura como de alto risco, uma vez que podemos ter
o colapso da cobertura se os esforços superarem em muito o peso da cobertura, ou até mesmo
o tombamento da parede de sotavento, se a estrutura de sustentação não foi projetada para
suportar esse acúmulo de pressão.
Fig. B: Aqui a situação se inverte e a abertura predominante fica situada a sotavento, situação
que favorece as condições de equilíbrio da cobertura, porém agrava os esforços na parede de
barlavento. Nesse caso, temos maior possibilidade de os sinistros ficarem restritos apenas à
parede onde ocorre a incidência frontal do vento.
Fig. C: Quando a edificação pode contar com aberturas mais ou menos iguais nas paredes de
barlavento e sotavento, o vento passará por dentro da mesma sem produzir esforços significati-
vos que possam agravar o equilíbrio de seus componentes, sendo essa, portanto, a situação
mais adequada para se evitar as pressões internas.
Pelo anteriormente exposto, podemos dizer que no caso de edificações com telhados leves,
sempre que possível devemos abrir as portas e janelas situadas a sotavento. Agindo assim esta-
remos minimizando os esforços na cobertura, que por sua vez é o ponto mais fraco de um
pavilhão ou armazém executado com treliças metálicas e telhas leves.
O prof. Blesmann alerta para o risco de haver engano e abrirem-se as portas e janelas a barla-
vento. Nessas condições seria "pior a emenda que o soneto". Alerta que é melhor deixar tudo
aberto ou fechado para se correr menos risco.
Como acabamos de ver, a pressão interna depende basicamente das áreas das aberturas e
também do tipo e localidade das mesmas. Iremos fazer agora uma classificação com relação à
forma de ocorrência dessas aberturas.
1 9 . 7 . 3 . Aberturas Normais
Aberturas normais são aquelas de configuração normal na maioria das obras, como o próprio
nome diz, podendo ser: Portas, janelas, Lanternins Ventilados, Paredes Vazadas, Ventilação na
Cobertura, etc. Quando essas aberturas são pensadas corretamente na concepção dc projeto
arquitetônico e levadas em consideração nos cálculos estruturais, não se transformam em fon-
tes de problemas e sim de solução, como veremos logo adiante.
Alguns sinistros que podem ocorrer devido às aberturas normais são frutos da falta de conside-
ração dos arquitetos e engenheiros, que não levam em conta a importância das aberturas e
seus efeitos na edificação devido à ação do vento.
Outro fator que causa sinistros em aberturas normais é o manuseio errado delas, como já foi
alertado anteriormente. Para ilustrar com um fato real, vamos citar um sinistro ocorrido no inte-
rior do estado de São Paulo, onde um galpão industrial de grandes proporções, coberto por um
telhado curvo, teve parte das telhas de alumínio arrancadas.
A fig. 17.9.3 mostra os detalhes do referido galpão, no qual queremos chamar a atenção do
leitor para uma abertura de aproximadamente 50 cm ao longo de toda a parede de barlavento
junto ao telhado e somente nesta parede, bem como para as duas portas, uma em cada facha-
da, sendo que no início da ventania elas estavam abertas.
O vento incidiu numa direção praticamente axial, sendo que nas condições em que se encon-
travam as portas os esforços internos de sucção ou sobrepressão foram de pequeno valor, uma
vez que o vento podia entrar e sair livremente; no entanto, os funcionários resolveram fechar a
porta de barlavento, criando com isso pressões internas de sucção em torno de - 0 , 4 , situação
gerada pela pequena entrada junto ao telhado e pela porta aberta de sotavento, sendo essa
condição favorável para a estabilidade do telhado.
Como se pode perceber neste exemplo real, as aberturas em edificações desse tipo devem ser
tratadas com critério técnico para se evitarem sinistros.
1) Portões Abertos
Sucções e Vento
Sobrepressões
Pequenas
V E N T O
Sucção Interna ,
(N - 0.4)
3) Portões Fechados
Região
Danificada
Sobrepressão r
Vento
Sucção Externa
Arrancamento de Telhas'
1 9 . 7 . 4 . Aberturas Acidentais
Aberturas acidentais são aquelas que podem surgir de forma imprevista, como quebra de caixi-
Iho/vidros, queda de painéis de vedação ou parte da cobertura. Devemos ter em mente que
painéis envidraçados ou mesmo caixilhos podem ser rompidos com a ação direta do vento, ou
devido a objetos lançados contra eles.
Há casos também de portões de hangares e armazéns que foram abertos pela força do vento,
resultando no surgimento de grandes esforços internos, que somados aos externos provocaram
colapso parcial ou total, principalmente na cobertura.
Para citar um exemplo, lembramos de um sinistro de grandes proporções onde ocorreu o total
arrancamento da estrutura e cobertura de um clube no Rio Grande do Sul, devido à quebra dos
vidros da fachada de barlavento, que não resistiram à pressão do vento. Nessas condições
houve uma somatória dos esforços de sucção externos com os de sobrepressão internos, provo-
cando o arrancamento de todo o telhado de forma violenta.
Quando ocorre então uma abertura acidental, estamos diante de uma situação de alto risco,
tendo em vista que nessas condições poderão surgir grandes pressões internas, que, por sua
vez, não são normalmente previstas nos cálculos estruturais.
1 9 . 7 . 5 . Aberturas Construtivas
Aberturas construtivas são aquelas que naturalmente vão existir durante o processo de construção
da obra, que por sua vez tem elevado potencial de gerar sinistros se não forem bem planejadas.
Queremos chamar a atenção do leitor para algumas situações específicas, em que, apesar de
os cálculos estruturais considerarem corretamente os esforços devido à ação do vento, ainda
assim podemos ficar sujeitos a um sinistro durante a fase de execução da obra.
Pode parecer pouco provável, mas já constatamos alguns casos em que as etapas de execução
da obra favoreceram para que o vento adquirisse mais velocidade e maior pressão. Isso ocor-
reu durante a construção de duas indústrias no interior do estado de São Paulo, devido à se-
qüência de levantamento das alvenarias, onde foram erguidas três paredes deixando uma para
ser feita posteriormente. Nos dois casos essa abertura ficou voltada para a direção dos ventos
predominantes naquele local, de tal forma que numa das edificações uma das paredes foi total-
mente derrubada e na outra os blocos de concreto que serviam de vedação foram lançados a
mais de 30 m de distância sem tombar a estrutura de concreto (ver figuras 19.1.2).
A pressão interna tem sido a causa de alguns sinistros em edificações com grandes espaços
internos e com cobertura leve, do tipo Armazéns Industriais, Depósitos, Salões de Clube, I langares,
Pavilhões de Exposição, etc. Portanto, nesses casos é muito importante uma avaliação criteriosa
da influência das aberturas na pressão que será gerada pelo vento, principalmente quando
essas aberturas estão situadas em zonas submetidas a sobrepressões elevadas, pois haverá
uma somatória com os esforços gerados externamente, aumentando a possibilidade de sinistro
devido à superposição dos esforços de sucção.
Por outro lado, podemos prever algumas aberturas em pontos estratégicos, nas paredes e telha-
dos, de tal sorte que produzam um efeito de sucção interna, principalmente nos telhados, pois
irá compensar os esforços externos.
O prof. Blcssmann recomenda algumas soluções apresentadas na fig. 19.7.5, salientando que deve-
mos conjugar duas ou mais soluções para se ter um bom resultado. Diz também que as soluções
apresentadas nas figs. A, B, C e D são efetivas para ventos com incidência normal à cumeeira; já as
demais soluções apresentadas nas fig. A e D são eficientes com ventos axiais ou oblíquos, sendo
que as aberturas a sotavento ou em todo o contorno da edificação sempre são efetivas.
fecha abro fecha
VENTO \ ^ VENTO
d) Tolhas especiais
com ventilação e) Aberturas permanentes f) Aberturas permanentes
nas paredes laterais, em todas as paredes
próximo a seus extremos
Portão aberto
abre fecha
acidentalmente
~~' VENTO
g) Janelas tipo válvula nos oitões h) Telhas mal fixadas ') Aberturas pormanantos
em todas as paredes
Como se pode perceber, o vento não é previsível e tampouco fácil de ser controlado, existindo
sempre uma grande quantidade de variáveis que interferem na sua atuação, do tipo topografia,
localização da edificação no terreno, edificações próximas, dimensões do imóvel, orientação
do vento, entre outros.
Porém, podemos tirar algumas conclusões de ordem prática, em que os esforços de valores
significativos, provocados externamente pela ação do vento, são predominantemente de suc-
ção e os internos podem ser de sobrepressão ou de sucção, dependendo do tamanho e da
disposição das aberturas nas paredes.
Devemos então evitar situações nas quais possa ocorrer uma somatória dos esforços internos
com os externos, que poderá resultar em sinistro, principalmente para as coberturas leves.
20.1. GENERALIDADES
Apesar da grande maioria das obras no Brasil utilizar estrutura em concreto armado, o aço tem
sido empregado cada vez mais como uma solução alternativa em face das características es-
pecíficas que ele oferece, tais como rapidez, menor desperdício de materiais, maior limpeza
na obra, além de permitir soluções arquitetônicas especiais.
Em algumas obras-de-arte, tais como pontes e vias elevadas, a solução usada em alguns casos
ultimamente é o emprego de vigas metálicas de alma cheia para grandes vãos, principalmente
pela maior leveza e conseqüente rapidez na montagem.
No entanto, vem ganhando cada vez mais espaço nas estruturas industriais e coberturas, prin-
cipalmente em substituição à madeira, que se tem tornado escassa nos grandes centros. Dessa
forma, a sua utilização é predominante na execução de galpões industriais, como estrutura de
sustentação das paredes e cobertura de grandes vãos.
De forma simplista, podemos dizer que o aço é uma liga de ferro e carbono, e o ferro fundido tem
elevado teor cie carbono, entre 1,7 e 6,7%; quando essa porcentagem c de 1,7%, denominamos aço-
carbono. Se esse teor passa para 0,2%, o ferro adquire propriedades especiais e será chamado de aço.
No caso do teor de carbono ficar abaixo de 0,1%, então teremos o aço doce ou de ferro ARMCO.
O aço estrutural mais comum é o aço-carbono A36 (ASTM), que tem um teor de carbono entre 0,25%
e 0,29%, com limite de escoamento igual a 25 kgf/mm2 e ruptura variando entre 40 e 50 kgtfmm2.
Já na fase plástica, temos o patamar de escoamento, em que as tensões praticamente não vari-
am, porém ocorrem grandes deformações que por sua vez são permanentes; na seqüência
ocorre um rearranjo da estrutura interna do aço, que é denominada encruamento e significa um
revigoramento da peça, onde se atinge as tensões mais altas.
0
Deformação
No entanto, para a maioria dos metais, o diagrama de tensão/deformação tem a forrra repre-
sentada na fig. 20.3.2, na qual o trecho elástico A-O está bem definido, mas não aparece o
escoamento. Dessa forma, convencionou-se adotar um valor " n % " e traçar-se uma paralela
à inclinação do período elástico. Onde essa reta cortar a curva, será definido como a tensão
de escoamento.
O valor "n" adotado normalmente é de 0 , 2 % para os aços, e entre 0,1 e 0 , 5 % para os outros
metais, sendo esse o limite de elasticidade, em que as deformações não são permanentes.
Fig. 20.3.2. Gráfico de tensão-deformação para a maioria dos metais (não doces)
Nos ensaios de compressão, nos quais não ocorre flambagem, o diagrama de tensão/deforma-
ção é similar ao de tração, porém com tensões sempre crescentes após o escoamento.
20.3.1. Elasticidade
20.3.2. Ductibilidade/Plasticidade
A ductibilidade tem grande importância nas estruturas metálicas, pois permite a redistribuição
de tensões locais elevadas, ao mesmo tempo cm que apresentam grande deformação antes de
se romper, o que na prática serve de aviso de que o elemento estrutural está com um carrega-
mento maior do que ele pode suportar, ou seja, está sobre tensões elevadas e devem ser toma-
das providências urgentes. O mesmo não ocorre com o ferro fundido, que por não ser dúctil
rompe sem apresentar deformações apreciáveis, o que é chamado de ruptura frágil.
20.3.3. Tenacidade
Tenacidade é a capacidade que os materiais têm de absorver energia de impacto quando submeti-
dos a cargas dinâmicas. Um material dúctil, quando comparado com um material frágil, de mesma
resistência, apresenta maior capacidade de resistir ao impacto, sendo portanto mais tenaz.
20.3.4. Dureza
É outra propriedade importante na construção, uma vez que os metais podem ser extremamen-
te duros ou relativamente moles. No Brasil, adota-se como parâmetro a dureza BRINELL.
20.3.5. Fadiga
t o fenômeno que depende das características do metal e causa a ruptura da peça quando é
submetida a uma tensão repetida, no mesmo sentido ou em sentido variado. A causa dessa
ruptura é a desagregação progressiva da coesão entre os cristais, que vai diminuindo a seção
resistente até chegar ao limite. Quanto mais dúctil for o metal, maior será sua resistência à
fadiga; o contrário ocorre quando o metal é mais rígido.
Segundo as normas brasileiras e a American Society íorTesting and Materials (ASTM), destaca-
mos na tabela abaixo os principais tipos de aço especificados nos projetos estruturais.
Tabela 19
O s aços podem ser divididos em três classes, em função do teor de carbono, conforme
tabela abaixo.
Tabela 20
#
Classe Limite Usual de Características Principais
Resistência (MPa) Aplicações
Baixo Carbono <440 Boa tenacidade, Pontes, edifícios,
C < 0,30% conformabil idade navios, caldeiras,
e soldabil idade tubos, estruturas
mecânicas, etc.
Médio Carbono 440 a 590 Médias Estruturas parafusadas
0,30% < C < 0,50% conformabil idade de navios e vagões,
e soldabil idade tubos, estruturas
mecânicas, implementos
agrícolas, etc.
Alto Carbono 590 a 780 Más conformabil idade Peças mecânicas,
C > 0,50% e soldabil idade, implementos
altas resistências agrícolas, trilhos
ao desgaste e rodas ferroviárias
• SAC-41 Usiminas.
• COS-AR-COR-400 Cosipa.
São derivados dos de alta resistência, onde se adicionam outros elementos químicos, sendo os
principais: níquel, titânio, vanádio, molibidênio. A finalidade é aumentar o tempo de início de
deformação da estrutura.
Com relação aos efeitos da variação de temperatura no aço, devemos nos reportar ao item 20.3.
Os edifícios ou obras especiais em aço são pouco comuns no Brasil, devido à mão-de-obra
barata. Por esse motivo, a nossa construção se voltou para as estruturas de concreto armado,
onde adquirimos experiência e conhecimento de padrão internacional.
No entanto, as poucas edificações prediais com pilares e vigas de aço têm sido muito bem
projetadas e igualmente executadas, de forma que são raros os casos de sinistro nesse tipo de
edificação; exceção feita às coberturas nas quais não encontramos a mesma qualidade nas
estruturas, motivo pelo qual elas apresentam a maior incidência de sinistros.
No entanto, temos verificado um número grande de sinistros provocados pelas seguintes causas:
• Ação do vento.
• Falta de contraventamento.
• Dimensionamento insuficiente.
• Falta de manutenção (corrosão).
• Sobrecarga adicional.
• Ligações, emendas e apoios deficientes.
2 0 . 6 . 1 . A ç ã o do Vento na estrutura metálica
As estruturas metálicas, por serem leves, estão mais vulneráveis à ação do vento, sendo essa
uma das causas de maior número de sinistros; principalmente as coberturas executadas em
arco com tirantes, pois não resistem aos efeitos de sucção do vento, tendo em vista que ocorre
uma inversão de esforços. Nesses casos, o tirante perde a sua função, uma vez que foi projeta-
do para trabalhar apenas à tração.
As treliças metálicas de cobertura também podem sofrer colapso pela ação de sucção provocada
pelo vento. Isso ocorre quando há uma deficiência no contraventamento do banzo inferior, que
de forma análoga aos arcos também podem flambar quando sujeitos a esforços de compressão
devido à inversão dos esforços.
Outra situação de risco é quando os oitões não têm uma estrutura própria para garantir a sua estabilidade
lateral devido à ação do vento. Nessas condições, o que ocorre na prática é que as terças metálicas que
se apoiam sobre eles acabam ficando com essa responsabilidade, transferindo todo o esforço horizontal
provocado |x?lo vento para a estrutura de cobertura, que |x>r sua vez não foi projetada para tal função,
podendo então sofrer sérias deformações, ou em alguns casos vir a ruir (ver fig. 20.6.1).
a
Acidental na Alvenaria
Viga
Fochamonto
Lateral
Quando nas edificações industriais, além da cobertura, as colunas também forem feitas de treliça
metálica, servindo de amarração para as alvenarias, elas terão uma dupla responsabilidade: suportar
os esforços da cobertura e garantir também a estabilidade lateral das paredes de fechamento externo.
2 0 . 6 . 2 . Ausência de Contraventamento
Os elementos metálicos que formam uma estrutura são muito eficientes para resistir esforços de
tração. No entanto, por serem peças esbeltas, devem receber um eficiente contraventamento
para poder suportar bem as forças de compressão, sem sofrer o fenômeno da flarnbagem, que é
a perda da estabilidade lateral devido à relação entre a seção da peça, o esforço aplicado e o
espaçamento entre os travamentos.
A falta de um sistema eficiente de travamento das peças e do conjunto resulta na maioria das
vezes em sinistros, mesmo quando as seções dos elementos que formam a estrutura são robus-
tas e aparentam uma enganosa folga no dimensionamento.
2 0 . 6 . 3 . D i m e n s i o n a m e n t o Insuficiente
Uma vez que suportam no limite as cargas permanentes, dão uma falsa aparência de estabili-
dade e segurança. No entanto, não resistem quando solicitadas pela somatória das sobrecargas
acidentais, principalmente aquelas geradas pela ação dos ventos.
A cultura brasileira não é muito voltada para a manutenção preventiva, apesar de ser esta a
mais adequada para preservar e garantir a longevidade de qualquer estrutura; prefere na maio-
ria das vezes fazer a manutenção corretiva, que por sua vez é mais trabalhosa e conseqüente-
mente mais onerosa.
Isso ocorre em todo tipo de obra; no entanto, no caso das estruturas metálicas essa postura pode
se tornar perigosa, pois, uma vez desencadeado o processo dc corrosão, a sua evolução ó
rápida e pode levar ao colapso.
O ataque do aço é maior dependendo da agressividade do meio ambiente, como já foi mostra-
do no item corrosão das armaduras no concreto armado. No entanto, convém lembrar que em
regiões litorâneas, industriais, úmidas e de grande poluição urbana os cuidados com a manu-
tenção preventiva devem ser redobrados.
Quando se tratar de indústrias que geram gases ácidos, devemos avaliar se não é o caso de se
pensar em soluções alternativas que possam resistir de forma mais adequada à agressividade
do ambiente industrial.
As partes normalmente mais afetadas são aquelas que ficam expostas aos ataques do meio
ambiente, recebendo diretamente a ação do sol, da chuva, da poluição urbana/industrial e a
umidade do mar.
No entanto, a corrosão pode ter início em qualquer parte ou elemento da estrutura metálica, depen-
dendo às vezes de pontos deficientes, do tratamento superficial que foi aplicado, de se empregarem
materiais que ficaram estocados de forma inadequada e já iniciaram o processo de corrosão no pátio.
Pode ocorrer também que o material tenha falhas localizadas provenientes da sua produção e,
nesses casos, o ataque pode iniciar-se por esse ponto.
O que tomos encontrado com mais freqüência é a corrosão na base ou pé das colunas metálicas, ou
seja, na ligação com o concreto ou com o piso, por ser esse um ponto com maior concentração de
umidade devido às águas dc chuvas ou de lavagem, ao mesmo tempo cm que sofre os efeitos da
corrosão eletrolítica, como foi mostrado no item de corrosão das armaduras do concreto armado.
Outro ponto vulnerável são as ligações de solda, que modificam a estrutura cristalina do mate-
rial e reduz a sua resistência naquele ponto.
A eficiência das medidas protetoras contra a corrosão do aço tem apresentado alguma comple-
xidade no seu desempenho ao longo do tempo; camadas protetoras eficientes para alguns ca-
sos podem não ser para outros.
As soluções mais conhecidas para se evitar que ocorram os problemas citados nas estruturas
metálicas podem ser complexas, iniciando-se pela escolha da liga do metal mais adequado,
passando pela proteção catódica e terminando nos processos mais simples de capeamento,
que pode ser através da galvanização com zinco, ou com primer anticorrosivo à base decromalo
de zinco ou epóxi e posterior aplicação de tinta óleo/esmalte sintético ou epóxi, dependendo
das condições e agressividade do meio ambiente.
Devemos tomar também algumas providências com relação à proteção do material, que devem inici-
ar-se no processo de estocagem, garantindo que o mesmo não oxide antes de ser utilizado; e lembrar
sempre da necessidade de se planejar de forma |X?riódica uma manutenção preventiva e corretiva.
Fig. 20.6.4. Corrosão na base de colunas metálicas
Por ser a corrosão um fenômeno que tem causado enormes prejuízos nas estruturas metálicas,
a Companhia Siderúrgica Nacional (C.S.N.), a Usiminas e a Cosipa desenvolveram aço especi-
al para resistir de forma mais eficiente ao processo de corrosão (ver item 2.4.1).
O princípio defendido pelas siderúrgicas é de que esse tipo especial de aço não requer pintura,
tendo em vista que o processo de oxidação cria uma película de ferrugem que por si só acaba
protegendo o material. Algumas obras comprovaram esse fato; no entanto, alertamos para o
fato de que no [lassado tivemos a oportunidade de fazer um levantamento de um lote de aço
especial para resistir à corrosão, que ficou exposto ao tempo no pátio da Fepasa em São Paulo
e, para nossa surpresa, constatamos que muitas peças sofreram sérias corrosões, a ponto de
algumas delas terem perfurações.
Esse material era sobra de perfis de chapa fina dobrada que foram utilizados para a construção de
escolas pré-fabricadas no estado de São Paulo. A grande maioria dessas edificações se compor-
tou bem ao longo do tempo. Porém, constatamos que duas escolas no litoral paulista apresenta-
ram sérios problemas de corrosão no pé das colunas, sendo que uma delas teve colapsc parcial.
Pretendemos com essa observação chamar a atenção do leitor para a necessidade de se utili-
zarem, com alguns cuidados e até mesmo com algumas restrições, eventuais tipos de aço que
nem sempre se comportam conforme as suas especificações, apesar de ser um material com
melhor controle de qualidade empregado na construção civil.
2 0 . 6 . 5 . Sobrecarga Adicional
Há casos em que o usuário do imóvel não se preocupa com a capacidade da estrutura metálica
de cobertura e algumas vezes vai adicionando cargas não previstas no projeto original, do tipo
forro de gesso, troca de telhas leves por mais pesadas, como por exemplo telhas de chapa fina
de aço por fibrocimento.
Esse tipo de situação ocorre com mais freqüência em oficinas metalúrgicas, quando se
estocam barras na cobertura, ou depósitos de materiais de construção, que por falta de
espaço estocam diversos produtos no banzo inferior da treliça, principalmente tubos elétri-
cos e hidráulicos.
Esses vícios de qualidades costumam ocorrer quando a construtora emprega mão-de-obra pou-
co qualificada e não faz um acompanhamento criterioso dos trabalhos, resultando em emendas
de peças malfeitas, apoios que solicitam o banzo inferior a esforços cortantes, terças que se
apoiam no banzo superior e ligações inadequadas no encontro das barras.
Q u a n d o os nós de ligação são feitos com solda, pode ocorrer uma execução errada,
resultando em alguns casos num comprimento insuficiente de solda, ou num excesso. Na
primeira situação corremos o risco de ruptura da solda e, na segunda, podemos gerar
momento fletor nas barras, introduzindo assim um esforço não previsto em projeto (ver
fig. 20.6.6.a).
No caso das emendas, é comum encontrar peças com solda de topo mal executadas e sem
reforço de chapa adicional. Nos apoios, verificamos inúmeras situações nas quais o centro do
nó de ligação não se apóia diretamente sobre o pilar. Nesses casos, o que se costuma fazer é
um prolongamento incorreto das barras, alterando com isso o comportamento estrutural da
ligação (ver fig. 20.6.6.b).
Há situações em que as terças não se apoiam nos nós de ligação e descarregam seu peso no
banzo superior, acarretando com isso momento ílelor na barra e alterando totalmente as pre-
missas de cálculo, que pressupõe que as mesmas sejam dimensionadas apenas para -esistir a
esforços de compressão ou tração no sentido longitudinal. Situações desse tipo têm sido a cau-
sa de alguns sinistros em coberturas de estrutura metálica (ver fig.20.6.6.c).
21.1. GENERALIDADES
Não podemos falar sobre madeiras sem mencionar o prof. Antonio Moliterno, figura humana de
caráter invejável e excelente profissional que ensinou com muita competência como se deve
tratar esse material.
As madeiras têm sido pouco empregadas ultimamente como elemento estrutural, exceto quan-
do se trata de coberturas sobre lajes, galpões com vão inferior a 10 m, pequenas pontes rodovi-
árias em estradas de terra, ou em algumas regiões do país onde a mesma é barata e abundante.
E muito comum em nossas obras um carpinteiro de formas se considerar qualificado para exe-
cutar uma estrutura de madeira. No entanto, pelo fato de saber cortar e pregar tábuas de pinho
ou chapas de madeira compensada, não que dizer que saiba lidar com madeiras do tipo peroba,
ipê, canafístula, ou outras que são normalmente empregadas nessas estruturas.
O fato é que essas madeiras apresentam características específicas com relação à umidade,
dureza, secagem, sentido das veias e empenamento, exigindo do profissional conhecimentos
específicos e muita experiência, pois devem ser empregados procedimentos e métodos preci-
sos na escolha da peça ideal para cada local da tesoura, bem como para o corte e encaixe de
todas as barras da estrutura.
Podemos dizer que se trata de uma obra de arte e, nesse sentido, precisamos de um artista. Essa
afirmação é possível de ser comprovada em algumas estruturas antigas feitas com madeira e,
apenas para citar um exemplo, nos reportamos à cobertura da quadra de tênis do estádio Paulo
Machado de Carvalho, em São Paulo.
Devido ao pouco uso da madeira como elemento estrutural, constatamos que são poucos os
calculistas preparados para desenvolver esse tipo de projeto; da mesma forma, o engenheiro de
obras também não está familiarizado com o manuseio deste material, ficando na maioria das
vezes na dependência do profissional que vai executar a estrutura.
Pelos motivos citados anteriormente, é muito importante que todos os profissionais envolvidos
tenham a humildade de reconhecer suas limitações e procurar o suporte técnico necessário
para projetar e executar corretamente esse tipo estrutura; agindo assim, estará evitando no
futuro um possível sinistro em sua obra.
Citamos a seguir os problemas mais comuns que têm ocorrido nas estruturas de madeira devido à:
É muito importante que o projetista tenha conhecimento do tipo, da qualidade e das bitolas das
madeiras disponíveis no local onde será executada a obra, para não correr o risco de especifi-
car material inexistente naquela região ou medidas fora dos padrões usuais. Isso iria onerar o
custo da obra, uma vez que a compra deverá ser feita em regiões mais distantes.
Quando isso ocorre existe o risco de o construtor, a critério próprio, usar bitolas diferentes da
especificada no projeto, bem como outros tipos de madeira, confiando apenas no seu conheci-
mento para decidir que o material alternativo escolhido atende perfeitamente às necessidades
da obra. No entanto, essa avaliação é quase sempre subjetiva e pode levar a uma escolha
errada, resultando em alguns casos de sinistro.
O correto então é que projetista procure adotar, sempre que possível, o uso de madeiras dispo-
níveis na região. Por sua vez, o construtor precisa consultar o calculista sobre a possibilidade
de se empregar um material alternativo. Agindo assim, minimizaremos o risco de sinistro.
Apenas para ilustrar ao leitor, apresentamos a tabela a seguir, extraída dos anais do primei-
ro encontro brasileiro em madeiras e em estruturas de madeira, realizado na cidade de São
Carlos, em São Paulo, de autoria do engenheiro Amantino Ramos de Freitas, o qual apresen-
ta valores médios e coeficientes de variação de algumas propriedades mecânicas das es-
pécies mais comuns.
Tabela 21
21.3. D E V I D O A FALHAS D E P R O J E T O E E X E C U Ç Ã O
Nas regiões onde o uso de estruturas de madeira é muito reduzido, ou quando o engenheiro
calculista não as utiliza habitualmente, constatamos alguns enganos no dimensionamento ou
no detalhamento do projeto, por falta de experiência ou conhecimento específico nesse tipo
de estrutura.
Durante alguns anos em que tivemos a oportunidade de ser responsáveis pela análise de proje-
tos estruturais da antiga Conesp (Construções Escolares do Estado de São Paulo), verificamos
nos projetos e na execução das estruturas de madeira alguns erros mais comuns, que iremos
descrever a seguir.
2 1 . 3 . 1 . Dimensionamento Errado das Terças
Algumas vezes o cálculo das terças era feito como flexão simples, quando o correto é como flexão
oblíqua, tendo em vista que a peça irá trabalhar com dois momentos fletores (ver fig. 21.3.1).
É muito comum encontrar nas estruturas de madeira treliçadas o apoio extremo sobre pilares ou
vigas de sustentação fora do encontro do eixo das peças, onde teoricamente as forças devem
se cruzar para que o nó fique em equilíbrio. No entanto, a situação representada na fig. 21.3.2
gera esforços cortantes no banzo inferior, podendo deformar excessivamente a peça ou até
mesmo levar à ruptura.
Alguns carpinteiros mal preparados e até mesmo engenheiros pouco acostumados com
estruturas de madeira não se dão conta de que o pendurai de uma tesoura de madeira
trabalha à tração, necessitando, portanto, de uma ligação eficiente com a linha, sendo
ideal o uso de peças duplas que permitam uma ligação prática e eficiente. Caso contrário,
seria necessário utilizar estribos de chapa de aço para garantir a transmissão dos esforços
(ver fig. 21.3.3).
Apenas Pregado Duplas Parafusadas
Outra situação muito comum é encontrar treliças de madeira faltando pendurai ou diagonal, o
que modifica totalmente a distribuição dos esforços e altera completamente o comportamento
estrutural da tesoura. O mesmo ocorre quando uma terça se apóia entre dois nós, gerando
momento fletor no banzo superior, fazendo com que essa peça trabalhe a flexo-compressão e
não mais a compressão simples, como é o desejado nesse tipo de estrutura (ver fig. 21.3.4).
t t
Uma análise mais criteriosa mostrou que o fato de existir um projeto completo e detalhado
levou o construtor a supor, por motivos de economia, que o seu carpinteiro, com experiência
apenas na execução de formas de concreto, poderia também fazer uma estrutura de madeira.
No entanto, ficou evidente que ele não tinha habilidade e conhecimento suficiente para execu-
tar tal tarefa de forma satisfatória.
Portanto, fica a lição de que, para se obter um resultado final com o desempenho desejado,
devemos ter, além de um bom projeto, uma execução elaborada por profissionais capacitados
e experientes nesse tipo de atividade.
Devemos sempre ter em mente que o espaçamento das tesouras de madeira está limitado pela
terça que pretendemos ou temos disponibilidade de utilizar, ou seja, é a limitação da terça que
define o espaçamento das treliças. Por sua vez, o mesmo ocorre com o espaçamento entre as
terças, que é definido pelo caibro que iremos utilizar; e este, por fim, depende das dimensões
das ripas para ter o seu espaçamento definido.
Em algumas obras, quando a distância entre as tesouras é maior que a capacidade da terça,
principalmente pelo fato de a mesma trabalhar à flexão oblíqua, resulta quase sempre em defor-
mações acentuadas dessa peça, comprometendo o desempenho e a estabilidade da cobertura.
Pelos mesmos motivos, se não forem tomados os devidos cuidados no distanciamento das terças
e dos caibros, a flecha excessiva irá ocorrer nesses elementos, provocando deformações acen-
tuadas no telhado.
Outra situação que compromete a estabilidade das coberturas de madeira são as emendas
subdimensionadas ou executadas de forma errada e no local inadequado, acarretando na maioria
das vezes grandes deformações na estrutura e até mesmo a sua ruína.
21.4. Q U A L I D A D E DA M A D E I R A
A verificação inicial deve ser feita no recebimento da madeira, se possível quando ainda esti-
ver no caminhão. Depois de verificado se o tipo de madeira que está sendo entregue é igual ao
especificado no projeto, em seguida devemos então proceder a uma análise rigorosa da quali-
dade do material, observando se está seco, com as dimensões corretas e sem nós, rachaduras
ou empenamentos que possam prejudicar o comportamento da estrutura.
Algumas peças, quando são retiradas muito próximas da casca, podem apresentar falhas ou
defeitos que vão comprometer o seu comportamento estrutural. Todos os defeitos acima citados
interferem na resistência da peça.
Um lote de madeira deve ser classificado como de primeira, segunda ou terceira, em função do
tipo, tamanho e quantidade dos defeitos que as peças apresentarem. Devemos ter em mente
também que, para uma mesma árvore, as peças retiradas do cerne (centro da tora) são mais
resistentes do que aquelas extraídas próximas da casca.
Dessa forma, as peças de melhor qualidade e mais resistentes devem ser empregadas em pon-
tos críticos, onde ocorrem os maiores esforços. Essa classificação só pode ser feita com conhe-
cimento e segurança por profissionais com reconhecida experiência no assunto.
Uma classificação visual pode parecer simples, mas não é. Antigamente, na cidade de São
Paulo, se usava praticamente apenas peroba-rosa, que vinha do estado do Paraná; no entanto,
essa madeira está cada vez mais difícil de ser encontrada hoje em dia.
Hoje podemos comprar com relativa facilidade grande variedade de tipos de madeiras, vin-
das principalmente do Norte do Brasil; são as chamadas peroba-do-norte. Essa classificação
é genérica e abrangente, sendo algumas vezes madeiras desconhecidas, que, no entanto,
pela aparência, podem ser confundidas com outras já conhecidas e enganar um profissional
pouco experiente.
Outro cuidado importante a ser verificado é com relação à umidade da madeira, a qual deve
estar realmente seca, pois, se o teor de água existente no seu interior ainda for alto, irá causar o
fenômeno da retratabilidade, que é uma retração nas três direções (radial, axial e tangencial),
provocando uma diminuição volumétrica da peça com conseqüentes rachaduras e empenamentos.
Caso isso ocorra depois da montagem, prejudicará o desempenho das ligações e dos elementos estru-
turais, podendo provocar alterações no comportamento de toda a estrutura e resultar em sinistro.
Após esses cuidados, devemos estocar a madeira em local apropriado e de forma correta para
impedir ou até mesmo corrigir pequenos empenamentos, observando que as peças fiquem ven-
tiladas e protegidas da chuva e umidade.
Para não se correr riscos desnecessários, o ideal é comprar sempre de um fornecedor idôneo e
conhecido. Quando não for possível, é imprescindível que se tenha na obra um funcionário
qualificado para receber e identificar o tipo de madeira que se deseja utilizar na obra.
Foi feito um estudo na cidade de Porto Alegre pelo ITERS, com a expectativa de tentar avaliar a
durabilidade natural de várias madeiras às intempéries, resultando no que segue:
Supondo que todas as etapas anteriores foram atendidas corretamente, então devemos nos
concentrar na execução, que como já citamos anteriormente deve ficar a cargo de um profissio-
nal experiente e sério. Na ausência deste, o que costuma acontecer é o carpinteiro de formas
se prontificar ou ser convocado para executar uma estrutura de madeira, usando peças e pro-
cedimentos aos quais ele não esta acostumado, como já foi dito antes.
Por outro lado, devemos ter em mente que na sua função habitual, suas obras são provisórias,
não exigindo, portanto, os mesmos cuidados e conhecimentos específicos que uma estrutura
permanente requer.
Sendo o escopo do nosso trabalho mostrar os erros que se cometem na execução de uma obra,
os quais, por sua vez, podem levar a um sinistro, vamos relatar os mais comuns que temos
observado na construção de coberturas com estrutura de madeira.
É fato que existem algumas obras em que se podem constatar esses erros e, no entanto, a estrutura
estar aparentemente estável. Há que tomar muito cuidado para não se deixar iludir e acreditar
que o carpinteiro que a executou está certo e todos os conceitos da engenharia, errados.
O que ocorre nesses casos é que a estrutura pode estar superdimensionada, com capacidade
de suportar carga muito acima das atuantes, ou, por outro lado, nunca ter sido submetida plena-
mente aos esforços das cargas acidentais; porém, no momento em que isso vier a ocorrer, então
poderemos ter um sinistro.
Existem vários tipos de madeiras transformadas, mas abordaremos apenas aqueles ce maior
uso na construção civil.
2 1 . 7 . 1 . (Madeira L a m i n a d a C o m p e n s a d a
Esse tipo de material é constituído pela colagem de lâminas de madeira dispostas de maneira
que as fibras de cada camada fiquem perpendiculares umas «às outras, resultando em chapas
com pouca retratilidade e boa resistência. Tem sido pouco empregada como elemento estrutu-
ral, mas muito utilizada na confecção de formas de concreto.
Como exemplo, podemos citar uma estrutura de madeira que utilizou chapas compensadas e
vigas de peroba, formando um pórtico de cobertura para o pátio de uma escola no interior do
Estado de São Paulo. Com o passar do tempo, a umidade nas bases dos pilares e a presença de
cupim comprometeram essas peças e quase provocaram um sinistro.
Quando se optar pelo emprego de chapas compensadas como elemento estrutural, recomen-
damos que se faça para pequenas obras e de pouca responsabilidade, e que se tomem os
seguintes cuidados:
2 1 . 7 . 2 . Madeira L a m i n a d a
São vigas de madeira pré-fabricadas através da colagem de tábuas. Elas podem ser retas ou
curvas, de qualquer largura e comprimento, de seção constante ou variável, produzidas nas
medidas especificadas pelo cliente; podem vencer grandes vãos e são entregues com acaba-
mento final (ver figura 21.7.2).
E 93
Viga Reta Viga Curva
Arco
Seção Transversal
Esse tipo de estrutura foi concebido pelo alemão Otto Hetzer, em 1905, e tem sido muito utilizada
em coberturas, na forma de vigas retas, pórticos ou arcos, principalmente em ginásios de esporte,
residenciais de luxo ou edificações industriais e comerciais, em que o seu emprego é recomenda-
do por razões técnicas ou estéticas. Em São Paulo, elas são conhecidas como vigas Laminarco.
As madeiras empregadas na composição das vigas laminadas devem receber tratamento especial
contra fungos, microrganismo, bactérias e insetos, o que confere uma determinada durabilidade.
Ela foi vítima de um severo ataque de cupins, que consumiu o seu interior sem mostrar
sinais externos. Por sorte, o problema foi identificado e a área interditada, porém não houve
tempo para se iniciarem os trabalhos de restauro, uma vez que ela desabou durante uma
forte tempestade.
Devemos ter em mente que o cupim ataca a peça internamente, sendo que na maioria das
vezes não perfura a face externa, o que pode dar uma falsa idéia de segurança o estabilidade.
Nessas condições o risco de sinistro é muito grande, pois o usuário poderá não pexeber a
gravidade da situação para tomar as devidas providências preventivas.
Considerando que tomamos todos os cuidados citados anteriormente com relação à execução
de uma estrutura de madeira, devemos então nos preocupar com a preservação da mesma, do
contrário poderemos ser vítimas de um sinistro por falta de uma eficiente manutenção preven-
tiva e corretiva.
Os principais produtos de preservação tem como insumos básicos elementos tóxicos, fungicidas,
inseticidas ou antimoluscos, que são diluídos em um solvente que pode ser a água ou um óleo
de baixa viscosidade. Alguns produtos pretendem conferir também outras características à
madeira, do tipo impermeabilidade retardante de chama e inibidor de retratilidade. Dentre
eles, destacamos os seguintes:
2 1 . 8 . 1 . Impregnação Superficial
São procedimentos econômicos e recomendáveis para peças de madeira seca que serão em-
pregadas em ambientes cobertos e de pouco variação de umidade, tais como forros e telhados
sobre laje. O processo se resume na imersão ou pintura da peça em preservativos do tipo Sal de
Wolmann diluído em água numa proporção de 4 % .
Não vamos entrar no mérito de cada processo, tendo em vista que foge ao escopo deste
trabalho; no entanto, pode servir de orientação para o leitor que desejar mais informação
a respeito.
2 1 . 8 . 3 . Impregnação sob Pressão Elevada
É o tratamento que deve ser dado às peças que irão sofrer uma agressão severa, como aquelas
que ficarão submersas ou sujeitas ao ataque de predadores marinhos. Esse processo é o mais
eficiente, tendo em vista que é executado em autoclave e confere uma proteção elevada.
Também se baseiam na aplicação de produtos preservativos, só que pela criação de vácuo
(processo Bethel) ou por aumento de pressão (processo Ruepig).
22 Sinistros devido a reformas sucessivas
Muitas residências no passado foram executadas em bairros, ruas e avenidas que se transfor-
maram em pólos comerciais, e passaram a ser usadas como lojas, escritórios, oficinas, etc.
Não haveria maiores problemas, se tudo fosse feito com base em projetos, principalmente o de
estrutura; no entanto, o que se verifica é que o imóvel perde o seu histórico ao longo do tempo,
principalmente pelo fato de quase nunca existir um projeto inicial.
A primeira adequação não apresenta maiores dificuldades, se o engenheiro estiver atento para executar
uni adequado sistema de ajX)io nos locais onde forem removidos vigas, pilares e principalmente paredes.
Esse procedimento garantirá a estabilidade do pavimento su|x?rior ou da cobertura, se for ocaso.
Porém, numa segunda ou terceira adaptação, muitas vezes não é mais possível identificar as
características originais da edificação, correndo-se então um sério risco de se removerem pa-
redes ou peças de concreto sem poder avaliar corretamente a sua real função e qual a sua
parcela de responsabilidade na estabilidade do conjunto.
O recomendado nesses casos é que primeiramente se tente localizar todo e qualquer projeto
referente à edificação a ser reformada, pois eles serão elementos de grande valia para se en-
tender corretamente as alterações que foram feitas no passado, possibilitando assim que se
projete a obra com critério, economia e principalmente segurança.
Na inexistência dos mesmos, devemos levantar o histórico das reformas anteriores, buscando
informações com os responsáveis pelas obras passadas e com o proprietário. Esse procedimen-
to é muito valioso, no sentido de que eles poderão fornecer informações preciosas para se
avaliar o que foi e como foi executado. Permite-se com isso balizar os procedimentos futuros e
alertar quanto aos cuidados que deverão ou não ser tomados durante as abras de adequação.
No entanto, quando não for possível se obter os projetos e o histórico das obras passadas não for
suficiente para sanar todas as dúvidas, devemos então realizar uma cuidadosa investigação no
local, com a finalidade de identificar a posição de vigas, pilares, sinais de paredes removidas
no passado e aquelas que foram construídas posteriormente.
Devemos investigar para obter o máximo de informações possíveis, sobre todas as característi-
cas originais do imóvel e das adequações que foram executadas ao longo do tempo.
Para tanto, é necessário fazer uma série de prospecções no local, através das aberturas de
pequenos rasgos contínuos no revestimento das paredes, nas direções verticais e horizontais,
bem como nas lajes. Esse procedimento permitirá identificar a presença de vigas e pilares
embutidos nas alvenarias e o tipo de laje existente, que poderá ser maciça ou nervurada.
Deverão ser realizadas outras aberturas em pontos que denotem alguma alteração feita no
passado, do tipo emendas de laje, remoção ou execução de alvenarias, variação de cor ou
textura e até pelas marcas diferentes de pintura.
Agindo assim é possível se constatar, pela diferença de materiais, as diversas etapas de trans-
formação do imóvel, uma vez que em muitos casos é possível se avaliar a data de determinada
reforma pelas características do material utilizado.
Outro cuidado importante que deve ser providenciado é uma investigação do tipo de fundação
e do solo existente. Nesses casos, devemos também proceder a uma prospecção junto ao piso,
através da abertura de algumas valas com profundidade suficiente para permitir identificar as
características do solo e da fundação existente.
Quando se constata que a fundação existente é do tipo profunda, isso significa que o solo
próximo da superfície não oferece boa capacidade de suporte. Nessas condições, o ideal é que
essa investigação se faça através de uma sondagem de reconhecimento do tipo percussão, que
irá fornecer informações técnicas para se avaliar criteriosamente as condições locais.
Essa investigação geotécnica dará subsídios para se projetar e executar a solução de melhor de-
sempenho técnico-econômico e, ao mesmo tempo, avaliar a necessidade de reforço, se for o caso.
Para se remover uma parede existente, devemos verificar se ela não tem a função de sustentar
a laje de forro ou de piso logo acima dela, o que é muito comum nas edificações mais antigas,
nas quais os pilares e vigas quase sempre funcionam como elementos de amarração das alve-
narias, que por sua vez acabam se comportando como elemento portante e a sua retirada pode
comprometer a estabilidade do conjunto (ver fig. 22.1).
Alvenaria
Laje apoiada nas
3 Alvenarias
Deformação
da Laje
Remoção da Alvenaria
1= =1 (=
Fig. 22.1. Remoção de paredes portantes
O reforço da estrutura com a utilização de vigas e pilares metálicos tem-se mostrado uma
solução adequada para esse tipo de obra, uma vez que reduz significativamente o prazo e
permite maior flexibilidade nas opções de solução dos problemas existentes; no entanto, deve-
mos ter em mente a necessidade de se verificar a situação final de distribuição das ca'gas que
resultará após a adequação.
Na maioria das vezes, deverá ser executado reforço localizado na fundação e criar elementos
de apoios nas alvenarias para evitar a concentração de esforços e distribuir as tensões. Nos
casos em que as novas cargas de utilização forem mais elevadas que as anteriores, é preciso
prever reforços com pilares de concreto ou metálicos (ver fig. 22.2).
Corto 1-1
Alvenaria
Enchlmonto ^Lajo
Viga Metálica
a e Reforço
Alvenaria
Parede Removida
Portante
^Alvenaria Pilar de Removida
.Alvenaria Reforço
Det. - 1
Laje Existente
Argamassa Cimento^,
Areia 1:3 com de Reforço
Cunhamonto om Brita Berço de Concreto ^
Alvonaria Existonto
Fig. 22.2. Reforço para eliminar parede portante
Outra situação que costuma ocorrer nas adequações e pode representar uma situação de risco
são as alterações estruturais sem uma avaliação criteriosa das implicações que isso possa acar-
retar na estabilidade do conjunto. Nesse sentido, podemos citar como exemplo a necessidade
de se remover um ou mais vãos de lajes ou vigas contínuas, causando uma mudança significa-
tiva no comportamento da parte restante da estrutura; em tais casos, elas irão perder a condi-
ção hiperestática, podendo apresentar deformações acentuadas ou até mesmo sofrer colapso
parcial, dependendo da estrutura existente (ver fig. 22.3).
A indústria de vidros Santa Marina teve de enfrentar uma situação semelhante, quando decidiu im-
plantar um novo forno no interior de um prédio existente; para tanto, precisou proceder a vários cortes
em vigas e lajes. Na ocasião, tivemos a oportunidade de elaborar os estudos necessários para permitir
a implantação do novo equipamento sem comprometer a estabilidade da estrutura existente.
Laje Removida Laje
Deformação da
Laje e V i g a
Fig. 22.3. Remoção de um vão de viga/laje contínua
Não podemos esquecer de verificar também a nova condição de trabalho do pilar que teve a
viga ou laje removida. Muitas vezes podemos criar situações nas quais dobramos o compri-
mento de flambagem da coluna pela eliminação do contraventamento lateral que o elemento
retirado representava.
Outra situação que gera risco de sinistro é quando se removem vigas ou lajes internas sem
avaliar a responsabilidade que elas têm para garantir a estabilidade lateral de paredes externas
de grande altura e sujeitas à pressão do vento, ou mesmo para absorver o empuxo horizontal da
terra como travamento de cortinas.
Em algumas situações o projetista e o construtor se preocupam apenas com a estrutura na sua função
de suportar cargas verticais, esquecendo-se de que em alguns casos ela funciona também como
travamento para absorver esforços horizontais. Nessas condições, para que se possa fazer a sua remo-
ção, haverá necessidade de se executar previamente uma estrutura auxiliar para absorver esses esfor-
ços e somente a|x3s a sua conclusão e cura é que jxxleremos dar seqüência à obra (ver fig. 22.4).
Nessas condições, é muito comum que se percam alguns detalhes do histórico das atividades
anteriores que foram exercidas no local, podendo se cometer o erro de colocar máquinas e
equipamentos sobre lajes que não foram projetadas para tal finalidade, ou mesmo utilizar áreas
tidas como depósito no passado, porem colocando-se um peso bem superior àquele quo se
estocava anteriormente. Nessas condições, pode-se acarretar um sinistro.
Em se tratando de imóvel industrial, devemos proceder da mesma forma que foi recomendada
para os casos de imóveis residenciais ou comerciais que tiveram alterações ao longo do tempo,
fazendo um detalhado levantamento local, com prospecções em vigas, pilares, lajes e alvena-
rias, de forma a se obter o maior número possível de informações. Paralelamente, temos de
levantar o histórico das atividades passadas com o máximo de dados sobre a posição e peso de
equipamentos e produtos estocados.
Nos pontos onde as informações colhidas não forem suficientes para se definir o grau de
segurança que se deseja em função das novas atribuições que a estrutura terá, precisamos
então recorrer a alguns ensaios que permitam avaliar com precisão todas as características
da estrutura e da edificação, como consta no capítulo de ensaios, avaliações, recuperação e
reforço estrutural.
Devemos ter em mente também que há casos em que a nova indústria a ser implantada poderá
produzir um meio ambiente mais agressivo que o anterior, tanto na atmosfera como no subsolo;
nessas condições, se a edificação não foi projetada originalmente com essa finalidade, vai
ocorrer inevitavelmente um ataque dos elementos estruturais a curto e médio prazo, podendo
acarretar um sinistro, conforme descrito no item Corrosão das armaduras.
23 Incêndio
23.1. GENERALIDADES
Os incêndios em edificações têm sido motivo de preocupação na maioria dos países desenvol-
vidos e em desenvolvimento, pelas lamentáveis perdas de vidas humanas e pelos grandes pre-
juízos materiais que têm causado em todos os cantos do planeta.
Numa primeira análise, podemos dizer que existe uma relação diretamente proporcional entre
o nível de risco de incêndio e o avanço tecnológico de um país ou região. Com o crescimento
industrial e urbano temos uma maior concentração de máquinas, equipamentos e materiais
combustíveis. Nas construções se utilizam cada vez mais materiais alternativos, tais como
divisórias, forros leves, vidros e alumínio, sendo todos eles mais vulneráveis ao fogo.
Neste trabalho vamos concentrar nossas atenções nos danos materiais que um sinistro de in-
cêndio costuma provocar nas edificações, principalmente nas estruturas de concreto e aço; no
entanto, para melhor entendimento de todo o processo, abordaremos também alguns aspectos
elementares sobre o início e a propagação do fogo.
Vamos tecer algumas considerações com relação aos critérios adotados na elaboração dos
projetos, na escolha dos materiais e na execução das obras, objetivando chamar a atenção
para a necessidade de se considerar o risco de incêndio em todas essas etapas que envolvem a
construção de uma edificação.
Entendemos que, se alguns cuidados adicionais forem tomados, poderão representar um incremen-
to de segurança que implicará a preservação de muitas vidas, ao mesmo tempo em que irá colabo-
rar para a preservação da edificação, principalmente no que diz respeito à estabilidade da sua
estrutura de sustentação, resultando numa significativa redução nos danos pessoais e materiais.
23.2. FENÔMENO CARACTERÍSTICO D O F O G O
O fogo pode ser definido como um fenômeno físico-químico em que ocorre uma reação de
oxidação com emissão de luz e calor. Deve coexistir quatro componentes para que ocorra o
fenômeno (ver fig. 23.2.1):
• Combustível: Qualquer substância capaz de produzir calor por meio de reação química.
• Comburente: Elemento às custas do qual se dá a combustão; no caso de incêndio, é o oxigê-
nio do ar.
• Calor: Forma de energia que se transfere de um sistema para outro, devido a um processo de
transformação.
• Reação em cadeia.
Nos líquidos e gases, a queima observa mecanismos mais precisos que nos materiais sólidos,
em que a área específica é um fator importante para determinar sua razão de queima na unida-
de de tempo. Ou seja, para um mesmo material com igual massa e áreas diferentes, eles quei-
mam em tempos inversamente proporcionais à superfície de cada um; o que tiver meios área
demorará mais para queimar, liberando, no entanto, a mesma quantidade de calor, porém a
temperatura atingida será menor.
No caso da madeira, temos uma situação interessante: na forma de serragem, ou seja, com
elevada área específica, a queima não se processa com grande rapidez; no entanto, na forma
de pó misturado com o ar pode ter uma reação explosiva semelhante a um gás. Porém, em duas
peças de madeira de mesma massa, sendo uma tora e outra uma chapa, esta última vai queimar
mais rapidamente, provocando temperaturas mais elevadas.
O mecanismo de combustão precisa de oxigenação, sendo que no caso da maioria dos materi-
ais sólidos, quando a concentração de oxigênio em volume fica abaixo de 14%, os mesmos não
mantêm a chama na sua superfície. Dessa forma, podemos dizer que a duração do fogo depen-
de da quantidade do material combustível existente no local e da quantidade de ar que poderá
entrar no local.
Quando se tem um foco de incêndio numa sala, ocorre a formação de gases quentes que vão se
acumulando junto ao forro e penetrando nas aberturas existentes. Nessas condições, o tempo
de queima e a temperatura atingida na sala vão depender dos materiais combustíveis e do
suprimento de ar que será fornecido pelas aberturas.
Camada do
Gases Quentes
Salda de Ar Quente
Entrada de Ar Oxigênio
Foco do
Incêndio
Recentemente constatamos que um sinistro num edifício na cidade de Goiás não assumiu maio-
res proporções devido à presença de grandes sacadas com pouco material infla má vel, que por
sua vez funcionaram como anteparo à propagação das chamas, impedindo que o fogo se alas-
trasse para os andares superiores, limitando assim o incêndio apenas ao local onde se iniciou
(ver fig. 23.2.3).
Pó Sacada
Sacada [
Auxéncia de Material
Combustível
Vidro^
Sacada
|
Quentes no Andar do Foco
í L Foco de
Incêndio
Classe A: São materiais de fácil combustão com a propriedade de queimar em sua superfície e
profundidade, e deixam resíduos (tecidos, madeira, papel, fibras).
Classe B: São os produtos inflamáveis que queimam em sua superfície e não deixam resíduos
(óleos, graxas, vernizes, tintas, gasolina).
Apresentamos a seguir uma tabela com a temperatura de fulgor e de ignição de alguns materiais.
Tabela 22
As fontes de ignição na maioria dos incêndios geralmente são pequenas e evidenciam uma
íntima relação entre o risco de início de incêndio e o uso de materiais facilmente ignizáveis,
tais como: cortinas, mobiliários e artigos de decoração, que utilizam na sua composição madei-
ras, plásticos, algodão e outros materiais de fácil combustão. Normalmente, nesses casos a
propagação do fogo é muito rápida.
Por esse motivo e pela constatação de que quatro entre cinco incêndios em edificações têm
início a partir de pequenas fontes de calor, fica evidente a importância na seleção dos materiais
de acabamento e de decoração que são normalmente empregados. Dessa forma, se pode dizer
que o risco de início de incêndio está diretamente relacionado com o uso de materiais que
requerem um baixo nível de energia para se ignizarem.
Caso contrário, se no local onde tiver início o incêndio existirem grandes aberturas ou quais-
quer outros sistemas que permitam uma boa ventilação, a combustão será alimentada por um
tempo mais longo, permitindo a evolução do fogo a estágios mais desenvolvidos, dificultando o
combate e a contenção do incêndio.
O instante em que as chamas dominam todo o local e envolvem todos os materiais é chamado
de "flashover", ou seja, é o instante de inflamação generalizada, podendo ser considerado o
momento mais crítico de um incêndio (ver figs. 23.5.1 e 23.5.2).
O
Tempo
iàá \M
Ignição, Quoima da Alguns
Materials com Aquecimentos
_ Chamas _
Aumento de Chamas e
da Radiação do Calor
para os Materiais próximos,
Zona de
Queima
As Chamas Envolvem
todos os Matariais
o Dominam Rapidamente
o Local.
dos Materals Próximos Elevando sua Temperatura
ató Ignição A Zona de Queima se
Extende por todo Local
A figura 23.5.1 mostra um gráfico conhecido como modelo natural de incêndio, uma vez que
procura retratar a realidade o máximo possível. No entanto, como cada incêndio apresenta
uma curva temperatura/tempo diferente, resolveu-se adotar para efeito de ensaios e estudos
dos materiais um "incêndio-padrão", tomando-se por base uma curva padronizada de tempera-
tura/tempo, conforme mostra a figura 23.5.3.
Devemos ter em mente que a maioria dos ensaios reproduz apenas um aspecto limitado do
incêndio e, dessa forma, não pode identificar com precisão o comportamento e o desempenho
dos materiais numa situação real. Dessa forma, os resultados obtidos em ensaios dependem do
grau no qual a interação entre o material e a fonte de calor reflete a dinâmica do incêndio.
Na verdade, cada incêndio representa uma situação única, tendo sua própria curva de tempe-
ratura/tempo, uma vez que depende de diversos fatores que se inter-relacionam e variam para
cada tipo de ambiente. Destacamos a seguir alguns desses fatores que podem ser considerados
como os principais:
Durante a terceira fase a temperatura vai diminuindo, porém o seu efeito não deve ser
desprezado, pois ainda mantém valores elevados de temperatura por um longo período,
capazes de agravar seriamente os danos nos elementos de construção iniciados na se-
gunda fase.
A propagação das chamas de um ambiente para outro no mesmo nível vai depender de: quan-
tidade e propriedade dos materiais combustíveis existentes no recinto, razão da queima que é
controlada pela ventilação do local e finalmente pela capacidade de as paredes, divisórias e
portas resistirem ao fogo.
A propagação do fogo de um andar para outro ocorre de duas formas: internamente, através de
escadas, dutos de ventilação, ar condicionado e aberturas para passagem de dutos hid'áulicos/
elétricos; e externamente, pelas janelas.
Algumas medidas como portas corta-fogo nas escadas e antecâmaras e dutos de ar condiciona-
do com registro corta-fogo são eficientes para inibir a propagação das chamas internamente;
em contrapartida, as soluções arquitetônicas que utilizam as chamadas "pele de vidro" nas
fachadas de prédios comerciais têm facilitado a propagação do fogo externamente.
A propagação do fogo nos materiais pode ocorrer de três formas: transversal, superficial e "post-
combustão"; esta última se refere a fenômenos complexos que ocorrem no interior dos materi-
ais após terem cessado as chamas e corresponde a uma reação interna do oxigênio com o
combustível sólido sem manifestação exterior na fase inicial. Porém, constitui uma forma parti-
cular de combustão que obriga a grandes trabalhos de rescaldo para se evitar o risco do
surgimento de novos focos de incêndio.
A propagação transversal pode ser descrita como aquela em que a combustão se dirige para o
interior do elemento, ou seja, caminha no sentido da sua profundidade. Ensaios efetuados com
madeira mostraram que à medida que a combustão vai penetrando no material, vão resultando
as partes carbonizadas ricas em carbono e hidrocarbonetos pesados, que acabam funcionando
como isolante, dificultando a continuidade do processo.
A propagação superficial, como seu próprio nome diz, se dá pelo alastramento da chama
pela superfície do material, sendo essa uma das causas de grande desenvolvimento do fogo
em edifícios. O aquecimento progressivo da superfície do material a partir de um foco
localizado já em combustão é feito basicamente por convecção natural das chamas e mas-
sas de ar quente que se deslocam de forma ascensional, e por radiação térmica do calor
liberado pelo incêndio.
O s estudos com relação à resistência ao fogo dos elementos de construção têm por finali-
dade principal dar maior segurança às pessoas e evitar ou retardar tanto quanto possível o
colapso parcial ou total da edificação e, ao mesmo tempo, circunscrever o incêndio a uma
zona restrita junto ao local onde teve início, sem perigo para ambientes próximos e
edificações vizinhas.
Com isso surge o conceito de resistência ao fogo, como sendo o tempo durante o qual os ele-
mentos de construção, sujeitos a uma elevação padronizada de temperatura - incêndio-padrão - ,
mantêm a sua estabilidade no caso dos elementos estruturais, ou assegura a estanqueidade e o
isolamento térmico o caso de elementos separadores.
Apresentamos a seguir uma tabela resumida dos ensaios divulgados pelo IPT com relação à
resistência ao fogo de paredes construídas com materiais e técnicas nacionais, medindo 2,8 x
2,8 m e totalmente vinculadas por estrutura de concreto armado, sendo uma das faces total-
mente exposta ao fogo.
Tabela 23
Obs.: O ensaio foi encerrado sem ocorrência de falência em nenhum dos três critérios de ava-
liação.
Pelo exposto, podemos dizer que a resistência ao fogo dos elementos de construção cepende,
portanto, da severidade do incêndio, ou seja, do seu potencial destrutivo, que é determinado
pela evolução da temperatura ao longo do tempo.
23.8. A V A L I A Ç Ã O DA E S T R U T U R A N O I N C Ê N D I O
Quando analisamos as conseqüências do fogo nos elementos de concreto que formam uma
estrutura, devemos tentar definir alguns dados importantes, como a temperatura máxima a que
ficou submetido e, principalmente, por quanto tempo.
Determinar a temperatura exata de um incêndio em vários pontos distintos é praticamente
impossível; no entanto, podemos avaliar os níveis atingidos através do exame de alguns mate-
riais encontrados no local, tomando por base o seu ponto de fusão, conforme tabela abaixo:
Tabela 24
Precisamos ter em mente que, pela análise de materiais derretidos, podemos definir o nível de
temperatura atingido naquele ponto, o que pode não ser a realidade para outros locais; no
entanto, já é um parâmetro para se trabalhar.
O u t r a variável também difícil de ser avaliada é por quanto tempo aquele elemento de
concreto foi submetido a determinada temperatura, uma v e z que essa informação é
fundamental para se avaliar até que profundidade o concreto foi afetado pela elevação
da temperatura.
Outro fator que afeta o concreto é o resfriamento brusco provocado pela água de comba-
te ao fogo, que produz um choque térmico no elemento estrutural e tem sido em alguns
casos o maior responsável pelos danos no concreto, pois a água reidrata o C a ( G H ) , 2 in-
chando o concreto e produzindo fissuras a ponto de destacar o concreto que está cobrin-
do a armadura.
Nos casos de vigas e lajes que ficaram submetidas a elevadas temperaturas na sua face inferi-
or, é muito comum que ocorram deformações acentuadas e fissuras de tração e flexão. O ex-
cessivo calor provocará a dilatação das vigas, podendo fissurar os pilares por cisalhamento e
causar em alguns casos o colapso parcial ou total da estrutura.
Tendo em vista as dificuldades apontadas anteriormente, para se definirem os parâmetros de
tempo e temperatura atingidos pela estrutura de concreto, devemos tomar uma série de cuida-
dos ao se analisar uma edificação sinistrada.
Inicialmente é necessário que se faça um exame detalhado de todos os elementos que formam
a edificação, objetivando identificar quaisquer anomalias possíveis de serem percebidas a olho
nu, a fim de se aferir numa primeira análise as reservas de resistência que ainda sobraram.
Esse procedimento permitirá identificar e quantificar as áreas que deverão ser restauradas e/ou refor-
çadas, bem como orientar para o processo de reforço mais adequado técnica e economicamente.
Para se fazer essa avaliação da estrutura, podemos adotar os critérios abaixo especificados,
desde que supervisionados por engenheiro especializado.
Estes testes podem ser analisados com mais detalhes no capítulo 16.
• Água
• Cimento
• Agregados
• Armaduras
Quando o concreto atinge temperaturas menores ou iguais a 300°C, não se altera a composição
química dos constituintes, ocorrendo apenas a perda de água ligada fisicamente a ele.
No entanto, para temperaturas superiores a 400°C, começa a existir a perda de água ligada
quimicamcntc ao concreto; nessas condições, ocorrerá uma queda considerável na resistência
do concreto, como se pode ver na tabela 26 existente no item 23.9.5.
2 3 . 9 . 2 . Características do C i m e n t o no Concreto A q u e c i d o
Para concretos que empregam cimento Portland comum e agregados usuais, temperaturas de
até 300°C alteram muito pouco as suas qualidades mecânicas; para temperaturas mais eleva-
das, é preferível a utilização de cimento aluminoso e posolâmico.
2 3 . 9 . 3 . Características do Agregado no C o n c r e t o A q u e c i d o
Em caso de incêndio, o que ocorre com o concreto depende em grande parte do comportamen-
to do agregado quando diante de elevadas temperaturas. Os agregados se comportam bem até
3 0 0 ° C ; a c i m a desse valor eles começam a ter uma dilatação excessiva, provocando o
fissuramento do concreto.
Os calcários são menos afetados pelo fogo devido ao seu coeficiente de dilatação de 0.8 x 10'5
por grau Celsius, mais baixo que o de granito, 1,0 x IO 5 . Além disso, o calcário tem reações
endotérmicas quando aquecidos; no entanto, quando atinge 900°C, eles podem se decompor
liberando C O „ CAO e MgO.
O granito e o gnaisse fissuram-se acima de 500°C por mudança do quartzo com o calor. O
basalto não se altera com o calor; seu comportamento assemelha-se ao da argila expandida e
ao da escória. Concretos com alto teor agregado/cimento comportam-se muito melhor em ca-
sos de incêndio do que os de baixo fator.
O s aços resistem bem até 350°C, havendo mesmo um incremento de resistência à tração
até essa temperatura, caindo vertiginosamente para temperaturas acima desses valores
(ver fig. 23.9.4.a).
Por outro lado, o seu módulo de elasticidade diminui consideravelmente, permitindo deforma-
ções acentuadas, como mostra a tabela 25.
Fig. 23.9.4.a Variação da resistência do aço com a elevação da temperatura
Por sua vez, o aço apresenta coeficiente de dilatação diferente do concreto e, por esse
motivo, gera esforços de tal grandeza que pode trincar a peça de concreto no seu sentido
longitudinal, podendo ocorrer mesmo em elementos sujeitos à compressão, como no caso
dos pilares.
Outro fator importante a ser levado em consideração é o cobrimento das armaduras; quando
estão muito na superfície do elemento estrutural, o concreto não consegue proteger a ferragem
do calor por muito tempo, permitindo romper o concreto com maior facilidade, uma vez que se
aquecem e se resfriam com mais facilidade, primeiramente devido ao fogo e depois pela água
utilizada no combate ao fogo, que provoca um choque térmico e fissuras a ponto de destacar o
concreto que está cobrindo a armadura.
Cobrimentos de 3 cm dão proteção à armadura por um período inferior a duas horas, oorém 5
cm de proteção já são suficientes para garantir uma proteção de 3 a 4 horas. As argamassas
mistas de cimento, areia e cal, normalmente usadas em revestimento, não têm se mostrado
eficiente como proteção, por se desagregarem com as temperaturas normalmente atingidas
durante um incêndio.
Por sua vez, o gesso constitui uma excelente proteção para o concreto, apesar de não ser
utilizado entre nós com essa finalidade, e uma camada de 3 cm é capaz de conferir uma
proteção de até 4 horas.
Quando o aço fica submetido a temperaturas superiores a 365°C, pode apresentar o fenômeno
da deformação progressiva, denominado de fluência. Nessas condições, não ocorre a ruptura
característica por estricção (ver fig. 23.9.4.b).
Nesses casos devemos fazer uma análise patológica do aço em edificações vitimadas por incên-
dio, retirando uma amostra da barra para ensaios de tração em laboratório. O local ideal para se
remover um segmento da ferragem é nos pontos onde o cobrimento do concreto se encontrar
danificado, condição em que a armadura provavelmente ficou exposta a altas temperaturas.
2 3 . 9 . 5 . D a n o s no C o n c r e t o D e v i d o a Incêndio
Como já foi dito, os danos causados pelo fogo no concreto depende de dois fatores básicos: o
tempo de exposição do elemento estrutural e a temperatura que o concreto atingiu, parâmetros
estes na maioria das vezes difíceis de serem avaliados com precisão, principalmente pelo
fato de o concreto apresentar um gradiente acentuado de queda de temperatura no seu inte-
rior (ver fig. 23.9.5).
Algumas bibliografias citam, sem fornecer a origem, uma correlação entre as cores que um
concreto pode adquirir (rosa, cinza avermelhado, amarelo-claro e amarelo) em função do nível
de temperatura que a sua superfície atingiu.
Nos casos em que tivemos oportunidade de participar não constatamos nenhuma evidência
nesse sentido. Nos ensaios de laboratório realizados pelo Bauer, também não constataram essa
ocorrência. Motivo pelo qual não apresentamos neste trabalho tal tabela, mesmo porque, na
maioria dos sinistros de incêndio, o concreto normalmente está impregnado de fuligem, ficando
na cor natural apenas nos casos em que ocorreu o desprendimento da argamassa, devido ao
choque térmico provocado pela água de combate ao fogo.
Quando se deseja saber com precisão a intensidade dos danos provocados no concreto pelo
incêndio, devemos fazer alguns ensaios específicos em laboratório, que dependerão da extra-
ção de amostras nos pontos considerados mais atingidos pelo calor do incêndio.
Isso é comum de ocorrer, uma vez que a face diretamente atingida pelas chamas aquece
muito mais que as partes internas da peça, devido ao gradiente térmico do concreto mostrado
na fig. 23.9.5.
Nessas condições, o resultado do teste não vai retratar a realidade da situação, possibilitando
uma interpretação errada das verdadeiras condições do elemento estrutural naquele ponto.
A Associação Brasileira dc Cimento Portland tem realizado com sucesso as análises Térmicas e
de Microscopia Eletrônica. Esses ensaios de laboratório são de extrema importância para se
avaliar corretamente os danos produzidos pelo incêndio, permitindo com isso que se projetem
com segurança e economia os restauros e reforços necessários.
23.10. C O M P O R T A M E N T O D O A Ç O N O I N C Ê N D I O
O aço não se comporta bem diante de temperaturas elevadas, necessitando, portanto, de uma
atenção especial durante um incêndio. Nesse sentido, vamos analisar de forma superficial al-
gumas características do aço, objetivando estudar o seu comportamento quando ocorre um
sinistro de incêndio.
Abordaremos este tópico dos metais pela importância que representa o conhecimento :1o com-
portamento dos metais quando aquecidos e resfriados de várias formas, principalmente nos
casos de incêndio em edificações executadas com estrutura metálica.
A constituição do aço é formada essencialmente por uma liga de ferro e carbono, sendo que
apenas parte das suas propriedades é determinada pela proporção entre esses elementos. Po-
rém, é de grande importância a forma como eles se combinam, e nesse sentido o tratamento a
quente pode alterar essa distribuição.
Com relação à dureza, o aço pode variar de bem macio a bem duro, e através do tratamento
térmico se consegue caminhar de um pólo a outro. Isso se torna importante quando se deseja
um aço macio para ser moldado e, depois de atingir o formato desejado, que o mesmo tenha
dureza elevada.
De uma forma resumida, podemos dizer que, quando aquecemos um aço com 0,6% de C, a
800°C aparece a austenita; se deixado esfriar naturalmente a 648°C, forma-se a perlita, que
permanece, tendo dureza Brinell 200; se for resfriado rapidamente de 800°C até 315°C, então
teremos a formação de outro cristal, a bainita, de dureza Brinell 550; no entanto, se for resfriado
rapidamente de 800°C até os 125°C, sem dar tempo de formar a perlita ou a bainita, então
teremos um novo cristal, a martensita, de dureza Brinell 650.
Pode-se dizer que o aquecimento elevado do aço por algum tempo e o seu resfriamento brusco
é tratamento de Têmpera, que aumenta a dureza, o limite de elasticidade, a resistência à tra-
ção, porém diminui o alongamento e a tenacidade.
Normalmente a perlita, a bainita e a martensita são estruturas muito quebradiças e para o uso
estrutural necessitamos de aços mais maleáveis; isso pode ser conseguido aquecendo-se
novamente a perlita, por exemplo, a altas temperaturas e resfriando-se novamente de forma
controlada. Dessa forma, teremos um aço com a mesma resistência da perlita, porém muito
menos quebradiço.
O processo de aquecer o metal até determinadas temperaturas por determinado tempo e resfri-
ar de forma controlada, com maior ou menor velocidade, confere inúmeras propriedades ao
aço. Mostraremos a seguir, de forma simplificada, dois processos de tratamento térmico, ape-
nas para dar uma idéia de como a variação controlada da temperatura altera significativamen-
te as propriedades do aço.
Normalização: Aquecer o aço até 800°C por 15 minutos e resfriar lentamente resulta num ma-
terial mais macio, menos quebradiço.
Tempera: Aquecer até 900°C e resfriar bruscamente até 200"C aumenta dureza e resistência,
porém diminui a ductibilidade e a tenacidade.
Existem outros tratamentos dados ao aço com a finalidade de alterar suas características; no
entanto, fogem ao escopo deste trabalho, que é dar apenas uma idéia da importância da varia-
ção da temperatura no comportamento do aço.
De forma resumida, podemos dizer que Baixas Temperaturas (países de clima muito frio)
implicam perda da ductibilidade e tenacidade, conduzindo a uma ruptura frágil. As Altas
Temperaturas (casos de incêndio) resultam em reduções acentuadas na sua capacidade de
resistir a esforços.
2 3 . 1 0 . 2 . A ç o s Resistentes ao Fogo
São derivados dos de alta resistência, em que se adicionam outros elementos químicos, sendo
os principais: níquel, titânio, vanádio, molibidênio, e a finalidade é aumentar o tempo de início
de deformação da estrutura.
23.11. C O M P O R T A M E N T O DAS E S T R U T U R A S DE A Ç O N O S I N C Ê N D I O S
150
e
3
Q. 130
3
cc
: Resistência após Resfriamento
100
90
50
Na maioria das vezes as estruturas metálicas não são adequadamente protegidas e então so-
frem colapso total ou parcial durante um incêndio, ou apresentam deformações exageradas,
implicando quase sempre a necessidade de refazê-la totalmente.
O aumento de temperatura nas estruturas de aço provoca também grandes dilatações nos seus
componentes, gerando deformações excessivas e conseqüentes elevações de tensões nos nós
de ligação, comprometendo assim a estabilidade do conjunto estrutural.
Na eventual hipótese de a estrutura de aço resistir, sem ruir ou apresentar deformações acentu-
adas, devemos então tomar o cuidado de analisar criteriosamente as condições das ligações,
se não sofreram trincas nas soldas ou parafusos devido à dilatação do conjunto. Verificar tam-
bém a integridade dos elementos que formam a estrutura, se eles não flambaram, defomaram-
se ou sofreram redução de seção.
Para se avaliar as condições remanescentes das características da estrutura metálica após
um incêndio, devemos verificar a evolução da temperatura do aço, fazendo um estudo le-
vando-se em conta o gráfico tempo/temperatura, que procura simular o incêndio o mais pró-
ximo da realidade, sendo conhecido como modelo de incêndio natural. Esse modelo resultou
de ensaios realizados em áreas compartimentadas, que por sua vez demonstraram que essa
curva depende do tipo e quantidade do material combustível, bem como do grau de ventila-
ção (ver fig. 23.1 1.3).
Temperatura °C
Por sua vez, esses estudos levam em consideração também o fator de massividade do elemento
estrutural, que é a relação entre o perímetro e a área da seção transversal, o que significa dizer
que para dois corpos metálicos atingirem a mesma temperatura, o que tiver maior área de
seção transversal irá absorver mais calor, considerando-se que ambos tenham as mesmas su-
perfícies expostas ao fogo.
Uma vez que as estruturas metálicas apresentam elevado risco de colapso, é recomendado
que se execute uma proteção eficiente do elemento metálico, com a finalidade de se criar uma
barreira de proteção térmica contra o fogo, cuja finalidade é impedir ou retardar o aquecimento
do elemento estrutural de aço, permitindo que a estrutura possa resistir por mais tempo sem
sofrer colapso.
Nesse sentido, existem vários processos em que se empregam materiais de proteção passi-
va, que cumprem a função de proteger a estrutura metálica da ação direta do fogo em
casos de incêndios.
Apresentamos a seguir uma relação dos materiais que estão sendo mais utilizados para se
fazer um encapsulamento dos elementos metálicos, ou seja, executar uma camada de reves-
timento cuja finalidade é retardar o máximo possível a evolução da temperatura do aço em
caso de incêndio.
No gráfico da Fig.23.12.1, podemos ter uma idéia da evolução da temperatura do aço sem e
com proteção térmica, em relação à curva de temperatura do incêndio-padrão.
Temperatura
23.13. C O N T R O L E DA P R O P A G A Ç Ã O DA C H A M A E DA F U M A Ç A
A fumaça gerada JXÍIOS incêndios tem sido motivo de grande preocupação em todo o mundo, princi-
palmente pelo falo de as estatísticas mostrarem que ela é a responsável por mais de 80% das mortes.
Por outro lado, a fumaça também tem sido a causa de grandes danos materiais, uma vez que
consegue impregnar com fuligem grandes superfícies, difíceis de serem removidas, ac mesmo
tempo em que deixa um cheiro característico que cada vez fica mais forte em função do uso
crescente de materiais sintéticos empregados na elaboração da obra e dos mobiliários.
Os estudos da problemática das chamas e da fumaça estão sendo desenvolvidos nos países
mais avançados, mas ainda são superficiais; no entanto, já apontam para a necessidade de se
conceituar claramente as chamadas rotas de fuga e, principalmente, se projetar pensando na
possibilidade de se compartimentar o incêndio.
C o m isso se pretende criar ambientes estanques de tal forma que não haja propagação
das chamas, do calor e da fumaça. Condição difícil dc conseguir em função das abertu-
ras de portas, janelas, dutos de ar condicionado e passagens de dutos das instalações
hidráulicas e elétricas.
O mercado da construção civil oferece algumas soluções para amenizar o problema das aber-
turas, dentre elas temos os detectores de fogo e/ou fumaça que acionam um sistema automático
para fechamento das portas e dos registros corta-fogo nos dutos de ar condicionado, com a
finalidade de evitar a passagem do fogo e da fumaça para outros ambientes.
23.14. P R O T E Ç Ã O D O S E D I F Í C I O S C O N T R A I N C Ê N D I O S
" U m pequeno incêndio ocorre quando alguma coisa está errada; um grande incêndio ocorre
quando várias coisas estão erradas."
Podemos dizer que um edifício é seguro contra incêndio quando há baixa probabilidade de
início de um foco de incêndio, ao mesmo tempo em que há uma alta probabilidade de todos os
seus ocupantes evacuarem o prédio sem que sofram danos pessoais.
Por sua vez, se o fogo vier a ocorrer, ele deverá ficar confinado ao local onde teve início, não
se propagando para outros ambientes ou outras edificações, e finalmente que os danos à propri-
edade e à segurança do imóvel sejam os menores possíveis.
O conjunto de medidas de prevenção contra incêndio deve ser adotado inicialmente na fase de
projeto, levando em consideração o tipo das atividades que serão desenvolvidas em cada local
da edificação, para prever a compartimentação vertical e horizontal dos ambientes, objetivando
confinar o foco de incêndio na sua origem.
Um fator que tem gerado uma rápida propagação do fogo é a grande utilização de materiais
combustíveis no acabamento e decoração das unidades comerciais e residenciais. Sendo as-
sim, devemos especificar o máximo de materiais incombustíveis.
Por sua vez, a indústria nacional vem se desenvolvendo significativamente e tem atualmente
potencial para abastecer o mercado com materiais que atendam melhor aos quesitos de segu-
rança quanto à propagação de chamas.
O sucesso da operação, por sua vez, vai depender também do conjunto de equipamento e
sistemas existentes para a detecção e combate ao fogo. Nesse momento é importante q j e todos
os equipamentos estejam em boas condições, o que implica uma manutenção adequada e
constante de todo o sistema.
Especificamos a seguir (sem ordem de prioridade) alguns aspectos que consideramos importan-
tes de serem observados na elaboração de um projeto predial, para que se possa ter uma con-
dição adequada de proteção contra incêndio:
Se todas essas providências forem tomadas em nível de desenvolvimento dos projetos, execu-
ção da obra, manutenção e treinamento dos usuários, então, teremos os instrumentos necessá-
rios para minimizar os possíveis danos provocados por um sinistro de incêndio, implicando a
preservação de vidas e na proteção do patrimônio.
24 Sinistros devido à execução
de outras edificações
24.1. GENERALIDADES
A execução de alguns tipos de obra implica muitas vezes num risco à segurança das edificações
vizinhas, principalmente quando essas são de pequeno porte ou muito antigas e já apresentam
alguns sinais de instabilidade, tais como desaprumos, trincas na estrutura e alvenarias.
Podem apresentar também outros problemas, como infiltração de umidade pelas bases das pa-
redes, vazamentos nas tubulações hidráulicas e ataque de cupins, sendo este último de grande
importância quando temos estruturas de sustentação em madeira.
Hoje em dia, com o avanço tecnológico, é possível se construir grandes edifícios, que por sua
vez exigem fundações especiais e grandes escavações para abrigar todas as garagens neces-
sárias a um empreendimento moderno.
Nessas condições, a nova edificação vai causar uma perturbação no equilíbrio natural da re-
gião, começando pela movimentação de veículos e equipamentos pesados nas imediações,
passando pelas escavações iniciais, rebaixamento do lençol freático, execução de tirantes
para as cortinas de contenção e finalmente devido à cravação das estacas.
No entanto, devemos alertar que muitos sinistros são provocados por pequenas obras,
que pelo seu reduzido porte acabam não recebendo os devidos cuidados dos profissio-
nais envolvidos, É o caso c o m u m de escavações ou aterros executados sem os devidos
cuidados, provocando desmoronamentos e não raro a morte de operários e moradores
vizinhos.
Analisaremos a seguir algumas condições de obras que são responsáveis pelo maior número de
sinistros nas edificações vizinhas já existentes.
24.2. D E V I D O A ESCAVAÇÕES, ATERROS ETRATAMENTO I N A D E Q U A D O
DOSTALUDES
Neste capítulo, queremos inicialmente falar das pequenas obras, que normalmente não rece-
bem a atenção devida de seus proprietários, que na grande maioria deseja obter custo mínimo
e lucro máximo, seja para uso próprio, seja para locação e para comércio. Nessas condições,
muitas vezes o engenheiro responsável se deixa envolver por esse clima de economia e tam-
bém acaba não dando a atenção que o caso requer.
Devemos ter sempre presente que essa pseudo-economia, via de regra, se transforma posterior-
mente em grandes prejuízos financeiros, quando se tem de fazer reforço e restaurar os danos
causados por uma solução inadequada. O problema se torna mais grave quando isso implica a
perda de vidas.
Para tanto, precisamos ficar atentos a todo tipo de obra que implique corte ou aterro, mesmo
que seja de pequeno porte, pois nesses casos é comum ocorrer a ruptura de um talude e atingir
operários ou moradores de edificações próximas.
No caso de corte em terrenos aparentemente firmes, a ruptura muitas vezes ocorre devido ao
desconfinamento lateral do solo e à infiltração de água, provocando assim a queda de blocos
de terra em tamanho suficiente para colocar em risco os operários que estiverem trabalhando
no pé do talude, ou derrubar casas próximas, como tem ocorrido com muita freqüência nesse
tipo de obra (ver figs. 24.2.1 e 24.2.2).
Aterro
Doslizamanto do Atorro
Solo Natural
Tendo isso em mente, aconselhamos que todas as obras de escavação e movimentação de terra
sejam acompanhadas por engenheiro especializado em mecânica dos solos. Agindo assim,
estaremos minimizando os riscos, aumentando a segurança da obra e com certeza protegendo
também o capital do investidor ou proprietário do empreendimento.
Para evitar esse tipo de sinistro, os cuidados a serem tomados devem ser os mesmos preconiza-
dos para construções de maior porte, através da execução de obras de contenção provisórias,
taludes com inclinação estável e devidamente impermeabilizados, com uso de lona plástica,
tintas betuminosas ou aplicação de argarnassa.
Devemos prever também um sistema eficiente de captação, condução e lançamento das águas pluvi-
ais ou servidas, até um local apropriado que não cause erosão ou outro tipo de dano à vizinhança.
A cravação de perfil metálico junto à divisa normalmente produz pouca vibração no solo e
conseqüentemente resulta em poucos danos para a edificação vizinha.
Essa etapa da obra exige cuidados e atenção especial por parte do engenheiro responsável,
pois haverá necessidade de se executar esse trabalho em fases, abrindo-se os chamados ca-
chimbos de acesso às fundações do vizinho. Esse procedimento visa minimizar os riscos de
uma ruptura do talude, o que poderia comprometer a estabilidade da edificação vizinha.
Por sua vez, a submuração não tem condição de absorver o empuxo da terra, o que torna
necessária a execução de estruturas de contenção, ligadas às estacas metálicas, para garantir
a estabilidade do conjunto.
Quando as etapas construtivas implicarem a existência de taludes provisórios, estes deverão
receber tratamento adequado para proteger a sua superfície contra a ação das águas pluviais,
servidas ou lançadas provisoriamente no terreno onde se edifica.
Nesse sentido, podemos impermeabilizar a superfície do talude utilizando lona plástica, tintas
betuminosas ou aplicando argamassa com tela em sua superfície. No caso de águas lançadas
pelos vizinhos no terreno, os mesmos deverão ser notificados para corrigir o problema o mais
rápido possível. No entanto, enquanto se aguardam as devidas providências, o que pode demo-
rar em função de tratativas algumas vezes complicadas, convém que se faça um sistema de
captação e lançamento dessas águas, de forma a impedir que venham a desestabilizar as obras
de terra e causarem maiores transtornos.
A execução de tirantes para estabilizar as estruturas de contenção junto às divisas também tem
provocado perturbações nas edificações vizinhas, resultando cm acomodação dos pisos o
recalques diferenciais nas fundações.
Como se trata de processo que exige técnica e conhecimento específicos, deve ser execu-
tado por empresa especializada. Recomendamos que nesses casos se faça um acompanha-
mento, desde o início da obra, por engenheiro especializado em mecânica dos solos. Agin-
do assim, será possível corrigir a tempo e de forma correta eventuais problemas que pos-
sam surgir.
Devemos ficar atentos também às especificações de projeto com relação às etapas execu-
tivas das fundações e estrutura, principalmente no que diz respeito ao travamento das cor-
tinas em todos os pavimentos que forem sendo escavados; caso contrário, poderá ocorrer
uma ruptura.
Isso pode acontecer quando se têm vários níveis de subsolos em que a cortina foi executada
antes das escavações; e para ter sua estabilidade garantida precisa ser travada em Iodos os
níveis. Por uma questão de prazo e facilidade executiva, o construtor resolve pular um travamento,
o que resulta quase sempre num sinistro que prejudica a obra e a edificação vizinha.
Outra situação de risco são os aterros executados sem nenhum tipo de controle e apoiados em
estruturas de contenção sem fundação adequada e quase sempre com estruturas deficientes, o
que pode causar sinistros com vítimas fatais.
Sendo assim, uma situação de risco é quando o aterro da obra gera uma sobrecarga
considerável com aumento do empuxo no muro executado pelo vizinho, provocando o
seu colapso. Outra situação é devido à possibilidade de o muro de arrimo tombar sobre a
edificação existente, por uma falha no projeto ou na e x e c u ç ã o da infra-estrutura ou da
superestrutura, sendo que em qualquer um dos casos os danos poderão ser elevados (ver
fig. 2 4 . 2 . 4 ) .
Risco - 1 : 0 Muro não Resiste o Empuxo da Terra e Tomba Sobre a Edificação Existente
Risco - 2 : 0 Solo Existente não Suporta o Acrécimo de Carga Provocado pelo Aterro e Rompe,
Provocando o Colapso da Edificação Existonto
Outro tipo de sinistro comum de ocorrer é quando se corta o pé de taludes de aterros, principal-
mente quando esses não foram executados de forma adequada; nesses casos, ocorre quase sem-
pre um deslizamento do maciço terroso na superfície de ligação do solo natural com o aterro.
Nas obras de terraplenagem, para se executarem estradas, ruas e vias expressas, quando se
escava sem levar em consideração essa possibilidade, o engenheiro da obra pode ser pego de
surpresa, uma vez que o deslizamento do talude e o colapso das edificações que estiverem
sobre ele acorrem num curto espaço de tempo.
Para evitar esse tipo de acidente, devemos levantar sempre o histórico da região onde se pre-
tende fazer qualquer tipo de movimentação de terra. Agindo assim, poderemos antecipar medi-
das de prevenção e evitar custos adicionais, atrasos no cronograma e principalmente os danos
pessoais, que em muitos casos não podem ser reparados (ver fig. 24.2.5).
Corte no Pé do Talude
para Construção de Rua Solo Natural
A fim de resolver esse tipo de problema, é preciso obter todas as informações necessárias para
se desenvolver um projeto que tenha um excelente desempenho técnico e econômico, sendo
que a solução adequada pode ir de um simples muro de arrimo até soluções mais sofisticadas,
com estruturas atirantadas com capacidade de absorver empuxos elevados (ver fig. 24.2.6).
1- Etapa
Executar Estrutura
de Contenção
BgpisP
Atorro Existonto
Corte no Pé do talude
para Construção de Rua Solo Natural
Estrutura de Contenção
(O Tipo de Solução Irá Variar para
Cada Situação)
A presença de água num terreno onde se pretende construir é sempre motivo para se redobra-
rem as atenções, seja ela proveniente de qualquer fonte. Alguns casos aparentemente mais
simples, como vazamentos em dutos hidráulicos ou infiltrações de origem desconhecida, po-
dem surpreender se não forem tratadas com o devido cuidado, às vezes assumindo proporções
capazes de provocar sérios danos em determinadas situações, caso o volume venha a aumen-
tar consideravelmente por um motivo não previsto.
Em determinadas situações, logo após o início das escavações, podemos encontrar a presença
de água percolando pelo terreno, sem ser proveniente do lençol freático. Então, é necessário
verificar a possibilidade de vazamentos em dutos hidráulicos existentes nas proximidades, prin-
cipalmente quando se está ao lado de vielas sanitárias ou faixas de servidão.
Da mesma forma como foi recomendado anteriormente, devemos primeiro sanar todo tipo de
infiltração de água para dar seqüência, com segurança, às obras de escavação e movimenta-
ção de terra.
Outra situação que requer muita atenção em função da gravidade que representa para a obra e
todas as edificações existentes na proximidade, é a constatação de mina de água no subsolo.
Essa situação exige atenção especial, através de uma avaliação correta da extensão do proble-
ma, procurando-se localizar com exatidão a nascente e determinando a sua vazão.
O rebaixamento do lençol freático se faz necessário quando o nível da água está muito próxi-
mo da superfície e se pretende construir abaixo dele, ou sempre que as escavações do terreno
não puderem ser feitas na presença de água, em função do tipo de solo existente no local.
Nesses casos, a solução é providenciar o rebaixamento do lençol freático, o que pode ser feito
através da cravação de várias hastes metálicas (perfuradas ao longo de sua superfície) ao redor
da obra e ligadas por um tubo coletor a uma bomba de vácuo. A finalidade é criar uma sucção
da água através dos tubos por meio de uma redução de pressão no interior desses, e com isso
rebaixar o nível do lençol freático (ver fig. 24.4.1).
Corte
Tubo Coletor
Metálicas
Nivel do
Nível Origina
da Água
Nivel de água
rebaixado
Ponteira
Cortina de Contenção
N.A. Inicial
Bombas
N.A. Rebaixado
Todas as obras que implicam a necessidade de rebaixamento do nível natural de água do solo
local são de muita responsabilidade e, para tanto, requerem a presença de engenheiro especi-
alizado; caso contrário, o risco de sinistro se torna muito grande.
O rebaixamento do lençol freático tem sido a causa de inúmeros sinistros na história da construção
civil, motivo pelo qual devemos tomar todos os cuidados necessários para garantir que a execução
desse trabalho não cause danos além do previsto, uma vez que fazer um rebaixamento é sempre
uma obra de risco para as edificações próximas, principalmente aquelas com fundação rasa.
O que ocorre durante um rebaixamento do lençol freático é que, com a retirada da água do
solo, aumenta a pressão efetiva e, nessas condições, ocorre um maior adensamento do solo,
resultando conseqüentemente num recalque dos elementos de fundação que estiverem apoia-
dos sobre esse material.
O rebaixamento do nível de água pode causar sérios danos à obra em execução no caso de o
processo de drenagem ser interrompido por qualquer motivo e o nível voltar a subir e colocar
em risco a segurança da obra e de seus executores.
No processo de rebaixamento podem ocorrer sinistros nas edificações próximas à obra, uma
vez que o efeito do rebaixamento do lençol freático poderá afetar o comportamento das funda-
ções, resultando em trincas a 45° nas alvenarias e, dependendo do nível de afundamento dos
elementos da fundação, levar essas edificações ao colapso (ver fig. 24.4.3).
Fig. 24.4.3. Rebaixamento do lençol freático
Para tanto, devemos nos preocupar com os processos de rebaixamento do lençol freático em
dois aspectos importantes: primeiro, com as características do solo local e do tipo de fundação
das edificações vizinhas; e, depois, com as conseqüências para a obra se ocorrerem eventuais
interrupções no processo de rebaixamento.
No item 4.8, abordamos também alguns aspectos referentes ao rebaixamento do lençol freático
e suas conseqüências.
As estacas pré-moldadas de concreto e as estacas do tipo Frank são as que causam mais pro-
blemas na vizinhança, uma vez que são capazes de produzir vibrações elevadas durante a sua
cravação e provocar trincas generalizadas nos vizinhos, chegando em alguns casos a levar ao
colapso algumas delas, principalmente quando se trata de edificações executadas sobre funda-
ção direta em solo de baixa capacidade.
A estaca do tipo Frank é sem dúvida a mais danosa, devido ao elevado nível de vibração que
produz no entorno da obra, tendo cm vista que o seu processo de execução implica a uíilização
de equipamentos de grande porte, com emprego de pesados pilões de aço, principalmente na
fase de expulsar o concreto cio interior da estaca para fazer a sua base.
Esse problema se faz sentir com maior freqüência nas edificações próximas de pequeno porte,
nas quais quase sempre as fundações são precárias. No entanto, mesmo edificações maiores
como prédios residenciais ou comerciais com vários andares, às vezes podem ser afetadas
pelas vibrações durante a execução dessas estacas.
Na cidade de São Paulo, tivemos a oportunidade de verificar esse tipo de ocorrência em prédi-
os com mais de dez andares, que tiveram recalques diferenciais durante a execução de esta-
cas do tipo Frank no terreno vizinho.
Por sua voz, as estacas do concreto para cargas elevadas também podem produzir vibrações
capazes de trincar e até derrubar edificações vizinhas de pequeno porte, ou, como no caso das
estacas do tipo Frank, provocar acomodações diferenciais nas fundações de prédios próximos;
principalmente se as estacas tiverem que atravessar uma camada mais resistente do solo, o que
vai exigir mais energia de cravação e conseqüentemente maior vibração no entorno da obra.
Quando se tiver de executar qualquer tipo de fundação capaz de produzir vibrações significati-
vas, devemos obrigatoriamente fazer uma avaliação criteriosa de todas as edificações próximas,
com levantamento das suas condições atuais, do tipo de fundação existente para cada uma e da
capacidade individual que elas terão para absorver as vibrações que serão produzidas.
Nos casos em que houver dúvida com relação ao comportamento das edificações vizinhas,
devido às vibrações que serão geradas durante a cravação das estacas, podemos pensar em
soluções alternativas que produzam vibrações menores, como Hélice Contínua, Estacas Esca-
vadas com Lama Betonítica ou Perfiz Metálico.
O s sinistros na engenharia civil predial, como foi mostrado nos capítulos anteriores, tom várias
causas, das quais destacamos os erros de projeto, emprego de materiais/componentes inade-
quados, falhas construtivas e ausência total de manutenção, ou, quando existe, é quase sempre
feita de forma inadequada.
Neste capítulo abordaremos a importância de um procedimento que ainda não é levado muito a sério
no Brasil e tem sido a causa de inúmeros sinistros na engenharia brasileira: a Manutenção Predial.
Como se pode perceber, define como medidas necessárias e cuidados técnicos indispensáveis
para garantir a conservação e funcionamento de alguma coisa. No nosso caso, seria a preser-
vação do edifício em boas condições de segurança e conforto. No entanto, como o conceito de
manutenção predial ainda não é um procedimento habitual, foi feita apenas uma referência a
equipamentos mecânicos, em que o processo de manutenção é uma realidade indispensável
para o bom funcionamento do mesmo e aumento da sua vida útil.
U m a edificação deve ser encarada à semelhança de um ser vivo, haja vista que sofre as mes-
mas influências do tempo, através do desgaste natural dos materiais e devido ao uso; além do
que muitas vezes é acometida por doenças mais ou menos sérias, como agressividade do meio
ambiente, ação do vento, oxidação das ferragens, ataque de cupins e fungos, até problemas
mais graves como os estruturais e de fundações.
Tudo isso colabora para o desgaste ou seu envelhecimento precoce; no entanto, como qualquer ser vivo,
se for tratada de forma preventiva, terá mais chance de aumentar de forma significativa a sua vida útil.
Muitos sinistros ocorrem pela falta de manutenção preventiva ou pela corretiva malfeita. Essa
situação se agrava principalmente em edificações e estruturas sujeitas a meios agressivos,
gorados por poluição urbana, industrial ou marinha, quo exigem cuidados especiais para ga-
rantir a segurança e longevidade do empreendimento.
Nos últimos anos, o Brasil se empenhou na construção de edifícios residenciais com a finalida-
de de reduzir o déficit habitacional; porém, não praticou ou buscou aprender sobre a manuten-
ção, resultando assim cm conjuntos de prédios com problemas crônicos, em que o processo de
manutenção não foi pensado e o custo para sanar os vícios de qualidade é muito elevado.
Podemos dizer que isso deverá mudar em médio prazo, mas até agora os trabalhos de manuten-
ção dos edifícios foram negligenciados e considerados como atividade de pouco prestígio, sem
atrativos e sem muita importância. No entanto, dentro de um universo globalizado, existe uma
grande preocupação por parte dos países mais desenvolvidos em se buscarem formas eficien-
tes para manter o estoque de edifícios existentes em bom estado e, ao mesmo tempo, desenvol-
ver projetos que permitam reduzir ou eliminar os custos de manutenção.
Nesse sentido, devemos nos concentrar em duas etapas distintas: a primeira seria no desenvolvimento
de métodos e processos eficientes de manutenção das edificações existentes; a segunda, ser a a con-
centração de esforços na elaboração dos projetos inteligentes não apenas no seu as|>ecto funcional,
mas também na preocupação de escolher, definir e detalhar com muita seriedade os com|X)nentes,
materiais, elementos, instalações e, principalmente, a facilidade de acesso a todos eles.
Podemos contar atualmente com técnicas de avaliação, desempenho e controle de qualidade para
propor soluções inteligentes que resultem em baixos custos de manutenção. O IPT (Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) tem colaborado muito nesse sentido, através de
estudos e pesquisas quanto à durabilidade dos componentes de uma obra, principalmente em rela-
ção aos materiais novos, em que se conhece muito pouco sobre o seu desempenho e vida útil.
Vamos tratar agora um pouco sobre os materiais ou componentes, tendo em mente que a sua
durabilidade pode ser definida como a capacidade de manter suas propriedades ao longo do
tempo, sob condições normais de uso. Essa durabilidade está associada à vida útil do produto; por
sua vez, a vida útil de uma edificação está condicionada à durabilidade de seus componentes.
Dessa forma, a previsão da vida útil é difícil de ser avaliada, em face dos inúmeros fatores que colabo-
ram na sua degeneração, bem como à complexidade dos mecanismos que interferem na durabilida-
de. Apesar dessas dificuldades, o IPT tem desenvolvido metodologias para estudar esses problemas.
Apresentamos a seguir, na fig. 25.1, algumas curvas que mostram quatro formas possíveis de se
avaliar uma variação de propriedades de um material/componente ao logo do tempo.
Fig. 25.1. Variação das propriedades de um material/componente ao longo do tempo
Para se fazer uma avaliação correta da vida útil de um produto, devemos levar em considera-
ção o comportamento de degradação anteriormente citado e acrescentar a influência dos ser-
viços de manutenção que deverão ser executados, tendo em vista que eles irão aumentar con-
sideravelmente a sua durabilidade, conforme mostra a fig. 25.2.
Nível Aceitável
do Dosempcnho
Tempo
Os trabalhos desenvolvidos pela Terotecnologia buscam aferir a freqüência com que se execu-
ta uma manutenção e, nesse sentido, estabelece o conceito da "confiabilidade", ao mesmo
tempo em que procura avaliar a facilidade com que se podem executar essas tarefas, e nesse
caso surge o conceito da "manutenibilidade".
Esses conceitos são utilizados para orientar os trabalhos de manutenção e principalmente para
balizar o desenvolvimento inicial dos projetos e permitir uma avaliação dos custos de manutenção.
Vamos abordar o conceito de degenerescência como sendo o processo pelo qual as edificações
perdem as suas qualidades funcionais e estéticas; nesse momento, os materiais/componentes e
instalações já não apresentam mais suas características originais. Na fig. 25.3, vamos encon-
trar uma curva teórica de perda de desempenho.
A situação se mostra totalmente diferente quando se passa a fazer uma manutenção preventiva
ou corretiva de forma correta, usual e planejada, como mostra a fig. 25.4.
A
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Desempenho
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•i
i
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• • ^ Tempo'
Manutenção
Recuperação
Quando se deseja fazer um planejamento da manutenção preventiva, ou seja, antes que o dano
aconteça, é importante ter conhecimento da curva característica de perda de desempenho de
cada material/componente ou partes da edificação.
No entanto, essa tarefa atualmente não é muito fácil, tendo em vista que se pode contar com
programas de manutenção para equipamentos industriais, sendo que o mesmo não ocorre com
a manutenção predial. A dificuldade inicial está no desenvolvimento e implantação do sistema,
no envolvimento das pessoas, no treinamento, na administração e principalmente na obtenção
de recursos financeiros.
Permitirá também que se faça um levantamento cadastral do edifício e das falhas existentes,
sendo que essas deverão ser diagnosticadas corretamente, determinando-se a origem, as cau-
sas, a extensão da falha e o mecanismo de formação, de tal forma que possa ter Iodos os
elementos necessários para se prescrever o tratamento mais adequado do ponto de vista técni-
co e econômico.
Devido à restrição econômica que todo plano de manutenção sofre, devemos estabelecer o
nível ótimo na relação custo/benefício, conforme mostram as figs. 25.5 e 25.6.
A= Custos Totais de Manutenção
e Reposição
B= Custos de Manutenção
Nível de Manutenção
C= Custos de Reposição
Custo de Manutenção
Economia e Manutenção
A degenerescência nas edificações se manifesta através de falhas que podem ter origem no
planejamento, projeto, definição dos materiais/componentes, execução da obra, uso e manu-
tenção inadequada.
Dessa forma, para aumentar a vida útil de um edifício e minimizar os custos de manutenção,
devemos definir alguns padrões de qualidade para todas as etapas da obra, iniciando pelo
planejamento, elaboração dos projetos, escolha dos materiais/componentes e finalmente a exe-
cução da edificação.
Vamos falar um pouco sobre Manutenção Preventiva, a fim de se cuidar antes para não ter do
arrumar depois, ou seja, evitar ou minimizar o ônus da manutenção corretiva; infelizmente
nossa cultura ainda não adotou esse conceito da manutenção preventiva da forma como deve-
ria para a construção civil, preferindo, via de regra, gastar para consertar depois que quebrou,
quando sem dúvida os prejuízos são sempre maiores.
A manutenção preventiva feita de forma eficiente e bem planejada resultará em enormes bene-
fícios financeiros para o proprietário e/ou usuário do imóvel, além do que implicará um aumen-
to de segurança, tendo em vista que qualquer problema será detectado logo na sua fase inicial
e resolvido de forma econômica, rápida e eficiente. O mesmo não ocorre quando o dano se
alastrou muito - às vezes de forma oculta e perigosa - , exigindo então intervenções de alto
custo e risco, que sempre causam um enorme desconforto para todos os envolvidos.
Por sua vez, a obra também deve se empenhar nos mesmos conceitos, buscando seguir a risca todos
os projetos, as normas brasileiras e as boas técnicas de execução, objetivando com isso atingir eleva-
dos níveis de qualidade, que por sua vez irão representar maior durabilidade do empreendimento.
Se as etapas de projeto e obra fizeram a sua parte, então devemos planejar o sistema mais
adequado de manutenção preventiva para cada edificação, tendo em mente que isso vai de-
pender da localização, das características do projeto, dos materiais empregados e sua vida útil,
bem como do tipo específico de uso.
Se for um hospital, o nível de manutenção deve ser mais freqüente e focado em determinadas
funções vitais para garantir o seu bom funcionamento. Os hotéis/flats e edifícios comerciais também
exigem uma manutenção preventiva mais constante, uma vez que neles as atividades são intensas.
Tudo isso parece simples e lógico, como de fato é; então vem a pergunta: por que não se faz
isso no Brasil? Acreditamos que se trata ainda de uma postura cultural que não se apercebeu de
todas as vantagens que a manutenção preventiva representa.
Na verdade o que se faz é tentar resolver o problema somente quando ocorre o dano e não tem
mais jeito; é nesse instante, sem programação e quase sempre de improviso, que se contrata em
caráter de urgência o primeiro profissional disponível e, como não há tempo para avaliar as
suas qualificações técnicas, o conserto é feito de qualquer forma e o mais rápido possível.
C o m atitudes desse tipo é que corre um grande risco de fazer errado e comprometer a
estabilidade da edificação e, conseqüentemente, a segurança de seus usuários; além disso,
vamos perder o conforto, o controle da qualidade e dos custos, sem contar que será neces-
sário enfrentar novamente o problema cm curto prazo, com todos os inconvenientes que
isso implicará.
A grande rejeição inicial dos responsáveis pelo imóvel é pensar que a despesa previamente
programada para a manutenção preventiva é um gasto desnecessário e que pode ser evitado
naquele momento; no entanto, não têm consciência de que corre um sério risco de ter de fazer
uma obra corretiva de última hora a um custo muito maior.
O fato é que na maioria das vezes eles não se preocupam em fazer uma comparação de custos
entre uma opção e outra para avaliar ao longo do tempo as vantagens de se checar periodica-
mente as condições da edificação e programar com antecedência os restauros necessários.
Na verdade esse pensamento é equivalente à mentalidade de não se fazer seguro, preferindo correr
o risco de perder tudo por acreditar que se está economizando o valor do prêmio a ser pago.
Tanto uma postura quanto a outra não são práticas nem econômicas, para não dizer pouco
inteligentes, uma vez que sempre resultam em maiores prejuízos e aborrecimentos fuluros.
Nesse sentido, podemos perceber o interesse de algumas empresas nacionais com a manuten-
ção preventiva, bem como de alguns investidores imobiliários que se deram conta da necessi-
dade de preservar o valor de um bem durável numa economia estabilizada.
26 Orçamentaçao de obras sinistradas
26.1. GENERALIDADES
A orçamentaçao de uma obra sinistrada não difere muito da convencional e deve seguir as
mesmas orientações preconizadas por profissionais como o Eng. Mozart Bezerra da Silva, es-
pecialista nesse tipo de trabalho.
A diferença é que precisa ser feita uma avaliação criteriosa dos serviços realmente necessários
para retornar a edificação às mesmas condições que existiam antes do sinistro. Condição que
deve ser levada a sério nos casos de sinistros prediais com seguro.
É muito importante numa obra sinistrada avaliar corretamente a real necessidade dos reparos que
devem ser executados na edificação sinistrada, principalmente nas estruturas de sustentação.
Para se fazer essas avaliações, com certo grau de precisão, é muito importante um estudo
detalhado e criterioso das condições do prédio antes e depois do sinistro. Para isso, devemos
em algumas situações mais complicadas recorrer a profissionais altamente especializados, que
após estudos e ensaios específicos poderão orientar para a solução de melhor desempenho
técnico e econômico.
De maneira geral, devemos definir claramente a extensão de todos os serviços que deverão ser
executados, para permitir uma correta orçamentação da obra e não elevar os custos dos restauros
além do necessário.
Nesses casos, para se conseguir um resultado uniforme de acabamento, algumas vezes é im-
prescindível refazer toda a região sinistrada, ou pelo menos uma parcela da mesma, desde que
se consiga preservar os padrões estéticos do imóvel.
No caso específico dos revestimentos cerâmicos, apenas impregnados pela fuligem do incên-
dio, é sempre aconselhável que se faça um teste de limpeza com empresas especializadas,
antes de pensar na demolição. A experiência tem mostrado que podemos obter resultados alta-
mente satisfatórios.
Quando se tratar de granitos ou mármores, também impregnados pela fuligem, podemos restau-
rar as peças com tratamento superficial executado por empresas especializadas, evitando os
elevados custos de demolição e reconstrução de materiais caros.
Sempre que os escombros estruturais inspirarem alguns cuidados, recomendamos, por medida
de segurança, a contratação de firmas especializadas para a sua demolição e remoção. Isso
pode implicar custos específicos que deverão ser previstos no orçamento das obras de restauro.
Nos sinistros de incêndio, algumas vezes as fundações são afetadas durante o colapso estrutural,
provocando esforços adicionais, tais como momentos de flexão/torção ou acréscimo de carga.
Nos desmoronamentos também é preciso que se faça uma avaliação detalhada do que foi
realmente comprometido, de forma que se orcem corretamente as obras de restauro.
Basicamente, o orçamento de uma obra se divide na composição de preço dos serviços diretos
e serviços indiretos.
• Serviços Diretos
São todos aqueles serviços necessários à completa execução da obra e que constam da planilha
de orçamento, cujo custo é a base da formação do preço.
• Serviços Indiretos
A somatória dos custos referentes aos serviços diretos e indiretos resultará no orçamento final
da obra.
26.2. P A R T I C U L A R I D A D E DAS O B R A S DE RESTAURO EM E D I F I C A Ç Õ E S SINISTRADAS
É muito comum em sinistros provocados por vendavais em edificações industriais que haja neces-
sidade de se executarem pequenos serviços de reparos em vários imóveis, com equipamentos
especiais e de forma emergencial, para não agravar os danos ou comprometer a produção.
Nesses casos o empreiteiro terá de providenciar uma rápida mobilização de pessoal e equipa-
mentos, dividindo a equipe em vários grupos. Condição que eleva os custos por metro quadra-
do usualmente aferidos para obras convencionais.
Outra situação que eleva consideravelmente os custos das obras de restauro é a necessidade
de se executar a obra com uma empresa funcionando, pois é preciso proteger os funcionários,
os equipamentos e os produtos.
Na maioria das vezes isso só é possível quando se trabalha nos horários em que a indústria não
estiver funcionando, normalmente à noite e nos finais de semana.
Essas condições adversas de obra são muito comuns em casos de sinistros, devendo ser anali-
sado cada caso em particular para se aferir o grau de dificuldade que será encontrado no
restauro da edificação.
Apenas para ilustrar, citaremos o caso de um incêndio num hotel com vários pavimentos, sendo
danificado apenas um deles. Nesse caso, as obras de restauro deverão ser executadas sem
prejudicar os hóspedes e a rotina normal do hotel.
Todos sabemos que obra civil faz barulho, gera entulho e principalmente pó, além de implicar
uma grande movimentação de pessoal, materiais, produtos e equipamentos.
Tendo isso presente, imagine as dificuldades para quebrar paredes, transportar areia, pedra,
tijolo, cal, cimento e outros materiais. Condição que se agrava quando é preciso efetuar a
concretagem de elementos estruturais devido ao preparo ou lançamento de concreto.
Nesses casos, não é possível elaborar um orçamento dos serviços de restauro com base em
preços usuais por metro quadrado, utilizados em obras convencionais.
A grande maioria das prefeituras requer que toda obra, mesmo as de restauro, recupera-
ção e reforço tenham uma aprovação prévia do órgão competente, e para tanto exige o
pagamento de taxas, emolumentos e um engenheiro responsável, dependendo do porte
da obra.
Esses valores não são padronizados, variando de uma cidade para outra, de tal forma que se faz
necessária sempre uma consulta local para avaliar esses custos.
26.4. DESPESAS COM PROJETOS
Em alguns sinistros prediais, dependendo do seu porte e da extensão dos danos, poderá ser
necessário o desenvolvimento de projetos específicos para reforço ou recuperação da infra-
estrutura ou da superestrutura.
Pode ocorrer também que as instalações elétricas, hidráulicas, de telefonia e lógica estejam
comprometidas e, para serem restauradas, tenham de ser projetadas novamente para permitir
uma correta orçamentaçao e execução. E em edificações muito antigas isso deve ser obrigato-
riamente feito para atender às normas atuais e as legislações vigentes.
As despesas com instalação de canteiro e alojamento em obras sinistradas devem ser cuidado-
samente avaliadas, tendo em vista a grande diversidade de situações existentes.
Algumas condições podem implicar em custos mais elevados, se comparadas com os padrões
usuais, principalmente se não for possível alojar máquinas equipamentos, materiais e pessoal
no local da obra.
Para não haver dúvidas com relação ao valor final da proposta e permitir uma apreciação
correta do orçamento por parte do contratante, é importante que as construtoras especifiquem
claramente essas despesas, sem diluir esses custos no preço de outros serviços.
Isso permite uma avaliação mais precisa dos honorários que estão sendo cobrados, ao mes-
mo tempo em que não contaminam a composição dos preços dos serviços compostos por
insumos básicos.
Para ilustrar, citamos o exemplo da manutenção de caixilhos em prédios com altura elevada,
em que se deve por medida de segurança empregar Balancins Elétricos, com todos os equipa-
mentos de segurança, inclusive aqueles para proteger pessoas em trânsito pelo local, ou mes-
mo outras partes da edificação, como telas e bandejas de proteção. Nesses casos, a prepara-
ção fica mais cara do que o material e a mão-de-obra utilizados diretamente na restauração.
Há outras situações em que é preciso utilizar máquinas especiais, do tipo escavadeiras, trato-
res, torres de elevação e guinchos especiais, os quais normalmente não seriam empregados na
construção de um imóvel daquele porte, implicando assim um custo mais elevado se compara-
do com a execução dos mesmos serviços caso a obra fosse nova.
Situações desse tipo resultam em orçamentos nos quais as despesas com a mobilização/
desmobilização, instalação e proteção são bem superiores aos custos diretos do material e
mão-de-obra para uma simples reposição do bem danificado.
O nosso território nacional é muito grande e apresenta características regionais distintas, com
uma variação significativa de preços para um mesmo produto ou serviço.
No caso da construção civil, isso pode ser verificado de forma muito nítida quando se cotam
materiais e mão-de-obra em cidades e estados diferentes.
Apenas para se ter uma idéia, vamos citar mais adiante algumas correlações de preços toman-
do-se por base uma obra residencial de padrão médio, com data de referência no mês de março
de 2002.
É preciso lembrar que essa correlação pode se alterar significativamente se for considerada
outra data-base, tendo em vista que as oscilações de preços dependem de uma série de variá-
veis que mudam em função de diferentes fatores.
Nas condições acima descritas, podemos dizer que na data-base especificada, a cidade de
Florianópolis apresentava o maior custo por metro quadrado de mão-de-obra, chegando a ser
6 0 % mais elevado que os valores praticados em Goiânia, Fortaleza e Recife.
Com relação aos materiais a situação é semelhante, sendo que as cidades do Rio de Janeiro e
Brasília são as que apresentam os valores mais elevados, superando em até 2 0 % os valores
praticados em Florianópolis.
Pelo acima exposto, fica claro que devemos sempre fazer uma cotação de materiais e mão-de-
obra na região onde ocorreu o sinistro, mesmo porque as obras de restauro em uma edificação
sinistrada muitas vezes não apresentam as mesmas correlações de valores entre materiais e
mão-de-obra normalmente observadas em obras novas.
Segundo o engenheiro Mozart Bezerra da Silva, devemos estabelecer alguns critérios de cota-
ção que possam garantir a obtenção de um conjunto de ciados homogêneo e confiável, confor-
me abaixo especificado:
Devemos nos concentrar na identificação e pesquisa dos insumos mais importantes, que no setor
das edificações representam aproximadamente 85% do custo da obra, e nesse universo vamos
encontrar cerca de 8 % dos itens; os 9 2 % restantes podem ser classificados como normais.
No caso das obras sinistradas, os insumos mais importantes costumam variar muito em função
da quantidade e dos elementos que foram danificados; portanto, precisamos ficar atentos aos
serviços de restauro realmente necessários e avaliar corretamente os insumos que terão uma
influência significativa no custo final.
Preço Total
A idéia básica é apresentar um orçamento de fácil compreensão que permita uma visualização
rápida dos custos de cada atividade a ser desenvolvida. Nesse sentido, o ideal é que os custos
com transporte e impostos já estejam incluídos nos preços cotados.
Nos custos da mão-de-obra devem estar incluídos todos os encargos sociais e todos os custos
complementares que vão compor o valor total da hora trabalhada. Sendo assim, apresentamos
a seguir os valores adotados pela PINI.
F - Encargos Complementares
Essas despesas indiretas diferem muito para cada empresa, bem como de uma obra para outra.
Algumas construtoras preferem contabilizá-las na Taxa de B D I . O Eng. Mozart Bezerra da Silva
não aconselha este procedimento e, para ilustrar, apresenta no seu Curso Básico dc Orçamento
de Obras um exemplo que tomamos a liberdade de apresentar a seguir:
Preço Médio
A cotação de preços deve ser feita levando-se em consideração a quantidade dos insumos e o
local de entrega e de preferência em três fornecedores tradicionais com um histórico confiável,
quanto à manutenção dos preços e prazos de entrega.
Normalmente os valores cotados para um mesmo insumo são diferentes, e para a composição
de custos da obra devemos adotar em princípio a média aritmética dos valores obtidos.
Preço à Vista
É pratica comum do mercado de fornecedores de materiais para a construção civil que alguns
itens sejam fornecidos com pagamento à vista e outros com prazo que varia de 30 a 90 dias.
Essa condição deve ser levada em consideração na composição do custo da obra; no entanto,
é difícil avaliar corretamente em função das taxas de juros diferenciadas que cada empresa
embute no parcelamento.
Nessas condições, o Eng. Mozart recomenda como ideal que se cotem os preços dos insumos
para pagamento à vista e, depois, embute-se uma única correção monetária para todos os itens
da obra.
No caso de haver seguro e a indenização dos prejuízos for feita antecipadamente, em uma
única parcela, o custo final das obras de restauro deverá levar em consideração os valores
cotados à vista e sem qualquer correção monetária.
Devemos levar em consideração também que os preços cotados inicialmente são passíveis de
desconto quando da negociação para a compra definitiva.
Média Estatística
A adoção do critério de avaliação do custo pela média estatística dos valores cotados é interes-
sante apenas para alguns casos específicos e para os insumos mais importantes.
Nesses casos, deve-se seguir os procedimentos padronizados de cálculo estatístico, que não
abordaremos por fugir ao escopo deste trabalho.
Todo orçamento do uma obra civil apresenta uma margem do imprecisão, que pode estar no
esquecimento de um serviço, num eventual acréscimo de trabalho decorrente de situações
imprevistas, ou no grau de incerteza que são inerentes a algumas atividades das obras sinistradas.
Devemos levar cm consideração que nas obras de restauro normalmente podem surgir servi-
ços que não são possíveis de ser estimados ou avaliados corretamente antes do início das
atividades de campo.
Portanto, é aconselhável que nos orçamentos decorrentes de sinistro seja prevista uma verba extra,
a titulo de "despesas eventuais", baseada num pequeno percentual do valor global da obra, avalia-
do |K>r sua vez em função do nível de detalhamento e confiabilidade da proposta elaborada.
As obras decorrentes dos sinistros de desmoronamento são difíceis de ser orçadas com um grau
de confiabilidade aceitável, principalmente aquelas ocorridas em estruturas de contenção, em
que normalmente não se consegue obter o projeto original; ou, no caso da existência do mes-
mo, se verifica que a execução não seguiu rigorosamente o estabelecido no projeto.
Nesses casos é importante que se faça um projeto completo e detalhado de todas as etapas
executivas e dos trabalhos que deverão ser executados. Persistindo certo grau de incerteza, a
solução ideal o de menos risco para todos pode ser a contratação da obra por administração ou
preços unitários de serviços e mão-de-obra previamente acordados.
A taxa de BDI para serviços de restauro deve ser avaliada da mesma forma que para as obras
convencionais, tendo presentes as particularidades apontadas anteriormente.
No entanto, o que temos observado é que algumas empresas costumam considerar certa mar-
gem de lucro nos custos diretos, dificultando uma apreciação correta da taxa de BDI adotada.
Com a finalidade de procurar elucidar um pouco melhor esse importante componente cio orça-
mento de uma obra, faremos a seguir algumas considerações resumidas sobre a taxa de Bene-
fícios e Despesas Indiretas, com base no preconizado pelo Eng. Mozart Bezerra da Silva.
BDI "é a margem de acréscimo que se deve aplicar sobre o custo direto para incluir as despe-
sas indiretas e o benefício do construtor na composição do preço da obra".
Após o cálculo dos custos diretos, com mão-de-obra, materiais, equipamentos e leis sociais,
referentes às obras de restauro, há necessidade de se apurar e alocar os custos indiretos envol-
vidos na administração dos negócios da empresa executante.
Esses custos são chamados de BDI - Benefícios e Despesas Indiretas e variam de uma empre-
sa para outra, dependendo da sua estrutura administrativa, financeira, do volume de obras em
andamento e de cada tipo de obra. Dessa forma, cada empresa deve definir seu próprio BDI,
pois vai depender do seu desempenho técnico, econômico e administrativo.
Administração Central
São as despesas com apoio técnico, supervisão e administração do escritório central, que de-
verão ser rateadas entre todas as obras, compreendendo os seguintes itens:
Administração Local
São as despesas indiretas geradas no local da obra, com montagem e manutenção de pessoal
administrativo, apoio técnico e supervisão, tais como:
A) Instalação de canteiro.
B) Equipamentos de campo.
C) Vigilâncias diversas.
D) Segurança e primeiros socorros.
E) Despesas com aluguéis, água, luz, ferramentas, etc.
F) Despesas com pessoal de campo.
G ) Controle tecnológico, licenças, seguros, etc.
Despesas Financeiras
Ela pode se tornar importante no caso de o empreiteiro ter de recorrer a empréstimos bancários,
nos quais as taxas de juros normalmente são elevadas.
Eventuais atrasos nos pagamentos das parcelas também obrigam a um aporte de verba que
sempre implica uma elevação dos custos, mesmo quando os recursos são da própria empresa,
tendo em vista a perda de suas aplicações financeiras.
Despesas Tributárias
São devidas aos impostos, tais como PIS, PASEP, ISS, C O N F I N S , IR e outros.
Contingências
São despesas imprevistas que elevem ser inseridas no orçamento para fazer frente a problemas
técnicos e administrativos, relacionados com o desenvolvimento dos trabalhos no local da obra.
O s riscos de engenharia, os danos a terceiros e incêndios podem ser estimados com a contratação
de seguros específicos para esses casos. As demais despesas, relativas aos desperdícios de
materiais, baixa na produtividade e outros motivos, devem ser levadas em consideração por
profissionais com experiência nesse tipo de trabalho.
Benefício do Construtor
O Eng. Mozart Bezerra da Silva apresenta no seu Curso Básico de Orçamentos de Obra uma
sugestão para a Taxa de Benefício do Construtor.
Conseqüentemente, podemos dizer que para as obras de pequeno porte o BDI deve ser maior.
Portanto, o BDI deve ser avaliado para cada caso específico, tendo em vista o porte da obra, o
grau de dificuldade executiva, a complexidade técnica e as demais variáveis anteriormente
citadas, que somadas vão permitir avaliar corretamente o valor mais adequado da proposta.
O BDI para obras novas, normalmente adotado na cotação de preços da tabela PINI, é de 30%.
Nos casos das obras de restauro ou reforma, essa porcentagem pode chegar a 60%, dependen-
do das variáveis que envolvem cada situação específica.
A proposta para a execução das obras de restauro de uma edificação sinistrada deve especifi-
car claramente o escopo de todo o serviço que será executado.
Nos casos em que as características técnicas são relevantes, é aconselhável que se forneça um
croqui da solução orçada, acompanhada de memorial descritivo.
O orçamento deve ser o mais aberto possível e apresentado na forma de planilha, discriminando-se
todos os serviços que serão executados na obra, com as respectivas quantidades e preços unitários,
procurando-se evitar a cotação de algumas atividades através dos chamados módulos de vertia.
A finalidade de apresentar uma proposta com todos os itens de serviços bem definidos á permi-
tir uma apreciação mais detalhada dos valores adotados pelo construtor, possibilitardo uma
análise mais criteriosa por parte do contratante, ou da empresa de seguro, no caso de o sinistro
ter apólice de cobertura para danos prediais.
Em algumas obras dc pequeno porte, o empreiteiro muitas vezes prefere apresentar o orçamen-
to apenas com os tópicos dos serviços que serão executados com seus respectivos valores, ou,
na pior das hipóteses, apenas o custo total.
Esse procedimento deve ser evitado, pois dificulta uma avaliação dos trabalhos propostos e dos
valores pleiteados para cada tipo de serviço, resultando na maioria dos casos em desentendi-
mentos entre as partes envolvidas, durante o desenvolvimento dos trabalhos e principalmente
na conclusão da obra, em face das dúvidas geradas pela não-especificação correta e detalha-
da de todos os custos e serviços que deveriam ser executados.
Por outro lado, em alguns sinistros não se justifica a condenação de todo o bem sinistrado, como
desejam algumas pessoas envolvidas no caso, ou até mesmo os profissionais que buscam solu-
ções de rápida definição e alta lucratividade.
Temos participado de muitos sinistros em que aparentemente, numa primeira vistoria, o profis-
sional menos atento pode ser induzido a condenar todo um imóvel; no entanto, estudos mais
aprofundados e detalhados têm mostrado que é possível preservar ou apenas recuperar - obser-
vando-se uma relação custo/benefício vantajosa - vários elementos da edificação.
Após todas essas considerações é que poderemos, então, avaliar e quantificar adequadamente
todos os serviços de restauro necessários, possibilitando a elaboração de um orçamento correto
da obra.
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