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Escola Superior de Tecnologia

Instituto Politécnico de Castelo Branco

Trabalho Prático
Órgãos de Máquinas
Ano Letivo 2019/2020

Eva Duarte Tavares, aluna n.º 2015 14 15


Francisco Vicente Granada Reis Pio, aluno n.º 6 2010 019

Docente:
Armando Lopes Ramalho, Ph.D.

Unidade Curricular:
Órgãos de Máquinas

O presente documento relata a concretização do trabalho prático contextualizado na Unidade Curricular de Órgãos de Máquinas,
lecionada pelo Professor Doutor Armando Ramalho. Trabalho realizado pelo Grupo 3, no Primeiro Semestre do Terceiro Ano da
Licenciatura em Engenharia Industrial – Curso de Ensino Superior – no ano letivo 2019/20.
Eva Tavares; Francisco Pio

Resumo

No âmbito da Unidade Curricular de Órgãos de Máquinas, foi proposta aos


alunos a realização de um Trabalho Prático, em grupos de dois elementos, no contexto
do programa da referida UC.

É levada a cabo a concretização de um Trabalho Prático que inclui o estudo de


dimensionamento e a determinação do Coeficiente de Segurança de determinado
componente mecânico, tendo em consideração as forças a que este componente estará
sujeito.

Palavras-chave

Força; Momento; Tensão; Flexão; Transmissão; Engrenagem; Veio; Aço; Fator;


Entalhe; Coeficiente; Segurança

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Órgãos de Máquinas

Índice
Introdução ........................................................................................................................ 3
Enunciado Proposto ......................................................................................................... 4
Recolha de dados.............................................................................................................. 7
Cálculo das Forças ......................................................................................................... 9
Força Tangencial – Ft ................................................................................................. 9
Força Axial – Fa ........................................................................................................ 10
Força Radial – Fr ...................................................................................................... 10
Cálculos dos Momentos .............................................................................................. 11
Momento provocado pela correia que liga o motor ao veio .................................. 11
Momento Torsor – MT ............................................................................................. 11
Momento Fletor – Mf .............................................................................................. 12
Propriedades do Aço “FR 3” ........................................................................................... 15
Critério de Soderberg ..................................................................................................... 15
Determinação do Coeficiente de Segurança .................................................................. 16
Cálculo da Tensão Limite de Fadiga do Material ........................................................ 16
Cálculo/ Determinação dos coeficientes “k” .............................................................. 17
Coeficiente de Carga – kC ........................................................................................ 17
Coeficiente de Acabamento Superficial – kS ........................................................... 17
Coeficiente de Tamanho – kta .................................................................................. 18
Coeficiente de Temperatura – kT............................................................................. 18
Coeficiente de Fiabilidade – kfb ............................................................................... 19
Cálculo da Tensão Admissível de Fadiga..................................................................... 19
Cálculo do Fator Dinâmico de Concentração de Tensões .......................................... 20
Cálculo dos Fatores Kff e Kft “à Flexão”...................................................................... 22
Cálculo do Coeficiente de Segurança.......................................................................... 22
Verificação da Secção Crítica .......................................................................................... 23
Conclusões ...................................................................................................................... 24
Referências ..................................................................................................................... 25

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Eva Tavares; Francisco Pio

Introdução

Este projeto tem por objetivo a determinação do coeficiente de segurança do


material constituinte de um veio de transmissão, incluído numa caixa redutora de
velocidades.

O nível de segurança do dimensionamento deste veio deverá refletir as suas


capacidades mecânicas e o mesmo irá comportar qualidades determinantes para o seu
próprio funcionamento.

Conforme o enunciado “Num projeto de um redutor de velocidades chegou-se a uma


solução caraterizada pelas especificações (…)”, a caixa redutora é acionada por um
motor, cuja potência é de 11 000 Watts, e a velocidade de trabalho é de 1500 rotações
por minuto.

O propósito deste redutor é alcançar uma velocidade de saída de 82,5 rotações por
minuto, no Veio 3 (componente a ser estudado), com uma velocidade angular de 8,643
radianos por segundo.

Torna-se preponderante proceder à determinação do Coeficiente de Segurança n do


material constituinte do Veio 3, tendo em consideração o material selecionado, bem
como as Forças, os Momentos e as Tensões que irão afetar a durabilidade do veio,
condicionada pela sua resistência à fadiga.

Assim sendo, recorrendo ao critério de Soderberg, o objetivo deste grupo de trabalho


foi realizar o dimensionamento à fadiga do Veio 3, do redutor de velocidades, de modo
a determinar mais adiante o Coeficiente de Segurança n.

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Órgãos de Máquinas

Enunciado Proposto

Num projeto de um redutor de velocidades chegou-se a uma solução caraterizada pelas


especificações representadas na figura 1.

Figura 1 – Planta do redutor de velocidades com indicação das relações de transmissão


e inclinação do dentado das engrenagens.

Como se optou pela utilização de engrenagens helicoidais, as forças transmitidas ao


nível do engrenamento (correspondente ao diâmetro primitivo das engrenagens) estão
representadas na figura 2 e são obtidas pelas seguintes expressões:

𝑃
𝐹𝑡 =
𝑑
𝜔∙ 2

𝐹𝑎 = 𝐹𝑡 ∙ 𝑡𝑔 β

𝑡𝑔 𝛼
𝐹𝑟 = 𝐹𝑡 ∙
𝑐𝑜𝑠𝛽

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Eva Tavares; Francisco Pio

Em que β é o ângulo de inclinação do dentado helicoidal representado na figura 2


para as diferentes engrenagens, d é o diâmetro primitivo das engrenagens e α é o ângulo
de pressão (α= 20°).

Figura 2 – Planta do redutor com indicação das forças.

Efetuado o cálculo das engrenagens, obtiveram-se os seguintes valores para os seus


diâmetros primitivos e larguras:
d1 = 89.391 mm b1= 55,000 mm
d2 = 315.000 mm b2 = 55,000 mm
d3 = 118,021 mm b3 = 88,510 mm
d4 = 347,853 mm b4 = 88,510 mm

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Órgãos de Máquinas

Foram selecionados para os apoios dos veios os seguintes rolamentos fixos de


esferas:

Veio 1, para ambos os apoios, FAG 6308;


Veio 2, para ambos os apoios, FAG 6408;
Veio 3, para ambos os apoios, FAG 6209.

Para as chavetas e respetivos escatéis obtiveram-se as seguintes dimensões:

Veios 1 e 2, L = 40 mm, b = 6 mm, h=6 mm (para o escatel h = 3mm);


Veio 3, L = 80 mm; b = 10 mm, h = 8 mm (para o escatel h = 4 mm).

Para o veio 1 considere que a força aplicada pelas correias trapezoidais é horizontal
e está aplicada no ponto indicado na figura 3.

Considere que o momento torsor é aplicado de forma linear ao longo da largura das
engrenagens. No que se refere às forças aplicadas no engrenamento deve considerá-las
no ponto intermédio da largura das engrenagens.

No que se refere à concordância dos batentes das engrenagens (ou mangas de


fixação) deve considerar que os filetes são acomodados no chanfro maquinado na
respetiva engrenagem (ou manga de fixação), garantindo o dimensionamento ao
esmagamento.

As dimensões dos veios podem ser obtidas no desenho de conjunto do redutor de


velocidades em anexo, que se encontra à escala 1:1.

O material utilizado para construir o veio foi o aço de construção ligado, FR3 (catálogo
online da F. Ramada).

Considerando o acabamento superficial obtido por torneamento, determine o


coeficiente de segurança relativamente a uma possível falha por fadiga (considere
fiabilidade de 95%).

6
Eva Tavares; Francisco Pio

Recolha de dados

Para este estudo, foi-nos proposta a determinação do coeficiente de segurança n do


dimensionamento do Veio 3.

A figura a seguir (vd. Figura 3) ilustra o Veio 3, que será analisado e posteriormente
dimensionado, conforme os valores obtidos no decorrer do estudo.

Adiante, segue-se todo o processo e respetivos cálculos para o efeito.

Figura 3 – Plano horizontal do Veio 3 e suas dimensões

Material: Aço de construção ligado, do tipo FR3

Acabamento superficial obtido por torneamento.

Potência P transmitida ao veio do redutor de velocidades: 11 kW

Velocidade de rotação ωm do motor: 1500 rpm

Velocidade n3 de rotação do veio: 82,5 rpm

Velocidade angular ω da engrenagem: 8,643 rad/s

Diâmetro primitivo d da engrenagem: 347,853 mm

Ângulo β de inclinação do dentado helicoidal: 15º

Chavetas e respetivos escatéis: L=80 mm; b: 10mm, h=8mm (para escatel h=4mm)

Fiabilidade: 95%

Dimensões dos veios:


Algumas dimensões dos veios foram obtidas no desenho de conjunto do redutor de
velocidades que se pode observar na primeira figura da seguinte página (vd. Figura 4).

7
Órgãos de Máquinas

Figura 4 – Desenho técnico do conjunto do redutor de velocidades

Diametro do veio:
Tendo em conta que o tipo de rolamento fixo de esferas para os apoios dos Veio 3 é
o rolamento FAG 6209 para ambos os apoios, recorreu-se ao catálogo do fabricante de
rolamentos FAG, para posteriormente determinar os restantes diâmetros do veio a
partir de uma representação à escala 1:1, aquando da visualização do desenho técnico
do redutor de velocidades (vd. Figura 4).

O diâmetro determinado para os extremos do Veio 3 tem um valor de 45mm, como


indicado pela tabela do fabricante FAG para os rolamentos utilizados (vd. Figura 5).

Figura 5 – Excerto catálogo da FAG

Admitindo uma possível falha por fadiga, será calculado o coeficiente de segurança n.

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Eva Tavares; Francisco Pio

Cálculo das Forças

Figura 6 – Representação das forças que atuam na engrenagem 4

A potência transmitida aos veios do redutor de velocidades, recolhida do enunciado


do Trabalho Prático:
𝑃 = 11 [𝑘𝑊] = 𝟏𝟏𝟎𝟎𝟎 [𝑊]

Tendo em conta o diâmetro primitivo d4 = 347,853 mm e a largura b4 = 88,510 mm


da engrenagem 4, calcular-se-ão as Forças que atuam na mesma.

Força Tangencial – Ft

𝑃
𝐹𝑡 =
𝑑
𝜔∙2

11000
𝐹𝑡 =
0,347853
8,643 ∙ 2

𝐹𝑡 = 𝟕𝟑𝟏𝟕, 𝟒𝟗𝟓 [𝑁]

Onde:
P - Potência transmitida ao veio [W]
d - Diâmetro primitivo da engrenagem [m]
ω - Velocidade angular da engrenagem [rad/s]

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Órgãos de Máquinas

Força Axial – Fa
𝐹𝑎 = 𝐹𝑡 ∙ tan 𝛽

𝐹𝑎 = 7317,495 ∙ tan 15

𝐹𝑎 = 𝟏𝟗𝟔𝟎, 𝟕𝟐𝟎 [𝑁]


Onde:
Fa – Força de Axial [N]
β – Ângulo inclinação dos dentes da engrenagem []

Força Radial – Fr
tan 𝛼
𝐹𝑟 = 𝐹𝑡
cos 𝛽
tan 20
𝐹𝑟 = 𝐹𝑡 ∙
cos 15

𝐹𝑟 = 𝟐𝟕𝟓𝟕, 𝟑𝟎𝟑 [𝑁]


Onde:
Ft – Força de Tração [N]
β – Ângulo de inclinação dos dentes da engrenagem []
α – Ângulo de pressão das engrenagens []

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Eva Tavares; Francisco Pio

Cálculos dos Momentos

Momento provocado pela correia que liga o motor ao veio

𝑃
𝑀𝑇(𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑖𝑎) =
𝜔𝑚

11000
𝑀𝑇(𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑖𝑎) =
1500 × 2𝜋
60

11000
𝑀𝑇(𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑖𝑎) =
157,08

𝑀𝑇(𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑖𝑎) = 70,028 [𝑁. 𝑚]


Onde:
MT (correia) – Momento provocado pela correia que liga o motor ao veio [Nm]
ωm – Velocidade de rotação do motor [rad/s]

Momento Torsor – MT
𝑑
𝑀𝑇 = 𝐹𝑡 ∙
2

0,347853
𝑀𝑇 = 7317,495 ∙
2

𝑀𝑇 = 𝟏𝟐𝟕𝟐, 𝟕𝟎𝟔 [𝑁 ∙ 𝑚]
Onde:
Ft – Força tangencial [N]
d – Diâmetro primitivo da engrenagem [m]

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Órgãos de Máquinas

Momento Fletor – Mf

De modo a calcularmos o momento fletor do Veio 3, será necessário calcular o


Momento Fletor Equivalente Mfeq.

Para tal, terá de se calcular um momento fletor projetado no plano de representação


xy e no plano de representação xz.

Primeiramente, é calculado o momento fletor causado pela força axial transmitida ao


veio. Este momento fletor será o Momento Fletor Axial Mfa.

𝑑
𝑀𝑓𝑎 = 𝐹𝑎 ∙
2

0,347853
𝑀𝑓𝑎 = 1960,72 ∙
2

𝑀𝑓𝑎 = 𝟑𝟒𝟏, 𝟎𝟐𝟎𝟔 [𝑁 ∙ 𝑚]


Onde:
Fa – Força axial [N]
d – Diâmetro primitivo da engrenagem [m]

Após a determinação do momento fletor axial Mfa, calculam-se as reações estáticas


nos apoios do veio – RxA, RyA, RyB, RzA e RzB.

Consequentemente, a determinação das referidas reações irá permitir o cálculo dos


momentos fletores – MfyA, MfyB, MfzA e MfzB – projetados nos planos xy e xz, como
demonstrado nas seguintes páginas.

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Eva Tavares; Francisco Pio

Projeção no plano xy:

Figura 6 – Planificação do Veio 3 no plano xy com as respetivas projeções das forças,


reações e momentos que lhe são aplicados

Cálculo das reações RxA, RyA e RyB, através dos somatórios de forças e momentos:

𝛴𝐹𝑥 = 0 −𝑅𝑥𝐴 + 𝐹𝑎 = 0
𝛴𝐹
{ 𝑦 = 0 (=) { −𝑅𝑦𝐴 − 𝑅𝑦𝐵 + 𝐹𝑟 = 0
𝛴𝑀𝐴 = 0 𝑀𝑓𝑎 − (𝐹𝑟 ∙ 0,1395) + (𝑅𝑦𝐵 ∙ 0,214) = 0
𝑅𝑥𝐴 = 1960,7168 [𝑁]
(=) {𝑅𝑦𝐴 = 𝟐𝟓𝟓𝟑, 𝟒𝟓𝟔𝟓 [𝑁]
𝑅𝑦𝐵 = 𝟐𝟎𝟑, 𝟖𝟒𝟔𝟕 [𝑁]

Cálculo dos momentos fletores MfyA e MfyB:

Figura 7 – Análise à esquerda e à direita da secção do ponto de aplicação do momento


fletor no veio

𝑀𝑓𝑦𝐴 + 𝑅𝑦𝐴 ∙ 0,1395 = 0 (=) 𝑀𝑓𝑦𝐴 = −(𝑅𝑦𝐴 ∙ 0,1395) = 𝟑𝟓𝟔, 𝟐𝟎𝟕𝟐 [𝑁𝑚]

−𝑀𝑓𝑦𝐵 + 𝑅𝑦𝐵 ∙ 0,0745 = 0 (=) 𝑀𝑓𝑦𝐵 = 𝑅𝑦𝐵 ∙ 0,0745 = 𝟏𝟓, 𝟏𝟖𝟔𝟔 [𝑁𝑚]

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Órgãos de Máquinas

Projeção no plano xz:

Figura 8 – Planificação do Veio 3 no plano xz com as respetivas projeções das forças e


reações que lhe são aplicadas

Cálculo das reações RxA, RzA e RzB, através dos somatórios de forças e momentos:

𝛴𝐹𝑥 = 0 −𝑅𝑥𝐴 + 𝐹𝑎 = 0
{ 𝛴𝐹𝑧 = 0 (=) { −𝑅𝑧𝐴 − 𝑅𝑧𝐵 + 𝐹𝑡 = 0
𝛴𝑀𝐴 = 0 −(𝐹𝑡 ∙ 0,1395) + (𝑅𝑧𝐵 ∙ 0,214) = 0

𝑅𝑥𝐴 = 1960,7168 [𝑁]


(=) {𝑅𝑧𝐴 = 𝟐𝟓𝟒𝟕, 𝟒𝟒𝟓𝟔 [𝑁]
𝑅𝑧𝐵 = 𝟒𝟕𝟕𝟎, 𝟎𝟒𝟗𝟏 [𝑁]

Cálculo dos momentos fletores MfzA e MfzB:

Figura 9 – Análise à esquerda e à direita da secção do ponto de aplicação do momento


fletor no veio

𝑀𝑓𝑧𝐴 − (𝑅𝑧𝐴 ∙ 0,1395) = 0 (=) 𝑀𝑓𝑧𝐴 = −(2547,4456 ∙ 0,1395) = 𝟑𝟓𝟓, 𝟑𝟔𝟖𝟕 [𝑁𝑚]

−𝑀𝑓𝑧𝐵 + 𝑅𝑧𝐵 ∙ 0,0745 = 0 (=) 𝑀𝑓𝑧𝐵 = 4770,0491 ∙ 0,0745 = 𝟑𝟓𝟓, 𝟑𝟔𝟖𝟕 [𝑁𝑚]

14
Eva Tavares; Francisco Pio

Assim, pelos cálculos anteriores, é então possível calcular o Momento Fletor


Equivalente Mfeq a que o Veio 3 está sujeito. O cálculo de Mfeq será:

𝑀𝑓𝑒𝑞 = √𝑀𝑓𝑦𝐴 2 + 𝑀𝑓𝑧𝐴 2 (=)

(=) 𝑀𝑓𝑒𝑞 = √356,20722 + 355,36872 = 𝟓𝟎𝟑, 𝟏𝟔𝟎𝟓 [𝑁𝑚]

Propriedades do Aço “FR 3”

Para que seja possível prosseguir com os cálculos necessários à determinação do


coeficiente de segurança, é necessário recolher informações do fabricante do aço FR 3,
nomeadamente, a Tensão de Resistência à Tração σR e a Tensão de Cedência σc. [1]

Assim, obtêm-se os valores:


σR = 1000 [Mpa]
σc = 800 [Mpa]

Critério de Soderberg

Os parâmetros anteriormente indicados serão necessários para a utilização do


critério de Soderberg – proposta pelo docente da UC – onde a fórmula de determinação
do coeficiente de segurança n, será:

2
3
32 ∙ 𝑛 𝑘𝑡𝑡 ∙ 𝑀𝑇 2 𝑘𝑓𝑓 ∙ 𝑀𝑓
𝑑=√ √
∙ ( ) +( )
𝜋 𝜎𝑐 𝜎𝑓

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Órgãos de Máquinas

Determinação do Coeficiente de Segurança

Para determinar o coeficiente de segurança n, é necessário calcular previamente


outros parâmetros, como demonstrado a seguir.

Cálculo da Tensão Limite de Fadiga do Material

O cálculo da Tensão Limite de Fadiga do Material σf0 é feito respeitando as condições


indicadas na figura seguinte (vd. Figura 10). Estas condições derivam de formulários
disponibilizados pelo docente.

Figura 10 – Condições para determinar a Tensão Limite de Fadiga do Material σf0

Assim, calculamos σf0:


𝜎𝑅
𝜎𝑓0 =
2
1000
𝜎𝑓0 = = 500 [𝑀𝑃𝑎]
2
Onde:
σR – Tensão de Resistência à Tração [MPa]

Pelo mesmo formulário (vd. Figura 10), o cálculo da Tensão Limite de Fadiga σf será
realizado pelo critério de Soderberg, que determina:

𝜎𝑓 = (𝑘𝑐 ∙ 𝑘𝑠 ∙ 𝑘𝑡𝑎 ∙ 𝑘𝑇 ∙ 𝑘𝑓𝑏 ) ∙ 𝜎𝑓0

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Eva Tavares; Francisco Pio

Cálculo/ Determinação dos coeficientes “k”

Coeficiente de Carga – kC

Dado que, para este caso de estudo, a tensão limite de fadiga se obtém em flexão
rotativa:
𝑘𝐶 = 𝟏

Coeficiente de Acabamento Superficial – kS

Figura 11 – Determinação do Coef. de Acabamento Superficial (retirado de: J.E. Shigley


and C.R. Mischke, “Mechanical Engineering Design”, 6th edition, 2001)

Com base na Figura 11, para o aço FR3, que é um aço maquinado (do inglês:
“machined”), o Coeficiente de Acabamento Superficial é dado por:
𝑘𝑆 = 𝑎 ∙ 𝜎𝑅 𝑏

𝑘𝑆 = 4,51 ∙ 1000−0,265

𝑘𝑆 = 𝟎, 𝟕𝟐𝟑𝟏

Onde as constantes adimensionais são:


a = 4,51
b = -0,265

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Órgãos de Máquinas

Coeficiente de Tamanho – kta

O coeficiente de tamanho é determinado respeitando a seguinte condição:

𝑘𝑡𝑎 = 1,24 ∙ 𝑑 −0,107 se 𝑑 ≤ 8𝑚𝑚

Ou seja,
𝑘𝑡𝑎 = 1,24 ∙ 𝑑 −0,107
𝑘𝑡𝑎 = 1,24 ∙ 50−0,107
𝑘𝑡𝑎 = 𝟎, 𝟖𝟏𝟓𝟗

Onde:
d – Diâmetro do veio na secção da engrenagem[mm]

Coeficiente de Temperatura – kT

Segundo se pode observar na Figura 12, o Coeficiente de Temperatura será,

𝑘𝑇 = 𝟏

Por se tratar de um aço à temperatura ambiente = 20 [C].

Figura 12 – Determinação do Coef. de Temperatura (retirado de: J.E. Shigley and C.R.
Mischke, “Mechanical Engineering Design”, 6th edition, 2001)

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Eva Tavares; Francisco Pio

Coeficiente de Fiabilidade – kfb

O Coeficiente de Fiabilidade pode ser determinado a partir da tabela ilustrada na


Figura 13.

Figura 13 – Coeficiente de Fiabilidade Kf, para um desvio médio de 8% na resistência à


fadiga

Então, para uma fiabilidade de 95%:


𝑘𝑓𝑏 = 𝟎, 𝟖𝟒𝟑

Cálculo da Tensão Admissível de Fadiga

Conhecendo todos os valores dos parâmetros necessários para calcular o valor da


Tensão Admissível de Fadiga σf:

𝜎𝑓 = (𝑘𝑐 ∙ 𝑘𝑠 ∙ 𝑘𝑡𝑎 ∙ 𝑘𝑇 ∙ 𝑘𝑓𝑏 ) ∙ 𝜎𝑓0

𝜎𝑓 = (1 ∙ 0,7231 ∙ 0,8159 ∙ 1 ∙ 0,843) ∙ 500

𝜎𝑓 = 𝟐𝟒𝟖, 𝟔𝟔𝟎 [𝑀𝑃𝑎]

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Órgãos de Máquinas

Cálculo do Fator Dinâmico de Concentração de Tensões

O cálculo do Fator Dinâmico de Concentração de Tensões Kf faz-se através da


equação,
𝐾𝑓 = 1 + 𝑞 ∙ (𝐾𝑡 − 1)
Onde:
q – Sensibilidade do Entalhe;
Kt – Fator Estático de Concentração de Tensões.

𝑟
A Sensibilidade do Entalhe q será determinada com a proporção 𝑑, cujo raio r é de 2

[mm] e diâmetro d da secção do veio com engrenagem é de 50 [mm].

O raio r é o raio de concordância para a secção apontada pela seguinte figura (vd.
Figura 14). Determinou-se como tendo 2 milímetros de raio, uma vez que este valor é
metade da diferença dos diâmetros envolventes da secção que inicialmente
considerámos ser a secção crítica – a ser validada como tal, mais adiante.

Figura 14 – Plano horizontal do Veio 3, suas dimensões e secção determinada como


crítica
𝑟 2
Assim, a proporção de “raio sobre diâmetro” irá ser 𝑑 = 50 = 𝟎, 𝟎𝟒, em conjunto com

o valor obtido da Tensão de Resistência à Tração σR, determina um valor aproximado de


𝑞 ≈ 𝟎, 𝟖𝟖, pelo ábaco disponibilizado pelo docente (vd. Figura 15).

Figura 15 – Ábaco para determinação da Sensibilidade ao Entalhe q

20
Eva Tavares; Francisco Pio

O Fator Estático de Concentração de Tensões Kt irá ser determinado pelas


𝑟 𝐷
proporções 𝑑 (referida na página anterior) e 𝑑 .

Esta última proporção entre diâmetros, relaciona os diâmetros da secção à esquerda


𝐷 58
e à direita da secção crítica (vd. Figura 14). O seu valor será de 𝑑 = 50 = 𝟏, 𝟏𝟔

Como tal, Kt terá um valor aproximado de 𝐾𝑡 ≈ 𝟏, 𝟗𝟓, determinado pelo seguinte


ábaco (vd. Figura 16).

Figura 16 – Ábaco para determinação do Fator Estático de Concentração de Tensões Kt

Assim, é determinado o fator Kf:

𝐾𝑓 = 1 + 0,88 ∙ (1,95 − 1) = 𝟏, 𝟖𝟑𝟔

21
Órgãos de Máquinas

Cálculo dos Fatores Kff e Kft “à Flexão”

Para a continuidade dos cálculos, será agora necessário considerar os fatores Kt e Kf


já calculados como sendo os fatores Ktt e Ktf – Fator Estático de Concentração de
Tensões à Torção e Fator Dinâmico de Concentração de Tensões à Torção,
respetivamente.

Desta maneira, iremos calcular os seguintes fatores:


Kff – Fator Dinâmico de Concentração de Tensões à Flexão;
Kft – Fator Estático de Concentração de Tensões à Flexão.

O cálculo irá desenrolar-se da seguinte forma:

𝐾𝑓𝑓 = 1 + 𝑞 ∙ (𝐾𝑡𝑓 − 1) = 1 + 0,88 ∙ (1,836 − 1) = 𝟏, 𝟕𝟑𝟓𝟕

𝐾𝑓𝑡 = 1 + 𝑞 ∙ (𝐾𝑡𝑡 − 1) = 1 + 0,88 ∙ (1,95 − 1) = 𝟏, 𝟖𝟑𝟔

Cálculo do Coeficiente de Segurança

O cálculo do coeficiente de segurança n será calculado pelo critério de Soderberg,


através da seguinte fórmula:

2
3
32 ∙ 𝑛 𝑘𝑡𝑡 ∙ 𝑀𝑇 2 𝑘𝑓𝑓 ∙ 𝑀𝑓
𝑑=√ ∙ √( ) +( )
𝜋 𝜎𝑐 𝜎𝑓

Onde as variáveis irão tomar os seus valores, já calculados, e a variável do coeficiente


de segurança n será isolada e calculada consequentemente:

1,95 ∙ 1272,7062 2 1,7357 ∙ 503,1605 2


3
32 ∙ 𝑛
0,05 = √ ∙ √( ) + ( )
𝜋 800 ∙ 106 248,660 ∙ 106

𝑛 = 𝟐, 𝟔𝟐

A ser verificado na página seguinte, o valor n aqui calculado será o valor do


Coeficiente de Segurança n.

22
Eva Tavares; Francisco Pio

Verificação da Secção Crítica


No contexto do estudo de dimensionamento de veios e outros componentes
industriais, considera-se como imprescindível a verificação de qual a secção a
determinar como sendo secção crítica.

O fator “segurança” é um aspeto extremamente importante na área industrial,


podendo significar grandes perdas económicas ou colocar em risco vidas humanas, se
não for tido em consideração com o maior nível de responsabilidade.

Assim, executamos os cálculos de verificação da secção crítica, experimentando outra


secção – localização da chaveta e escatel da engrenagem do veio – e calculando o
respetivo coeficiente de segurança n.

𝑟
Pela proporção de = 0,0208 de Peterson, que determina uma sensibilidade do
𝑑

entalhe de 𝑞 ≈ 𝟎, 𝟖𝟓, e pelo valor para o Fator Estático de Concentração de Tensões


𝐾𝑡 = 𝟏, 𝟔 (para um escatel de perfil) de Faires [2] – ábacos, tabelas e excertos
bibliográficos disponibilizados pelo docente da UC – calculamos o Fator Dinâmico de
Concentração de Tensões Kf:
𝐾𝑓 = 1 + 0,85 ∙ (1,6 − 1) = 𝟏, 𝟖𝟑𝟔

Seguindo o mesmo processo, aplicado nas páginas anteriores, desenvolvem-se os


seguintes cálculos:
𝐾𝑓𝑓 = 1 + 𝑞 ∙ (𝐾𝑡𝑓 − 1) = 1 + 0,85 ∙ (1,51 − 1) = 𝟏, 𝟒𝟑𝟑𝟓
𝐾𝑓𝑡 = 1 + 𝑞 ∙ (𝐾𝑡𝑡 − 1) = 1 + 0,85 ∙ (1,6 − 1) = 𝟏, 𝟓𝟏

2
3
32 ∙ 𝑛 𝑘𝑡𝑡 ∙ 𝑀𝑇 2 𝑘𝑓𝑓 ∙ 𝑀𝑓
𝑑=√ ∙ √( ) +( )
𝜋 𝜎𝑐 𝜎𝑓

1,6 ∙ 1272,7062 2 1,4335 ∙ 503,1605 2


3
√ 32 ∙ 𝑛
0,05 = √
∙ ( ) +( )
𝜋 800 ∙ 106 248,660 ∙ 106
𝑛 = 𝟑, 𝟏𝟖
Deste modo, fica determinado que a secção do escatel não será a secção crítica,
uma vez que o seu coeficiente de segurança é mais baixo:

𝟐, 𝟔𝟐 < 𝟑, 𝟏𝟖

23
Órgãos de Máquinas

Conclusões

Percorridas as etapas preliminares de cálculos das Forças e Momentos aplicados ao


veio, através da sua engrenagem, seguiram-se os cálculos da Tensão Limite de Fadiga e
dos Fatores Estáticos e Dinâmicos de Concentração de Tensões (à Torção e à Flexão do
veio).

Foi então possível proceder ao cálculo do Coeficiente de Segurança n para o Veio 3.

Com as características de “Rm” e “Rp0.2” – apresentadas para o aço FR 3, no site do


construtor F. Ramada [1] – correspondentes às tensões σR e σc, respetivamente,
procedemos aos restantes cálculos, tal como o cálculo da Tensão Limite de Fadiga σf0,
os cálculos dos Fatores Kt (Ktt), Kf (Ktf), Kff, Kft, etc.

Assim pudemos determinar o coeficiente de segurança n do dimensionamento do


Veio 3, que constituía o objetivo final deste trabalho de estudo em componente teórico-
prática.

Foi-nos possível ainda determinar qual a correta secção crítica para o


dimensionamento do veio, comparando dois valores de coeficiente de segurança –
secção de alteração de diâmetro do veio vs. secção do escatel da engrenagem.

Esta última verificação confirmou a nossa primeira escolha de secção crítica como
sendo a mais correta – secção de alteração de diâmetro do veio (vd. Figura 14).

Concluindo, e tendo em conta que o limite mínimo para um coeficiente de segurança


será de 1,33, por convenção internacional, determinamos que o Veio 3 irá executar a
sua função dentro dos parâmetros segurança, com um Coeficiente de Segurança de:

𝑛 = 𝟐, 𝟔𝟐

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Eva Tavares; Francisco Pio

Referências

[1] http://www.ramada.pt/pt/produtos/acos/aa-os-de-construa-ao-ligados/fr-3_.html, “FR 3”, Ramada


Aços – Special Steel Solutions, (consultado em 2/01/2020)

[2] V. M. Faires, “Diseño de Elementos de Maquinas”, 4ª edição, “Montaner y Simon, S. A.”, Barcelona, pp.
750 - 751

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