Você está na página 1de 8

DECISÃO

Vistos etc.

Dispensado relatório, nos termos do art. 38 da Lei nº 9.099/95.

Inicialmente, determino de ofício, a extinção do feito em relação a primeira ré


(ALCANCE VIAGENS), em razão de sua ilegitimidade para figurar no pólo passivo
da demanda.

PRELIMINAR. INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL.


Alega preliminarmente, a ré, inépcia da inicial devido a ambiguidade e falta de
coerência e lógica na narrativa exposta na inicial. Entendo não ser o caso de inépcia.

Inaceitável tal preliminar, uma vez que é sabido que o procedimento nos Juizados
obedece aos princípios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia
processual e celeridade. Desta forma, não há que se levantar tal preliminar, que
objetiva, apenas, perturbar o processo, senão vejamos o que dispõe o art. 14, § 1º, II,
da Lei nº 9.099/95:

Art. 14. O processo instaurar-se-á com a apresentação do pedido,


escrito ou oral, à Secretaria do Juizado.

§ 1º. Do pedido constarão, de forma simples e em linguagem acessível:

II - os fatos e os fundamentos, de forma sucinta;

Assim, sem necessidade de maior fundamentação, visto que o artigo de lei acima
transcrito é bastante elucidativo, rejeito a preliminar aqui analisada.
PRELIMINAR. ILEGITIMIDADE ATIVA.

Alega a acionada, preliminarmente, a ilegitimidade da autora para figurar no pólo


ativo da presente demanda, sob o argumento de que, a mesma, pleiteia em nome
próprio direito alheio. Tal preliminar não deve prosperar. Dúvidas não há de que a
autora firmou um contrato com a parte acionada, sendo titular do mesmo, portanto,
consumidora dos serviços da empresa ré.
Os sujeitos da lide são os legitimados ao processo, isto é, os titulares dos interesses
em conflito. In casu, a legitimação ativa coube ao titular do interesse afirmado na
pretensão, e a passiva à titular do interesse que se opõe ou resiste à pretensão. Desta
forma, rejeito tal preliminar, por entender ser a autora parte legítima na ação.

PRELIMINAR. DECADÊNCIA DOS DIREITOS DA AUTORA.

Preliminarmente, a ré argui a decadência, sob o argumento de que a parte autora


pretende discutir vícios de aparente constatação, sujeito ao prazo decadencial de 30
dias, na forma do artigo 26 do CDC. Ocorre, todavia, que não assiste razão à parte ré,
uma vez que a pretensão da autora não gira em torno do fornecimento de serviços ou
produtos não duráveis. Ante o exposto, indefiro a presente preliminar.

DECIDO.

MÉRITO.

Em face do princípio constitucional da cidadania, o Código de Defesa e Proteção do


Consumidor adveio com objetivo de atender às necessidades dos consumidores, para
respeito à sua dignidade, saúde e segurança, proteção de seus interesses econômicos,
melhoria de sua qualidade de vida, primando pela transferência (rectius:
transparência) e a harmonia das relações de consumo, consoante dispõe o art. 4º da
Lei nº. 8078/90.

Quando se trata dos direitos à informação, seja na fase pré-contratual ou na de


contratação, o CDC assegura ao consumidor o acesso às informações corretas, claras,
precisas, sobre as características, qualidades, composição, preço, prazo de validade,
origem e demais dados dos produtos ou serviços, bem como sobre os riscos que
apresentem à sua saúde e segurança (arts. 6º e 31 do CDC).

Mais adiante, no seu art. 39, o CDC enuncia, de modo exemplificativo, proibições de
conduta ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre os quais podem ser colocadas
sob relevo: prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor (inciso IV),
exigir-lhe vantagem manifestamente excessiva (inciso V).

Assim, no sistema do CDC, leis imperativas e alto cunho social, irão proteger a
confiança que o consumidor depositou no vínculo contratual, mais especificamente
na prestação contratual, na sua adequação ao fim que razoavelmente dela se espera,
normas que irão proteger também a confiança que o consumidor deposita na
segurança do produto ou do serviço colocado no mercado. Busca-se, em última
análise, proteger as expectativas legítimas dos consumidores.

Ora, cabe ao julgador, com os olhos voltados para a realidade social, utilizar os
instrumentos que a lei, em boa hora, colocou a nosso alcance para, seja de maneira
preventiva, punitiva ou pedagógica, realizar o ideal de justiça no mercado de
consumo. Apesar disso, o Juiz deve basear-se nas provas dos autos, já que conforme o
mestre Pontes de Miranda, a falta de resposta pela outra parte estabelece, se as provas
dos autos não fazem admitir-se o contrário, a verdade formal da afirmação da parte.
(in Comentários ao C.P.C. Rio de Janeiro- Ed.Forense, pág. 295).

In casu, afirmou a autora ter sido vítima do descaso e desrespeito da empresa ré, o
que gerou danos de ordem moral e material passíveis de indenização.

Alegou a autora que no dia vinte e quatro de abril de dois mil e oito adquiriu, um
pacote de viagem junto à MSC Cruzeiros cujo itinerário começaria em salvador no
dia 18 (dezoito) de fevereiro de 2009, passaria por Búzios no Rio de Janeiro em 20
(vinte) de fevereiro e terminaria em Santos, no dia 21 (vinte e um) de fevereiro de
2009.

Alegou ainda que, no dia 18/02/2009, recebeu um documento informando que, a


escala em Búzios, não poderia ocorrer e havia substituída por uma escala em
Ilheus/BA, cidade já conhecida pela autora.

Informou, ainda, que, teve o seu desejo de conhecer Búzios usurpado.

Alegou, ainda que, devido a alteração no itinerário, o MSC Cruzeiros tentou


compensar o incidente com um reembolso equivalente a 20% do valor pago pelo ?
mini-cruzeiro¿, que fora R$ 543,05 (quinhentos e quarenta e três reais e cinco
centavos) ou um bônus de 20% de desconto para futuros cruzeiros como estes. E
ainda, um desconto de 20% em bebidas consumidas a bordo ou 10% de desconto nas
excursões.

Por fim, informou que não aceitou a compensação oferecida pelo MSC Cruzeiros
haja vista que, não lhe pareceu justa.
A ré, por seu turno, alega que devido as diversas atrações oferecidas dentro do
cruzeiro, este não é um meio de transporte, mas, um meio de hospedagem que possui
várias atividades para o lazer dos seus hóspedes. Sendo assim, uma mudança no
itinerário não constituiria uma falha na prestação do serviço.

Alega, por fim, que em face da existência de uma cláusula no contratual que
prevendo a mudança no itinerário, teria a empresa o direito de alterá-lo.

Nem é preciso uma análise mais apurada dos autos para notar que assiste razão à
parte autora.

Vê-se, de logo, que a acionada agiu em total desarmonia com as normas de defesa do
consumidor, eis que alterou, sem prévio aviso, o itinerário.

Torna-se claro o caráter abusivo da conduta da ré, devendo, portanto, arcar com o
ônus de tal desídia.

Aqui, a Requerente se sentiu lesada em decorrência da má prestação de serviço da


empresa ré, acarretando um ônus excessivo, que teve como desdobramento grande
abalo emocional e psíquico para a demandante, o que gera direito à reparação, à luz
dos dispositivos legais vigentes, a exemplo do art. 14, do CDC, que dispõe:

?o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela


reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços bem como informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos¿

O Código Civil, por seu turno, preceitua, em seu art. 186, que:

?Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar


direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.¿

Relativamente a pretensão por danos morais, verifica-se que a autora, em razão do


flagrante defeito nos serviços prestados, sofreu constrangimento, como também teve
a sua tranquilidade afetada.

Todo o mal causado ao ideal das pessoas, resultando mal-estar, desgostos, aflições,
interrompendo-lhes o equilíbrio psíquico, constitui causa eficiente para a obrigação
de reparar o dano moral:

DANO MORAL ? INDENIZAÇÃO ? Para que se impute a condenação ao


pagamento de indenização por dano moral, que tem como substrato a
responsabilização subjetiva contemplada no art. 186 do Código Civil (art. 159 do
Código Civil revogado), imperativa se torna a existência de ação ou omissão do
agente ou de terceiro (responsabilidade in eligendo), dolo ou culpa dessas pessoas,
nexo causal e lesão extrapatrimonial. A existência de provas nos autos da ocorrência
de lesão que tenha repercutido quer na honra, quer na boa fama ou mesmo na auto-
estima do empregado impõe a manutenção da sentença. (TRT 12ª R. ? RO-V-A
01174-2002-019-12-00-9 ? (04357/2004) ? Florianópolis ? 3ª T. ? Relª Juíza Lília
Leonor Abreu ? J. 29.04.2004).

A 4ª Turma do STJ, ao conceituar o dano moral puro, pontifica:

?Sobrevindo, em razão de ato ilícito, perturbação nas relações psíquicas, na


tranqüilidade, nos sentimentos e no afeto de uma pessoa, configura-se o dano moral
passível de indenização...¿

Arremata o Pretório Excelso:

?Cabimento de indenização, a título de dano moral, não sendo exigível a


comprovação do prejuízo.¿ (RT-614/236).¿

Configurada a responsabilidade da requerida relativamente aos danos morais,


necessário se faz estimar e fixar o valor da indenização, levando-se em consideração
o entendimento doutrinário a respeito do tema.

Em relação à forma de fixação do valor de indenização por danos morais, o Des. Luiz
Gonzaga Hofmeister do TJ-RS no proc. 595032442, esclarece, de forma meridiana:

?O critério de fixação do valor indenizatório, levará em conta tanto a qualidade do


atingido, como a capacidade financeira do ofensor, de molde a inibi-lo a futuras
reincidências, ensejando-lhe expressivo, mas suportável, gravame patrimonial.¿

Assim, não resta qualquer dúvida que a prática adotada pela acionada é considerada
abusiva, causando transtornos, constrangimento e frustração ao autor, que devem ser
ressarcidos, a título de danos morais.

Considerando a Doutrina acima transcrita, bem assim como o posicionamento


Jurisprudencial aqui trazido, pode-se resumir os fatores a serem considerados no
arbitramento da indenização do dano moral, como sendo o nível econômico e a
condição particular e social do ofendido, o porte econômico do ofensor, as condições
em que se deu a ofensa e o grau de culpa ou dolo do ofensor.

Quanto aos danos materiais pleiteados, não vislumbro a ocorrência dos mesmos.

Pelo exposto, e por tudo que constam nos Autos, JULGO, POR SENTENÇA,
PROCEDENTE, EM PARTE, A AÇÃO, nos termos do Art. 6° da lei n° 9.099/95
c/c art. 269, I, C.P.C., para condenar a empresa RÉ (MSC CRUZEIROS DO BRASIL
LTDA.) a pagar à autora a importância de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), a título de
danos morais, levando-se em conta critérios de razoabilidade e moderação, a ser
devidamente acrescido de juros e correção monetária, a partir deste preceito, em
conformidade com a Súmula 362, do STJ.

O acesso ao Juizado Especial independerá, em primeiro grau de jurisdição, do


pagamento de custas, taxas ou despesas, bem como a sentença de primeiro grau não
condenará o vencido nas custas processuais e honorários de advogado, ressalvados os
casos de litigância de má-fé; com esteio nos arts.54 e 55, da Lei N.º 9.099/95.

Após o prazo recursal arquivem-se os presentes autos, com cópia autentica desta
sentença. Não cumprida voluntariamente a sentença transitada em julgado, e havendo
solicitação do (a) interessado, que poderá ser verbal, proceder-se-á desde logo à
execução, dispensada nova citação.

Sem custas e honorários advocatícios. (Lei nº 9.099, 26.09.1995, art. 55).

PUBLIQUE-SE. REGISTRE-SE. INTIMEM-SE.

MSC CRUZEIROS DO BRASIL


SENTENÇA

Vistos, etc.,

Dispensado o relatório, consoante o disposto no art. 38 da Lei 9.099/05, passo a


decidir.

DA PRELIMINAR DE INÉPCIA DA INICIAL.

Afasto a preliminar suscitada pelas Acionadas, tendo em vista que a presente lide
observou os requisitos de admissibilidade, à luz do art. 282 do CPC, bem assim da lei deste micro sistema
processual, pelo que fica indeferida a preliminar alegada. 

DA ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM:

A parte demandada tem interesse jurídico-material na pretensão resistida na


exordial, estando intimamente relacionada com o mérito da queixa, sendo absolutamente legítima para
figurar no pólo passivo da presente lide (art. 3º do CPC) em virtude da responsabilidade solidária existente
entre os fornecedores de serviços. Assim, rejeito a preliminar argüida.

DO MÉRITO
Declara a Autora que contratou os serviços das Acionadas para viagem de
Cruzeiro no navio MSC Melody pelo valor de R$ 2.990,40, efetuando o pagamento através da emissão de
um cheque à vista de R$ 1.500,00 e mais dois de R$ 745,20.

Informa, ainda, a Acionante que logo que percebeu que emitiu os cheques errados,
procurou a Flytour para trocá-los pelos corretos. Entretanto, em 06/02/2010 ficou sabendo que seu nome fora
incluído no Cadastro de Cheques sem Fundo posto que as Rés teriam efetuado os depósito de ambos os
cheques.

As empresas Acionadas se insurgem contra as alegações da Autora, afirmando que


a mesma não teria comprovado, nem sofrido dano moral e material algum, bem como seu nome e CPF não
teria sido inscrito nos órgãos de proteção ao crédito.

Consta do exame dos autos de que a Acionante recebeu notificação do Banco


Real/Grupo Santander Brasil, datada de 06/02/2010, informado que o cheque nº 010021 fora devolvido por
insuficiência de saldo em sua conta corrente, devendo ocasionar a inclusão do seu CPF no Cadastro de
Emitente de Cheques sem Fundos.

O ordenamento jurídico determina que a parte Autora sofrerá o ônus de realizar


prova sobre fatos constitutivos do seu direito, assim como será ônus da parte ré fazer prova dos fatos
impeditivos, modificativos e extintivos do direito do Autor, conforme o art. 333 do CPC.

Sendo assim, chego à conclusão de que a parte autora cumpriu com o seu ônus de
realizar prova sobre o fato constitutivo do seu direito, posto que carreou aos autos documento comprobatório
de real inscrição do seu nome CPF nos Cadastro de Emitente de Cheques sem Fundos, consulta nº
00500000547, realizada em 01/03/2010, bem como notificação do Banco Real/Grupo Santander Brasil acima
mencionada.

Com efeito, a situação fática demonstra sem sombras de dúvidas que, muito
embora possam ter ocorrido equívocos na atuação das rés, cabível é a responsabilidade das prestadoras dos
serviços, visto que o CDC prevê que a responsabilidade do fornecedor de serviço será objetiva, não se
discutindo a ocorrência de culpa.

O Novo Código Civil, afastando-se da orientação da lei revogada, consagrou


expressamente a teoria do risco e, ao lado da responsabilidade subjetiva (calcada na culpa), admitiu também
a responsabilidade objetiva.

Atualmente, tanto a doutrina quanto a jurisprudência, tem entendido a possibilidade


de ocorrência do chamado dano moral punitivo, com fito meramente educativo, também chamado de dano
extrapatrimonial. Posicionamento que no mínimo iniba o ofensor para que se abstenha da prática de atos
abusivos.

Sobre o dano, assim dispõe o Art. 927, do Código Civil:

 
?Haverá a obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.?

Não obstante, a condenação da empresa ré no pagamento de indenização moral se


faz necessária, ante o entendimento remansoso da jurisprudência pátria:

?A indenização pelo dano moral deve ter caráter punitivo, proporcionalmente ao grau de culpa, ao porte
empresarial das partes, Às suas atividades negociais, com atenção às peculiaridades (STJ, REsp n. 173.366-
SP, 4ª T., rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 3-12-1998); ?A indenização por dano moral objetiva
compensar a dor moral sofrida pela vítima, punir o ofensor e desestimular este e a sociedade a
cometerem atos dessa natureza?. (STJ, REsp 332.589-MS, 3º T., tel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, j. 8-
12-2001).? (GRIFOS NOSSOS)

Deixo de condenar as empresas acionadas na indenização por danos materiais,


posto que a autora não carreou aos autos nenhum documento comprobatório que demonstrasse a sua real
ocorrência.

ISTO POSTO, diante da doutrina e da jurisprudência apresentada, e com fulcro no


art. 269, I do Código de Processo Civil, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO
CONSTANTE DA PEÇA INICIAL, e condeno as Reclamadas, de forma solidária, ao pagamento da
quantia de R$ 1.000,00, à parte Requerente, a título de indenização por danos morais, valor esse a ser
devidamente acrescido de juros e correção monetária, a partir deste preceito, em conformidade com a
Súmula 362, do STJ. Sem custas. Sem honorários nesta fase processual.

Registre-se. Expeçam-se as intimações necessárias.

032.2010.019.811-1 ver

Você também pode gostar