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Paidéia, 2002, 12(23), 57-75

INTELIGÊNCIA FLUIDA: DEFINIÇÃO FATORIAL,


1
COGNITIVA E NEUROPSICOLÓGICA
2
Ricardo Primi
LabAPE - Universidade São Francisco

RESUMO: Este artigo pretende revisar o construto inteligência fluida (Gf) buscando ressaltar os pon-
tos de convergência entre eles. Discute-se alguns estudos relevantes das abordagens psicométrica, cognitiva e
da mais recente neurociência cognitiva. A tendência corrente é associar a inteligência fluida a pelo menos sete
funções do executivo central, componente da memória de trabalho: (a) manutenção do nível de ativação das
representações mentais, (b) coordenação de atividades mentais simultâneas, (c) monitoramento e supervisão
das atividades mentais, (d) controle da atenção e atenção seletiva, (e) ativação dé informações da memória de
longo prazo e (e) redirecionamento de rotas ou flexibilidade adaptativa. Discute-se também como os testes de
raciocínio indutivo com analogias geométricas representam este construto.

Palavras-chave: executivo central, memória de trabalho, raciocínio indutivo, avaliação da inteligên-


cia, neuropsicologia, neurociência cognitiva.

FLUID INTELLIGENCE: FACTORIAL,


COGNITIVE AND NEUROPSYCHOLOGICAL DEFINITION

ABSTRACT: This paper reviews the construct fluid intelligence (Gf) with the intent to focus on the
conceptual points of convergence among them. It was discussed some relevant studies from the psychometric,
cognitive and the more recent cognitive neuroscience traditions. The current trend is to link fluid intelligence
to at least seven functions of central executive component of working memory: (a) the level of activation
maintenance of mental representations, (b) coordination of simultaneous mental activities, (c) monitoring and
supervision of mental activities (d) attention control and selective attention, (e) activation of information from
long-term memory (f) rerouting or adaptive flexibility. It was also discussed how geometric inductive reasoning
tasks represent the construct Gf.

Key-words: central executive, working memory, inductive reasoning, intelligence assessment,


neuropsychology, cognitive neuroscience.

A inteligência humana talvez seja um dos as- turar que dificilmente existirá uma teoria consensual
suntos mais estudados em toda a história da Psicolo- sobre o que é inteligência. De fato as teorias variam
gia. Para se ter uma idéia, uma busca feita no banco em razão da tradição de pesquisa herdada pelo estu-
de dados PsycINFO da Associação Americana de do podendo ser classificada de modo geral em três
Psicologia por artigos cujos títulos continham uma grandes abordagens: a fatorial ou psicométrica, a
das palavras Intelligence, ou Intelectual ou Ability desenvolvimentalista e a cognitiva (Almeida, 1988,
resultou em 18448 artigos desde 1887. Diante da 1994; Sternberg, 1979, 1980, 1981). Entretanto re-
imensidão de trabalhos publicados podemos conje- visando os estudos podemos observar focos de con-
senso a despeito da imensidão de idéias, dados e
1
Artigo recebido para publicação em janeiro de 2002; aceito em março modelos tratando do assunto. Neste artigo pretende-
de 2002 se revisar um conjunto de estudos tratando do racio-
2
Endereço para correspondência: Ricardo Primi, Laboratório de cínio ou inteligência fluida, como atualmente têm
Avaliação Psicológica e Educacional - LabAPE, Programa de Estudos
Pós-Graduados em Psicologia, Universidade São Francisco, Rua sido chamada, buscando ressaltar os pontos de con-
Alexandre Rodrigues Barbosa, 45, CEP 13251-900, E-mail: vergência entre eles. O texto está dividido em três
rprimi@uol.com.br
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grandes partes ligadas às abordagens: a primeira re- do em uma visão hierárquica multidimensional da
visando a concepção psicométrica, a segunda trazen- inteligência organizando-a em dez fatores amplos
do alguns estudos clássicos da psicologia cognitiva (inteligência fluida, conhecimento quantitativo, in-
e a terceira revisando alguns estudos mais recentes teligência cristalizada, leitura e escrita, memória de
da neurociência cognitiva. Nesta última parte ten- curto prazo, processamento visual, processamento
tou-se resumir as funções cognitivas associadas à auditivo, armazenamento e recuperação da memória
inteligência fluida e discutir como os testes de racio- de longo prazo, velocidade de processamento, rapi-
cínio indutivo representam este construto. dez de decisão) e pouco mais de sessenta fatores es-
pecíficos subjacentes aos fatores amplos. Este mo-
Psicometria e Inteligência Fluida delo vem gradualmente sendo empregado como uma
Dentro da tradição psicométrica parece haver nomenclatura padrão entre pesquisadores e profissi-
3
um consenso quanto à existência de pelo menos oito onais no entendimento da inteligência .
fatores amplos subjacentes aos testes cognitivos Embora no modelo CHC a inteligência fluida
(Flanagan, McGrew & Ortiz, 2000; Flanagan & Ortiz, (Gf) esteja situada em um nível hierárquico mais es-
2001; Horn & Noll, 1997). Este consenso foi solidi- pecífico que o fator geral ela é, dentre os fatores
ficado a partir da publicação em 1993 do livro de amplos, o que mais se associa à concepção do fator
John B. Carroll Human Cognitive Abilities: a survey g de Spearman (1927). Carroll (1993) aconselha que
of factor analytic studies. Neste estudo Carroll fez o estudo das causas da complexidade de problemas
uma varredura dos últimos 60 anos na literatura ci- de raciocínio indutivo, um dos fatores específicos
entífica, selecionou 461 conjuntos de dados de 1500 de Gf, poderá ajudar na interpretação do fator g, isto
referências nas quais estavam incluídos quase todos é, na compreensão dos processos cognitivos gerais
os mais importantes e clássicos estudos da estrutura presentes nas mais variadas habilidades cognitivas.
da inteligência feitos pela abordagem fatorial e efe- Segundo a concepção do fator g toda ativida-
tuou uma reanálise utilizando métodos mais avança- de mental intelectual envolveria em maior ou menor
dos. Este estudo resultou em um modelo hierárquico grau uma única capacidade, indicando a existência
da inteligência chamado Teoria dos Três Estratos. O de processos cognitivos comuns aos diferentes tipos
nome "Estrato" refere-se à idéia de camadas dispos- de atividades mentais. Spearman (1927) buscou es-
tas em três níveis em função da generalidade. O Es- tudar a natureza do fator g em termos de funciona-
trato I contém pouco mais de 65 fatores específicos mento cognitivo e o definiu a partir de três proces-
ligados ao formato dos problemas cognitivos pro- sos básicos: (a) apreensão das experiências signifi-
postos pelos testes psicométricos. O Estrato II agru- cando uma capacidade ligada à percepção, à rapidez
pa estes fatores específicos em oito fatores mais e à acuidade com que as pessoas percebem os estí-
amplos nos domínios do raciocínio, conhecimento- mulos, e bem como aos processos de auto-percep-
linguagem, memória-aprendizagem, percepção visu- ção da atividade consciente; (b) edução de relações
al, percepção auditiva, produção de idéias, velocida- referindo-se à capacidade maior ou menor de esta-
de de processamento cognitivo e velocidade de de- belecer relações entre duas ou mais idéias, sejam elas
cisão. O Estrato III corresponde ao fator g de originadas da percepção ou de representações
Spearman indicando a existência de operações mnêmicas (por exemplo, pensar ou ver um elefante
cognitivas comuns a todas as atividades mentais e uma garça e relacioná-los em uma categoria: ani-
O modelo é semelhante à concepção moderna mais; (c) edução de correlatos referindo-se à capa-
da teoria Gf-Gc (inteligência fluida e cristalizada) cidade maior ou menor que as pessoas demonstram
iniciada por Cattell (1941, 1971) e desenvolvida e de criar novas idéias a partir de uma idéia e uma
aprimorada por Horn (1991), Horn e Cattell (1966) relação (por exemplo: a partir de uma categoria como
um de seus estudantes. McGrew e Flanagan (1998) a dos animais, evocar idéias particulares como jaca-
propuseram uma integração das teorias Gf-Gc e dos
' Maiores informações sobre a Teoria CHC podem ser encontradas no
Três Estrados criando-se a Teoria de Cattell-Horn- site http://www.iapsvch.com especializado na divulgação e aplicação
Carroll - CHC das Habilidades Cognitivas resultan- da Teoria CHC disponibilizando vários materiais, informações e uma
lista de discussão sobre a teoria.
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rés, gorilas, quatis, etc). Estes processos estariam cuperação e aplicação desses esquemas (Gc). À me-
presentes em todas as atividades mentais não impor- dida que estes não existirem, eles precisarão ser cria-
tando o conteúdo (matemático, verbal, artístico, etc). dos. A pessoa deverá construir um novo programa de
A teoria CHC passou a identificar o fator g performance, organizando as informações disponíveis
como sendo mais próximo à inteligência fluida (Gf) na situação e/ou reestruturando esquemas prévios. A
referindo-se à habilidade de raciocinar em situações inteligência Gfé, portanto, uma habilidade importan-
novas, diferentemente da inteligência cristalizada (Gc), te na previsão da capacidade geral de adaptação às
referindo-se à habilidade de aplicar definições, méto- situações novas, pouco estruturadas, que requerem
dos e procedimentos de solução de problemas, apren- autonomia intelectual. De acordo com Flanagan e Ortiz
didos previamente, para lidar com situações proble- (2001): "a inteligência fluida refere-se às operações
ma (Hunt, 1996). Quando as pessoas encontram uma mentais que uma pessoa usa quando está defronte de
situação-problema, elas precisam aglomerar um con- tarefas novas que não podem ser executadas automa-
junto de procedimentos, que Snow, Kyllonen e ticamente. Estas operações mentais incluem o reco-
Marshalek (1984) chamaram de "programas de nhecimento e formação de conceitos, a compreensão
performance", com o objetivo de resolver a questão de implicações, resolução de problemas, extrapolação,
existente. À medida que existirem programas de e reorganização ou transformação de informações"
performance, isto é, esquemas de ação, armazenados (p.9).
na memória de longo prazo, a solução passa pela re-

Tabela 1: Fatores Específicos da Inteligência Fluida


FATOR DEFINIÇÃO EXEMPLO
Raciocínio Habilidade associada ao raciocínio lógico- Uma loja vende produtos importados e nacionais entre vestidos
Seqüencial Geral seqüencial. isto é, iniciar com regras, premissas e camisas e casacos. Alguns vestidos e todos os casacos fazem parte
(RO) condições declaradas e engajar em um ou mais dos produtos importados. Não há produto importado disponível em
passos para chegar a solução para problemas tamanho grande. Assinale qual dentre os fatos enunciados não
novos. E uma habilidade ligada a descoberta de poderia ser verdadeiro:
implicações subjacentes a certas idéias ou ligada A. Carla experimenta uma camisa nacional.
a combinação lógica entre elas. B. Luciana está comprando um casaco pequeno
C. Alberto pegou um casaco grande
D. Adriana experimenta um vestido pequeno.
Indução (I) Habilidade para descobrir as características Qual figura (A, B, C ou D) completa a analogia corretamente o
fundamentais ou basais (e.g. regras, conceitos, espaço com o ponto de interrogação?
processos, tendências, pertinência a uma classe)
que governam um problema ou um conjunto de
materiais. É uma habilidade ligada à descoberta
de regularidades observando-se vários exemplos
particulares representando aplicações das regras.

Raciocínio Habilidade de raciocinar de maneira indutiva e Comprei um doce que custava R$1,00. Paguei com uma nota de
Quantitativo (RQ) dedutiva sobre conceitos que envolvem relações e R$5,00 e dei a metade do troco para o meu irmão. Quanto dinheiro
propriedades matemáticas. dei para o meu irmão?
Raciocínio Seriação, conservação,- classificação e outras As tarefas clássicas usadas nos estudo de Piaget
Piagetíano (RP) habilidades cognitivas definidas por Piaget.

No Estrato I, a inteligência fluida é composta destes estudos.


por quatro fatores mais específicos apresentados na O primeiro fator chamado Raciocínio
Tabela 1. Carroll (1993) analisou 236 tarefas de Seqüencial Geral (RG) abarca tarefas que requisitam
raciocínio ou fatores específicos em seu conjunto alguma forma de raciocínio dedutivo, isto é, a
de 461 estudos e descobriu três grupos de tarefas capacidade de derivar implicações ou conclusões a
gerais resultantes de inúmeras análises fatoriais partir da análise de combinação de premissas
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claramente formuladas seguindo dois ou mais passos
lógicos. As tarefas de raciocínio dedutivo podem ser Psicologia Cognitiva e Inteligência Fluida
subdivididas em silogismos categóricos, silogismos
lineares e raciocínio verbal geral. O segundo fator Uma das limitações do modelo psicométrico
chamado Indução (7) abarca atarefas de raciocínio em razão do emprego da análise fatorial é a ênfase
indutivo nas quais a pessoa deve analisar um conjunto na faceta estrutural da inteligência (Sternberg, 1980).
de estímulos observando as regularidades, as A capacidade cognitiva de uma pessoa utilizada na
características comuns, para inferir as relações entre resolução de problemas da vida diária pode ser
os estímulos. As tarefas de raciocínio indutivo podem decomposta, segundo as teorias fatoriais, em diversos
ser subdivididas em: descoberta de conceitos/regras, fatores como desenvolvimento lingüístico,
seriação, tarefas de múltiplos exemplares, matrizes, informação, raciocínio indutivo, raciocínio
elementos ímpares, analogias. O terceiro fator seqüencial geral, visualização, memória, fluência
chamado Raciocínio Quantitativo (RQ) indica as verbal, etc. Entretanto, essas teorias não fornecem
tarefas que utilizam o raciocínio dedutivo e indutivo suporte para a compreensão de como essas
mas mesclando-se com conceitos e relações capacidades entram em ação no momento em que a
quantitativas matemáticas principalmente de pessoa se defronta com os problemas da sua vida
aritmética mas também álgebra, geometria e cálculo diária. Isto é, essas teorias não fornecem uma
nos problemas mais difíceis. compreensão dinâmico-funcional da inteligência.
Carroll (1993) descreve a dificuldade em Partindo desta limitação na década de 60 um
separar os três fatores tendo encontrado somente um grande volume de estudos da psicologia cognitiva
estudo no qual os três apareciam claramente demonstrou, com maior clareza, a natureza dos
diferenciados. Esta dificuldade derivou em parte em processos cognitivos da inteligência fluida (Bethell-
razão dos delineamentos que muitas vezes fatoravam Fox, Lohman & Snow, 1984; Carpenter, Just & Shell,
variáveis que não representavam todo o espectro do 1990; Embretson, 1994, 1995, 1998; Evans, 1968;
raciocínio. Outra característica encontrada é que estes Goldman, &Pellegrino, 1984; Gonzales Labra, 1990;
fatores são correlacionados e muitas vezes aparecem Gonzales Labra & Ballesteros Jimenez, 1993; Green
com um único fator interpretados como g. Outro & Kluever, 1992; Hornke & Habon, 1986;
ponto é a dificuldade em criar tarefas que meçam Mulholland, Pellegrino & Glaser, 1980; Pellegrino,
com pureza os processos únicos de cada fator. Por & Glaser, 1979; Rumelhart & Abrahamson, 1973;
exemplo, mesmo em tarefas de indução no momento Sternberg, 1977; Sternberg & Gardner, 1983). No
da resposta pessoa emprega a também a dedução seja Brasil estudos deste tipo foram realizados por Primi
pela aplicação da regra para a criação da resposta ou (1995, 1998, 2002), Primi e Rosado (1995), Primi,
pela classificação de alguma resposta segundo a Rosado e Almeida (1995). Tais estudos investigam
regra. As características elementares que diferenciam os processos cognitivos envolvidos em tarefas
uma tarefa de indução de outra de dedução é a ênfase apresentadas em testes psicométricos. O estudo
na descoberta da regras para a primeira e ênfase na considerado clássico nesta área é o de Sternberg
combinação de regras e premissas claramente (1977) que propôs um novo método chamado análise
definidas na segunda. componencial a partir do qual é possível analisar os
Com relação às tarefas Piagetianas, Carroll passos cognitivos que as pessoas executam quando
(1993) analisou onze estudos que empregavam as resolvem problemas em testes psicométricos. Este
medidas Piagetianas correlacionando-as com testes método será discutido a seguir.
psicométricos. Ele concluiu que ainda não é claro
como as dimensões subjacentes às tarefas Piagetianas Estudos iniciais dos componentes cognitivos do
se correlacionam com os três fatores amplos RG, I e raciocínio analógico
RQ. Entretanto todas elas têm cargas fatoriais altas Dentro do domínio da inteligência fluida, os
no fator geral. Esta, portanto, é uma área que precisa problemas de raciocínio analógico são uma tarefa
ser melhor investigada. freqüentemente utilizada para avaliar raciocínio
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indutivo. Esta forma de raciocinar se relaciona ao modelo de processamento envolvendo cinco
processo de aplicar, analogamente, um conjunto de componentes principais e uma alternativa:
informações ou relações de um domínio bem codificação, inferência, mapeamento, aplicação,
conhecido a outro desconhecido, criando, com isto, resposta e justificativa. Estes estariam encadeados
novas informações em campos desconhecidos. em uma estratégia como se descreve a seguir. Em
Geralmente os itens de raciocínio analógico seguem uma analogia do tipo A.B//C:? Dl ou D2, por
o formato A está para B assim como C está para D exemplo: Automóvel: Estrada /Trem: (A) Estação,
(A:B / C:D) como o exemplo do Fator / apresentado (B) Trilho. Inicialmente o sujeito codifica os dois
na Tabela 1. Formatos como este exigem do sujeito termos (A e B) de maneira serial e exaustiva,
a capacidade de inferir relações entre os dois recuperando da memória a longo prazo, os atributos
primeiros termos (evento conhecido) e aplicá-las ao relacionados aos conceitos, bem como valores
terceiro termo, encontrando a parte que falta (evento particulares dentro do espectro de variação destes
desconhecido). atributos; em seguida, o sujeito infere as relações
Sternberg (1977) estudou experimentalmente entre todos os atributos codificados para os dois
o processo de solução de analogias de conteúdo termos, armazenando as relações encontradas na
verbal, geométrico e figuras esquemáticas de pessoas. memória de trabalho. Após a inferência, o sujeito
Uma das manipulações experimentais feitas neste codifica o terceiro termo da analogia, recuperando
estudo criava quatro maneiras de apresentação das seus atributos e em seguida mapeia as relações
analogias. Considerando o formato A:B//C:D, na existentes entre ele e o primeiro termo e armazena
primeira condição o primeiro termo (A) era na memória as relações encontradas. Em seguida, o
apresentado em uma tela de um taquistoscópio e os sujeito codifica as alternativas (termos Die D2), e
participantes observavam este estímulo o tempo que aplica, para o termo C, as relações encontradas para
quisessem. Estando prontos para continuar, os os termos A:B. Se o sujeito consegue distinguir uma
participantes pressionavam uma tecla fazendo com única solução entre as respostas possíveis (ou seja,
que a analogia toda (A:B//C:D) aparecesse nà tela. um termo D que forme uma relação C:D análoga a
Nas três condições restantes, ocorria a mesma A:B), então o sujeito responde. Se isto não for
seqüência, variando somente o número de elementos possível, ou seja, se nenhum dos atributos
que apareciam na apresentação preliminar (A:B, A:B/ recuperados e aplicados consegue fazer esta
C, e uma tela branca). O experimentador media o distinção, então o sujeito inicia um novo componente
tempo de reação transcorrido na segunda parte da de justificativa por meio do qual descobre a melhor
apresentação. Além desta manipulação interferindo resposta possível, justificando as razões encontradas.
no número de elementos que deveriam ser Supondo que este modelo fosse verdadeiro e
processados na segunda parte, Sternberg variou supondo ainda que o processamento ocorra em série,
sistematicamente cada item de forma a aumentar ou o tempo de resolução das analogias é igual à soma
diminuir a complexidade das relações entre os termos do número de vezes em que cada componente é
A:B que deveriam ser descobertas durante a executado. Sendo assim, o tempo de reação pode ser
resolução. previsto por equações lineares, como é exemplificado
Sternberg (1977) postulou, inicialmente, um na Tabela 2.

Tabela 2: Demonstração de duas formas possíveis de divisão de uma tarefa de raciocínio analógico
CONDIÇÃO FASE FASE DE RESOLUÇÃO PREVISÃO DO TEMPO DE REAÇÃO
PRELIMINAR
1 Nada Automóvel Estrada / Trem : ? (A) Estação, (B) Trilho 77? = 5 cod + X inf+ Y map + Z apt + res
2 Automóvel: Estrada Automóvel Estrada / Trem : ? (A) Estação, (B) Trilho TR = 3. cod + Y map + Z apt + res

Nela são descritas as equações para duas con- preliminar. Logo, 5 termos devem ser codificados (5
dições de apresentação. Na primeira condição, to- cod). Na segunda condição os termos A:B são apre-
dos os termos devem ser codificados na fase de re- sentados na fase preliminar. Logo, estes dois termos
solução pois nenhum termo foi apresentado na fase são codificados (2 cod) e as relações entre eles são
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inferidas (X inf) neste momento inicial. Na fase de entre estes termos. Assim, foram operacionalizadas
resolução, portanto, somente três termos devem ser as variáveis que interferem no componente de
codificados (3 cod) e o restante dos componentes codificação (ou seja, o número de atributos que eram
devem ser processados (Y map + Z apl + res ) . os elementos que compunham cada termo individu-
Portanto, a cada condição os componentes são siste- al) e no componente de inferência das relações (trans-
maticamente eliminados na fase de resolução e as formações nos elementos). Em seu delineamento, os
equações de previsão do tempo de reação irão refle- itens do teste representavam composições fatoriais
tir esta eliminação. dessas duas variáveis. Portanto, não havia, como na
Basicamente, nas equações estão envolvidos pesquisa de Sternberg (1977), condições de pré-apre-
parâmetros (cod, inf, map, apl, res) representando o sentação.
tempo requerido por cada componente e variáveis Nesta pesquisa, foram pressupostos quatro
independentes relacionadas às manipulações expe- componentes de processamento envolvidos na res-
rimentais que controlam o número de vezes que os posta ás analogias: (a) comparação e decomposição
componentes devem ser processados. Utilizando a de padrões, (b) análise de transformações e geração
regressão múltipla é possível estimar os valores dos de regras, (c) comparação de regras e (d) resposta.
parâmetros (cod, inf, map, apl, res) das equações in- Neste estudo as analogias eram semelhantes ao exem-
dicando o tempo requerido no processamento de cada plo apresentado para o fator Indução na Tabela 1,
passo no processo de resolução. Sendo o modelo entretanto, no formato verdadeiro ou falso, isto é,
verdadeiro, esta equação teria sucesso em prever o apresentava-se urna analogia completa incluindo o
tempo de reação, fazendo com que a correlação en- termo D e a atarefa do sujeito consistia em dizer se a
tre o tempo previsto e o encontrado fosse alta. De analogia era correta ou não. De acordo com o mode-
modo geral os resultados de foram bem sucedidos lo de Muholland e cols (1980) nestes itens inicial-
em prever o tempo de reação e estimar, portanto, o mente o sujeito compara os dois primeiros termos,
tempo requerido em cada componente (Sternberg, identificando os elementos comuns que os compõem.
1977). Cada padrão identificado é analisado quanto às trans-
A análise componencial inspirou vários estu- formações ocorridas. Identificada a transformação,
dos sobre o processamento cognitivo envolvidos na esta é armazenada na memória de trabalho em forma
resolução de testes psicométricos de raciocínio. Den- de proposições que dizem respeito aos elementos e
tre eles, Mulholland e cols. (1980) pesquisaram mais suas transformações. Este processo de identificação
detalhadamente as analogias com figuras geométri- de um padrão e análise das transformações se repete
cas. Segundo eles "uma fragilidade da teoria de até que se eliminem todos os padrões encontrados
Sternberg em seu estado corrente se relaciona à idéia para os termos "A e B". O mesmo processo ocorre
de que o processo de codificação é exaustivo e de para os termos "C e D", só com uma diferença. Já
que a representação dos atributos associados a um que a forma dos itens pesquisados era do tipo verda-
dado termo da analogia são independentes do con- deiro-falso, depois que a transformação para o pri-
texto. É difícil conceber como a codificação de uma meiro termo é encontrada, ela é comparada com as
nova palavra ou figura, em um problema de analo- proposições armazenadas na memória. Se essas não
gia, sem que um termo anterior ou posterior - ou seja forem semelhantes, o sujeito responde que a analo-
o contexto - gere uma tendência que determine o ní- gia é incorreta. Contudo, se elas forem semelhantes,
vel mais apropriado da representação do item na ele continua o processo de identificação e análise do
memória" (p.254). próximo elemento. Ao final verifica-se se todos os
Com base nestes pontos Muholland e cols elementos foram comparados. Se, neste processo, não
(1980) delinearam uma pesquisa destinada a verifi- houve nenhuma dessemelhança, o sujeito responde
car mais detalhadamente o processo de codificação que a analogia é correta. Caso contrário, responde
manipulando sistematicamente o número de elemen- que esta é incorreta.
tos que compunham cada termo individual, e simul- As principais diferenças entre este modelo e o
taneamente o número de transformações ocorridas de Sternberg (1977), estão no processo de codificação
Inteligência Fluida 63
e na estratégia geral que relaciona os componentes. no processamento de analogias geométricas. No en-
Nota-se, portanto, que este modelo pressupõe que a tanto grande parte das tarefas mais importantes de
codificação de um termo se faz em relação ao segun- raciocínio analógico usadas na avaliação da inteli-
do termo. O sujeito, em um processo de análise, com- gência fluida consiste em figuras geométricas dis-
para os dois termos, selecionando os atributos rele- postas em matrizes como o item exemplificado na
vantes da analogia, ou seja, os padrões de que são Figura 1 usado em Primi (1998, 2002).
compostos os termos. Na medida em que os padrões
são encontrados, eles são analisados quanto às trans-
formações ocorridas, gerando, com isto, uma lista
de proposições que representam os padrões e suas
transformações. Além disso, este modelo postula a
estratégia: inferência-inferência-comparação, en-
quanto o modelo de Sternberg postula a estratégia:
inferência-mapeamento-aplicação.
Segundo Mulholand e cols (1980) a equação
de regressão simplificada que prevê o tempo de rea-
ção em seus itens seria: TR = xE + yT + k na qual E
é igual ao parâmetro estimado para o processo de
comparação e decodificação dos padrões individu-
ais; x é a variável independente referente ao número
de elementos existentes na analogia; Té o parâmetro
estimado para o processo de análise de transforma-
ções e geração de regras individuais; y é a variável
independente referente ao número de transformações
e comparações exigidas em cada analogia particular
e k é uma constante ligada à resposta.
Contudo, os resultados obtidos violaram a
simples aditividade, gerando efeitos superaditivos em
função da interação das variáveis Te E. Uma razão
potencial para isto é que em níveis mais altos de di- Em problemas desse tipo, as figuras geomé-
ficuldade (número alto de Te E) um tempo maior é tricas estão dispostas segundo regras subjacentes que
gasto em processos ligados à memória, já que um necessitam ser descobertas, possibilitando a
grande número de proposições referentes aos elemen- extrapolação no reconhecimento de qual, dentre às
tos e suas transformações devem ser armazenadas. oito alternativas, completa corretamente o espaço
Portanto, Mulholand e cols (1980) consideram que deixado em branco no canto inferior direito da ma-
os processos envolvidos nos dois componentes são triz de nove quadros.
aditivos, e as sobrecargas de memória seriam a ex- O modelo de processamento para itens desse
plicação para o aumento do tempo de reação em itens tipo, adotado nesse estudo, será descrito com o auxí-
difíceis. Logo a equação de regressão final assumiu lio da Figura 2. Nela apresentam-se os principais sis-
a seguinte forma: TR = xE + yT+TE + k, onde TE é temas envolvidos no processo de resolução (memó-
igual ao tempo gasto no componente ligado à me- ria de longo prazo, memória de trabalho, sistema sen-
mória. sorial perceptual e sistema motor) representados pela
Os componentes de processamento cognitivos para cor cinza indicando seu estado de ativação.
problemas em matrizes O processamento foi dividido em três blocos,
De um modo geral, o trabalho de Mulholland e cols denominados dessa maneira por incluírem mais de
(1980) trouxe avanços significativos possibilitando um componente de processamento. Esses blocos são:
uma maior compreensão dos processos envolvidos (a) um bloco associado à criação das representações
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mentais que compõem o problema e à criação de re- gura 2, já que, como apontaram Pellegrino e Lyon
gras que descrevem seu relacionamento; (b) um blo- (1979), o estudo clássico de Sternberg (1977), e mui-
co ligado ao reconhecimento dos paralelos entre a tos que o seguiram, utilizaram analogias relativamen-
regra e uma situação nova e sua confirmação; (c) a te fáceis, não ambíguas e, portanto, os modelos pro-
aplicação dessas regras na criação de alternativas para postos nesses estudos não seriam automaticamente
o problema, Esse modelo foi resultado de uma tentati- generalizáveis para analogias mais complexas como
va de integração das descobertas da literatura, princi- as que foram utilizadas aqui. De fato, Carpenter e cols.
palmente no trabalho de Carpenter & cols. (1990) que concluíram que "a análise do raciocínio em analogias
estudou os processos de resolução das Matrizes Pro- simples ilumina os processos de inferências específi-
gressivas de Raven (Raven, 1962; Raven, Raven & cos da tarefa, mas são improváveis em representar as
Court, 1998). Esse estudo é o que propõe o modelo diferenças individuais em tarefas de raciocínio mais
mais adequado para itens do tipo apresentado na Fi- complexas"(p. 429).

Primeiro Bloco: input primeira linha, análise perceptual e análise conceituai (indução de regras) (Carpenter, Just & Shell, 1990); codificação e
inferência de relações (Sternberg, 1977), comparação e decomposição de elemento, análise de transformações e geração de regras (Mulholland,
Pellegino & Glaser, 1980).
Segundo Bloco: input segunda linha, análise perceptual, análise conceituai (generalização)
(Carpenter, Just & Shell, 1990), mapeamento (Sternberg, 1977), comparação de regras (Mulholland, Pellegino & Glaser, 1980).
Terceiro Bloco: input terceira linha, análise perceptual, análise conceituai (generalização), geração e seleção de uma resposta (Carpenter, Just & Shell,
1990), aplicação, comparação e resposta (Sternberg, 1977), comparação de regras, resposta (Mulholland, Pellegino & Glaser, 1980).

Primeiro bloco: iniciando a resolução das abstraindo do padrão complexo um elemento ou


analogias, os sujeitos observam a primeira linha e atributo por vez.
percebem várias figuras não relacionadas. Em cada Nesse momento estão ativos o controle motor
parte da matriz na qual fixem a atenção, verão um dos movimentos oculares e o sistema de percepção
elemento independente. Iniciam então um processo visual. O controle motor organiza o fluxo dos
básico de comparação perceptual, buscando estímulos que entram pelo sistema de percepção
similaridades e diferenças entre os estímulos e visual. Provavelmente, nessa fase, os atributos
Inteligência Fluida 65
perceptuais dos estímulos e os processos internos de correta, isto é, se ela agrupa atributos que não são
organização perceptual tenham grande influência no relevantes para a solução do problema, ele perceberá
agrupamento de elementos ou atributos, de forma que a inconsistência nesse momento, e precisará operar
estímulos semelhantes, mais próximos ou com uma sobre as informações armazenadas na memória de
continuidade natural, mostrarão uma maior tendência trabalho sobrecarregando-a. O sujeito terá que
a serem agrupados (Primi, 1995). comparar as regras x, inferida na primeira linha, e y,
Depois desse agrupamento perceptual, o inferida na segunda, e decidir se irá descartar uma
sujeito cria uma regra verbal conceituai, descrevendo delas ou manter as duas. Ele pode decidir descartar a
as transformações perceptuais que observa entre os regray, por exemplo, se observar que essa regra tem
elementos ou atributos das figuras ao longo das três um poder de generalidade menor. Por outro lado,
colunas da primeira linha. Essa regra é então pode decidir pela manutenção da regra quando, por
armazenada na memória de trabalho. Em seguida exemplo, descobre que ela se relaciona a um segundo
passa ao próximo atributo ou elemento, executando atributo envolvido no problema. Nessa situação, a
o mesmo bloco de análise perceptual e indução e carga I na memória de trabalho aumenta
incrementando a regra. momentaneamente e, se o resultado da operação for
No primeiro bloco é ativada a memória de a manutenção das novas regras geradas, então esse
longo prazo para a recuperação de informações aumento permanece.
declarativas e procedurais específicas sobre esse Terceiro bloco: em seguida o sujeito passa
domínio, como conceitos sobre atributos de estímulos para a terceira linha, novamente analisando-a
visuais e seus respectivos códigos verbais, perceptualmente, mapeando os elementos ou
conhecimentos sobre como transformar estímulos atributos, reconhecendo-os como instâncias da regra
visuais, etc. À medida que a regra é gerada, ativa-se geral e, por fim, aplicando-a para construir uma
a memória de trabalho para o efetuar seu alternativa para o problema. Essa fase, portanto,
armazenamento. A carga de informaçãol aumentará requer a operação sobre as informações na memória
proporcionalmente ao número de variáveis de trabalho. O sujeito deve gerar uma representação
envolvidas no problema, isto é, ao número de mental derivada da regra que mantém armazenada
atributos ou elementos. na memória de trabalho. Depois, compara a
Segundo bloco: tendo processado todas as alternativa criada com as alternativas propostas,
variáveis envolvidas, o sujeito passa a analisar a escolhe aquela mais semelhante e responde.
segunda linha, comparando perceptualmente seus Nesse bloco os mesmos sistemas que já
elementos ou atributos. Nesse momento, se a regra estavam ativos continuam ativos. A carga de
inferida for correta, ocorre simultaneamente o informação I na memória de trabalho aumenta, uma
reconhecimento de que as transformações observadas vez que o sujeito deve armazenar a reposta criada
são instâncias da regra geral inferida anteriormente. para compará-la com as alternativas.
Em cada parte da segunda linha que os sujeitos fixem
a atenção verão, em vez de uma nova figura como Inteligência Fluida e Memória de Trabalho: os
antes viam, uma instância particular de uma regra estudos da Neurociência Cognitiva e
conceituai, ou seja, solidificarão a representação Neuropsicologia
conceituai do problema, tornando-a mais estável.
Neste momento estão ativos o sistema motor, Até aqui vimos discutindo detalhadamente os
a memória de trabalho e o sistema de percepção modelos desenvolvidos pela psicologia cognitiva
visual. A carga de informação i provavelmente para a resolução de problemas em tarefas encontradas
permanece inalterada, já que a mesma regra inferida nos testes de inteligência fluida. Em relação a
anteriormente representa adequadamente a situação psicometria estes modelos representam um avanço
nova: para o estudo da inteligência já que descrevem os
No entanto, esse pode não ser sempre o caso, processos mentais envolvidos na resolução destes
pois se a regra inferida na primeira linha não for a problemas. Recentemente estes modelos vêm
66 Ricardo Primi
evoluindo e se aproximando cada vez mais das recuperação da memória a longo prazo (Glr) e a
pesquisas desenvolvidas pela neurociência, inteligência cristalizada (Gc) referindo-se ao estoque
especialmente aquelas ligadas às imagens cerebrais de informações armazenadas na memória de longo
(PET, fMRI), e pela neuropsicologia. A integração prazo.
destes estudos define um novo campo chamado A concepção tradicional do modelo
neurociência cognitiva que busca decompor os psicométrico para memória de curto prazo a descrevia
processos cognitivos e emocionais realizados pelo como capacidade simples para o armazenamento de
cérebro (Posner & Digirolamo, 2000). Para concluir informações em um breve espaço de tempo como,
a revisão sobre o conceito da inteligência fluida serão por exemplo, lembrar o nome de uma pessoa
apresentados os principais estudos mais recentes segundos depois de ter sido apresentado a ela. De
nesta abordagem que vem possibilitando uma maior acordo com esta concepção a avaliação da memória
compreensão deste tipo de inteligência procurando pode ser feita pedindo que a pessoa repita listas de
integrá-los aos estudos discutidos acima. O elo de palavras simples que vão progressivamente
ligação entre os estudos da neurociência cognitiva e aumentando em tamanho testando-se até quantas
a inteligência fluida reside no estudo da memória de palavras a pessoa consegue repetir corretamente (este
trabalho. tipo de medida se chama extensão de memória
[memory span]).
A memória de trabalho Entretanto, a partir da década de setenta Alan
A memória é tradicionalmente dividida em Baddeley & Graham J. Hich propuseram um modelo
dois grandes sistemas a memória de curto prazo e a mais complexo composto por três sub componentes
memória de longo prazo. A primeira tem uma que, por diferir do sistema unitário de memória de
capacidade limitada e serve ao armazenamento de curto prazo, passou denominar este construto de
informações por um curto período de tempo e a memória de trabalho (Baddeley, 1996b, 1998;
segunda, praticamente ilimitada, serve ao Baddeley & Hitch, 1994).
armazenamento de informações aprendidas a partir De acordo com este modelo a memória é
da interação com o meio e as mantém disponíveis composta por três subsistemas. Os dois primeiros são
por um longo período de tempo. No modelo responsáveis pelo armazenamento temporário de
psicométrico as habilidades ligadas à memória são informações e são chamados de sistemas escravos
representadas em três capacidades amplas: memória por servirem ao terceiro componente associado ao
de curto prazo (Gsm), fluência de armazenamento e processamento das informações. Estes sistemas são
representados na Figura 3.

Memória de Trabalho
Figura 3: Modelo para a TAüdade de pToceaimioito
memória de trabalho de
ücsecutivo C e n t r a l
acordo Alan Baddeley e
O o n t r o l e da atenção (atenção seletiva)
Graham J. Hich C o o r d e n a ç ã o de atividades mentais
Seleção, ativação e m a n i p u l a ç ã o de informações
da m e m ó r i a de l o n g o p r a z o

Buffers de A r m a z e n a m e n t o

C l d l o ^onológLco A r ea de armas enamento vínal

Informações InformçoBS
auditivas, verbais visuais eespaoíais
Inteligência Fluida 67
O primeiro chamado ciclo fonológico (reading span) criada por Daneman e Carpenter
(phonological loop) é responsável pelo (1980). Nesta tarefa os sujeitos devem ler listas com
armazenamento de informações acústicas (ou liga- duas a seis frases tais como (exemplo com duas fra-
das à fala) e consegue manter traços por dois ou três ses): "O táxi entrou na avenida Michigan onde eles
segundos. Depois deste intervalo os traços de me- tiveram uma bela vista do lago / Quando finalmente
mória só permanecerão ativos por mais tempo se seus olhos abriram, não havia o brilho do triunfo e
ocorrer alguma estratégia de repetição. nem uma sombra da raiva" e após a leitura devem
O segundo, chamado área de armazenamento responder algumas perguntas e ao final repetir a últi-
visual-espacial (visuo-spatial sketch pad), é respon- ma palavra de cada frase. Como pode ser observado
sável pelo armazenamento de informações visuais. além do armazenamento estas tarefas requerem si-
Este subsistema é dividido ainda em uma parte espe- multaneamente o processamento das informações
cializada no armazenamento de informações espaci- apresentadas.
ais, por exemplo, sobre a localização de objetos, e
outra especializada em informações sobre as propri- O executivo central e a inteligência fluida
edades de estímulos visuais, por exemplo, a aparên- A relação entre a inteligência fluida e a me-
cia de objetos. mória de trabalho passou a ser evidente quando as
Os sistemas ciclo fonológico e área de pesquisas mostraram que medidas de memória de
armazenamento visual têm capacidades limitadas de trabalho se correlacionavam com atividades
armazenamento e este limite varia de pessoa a pes- cognitivas complexas ligadas aos fatores
soa, isto é, existe uma grande variabilidade indivi- psicométricos (Jurden, 1995). Três trabalhos são mais
dual quanto à capacidade de armazenamento. relevantes e conhecidos: Carpenter e cols. (1990),
O terceiro, chamado de executivo central (cen- Daneman e Carpenter (1980) e Kyllonen e Christal
tral executive) é responsável pelo processamento (1990).
cognitivo ligado ao ciclo fonológico e à área de Daneman e Carpenter (1980) compararam as
armazenamento visual. Baddeley (1996b) define a correlações de medidas tradicionais de memória de
memória de trabalho como "um sistema de capaci- curto prazo, que só requerem a habilidade de arma-
dade limitada capaz de armazenar e manipular in- zenar informações, e medidas de memória de traba-
formações" (p. 13488). Portanto ao invés de referir- lho, requerendo o armazenamento e processamento,
se simplesmente à capacidade de armazenamento, a com a habilidade verbal medida pelo SAT (Scholastic
memória de trabalho refere-se à capacidade de Assessment Testy um teste usado na seleção de alu-
armazenamento + processamento fazendo-a distinta nos para as universidades americanas. Os autores
do construto memória e curto prazo anteriormente encontraram uma correlação de 0,59 (p <0,01) para
concebido. Portanto, o executivo central é elemento memória de trabalho e 0,35 (n.s.) para memória de
que faz a memória de trabalho diferir do conceito de curto prazo concluindo que a memória de trabalho é
memória de curto prazo integrando uma estrutura elemento crucial na compreensão da linguagem.
mais funcional ligada ao processamento além das Kyllonen e Christal (1990) fizeram um exten-
estruturas ligadas ao armazenamento como antes se so estudo empregando a análise fatorial confirmatória
concebia. investigando a estrutura fatorial subjacente a um
Esta distinção é claramente percebida nas ta- conjunto de provas de inteligência cristalizada, inte-
refas criadas para avaliar a memória de trabalho. Por ligência fluída e memória de trabalho. Eles encon-
exemplo, Kyllonen e Christal (1990) criaram medi- traram correlações entre 0,82 a 0,88 entre medidas
das de memória envolvendo simultaneamente a ma- raciocínio e memória de trabalho concluindo com
nutenção e manipulação de informações. Eles pedem uma frase que ficou famosa no âmbito acadêmico
aos sujeitos que memorizem algumas equações como: que titulava o artigo relatando esta pesquisa: "A ha-
A = C + 3; C = B/3; B = 9, e depois perguntam o bilidade de raciocínio é (um pouco mais que) a ca-
valor de A, B e C. Outra tarefa clássica de medida da
memória de trabalho é chamada extensão em leitura 4
Mais informações sobre este teste podem ser obtidas em http:/
/www.collegeboard.com/
68 Ricardo Primi
paridade de memória de trabalho?" quando outros estímulos competem pela atenção.
Carpenter e cols. (1990) fizeram uma análise Este processo relaciona-se à ativação de certas re-
extensa e bastante interessante do processamento presentações mentais e também pela inibição de ou-
cognitivo envolvido na resolução das Matrizes Pro- tras representações distratoras.
gressivas de Raven um teste clássico de raciocínio A lógica do-estudo de Engle e cols. (1999)
indutivo ou inteligência fluida (Raven, J., Raven J. sustenta-se na idéia de que ambas medidas de me-
C. & Court, 1998). Uma das descobertas é que a com- mória de curto prazo e medidas de memória de tra-
plexidade dos itens aumenta a medida em que há mais balho requerem o armazenamento de informação mas
regras a serem consideradas nos problemas. Por isso somente as medidas de memória de trabalho reque-
para resolver estes problemas a pessoa precisa pos- rem o controle da atenção, já que envolvem a execu-
suir "habilidade de gerar submetas na memória de ção de múltiplas tarefas simultaneamente. Sendo as-
trabalho, armazenar a satisfação destas submetas, e sim argumentam que as correlações entre medidas
planejar novas submetas a medida que outras são de memória de curto prazo e memória de trabalho
atingidas" (p. 413). Este processo de geração è ma- ocorrem por causa da capacidade de armazenamento.
nutenção de metas na memória claramente requer A variância residual da medida de memória de tra-
além do armazenamento o processamento das infor- balho, após o controle estatístico removendo a
mações o que supõe que a resolução deste teste de- variância comum com a memória de curto prazo,
pende muito da memória de trabalho. Em um dos corresponderia às diferenças individuais na capaci-
experimentos os participantes responderam ao Raven dade de controle da atenção sendo este o construto
e a Torre de Hanói um jogo com grande dependên- que estaria envolvido nos testes de inteligência flui-
cia da memória de trabalho. A correlação entre a da. Os resultados de Engle e cols. corroboraram esta
quantidade de erros cometidos nos dois instrumen- idéia mostrando uma correlação de 0,49 (p <0,05)
tos foi muito alta (r=0,77;p <0,01) sugerindo, como entre o resíduo de medidas de memória de trabalho
o estudo de Kyllonen e Christal (1990), que a capa- com o fator inteligência fluida depois que o compo-
cidade de memória é uma das mais importantes ca- nente ligado ao armazenamento foi estatisticamente
pacidades envolvidas na resolução do Raven. removido ao passo que a correlação entre memória
A partir de estudos como estes vários outros de curto prazo e a inteligência fluida depois do con-
foram feitos procurando relacionar medidas de raci- trole estatístico foi de 0,12 (n.s.).
ocínio ligadas ao fator inteligência fluida e memória Em outro estudo Kane, Bleckley, Conway e
de trabalho tais como os de Embretson (1995,1998). Engle (2001) avaliaram mais diretamente as correla-
Mesmo Carroll (1993) já antecipava esta linha de ções entre as diferenças individuais em memória de
pesquisa em seu estudo fatorial clássico (p. 247). trabalho e o controle de atenção. Os autores compa-
Mais recentemente Engle, Tuholski, Laughlin raram sujeitos com alta e baixa capacidade de me-
e Conway (1999) realizaram um estudo das correla- mória de trabalho em duas tarefas. Uma delas que
ções entre medidas de memória de curto prazo, en- exigia exclusivamente o controle da atenção para
volvendo o armazenamento simples, medidas de evitar uma resposta automática. A tarefa controle
memória de trabalho, envolvendo o armazenamento exigia uma resposta quase automática não exigindo
simultaneamente ao processamento cognitivo, me- controle da atenção e nem memorização. Os resulta-
didas de inteligência fluida (Raven e Testes Livres dos indicaram diferenças de desempenho entre os
de Viés Cultural de Cattell) e o SAT. Os autores usa- sujeitos com alta e baixa capacidade de memória de
ram a análise de estruturas de covariância permitin- trabalho na primeira tarefa indicando que a memória
do a testagem de vários modelos buscando explicar de trabalho esta associada ao controle da atenção.
as correlações encontradas. A hipótese central era Em outro estudo recente Miyake, Friedman,
que o processo básico ligado ao executivo central é Rettinger, Shah e Hegarty (2001) empregaram pro-
atenção controlada. O controle do foco da atenção cedimentos de análise semelhantes aos de Engle e
permite que a pessoa consiga manter representações cols. (1999) mas no domínio das habilidades visu-
mentais ativas mesmo em condições de distração ais. Este estudo analisou as correlações entre medi-
Inteligência Fluida 69
das de memória de trabalho visuo-espacial, memó- mações não pertinentes, ou eliminando informações
ria de curto prazo visuo-espacial, medidas da função que parecem não ser úteis para a resolução do pro-
executiva e três fatores específicos de processamento blema" (p. 8).
visual (Gv): visualização, relações espaciais e'velo- Portanto, a definição dos processos cognitivos
cidade perceptual. No estudo de Engle e cols (1999) e das habilidades básicas ligadas a estes processos
as medidas de memória eram predominantemente para inteligência fluida reside no estudo do executi-
verbais ligadas ao ciclo fonológico. Já no estudo de vo central. Baddeley (1996a) faz uma revisão de suas
Miyake e cols. (2001) elas eram ligadas à área de pesquisas tentando elucidar os processos básicos
armazenamento visual. Os autores encontraram uma subjacentes ao executivo central e os divide em qua-
alta correlação entre medidas de memória de curto tro capacidades: (a) capacidade de coordenar ativi-
prazo e memória de trabalho visuais indicando que dades mentais simultâneas dos dois sistemas de
as duas dependem na mesma medida do executivo armazenamento (ciclo fonológico e área de
central. Enquanto no estudo de Engle e cols. ficou armazenamento visual), (b) capacidade de supervi-
evidente que o ciclo fonológico, ou a memória de sionar a atividade mental alternando estratégias au-
curto prazo verbal, embora altamente correlacionada, tomáticas com estratégias novas quando necessário,
é distinta do executivo central, o estudo de Miyake e (c) capacidade de atenção seletiva, isto é, prestar aten-
cols. indicou que a memória visual é praticamente ção em informações específicas relevantes e ao mes-
indistinguível do executivo central. Uma das expli- mo tempo inibir a ativação de outras informações
cações para isso é que as pessoas estão muito mais irrelevantes e (d) capacidade de ativação de infor-
habituadas em lidar com representações auditivo- mações da memória de longo prazo.
verbais do que usar representações visuais. Conse- Este último componente é importante pois re-
qüentemente as tarefas verbais seriam mais automá- laciona a memória de trabalho com a memória de
ticas e menos dependentes do executivo central quan- longo prazo. Engle e cols. (1999) cita um modelo
do fossem realizadas com poucas informações. Ao que concebe a memória com um único sistema am-
contrário as tarefas visuais, mesmo envolvendo de plo com vários elementos em diferentes níveis de
uma pequena quantidade de informação, já sobre- ativação. As informações da memória de curto pra-
carregaria o sistema de memória exigindo o executi- zo corresponderiam a parcelas da memória de longo
vo central. prazo com um alto nível de ativação e a memória de
Os estudos citados acima permitem concluir trabalho consistiria destes elementos ativados mais
que a relação entre memória de trabalho e inteligên- os processos de controle da atenção usados para
cia fluida ocorre em razão de ambas dependerem das manter o nível de ativação e impedir que outras re-
funções realizadas pelo executivo central. Ambas as presentações internas ou estímulos externos desvi-
tarefas requerem o armazenamento de várias infor- em o foco da atenção levando o conteúdo da memó-
mações e a execução simultânea de processos ria à desativação.
cognitivos de transformação dessas informações ul- Rosen e Engle (1997) compararam pessoas
trapassando o montante de informações que os com alta e baixa capacidade de memória de trabalho
buffers de armazenamento (ciclo fonológico e área em tarefas de fluência verbal solicitando-as que lem-
de armazenamento visual) conseguem manter ativas. brassem o maior número de animais em um interva-
Portanto é necessário um controle ativo e voluntário lo fixo de tempo. Os autores descobriram que a ca-
dos processos de atenção para organizar a atividade pacidade de memória de trabalho está ligada à fluên-
mental para que resolução possa ser atingida. Como cia de recuperação. Nesta tarefa as pessoas precisam
afirma Hunt (1999) as tarefas exigem "estruturas de ativar automaticamente a partir de uma idéia (a cate-
controle da atenção que possibilitam às pessoas fi- goria "animais") "espalhando" a ativação para idéi-
xarem atenção em um ou outro item na memória ... as da mesma categoria, monitorar-se para não forne-
assegurando um fluxo ordenado de informações para cer respostas repetidas, suprimir respostas anterior-
a memória de trabalho, vindas do mundo externo e/ mente pensadas e gerar "pistas" para a criação de
ou da memória por si mesma, seja bloqueando infor- novas idéias. Principalmente os últimos três elemen-
70 Ricardo Primi
tos envolvem o executivo central já que estão liga- Tabela 3: Síntese das capacidades ligadas ao
dos a uma busca ativa por informações na memória executivo central
de longo prazo requerendo um controle ativo da aten-
ção. Os resultados deste estudo indicam que a maior • Capacidade de manter representações ativas.
capacidade de memória de trabalho facilita a ativa- • Capacidade de coordenar atividades mentais
ção e fluência de recuperação de informações da simultâneas. "
memória de longo prazo. • Capacidade de monitorar e supervisionar a atividade
mental. Capacidade de atualizar ou. manipular as
As funções do executivo central recentemen- representações na memória de trabalho. .
te têm sido igualadas à metacognição definida como • Capacidade de atenção seletiva, isto é, focalizar a
a avaliação e controle dos processos cognitivos. atenção em informações específicas para aumentar sua J

ativação e ao mesmo tempo inibir a ativação de outras-


Shimamura (2000) faz uma revisão das relações en- informações irrelevantes. . ' , :;
tre estes construtos favorecendo a integração de des- • Capacidade de ativação de informações da memóri.a de
cobertas da neurociência com a psicologia cognitiva. longo prazo. '
O autor lista quatro funções executivas que se rela- • Capacidade de redirecionar rotas. Refere-se a troca ou
mudança global de uma estratégia cognitiva para outra
cionam ao controle rnetacognitivo: seleção, manu- mais adequada à situação. /
tenção, atualização e redirecionamento de rota
(rerouting). A seleção refrere-se à atenção seletiva Como foi discutido a resolução de problemas
discutida acima que possibilita ativar certas repre- de raciocínio analógico consiste em uma atividade
sentações e ao mesmo tempo filtrar outras. A manu- mental complexa subdividida em um conjunto enca-
tenção refere-se à habilidade de manter representa- deado de processos básicos chamados componentes.
ções ativas ligada, portanto, ao conceito clássico de É uma atividade analítica abstrata, pois requer a de-
memória de curto prazo. A atualização ou manipu- composição do problema em vários processos sim-
lação refere-se à adaptação, manipulação ou um novo ples de comparação, coordenados em uma estratégia
arranjo das ativações na memória de trabalho. Esta geral de resolução de problemas (Klauer, 1990). Essa
função está ligada ao monitoramento das atividades atividade complexa faz uma exigência intensa do
cognitivas e de seus produtos. A última função o central executivo principalmente nas facetas de co-
redirecionamento de rota refere-se à troca ou mu- ordenação e monitoramento, de atividades mentais
dança global de uma estratégia cognitiva para outra simultâneas, atenção seletiva e redirecionamento de
mais adequada à situação. rotas. :<
A coordenação e monitoramento das ativida-
As relações entre inteligência fluida, executivo cen- des mentais que na psicologia cognitiva é geralmen-
tral e as tarefas de raciocínio analógico te denominada de metacognição ou gerenciameno de
De modo geral a inteligência, fluida está ligada ao metas é um pré-requisito da organização de uma es-
executivo central responsável pelas capacidades re- tratégia efetiva de resolução. Como concluíram
sumidas na Tabela 3 sintetizadas a partir dos estudos Carpenter e, cols. (1990) comentando sobre o teste
revisados acima. Elas não devem ser entendidas como Raven: "Üma das principais distinções entre os su-
funções independentes. De fato alguns autores como jeitos com notas mais altas e os sujeitos com notas
Engle e cols. (1999) consideram a capacidade de aten- baixas foi o sucesso dos primeiros na geração e ges-
ção seletiva como sendo a função básica do executi- tão de metas na memória de curto prazo. Nessa vi-
vo central e as outras como subprodutos dela. Já são, um componente chave da inteligência analítica
Salthouse e Babcock (1991) consideram três com- é o gerenciamento de metas, o processo de criar sub-
ponentes, a eficiência do processamento, capacida- metas a partir das metas e o rástreamento da suces-
de de armazenamento e a capacidade de coordena- são efetiva (ou não) das submetas, a caminho da sa-
ção. Como parece não haver uma visão consensual tisfação de metas de níveis mais altos. O
sobre as relações entre estas facetas é mais prudente gerenciamento de metas torna possível ao sujeito
listá-las como funções separadas tendo sempre pre- construir formas de conhecimento intermediárias e
sente a idéia de interdependência entre elas. estáveis a respeito de seu progresso" (p. 428). Por-
Inteligência Fluida 71
tanto, a resolução de problemas de raciocínio concretos.
analógico associa-se à organização hierárquica dos Pode-se entender a abstração como um pro-
passos de resolução, envolvendo inúmeras interações duto dos processos de atenção seletiva. Como afir-
de processos simples de comparação entre estímu- ma Hunt (1996), "para resolver itens de matrizes, o
los (julgamento de similaridade), implementação sujeito deve isolar mudanças progressivas numa di-
dessa atividade, o monitoramento (o que foi feito, o mensão da matriz de figuras, enquanto ignora outras
que se está fazendo e o que precisa ser feito) e a dimensões" (p.4). Em obra mais recente, Hunt (1999)
revisão, quando necessária. afirma que "as estruturas de controle também asse-
A capacidade de armazenamento e o guram um fluxo organizado de informações para a
gerenciamento de metas estão intimamente relacio- memória de trabalho, seja do mundo externo ou mes-
nados. Possivelmente, a necessidade de uma forma mo da memória, tanto bloqueando informações
efetiva de gerenciamento de metas seja ditada pela irrelevantes, quanto descartando aquelas que pare-
limitação da capacidade de armazenamento, por um cem inúteis para a resolução do problema" (p. 8). O
lado, e, por outro, pelo enfraquecimento da capaci- controle da atenção esta intimamente ligado à abs-
dade de memória devido a efeitos adversos como, tração uma vez que permite o estabelecimento de
por exemplo, a similaridade do conteúdo dos itens a relações sustentadas em atributos analiticamente se-
serem armazenados (Baddeley & Hich, 1994). Nes- gregados das representações globais percebidas.
se sentido, o gerenciamento efetivo de metas, como O terceiro e último aspecto do executivo cen-
descrito por Carpenter e cols. (1990), descreve a con- tral ligado a inteligência fluida, a mudança de rotas,
figuração que as informações adquiridas do pro- é chamado na literatura cognitiva de flexibilidade
blema devem assumir na memória de trabalho, evi- adaptativa. Bethell-Fox, Lohman e Snow (1984) de-
tando a perda de informação. Carpenter & cols. men- monstraram que os problemas de raciocínio
cionam que as metas devem ser organizadas de for- analógico com figuras geométricas poderiam ser re-
ma hierárquica e recursiva para que "a falha em uma solvidos de duas maneiras: uma, pela criação da re-
submeta não coloque em risco submetas prévias que presentação mental completa de uma possível res-
foram realizadas com sucesso" (p. 428). posta e pela comparação com as alternativas de res-
Outro aspecto importante é a abstração que é posta oferecidas (estratégia de construção/compara-
basicamente ligada aos processos de controle da aten- ção), e outra, pelo ciclo envolvendo a criação/repre-
ção ou atenção seletiva. Carpenter e cols, (1990) de- sentação mental parcial da resposta, baseado em um
finem por abstração "construções de representações único elemento ou atributo, comparação com as al-
que são vagamente vinculadas aos inputs perceptuais ternativas, eliminação das alternativas inconsisten-
e que possibilitam generalização em relação ao es- tes e reinicio do ciclo com um segundo atributo (estra-
paço e o tempo" (p.428). A abstração se expressa tégia de eliminação de respostas). Essas duas ma-
possivelmente no momento da construção das regras neiras são chamadas estratégias de resolução, pois
que relacionam os elementos ou atributos. Em itens compreendem combinações específicas de compo-
com figuras geométricas, um elemento é caracteri- nentes de solução. Bethell-Fox et al. (1984) demons-
zado por vários atributos (por exemplo, forma, cor, traram também que a estratégia construção/compa-
inclinação, tamanho). Na maioria dos casos, o rela- ração é usada mais freqüentemente por sujeitos com
cionamento deve ser feito considerando-se um atri- alta habilidade e em itens simples. A estratégia de
buto e ignorando outros, por exemplo, quando se têm eliminação de respostas é mais utilizada por sujeitos
figuras com formas diferentes, mas cores iguais. Isso com baixa habilidade e em itens complexos.
corresponde à abstração, uma vez.que a semelhança Portanto, a flexibilidade adaptativa refere-se
baseia-se apenas em uma parcela da percepção (cor) à seleção, uso e alteração de estratégias de resolução
e não na configuração global (forma + cor). Ela é diante das demandas impostas pelos problemas.
importante, pois permite considerar semelhanças e Bethell-Fox e cols. (1984) relacionaram essas des-
diferenças entre os estímulos por meio de conceitos cobertas às demandas que itens complexos fazem à
abstratos, e não por meio de aspectos perceptuais memória de trabalho, sugerindo, portanto, que sujei-
72 Ricardo Primi
tos com baixa habilidade utilizam a estratégia de eli- de forma sistemática permitindo distinguir quais áre-
minações de respostas pois experimentam, com mais as cerebrais eram recrutadas enquanto os sujeitos
facilidade, a sobrecarga da memória de trabalho. resolviam problemas requerendo processos
perceptuais simples de raciocínio, problemas analí-
Evidências da Neurociência e da Neuropsicologia ticos e problemas de comparação perceptual (tarefa
No final da década de noventa começaram a controle). Os resultados indicaram que nos proble-
aparecer alguns estudos empregando a neuroimagem mas perceptuais foi ativada a área frontal do hemis-
identificando a localização das estruturas cerebrais fério direito e as regiões parietais bilateralmente. Nos
ligadas à memória de trabalho e à inteligência flui- problemas analíticos foram ativadas as áreas parietal,
da. Dois estudos são de grande importância para o occipital, temporal esquerdas e as áreas frontais bi-
assunto tratado neste artigo: o de Smith e Jonides lateralmente. Os resultados indicaram que os pro-
(1997) e o de Prabhakaran, Smith, Desmond, Glover blemas perceptuais ativavam áreas mediadores da
& Gabrieli (1997). memória de trabalho visual-espacial e os problemas
Smith e Jonides (1997) estudaram quais áreas analíticos recrutavam estas e outras ares mediadores
cerebrais eram ativadas enquanto os participantes de memória verbal e de processos executivos.
executavam um variado número tarefas de memória Além destes estudos existem vários estudos
de trabalho por meio da Tomografia por Emissão de neuropsicológicos os quais aplicam medidas
Positrons (PET) reafirmando o modelo de memória cognitivas em pacientes com lesões conhecidas em
de Baddeley e Hitch (1994) e detalhando-o mais. Os regiões específicas do cérebro buscando verificar
autores encontraram estruturas distintas para á me- qual habilidade é afetada em decorrência das lesões.
mória verbal, visual e espacial. A memória verbal Estes estudos têm relacionado os processos do exe-
(ciclo fonológico) e a memória visual para objetos cutivo central à região frontal do cérebro (Baddeley,
estão localizadas na porção parietal posterior do he- 1996a; Shimamura, 2000). Nesta linha Duncan,
misfério esquerdo. A memória espacial (área de Emslie e Williams (1996) encontraram especifica-
armazenamento visual) está localizada na região mente correlações entre lesões frontais e dificulda-
parietal posterior do hemisfério direito. Há também des em tarefas de inteligência fluida.
uma diferença entre processos de armazenamento e
reativação pela repetição (rehearsal) sendo que na Conclusão
memória verbal o armazenamento ocorre na porção
posterior parietal e a reativação nas regiões frontais Em síntese, os estudos revisados acima ofere-
do hemisfério esquerdo (área de Broca, área pré- cem evidências muito sólidas sobre a concepção da
motor e área motor suplementar). Na memória espa- memória de trabalho (seus componentes e funções)
cial há a mesma distinção com as mesmas áreas en- e da sua relação com a inteligência fluida especial-
volvidas só que localizadas no hemisfério direito. O mente com o executivo central. Eles mostram que as
executivo central é mediado pelo córtex pré-frontal covariâncias comportamentais demonstradas nos
dorsolateral. Uma fato interessante é que há um gran- estudos psicométricos começam a ser
de número de estudos testando variadas funções exe- consubstanciadas e elaboradas em mais detalhes nas
cutivas tais como monitoramento, mudança de es- estruturas cerebrais identificadas pelos estudos re-
tratégia, coordenação simultânea de atividades evi- centes da neurociência.
denciando sempre o envolvimento da área pré-fron- Fazendo uma relação entre estes estudos e os
tal dorsolateral. Estes resultados corroboram a liga- modelos psicométricos pode-se entender que quatro
ção entre o central executivo, metacognição e fator fatores do modelo CHC inteligência fluida (Gf),
8- memória de curto prazo (Gsm), armazenamento e
Prabhakaran e cols. (1997) mapearam as áre- recuperação da memória de longo prazo (Glr) e
as cerebrais ativadas enquanto as pessoas resolviam processamento visual (Gv) estão ligados às funções
itens do Raven empregando a Ressonância Magnéti- do executivo central. De fato Woodcock (1997,1998)
ca Funcional (fMRI). Os autores escolheram itens agrupa os dez fatores em quatro clusters sendo que
Inteligência Fluida 73
um deles chama-se habilidades de pensamento e in- Progressive Matrices test. Psychological Review,
clui os fatores Gf, Gv, Glr e Ga (processamento au- 97 (3),404-431.
ditivo). Estas relações entre habilidades mais com- Carroll, J.B. (1993). Human cognitive abilities: a
plexas são coerentes com a noção do fator g materi- survey of factor-analytic studies. New York:
alizado terceiro estrato do modelo de Carroll (1993). Cambridge University Press.
Neste sentido a operação cognitiva geral subjacente
Cattell, R.B. (1941). Some theoretical issues in adult
ao g que tem sido relacionada ao executivo central
intelligence testing. Psychological Bulletin, 31,
(Badeley, 1996a, p. 7) pode ser resumida nas sete 161-179.
funções apresentadas na Tabela 3.
Há também um amplo conjunto de evidências Cattell, R. B. (1971). Abilities: Their structure,
que apoiam a validade de construto de tarefas de ra- growth and action. Boston: Houghton Mifflin.
ciocínio analógico para a mensuração de funções do Daneman, M. & Carpenter, P.A. (1980). Individual
executivo central. Neste sentido novos instrumentos differences in working memory and reading.
com uma definição mais clara sobre o que avaliam Journal of Learning and Verbal Behaviour, 19,
poderão ser criados por intermédio da aplicação do 450-466.
conhecimento acumulado pela psicologia cognitiva Duncan, J., Emslie, H. & Williams, P. (1996).
e da neurociência discutido aqui. A expectativa é que Intelligence and the frontal lobe: the organization
estas novas medidas sejam de melhor qualidade pois of goal-directed behavior. Cognitive Psychology,
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