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Teste de avaliação 1 | Sequência 3

1 Teste de avaliação Sequência 3

Nome Turma Data

GRUPO I

Lê o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário e as notas apresentados a seguir ao texto.

- De triinta e oito portas que há na cidade, as doze eram todo o dia abertas, encomendadas1 a boõs homees
- d’armas que tiinham cuidado de as guardar; pelas quaes ne~ua pessoa, que muito conhecida nom fosse2, havia
- d’entrar nem sair, sem primeiro saber em certo por que razom ia ou viinha; e ali atravessavom paos com tavoado
- pera dormir os que tal cuidado tiinham3, por de noite serem deles acompanhadas4, e neu~u malicioso seer atrevi-
5 do de cometer neu~u erro.
- E dalg~uas portas tinham certas pessoas de noite as chaves, por razom dos batees5 que taes horas iam e viinham
- d’aalem6 com trigo e outros mantimentos, segundo leedes7 em seu logar; outras chaves apanhava u~u homem
- cada noite de que o Meestre muito fiava, e veendo primeiro como as portas ficavom fechadas, lhas levava todas
- aos Paaços onde pousava8. Acerca da9 porta de Santa Catarina da parte do arreal10 per onde mais acostumavom
10 sair aa escaramuça, estava sempre uma casa prestes11, com camas e ovos e estopas12, e triaga13, e outras necessá-
- rias cousas pera pensamento14 dos feridos quando tornavom15 das escaramuças.
- Na ribeira havia feitas duas grandes e fortes estacadas16 de grossos e valentes paos, que o Meestre mandara
- fazer ante que el-Rei de Castela veesse, por defender17 o combato da ribeira; e eram feitas des onde18 o mar mais
- longe espraia ataa19 terra junto com a cidade. E ~ua foi caminho de Santos, a fundo da torre de atalaia contra aquela
15 parte20, onde entendeo que el-Rei poeria seu arreal21; outra fezerom no outro cabo da cidade junto com o muro
- dos fornos da cal contra o moesteiro de Santa Clara. (…)
- Nom leixavom os da cidade, por serem assi cercados, de fazer a barvacãa22 d’arredor do muro da parte do ar-
- real, des a porta de Santa Caterina, ataa torre d’ Alvoro Paaez, que nom era ainda feita, que seeriam dous tiros de
- besta23; e as moças sem neu~u medo, apanhando pedra pelas herdades, cantavom altas vozes24 dizendo:

20 Esta é Lixboa prezada,


- mirá-la e leixá-la25.
- Se quiserdes carneiro26,
- qual derom ao Andeiro26;
- se quiserdes cabrito27,
25 qual deram ao Bispo27,

- e outras razões semelhantes. (…)

(continua)

E D I TÁVE L
Entre Palavras 10 Livro de Testes
• • FOTOCOPIÁVEL 31
Testes-modelo IAVE

- As outras cousas que pertenciam ao regimento28 da cidade, todas eram postas em boa e igual ordenança;
- i nom havia neu~u que com outro alevantasse arroido29 nem lhe empecesse per talentosos excessos30, mas todos
- usavom d’amigavel concordia, acompanhada de proveito comu~u.

Fernão Lopes, Crónica de D. João I, «Capítulo 115», (Textos escolhidos), Lisboa, Seara Nova / Comunicação, 1980, pp. 173-175.
(Apresentação crítica, seleção, notas e sugestões para análise literária de Teresa Amado)

Vocabulário e notas
1
entregues, confiadas; 2 exceto se fosse muito conhecida; 3 os que estavam encarregados das portas construíram uma espécie de casas onde
podiam dormir, junto às portas; 4 para de noite as portas se manterem sob a sua vigia; 5 barcos; 6 do margem sul do rio Tejo; 7 conforme les-
tes; 8 onde o Mestre de Avis vivia; 9 perto da; 10 arraial, acampamento; 11 pronta; 12 usados para fazer curativos; 13 medicamento; 14 curativo;
15
regressavam; 16 espaços defendidos por estacas; 17 para defender; 18 desde onde; 19 até; 20 perto de Santos; 21 onde o Mestre de Avis
entendeu que o rei de Castela estabeleceria o seu acampamento; 22 os da cidade, apesar de cercados, continuavam a construir uma parte da
muralha (barbacã) ainda não terminada; 23 seria este o comprimento da muralha em construção: a distância que percorre, em duplicado, a
flecha arremessada de uma besta, tipo de arco; 24 cantavam em voz alta, de modo a serem ouvidas pelos castelhanos; 25 olhá-la e ir embora;
26
referência ao assassinato do Conde Andeiro, partidário da rainha Dona Leonor e do rei de Castela, morto pelo Mestre de Avis; 27 referência
ao assassinato do Bispo de Lisboa, pela população enfurecida, convencida de que ele seria partidário do rei de Castela; 28 governo, organização;
29
provocasse desacatos; 30 nem lhe causasse dano por atos intencionalmente desordeiros

Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

1. Indica as várias precauções tomadas relativamente às portas da cidade cercada abertas durante o dia.

2. Elabora uma caracterização do Mestre de Avis com base nos elementos textuais pertinentes.

3. Tem em atenção a letra da cantiga que cantavam as «moças» de Lisboa, e identifica os seus destinatários externos
e internos, justificando.

4. Identifica a personagem coletiva referida na globalidade do texto, justificando.

B
A afirmação da consciência coletiva do povo de Lisboa durante o cerco é uma característica com a qual o leitor da
Crónica de D. João I se depara frequentemente.
Escreve um texto no qual comproves esta afirmação com base na tua experiência de leitura.
O teu texto deve ter entre 120 e 150 palavras.

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Soluções

3. O título do livro pode parecer excessivo, ao pretender abarcar 3. Metáfora, em «cegam os olhos meus»: do mesmo modo que
«quase tudo»; contudo, da leitura do livro constata-se que o quem cega nada vê, o sujeito lírico nada vê também devido à
projeto do título se revela verdadeiro: daí o espanto traduzido força da coita. Esta metáfora tem de relacionar-se com «gua-
pelo ponto de exclamação. rir», v. 8, curar-se – o sujeito lírico não pode curar-se da força
4. Uma característica que pode ser alvo de crítica é alguma su- cega da paixão.
perficialidade que nele se pode detetar, embora o autor da 4. A dupla repetição da forma verbal presente no refrão, «atender»,
apreciação admita que não será fácil referir a superficialidade a contribui para a expressão do amor absoluto: apesar de nada es-
respeito deste livro; características positivas são, por exemplo, perar, a constância do sujeito lírico sofredor não está em causa.
o humor do autor ou a qualidade da tradução.
Grupo II
Grupo II
1. 1.1 (B) 1.2 (C); 1.3 (A); 1.4 (B); 1.5 (D)
1. 1.1 (A); 1.2 (B); 1.3 (C); 1.4 (C); 1.5 (D)
2. 2.1 O processo fonológico é a aférese – queda de uma unidade
2. 2.1 O processo de formação é a composição morfológica.
fónica no início de uma palavra.
2.2 Sujeito
2.2 Complemento direto [dá-los]
2.3 Oração subordinada adjetiva relativa explicativa [Desem-
penha a função sintática de modificador do nome apositivo 2.3 Oração subordinada adjetiva relativa restritiva [«que toca-
«pirite», que modifica; este nome é o seu elemento subordi- va»; desempenha a função sintática de modificador restriti-
nante.] vo do nome «jogral», o seu elemento subordinante.]

TESTE DE AVALIAÇÃO 3 – SEQUÊNCIA 2 pp. 27-30


TESTE DE AVALIAÇÃO 1 – SEQUÊNCIA 2 pp. 20-22

Grupo I Grupo I
A A
1. A mãe assume o papel de confidente do sujeito poético: a amiga 1. O tema da cantiga é uma paródia do elogio do amor cortês.
conta à mãe os seus amores. Parodia-se o louvor da dama que, sendo sempre de grande for-
2. Na primeira estrofe ou cobla, o sujeito poético, a amiga, sente-se mosura, aqui é apresentada, louvada, como idosa, «feia» e tola.
apaixonada («enamorada») pelo seu amigo que lhe «jurou» que 2. Enquanto que o louvor típico das cantigas de amor apresenta a
morria por ela; na segunda estrofe, ela confessa que regressa de dama como a mais bela de todas, de uma beleza sem par, quer
Faro «leda», v. 5, isto é, cheia de alegria pois conseguiu falar e ter física quer psicologicamente, a mulher aqui apresentada fisica-
o amor de quem desejava há muito; na terceira estrofe, ela con- mente já perdeu qualquer encanto que possa ter tido dada a sua
fessa ainda a sua alegria, desta vez fundada em que não acredita idade, e, psicologicamente, é doida – trata-se de uma evidente
que o seu amigo lhe possa mentir. paródia que funciona por contraste.
3. O refrão é literariamente expressivo desde logo pelo seu ca- 3. Trata-se da ironia. O louvor é apresentado ironicamente: a in-
ráter repetitivo através do qual a amiga apaixonada reitera a tenção de louvar é negada pelos atributos apresentados, por
confissão de amor do seu amigo.
exemplo, no refrão.
4. Para ser perfeita, a técnica paralelística exige número par de
4. A estrutura paralelística que mais realça a paródia é o refrão,
coblas, o que não é o caso.
através do qual se critica ou satiriza uma poética convencio-
Grupo II
nal – a das cantigas de amor, nas quais o louvor da dama era
1. 1.1 (A); 1.2 (C) 1.3 (D) 1.4 (B); 1.5 (B) apenas uma convenção.
2. 2.1 O processo fonológico é a sonorização – consoantes surdas
Grupo II
em posição intervocálica tornam-se sonoras.
1. 1.1 (C); 1.2 (D); 1.3 (B); 1.4 (A); 1.5 (D)
2.2 Complemento direto – o
2. 2.1 O processo fonológico é a epêntese – inserção de unidade
2.3 Oração subordinada adverbial temporal [«quando se multi-
fónica no interior da palavra.
plicam as revoltas campesinas»; a sua função sintática é de
modificador do grupo verbal.] 2.2 Sujeito
2.3 Oração subordinada substantiva relativa [«que houvesse
outro mundo», a sua função sintática é de complemento
TESTE DE AVALIAÇÃO 2 – SEQUÊNCIA 2 pp. 23-26
direto do seu elemento subordinante – «duvidava»].

Grupo I
A TESTE DE AVALIAÇÃO 1 – SEQUÊNCIA 3 pp. 31-34
1. Trata-se do sentimento da coita de amor, típico das cantigas
de amor, às quais pertence o texto; consiste na expressão do Grupo I
sofrimento por parte do sujeito poético devido à indiferença da A
senhor. 1. Estas portas da muralha da cidade cercada, embora abertas
2. Trata-se de uma relação de oposição ou de contraste: enquanto todo o dia, estavam guardadas por pessoas aguerridas; por ou-
os outros querem morrer de amor em consequência da coita, o tro lado, estas pessoas tinham de verificar bem quem pretendia
sujeito poético prefere viver. entrar e sair.

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Soluções

2. No terceiro parágrafo, ocorrem referências ao Mestre de Avis. TESTE DE AVALIAÇÃO 1 – SEQUÊNCIA 4 pp. 38-41
Pelas informações que Fernão Lopes faculta, pode concluir-se
que o Mestre era uma pessoa previdente, pois tratou de provi-
Grupo I
denciar certos modos de defesa, ao saber do cerco que se aproxi-
A
mava.
1. Trata-se do monólogo inicial de Inês, no início da peça, no qual
3. Os destinatários externos da cantiga são, certamente, os que
ela apresenta a sua situação – a recusa – e confessa ter um
cercavam Lisboa: a cantiga tinha como função desmoralizá-los, projeto para dela se libertar: esse projeto de libertação é o as-
ao mandá-los embora; os internos são, evidentemente, os lis- sunto da peça.
boetas cercados: a cantiga tinha como função alentá-los. 2. Encontra-se bastante zangada, furiosa mesmo, pois entende
4. A personagem coletiva é a cidade de Lisboa cercada – que age que a sua vida é uma escravatura.
como um todo – «os da cidade», l. 17. 3. Verifica-se aqui que o quotidiano de uma moça do povo passava
Grupo II muito por trabalhos manuais, nomeadamente bordados, traba-
1. 1.1 (B); 1.2 (A); 1.3 (C); 1.4 (C); 1.5 (A) lhos ordenados pelas mães.
2. 2.1 Sinérese – as duas vogais contíguas /ee/, em hiato, dão lu- 4. Ela apresenta-se como tendo uma situação diferente de todas as
gar ao ditongo /ei/ por semivocalização de uma delas. outras moças da sua idade e condição, o que é manifestamente
exagerado – usa pois uma hipérbole quando diz ser a única que
2.2 Sujeito
está prisioneira em casa. Por outro lado, acentua essa condição
2.3 Oração coordenada disjuntiva [«ou anunciando a decisão de de liberdade das outras através da anáfora «Todas» / «todas»,
uma passagem à ação»] vv. 23-24; a sua individualização poderia ainda ser acentuada
através da antítese entre ela e as outras.
Grupo II
TESTE DE AVALIAÇÃO 2 – SEQUÊNCIA 3 pp. 35-37 1. 1.1 (B); 1.2 (D); 1.3 (B); 1.4 (C); 1.5 (A)
2. 2.1 A palavra «dous», v. 15, é um arcaísmo, visto que esta for-
Grupo I ma entrou em desuso, sendo substituída pela palavra atual
A dois.
1. A cidade é apresentada como uma personagem coletiva, uma 2.2 Predicativo do complemento direto
força que age como um todo; comprovam-no expressões como 2.3 Oração subordinada adjetiva relativa explicativa [«que o
«Toda a cidade», l. 1, «nenhuũ non mostrava», l. 5, que mostram instalará de vez na nobreza»; tem a função sintática de
modificador do nome apositivo «acrescentamento», que é
essa unidade.
o seu elemento subordinante.]
2. O desejo da morte por parte de habitantes da cidade cercada
surge nas ll. 12-13, quando o narrador informa que algumas
pessoas a desejavam sob pretexto de, desse modo, deixar de TESTE DE AVALIAÇÃO 2 – SEQUÊNCIA 4 pp. 42-45
testemunhar o conjunto de desgraças que tinham caído sobre
Lisboa – ll. 12-16. Grupo I
3. Os responsáveis políticos e o Mestre de Avis sabiam do sofri- A
mento do povo e condoíam-se com ele, mas como nada podiam 1. Naturalmente o público ria-se bastante dado o cómico da si-
fazer, tornaram-se indiferentes às queixas populares – cf. o tuação: o projeto de libertação de Inês através do casamento
quarto parágrafo. revela-se um falhanço total: fica pior do que o que estava.
4. A palavra «guerras» refere-se a duas realidades: por um lado, 2. A sátira recai precisamente sobre Inês que assim é criticada,
a verdadeira guerra, com os castelhanos que cercavam Lisboa: apontada, por ter pretendido ser mais do que o que era, social-
mente. O que para nós hoje seria aceitável, não o era na socie-
(a palavra está aqui no sentido denotativo) mas ocorre também
dade estratificada medieval.
no sentido conotativo, significando o sofrimento de que pade-
3. Brás da Mata revela-se um marido ciumento e machista que
ciam por não terem de comer – l. 24. Trata-se, por isso, de uma
pretende dominar Inês completamente, não lhe possibilitando
metáfora desse sofrimento.
o usufruto de qualquer liberdade e ameaçando-a de agressão
Grupo II física.
1. 1.1 (C); 1.2 (B); 1.3 (A); 1.4 (C); 1.5 (D) 4. O discurso de sedução de Brás da Mata concretiza-se, embora
2. 2.1 Metátese – transposição de segmentos ou de sílabas no in- repleto de ironia, quando chama a Inês o seu «tisouro», o seu
terior de uma palavra. «ouro», vv. 37-38.
2.2 Modificador do nome restritivo Grupo II
2.3 Oração subordinada adjetiva relativa restritiva [«que se su- 1. 1.1 (B); 1.2 (D); 1.3 (C); 1.4 (C); 1.5 (B)
cedem ao longo de vários milénios»; tem a função sintática 2. 2.1 Extensão semântica
de modificador do nome restritivo «residências imperiais», 2.2 Predicativo do complemento direto
o seu elemento subordinante]. 2.3 Modificador do nome apositivo

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