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SUMÁRIO

Liberdade, Igualdade e Direito de Propriedade

1 INTRODUÇÃO

2 a propriedade privada no Liberalismo ( Toqueville, John Locke, outros...)

2.1 – Histórico do conceito de propriedade

2.2 – a propriedade privada e a filosofia liberal

2.2.3 O desgaste da propriedade privada na filosofia liberal

2.3 – ausência da noção de justiça social

3 A propriedade privada nos regimes coletivistas ( Hayek, Anna Arendt,


outros...)

3.1 – a justiça social marxista

3.2 – A busca pela igualdade na abolição da propriedade privada

3.3 – os resultados da abolição da propriedade privada – pobreza e violencia

4 Social-democracia e propriedade privada ( autores: Amartya Sen,


Norberto Bobbio, outros...)

4.1 – A proposta social-democrata

4.2- as constituições sociais de Weimar e mexicana

4.3 – a propriedade privada como pilar do desenvolvimento e da justiça social

5 – Direito de propriedade em documentos internacionais sobre direitos


fundamentais

5.1 – na declaração dos direitos do homem e do cidadao - 1789

5.2 – na Declaração Universal dos D. Humanos de 1948


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5.3 – no Pacto de San Jose da Costa Rica de 1969

6 - A propriedade privada no direito brasileiro ( Celso Ribeiro Barros, Michel


Temer, Alexandre de Morais, outros...)

6.1 - Breve histórico

6.2 – A propriedade privada e a constituição de 88

6.2.1 - a função social da propriedade

6.3 as limitações do direito de propriedade no atual direito brasileiro como


ferramentas do desenvolvimento social (requisição, ocupação temporaria,
limitação, servidão, tombamento, desapropriação e confisco)

6.4 – propriedade intelectual

6.4.1 - OMPI da ONU

6.4.2 – Lei de propriedade industrial 9276/96

6.4.3 – Lei antitruste 12259/2011

6 CONCLUSÃO/ CONSIDERAÇÕES FINAIS


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2 A Propriedade privada no Liberalismo

2.1 Histórico do conceito de propriedade

Não é abuso afiançarmos que o histórico de propriedade nasce junto com a


pessoa, aproximadamente como alguma coisa inata do ser humano. Mais do que
como um prodígio legal, podemos assinalá-la como um acontecimento social, por
sua ocasião abraçada pelo Direito. O julgamento de domínio proprietário amplia-se
aproximadamente com a mudança da idade da criatura selvagem para a do homem
sedentário, quando o desenvolvimento da civilização ajusta-se sobre bases físicas,
confinando na terra seu alimento e trabalho.
CÉSAR FIÚZA (2007, p. 749) constata que o instituto jurídico da propriedade
tem origem no Direito Romano, ao apregoar as características de ius utendi, fruendi
et abutendi – direito de usar, fruir e dispor. Sabe-se que em Roma, a propriedade só
poderia ser adquirida por cidadão romano. Com o passar do tempo, a propriedade
veio ao encontro conveninete dos objetivos expansionistas romanos. Nesse sentido
o autor nos diz que:
“Passou-se a admiti-la fora dos muros da cidade. Mais adiante, foi estendido o direito a todos
os habitantes do Império, independentemente de sua origem.”

Muitos outros autores ao longo da História do Direito conceituaram a


propriedade; entre eles, podemos citar vários doutrinadores. A ideia de propriedade
começa a surgir tão logo o homem se descobriu um explorador e um detentor de
poder, seja pelo uso da força ou pela inteligência e liderança. O postulado da família
surge com tribos e agrupamentos, que Friederich Engels trata com ênfase in: “A
origem da família, da propriedade e do Estado”. Assim, postula o autor:
“A terra cultivada continuou sendo propriedade da tribo, entregue em usufruto, primeiro às
genes, depois às comunidades de famílias, e por último, aos indivíduos. Estes devem ter tido certos
direitos de posse – nada além disso”. (ENGELS, 1984, p. 180).
A verdade são que os traços humanos e familiares, consequentemente,
todos os possíveis agrupamentos no planeta, são originários de atos econômicos e
físico-naturais. Tal atitude nos faz acreditar que a primeira propriedade arquitetada
tenha sido a comunal e não a particular. Nesses termos, a propriedade começou a
não ser tão somente um valor de supervivência, com também um valor de troca, o
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que guarnecia a sobrevivência dos clãs nas diversas partes do globo. Na civilização
romana, a família, a religião da época e a propriedade privada, completavam da
constituição social de Roma e não podia ser desvirtuada, quer por determinação
popular, quer por disposição dos governantes.
Em tempos antigos, não existia o direito de propriedade, pois certos rituais e
normas deveriam ser preenchidos. Coulanges pondera que:

[...] não havia o direito de propriedade, porque toda a propriedade deveria


ser estabelecida por um lar, por um túmulo, pelos deuses termos, isto é, por
todos os elementos do culto doméstico. Se o plebeu possuía um quinhão de
terra, essa era não tem caráter sagrado, é profano e não tem demarcação.
(COULANGES, 2005, p. 261)

O direito natural à propriedade é proclamado – não outorgado ou concedido


– na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, pelas Nações Unidas,
em seu art. XVII, quando diz: “Todo homem tem direito à propriedade, só, ou em
sociedade com outros”.
Gomes (2002, p. 103) entende o direito de propriedade por três critérios:

Sua conceituação pode ser feita à luz de três critérios: O sintético, o


analítico e o descritivo. Sinteticamente, é de se defini-lo, com Windschied,
como a submissão de uma coisa, em todas as suas relações, a uma
pessoa. Analiticamente, o direito de usar, fruir e dispor de um bem, e de
reavê-lo de quem injustamente o possua. Descritivamente, o direito
complexo, absoluto, perpétuo e exclusivo, pelo qual uma coisa fica
submetida à vontade de uma pessoa, com as limitações da lei.

Nas palavras de Gonçalves (2006, p. 207-208): “[...] pode-se definir o direito


de propriedade como o poder jurídico atribuído a uma pessoa de usar, gozar e
dispor de um bem, corpóreo ou incorpóreo, em sua plenitude e dentro dos limites
estabelecidos na lei, bem como de reivindicá-lo de quem injustamente o detenha”.
Nos dizeres de Harada (2002, p. 21) há certa dificuldade em deliberar sobre
o que seja propriedade. Sendo assim, se torna necessário o estudo de suas
características e dados distintivos. Desta maneira o autor aduz que o direito de
propriedade reúne três atributos essenciais:

Primeiramente, ele é absoluto, à medida que oponível erga omnes, e


apresenta caráter de plenitude. O proprietário dispõe da coisa como bem lhe
aprouver, sujeitando-se, apenas, a determinadas limitações impostas no
interesse da coletividade, ou decorrentes da coexistência do direito de
propriedade dos demais indivíduos. O segundo atributo desse direito é o da
exclusividade, eis que não pode a mesma coisa pertencer com
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exclusividade e simultaneamente a duas ou mais pessoas. Dos dois


atributos supracitados, decorre o terceiro: a irrevogabilidade. Assim, uma
vez adquirida a propriedade, de regra, não pode ser perdida senão pela
vontade do proprietário. A propriedade tem, pois, um sentido perpétuo,
subsistindo independentemente de exercício, enquanto não sobrevier causa
legal extintiva (HARADA, 2002, p. 21)

O Estado de Direito traz o conceito da função social da propriedade o qual será


tratada ao longo deste trabalho, transmitindo ao Estado o poder de propriedade, nas
relações privadas com cobertura jurídica.

2.2 A PROPRIEDADE PRIVADA E A FILOSOFIA LIBERAL

A origem do Estado de direito se confunde com a da liberdade como direito,


pois esta deu origem àquele:

Segundo Bobbio

“Os mecanismos constitucionais que caracterizam o Estado de Direito têm o objetivo de


defender o indivíduo dos abusos do poder. Em outras palavras, são garantias de liberdade, da assim
chamada liberdade negativa...” (Liberalismo e Democracia, p. 20).

O liberalismo, portanto, é o surgimento de um Estado de direito, ainda que de


1ª geração, na acepção histórica. O Estado Liberal se caracteriza, além da primazia
da lei, pelas limitações de funções atribuídas ao Estado. A supremacia deve recair
sobre as liberdades individuais de escolhas, não sobre o planejamento estatal.
Assim, a propriedade privada, dentro da filosofia liberal, gozava da mais

ampla e irrestrita garantia.

A dinâmica jurídica do Estado Liberal trouxe para discussão neste


momento da história a dicotomia do Direito: o que chamaríamos de Direito Público e
Direito Privado. A luta da burguesia por liberdades públicas resultou na garantia da
liberdade de negócios, que por sua vez, deu aos cidadãos de épocas passadas, o
direito à propriedade. Tal institucionalização fez surgir também o Estado de Direito,
que por sua vez trouxe as garantias constitucionais à propriedade, como direito
fundamental e pétreo.
Não se pode esquecer que junto com o Liberalismo histórico, muitas
ideias, tendo como fonte a Revolução Francesa, tais como liberdade, fraternidade,
igualdade, tornaram-se direitos fundamentais para o ser humano. Junto do
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Liberalismo, ocorreu em várias partes do globo a democracia, a ênfase nos Direitos


Humanos. O Direito de Igualdade trazia à frente o direito de propriedade. Com a
ideia de Contrato Social de Locke e Rousseau e a Constituição da Filadélfia, estes
elementos se desenvolveram e trouxeram ao bojo da discussão política do Poder, o
papel do Estado democrático de Direito.
Nos primórdios do liberalismo, aludindo ao contexto no qual John Locke
alargou sua conjectura da propriedade, o momento histórico influenciou o
incremento de suas imagens e conceitos . A obra de John Locke jaz colocada no
assunto das revoluções inglesas do século XVII, ou seja, momento de articulações
políticas marcado pela contraposição entre caudilhismo e liberalismo. Contrário do
caudilhismo blindado pela Laureia inglesa, especialmente na ocasião da dinastia dos
Stuart, Locke direcionou-se para um espectro liberal, colaborando para a afirmação
das bases teóricas do Estado Liberal.
Abrigou-se na Holanda por um tempo, por ser contrpario ao absolutismo
monárquico, regressando à Grã-Bretanha na mesma caravela de Guilherme de
Orange, aquele que nasceria para ser o emblema da concretização da monarquia
parlamentar inglesa.
“Suas ideias políticas fecundaram todo o século XVIII, dando o fundamento filosófico das
revoluções liberais ocorridas na Europa e nas Américas.” (ARANHA; MARTINS, 2009, p. 304).
Entre seus basilares frutos, avultam-se os dois discutidos tratados sobre a
administração civil inglesa. No Segundo Tratado é que estão consubstanciadas as
forma e finalidade da administração civil liberal do governo inglês. As bases do
direito de domínio e propriedade viriam a ser concebidas na arquitetura da obra.
Para o autor, há um aparelhamento pré-social e pré-político visto que todos surgem
com os direitos adequados: vida, liberdade e a propriedade privada. Locke
proclamava pensamentos liberais, influenciava no aparelho aristocrático da ocasião
e fazia jorrar ideias de igualdade para todos.
Por outro lado, embora não tocasse diretamente na palavra propriedade,
havia para Tocqueville o senso democrático de liberdade e igualdade no liberalismo
francês, o que, nas entrelinhas, propõe o direito democrático de usufruto da terra, o
direito de propriedade na época, o estado de direito. Para Marcos Rohling (2019) o
seguinte pensamento de Tocqueville é orientado ao direito democrático:

Em sua viagem à América, Tocqueville observa as formas, os costumes, a


organização social, assim como as instituições políticas e as relações
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existentes entre o Estado e a sociedade civil, com o propósito de


compreender a democracia assim como a sua forma irresistível. No entanto,
pretende-se apresentar e discutir aspectos da análise tocquevilleana da
democracia que coloquem em relevo a tensão entre as esferas públicas e
privadas. A predileção pela liberdade marca a obra de Tocqueville,
conquanto ser oriundo de uma família aristocrática. Todavia, na democracia
americana, Tocqueville percebe o caráter irreversível e irresistível da
marcha democrática e procura identificar os traços mais característicos do
universo político democrático, ressaltando os seus perigos e destacando os
seus méritos. Entre esses pontos, merece atenção a preparação para a vida
cívica que a democracia americana desencadeia, através das várias
associações livres e do interesse bem compreendido. É a partir dele que,
entre os americanos, pode-se pensar a virtude cívica, revelando um modo
particular de equilibrar as exigências políticas e os interesses privados, as
esferas pública e privada. Sendo assim, objetivando neste texto apresentar
o modelo liberal de Tocqueville, como projeto de cidadania, baseado pelos
conceitos de liberdade e de igualdade, procura-se evidenciar elementos que
permitam caracterizar, numa democracia, a virtude cívica – uma questão
republicana a partir de uma perspectiva liberal. Além disso, discute-se a
função político-pedagógica da democracia, no sentido de que é uma
exigência cívica a participação nas atividades das coisas públicas e de
que essa participação é fundamental para a superação do egoísmo. Nesse
quadro, tomar-se-á como referencial a obra A Democracia na América.
(ROHLING, 2019)

Há de se notar que na obra de Tocqueville, a conspiração democrática gira


em torno do título desta monografia Liberdade, Igualdade e Direito de
Propriedade. Tocqueville se volta muito para os aspectos da cidadania. Assim. “a
cidadania, no entendimento liberal, é entendida como instrumento para a
consecução e validação de direitos com os quais, em linhas gerais, o Estado
compromete-se no sentido da proteção e da garantia do exercício, por parte dos
indivíduos” (TOCQUEVILLE, 1977, p. 391).
Entre os americanos, como aventado, a soberania popular é alimentada para
se fazer, em cada ocasião,demonstração da igualdade e da liberdade, de forma que
eles compelem-se duramente no auxílio recíproco, pois, como Tocqueville
comprova:
“Devo dizer que muitas vezes vi americanos fazerem grandes e verdadeiros sacrifícios à
coisa pública, e observei cem vezes que, quando necessário, quase nunca se furtam de prestar fiel

apoio uns aos outros” (TOCQUEVILLE, 2004, p. 129).

Tocqueville viveu para ver na democracia o direito de propriedade como o


mais sagrado dos direitos de todo o cidadão, pois de certa forma, envolve a
liberdade do indivíduo. É como um pacto social coletivo, visto que é por meio da
propriedade que os direitos civis devem subsistir. Apropriar-se de algo é exercer a
liberdade. As mais inusitadas situações acontecem referentes ao direito de
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propriedade, seja por usucapião (usucapir significa tomar de posse de terrenos


abandonados ou imóveis e depois de algum tempo adquirir o direito de propriedade
sobre ele, excetuando imóveis públicos), seja por contrato de compra, seja por
herança.
Para Jean Jaques Rousseau, a propriedade privada é o mote da
dessemelhança social , na verdade dela surge a barreira fundamental do anverso à
propriedade. Assim, urge procurar nos mananciais do liberalismo clássico e, antes
designadamente, na conjectura astuta de Jean-Jacques Rousseau, os baseamentos
filosóficos de apreciação radical da conveniência, bem como a elucidação da
disparidade entre os indivíduos. Para o filósofo Rousseau, a questão da legitimidade
do poder fundado (não na autoridade divina, nem na consanguinidade hereditária e
absolutista), mas no “contrato social”, ao criar a hipótese segundo a qual os
indivíduos viviam em “estado de natureza” (bons, sadios, cuidando de sua própria
sobrevivência) até o momento em que surgiu a propriedade privada e uns passaram
a trabalhar para outros, gerando, assim, a escravidão e a miséria (BOZZI, PAULA,
2019).
Como se sabe, a propriedade, em sua concepção privatista, de fato não só
esteve em crise como foi superada pela Carta Cidadã de 1988, uma vez que trouxe
para o núcleo da teoria política constitucional a função social da propriedade. A
propriedade, na sua concepção privatista foi, como se viu em Rousseau, a
instituidora da desigualdade social entre os homens destruindo, ferozmente, o “bom
selvagem” e instituindo, por conseguinte um governo despótico. Neste contexto, uma
breve incursão aos clássicos do liberalismo, especificamente ao pensamento político
de Rousseau, possibilita uma clareza epistêmica sobre a longa travessia até
culminar com a posterior limitação constitucional do direito à propriedade, uma vez
que os fundamentos filosóficos de crítica radical da propriedade, bem como a
explicação da desigualdade entre os homens, são elementos chaves para
compreender este movimento de constitucionalização do direito civil, singularmente
a questão da propriedade e sua função social.

2.2.3 O desgaste da propriedade privada na filosofia liberal luz da DSI


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Seguindo o caminho da história, a propriedade privada tornou-se um vasto


latifúndio, pertencente à igreja, aos burgueses e aos mais abastados e por isto
surgiu a filosofia liberal. Para tanto, muitas são as análises históricas que se fazem
do início do liberalismo e suas particularidades em cada região do globo, como a
citação abaixo:
O Estado existe a partir do contrato social. Tem as funções que Hobbes
lhe atribui, mas sua principal finalidade é garantir o direito natural da
propriedade. Dessa maneira, a burguesia se vê inteiramente legitimada
perante a realeza e a nobreza e, mais do que isso, surge como superior a
elas, uma vez que o burguês acredita que é proprietário graças ao seu
próprio trabalho, enquanto reis e nobres são parasitas da sociedade. O
burguês não se reconhece apenas como superior social e moralmente aos
nobres, mas também como superior aos pobres. De fato, se Deus fez todos
os homens iguais, se a todos deu a missão de trabalhar e a todos concedeu
o direito à propriedade privada, então, os pobres, isto é, os trabalhadores
que não conseguem tornar-se proprietários privados, são culpados por sua
condição inferior. São pobres, não são proprietários e são obrigados a
trabalhar para outros seja porque são perdulários, gastando o salário em
vez de acumulá-lo para adquirir propriedades, seja porque são preguiçosos
e não trabalham o suficiente para conseguir uma propriedade. Se a função
do estado não é a de criar ou instituir a propriedade privada, mas de garanti-
la e defendê-la contra a nobreza e os pobres, qual é o poder do soberano?
A teoria liberal, primeiro com Locke, depois com os realizadores da
Independência norte-americana e da Revolução Francesa, e finalmente, no
século XX, com pensadores como Max Weber, dirá que a função do Estado
é tríplice: Por meio das leis e do uso legal da violência (exército e polícia),
garantir o direito natural de propriedade, sem interferir na vida econômica,
pois, não tendo instituído a propriedade, o Estado não tem poder para nela
interferir. Donde a ideia de liberalismo, isto é, o Estado deve respeitar a
liberdade econômica dos proprietários privados, deixando que façam as
regras e as normas das atividades econômicas. Visto que os proprietários
privados são capazes de estabelecer as regras e as normas da vida
econômica ou do mercado, entre o Estado e o indivíduo intercala-se uma
esfera social, a sociedade civil, sobre a qual o Estado não tem poder
instituinte, mas apenas a função de garantidor e de árbitro dos conflitos nela
existentes. O Estado tem a função de arbitrar, por meio das leis e da força,
os conflitos da sociedade civil. O Estado tem o direito de legislar, permitir e
proibir tudo quanto pertença à esfera da vida pública, mas não tem o direito
de intervir sobre a consciência dos governados. O Estado deve garantir a
liberdade de consciência, isto é, a liberdade de pensamento de todos os
governados e só poderá exercer censura nos casos em que se emitam
opiniões sediciosas que ponham em risco o próprio Estado. Na Inglaterra, o
liberalismo se consolida em 1688, com a chamada Revolução gloriosa. No
restante da Europa, será preciso aguardar a Revolução Francesa de 1789.
Nos Estados Unidos, consolida-se em 1776, com a luta pela independência
(OBSERVATÓRIO POLÍTICO, 2019)

Quando se fala em propriedade diante da filosofia liberal, com o passar dos


tempos, entendemos implícita a sua posse, o seu direito real sobre a “coisa”, tanto
para bens corpóreos como incorpóreos. Ao longo da história da humanidade a
propriedade tem tido a sua função socioeconômica, num sentido democrático,
principalmente depois das lutas travadas pelos bens que homem mantém
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adquirência e conquistou por intermédio de muitas lutas, no que tange ao


beneficiamento da terra, a sua posse e respectiva propriedade. A própria evolução
pessoal do homem se dá ao valor social da propriedade (PINTO, 2014).

2.3 Ausência da noção de justiça social

No que concerne à sociedade histórica e a sociedade temporal, de outras


épocas, somente os mais abastados tinham privilégios inerentes às suas condições
sociais. A hierarquia era bem distintiva e se dividia em nobreza, clero e as
contradições da miséria dos pobres e explorados. Proprietários e donos da terra,
somente os burgueses abastados, os nobres e comerciantes que atravessaram os
mares em busca de riquezas. Os bens e domínios se contavam em alqueires e
cavalos, escravos e joias. Os certificados de propriedade eram emitidos pelo “rei”,
assim como os seus títulos de “nobreza”.
Insta perguntar, ao longo do limiar desta história, onde ficava a justiça social
sobre o direito de propriedade? Tocqueville apela para a temporalidade da história
para deparar as procedências da disparidade. Decompõe a história em 3 etapas:
independência selvagem, etapa intermédia e liberdade política e civil – ou seja, o
barbarismo e o progresso, com uma fase intermédia, apropriada à Idade Média,
durante a qual se ocasionam (segundo ele) as custas da pobreza e da inópia, de
acordo com a seguinte evolução:

Independência selvagem – organização social baseada na solidariedade e


autossatisfação com a partilha dos bens comuns obtidos da pesca, da
recolecção e da agricultura em campos coletivos. É o mundo das
desigualdades naturais; não existem condições de transformação destas
desigualdades naturais em desigualdades de capacidade de apropriação
nem mecanismos de perpetuação destas desigualdades, a propriedade é
conectiva e o objetivo é a sobrevivência. Exemplo: as sociedades índias
americanas;

Etapa intermédia entre a ‘independência selvagem’ e a ‘liberdade


política e civil’. Geração do supérfluo, através de um processo de
aproveitamento de capacidades naturais de cultivar a terra e dela tirar mais
do que o necessário para a satisfação das necessidades básicas. É a
transformação da propriedade em fundamento da desigualdade: os
fisicamente melhor dotados e mais habilidosos na arte de cultivar, começam
a ter melhores resultados, mais produção, mais poder e maior capacidade
de se apropriar de mais terra; a necessidade de retenção desta apropriação
no seio da família gera os fundamentos do mecanismo de reprodução das
desigualdades assim nascidas. As relações de dominação que
se estabelecem entre poucos muito fortes e muitos cada vez mais fracos,
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gera um ambiente favorável à instalação da tirania dos senhores. É neste


período que acontecem as invasões bárbaras e Tocqueville atribui o seu
grande sucesso à divisão social que então caracterizava as sociedades. Os
bárbaros conquistam o governo e também as terras e seus cultivos e
produtos: estão criadas as condições para o estabelecimento da sociedade
feudal que corresponde historicamente à Idade Média (TOCQUEVILLE,
1997, p. 43).

É atraente averiguar que, já em 1833, Tocqueville empregava o


conhecimento de pobreza relativa e de ‘entitulamento’, para além de avocar a
cautela para as dificuldades resultantes da constitucionalização da indigência como
categoria econômica e igualitária: por um lado, o estigma social dos despojados –
transversalmente do seu cadastro nos registros para sufrágio, adotavam em hasta
pública a sua menoridade enquanto habitantes da cidade subordinados do Estado
ou de outros, a evolutiva lesão do amor-próprio e de alvedrio, a falta de estímulo ao
labor e a ambição em aperfeiçoar as concernentes categorias de existência e, por
distinto caminho, a ineficiência de um princípio administrativo, na atenção genérica e
sem discernimentos característicos das consignações advocatícias de base aos
desprovidos. Também Adam Smith, versado com o pais do capitalismo
contemporâneo, já então despontava a sua apreensão com a crescente indigência
na Inglaterra da sua ocasião (século XVIII) e oferecia determinadas palavras-chave
que continuam atualizadas, como o ascensão dos carentes à catequização, a
obrigação de justiça salarial, a jubilação fiscal, e o equacionamento da afinidade
entre livre-arbítrio e avanço social. A informação de ajustamento social como
aceitamos atualmente, aportada em  morais e utilitários políticos, baseados nos
conceitos de identidade e dependência recíproca, abancou a ser alargada também
no centenário séc. XIX. Nessa era, a ideia jazia integrada à investigação de uma
estabilização social, de costume que juntas os sujeitos que endireitam a coletividade
apresentem os próprios aprumados. Ou seja, procurava-se consolidar a ciência de
que uma coletividade pugna carece encontrar-se prometida com a fiança de direitos
básicos como instrução, saúde, labor, necessidades especiais, trabalho dentro de
uma propriedade. Dessa forma, é basilar cunhar construções de abrigo para
amenizar as dessemelhanças da sociedade. Igualmente, a notícia atual de
ajustamento social calhou a ser unido à procura de uma coletividade igualitária. Era
um rebate às disparidades sociais na Europa dos séculos passados, que inda se
acaudilhava pelos conceitos de caracterização e condicionamento da falta de justiça
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social. Isso porque o padrão de incremento europeu jazia abalizado no


desenvolvimento, que desde o início provocou disparidades entre camadas sociais.
As dificuldades da dessemelhança têm impelido distintos indivíduos e
estabelecimentos a arrazoar sobre esse tema constitucional para a coletividade.
Disciplinas, documentos e análises são ampliados com o desígnio de se abranger e
interferir nesse problema pelo meio da abertura de justiça social.

3 A PROPRIEDADE PRIVADA NOS REGIMES COLETIVISTAS

As propriedades coletivas são uma discussão do capitalismo. As


propriedades privadas nos regimes coletivistas são uma coligação do regime
capitalista. Teóricos de liberação numa crítica ferrenha da apreciação marxista a
respeito do capitalismo sobrevieram a pesquisar também como o padrão de cultura
socialista permaneceria possível; como este se ampararia na gênese e repartição de
prosperidade; como seria possível racionalizar a manufatura, consentindo aos
administradores deliberarem eficazmente o que manufaturar, como manufaturar e
para quem manufaturar, ponderando o carecimento de expedientes e os elementos
rotativos de alocação. A palavra deles seria como a propriedade privada entraria no
socialismo em contrapartida ao capitalismo. Friederich Hayek faz jus o grande
destaque como teórico liberal, pois demonstrou o contrassenso da racionalização na
cultura socialista. Detém-se do pensamento de Hayek, que díspares indivíduos não
interatuam em coletividade com adesão em suas escolhas individuais e diligentes no
momento, não constituindo possível uma conquista dessa informação espalhada na
economia, ou seja, as questões da propriedade devem ser confrontadas
coletivamente no capitalismo. O problema de Hayek é fundamentalmente um
problema de organização grupal, frente das disposições parcimoniosas
individualizadas. Para um modelo capitalista, Hayek não via a produção socialista, a
eficiência maciça como sendo possível. A divisão deveria vir pelo capital (HAYEK,
2019). Para Hayek “o problema econômico da sociedade seria principalmente o da
adaptação rápida às mudanças nas circunstâncias particulares de tempo e de lugar,
onde os preços podiam agir para coordenar as ações separadas das pessoas,
fazendo com que os campos de visão individuais limitados se sobreponham
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suficientemente, de modo que, através de muitos intermediários, a informação


relevante seja comunicada ao todo” (HAYEK, 1945, p. 519).
A partir da problematização das marcas e problemas por que incide o
princípio de representação que apoia a soberania popular liberal, apropinquou-se à
verificação de que, nos termos inclusos sugeridos por Arendt, é plausível alargar os
antessentidos da democracia. Portanto, se a inquietação principal de Arendt é com o
decaimento do ambiente público, constitucional para a astúcia política e para o
deslocamento dos interesses humanos, sua apreciação é igualmente aceitável,
porque afronta a indiferença e o conformismo que diferenciam a coletividade
massificada (ARENDT, H. 1981).
Na obra “A condição humana” Hanna Arendt oferece, primeiramente, uma
apreciação sobre o que é característico e banal na categoria hominal por meio da
abrangência das agilidades: labor, trabalho e ação, as quais agregam a vita activa
(ARENDT, H. 1981).
A condição humana, para Hannah Arendt aventa designadamente da
nobreza entre público e privado e conjectura sobre os lances que a contornaram
antiquada. Estes lances podem ser abarcados, em seu estudo, na agitação de
elevação do domínio social e do aparecimento da sociedade de massas (quando
aparecem as propriedades coletivas), que, embora distintos, representam membro
também o mesmo processo de expansão coletiva da privatividade, de ascensão da
alacridade dos imperativos essenciais (o atrelamento recíproco em prol da
estabilidade) a aparência vinculante basilar da astúcia, de ascensão da identidade e
da decorrente assimilação entre atuação e procedimento. O que baliza a
concretização do mundo atualizado, na estimativa de Arendt, é uma progressiva
indistinção entre os domínios social e político, com a racional “ascensão do ‘lar’
(oikia) ou das atividades econômicas ao domínio público” (ARENDT, 1958, p. 33). A
esfera social é “o domínio curiosamente híbrido onde os interesses privados
adquirem significação pública” (ARENDT, 1958, p. 35).
Com esta declaração vita activa, Arendt ambiciona assinalar três prestezas
basilares, constituindo essas o labor o trabalho e a ação. Entende que são
atividades fundamentais, pois a cada uma delas corresponde uma das condições
básicas mediante o envolvimento da propriedade. A representação de uma pessoa
assim imaginada nos demanda a discorrer em uma soberania popular participativa e
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pluralista. O labor, o trabalho e a ação na democracia liberal condizem com a


propriedade privada nos dizeres e na interpretação de Arendt.
O principal do pensamento de Hannah Arendt, qual seja, a altivez entre
capacidade e feridade é a liberdade. O poder de propriedade de um indivíduo surge
no campo da ação coletiva. O poder, assim sendo, não é acentuado quão um
elemento, contudo sim quanto uma categoria, uma característica coletiva de uma
coligação e nunca de um indivíduo. O poder, portanto, é uma característica
fundamental para adquirência da propriedade coletiva (ARENDT, H. 1981).
Sobre a Revolução Francesa, Arendt escreveu sobre o passado e o futuro.
Os homens da RF foram arduamente censurados por Arendt, quando ela perfilhou a
ampla importância ao acontecimento do que eles haviam arquitetado sobre
liberdade, um conceito de liberdade até então ignorado. Eles o ajuizaram como livre-
arbítrio público, em contraposição à dessemelhante imagem de alvedrio, que,
também então, era constituída como livre aspiração e livre axioma: “Para eles, a
liberdade só podia existir em público; era uma realidade terrena, tangível, algo criado
pelos homens, para ser desfrutado por eles, e não um dom ou uma capacidade, era
o espaço público ou a praça pública que a antiguidade havia conhecido como a área
em que a liberdade aparece e se torna visível para todos” (ARENDT, H.1981, p.33).

3.1 A justiça social marxista

A justiça é um aspecto ético a respeito do que compete genuinamente a


cada pessoa em nossa coletividade, e tem seu apoio fidedigno no direito, com o qual
o Estado aparelha a sociedade capitalística em concurso com seus zelos
contrapostos. O contento da justiça e seu desígnio são a autolimitação das
preocupações opostas, para que eles possam subsistir contíguos aparelhamentos.
Pela Crítica do Programa de Gotha é advinda a adjacente expressão de
Marx do comunismo: “a cada um conforme suas capacidades, a cada um conforme
suas necessidades!” (MARX, 2012, p. 32) E com esta fórmula Marx redistribui a
justiça social. Ela seria comuna para todos e não capitalista como o Estado a
aparelha. Todos com suas necessidades e suas capacidades. Marx lutou
ferrenhamente contra o capitalismo e abordou três teorias que comprovam isto e que
ferem diretamente o Capitalismo e emolduram a justiça social:
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a) A Economia Política, destacando-se os nomes de Adam Smith e David


Ricardo. Dela, Marx recupera a noção de trabalho-valor, observando,
porém, que a realização do capital, a acumulação de riquezas não é
produzida pelo trabalho em qualquer de suas formas, mas pelo trabalho
não-pago;

b) O Socialismo Utópico, que denunciou a miséria da vida sob o capitalismo,


a exploração do homem pelo homem. Deste, o autor retoma a exploração,
mas não sob uma óptica pretensora de conciliação, numa sociedade ideal,
dos princípios liberais com as necessidades emergentes do operariado e
sim sob uma perspectiva de constatação de que, em verdade, os
desacordos entre os interesses da burguesia e os do proletariado
constituem uma mola que move o sistema capitalista e que é essencial à
sua existência, conforme ensinamentos de Gilberto Cotrim (1999). Marx
afirma que as tentativas de união de tais ideias são meramente ilusórias,
restando, portanto, à prole a alternativa revolucionária de modo a
interromper as contradições brutais do capitalismo;

c) A Filosofia Clássica Alemã, representada principalmente por Feurbach e


Hegel. Daquele, Marx incorpora o materialismo. Entretanto, não em sentido
filosófico, mas sob uma perspectiva histórica, porque "a sociedade, o
Estado e o Direito não surgem de decretos divinos, mas dependem da ação
concreta dos homens na História" (Chauí, 2001, p. 409). Já com relação a
Hegel, o autor recupera a sua dialética, que diz ser o mundo movido por
contradições (natureza/homem, capital/trabalho, campo/cidade), sendo que
em vez da natureza circular da dialética de Hegel, formada por tese,
antítese e síntese, Marx propõe uma espiral, na qual a "síntese" seria
também uma "tese" para uma nova "antítese". Além disso, ao contrário de
Hegel, que era um filósofo idealista ou especulativo, o autor era materialista.
Este dizia ser a ação anterior ao pensamento e que o trabalho seria
material, transformador da realidade, da natureza, em oposição ao trabalho
espiritual de Hegel (ASSIS, 2019)

O autor considera a coletividade decompondo o arcabouço social em ambos


os rompimentos: a infraestrutura, na qual nasceriam as camadas sociais, a que ele
chama de apoio material e incluso do qual se desenvolveriam juntas as afinidades
sociais de plantação pelo meio dos empenhos produtivos.
A ideia de justiça de Marx é distributiva e se propõe de acordo com o
trabalho de cada trabalhador. A sua ideia de justiça social era real, transformadora e
especulativa, pois na maioria das vezes, trazia ao bojo da sua filosofia, a sociedade,
o Direito e Estado como sentidos não abstratos, mas sim materialistas. A justiça
social marxista não explora o homem pelo homem, não explora os interesses da
burguesia e do capital, mas sim o trabalho-valor, observando, porém, que a
realização do capital pela sociedade utópica e comunista. (MARX, 2012).

3.2 A busca pela igualdade na abolição da propriedade privada


16

O comunismo é um sistema de ideias astuto e socioeconômico que


ambiciona constituir uma associação de igualitarismo, por meio da abolição da
propriedade privada, das camadas sociais e da conveniente conjuntura estatal.
Karl Marx, em sua ideologia, tentava, pela busca da igualdade, eliminar a
propriedade privada.
No Manifesto Comunista de Marx uma só expressão começa tudo que o
filósofo queria abolir e começa pela propriedade: “Abolição à propriedade privada”
(MARX, 2012).
Outros complementos viriam para reforçar o pensamento marxista:

O proletariado usará sua supremacia política para expropriar, de maneira


gradual, todo o capital da burguesia, para centralizar todos os instrumentos
de produção nas mãos do Estado — isto é, do proletariado organizado
como classe dominante. [...]
Naturalmente, isto só poderá ocorrer por meio de intervenções despóticas
no direito de propriedade e nas relações de produção burguesas. Por meio
de medidas, portanto, que economicamente parecerão insuficientes e
insustentáveis, mas que, no decurso do movimento, levam para além de si
mesmas, requerendo novas agressões à velha ordem social.[...]
Estas medidas serão, obviamente, naturalmente distintas para os diferentes
países.
Não obstante, nos países mais avançados, poderão ser aplicadas de um
modo generalizado.
1. Expropriação da propriedade sobre a terra e aplicação de toda a renda
obtida com a terra nas despesas do Estado.
2. Imposto de renda fortemente progressivo.
3. Abolição de todos os direitos de herança.
4. Confisco da propriedade de todos os emigrantes e rebeldes.
[...].( MARX,2019)

Nessa definição, o primeiro andamento da ideologia comunista de Marx se


produziria, a princípio, pela vinda do socialismo, no qual o domínio privado ou
propriedade privada seria abolido num princípio único de igualdade e o instrumento
estatal seria acondicionado por uma facção política de obliquidade socialista (MARX,
2012). Em um secundarista período, o Estado seria revogado e todo o poder seria
designado ao povo, culminando no comunismo de fato. Não restariam também
administrações, regiões ou separações territoriais e, especialmente, revogariam as
disparidades de categorias sociais. Isto, contudo, jamais aconteceu. No palco
teórico, todavia, o comunismo apresentaria como atributo basilar uma associação na
qual os círculos de cultura, como manufaturas, estâncias, lavras e distintas
fabriquetas, seriam notórios e públicos, contudo sem referir-se à Conjuntura Estatal,
pois não teria mais a condição estatal (MARX, 2012).
17

No ensinamento marxista, a essência de livre-arbítrio é admissível, no devir


do período igualitário, destronando as incompatibilidades de casta. A casta
majoritária, o proletariado, é o agente do regulamento da integração dos avessos,
em que a negação da negação não autorizará o regresso à propriedade privada.

3.3 Os resultados da abolição da propriedade privada – pobreza e violência

Em detrimento à abolição do Estado, a negação da infraestrutura do poder


estatal, sem o atributo basilar da sociedade que é a organização social, os
resultados da abolição da propriedade privada, de acordo com o marxismo, no
planeta só geraram pobreza e violência. Não deu certo na Alemanha, não deu certo
na Rússia, Cuba é pobre, a Coréia se separou em duas, sendo a socialista do norte
atrasada e sem condições de atender o seu povo que vive na pobreza e na violência
que foi instaurada por um regime ditatorial, passado de pai para filho. Uma espécie
de comunismo aconteceu na América do Sul, um país socialista como a Venezuela,
nega-se o povo, mas não se nega o Estado, são os contrapontos do marxismo. Ou
seja, tanto o Socialismo, quanto o comunismo são regimes totalitários falidos no
mundo. Postula Epochtimes:

Para atingir esse objetivo, nos países comunistas, os comunistas usaram


violência e assassinato em massa. Porém, como o comunismo violento
perdeu o seu apelo, foram criadas formas não violentas. Essas variantes do
socialismo se infiltraram em toda a humanidade porque são difíceis de
serem identificadas. Os países ocidentais estão adotando muitas políticas
econômicas que aparentemente não têm nenhuma relação com o
socialismo, no nome ou na forma, mas elas têm por finalidade restringir,
enfraquecer ou privar as pessoas do direito à propriedade privada. Outras
políticas enfraquecem a mecânica da livre iniciativa, aumentam o poder do
governo e aproximam a sociedade do socialismo. Os métodos usados
incluem tributação elevada, assistência social generosa e intervencionismo
estatal agressivo (EPOCHTIMES, 2019).

Há mais de um século, Karl Marx publicou “O Capital”, acobertando a


abolição da propriedade privada e sua mudança pelo domínio público nos meãos de
fabricação. Médio centenário após, a propriedade pública bolchevique jazia
18

constituindo implementada em um terço das nações do mundo. Com o fracasso que


levou à pobreza e à violência a união soviética depois 1990, muitas regiões do Leste
Europeu calharam por uma “terapia de choque” para retroceder à moderação de
uma economia de mercado. Outros países não geridos por partidos comunistas, mas
que, apesar de tudo, adotaram a nacionalização socialista e toleraram a miséria e
pobreza do exemplo de conveniência pública dos meios de produção, não tiveram
alternativa senão embrenhar-se nas reparas de comércio. Para dominar o mundo, o
espectro do comunismo lançou ofensivas em todo o Planeta, não tendo resultados
satisfatórios (MELLO, 2006).
19

4 A SOCIAL-DEMOCRACIA E PROPRIEDADE

A democracia social ou social democracia é o oposto do comunismo e


permite a propriedade privada e o controle do Estado. O Estado controlador não
priva o cidadão de seus direitos e desde tempos remotos todos são iguais perante a
lei.
Analisemos novamente o homem nos dizeres de Battista Mondin (1982, p.
159): “A sociabilidade é a propensão do homem para viver junto com os outros e
comunicar-se com eles, torná-los participantes das próprias experiências e dos
próprios desejos, conviver com eles as mesmas emoções e os mesmos bens”. O
autor ainda postula que a politicidade é o conjunto de relações que o indivíduo
mantém com os outros, enquanto faz parte do grupo social. Sociabilidade e
politicidade são, então, dois aspectos correlativos de único fenômeno: o homem é
sociável e, por isso, tende a entrar em contato com os seus semelhantes e a formar
com eles certas associações estáveis; porém, começando a fazer parte de grupos
organizados, torna-se um ser político, ou seja, membro de uma polis, de uma
cidade, de um estado, e, como membro de tal organismo, adquire certos direitos e
assume certos deveres (MODIN, 1982).
Os subsídios do indiano Amartya Sen em diferentes campos da economia,
da filosofia e da democracia são abertos e diversificados: seus afazeres abarcam
argumentos como desenvolvimento parcimonioso da democracia social, alternativa
lógica, opção social, capitalização do bem-estar, indigência e disparidade, aumento
econômico e filosofia política normativa. Além disso, Amartya Sen é capaz de, em
cabais argumentos, elucidar suas hipóteses com menções a economistas e filósofos
dos tempos passados que jazeriam entre os antecessores das questões por ele
acobertadas. Sen ganhou grande notoriedade fora da economia, na democracia,
20

quando defendeu um conhecimento de identidade de ocasiões igualmente radical do


que a puramente protocolar. Indivíduos surgem em dessemelhantes conjunturas que
carecem ser galardoadas por constituírem moralmente arbitrativas: díspares dotes
de aptidões e agilidades, serem componente de ascendências mais ou inferiormente
bilionárias, serem mensageiros de enfermidades ou insuficiência, por exemplo. Um
conhecimento de coincidência e igualdade formais de ocasiões não afugenta essas
altercações, enquanto o empate autêntico de conveniências solicita que exista
determinada contrapartida. Kang argumenta que:

Ao invés de bens primários, Sen advoga a utilização das capacitações como


principal equalisandum, embora não seja o único. Para entendermos o
conceito de capacitações, precisamos primeiro explicar o que são
funcionamentos. Sen diferencia dois aspectos em relação a bem-estar (well-
being): o bem-estar efetivamente alcançado pela pessoa e a liberdade para
alcançar bem-estar. É essa distinção que está por trás dos conceitos de
funcionamentos e capacitações. Funcionamentos consistem nos estados e
atividades que as pessoas valorizam em suas vidas. Como exemplo de
funcionamentos relevantes. Sen destaca algumas como estar
adequadamente nutrido, gozar de boa saúde, poder escapar de mortalidade
prematura, ou até mesmo estar feliz, ter autorrespeito ou fazer parte da vida
da comunidade. Aquilo que uma pessoa realiza pode ser considerado um
vetor de funcionamentos. [...] Assim como o conjunto orçamentário da teoria
microeconômica do consumidor reflete a possibilidade de escolha de cestas
de bens de consumo, o conjunto de capacitações reflete a liberdade de a
pessoa em escolher diferentes tipos de vida (SEN, 1992, pp. 39-40 apud
KANG, 2019).

E assim: “Funcionamentos, portanto, tem relação com o bem-estar


efetivamente alcançado. Por outro lado, capacitações dizem respeito à liberdade
para alcançar bem-estar, uma vez que consistem no conjunto de vetores de
funcionamentos: ou seja, capacitações são as várias combinações possíveis de
funcionamentos que refletem E a liberdade da pessoa de viver o tipo de vida que
deseja” (SEN, 1992, pp. 39-40 apud KANG, 2019). E a liberdade, o modus vivendi
da pessoa, os desejos da pessoa, o seu bem-estar, os seus funcionamentos, a sua
liberdade de expressão se refletem na democracia e na sua propriedade privada.

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21

REFERÊNCIAS

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