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socioemocionais-na-escola

Publicado em GESTÃO ESCOLAR 07 de Novembro | 2019

BNCC

Como avaliar as competências


socioemocionais na escola?
Diferente de outros aprendizados, uma simples prova não é capaz de medir o
desenvolvimento das competências socioemocionais do aluno. Atividades
detalhadas e observação atenta devem fazer parte da rotina
Daniela Andrioli

Crédito: Getty Images

Como avaliar a empatia de um estudante com os demais colegas de classe? Como entender se ele é
emocionalmente resiliente? Como encontrar maneiras de medir a tolerância à frustração no dia a dia
escolar? A implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) trouxe as competências
socioemocionais (CSE) integradas às Competências Gerais e, com isso, trouxeram um novo desafio à
escola: desenvolver um conjunto de competências para além da área cognitiva e encontrar formas
eficazes de acompanhar o seu desenvolvimento pelos estudantes.

Diferente de uma prova de Matemática, em que exercícios são capazes de avaliar se o aluno absorveu
o assunto, as CSE merecem uma apuração mais detalhada e profunda. “No caso de avaliações de
competências socioemocionais, uma das principais diferenças é a não repetição do que é avaliado ao
longo do tempo e a variação do que é avaliado a depender de cada estudante e de seus objetivos
individuais de desenvolvimento”, orienta Gisele Alves, psicóloga e gerente da especialidade de geração
de evidências no Instituto Ayrton Senna. Além disso, combinar processos de avaliação (atividades,
observação do dia a dia, questionários autoavaliativos) dá mais insumos para acompanhar o
desenvolvimento dos alunos nesta área do que uma única forma de avaliação.

LEIA MAIS Avaliação processual: o raio X do ensino e da aprendizagem na sala de aula


De acordo com Janaina Spolidorio, pedagoga e autora do livro “Aula - Os Segredos”, para que uma
avaliação socioemocional por escrito ou mesmo uma autoavaliação seja sincera é preciso que a escola
tenha um processo de desenvolvimento dessas competências. “Dificilmente o aluno irá ser sincero em
suas primeiras avaliações, porque é difícil avaliar a si mesmo”, explica. “Uma maneira que costuma ter
eficácia neste tipo de avaliação é fazê-la pedindo que o aluno mencione exemplos reais que
aconteceram com ele”.

Mas não é apenas seu relato que pode ser fonte para a avaliação. A observação dos educadores da
maneira como o estudante se coloca diante das diversas situações também pode dar insumos sobre a
frequência que o aluno apresenta determinados comportamentos.

Célia Senna, diretora pedagógica da consultoria INovAÇÃO e do Centro de Formação de Educadores –


“Mão na Massa”, comenta que o trabalho em grupo é uma atividade eficaz para medir algumas
competências, principalmente se regras como divisão de grupo e atividades forem restabelecidas e
façam com o que os alunos trabalhem outros aspectos. “Deixe que os estudantes montem os grupos
da forma que eles desejarem. Peça para que eles escolham o líder, o cronometrista, o secretário...
Nesse momento já é capaz de avaliar se ele está aberto a aceitar a opinião do outro sem tentar impor a
sua opinião”, explica a profissional, que destaca que o maior erro dos professores é achar que uma
única atividade é capaz de medir todas as competências socioemocionais. Ter clareza das
competências que estão em jogo no desenvolvimento de uma atividade é fundamental. “Se você não
sabe exatamente o que e como vai avaliar, certamente a avaliação será muito subjetiva e pouco eficaz”,
orienta.

Célia propõe considerar quatro aspectos no planejamento da avaliação das atividades:

1) Escolher a CSE a ser avaliada;


2) Descrever a competência;
3) Definir os descritores (instrumentos que mostram as habilidades que são esperadas);
4) Escolher uma atividade, dentro da área de conhecimento do profissional, que possa desenvolver a
CSE escolhida com foco em determinado descrito.

A observação é a melhor resposta


Para que a avaliação seja eficaz e genuína, a escola precisa apoiar os professores com formações que
se aprofundem nas CSE e tenham repertório para desenvolverem atividades que possam expor o
assunto da maneira correta em sala de aula. “É necessário possibilitar que os professores tenham
contato com uma linguagem comum sobre esse tema, conheçam, compreendam e se apropriem dos
conceitos relacionados”, defende Gisele. A gerente do Instituto Ayrton Senna também aponta que o
mais importante nesse processo é buscar um caminho para que todas as competências
socioemocionais sejam avaliadas de forma equilibrada. “Esse olhar possibilita que cada estudante se
desenvolva plenamente e conforme suas necessidades e objetivos”, explica Gisele.

Há ainda outras atividades podem ser incluídas no dia a dia escolar e que podem dar insumos para o
trabalho com as socioemocionais na escola, como discutir a conduta de um personagem de um filme,
propor dinâmicas em grupos ou mesmo usar a literatura para despertar a reflexão sobre o tema. O
importante é que o educador saiba o que está avaliando e anote todas suas observações para medir a
evolução de cada estudante.

LEIA MAIS Como ensinar habilidades socioemocionais por meio da Literatura

Aulas socioemocionais? De jeito nenhum!


Algumas escolas tentam incluir o desenvolvimento dessas competências como as fazem com as
competências cognitivas: por meio de “aulas socioemocionais”. Porém, trabalhar as habilidades dessa
forma é um erro. “O modelo tradicional de compartimentarizar todo o conhecimento adquirido pela
humanidade no formato de disciplinas ainda impera nas escolas – apesar de ser bastante
ultrapassado”, pontua Célia Senna. “Na verdade, todo o conhecimento é transdisciplinar e, mais
precisamente as CSE não cabem no espaço de uma disciplina”, defende a especialista.

No ponto de vista curricular, Janaína comenta que “é bonito falar para os pais que se trabalha o
emocional do aluno, porque há uma carência grande deste item do ponto de vista social, ainda mais
com os avanços da tecnologia em nossas vidas”, porém colocar esse conhecimento dentro de uma
caixinha não irá contribuir para o crescimento intelectual do estudante. Isso porque, diferente do
ensino de história da II Guerra Mundial ou de trigonometria, não se desenvolve a empatia, por
exemplo, a partir da explicação do que ela é. É a partir da vivência e dos exemplos que os estudantes
vão se conscientizando de seus sentimentos e das relações interpessoais e aprendendo a ser mais
empáticos na prática.

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