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Como preparar mensagens bíblicas

INTRODUÇÃO

Há alguns anos, o número de rapazes e moças que subiam ao púlpito para


pregar era maior que o de hoje. Na sua simplicidade, falavam do amor de
Deus, da Salvação e davam testemunho sob a unção do Espirito Santo.
Hoje, parece que a figura do "preletor oficial" inibiu muitos de falarem com
ousadia a Palavra de Deus. Parece que há um receio de falar diante de um
público que, certamente, é mais intelectualizado que há alguns anos.
Jovens pregadores ficam embaraçados e cometem certos deslizes, que
poderiam ser evitados. Neste modesto trabalho, vamos dar apenas algumas
sugestões, e não um estudo sobre a Homilética (Arte de Falar em Publico).

I -O QUE PREGAR?

É a comunicação verbal da Palavra de Deus aos ouvintes. É a transmissão


do evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo às pessoas que precisam ouvi-
lo.

II- QUAL A FINALIDADE DA PREGAÇÃO?

É persuadir as pessoas a aceitarem a mensagem da Palavra de Deus para


sua salvação (descrentes) ou para seu crescimento espiritual (crentes).
Diante disso, o pregador precisa saber para quem esta falando: Para
crentes ou para descrentes?

III- QUE DEVE CONTER A PREGAÇÃO?

Três coisas são básicas:

1. OBJETIVIDADE.

Refere-se ao alvo a atingir. Se pregamos para descrentes, desejamos que


eles entendam que precisam crer em Jesus para ser salvos. Devemos orar
muito, antes de pregar, para que o Espirito Santo convença as pessoas do
seu pecado. Se isso acontecer, a pregação alcança seu alvo. O centro da
pregação deve ser Cristo e não o pregador, como acontece em certas
cruzadas ou movimentos evangelísticos. Há pregadores que se perdem no
púlpito. Começam a falar do amor de Deus, e passam a divagar sobre o
Apocalipse, vão até Gênesis, aos profetas e, ao final, não sabem como sair
do emaranhado de palavras. É preciso ter objetividade.

2. TRANSMISSÃO.

O pregador deve procurar transmitir a mensagem de Deus às pessoas.


Paulo disse: "Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei..." O
mensageiro deve receber a mensagem de Deus e transmiti-la aos homens.
Não deve ficar inventando mensagens, terias, filosofias para mostrar
conhecimentos.

3. CONVICÇÃO.

O pregador deve transmitir aquilo de que tem convicção, para que a


mensagem seja aceita. Tem que viver aquilo que prega.

IV - A BASE DA PREGAÇÃO (ou do sermão)

1. A PALAVRA DE DEUS

A base da pregação deve ser a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada. Podemos


dizer, em outras palavras que a base da pregação deve ser o TEXTO
BÍBLICO . Ilustrações podem ser aproveitadas, desde que Que se
relacionem com o tema da mensagem , mas não podem tomar o lugar da
Palavra de Deus. Ouvimos um pregador que, não tendo êxito em "abalar"
os ouvintes, apelou para uma história fantasiosa e tomou 80% do tempo
destinado à mensagem.

2. QUE TEXTO ESCOLHER?

O Pr. Elienai Cabral sugere (em resumo) 8 (oito) características para um


bom tema a ser escolhido )p. 50-51).

1) De preferência textos que expressem um pensamento completo;

2) Textos claros. Devem-se evitar textos obscuros como Jd 6; Mt 27.52; 1


Pe 3.19-20 (exigem estudo mais profundo).

3) Textos objetivos: que atendam às necessidades espirituais das pessoas


(Com oração e unção).

4) Textos sobre os quais não haja dificuldade para a interpretação


(hermenêutica).

5) Textos dentro dos limites de capacidade do pregador.

6) Textos que expressem o tema da pregação para não fugir ao objetivo.

7) Texto que desperte interesse (Com oração, o Espírito mostra o que deve
ser pregado).

8) Textos cuja seqüência seja de fácil acompanhamento pelo pregador e


pelo auditório.

V - A ESTRUTURA DA PREGAÇÃO ( Do sermão)

Toda pregação com esboço ou não, deve ser dividida, basicamente, em


duas partes:

1. INTRODUÇÃO.

É a parte inicial da mensagem, pela qual o pregador entra em contato com


o auditório. Visa despertar o interesse pela pregação; "prepara a mente dos
ouvintes , para que possam compreender o assunto do sermão e as idéias a
serem desenvolvidas..." (Key, p. 31). Uma boa introdução deve ser BREVE,
SIMPLES, INTERESSANTE E APROPRIADA. (Cabral, p. 66) Conhecemos um
grande pregador que gasta 30 ou 40 minutos na introdução. Isso cansa,
principalmente os descrentes. A introdução não deve ir além de 10 ou 15%
do tempo da mensagem. (Normalmente, o pregador sabe de quanto tempo
dispõe, exceto em casos especiais).
2. CORPO (ou desenvolvimento) DA MENSAGEM (Do sermão).

É a parte mais importante da mensagem. Ela deve conter a seqüência das


idéias a serem apresentadas. No corpo do sermão ou da mensagem ,
podemos ter:

1) Ordem ou divisões (1º , 2º, 3º , etc.);

2) Transição de um pensamento para outro. As divisões devem ser de


acordo com os objetivos mensagem; devem-se evitar " excesso de floreios",
"rodeios", ou "conversa fiada". O povo percebe.

3.CONCLUSÃO. É o auge da pregação. O seu clímax. Nela, o pregador faz


a aplicação do que pregou no corpo do sermão. Nesse momento, o
pregador e o auditório, pelo poder do Espirito Santo, devem chegar à
conclusão de que a mensagem atingiu seu objetivo. Sem uma boa
conclusão, o que foi dito pode perder o brilho. Uma conclusão pode ser feita
através de:

1) Recapitulação. O pregador deve rever o que pregou, em resumo ou


tópicos, evidenciando pensamentos-chave , pontos fortes da mensagem
(Cabral, p. 70).

2) Narração. O pregador pode valer-se de um fato, uma rápida ilustração


para comover o auditório, levando o descrente a uma decisão, na unção do
Espírito Santo.

3) Persuasão . É a parte mais difícil da conclusão. Depende muito mais do


Espírito Santo do que do pregador. Por isso, toda mensagem deve ter a
unção do Espírito Santo. Para tanto, o pregador precisa orar muito, e até
jejuar, diante de Deus, para que a mensagem atinja seu alvo.

4) Convite. Toda pregação deve terminar com um convite ou apelo, seja


para pecadores, seja para a igreja. Um convite na unção do Espírito tem
maravilhoso efeito no coração das pessoas. De acordo com Braga (p. 211-
212), a conclusão deve ser breve e simples, e com palavras adequadas. Um
certo jovem pregou numa igreja. Ao fazer o apelo, não vendo ninguém
atender, passou a contar que alguém ganhou um grande prêmio porque
deu uma grande oferta para a Obra. Desviou totalmente o alvo da
mensagem.

VI - TIPOS DE SERMÕES

1. SERMÃO TEMÁTICO (Ou Tópico).

É aquele "cujas divisões principais derivam do tema, independentemente do


(Braga, p.17).

Exemplo: Tema: "Causas para a Oração não Respondida":

1) Pedir mal. (Tg 4.3);


2) Pecado não confessado (S1 66.18);
3) Duvidar da palavra de Deus (Tg 1.6-7);
4) Vãs repetições (Mt 6.7);
5) Desobediência à Palavra (Pv 18.9);
6)Mal relacionamento conjugal (1 Pe 3.7);
2. SERMÃO TEXTUAL

É aquele em que as divisões principais do derivadas de um TEXTO


constituído de UMA BREVE PORÇÃO DA BÍBLIA ( Braga, p. 30).

Exemplo: Titulo: "O Único Caminho Para Deus" (Jo 14.6).

1) Através de Jesus, o único caminho.


2) Através de Jesus, a verdade.
3)Através de Jesus, a vida.

3. SERMÃO EXPOSITIVO

É aquele em que as divisões baseiam-se numa porção mais extensa (texto)


da Bíblia, não abrangendo "um só versículo, mas uma passagem, um
capítulo, vários capítulos, ou mesmo um livro inteiro" (Cabral, p. 78). Nele ,
é mostrada (exposta) uma verdade contida num texto bíblico. Exige tempo,
estudo e conhecimento bíblico.

Exemplo: Titulo: "O Cordeiro de Deus" (Ex 12. 1-13)

1)Foi um cordeiro divinamente determinado (vv. 12.1-3)


2) Foi um cordeiro perfeito (12.5);
3) Foi um cordeiro morto (12.6);
4) Foi um cordeiro redentor (12.7; 12-13);
5) Foi um cordeiro sustentador (12.8-11).

VII- QUALIDADES DO BOM PREGADOR

1. Personalidade

É o que caracteriza uma pessoa e a torna diferente de outra. "É tudo quanto
o indivíduo é". Na pregação, o pregador demonstra que tem personalidade,
quando se expressa, falando ou gesticulando, de acordo com aquilo que ele
é e não imitando outras pessoas. De vez em quando, percebe-se
pregadores , imitando evangelistas famosos, dando gritos, pulando e
correndo no púlpito, torcendo o pescoço, ajeitando a gravata, falando rouco
ou estridente. Isso é falta de personalidade. É querer ser ator, imitador e
não um instrumento nas mãos do Espírito Santo.

2. Espiritualidade. Nessa característica, podemos observar os seguintes


aspectos:

1) Piedade.

É o sentimento de devoção e amor pelos outros e pelas coisas de Deus. O


pregador deve sentir pelo Espírito as necessidades do auditório,
principalmente dos pecadores. (1 Tm 4.8; Hb 12.28).

2) Devoção

É o sentimento religioso, de dedicação às práticas ensinadas na Palavra de


Deus. Na devoção, o pregador busca inspirar-se na ORAÇÃO, na LEITURA
DA BÍBLIA, e no LOUVAR A DEUS. Temos visto verdadeiros profissionais da
pregação, técnicos, que sabem pregar, mas não sabem orar; sabem gritar,
mas não sabem amar as almas. Pregam por interesse, por torpe ganância.
Que os jovens pregadores (e os antigos) não entrem por esse caminho.
Conta-se que Moody, o grande evangelista, orava uma hora para pregar
cinco minutos. Enquanto isso, temos pregadores que oram cinco minutos
para pregarem uma hora!

3) Sinceridade

Reflete a verdade contida na própria alma. O pregador deve pregar aquilo


que vive e viver aquilo que prega (Tg 2.12). Um jovem, dirigente de
Mocidade, pregava bem. O povo se alegrava. Mas, um dia, uma jovem
descrente procurou a direção da igreja para dizer que estava grávida dele e,
o pior, o jovem não assumiu a paternidade. Por fim, confessou o pecado, foi
excluído, e contribuiu para uma alma descrer do evangelho.

4) Humildade

"Nenhum pregador pode subir ao púlpito sem antes ter descido, pela
oração, os degraus da humildade. Na oração, o egoísmo se quebranta. O
medo se desfaz, e a certeza da vitória aparece clara como a luz do sol ao
meio-dia" (Cabral, p. 43). (Ler Pv 15.33). Um jovem vivia criticando quem
ia pregar, dizendo que, se fosse ele, pregaria muito melhor. Um dia, o
pastor deu oportunidade ao moço para pregar. Ele subiu ao púlpito,
orgulhoso, sorridente. Tentou achar um texto na Bíblia, de um lado para
outro, e nada. Suou, pediu desculpa, e desceu cabisbaixo. Sentou noutro
lugar, junto a um irmão experiente, que, percebendo sua tristeza, disse:
"Moço, se você tivesse subido como desceu (humilde), teria descido como
subiu (alegre)". E uma grande lição para todo pregador.

5) Poder

O pregador (jovem ou não) precisa do Poder de Deus. S. Paulo disse que


não pregava sabedoria humana, mas com poder (1 Co 1.4-5). É preciso ter
unção e graça para pregar. Do contrário, ocupa-se o púlpito e o tempo para
dizer coisas inoportunas. E melhor um sermão fora da Homilética, mas na
unção de Deus, do que dentro da técnica, e sem poder. Isso só se consegue
com oração, jejum, leitura bíblica, e vida consagrada. Não se obtém num
curso de Homilética.

BIBLIOGRAFIA

BRAGA, James. como preparar mensagens bíblicas. S. Paulo, Ed Vida, 1993.

CABRAL, Elienai. O pregador eficaz. Rio, CPAD, 1983.


KEY, Jerry Stanley. José da SiIva, um pregador leigo. Rio, JUERP, 1978.
(Natal, 7 de abril de 1995)

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