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LUTO E MELANCOLIA
1917
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Considerações gerais
• Freud expôs o tema pela primeira vez em janeiro de
1914;
• Escreveu o primeiro rascunho do artigo em fevereiro de
1915, concluindo em maio do mesmo ano;
• Publicou o assunto em 1917.
• Com ajuda de Abraham, fez a ligação entre a melancolia
e a fase oral do desenvolvimento libidinal;
• Escreveu o texto ressaltando a importância de traçar uma
comparação entre a melancolia e o luto;
• É considerado um prolongamento de seu trabalho sobre
narcisismo;
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LUTO E MELANCOLIA

• ‘AMELANCOLIA, CUJA DEFINIÇÃO CONCEITUAL


OSCILA TAMBÉM NA PSIQUIATRIA DESCRITIVA,
APRESENTA-SE EM FORMAS CLÍNICAS TÃO
DIVERSAS QUE AINDA NÃO É POSSÍVEL
RESUMI-LAS COM SEGURANÇA NUM CONJUNTO
ÚNICO – ALIÁS, ALGUMAS FORMAS LEMBRAM MAIS
AFECÇÕES SOMÁTICAS DO QUE PSICOGÊNICAS.’
• FREUD, 1917.
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LUTO E MELANCOLIA
• CORRELAÇÃO:

LUTO
De uma forma geral, é uma reação pós-perda.

MELANCOLIA
Depende de uma pré-disposição patológica e se distingue
psiquicamente por estado de ânimo profundamente doloroso,
por uma suspensão do interesse pelo mundo externo, pela
perda da capacidade de amar, pela inibição geral das
capacidades de realizar tarefas e pela depreciação do
sentimento de si – sentimento de menos valia.

LUTO PROFUNDO
Apresenta o mesmo estado de ânimo doloroso e a mesma
perda do interesse pelo mundo exterior, perda da capacidade
de escolher qualquer novo objeto de amor substituindo o
perdido.
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O TRABALHO DO LUTO
O TESTE DA REALIDADE
MOSTROU QUE O OBJETO
AMADO NÃO MAIS EXISTE

EM CADA UM DOS
VÍNCULOS VAI SE
PROCESSANDO UMA
PAULATINA DISSOLUÇÃO
DOS LAÇOS DE LIBIDO

O RESPEITO PELA A OPOSIÇÃO PODE VIR A SER


REALIDADE PASSA A TÃO FORTE QUE OCORRA
UMA FUGA DA REALIDADE E O
EXIGIR A RETIRADA DE SUJEITO SE AGARRE AO
TODA A LIBIDO DAS OBJETO POR MEIO DE UMA
RELAÇÕES PSICOSE ALUCINATÓRIA
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O TRABALHO DO LUTO
•É NECESSÁRIO UM PERÍODO DE
TEMPO PARA A EXECUÇÃO DE TODO O
PROCESSO;

•É EXIGIDO UM PASSO A PASSO PELO


TESTE DA REALDADE;

•O ESVAZIAMENTO DE INVESTIMENTO
DE LIBIDO É REALIZADO ATRAVÉS DE
FASES.
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FASES DO TRABALHO DO LUTO


NEGAÇÃO;
RAIVA;
BARGANHA;
DEPRESSÃO;
ACEITAÇÃO;
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NEGAÇÃ
O
MANIFESTA-SE
COMO UMA
DEFESA
PSÍQUICA QUE
FAZ COM QUE
O INDIVÍDUO
‘NEGUE’ O
PROBLEMA. NÃO COMIGO!!!
TENTATIVA DE
FUGA DA É BOBEIRA!!!
REALIDADE.
ESTOU BEM!!!
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RAIV
A
NESTA FASE O
INDIVÍDUO SE
REVOLTA COM O
MUNDO, SE
SENTE
INJUSTIÇADO E
INCONFORMADO

PORQUE EU???
NÃO É JUSTO!!!
VOCÊ É CULPADO POR
ISSO!
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BARGANH
A FAÇO QUALQUER COISA SE...
ESSA É A FASE VOU FAZER TUDO CERTO
QUE O INDIVÍDUO
COMEÇA A DESSA VEZ SE...
NEGOCIAR,
COMEÇANDO
POR SI MESMO,
ACABA
QUERENDO
DIZER QUE SERÁ
UMA PESSOA
MELHOR SE SAIR
DAQUELA
SITUAÇÃO, FAZ
PROMESSAS A
DEUS, PROCURA
RECURSOS EM
RELIGIÕES.
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DEPRESSÃO
ÂNIMO
NUNCA SERÁ COMO ANTES...
PROFUNDAMENTE O MUNDO PERDEU A COR...
DOLOROSO.
FASE
CARACTERIZADA
POR SUSPENSÃO
DO INTERESSE PELO
MUNDO EXTERNO,
PELA PERDA DA
CAPACIDADE DE
AMAR, PELA
INIBIÇÃO GERAL DAS
CAPACIDADES DE
REALIZAR TAREFAS.
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ACEITAÇÃO
É A FASE EM
QUE O
INDIVÍDUO NÃO
TEM
DESESPERO E
CONSEGUE
ENXERGAR A TUDO DARÁ CERTO!!!
REALIDADE TINHA QUE SER DESTA
COMO
FORMA!!!
REALMENTE É,
FICANDO DEUS SABE DE TODAS AS
PRONTO PARA COISAS!!!
ENFRENTAR A
PERDA.
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AS FASES DO LUTO
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A LIBIDO NO TRABALHO DO
LUTO
• De modo geral o ser humano – mesmo
quando um substituto já se delineia no
horizonte – nunca abandona de bom grado
uma posição libidinal antes ocupada.

• Podemos entender perfeitamente a inibição e


a falta de interesse a partir do TRABALHO DO
LUTO que absorve o EU do sujeito;

• O que se constata é que, após completar o


trabalho do luto, o Eu se torna efetivamente
livre e volta a funcionar sem inibições.
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LUTO E MELANCOLIA

• Diferente do LUTO, a MELANCOLIA é uma perda em que


o indivíduo não consegue mais dizer nem apreender o
que se perdeu.

• Quando a perda é conhecida, o indivíduo sabe quem ele


perdeu mas não sabe dizer o que se perdeu com o
desaparecimento desse objeto amado.
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MELANCOLIA
• EXTRAORDINÁRIA DEPRECIAÇÃO DO SENTIMENTO DE
SI:
DESVALORIZAÇÃO:
O indivíduo nos descreve seu Eu como não tendo valor, como
sendo incapaz e moralmente reprovável.
REPRESSÃO:
O indivíduo faz autocensuras, insulta a si mesmo e espera ser
rejeitado e punido.
SUBESTIMAÇÃO:
Rebaixa-se perante qualquer outra pessoa e lamenta pelos
seus parentes, por estarem ligados a uma pessoa tão indigna
como ele.
☜ DELÍRIOS DE INSIGNIFICÂNCIA. (Freud, 1917)
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MELANCOLIA
AUTO CRÍTICA DESMEDIDA:
Descreve-se como um ser humano mesquinho, egoísta,
pouco sincero, sem autonomia, que sempre se empenhou
para esconder as fraquezas de seu próprio ser.

AUTO EXPOSIÇÃO:
Há uma despudorada loquacidade que parece até derivar
alguma satisfação em se expor. Não se faz perceptível no
melancólico a vergonha diante dos outros.

PERDA DO AUTO RESPEITO


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MELANCOLIA
• RESSALTA O DESAGRADO MORAL:

Para com o próprio EU mas que se encaixam


perfeitamente a uma outra pessoa que o indivíduo ama,
amou ou deveria amar.

AS RECRIMINAÇÕES SÃO DIRIGIDAS A UM OBJETO


AMADO, AS QUAIS FORAM RETIRADAS DESSE
OBJETO E DESVIADAS PARA O PRÓPRIO EU.
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MELANCOLIA
O investimento de carga
no objeto se mostrou
pouco resistente e firme e
foi retirado

A libido então liberada, em


A partir daí o SE julga esse
vez de ser transferida para
EU como se ele fosse o
outro objeto, foi recolhida
objeto abandonado.
para DENTRO DO EU

Lá essa libido não foi utilizada para


uma função qualquer, e sim para
produzir uma identificação do EU com
o objeto abandonado – a sombra do
objeto caiu sobre o EU
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MELANCOLIA
• CISÃO EGOICA:
O CONFLITO ENTRE O EU E A PESSOA AMADA
TRANSFORMOU-SE EM UM CONFLTO ENTRE A
CRÍTICA AO EU E O EU MODIFICADO PELA
IDENTIFICAÇÃO.

É necessário que tenha havido uma forte fixação no


objeto de amor;
É preciso que haja concomitantemente uma fraca
resistência e aderência do investimento depositado no
objeto.
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MELANCOLIA
• CONFLITO DE AMBIVALÊNCIA:
Abrange TODAS as relações de amor/ódio que se
inseriram na relação com o objeto;

Uma vez tendo que abdicar do objeto, mas não podendo


renunciar ao amor pelo objeto, essa libido se refugia na
id. Narcísica, de modo que passa a atuar como ódio
sobre esse objeto substituto:
• Autoflagelação
• Satisfação de tendências sádicas e ódio.
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MELANCOLIA
• INSÔNIA:
Atesta a rigidez desse estado e a impossibilidade de
realizar o recolhimento, tão necessário para o sono, dos
investimentos de carga;

Esvaziamento total do EU, de modo que o complexo pode


então facilmente resistir ao desejo de dormir.
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MELANCOLIA X SUICÍDIO

• MELANCOLIA ⇨ TENDÊNCIA AO SUICÍDIO!!!

RELEMBRANDO:
FASE NARCÍSICA – Estado primitivo, de onde parte a vida
pulsional, como sendo constituído por um grande amor do
EU por si mesmo. Considerando a angústia de aniquilação
que surge quando há uma ameaça à vida.
☜ EU VINCULADO A VIDA!!!
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MELANCOLIA X SUICÍDIO
• O EU SÓ PODE MATAR A SI MESMO SE CONSEGUIR,
ATRAVÉS DO INVESTIMENTO OBJETAL TRATAR A SI
PRÓPRIO COMO UM OBJETO:

REDIRECIONAMENTO DA HOSTILIDADE ORIGINALMENTE


DESTINADA A UM OBJETO CONTRA SI MESMO.
QUANDO O OBJETO INTERNALIZADO SE TORNA MAIS
PODEROSO DO QUE O PRÓPRIO EU – o EU acaba sendo
sobrepujado pelo objeto.
O MEDO DE EMPOBRECER CAUSA UM ROMPIMENTO
NAS RELAÇÕES DE EROTISMO ANAL ARRANCADO DE
SUAS CONEXÕES ANTERIORES E SE MODIFICA POR
MEIO DA REGRESSÃO.
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EVOLUÇÃO PATOLÓGICA

LUTO MELANCOLIA MANIA


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MANIA
• TRANSTORNO DO HUMOR BIPOLAR
• ALEGRIA/ EXULTAÇÃO/ TRIUNFO
• As defesas maníacas protegem o EU do desespero total;

• Muitas vezes consistem na única forma de superar o


sofrimento;

• As oscilações do humor, variam em frequência (tempo de


duração de cada fase) e amplitude (grau de intensidade
de cada uma delas);

• Em alguns casos persistem ao longo da vida e podem


agravar-se;
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O Luto
‘A única coisa
tão inevitável
como a morte é
a vida.’

Charles Chaplin
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Para discriminar LUTO e MELANCOLIA, Freud


faz uso do recurso metodológico conhecido como
"princípio do cristal", por ele exposto nas "Novas
conferências introdutórias sobre psicanálise"
(1933): a psique, como um cristal, só mostra suas
linhas de estrutura quando se quebra. Não existe,
portanto, uma clara oposição entre normal e
patológico. Enquanto não se quebrar, o cristal
parecerá "normal" - entretanto, ele é composto de
fraturas que, no momento em que alguma
circunstância desencadeadora o fizer "cair",
guiarão o modo como ele se partirá.
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As reações de luto, que se estabelecem em resposta à perda


de pessoas queridas, caracterizam-se pelo sentimento de
profunda tristeza, exacerbação da atividade simpática e
inquietude. As reações de luto normal podem estender-se até
por um ou dois anos, devendo ser diferenciadas dos quadros
depressivos propriamente ditos. No luto normal a pessoa
usualmente preserva certos interesses e reage positivamente
ao ambiente, quando devidamente estimulada. Não se
observa, no luto, a inibição psicomotora característica dos
estados melancólicos. Os sentimentos de culpa, no luto,
limitam-se a não ter feito todo o possível para auxiliar a
pessoa que morreu; outras ideias de culpa estão geralmente
ausentes (DEL PORTO, 1999)
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A libido no caso da MELANCOLIA, sem ter direcionamento,


desloca-se para o ego estabelecendo uma espécie de identificação
deste com o ente perdido. A perda objetal passa a ser uma perda do
próprio ego.
Nos casos de catexia de pouca resistência constata-se que a escolha
amorosa é feita sob uma base narcísica, dessa forma, a libido ao
deparar-se com obstáculos pode retroceder ao narcisismo. Conclui-se,
portanto, que mesmo em conflito com a pessoa amada não é preciso
renunciar à relação amorosa.
O amor pelo objeto não pode ser renunciado, mesmo que o próprio
objeto o seja. Sendo assim, o afeto volta-se contra o ego como
substitutivo fazendo-o sofrer e tirando satisfação sádica de seu
sofrimento. Esse aspecto solucionaria o enigma do suicídio. Isso só
ocorreria, no entanto, quando o ego trata a si mesmo como objeto de
forma a encaminhar-lhe toda a hostilidade originalmente pertencente
ao mundo exterior.
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A melancolia tem uma tendência a se transformar em


mania. O conteúdo relatado pelos pacientes com mania
na prática clínica, segundo FREUD (1917), em nada
difere do conteúdo da melancolia, como se ambos
lutassem contra o mesmo complexo. Na melancolia o
ego sucumbiria ao mesmo e na mania já o teria superado
resultando disso um estado de alegria por alívio, de
economia de energia. Nesse último caso a libido fora
liberada para novas catexias objetais.
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Nos critérios atuais colocados pelo DSM-IV conta


ainda com muitos critérios, similares aos antes
mencionados por Freud como perda de peso por
recusa à alimentação, insônia e mesmo sentimento de
inutilidade e culpa excessiva, sendo esta última
diferencial importante com relação à melancolia e luto
patológico. A correlação da melancolia com a mania é
explicitada pela grande ocorrência casos de
Transtorno Bipolar, corroborando em muito também
algumas das afirmações de Freud.
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Revisão
normal
perda consciente do objeto
Elaboração bem sucedida

LUTO

patológico
Perda radicalmente inconsciente
Reação adiada/reação distorcida
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• A perda é uma das experiências mais dolorosas


para um ser humano.
• Representações de ritos e cerimônias.
• A morte tem significados diferentes para cada
pessoa.
• Não se trata apenas de um fenômeno orgânico, é
também um fenômeno mental.
• Desencadeia sentimentos e comportamentos.
• Morte x Separação da pessoa amada.
• A mortificação da vida – Eros e Thanatos.
• Expressão de devoção ao luto.
• Luto antecipatório x Luto pós-morte.
• A criança e a experiência com a morte.

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