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Galba Di Mambro*
José Guilherme Ribeiro**
APRESENTAÇÃO
A presente comunicação é fruto do trabalho conjunto de seus dois autores. Nessa
associação, o professor Galba Di Mambro tem se responsabilizado pelo estudo das normas
internacionais (ISAD(G)2 e NOBRADE3), pela elaboração dos instrumentos de pesquisa e
pela execução do trabalho de digitalização, enquanto o professor José Guilherme Ribeiro tem
se responsabilizado pelo estudo do padrão EAD, e pela concepção e desenvolvimento do
sistema de entrega de imagens usando esse padrão.
O trabalho está sendo desenvolvido pelo Arquivo Histórico da UFJF – AHUFJF desde
2006 quando, por meio de projeto apresentado junto à FAPEMIG, os documentos do fundo
Sociedade de Medicina e Cirurgia de Juiz de Fora foram higienizados, arranjados, descritos e
digitalizados. Em 2007, através de projeto apresentado ao ICMS/Cultural de Minas Gerais,
está sendo desenvolvido o sistema para a disponibilização das imagens digitais, por meio de
um site na Web. O desenvolvimento do site deverá estar concluído em fevereiro de 2008.
O site desenvolvido ultrapassa o âmbito dos documentos da Sociedade de Medicina e
Cirurgia de Juiz de Fora. Ele pretende reunir, a partir de um único endereço, o resultado de
uma série de trabalhos de digitalização desenvolvidos pelo Arquivo Histórico da UFJF. O
conjunto desses trabalhos estará disponível no Servidor de Imagens do AHUFJF.
Os estudos para o Servidor de Imagens começaram a ser desenvolvidos em 2006.
Como parte desses estudos, no início de 2007 foi feito um modelo – um protótipo – que
sistematiza de forma concreta “aquilo que queremos” com o servidor. Em outras palavras,
esse modelo correspondeu à explicitação da maioria dos requisitos funcionais do sistema, tal
1
Texto apresentado no II Seminário Internacional do Arquivo Público Mineiro – Documentos Eletrônicos:
gestão e preservação, realizado em Belo Horizonte, no período de 05/11/2007 a 08/11/2007 e promovido pela
Secretaria de Estado da Cultura – SEC/MG, Arquivo Público Mineiro e Universidade Federal de Minas
Gerais, na mesa-redonda “Projetos de digitalização e preservação digital”.
*
Professor da Universidade Federal de Juiz de Fora. Diretor do Arquivo Histórico da UFJF.
*
* Consultor do Arquivo Histórico da UFJF.
2
CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS. ISAD(G) 2001; Norma Geral Internacional de
Descrição Arquivística. 2, ed, adotada pelo Comitê de Normas de Descrição, Estocolmo: 1999. Versão final
aprovada pelo CIA. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2001. 119 p. O padrão ISAD(G) é comentado no
texto, mais à frente.
3
CONSELHO NACIONAL DE ARQUIVOS - CONARQ. Câmara Técnica de Descrição Arquivística.
NOBRADE. Norma Brasileira de Descrição Arquivística. Rio de Janeiro: CONARQ, 2006. 123 p. O padrão
NOBRADE é comentado no texto, mais à frente.
como os entendemos na época.4 Nessa comunicação, exploraremos esse modelo, procurando
demonstrar como será o funcionamento do sistema, quando concluído. O leitor deve estar
avisado de que trata-se de um estudo preliminar, e que, embora a maior parte dos requisitos
deva permanecer estável, a aparência geral do site, ou mesmo uma ou outra funcionalidade,
podem ser alteradas.
4
Requisitos funcionais correspondem à especificação das funções de um software, ou o conjunto de “coisas”
que ele fará. Para mais detalhes, cf. LARMAN, Craig. Utilizando UML e padrões: uma introdução à
análise e ao projeto orientados a objetos e ao desenvolvimento iterativo. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2007.
ter em mente que, a partir desse ponto, estamos lidando com um instrumento de pesquisa em
formato digital. Isso será explicado mais tarde, mas o leitor deve pensar como se tudo, a partir
desse ponto, correspondesse a um único arquivo de computador, uma descrição arquivística
em formato digital.
A tela mostrada na Ilustração 2 contém uma pequena síntese, um resumo para
avaliação do usuário. A intenção é que, lendo o resumo, o internauta possa escolher entre
prosseguir ou não na análise do fundo. Abaixo do resumo, em área não mostrada na
ilustração, o usuário encontrará uma série de links para seguir.
Na Ilustração 5, cada descrição de série está mostrada em uma tabela, uma espécie de
ficha, com os dados relativos à mesma. Os campos da ficha são essencialmente os mesmos da
descrição em primeiro nível, apenas preenchidos de forma mais curta, e com um número
maior de campos sendo omitidos. Novamente, a estrutura dos campos é dada pela
NOBRADE, e o layout é uma adaptação do AHUFJF. Caso haja sub-níveis a serem
consultados (subséries, dossiês, processos ou itens), haverá um link na última linha da tabela,
que levará ao próximo nível. Caso contrário, naquele lugar haverá um link para as imagens
dos documentos daquela unidade. Seguindo esse link (“Ver imagens dos documentos dessa
série”), temos a tela mostrada na Ilustração 6.
Ilustração 5: Descrição das séries do Grupo D - Correspondência Operacional
2. DESDOBRAMENTOS
A especificidade do Servidor de Imagens do AHUFJF está em ser baseado em dois
padrões de descrição arquivística – a NOBRADE e a EAD, cuja difusão no Brasil está em
estágio inicial. A NOBRADE é a Norma Brasileira de Descrição Arquivística, aprovada pelo
Conselho Nacional de Arquivos, e corresponde à adaptação da Norma Internacional de
Descrição Arquivística – ISAD(G) para o caso brasileiro. A EAD refere-se à Encoded
Archival Description (Descrição Arquivística Codificada) e corresponde a um padrão mantido
pela Associação dos Arquivistas Americanos e pela Biblioteca do Congresso dos EUA5, e que
tem sido introduzido recentemente no Brasil.6
5
No site oficial da EAD podem-se encontrar textos de referência sobre a mesma, bem como links para outros
sites que usam a EAD e/ou que contém mais material sobre ela. Cf. http://www.loc.gov/ead/ (acesso em 23
de abril de 2007). Muito material de referência pode ser encontrado no site Cover Pages sobre a EAD
(http://xml.coverpages.org/ead.html - acesso em 12 de julho de 2007).
6
Entre os eventos recentes que envolveram a EAD, pode-se citar a oficina “Uma introdução à EAD”,
promovida pelo AHUFJF e ministrada pelo prof. José Guilherme Ribeiro, de 04 a 06 de maio de 2005, o
curso “Registro e transferência de dados – o uso da XML”, promovido pela Associação dos Arquivistas
Brasileiros e ministrado por Adrissa Dominitini e Ana Pavani nos dias 12 e 13 de fevereiro de 2007, a
“Oficina sobre EAD e EAC”, promovida pelo Arquivo Nacional e ministrada pelo prof. Michael Fox nos dias
12 e 13 de março de 2007, e o II Encontro de Bases de Dados sobre Informações Arquivísticas, promovido
pela Associação dos Arquivistas Brasileiros nos dias 15 e 16 de março de 2007, no Rio de Janeiro. Artigo
Ilustração 8: Mecanismo de busca - Sociedade de Medicina e Cirurgia
(http://www.w3.org/XML/ - acesso em 10 de julho de 2007). A página do site Cover Pages sobre a XML
(http://xml.coverpages.org/xml.html - acesso em 10 de julho de 2007) também fornece uma grande
quantidade de referências sobre o tema. Outra fonte é o site XML.com (http://www.xml.com/ - acesso em 10
de julho de 2007). Quanto a publicações em papel, o leitor pode recorrer ao livro de Harold & Means sobre o
tema - HAROLD, Elliotte Rusty, MEANS, W. Scott. XML in a nutshell: a desktop quick reference. 2.ed.
Sebastopol (USA): O'Reilly, 2002. 613 p.
EAD traz são os nomes que se deve usar para cada elemento (por exemplo, que o campo
“Âmbito e conteúdo” usado pela ISAD(G) e pela NOBRADE deve ser chamado
“scopecontent”), e o modo como eles se relacionam (por exemplo, que uma série pode conter
subséries, dossiês, processos, itens, e etc.). Mesmo sendo aparentemente mínimas, essas
informações são cruciais. Elas permitem que dois projetos, que usem bancos de dados
relacionais (ou outra forma de armazenamento) possam trocar dados entre si, usando a EAD
como base para um protocolo de comunicação.
Isso permite desdobramentos interessantes, ainda inexploradas no Brasil. O principal
deles é que esses projetos, até então isolados, se integrem de alguma forma. Uma
possibilidade seria a formação de bases de dados centralizadas, que funcionassem como portal
de acesso e mecanismo de busca unificado para projetos antes isolados. Isso ampliaria a
visibilidade dessas iniciativas, na medida em que o internauta recorreria a um portal unificado
para acessar um conjunto amplo de sites que, de outra forma, não seriam tão facilmente
localizados. Outra possibilidade, relacionada à anterior, é que esses sites usem a Internet para
se integrar, delineando alguma forma de rede de computadores. Um site centralizado com
mecanismo de busca unificado poderia usar a Internet para se abastecer de dados, por
exemplo, ou poderia usar a estrutura do documento EAD – que é padronizada – para se
comunicar com sites distribuídos. Essas possibilidades, que apenas começam a se delinear,
deverão ser exploradas, proximamente, pelo Servidor de Imagens do AHUFJF.9
CONCLUSÕES
O uso conjunto da NOBRADE e da EAD abre uma ampla gama de oportunidades para
os trabalhos de descrição arquivística. O Servidor de Imagens do AHUFJF explora algumas
dessas possibilidades, aplicando os dois padrões num modelo de site para disponibilização de
cópias digitais de documentos de arquivos. Além de uma grande flexibilidade, materializada
na capacidade de ter um mesmo documento em vários formatos de apresentação, a difusão
desses padrões também permitirá uma maior integração entre projetos até então dispersos. A
formação de bancos de dados unificados e de sistemas de redes são apenas algumas dessas
possibilidades, e podem contribuir para ampliar a visibilidade e o acesso a iniciativas até
9
Existem exemplos de bancos de dados unificados que usam EAD como padrão de metadados, dos quais um
dos primeiros foi o Online Archive of California (http://www.oac.cdlib.org/ - acesso em 04 de outubro de
2007). Relatos de experiências desse tipo podem ser encontrados em PITTI, Daniel V., DUFF, Wendy (Ed).
Encoded Archival Description on the Internet. New York: Haworth Press, 2001. (Co-publicado
simultaneamente no Journal of Internet Cataloging. v. 4, n. 3/4, 2001); e em STOCKTING, Bill,
QUEYROUX, Fabiennne (Ed.). Encoding Across Frontiers: proceedings of the European Conference on
Encoded Archival Description and Context (EAD and EAC), Paris, France, 7-8 October 2004. New York:
Haworth Press, 2005. (Co-publicado simultaneamente no Journal of Archival Organization, v. 3, n. 2/3,
2005). As possibilidades em torno de uma rede de arquivos foram exploradas em RIBEIRO, José Guilherme.
Implantação da Rede de Arquivos Municipais de Minas Gerais – RAM-MG. Governador Valadares,
2004. (mimeo.)
então dispersas.