Boletim Operário
Caxias do Sul,
16 de fevereiro
de 2022
O Paiz
Rio de Janeiro
2 de dezembro de 1890.
Ano VI Edição nº 3.143
Capa
A Greve
O que passou-se ontem em toda
esta capital ninguém o
compreendeu, porque, como
nós, ninguém descobriu a
verdadeira origem do estado
anormal em que pouco e pouco
se foi transformando a cidade,
em que pouco e pouco se foram
alterando os hábitos da
população, superexcitada sem
que ela mesma pudesse dizer que
força estranha a impelia ao receio
e ao susto.
Dir-se-ia que mão oculta atuava
pesada e irresistivelmente no
animo e no espirito dos nossos
concidadãos, de ordinário afeitos
à tranquilidade e a calma, ainda
nos momentos mais difíceis.
O pretexto a princípio invocado
para todo o estado de incerteza,
para todo o sobressalto público
de que tomou-se a Capital
Federal, foi a greve anunciada
logo pela manhã entre os
carroceiros e cocheiros de
veículos públicos.
Com efeito, o Senhor Doutor
Chefe de Polícia interino foi
prevenido na noite de anteontem
de que esses bons trabalhadores
de todos os dias não se
entregariam ontem ao serviço
profissional, porque não queriam
sujeitar-se às penas severas que a
intendência havia-lhes cominado
para o caso de possíveis desastres.
Edição nº 676
Esse boato, espalhado com a O Senhor Doutor Chefe de
maior perfídia e com a maior Polícia interviu desde logo com a
ausência de patriotismo entre os sua autoridade, procurando
incautos e desprevenidos acalmar os ânimos pela
cocheiros, levou-os com efeito à persuasão da verdade.
suspensão do trabalho, o que
Os seus primeiros esforços,
criou desde logo dificuldades a
entretanto, foram baldados,
todas as classes sociais e ao
porque a greve manifestou-se,
comércio principalmente.
como já dissemos.
Mas o boato não passava de um
A polícia subordinada, a polícia
estratagema indigno, criado nas
das ruas, devemos dize-lo, não
trevas por inimigos da pátria, que
secundou em alguns pontos os
nem mesmo mediram as
intuitos da autoridade superior e
consequências da ignomínia,
as vistas do governo, porque,
iludindo aos cocheiros e
longe de chamar à calma os
exacerbando o espirito públicos,
cocheiros, tratou-os de modo
já tomado de prevenção pelo
pouco conveniente, usando dos
atentado condenável dois dias
sabres que lhes foi dado como
antes perpetrado com um órgão
instrumento de defesa.
da imprensa.
O fato é que o acontecimento da
Sem que tivessem lido, sem que
manhã, que devia dissipar-se
tivessem examinado os seus
passageiramente, foi engrossando
interesses e os seus direitos,
mais e mais, criando receios e
convencidos de que ia pesar
enchendo a cidade de verdadeiro
sobre suas pessoas um rigor
pânico.
máximo, que nunca poderia se
coadunar com o regimen da
justiça inaugurado pelo domínio Não precisamos dizer que, em
da republica, os cocheiros, as emergência tal, o nosso dever
vítimas dessa fantasiosa invenção, será cumprido com o maior
tornaram-se o alvo de todas as escrúpulo e de acordo com a
atenções e, sem o querer, a fonte justiça e os direitos das classes
do estado anormal a que reduziu- que porventura se vejam
se a cidade toda. oprimidas.
Nenhuma culpa lhe podemos Ontem como hoje é a mesma a
increpar, porque, com justiça, nossa posição de independência
não os supomos mais do que as e lealdade perante a sociedade
vítimas incautas daqueles que que nos prestigia e nos dá essa
abusaram de sua boa-fé. força necessária à sua própria
defesa nos momentos de angustia
e de provações.
A suspensão do trabalho
seguiram-se como era natural, o
atropelo nos serviços das ruas, a
ansiedade, as interrogações
sôfregas, a interrupção do todo o
giro comercial, os pequenos
conflitos aqui e ali, os exageros
dos espíritos despreocupados e
pouco refletidos, que afinal foram
a maior contribuição para quanto
presenciamos ontem.
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Aconselhando aos cocheiros a
calma e a reflexão, podemos
garantir-lhes com a sinceridade
de folha que sempre encontrou-
se ao lado dos fracos, que a
intendência municipal não
tomou nenhuma medida
opressiva e rigorosa a seu
respeito.
O próprio código penal,
elaborado pelo ministério da
justiça em outubro último, apenas
estabeleceu, de acordo com o
antigo código criminal, as penas
de 2 meses a 2 anos de prisão
para os cocheiros criminosos por
imperícia, ou por imprudência.
Não se trata, portanto, de
nenhuma inovação, mas de uma
pena antiga, que não poderia ser
riscada do código, sob cuja ação
estão todos os que tiverem a
infelicidade de cair em delito.
Do que dizemos nestas linhas, da
testemunho o edital que a
intendência, fez afixar ontem
mesmo, prevenindo aos
cocheiros de que nem ela nem o
governo cogitaram da deliberação
que a maldade maquinou nas
trevas, para chegar a fins
inconfessáveis.
Vivemos n’um regimen de ampla
liberdade, e o governo da
republica, dando o exemplo da
moderação e do critério, não
permitiria medidas de violência
aos direitos de uma classe
operosas, que trabalha infatigável
pelo progresso e acudiram patrulhas de cavalaria
engrandecimento comum.
Assim, voltem os cocheiros ao
trabalho, seguros de que foram
iludidos em sua boa fé e certos de
que esta imprensa, que nunca
regateou a sua força e a sua
palavra sincera, estará a seu lado
para bater-se pelo respeito do
quanto for justo e de direito.
O governo cumprira certamente
o seu dever, e ante o que
dissemos reiterará à polícia das
ruas a obrigação que está de
convencer pela força da palavra
persuasiva, mas não pela força do
sabre que espanca, com
desobediência às recomendações
que lhe tem sido expedidas.
Quanto ao resultado dos diversos
conflitos que se deram por
motivo do que aí ficou relatado,
não há muita coisa
verdadeiramente importante a
notar.
Houve é verdade, cacetadas e
espaldeiradas prodigamente
distribuídas; mas os que foram
alcançados por elas retiraram-se
para suas casas, deixando a
polícia de prontidão para mais.
Os ferimentos havidos são quase
todos leves, à exceção de alguma
cabeça quebrada.
As ocorrências dadas podem ser
assim resumidas:
Ao amanhecer, reuniram-se em
frente aos escritórios das
companhias de bondes quase
todos os cocheiros desses
veículos, que faziam parte de
cada uma delas.
Começaram por impedir que os
seus companheiros, que se
tinham resolvido a trabalhar,
pudessem fazer o seu serviço tão
regularmente como era
necessário, e procuraram obriga-
los a tomar parte na greve.
Da Companhia de S. Christovão
não foram muitos os cocheiros
que se recusaram a fazer o
serviço. Conseguiu o respectivo
gerente dissuadi-los do seu
propósito, graças às boas razões
que apresentou. Os que não
atenderam a esses motivos
retiraram-se, mas não houve
alteração da ordem, o que, com
pequena diferença, também
sucedeu na Companhia de
Botafogo e na Vila Isabel.
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Edição nº 676
A Companhia Carris Urbanos,
porém, sofreu bastante com a
greve de ontem. Quase todos os
cocheiros abandonaram o
serviço. Dos poucos bonds que
saíram à rua muitos eram guiados
pelos recebedores da companhia.
Os vagons do transporte de
mercadorias, e principalmente da
condução do café, não
trabalharam. Avalia-se por aí o
grande prejuízo que ontem sofreu
o comércio, além do mais que
ainda lhe sucedeu.
Não houve carro de praça,
tilbury, caminhão ou carroça que
ontem saísse à rua para o
costumado serviço. Os poucos
veículos que apareceram eram
todos particulares.
No Largo do Paço, nas Ruas
Conde d’Eu, Primeiro de Março,
S. Pedro, Visconde de Itaúna,
Senador Eusébio e Larga de S.
Joaquim, e em algumas outras
formaram-se desde pela manhã
enormes grupos de curiosos e de
cocheiros. Esses empregaram
todos os esforços possíveis para
que os seus companheiros que
estavam trabalhando
abandonassem o serviço,
notadamente das companhias de
bonds.
Na Rua Senador Eusébio houve
diversos conflitos. Foram
atacados alguns bonds da
Companhia Vila Isabel, aos quais
do regimento policial.
A polícia, porém, nem sempre
cumpriu corretamente o seu
dever, já o dissemos. Na Rua
Senador Eusébio, esquina da
Travessa das Saudades, vimo-los
espaldeirar barbaramente a um
preso. Era, então, hora e meia da
tarde.
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O que se deu no Largo do
Depósito também foi muitíssimo
sério. Os carroceiros empregados
dos Senhores Silva Carvalho & C
apresentaram-se pela madrugada
aos seus patrões e participaram-
lhes que estavam dispostos a não
trabalhar.
Os carroceiros, então, deixaram-
se ficam reunidos em frente à
cocheira de propriedade
daqueles senhores e dali por
diante vaiaram quantos
condutores de veículos
particulares parassem.
Da 7ª d 9ª estação policial
acudiram algumas praças ao
barulho que faziam os grevistas
colocados no Largo do Depósito.
Antes não acudissem. Para
distribuir pranchadas a torto e a
direito, como fizeram, a ponto de
varejar o botequim nº 54 do
referido largo, não havia, palavra
de honra! Nenhuma necessidade
da força do regimento policial.
O proprietário desse botequim
sofrera não só prejuízo que lhe
deram nos gêneros, como
também algumas pranchadas que
lhe deram nas costas.
Porque os carroceiros se
defendessem de algumas
espaldeiradas que apanharam,
travou-se nesse momento sério
conflito. A ordem, porém, foi
restabelecida pouco tempo
depois.
O Senhor Doutor Lourenço
Rangel, 4º delegado do 1º distrito
de Santa Rita, Gusmão,
subdelegado do 2º distrito desta
freguesia e Lagden, subdelegado
do 2º distrito de Sant’Anna,
compareceram pouco tempo
depois e fizeram quanto lhes foi
possível para que os cocheiros
voltassem ao trabalho.
Chegou mais tarde uma força de
cavalaria de polícia, que foi
dividida em patrulhas e
distribuídas pelas ruas próximas.
Uma dessas patrulhas prendeu a
dois indivíduos que não
atenderam às ordens da
autoridade.
Na Praça da República um grupo
de cocheiros fez voltar para a
cidade a uns dois ou três carros
que levavam cargas para a estrada
de ferro.
Por haver urgente necessidade de
transportar alguns gêneros para o
quartel do corpo de cavalaria do
regimento policial e não
aparecendo para esse fim, senão
um carroceiro que receava ser
agredido pelos seus
companheiros, foi este
acompanhado durante o trajeto
que teve de fazer por quatro
praças de cavalaria.
Durante todo o dia estiveram
postadas praças de polícia nos
pontos onde havia grupos de
cocheiros.
As estações das companhias de
bonds foram guardadas por
soldados de cavalaria do
regimento policial.
Como de ordinário sucede, o que
por isso mesmo não é de
estranhar, esses e outros soldados
de cavalaria não se coibiram de
passa a disparada por diversos
pontos da cidade onde havia
grupos de inofensivas pessoas.
Por felicidade, porém, não nos
consta que alguém tenha sido
atropelado pelos zelosos
mantenedores da ordem.
Outros conflitos se deram além
dos que aí ficaram narrados.
Às 7 horas da noite, um grupo de
indivíduos que se intitulavam
cocheiros, atacou a estação de
bonds da Rua de Riachuelo.
Foram, porém, repelidos pelos
respectivos empregados.
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Edição nº 676
Quando a polícia acudiu aos
apitos de socorro, já o grupo se
retirava sem ter conseguido o seu
intento. Entre outros indivíduos e
as praças travou-se então um
grande conflito, que durou por
algum tempo. Trocaram-se
pranchadas e tiros de revólver.
Muitos dos cocheiros refugiaram-
se na estalagem da mesma rua n.
69.
Nessa ocasião foram feridos:
Um soldado do 7º batalhão de
infantaria, que estava à paisana e
que declarou ser ordenança do
coronel Rosa Junior, o qual
recebeu diversos ferimentos de
bala e outros de navalha nas
pernas e mãos;
E um cabo do regimento policial,
que recebeu um extenso golpe de
navalha, desde a região temporal
esquerda até um dos lados do
nariz. Este ferimento interessou
gravemente a artéria.
Ambos foram transportados para
a polícia e aí medicados pelos
Senhores Doutores Moraes Brito
e Luiz Quadros. Depois seguiram
para os hospitais dos respectivos
corpos.
As 9 horas a polícia prendeu, na
rua do Lavradio, três indivíduos
que se disseram cocheiros da
empresa de mudanças Coimbra,
e que estavam colocando
paralelepípedos sobre os trilhos
de bond da mesma rua em frente
à rua do Senado.
Das 9 ½ para as 10 chegou à
polícia um aviso de que então se
dava novo conflito na rua de
Riachuelo. Para aí seguiu
imediatamente o subdelegado D.
Braz Silveira, acompanhado da
necessária força.
 16 de fevereiro de 2022 Boletim Operário
Essa autoridade encontrou
grande parte dos trilhos
arrancados em frente a cocheira
de carros da mesma rua n. 100.
Informando-se do que sucedera-
se, soube D. Braz que isso havia
sido feito por indivíduos que se
tinham refugiado na mesma
cocheira, onde se conservavam
armados. D. Braz mandou então
buscar outra força à polícia, por
ser pequena a que levara consigo
e ali penetrou. Mas os tais
indivíduos eram unicamente três
e foram presos e conduzidos para
o xadrez da polícia.
Também estiveram presentes, ao
efetuar-se essa prisão, os
Senhores General Bernardo
Vasques e Doutor Agostinho
Vidal, chefe de polícia interino,
que daí se dirigiram ao quartel-
general, onde conferenciaram
com o Senhor General Floriano
Peixoto.
A força do exército, de prontidão,
e a do regimento policial estavam
sob as ordens do general
Bernardo Vasques.
Ao Senhor Doutor Chefe de
Polícia interino apresentou-se à
tarde o Senhor Conde de
Herzberg, para participar-lhe que
os cocheiros da empresa
funerária receavam sair a rua, e
que, entretanto, a empresa estava
comprometida a fazer diversos
enterros, o que era
absolutamente inadiável. O
Senhor Doutor Agostinho Vidal
providenciou de modo a que os
carros da empresa funerária
fossem acompanhados por
praças de polícia durante o trajeto
para os diferentes cemitérios.
O gerente da companhia do gás,
aos ser avisado de que se
pretendia assaltar o respectivo
gasômetro, dirigiu-se ao Senhor
Doutor Chefe de Polícia interino
e obteve dele uma força de
infantaria para guardar aquele
estabelecimento.
Na rua do Catete, um grupo de
indivíduos que ali se tinham
postado desde muito cedo,
procurava impedir a passagem
dos diferentes veículos. Outro
grupo, na Rua Senador Eusébio,
impedia a passagem dos bonds e
conseguiu fazer virar um bond da
Rua do Mattoso. Ambos foram
dispersados pela polícia.
Na estação de S. Diogo não
apareceu um único carroceiro
para fazer o transporte de carne.
Os açougueiros que aí se tinham
reunido, cansados de esperar,
resolveram retirar-se para suas
casas. E por conseguinte muito
provável que os açougues não
sejam hoje fornecidos de
semelhante gênero, a menos que
os carroceiros se decidam a fazer
o transporte da carne pela
madrugada.
Para garantir a ordem estão de
prontidão em S. Diogo uma força
de cavalaria comandada pelo
major João Ignacio, auxiliado
pelo capitão Osório e pelo
tenente Portuense, e uma força
de cavalaria do 9º regimento,
comandada por um alferes.
Os armazéns da estação de S.
Diogo onde se depositam a
carente, ficaram guardados
durante a noite por uma força de
cavalaria de polícia da parte de
fora, e uma de infantaria no
interior.
O gerente da empresa de
transporte de carnes prometeu
que a carne seria transportada
para os açougues hoje, às 5 horas
da manhã, e pediu ao Senhor
Chefe de Polícia uma força para
proteger os carroceiros que se
encarregassem de semelhante
serviço.
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Edição nº 676
O Senhor Doutor Lopes Trovão,
que à noite se apresentou na
Praça General Osório, conseguiu
dos carroceiros aí reunidos que
eles se dispersassem, e
aconselhou-os a voltar ao serviço
por não haver nenhum motivo
para semelhante greve.
E, realmente, repetimos, não se
compreende a razão por que se
deram os acontecimentos de
ontem, uma vez que nenhuma
deliberação do governo ou da
intendência fora publicada que
atentasse ou não contra a
liberdade dos cocheiros de
veículos.
Os diretores das companhias de
bonds e de muitas das diversas
empresas de transportes
estiveram durante o dia em
conferência com o Senhor
Doutor Chefe de Polícia interino.
Quase à noite, a companhia
Carris Urbanos foi obrigado a
recolher alguns dos carros que
faziam o serviço das suas diversas
linhas.
E aliás ontem não houve linha de
bonds que funcionasse
regularmente.
O comércio da capital, e
especialmente o da rua do
Ouvidor e largo de S. Francisco
de Paula, quase que não
funcionou ontem, tendo tido
necessidade de mais de uma vez
fechar as suas portas.
Os Senhores Ministros da
Marinha e da Guerra, cercados
sempre de distintos oficiais do
exército e armada, conservaram-
se, aquele no arsenal e este no
quartel-general até tarde da noite.
 16 de fevereiro de 2022 Boletim Operário Edição nº 676

O edital mandado afixar em
todas as ruas pela intendência
municipal e assinado pelo
respectivo presidente, “faz
público, para conhecimento dos
interessados, que até à presente
data nenhuma resolução foi
adotada pelo mesmo conselho
relativamente a condutores de
veículos de qualquer espécie, em
trafego nesta cidade; e que o
governo, a quem consultara,
declarou não ter havido sobre tal
objeto medida ou providência
alguma.”
O Doutor Agostinho Vidal por
motivo desses conflitos expediu
aos subdelegados a seguinte
circular:
“Havendo motivos para recear-se
perturbação da ordem pública
por parte de condutores de
carroças e cocheiros que se
recusam a trabalhar, recomendo-
vos que envideis todo esforço
possível e empregueis a máxima
vigilância e atividade a fim de que
seja mantida inteiramente a
ordem pública. Confiando
plenamente no vosso
reconhecido patriotismo e que motivos continuou a “greve”.
dedicação à causa pública, espero
de vossa parte o mais eficaz
auxilio para que sejam
neutralizados quaisquer
malévolos intuitos, evitando-se
assim possíveis consequências
desagradáveis.”
Para manutenção da ordem
públicas os ministérios da justiça,
marinha e guerra tomaram todas
as providências.
Uma força de 75 praças do
batalhão naval reforçou a guarda
do arsenal, ao mando de um
oficial.
As rondas das ruas foram
dobradas pela polícia de cavalaria
e infantaria; as estações estiveram
com reforço.
O corpo de bombeiros foi posto
de prontidão e o mesmo
aconteceu aos batalhões de linha.
Narrando fielmente os
acontecimentos de ontem,
fazendo por último um apelo as
classes laboriosas desta capital,
concitando-as ao trabalho, que
deve recomeçar inspirado na
calma de quem tem, sob todos os
pontos de vista, a segurança de
seus direitos e a garantia certa e
eficaz de um governo justo e
moderado e de uma imprensa
que não mentirá aos seus
créditos.
Cidade do Rio
Rio de Janeiro
3 de dezembro de 1890.
Ano IV Edição nº 56
Capa
Greve
Ontem
Deram-se ainda conflitos,
infelizmente, e não sabemos por
Foi publicado um edital da
intendência, foram dadas
explicações pela imprensa e, no
entanto, ainda à tarde não havia
carroças, carros, bonds,
principalmente das companhias
de S. Christovão e Carris
Urbanos.
Muitas pessoas moradoras nos
arrabaldes, ou tiveram de ir a pé
para suas casas ou dormir na
cidade.
Ocorrências mais ou menos
graves houve e para quem
conhece o Rio de Janeiro verá
que transtornos tem havido para
o comércio e para os particulares
por causa dessa “greve”
infundada.
Todos os que se interessam pela
manutenção da ordem devem
aconselhar aos grevistas que se
abstenham de tais excessos que
perturbam a marcha regular dos
negócios públicos e voltarem ao
seu trabalho, visto como não
existe disposição alguma que lhes
vexe e lhes torne possíveis de
penas rigorosas, como
propalavam.
Providências
Todas as autoridades policiais
rondaram os seus distritos e
freguesias e o policiamento foi
feito por praças de cavalaria e
infantaria do exército e polícia
armadas.
Houve conferência na secretaria
da guerra entre os Senhores
ministros da guerra, marinha,
justiça, ajudante-general do
exército e general Bernardo
Vasques, comandante do
regimento policial.
Na secretaria de polícia estiveram
os Senhores generais Campos
Salles, Bernardo Vasques,
Doutor chefe de polícia e oficiais
do exército e polícia.
O presidente da intendência
percorreu todos os açougues,
dando as providências
necessárias.
Os açougueiros também
quiseram fazer “greve” por se
lhes haver recomendado que não
alterassem o preço da carne.
Ontem foi chamado à polícia o
Senhor coronel Silva Porto,
gerente da Companhia Carris
Urbanos.
Hoje
Os bonds estão trabalhando, mas
ainda não regularmente e
trazendo, para garantia dos
empregados e passageiros praça
de arma embalada.

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 16 de fevereiro de 2022 Boletim Operário
Do nosso colega do “Jornal do
Comércio” tiramos o seguinte:
“Um personagem altamente
colocado percorreu ontem
“incógnito” vária cocheiras,
indagando dos motivos que
originaram a parede. Em
conversa com dois dos nossos
companheiros disse que pelo
resultado de suas investigações a
maior parte dos cocheiros não
trabalhava por terem receio uns
dos outros. Disse mais que alguns
cocheiros lhes haviam
comunicado que a parede partira
do estabelecimento do Senhor
Silva Carvalho, motivo pelo qual
ia sem demora manda-lo buscar.
Disse-lhe, porém, um dos nossos
companheiros que, por afazeres
do seu cargo, tem acompanhado
o movimento, que maior número
de acusações pesavam sobre a
Companhia Carris Urbanos,
porquanto muitos cocheiros lhes
haviam dito que a parede
começara daquela companhia
por causa de um edital que o
Senhor Coronel Silva Porto
mandara pregar no escritório de
sua companhia.
De qualquer modo, em vista
dessas recíprocas acusações, cabe
a quem estiver sindicando de tão
grave fato o rigoroso dever de
esmerilhar estas denúncias, a fim
de, se culpado houver, puni-lo
com rigor que exige o caso.”
De pleno acordo.
Cidade do Rio
Rio de Janeiro
18 de dezembro de 1890.
Ano IV Edição nº 68
Capa
Diz-se por toda a parte estar
iminente uma greve, que trará
grandes dificuldades, que tomará
aspecto assustador. Não se
suponha que os grevistas tem o
intente de perturbar a ordem.
Pelo contrário, será o protesto
mudo, a greve pacifica, o
cruzamento de braços enfim.
Edição nº 676
Neste procedimento estará a Não estamos exagerando, e,
força dos operários, que não francamente, o nosso maior
sairão para as ruas fazendo interesse é de ver o país
ameaças, mas que se deixarão caminhando impavidamente à
comodamente ficar em suas sombra da paz, ao influxo
casas. Não é necessários muita benéfico do trabalho.
perspicácia para avaliar os
Não queremos armar a
prejuízos que causarão tal
popularidade à custa da
resolução, os obstáculos que
desordem, da perturbação da paz
advirão de tal greve. Há poucos
pública, pondo em sobressalto os
dias foi esta cidade alarmada por
nossos concidadãos. Nunca
causa de um fato idêntico que pos
pretendemos, nem
em perigo a segurança e a ordem
pretenderemos embaraçar a
pública. Diz-se que malévolos ou
marcha do governo e, se
inconscientes foram os autores
censuramos e se combatemos os
do movimento, e que os grevistas
seus atos, é no interesse de todos.
obedeciam a forças superiores, a
Não fazemos questão de
sugestões de interessados, a
personalidades, mas de
pescadores de águas turvas, que
coletividade. Entendemos que
pretendiam talvez aproveitar-se
acima do interesse de cada um
de uma classe para a consecução
está o interesse da pátria e nesse
de planos criminosos. Seja como
caso pedimos a máxima
for pois, por enquanto coisa
liberdade de enunciação de
alguma se averiguou, conflitos se
pensamento visto, como somos
deram, paralisou-se o movimento
de opinião que os atos dos que
comercial, desapareceram os
governam devem ser analisados à
meios de condução e de
luz da crítica, sem ressaibos, sem
transporte, baixou o câmbio,
amargos, mas com critério, com
boatos alarmantes surgiram de
independência. Falamos assim
todos os pontos, ficou interdito o
porque vemos o jornalismo
telegrafo, alarmou-se a população
oficiosos desprezar sempre o
do interior e desta capital, e
jornalismo oficioso desprezar
necessariamente na Europa e nas
sempre os murmúrios que se
republicas americanas causaram
levantam, as queixas surdas que
má impressão as ocorrências de
vem à tona e num levantar de
que foi teatro esta cidade. Será,
ombros, com um sorriso
portanto, de um grande mal uma
desdenhoso, deixa-las à margem,
nova greve que dará ocasião aos
ligando-lhes pouca importância,
inimigos da República de se
não indagando da sua origem,
regozijarem, procurando
não perscrutando-as, apurando o
desmoralizar a nova forma de
que há de verdade e avisando os
governo, fazendo crer no exterior
seus amigos e afeiçoados. Nos
que o país não está satisfeito com
tempos da monarquia, os
a transição operada, que as
jornalistas que eram mais
desordens prenunciadas antes de
íntimos, que privavam com os
proclamado o novo regimen
que governavam, não faziam caso
estão realmente se dando. Boatos
dos reclamos da opinião,
alarmantes, mentiras habilmente
troçavam a respeito das queixas
engendradas e espalhadas farão o
do povo, e iludiam os
resto, desorganizando a obra
governantes com panaceias
ainda incompleta da solidificação
adesistas, com elogios
e assentamento da Republica, da
bombásticos. Os governos se
conquista da confiança interna e
sucediam, o povo reclamava, os
externa, do respeito à lei e da
ministros se deixavam embriagar
manutenção da ordem.
pelo aroma capitoso que se
desprendia do turibulo dos
louvaminheiros e o que
aconteceu?
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 16 de fevereiro de 2022 Boletim Operário
Quando se declarou a revolução,
quando acordou o governo, que
estava ainda tonto, ainda
duvidoso do que se passavam
embebido pelo que lhe diziam os
seus amigos, os seus afeiçoados,
os seus aduladores já era tarde, já
as posições estavam tomadas.
Porém consideravam-se ainda tão
seguros, estavam tão iludidos que
são atribuídos aos ex-imperador e
a sua filha frases de dúvida, a
respeito da existência da
revolução, do triunfo da
República, da deposição da
instituição monárquica. É o que
se dá presentemente, com
pequena diferença, mas com
tendência a se generalizar.
Quando alguém, algum jornal
profliga qualquer ato impensado
do governo, saem logo os
oficiosos a chama-lo de
sebastianista, a verem um
adversário passível de penas,
pretendente a emprego público
ou a favores de ministros. Está
isso nos nossos hábitos. A turba
multa de sacristães políticos veste
logo os hábitos talares a sai a
protestar em altas vozes contra os
que simplesmente avisam e
procuram corrigir. Vêm logo os
termos da chapa; o honrado
ministro, o ilustre administrador,
o preclaro cidadão. Abafam,
emudecem os infelizes que
tiveram a hombridade de
protestar contra uma medida
vexatória, contra uma decisão
prejudicial ao país. Está neste
caso a questão dos operários.
Quem não viu na redação feita
nos artigos do código penal
apenas uma torcedura na forma,
mas o mesmo resultado no
fundo?
Quem não ouve o boato
insistente de que a classe
operária, embora oficialmente se
diga o contrário, prepara uma
greve, greve que não se limitará a
está capital, mas que se alastrara
até os estados, periclitando a
ordem, perturbando as nossas
condições econômicas,
sobressaltando a paz?
Edição nº 676
Qual o papel da imprensa Atenda o chefe do governo e
oficiosa, insuspeita ao governo? lembre-se que disse o nosso chefe
não há muito tempo: - General,
Vir dizer que os operários se
este povo governa-se com
contentaram com as novas
carinho, com amor. A vossa farda
disposições, vir proclamar que
está estalejada pelas
eles receberam de bom grado as
condecorações ganhas nos
emendas feitas?
combates; ajuntai a estas
Não, mas falar francamente ao condecorações, a estes bordados
governo, avisando-o e uma estrela maior, mais
aconselhando-o a que riscasse do brilhante, que vou aurele a fronte,
código tais penas, no que não que vos enalteça – a gratidão
haveria desdouro e depois seria popular. Podem os que
regulado pelo Congresso. Este é circundam o governo levantar
o procedimento que devem ter os desdenhosamente os ombros,
patriotas, os amigos do seu país, temos consciência de que
os amigos da República. Um cumprimos com o nosso dever.
capricho não compensa os Que a classe operária triunfe sem
grandes prejuízos que advirão da violências e que o governo as
greve, caso ela se dê, o que não ouça, pois ainda é tempo.
desejamos. Podem considerar
A vitória será de todos.
rude a nossa opinião, mas é
franca, mas é sincera. Os
governos não se tornam
populares, não se aninham no
coração do povo repelindo
bruscamente o que o povo
respeitosamente pede, mas
atendendo as suas reclamações,
ouvindo as suas queixas, indo ao
encontro das vontades populares,
acatando-as e resolvendo com
justiça, com equidade. Nenhum
governo pode julgar-se forte
simplesmente apoiando-se numa
classe, mas tendo por si a força de
todas as classes – a opinião
pública. Nos tempos despóticos
em que ao simples aceno do rei
caia a cabeça do súdito, também,
a cólera do súdito muitas vezes
derribou do trono o rei, arrastou-
o à praça pública e justiçou-o.
Não é preciso citar exemplos,
basta folhear as páginas da
história.
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 16 de fevereiro de 2022
O Mercantil
São Paulo
5 de dezembro de 1890
Ano VII Edição nº 1880
Capa
Motivo da Greve
Em relação à greve dos cocheiros,
encontramos no Diario do
Commercio, a seguinte noticia:
“Tendo-se propalado que a causa
que induziu os cocheiros à greve
é a disposições do art. 297 do
novo código criminal, cumpre
esclarecer este ponto em ordem a
destruir a especulação que aí se
apoia para perturbar a ordem
pública.
O referido art. Dispõe o seguinte:
“Aquele que, por imprudência,
negligência ou imperícia na sua
arte ou profissão, ou por
inobservância de alguma
disposição regulamentar cometer
ou for causa involuntária, direta
ou indiretamente de um
homicídio, será punido com
prisão por 2 meses a 2 anos.”
Como se vê, a disposição não é
especial à certa e determinada
classe, mas estende-se no
exercício de todas as profissões,
onde se compreendem também
os médicos, farmacêuticos, etc.
Cumpre ainda assinalar que este
preceito, longe de ser uma
novidade introduzida pelo novo
código, já se achava incorporado
à nossa legislação penal como
consta do art. 3 da lei nº 2.033 de
20 de setembro de 1871, que diz
o seguinte:
“Aquele que, por imperícia,
imprudência ou falta de
observância de algum
regulamento, cometer ou for
causa de um homicídio
involuntário, será punido com
prisão de um mês a dois anos e
multa correspondente.”
Boletim Operário Edição nº 676
É bom saber-se que esta O Mercantil
disposição, em vez de agravar,
São Paulo
serviu para atenuar o regimen
comum do código criminal da 18 de dezembro de 1890
monarquia, que nos arts. 192 e Ano VII Edição nº 1890
seguintes punia todos os crimes
de homicídio, hoje benignamente Capa
capitulado no referido art. 297 do Greve
novo código e no art. 19 da citada
lei de 1871. Podemos garantir Parece que o governo, no caso de
que não há em todo o novo desordem promovida pelos
código outro artigo com especuladores que exploram os
referência ao assunto.” operários, tem em mão todos os
meios necessários para manter a
O Mercantil segurança pública.
São Paulo
11 de dezembro de 1890
Ano VII Edição nº 1884
Capa
Santos
Os quatro enfermeiros que
serviam no hospital da Santa
Casa, declararam-se em greve
exigindo aumento de seus
respectivos ordenados e
declarando terminantemente que
se até quinta-feira próxima, a
mesa não tomasse qualquer
resolução n’esse sentido, eles se
considerariam demitidos. O
administrador não se
conformando com a imposição,
despediu-os.
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