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ÉTICA E CIDADANIA
Antonio Marcos Feliciano

w w w. u s f . e d u . b r

2019
CASA NOSSA SENHORA DA PAZ – AÇÃO SOCIAL
FRANCISCANA, PROVÍNCIA FRANCISCANA DA
IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL – ORDEM
DOS FRADES MENORES
ÉTICA E CIDADANIA

Presidente
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM

Diretor Geral
Jorge Apóstolos Siarcos

Reitor
Frei Gilberto Gonçalves Garcia, OFM

Vice-Reitor
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM

Pró-Reitor de Administração e Planejamento


Adriel de Moura Cabral

Pró-Reitor de Ensino, Pesquisa e Extensão


Dilnei Giseli Lorenzi

Coordenador do Núcleo de Educação a Distância


(NEAD)
Renato Adriano Pezenti

Revisão
Lindsay Viola (Vozes)

Desenhista Instrucional
Leonora Gerardino
Patricia Sponhardi

Projeto Gráfico e Diagramação


Studio 28
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© 2019 Universidade São Francisco


Avenida São Francisco de Assis, 218
CEP 12916-900 – Bragança Paulista/SP
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ÉTICA E CIDADANIA
PROF. DR.
AUTOR

ANTONIO
MARCOS
FELICIANO
Doutor e Mestre em Engenharia
e Gestão do Conhecimento pelo
Programa de Pós-graduação em
Engenharia e Gestão do Conhecimento
da UFSC (PPGEGC/UFSC).

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SUMÁRIO

Caixas de Destaque........................................................................ 05

Informações Gerais da Disciplina.................................................. 06


ÉTICA E CIDADANIA

Apresentações das Unidades.........................................................07

Unidade 1:
1.1 Moral e Ética: A abordagem conceitual .................................... 10
1.2 Formação e trajetória da Ética ................................................. 16

Unidade 2:
2.1 Moral e Ética: Tipologia e conduta ética .................................. 18
2.2 Ética e Sociedade: Valores e códigos de conduta social .......24

Unidade 3:
3.1 Ética e Sociedade: Ética individual e Ética coletiva no âmbito
organizacional.................................................................................. 31
3.2 Ética e Sociedade: Ética aplicada: conduta humana em grupo .
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Unidade 4:
4.1 Ética e Profissão: O ser humano nas organizações ................42
4.2 Ética e Profissão: Ética e profissão ......................................... 51

Unidade 5:
5.1 Ética e Profissão: Valores, responsabilidade e deveres individu-
ais e coletivos nas organizações ....................................................54
5.2 Ética e profissional: Valor social das profissões......................59
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Unidade 6:
6.1 Ética profissional: Ética nas organizações ............................. 64
6.2 Ética profissional: Tendências da Ética profissional................71
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IMPORTANTE É U M E S PA Ç O D E D I C A D O A E N T E N D E R O S
ENTENDER! CONCEITOS CENTRAIS DO CONTEÚDO.

PARA E S PA Ç O PA R A Q U E S T I O N A M E N T O S O B R E
O A S S U N T O. S I T U A Ç Ã O H I P O T É T I C A PA R A
REFLETIR REFLEXÃO E COMPREENSÃO SOBRE O

ÉTICA E CIDADANIA
TEMA ESTUDADO.

M O M E N T O PA R A S E A P R E S E N TA R U M A S I -
EXEMPLO TUAÇÃO REAL DO ASSUNTO TRABALHADO

A P R E S E N TA Ç Ã O D E F O N T E S PA R A Q U E
O ALUNO EXPLORE MAIS O CONTEÚDO
PESQUISE A B O R D A D O. S E R Ã O A P R E S E N TA D O S : L I -
V R O S , S I T E S , R E P O R TA G E N S , D I S S E R TA -
Ç Õ E S , V Í D E O S , R E V I S TA S E T C .

TERMOS E SIGLAS ESPECÍFICAS SOBRE O


GLOSSÁRIO T E M A T R ATA D O N A U N I D A D E .

L E I O U A R T I G O D E E X T R E M A I M P O R TÂ N -
LEIS C I A PA R A A P R O F U N D A M E N T O D O A L U N O.

LEITURA L I V R O S E T E X T O S I M P R E S C I N D Í V E I S PA R A
FUNDAMENTAL O D E S E N V O LV I M E N TO DA A P R E N D I Z AG E M
DO ALUNO.

SUGESTÃO A P R E S E N TA Ç Ã O D E L E I T U R A S I N T E R E S -
S A N T E S PA R A O A L U N O, R E L A C I O N A D A S
DE LEITURA AO TEMA.

P O N T O S F U N D A M E N TA I S Q U E G U I A R Ã O O
RELEMBRE A LU N O. S ÃO N O R T E S Q U E A J U DA R ÃO A I N -
T E R P R E TA R O T E X T O .
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FAT O, A C O N T E C I M E N T O H I S T Ó R I C O O U
CURIOSIDADES PONTO CURIOSO RELACIONADO AO TEMA
ABORDADO.
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INFORMAÇÕES
GERAIS DA DISCIPLINA
ÉTICA E CIDADANIA

ÉTICA E CIDADANIA
Objetivo geral
Apresentar a ética como valor fundamental da conduta individual e
coletiva e como prática social desejada no âmbito da família, das em-
presas e da sociedade moderna.

OBJETIVOS específicos de aprendizagem


• Situar moral e ética nas perspectivas histórica, filosófica e política.
• Promover a reflexão e a crítica sobre a natureza e os fundamentos
da moral e da ética.
• Apresentar a ética a partir de uma perspectiva classificatória.
• Apresentar regras e valores sociais como determinantes para o
comportamento ético.
• Apresentar aspectos definidores da ética individual e coletiva no
ambiente organizacional.
• Apresentar a ética como elemento basilar do comportamento hu-
mano das organizações.
• Identificar aspectos que determinam o comportamento das pesso-
as no ambiente de trabalho.
• Identificar aspectos éticos no campo das profissões como nortea-
dores da conduta profissional.
• Apresentar tendências para a ética no âmbito das organizações.
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CARGA HORÁRIA: 72 H
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APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Unidade de Estudo 1 – Moral e ética na sociedade

A ação humana é repleta de conexões feitas de conhecimentos, experiên-


cias, insights, impulsos, valores, crenças, amor, carinho, capricho, entre ou-

ÉTICA E CIDADANIA
tros aspectos que tornam sua compreensão complexa, mas essencial para o
entendimento do desenvolvimento da conduta das pessoas.
Os estudos sobre a ética e a moral têm suas origens antes mesmo de
Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), que ainda hoje é considerado um dos
principais pensadores do tema, cujas contribuições teóricas e práticas são
significativas na configuração de qualquer iniciativa que busque o entendi-
mento do assunto.
Desde o período aristotélico, a sociedade muda intensa e continuamen-
te. Assim, a compreensão do comportamento humano se faz necessária
para que se entenda a extensão conceitual e prática da ética e da moral nas
relações pessoais e profissionais no âmbito da sociedade.
No seio dessa sociedade, temos grupos, países, nações, comunidades,
famílias, classes, enfim, pessoas que se conectam em torno de diversos as-
pectos, entre outros, os valores. O alicerce valorativo da sociedade é mais
amplo do que o de um grupo social, por isso dizemos que os valores de uma
sociedade refletem e influenciam os valores de suas células menores, gru-
pos sociais, famílias e outros.
Os valores são percebidos diferentemente pelos grupos sociais, entre-
tanto, é a ética e a moral que têm o papel de limitar a interpretação e con-
duta das pessoas e dos grupos sociais, por isso seu caráter é amplo. Os
valores sofrem modificações a partir do desenvolvimento da sociedade;
embora essas mudanças não sejam radicais, são perceptíveis de uma ge-
ração para outra.
Nesta unidade, abordaremos a ética e a moral a partir de uma perspec-
tiva teórico-conceitual, objetivando oferecer a você elementos suficientes
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para a compreensão ampla do significado das situações que você vive em


seu cotidiano, seja na família, na igreja, na instituição educacional, na rua,
enfim, em qualquer lugar, pois a ética e a moral são onipresentes.
UNIDADE 1
ÉTICA E CIDADANIA

MORAL E ÉTICA NA SOCIEDADE

ABORDAGEM CONCEITUAL
Uma pequena e inocente fofoca não faz mal a ninguém, aliás,
quem nunca fez isso? Levar uma vantagenzinha no trânsito maluco
das cidades e rodovias, quem nunca fez isso? Usar equipamentos
e outros recursos da empresa para realizar um trabalho particular,
quem nunca fez isso? Contar uma mentirinha, quem nunca fez isso?
Parece mesmo difícil pensar em um mundo perfeito, em que todos
tenham comportamento ético, reto, sem verdadeiramente levar
vantagens sobre os demais.
As contradições e incertezas apresentadas no contexto da socie-
dade, faz com que a humanidade busque cada vez mais explicar sua
realidade por meio de atributos éticos e morais, que fazem parte de
qualquer grupo social, da vida de qualquer pessoa, em qualquer si-
tuação. Os valores sociais comumente limitam as pessoas em suas
ações, pois todo valor social apresenta consigo uma sanção, por
isso seu caráter limitador ao comportamento humano.
A figura seguinte apresenta a incerteza como elemento perma-
nentemente presente na vida humana.
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Figura 1.1: Incerteza humana

ÉTICA E CIDADANIA
Fonte: Pixabay (2019).
A incerteza acompanha o homem desde os primórdios, fazendo
parte da evolução da espécie e do domínio humano sobre a natu-
reza. Foi por meio da capacidade humana que os recursos naturais
foram gradativamente sendo utilizados para garantir sua sobrevi-
vência, que ocorreu desde a geração de energia elétrica, passando
pela moradia, alimentação, segurança, criação de medicamentos,
entre outros usos.
Não devemos perder de vista que, de fato, o homem travou ba-
talhas homéricas contra a natureza, pelo menos em um passado
recente. Devemos destacar que, durante toda a sua história, o
grande inimigo do homem sempre foi ele mesmo, por isso a incer-
teza de continuidade da espécie se mantém presente até os dias
atuais.
Até certo período da humanidade, a virtude pessoal significava
um verdadeiro atestado de segurança relativa à honra individual,
garantindo prestígio social aos virtuosos. O resgate da ética para
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resolver questões sociais, que causam grandes incertezas, depende


de pessoas virtuosas, com ampla capacidade de refletir e agir com
espírito coletivo, isto é, visando ao bem-estar comum, atentando
para a pluralidade que é o mundo.
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VITRINE, MORAL E ÉTICA


Nesse contexto, convém destacar que Passos (2006, p. 22) ar-
gumenta que nos dias atuais, “[...] a palavra virtude está em desuso,
enquanto a palavra moral foi substituída por ética, por ser mais geral
e menos identificada com a religião”. Apesar de isso ter acontecido,
você deve compreender que o comportamento humano é constituí-
do primeiramente pela moral, pois é esta que contém a estrutura de
ÉTICA E CIDADANIA

valores que nos afasta das ações animalescas.


A realidade mundial muda rapidamente. Comparando a socieda-
de mundial e brasileira na década de 50 com a atual, por exemplo,
vemos que, embora diferentes, ambas têm em comum muitos as-
pectos da ética. Nesse sentido, podemos afirmar que a evolução da
sociedade tem por base seu código de conduta, que é definido pela
ética, a qual define valores, comportamentos, enfim, está no cerne
da virtude social.
No plano conceitual, Sá (2010, p. 3) afirma que “[...] a Ética tem
sido entendida como a ciência da conduta humana perante o ser e
seus semelhantes”.
Em momentos de crises, quando a sociedade percebe o potencial
risco ao seu equilíbrio, a ética é resgatada pelos virtuosos. Desse
modo, podemos reconhecer seu papel fundamental para o equilí-
brio harmônico nas relações humanas.
A competição é inerente a todas as espécies, fazendo parte do
comportamento de cada indivíduo e, com o ser humano, não é dife-
rente. A virtude e os códigos éticos e morais, por outro lado, impe-
dem que as competições sejam desleais ao ponto de serem violen-
tas. Portanto, sem esses aspectos, a convivência dos homens seria
impossível.
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VOCÊ JÁ IMAGINOU O AMBIENTE FAMI-


LIAR, SOCIAL OU DO TRABALHO SEM CÓ-
DIGOS ÉTICOS?
A disputa violenta pela alimentação e propriedade de qualquer
objeto poderia tornar insustentável qualquer espaço ocupado por
mais de uma pessoa.
Passos (2006) admite que a virtude não é um elemento relevante
para o status social dos indivíduos. Apesar disso, é possível perce-

ÉTICA E CIDADANIA
ber que as pessoas fundamentam seus projetos de vida em valores
sociais morais. Em outras palavras, o comportamento individual é
parametrizado pelos valores morais coletivos.
A amplitude dos valores morais é sintetizada por Passos (2006,
p. 22), ao considerar que os valores estão presentes em todas as
ações e relações humanas, possuindo aspectos “[...] estéticos, po-
líticos, jurídicos ou morais”. A materialidade da ética é evidenciada
nesse tipo de relação a partir de vários pontos de vista.
Você pode pensar que é possível haver razoabilidade na taxa de
lucro em uma relação econômica, ou, também, que não é ético en-
ganar as pessoas no contexto econômico. Por isso, relembramos
Passos (2006) ao considerar que toda ação humana possui algum
valor moral que fundamenta o comportamento.
Nessa direção, Sá (2010, p. 3) aponta que a ética “[...] envolve
os estudos de aprovação e desaprovação da ação dos homens”. O
autor ainda complementa que a ética também envolve a análise da
vontade e o desempenho virtuoso das pessoas a partir das suas in-
tenções e atuações, seja do ponto de vista individual, ou sob o pris-
ma das normas coletivas.
Na direção conceitual, Cortina e Martinez (2005, p. 9) eviden-
ciam que a ética “[...] é um tipo de saber normativo, isto é, um saber
que pretende orientar as ações dos seres humanos”. Nesse sentido,
por meio da ética é possível propor soluções concretas para proble-
mas concretos.
A ética pode ser considerada como um braço operacional da mo-
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ral, que, por sua vez, na visão de Cortina e Martinez (2005, p. 9)


orienta a ação humana de forma indireta e “[...] no máximo, pode
indicar qual concepção moral é mais razoável para que, a partir dela,
possamos orientar nossos comportamentos”.
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Figura 1.2: Equilíbrio entre a ética e a moral


ÉTICA E CIDADANIA

Fonte: Plataforma Deduca (2019).


Entenda que ambas, ética e moral, são definidas a partir de mo-
delos teóricos, no entanto, é na ação prática humana que podemos
identificar com maior facilidade os aspectos éticos.
Cortina e Martinez (2005, p. 11) indicam que a ética é:
[...] entendida à maneira aristotélica como
saber orientado para o esclarecimento da vida
boa, com o olhar posto na realização da felici-
dade individual e comunitária [...] Se a pergunta
ética para Aristóteles era, “quais virtudes mo-
rais temos de praticar para conseguir uma vida
feliz, tanto individual como comunitariamente”,
na era moderna, em contrapartida, a pergunta
ética seria esta outra: “quais deveres morais
básicos têm de reger a vida dos homens para
que seja possível uma convivência justa, em
paz e em liberdade, dado o pluralismo existente
quanto às maneiras de ser feliz”.
Essa passagem deixa claro que pode haver múltiplos entendi-
mentos e práticas para alcançar a felicidade, entretanto, as ações
humanas são limitadas para que não se constituam em práticas
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desleais que atentem à moral coletiva. Dessa forma, podemos afir-


mar que, com a evolução da sociedade, surgem novas necessida-
des, como novos códigos éticos, os quais visam a orientar as ações
das pessoas em busca da felicidade.
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De acordo com Cunha (2012), a moral tem relação com as deci-


sões humanas – não somente as consequências de uma decisão em
relação ao coletivo, mas também no que diz respeito ao tomador da
decisão, pois uma decisão precede uma ação.
Dessa forma, você deve perceber que há limites entre a moral e a éti-
ca, os quais podemos descrever da seguinte forma: posso me beneficiar
muito com minha ação que, mesmo sendo legal, pode ser imoral e, a
partir dessa noção de moralidade/imoralidade, surge a Ética como uma
forma de corrigir as distorções morais no plano prático.
Apesar de aparentemente possuir o mesmo significado, e é justa-

ÉTICA E CIDADANIA
mente no emprego dos termos que se percebe as diferenças, a ética
é uma espécie de “examinadora da moral” para manter o caráter
civilizador às nossas ações. Isso ocorre, segundo Passos (2006),
porque a Ética permite a reflexão e a teorização da conduta humana,
tendo função fundamental nas nossas atitudes diárias, corriqueiras,
pois ela regula o comportamento humano.
Com isso, você aprende que a ética e a moral são mutantes no
sentido de mudar conforme o contexto social. Se o Brasil da década
de 1950 era muito diferente do Brasil de hoje, então a ética e a moral
sofreram mudanças. Como se trata de comportamento associado a
valores culturais e a outros aspectos sociais, você deve pensar que
as mudanças não são estanques, isto é, não há um rompimento defi-
nitivo entre os padrões éticos e morais de um período em relação ao
momento subsequente, pois se trata, na verdade, de um processo
permanente de construção.
Nesse sentido, é correto afirmar que a ética e a moral se confor-
mam com a função de facilitar a convivência em sociedade. Assim,
Aristóteles e outros pensadores que se debruçaram sobre o tema
ainda estão muito presentes na sociedade atual.
Por exemplo, um indivíduo pode não perceber que há problemas
em usar os recursos da empresa onde trabalha para realizar ativida-
des de caráter particular. Outro, é capaz de utilizar um veículo pú-
blico para ir ao supermercado fazer suas compras pessoais. Enfim,
a partir da materialidade da ética, você pode promover reflexões,
adaptando o conceito à sua realidade.
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Convém lembrar que a coletividade procura, diante das contradições


sociais, agir para que se mantenha harmonia entre as pessoas. Portanto,
não se trata de moldar a ética e a moral a interesses específicos, mas
tornar os níveis de convivência idealmente equilibrados.
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1.2. FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA


EVOLUTIVA DA ÉTICA
Desde os tempos mais remotos, a Ética tem sido alvo de estudos
e pesquisas, ampliando o escopo de análise para todos os campos
da ciência e da sociedade. Muitos autores investem esforços sobre o
assunto, tecendo contribuições que se complementam aos escritos
de outros, possibilitando o melhor entendimento do comportamen-
to humano. Sem dúvida alguma, os escritos de filósofos que vive-
ram na Antiguidade, como Aristóteles (384 a. C. – 322 a. C.), Platão
(428 a. C – 347 a. C) e Sócrates (470 a. C – 399 a. C) ainda balizam
ÉTICA E CIDADANIA

novas pesquisas, tamanha a influência das teorias elaboradas por


esses pensadores.
Na sequência, apresentamos alguns importantes filósofos, cujas
contribuições para a ciência e para o desenvolvimento do tema da
ética são reconhecidas em todo o mundo.

Diagrama 1.1: Autores com contribuições no campo da Ética

Aristóteles
384 a. C – 322 a. C

Karl Marx David Hume


1818 – 1883 1711 – 1776

Sócrates Platão
470 a. C – 399 a. C 428 a. C – 347 a. C

Hans-Georg Gadamer
Martin Heidegger ÉTICA 1900 – 2002

Hugo Grotius Jürgen Habermas


1583 – 1645 1929 – Ainda vivo

René Descartes Immanuel Kant


1596 – 1650 1724 – 1804
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Hannah Arent
1906 – 1975

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).


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A complexidade da sociedade aumenta quanto mais seu desen-


volvimento se acentua. Após a Segunda Guerra Mundial, a socieda-
de clamava por paz e justiça social, demandando também um novo
modelo de desenvolvimento e padrões inovadores de relacionamen-
tos entre pessoas, empresas e países. Surgiram, então, preocupa-
ções ecológicas e a necessidade de atender às necessidades das
minorias, com o entendimento, cada vez mais forte, de que a socie-
dade é plural. Desse modo, a ética é novamente chamada a fim de
trazer uma melhor compreensão desse universo.
Nesse último aspecto, você deve considerar tanto as formas de

ÉTICA E CIDADANIA
relação entre os homens e os recursos naturais, quanto o homem
em suas relações no âmbito familiar, no trabalho, na vida social, en-
fim, em qualquer espaço da sociedade.
A seguir, vejamos o ambiente da ação e conduta humanas e onde
ocorrem seus relacionamentos (Figura 1.3).

Figura 1.3: Ambiente da ação humana

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Fonte: Plataforma Deduca (2019).


Saiba que mesmo os pensadores contemporâneos que se debru-
çam sobre a ética como campo de estudos, partem dos aspectos
apontados pelos autores clássicos para tecer suas análises.
UNIDADE 2
ÉTICA E CIDADANIA

2.1 TIPOLOGIA E CONDUTA ÉTICA

A ética nunca sai de moda, o que ocorre é que, em alguns períodos,


a humanidade parece esquecê-la ou ignorá-la. Portanto, em alguns mo-
mentos, há a necessidade em redescobri-la. Essa necessidade deriva das
barbáries que a espécie humana é capaz de cometer, gerando grandes
incertezas e contradições sociais, fazendo com que a virtude moral da
sociedade se manifeste para retomar o curso da história, equilibrando as
relações, mantendo níveis de convivência minimamente aceitáveis.
Passos (2006, p. 21) considera que as situações de contradições so-
ciais não ocorrem ao acaso, elas tomam maiores proporções quando a
“[...] sociedade passa por graves crises de valores, identificada pelo sen-
so comum como falta de decoro, de respeito pelos outros e de limites”.
Existem situações inerentemente inaceitáveis, como a omissão em re-
lação às pessoas em condição de vulnerabilidade social, a fome, as guer-
ras e situações comumente identificadas como injustiça social. Esses
aspectos comovem, emocionam e fazem a sociedade se movimentar em
busca da resolução ou mitigação desses tipos de problemas.
O levante social ocorre geralmente pela explícita falta de condições
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mínimas para a sobrevivência dos atingidos pelas injustiças sociais. Nes-


se momento, mais do que coletivamente, é a união dos indivíduos que faz
movimentar a sociedade. A ética individual e a ética coletiva são influen-
ciadas pela injustiça social.
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Passos (2006, p. 23) afirma que uma brusca ruptura nas normas
sociais influencia o modo de agir das pessoas, que, “[...] a princí-
pio podem parecer absolutamente individuais, por consistir em
uma ação praticada por um sujeito, a partir de um posicionamento
no mundo e de uma decisão por ele tomada”. O fato, considera a

ÉTICA E CIDADANIA
autora, é que a sociedade possui níveis de tolerância para atos de
injustiça social. No entanto, quando ameaçadas a sobrevivência da
espécie ou as condições mínimas de convivência, a sociedade res-
gata a moral e a ética como formas de redirecionar as ações e exigir
a resolução dos problemas.
Quando falamos no resgate da ética e da moral, estamos falando
claramente que a sociedade evolui, que o conhecimento humano é
cumulativo e complementar. Assim, a sociedade se desenvolve de
acordo com padrões aceitáveis e, mesmo individualmente ou cole-
tivamente, a exclusão social e o progresso científico e tecnológico
possuem níveis de aceitação por parte da sociedade.
Dessa forma, podemos falar em liberdade individual e ética
individual sob uma configuração social estabelecida, posto que
a ética coletiva, impregnada pelos valores morais, é superior ao
desejo individual que, de alguma forma, manifesta algum tipo de
injustiça social.
Pelo apresentado, fica fácil compreender que a ética individual
é severamente limitada pela ética coletiva. No dizer de Passos
(2006, p. 25):
Os valores morais dominantes não são decididos voluntariamen-
te por sujeitos individuais; eles emergem da própria experiência do
grupo humano [...]. Ao serem socializados, vão-se tornando consen-
so entre os membros da sociedade.
Por isso, é possível comparar a ética e a moral ao comportamen-
to das pessoas em relação ao código penal, em que a ação individual
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está de acordo com a lei ou fora dela.


Na figura 2.1 observamos a representação do código de ética no
meio organizacional a ser seguido pelos indivíduos que ali atuam
profissionalmente.
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Figura 2.1: Código de ética


ÉTICA E CIDADANIA

Fonte: Plataforma Deduca (2019).


A aplicação da ética por meio da ação humana em qualquer am-
biente, pressupõe a liberdade, que, de forma geral, pode ser compre-
endida como o melhor remédio contra a coação e o poder arbitrário.
O fato é que, atualmente, estamos vivenciando um período no
qual o individualismo parece se configurar em uma tendência para
o comportamento humano. Sá (2010) afirma que a conduta estri-
tamente individualista é pouco recomendável às pessoas, pois os
interesses pessoais não podem, em hipótese alguma, subjugar os
coletivos, sob pena de as pessoas assumirem seus próprios pontos
de vista como únicos corretos.
Em ambiente organizacional, a ética é fundamental para a sus-
tentabilidade do negócio, pois as empresas dependem das equipes
de trabalho e, mesmo havendo níveis de competição entre os mem-
bros de qualquer equipe, as empresas devem buscar o equilíbrio
harmônico entre seus colaboradores. Para isso, institui-se códigos
de conduta para os relacionamentos profissionais e institucionais.
Todo código de ética, seja no interior de uma empresa ou de uma
categoria profissional, como advogados, médicos, enfermeiros,
entre outros, objetiva aculturar as pessoas para a consciência de
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grupo. Atualmente, os gestores organizacionais sabem que pessoas


motivadas e focadas no negócio, produzem com muita efetividade,
são criativas, proativas, inovadoras e costumam agir dentro das re-
gras éticas.
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Conhecer a história dos códigos de ética possibilita compreender a evolução


da conduta profissional.
Descubra um pouco sobre a história dos Códigos de ética médica. Disponível
na bilioteca virtual da USF. Acesso em: 21 jul. 2019.

Os códigos de ética são importantes instrumentos norteadores


e condutores dos comportamentos na sociedade. A figura 5 ilustra
uma equipe de trabalho coesa, cujo comportamento de grupo revela
a influência do código de comportamento organizacional, que tem

ÉTICA E CIDADANIA
em seus precursores, o código de ética.

Figura 2.2: Equipe de trabalho

Fonte: Pixabay (2019).


As equipes em que a consciência de grupo predomina, facilmente re-
solvem problemas de convivência e diferenças de visão de mundo.
Para manter os valores organizacionais sempre presentes nas
relações no seu ambiente, as empresas precisam concentrar muitos
esforços, sobretudo quando o contingente de pessoas é expressivo.
Mas não devemos pensar que é fácil manter os indivíduos no centro
dos valores organizacionais quando a empresa possui poucos cola-
boradores.
Bennett (2014, p. 11), por sua vez, argumenta que “A maioria das
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pessoas tem uma noção geral do que é certo ou errado, em especial


no ambiente de trabalho”. Por isso, as empresas devem criar con-
dições para que seus valores e suas práticas éticas se mantenham
presentes entre as pessoas.
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As empresas precisam monitorar a conduta ou os relacionamen-


tos internos e externos de seus colaboradores, afinal de contas, sua
imagem está presente no comportamento deles.
Segundo Bennett (2014), as empresas precisam observar alguns
aspectos na conduta de seus colaboradores, para se certificar da
presença de seus valores no comportamento de quem a representa
nas relações com o mercado:

CONFLITO DE
ÉTICA E CIDADANIA

INTERESSES
O grande problema existen-
te é quando uma pessoa priori-
za seus interesses individuais,
relegando ao segundo plano
os interesses ou as necessida-
des do grupo.

HONESTIDADE E JUSTIÇA
Esse aspecto tem relação com honestidade e transparência nos
relacionamentos entre as pessoas e atos institucionais, que devem
priorizar o justo.
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COMUNICAÇÃO
Esse aspecto trata da ca-
pacidade de informar cor-
retamente os atores que
mantém algum tipo de rela-
cionamento com a empresa.
Uma marca pode ser reco-

ÉTICA E CIDADANIA
nhecida pela honestidade
que transmite ao mercado.

RELACIONAMENTO ORGANIZACIONAL
Cada colaborador possui grande responsabilidade em seus re-
lacionamentos internos e externos, pois é portador de uma marca.
Empresas que praticam atos antiéticos, como o plágio, enfrentam
dificuldades em todos os níveis do mercado.

A ética e a moral podem ser facilmente identificadas nos códigos


de conduta de classes. Esses documentos reúnem valores e orien-
w w w. u s f . e d u . b r

tações práticas para as ações profissionais. Apesar de toda conduta


profissional se fundamentar na ética e moral social, devemos desta-
car que existem peculiaridades nas profissões que requerem aten-
ção dos conselhos profissionais.
24
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A ética pode ser dividida em campos de análise para melhor


entendimento do comportamento humano no seu âmbito profis-
sional. Dessa forma, temos a Ética do trabalho, a Ética ecológica,
a Ética familiar, a Ética na educação, a Ética nas classes profis-
sionais etc. Se o objeto de análise é a conduta humana, então,
onde há ação humana, faz-se necessário analisar os parâmetros
de relacionamentos éticos.

2.2 VALORES E CÓDIGOS DE CONDUTA


ÉTICA E CIDADANIA

SOCIAL
Quando estamos em família, partilhamos de valores comuns e
aceitos por todos, pois é com base nesses valores que os indivíduos
são educados. Entretanto, na medida em que as pessoas crescem
e ampliam seus relacionamentos com outras pessoas e grupos so-
ciais, seus valores passam por mudanças – sua visão de mundo se
amplia, sofrendo modificações e, em muitos momentos, acontecem
conflitos com os valores familiares. Por isso, é ainda no âmbito fa-
miliar que a pessoa deve ser preparada para enfrentar diferentes
valores sociais.
A figura a seguir representa a fase inicial de qualquer pessoa: a
infância, quando valores familiares são absorvidos.

Figura 2.3: Família como fonte de valores individuais


w w w. u s f . e d u . b r

Fonte: Plataforma Deduca (2019).


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A família é uma importante unidade social, pois, independente-


mente do seu tamanho, incorpora os valores da sociedade, configu-
rando-se, portanto, em um importante mecanismo da capilaridade
da cultura da sociedade.
Apesar de certos exageros, ao se comparar a empresa com a família,
você deve compreender que ambas são configuradas em unidades so-
ciais diferentes e que cumprem papéis distintos na sociedade.
A empresa é, sem qualquer dúvida, uma importante unidade
social, pois possui no seu escopo valores, cultura, crenças, metas,
objetivos, visão de mundo, pessoas, enfim, todos os atributos pre-
sentes na unidade social denominada família (Figura 2.4). Podemos

ÉTICA E CIDADANIA
afirmar que as empresas são mais racionais em sua forma de fun-
cionar e em seus relacionamentos do que as famílias.

Figura 2.4: Empresa possui valores

Fonte: Plataforma Deduca (2019)

Passos (2006, p. 52), informa que “[...] como as organizações


em geral, e as empresas em específico, são microestruturas sociais,
partícipes da sociedade, também criam valores, escolhem cami-
nhos, optam por uma forma de ser e de agir consciente ou incons-
cientemente”. De forma geral, os valores orientam a conduta institu-
cional e individual no âmbito das empresas.
Você sabe que é difícil manter a harmonia familiar, então imagine
w w w. u s f . e d u . b r

o quão complexo pode ser em um ambiente de trabalho. Na família,


comumente uma conversa entre irmãos ou pais e filhos serve para
resolver os problemas de relacionamento, principalmente até o final
da adolescência.
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Como nas empresas há uma gama de pessoas diferentes com


objetivos distintos, há necessidade de se fazer a gestão dos confli-
tos, para que o negócio não seja afetado por disputas internas.

O conflito é inerente às pessoas, por isso as empresas sabem que em algum


momento o conflito entre colaboradores ocorrerá. Na literatura, alguns
fatores geradores de conflito no ambiente corporativo são conhecidos, entre
ÉTICA E CIDADANIA

outros, competição, acomodação, colaboração. Aprofunde seus conhecimen-


tos sobre o assunto gestão de conflitos. Disponível na biblioteca virtual da
USF. Acesso em: 21 jul. 2019.

O conflito de valores é mais comum do que você imagina, por


isso, na visão de Bennett (2014), as pessoas buscam vagas de em-
prego em empresas cujos valores são convergentes com os seus.
Evidentemente, as pessoas devem ter a clara noção de que o
mundo não é perfeito, portanto, será inevitável haver algumas di-
ferenças entre os valores organizacionais e individuais, cabendo
às pessoas se adaptarem, pois, de outra forma, dificilmente en-
contrarão a vaga de trabalho ideal. Lembre-se que a família deve
ter a preocupação em preparar seus membros para o conflito de
valores quando esses mantiverem relações com outras pessoas
ou grupos sociais.
Você se imagina trabalhando em uma empresa cujos valores são
completamente opostos aos seus? Pois é, sabemos que há diferen-
ça entre o mundo ideal e o real e, em ambos, você pode fazer suas
escolhas. Adaptar-se a um ambiente em que há algumas diferenças
entre os valores, convenhamos, não seria nada difícil, pois as pesso-
as possuem capacidade de adaptação. Porém, ter que sair de casa
diariamente para um ambiente que provoca significativo descon-
forto, certamente, além de desagradável, leva a pessoa ao limite da
tolerância.
w w w. u s f . e d u . b r

Evitar situações como essa é fundamental para ambos. O cola-


borador, ao perceber a convergência de valores, atua proativamente
com motivação, ajudando a empresa, que vê seus resultados am-
pliarem sua capacidade competitiva.
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Não se iluda, os valores influenciam a capacidade de trabalho das


pessoas e o ambiente de trabalho. Por isso as empresas atuam nes-
sa área com o objetivo de evitar fuga de esforços, conflitos internos
e tantos outros malefícios que a distorção ou a interpretação, ou
mesmo o distanciamento entre os valores organizações e individu-
ais podem acarretar no seu ambiente.
Dessa forma, a união entre as pessoas no ambiente de trabalho é

ÉTICA E CIDADANIA
muito importante para os resultados das empresas.

Figura 2.5: Resultado positivo com a união

Fonte: Plataforma Deduca (2019).


Vamos deixar mais claro: você pode se adaptar aos valores or-
w w w. u s f . e d u . b r

ganizacionais, afinal de contas, dentro do razoável, isso é perfeita-


mente factível. Difícil e complexo é atuar em empresas que atuam
de forma antiética. Nesses casos, Bennett (2014, p. 17) afirma que o
indivíduo tem três opções:
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Primeira opção
Aceitar o modo como a empresa faz negócios e tentar se adaptar,
sem ficar pessoalmente envolvido em decisões antiéticas;
Segunda opção
Procurar emprego em outro lugar e deixar a organização;
Terceira opção
Aprender a ficar sozinho significa ser a pessoa que tenta mudar de
dentro a organização antiética. Esse papel é extremamente estressante
ÉTICA E CIDADANIA

e, com frequência, exige uma boa dose de coragem pessoal.


De forma geral, as escolhas apresentadas por Bennett (2014) po-
dem ser resumidas da seguinte forma:

Diagrama 2.1: Escolhas

Aceitar a
situação

Deixar a
empresa

Fazer algo
a respeito
w w w. u s f . e d u . b r

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).


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Tudo inicia pela satisfação pessoal com o trabalho, em pertencer


ao grupo social a partir de relacionamentos que têm por fundamen-
tos valores.
A questão dos valores, da ética no ambiente de trabalho, não se
trata apenas de uma questão individual, afinal, atualmente as em-
presas estão atuando no sentido de formalizar seus códigos de con-
duta, isto é, definem diretrizes para os comportamentos desejáveis
no âmbito da empresa e fora dela.
Bennett (2014, p. 21) apresenta alguns valores comumente iden-

ÉTICA E CIDADANIA
tificados nas empresas que se preocupam com sua imagem no mer-
cado, principalmente em relação ao seu público-alvo.

1. Demonstrar honestidade e justiça


• Seguir todas as regras e regulamentos. Procurar orientação
sempre que estiver em dúvida.
• Apresentar as informações com precisão, sem enganos nem
exageros.
• Comunicar-se com clareza e honestidade.
• Tratar os outros com justiça e honestidade.

2. Respeitar os outros
• Colocar sempre a segurança em primeiro lugar.
• Proteger o meio ambiente ao fazer seu trabalho.
• Tratar todos com civilidade e respeito.

3. Assumir responsabilidades
• Ser responsável pelo que diz e faz.
• Obter confiança atendendo aos compromissos.
• Seguir políticas, padrões e procedimentos.
• Procurar orientação sempre que estiver inseguro.
Agora chegamos ao ponto de você ter claro que os valores indivi-
duais e coletivos podem ser facilmente acompanhados e percebidos
na conduta das pessoas, tanto no ambiente das empresas, como na
w w w. u s f . e d u . b r

sociedade.
Mas, afinal de contas, o que é valor? Passos (2006, p. 52) afirma
que a palavra valor, “[...] do latim valore, é a qualidade pela qual nós
escolhemos alguma coisa em detrimento de outra”.
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Ainda no sentido conceitual, Cortina e Martinez (2005, p. 43) en-


tendem que os valores estão amplamente inseridos nos costumes
dos grupos sociais e “[...] são uma parte indispensável da identidade
de um povo em cada momento de sua história”.
Cunha (2012, p. 53) identifica que, superficialmente ou inicial-
mente, as pessoas associam a palavra valor a uma “[...] qualidade
das coisas ou ações [...] percebemos, depois, que não há coisas (ou
ações) que sejam valiosas em si mesmas”.
Isso significa que o valor às coisas ou objetivos e ações é atribu-
ÉTICA E CIDADANIA

ído pelas pessoas, em graus e de maneiras diferentes. Isso decorre


do sentido de ética e do entendimento da moral social do indivíduo e
do grupo social ao qual pertence ou está inserido.
Tamayo e Godin (1996, p. 64 apud Passos 2006, p. 53) indicam
que “[...] uma das funções dos valores organizacionais compartilha-
dos entre os membros da empresa é criar neles modelos mentais
semelhantes relativos ao funcionamento e missão da organização”.
O valor pode ser objetivo, entretanto, como elemento que está no
plano de análise do comportamento social das pessoas, gera apren-
dizados, por isso contribui com o desenvolvimento do comporta-
mento social, claramente percebido nas famílias, grupos sociais e
empresas.
w w w. u s f . e d u . b r
UNIDADE 3

ÉTICA E CIDADANIA
3.1 ÉTICA INDIVIDUAL E ÉTICA COLETIVA
NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL

O que uma empresa é ou pretende ser, o que o mercado pode esperar


do comportamento de uma empresa, entre outros aspectos, podem ser
visualizados em documentos institucionais, como o planejamento estra-
tégico e o estatuto da empresa, que apresentam visão, missão, valores e
objetivos.

Figura 3.1: Estatuto da empresa

w w w. u s f . e d u . b r

Fonte: Plataforma Deduca (2019).


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Entre outros aspectos, facilitam a identificação de informações


relevantes sobre a empresa, permitindo um melhor posicionamento
do mercado sobre o papel que pretende cumprir.
Mas o que a empresa espera de um colaborador, de um funcioná-
rio, normalmente não está descrito nos documentos mencionados,
mas sim em documentos que tratam do desempenho esperado pe-
las pessoas, do papel das pessoas na empresa, enfim, que retratam
as relações entre empresa e pessoas.
O código de conduta ou de ética é um dos documentos que
ÉTICA E CIDADANIA

identificam as expectativas da empresa em relação à conduta do


colaborador, oferecendo, inclusive, a descrição de procedimentos
adotados em diversas situações, como em reuniões com parceiros,
relações entre líderes e liderados, relacionamentos entre membros
de equipes, responsabilidades e aspectos que retratam a conduta
das pessoas no ambiente de trabalho.
O valor costuma atribuir utilidade ao seu objeto, que pode ser,
de fato, um produto ou serviço, ou um comportamento. O impor-
tante é perceber o sentido de utilidade, isto é, se um compor-
tamento possui valor por um grupo social, possivelmente, esse
é útil para manter a coesão, a harmonia, o desenvolvimento do
grupo, ou outra utilidade por ele percebida. Nesse sentido, Cunha
(2012, p. 53) se apropria de Kluckhohl (1968) ao afirmar que “[...]
um valor não é somente uma preferência, mas uma preferência
que se sente ou que se considera justificada”.
No âmbito das organizações, sendo compreendidas como um
microambiente social, portanto, uma coletividade de interesses,
há necessidade em se definir condutas, comportamentos, para
que os objetivos organizacionais sejam materializados no suces-
so do seu negócio, isto é, o ambiente organizacional jamais pode
ser como um cabo de guerra em que os interesses são disputados
entre grupos.
Cortina e Martinez (2005, p. 44) observam que as regras de
conduta institucionais precisam ser claras para que sua obser-
vância seja constante, possibilitando a aproximação de valores
w w w. u s f . e d u . b r

individuais e coletivos em torno de objetivos comuns, “[...] manei-


ras de se vestir, de se pentear, de cumprimentar etc., embora, em
princípio, sejam assuntos alheios a toda concepção moral, podem
assumir certa ‘carga moral’ em determinadas circunstâncias”.
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Os comportamentos das pessoas variam em ambientes diver-


sos, no relacionamento com pessoas diferentes daquelas em que
habitualmente estão acostumadas, em situações de maior ou me-
nor pressão, entre outros. Para evitar problemas a sua imagem, as
empresas criam procedimentos que devem ser seguidos por todos
os seus colaboradores.
Dessa forma, estabelece padrões na conduta dos seus colabo-
radores a partir dos seus objetivos, dos objetivos negociais institu-
cionais. Nesse sentido, Sá (2010) assevera que as organizações ou

ÉTICA E CIDADANIA
grupos sociais criam seus códigos de conduta ou de procedimentos
éticos, justamente para evitar com que o individualismo deturpe a
ética, e, portanto, tenhamos relações estabelecidas em interesses
momentâneos, fragmentados pela visão individual, pessoal, em de-
trimento do bem coletivo. Na sociedade e nas empresas, o coletivo
deve estar permanentemente atento ao individual, para que este
são se sobreponha ao primeiro.
Nesse sentido, Sá (2010, p. 53) destaca alguns aspectos que de-
vem ser de responsabilidade de cada um, evitando que práticas in-
dividuais se sobrepunham ao interesse coletivo:

Para evitar que práticas individuais se sobreponham ao interes-


se coletivo é preciso:

Compreender a necessidade de limitar a liberdade individual a


uma disciplina de convivência harmoniosa com seus semelhan-
tes.

Ser menos fantasioso e mais prático.

Harmonizar saber, crença, inteligência e sentimento.

Agir racionalmente controlando a emoção, a fé e a crença.


w w w. u s f . e d u . b r

Considerar que o interesse econômico é relevante, mas não o


preponderante sobre o interesse humano.
Fonte: Elaborada pelo autor (2019).
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Esses aspectos dizem respeito diretamente à ideia de que os va-


lores consagrados pela coletividade devem ser sistematicamente
comunicados para não caírem no esquecimento dos indivíduos ou
grupos menores, pois, vieses egoísticos na conduta pessoal ou de
pequenos grupos podem criar desarmonias sociais graves.
No diagrama 1.3, você confere um código de ética universal, co-
nhecido, reconhecido e legitimado pela coletividade mundial, con-
tendo ações condenáveis pela sociedade, tanto do ponto de vista
moral como criminal.
ÉTICA E CIDADANIA

Diagrama 3.1: Dez mandamentos

1 Amar a Deus sobre todas as coisas.

2 Não tomar seu santo nome em vão.

3 Guardar domingos e festas.

4 Honrar Pai e Mãe.

5 Não matar.

6 Não pecar contra a castidade.

7 Não roubar.

8 Não levantar falso testemunho.

9 Não desejar a mulher do próximo.


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10 Não cobiçar as coisas alheias.


icnit domsiue hbin ymmunon

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).


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Independente do credo religioso ou mesmo para o ateu, alguns


aspectos abordados nos 10 mandamentos, quando cometidos, são
reprovados pela coletividade e por isso algumas condutas assumem
valores culturais que não necessariamente seriam passíveis de for-
malização ou sistematização. Todos nós sabemos que ninguém tem
o direito de tirar a vida de outrem, nem mesmo de roubar ou pegar
bens de outra pessoa sem autorização.
Por exemplo, atos de corrupção, que são completamente an-
tiéticos, têm sua legislação punitiva, além de os códigos morais

ÉTICA E CIDADANIA
condenarem esse tipo de ação. Quando se aborda esse assunto,
devemos ter claro que atos de corrupção fazem parte da história
humana, pois as pequenas ou grandes ações de corrupção são
desdobramentos da conduta meramente antiética. Em alguns
países, ao serem descobertos, os corruptos cometem suicídio,
pois sabem que a moral coletiva condenará não somente o cor-
rupto, mas também seus familiares. Em outros locais, os corrup-
tos, mesmo depois de pegos, declaram inocência. Nesses casos,
certamente a moral social não é rígida e consistente o suficiente
para condenar o corrupto. Também nesses casos a própria legis-
lação criminal costuma ser branda com os antiéticos.
As regras de conduta têm um papel importante no controle
do comportamento individual, pois é da natureza humana pensar
primeiro no bem-estar pessoal, para depois agir em benefício co-
mum e por isso as pessoas faltam com a verdade, desrespeitam
os valores sociais estabelecidos, manipulam regras de convivên-
cia, estabelecem alianças por interesses particulares. A capaci-
dade de raciocínio humana pode ser empregada para ações boas
ou más. Dessa forma, o coletivo atua sempre sobre o individual,
limitando sua ação.
Convenhamos, é bastante simples raciocinar sobre o papel do
que chamamos de hierarquia ética ou controle da conduta ética
coletiva sobre comportamento individual, pois já tivemos muitos
exemplos de indivíduos ou grupos que tentaram fazer com que a so-
ciedade ou a coletividade tornasse legítimas suas práticas. Em resu-
w w w. u s f . e d u . b r

mo, objetivavam subjugar interesses coletivos, criando um perigoso


cenário de ruptura de relacionamentos sociais, portanto, colocando
em risco a harmonia coletiva.
36
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Então, podemos agora claramente entender o dito popular “a liber-


dade de uma pessoa termina quando começa a liberdade de outra pes-
soa”. Ultrapassar essa fronteira é muito perigoso, por isso a sociedade
ou a coletividade limita nossas liberdades individuais.
Agora chegamos a mais uma materialidade da ética, facilmente
percebida no nosso cotidiano. A liberdade e a conduta das pessoas
são definidas formalmente por meio de regras, normas, leis, que são
socialmente ou coletivamente aceitas, consagradas, legitimas, pre-
ÉTICA E CIDADANIA

vendo punições aos que as descumprirem.

3.2 ÉTICA APLICADA: CONDUTA


HUMANA EM GRUPOS
Pelo apresentado, você deve perceber no seu cotidiano atos
éticos e antiéticos, deve testemunhar diariamente o desrespeito a
valores sociais e organizacionais. Isso ocorre porque nem o mundo
e nem as pessoas são perfeitas. Somos suscetíveis a erros, alguns
reconhecemos e com outros não fazemos o mesmo.
Certamente a maioria das pessoas que está em uma fila no trân-
sito de uma autoestrada se indigna com os motoristas que cortam
caminho pelo acostamento, que, além de ser um ato passível de pu-
nição no rigor da lei, é imoral. A pessoa que comete tal conduta o faz
para levar vantagem em relação aos demais, que estão cumprindo
com a lei e que reconhecem a prática da vantagem como antiética,
portanto, moralmente condenável.
Mesmo condenável, o exemplo acima é corriqueiro, pelo menos
no trânsito brasileiro, e tanto faz, pode ser em uma autoestrada, em
uma metrópole, ou mesmo em um pequeno vilarejo. Se for possível,
o motorista brasileiro vai tentar levar vantagem de alguma situação.
Há diversos fatores que levam as pessoas a cometerem atos an-
tiéticos, mas, o que não devemos pensar é que todas as ações antié-
ticas são tomadas de forma involuntária, inconsciente.
A seguir, verificamos um grande problema que a sociedade co-
meça a enfrentar como um ato que, de involuntário, passou a cons-
w w w. u s f . e d u . b r

ciente, pois já dispomos de legislação que proíbe o uso de aparelhos


celulares em certos ambientes ou situações.
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Figura 3.2: Dirigindo e usando o celular

ÉTICA E CIDADANIA
Fonte: Pixabay (2019).
Só uma olhadinha! Essa é uma expressão conhecida quando
as pessoas fazem uso do aparelho de celular em situações em
que não deveria cometer tal ato. No trabalho, no lazer, na igreja,
na escola, no volante, no restaurante, enfim, as situações são di-
versas. Como dissemos, algumas são proibidas por lei, e outras,
convenhamos, constrangedoras, isto é, condenadas pela moral,
mesmo assim, as pessoas simplesmente o fazem. Quer dizer, a
vontade individual suplanta a moral coletiva, entretanto, a con-
denação não é somente velada, pois as demais pessoas podem
também executar a mesma ação.
Você sabia que empregados norte-americanos perdem 5 horas de
trabalho por semana usando o celular para fins particulares? Usar ce-
lular no trabalho pode gerar demissão, e mais, por justa causa. Aces-
se o endereço e confira novidades e curiosidades sobre o assunto:
http://economia.uol.com.br/empregos-e-carreiras/noticias/reda-
cao/2017/08/07/celular-no-trabalho-pode-gerar-demissao-numero-
w w w. u s f . e d u . b r

de-casos-deve-aumentar.htm. Acesso em: 27 jul. 2019.

No trabalho, especificamente, o coletivo não reprova explicita-


mente, pois todos podem se deparar com a mesma situação, entre-
38
PÁGINA
ÉTICA E CIDADANIA

tanto, não é desejável pelas empresas que constantemente seus co-


laboradores tenham que interromper suas atividades para atender
alguma necessidade familiar.
De fato, todos podem se ver envolvidos em situações imprevistas
com a família, que inevitavelmente influencia o desempenho no traba-
lho. Por isso Bennett (2014, p. 29) destaca alguns aspectos que a pes-
soa deve atentar para manter o controle das atividades no trabalho,
sem descuidar das necessidades familiares, e vice-versa:

VOCÊ TEM O CONTROLE DE SUA VIDA


Se desejar fazer mudanças, você é quem deve efetuá-las.
Avalie suas prioridades
O que é mais importante – seu trabalho ou a família?
Seja realista
Seja realista quanto às expectativas que estabelece para si.
Converse
w w w. u s f . e d u . b r

Converse com os membros da família a respeito de seus de-


safios profissionais.
Converse também com seu supervisor, mas tente não trans-
formar os comentários em exigências.
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Foco
Permaneça focado no ambiente em que se encontrar.

Lembre-se que a empresa e seus colegas de trabalho, as pessoas


de convívio, os familiares, enfim, todos que você se relaciona pos-
suem alguma expectativa em relação à sua conduta. De fato, apesar
de as pessoas desempenharem diferentes papéis, profissional, pai,
mãe, estudante, esposo, esposa, entre outros, que fazem parte do
dia a dia de qualquer indivíduo, tudo isso é feito por apenas uma

ÉTICA E CIDADANIA
pessoa, que é influenciada por eventos múltiplos que ocorrem em
seu cotidiano.
Apesar dessa complexidade, as pessoas interiorizam os valores
familiares, profissionais, sociais, que definem sua conduta e limitam
que seu comportamento se torne completamente diverso ao dos
demais membros da sua família, trabalho ou grupo social.
É importante observar que toda sociedade, por mais rudimentar
e simples que seja, transfere seus valores por meio das suas insti-
tuições sociais, como a escola, a família, a igreja, entre outras. As
instituições sociais assumem papel fundamental na disseminação e
configuração do comportamento individual socialmente aceito, por
isso você dificilmente vai perceber grandes discrepâncias entre os
valores que você aprende na família, com os valores existentes em
outras instituições sociais, até mesmo nas empresas privadas.

w w w. u s f . e d u . b r
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PÁGINA

CONCLUSÃO
Olá estudante, nessa unidade vimos que a ética, a moral e os va-
lores são importantes elementos ordenadores do comportamento
das pessoas em empresas, grupos sociais, famílias e em qualquer
ÉTICA E CIDADANIA

parte ou setor da sociedade.


Para isso, faz-se uso de instituições sociais como a escola, a igre-
ja, as entidades de classes, os partidos políticos, instituições oficiais
do Estado ou da sociedade civil.
Vimos também que as empresas possuem valores que visam a
facilitar a inserção das pessoas em seu ambiente, o trabalho em
equipe, entre outros elementos que possibilitam a identificação éti-
ca e moral em um ambiente controlado, como o das empresas. Por
isso, as organizações procuram criar as condições para que as pes-
soas melhor se adaptem ao seu ambiente, fazendo a gestão dos ine-
vitáveis conflitos entre pessoas no seu espaço. Esses conflitos são
comumente originados em disputas por espaços ou por diferenças
nas visões de mundo individuais.
Assim compreendemos que são as pessoas que devem se adap-
tar aos valores organizacionais, mesmo que esses sofram mudan-
ças ao longo do tempo.
Além disso, observamos que há como materializar os valores e o
comportamento ético desejado, por meio de códigos, leis e normas.
Mecanismos que sistematizam regras de conduta, por isso a ética
coletiva limita o comportamento individual.

Conheça um pouco mais sobre as convergências dos valo-


res individuais e organizacionais. Disponível na biblioteca vir-
tual da USF
w w w. u s f . e d u . b r
41
PÁGINA

ÉTICA E CIDADANIA
REFERÊNCIAS
BENNET, C. Ética profissional. São Paulo: Senac, 2014.
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. A história dos códigos de
ética médica. Pensar e dizer, Brasília, maio-jun. 2009. Disponível na
biblioteca virtual da USF. Acesso em: 26 jul. 2019.
CORTINA, A.; MARTINEZ, E. Ética. São Paulo: Loyola, 2005.
CUNHA, S. S. Ética. São Paulo: Saraiva, 2012.
FRIEDRICH, T. L.; WEBER, M. A. L. Gestão de conflitos: trans-
formando conflitos organizacionais em oportunidades. CRAS-RS,
Porto Alegre, 14 jan. 2014. Disponível na biblioteca virtual da USF.
Acesso em: 26 jul. 2019.
PASSOS, E. Ética nas organizações. São Paulo: Atlas, 2006.
SÁ, A. L. de. Ética profissional. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

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UNIDADE 4
ÉTICA E CIDADANIA

ÉTICA PROFISSIONAL
4.1 O SER HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES

Desde sempre as pessoas são fundamentais para o desenvolvimento


das empresas, pois aprendem, agregam, contribuem com suas
competências, habilidades e atitudes, ampliando as capacidades
competitivas das organizações.
Dessa forma, você deve partir da ideia de que, sem as pessoas, as or-
ganizações não alcançam a almejada sustentabilidade, ou, para ser mais
claro, não conseguem sobreviver.
As pessoas devem compreender que ao adentrarem em uma empre-
sa para desenvolver suas atividades profissionais, devem se comportar
conforme o elemento social, empresa, concebe como necessário e cor-
reto. Por isso é que as empresas definem atividades, procedimentos e
processos, para que cada pessoa saiba qual seu papel nessa estrutura e
o que a empresa espera da sua conduta.
Enquanto estrutura social, Sá (2010, p. 169) considera que “[...] to-
w w w. u s f . e d u . b r

das as capacidades necessárias ou exigíveis para o desempenho efi-


caz da profissão são deveres éticos”. Nesse sentido, surge aqui a com-
binação entre necessidades individuais e deveres e responsabilidades
institucionais.
43
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Além do conflito de valores, as pessoas precisam compreender


que todas as ações no âmbito organizacional precisam convergir
com o negócio, portanto, são racionais, objetivas e com propósitos
definidos. Não queremos dizer com isso que não existe subjetivida-
de nas tomadas de decisão, mas, convenhamos, se o negócio é que
gera sustentabilidade à organização, então, por que ela agiria dis-
tante do seu negócio?
A figura 4.1 apresenta o símbolo máximo da racionalidade e ca-
pacidade subjetiva humana, o cérebro, que representa ao mesmo

ÉTICA E CIDADANIA
tempo, a razão e a emoção.

Figura 4.1: Cérebro Humano: razão e emoção

Fonte: Plataforma Deduca (2019).

O cérebro nos dá a capacidade de distinguir entre certo e erra-


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do, bom e mau, entre outros aspectos ligados à ética e à moral que
são amplamente trabalhados pelas empresas, visando manter seus
colaboradores focados e contribuindo continuamente para a expan-
são do negócio.
44
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Na posição de colaborador de uma empresa, possivelmente você


não perceberá mal algum em usar o computador e a impressora
para elaborar e imprimir um trabalho da faculdade. Mas inverta os
papéis, e imagine você na figura de proprietário da empresa, será
que a percepção se manteria? Lembre-se que a Ética não deve ser
aplicada convenientemente, mas ela deve estar à frente de todas as
ações do cotidiano.
ÉTICA E CIDADANIA

Imprimir um trabalho particular na impressora da empresa, usar


o tempo do trabalho para se dedicar às atividades de foro privado,
são muitas as ações que podem ser vistas por diferentes atores
como éticas ou antiéticas. Isso depende também do papel que cum-
pre na empresa, da sua visão de mundo, e outros fatores.
Para evitar situações constrangedoras, as empresas costumam
elaborar manuais de procedimentos e condutas, objetivando nivelar
o comportamento das pessoas no ambiente de trabalho, tornando
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coletivo o conhecimento sobre os valores e as práticas éticas, pre-


servando a empresa.
Dentre as diversas responsabilidades das empresas, uma delas
é a de oferecer totais condições para que seu colaborador desem-
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penhe ao máximo suas atividades. Dessa forma, disponibiliza com-


putador, impressora, caneta, lápis, veículo, telefone, mesa, e outros
instrumentos usados diariamente nas atividades laborais. Do seu
lado, os colaboradores devem ou deveriam saber que tais materiais
devem ser utilizados somente em suas atividades laborais.
Bennett (2014, p. 43) considera que “[...] o aumento do uso da
tecnologia no local de trabalho nos últimos vinte anos trouxe novas
preocupações e exige que decisões éticas sejam tomadas”.
A mesa ou estação de trabalho é reconhecida como o espaço re-

ÉTICA E CIDADANIA
servado do profissional, sendo considerada, desde que guardadas
as devidas proporções, como o seu espaço íntimo na organização, o
lugar da empresa com o qual ele melhor se identifica. Espera-se que
nenhum colega vasculhe as gavetas a procura de algo, mesmo um
documento importante para a empresa. Nas gavetas, além de mate-
riais relativos ao trabalho, as pessoas costumam guardar materiais
de uso pessoal e, em muitos casos, documentos pessoais.
Isso ilustra bem a noção de ética no ambiente de trabalho. A em-
presa tem, por direito, abrir as gavetas de qualquer mesa sua e em
suas dependências, mas é o bom senso, a moral, a ética, uma re-
gra precípua da boa convivência que faz com que as pessoas não
mexam no espaço dos colegas. Convém destacar que o profissional
deve ter a visão muito clara de que aquele espaço que ocupa, de
fato, não é seu, é da empresa.
Veja esse caso de como uma pessoa pode tomar para si algo
que não é seu, fazendo uso incorreto de um instrumento destina-
do apenas para suas atividades profissionais. Um deputado fede-
ral brasileiro foi flagrado no plenário, em plena sessão legislativa,
com um aparelho celular da Câmara dos Deputados, assistindo
um vídeo pornográfico. Tudo indica um ato, no mínimo, antiético,
mas a autoridade parlamentar não sofreu punição, nem mesmo
teve sua atenção chamada pela instituição, e, com base no seu
comportamento, não se sentiu constrangido.
Entretanto, sabemos que eticamente sua atitude deveria ser re-
provada pela instituição, cabendo uma advertência formal, para que
w w w. u s f . e d u . b r

esse tipo de comportamento não volte a se repetir, por encontrar-


se distante dos princípios organizacionais. Além disso, por ser uma
figura pública e estar de posse de um bem público, deveria também
pedir desculpas ao contribuinte pelo erro cometido.
46
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A imagem de uma empresa é influenciada pela conduta de seus co-


laboradores, por isso, o uso de instrumentos de comunicação institu-
cional, somente pode ser utilizado para fins laborais, como exemplo, o
e-mail institucional, o telefone e todos os demais instrumentos dispo-
nibilizados pela empresa para o exercício da profissão.
O telefone é um dos importantes canais de comunicação para
qualquer empresa, por isso, assim como os demais, deve ficar cla-
ro para todos os colaboradores os procedimentos de uso. Você vai
concordar que alguns procedimentos são básicos ao se usar um
ÉTICA E CIDADANIA

telefone, por exemplo, ao atender fazer uma saudação cordial e


identificar-se pelo nome e local de trabalho. Essa postura deve ser
adotada para ligações externas ou internas, pois, especialmente em
empresas de grande porte, em que corriqueiramente os colabora-
dores não se conhecem, sendo reconhecidos pelo número da ma-
trícula e departamento em que atua, esse tipo de procedimento se
faz necessário.
A máxima respeite para ser respeitado é fundamental ser seguida
nesses casos, afinal de contas, a chance de um colaborador manter
contato, seja por e-mail ou telefone, com alguém do ambiente interno
ou externo que não conheça é grande. Por isso, ser cordial, atender as
pessoas com respeito e ética, ser claro e objetivo na informação são
essenciais para qualquer pessoa ou empresa.
Para evitar problemas maiores na comunicação interna e exter-
na, é comum que as empresas criem seus planos de comunicação,
indicando formas de redigir documentos, postura em reuniões, uso
da internet, e-mail, telefone,
uso de documentos institu-
cionais etc.
As regras de conduta nas
empresas são importantes,
para que se evite ao máximo
os efeitos das fofocas, boatos,
enfim, a ação das pessoas
que sempre enxergam os as-
w w w. u s f . e d u . b r

pectos negativos mais que os


positivos em qualquer evento.
Você sabe que toda empresa
possui uma rádio peão, e é
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PÁGINA

comum também que as empresas ou equipes de trabalho tenham


o que se chama de sabotadores silenciosos, que atuam sempre, vi-
sando desagregar, confundir e semear a discórdia, fazer oposição a
qualquer comunicação da empresa, boicotar pessoas, entre outros.
As empresas se configuram como um ambiente controlável, di-
nâmico, competitivo, em que a competição é real e está presente
em muitas relações, por isso, esse é um ambiente complexo, como
ilustra a figura a seguir.

Figura 4.2: Complexidade do ambiente organizacional

ÉTICA E CIDADANIA

Fonte: Plataforma Deduca (2019).


A complexidade é inerente ao ambiente organizacional, contu-
do, por vezes se assevera, principalmente quando a equipe está di-
vidida, está insatisfeita com atitudes dos principais executivos da
empresa ou quando há entre os colaboradores, sabotadores. Para
w w w. u s f . e d u . b r

Bennett (2014, p. 63), “[...] um sabotador silencioso é aquele cujos


jogos sutis e subversivos podem de fato prejudicar os relaciona-
mentos de trabalho, a produtividade, a satisfação com o emprego
e a confiança nos colegas”.
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Bennett (2014) adiciona que os sabotadores silenciosos comu-


mente agem da seguinte forma:

Ações dos sabotadores silenciosos

Guardam consigo informações úteis ao trabalho.


ÉTICA E CIDADANIA

Assumem o crédito por algo feito por outra pessoa.

Não expressam reconhecimento e apreciação aos colegas


quando fazem algum trabalho diferenciado.

Perdem tempo em atividades não produtivas para os projetos.

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

Os sabotadores silenciosos são mais comuns do que se imagina,


poucas empresas não têm os seus. Sob o ponto de vista ético, evi-
dentemente que as ações dos sabotadores silenciosos são conde-
náveis, por isso, dependendo do perfil da empresa, não prosperam,
e, quando descobertos, são demitidos.
Os planos de comunicação e outros documentos institucionais
costumam apresentar diversos aspectos das relações entre as pes-
soas nas empresas, em especial, àquelas que envolvem os relaciona-
mentos entre líderes e liderados ou supervisores e empregados. Es-
ses são colaboradores que possuem relações de trabalho, mas estão
posicionados hierarquicamente em níveis diferentes.
Gerentes, chefes e supervisores que praticam atos antiéticos
costumam tentar de alguma forma corromper alguns dos seus co-
mandados. Uma das formas mais comuns de perceber isso tem re-
lação com o tratamento diferenciado do chefe para com seus co-
w w w. u s f . e d u . b r

mandados. Nesse caso, é possível perceber que com alguns são


aplicadas as regras institucionais, com até certo grau de autoritaris-
mo, enquanto que para poucos há regalias.
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A figura 4.3 ilustra a postura antiética e autoritária de um chefe


em relação ao colaborador.

Figura 4.3: Chefe autoritário

ÉTICA E CIDADANIA

Fonte: Plataforma Deduca (2019).

A pior coisa que pode acontecer a uma equipe de trabalho é ter


alguém que atua como leva-e-traz para o chefe. Esse tipo de ati-
tude gera desconfiança, chegando à revolta da equipe, costuma
desagregar, desmotivar, enfim, comprometer a produtividade da
equipe e da empresa.
Outra prática recorrente, mas absolutamente condenada pe-
las empresas, é o assédio sexual. Muitas pessoas investidas em
w w w. u s f . e d u . b r

cargos fazem uso da sua posição hierárquica para se aproveitar


desse tipo de situação. Além de fazer parte dos códigos de con-
duta das empresas, o assédio sexual é crime, especificado no có-
digo penal brasileiro.
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A Lei Federal nº 10.224, de 14 de maio de 2001, versa sobre o crime de


assédio sexual, em seu artigo 216 A e dispõe que constranger alguém com
o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o
agente da sua condição se superior hierárquico ou ascendência inerentes ao
exercício de emprego, cargo ou função. Pena: detenção de um a dois anos.
A lei nº 10.224 altera o decreto-lei 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Leia
ambos e observe as alterações, pois elas refletem a evolução da percepção da
sociedade em relação ao tema.

As diferenças entre essas normativas expõem claramente a evo-


ÉTICA E CIDADANIA

lução da sociedade em relação ao tema, requerendo, no atual mo-


mento, novas condutas de empresas e de seus colaboradores.
Relações íntimas ou romances no local de trabalho são indese-
jados pelas empresas, pois, pessoas que mantêm relações afetivas
no local de trabalho tendem a se proteger, podendo esse sentimento
de proteção prejudicar o desempenho, alterando negativamente a
conduta dos envolvidos.
A figura 4.4 ilustra uma atitude pouco convencional para os pa-
drões éticos no ambiente de trabalho.

Figura 4.4: Atitude antiética


w w w. u s f . e d u . b r

Fonte: Plataforma Deduca (2019).


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As empresas investem para que as pessoas tenham, no seu local


de trabalho, relações positivas, éticas, iguais e capazes de solidificar
o ambiente organizacional.
Por isso, atualmente, as empresas procuram eliminar proble-
mas como esses, criando processos institucionais que, depen-
dendo da situação, são tratados somente pela cúpula da empre-
sa, sem a participação da gerência média. Um exemplo disso são
os canais de reclamação dos empregados em relação à conduta
dos chefes. Após encaminhados, os relatos são apreciados e de-

ÉTICA E CIDADANIA
batidos entre os principais executivos. Deve-se destacar que as
reclamações dos colaboradores em relação aos seus superiores,
não se limitam ao campo do assédio sexual, mas, pode estar re-
lacionado à falta de comprometimento, atitudes antiéticas, entre
outras, que, sob o ponto de vista empresarial, comprometem o
desempenho do negócio.
Bennett (2014, p. 94) argumenta com muita propriedade que, “[...] a
mais inocente das intenções pode dar origem a situações complicadas,
que exigem processos legais para serem resolvidas”.
O que se percebe, é que atualmente as ações individuais podem,
de fato, comprometer a imagem organizacional, criar rupturas in-
ternas, enfim, influenciar negativamente no comportamento das
equipes, afetando o resultado da empresa. Por isso, normatizar o
comportamento das pessoas no ambiente organizacional ainda
continua a ser uma das estratégias mais utilizadas para coibir con-
dutas antiéticas.

4.2 ÉTICA E PROFISSÃO


Antes de evoluirmos no tópico, você deve ter claro que cada pro-
fissão requer habilidades e conhecimentos próprios, pois cada qual
possui atividades específicas.
Sá (2010, p. 155) considera que:
A profissão, como a prática habitual de um tra-
balho, oferece uma relação entre necessidade
e utilidade, no âmbito humano, que exige uma
w w w. u s f . e d u . b r

conduta específica para o sucesso de todas


as partes envolvidas, quer sejam os indivíduos
diretamente ligados ao trabalho, quer sejam os
grupos maiores ou menores onde tal relação se
insere.
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As empresas têm em seu escopo ético o padrão de conduta de-


sejado pela sociedade, por isso alguns comportamentos são consi-
derados e facilmente reconhecidos por toda a sociedade como éti-
cos ou antiéticos, por possuírem um caráter universal. Apesar disso,
as especificidades dos comportamentos dos profissionais são tipifi-
cadas em instrumentos normativos, comumente conhecidos como
códigos de ética.
Em uma relação comercial, há necessidade de haver confiança
entre as partes. Essa relação tem início quando ocorre uma deman-
ÉTICA E CIDADANIA

da por parte do consumidor, que, via de regra, deposita fé no profis-


sional que atende seu chamado.
Segundo Sá (2010, p. 228), no relacionamento comercial ético,
especialmente por parte do profissional, há necessidade da obser-
vância de alguns aspectos:

Diagrama 2.1: Aspectos para o relacionamento comercial ético

Usar de
Ouvir
objetividade e
atentamente
O uso de transparência
o cliente,
franqueza nas respostas
estabelecendo
com o cliente às dúvidas ou
uma comunicação
demandas do
resolutiva
cliente

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

A não observância desses aspectos pode levar à dissolução da


relação por meio do rompimento contratual, evidentemente, após a
constatação de práticas antiéticas.
Ser respeitoso com os pares de trabalho, com os colegas de
profissão, é fundamental para que qualquer profissional, pois é por
meio da ética que as equipes de trabalho se mantêm coesas e moti-
vadas, além de fortalecer as relações profissionais no ambiente de
w w w. u s f . e d u . b r

trabalho, é salutar para as relações pessoais.


A figura 4.5 ilustra a harmonia entre os membros de uma equipe
de trabalho, cujos resultados para a empresa certamente estarão
dentro das expectativas.
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Figura 4.5: Equipe em harmonia

ÉTICA E CIDADANIA
Fonte: Plataforma Deduca (2019).

Parece óbvio, mas esses são aspectos que as pessoas aprendem


desde cedo, pois o respeito ao outro faz parte da cultura, da moral so-
cial, portanto, trata-se de uma prática ética universal. Mesmo assim,
comumente os códigos de ética profissionais reforçam esses elemen-
tos, fazendo o profissional perceber com clareza que não está sozinho
em seu negócio ou em uma empresa, mas sim, que seu trabalho inte-
rage com outros ou mesmo que seus clientes dependem dos serviços
prestados e da confiança depositada.
Sá (2010, p. 238) considera que:
objetivamente, perante sua comunidade, o pro-
fissional tem deveres diversos, mas basicamen-
te o de sustentar a estrutura de organização
da comunidade à qual se vincula, protegendo o
conceito desta e o mantendo sempre elevado e
protegido.

Por isso os códigos de ética e os comitês de ética profissional atuam


visando manter os aspectos legais e éticos dentro dos padrões estabele-
cidos, mas, também, para que a classe profissional tenha uma boa ima-
gem perante a sociedade, merecendo seu respeito.
Havemos de concordar que todo profissional ingressa em uma car-
reira com expectativas, planos e interesses sociais, e esses são aspectos
legitimados e reconhecidos pelas classes, por isso o entendimento geral,
w w w. u s f . e d u . b r

estampado nos códigos de ética profissional, considera essas possibili-


dades, não permitindo que apenas os interesses pessoais se posicionem
acima da ética do profissional ou do coletivo.
UNIDADE 5
5.1 VALORES, RESPONSABILIDADES E
ÉTICA E CIDADANIA

DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS NAS


ORGANIZAÇÕES

O local de trabalho é um ambiente social, isto é, não se configura em


um espaço em que as pessoas apenas exercem atividades de produção
de bens materiais ou serviços. Sendo assim, nesse ambiente há múlti-
plas relações e sentimentos que afloram diariamente, dependendo das
situações.
No diagrama 5.1, são apresentadas dicotomias de sentimentos pre-
sentes no espaço de trabalho.
Diagrama 5.1: Dicotomias de sentimentos presentes no espaço de trabalho

Frustração
X
Amor Satisfação Egoísmo
X X
Ódio Solidariedade

Desejo de
Esperança
vingança
X Sentimentos X
Descrença
Amizade

Alegria Medo
w w w. u s f . e d u . b r

X X
Tristeza Pertencimento Coragem
X
Isolamento

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).


55
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A dimensão da complexidade do ambiente social, que é o es-


paço de trabalho, pode ser claramente percebida na variação de
sentimentos individuais e, por vezes, coletivos, afinal de contas,
nesse ambiente há pessoas de origem em diferentes ambientes
sociais, mas que precisam manter intensas e continuadas rela-
ções, provocando mudanças comportamentais, ampliando a
complexidade do ambiente.
O relacionamento entre as pessoas e as organizações ocorre de

ÉTICA E CIDADANIA
várias formas, sob o ponto de vista da ética e da moral. Esses ocor-
rem formal e objetivamente, até informal e subjetivamente, haven-
do, sobretudo, uma relação de troca e compartilhamento, constan-
tes e continuados.
A troca ocorre também no ato de compra e venda de um produto
ou serviço, ou também na prestação de serviços de um funcionário,
que deposita seus esforços e habilidades na empresa, em troca de
uma remuneração.
O compartilhamento pode ocorrer de várias formas, como elogios
aos produtos e serviços feitos pelos clientes, pelo uso comum de logís-
tica entre a empresa e um fornecedor, ou ainda pelo uso de conheci-
mentos dos colaboradores no processo produtivo, consultivo, criador,
enfim, em vários processos do negócio da empresa.
Independentemente do tipo de relacionamento que uma empre-
sa possui com as outras pessoas, todos possuem responsabilidades
e deveres. As pessoas que são contratadas para atuar em uma em-
presa devem ter, por dever, conhecimento técnico sobre as ativida-
des que irá executar, mas deve também ter ciência dos valores que
guiarão sua conduta no ambiente organizacional.
Você sabe que as organizações são diferentes umas das ou-
tras, e que as profissões também o são. Seria muito simples para
qualquer pessoa fazer a escolha por uma profissão, seja um enge-
nheiro químico, cientista social, contador, economista, adminis-
trador de empresas, enfim, qualquer uma delas, mas a complexi-
dade reside em que a pessoa precisa saber que há peculiaridades
w w w. u s f . e d u . b r

nas atividades, e é seu dever conhecê-las. As frustrações com as


profissões iniciam justamente em função de a pessoa não conhe-
cer amplamente o escopo de tarefas da profissão escolhida, com
isso, não ocorre a relação prazerosa com o ofício da profissão.
56
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Sá (2010, p. 169), afirma que:


A profissão não deve ser um meio, apenas, de
ganhar a vida, mas de ganhar pela vida que ela
proporciona, representando um propósito de fé.
Seus deveres, nesta acepção, não são imposi-
ções, mas vontades espontâneas. Isto exige,
portanto, que a seleção da profissão passe pela
vocação, pelo amor ao que faz, como condição
essencial de uma opção.

Essa afirmação de Sá (2010) é relevante, sobretudo do ponto de


ÉTICA E CIDADANIA

vista ético, na medida em que ao atuar em uma profissão com von-


tade, motivação e amor, certamente a pessoa estará atuando com
zelo, procurando o conhecimento sobre as tarefas da profissão,
evitando erros nas atividades, que se configuram como o mais per-
nicioso problema que uma pessoa ou empresa pode ter. Trabalhos
mal feitos mancham a imagem de um profissional ou de uma em-
presa, acarretando problemas maiores como: processos judiciais,
perda de clientes, perda de espaço no mercado, falta de confiança
na marca, entre outros.
Para evitar problemas, as empresas procuram profissionais que
demonstram possuir capacidades básicas para o exercício profis-
sional. Sá (2010), destaca algumas dessas capacidades: abnegação,
aptidão, caráter, coerência, criatividade, determinação, disciplina,
eficácia, eficiência, empenho, espontaneidade, fidelidade, firme-
za, honestidade, lealdade, objetividade, parcimônia, perseverança,
pontualidade, prudência, receptividade, sensibilidade, sinceridade,
temperança, tolerância e zelo.
Evidentemente que cada uma dessas capacidades requer
deveres a serem cumpridos pelas pessoas em relação aos seus
múltiplos relacionamentos e responsabilidades no âmbito da vida
profissional.
Para Cunha (2014, p.138), “[...] só é dever o que aparece como ne-
cessitante perante a consciência pessoal”. Por isso, na visão desse
autor, existe uma diferença determinante entre dever e obrigação. O
dever satisfaz, enquanto a obrigação é executada por força externa,
w w w. u s f . e d u . b r

e muitas vezes não satisfaz, nem mesmo motiva, por implicar em


uma relação de subordinação. Cunha (2017, p. 137), ainda destaca
que, “[...] não existe sentimento de obrigação, enquanto é muito co-
mum falar-se em sentimento de dever”.
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A confusão entre dever e obrigação é bastante comum, mas quando


você compreende que existe esferas do dever, percebendo-as em suas
práticas diárias, fica mais fácil de entender as sutis diferenças entre es-
ses termos. Na visão de Cunha (2014, p.140), existem duas esperas dos
deveres, os particulares e os corporativos.
Particulares
Os particulares possuem relação com a expressão “lição de
casa”, isto é, são as tarefas que cumprimos em nossa vida pri-
vada, como exemplo, fazer os trabalhos escolares.

ÉTICA E CIDADANIA
Corporativos
Os deveres corporativos estão no plano profissional, como os
relativos ao cargo de presidente de uma empresa ou entidade
de classe.

Entender e saber a amplitude e a profundidade, isto é, a com-


plexidade das tarefas de uma profissão, torna a obrigação menos
pesada e o dever mais prazeroso.
Por certo, todas as pessoas que escolhem bem sua profissão, isto
é, estão convictos da sua vocação, tendem a ser felizes, realizadas,
enfim, pessoas mais produtivas do que aquelas que não souberam
explorar suas virtudes.
Cortina e Martinez (2013, p. 60) classificam as virtudes em
dois grupos:
Virtudes intelectuais Virtudes éticas

Inteligência Justiça

Ciência Veracidade

Sabedoria Amabilidade

Magnificência
Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

Essas virtudes estão presentes nas pessoas, entretanto, algu-


w w w. u s f . e d u . b r

mas sabem potencializá-las e isso é possível, na medida em que


cada indivíduo amplia sua visão de mundo, seus relacionamentos
sociais, e, até mesmo os conflitos de valores contribuem para que
isso aconteça.
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Você não deve ter dúvidas de que as pessoas são a verdadeira


fonte do conhecimento e da competitividade de qualquer organi-
zação, por isso todos os aspectos que envolvem a ética no âmbito
organizacional, devem ser tratados com a maior seriedade, tanto
quanto as estratégias dos negócios organizacionais o são. Quando
falamos em pessoas, estamos nos referindo a todas as pessoas que,
de alguma forma, mantém relações com as empresas.
Como saber se, ao entrar em uma loja, um cliente efetuará uma
compra volumosa, uma compra modesta, ou sairá apenas com uma
ÉTICA E CIDADANIA

informação?
Por desconhecer a po-
tencialidade dos clientes,
toda empresa deve ter uma
política de ética no atendi-
mento às pessoas, evitando
julgamentos superficiais e
aparentes, ou mesmo por
condição econômica e so-
cial. Com isso se evitam situ-
ações constrangedoras.

Parece inimaginável que uma empresa faça distinção entre seus


clientes, mas isso ocorre corriqueiramente no comércio, na indús-
tria, ou em qualquer ramo empresarial, tanto no setor privado, como
no público. Certamente você deve lembrar de muitas situações em
que esse tipo de coisa tenha ocorrido, mas, deixemos claro, trata-se
de uma postura antiética, da empresa e das pessoas que cometem
essas práticas.
Passos (2006) adverte que as empresas devem ter práticas
humanistas em relação às pessoas com quem interage, isso sig-
nifica conceber seu negócio tendo por base que seu valor princi-
pal é o ser humano.
A ética e a moral permeiam todas as relações estabelecidas no
ambiente organizacional, fazendo parte, consciente ou inconscien-
w w w. u s f . e d u . b r

temente, da prática das pessoas, por isso que cada um deve ter cla-
reza do seu papel nesse ambiente social, para então agir conforme
as regras da profissão e da empresa, cumprindo com suas respon-
sabilidades e seus deveres.
59
PÁGINA

5.2 VALOR SOCIAL DAS PROFISSÕES E


VIRTUDES PROFISSIONAIS
Em ambientes repletos de vícios, em que a desonestidade, a in-
verdade e o desrespeito imperam, a virtude não se faz presente. Se
você conhece alguma organização em que esses elementos estão
presentes, então tenha certeza de que se trata de uma organização
distante da moral social, por vezes condenada pela sociedade, por-
tanto tende não prosperar em seu negócio. A virtude organizacional
ou individual tem seus fundamentos no respeito.

ÉTICA E CIDADANIA
Sá (2010, p. 80) afirma que “[...] na conduta ética, a virtude é
condição basilar, ou seja, não se pode conceber o ético sem o vir-
tuoso como princípio, nem deixar de apreciar tal capacidade em
relação a terceiros”.
O respeito é essencial à virtude e à ética, portanto, é fundamental
às profissões, pois é ele que parametriza os relacionamentos entre
as pessoas, tanto no âmbito profissional, quanto fora dele.
Você já parou para pensar o que significa profissão? Sá (2010, p.
147), menciona que “[...] profissão provém do latim professione, do
substantivo professio [...] Na atualidade, representa trabalho que se
pratica habitualmente a serviço de terceiros, ou seja, prática cons-
tante de um ofício”.
As profissões têm papel social relevante, pois promovem a relação
equilibrada entre as pessoas, facilitam o compartilhamento de conhe-
cimentos, hábitos culturais, experiências de vida, criam e fortalecem
relações, ampliam o entendimento jurídico, sociológico, psicológico e
econômico do comportamento humano em sociedade.
Em seu cotidiano, as pessoas cumprem muitos papéis, traba-
lhador, pai, mãe, filho, esposo, esposa etc., sem mesmo tomar
consciência da importância social de cada um deles. No que
se refere às atividades profissionais, Sá (2010, p. 147) toma de
Cuvillier (1947) aspectos relevantes do papel social cumprido pe-
las profissões, conforme segue:
w w w. u s f . e d u . b r
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PÁGINA

1 – É pela profissão que o in-


divíduo se destaca e se realiza
plenamente, provando sua ca-
pacidade, habilidade, sabedoria
e inteligência, comprovando sua
personalidade para vencer obs-
táculos.

2 – Por meio do exercício profissional, consegue o homem elevar


ÉTICA E CIDADANIA

seu nível moral.

3 – É na profissão que o homem pode ser útil à sua comunidade


e nela se eleva e destaca na prática dessa solidariedade orgânica.
w w w. u s f . e d u . b r
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Esses aspectos facilitam a nossa percepção sobre o valor social


das profissões, independente do seu nível de interação com a socie-
dade, isto é, do tipo de serviço prestado para satisfazer as necessi-
dades humanas e sociais.
Deixemos de lado o serviço prestado diretamente à sociedade, e
passemos para o plano informacional. Você já pensou o quanto de
informações as profissões geram para a sociedade e como essas
informações podem ser úteis? Por exemplo, com um pouco mais de
atenção e investimentos públicos em campanhas publicitárias, as

ÉTICA E CIDADANIA
pessoas podem vir a saber como proceder em situações críticas,
tais como acidentes de trânsito, atendimento inicial a uma pessoa
passando por um mal súbito, características de doenças, eventos
climáticos extremos, entre outros.
São os profissionais que reúnem as capacidades para criar pro-
dutos ou serviços intensivos em informações como elementos faci-
litadores das tomadas de decisões das pessoas em eventos críticos.
Esse tipo de atividade reforça o compromisso das profissões para
com a sociedade, que, por sua vez, reforça o papel social das pro-
fissões.
Nesse momento, não estamos destacando nenhuma profissão,
mas, como as informações geradas em decorrências de suas ativi-
dades podem ajudar a sociedade, certamente você deve estar vis-
lumbrando as profissões que possuem esse perfil.
A figura 2.6 ilustra profissões de relevância para a sociedade.

Figura 2.1 Profissões relevantes à sociedade


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Fonte: Plataforma Deduca (2019).


62
PÁGINA

Outro aspecto importante, e mesmo determinante para a massi-


ficação das informações, diz respeito ao papel desempenhado pelas
novas tecnologias, que, apesar de facilitar enormemente a difusão
de informações, apresenta um já bem conhecido desafio à ética,
qual seja, a veracidade e credibilidade da informação.
Especialmente nas redes sociais, são constatadas facilmen-
te muitas informações falsas, denegrindo notórios profissionais,
pessoas comuns, políticos, autoridades públicas e empresas. Em
questão de horas, uma informação não verdadeira pode causar
ÉTICA E CIDADANIA

problemas significativamente sérios. Por isso que a fonte da infor-


mação também é outro elemento importante para as pessoas e
organizações.
As classes profissionais constituem um importante elemento
nesse cenário, afinal de contas, quando o Estado, por meio dos go-
vernos, resolve agir, precisa das classes profissionais para mobilizar
esforços. As classes representativas têm força para mover seus pro-
fissionais no entorno de ações que, de alguma maneira contribuem
com o desenvolvimento da sociedade, sendo o bem-estar social um
dos princípios que norteiam as ações classistas. Quando requeridas
à atuação, mostram seu potencial de conhecimento, atendendo às
necessidades da sociedade. Convém destacar que faz parte do es-
pírito da missão de toda entidade de classe agir concomitantemente
às necessidades da sociedade.
A ética ou a falta dela por parte de profissionais ou classes vem
sendo discutida em muitos fóruns, uma vez que, sobretudo nas
últimas três décadas, vivencia-se um intenso ritmo na direção do
comportamento individualista, que comumente relega a ética ao se-
gundo plano em qualquer tipo de atividade. Também tomou corpo
nos últimos anos a elevada concorrência por espaço no mercado,
e, quando isso ocorre, é comum que algumas pessoas e empresas
percam a noção do sentido amplo do significado da ética em suas
atividades profissionais.
Para agravar um pouco a situação, com a globalização, inúme-
ros países tiveram que se adequar ao novo cenário, apresentando
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projetos eticamente duvidosos, cujos desdobramentos promoviam


claramente o desmonte de estruturas cujas atividades focavam di-
retamente o bem comum, isto é, atendendo a missão precípua das
instituições públicas.
63
PÁGINA

Além desses, no Brasil, testemunhamos incursões de dirigentes


classistas cujos objetivos nada mais eram do que se projetarem pes-
soalmente, ou seja, usavam entidades de classes como trampolim,
especialmente para acessar a carreira política.
Esses aspectos influenciam no êxito das políticas públicas, com-
prometendo o papel de profissionais. Quando observamos um qua-
dro caótico em um hospital, podemos até imaginar que a política
pública de saúde não está satisfatoriamente sendo executada, en-
tretanto, entre a política pública e a população que necessita dos

ÉTICA E CIDADANIA
serviços, há diversos profissionais, como médicos, enfermeiros,
assistentes socais, entre outros, que têm sua imagem prejudicada,
primeiro por não conseguir atender toda a demanda e, em segundo,
por ver sua imagem questionada pelos pacientes e familiares. En-
tão, no valor social das profissões, devemos sempre compreender o
contexto em que as práticas profissionais estão em aplicação.
Quando nos deparamos com esse tipo de atitude, não deve-
mos julgar a profissão, mas sim o profissional, que não possui as
virtudes necessárias para o exercício ético e competente da sua
profissão.
Dessa forma, a entidade de classe deve julgar o profissional por
seus erros, e não deixar com que a sociedade faça seus julgamen-
tos contra a profissão. Atualmente se tornaram comuns notícias de
escândalos de corrupção em várias esferas do poder público e do
setor privado, entretanto, colocar todos os profissionais no mesmo
nível, convenhamos, consiste em um exagero injusto.
A confiança depositada em qualquer profissão decorre do histó-
rico que esta possui em relação aos serviços prestados à sociedade.
É dessa forma que ocorre a construção do valor social das profis-
sões que acontece de uma forma bastante básica, qual seja, a soma
das práticas individuais fortalece a imagem da profissão.
w w w. u s f . e d u . b r
UNIDADE 6
ÉTICA E CIDADANIA

6.1 ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES

Vivemos um momento conturbado, tanto no Brasil como fora dele,


em que os escândalos envolvendo empresas se avolumam e tomam
conta da mídia mundial. Empresas gigantescas muitas vezes se envol-
vem em confusão por manter profissionais antiéticos, ou por deixar com
que a ganancia pelo lucro ofusque a ética institucional.
Agir auferindo resultados econômicos faz parte das estratégias de
qualquer empresa, pois esse aspecto é inerente ao sistema capitalista
quanto fora dele, afinal de contas, o fator econômico consiste em um
dos pilares da sustentabilidade organizacional. Entretanto, fazer com
que os valores econômicos definam toda e qualquer estratégia pode sig-
nificar, em algum momento, riscos à empresa, pois a busca pelo lucro
costuma ofuscar as virtudes éticas e morais.
Por isso os valores éticos precisam sim fazer parte das estratégias
organizacionais, para que o lucro não cubra a organização com o manto
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da ganância.
Passos (2006, p. 65) argumenta que “[...] o reinado do econômico
sobre o social, apesar de continuar muito forte, está sendo muito ques-
tionado, e acredita-se, até mesmo, estar ameaçado”.
65
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Atualmente, com o uso das novas tecnologias, marcas globais


são afetadas por ações antiéticas praticadas por empregados ou
empresas terceirizadas, sofrendo com protestos e, em alguns ca-
sos, boicotes sociais sobre os produtos vinculados à marca.

As empresas que não cumprem com suas obrigações para

ÉTICA E CIDADANIA
com os consumidores podem ser alvo de campanhas negati-
vas nas redes sociais. Em 2013, por exemplo, várias empre-
sas tiveram suas marcas associadas a atos antiéticos perante
os consumidores, tendo suas marcas expostas na internet.
Desde informações erradas no rótulo, passando por boatos
de falta de higiene no processo de produção, até envolvimen-
to de executivos com corrupção. As marcas que agem de for-
ma antiética pagam o preço da uma exposição negativa na
grande rede. Levantamento da Revista Exame (https://exa-
me.abril.com.br/negocios/9-empresas-que-suaram-para-
nao-lesar-sua-reputacao-em-2013/), marcas como a Barilla,
Coca-Cola, Unilever, OGX e as demais empresas do até então
bilionário Eike Batista, sofreram com as sansões feitas pelos
consumidores e entidades de defesa do consumidor.

Se em alguns momentos as empresas perdem a noção da ética,


dos valores sociais, a sociedade ou parte dela fazem lembrar.
A ética organizacional não está descolada da ética e da moral
social, afinal de contas, se pensarmos bem, as empresas se confi-
guram como microambientes sociais, portanto, estão inseridas no
seio da sociedade. Dessa forma, se por um lado seu escopo ético
é influenciado pela sociedade, por outro, possuem aspectos éticos
próprios, relacionados a sua atuação no mercado.
Nasch (1993, apud Passos, 2006, p. 66) define a ética nas or-
ganizações como “[...] o estudo da forma pela qual normas mo-
rais pessoais se aplicam às atividades e aos objetivos de uma em-
presa comercial”.
Com isso, podemos afirmar que a ética no ambiente organiza-
w w w. u s f . e d u . b r

cional possui como objetivo regular as relações entre as pessoas, e


entre a instituição e o mercado, posto que há muitos conflitos entre
pessoas e entre as organizações e o mercado. Para tanto, a ética é
chamada para impor limites relacionais.
66
PÁGINA

Quando uma empresa é fundada, comumente os parâmetros éti-


cos começam a ser construídos, e não devemos nos iludir, o fato
é que a empresa investe esforços na prosperidade do seu negócio,
por isso, infelizmente, os aspectos éticos não caminham concomi-
tantemente ao desenvolvimento institucional. Como as regras do
mercado mudam rapidamente, a ética organizacional não acompa-
nha na mesma velocidade.
Quando as empresas se veem envolvidas por questões cujo apelo
social é muito forte, então, inevitavelmente, procuram agregar no-
ÉTICA E CIDADANIA

vos elementos ou questões sociais à sua postura ética.

Como exemplo, podemos usar a questão das condições


de trabalho nas empresas, muito questionadas pela socieda-
de desde a década de 1960, sendo um tema sempre em voga
por envolver questões de saúde pública e bem-estar das
pessoas. Nesse sentido, as relações evoluíram consideravel-
mente, tanto sob o ponto de vista da lei trabalhista, como in-
ternamente nas empresas, com campanhas de prevenção de
acidentes de trabalho, criação de comissões de prevenção de
acidentes, entre outras ações, que, apesar de inicialmente te-
rem uma conotação de respeito à lei, com o passar do tempo,
são assimiladas nas práticas organizacionais.

A figura 6.1 ilustra que a segurança no trabalho se configura e é


uma das preocupações nas modernas organizações.

Figura 6.1: Segurança no trabalho


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Fonte: Plataforma Deduca (2019).


67
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Como essa se tornou uma preocupação da sociedade, facilmen-


te materializada na legislação trabalhista, as empresas passaram
a adotar tais práticas, até porque perceberam que o retorno desse
tipo de investimento é socialmente rentável.
Todavia, o que dizem do tráfico de influências, da espionagem
industrial, do uso de informações privilegiadas, entre outras práti-
cas relativamente comuns em diversos setores do mercado, quando
comprovados, resultam em dificuldades legais e morais enfrenta-
dos pelas empresas.
Ao optar por práticas antiéticas, costuma-se dizer que a ins-
tituição está contaminada, e que, muito provavelmente, no seu
ambiente interno, as ações antiéticas como o favoritismo, a es-

ÉTICA E CIDADANIA
pionagem, e tantos atos imorais são relativamente comuns, fa-
zendo parte do seu cotidiano.
Evidentemente que uma empresa não é antiética sozinha, isto é, as
práticas são executadas por pessoas, que contaminam todo o ambiente
institucional por meio do exercício de ações desrespeitosas. O que em al-
gum momento é considerado inapropriado ou antiético, os vícios perni-
ciosos das práticas antiéticas, os tornam próximos, corriqueiros, comuns,
influenciando os valores e a percepção moral das pessoas.
Organizações éticas costumam produzir com qualidade muito
superior à média do mercado, costumam sempre ser bem avaliadas,
interna ou externamente, por isso seus resultados financeiros são
comumente positivos, atraindo mais investidores.
Por outro lado, empresas antiéticas, principalmente por atuarem
apenas com o viés do lucro financeiro, costumam ter avaliações
negativas por parte da sociedade, sofrem com a captação de bons
profissionais, produzem com qualidade duvidosa, ou seja, pagam o
preço pela imagem negativa que cultivaram.
A falta de ética organizacional, influencia o comportamento in-
dividual, uma vez que as pessoas passam a perceber que práticas
institucionais antiéticas podem ser prejudiciais, gerando um clima
de insegurança que limita a capacidade produtiva.
Reconquistar é sempre muito mais difícil do que conquistar, por
isso, confiança e credibilidade não se compra. As empresas que
possuem na sua liderança pessoas preocupadas com a sustenta-
bilidade organizacional não deixam de monitorar o comportamento
w w w. u s f . e d u . b r

dos seus liderados nas negociações e no dia a dia do trabalho, evi-


tando com isso pequenos erros morais que possa eventualmente se
avolumar, criando um clima de desconfiança entre seus parceiros e
demais atores com quem se relacionam.
68
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Por isso as empresas devem preparar seus colaboradores para a


conduta ética requerida em diferentes situações. Líderes experientes
sabem que toda pessoa possui ambições e algumas acabam por extra-
polar os limites éticos para ver suas expectativas e necessidades aten-
didas. Para Passos (2006), a ética empresarial é importante e cada
vez mais é requisitada no ambiente de trabalho, sobretudo, porque as
pessoas tendem a cometer “deslizes morais” que afetem o negócio da
empresa. As empresas investem em programas de incentivo ao com-
portamento ético no trabalho, visando inibir as ações que objetivam o
ÉTICA E CIDADANIA

sucesso individual a qualquer preço.


As palavras de Passos (2006) remetem a pensar que, ao adotar a
ética empresarial como um elemento na gestão organizacional, as em-
presas estão com um propósito bem definido de investir nas pessoas,
partilhar do seu processo de tomada de decisões, enfim, tornar a em-
presa mais democrática. As pessoas são o ativo mais importante que
uma empresa pode ter, pois são elas a fonte original do conhecimento,
elemento fundamental à competitividade organizacional.
No entanto, além dos componentes do caráter, como a ira, orgu-
lho, a vaidade, há pessoas que possuem sede de poder e que fazem
qualquer coisa para alcançá-lo. O egocentrismo é danoso para qual-
quer empresa, e, para evitar que ocorra, as organizações implantam
estratégias, alinhando o ambiente de trabalho, incluindo as pessoas,
ao negócio, fazendo enxergarem a importância da visão, missão e
valores institucionais.
A figura 6.2 ilustra os três componentes estratégicos de qual-
quer organização.

Figura 6.2 Visão, missão, valores

VISÃO

MISSÃO VALORES
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Fonte: Plataforma Deduca (2019).


69
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A visão, missão e valores influenciam o comportamento das


pessoas no ambiente de trabalho, pois todas as estratégias organi-
zacionais têm por base esses elementos. As organizações não são
neutras, elas são políticas, econômicas, jurídicas, sociais, enfim, é
um ambiente dinâmico influenciado pelo ambiente externo e inter-
no, portanto, a neutralidade não existe, é nesse sentido que a ética
atua, visando estabelecer os limites da conduta corporativa, prati-
car o respeito para ser respeitado.
A organização não pode, em hipótese alguma, ter como objetivo

ÉTICA E CIDADANIA
principal o lucro acima de tudo em suas relações comerciais, pois
dessa forma estará motivando as pessoas ao conflito, ao individu-
alismo, às práticas que objetivam apenas a vantagem, o egoísmo,
enfim, elementos que suscitam condutas antiéticas.
A cultura organizacional fundamentada nos princípios da ética,
facilita a liberdade, igualdade, solidariedade, o bem comum, o res-
peito, contribui significativamente com o comportamento ético das
pessoas e o zelo pela boa imagem institucional.
A figura 6.3 apresenta a cultura como elemento central nas or-
ganizações.

Figura 6.3: Cultura organizacional

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Fonte: Plataforma Deduca (2019).


70
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Mesmo com tantos mecanismos capazes de limitar a conduta


antiética, você deve ter claro que nas organizações há instâncias
de poder, e que as pessoas almejam ter poder, e mais ainda, a luta
pelo poder pode ser travada dentro dos limites da ética, entretanto,
comumente isso não ocorre dessa forma, as pessoas acabam por
fazer uso de todos os recursos para chegar ao poder.
Passos (2006, p. 79) afirma que “[...] não é difícil encontrar em
empresas o poder sendo usado para enganar e levar vantagem”. A
autora apresenta três estratégias comumente presentes nas em-
ÉTICA E CIDADANIA

presas quando há disputas pelo poder:

Controle de informações
Uso para obstrução de canais de
repasse informacional.

Morosidade
Dificulta a fluidez dos processos de trabalho, comprometendo os
prazos.
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71
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Centralização da
tecnologia
Retenção de conhecimento
sobre instrumentos tecnológi-

ÉTICA E CIDADANIA
cos que facilitem o trabalho.

De forma geral, as práticas desses elementos, além de potencial-


mente prejudicarem pessoas, comprometem o resultado organiza-
cional, uma vez que direta ou indiretamente afetam as atividades
laborais.
Devemos concordar que para as pessoas se manterem perma-
nentemente no caminho da conduta ética são necessários muitos
esforços, e que o mesmo se aplica às organizações. Para ambos,
seguir as normas, as leis, as regras, confere conduta ética, mas
sabemos que a ética e a moral são mais amplas, dessa forma, agir
de forma socialmente responsável é o caminho a ser trilhado.

6.2 TENDÊNCIAS DA ÉTICA


PROFISSIONAL
A conduta ética está sempre em voga, países, empresas e pesso-
as são permanentemente questionadas por suas práticas. Vivemos
em um momento em que a ética e a moral muitas vezes perecem
distantes das atividades humanas.
A manipulação das massas, a formação de grupos economica-
mente poderosos que atuam sobre países ou regiões política, jurídi-
ca e economicamente frágeis, os conflitos armados que escondem
interesses econômicos, enfim, são muitas as práticas humanas que
constantemente atentam contra a ética.
w w w. u s f . e d u . b r

O clamor pelo respeito, os valores sociais e pela justiça social se


fazem presentes em qualquer parte do mundo.
72
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Figura 6.4: Mundo


ÉTICA E CIDADANIA

Fonte: Plataforma Deduca (2019).

Os embates sociais entre os que de-


sejam um mundo mais igual e os que querem manter o status quo
são constantes, e, muitas vezes, a figura reguladora do estado é
utilizada nos momentos de instabilidades. O problema maior é que
nem sempre o estado age imparcialmente. Vivemos num mundo em
que a cultura do acúmulo de capital parece ter se tornado uma re-
gra, entretanto, a concentração excessiva do capital provoca graves
exclusões sociais, criando imensos bolsões de pobreza, mantendo
as pessoas sob condições degradantes, em que a fome e os demais
reflexos da miséria são claramente percebidos. Entre outros aspec-
tos, esse é o que mais incômodos traz a população ou a parte dessa
que se preocupa com o bem-estar comum. Problemas sociais com
essa gravidade indicam a falência ou o limite dos princípios éticos,
requerendo reflexões e novas abordagens.
Por fim, vivemos um momento de intensos conflitos de interes-
ses que acaba por dividir a sociedade em grupos opostos, entretan-
to, a mais notória divisão existente ocorre entre a maioria esmaga-
dora da população pobre e os poucos ricos, criando uma perigosa
situação de potencial instabilidade social.
Considerando a evolução do sistema capitalista que apresenta
claramente diversas limitações, como apontado por Passos (2006),
ao manter as desigualdades sociais, ao cultuar o capital e ao propor-
cionar tranquilidade às consciências de quem agem dessa forma, o
w w w. u s f . e d u . b r

capitalismo procura legitimar sua face mais perversa, qual seja a


exclusão social. Diante desse cenário, será inevitável o surgimento
de novas abordagens para a ética na sociedade e também para os
códigos de ética profissional.
73
PÁGINA

No âmbito organizacional, há uma


prática ainda arraigada, na qual o pro-
fissional percebe o cliente como uma
forma de ganhar dinheiro como um fim
derradeiro da relação institucional. Isso
significa que o lucro financeiro passa a
ser um fato consumado, isto é, se ele
não se materializar, não há como as em-
presas se manterem vivas, em uma cla-

ÉTICA E CIDADANIA
ra visão positivista da ética.
Refletir sobre esses aspectos nos leva a
pensar o que é definido pelo senso comum,
de que a ética coletiva limita a ação indivi-
dual, mas na ação individual, sob o ponto
de vista ético, tudo é possível.
Essa é uma lógica perigosa, pois, no seu auge, pode legitimar
qualquer tipo de ação, incluindo as fisicamente violentas, como jus-
tificativa para satisfazer as necessidades individuais.
Por isso, como tendência para a ética organizacional, Passos
(2006, p. 111 a 112) aponta para a necessidade de “[...] uma rein-
venção da ética [...]”, em que deve haver níveis de tolerância mais
flexíveis à subjetividade existente nos relacionamentos. Essa não é
uma proposta que abona o “vale tudo” nas relações, mas sim, no
dizer da autora que “[...] os códigos de ética conseguirão dar o sal-
to, passando de meras regras de orientação de mercado, para uma
prática reflexiva e crítica”.
Dessa forma, podemos afirmar que, no futuro próximo, os códi-
gos de ética profissional devem ser remodelados, apresentando ele-
mentos como o fortalecimento da solidariedade, a necessidade do
respeito profissional, a substituição gradativa do individualismo e da
competição pela solidariedade profissional, o arrefecimento do cul-
to ao capital, entretanto, não como fator determinante dos objetivos
da vida profissional, mas como elemento necessário ao bem-estar
individual e coletivo.
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Nessa perspectiva, podemos afirmar que há uma tendência para


os códigos de ética em construção, que preveem uma sociedade
mais justa, com profissionais mais capazes, cujas ações serão pau-
tadas pelos valores éticos e morais.
74
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CONCLUSÃO
Nessa unidade, vimos que as empresas precisam criar e cons-
tantemente revitalizar seus códigos de ética e procedimentos, pois
eles refletem o seu negócio, direcionam condutas reconhecidas pela
instituição.
ÉTICA E CIDADANIA

Vimos também que todas as profissões possuem atividades es-


pecíficas, e que é fundamental para o sucesso e satisfação profis-
sional que a pessoa conheça profundamente as tarefas, as respon-
sabilidades da profissão.
Além do que já foi mencionado, devemos perceber que as em-
presas são ambientes sociais, que, como tal, precisam ter regras
de conduta, visando potencializar os esforços, conhecimentos e
habilidades das pessoas, com o objetivo de ampliar as capacidades
organizacionais.
Também vimos que todas as profissões possuem valor social.
Entre elas, algumas alcançam notoriedade por atuarem em áreas
sensíveis, por exemplo, os médicos, os bombeiros, entre outras. Os
profissionais dessas áreas atuam em situações em que as pessoas
estão vulneráveis, por isso, o valor atribuído pela sociedade aos pro-
fissionais.
Para tanto, a ética organizacional é importante para garantir a
boa imagem da marca, da empresa e das pessoas no mercado. Com
isso, observamos que as organizações devem preparar seus cola-
boradores para atuarem com ética e que a cultura organizacional
influencia e é influenciada pelo comportamento das pessoas no am-
biente de trabalho.
Por fim, verificamos que há tendências para a ética organizacio-
nal e que essas são pensadas a partir do contexto da sociedade, do
mercado, enfim, das mudanças ambientais. Algumas mudanças são
propostas a partir da legislação, entretanto, o escopo moral e ético
w w w. u s f . e d u . b r

é mais amplo do que as leis.


75
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Você sabia que o comportamento dos principais executivos


de uma empresa ou de líderes de equipes de trabalho influen-
ciam na produtividade dos demais colaboradores da empre-
sa? Líderes de empresas que atuam proativamente, escutam
seus colaboradores, incentivam a participação, compartilham
conhecimentos, dividem os créditos das inovações, são éticos,
enfim, agem para que o ambiente de trabalho se mantenha po-
sitivo, costumam ter bons resultados de seus colaboradores.
Saiba um pouco mais sobre a Liderança Lean. Disponível na
biblioteca virtual USF. Acesso em: 27 jul. 2019.

ÉTICA E CIDADANIA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS
BENNET, C. Ética profissional. São Paulo: Senac, 2014.
BRASIL. Lei n. 10.224, de 14 de maio de 2001. Altera o Decreto-Lei n.
2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para dispor sobre o cri-
me de assédio sexual e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência
da República, [2001]. Disponível na biblioteca virtual da USF. Acesso em:
27 jul. 2019.
______. Decreto-lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal.
Rio de janeiro, [1991]. Disponível na biblioteca virtual da USF. Acesso em:
27 jul. 2019.
CORTINA, A.; MARTINEZ, E. Ética. São Paulo: Loyola, 2013.
CUNHA, S. S. da. Ética. São Paulo: Saraiva, 2012.
MELO, L. Nove empresas que suaram para não manchar a reputação
em 2013. EXAME, 13 set. 2016. Disponível na biblioteca virtual da USF.
Acesso em: 27 jul. 2019.
PETENATE, M. Guia definitivo da liderança lean. Escola Edti, 14 mar. 2017.
Disponível na biblioteca virtual da USF. Acesso em: 27 jul. 2019.
PASSOS, E. Ética nas organizações. São Paulo: Atlas, 2007.
SÁ, A. L. de. Ética profissional. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
w w w. u s f . e d u . b r
UNIDADE 7
ÉTICA E CIDADANIA

7. ÉTICA E CIDADANIA APLICADA

7.1 ÉTICA APLICADA AOS ÂMBITOS


SOCIAIS E AO COTIDIANO
Por vezes, parece que a ética é assunto apenas para filósofos e, mais
ainda, que é completamente subjetiva, explicando a moral e outros as-
pectos imateriais da sociedade.
Contudo, engana-se quem pensa dessa forma. Isso porque a ética
está presente em todos os lugares: na economia, na política, na educa-
ção, na saúde, na empresa, na escola e nas nossas casas. Enfim, pode-
mos considerá-la onipresente.
Guerras
A ética está presente até mesmo nas guerras, materializada por meio
da honra e do respeito, evitando que as batalhas se tornem lutas anima-
lescas, em que tudo vale. Assim, nas guerras, os derrotados devem tanto
respeito aos vencedores quanto os vencedores devem aos derrotados.
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Dessa forma, presente em qualquer profissão, nos procedimentos de


um médico, de um professor, de um advogado, de um funcionário públi-
co, de um militar, ou na vida de qualquer pessoa, a ética consiste em um
ato colaborativo e necessariamente interdisciplinar.
77
PÁGINA
Cortina e Martinez (2013) e Chauí (2011) concordam em afirmar
que a ética, aplicada aos âmbitos sociais próprios de uma sociedade
pluralista moderna, precisa levar em conta a moral cívica, que rege
o tipo de sociedade específica, pois nem sempre a ação ética é pas-
sível de generalizações.
Isso significa que, se pensarmos que os brasileiros possuem um
tipo de código de ética comum, válido para todos, então podemos
entender que há valores comuns no nosso país, que não necessa-
riamente se aplicam aos demais países. Podemos perceber esse
contexto no respeito aos símbolos nacionais, como a bandeira, visto
que há países que respeitam mais esses símbolos que os brasileiros.
As Figuras 7.1 e 7.2 ilustram as bandeiras do Brasil e dos Esta-
dos Unidos da América como símbolos nacionais, contudo, nos EUA,

ÉTICA E CIDADANIA
esse símbolo é mais respeitado do que nas terras brasileiras.

Figura 7.1: Símbolos nacionais: Brasil


Fonte: Plataforma Deduca (2019).

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Figura 7.2: Símbolos nacionais: Estados Unidos da América


Fonte: Plataforma Deduca (2019).
78
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A bandeira de uma nação é um símbolo cívico em que pode estar


implícito o código de ética de cada país. Requer respeito, envolve va-
lores e inspira comportamentos institucionais, coletivos e individuais.
O respeito aos símbolos cívicos não significa que os cidadãos de um
país são mais éticos que os de outros países, mas é um bom indicativo
dos valores de grupos sociais e seus comportamentos diante de algumas
situações. Perante a bandeira, alguns a ignoram, enquanto outros a reve-
renciam. A bandeira de um país sendo queimada por cidadãos de outro
país pode significar um ato de amplo desrespeito e de falta de ética.
Nesse contexto, percebemos
ÉTICA E CIDADANIA

como a ética está claramente


presente em nossas atividades
cotidianas, e mais, como ela
está presente em nossos com-
portamentos, sendo, em última
instância, algo bem material,
que direciona nossa racionali-
dade ao definir entre o certo e o
errado, o legal e o ilegal. Afinal,
dicotomicamente, fazemos nos-
sas escolhas relacionadas com a
moral e com a ética.

Você conhece o Programa Bolsa Família? Quer saber mais?


Acesse outras informações no link: https://aplicacoes.mds.gov.
br/sagirmps/ferramentas/docs/manual_do_pesquisador_gestao_
bolsa_familia_semlogo.pdf. Acesso em: 6 ago. 2019.

Um exemplo bem prático para identificarmos a existência dessa di-


cotomia, em nosso cotidiano, é o Programa Bolsa Família. Trata-se de
um importante Programa Social do Governo Federal brasileiro. Contu-
do, apresenta restrições a fim de evitar que os recursos públicos sejam
inadequadamente utilizados pelos beneficiários. Assim, uma das res-
trições é que o beneficiário do Programa não pode alugar seu imóvel
para obter renda extra, sendo um ato proibido, ilegal, imoral e antiético.
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Com relação ao exemplo supracitado, em se tratando de teoria éti-


ca, Cortina e Martinez (2013, p. 152) afirmam que: “[...] só são válidas
aquelas normas de ação com as quais poderiam estar de acordo todos
os possíveis afetados como participantes em um discurso prático”.
79
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De forma geral, quando um beneficiário do Programa Bolsa Famí-


lia aluga seu imóvel para obter renda adicional, ele está agindo de má
fé para com os demais beneficiários e não beneficiários. Portanto,
está sendo antiético para com seus pares que compartilham da ideia
de que vale a pena o esforço coletivo em termos de investimentos de
recursos públicos para que famílias brasileiras tenham acesso à mo-
radia justa e digna e para que aumentem sua percepção de cidadania.
Aqui, observamos muito bem outra dicotomia que envolve a noção
de direito e dever. Se, por um lado, as pessoas têm direito à mora-
dia, por outro, têm o dever de seguir as regras ou normas impostas

ÉTICA E CIDADANIA
pelo Programa. Encontramos, na teoria, elementos que fundamen-
tam essa relação. A ética da responsabilidade, como aponta Jonas
(2006), confere a um grupo social uma espécie de regra de responsa-
bilidade, pela qual o comportamento coletivo deve ser norteado. Nas
normas legais, no caso do Programa Bolsa Família, estão materiali-
zadas a gestão da ética da responsabilidade e as ações consideradas
irresponsáveis, ou seja, que quebram o pacto ético coletivo.
O mesmo pode ser dito quando pessoas agridem o meio ambiente,
pois se entende que há uma noção ampla sobre a relação entre deteriora-
ção dos recursos naturais e a sustentabilidade da vida humana na Terra.
A Figura 7.3 ilustra o desmatamento de áreas de floresta nativa, um
crime do ponto de vista legal e uma ação imoral e antiética para os que
desejam viver em um mundo em que a natureza se mantenha preservada.
Figura 7.3: Desmatamento: um crime ou um ação antiética?

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Fonte: Pixabay (2019).


80
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Quem agride o meio ambiente pode ser taxado como irresponsá-


vel, quebrando, assim, uma regra coletiva que aponta a necessidade
de preservação da natureza, sendo, dessa forma, exposto às penali-
dades constantes nos instrumentos legais.
Esses exemplos mostram que, na prática, a ética coletiva se so-
brepõe à ética individual, conforme abordam Cortina e Martinez
(2013, p. 155):
Pois bem, como descobrir que, em cada campo da ética aplica-
da, as máximas e os valores que nele são exigidos para o reconhe-
cimento de cada pessoa como um interlocutor válido? Diversas
ÉTICA E CIDADANIA

respostas são possíveis, mas, em princípio, todas coincidiriam


em reconhecer que não as consideramos éticas individuais. Uma
das razões do nascimento da ética aplicada é precisamente a
descoberta de que a ética individual é insuficiente, porque a boa
vontade pessoal pode, no entanto, ter consequências ruins para
a coletividade.
A interpretação que temos dessa citação é que, em se tratando
da ética, a vontade ou as necessidades individuais não podem pre-
valecer sobre as necessidades coletivas.
Além disso, Cortina e Martinez (2013, p. 156) entendem que, para
compreender a moral nas atividades sociais, faz-se necessário inves-
tigar as pessoas em sua vida ativa em sociedade. Para eles, são cinco
os elementos presentes na estrutura moral das atividades sociais.
1. As metas sociais.
2. Os mecanismos aplicados para alcançar as metas sociais.
3. O âmbito jurídico-político correspondente à sociedade em
questão, expresso na Constituição e na legislação vigentes.
4. As exigências da moral cívica da sociedade.
5. As exigências de uma moral crítica, apresentadas pelos prin-
cípios da ética que norteia o comportamento das pessoas.
Na prática, isso significa dizer que as atividades sociais procu-
ram alcançar resultados. Mesmo que pareçam alcançar as pesso-
as individualmente, na verdade atendem a aspirações coletivas.
Veja, nos exemplos a seguir, como podem ser materializadas a
w w w. u s f . e d u . b r

moral e a ética coletivas por meio do atendimento dos objetivos


internos das atividades sociais, por intermédio das seguintes per-
guntas e respostas:
81
PÁGINA

Qual o bem maior das atividades da área da saúde?


O bem do paciente.

Qual o objetivo social de qualquer organização?


Alcançar a satisfação das necessidades humanas com qualidade.
Qual a principal virtude da política?
Garantir o bem comum dos cidadãos.

O fato é que esses propósitos, para as atividades sociais dessas


áreas, são legitimados pela coletividade de qualquer sociedade. As-
sim, Jonas (2006) afirma que, para alcançar os objetivos internos

ÉTICA E CIDADANIA
das atividades sociais, atendendo às expectativas ou às necessida-
des coletivas, surge em cena a ética da responsabilidade.
No entanto, por que a ética da responsabilidade surge como fa-
tor determinante para alcançar os objetivos internos das atividades
sociais? Isso acontece porque é por meio da legitimidade coletiva
que se reconhecem as regras do jogo social, que devem ser iguais
para todos os atores envolvidos nas atividades em sociedade. Por
exemplo, no caso das atividades empresariais, os atores podem ser
as empresas, as pessoas, o mercado, entre outros, comumente pre-
sentes nessas atividades.
Evidentemente que, por trás da legitimidade de uma sociedade,
existe um conjunto de valores compartilhados por seus membros,
configurando o que podemos chamar de consciência moral coletiva.
Por isso a prática coletiva é um forte componente na sociedade, não
somente determinando o comportamento individual, mas, quando
necessário, limitando-o.
Muitos são os fatores que levam as pessoas a pensar na ética e
na moral como elementos amplamente subjetivos, contudo, como
estamos mostrando, por meio de atividades em diferentes áreas da
sociedade, é possível perceber a materialidade da ética e da moral
no comportamento individual e coletivo. Segundo Cortina e Marti-
nez (2013, p. 159), para definir a ética aplicada a cada atividade so-
cial, seria necessário percorrer os seguintes passos:
1. Determinar claramente o fim específico, o bem interno pelo
qual se adquire seu sentido e sua legitimidade social.
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2. Averiguar quais são os meios adequados para produzir esse


bem em uma sociedade moderna.
3. Indagar quais virtudes e valores é preciso incorporar para al-
cançar o bem interno de uma atividade social.
82
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4. Descobrir quais são os valores da moral cívica da sociedade


na qual se inscreve e quais direitos essa sociedade reconhece
às pessoas.
5. Averiguar quais valores de justiça exigem a realização no âm-
bito de uma moral crítica universal, que permite colocar em
questão as normas vigentes.
6. Deixar as tomadas de decisão a cargo dos que são, por esse
processo, afetados.
Por meio desses elementos, é possível definir a ética aplicada a
cada atividade social, pois sabemos que um importante valor presen-
te nas relações empresariais ou na ética empresarial é a confiança.
ÉTICA E CIDADANIA

Tanto no mercado quanto nas empresas, por exemplo, não há


como atuar eticamente em um mundo paralelo, com ética e moral
próprias, pois o mercado ou as relações comerciais estão inseridos
na sociedade. Por isso, não podemos afirmar simplesmente que
“negócios são negócios”, em que vale tudo. Pelo contrário, os que
se aventuram com a percepção do “vale tudo” sofrem, de alguma
forma, sanções legais, morais e éticas do próprio mercado e da so-
ciedade. Na vida real, isso pode acontecer por meio da perda de cre-
dibilidade de uma instituição ou de pessoas no mercado.
Nesse contexto, Cortina e Martinez (2013) e Cunha (2012) con-
cordam que, no campo da denominada “ética empresarial”, as orga-
nizações que adotam como estratégia certos valores éticos, como
norteadores dos seus comportamentos, tendem a sobreviver em
épocas de competição mais acirrada.
Isso ocorre pela percepção de um comportamento eticamente
reconhecido pelo mercado e pela sociedade, em que se confia no
comportamento desse tipo de organização. O fato é que essas em-
presas não têm estampadas certificações atestando o bom com-
portamento, mas, na realidade, apresentam inúmeros valores e
condutas relacionados à marca.
Dessa forma, percebemos como o campo da ética é amplo e pro-
fundo, como é inerente à espécie humana, desde o nascimento até
a morte dos indivíduos. Assim, identificamos a ética presente nas
pessoas e como as ações antiéticas também fazem parte desse
mesmo contexto.
w w w. u s f . e d u . b r

Na sequência, confira os tipos de normas, suas características e


outros aspectos que têm como fundamento a ética, visando ampliar
a percepção da sua presença em todos os campos da sociedade.
83
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Tribunal
último
Tipo de Fonte das Características Destinatários diante
norma normas da obrigação das normas do qual
a pessoa
responde

Todos os
definidos pelo
sistema legal
O Estado Externa
Legais e como cidadãos
(governantes, Violentamente O Estado
jurídicas. ou como
juízes etc.). coercitiva
submetidos
à jurisdição
estatal.

ÉTICA E CIDADANIA
Sociais A sociedade
ou de Tradições, Todos os (vizinhos,
Externa
convivência costumes, membros colegas,
Moderadamente
social, hábitos de uma clientes,
coercitiva
cortesia ou herdados. sociedade. fornecedores
urbanidade. etc.)

Com base
em diversas Interna, em Cada pessoa
fontes, consciência se considera
um código Não coercitiva a si mesma
determinado Ultimidade destinatária A consciência
Morais
de princípios, (referência das normas das pessoas.
normas e última para que
valores, orientar a reconhece em
pessoalmente conduta) consciência.
assumido.

A fé da
pessoa
Interna, em
em que
consciência
Religiosas determinados Os crentes A divindade
Não coercitiva
ensinamentos
Ultimidade
são de
origem divina.

Tabela 7.1: Elementos que configuram a presença da ética na sociedade


Fonte: Cortina e Martinez (2013, p. 46).

Com base nesse estudo, verificamos como a ética e a moral


fazem parte das nossas vidas, contudo, mudam continuamente,
pois a sociedade se reconfigura, visto que mudanças ocorrem de
forma sistêmica. Por isso, de um período a outro, é possível per-
w w w. u s f . e d u . b r

ceber o surgimento de elementos que fundamentam a crise de


valores e, em última análise, indicam novas mudanças de com-
portamento na sociedade.
UNIDADE 8
ÉTICA E CIDADANIA

8. O INDIVIDUALISMO ÉTICO X A ÉTICA


COLETIVA

Ao assistirmos, na televisão, grandes catástrofes ambientais, notícias


sobre o aumento nos índices de violência urbana, cenas de guerras que
privam pessoas do acesso a medicamentos e alimentação ou até mesmo
do isolamento provocado e possibilitado pelo uso das novas tecnologias,
verificamos que a sociedade está passando por algumas transforma-
ções. Geralmente, transformações ocorridas pela infraestrutura social,
que influenciam no comportamento individual das pessoas, de grupos
sociais e até mesmo de populações de regiões do mundo.
Na Figura 8.1, vemos as ruínas do Coliseu, construído no século I (70
d. C.), que ainda têm preservada boa parte da sua estrutura. A cidade
de Roma cresceu e se modificou significativamente, e o comportamen-
w w w. u s f . e d u . b r

to dos seus habitantes, em hipótese alguma, lembra os comportamen-


tos dos romanos do período em que os “jogos mortais” se configuravam
como uma das maiores atrações da cidade. Hoje, Roma oferece o Coliseu
à população como uma atração turística.
85
PÁGINA

Figura 8.1: Coliseu

ÉTICA E CIDADANIA
Fonte: Pixabay (2019).

Mesmo tendo crescido significativamente, os romanos preser-


vam o que restou do Coliseu como uma atração turística e uma me-
mória importante do patrimônio cultural mundial. O comportamen-
to, os valores, os códigos de ética e moral dos romanos passaram
por mudanças que acompanharam o desenvolvimento da sociedade
durante os séculos. O Coliseu e o período na história que ele repre-
senta ficaram na memória.
Definitivamente, as mudanças que constatamos na sociedade são
fruto do inerente desenvolvimento dessa sociedade, que aplica os co-
nhecimentos com o objetivo de tornar a vida coletiva sempre melhor.
O fato é que o mundo muda rapidamente e que essas mudanças
influenciam no comportamento das pessoas, impactando em uma
nova percepção de padrões éticos e morais.
w w w. u s f . e d u . b r

As mudanças nos padrões de valores de uma sociedade necessi-


tam, inevitavelmente, da legitimação coletiva. Portanto, elas ocorre-
ram facilmente, impactando a mudança comportamental.
86
PÁGINA
ÉTICA E CIDADANIA

Com base nesse contexto, verificamos que a mudança não está


correlacionada a uma crise de valores, mas à evolução natural da
sociedade, que deve acompanhar os padrões éticos e morais para
dar conta dos novos comportamentos que surgem.
O casamento é um bom exemplo dessas mudanças de valores,
visto que, juridicamente, mesmo não havendo oficialização, em
uma eventual separação, a repartição dos bens deve acontecer pela
comprovação da união estável. Outro fato é a união ou o casamento
entre pessoas do mesmo sexo, que já é uma realidade em muitos
países, trazendo um novo momento de mudanças nos padrões de
valores, da ética e da moral.
A própria evolução, o que chamamos de nova cultura empresa-
rial, também é um fator que provoca mudanças comportamentais,
afinal de contas, por vezes, cooperar e competir simultaneamente,
até bem pouco tempo atrás, era impensável.
No campo das organizações, Cortina e Martinez (2013, p. 167)
w w w. u s f . e d u . b r

entendem esse novo momento como o surgimento de um novo


ethos empresarial, em que as empresas adotam estratégias base-
adas em diretrizes de comportamento politicamente correto, tanto
no ambiente interno como no externo, tais como:
87
PÁGINA
Responsabilidade pelo futuro
A necessidade da gestão a longo prazo obriga as empresas a re-
conciliar o benefício e o tempo.

ÉTICA E CIDADANIA
Desenvolvimento de capacidade de comunicação
Toda organização precisa de uma legitimação social, que ocorre
por meio da sua capacidade de comunicação com a sociedade de
forma geral; e com o seu público alvo, de forma específica.

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88
PÁGINA

Personalização e identificação dos indivíduos e das


empresas
O fracasso do individualismo torna necessária a inserção dos indi-
víduos em grupos e o desenvolvimento do sentido de pertencimento.
ÉTICA E CIDADANIA

Moral e ética
Na cultura de comunicação, a moral impulsiona a criatividade
dos especialistas da comunicação e funciona como um meio de di-
ferenciação e personalização da empresa.
Na empresa aberta, a ética faz parte da gestão, construída pela com-
plexidade apresentada pelo mercado (são as influências do ambiente ex-
terno nas empresas) – mercado que requer não somente a inovação per-
manente de produtos e serviços, mas a inovação moral na comunicação.
w w w. u s f . e d u . b r
89
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Confiança
As imagens de eficiência foram substituídas pelas de confiança
entre as organizações e o público, como se evidencia, por exemplo,
na imagem de responsabilidade social e ecológica das empresas,
pela qual, com a devida comunicação, procura-se estabelecer vín-
culos mais fortes entre as organizações e seu público.

ÉTICA E CIDADANIA

Com isso, todas as empresas sabem que a preservação do meio


ambiente, a exploração do trabalho infantil e todo tipo de propaganda
negativa tendem, de alguma forma, a prejudicar sua imagem perante
o mercado consumidor, pois são temas sensíveis à sociedade. His-
toricamente, muitas empresas já cometeram ações que agrediram
a ética e a moral social, contudo, até pouco tempo, muitas dessas
ações ficavam completamente escondidas, isto é, não se tornavam
públicas. No entanto, hoje, as empresas que desrespeitam as pesso-
as, agindo de forma preconceituosa, podem sofrer boicotes ou serem
w w w. u s f . e d u . b r

alvos de protestos de grandes grupos de pessoas organizadas em


torno do ambiente virtual, especialmente nas redes sociais.
Na perspectiva do meio ambiente já se sabe o tempo de decom-
posição de alguns produtos ou materiais na natureza.
90
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Produto Tempo de decomposição

Palito de fósforo 4 a 6 meses

Pilhas e baterias 100 a 500 anos

Papel jornal 7 meses

Cigarro 13 a 25 anos

Óculos de plástico 200 a 500 anos


ÉTICA E CIDADANIA

Artigos de couro 40 a 50 anos

Chiclete 5 anos

Isopor 50 a 80 anos

Copo plástico 40 anos

Tecido sintético 100 a 300 anos

Tecido de algodão 10 a 20 anos

Tabela 8.1: Produtos e seu tempo de decomposição na natureza.


Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

Assim, a forma que as empresas que trabalham com esses pro-


dutos encontraram para amenizar a situação, mesmo parecendo
contraditório, foi apoiar programas de sustentabilidade ambiental
e informar essa parceria à sociedade. E isso foi fundamental para
manter a boa percepção da sociedade em relação à marca, pois
hoje a preocupação com as próximas gerações é muito significati-
va. Observamos, portanto, novos valores e posturas éticas e mo-
rais da sociedade, os quais não estavam bem compreendidos até
pouco tempo atrás.
Por isso, as marcas mundiais precisam cuidar dos seus colabo-
radores, das suas comunicações, da qualidade dos seus produtos
ou serviços e das equipes de trabalhadores terceirizados. Enfim, ne-
cessitam cuidar de tudo que envolva a marca no mercado e, quando
w w w. u s f . e d u . b r

necessário, precisam agir rapidamente para evitar polêmicas envol-


vendo seus produtos ou serviços.
Na Figura 8.2, vemos a ilustração de marcas conhecidas e reco-
nhecidas por seus produtos no mundo inteiro.
91
PÁGINA

ÉTICA E CIDADANIA
Figura 8.2: Marcas mundiais
Fonte: Plataforma Deduca (2019).

Convém destacar também que algumas dessas marcas, para evi-


tar interpretações equivocadas sobre seus processos produtivos e
de trabalho, costumam usar a transparência para com seus stake-
holders, fato esse que fortalece sua imagem no mercado. Por exem-
plo, algumas empresas convidam clientes para conhecer suas insta-
lações. Os supermercados isolam o açougue e a padaria apenas por
vidro, permitindo que clientes possam acompanhar a manipulação
de produtos, verificar a higiene, entre ouros aspectos.
No caso da ética religiosa, Cunha (2012) aborda a individualidade
no plano da crença e da fé com base em estados de satisfação pes-
soal com aquilo que se crê. No entanto, é um campo da ética reco-
nhecidamente de percepção coletiva, mais que outros campos, pois
está na subjetividade individual o refúgio para os atos ou os eventos
que, por vezes, parecem ferir a noção de bem-estar da coletividade.
Por isso, no campo da religião, os incrédulos simplesmente refu-
tam qualquer tipo de argumento, enquanto os crentes tomam por
w w w. u s f . e d u . b r

verdade argumentos que, na percepção de outros, podem ser consi-


derados imorais e até mesmo antiéticos, mas não contestados. Isso
porque são legitimados coletivamente por grupos sociais e, talvez, o
mais importante, legitimados pela individualidade.
92
PÁGINA

Na Figura 8.3, observamos um dos mais conhecidos livros que


simboliza a religião no mundo.
ÉTICA E CIDADANIA

Figura 8.3: Bíblia Sagrada


Fonte: Plataforma Deduca (2019).

Além disso, convém destacar que, na origem do termo, o conheci-


mento, para os gregos, representava uma crença verdadeira e justifica-
da. Assim, mesmo na ciência, berço da produção do conhecimento, a
crença está presente. Nesse sentido, Cunha (2012, p. 402) argumenta
que, na crença, devem ser considerados os seguintes aspectos:

Orienta o comportamento humano.


Funda-se na experiência individual e na sensibilidade, mais do
que na razão.
• Produz certezas.
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• Pode basear-se em proposições científicas.


• Prescreve importantes aspectos da experiência humana, tais
como os sentimentos, as emoções e os produtos da cultura e
da filosofia, a história, a arte e a religião.
93
PÁGINA

Nessa perspectiva, percebemos que a religião e a igreja são as-


pectos que fazem parte das opções ou escolhas individuais. Assim,
quando determinada igreja pede contribuições financeiras aos seus
fiéis, salvo atos posteriormente ilícitos, cabe destacar que o pedi-
do em si não caracteriza um ato ilícito, pois tanto o indivíduo como
a coletividade de crentes legitimam tal contribuição como um ato
importante para fortalecer a fé, para robustecer a causa e para ofe-
recer continuidade ao trabalho missionário.
Como já abordado, a ética individual não pode ser maior ou ser
colocada como prioritária em detrimento da ética coletiva, mas, in-

ÉTICA E CIDADANIA
dividualmente, as pessoas são detentoras de direitos e não igualita-
riamente de deveres.
A Figura 8.4 ilustra a dicotomia entre direitos e deveres (ou obri-
gações), que, sob o ponto de vista da ética e do exercício da cidada-
nia devem se manter equilibrados.

DIREITOS DEVERES

Figura 8.4: Dicotomia entre direito e deveres


Fonte: Adaptada de Freepik (2019).

Para tanto, entre os direitos e os deveres ou obrigações, não deve


haver diferença, visto que pode ser aberto um espaço para comporta-
mentos fora dos padrões éticos e morais e para a inversão de valores.
w w w. u s f . e d u . b r

Diante do que foi apresentado, podemos afirmar, mais uma vez,


que a ética, a moral e os valores individuais são determinados pela
ética, moral e valores coletivos. Dessa forma, não deveria ser o po-
der econômico, político ou religioso os fatores que diferenciam os
94
PÁGINA

comportamentos éticos entre as pessoas, pois, no plano teórico,


todos são iguais perante as leis. Então, ao cometerem atos ilegais,
imorais ou antiéticos, deveriam receber o mesmo tratamento pela
sociedade e suas instituições.
As mudanças não param, a sociedade é dinâmica e precisa o ser
para não cair em destruição, porque é do rejuvenescimento ou sur-
gimento de novos comportamentos que a própria sociedade busca,
na ética, o necessário equilíbrio do comportamento das diferentes
pessoas e grupos sociais.
Na Figura 8.5, observamos pessoas que, aparentemente ou fisica-
ÉTICA E CIDADANIA

mente, são diferentes, mas, por outro lado, são semelhantes em deter-
minadas características, como na genética e no comportamento, além
da influência da ética coletiva sobre o comportamento individual.

Figura 8.5: Pessoas diferentes com comportamentos semelhantes


Fonte: Plataforma Deduca (2019).
w w w. u s f . e d u . b r
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PÁGINA

REFERÊNCIAS
ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução
à filosofia. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2004.

BRASIL. Ministério do desenvolvimento social: Programa Bolsa


Família. Disponível em: https://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/
ferramentas/docs/manual_do_pesquisador_gestao_bolsa_fami-

ÉTICA E CIDADANIA
lia_semlogo.pdf. Acesso em: 6 ago. 2019.

CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 14. ed. São Paulo: Ática, 2011.

CONSELHO DE INFORMAÇÕES SOBRE BIOTECNOLOGIA – CIB. Dis-


ponível em: https://cib.org.br/transgenicos/. Acesso em: 7 ago. 2019.

CORTINA, A.; MARTINEZ, E. Ética. São Paulo: Loyola, 2013.

CUNHA, S. S. da. Ética. São Paulo: Saraiva, 2012.

ESTADÃO CONTEÚDO. Cientista chinês alega ter editado ge-


nes de bebês pela primeira vez na história. Época negócios, 26 nov.
2018. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Mundo/
noticia/2018/11/cientista-chines-alega-ter-editado-genes-de-be-
bes-pela-primeira-vez-na-historia.html. Acesso em: 10 ago. 2019.

JONAS, H. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para


a civilização tecnológica. Tradução de Marijane Lisboa e Luiz Barros
Montez. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUCRio, 2006.

NONAKA I.; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa.


16. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997.

TV PARANAÍBA. A importância da ética e da moral na sociedade.


w w w. u s f . e d u . b r

YouTube. 18 dez 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/wa-


tch?v=jA3LSvN-DCE. Acesso em: 10 ago. 2019.
UNIDADE 9
ÉTICA E CIDADANIA

9.1 ÉTICA NA CIÊNCIA

A ciência é movida pelo conhecimento em círculo, cujo uso e reuso


são contínuos e aplicados de forma complementar, determinante para o
desenvolvimento.
Segundo Aranha e Martins (2004, p. 21), “o conhecimento é o pensa-
mento que resulta da relação que se estabelece entre o sujeito que conhece
e o objeto a ser conhecido”.
Para compreendermos melhor o significado de conhecimento, vejamos,
a seguir, as definições sobre esse termo em diferentes autores.
w w w. u s f . e d u . b r
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PÁGINA

Filósofo Definição

Os seres humanos aspiram a ideias eternas,


Platão imutáveis e perfeitas, que não podem conhe-
(427-347 a.C.) cer por meio da percepção sensorial, mas sim,
apenas, por meio da razão pura.

Aristóteles O conhecimento é sempre ocasionado pela


(384-322 a.C.) percepção sensorial.

ÉTICA E CIDADANIA
Compara a mente a uma tábula rasa, uma folha
de papel sem conteúdo. Somente as experiên-
John Locke
cias podem proporcionar ideias à mente, sendo
(1632-1704)
possível adquirir conhecimento por indução a
partir de experiências sensoriais.

O conhecimento parte do pensamento lógico do


racionalismo e da experiência sensorial do em-
Immanuel Kant pirismo em que a mente humana é tabula rasa
(1724-1804) ativa, que ordena as experiências sensoriais no
tempo e no espaço, suprindo-se de conceitos
como ferramenta de compreensão.

O conhecimento começa com a percepção sen-


sorial, que, ao se tornar mais subjetiva e mais
Georg W. F. Hegel
racional, por meio da purificação dialética dos
(1770-1831)
sentidos, chega, por fim, ao estágio do conheci-
mento do espírito absoluto.

A percepção é uma interação entre o sujeito e o


Karl Marx
objeto, ambos estão em processo contínuo de
(1818-1883)
adaptação mútua.

São colocados de lado o conhecimento factual


Edmund Russerl e os pressupostos analisados sobre um fenô-
(1859-1938) meno, permitindo assim a análise da intuição
pura de sua essência.
w w w. u s f . e d u . b r

Rejeitou o dualismo cartesiano, afirmando que


Martin Heidegger
se estabeleceu relacionamento íntimo em ter o
(1889-1976)
conhecimento e a ação.
98
PÁGINA

Jena-Paul Sartre O mundo se revela pela nossa conduta, é a es-


(1905-1980) colha intencional do fim que revela a realidade.

A linguagem é um jogo de interação, na qual,


várias pessoas participam seguindo determina-
Ludwig Wittgenstein
das regras, em que o saber é uma ação corporal
(1889-1951)
capaz de proporcionar mudança no estado das
coisas.
Tabela 9.1: Conceitos do termo conhecimento.
Fonte: Adaptada de NonakaeTakeuchi (1997).
ÉTICA E CIDADANIA

Percebemos, até aqui, que o conhecimento é fundamental para o desen-


volvimento da sociedade, da ciência e das pessoas. Contudo, sua aplicação
deve ser precedida da ética, evitando que seu uso gere malefícios, pois um
dos pressupostos éticos para o uso do conhecimento é gerar benefícios à
sociedade.
É importante destacar que, apesar de existirem diferentes tipos de co-
nhecimentos, em todos eles, a sociedade está presente, isto é, esses conhe-
cimentos são criados e aperfeiçoados por meio de ações das pessoas em
suas interações entre si e com o ambiente. Sendo assim, a falta de ética e de
moral pode ser manifestada em qualquer situação: na igreja, na escola, na
rua, ou qualquer lugar e situação.
Na Tabela 9.2, vamos conferir os diferentes tipos de conhecimento.
Tipo de Co-
Definição Aplicação/Exemplo
nhecimento

Verificar o tipo de medicamento


Saber o que
Declarativo adequado para determinado tipo de
fazer.
doença.

Saber como A forma de utilização do medicamen-


Procedural
fazer. to.

Saber por que Ter conhecimento da funcionalidade


Causal
fazer. do medicamento.

Saber quando Ter conhecimento sobre o momento


Condicional
w w w. u s f . e d u . b r

fazer. de aplicar o medicamento.

Saber como um medicamento intera-


Relacional Saber como.
ge com outro.
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Conhecimento
Aplicado em estruturas de negócios,
Pragmático útil para a orga-
projetos, desenhos de engenharia.
nização.

Tem relação O volume de dados é tratado com o


com a utiliza- uso de ferramentas tecnológicas. O
Potencial ção de grande potencial dos dados garante boas
volume de informações e geração do conheci-
dados. mento relevante.

Conhecimento

ÉTICA E CIDADANIA
sobre o fenô-
Sua verificação ocorre na prática, no
Científico meno e suas
experimento, na demonstração.
relações de
causa e efeito.

Empírico
Conhecimento Com base nas tradições, crenças,
(Senso co-
popular. mitos e na experiência popular.
mum)

O fenômeno ou
objeto é inter- Fundamentado na criatividade, habili-
Artístico pretado e tra- dades, práticas, experiências, expres-
duzido em obra sões e no sentimento humano.
pelo artista.

Apoiado em doutrinas, dogmas, na


Religioso ou Conhecimento
espiritualidade das pessoas e funda-
Teológico originado na fé.
mentado pela fé.

Compreensão
da realidade
e dos proble-
Conhecimento com base na razão,
mas gerais da
Filosófico possui caráter valorativo, sistemáti-
humanidade e
co, exato e infalível.
sua presença e
relação com o
universo.
w w w. u s f . e d u . b r

Tabela 9.2: Tipos de conhecimento


Fonte: Adaptada de Aranha e Martins (2004), Chauí (2011), Cortina e Martinez (2013) e Jonas
(2006).
100
PÁGINA

Por um lado, sabemos que o conhecimento é usado para criar ar-


mas e venenos, mas, ao mesmo tempo, é por meio dele que criamos
medicamentos e técnicas de salvamento. O fato aqui é questionar
qual a ética envolvida nesses processos de produção de armas ou
outros produtos que prejudicam de alguma forma a sociedade.
No âmbito da ciência, há códigos de ética reconhecidos mundial-
mente pela comunidade científica, a fim de evitar, por exemplo, que
cientistas se julguem detentores de direitos sobre animais, plantas
e outros seres vivos. Para tratar do assunto de forma mais ampla e
profunda, na década de 1970, iniciaram as discussões em torno do
ÉTICA E CIDADANIA

tema da bioética, procurando limitar a ação de cientistas na área da


biotecnologia e áreas afins, visando evitar ações danosas à ciência
e à própria sociedade.
Por isso, Cortina e Martinez (2013) entendem que os debates em
torno da bioética são importantes para prevenir ambições pessoais
de cientistas sobre a própria ciência. Dessa forma, a bioética discute
desde questões ecológicas até clínicas.
Para tanto, os autores resumem três princípios norteadores da
conduta de cientistas no que diz respeito à proteção das pessoas,
como objetivos de experimentação em projetos científicos (CORTI-
NA; MARTINEZ, 2013, p. 160):
• O respeito pelas pessoas, que incorpora ao menos duas
convicções éticas:
1. os indivíduos deveriam ser tratados como seres autô-
nomos;
2. as pessoas cuja autonomia está diminuída devem ser
objeto de proteção.
• O princípio da beneficência, segundo o qual as pessoas são
tratadas de forma ética, não só respeitando as decisões e
protegendo-as do dano, mas também fazendo um esforço
para assegurar o seu bem-estar. A beneficência não é en-
tendida aqui como uma atitude substitutiva, mas como uma
obrigação do médico, e, nesse sentido, é explicada em duas
regras:
1. o princípio hipocrático de não-maleficência, que é tam-
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bém o segundo dos deveres jurídicos, resumindo-se na


expressão “não cause danos a ninguém”;
2. a obrigação de ampliar os possíveis benefícios e minimi-
zar os possíveis riscos.
101 PÁGINA

• O princípio da justiça, que tenta responder à pergunta:


quem deveria receber os benefícios da pesquisa e suportar
seus encargos?
Evidentemente que tais princípios contribuem para a definição e
ao mesmo tempo recebem o aporte de inúmeras regras e normas,
que os ampliam e aprofundam, sendo constantemente atualizados,
com o objetivo de manter a comunidade científica dentro de padrões
aceitáveis de comportamento.
Isso é importante porque, até pouco tempo, o ser humano consu-
mia produtos sem agrotóxicos, mas não tinha medicamentos para

ÉTICA E CIDADANIA
todas as doenças. E agora consomem alimentos transgênicos, por
exemplo, feitos com sementes modificadas geneticamente.
Muita polêmica foi criada em torno dos alimentos transgênicos,
chegando ao ponto de questionamentos sobre a sucumbência da
ética ao poder econômico. O fato é que, atualmente, há animais sen-
do clonados, e já há notícias de clonagem humana, mas ainda muito
questionada pela comunidade científica internacional.

Os transgênicos são alimentos que tiveram modificações genéti-


cas, com o objetivo, sobretudo, de aumentar a produtividade, resis-
tindo a pragas da natureza. Para conhecer um pouco mais, acesse o
link: https://cib.org.br/transgenicos/. Acesso em: 7 ago. 2019.

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102
PÁGINA

A notícia sobre a clonagem humana caiu como uma bomba na co-


munidade científica internacional, cujos membros julgam perigosos
tais experimentos. Acesse o link: https://epocanegocios.globo.com/
Mundo/noticia/2018/11/cientista-chines-alega-ter-editado-genes-de
-bebes-pela-primeira-vez-na-historia.html. Acesso em: 10 ago. 2019.
ÉTICA E CIDADANIA

No caso da ovelha Doly, primeiro animal clonado no mundo, veri-


ficou-se que, com pouco tempo de vida, ela apresentava inúmeros
problemas, como o envelhecimento precoce e a vulnerabilidade a
algumas doenças. No que diz respeito à clonagem humana, apesar
de não reconhecida cientificamente, o noticiário internacional divul-
w w w. u s f . e d u . b r

gou ter ocorrido em 2019 na China. Ambos os casos foram alvos de


muitas críticas pela comunidade científica internacional, que pedia
a intervenção de comitês de ética, objetivando fiscalizar as ativida-
des dos cientistas envolvidos.
103
PÁGINA

A Figura 9.1 ilustra a ovelha Doly, primeiro animal clonado no


mundo.

ÉTICA E CIDADANIA
Figura 9.1: Primeiro animal clonado
Fonte: Pixabay (2019).

Nesse contexto, a genética e a corrida para ser o primeiro em


feitos inéditos nessa área vêm promovendo questionamentos sobre
os procedimentos. Apesar de um avanço fantástico, mesmo os cien-
tistas não conhecendo amplamente os desdobramentos de experi-
mentos como a clonagem humana, muitas hipóteses são levanta-
das. Como exemplo, temos a criação de raças superiores.
Porém, se por um lado evidenciamos os benefícios das modifica-
ções genéticas, em livrar as gerações futuras de doenças que hoje
ainda causam mortes, por outro lado a ética precisa entrar em cena
para evitar que a vontade individual ou de grupos econômicos pre-
valeça sobre a vontade e necessidade coletiva.
Assim, Cortina e Martinez (2013, p. 163) consideram que nin-
guém, individualmente “[...] tem o direito de decidir se finalmente se
leva ou não a cabo uma determinada possibilidade de modificação
w w w. u s f . e d u . b r

genética de uma espécie, particularmente, a espécie humana”. Por


isso, os autores concordam que as decisões éticas na ciência ou da
ética, em qualquer campo, não devem ser centralizadas nas mãos
de poucos atores, como políticos, cientistas ou agentes públicos.
104
PÁGINA

As decisões que envolvem diferentes grupos sociais e profissio-


nais, ou grandes grupos de pessoas, devem ser tomadas por repre-
sentantes dos potencialmente afetados pelas consequências das
decisões, e, jamais, concentradas em poucos indivíduos.

Por isso, no amplo debate sobre as questões da ética, três aspectos


levantados por Cortina e Martinez (2013, p. 163-164), destacam-se, sobre-
tudo, quando analisamos as decisões éticas.

Comunicação para o grande público


ÉTICA E CIDADANIA

Conseguir fazer com que especialistas comuniquem suas pes-


quisas à sociedade, que as aproximem do grande público, de modo
que esse possa codecidir de forma autônoma, ou seja, contando
com a informação necessária para tanto.

Conscientização do individuo
Conscientizar os indivíduos de que são eles que deverão decidir,
saindo de sua habitual apatia nesses assuntos.

Educação moral
Educar moralmente os indivíduos na responsabilidade pelas deci-
sões que podem envolver não só indivíduos, mas também a espécie.
Essa educação moral pressupõe identificar e apresentar simulta-
neamente a responsabilidade que os indivíduos têm em se informar
seriamente sobre esses temas e o dever de decidir, atendendo às
expectativas e necessidades da coletividade.
Em alguns países, como no Brasil, as pessoas não costumam
compreender teoricamente ou praticamente o significado da ética
e da cidadania, uma vez que, comumente, individualizam a ética sob
o ponto de vista da cidadania, requerendo ou exigindo direitos, mas
se afastando dos deveres.
Em contrapartida, nas sociedades em que as pessoas reconhe-
cem o seu papel, no âmbito da cidadania, sabem da necessidade do
equilíbrio entre os direitos e deveres. É a partir desse equilíbrio que
w w w. u s f . e d u . b r

se tem, por exemplo, a redução das desigualdades sociais e a am-


pliação da participação das pessoas nas decisões.
Nesses países, as classes profissionais, como a dos políticos,
não possuem papel determinante na condução das questões que
105
PÁGINA

envolvem os interesses coletivos. Pois a coletividade reconhece a


necessidade do equilíbrio na participação e sabe como a centraliza-
ção de decisões pode ser perigosa. Por isso, limitam a delegação de
responsabilidades e decisões aos políticos.
Nesse estudo, verificamos que a ética e a cidadania acompa-
nham as mudanças que ocorrem na sociedade em função de sua
natural evolução. Entretanto, essa própria sociedade precisa perce-
ber o seu nível de desenvolvimento, visto que sociedades centraliza-
doras tendem a reservar poucos espaços ao exercício da cidadania,

ÉTICA E CIDADANIA
diminuindo, por vezes, significativamente, a importância e mesmo a
ideia da ética e da moral como elementos fundamentais à liberdade
e ao pleno exercício da cidadania.

SÍNTESE DAS UNIDADES


Nesta unidade, vimos algumas questões práticas da ética, além
de verificar que a ética coletiva determina os valores e comporta-
mentos dos indivíduos. Portanto, nas relações éticas, os interesses
e necessidades da coletividade devem ser mantidos, mesmo que
contrariem interesses individuais.
A ética não subjetiva é inerente ao comportamento das pessoas,
guia seus valores e conduta, norteia as regras e normas da socieda-
de e dos seus diferentes grupos.
Quando pessoas ou grupos cometem ações que ferem a éti-
ca, comumente chamadas de antiéticas, sofrem as sanções da
sociedade de diversas formas, por exemplo, por meio de reprova-
ção social ou de penalidades constantes em códigos de ética ou
códigos de leis.
Na ética, o Eu não é maior que o Nós, afinal de contas, apesar
de algumas características diferirem as pessoas, como as físicas,
geneticamente e eticamente somos semelhantes.
Assim, durante os estudos desta unidade, identificamos que há
valores e comportamentos éticos reconhecidos universalmente,
enquanto outros códigos são próprios de grupos sociais que vivem
em espaços geográficos bem delimitados. Mas nem por isso são
w w w. u s f . e d u . b r

opostos aos comportamentos, valores ou códigos de ética que são


reconhecidos e praticados em regiões mais amplas. Isso significa
que as nossas leis estaduais não podem prevalecer sobre as leis da
Constituição Federal.
106
PÁGINA

Desse modo, finalizamos a unidade com uma abordagem sobre a


ética na ciência, sobretudo em tempos de biotecnologia, clonagem
de animais, corrida armamentista, conquistas no espaço, instru-
mentos, processos, métodos, produtos e técnicas. Com isso, vimos
que a ciência contribui e pode continuar contribuindo para o desen-
volvimento da sociedade, mas é uma área que precisa de acompa-
nhamento para evitar que atos antiéticos se tornem catástrofes de
amplitude mundial.
Isso porque a evolução da ciência ocorre em ritmo difícil de ser
acompanhado, pois, enquanto lemos essas linhas, muitos trabalhos
ÉTICA E CIDADANIA

científicos estão sendo desenvolvidos em laboratórios de pesquisas


pelo mundo afora.

Para aprofundar seus conhecimentos no tema da Ética e cidada-


nia, assista à entrevista do Prof. Calvino Vieira Júnior: https://www.
youtube.com/watch?v=jA3LSvN-DCE. Acesso em: 6 ago. 2019.

Assim, para evitar que interesses pessoais, econômicos, ou de ou-


tro tipo tomem forma de comportamentos que possam de alguma
maneira prejudicar as pessoas, a ética e a moral, com seus códigos,
devem entrar em cena e contribuir para que as pessoas não ultrapas-
sem todos os limites da razoabilidade em seus comportamentos.
Desse modo, também, abordamos a relação que melhor mate-
rializa a prática da cidadania, qual seja a noção individual e coletiva
de direitos e deveres sociais. Comumente, no Brasil, observamos a
inadimplência cidadã em relação aos deveres individuais e coletivos,
bem como a exigência de certos direitos não é realizada de forma
contundente.
Portanto, para uma sociedade mais justa, a ética e a moral de-
vem estar presentes em todos os comportamentos das pessoas. É
desse cotidiano comportamental que se criam importantes elemen-
tos culturais transferidos de uma geração a outra, fortalecendo a
cidadania, os valores morais e a noção de coletividade. Questões
que podem ser tratadas por cada pessoa, diariamente, independen-
w w w. u s f . e d u . b r

temente da idade, da classe social, do sexo, da religião e da cor. Para


isso, é preciso ter vontade e disciplina, afinal de contas, exemplos de
comportamentos antiéticos não nos faltam.
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PÁGINA

REFERÊNCIAS
ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução
à filosofia. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2004.

BRASIL. Ministério do desenvolvimento social: Programa Bolsa


Família. Disponível em: https://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/
ferramentas/docs/manual_do_pesquisador_gestao_bolsa_fami-
lia_semlogo.pdf. Acesso em: 6 ago. 2019.

ÉTICA E CIDADANIA
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 14. ed. São Paulo: Ática, 2011.

CONSELHO DE INFORMAÇÕES SOBRE BIOTECNOLOGIA – CIB. Dis-


ponível em: https://cib.org.br/transgenicos/. Acesso em: 7 ago. 2019.

CORTINA, A.; MARTINEZ, E. Ética. São Paulo: Loyola, 2013.

CUNHA, S. S. da. Ética. São Paulo: Saraiva, 2012.

ESTADÃO CONTEÚDO. Cientista chinês alega ter editado ge-


nes de bebês pela primeira vez na história. Época negócios, 26 nov.
2018. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Mundo/
noticia/2018/11/cientista-chines-alega-ter-editado-genes-de-be-
bes-pela-primeira-vez-na-historia.html. Acesso em: 10 ago. 2019.

JONAS, H. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para


a civilização tecnológica. Tradução de Marijane Lisboa e Luiz Barros
Montez. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUCRio, 2006.

NONAKA I.; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa.


16. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997.

TV PARANAÍBA. A importância da ética e da moral na sociedade.


YouTube. 18 dez 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/wa-
w w w. u s f . e d u . b r

tch?v=jA3LSvN-DCE. Acesso em: 10 ago. 2019.


UNIDADE 10
ÉTICA E CIDADANIA

10 ÉTICA E CIDADANIA NA SOCIEDADE


GLOBALIZADA E TECNOLÓGICA

10.1 Mudanças na contemporaneidade


Quando, em 1492, Cristóvão Colombo chegou ao continente ameri-
cano, apesar das imensas dificuldades de comunicação, o mundo inau-
gurou novas rotas comerciais com novas oportunidades de comércio no
entorno do globo terrestre.
No início da Revolução Industrial, aproximadamente em 1750, não foi
diferente, pois o mundo experimentou um período de intensas descober-
tas, invenções e criações que facilitaram a comunicação e a exploração
de terras ainda inexploradas. Além disso, novos produtos, empresas,
padrões de consumo e comportamentos se desenvolveram, sobretudo
com o forte movimento de urbanização ocorrido nos primeiros cem anos
dessa revolução. O modelo de produção criado pelas empresas multi-
nacionais, as duas guerras mundiais, o telefone, o telex e o fax criaram
condições fundamentais para a explosão da internet.
Então, a partir do ano 2000, o mundo se torna menor, com novas ro-
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tas marítimas e aéreas, principalmente devido à capacidade de comuni-


cação ofertada pela internet. Essa tecnologia veio acompanhada da mi-
niaturização dos dispositivos tecnológicos, como o aparelho de telefone
celular, colocando o mundo na palma da mão.
109
PÁGINA

A Figura 4.1 ilustra a diminuição do globo terrestre que pratica-


mente teve suas fronteiras geográficas desaparecidas a partir das
mudanças tecnológicas.

ÉTICA E CIDADANIA
Figura 4.1: Globo terrestre
Fonte: Pixabay (2019).
As tecnologias e os novos mercados tornaram o globo terrestre
aparentemente menor, contudo, significativamente menor se com-
pararmos à época de Cristóvão Colombo.
Além dos avanços tecnológicos, a globalização da economia trou-
xe a grande necessidade de desregulamentação no trabalho. Isso fez
com que as massas trabalhadoras perdessem direitos e conquistas
históricos, tendo os rendimentos achatados e, em muitos casos, pro-
movendo relações contraproducentes no ambiente de trabalho.
Esses fatores, na visão de Valls (2013), mostram que o domínio
dos países centrais, conhecidos como desenvolvidos, ampliou-se
por meio do poder econômico em relação aos países periféricos, co-
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nhecidos como subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.


Para tanto, visando atenuar eventuais fragilidades nas negocia-
ções comerciais, muitos países adotaram como estratégia a união
regional em torno de blocos econômicos. Por exemplo:
110
PÁGINA

O Mercosul
Do qual o Brasil faz parte, trata-se de uma organização interna-
cional criada em 1991, cuja constituição tem na sua formação os se-
guintes países da América do Sul: Argentina, Brasil, Paraguai, Uru-
guai e Venezuela. Além desses, temos como países associados, isto
é, não figuram como membros definitivos: Bolívia, Chile, Colômbia,
Equador, Guiana, Peru e Suriname. O Mercosul é o bloco econômico
ÉTICA E CIDADANIA

que representa o Hemisfério Sul do continente americano.

Nafta
Do qual os Estados Unidos da América fazem parte. North Ame-
rican Free Trade Agreement, ou Tratado Norte-americano de Livre
Comércio, é um bloco econômico formado pelos seguintes países:
Estados Unidos, Canadá e México. Ratificado em 1993, entrou em
operação em 1º de janeiro de 1994. Esse bloco econômico represen-
ta o Hemisfério Norte do continente americano.

Mercado Comum Europeu


Surgiu com a assinatura do Tratado de Roma, em 1957. O Merca-
do Comum Europeu era uma associação de países com a finalidade
de criar uma zona econômica sem tarifas e taxas, e com liberdade
de circulação entre os países. Faziam parte do MCE: Alemanha, Bél-
gica, França, Itália, Holanda e Luxemburgo. Posteriormente, ocor-
reu a criação da União Europeia (UE) com a assinatura do Tratado
de Maastricht, em 1992, com a participação de mais países.

É percebida uma fragilidade devido à globalização do mercado,


sobretudo pelos movimentos do mercado financeiro em torno das
bolsas de valores. Por exemplo, quando as bolsas asiáticas estão
funcionando, as do continente americano estão fechadas, porém o
dinheiro virtual continua em operação.
Desse modo, observamos que a reestruturação mundial trouxe
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reflexos nos comportamentos das pessoas e das famílias. No plano


individual, Cunha (2012) considera que o excessivo individualismo
leva à competição desenfreada, oferecendo perigo aos relaciona-
mentos entre as pessoas.
111
PÁGINA

O isolamento ou afastamento das famílias, em relação ao espírito


comunitário, é outro fator muito presente na sociedade contempo-
rânea, fazendo com que a noção de solidariedade diminua, e a ideia
de interesse individual pessoal (ou familiar) se sobressaia em rela-
ção à coletividade.
Valls (1975, p. 75) entende que outras inquietações ameaçam o
equilíbrio das relações entre os países.
Também inquietam ao extremo a consciên-
cia ética atual as formas políticas ditatoriais,

ÉTICA E CIDADANIA
totalitárias, autoritárias ou, eufemisticamente,
militares, que se tornaram tão familiares aos
homens do final do século XX. O cinismo dos
poderosos hoje é muito mais explícito do que o
dos gregos. As relações internacionais ba-
seiam-se hoje em quê? Na justiça ou na força?
Uma justiça entre as nações ou os Estados é
um conceito que até o momento ainda não se
desenvolveu nem se firmou, nem nas consciên-
cias, nem na prática política.

É perceptível o desequilíbrio nas negociações entre países de-


senvolvidos e países em desenvolvimento, basicamente em função
do poder de barganha que o primeiro exerce sobre a necessidade de
negociação do segundo.
Mesmo parecendo distantes, esses aspectos influenciam no
comportamento do mercado de trabalho, que, por sua vez, impacta
no comportamento das pessoas de várias formas, tais como: neces-
sidade do emprego, medo do desemprego, aceite em receber salá-
rios menores para se manter no trabalho, limitações nas atividades
de lazer, entre outras.
Ainda, podemos citar que, em países como o Brasil, comumente
as pessoas de baixa renda não contam com muitos anos de estudos;
consequentemente, encontram dificuldades de acesso a serviços
de transporte público, saúde pública e outros serviços que caracte-
rizam a presença do Estado nas suas vidas.
Esses e outros elementos presentes na sociedade contemporâ-
w w w. u s f . e d u . b r

nea contribuem para caracterizar o que Valls (2013, p. 70) define


como os três elementos que fortalecem o sentido, o significado e a
presença da eticidade na sociedade, que são família, sociedade civil
e Estado, os quais a ética não pode deixar de considerar.
112
PÁGINA

Na Tabela 4.1 descrevemos cada um desses elementos.


Elementos
Descrição
da Eticidade

Hoje se colocam de maneia muito aguda as questões


das exigências éticas do amor. O amor não tem de ser
livre? O que dizer então da noção tradicional do “amor
livre”? Ele é realmente livre?
Como definir, atualmente, o que é a verdadeira fidelida-
de, sem identificá-la com formas criticáveis de possessi-
ÉTICA E CIDADANIA

vidade masculina ou feminina?


Como fundamentar, após os progressos das ciências hu-
manas, os compromissos do amor, como se expressam
na resolução (no sim) matrimonial? E como desenvolver
uma nova ética para as novas formas de relacionamento
heterossexual? Como fundamentar hoje as preferências
por formas de vida celibatária, casta ou homossexual?
As transformações histórico-sociais exigem igualmente
reformulações nas doutrinas tradicionais éticas sobre o
relacionamento dos pais com os filhos. Novos problemas
Família surgiram com a presença maior da escola e dos meios de
comunicação na vida diária dos filhos. As figuras tradi-
cionais, paterna e materna, não exigem uma nova refle-
xão sobre os direitos e os deveres dos pais e dos filhos?
Em especial, a reflexão sobre a dominação das con-
sideradas minorias sociais chamou a atenção para a
necessidade de novas formas de relacionamento dentro
do próprio casal. O feminismo, a luta pela libertação da
mulher, traz em si exigências éticas, que até agora ainda
não encontraram talvez as formulações adequadas,
justas e fortes. A libertação da mulher, como a libertação
de todos os grupos oprimidos, é uma exigência ética das
mais atuais.
E, como lembraria Paulo Freire em Pedagogia do Oprimi-
do, a libertação não se dá pela simples troca de papéis:
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a libertação da mulher liberta igualmente o homem


(FREIRE, 1998).
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Em relação à sociedade civil, os problemas atuais con-


tinuam os mais urgentes: referem-se ao trabalho e à
propriedade. Mas como falar de ética em um país onde
a propriedade é um privilégio tão exclusivo de poucos?
E não é um problema ético a própria falta de trabalho, o
desemprego, para não falar das formas escravizadoras
do trabalho, com salários de fome, nem da dificulda-
de de auto realização no trabalho, quando a maioria
não recebe as condições mínimas de preparação para
ele, e depois não encontram, no sistema capitalista,

ÉTICA E CIDADANIA
as mínimas oportunidades para um trabalho criativo e
gratificante? Em um país de analfabetos, falar de ética é
sempre pensar em revolucionar toda a situação vigente.
Sociedade
É verdade que as grandes reformas das quais nosso país
Civil
necessita não são questões apenas éticas, mas também
políticas, o inverso não é menos verdade: não são só po-
líticas, são questões éticas que desafiam o nosso sentido
ético. A ética contemporânea aprendeu a preocupar-se,
ao contrário das tendências privatistas da moral, com o
julgamento do sistema econômico como um todo.
O bem e o mal não existem apenas nas consciências
individuais, mas também nas próprias estruturas institu-
cionalizadas de um sistema. A crítica atual insiste muito
mais sobre a injustiça que reside no fato de só alguns
possuírem os meios da riqueza. A crítica à propriedade
se reduz em muito aos meios de produção, criando evi-
dentemente uma sociedade amplamente desigual.

Os problemas éticos são muito ricos e complexos. Na


atualidade, a liberdade do indivíduo só se completa como
liberdade do cidadão de um Estado livre e de direito.
As leis, a Constituição, as declarações de direitos, a
definição dos poderes, a divisão desses poderes para
Estado
evitar abusos, e a própria prática das eleições periódicas
aparecem hoje como questões éticas fundamentais. Nin-
guém é livre em uma ditadura, em governos cujo sentido
w w w. u s f . e d u . b r

ético é particular e ignora qualquer tipo de necessidade


da prática da ética que emana da sociedade.
Tabela 4.1: Três elementos da eticidade (qualidade ou caráter do que é condizente com a moral e
com a ética)
Fonte: Valls (2013, p. 70).
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O tripé família, sociedade civil e Estado configuram a estrutura


física da ética, isto é, os atores responsáveis pelo comportamento
ético em qualquer sociedade.
Na Figura 4.2, percebemos como os três atores da eticidade es-
tão no campo da sociedade e como suas relações são intensas. Ob-
serve que estão inseridos no amplo espaço da sociedade, não ha-
vendo hierarquização nas relações.

Sociedade Civil
ÉTICA E CIDADANIA

Família Estado

SOCIEDADE

Figura 4.2: Relações entre os atores da eticidade na sociedade.


Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

A escola se configura como uma importante instituição do Es-


tado no que concerne à disseminação dos padrões éticos de uma
sociedade. Acesse este link e estude um pouco mais sobre a rela-
ção entre família, sociedade civil e Estado como atores da etici-
dade: https://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/4451_4038.pdf.
Acesso em: 10 ago. 2019.

Nesse contexto, o tripé da eticidade apresenta relação intensa


nas mudanças dos padrões éticos da sociedade e, sobre isso, po-
de-se falar de diversas áreas sociais, como relações econômicas,
políticas e sociais. Podemos observar essa relação no cotidiano ao
observar o caso do cinto de segurança, que era um acessório de
uso não obrigatório. Contudo, as diversas campanhas públicas, a
conscientização nas escolas e o endurecimento da fiscalização com
multa financeira a quem desrespeita essa norma tornaram o cinto
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de segurança um acessório amplamente usado no país. As pesso-


as compreenderam sua necessidade e há reprovação pública para
quem não faz uso.
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As campanhas para o uso do cinto de segurança ainda continu-


am, mas agora trazem outras informações, como a conscientização
no trânsito, por exemplo, não dirigir após a ingestão de bebidas al-
coólicas ou de outras drogas.
Além das campanhas de trânsito, contamos com as campanhas
para a preservação do meio ambiente, que apresentam informações
amplas, desde os problemas do desmatamento, passando pela ne-
cessidade da reciclagem de óleo de cozinha e outros produtos deri-
vados do plástico e dos metais, até a distribuição de sacolas de lixo
para carros. Outros exemplos de campanhas que podemos destacar

ÉTICA E CIDADANIA
são aquelas que tratam de assuntos como a homofobia, o respeito,
o combate à violência e à corrupção. O fato é que essas campanhas
podem ocorrer na escola, nas igrejas, nas instituições sociais, nas
empresas públicas, na televisão e em tantos outros meios de comu-
nicação. Essas são instituições que têm importância como influen-
ciadoras do comportamento das pessoas em sociedade, por isso as
campanhas podem ganhar notoriedade por meio dessas instituições.
Dessa forma, verificamos que as campanhas tomam força ao ter
o tripé da eticidade como os principais atores irradiadores de novos
comportamentos, passando a mensagem de que a vida tende a ser
melhor com mudanças simples de comportamentos.

Quando as campanhas procuram convencer as pessoas a mudar


o seu comportamento em relação a determinados assuntos que afe-
tam toda a coletividade, de alguma forma estamos tratando de mu-
dança de postura ética e moral, que são praticadas pela tomada de
conscientização sobre a importância de mudar o comportamento.
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Então, quando uma campanha pública muda o comportamento das


pessoas, significa que a ética e a moral estão em amplo exercício. Isso
porque a pessoa se sentiu livre para mudar, avaliou ou julgou todas as
possibilidades e decidiu mudar. Convém destacar que esse tipo de de-
cisão também favorece a sensação de exercício da cidadania.
Autores como Chauí (2011) e Aranha e Martins (2004) entendem
que a liberdade das pessoas é um elemento fundamental para o for-
talecimento dos comportamentos éticos.
Devemos ter consciência de que há mudanças na sociedade que
fazem parte do seu natural desenvolvimento, influenciando no com-
ÉTICA E CIDADANIA

portamento das pessoas, como a adoção de tecnologias nas empre-


sas, as mudanças na legislação trabalhista em muitos países, o au-
mento no nível de competitividade no mercado mundial e o aumento
no nível de competição pelo emprego e nas empresas. Mudanças
que ocorrem independentemente da decisão das pessoas, por isso
influenciam no comportamento.
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UNIDADE 11

ÉTICA E CIDADANIA
11 – ÉTICA E CIDADANIA NA SOCIEDADE
GLOBALIZADA E TECNOLÓGICA

11.1 DIFERENTES MOMENTOS DA


SOCIEDADE TECNOLÓGICA
Vivemos em um momento impressionante da evolução humana, pois as
tecnologias estão crescendo em ritmo acelerado, sendo sua onipresença um
fator importante ao consumo.
Temos carros, casas e eletrodomésticos inteligentes, canais de comuni-
cação velozes que cobrem o globo terrestre em frações de segundos. Até
parece que as tecnologias estão presentes em tudo que usamos. Por vezes,
brincamos ao dizer que não há mais como fazer qualquer coisa às escondi-
das, porque alguém sempre está filmando, fotografando ou gravando para
postar nas redes sociais.
No entanto, a sociedade ainda convive com a miséria, com as guerras, com a
fome, com a violência, com milhões de pessoas morando nas ruas, enfim, com
as velhas contradições sociais que existem em todos os cantos do planeta.
Muitas tecnologias à nossa disposição foram criadas há bem pouco tempo,
contudo, a corrida pela tecnologia iniciou faz muito. A criação da máquina a
w w w. u s f . e d u . b r

vapor, por exemplo, significou uma revolução para a sociedade mundial, tanto
nos transportes, na indústria, quanto nas próprias casas. A adoção dessas
tecnologias contribui com o aumento na qualidade de vida das pessoas nas
suas casas e no ambiente de trabalho, enfim, em qualquer lugar.
118
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Máquina a Vapor
Foi a máquina a vapor que permitiu a criação dos carros! A partir
do princípio da queima de combustível como fator produtor dos ga-
ses para movimentar os motores.
ÉTICA E CIDADANIA

Aprofunde seus conhecimentos acessando o link: https://super.


abril.com.br/mundo-estranho/como-foi-inventado-o-automovel/.
Acesso em: 13 ago. 2019.

A ética empresarial da época, nas fabricas, após 1750, era muito


questionável, pois homens, mulheres e crianças trabalhavam até 16
horas por dia. E a contratação de mulheres e crianças acontecia por
serem mão de obra mais barata que a masculina.
Nas cidades ainda em crescimento, a pobreza, as doenças, a
fome, o alcoolismo e os altos índices de violência criavam um con-
texto de inexistência da cidadania, sendo os atos imorais comuns,
desde assassinato a sangue frio nas ruas até a morte pela fome.
Nesse contexto, a Revolução Industrial seguia seu curso amplian-
do o poder aquisitivo dos empresários. Porém, a situação social se
mostrava completamente caótica, fator determinante para a neces-
sidade de racionalizar as relações humanas nas ruas, tornando-as
mais éticas e morais. Afinal de contas, o cenário previa e permitia a
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extinção ou a morte de grandes contingentes populacionais.


Com isso, as máquinas passaram a determinar o ritmo de tra-
balho das pessoas, cuja vida social quase não existia, pois, além da
passagem pela igreja, nenhuma outra atividade social era realizada.
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Entretanto, a sociedade se desenvolve com o passar do tempo


e cria outras possibilidades de coexistência de múltiplos interesses
em um só ambiente.
A chegada do Século XX, então, marca um intenso movimento
armamentista, fazendo a sociedade mundial testemunhar conflitos
armados nos primeiros 50 anos desse século (CORTINA; MARTI-
NEZ, 2013). A Revolução Russa (1917), a Primeira Guerra Mundial
(1914 – 1918), a Segunda Guerra Mundial (1940 – 1944), a Guerra
Fria, que dividiu o mundo em dois blocos, o capitalista e o socialista,
tendo como ápice conflituoso a Guerra do Vietnã (1955 – 1975) e

ÉTICA E CIDADANIA
outros casos em que os lados, capitalista e socialista, trocavam acu-
sações, como no episódio da crise dos mísseis em Cuba em 1962.
Momento que tornou o mundo um espaço de muitas contradições
morais, uma vez que milhares de pessoas eram mortas na defesa de
interesses de pequenos grupos, disfarçados de ideais patrióticos.
Dessa forma, atos como o uso de armas químicas e tantos outros
atos covardes foram alvo de críticas por todo o mundo. Na visão de
Jonas (2006), Chauí (2011) e Cunha (2012), a brutalidade das guer-
ras, que se viu em boa parte do século XX, fez ofuscar e praticamen-
te tirar de cena a ética e a moral.
A Figura 4.3 ilustra a devastação provocada pelos conflitos du-
rante a Segunda Guerra Mundial.

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Figura 4.3: A devastação provocada pelos bombardeios durante a Segunda Guerra


Mundial
Fonte: Pixabay (2019).
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Na segunda metade do século XX, como mostra Cunha (2012), a


necessidade de preservação da espécie levou a sociedade mundial
a normatizar os comportamentos, visando justamente limitar e até
punir pessoas ou grupos sociais que viessem atentar contra a espé-
cie humana. Para viabilizar isso, os países tiveram que celebrar um
amplo pacto de paz e reconstrução.

Um dos países que mais aportou recursos financeiros, com


o intuito de financiar a reconstrução da Alemanha no período do
ÉTICA E CIDADANIA

pós-Segunda Guerra Mundial, foi os Estados Unidos da América.


Desse ato, surge uma estreita parceria entre esses países que se
mantêm fortes atualmente.

A criação de instituições como a Organização das Nações Uni-


das (ONU) (1945) foi um dos resultados desse pacto, que mostrava
novos tempos e avanços na diplomacia internacional. As ações da
ONU ultrapassam a intervenção diplomática em conflitos e promove
ajuda humanitária a países e populações atingidas por confrontos e
desastres naturais, pois objetiva a paz no mundo, mantendo o equi-
líbrio social entre os países.
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Figura 4.4: Bandeira da ONU


Fonte: Pixabay (2019).
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Esses eventos mostram claramente a necessidade de códigos


de ética mais enérgicos, uma vez que os interesses unilaterais de
alguns países ou de grupos sociais eclodiram guerras e outros even-
tos que colocaram a estabilidade social mundial em risco.
Após a invenção da máquina a vapor, outra importante inovação
do mundo moderno foi, em 1947, a criação do transistor, que permi-
tiu a criação, em 1971, do microprocessador, elemento fundamental
à nova geração tecnológica de computadores e outros dispositivos.
O fato é que o desenvolvimento da ciência e das tecnologias foi tão
intenso que a sociedade não conseguiu e não consegue acompa-

ÉTICA E CIDADANIA
nhar essa evolução, resultando na sensação de que estamos reféns
desse processo.
Atrelado a esses eventos, o sistema capitalista evoluiu rapida-
mente, e a acumulação de capital (própria do sistema) influenciou o
comportamento das pessoas, que passaram a perceber o seu papel
na sociedade de forma individualizada, assegurando o egoísmo.
A inversão de valores se tornou notória entre muitas ações huma-
nas. Visando apenas o lucro financeiro, as relações passam a acontecer
como meio para alcançar tal fim. Na visão de Jonas (2006), o egoísmo
é inseparável das pessoas, mas controlado pela moral. Desse modo,
quando em uma multidão ou na coletividade a pessoa só consegue se
ver, então ela está, de alguma forma, agindo de forma egoísta.

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Figura 4.5: Egoísmo


Fonte: Pixabay (2019).
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Diferentemente dessa postura, a ética preza pelo bem-estar co-


letivo, pela ação de ajuda mútua ou, na pior das hipóteses, pela razo-
abilidade nas atividades que envolvem relações financeiras, desde
que a situação razoável mantenha o equilíbrio nessa interação. Sen-
do assim, a ética preza pelo espírito coletivo (Figura 4.6).
ÉTICA E CIDADANIA

Figura 4.6: Espírito coletivo


Fonte: Pixabay (2019).
Nessa perspectiva, no plano da ética, a expressão “construir a
própria vida” não é sinônimo de individualismo exacerbado ou egoís-
mo severo, mas uma forma de indicar para as pessoas que elas pos-
suem responsabilidades sobre suas decisões, visto que as nossas
ações são sempre julgadas ou analisadas pela coletividade.
Por isso percebemos que não somos singulares, únicos, fazemos
parte de uma espécie que para sobreviver depende de recursos na-
turais e da solidariedade de outros. A ideia de singularidade trazida
com as novas tecnologias é falsa, pois nem mesmo no espaço virtual
mantemos ou conseguimos o anonimato.
As pessoas não conseguem se esconder por muito tempo nas
redes sociais ou qualquer outro campo do mundo virtual. Possivel-
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mente as pessoas não estavam e ainda não estão preparadas para li-
dar com a quantidade significativa de informações disponibilizadas,
por exemplo, na internet. O que até pouco tempo era um problema,
a falta de informações, hoje sua abundância criou outros problemas.
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A internet ou rede mundial de computadores foi uma criação fan-


tástica do ponto de vista do acesso à informação, tornando-se um
meio de comunicação efetivo, que permite, entre outras funções, a
comunicação entre pessoas e grupos em qualquer parte do globo.
Essa grande rede que, inicialmente, na década de 1970, teve pa-
pel importante na comunicação militar, logo tomou conta da acade-
mia e fascinou o mercado global, viabilizando inúmeras oportunida-
des de novos negócios.
Pergunte a si mesmo, afinal de contas, o que não é possível fazer

ÉTICA E CIDADANIA
pela internet? Em resposta a essa pergunta, muitas pessoas, espe-
cialmente os jovens, poderiam responder, “não sei”.
Mais recentemente, tivemos a miniaturização e ao mesmo tem-
po a multifuncionalidade de equipamentos, demonstrando que os
avanços tecnológicos estão em ampla expansão. As pessoas adqui-
rem e fazem uso de seus equipamentos diariamente e, em uma ló-
gica de mercado, sabem que alguns desses equipamentos são cria-
dos para manter o status consumista, em função do prazo de vida
curtíssimo que possuem.
O telefone é um bom exemplo desse caso, pois, até pouco tempo,
além de ter um elevado custo financeiro para a aquisição, era utiliza-
do apenas para comunicação falada e sem mobilidade.
Na Figura 4.7, visualizamos um aparelho de telefone fixo utilizado
na década de 1980.

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Figura 4.7: Aparelho de telefone fixo.


Fonte: Pixabay (2019).
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Porém, o aparelho de telefone mudou, ganhou mobilidade, deixou


de ser fixo, diminuiu significativamente em tamanho e ganhou múlti-
plas funções, como câmera fotográfica e acesso à internet, à medida
que são agregados aplicativos. Além disso, pode ser utilizado no meio
familiar, no lazer, no mundo profissional, como computador, televisão,
rádio, dispositivo de localização global, entre outras funcionalidades.
A Figura 4.8 apresenta um moderno aparelho de telefonia móvel.
ÉTICA E CIDADANIA

Figura 4.8: Telefone celular


Fonte: Pixabay (2019).

ANATEL
Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), o
Brasil registrou 35.650.458 linhas de telefonia fixa no mês de junho
de 2019. Em relação ao mês anterior (maio de 2019), houve uma re-
dução de 214.478 linhas e, nos últimos 12 meses, foram 3.037.305
linhas fixas a menos.
Com relação à telefonia móvel, o Brasil registrou 228 milhões de
linhas móveis ativas em junho de 2019.
IBGE
É importante destacar que o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) estima que a população brasileira seja de 210 mi-
lhões de pessoas.
Com base nesse estudo, verificamos que, junto a tantas mudan-
ças, existe a necessidade de revisar os valores e a moral que envol-
vem o uso das tecnologias. Isso porque, apesar de as mudanças es-
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tarem inseridas em comunidades de usuários, cada pessoa possui


sua identificação, seu perfil e, por vezes, manifesta ideias que não
convergem com a forma de pensar da coletividade ou comunidade
na qual está inserida.
UNIDADE 12

ÉTICA E CIDADANIA
12 – ÉTICA E CIDADANIA NA SOCIEDADE
GLOBALIZADA E TECNOLÓGICA

12.1 OS LIMITES DA ÉTICA NO MUNDO


VIRTUAL
Se, no mundo off-line, algumas vezes a ética perde o foco, imagina no
mundo virtual, que, aparentemente, é uma “terra de ninguém”, tendo a éti-
ca ainda no princípio.
Certamente você é usuário de redes sociais e/ou deve ser membro de
grupos de aplicativos como o WhatsApp. Não importa em qual grupo você
esteja ou qual rede social usa, o que interessa é que todos possuem regras,
que podem ser complexas, prevendo a expulsão de quem as desrespeita,
ou o constrangimento quando envia uma mensagem que não é bem rece-
bida pelo grupo. No campo virtual, conhecer as normas de convivência do
seu grupo é fundamental para evitar situações embaraçosas.
Muitas pessoas podem acreditar que, na internet, tudo vale e tudo
pode, mas não é assim que funciona. A internet possui algumas regras de
convivência, e não basta apenas estar de acordo, é preciso, também, agir
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com respeito a elas.


Se o espaço virtual é democrático e se as pessoas têm liberdade de
expressão, então qual a diferença entre esses dois ambientes? Até aqui
nenhuma, o que ocorre, por exemplo, é que as pessoas passam a acreditar
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que a liberdade é total e irrestrita. Outro aspecto que limita a visão


do usuário sobre a ética no espaço virtual diz respeito à aparente
inexistência de regras punitivas para quem as desrespeita.
Esse fator é importante, considerando a dimensão do espaço vir-
tual que para muitos oferece a ilusão da liberdade não vigiada.
ÉTICA E CIDADANIA

Figura 4.9: O globo virtual


Fonte: Pixabay (2019).
No espaço virtual, encontramos o que precisamos: jogos, notícias,
serviços, entretenimento, produtos, entre outros. Contudo, ao des-
cuidar de algumas regras de segurança, poderemos correr alguns ris-
cos pessoais com resultados negativos à vida real, tais como:
1. Acesso a conteúdo impróprio.
2. Contato com pessoas mal-intencionadas.
3. Invasão de dados privados.
4. Uso criminoso ou mal-intencionado de dados pessoais.

Por isso é necessário ficar atento às notícias sobre tecnologia,


pois, com certa frequência, golpes a usuários de internet aconte-
cem, como o furto de documentos ou perdas financeiras.
Assim, é muito importante prestar atenção aos procedimentos
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de segurança. Conheça as regras que o seu provedor de internet


ou o administrador de rede oferece. Entre as regras de segurança,
certamente há a indicação para não responder a mensagens de ca-
dastramento, especialmente quando parecem ter sido enviadas por
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instituições públicas ou do mercado financeiro. Esse é o caminho


mais comum para os golpes na internet.
Todos os provedores de internet ou os administradores de rede
também recomendam não compartilhar senhas e muito menos dis-
ponibilizar dados confidenciais, visto que isso permite ou facilita a
ação dos golpistas, como os crimes cibernéticos.
Como a internet é um espaço social e mercadológico, eviden-
temente todo tipo de pessoa que encontramos no ambiente físico,
certamente pode ser encontrada no meio digital.

ÉTICA E CIDADANIA
Com isso, os procedimentos de segurança devem ser atenta-
mente percebidos e cuidadosamente seguidos pelas empresas, afi-
nal de contas, vários problemas podem ocorrer caso seu sistema de
segurança virtual tenha se quebrado ou seus computadores tenham
sido invadidos, tais como:
1. Exposição negativa da marca no mercado.
2. Invasão de seus bancos de dados.
3. Perda das bases de dados dos clientes.
4. Perdas financeiras.
5. Constrangimento moral perante o mercado.

Dessa forma, o controle sobre as aplicações tecnológicas deve


ser foco para todos que interagem no espaço virtual, pois deslizes,
principalmente com a segurança, expõem qualquer usuário ou em-
presa, resultando em desgastes e falta de confiança no ambiente
por longo tempo.

Exemplo de falta de confiança no ambiente virtual.


Muitos idosos preferem enfrentar filas para serem atendidos no
caixa das agências bancárias a ter comodidade de usar as máquinas
de autoatendimento.
O problema reside em como acompanhar ou monitorar a enorme
quantidade de usuários de internet em todo o mundo. Instituições
governamentais como o IBGE e a Anatel estimam que o número
de usuários de internet cresce cerca de 10 milhões a cada semes-
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tre. Com bilhões de pessoas interagindo no espaço virtual, usando


e-mails, aplicativos de mensagens como o Whatsapp, máquinas de
autoatendimento, redes sociais e tantas outras aplicações, fica a
dúvida de como controlar tantos acessos ao mesmo tempo.
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Essa tarefa é muito difícil!


Apesar de sermos facilmente identificados na internet, a partir
do rastreamento dos registros, ainda é possível identificar o cami-
nho de acesso de qualquer usuário. Porém, aqui o fato é que não
estamos falando de motoristas de automóveis, cujos números são
tão volumosos quanto os de usuários de internet, que possuem um
código nacional de trânsito punitivo.
ÉTICA E CIDADANIA

Assim, o controle das pessoas que acessam a internet não acon-


tece instantaneamente. Por exemplo, quando ocorre algum tipo de
crime cibernético, as autoridades necessitam mapear os registros
para identificar o usuário que cometeu o crime, como invasão e fur-
to de dados em sites pessoais ou sites corporativos.
Isso também acontece para ações pessoais ou entre grupos so-
ciais, quando ocorre a homofobia, o preconceito, o racismo, atos
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que ferem a moral coletiva, tanto quanto acontece no mundo real.


No Brasil, o Comitê Gestor da Internet (CGI.BR) é responsável
por diversos aspectos da internet no país, dos registros à gestão.
Entre as atribuições institucionais do CGI, seguem algumas:
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Atribuições do CGI

Estabelecer diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e ao


desenvolvimento da internet no Brasil.

Estabelecer diretrizes para a administração do registro de


Nomes de Domínio usando <br> e de alocação de endereços
internet (IPs).

ÉTICA E CIDADANIA
Promover estudos e padrões técnicos para a segurança das
redes e serviços de internet.

Recomendar procedimentos, normas e padrões técnicos opera-


cionais para a internet no Brasil.

Promover programas de pesquisa e desenvolvimento relaciona-


dos à internet, incluindo indicadores e estatísticas, estimulando
sua disseminação em todo território nacional.

Tabela 4.2: Atribuições do CGI


Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

Essa é uma importante instituição que discute e delibera assun-


tos relacionados aos comportamentos éticos na internet. Em um
dos seus trabalhos, a cartilha “Internet com responsa: cuidados e
responsabilidades no uso da internet” (CGI, 2017), o CGI focou como
público-alvo dessa publicação crianças e, sobretudo, adolescentes.
Nesse trabalho, o CGI recomenda, aos jovens, cuidados básicos
para evitar problemas sérios com o uso da internet. Alguns desses
elencamos a seguir:
• Não postar informações pessoais como o endereço de casa
ou da escola, bem como os hábitos de passeios e viagens
da família ou dos amigos.
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• Cuidar na hora de criar e utilizar senhas, não usando dados


básicos, como a data de nascimento.
• Não publicar conteúdos desmoralizantes, constrangedores
ou que causem danos a outras pessoas.
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• Não fazer comentários que depreciem a imagem dos amigos,


ou mesmo pessoas que não conhece.
• Criar perfil falso.

A estratégia do CGI, com a publicação, consiste em esclarecer


aos adolescentes que a internet não é um ambiente sem leis ou re-
gras, e pode vir a ser um ambiente perigoso. Por isso aborda aspec-
tos que comumente podem oferecer algum risco moral às pessoas
que cometem descuidos nas redes sociais, tais como:
ÉTICA E CIDADANIA

a) Exposição excessiva na internet.


b) Liberdade de expressão e danos à imagem e à reputação.
c) Cyberbullying.
d) Racismo.
e) Discurso de ódio.
f) Danos e riscos na prática de nude ou sexting.
g) Direitos autorais, plágio e compartilhamento responsável.

Empresas mundiais como Google, Facebook, Microsoft e tantas


outras apoiam e contribuem para que ações como essas sejam am-
plamente divulgadas e fortaleçam o escopo regulatório da internet.
Essas marcas são importantes influenciadores do comportamento
dos usuários de aplicativos e sistemas na internet.

Figura 4.10: Microsoft


Fonte: Pixabay (2019).
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Figura 4.12: Facebook


Fonte: Pixabay (2019).
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ÉTICA E CIDADANIA
Figura 4.11: Google
Fonte: Pixabay (2019).

As marcas ilustradas nas Figuras 4.10, 4.11 e 4.12 são de empre-


sas reconhecidas no mundo inteiro como algumas das mais podero-
sas no espaço virtual. Elas percebem claramente que esse ambiente
não pode, em hipótese alguma, tornar-se anárquico. Desse modo,
apoiam a criação de normas para regular o comportamento das
pessoas ou dos usuários.
Iniciativas como a do CGI.br procuram conscientizar as pessoas so-
bre o comportamento ético no espaço virtual, sendo fundamental para
a boa convivência. Concordemos que há muitos usuários das redes
sociais que se julgam donos da razão e da verdade, postando publica-
ções ofensivas, que atentam contra a moral coletiva. Então, limitar a
sensação de que cada indivíduo constrói a sua própria verdade é um
desafio permanente a ser enfrentado por todos, especialmente pelas
empresas privadas e instituições públicas do setor de tecnologia.
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Por isso, tanto as empresas privadas do setor de tecnologia


como as instituições públicas podem atuar em conjunto, executan-
do ações com dois focos:
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Ações educativas
Educar os usuários da
internet, enaltecendo a éti-
ca no espaço virtual com:
Elaboração de cartilhas
informacionais.
Ações de marketing.
Organização de eventos
com foco no tema da ética no
ÉTICA E CIDADANIA

espaço virtual.

Ações punitivas
Voltadas aos usuários que cometem crimes cibernéticos.
Criação de leis mais rígidas para crimes cibernéticos.
Revisão das leis existentes, aumentando as penas para crimes
cibernéticos.
Criação de estratégias de exposição negativa para quem comete
crimes cibernéticos.
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As novas tecnologias são criadas para facilitar a vida das pesso-


as, gerando bem-estar à coletividade, com esse objetivo, as redes
sociais possibilitam encontros e reencontros, a livre expressão, a
amizade, entre outros aspectos. Portanto, a liberdade de expressão
nas redes sociais ou, de forma geral na internet, não deve ser sinô-
nimo de desrespeito às pessoas ou grupos sociais por suas origens,
raça, cor, credo ou qualquer outro aspecto que envolva suas carac-
terísticas físicas ou opções ideológicas.

ÉTICA E CIDADANIA
SÍNTESE DA UNIDADE
Nesta unidade, vimos diversas mudanças na sociedade humana,
a partir de um dos seus mais emblemáticos eventos, a Revolução
Industrial. Vimos também que algumas criações tecnológicas ofer-
taram possibilidades concretas ao desenvolvimento da sociedade
capitalista, influenciando nas mudanças comportamentais.
Com isso, percebemos que alguns eventos como a Primeira e a
Segunda Guerra Mundial, a Revolução Russa, Guerra do Vietnã e a
Guerra Fria foram suficientes para que a ética fosse esquecida. Con-
tudo, diante da barbárie, a sociedade mundial retomou o debate no
entorno da necessidade de regular o comportamento individual e de
grupos sociais, visando limitar ações unilaterais que atentem contra
a ética e a moral coletiva.
Nesse contexto, vimos a criação da Organização das Ações Uni-
das (ONU), que fortaleceu a necessidade de reconstrução mundial
após a Segunda Guerra Mundial.
Vimos, ainda, como a globalização da economia promoveu mu-
danças amplas e profundas no mundo inteiro, tanto no sistema eco-
nômico quanto no financeiro e trabalhista. Nesse mesmo período,
a partir da década de 1980, as novas tecnologias foram gradativa-
mente sendo inseridas no contexto da sociedade, como a internet
que surgiu de um sistema de comunicação militar, sendo ampliada
para a academia e posteriormente alcançando, de forma rápida, bi-
lhões de pessoas.
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Abordamos alguns aspectos relacionados aos limites da ética no


espaço virtual, que precisam de cuidados com o tipo de postagem e
os tipos de dados publicados, para não ter resultados negativos ou
que prejudique a individualidade de alguém ou a coletividade.
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Com isso, verificamos que as pessoas e as empresas podem ser


prejudicadas pelos crimes cibernéticos, com as invasões que comu-
mente tem o objetivo de furtar dados e causar prejuízos ou estragos
à imagem pessoal ou empresarial.
Além disso, vimos que há esforços institucionais cujo objetivo
visa instruir as pessoas ou usuários na tomada de cuidados básicos
nas redes sociais, com os seguinte temas: discursos de ódio, des-
respeito, plágio e direitos autorais, liberdade de expressão e danos
à reputação, cyberbullying, racismo, danos e riscos na prática de
nude ou sexting.
ÉTICA E CIDADANIA

Por fim, vimos que há apoio de empresas globais que atuam no


espaço virtual com o propósito de regrar o comportamento dos usuá-
rios da internet e das redes sociais. Ter a noção clara de que o espaço
virtual é uma extensão das vidas do mundo real é fundamental para
que as pessoas ou usuários não percam a noção de ética e de moral.

Existem alguns procedimentos de segurança que podem ser ado-


tados com o objetivo de evitar problemas no espaço virtual. Acesse o
link e aprofunde seus conhecimentos: https://cartilha.cert.br/livro/
cartilha-seguranca-internet.pdf. Acesso em: 18 ago. 2019.
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CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 14 ed. São Paulo: Ática, 2011.

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VALLS, A. L. M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 2013.

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