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PROJUDI - Recurso: 0004834-38.2008.8.16.0004 - Ref. mov. 21.

1 - Assinado digitalmente por Helio Henrique Lopes Fernandes Lima:11211


07/08/2018: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJTRP 2Y84P 3Z73W YSPVY
APELAÇÃO CÍVEL Nº 0004834-38.2008.8.16.0004 DA 1ª VARA DA
FAZENDA PÚBLICA DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA
REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA
APELANTE: BANCO REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO DO
EXTREMO SUL - BRDE
APELADOS: PEDREIRAS JAGUARAPIRA E OUTROS
RELATOR: DES. HÉLIO HENRIQUE LOPES FERNANDES LIMA

Apelação cível. Embargos à execução. Cédula de Crédito


Industrial. Código de Defesa do Consumidor. Inaplicabilidade.
Produto utilizado para implemento da atividade econômica.
Relação de consumo. Não configuração. Multa de mora.
Inexistência de contratação. Cobrança não autorizada.
Comissão de permanência. Ausência de prova da incidência
no cálculo da dívida. Sucumbência. Readequação.
Recurso de apelação parcialmente provido.
1. “(...) 11. A tomada de empréstimos por pessoa natural e jurídica
para implementar ou incrementar sua atividade negocial não se
caracteriza como relação de consumo, afastando-se a incidência do
Código de Defesa do Consumidor. (...) (REsp 1.348.081/RS, Rel.
Ministro João Otávio de Noronha, Terceira Turma, julgado em
02.06.2016, DJe 21.06.2016).
2. Apesar de haver previsão da cobrança da multa moratória em
legislação (art. 58 do Decreto-lei n. 413/69), as partes não
contrataram a referida multa, razão pela qual a mesma não pode
ser cobrada no percentual de 10% (dez por cento).
3. Embora não seja possível a cobrança da comissão de
permanência na cédula de crédito industrial, não há razão para
determinar seu afastamento do contrato, eis que não restou
demonstrada a cobrança do referido encargo.
4. Verifica-se que o banco apelante sucumbiu em parte mínima do
pedido, razão pela qual deverá a parte apelada responder por
inteiro pelas despesas processuais e honorários advocatícios,
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Apelação Cível n. 0004834-38.2008.8.16.0004 2

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conforme estabelece o parágrafo único do art. 86, do Código de
Processo Civil/15.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n.


0004834-38.2008.8.16.0004 da 1ª Vara da Fazenda Pública do Foro Central da
Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, em que é apelante BANCO
REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO DO EXTREMO SUL - BRDE e apelados
PEDREIRAS JAGUARAPIRA LTDA E OUTROS.

I - RELATÓRIO

Trata-se de embargos à execução, autuados sob nº 0004834-


38.2008.8.16.0004, opostos por Pedreiras Jaguarapira Ltda e outro em face de
Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul - BRDE, objetivando o
afastamento dos encargos abusivos, da capitalização de juros e da cobrança
cumulada da comissão de permanência com correção monetária; a redução da
multa de mora; correção monetária pelo índice INPC ou TR; aplicação do Código
de Defesa do Consumidor ao caso e a inversão do ônus da prova.
O MM. Juiz a quo julgou parcialmente procedentes os
embargos para o fim de afastar a comissão de permanência da cláusula de
inadimplência e limitar a multa moratória em 2% (dois por cento), ante o
reconhecimento da aplicação do Código de Defesa do Consumidor, extinguindo
o processo com resolução de mérito, nos termos do art. 487, I, do Código de
Processo Civil/15.
Em razão da sucumbência recíproca, condenou os
embargantes ao pagamento de 90% (noventa por cento) das despesas
processuais, devendo ser observado o art. 98, §3º, do Código de Processo
Civil/15 se beneficiários da justiça gratuita, bem como ao pagamento de
honorários advocatícios no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), e condenou o
banco embargado ao pagamento dos 10% (dez por cento) restantes das custas
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processuais e dos honorários advocatícios no valor de R$ 200,00 (duzentos
reais).
Irresignada, apela a instituição financeira embargada,
sustentando, em síntese:
a) a inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor ao
caso, eis que inexistente a relação de consumo;
b) a legalidade da multa moratória fixada em 10% (dez por
cento);
c) a ausência de cobrança da comissão de permanência;
d) a necessidade de readequação da sucumbência.
Ausentes as contrarrazões recursais, vieram os autos
conclusos para julgamento.
É o relatório.

II - VOTO

Trata-se de recurso de apelação do banco embargado,


interposto contra sentença que julgou parcialmente procedentes os embargos à
execução, para o fim de afastar a comissão de permanência da cláusula de
inadimplência e limitar a multa moratória em 2% (dois por cento), extinguindo o
feito com resolução do mérito, nos termos do art. 487, I, do Código de Processo
Civil/15.

- Do Código de Defesa do Consumidor e multa de mora

Sustenta o banco apelante a inaplicabilidade do Código de


Defesa do Consumidor ao presente caso, uma vez que o crédito contratado foi
utilizado para o incremento da atividade empresarial da empresa Pedreiras
Jaguarapira Ltda inexistindo, portanto, a figura do consumidor final, necessária
para a caracterização da relação de consumo. E, diante disso, aduz que deve
ser reconhecida a legalidade da multa moratória prevista no contrato, no
percentual de 10% (dez por cento).
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Assiste parcial razão ao apelante.
Apesar da Súmula 297, do Superior Tribunal de Justiça,
estabelecer a aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos contratos
bancários, isso não implica na incidência em toda e qualquer relação bancária.
No caso dos autos, trata-se de crédito industrial
disponibilizado à contratante Pedreiras Jaguarapira Indústria e Comércio Ltda
pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul – BRDE, para o
desenvolvimento de sua atividade empresarial, qual seja, aumento da
produtividade da empresa. Desse modo, não resta caracterizada a relação de
consumo, eis que o produto adquirido possui conexão com a atividade
econômica desenvolvida.
Extrai-se da cédula de crédito industrial, item 1, mov. 1.5, fl.
8, que o contrato foi firmado “(...) com a finalidade de serem utilizados
exclusivamente na realização do projeto de aumento da capacidade produtiva da
empresa, com a aquisição de dois caminhões marca FORD, modelo F 14000 HD,
carga máxima 14.100 kg, ano 98 (orçados em R$ 84.000,00), duas caçambas
basculantes modelo padrão, com tomada de força e acessórios, capacidade 9
m3, com dois hidráulicos (orçados em R$ 15.300,00), acrescido do Capital de
Giro Associado, para aquisição de matéria-prima, para aplicação na forma do
ORÇAMENTO constante do Anexo I e que será utilizado, em 2 ( duas) parcelas
(...)”. (grifei).
Assim, nesses casos, é forte na jurisprudência não se tratar a
empresa contratante da figura do destinatário final da relação de consumo, vez
que o crédito tomado foi utilizado para o implemento de sua atividade
econômica.
É o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO, EMBARGOS


À EXECUÇÃO E AÇÃO REVISIONAL. (JULGAMENTO SIMULTÂNEO).
CÉDULA DE CRÉDITO INDUSTRIAL. (...) 2. Inaplicabilidade do Código
de Defesa do Consumidor. Sociedade empresária que não ostenta
condição de destinatária final (critério finalista), inexistindo,
outrossim, elementos nos autos que possibilitem a análise de sua
vulnerabilidade in concreto (finalismo aprofundado) (...) 5. Agravo
interno não provido. (AgInt no REsp 1216570/SP, Rel. Ministro LUIS
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FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 13/09/2016, DJe
19/09/2016).

RECURSO ESPECIAL. CRÉDITO RURAL. CONTRATOS FINDOS.


LEGITIMIDADE ATIVA E PASSIVA. UNIÃO. BANCO DO BRASIL.
LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS. CAPITALIZAÇÃO.
ENCARGOS MORATÓRIOS. CORREÇÃO MONETÁRIA PELO BTN
(MARÇO/1990). SUBSTITUIÇÃO DO IGP-M E DA VARIAÇÃO CAMBIAL
PELA TR. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA.
INCONSTITUCIONALIDADE DA MP N. 2.196-3/2001. POSSIBILIDADE
DE INSCRIÇÃO DO DÉBITO EM DÍVIDA ATIVA. NULIDADE DA CDA.
SUCUMBÊNCIA. (...) 11. A tomada de empréstimos por pessoa
natural e jurídica para implementar ou incrementar sua atividade
negocial não se caracteriza como relação de consumo, afastando-se
a incidência do Código de Defesa do Consumidor. (...) 14. Recurso
do Banco do Brasil conhecido em parte e desprovido. Recurso de
Arrozeira Chasqueiro Ltda. e outros conhecido em parte e provido
também em parte. Recurso especial da União conhecido e provido
em parte. (REsp 1.348.081/RS, Rel. Ministro João Otávio de Noronha,
Terceira Turma, julgado em 02.06.2016, DJe 21.06.2016)

No mesmo sentido, é a jurisprudência deste Tribunal de


Justiça do Estado do Paraná:

APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. SENTENÇA QUE JULGOU


IMPROCEDENTE OS PEDIDOS FORMULADOS PELOS EMBARGANTES.
PRELIMINARMENTE. INOCORRÊNCIA DE CERCEAMENTO DE DEFESA.
DESNECESSIDADE DA PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL PARA O
DESLINDE DO FEITO. QUESTÕES CONTROVERTIDAS QUE NÃO
DEMANDAM CONHECIMENTO CONTÁBIL ESPECÍFICO. PRECEDENTES
DO STJ. CABE AO MAGISTRADO INDEFERIR AS DILIGÊNCIAS
CONSIDERADAS INÚTEIS. NO MÉRITO. NULIDADE DA EXECUÇÃO.
INOCORRÊNCIA. LIQUIDEZ, CERTEZA E EXIGIBILIDADE DO TÍTULO
PRESENTES. CÉDULA DE CRÉDITO INDUSTRIAL QUE CONSISTE EM
TÍTULO EXECUTIVO. ART. 10 DO DECRETO-LEI Nº 413/1969 C/C ART.
784, XII DO NCPC. PLEITO DE EXIBIÇÃO INCIDENTAL DE
DOCUMENTOS. DESNECESSIDADE. EXECUÇÃO QUE JÁ FOI
INSTRUÍDA COM DOCUMENTOS INDISPENSÁVEIS À PROPOSITURA DA
DEMANDA E A RESOLUÇÃO DA CONTROVÉRSIA. INTELIGÊNCIA DO
ART. 28, §2º, I E II DA LEI 10.931/2004. PRETENSÃO DE APLICAÇÃO
DO CDC E DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. INAPLICABILIDADE.
PESSOA JURÍDICA QUE UTILIZA O MÚTUO COMO INCREMENTO DE
SUA ATIVIDADE FINANCEIRA. TEORIA FINALISTA. IMPOSSIBILIDADE
DE INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. PRECEDENTES DO STJ.
SENTENÇA QUE FIXOU OS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM R$
50.000,00 (ART. 85, §8º DO NCPC). MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS
TENDO EM CONTA O TRABALHO REALIZADO EM GRAU RECURSAL
(ART. 85, §11º DO NCPC). RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
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Apelação Cível n. 0004834-38.2008.8.16.0004 6

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(TJPR - 14ª C.Cível - 0021506-04.2016.8.16.0017 - Rel.: Juiza Subst.
2ºGrau Maria Roseli Guiessmann - J. 14.06.2018)

PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO.


SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. CÉDULA DE CRÉDITO INDUSTRIAL.
AGRAVO RETIDO. 1. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE.
CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. APELAÇÃO CÍVEL. 2.
EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO. INOCORRÊNCIA. 3.
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. INAPLICABILIDADE AO CASO.
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. IMPOSSIBILIDADE. 4. REVISÃO DE
CONTRATOS ANTERIORES. IMPOSSIBILIDADE. ALEGAÇÕES
GENÉRICAS. 5. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. POSSIBILIDADE DESDE
QUE PACTUADA. INEXISTÊNCIA DE PACTUAÇÃO. EXPURGO. 6.
PREVISÃO DE CUMULAÇÃO DE COMISSÃO DE PERMANÊNCIA COM
OUTROS ENCARGOS DA MORA. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO NESTE
SENTIDO. 7. EFEITO SUSPENSIVO.EMBARGOS. PRECLUSÃO. MATÉRIA
JÁ DECIDIDA EM SEDE DE AGRAVO DE INSTRUMENTO. SENTENÇA
MANTIDA. (...) 3. Consoante jurisprudência desta Corte, o Código de
Defesa do Consumidor não se aplica no caso em que o produto ou
serviço é contratado para implementação de atividade econômica,
já que não estaria configurado o destinatário final da relação de
consumo (teoria finalista ou subjetiva). Contudo, esta Corte tem
mitigado a aplicação da teoria finalista quando ficar comprovada a
condição de hipossuficiência técnica, jurídica ou econômica da
pessoa jurídica, o que não restou demonstrado no caso em tela.
(...). Agravo Retido não provido. Apelação Cível não provida. (TJPR -
15ª C.Cível - AC - 1603394-2 - Rel.: Jucimar Novochadlo - J.
08.02.2017)

Ademais, inexistindo elementos nos autos que possibilitem a


aferição da vulnerabilidade in concreto, não há que se falar em aplicação da lei
consumerista.
Dessa forma, deve ser afastada a aplicação do Código de
Defesa do Consumidor.
Diante disso, com razão o apelante quanto a legalidade da
multa moratória no percentual de 10% (dez por cento).
O art. 58 do Decreto Lei 413/69, que dispõe sobre títulos de
crédito industrial, estabelece que:

Art. 58. Em caso de cobrança em processo contencioso ou não,


judicial ou administrativo, o emitente da cédula de crédito industrial
responderá ainda pela multa de 10% (dez por cento) sobre o
principal e acessórios em débito, devida a partir do primeiro
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despacho da autoridade competente na petição de cobrança ou de
habilitação do crédito.

Contudo, na cédula de crédito industrial em discussão não há


previsão expressa da cobrança de multa moratória no percentual de 10% (dez
por cento) para a hipótese de inadimplemento. Confira-se o item 2.3 do
contrato (fl. 09, mov.1.5):

“2.3. Inadimplemento: No caso de impontualidade nos pagamentos,


a qualquer título, sem prejuízo do vencimento antecipado e da
imediata exigibilidade de toda a dívida e das demais cominações
legais e convencionais, sobre os valores em atraso, serão cobrados
por dia de atraso e enquanto perdurar a inadimplência, juros
moratórios de 1 % a.a. (um por cento ao ano) e comissão de
permanência, calculada na forma abaixo. Na hipótese de
vencimento antecipado da dívida, por qualquer motivo, os encargos
acima incidirão sobre todo o saldo devedor”.

Isto posto, apesar de haver previsão da cobrança da multa


moratória em legislação (art. 58 do Decreto-lei n. 413/69), as partes não
contrataram a referida multa, razão pela qual a mesma não pode ser cobrada
no percentual de 10% (dez por cento).
Nessa linha é o seguinte precedente:

Revisional e repetição do indébito. Cédulas de crédito industrial e


rural. Prescrição. Limitação de juros. Comissão de permanência.
Multa contratual. Restituição. Sucumbência. (...) 5. É devida a
incidência de multa nas cédulas de crédito industrial e rural quando
encontra previsão em cláusula contratual, tendo em vista estar
autorizada pelo art. 58 do DL 413/69 e pelo art. 71 do DL 167/67.
(...) Apelação provida para afastar a prescrição, julgando-se em
conformidade com o art. 515, § 3º, do CPC, procedente em parte o
pedido inicial. (TJPR - 15ª C.Cível - AC - 929122-1 - Rel.: Hamilton
Mussi Corrêa - J. 15.08.2012)

Assim sendo, merece acolhimento o pleito do apelante no


tocante à inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor, restando
mantida a multa moratória fixada na r. sentença, no percentual de 2% (dois por
cento).

- Comissão de permanência
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Alega o banco apelante que não houve a cobrança da
comissão de permanência no cálculo da dívida, embora a mesma estivesse
prevista no contrato para o caso de inadimplência.
Pugna pela reforma da sentença neste ponto, objetivando o
julgamento de total improcedência dos embargos à execução.
Com razão.
Consoante orientação do Superior Tribunal de Justiça, não é
permitida a cobrança de comissão de permanência na cédula de crédito
industrial, eis que não há previsão de sua incidência no Decreto-Lei n. 413/69.
Confira-se o julgado:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO (ART. 544 DO CPC/73) - AÇÃO


ORDINÁRIA DE COBRANÇA FUNDADA EM CONTRATOS BANCÁRIOS -
DECISÃO MONOCRÁTICA QUE DEU PARCIAL PROVIMENTO AO
RECLAMO APENAS PARA AFASTAR A COBRANÇA DE COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA NA DÍVIDA ORIUNDA DE CÉDULA DE CRÉDITO RURAL.
IRRESIGNAÇÃO DA PARTE AUTORA. 1. De acordo com o firme
entendimento desta Corte Superior, não se mostra possível a
incidência de comissão de permanência nas cédulas de crédito
rural, comercial e industrial, na medida em que o Decreto-lei n.
167/1967 é expresso em só autorizar, no caso de mora, a cobrança
de juros remuneratórios e moratórios (parágrafo único do art. 5º) e
de multa de 10% sobre o montante devido (art. 71). (...) 3. Agravo
interno desprovido. (AgInt no AREsp 857.008/SE, Rel. Ministro
MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 05/12/2017, DJe
13/12/2017)

No caso dos autos, infere-se da cédula industrial pactuada


que está prevista a cobrança de comissão de permanência em caso de
inadimplemento (item 2.3 e 2.4).
Contudo, extrai-se dos cálculos apresentados pelo apelante
no mov. 1.5, fls. 5/7, que os encargos de inadimplemento cobrados foram: TJLP,
juros compensatórios de 5,5% a.a. e juros de mora de 1% a.a., não constando a
incidência de comissão de permanência.
Note-se que a embargante, ora apelada, não fez prova da
incidência da comissão de permanência no cálculo da dívida.
Nesse aspecto, embora não seja possível a cobrança da
comissão de permanência na cédula de crédito industrial, não há razão para
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determinar seu afastamento do contrato, eis que não restou demonstrada a
cobrança do referido encargo.
Isto posto, deve ser reformada a r. sentença neste ponto.

- Sucumbência

O MM. Magistrado singular condenou os embargantes ao


pagamento do percentual de 90% (noventa por cento) das despesas
processuais, e de R$ 2.000,00 (dois mil reais) de honorários advocatícios,
restando à parte embargada, ora apelante, o pagamento dos 10% (dez por
cento) restantes das despesas processuais e de R$ 200,00 (duzentos reais) de
honorários advocatícios.
A presente decisão colegiada deu parcial provimento ao
recurso de apelação, para o fim de afastar a aplicação do Código de Defesa do
Consumidor ao caso e reconhecer a não incidência da cobrança da comissão de
permanência no cálculo da dívida, restando mantida a multa no percentual de
2% (dois por cento).
Isto posto, verifica-se que o banco apelante sucumbiu em
parte mínima do pedido, razão pela qual deverá a parte apelada responder por
inteiro pelas despesas processuais e honorários advocatícios, conforme
estabelece o parágrafo único do art. 86, do Código de Processo Civil/15.

Destarte, é o voto pelo parcial provimento do recurso de


apelação, para o fim de afastar a aplicação do Código de Defesa do Consumidor
ao caso, bem como para reconhecer a ausência de cobrança de comissão de
permanência, na esteira da presente fundamentação.

III – DECISÃO

ACORDAM os integrantes da Décima Sexta Câmara Cível do


Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar
parcial provimento ao recurso de apelação.
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Presidiu a sessão o Exmo. Sr. Desembargador PAULO CEZAR
BELLIO, com voto, tendo participado do julgamento a Exma. Sra. Desembargadora
MARIA MERCIS GOMES ANICETO.
Curitiba, 01 de agosto de 2018.
HÉLIO HENRIQUE LOPES FERNANDES LIMA
Des. Relator

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