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CESBLU – Centro de Educação Superior de Blumenau

ALUBRAT – Associação Luso Brasileira de Transpessoal

ADRIANA CABELLO

VALORES HUMANOS E TRANSFORMAÇÃO


NUM CONTEXTO TRANSPESSOAL

Campinas/SP.
2008
II

CESBLU – Centro de Educação Superior de Blumenau


ALUBRAT – Associação Luso Brasileira de Transpessoal

ADRIANA CABELLO

VALORES HUMANOS E TRANSFORMAÇÃO


NUM CONTEXTO TRAPESSOAL

Monografia apresentada no Curso de Pós-


Graduação em Psicologia Transpessoal Lato
Sensu do CESBLU – Centro Educacional de
Blumenau & ALUBRAT – Associação
Brasileira de Transpessoal como requisito
para obtenção do título de Especialista em
Psicologia Transpessoal.

Campinas/SP.
2008
III

Agradeço a Arlete, que nos norteou o tempo todo na execução desse trabalho;
agradeço a Vera Saldanha minha mestra, que foi a grande inspiração para iniciar esse
estudo; agradeço a meus pais, que me dão apoio incondicional em todos os meus
empreendimentos; agradeço a meu marido, pela sua paciência nesse processo de
aprendizagem.
IV

SUMÁRIO

Folha de Rosto ............................................................................................................... II

Agradecimento ............................................................................................................. III

Sumário ........................................................................................................................ IV

Lista de Gráficos .......................................................................................................... VI

Lista de Quadros ........................................................................................................ VII

Lista de figuras .......................................................................................................... VIII

Resumo ......................................................................................................................... IX

Introdução .................................................................................................................... 01

Capítulo I - Psicologia Transpessoal .......................................................................... 10

1. Contextualização ..................................................................................... 10

2. Abraham Maslow .................................................................................... 14

3. Pierre Weil ............................................................................................... 20

Capítulo II - Abordagem Integrativa Transpessoal ................................................. 25

1. Sistematização ...................................................................................... 26

1.1. Conceito de unidade .......................................................................... 28

1.2. Conceito de vida ................................................................................ 29

1.3. Conceito de ego ................................................................................. 31

1.4. Estado ou níveis de consciência ........................................................ 33

1.5. Cartografias da consciência ............................................................... 38

1.6. Aspecto dinâmico: eixo experiencial e evolutivo .............................. 41

2. Técnicas utilizadas na didática transpessoal ......................................... 46

Capítulo III – A Dimensão do Feminino e na Psicologia Transpessoal .................. 53

Capítulo IV – Educação e Valores Humanos ............................................................ 79

1. Educação e valores – Abraham Maslow ............................................... 85


V

2. Educação Sathya Sai Baba: sobre valores humanos para crianças e

jovens .........................................................................................................87

3. Educação para o Ser Integral ................................................................ 88

Capítulo V - Trajetória Metodológica ....................................................................... 96

1. Coleta de dados ..................................................................................... 98

2. Análise de conteúdo ............................................................................ 100

2.1. Pré-análise ....................................................................................... 100

2.2. Exploração do material .................................................................... 102

2.3. Tratamento dos resultados obtidos e interpretação .......................... 102

2.4. Codificação ...................................................................................... 102

2.5. Descrição dos dados obtidos ............................................................ 102

Capítulo VI - Análise e Interpretação dos Resultados ........................................... 104

1. Classificação e categorização dos dados obtidos ............................... 104

2. Tratamento, inferência e interpretação dos resultados ....................... 114

2.1. Reflexões das interpretações ........................................................... 133

Considerações Finais ................................................................................................. 138

Referências Bibliográficas ........................................................................................ 147

Anexos ......................................................................................................................... 150

1. Depoimentos .............................................................................................. 150

2. Quadro da classificação ............................................................................. 167

3. Quadro das categorias prévias ................................................................... 184

4. Quadro das categorias finais ...................................................................... 201

Apêndices .................................................................................................................... 217

1. Modelo da folha da questão apresentada aos depoentes (frente) ............... 217

2. Modelo da folha da questão apresentada aos depoentes (verso) ................ 218


VI

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico nº 1: Aspecto Dinâmico .................................................................................... 27

Gráfico nº 2: Cartografia da Consciência ...................................................................... 39

Gráfico nº 3: Eixo Evolutivo e Estados de Consciência ................................................ 45

Gráfico nº 4: Sete Etapas de Desenvolvimento ............................................................. 50


VII

LISTA DE QUADROS

Quadro nº 1: Quadro da Classificação Inicial .............................................................. 106

Quadro nº 2: Quadro das Categorias Prévias ............................................................... 110

Quadro nº 2: Quadro das Categorias Finais ................................................................. 113


VIII

LISTA DE FIGURAS

Figura nº1 : Pirâmide das Necessidades de Maslow ..................................................... 17

Figura nº 2: Corpo Teórico ............................................................................................ 26

Figura nº 3: Articulação da Teoria e da Técnica ........................................................... 27


IX

RESUMO

CABELLO, Adriana. Valores humanos e transformação num contexto transpessoal.


Campinas/SP. : CESBLU – Centro de Estudo Superior de Blumenau & ALUBRAT –
Associação Luso Brasileira de Transpessoal, 2008. 218p.

A presente monografia versa sobre a Psicologia Transpessoal aplicada à


educação sob o enfoque da Didática Transpessoal, segundo a Abordagem Integrativa
Transpessoal desenvolvida pela Dra. Vera Saldanha. Os princípios da Psicologia
Transpessoal caracterizam-se pela visão antropológica do homem enquanto ser bio-
psico-sócio-cultural-espiritual e cósmico e estudo da consciência. A Abordagem
Integrativa Transpessoal apresenta aspectos estruturais delineados pelo seu corpo
teórico que inclui conceito de vida, ego e unidade, estados e cartografia da consciência;
aspecto dinâmico constituído pelo eixo experiências (REIS) e evolutivo; e dinâmica
integrativa articulada em sete etapas: reconhecimento, identificação, desidentificação,
transmutação, transformação, elaboração e integração. Sua aplicação é transdisciplinar e
destina-se às áreas da saúde, educação e instituições. Este é um trabalho de conclusão da
Pós Graduação em Psicologia Transpessoal por meio de uma pesquisa qualitativa
segundo o método da Análise de Conteúdo de Laurence Bardin, que se mostrou
satisfatório e adequado para explorar e delinear os conteúdos implícitos nos
depoimentos dos alunos do curso de Pós Graduação em Psicologia Transpessoal do
CESBLU – Centro de Educação Superior de Blumenau & ALUBRAT – Associação
Luso Brasileira de Transpessoal – Campinas/SP, que tiveram seu processo de
aprendizagem pautado pela Abordagem Integrativa Transpessoal. Objetivamos
identificar transformações ocorridas, relações com a Abordagem Integrativa
Transpessoal, emergência de valores do Ser e manifestações do arquétipo do feminino
nos alunos ao final do curso. Constatou-se significativo processo de transformação,
revelando auto-conhecimento, desenvolvimento e aprimoramento pessoal e profissional,
com mudanças saudáveis nas relações interpessoais. Verificou-se emergência de valores
do Ser, postulados por Maslow, revelando mudanças onde os alunos se percebem mais
plenos de amor S, metamotivados, com percepção ampliada, melhor visão de futuro e
conexão com a espiritualidade. Observaram-se emergência de qualidades do feminino
reveladas em expressões e trocas com perspectivas amorosas, cooperativas e intuitivas.
Surgiram dados relevantes quanto a Abordagem Integrativa, validando esta didática na
aprendizagem extrínseca e intrínseca, corroborando com práticas interdisciplinares.
Todos os objetivos da pesquisa foram alcançados e podemos concluir que o curso
ofereceu aos alunos não só uma nova abordagem profissional, mas também uma
educação integral que propiciou desenvolvimento psicológico, humano, ético e
espiritual.

Palavras-chave: Psicologia Transpessoal, Didática Transpessoal, educação,


transdisciplinaridade, valores humanos, feminino, espiritualidade.
INTRODUÇÃO

Ao refletirmos sobre a realidade globalizada que temos hoje no planeta,

percebemos que cada vez mais se descortina diante do homem e das sociedades a

carência de valores e processos de transformação no âmbito individual e coletivo.

Não é mais segredo que chegamos a um momento crítico da humanidade,

momento este que está colocando em jogo o destino do ser humano e do próprio

planeta. Observamos nas últimas décadas a emergência da necessidade na mudança de

paradigma1.

Diferentes correntes filosóficas têm apresentado teorias que revelam um novo

olhar da ciência sobre o homem e das diferentes realidades existentes, denunciando a

fragmentação e nos convidando a caminhar em direção à unidade.

Um ser humano é a parte do todo, por nós chamado de ‘Universo’ - uma


parte limitada no tempo e no espaço. Ele experimenta a si próprio, a seus
pensamentos e emoções como algo separado do restante – como um tipo de
ilusão de óptica da consciência (Eistein, A. in Vaughan, F. 1985, p. 13).

Temos observado uma cultura emergente que propõe a renovação social por

meio da transformação dos seres que a compõem, por meio de mudanças profundas na

consciência individual e coletiva, num processo ascendente rumo a uma nova

mentalidade. Surge uma cosmo visão que integra conquistas atuais da ciência, com

heranças culturais antigas advindas do campo científico, filosófico e tradições

religiosas.

Nossos meios de comunicação veiculam diariamente fatos relacionados à

violência, destruição, guerras, corrupção, doenças, exploração desregrada, desrespeito,

agressão, miséria, fome, crueldades, enfim um planeta cheio de chagas, necessitando de

1
Paradigma é um modelo ou padrão. Segundo Moraes; la Torre (2004), um paradigma rege a maneira
como pensamos e o modo como usamos nossa lógica. São os parâmetros que regem nossos pensamentos
e ações.
2

cuidados e mudanças resgatando valores humanos e apropria humanização de pessoas e

sociedades.

Observamos uma insatisfação geral e continuamente surgem pessoas buscando

formas diferentes de realizar, usando de muita criatividade, às vezes com parcos

recursos, deixando claro o desejo de mudança e transformação. Um número cada vez

maior de seres busca a unidade essencial do ser, visando despertar seus valores

essenciais na tentativa de contagiar outros seres na convivência, atuação pessoal e

profissional, a buscar uma forma mais harmônica e plena de relacionamento a níveis

pessoal, profissional, social e planetário.

Riane Eisler (1994) nos fala sobre o momento atual em termos de valores

masculino e feminino de uma forma que pode perfeitamente ser extrapolada para todos

os níveis atuais: “É uma época empolgante – uma época de crise e oportunidades, uma

época a que os teóricos denominam período de desequilíbrio e, portanto, de

transformação potencial dos sistemas” (Eisler in Zweig, 1994, p. 92).

Nesse contexto, a Psicologia tem se revelado uma área de conhecimento

emergente com significativa importância no âmbito dos novos saberes revelados no

século XX, impôs se como disciplina autônoma e foi reconhecida no meio acadêmico.

No esforço de legitimar-se enquanto ciência, a Psicologia Ocidental inicia sua

trajetória numa perspectiva experimental, surge a “primeira força”2 da psicologia

denominada Behaviorismo3. A seguir teremos no trabalho de Sigmund Freud, a

“segunda força” denominada Psicanálise4. Ao longo da maior parte do século XX essas

duas forças permaneceram soberanas na psicologia ocidental.

2
Ver Weil, P. et al. Pequeno tratado de psicologia transpessoal. Petrópolis : Vozes, 1978, p. 29.
3
Ver FADIMAN, J.; FRAGER, R. Teorias da personalidade. São Paulo: Harbra, 1986, p.187.
4
Ver FADIMAN, J.; FRAGER, R. Teorias da personalidade. São Paulo: Harbra, 1986, p.2.
3

Em meados da década de 1950, nos Estado Unidos, a Psicologia Humanista5

surge como a “terceira força” da Psicologia, ampliando o enfoque de suas antecessoras,

trazendo como campo de investigação da Psicologia o Potencial Humano.

Na década de 60 do século XX, surge a Psicologia Transpessoal como

“desmembramento” da Psicologia Humanista. Anunciada por Abram Maslow em 1968,

quando lança a segunda edição de seu livro “Introdução a Psicologia do Ser e

oficializada por Abram Maslow,Vitor frankl, Stanilav Grof, James Fadiman e Antony

Sutich, em 1968 e este evento foi anunciado por Antony Sutich em seu artigo

Transpersonal Psychology.

O modelo Transpessoal dedica-se ao estudo e aplicações dos diferentes estados

da consciência em direção à unidade fundamental do ser, reconhece o significado das

dimensões espirituais da psique e apresenta uma cosmo visão da realidade. O

transpessoal é uma transformação do ser para uma pessoa melhor, contribuindo assim

para uma sociedade melhor.

A visão de mundo na Transpessoal é um todo integrado, em harmonia, formando

uma rede de inter-relações de todos os sistemas existentes no Universo. Nesse sentido,

considera o que é, o que foi e o que será, trazendo para o universo da psicologia um

novo paradigma. “Um novo Paradigma implica um princípio que sempre existiu, mas

do qual não nos apercebíamos” (Marilyn Fergusom in Silva, 2004, p. 47).

O movimento transpessoal congrega diversas disciplinas e apresenta inter-

relação com a transdisciplinaridade6, uma vez que integra o conhecimento comum a

várias disciplinas em torno de uma temática.

5
Ver FRICK B. W. Psicologia Humanista. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975.
6
Transdisciplinaridade definido por Assmann (1998, p 182) como enfoque científico e pedagógico que
torna explícito o problema de que um diálogo entre diversas disciplinas e áreas científicas implica
necessariamente uma questão epistemológica (Silva, 2004, p. 70). Segundo Nicolescu (1999), o prefixo
“trans” indica ao mesmo tempo entre, através e além de qualquer disciplina.
4

Compreendemos que a transdisciplinaridade pode ser uma diretriz extremamente

eficaz, no processo educacional contemporâneo. Esta abordagem garante um processo

de aprendizagem criativa, auto-organizadora onde, o elemento norteador é o aluno e o

aprender obedece a um fluxo. Segundo Moraes e la Torre (2004) cada viajante descobre

o caminho ao caminhar, determinando a escolha da rota a cada instante. Este

pensamento converge para o novo paradigma da Educação no século XXI, que será

abordado no Capítulo IV desta monografia.

O curso de Pós Graduação em Psicologia Transpessoal – Latu Sensu CESBLU -

Centro de Educação Superior de Blumenau & ALUBRAT - Associação Luso Brasileira

de Transpessoal, coordenado pela Dra. Vera Saldanha, está em consonância com este

novo paradigma e destina a formar profissionais de diferentes áreas. Além de ser uma

especialização em Psicologia Transpessoal, a didática utilizada é a Didática

Transpessoal da Abordagem Integrativa Transpessoal, desenvolvida e defendida na tese

de doutorado da Dra. Vera Saldanha pela Universidade de Campinas em 2007.

Observamos algumas características relevantes, não só na didática utilizada no

curso, mas também no próprio processo de aprendizagem, onde se fez “alinhar” de

forma precisa e criativa o paradigma da Transpessoal e da transdiciplinaridade. Além de

coordenar durante todo o processo a aprendizagem extrínseca e intrínseca7.

Enquanto alunos do curso de Pós Graduação em Psicologia Transpessoal, nos

submetemos à Didática Transpessoal e ao final do curso, no último módulo, houve um

momento de reflexão promovido pela coordenadora do curso pautado pela seguinte

questão:

Como vocês se sentem ao final do curso de Pós Graduação em Psicologia

Transpessoal?

7
Ver gráfico nº 11: Didática Transpessoa (Saldanha, 2006, p. 226).
5

O que ouvimos a seguir, como resposta a questão proposta, foi uma enxurrada de

depoimentos e falas pessoais e breves, mas plenas de citações de mudanças,

transformações, curas, aprimoramentos sob vários aspectos.

Foi unânime e enfático que o curso trouxe o resgate e a emergência de valores

do ser, ampliação de consciência, sentido de unidade, mudanças e transformações

saudáveis.

Durante a discussão percebemos no grupo uma ânsia por compartilhar e

expandir os benefícios individuais e coletivos trazidos pelo curso. A coordenadora

sugeriu uma pesquisa para um trabalho de conclusão de curso sobre o tema e

espontaneamente perguntou entre os presentes aqueles que teriam interesse em assumir

este projeto.

Entre os 35 alunos do curso 10 pessoas manifestaram interesse em

explorar esta questão. Formou-se então uma equipe constituída por: Adriana Cabello,

Arlete da Silva, Carmem S. Sartori, Maria de Fátima Araújo, Marly Adame, Nora

Selma Balduino Macedo, Patrícia Novak Savioli de Freitas, Rosangela Aparecida

Rinaldi, Sandra Sepulveda e Solange Zecchini. Na mesma data o grupo se reuniu e

estabeleceu um cronograma de trabalho.

1 - pesquisa bibliográfica;

2 - coleta de dados;

3 - análise de conteúdo;

4 - reflexões e interpretações do grupo;

5 – considerações finais individual;

6 – apresentação final da monografia individual.

As etapas seriam realizadas em encontros da equipe na Alubrat-Campinas

durante três meses com reuniões quinzenais por um período de quaro horas, sendo que
6

haveria três encontros com duração de oito horas. As tarefas foram compartilhadas entre

todos da equipe, com comunicação e envio de material produzido no período entre um

encontro e outro por meio eletrônico. Todo material produzido seria compartilhado

entre todos.

O trabalho final de cada um poderia variar na apresentação física, considerações

finais, refinamento na correção das normas acadêmicas, notas de rodapé, gráficos e

seguir de complementos individuais. Contudo todos os trabalhos seriam constituídos

dos mesmos capítulos e com os mesmos dados de pesquisa.

Sentimos-nos mobilizados para estarmos por meio deste trabalho contribuindo

para explorar e conhecer os efeitos produzido nos educando pela Abordagem Integrativa

da Psicologia Transpessoal, que pautada por um processo de aprendizagem teórico-

prático mobiliza processos de auto-conhecimento, auto-cura, expansão de consciência,

emergência de valores e virtudes do ser, enfim, de promover a evolução do ser

humano/divino .

Refletimos sobre a importância de validar a metodologia da Abordagem

Integrativa Transpessoal de Vera Saldanha, para que não seja considerada esotérica ou

mística pela sociedade “normótica”. Uma vez que, a jovem abordagem busca

compreender e desenvolver o ser bio-psico-social-cultural-espiritual, vem como

resposta a um novo tempo, com novas exigências, frente a uma realidade expandida e

quântica, é contextualizada e fundamentada em parâmetros acadêmicos e científicos

desde o século IXX.

William James (1842-1910) psicólogo americano notável e um dos percussores

da Psicologia Transpessoal, apresentou-nos “A Psicologia da Consciência” (Fadman,

1986), com conceitos e pesquisas sobre comportamento e consciência humana


7

envolvendo aspectos biológicos, psíquicos, sociais e experiências advindas de diferentes

estados de consciência, tidas até então como “religiosas”.

Nossa intenção é que a aplicação dessa abordagem seja cada vez mais difundida,

para oportunizar as múltiplas transformações exigidas pelo atual momento planetário.

Este trabalho trata, portanto, da travessia de profissionais, de transformações

potenciais que levaram alunos de um curso de pós-graduação em Psicologia

Transpessoal em direção à unidade fundamental do ser.

A motivação inicial fundamentou-se num questionamento e investigação para

identificar quais transformações se processaram no universo pessoal, individual,

profissional e coletivo dos alunos. E, se tais mudanças estavam relacionadas com o

curso de Pós Graduação em Psicologia Transpessoal.

Estabelecemos como objetivos:

1. Objetivo geral:

- identificar se ocorreu transformações nos formandos da Pós Graduação em Psicologia

Transpessoal e possíveis relações com a didática utilizada.

2. Objetivos específicos:

- descrever transformações que possam ter ocorrido;

- identificar se ocorreu transformações no âmbito pessoal;

- identificar se ocorreu transformações no âmbito profissional;

- verificar possível relação entre as transformações ocorridas e a didática utilizada;

- observar se as transformações promoveram emergência dos valores do Ser; (Maslow)8;

- perceber se há manifestação de virtudes e valores no âmbito do arquétipo do feminino.

Após realizarmos a introdução do tema, justificativa e objetivos, definimos que a

metodologia escolhida seria a análise de conteúdo segundo Bardin. A questão

8
Ver MASLOW A. H.. Introdução à psicologia do ser. Rio de Janeiro: Eldorado Tijuca, [s.d.], p.189.
8

apresentada aos depoentes fora: Descreva como você se percebe ao final do Curso em

Psicologia Transpessoal.

Os depoentes foram 29 alunos, regularmente matriculados, no curso de Pós

Graduação em Psicologia Transpessoal – Latu Sensu, turma de 2006-2007 do CESBLU

- Centro de Educação Superior de Blumenau & ALUBRAT - Associação Luso

Brasileira de Transpessoal. Ver anexo 1.

No capítulo I estaremos tecendo considerações sobre a Psicologia Transpessoal,

apresentando um breve histórico, conceitos e abrangência dessa abordagem.

Ressaltamos as contribuições de Maslow e percussores no Brasil como Pierre Weil,

Márcia Tabone e Vera Saldanha.

Contemplamos no capítulo II, aspectos relevantes da Abordagem Integrativa

Transpessoal de Dra. Vera Saldanha. Apresentamos um breve histórico, sua

sistematização com os conceitos teóricos básicos aspectos estruturais e as principais

técnicas utilizadas.

Discorreremos no capítulo III, sobre a dimensão do feminino enquanto arquétipo

e correlações com a Psicologia Transpessoal, destacando contribuições de Leloup,

Woolger e Maturana.

Ressaltamos no capítulo IV, aspectos relevantes da educação e sua importância

aos valores humanos que norteiam diferentes sociedades. Trata-se de um contexto onde

a Didática Transpessoal tem muito a corroborar para despertar criatividade, potencial e

emergência de valores S, aprimorarem relacionamentos no contexto educacional e

social.

A trajetória metodológica está apresentada no capítulo V. Nele discorreremos

sobre a metodologia da análise de conteúdo segundo Bardin, revelando princípios

elementares dessa metodologia e nossa trajetória na análise de conteúdo.


9

Já no capítulo VI, com base nos dados obtidos pela análise de conteúdo,

apresentaremos a classificação, categorização, tratamento, inferência, interpretação dos

resultados e reflexões das interpretações.

Nas considerações finais estão apresentadas as conclusões e reflexões da autora

em particular deste trabalho, pois o conteúdo dos demais capítulos é resultado de um

trabalho e realizado em equipe, conforme citado anteriormente.

Ao final, apresentamos as referências bibliográficas, anexos e apêndices.


10

CAPÍTULO I

PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

Talvez na próxima geração de psicólogos mais jovens esperançosamente


libertos das proibições e resistências universitárias, haja alguns que ousarão
investigar a possibilidade de haver uma realidade lícita, que não está exposta
aos cinco sentidos, uma realidade que pode ser percebida e conhecida
somente quando somos passivamente receptivos em vez de ativamente
inclinados a conhecer. É um dos desafios mais excitantes postos à
psicologia. Carl Rogers.

1. Contextualização

Enunciado pela primeira vez, na área da Psicologia, por Carl Gustav Jung, em

1916, o termo transpessoal, utilizando a palavra überperson e uberpersönlich, em 1917,

cujos respectivos significados são supra pessoa e supra pessoal.

Coube a Maslow, a explicitação dos princípios básicos da Psicologia

Transpessoal enunciada no ano de 1968, no prefácio da Segunda edição de seu livro

“Toward a Psychology of Being”, momento em que ocupava a presidência da

Americam Psychological Association e presidente do Conselho do departamento de

Psicologia de Brandeis University (gestão de 1968/69).

Foi em 1968 que Antony Sutich anunciou a Psicologia Transpessoal como a

quarta força da psicologia, resultante do desdobramento da Psicologia Humanística,

publicando no jornal “Journal of Humanistic Psychology um artigo entitulado

Transpersonal Psychology na Emergeng Force.

Inicialmente o termo utilizado era Psicologia Transhumanistica

(Transhumanistic Psychology), mas foi realmente em início de 1968 que o termo

Transpessoal foi usado em substituição ao de “Transhumanistic” e como opção em

relação a outros diferentes termos como os de “Ortho-Psychology” ou “Self-

Psychology”.
11

Além de Abrahan Maslow e Antony Sutich, também participavam deste

movimento Viktor Frankl, Stanislav Grof e James Fadiman.

É importante salientar que em nenhum momento o aspecto pessoal foi ou deve

ser excluído em sua importância, mas sim ampliado. O prefixo “trans”9 vem justamente

para trazer esse sentido de ampliação, de integração, reconhecendo o Ser em sua

Unidade, além de seus comportamentos, pensamentos e emoções.

Para Wilber a transpessoal traz um aspecto de complementaridade dos diversos

pontos de vista e que a definição fica muito melhor se vista como integradora dos “três

olhos do conhecimento”, ou seja, sensorial, introspectivo-racional e contemplativo, o

que a diferencia das outras disciplinas onde se define em um desses aspectos e ignora o

resto.

Provavelmente é por esse aspecto que Pierre Weil correlacione a transpessoal

com a transdiciplinaridade que é onde ocorre o encontro de várias disciplinas do

conhecimento em torno de uma temática comum. “A transdisciplinaridade transforma

a arrogância do saber na humildade da busca” (Dambrósio in Silva, 2004, p. 66).

O movimento transpessoal, integrando textos das mais diversas disciplinas

dentre elas Filosofia, Física, Antropologia, Sociologia, Neurologia, Biologia entre

outras, se dedica à inclusão e ao estudo das experiências transpessoais, fenômenos

correlatos e suas aplicações.

A experiência transpessoal, segundo Walsh e Vaughan pode definir-se como


“aquela em que o senso de identidade ou do eu ultrapassa (trans + passar = ir
além) o individual e o pessoal a fim de abarcar aspectos da humanidade, da
vida, da psiquê e do cosmo” (Walsh e Vaughan in Saldanha, 2006, p. 11).

A psicologia Transpessoal é o estudo e prática psicológica dessas experiências

na saúde, educação, organizações, instituições, incluindo não só sua natureza,

9
O prefixo “trans” indica aquilo que está ao mesmo tempo, entre, através e além (Nicolescu, 1999, p. 46).
12

variedades, causas, efeitos e seu desenvolvimento, bem como a sua manifestação na

filosofia, arte, cultura, educação, religiões, etc.

Vera Saldanha, em sua tese de doutorado (2006), cita a definição de Pierre Weil

para a Psicologia Transpessoal como:

Um ramo da Psicologia especializada no estudo dos estados de consciência,


lida mais especificadamente com a “Experiência Cósmica” ou estados ditos
“Superiores” ou “ampliados” da consciência. Estes estados de consciência
consistem na entrada numa dimensão fora do espaço-tempo tal como
costuma ser percebida pelos nossos cinco sentidos. É uma ampliação da
consciência comum com visão direta de uma realidade que se aproxima
muito dos conceitos de física moderna (Weil in Saldanha, 2006, p. 12).

Assim, a Psicologia Transpessoal apresenta pressupostos diferenciados no

campo da Psicologia, explora diferentes estados da consciência, aspectos ontológicos, a

dimensão Sef, valores e potenciais evolutivos, bem estar bio-psico-socio-espiritual,

inclui na experiência humana sua dimensão espiritual.

Resultante de um movimento iniciado nos Estados Unidos, particularmente na

Califórnia, na década de 1960, a Psicologia Transpessoal tornou-se conhecida pela

denominação da “quarta força” em psicologia, após o Behaviorismo, a Psicanálise e a

Psicologia Humanista. Entretanto lembramos que encontramos que os postulados da

Psicologia Transpessoal foram anteriormente explorados no trabalho de Willian James

(1842-1910) denominado de “A Psicologia da Consciência” (Fadman, 1986).

O Behaviorismo, “primeira força”, contempla principalmente os aspectos

comportamentais do ser humano, porém nega o valor da introspecção e rejeita tudo o

que não pode ser mensurável, replicável ou observável pelos cinco sentidos.

A psicanálise, “segunda força”, amplia esses conhecimentos e traz o conceito de

inconsciente por Sigmund Freud onde ele utilizava a analogia do iceberg, onde sua parte

visível corresponderia a apenas um terço do todo e a parte submersa corresponderia a


13

instintos, pulsões que determinavam o comportamento e motivações mais profundas do

ser humano e era justamente essa parte submersa que Freud chamou de inconsciente.

A Psicologia Humanista, terceira força, surge como oposição à orientação

mecanicista e reducionista dos movimentos anteriores, também conhecida como

“Movimento do Potencial Humano”, englobando as habilidades de mudanças e

crescimentos individuais, ampliando assim seu enfoque perante as teorias acima citadas.

Para a Psicologia Transpessoal o homem é visto como um ser bio-psico-social,

cósmico e espiritual, restabelecendo a possibilidade de viver a unidade fundamental

homem-cosmos, ampliando aspectos do desenvolvimento psíquico que já eram

contemplados pelos segmentos anteriores da psicologia, porém de forma mais limitada.

O reconhecimento da existência do nível transpessoal da consciência e das


experiências ligadas a esse nível, entendidas como aspectos intrínsecos da
natureza humana e de que todo indivíduo tem o direito de escolher ou de
modificar o seu “caminho” para atingir os objetivos transpessoais, foi
fundamental para o desenvolvimento da “quarta-força” (Tabone, 1988, p.
99).

De acordo com Tabone (1988) a Psicologia Transpessoal oportuniza a união da

moderna pesquisa científica da consciência com a tradição espiritual “viva” tanto

ocidental quanto oriental.

Como conseqüência dessa aceitação e da importância atribuída à dimensão


espiritual da vida humana, vários psicólogos humanistas passaram a se
interessar por uma série de estudos até então negligenciados pela Psicologia
Humanistas, tais como: o êxtase, as experiências místicas, a transcendência,
a consciência cósmica, a teoria e a prática de meditação e a sinergia
interindividual e interespécies (Grof in Tabone, 1988, p. 99).

Entendendo-se por tradição espiritual “viva” aqueles conhecimentos ligados ao

self que não foram contaminados por desejos “egóicos” e por hierarquias de poder e, por

isso, mantêm-se até os dias de hoje, com certa “pureza” de valores espirituais.

Não podemos deixar de lembrar que a “institucionalização” das tradições

espirituais, tanto ocidental quanto oriental, foi o que provocou a perda do seu sentido
14

transcendental original. Levando a uma inversão de valores, uma vez que, aquele que

deveria ser o “veículo”, o representante da tradição, passou a ser o “centro” ocupando

espaço mais importante do que a própria transmissão da tradição, gerando distorções

pela predominância de aspectos “egóicos” humanos.

Todas as tradições não corrompidas têm em comum a visão integradora do

homem, do universo e da sua própria integração homem-universo. Portanto, o interesse

nos princípios originais das tradições espirituais, é motivado pela constatação da própria

ciência que, no princípio, desenvolveu-se numa linha materialista e que à medida que

aperfeiçoou novos métodos e aparelhos verificou que a consistência da matéria é

ilusória e que, na realidade, o que existe são partículas energéticas, atômicas e

subatômicas, e o vazio, que é na verdade o campo universal da consciência pura

(Tabone, 1988).

A seguir discorreremos brevemente sobre alguns ícones da Psicologia

Transpessoal.

2. Abraham Maslow

Psicólogo norte americano, no início de sua carreira foi inspirado pela

psicanálise, interessou-se pela psicologia experimental e social e foi um estudioso da

psicologia da Gestalt (Fadman, 1986). Considerado um dos fundadores da Psicologia

Humanista e Percussor da Psicologia Transpessoal.

O grande diferencial de Abraham Maslow para uma Psicologia mais ampla e

humanisticamente orientada, é de proporcionar elementos a uma psicoterapia e a uma

educação capazes de resgatar os aspectos saudáveis do ser, os quais dão significado,

riqueza e valorização da vida.

Quanto mais aprendemos sobre as tendências naturais do homem, mais fácil


será dizer-lhe como ser bom, como ser feliz, como ser fecundo, como
respeitar-se a si próprio, como amar, como preencher as suas mais altas
potencialidades (Maslow, [s.d.], p. 29).
15

Além dos mecanismos de defesa descritos pela psicanálise, Maslow acrescenta a

dessacralização, um mecanismo de defesa do ego o qual ele denominou de “Complexo

de Jonas”. Percebe uma recusa do indivíduo em realizar suas plenas capacidades ao

evitar a responsabilidade que seria exigida por uma maior conscientização e expressão

do real (Maslow, 1996).

Maslow afirmava que o homem seria um ser com habilidades, capacidades e

poderes adormecidos e que o adormecimento acontece não só por termos aspectos

patológicos, mas também por bloquearmos esses elementos saudáveis inerentes a todo e

qualquer ser. A impossibilidade, ou dificuldade, de expressarmos nossa criatividade e

de atualizarmos nossos potenciais como ser humano realizado, traz como conseqüência

as neuroses. “Sem o transcendente e o transpessoal, ficamos doentes, violentos e

niilistas, ou então vazios de esperança e apáticos. Necessitamos de algo “maior do que

somos”, que seja respeitado por nós próprios e as que nos entreguem num novo sentido

[...] (Maslow, [s. d.], p. 12).

Essa é uma reflexão que podemos dizer ser bem atual, basta olharmos a situação

do nosso planeta, onde vivemos as violências em seus diversos aspectos, guerras

declaradas ou não declaradas, porém concretas, acontecendo ao nosso redor, às

injustiças, a situação precária em que grande maioria da população vive atualmente, a

fome, entre outras carências e violências.

Faz-se mister lembrarmos que os enfoques pioneiros do campo transpessoal

incluem polaridades imanentes e transcendentes do continuum da consciência humana e

sua aplicação prática auxilia o homem no direcionamento do processo de integração de

si mesmo através dos níveis pessoais e transpessoais de sua natureza.

Há dois conjuntos de forças puxando o indivíduo, não uma apenas. Além


das pressões no sentido do desenvolvimento e da saúde, existem também
pressões regressivas, geradas pelo medo e a ansiedade, que o empurram para
a doença e a fraqueza. Não podemos avançar para um “alto Nirvana” nem
retroceder para um “baixo Nirvana” (Maslow, [ s.d.], p. 197).
16

A valorosa e imensurável contribuição de Maslow para a Psicologia

Transpessoal teve um caráter importantíssimo para a fundamentação dos princípios

básicos da mesma, desenvolveu estudos com caráter acadêmico científico cujos

principais postulados apresentaremos objetivamente a seguir (Fadman, 1986).

a) auto-atualização: ao estudar e analisar a vida, valores, e atitudes de pessoas

consideradas saudáveis e criativas, define como auto-atualização a capacidade do

indivíduo em usar e explorar plenamente seus talentos, capacidades, potencialidades e

habilidades. Não seriam pessoas perfeitas, mas aquelas que apesar das limitações

persistem nos objetivos.

Não existem seres humanos perfeitos! Pode-se encontrar pessoas que são
boas. Realmente muito boas, na verdade excelentes. Existem, na realidade,
criadores, videntes, sábios, santos, agitadores e instigadores. Este fato, com
certeza, pode nos dar esperança em relação ao futuro da espécie, mesmo
considerando que pessoas desse tipo são raras e não aparecem às dúzias. E,
ainda assim, estas mesmas pessoas às vezes podem ser aborrecidas,
irritantes, petulantes, egoístas, bravas ou deprimidas. Para evitar a desilusão
com a natureza humana, devemos antes de mais nada abandonar nossas
ilusões a este respeito (Maslow in Fadman, 1986, p. 264).

Para Maslow a auto-atualização é um processo que se revela quando as pessoas

experimentam a vida de modo intenso, pleno, desinteressado, com plena atenção e total

absorção da experiência; suas escolhas visam o crescimento; sintonização com a

natureza interior, o self; revelam honestidade e assumem responsabilidades sobre seus

próprios atos; confiam em si mesmas e são capazes de realizar escolhas “melhores”;

desenvolvimento contínuo das próprias habilidades; experiência de experiências

culminantes; reconhecer e trabalhar as próprias defesas.

b) experiências culminantes: são momentos felizes e excitantes na vida de todas as

pessoas, normalmente emergem a partir da experiência do amor, vivência junto à

natureza e contato com a arte.


17

[...] Nestes momentos, estamos mais integrados, inteiros, conscientes de nós


mesmos e do mundo. Em tais momentos pensamos, agimos e sentimos mais
claro e acuradamente. Amamos e aceitamos mais os outros, estamos mais
livres de conflitos interiores e ansiedades e mais capazes de usar nossas
energias de modo construtivo (Maslow in Fadiman, 1986, p. 265).

Ao legitimar essas experiências, que Maslow criou um novo referencial

conceitual na psicologia, pois é fato que até então a psicologia não reconhecia

fenômenos dessa natureza sem a isenção de um traço patológico ou de superstição de

massa.

c) experiência platô: trata-se de uma experiência que envolve uma mudança

fundamental na atitude do ser, afeta a visão de mundo, emerge uma consciência mais

ampliada. Maslow identifica estas características em indivíduos que passam pela

iminência da morte.

d) a transcendência da auto-atualização: é um aspecto observado por Maslow nas

pessoas auto-atualizadas que transcenderam. Suas experiências místicas ou culminantes

são as mais importantes de suas vidas, denotam caráter holísco, unitivo, são inovadores,

originais, sintetizadores, humildes e honestos. Normalmente revelam saúde psicológica,

produtividades e capacidade de integrar-se ao essencial.

d) hierarquia de necessidades: para Maslow existem necessidades, que para o ser

humano, quando não satisfeitas, podem desencadear desajustamento psicológico, é o

que ele denominou “doenças de carência”. Por outro lado, a satisfação dessas

necessidades promove cura e saúde. As necessidades descritas por ele são:


18

Fogira nº1: Pirâmide das necessidades de Maslow

Fonte: www.pedrassoli.psi.br, acesso em 24/06/2008.

e) metamotivação: está relacionada à satisfação do que Maslow denominou de

metanecessidades, onde o indivíduo apresenta senso de justiça, perfeição, beleza,

verdade, etc. e busca satisfazer tais necessidades. É o tipo de motivação mais comum

nas pessoas auto-realizadas, refere-se a ideais ou metas em relação a algo ou alguém,

inclui um sentido de identidade, carreira meritória, compromisso com valores tão

essenciais quanto às necessidades básicas. Porém se revela como um contínuo de tais

necessidades. A não satisfação das metamotivações ocasiona as metapatologias, que se

refere à falta de valores, sentido ou realização na vida.

f) queixas e metaqueixas: as queixas são manifestações que denunciam que as

necessidades básicas não foram satisfeitas, enquanto que as metaqueixas se referem à

carência de satisfação das metanecessidades. Tais queixas revelam que o ser humano

luta pelo seu crescimento e saúde, ao mesmo tempo, que podem ser um termômetro para

se avaliar a qualidade de vida de uma comunidade.

g) motivação de Deficiência e do Ser: motivação de Deficiência (D) inclui necessidade

de mudar o estado atual de algo por estar insatisfatório ou frustrante para o indivíduo.

Enquanto que a motivação do Ser (S) refere-se ao prazer, satisfação e alegria de no


19

presente o indivíduo busca uma atividade de crescimento ou metamotivação, cuja

gratificação tem o fim em si mesma.

h) cognição de Deficiência e do Ser: o indivíduo movido pela cognição de deficiência

(D) tem seus objetivos voltados para satisfazer necessidades para atingir objetivo

resultante. Quando estas necessidades são fortes, o indivíduo tende a orientar sua

percepção e pensamento de maneira a ter consciência no ambiente, apenas dos aspectos

relacionado à satisfação de tal necessidade.

Por outro lado, na cognição do Ser (S) o indivíduo na sua percepção permanece

desprovido de interesses pessoais, não julga, compara, avalia e nem distorce, é mais

rica, plena e completa. Existe um senso de valorização do que é com uma postura

contemplativa ou observação passiva, ao mesmo tempo, o indivíduo pode agir e até

alterar a realidade.

i) valores de Deficiência do Ser: embora pouco explorado por Maslow os valores de

Deficiência (D), os define como uma condição humana dualista, individualizada,

pragmática, que controla e julga. Movidos pelos valores de Deficiência o indivíduo

percebe e reage em termos pessoais.

Muito diferente, os valores do Ser (S) são intrínsecos10 e supremos na natureza

humana. Nas experiências culminantes ocupam o lugar dos valores pessoais e são

tomados como representantes do mundo. Entre os valores S anunciados por Maslow

temos: verdade, bondade, beleza, totalidade, transcendência, vivacidade, unicidade,

perfeição, necessidade, inteireza, justiça, ordem, simplicidade, riqueza, tranqüilidade,

alegria e auto-suficiência (Maslov, [s. d]).

j) amor de Deficiência e do Ser: amor de Deficiência (D) é o amor por aquele que supre

uma necessidade, o amor é intensificado na medida da satisfação da carência, seja ela de

10
Advindos da natureza interior do indivíduo.
20

estima, sexo, atenção, gratificação, etc. Enquanto que o amor do Ser (S) é pela essência

do Ser do outro, compreende a uma dimensão incondicional, é rico, satisfatório,

duradouro e tende a provocar experiências culminantes.

k) eupsiquia: termo utilizado por Maslow para designar uma sociedade “ideal”,

constituída por indivíduos psicologicamente saudáveis e auto-realizadores, capazes de

buscar o desenvolvimento pessoal, realização pessoal e profissional.

l) sinergia: termo foi utilizado inicialmente por Ruth Benedict, professora de Maslow e

significa ação combinada (cooperação) e harmonia interpessoal, ou de elementos, que

resulta num efeito global maior que se os elementos ou indivíduos separados. Também

pode se referir ao próprio indivíduo, como unidade entre o pensar-sentir-agir.

Maslow apresentou uma teoria da motivação e do desenvolvimento humano que

representam pressupostos básicos da Psicologia Transpessoal, apresenta uma visão

psicológica, filosófica, educacional e espiritual, permeada pelo biológico e institucional.

Observa-se em seu trabalho a interdependência entre indivíduo e sociedade

saudável/patológico como uma unidade indivisível. Nesse contexto, sugere como

aspectos relevantes a psicoterapia, o auto-conhecimento e a educação como principais

fatores de saúde em uma sociedade.

Aponta como desafio humano na vida particular, nas instituições e na sociedade,

resgatar o sagrado na educação, uma vez que esta deve ser mais do que uma somatória

organizada de disciplinas, disponibilizando informações. Há que se estabelecer relações

saudáveis entre educador, educando e saber, resgatando um sentido profundo do

sagrado. Declara que necessitamos de um sistema permeado de valores humanos no

qual possamos acreditar e devotar (Maslow, [s.d.]).

3. Pierre Weil
21

Além de Maslow outros ícones trouxeram valorosas contribuições para a

Psicologia Transpessoal, dentre eles Pierre Weil, um dos percussores desta abordagem

no Brasil.

Pierre Weil é um ser notável, especial para nós. Primeiro, pela extensão e
profundidade de sua obra na Pedagogia; na Psicologia das organizações, do
trabalho, das relações humanas, dos testes, das avaliações; do Psicodrama;
da Transpessoal; da Tanatologia (abordagem sobre morte) e da educação
para paz. (Saldanha, 2006, p. 79).

Abordaremos na seqüência, de maneira sintética, porém, sem o intuito de

desmerecer ou desvalorizar a importância de sua contribuição para a Psicologia

Transpessoal, pois, com certeza, Pierre Weil produziu conhecimento, que é hoje,

material para muitas pesquisas em temas significativos em diversos segmentos como na

educação, saúde, relações interpessoais e educação para a paz. Também evidenciaremos

alguns conceitos de Maslow que foram explorados por Weil.

Em sua trajetória, Weil criou vários testes como o Inventário de Inteligência não

Verbal (INV), escreveu vários livros voltados para o relacionamento interpessoal,

psicodrama, organizações, orientação vocacional, consciência, regressão, Psicologia

Transpessoal, entre outros temas, tornando-se referência nacional e internacional.

Foi um dos precursores do psicodrama no Brasil, onde escreveu um dos

primeiros livros com o prefácio do próprio Moreno. Foi um dos redatores na fase do

anteprojeto para a criação do Curso de Psicologia em universidades brasileira e dos

Conselhos Regionais. Ocupou uma cátedra de Psicologia Social na Universidade

Federal de Belo Horizonte e, em 1978, em Psicologia Transpessoal, nessa mesma

universidade.

Doutorou-se em Psicologia na Sorbonne, em 1972, com a tese em Psicologia

Transpessoal “Esfinge, estrutura e símbolo do homem” com menção honrosa. Segundo

Weil [...] “a esfinge seria um modelo de estrutura do ser humano e das ciências
22

humanas [...] a esfinge clássica é composta de quatro partes: o boi, o leão, a águia e o

homem” (Weil, 2001, p. 56).

Desenvolveu outros trabalhos focando a sexualidade, a psique e os estados não

usuais da consciência, entre eles, as experiências culminantes. Nessa incursão à área da

consciência, Pierre Weil aliou a sua formação cientifica às buscas pessoais.

É, sobretudo, a partir das descrições de experiências da consciência cósmica


que se pode ter uma idéia do que se trata, confrontando estas experiências,
consegue-se aos poucos formar uma imagem sincrética da experiência,
embora em linguagem que nem sempre traduz inteiramente a natureza e a
intensidade do fenômeno (Weil, 1997, p. 23).

Em 1978, Weil preside o IV Congresso Internacional e desenvolve o trabalho

desse novo ramo da Psicologia, a transpessoal. Foi convidado a lecionar essa disciplina

no Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Autor de

muitos títulos e pesquisas nessa área, organizador e apresentador do curso de

Transpessoal, intitulado Cosmodrama, hoje ampliado como “A Arte de Viver a Vida”.

Além de co-organizador e presidente de Congressos Internacionais de

Transpessoal, membro-fundador e presidente de honra de Associações de Psicologia

Transpessoal, entre elas a Alubrat (Associação Luso Brasileira de Transpessoal).

Um dos fundadores da Universidade Holística Internacional de Brasília, a

UNIPAZ com o apoio de Monique Thoenig (da Universidade Holística de Paris) e de

Jean Yves Leloup, psicólogo, Phd em Transpessoal, autor de inúmeros títulos nessa

área.

No ano de 1988 elabora uma teoria sobre a gênese da destruição da vida no

Planeta e sobre os princípios e abordagens que possibilitam um novo método de

Educação para a Paz, utilizando-se, para esse modelo, da linguagem da Psicologia

Transpessoal (Weil, 2001).


23

A trilogia integrativa de três aspectos da Paz, propostas por Weil nos seus

programas educativos são:

a) a Paz consigo próprio (Ecologia e Consciência individual), sobre os planos do corpo,

das emoções e do espírito;

b) a Paz com os outros (Ecologia e Consciência Social), sobre os planos da economia,

da sociedade e política e da cultura;

c) a Paz com a natureza (Ecologia e Consciência do Universo), sobre os planos da

matéria, da vida e da informação.

Segundo Saldanha, (2006), Pierre Weil estabelece uma analogia entre as

Hierarquias de Necessidades e Valores de Maslow com as Necessidades e Valores

evidenciadas em cada Centro do Desenvolvimento Humano nesse referencial. As

necessidades fisiológicas e de segurança são correlacionadas ao primeiro centro vital; as

necessidades de amor e afeto, ao segundo; as necessidades de estima relacionadas ao

terceiro; as de auto-realização, onde já incluem valores como verdade, bondade, beleza

e justiça estão relacionadas ao quarto centro vital. A meta necessidades de Maslow

relaciona-se ao quinto, sexto e sétimo centro vital considerado os três centros

superiores.

Podemos sugerir que, talvez, o sétimo centro vital esteja relacionado ao que

Maslow denomina como indivíduos meta realizado e transcendente; aqueles que

vivenciam, com maior freqüência, experiência culminante no mais alto grau, o da

unidade ou consciência cósmica, e elas são prioridades em suas vidas, assim como a

vivência dos valores que se relacionam a esse nível.

Weil (1989) afirma que, de acordo com o estado de consciência, cada indivíduo

tem uma percepção da realidade. Os indivíduos podem perceber a mesma realidade de


24

forma diferente, o que gera crenças, valores e atitudes distintas em relação a si próprias

e ao mundo externo.

[...] o mundo chamado exterior físico, biológico e social podem ser vividos
em esdado de consciência de vigília ou em estado de consciência de sonho.
Em estado de vigília os níveis de realidade serão percebidos tais quais os
conhecemos; no estado de sonho, um latido de cachorro se transforma em
uma sirene [...] (Weil, 1989, p. 33).

Por generalização, podemos dizer que se diferentes estados de

consciência permite ao homem diferentes percepções de uma mesma realidade, o

mesmo paradigma se aplica à produções cientifica.

Se nossa percepção da realidade difere conforme o nosso estado de


consciência, forçosamente a nossa ciência difere também conforme o nosso
estado de consciência. Como o afirma Charles Tart (1975), a nossa ciência
clássica é uma ciência elaborada por pessoas em estado de consciência de
vigília e fundamentada nos cinco sentidos e no raciocínio formal [...]
dominado pelos instintos, pelas emoções e pela mente ( Weil, 1989, p. 33-
34).

Nesse contexto, a PsicologiaTranspessoal se presentifica em um momento de

transição e integração de saber em uma nova etapa da ciência e do conhecimento

humano. Longe de ser uma teoria concluída e hermética, é uma disciplina jovem e com

certeza faz parte das pesquisas de ponta sobre o desenvolvimento da mente humana,

com promissoras perspectivas.

Assim sendo, não podemos deixar de citar a grande contribuição que Vera

Saldanha, psicóloga contemporânea, que nos traz contribuições significativas no sentido

de validar a Psicologia Transpessoal como ciência.

Baseada nos estudos, pesquisas e observações dos principais ícones da

Psicologia Transpessoal, entre eles Maslow, Weil, Stanislav Grof, Charles A. Tart

Assagioli, Moreno, Fadman, Jean-Yves Leloup, entre muitos outros11, Vera Saldanha

sistematizou e desenvolveu uma didática chamada Abordagem Integrativa Transpessoal,

onde contempla em seu aspecto dinâmico os eixos evolutivo (sete etapas) e experiencial

11
Ver tese de doutorado (Saldanha, 2006).
25

(R.E.I.S) e no aspecto estrutural nos traz o Corpo Teórico Transpessoal, com seus cinco

elementos: Conceito de Unidade, Conceito de Vida, Conceito de Ego, Estados de

Consciência e Cartografia da Consciência. A Abordagem Integrativa será apresentada

com seus principais pressupostos no capítulo II.

Vera Saldanha ministrou vários cursos de Formação em Psicologia Transpessoal

em vários estados brasileiros e no exterior. Recentemente esse curso foi ampliado e

reconhecido pelo MEC e transformado em Pós-Graduação Lato Sensu, onde se utiliza

da didática por ela desenvolvida, trazendo os conceitos da Psicologia Transpessoal de

forma teórico vivencial.


26

CAPÍTULO II

ABORDAGEM INTEGRATIVA TRANSPESSOAL

A Brisa do alvorecer tem segredos para lhe contar, não volte a dormir. Você
tem de pedir o que realmente deseja. Não volte a dormir. As pessoas estão
cruzando o limiar da porta onde os dois mundos se tocam... A porta está
totalmente aberta... Não volte a dormir. Rumi.

A Abordagem Integrativa Transpessoal foi desenvolvida a partir da experiência

pessoal e profissional de Vera Saldanha, que após 15 anos ministrando cursos no Brasil

e no exterior sentiu a necessidade de criar um trabalho de forma sistematizada tanto na

teoria quanto na prática.

Esse sistema foi desenvolvido de maneira que desse suporte e sustentação ao

processo educacional e facilitasse a compreensão daquilo que fosse vivenciado durante

seus cursos. O que? Como? Onde? Por quê?

Construiu-se um sistema com conceitos da Psicologia Transpessoal, ampliando-

os e os apresentando de forma estrutural e dinâmica, para que pudesse ser utilizado na

saúde, nas instituições, na área clínica, educacional e que também permitisse clarear

quais os conceitos que subsidiam a fala, a escuta e intervenções num processo

terapêutico, educacional e de auto-conhecimento. A elaboração deste conhecimento em

psicologia passou a ser denominado Abordagem Integrativa Transpessoal, e sua forma

de ensiná-la Didática Transpessoal.

No processo de elaboração da Abordagem Integrativa ocorreu a emergência de

novos conceitos que já estavam implícitos, porém não evidenciados. Dentre eles o eixo

experiencial e eixo evolutivo inerentes à prática transpessoal, assim como o principio da

transcendência12.

O prefixo "trans" significa "através de" e "muito além de", assim o principio de

transcendência indica um impulso em direção ao despertar espiritual que perpassa a

12
Ver tese de doutorado (Saldanha, 2006).
27

humanidade do ser, a própria pulsão da vida, de morte e para além delas. O princípio de

transcendência envolve a natureza psicológica, descrita por Freud, ampliada por

Maslow e por Pierre Weil (Saldanha, 2006).

1. Sistematização

A Abordagem Integrativa Transpessoal é composta por dois aspectos básicos, o

estrutural e o dinâmico.

O aspecto estrutural é composto por cinco elementos que formam o corpo

teórico da Abordagem Integrativa Transpessoal. São eles: conceito de unidade, conceito

de vida, conceito de ego, cartografia da consciência e estados de consciência.

Simbolicamente representados da seguinte maneira:

Conceito de Unidade

Conceito de Ego Conceito de Vida

Estados de Consciência
Cartografia da
Consciência

Figura nº 1: Corpo teórico (Fonte: Saldanha, 2006, p. 107.)

Os cinco elementos que compõem o corpo teórico da Psicologia Transpessoal

simbolicamente correspondem à espinha dorsal e cabeça, dando estruturação e

sustentação ao trabalho transpessoal, que visa o desenvolvimento pleno do Ser.

Conceito de vida e de ego, cartografia da consciência e estados de consciência são


28

sustentados pelo conceito de unidade. Todo processo terapêutico visa resgatar a unidade

do ser.

Enquanto aspecto dinâmico é composto por dois elementos, sendo eles: eixo

evolutivo e eixo experiencial. Graficamente estão apresentados a seguir e

simbolicamente representam a interdependência entre experiência e processo o

evolutivo.

Eixo Evolutivo

Eixo Experiencial

Gráfico nº 1: Aspecto dinâmico (Fonte: Saldanha, 2006, p.107.).

Todos esses elementos articulados pelo terapeuta ou educador por meio de

diferentes técnicas, formam a base da Abordagem Integrativa e podemos representar

metaforicamente esta dinâmica com símbolo da pirâmide ou a forma geométrica do

triângulo. A teoria e a técnica ocupariam a base da pirâmide e o terapeuta ou educador

ocuparia seu ápice. Observemos a figura abaixo.

Terapeuta

Teoria Técnica

Figura nº 2: Articulação da teoria e da técnica (Fonte: Saldanha, 1999, p. 40.).


29

1.1. Conceito de unidade

A base da Psicologia Transpessoal é a unidade fundamental ou da não

fragmentação do ser, de onde partem e para onde convergem todos os recursos desta

abordagem. Para melhor compreendermos esse conceito, podemos conceituar unidade

como a propriedade indivisível do ser e a vivência desse estado permitem ao indivíduo

experimentar estados de paz, confiança, entrega, resultando em estados de desapego,

serenidade e harmonia.

Quando abordamos a unidade cósmica, referimo-nos ao fim da dualidade,


das polaridades. É o todo, é o absoluto, é a plena luz. Nesse nível, inexiste
tempo e espaço. É um eterno agora, um eterno ser-único, indivisível. E,
simbolicamente, é a cabeça e a espinha dorsal desse corpo teórico (Saldanha,
1999, p. 42).

Parafraseando Saldanha (1999), o conceito da física moderna descreve uma

visão não fragmentada do ser, mostra que o todo contém as partes e que as partes

contêm o todo. Nós contemos o todo e estamos contidos nele. “Ken Wilber adota o

termo absoluto para designar essa Unidade. [...] pode ter diferentes nomes, tais como:

Brahma, Deus, Inteligência Suprema e outros. Na teoria psicanalítica Bion inclui no

seu referencial, de forma similar, o termo absoluto” (Saldanha, 1999, p. 43).

Segundo Saldanha (1999) Jung dizia que as religiões se desenvolvem como meio

para os homens conhecerem as potencialidades de ação e pensamento inerentes à

verdadeira estrutura da psique humana, ao que ele denominou arquétipos. Victor Frankl

um dos fundadores da Psicologia Transpessoal diz:

Saúde mental e salvação: dois objetivos bem diferentes, e para atingi-los,


dois processos bem diferentes, mas quanto aos subprodutos, aos efeitos
colaterais, não intencionais, desses processos, acontece algo interessante.
Sem demasiado esforço, a religião contribui indubitavelmente muito para a
saúde mental, ao oferecer ao homem a segurança, o sentimento de estar
ancorado no absoluto. E estranhamente algo de comparável acontece em
qualquer genuíno processo de psicoterapia. Pois embora a psicoterapia,
como tal, não tente nem deva influir na vida religiosa de seu paciente, um
dos subprodutos de um bom tratamento psicoterapêutico é o
restabelecimento no homem de um vínculo com a divindade (Frankl in
Saldanha, 1999 p. 44).
30

Quando o indivíduo ignora que ele faz parte da unidade, ele se apega aos objetos

de prazer e passa a ter medo de não tê-los, medo de perdê-los ou medo de não reavê-los,

manifesta estados desarmônicos e experimenta sentimentos de tensão e ansiedade, o que

pode provocar uma baixa resistência imunológica levando às doenças auto-imunes,

patologias cardíacas, síndromes mentais entre outras.

Não ficar apegado a situações ou atitudes circunstanciais, ou seja, identificado

com a rotina diária como sendo a única realidade, permite ao indivíduo vivenciar esse

sentimento de unidade e desenvolver uma percepção mais ampla e adequada para a sua

vida.

Quando o homem reconhece essa dimensão espiritual, resgata a sua inteireza e

vivencia o sentimento de unidade com o cosmo, isto gera um estado mais harmonioso e

de paz, levando-o a novas reflexões sobre o conceito de vida.

1.2. Conceito de vida

O que é vida? Segundo Pierre Weil é um pulsar contínuo no qual nascer, morrer

e renascer, fazem parte de um processo. Possibilita mudar ou ainda, rever valores e

crenças do indivíduo, o qual é um ser transformador de energia em um sistema

evolutivo com eterna continuidade. “[...] a matéria viva é ela mesma um transformador

de energia [...]. O corpo vivo é uma máquina que transforma a soma de energia

recebida em outras manifestações dinâmicas equivalentes” (Jung in Weil, 1989, p. 15).

Conceituar vida é algo complexo, pois não sabemos definir onde, exatamente,

ela se inicia ou termina, basicamente, o que caracteriza a vida na visão transpessoal é a

dimensão atemporal. Saldanha (2006) utilizou o referencial de Weil para conceituar

vida num contexto transpessoal.

1. Existem sistemas energéticos inacessíveis aos nossos cinco sentidos, mas


registráveis por outros níveis de percepção.
2. Tudo na natureza se transforma e a energia, que a compõe, é eterna
31

3. A vida começa antes do nascimento e continua depois da morte física.


4. A vida mental e a vida espiritual formam um sistema suscetível de se
desligar do corpo físico.
5. A vida individual é inteiramente integrada e forma um todo com a vida
cósmica.
6 - A evolução obtida durante a existência individual continua depois da
morte física.
7. A consciência é energia, que é vida, no sentido mais amplo: não apenas a
vida biológica, física, mas também a da natureza, a do espírito, a vida-
energia, infinita nas suas mais diferentes expressões. A vida, que é eterna,
ilimitada, que sempre existiu. Desconhecemos sua origem e nem sequer
podemos imaginar, de forma concreta, o seu fim; é inesgotável, uma fonte
que jorra incessantemente, na suas mais diferentes manifestações (Saldanha,
2006, p. 112).

Sob o aspecto psicológico, a vida é pautada por duas etapas inerente a todo ser

vivo em seu processo de evolução que são a morte e o renascimento. Morrer e renascer,

a vida é pautada desta verdade, morre a flor para nascer o fruto, morre a lagarta para

nascer a borboleta, morre o rio para renascer no mar. “Em Transpessoal a morte é a

transição, a passagem de uma forma para outra, acrescendo elementos de maior

alcance na escala universal e mantendo a essência indivisível do elemento anterior que

consiste na vida em si própria” (Saldanha, 2006, p.112).

Ao apresentar o conceito de vida, Saldanha (1999), inclui aspectos teóricos de H.

Kubler Ross, a qual nos apresenta em cinco etapas as experiências em vida dos

indivíduos diante da morte, seja ela emocional ou física.

1. Negação, não-aceitação.
2. Revolta, sofrimento e cólera.
3. Barganha: na tentativa de nos enganarmos, agarramo-nos a algo que nos
pareça importante, fazemos propostas de trocas entre vida e morte,
debatemo-nos.
4. Depressão: por constatarmos que algo se esvai, exaure irreversivelmente.
5. Aceitação: ao elaborarmos a morte, vivenciando-a com todas os seus
matizes e a sutilezas, a magia se dá (Saldanha, 1999, p. 47-8).

Observamos que o conceito de vida nos convida a entrar em contato com tudo

que a vida pode nos oferecer, e nesse contexto, todas as experiências estão a serviço do

processo de desenvolvimento e evolução do ser.

[...] Quando vencemos nossas vicissitudes e apegos, o nosso ego ilusório,


vivenciamos toda a plenitude, ressurgindo a vida por detrás da morte. Essa é
a vida plena e abundante, que nos nutre a cada instante, é uma força que está
32

além das aparências, além dos fatos circunstanciais; algo que, simplesmente,
é, com presença, força e poder; inerente em todo processo de aprendizagem,
inclusive na morte, a qual testemunha permanentemente o caráter efêmero
da existência humana ao mesmo tempo que nos desperta a procurar o que
não está submetido ao nascimento e a morte (Saldanha, 2006, p.113).

1.3. Conceito de ego

Na psicologia transpessoal, o ego se caracteriza como um constructo mental,

ilusório, que tem a tendência de solidificar a energia mental em uma barreira, a qual

separa o espaço em duas partes: eu e o outro. É necessário, instrumenta a realidade e a

psique, é responsável pelo processo secundário13. No entanto, não representa a

totalidade das experiências humanas; em algumas delas precisa dissolver-se a fim de

que o indivíduo se torne Um com tudo, sentindo seu ser essencial.

O eu transpessoal é uma consciência em evolução que se manifesta além dos

elementos biopsíquicos e sociais que caracteriza a personalidade, integrando níveis

evolutivos superiores, elementos perenes, espirituais, universais e cósmicos, os quais

constituem a individualidade, que é o ser essencial e integral. (Assagioli, 1993).

A proposta da psicologia transpessoal é permitir que do “velho ser humano”

nasça o novo ser, aquele que é sábio, aquele que vivencia a unidade cósmica. Ele sente

que faz parte dela e que ela está contida nele e que há uma interdependência entre as

coisas e os seres no universo. É nessa ruptura com a dualidade rígida que permite

redimensionar o conceito do ego.

Fala-se muito da necessidade de "matar" o ego, mas é preciso que tenhamos

clareza quanto a esse processo de morte, pois, trata-se de uma profunda transformação

onde ocorre uma ampliação de consciência, mudando a percepção da realidade, que é na

verdade essa reconecção que se faz com o ser essencial. Muitas vezes esse processo de

13
Processo primário e secundário são termos da teoria psicanalítica (Brenner, 1987).
33

morte do ego, é confundido, e o indivíduo entende que é preciso destruí-lo, onde ocorre,

na verdade a negação do ego.

Leloup (1997) diz que quando o ser é capaz de transitar entre luz e sombra, ele

integra as polaridades e Maslow (s.d.), afirma que o que nos faz adoecer é a negação de

nossas potencialidades que é a natureza essencial do ser.

Na Psicologia Transpessoal o trabalho de morte e renascimento traz ao ser, a

possibilidade de conectar com suas experiências, dando-lhe sentido à vida, integrando

suas polaridades, transcendendo o ego, e vivenciando o que existe. As funções do ego

passam a ter uma importância relativa, seu aspecto interior adquire maior valor, e o

indivíduo torna-se saudável, e vive a totalidade de seu ser.

Segundo Leloup (1997), o estado mental que antecede a criação do ego, é

chamado de "unidade indiferenciada", que é esse espaço amplo, livre, luminoso que está

ligado a uma inteligência primordial e é chamado de indiferenciado, justamente por não

haver consciência desse espaço. Quando os processos do ego adquirem supremacia e

controlam sua psique, há perda de si mesmo, de sua natureza essencial.

Observamos que Saldanha (2006) nos apresenta o processo de construção do ego

se dá em cinco etapas:

1. Dualidade: quando tomamos consciência de um eu no espaço amplo,


solidificamos esse eu e deixamos de sentir-nos um só com esse espaço
mental, gerando o eu e o outro separado. É a primeira etapa do
desenvolvimento do ego.
2. Sensação: a dualidade cria a possibilidade de projetar no outro a sensação
de que ele nos é agradável ou desagradável, ou ainda que somos indiferentes
ao outro.
3. Reações impulsivas: a partir da constatação da sensação, segue-se a ela a
reação impulsiva correspondente: apego ao que é agradável, repulsa ao
desagradável e neutralidade ao indiferente. Até esse estágio, o processo é
instintivo. Quanto mais o indivíduo estiver identificado com suas sensações
e reações impulsivas, limitado aos cinco sentidos como canais sensoriais
perceptivos, mais sua reação será autômata.
4. Conceito intelecto: a quarta etapa do desenvolvimento psicológico do ego
envolve a ação do intelecto, que torna a estrutura do ego mais aperfeiçoada e
mais forte. Apenas o processo instintivo é insuficiente para a segurança do
ego, o qual necessita do intelecto para oficializar sua situação, julgando,
classificando como certo, errado, bom, mal e assim por diante.
O intelecto oficializa a situação do ego, pondo-lhe um nome de eu, o eu da
personalidade, estabelece rótulos como, por exemplo: eu não gosto, eu
34

gosto, eu sei, etc. Ao estabelecer o conceito, diminuem-se as chances de o


indivíduo viver a experiência direta, plena e verdadeira, visto que existe o
pré-conceito, a pré suposição.
5. Mente Consciente: para manter os processos instintivos e intelectuais, o
ego necessita de um mecanismo ativo e eficaz. São as emoções e os
pensamentos discursivos que, desordenados e em constante movimento,
alimentam e sustentam histórias e a novela do ego; justificam plenamente, as
percepções instintivas; geram reações egóicas, protegem; entretêm;
alimentam e inflam, através da identificação com os conceitos e emoções
suscitados e, até mesmo retardam ou obstruem a evolução do ser. Ele não
consegue mais diferenciar o que é realidade e o que é projeção (Souza, 1982
in Saldanha, 2006, p. 115).

Além das cinco etapas temos o subproduto do ego que é a auto-imagem, que

ocorre da identificação do ego com a emoção que se estrutura e se solidifica e que passa

a agir como uma identidade separada do ego. A auto-imagem se alimenta da energia do

ego e ele vai se impregnando da auto-imagem, ela não é mais ela. Passa a agir como se

fosse outra pessoa e a sua capacidade de percepção e apreciação de si, do outro e do

mundo a sua volta fica limitada. Há uma fragmentação e o indivíduo não acessa o

supraconsciente e não vivencia a sua essência verdadeira (Saldanha, 2006).

Um ego rígido, que alimenta uma auto-imagem forte, por melhor que esta
seja, tornará o indivíduo robotizado, uma pessoa que se identifica com a
idéia de si mesmo e, não, com a realidade dos seus sentimentos, experiências
e ações. A vida fica dividida entre imagem e realidade, entre o que se pensa
que é e o que se é de fato (Saldanha, 2006, p. 117).

As técnicas transpessoais têm como função restaurar essa comunicação entre os

fragmentos do ser e trabalhar no desapego das imagens que ele criou. Isso possibilita o

resgate de suas potencialidades, criatividade favorecendo a aprendizagem e o

desenvolvimento humano.

Um indivíduo em contato com ele mesmo vive de forma flexível a vida como ela

é não tem a necessidade da auto-imagem ou de um ego rígido que lhe diga o que fazer e

o que ele é. Se sua mente está sem idéias rígidas, preconceito ou ordens, ela está em

contato direto com a experiência real do mundo, vive o momento presente, sente, pensa

e age, vive uma vida saudável em diferentes níveis.


35

1.4. Estados ou níveis de consciência

O que é consciência? Parafraseando Saldanha (2006) encontramos as

contribuições de Grof. Para ele a consciência é a manifestação de uma inteligência que

se expressa pelo o universo e por tudo o que existe. Nós somos um campo infinito de

consciência além do tempo, espaço, matéria e causalidade linear. Esses estados

incomuns de consciência são manifestações da psique humana, e as emergências destes

estados podem ter fins terapêuticos.

Esses estados ou níveis de consciência representam uma perna e um pé na

estrutura do corpo teórico da Abordagem Integrativa, é o trânsito entre as mais

diferentes dimensões da consciência. São eles que direcionam o processo para a

percepção das diferentes realidades, e as ampliam.

É justamente este caminhar entre os níveis de consciência que faz desta

abordagem diferente das demais psicoterapias. A Psicologia Transpessoal reconhece,

pesquisa e trabalha com esses diferentes níveis, os percebe como parte da natureza

humana.

A terminologia usada para estados de consciência era “estado de expansão de

consciência” e “estado alterado de consciência”, enquanto que hoje é mais usado

"estado modificado de consciência" ou "experiências humanas excepcionais ou

incomuns". Nas mais recentes pesquisas transpessoais, temos quatro estados de

consciências e dois intermediários: consciência de vigília, consciência de sono,

consciência de sono profundo e plena consciência (consciência cósmica). Entre um

nível e outro ocorrem vários estados, sendo que podemos destacar como facilitador do

processo transpessoal o estado de devaneio que fica entre o estado de vigília e o sono

profundo, e o estado de despertar entre sono profundo e consciência cósmica.


36

Pierre Weil afirma que "a percepção da realidade é em função do estado de

consciência do indivíduo" (Saldanha, 1999 p. 57).

a) estado de consciência de vigília: neste estado o EEG (eletroencefalográfico), registra

ondas cerebrais beta, de14 a 26 ciclos por segundo em média. Aqui as funções do ego

são predominantes. O indivíduo percebe o mundo tridimensional através de sua mente,

suas emoções, seus cinco sentidos. É aquele estado em que estamos despertos,

trabalhando.

b) estado de consciência devaneio: neste estado o EEG registra ondas cerebrais alfa de 9

a 13 ciclos por segundo, é alcançado através do relaxamento. Neste estado as imagens

são desconexas, criativas, literárias, artísticas, científicas e administrativas. Também,

neste estado o indivíduo está totalmente aberto para perceber o agora, está propício à

livre associação, e suas idéias devem ser anotadas imediatamente, pois podem

desaparecer no estado de vigília.

c) estado de consciência sonho: este é o estado REM (rapid eyes movement),

movimentos rápidos dos olhos, momento em que o indivíduo está sonhando. Temos em

média quatro sonhos por noite. Freud foi um dos primeiros a se dedicar a estudar os

sonhos, tudo o que ele pesquisou veio a ser confirmado por Kleitman e seu discípulo

Aserinsky nas pesquisas em neurologia. Para ele todo o conteúdo trazido ao consciente,

são motivações e desejos do inconsciente, e aquilo que for manifestado por vir de seu

inconsciente individual e, em alguns casos à própria filogênese.

Para a transpessoal o trabalho com sonhos é muito amplo, podendo esta

linguagem ser usada de muitas formas: técnicas de incubação de sonho, livrar-se de

pesadelos, sonhos lúcidos, encomendar ou modificar sonhos, grafismo e ainda a

ampliação dos mesmos. Para os senóis, habitantes da Malásia (considerado o grupo de

menor índice de agressividade), o sonho é uma forma importante de cura. Todas as


37

manhãs o grupo se reúne para contar seus sonhos, o que é ouvido atentamente por todos,

pois eles acreditam que enquanto dormem podem ajudar os membros doentes da tribo a

se curarem14.

d) estado de consciência sono profundo: o cérebro emite neste estado ondas delta de 1 a

4 ciclos por segundo; aqui o indivíduo entra num estado de inconsciência total, ele

perde contato com o mundo externo.

Segundo pesquisas recentes ao entrarmos num nível de superconsciência, o ego

desaparece e a consciência retorna à própria fonte. Swami Rama, um iogue hindu,

submeteu-se a um processo de pesquisa pela Menninger Foundation, apresentando

registro de ondas delta em pleno estado de vigília, ele estava desperto e consciente de

tudo o que se passava ao seu redor. Ele afirmou que existem outros estados de expansão

de consciência mais sutis e que não são detectáveis por aparelhos encelográficos até o

momento presente, ano 1976 (Saldanha, 2006).

e) estado de consciência de despertar: é a saída do entorpecimento, o

indivíduo acorda para a vida, é o despertar do observador de si mesmo. Neste estado se

desenvolve a reflexão, a percepção da essência do ser, e ocorre também a

desidentificação deste indivíduo com aquilo que ele projeta; suas emoções, sua mente,

seus papéis, e seu corpo. O relaxamento, a meditação e os exercícios com orientação

transpessoal são alguns dos recursos utilizados para levar o ser a este estado de

despertar.

Estado de consciência cósmica ou plena consciência:

[...] as características deste nível foram descritas no início do século, na área


da saúde, por W. James e R. Bucke, e catalogadas como inefabilidade,
caráter paradoxal, desaparecimento da dimensão tempo-espaço, não
projeção da mente sobre objetos , superação da dualidade sujeito-objeto
(unidade) - ou estado não-dual, vivência de uma luz radiante que impregna o
espaço, experiência energética de iluminação interior, vivência da vacuidade
plena, vivência do amor indescritível, sentimento de viver a realidade como
ela é, desaparecimento do medo da morte, vivência da eternidade,

14
Ver Macieira, 2004, p.135-152.
38

descoberta do verdadeiro sentido da vida e sentido do sagrado (Saldanha,


1999 p. 60)

As expressões utilizadas para denominar este estado de consciência são:

samádhi, satori, nirvana, sétimo céu, sétimo paládio (cabala sepher hazolar), sétima

morada( Tereza D'Avila), experiência culminante(Maslow), experiência transcendental,

experiência de êxtase e experiência transpessoal (Saldanha, 2006 p. 121).

Neste estado o indivíduo experimenta o despertar de sua verdadeira

sabedoria, o verdadeiro amor, sua disponibilidade de auxílio ao outro, um estado pleno

de bem-aventurança, é ser um com a unidade. A pessoa que experimenta este estado de

consciência passa a ter uma significava mudança em seu sistema de valores,

compreende que tudo vem do criador, e não do ser criado. É experienciar ser todo

absoluto. Muitos fatores podem provocar a experiência do estado de expansão da

consciência, em Saldanha (1999 p. 62-3 ) temos:

1) Isolamento sensorial e sobrecarga sensorial;

2) Biofeedback;

3) Treinamento autógeno;

4) Música e canto;

5) Improvisação teatral, principalmente, o psicodrama que desencadeia uma

conscientização dos papéis e dos jogos, através de uma realidade suplementar;

6) As estratégias de tomadas de consciência que convidam a voltar sua atenção aos

antigos modos de pensamento;

7) Auto-assistência e assistência mútua: incitam a voltar à atenção para os próprios

processos de consciência. Eles desenvolvem a idéia de que a mudança depende de si e

de que podemos escolher o nosso comportamento pela introspecção colaborando com

forças mais elevadas;

8) Hipnose e auto-hipnose;
39

9) Meditação: zen, budista, tibetana, ioga;

10) Koans, histórias sufis, danças, histórias dervixes;

11) Seminários destinados a romper o transe cultural e a abrir o indivíduo para novas

escolas;

12) Diário a respeito dos sonhos: os sonhos são os melhores modos de se obter

informações provindas de uma região que ultrapassa o campo da consciência comum;

13) Teosofia, sistemas de pensamentos inspirados em Gurdjieff;

14) Psicoterapias contemporâneas, como a logoterapia de Victor Frankl, a terapia

primal, o processo de Fischer-hoffman, a terapia da Gestalt, psicoterapia transpessoal,

as quais permitem penetrar suavemente nas estruturas de reconhecimento ou nas

mudanças de paradigma;

15) A ciência do espírito: aborda a aproximação para a cura e autocura;

16) Inúmeras disciplinas e terapias corporais como: hatha Yoga, Tai-Chi-Chuan, Ai-

Kido, Karate, Jogging, dança, entre outras;

17) Experiências intensas de mudança pessoal e coletiva;

18) Visualizações.

Essas práticas podem alterar o estado de consciência do indivíduo, e algumas

formas de identificar se há alterações, é observando: a respiração, o movimento dos

olhos, a boca, a postura, o tônus muscular, a pupila, a voz.

Para a Abordagem Transpessoal, é fundamental o trabalho com os diferentes

níveis de consciência, pois, quando o indivíduo expande sua consciência para além do

estado de vigília acessando o supraconsciente, ele consegue ir à origem de seus conflitos

e à solução dos mesmos, aprende a não excluir nem supervalorizar, mas sim integra-los.

1.5. Cartografias da consciência


40

Alguns autores classificaram as informações de outros estados de consciência

além do estado de vigília, definindo diferentes cartografias ou mapa da consciência. Se

os estados de consciência são uma perna e um pé da estrutura do corpo teórico da

transpessoal, a cartografia são a outra perna e pé desta estrutura.

De forma geral os autores apontam três níveis ou dimensões mentais, o primeiro

com conteúdos autobiográficos, desde o nascimento até o momento atual do indivíduo;

o segundo as vivências intra-uterinas inclusive o nascimento, e o terceiro o que antecede

a vida intra-uterina e além da existência biológica.

Para Freud os conteúdos que emergiam eram relacionados a partir do

nascimento, se um indivíduo trazia qualquer conteúdo intra-uterino ele interpretava

como fantasia, embora ele reconhecesse em seus escritos que havia uma relação muito

estreita entre vida intra-uterina e a vida psíquica após o nascimento. A cartografia

representada por Freud: consciente; pré-consciente e inconsciente. Enquanto que para

Jung incorporou em sua teoria, aspectos que chamou de inconsciente coletivo, além do

inconsciente pessoal (Saldanha, 1999, p. 65).

A psicologia transpessoal, reconhece a cartografia acima citada, e vai além

acolhendo a de Kenneth Ring, que elaborou um mapa da consciência baseado no

trabalho de pesquisa de Stanislav Grof, Timoty Leary, Robert More e outros,

apresentado por Weil (1989) como uma perspectiva transpessoal da consciência.

Podemos olhar este trabalho como para uma estrutura piramidal, do alto para base, onde
Superconsciente
encontramos regiões pessoais e
Inconsciente Extraterreno

regiões Inconsciente Filogenético transpessoais da


Regiões Transpessoais da
Inconsciente Transindividual Consciência
Ontogentico consciência.
Psicodinâmico
Pré-consciente
Vigília Regiões Pessoais
da Consciência

Inconsciente pessoal
41

Gráfico n° 2: Cartografia da Consciência

Fonte: Weil et al, 1978, p58.

a) consciência de vigília: é o cotidiano; o agora é regido pelo tempo linear. A maioria

das pessoas se mantém neste estado.

b) pré-consciente: ligado ao estado de vigília, pode ser acessado facilmente a partir de

uma evocação simples.

c) inconsciente psicodinâmico: corresponde ao inconsciente freudiano. São conteúdos

ligados a experiências, sentimentos, pulsões, desde o nascimento até o momento da vida

atual. Região da mente bastante investigada pela psicanálise ortodoxa.

d) inconsciente ontogenético: Nesta região encontramos fenômenos intra-uterinos e

processos de nascimento e morte. Representa a zona de transição do nível pessoal para o

transpessoal.

e) inconsciente transindividual: é o primeiro dos domínios transpessoais, experiências

com elementos que transcendem o ego; identificação com outras pessoas ou tipos

universais; experiências ancestrais, encarnações de vidas passadas, experiências

coletivas e raciais e experiências arquetípicas.

1. ancestral: exploração de sua linhagem genética, reviver vida de seus ancestrais.

2. encarnações passadas: experiências vivas, cenas ou fragmentos de cenas num outro

tempo e lugar da história, compreensão da lei do Karma.


42

3. experiências coletivas e raciais: aqui o indivíduo traz a experiência de uma tradição

cultural e de educação que nada tem haver com a educação e cultura dele no presente

momento.

4. experiências arquetípica: aqui surge a idéia do inconsciente coletivo. Constitui-se de

símbolos universais da experiência humana, arquétipos ou imagens primordiais.

f) inconsciente filogenético: neste domínio somos levados a experienciar além da forma

humana. Aqui parecemos encontrar o nosso próprio desenvolvimento, a seqüência

evolutiva do planeta. Não é só um conhecimento intelectual, vivenciamos a consciência

evolutiva dos reinos animal, vegetal. Vivenciamos a consciência planetária.

g) inconsciente extraterreno: experiências para além do nosso planeta; experiências fora

do corpo; encontro com seres espirituais. Podem ocorrer também relatos de fenômenos

de percepção extra-sensorial, telepatia, clarividência, clariaudiência, escritas automática

e incorporação por espíritos.

h) superconsciente: êxtase existencial. O indivíduo tem uma percepção ampla da

realidade, sentimentos de compaixão. Há uma compreensão da unidade.

i) Vácuo: é o estado de o puro ser; não há palavras para definir esta vivencia; é a fusão

da pequena mente com a mente cósmica. Saldanha ao citar Gof nos diz: [...] “o vácuo é

vivenciado como subjacente a todo criação, além do tempo e do espaço, além do bem e

do mal” (Saldanha, 2007, p. 127).

A linha demarcatória de um nível consciencial para o outro é muito flexível,

permitindo que um interpenetre o outro, e nos mostre, que inconsciente e consciente são

dimensão de uma mesma realidade.

A Psicologia Transpessoal acredita que no processo natural de evolução do ser

humano, é necessário trabalhar e integrar à área clínica e educacional esses níveis de

consciência.
43

1.6. Aspecto dinâmico: eixo experiencial e evolutivo

Compreendemos como aspecto dinâmico da Abordagem Integrativa

Transpessoal, dois eixos, o experiencial composto pelo REIS – razão, emoção, intuição

e sensação e pelo evolutivo que abordaremos ainda neste capítulo. Há uma inter-relação

entre esse aspecto dinâmico e o estrutural, em diferentes níveis e graus, que dá o suporte

teórico às técnicas, à Didática Transpessoal e à conduta do psicoterapeuta, do educador

ou facilitador de orientação transpessoal.

Iniciaremos falando sobre o eixo experiencial que integra razão, emoção,

intuição e sensação (REIS). Imagine uma linha horizontal com uma linha vertical que se

cruzam ao meio, a linha vertical diz respeito ao eixo evolutivo e a linha horizontal, ao

eixo experiencial. Para isso se faz necessário compreender um pouco da tipologia

junguiana citado por Vera Saldanha:

[...] as quatro funções psíquicas mencionadas por C. G. Jung: razão, emoção,


intuição e sensação. Ao estudá-las ele assegurou à intuição sua legitimidade
como função psíquica. Com base em sua teoria, há testes de validação
científica que podem aferir esses elementos na personalidade, sua
intensidade, tendências e aptidões correlacionadas a cada uma delas. Jung
denominou essas funções bússola da psique, acrescentando uma tipologia e
extroversão e introversão que poderia acompanhá-las em maior ou menor
grau, no nível interno ou no relacionamento interpessoal. Segundo Jung,
para que o indivíduo alcançasse seu desenvolvimento pleno, teria de passar
por um processo de individuação onde desenvolveria igualmente e de forma
convergente todas essas funções. A essas funções de direcionamento
psíquico: razão-emoção-intuição-sensação, chamaremos nesse texto, r.e.i.s
(Saldanha, 1999, p. 71-2).

Observa-se que dependendo da abordagem psicológica, essas funções são mais

enfatizadas. Na psicanálise, por exemplo, a ênfase é mais na razão e emoção e nas

terapias corporais, sensação e emoção. Na Transpessoal há a integração desses quatro

elementos de forma vivencial, ou seja, é a vivência dessas quatro funções que dão o

caráter experiencial que é uma das características básicas desse enfoque, além do

trabalho com os níveis do inconsciente superior.


44

Dentro de um processo terapêutico, por exemplo, o discurso racional, linear do

indivíduo é transformado em experiência através das quatro funções: na razão o

indivíduo descreve um fato; na emoção o indivíduo traz o sentimento que acompanha o

fato; na intuição ele faz livre associação, insights e na sensação, o indivíduo descreve

como o corpo sente o fato, qual o sintoma, e ele é o sintoma. Esse processo de

estimulação dessas funções psíquicas leva o indivíduo a uma percepção ampliada da

realidade e se percebe o que está de fato por traz da sua fala.

A Abordagem Integrativa Transpessoal percebe R.E.I.S. da seguinte forma:

RAZÃO (R) representa a função do sentir e pensar; o indivíduo percebe o

universo interno e externo através de idéias e conceitos, ex: isto é branco ou preto

(pensamento), é agradável ou desagradável (sentimento). Esta é uma função importante

que deve ser integrada a outros níveis no processo de desenvolvimento deste indivíduo.

EMOÇÃO (E) é um elemento essencial no processo evolutivo do indivíduo.

Para Jung:

Parafraseando Maslow, tanto as emoções negativas quanto as positivas devem

ser reconhecidas e trabalhadas para o desenvolvimento do ser. Maturana diz que as

emoções fazem parte de dinâmicas corporais específicas e que essas se expressam em

diferentes domínios de relações e segue dizendo que “todo sistema racional emerge

como um sistema de coordenação, tendo como base as emoções vividas no instante que

estamos pensando”, e que não é a razão e sim a emoção que nos leva a ação. (Maturana

in Saldanha, 2006, p. 130). Ainda segundo Maturana, o amor é uma emoção, sem a qual

não seria possível viver.

O amor é a emoção central na história evolutiva humana desde o início, e


toda ela se dá como uma história em que a conservação de um modo de vida
no qual o amor, a aceitação do outro como um legítimo outro na
convivência, é uma condição necessária para o desenvolvimento físico,
comportamental, psíquico, social e espiritual normal da criança, assim como
para a conservação da saúde física, comportamental, psíquica, social e
espiritual do adulto (Maturana, 1998, p. 25).
45

Dentro da abordagem integrativa, ressaltamos a condição essencial do amor, por

permitir a vivência no eixo experiencial e evolutivo trazendo a energia necessária para o

desenvolvimento psíquico facilitando a aprendizagem. Há que se ressaltar, porém, que

se o indivíduo estiver fragmentado, altamente identificado com o aspecto emocional,

dificultará ou até mesmo impedirá a integração de outros aspectos da personalidade.

INTUIÇÃO (I), em sua etimologia, in-tueri significa ver dentro, abertura do olho

interno, aquele que permite ver aquilo que a visão normal não percebe. Para Jung a

intuição é como a sensação, irracional. Na sensação é a percepção consciente através do

corpo e a intuição é uma percepção vinda do inconsciente.

Segundo Assagioli (1993) há vários tipos de intuição, as sensoriais, as de idéias,

as estéticas, as religiosas, as místicas e as científicas. Autenticidade é uma característica

específica da intuição, e também uma outra forma de conhecimento que vai além do

racional. Para ele “[...] a intuição mais que a qualidade do objeto, capta a essência do

que é” (Assagioli, 1993, p. 79).

Para a transpessoal, a intuição tem sua origem no supraconsciente e caracteriza

um dos diferenciais da abordagem integrativa.

SENSAÇÃO (S), para Abordagem Transpessoal a sensação é fundamental para

o desenvolvimento dos aspectos psico-espirituais, se percebe a realidade através dos

órgãos dos sentidos, é de extrema relevância. Para Moreno, aprendemos, crescemos e

nos transformamos no corpo, pois é nesse corpo que evoluímos, que a cultura se

manifesta e que nos expressamos vários aspectos: racional, emocional, intuitivo e

experiencial.

Para Maslow, o corpo é “Território do Sagrado, a corporificarão da

transcendência. Sem corpo não há alma, pois esta necessita deste para expressar-se e
46

sem alma o corpo biológico não tem animação, em ambas as hipóteses não é ser

humano” (Saldanha, 2006, p. 134).

Quando um indivíduo não permite expressar-se através de suas funções

psíquicas ou fica identificado com elas, sua percepção fica limitada e o leva a um estado

de fragmentação, impedindo-o de vivenciar sua própria experiência, de ir além dela,

aprimorar-se, e ser em plenitude.

Diante disso, podemos dizer que a Abordagem Integrativa Transpessoal,

independente da área de aplicação, nos aponta que aos estimularmos o eixo experiencial

(REIS), estamos possibilitando ao ser, processos de desidentificação, ampliação da

percepção e consciência, permitindo a emergência de seu desenvolvimento e ativação

do eixo evolutivo.

O Eixo Evolutivo é caracterizado por uma ampliação da consciência onde o

indivíduo ascende da dualidade para a unidade. Surge uma nova percepção, ele

consegue dar uma nova resposta para suas questões, há uma ascensão rumo à Ordem

Mental Superior.

Eixo Evolutivo

Eixo Experencial R.E.I.S


Sentido da Experiência

Unidade

Gráfico nº 3: Eixo evolutivo e estados de consciência. (fonte: Saldanha, 2006, p. 143.).


47

Como vimos o eixo experiencial promove a integração entre as funções

psíquicas (R.E.I.S.), e essa congruência estimula o eixo evolutivo que promove uma

ampliação das percepções de si mesmo, do outro e do ambiente. Surge o que o ser tem

de mais positivo, construtivo, saudável.

Se observarmos a figura do eixo experiencial como uma linha horizontal sendo

cortada ao centro por uma linha vertical, eixo evolutivo terá o formato de uma cruz

formando quatro quadrantes, cada um representando uma fase ou estágio. Essas fases

são extremamente dinâmicas, contínuas e estão interconectadas em vários níveis, e vale

lembrar que essa representação tem função meramente didática para facilitar a

compreensão desses conceitos teóricos.

Um conflito não é solucionado no mesmo nível em que foi criado, é necessário

acessar um nível superior para encontrar novas respostas. A transpessoal traz inúmeros

recursos para que o próprio indivíduo possa acessar esses recursos dentro de si, desta

forma permitir a emergência da ordem mental superior, ou seja, o eixo evolutivo.

Para Maslow (s.d), além das necessidades básicas, este indivíduo necessita

buscar seus aspectos transcendentais, algo que está dentro dele, e isto faz parte do

desenvolvimento inserido em seu processo psicoterapêutico e educacional.

O eu menor identificado com os papéis, com as máscaras do cotidiano o torna

uma expressão muito limitada do ser ilimitado que é. É como se esse “ser” se

esquecesse de quem ele é em essência. A desidentificação desses papéis, dos conflitos

que se dá através da estimulação do eixo experiencial, auxilia na emergência do eixo

evolutivo ou ordem mental superior em seus diversos níveis, propiciando ao indivíduo

encontrar novas respostas, ou seja, fazer a transmutação, transformação, elaboração e

integração. Quando há essa emergência o indivíduo compreende, tanto em nível pessoal,

planetário e cósmico a importância de sua existência no Universo. Sua existência


48

começa a fazer sentido, passa a se sentir em comunhão com o todo e a estabelecer

relações saudáveis interna e externamente, vivendo a plenitude da dimensão humana.

Os dois elementos eixo experiencial e eixo evolutivo resgatam a unidade


fundamental do ser. Somente apreendendo sua própria unicidade é que o
indivíduo se sente inserido no todo. Estar no todo e sentir o todo em si é
estar integrado, pleno, desperto! Estar na condição onde você nunca deixou
de ser, em sua natureza mais genuína e essencial (Saldanha, 1999, p. 80).

2. Técnicas utilizadas na didática transpessoal

A Abordagem Integrativa da Psicologia Transpessoal se utiliza de uma gama

de recursos que envolvem técnicas de intervenção verbal, imaginação ativa,

reorganização simbólica, dinâmica integrativa (sete etapas)15 e recursos auxiliares ou

adjuntos como elementos facilitadores dos processos de aprendizagem, auto

conhecimento, expansão de consciência que facilitam a emergência da ordem mental

superior na busca do ser integral. A seguir discorreremos sobre esses recursos.

A intervenção verbal é utilizada como forma de auxiliar no vínculo

facilitador – aprendiz. A verbalização como contato inicial define expectativas e

estabelece os vínculos.

É muito importante a postura do facilitador que deve possuir treinamento

adequado para fazer as intervenções pertinentes, verbais ou não, além de cultivar em si a

dimensão transpessoal, ouvindo o aprendiz sem julgamento ou censura, num nível de

transcendência, pois sua postura é percebida pelo aprendiz, o que pode causar um

bloqueio no processo de comunicação e aprendizagem.

É fundamental que o educador, facilitador ou terapeuta esteja

constantemente buscando um auto-aperfeiçoamento com ser a nível transpessoal além

de conhecer a teoria e a prática.

15
Ver Saldanha, 2006.
49

A finalidade da intervenção verbal é a escuta amorosa, ou seja, acolher o

posicionamento do aprendiz como ele se apresenta no momento, sem julgamento e

oportunizar sua caminhada evolutiva no seu próprio ritmo.

Outro procedimento técnico utilizado na Abordagem Integrativa

Transpessoal é a imaginação ativa, trabalhada através de exercícios relacionados aos

conteúdos propostos. Utiliza-se da possibilidade do inconsciente de formar imagens

mentais que podem trazer a tona conteúdos do inconsciente. Os exercícios estimulam a

presença da ordem mental superior, que representa o eu superior, o núcleo saudável e

equilibrado do indivíduo. Segundo Saldanha (2006):

Nessas jornadas de imaginação, com imagens gerais definidas pelo educador


(sábio, fonte, árvore, montanha, etc.) o educando, em estado de consciência
ampliado, está mais receptivo para acolher, perceber, sentir, intuir os
conteúdos do nível supraconsciente. Tal fato facilita os insights e uma
compreensão mais ampla de sua realidade, que não seria experienciada ou
captada se ele se mantivesse somente no estado de vigília. Todos esses
exercícios são precedidos e facilitados por uma pequena sensibilização ou
então relaxamento simples: contato com respiração, temperatura do ar que
expira e inspira, contrações fortes do corpo seguidas por descontrações
(Saldanha, 2006, p.153).

A reorganização simbólica é a denominação de mais uma técnica em

Transpessoal que organiza os conteúdos internos em todos os níveis numa seqüência

adequada. Envolve a imaginação ativa e possibilita o indivíduo ampliar suas percepções

e perspectivas de vida, de futuro e do todo. Facilita a identificação de núcleos que

bloqueiam o crescimento pessoal, como crenças e paradigmas a respeito de suas

dificuldades pessoais. Ativa a intuição e os processos inconscientes favorecendo a

concretização dos anseios.

A dinâmica interativa compõe-se de exercícios que dinamizam diferentes

conteúdos do inconsciente nos vários estados de consciência, um dos trabalhos que mais

exigem do terapeuta ou educador em termos de preparação e de formação clínica

conteúdos emergidos através de um aprofundamento e uma elaboração do paciente são


50

evidenciados através de sete etapas específicas. Estas sensibilizadas por meio de um

nível imaginário e vivencial podem acontecer em diálogos durante as jornadas de

fantasia, imaginação ativa, exacerbação de sintomas, grafismo, psicodrama transpessoal,

trabalho corporal, representação simbólica etc.

São exercícios que acontecem em sete etapas:

a) reconhecimento: é o momento do desconforto, onde não se tem clareza do que está

acontecendo, constitui num momento da mobilização interna que pode ser desencadeada

por fatores internos e/ou externos. Nesta fase o terapeuta acolhe o paciente, promove

exacerbação de sintomas para clarificar a situação.

b) identificação: pensamentos e sentimentos, sensações físicas, são expressos pelo

individuo na identificação com o elemento personagem ou situação evidenciada na

primeira etapa. Contextualiza-se o sintoma o que facilita a identificação: Quando?

Como? Onde? Com quem? Para que? Para quem? O que? A emoção é intensificada

propositalmente oportunizando uma catarse ab-reativa, a liberação dos sentimentos

acontece de forma intensa, articulam-se técnicas utilizando cores, som e movimento

corporal, até atingir a catarse da integração, propiciando a saída de uma situação

dolorosa e permitir a entrada numa terceira etapa.

c) desidentificação: só ocorre após o reconhecimento e identificação. É o descentrar-se

por meio de uma inversão de papeis na vivência em paralelo de caráter associativo de

oposição, distanciamento ou ampliação favorecendo o desprendimento, emergindo o

discernimento crítico e a reflexão, o indivíduo experimenta a inteireza, emergem

aspectos de individualidade, permitindo novas experiências.. Esse processo propicia

uma passagem para a próxima etapa. Ate aqui didaticamente, foi vivenciado o eixo

experiencial (R.E.I.S).
51

d) transmutação: momento em que acontece a liberação de uma condição de apego e

percepção de outras possibilidades, diferentes níveis de consciência estão interagindo

neste instante conflito e da solução. O individuo cria condições por meio de insights e

elaborações para promover o acontecimento da próxima etapa, é o momento mágico;

onde o nível do supraconsciente se manifesta. As funções de percepção passam a ser

advindas da intuição, nada é inteiramente bom ou mal, certo ou errado.

e) transformação: a situação anterior de conflito e transformada vista com outro olhar

muda-se o direcionamento da mente chegando à etapa seguinte.

f) elaboração: há clareza mental, a situação já e outra, há uma apreensão global da

situação e a presença do eixo evolutivo. Consolida-se a mudança sob perspectiva da

apreensão do verdadeiro conhecimento pessoal.

g) integração: neste momento o individuo integra todo o processo no aqui e agora,

prevalecendo à confiança, a segurança, integrada em si e na relação com o universo,

com muito mais abertura, mudança de crenças e até de valores, há um novo olhar e um

novo fazer. Quanto maior a aprendizagem, mais ampla e plena é a integração.

Estas etapas podem ocorrer de forma bem definida tais como foram apresentadas

acima. Todavia elas podem acontecer de forma concomitante; outras vezes o individuo

está tão identificado com determinado núcleo exigindo muito mais sessões para termos

resolução. Além disso, todas estas etapas estão presentes em cada uma delas, ou seja,

em cada uma delas passamos pelas sete.

A aplicação destas etapas na clínica, educação ou organizações requer um

terapeuta ou educador que seja facilitador, catalisador do processo, capaz de estimular o

eixo experiencial e evolutivo, tanto no relacionamento com o paciente ou educando

quanto nos conteúdos a serem compartilhados.

Eixo Evolutivo

Transmutação
Desidentificação
Transformação
Eixo Experiencial Sentido da Experiência
52

Gráfico nº 4: Sete etapas do desenvolvimento (Fonte: Saldanha, 2006, p. 161.).

Contamos ainda com os recursos auxiliares ou adjuntos, compostos por técnicas

milenares como: contemplação, concentração, meditação, relaxamento, favorecem a

uma maior serenidade da mente.

Não são recursos exclusivos do trabalho psicoterapêutico, e podem ser utilizados

mesmo após a alta do tratamento recursos de significativa importância uma vez que

facilitam a atualização de níveis de expansão da consciência, especialmente do

supraconsciente, diminuem o nível de tensão e de ansiedade, promovem uma melhor

organização e clareza mental, expansão de elementos saudáveis, pacificação de

pensamentos e auxilia o individuo a desenvolver recursos positivos para si. A prática de

meditação e ioga (ásanas) e mantras auxiliam no equilíbrio e produção dos hormônios

das glândulas endócrinas propiciando maior e melhor harmonização no corpo e mente.

a) relaxamento: é um procedimento para desfazer as contrações desnecessárias no corpo

físico diminuindo o estado de tensão, pacificação do corpo, favorecendo a serenidade

mental;

b) concentração: é um direcionamento do foco mental para uma coisa só, este foco de

atenção pode ser a própria respiração, batimentos cardíacos, uma imagem externa,

figura geométrica, objeto, etc. A realização deste exercício permite um maior controle e
53

redução do fluxo incessante de pensamentos, o que traz uma pacificação interior e

facilita a desidentificação das partes;

c) contemplação: posterior a concentração, onde há uma interiorização, um

aprofundamento mental, onde se experimenta uma fusão do objeto de concentração com

o próprio individuo que o contempla;

d) meditação: há consciência da própria consciência, e um estado de inação de puro ser,

de um saber espontâneo de uma presença plena. Há várias técnicas de meditação, porém

não serão explanadas aqui.

Esses recursos auxiliares poderão ser utilizados na Didática Transpessoal, em

momentos oportunos da aprendizagem favorecendo o ensino, o bem estar, os

relacionamentos do educando e também do educador.

A Abordagem Integrativa Transpessoal como técnica didática utilizada no curso

de pós-graduação, pode ser um recurso extremamente rico, capaz de cumprir de forma

plena e eficaz o objetivo a que se propõe que fundamentalmente é levar o indivíduo a

vivenciar o eixo experiencial, passando pelas sete etapas quando emerge o eixo

evolutivo que possibilita o acesso a aspectos da ordem mental superior, trazendo a tona

os aspectos saudáveis do ser, citados no capítulo IV – Educação e Valores Humanos.

Um dos objetivos específicos desse trabalho é relacionar possíveis

transformações no indivíduo, em vários níveis, que possam estar vinculadas à

Abordagem Integrativa Transpessoal. A partir dessa premissa estaremos analisando os

dados obtidos, no Capítulo VI – Análise e Interpretação de Resultados e verificando se

os objetivos foram contemplados.


54

CAPÍTULO III

A DIMENSÃO DO FEMININO NA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL

Durante a contextualização da Psicologia Transpessoal no capítulo I,

observamos a consonância entre os pressupostos do que apresentamos como

Transpessoal e caracteres do arquétipo do feminino.

Ao observarmos o trabalho de Maslow percebemos que ele apresenta um grupo

de dez características encontradas no ser humano saudável conforme citado: percepção

mais clara e mais eficiente da realidade; mais abertura a experiência; maior integração,

totalidade e unidade da pessoa; maior espontaneidade, expressividade, pleno

funcionamento, vivacidade; um eu real, uma firme identidade, autonomia, unicidade;

maior objetividade, desprendimento, transcendência do eu; recuperação da criatividade;

capacidade para fundir o concreto com o abstrato; estrutura democrática de caráter;

capacidade de amar.

Ao analisarmos criteriosamente essas características, pudemos estabelecer estrita

relação com virtudes e valores do arquétipo do feminino.

O princípio Feminino foi arrancado não apenas dos reinos mitológico, social
e político, mas também da vida interior dos indivíduos, onde poderia ter o
poder de proporcionar o Eros, a capacidade de relacionamento, a
alimentação e criação e um tipo de autoridade que vem da alma. Por esta
razão, o Feminino muitas vezes está ausente também de nossas vidas
interpessoais, no espaço sagrado que há entre nós e aqueles a quem amamos.
(STEIN, R M. in Zweig, 1990, p. 65)

De acordo com Jung, chamamos de arquétipo16 um padrão universal inato na

psique humana, presente tanto em homens quanto em mulheres. Zweig (1994) usa o

termo arquétipo para designar a presença de uma força divina dentro da alma humana

que se manifesta nos pensamentos, sentimentos, imaginação e comportamento de

homens e mulheres.

16
Ver Sharp, 1993, p. 28-29.
55

O feminino (do latim Femina) refere-se a tudo o que é de mulheres ou meninas,

que tem características ou qualidades que condizem ou são adequadas a esse gênero,

como sensibilidade, delicadeza, intuição etc.

Para diferenciarmos aqui feminino relativo ao gênero de feminino relativo ao

arquétipo, passaremos a grafar o que for relativo ao gênero com letra minúscula e

relativa ao arquétipo com letra maiúscula.

Quando nos referimos as virtudes e valores do Feminino, estamos nos

conectando com essas características do arquétipo, que está presente tanto em homens

quanto em mulheres. Nos homens esse elemento da psicologia Junguiana é denominado

ânima e nas mulheres animus17.

Ao arquétipo Feminino são associadas características históricas, cultural e

espiritualmente relacionadas às mulheres, criando-se estereótipos que dualizam o ser ao

invés de buscar sua integração. Da mesma forma acontece com o arquétipo Masculino,

e assim, temos uma dissociação que gera conflitos, dúvidas e não respeita a inteireza do

ser essencial.

Virtudes e valores como sensibilidade, intuição, não violência, criatividade,

conexão, afeição, paciência, tolerância, delicadeza, são características que se associam

somente às mulheres, mas que na verdade é pertinente ao arquétipo Feminino presente

tanto em homens quanto em mulheres. No decorrer da história essas características

arquetípicas foram sendo confundidas com características de gênero e assim

relacionadas somente as mulheres, e desvalorizadas e subjugadas como as mulheres têm

sido nos últimos séculos.

Sensibilidade, intuição, tolerância, não violência tornaram-se inconvenientes

numa sociedade que prega a sobrevivência do mais forte, mais agressivo, mais

17
Ver Sharp, 1993, p. 18-26.
56

individualista, numa sociedade que mede o sucesso e o valor do indivíduo pelo que ele

tem e não pelo que ele é.

Vivemos num mundo de polaridades que se reflete em todo o oposto que

conhecemos, noite/dia, quente/frio, claro/escuro, qualidades que se encaixam formando

um todo, uma Unidade.

Essa Unidade também é representada pela integração dos arquétipos Masculino

e Feminino na psique humana.

O conceito de Unidade está inserido no aspecto estrutural do corpo teórico que

compõe a Psicologia Transpessoal, e dentro da Abordagem Integrativa, conforme

discorremos no capítulo II, é o eixo de onde partem ou para onde convergem todos os

recursos psicoterapêuticos na Abordagem Transpessoal. Unidade é a qualidade daquilo

que não pode ser dividido, é o todo onde não existe tempo ou espaço, é o fim das

polaridades, a união de todas as coisas, o vasto, o eterno.

Se estivermos cientes de ambas essas polaridades, encontraremos uma dinâmica

harmoniosa e seremos capazes de desenvolver uma ampliação de consciência e

capacidades.

Segundo Zweig (1994), a relação entre os elementos Masculino e Feminino é

recíproca:

[...] à medida que o Feminino de uma mulher é trazido à consciência e


revelado, ele permite o crescimento de um princípio Masculino mais forte
que por sua vez, dá sustentação a um Feminino definido com mais clareza.
Cada um está bem sintonizado com o outro e a unidade da psique global da
pessoa é determinada pela soberania de cada elemento. (Zweig, 1990, p 23).

A prática da cultura patriarcal nos impôs a experiência dualidade e até

antagonismo entre os elementos Masculino e Feminino, comprometendo a unidade da

psique e conseqüentemente da sociedade. Apresenta-nos o modelo matriarcal como uma


57

proposta viável, capaz de transcender as limitações impostas pelo modelo patriarcal.

(Maraturana; Zöller, 2006)

Contemplando esta perspectiva Zweig (1990) nos apresenta a importante


contribuição de Colegrave:

[...] O Feminino nos permite perceber que qualquer método útil de terapia,
educação ou organização social precisa, portanto, atender e reverenciar cada
nível da existência, bem como a relação instável e sensível entre eles.
A receptividade paciente e sem críticas do Feminino permite que as partes
reprimidas, negadas, dissociadas e inconscientes da alma ascendam para a
consciência. Convida-nos a abandonar a visão patriarcal do corpo e da
matéria como instrumentos a serem manipulados e explorados no interesse
do conhecimento e da autonomia do ego, ou temidos como atoleiro do
sofrimento inconsciente e instintivo, o mistério e a escuridão. O Feminino,
pelo contrário, nos permite recepcionar, reverenciar, desfrutá-los como o
reflexo e correspondência instintiva da alma e espírito, as vestimentas da
nossa divindade. Torna-nos sensíveis as distintas imagens da alma para que
possamos sentir e receber na consciência de nossas feridas e fomes
emocionais – que enterradas por décadas, ou mesmo por toda a vida,
obstruem o livre fluxo de energia e inibem nossa capacidade de entender,
nos relacionar e amar (Colegrave in Zweig, 1990, p. 45-6).

A reconexão com esse Feminino relegado e subjugado traz a integração desse

aspecto na busca da sinergia entre Masculino e Feminino.

A respeito de sinergia, para Maslow é o mesmo que parceria, conhecimento em

que os interesses do outro e os próprios interesses mesclam-se e unem-se em vez de

permanecerem separados em lados opostos ou exclusivos (Maslow, 2000, p. 10).

Segundo esse autor uma boa sociedade é aquela na qual a virtude é

recompensada e que quanto maior a sinergia na sociedade, nos subgrupos, nos casais ou

dentro de si mesmo, mais próximo se está dos valores do Ser. Em sua síntese dos

valores do Ser nas experiências culminantes ele inclui a plenitude como unidade;

integração; tendência à união; inter-relação; organização; não dissociado; sinergia;

estrutura; ordem; tendência homóloga e integrativa.

Essa sinergia interior entre Masculino e Feminino resulta na dinâmica

harmoniosa da unidade, capacitando-nos a experienciar o nascimento para a nossa

natureza divina.
58

Com relação à ausência de parceria ou sinergia entre Masculino e Feminino,

Zweig (1990) traz as contribuições de Riane Eisler que faz uma análise relacionada ao

início do movimento feminista na busca de uma igualdade de oportunidades dizendo-

nos que as raízes do feminismo como um movimento de protesto social provavelmente

remonta à era cataclísmica da nossa pré-história. [...] “quando o sistema dominador foi

imposto pela primeira vez – quando tanto as mulheres, como o Cálice (como símbolo

dos valores Femininos) foram subordinados” (Eisler in Zweig, 1990, p. 58).

Também destaca que o reconhecimento intuitivo da importância central do

Feminino nos assuntos humanos, certamente não é novo, e que [...] “o aspecto mais

excitante deste enérgico movimento está no seu aspecto mais criativo: a criação

consciente pelas mulheres e crescentemente pelos homens, de imagens e realidades

baseadas em parcerias pessoais e sociais mais femininas” (Eisler in Zweig, 1990, p.

60).

Enquanto nossa cultura e nossas instituições forem governadas por um espírito

despersonalizante e desumanizante, o Feminino continuará a sofrer abusos sendo será

desvalorizado, não importando quantas conquistas as mulheres obtenham rumo à

igualdade. Na verdade o que é realmente necessário é a liberação do Feminino e não das

mulheres.

Embora as vantagens econômicas, educacionais e sociais que os homens têm

sobre as mulheres sejam óbvias e é preciso ser transcendida, este não é o ponto central

da questão. A parceria, ou sinergia de Masculino e Feminino é de grande interesse

pessoal e planetário, sendo que é impossível a existência de um sistema global pacífico

e ecologicamente equilibrado, em estruturas sociais fundamentadas em desigualdades,

dominação, competição e desintegração.


59

Com essa dissociação de identidades entre Masculino e Feminino superadas,

podemos transitar livremente ao longo de todo o espectro da consciência, conectando

nosso ser universal e temporal. Esse espectro da consciência é um dos cinco elementos

que constituem o aspecto estrutural que forma o corpo teórico da Abordagem

Integrativa Transpessoal. Pierre Weil se refere à Psicologia Transpessoal como:

Um ramo da psicologia especializada no estudo de estados de consciência,


lida mais especificamente com a ”experiência Cósmica” ou estados ditos
“superiores” ou “ampliados” da consciência. Estes estados de consciência
consistem na entrada numa dimensão fora do espaço-tempo tal como
costuma ser percebido pelos nossos cinco sentidos. É uma ampliação da
consciência comum com visão direta de uma realidade que se aproxima
muito dos conceitos da física moderna (Weil, 1995, p 9).

A ampliação da consciência rumo a estes estados superiores do ser permite ao

indivíduo acessar qualidades Femininas de sua natureza mais profunda. Segundo

Maslow (s.d) o ser é naturalmente saudável, amoroso, criativo e cooperativo. Logo, as

qualidades superiores dos seres humanas revelam caracteres do Feminino.

Tanto o Feminino como o Masculino, como o yin e yang, são qualidades


universais da alma às quais devemos ter acesso para sentir e expressar nossa
totalidade. O ego que se identifica unicamente com um dos dois perde essa
capacidade. (Stein in Zweig, 1990, 1990, p 70).

Fica muito claro o valor e utilidade do resgatar de valores do Feminino no atual

contexto pessoal, social e planetário enfatizando-se que Masculino e Feminino são

qualidades que habitam o universo do homem e da mulher em todos os níveis. Qualquer

um que se identifique apenas com um desses opostos não pode realmente se

desenvolver de forma plena e integral trazendo à tona todos os seus potenciais e

habilidades.

A dimensão da sensibilidade, criatividade, tolerância, amorosidade e intuição

são potenciais significativos para gerar no ser humano sadio as características

assinaladas por Maslow conforme citamos anteriormente.


60

Gostaríamos aqui, de ressaltar a dimensão da intuição. No modelo Junguiano,

trata-se de uma função irracional que percebe através do inconsciente, permitindo ao

individuo o processo de auto-atualização proposto por Maslow.

Na intuição há um processo do ser de perceber e receber informação “por

dentro”, onde o desenvolvimento e o crescimento do individuo é amplamente

beneficiado.

Neste sentido percebemos intrínseca correlação entre o Feminino e intuição, pois

quando o Feminino se manifesta, experiências de caráter intuitivo estão presentes.

Esta questão tem sido amplamente explorada por vários autores, estabelecendo,

inclusive, correlações com processos de desenvolvimento e evolução do coletivo em

diversas culturas.

Diferentes autores utilizam diferentes termos para definir um mesmo padrão

arquetípico. Todos se referem ao Feminino sagrado, seja sob a forma dos arquétipos das

deusas gregas no trabalho de Roger Woolger (1987), ou dos arquétipos de Maria

Madalena no trabalho de Jean Yves Leloup (1996).

É mundialmente conhecido, porém em maior evidência nos países ocidentais,

um redespertar do Feminino, um profundo mergulho no âmago da consciência das

mulheres.

Muitos homens temem e contestam, enquanto outros se sentem desafiados e

estimulados. Metaforicamente denomina-se esse movimento de um “retorno da deusa”,

sugerindo no mínimo uma antítese ao patriarcado e no máximo uma oportunidade de

integração de forças arquetípicas masculinas e femininas que há muito vem atuando de

forma desequilibrada, desarmônica, o que é facilmente perceptível com breve olhar à

nossa humanidade contemporânea.


61

Segundo Maturana; Zöller (2004), as difíceis relações de convivência do

masculino com o feminino são vividas como se existisse uma intrínseca

“adversariedade” onde parece que vivem não como parceiros, mas como adversários em

seus mais diversos aspectos de valores desejos e interesses.

Todavia, tal situação, pode se dizer que é resultante, do que Maturana

denominou de “Conversações Definidoras da Cultura Patriarcal Pastoril e de

Conversações Definidoras da Cultura Matrística Européia”.

[...] uma cultura é constitutivamente, um sistema conservador fechado, que


gera seus membros à medida que eles a realizam por meio de sua
participação nas conversações que a constituem e definem” (Maturana,1993,
p.33).

Resulta disso que as diferentes culturas são redes distintas e fechadas de

conversações, que realizam outras tantas maneiras diversas de viver humano como

variadas configurações de entrelaçamento do linguajar com o emocionar.

Pertencer a uma cultura deve ser uma condição operacional, não uma condição

constitutiva ou atributo intrínseco dos seres humanos que a realizam. Portanto, qualquer

ser humano pode pertencer a diferentes culturas, em diversos momentos do seu viver,

agregar valores, atributos, habilidades e potenciais em cada uma delas.

Basicamente podemos dizer que nós ocidentais modernos, estamos mergulhados

num sistema atual de vida condizente com a cultura patriarcal européia, em seu mais

forte matiz, entrelaçado com nuances de uma outra cultura que a precedeu, e que foi

chamada de cultura matrística.

Fazendo um paralelo entre essas duas culturas, podemos expressar, de acordo

com Maturana; Zöller (2004), como características das conversações definidoras da

cultura patriarcal pastoril: existe apropriação; procriação; sexualidade feminina sob

controle do patriarca e ligada à procriação; ausência de controle de natalidade; guerras,

competições e conflitos reconhecidos como valores e virtudes; subordinação de


62

experiências místicas; pensamento linear negando o diferente; relações inter-pessoais

hierarquizadas; patriarcado aceito como natural; subordinação da mulher ao homem

para fins de procriação.

Enquanto que nas conversações definidoras da cultura matrística européia existe:

participação; fertilidade como símbolo de abundância e harmonia com os ciclos da

natureza; sexualidade associada à sensualidade e ternura; procriação por opção;

companheirismo e cooperação nas convivências; místico vivenciado naturalmente em

harmonia com a existência; Deusas geradoras e conservadoras da existência em

harmonia; pensamento sistêmico como convite à reflexão do diferente; relações inter-

pessoais cooperativas e co-inspiradoras; viver matrístico como processo natural; sem

oposição nem subordinação entre homens e mulheres.

Crescemos imersos nessas conversações contraditórias, vivemos fragmentados

pelo desejo de conservar nossa infância matrística e satisfazer os deveres de uma vida

adulta patriarcal. E por isso precisamos de auxílio para recuperar nossa saúde psíquica e

espiritual, mediante o resgate do respeito por nós no corpo e emoções na harmonização,

integrando os nossos lados masculino e feminino.

Mediante tal realidade, encontramos no trabalho de Rooger Woolger (1987) a

sinalização de um ritmo crescente de efervescência interna das mulheres e as reações

que provocam nos homens está afetando claramente todos os aspectos de nossa vida e

de nossas idéias. Todos os nossos pressupostos sobre nós mesmos, nossos valores, nossa

política, nossos relacionamentos, nosso lugar no universo, estão sendo contestados por

esse despertar.

Diante disso, acreditamos que é importante se estudar e escrever uma nova

Psicologia do Feminino, que favoreça o retorno às suas raízes originais; uma psicologia

feminina vista, por exemplo, por meio dos Arquétipos das “Deusas”, o que nos foi
63

oportunizado quando submetidos às vivências da Abordagem Integrativa Transpessoal

durante o curso de Pós Graduação em Psicologia Transpessoal – Latu Sensu CESBLU -

Centro de Educação Superior de Blumenau & ALUBRAT - Associação Lusa Brasileira

de Transpessoal, coordenado pela Dra. Vera Saldanha.

Trabalhar com essa nova linguagem do feminino não comporta apenas novas

percepções intelectuais, na realidade significa muito mais: um envolvimento profundo e

corajoso com essas forças femininas, que vive em nós e por nosso intermédio. Temos de

aprender a conhecê-las como presenças espirituais e psicológicas que Carl Gustav Jung

chamou de arquétipos, o que vale dizer, transformadores da nossa vida e da nossa

consciência.

Sinteticamente, podemos expressar que uma “Deusa” corresponde a um

Complexo de Personalidade Feminina, e que podemos intuitivamente observar em

homens e mulheres, em imagens e ícones que povoam nossa cultura. Dependendo das

características da força psíquica desse complexo, dão origem a uma das inúmeras

“Deusas” (arquétipos).

Especificamente para esse trabalho foram selecionadas as seis principais

“Deusas Gregas”, ou seja, seis representações Arquetípicas do Feminino, que em nossa

observação mostram-se ativamente maior relevância, na nossa realidade contemporânea.

Encontramos em Woolger (1987, p.15), as características básicas dos seis tipos são:

1. A mulher-Atena que é regida pela deusa da sabedoria e da civilização; ela busca a

realização profissional numa carreira, envolvendo-se com educação, cultura intelectual,

justiça social e com política;

2. A mulher-Afrodite que é regida pela deusa do amor, e está voltada principalmente

para relacionamentos humanos, sexualidade, intriga romance, beleza e inspiração das

artes.
64

3. A mulher-Perséfone que é regida pela deusa do mundo avernal; ela é mediúnica e

atraída pelo mundo espiritual, pelo oculto, pelas experiências místicas e visionárias, e

pelas questões ligadas à morte.

4. A mulher-Ártemis que é regida pela deusa das selvas; ela é prática, atlética,

aventureira; aprecia a cultura física, a solidão, a vida ao ar livre e os animais; dedica-se

à proteção do meio ambiente, aos estilos de vida alternativos e às comunidades de

mulheres.

5. A mulher-Deméter que é regida pela deusa das colheitas; ela é uma verdadeira mãe-

terra que gosta de estar grávida, de amamentar e de cuidar de crianças; está envolvida

com todos os aspectos do nascimento e com os ciclos reprodutivos da mulher.

6. A mulher-Hera que é regida pela deusa dos céus; ela se ocupa do casamento, da

convivência com o homem e, sempre que as mulheres são líderes ou governantes, de

questões ligadas ao poder.

A teoria junguiana nos contempla, com os arquétipos das deusas, como fontes de

padrões emocionais relativos aos nossos pensamentos, sentimentos, instintos e

comportamentos ditos “femininos”, em seu significado mais amplo e profundo. A nossa

criatividade, inspiração, tudo o que acalentamos, acolhemos, gostamos, toda paixão,

desejo, sexualidade, tudo o que nos impulsiona à união, à coesão social, à comunhão,

alianças e fusões e também às pulsões de absorver, destruir, transformar, reproduzir,

duplicar, integrar, pertence ao arquétipo universal Feminino.

Sabe-se que não só apenas os gregos, mas diversas culturas antigas tinham

percepções dessas forças (energias) não como abstrações destituídas de almas, porém,

com forças espiritualmente vitais que perenemente exercem influencias sobre nossas

dinâmicas psíquicas. O reconhecimento dessas atuações nos diversos aspectos do

comportamento humano foi denominado de “compulsão dos deuses e deusas”, o que


65

levou Jung a comentar: “Há um deus ou uma deusa no âmago de todo complexo”. A

seguir estaremos apresentando aspectos das “deusas” segundo Woolger (1987).

Atena: de fácil identificação, a mulher-Atena contemporânea normalmente, está

dirigindo os departamentos de estudos femininos nas universidades, entrevistando

personalidades importantes na mídia, editorando revistas, organizando viagens,

produzindo filmes, contestando os legisladores urbanos. Está sempre em evidência, por

ser extrovertida, prática e inteligente. Tal comportamento, geralmente provoca reações,

intimidações aos homens. Mas quando conquistam o seu respeito, a mulher-Atena pode

ser a mais leal das companheiras, de caráter amigável e fonte inesgotável de inspiração.

Juntamente com sua parceira, na roda das deusas, Ártemis, constituem a díade da

independência.

Atena relaciona-se com homens que forem heróicos ”companheiros de


armas” e com quem possa compartilhar ideais, ambições metas profissionais
e luta. Freqüentemente serão colegas intelectuais ou rivais amigáveis. Atena
não irá necessariamente casar-se com um homem assim, preferindo talvez
mantê-lo como uma amizade íntima e duradoura. Mas ela é também atraída
por figuras paternas e, via de regra, mantém laços fortes com autoridade
impessoal que se encontra investida nas instituições do patriarcado ou nos
ideais espirituais. Poderá ainda entrar em conflito com o mundo paternal. Os
dois principais ânimos que lhe correspondem são, portanto, o herói
companheiro e o pai (Woogler, 1987, p.39).

Atena é sempre norteada por um senso de compromisso e responsabilidade com

um propósito maior, desejo efetivo pelo bem estar da comunidade e da humanidade

como um todo, normalmente é bem instruída, armada com um intelecto penetrante, um

forte senso de determinação, organização, sendo cobiçada a fazer parte de qualquer

setor do mundo paternal. Tem caráter defensivo e é altamente confiante, ama a coragem

e a inventividade.

Na chaga de Atena, o seu mecanismo de defesa é usar demais a mente. A chaga

de Atena encontra-se no coração, uma armadura no seu âmago. Expor a essência nua e

infinitamente sensível de sua feminilidade, meiguice e vulnerabilidade, são os portais


66

para resgatar os aspectos perdidos de seu Feminino. Esse também é o ponto de encontro

com as outras deusas com as quais perdeu contato.

Bem no fundo, Atena perdeu o contato com as duas deusas do amor: o amor

maternal de Deméter e o amor sensual de Afrodite – ambas as deusas que vivenciam os

próprios corpos e que, por sua meiguice e vulnerabilidade, estão dispostas a arriscar

intimidade nos relacionamentos e dispostas também ao risco de sofrer dor e perder.

Ártemis: a energia arquetípica de Ártemis é mais facilmente percebida na

adolescência, onde irrompe com grande intensidade; o que faz com que a mesma possa

vir a ter dificuldade na travessia da ponte para a sua maturidade; dificuldade essa que já

é perceptível na infância pelo fato de identificarem-se com as atividades, atitudes e

maneiras de vestir dos meninos.

Feminilidade é uma expressão que a deixa pouco a vontade, quando não a deixa

irada, pelo fato de ser um conceito carregado de fantasias masculinas, de como as

mulheres deveriam ser: meigas, submissas, esposas e mães, objetos sexuais,

profissionais bem sucedidas, tudo cobiçado pelo ego masculino. A mulher-Ártemis ama

prática atlética, aventureira, aprecia a cultura física, a solidão, a vida ao ar livre, os

animais, preocupa-se com o meio ambiente e tem atenção rigorosa aos estilos de vida

alternativos e a vida em comunidade de mulheres.

É uma deusa deslocada no mundo moderno; não se sente bem adaptada à vida

urbana com seu ritmo acelerado e altamente tecnológico e seus valores de ascensão

social; onde se mostra mais tímida, esquiva e reservada. Tem semelhanças com Atena

principalmente em virtude da vigorosa energia que ambas transmitem; a de Ártemis

proveniente de seu corpo ágil e atlético e não mental como a de Atena.

A chaga de Ártemis é a dor da alienação, que se expressa na solidão psicológica,

e às vezes literalmente vivendo às margens da sociedade. Seu amor pela liberdade, seu
67

alto senso de independência incompatibilizam-na a aceitar os papéis de mãe, esposa e

profissional que pertencem a Deméter, a Hera e a Atena, respectivamente. O sistema

patriarcal não consegue aceitar e conter a ferocidade de seu espírito, ou reconhecer

plenamente seus dotes peculiares de mulher.

Ártemis é, na realidade, andrógena, algo de que deve se orgulhar, pois esse é o

verdadeiro segredo de sua verdadeira força interior e de sua extraordinária

independência. Quando em plenitude com seu Eros, a mulher-Ártemis é de uma

selvagem e feroz paixão.

Afrodite: Como dito anteriormente, a mulher-Afrodite é regida pela deusa do

amor e seus maiores valores são os relacionamentos humanos, a sexualidade, o

romance, a beleza e a inspiração das artes.

Afrodite é o sol glorioso que adora roupas finas, cabelos resplandecentes e

esvoaçantes, jóias e adornos de todos os tipos. Nada lhe dá maior deleite do que a

gratificação dos sentidos através do belo, da sensualidade, da sexualidade. Sempre foi e

ainda é muito forte a presença dessa deusa em nossa realidade contemporânea,

principalmente no mundo da mídia, da moda e dos escândalos políticos. Afrodite é uma

das ameaças à sociedade patriarcal pelo seu caráter sedutor, pelos seus valores à

sexualidade, ameaçam o poder do universo masculino.

Duas foram as conseqüências psicológicas de se negar a Afrodite um


verdadeiro lugar na cultura do final da Idade Média: a disseminação da
neurose sexual e o aparecimento da paranóia com bruxas. Gordon Rattray
Taylor afirma categoricamente em Sex in Society: “Não é exagero afirmar
que a Europa Medieval passou a assemelhar-se a um vasto e gigantesco
hospício”. Carl Jung descreveu como a perda do serviço amoroso dos
trovadores – os verdadeiros sacerdotes de Afrodite – levou diretamente à
caça às bruxas. Em suma, tendo sido substituída pelo culto à Virgem Maria,
trazido pelo cristianismo, Afrodite foi forçada a ocultar-se, com a sua
imagem difamada sendo mantida obsessivamente viva nas fantasias sádicas
dos inquisidores – que, depois de haverem massacrado os hereges, saíram à
cata das seguidoras secretas da deusa, tidas supostamente como bruxas.
Como todos sabem, acreditava-se que as bruxas participavam de orgias com
o diabo, com quem praticavam todo tipo imaginável de ato sexual. Menos
conhecido é que essas histórias provieram todas de “confissões” arrancadas
de mulheres inocentes sob torturas atrozes supervisionadas pelo clero
celibatário masculino da época. É evidente que, em termos psicológicos, os
68

padrões projetaram todas as suas apavorantes fantasias sexuais reprimidas


sobre as mulheres, castigando-as por isso – muitas vezes, como humilhantes
torturas sexuais. Nem mesmo os crimes raciais dos nazistas chegam a
equivaler plenamente aos abismos de ódio sexual a que caíram os ditos
líderes espirituais do final da Idade Média (Woolger, 1987, p.126).

Apesar da sua capacidade de brilhar, de inspirar com seu Eros e criatividade, ela

como todas as deusas tem suas chagas profundas na nossa cultura. Grandes partes

dessas chagas estão relacionadas com o fato de ela estar alienada das outras deusas, e

vivendo numa sociedade de valores patriarcais, que, via de regra, a condena, a hostiliza

e a desaprova. O sistema encontra-se num paradoxo: não pode viver sem ela, mas não

consegue viver com ela, pois seus dons estáticos, quase místicos de amor e prazer são

constantemente ansiados por todos, porém, nem sempre assumidos claramente. Sem

contar que é possuidora de um caráter de alta generosidade e de magnificência.

Viver plena e honestamente com Afrodite e com a sua chaga é tarefa difícil e
muitas vezes dolorosa para a mulher moderna, uma tarefa que remonta a
incontáveis gerações. Sob muitos aspectos, é mais seguro viver confiante e
bem protegida em Atena, mais seguro retirar-se e viver sozinha com
Ártemis, mais seguro tornar-se mãe de todas as criaturas como Deméter ou
esposa de um empresário como Hera, do que enfrentar as chagas
dilacerantes da deusa do amor (Woolger, 1987, p. 138).

Sabemos da profunda desvalorização do Feminino durante a Idade Média, onde

a igreja proibia que os homens cultuassem uma mulher de carne e osso; uma mulher real

e das possibilidades de um relacionamento real substituindo por uma imagem de uma

mulher ideal a Virgem Maria.

Há percepções claras de que estamos sendo cativos de um ideal igualmente

impossível em nossa realidade atual, só que agora pelos meios de comunicação de

massa, continuamos incapazes de apreciar a plena sensualidade do nosso corpo e de

sermos amadas por isso.

Quantas mulheres hoje se sentem profundamente inadequadas quando abrem


uma revista de moda ou quando assistem a um anúncio de xampu? Quantos
homens não sentem que jamais serão felizes enquanto não encontrarem
aquele par perfeito de seios, aquele sorriso que enleva, aquelas pernas
celestiais? Será que não transformamos a deusa, mais uma vez num ideal
69

incorpóreo e totalmente inatingível da mulher perfeitamente linda? A


primeira coisa que precisa acontecer para Afrodite recuperar o seu respeito
próprio é ela ter de volta o seu corpo. E isso significa que toda mulher que
busca resgatar Afrodite em seu âmago deve começar a amar e acalentar o
seu próprio corpo aceita-lo como é, não em termos de algum ideal do que
deveria ser. Cabe aos homens parar de comparar toda mulher desejável com
algum retrato ideal que traz em seu interior. Quando estivermos plenamente
em nosso corpo, um milagre acontece: começamos a sentir verdadeiramente.
Não apenas excitação sexual, mas uma espécie de derretimento, de abertura
de pontos insondáveis, uma sensibilidade à dimensões mais sutis. Isso
significa que quando Afrodite está presente ela dissipa todas as nossas
couraças, todas as nossas defesas, “despindo-nos” e tais momentos podem
trazer profunda tristeza, medo, irritação, vulnerabilidade. Tamanha é a dor,
que somos tentadas a nos fechar novamente e voltar para a cabeça, no
entanto, se conseguirmos ficar a sós um pouco com esses sentimentos,
Afrodite nos ensinará a ser tolerantes e pacientes. Pois, Afrodite é deusa não
somente da paixão, mas também da compaixão. É a deusa que personifica a
maior virtude de Buda: a compaixão. Tal como Buda possui uma visão
acumulada através do sofrimento, da paciência e da abstenção de revidar, ela
foi rejeitada, abandonada, aviltada; seu coração despedaçou-se tantas vezes
que atingiu portentosas proporções na capacidade de amar. Diz um ditado
judaico: “Deus quer o coração”, isso é uma verdade de Afrodite, “a deusa
quer o coração”, pois ele é o símbolo de tudo o que é autêntico e verdadeiro
em suas mais íntimas profundezas. E quando dois corações estão abertos um
ao outro a magia de Eros pode então fluir entre eles. Esse é o grande dom de
Afrodite, a fusão de dois corações em harmonia com a grande fusão sensual
de nossos seres físicos, quando ambos os canais estão abertos a deusa se
presentifica (Woolger, 1987, p.139 – 140)

Hera: exala confiança em si mesma, tem perfeito domínio de si própria e quase

sempre, dos demais. A consciência de Hera é mais bem percebida em mulheres mais

velhas, é nascida para mandar, floresce no companheirismo do matrimônio. Ela se

mostrará bem vestida e terá uma presença “maciça” nessa tradição familiar, geralmente

casada com um “grande homem”. Basicamente, a mulher-Hera quer duas coisas:

parceria e igualdade.

A chaga de Hera é a dor da impotência, o isolamento do mundo maior. Bem no

fundo, ela quer viver e agir exatamente como homem num mundo de homens. Quando

rejeitada é sentida como profunda chaga narcisística em sua auto-estima, uma chaga em

torno da qual mágoa, ressentimentos e ciúmes inevitavelmente se acumulam.

Mais casamentos naufragam e mais famílias são tiranizadas por Heras


insatisfeitas ou machucadas do que por qualquer outra deusa. E mais mães
alcoólatras, violentas e psicóticas são encontradas entre essas mulheres-Hera
profundamente frustradas (Woolger, 1987, p.161).
70

Hera e Afrodite são energias opostas, como podemos observar na seguinte

citação:

Afrodite, em sua liberalidade, representa o próprio princípio da


promiscuidade que Hera tanto odeia em Zeus – e que em Afrodite é
certamente ainda mais difícil de suportar, pois está presente em outra
mulher, ou melhor, em outra deusa. O que poderia provocar a fúria justiceira
de Hera mais do que o desprezo de Afrodite pela “Fidelidade”, a sua
desconsideração pelo casamento monogâmico e pelo “decoro social”?No
entanto, como Heráclito, o filósofo grego, disse certa vez, ‘o oposto é o que
é bom para nós! (Woolger, 1987, p. 172).

Parafraseando Woolger, infelizmente, o casamento patriarcal conduz muitas

vezes à infelicidade, ao vazio espiritual e a um perene anseio por amor. Talvez

psicologicamente falando, a monogamia serial, seja apenas uma forma de poligamia

não-simultânea.

Perséfone: Médium, mística e soberana dos mortos, discreta, simpática e

modesta. Uma parte dela podemos até pressentir, está em outro lugar. Todavia, ao

mesmo tempo, ela é tão intuitivamente ‘ligada’, que parece estar presente até mesmo em

nossos pensamentos. Não tem características físicas dominantes. Em sua fragilidade

pressentimos um anseio por afeição e intimidade, embora não saibamos se tal anseio se

refere ao corpo e/ou espírito.

O seu mundo é “paranormal” e ligado à parapsicologia, também atraída pelos

ensinamentos da meta física. Alienada e insegura em si mesma.

Tão poderosa é a autoridade do materialismo científico de nossas


universidades, instituições de pesquisa e meios de comunicação de massa,
que disciplinas como parapsicologia e metafísica são consideradas
excêntricas, próprias para lunáticos. Quando a atriz Shirley MacLaine narra
o seu despertar psíquico, revistas como Newsweek e People, tratam-na
condescendentemente como uma louca mansa que vai ficando dia a dia mais
biruta. E sempre pairando ao fundo da consciência coletiva, esta ‘maga
negra’ e o Diabo dos fundamentos cristão” (Woolger, 1987, p.179-180).

O caráter da mulher-Perséfone não é nada fácil de entender, são altamente

reservadas e reclusas. A maior dificuldade é a estrutura frágil do ego. Na Grécia Antiga,


71

Perséfone era considerada a rainha do mundo avernal, mundo de espíritos, na psicologia

moderna é chamado de Inconsciente, principalmente o coletivo.

A descida ao mundo avernal, não é restrito à infância – pode ser após um

divórcio, uma mudança não desejada, aborto, a perda de um ente querido, de um

emprego, algum trauma severo, quando sobrevivemos a um acidente grave – em

situações onde há ‘possíveis mortes psíquicas’, enorme vazio, ermo, vazio emocional.

Freud caracterizava toda depressão como um tipo de luto pela perda de algum objeto

amado.

A mulher-Perséfone quando não integra a energia das outras deusas, poderá se

expor a ‘sofrimento considerável’ e lidar com este domínio da existência (mundo

avernal) e com suas ameaças de dissociação psíquica, loucura e desespero é um desafio

psicológico sem igual. Para sobreviver, ela aprende a recolher-se para dentro de si e

para os seus encontros psíquicos secretos.

Mulher-Perséfone tem que viver e agir em dois mundos diferentes e inóspitos: o

mundo frio e imprevisível do inconsciente e o incompassivo e alienante ‘mundo real’.

As mais confiantes podem se dar bem, sendo astrólogas, terapeutas, tarólogas,

professora de metafísica, artistas visionárias, etc.

Alguns psicanalistas acreditam que a ‘cisão’ (caráter esquizóide) esteja ligado a

uma falta fundamental de elo com a mãe, que no mito grego essa mãe é Deméter, é a

filha que perdeu a mãe cuja vida real é vivida em outra parte, para completar a sua

descida para o mundo avernal, para o inconsciente e o seu verdadeiro salvador não é

Zeus e sim Hades. A fonte de transformação de Perséfone vem de baixo, das

profundezas abissais da alma, não dos confins mais elevados do espírito.

Outra saída é tornar-se exatamente o que ela perdeu: uma mãe mais do que

amorosa, uma terapeuta ou curandeira cuja clientela será constituída


72

predominantemente por jovens “Perséfones”, todas mais carentes, apegadas e

dependentes que ela, com carência de amor e atenção. Para evitar isso, Perséfone

precisa antes, como todos os que pretendem curar alguém, é curar-se a si mesma. Sua

capacidade de empatia e de entendimento psíquico é o maior obstáculo a esse processo

de tornar-se uma terapeuta.

Precisa de ajuda externa, caso contrário vai atrair para si reflexos de sua própria

vitimização não resolvida. Por ser aberta ao inconsciente seu e do outro, ela está

constantemente fundindo-se com as personalidades de sofrimentos das pessoas que

atrai.

A chaga de Perséfone é ser a eterna vítima sacrificial. Flertam com a morte em

diversos períodos de suas vidas e cresceram no papel de vítimas, impotente e

geralmente passiva, com compulsão de repetição do drama do rapto, na qual a donzela

paira como que congelada à beira do abismo.

Segundo Jung existe duas formas de orgulho ou presunção espiritual: a

presunção do herói e o orgulho do sofredor, do mártir.

O que deve morrer na donzela Perséfone, é a sua inocência de donzela, sua

meiga persona18, composta de ideais espirituais, doçura e luminosidade. Luz demais

acaba lançando uma sombra muito escura, que é uma raiva enorme e uma ânsia

desmesurada pelo poder absoluto. Perséfone sente medo de Hades e da mãe negra, que

outra não é senão a rainha poderosa do mundo avernal que ela não quer reconhecer em

si mesma. A verdadeira questão de Perséfone é o poder que recusa para si e projeta para

os outros.

Deméter: Mãe de todos nós. É aquela rodeada de crianças, e imersa nos afazeres

que a maternidade exige. Ela é mais que uma simples mãe biológica. Não é ter filhos

18
Ver Sharp, 1993, p. 118-21.
73

que faz uma verdadeira mãe, é uma atitude, uma maneira instintiva de cuidar de tudo

que é pueril, carente e sem defesa.

O amor de Deméter é uma forma totalmente dedicada e generosa de doação, é o

“carinho de mãe” personificado. Ser mãe é o princípio norteador fundamental na vida de

Deméter.

Cada uma das deusas cuidou de seu filho de modo diferente: a Afrodite é uma

mãe sensual e leniente, que adora vestir os filhos e mima-los com gostosuras e de ir ao

cinema com eles; Atena, mal pode esperar que os seus filhos aprendam a falar e possam

expressar para conversar com eles e estimular a sua educação e aprimoramento mental;

Perséfone também é profundamente envolvida com os filhos, mas de uma maneira mais

psíquica e intuitiva do que em termos do bem-estar físico deles; Hera é tão cheia de

regras, censuras e expectativas que resta pouca ternura na sua maneira de criar os filhos.

A única diferença entre Afrodite e Deméter em relação ao amor, é que para

Afrodite o outro é um ser amado adulto, ao passo que para Deméter é a criança.

Existe uma ligação profunda entre Deméter e todos os aspectos da FORÇA

VITAL – Uma Deméter saudável estará sempre ligada à realidade física; as realidades e

necessidades do corpo. Ao contrário de Hera, Deméter não se casará para adquirir

posição e prestígio na comunidade – “o jovem de maior futuro”. O que ela busca é um

pai digno e confiável para sustento seu e de seus filhos.

Mais de 2000 anos de cultura judeu-cristã nos acostumaram a pensar em tudo o

que é Divino como masculino, estando de alguma forma “lá em cima” no céu. Como

resultado, nós praticamente esquecemos o que significa considerar a terra em que

pisamos como sagrada, como verdadeiramente a nossa mãe, como local onde habitam

deusas e deuses.
74

A partir do instante que a energia de Deméter toma inteiramente conta da sua

mente, ou melhor, de seus instintos, a mãe aprenderá uma maneira inédita de (estar) ser

consciente e passa a funcionar em “multipistas”.

A gestalt criança/adulto da consciência de Deméter comparada com a das outras

pessoas, é na realidade invertida. Para a maioria dos adultos, o barulho das crianças,

“abstraem”, em Deméter, acontece o contrário. O fato é que a maternidade oferece

pouca ou nenhuma gratificação para o EGO. Qual a recompensa de Deméter?

A consciência de Deméter é dual, onde mãe e filho é modelo incessante de

crescimento e transformação. Sua realização inquestionavelmente está em maravilhar-se

com os filhos, nos quais vive, se move e justifica sua existência. Sua maior satisfação é

ver os lindos frutos de seu ventre bem criados e transformados em jovens adultos e

felizes.

O cálice da força vital dentro de si está transbordante. Por que as funções

sagradas de Deméter acabaram assim tão denegridas?

A própria dificuldade de sobrevivência, segundo as histórias da Grécia Antiga,

uma nítida divisão foi lentamente se acentuando entre os Deuses e Deusas urbanos

(Zeus, Apolo, Hera e Atena), que refletiam os valores de um patriarcado guerreiro em

ascensão, e as divindades mais tradicionalmente rurais (Ártemis, Dionísio, Cronos,

Deméter, Posêidon e Afrodite), todas elas, essencialmente Matriarcais ligados a Terra.

Há séculos que a Europa urbana e os E. U. A têm sido regidos conjuntamente

pela ética protestante de Atena (trabalho duro e realizações materiais) e pelas pretensões

burguesas de Hera. Os atributos de Deméter são constantemente controlados e

denegridos.

A chaga de Deméter é a negação do direito de nascer. O testemunho de toda

mulher que já deu a luz - foi o maior acontecimento da minha vida. E, no entanto, uma
75

função que há milênios era competência natural das mulheres, passou a ser, no mundo

moderno, cada vez mais assumido pela sociedade na figura do médico, professor e dos

próprios meios de comunicação.

Esse processo teve seu início com o advento da profissionalização da medicina

no século XIX, substituindo o trabalho de parteiras por um número cada vez mais

crescente de cesarianas. Talvez as mães venham redescobrir a harmonia mútua de

trabalharem juntas em pequenas comunidades cooperativas, onde poderão dar apoio

uma às outras ao darem à luz e cuidarem dos filhos.

Através dessa breve consideração a respeito das Deusas podemos observar o

quanto de cada uma delas encontra-se atuando em nossa psique, com seus atributos e

suas chagas. O resgate de alguns desses arquétipos do feminino, foi oportunizado pelo

curso de Pós Graduação em psicologia Transpessoal por meio de uma abordagem

teórico/vivencial. Foi de extrema importância no nosso processo de transformação como

um todo, que certamente trazem e trarão benefícios individuais e coletivos, nos

possibilitando galgar níveis cada vez mais elevados de consciência, refletindo numa

melhor qualidade de vida, co-criando uma nova realidade planetária, tão sonhada, tão

almejada por seres, num tempo de terceiro milênio.

Enquanto Woolger utiliza as Deusas para se referir ao Feminino sagrado, Jean-

Yves Leloup vai buscar nos evangelhos, figuras femininas na vida de Jesus.

Trabalharemos a seguir, dentro dos arquétipos apresentados por Leloup (1996), os sete

arquétipos de Maria Madalena. Ela é representa a busca da síntese, pois como

apresentamos anteriormente na visão de Maturana, existe uma enorme fragmentação do

ser, facilmente detectável em nossa realidade contemporânea.


76

Maria Madalena, em cada uma de nós, é a busca da unidade fundamental do ser,

da integração do masculino com o Feminino, da matéria com o espírito, do profano com

o sagrado, do absurdo com a graça.

O primeiro arquétipo de Maria Madalena é o da amante com desejos

desorientados. Este emerge por não sabermos o que queremos e quem somos. Isso

ocorre porque desempenhamos tantos papéis em nossas vidas, que muitas vezes nos

perdemos, trazendo-nos um estado de sofrimento. É considerada aqui como o arquétipo

da pecadora, com um psiquismo que não distingue qual é o “sujeito” do seu desejo.

Pecado, neste contexto, vem de um termo grego, Harmatia, que quer dizer, mirar

o alvo para não acerta-lo, ou seja, nossos desejos são desorientados por não sabermos

quais são os desejos mais profundos.

O segundo arquétipo apresentado por Leloup (1996) é o de Maria Madalena com

capacidade contemplativa, que é baseado no episódio do evangelho onde Maria escolhe

estar aos pés de Jesus, escutando e contemplando sua fala enquanto que Martha, sua

irmã, cozinhava e fazia o trabalho pesado. Ambas é em nós, a contemplação e a ação, o

silêncio e a palavra.

Em nossa sociedade voltada para o “fazer”, quando escolhemos apenas

contemplar, corremos o risco de cairmos no ostracismo. Porém, quando o nosso desejo

é orientado para o Ser e nos permitimos, escolhemos e fazemos aquilo que é necessário

naquele momento de maneira autêntica, genuína e espontânea, mesmo que isto

signifique “contemplar”, tornar-se-á um processo profundamente rico e poderoso em

nossa vida.

O terceiro arquétipo de Maria Madalena é a compaixão, que ele chama de

Arquétipo da Intercessão, que nos mostra a sua capacidade de interceder pelos doentes e

moribundos. Porém, ao mesmo tempo em que se volta “para o outro”, faz um mergulho
77

na profundidade do seu ser, e por isso se torna capaz de ajudar o próximo. Percebemos

aqui a dimensão da unidade19.

O quarto arquétipo é o do Feminino como intuição profética. Uma vez que

despertamos em nós a contemplação e a compaixão, despertamos uma visão não

comum, estados ampliados de consciência que nos permite pressentir o futuro, devido a

uma visão mais ampliada do mundo, podemos até apresentarmos características

proféticas.

Para Leloup (1996), o fato de Maria Madalena ter usado em Jesus um perfume,

que deveria ser guardado para o momento de sua morte, significa que ela “profetizou”

sua morte. Trata-se de uma atitude feminina, embora não denuncie o saber com palavras

o faz em gesto marcado por profunda generosidade e entrega.

Há ainda o quinto arquétipo, o de Maria Madalena com capacidade de

acompanhar os agonizantes. Esse contexto é baseado na parte do evangelho em que

Jesus está à beira da morte, aos pés da cruz, quando Maria Madalena nos mostra

coragem diante do desconhecido, da vida e da morte. Reconciliar-se com o Feminino é

não termos medo das nossas emoções, do desconhecido, da vida nem da morte. Só

assim o nosso corpo pode liberar a negatividade que ficou nele e manifestamos a

coragem do coração.

Tememos manifestar nossas emoções, sobretudo naqueles da cultura européia e

seus descendente. Nesse ponto destacamos que é importante se trabalhar a perda e

trabalhar o luto. Se não expressarmos as nossas emoções no exterior, é o nosso corpo

que ficará em luto, pois todas as toxinas ficarão impregnadas nele e o destruirão.

Reconciliarmos-nos com nossas emoções é reconciliarmos-nos com o nosso feminino.

19
Ver conceito de unidade no cap. II p. 27.
78

O sexto arquétipo é o arquétipo a testemunha da ressurreiçã20, porque não tem

medo da morte, manifesta o movimento de mergulho nela e para além dela. Mostra-nos

a dimensão da coragem do Feminino em cada um de nós, daquela que não tem medo de

olhar de frente para a morte, porque não tem medo de entrar na dimensão de si mesma.

Por ter essa coragem, ela é a primeira a testemunhar a Ressurreição de Cristo. Esse

arquétipo nos mostra que não fugindo da morte, caminhamos para além dela, ou seja,

para o outro lado, para o que é imortal.

Após a experiência da Ressurreição presenciada por Maria Madalena, ela vai

anunciá-la aos seus irmãos, os apóstolos, que Jesus apareceu para ela. A partir desse

momento, ela se torna como que o arquétipo da iniciadora, aquela que inicia o

evangelho. Ou seja, após passar por todas as etapas de mergulhos interiores, ela integra

toda a sua aprendizagem, e assim está pronta para ensinar os outros. Leloup (1996) cita

o Evangelho de Tomé e nos diz:

Pedro disse a Maria: “minha irmã, nós sabemos que o Salvador te amou
mais do que às outras mulheres. Dize-nos as palavras que ele te fez
conhecer, que ele disse a ti e que nós não escutamos1” E Maria responde:
“O que foi escondido a vós, e vos anunciarei.” (Tomé in Leloup, 1996, p.
155).

Ao explorarmos os sete arquétipos de Maria Madalena estabelecemos relações

com as Sete Etapas da Abordagem Integrativa de Vera Saldanha descrita no capítulo II.

Observamos que o arquétipo da amante com desejos desorientados corresponde

ao reconhecimento, é o momento da mobilização interna, há um desconhecimento

diante do novo, e o encontro com Jesus permite o encontro consigo mesma, há um novo

olhar ao redor, e emerge um questionamento. É uma experiência de mobilização interna

desencadeada por estímulos intrínsecos e extrínsecos.

20
Segundo Leloup (1996, p. 150) ressurreição é uma palavra grega que significa entrar na dimensão de si
mesmo.
79

No segundo arquétipo, a contemplação, pode-se estabelecer relações com a etapa

da identificação. Maria Madalena entra em consonância com suas necessidades básicas,

deixa se levar por seus processos internos vive a sua vontade. Mobiliza a identificação

inclusive naqueles que estão à sua volta, como Maria que se angustia por estar

trabalhando enquanto Madalena “apenas contempla Jesus”. Observamos a ressonância

na experiência dos envolvidos.

O terceiro arquétipo, a intercessora, permeada de compaixão, sugere relações

com a desidentificação. Maria Madalena volta-se para o outro, começa a valorizar novos

aspectos da vida humana, começa a surgir uma nova dinâmica para se transformar e

transformar o outro, há um discernimento crítico, uma reflexão articulada aplicada ao

contexto de vida.

Permitindo que Maria Madalena nos revele o quarto arquétipo, a Intuição

Profética, quando surge uma visão não comum, emergem estados não ordinários da

consciência, há um despertar tal qual como ocorre na transmutação. Há um novo olhar,

o conhecimento ganha significado, aspectos disfuncionais começam a ser transcendidos,

um processo de mudança se inicia. Embora haja a luta as mudanças se impõem, há uma

postura ética do problema e da solução, nada é certo ou errado, bem ou mal. As funções

de percepção são advindas da intuição.

Revela-se então, a capacidade de acompanhar os agonizantes, descrito no quinto

arquétipo. Maria Madalena mostra coragem diante do desconhecido, há uma nova

postura; equivalendo a transformação, um novo conhecimento é estabelecido,

introjetado, praticado, permeado pela generosidade e entrega. Nesta etapa não há

fragmentação, a síntese interna é alcançada e a experiência pessoal ganha

individualidade. Maria madalena começa a trilhar o seu caminho a partir de suas

escolhas.
80

O mergulho na morte é o sexto arquétipo da mulher testemunha da ressurreição,

que entra na dimensão de si mesma, que nos mostra a coragem de viver o Feminino;

está além dos paradigmas de tempo/espaço, tal qual como na elaboração. Relacionamos

este arquétipo com a elaboração, há apreensão do verdadeiro conhecimento e do sentido

do saber a partir do indivíduo capaz de dissipar todos os temores. Emerge naturalmente

uma apreensão global que inclui o contexto pessoal social e espiritual.

A sétima etapa se presentifica no arquétipo da iniciadora, onde Maria Madalena

vai anunciar aos seus irmãos a ressurreição, há uma integração do seu processo no

cotidiano; tal qual nos propõe a etapa da integração na Abordagem Integrativa

Transpessoal. O novo olhar torna-se um novo fazer, as perspectivas se ampliam, os

conhecimentos adquiridos são integrados na prática do indivíduo. Maria madalena já

não é mais a mesma, além de um novo olhar se faz presente um novo fazer lhe permite

dar continuidade ao seu desenvolvimento compartilhando suas experiências.

Através destas considerações a respeito dos arquétipos do Feminino, podemos

observar o quanto de cada um deles, encontra-se atuando em nossa psique com os seus

atributos e chagas. E consideramos que o resgate destes é de extrema importância em

nosso processo de transformação como um todo. Certamente trazem e trarão benefícios

individuais e coletivos, nos possibilitando galgar níveis cada vez mais elevados de

consciência, refletindo em uma melhor qualidade de vida, co-criando uma nova

realidade planetária, tão sonhada, tão almejada por seres em um tempo de terceiro

milênio.
81

CAPÍTULO IV

EDUCAÇÃO E VALORES HUMANOS

Educar é um exercício de imortalidade. De alguma forma seguimos vivendo


naqueles cujos olhares aprenderam a ver o mundo através da magia de nossa
palavra. Assim, o professor nunca morre (Moraes; Latorre, 2004, p. 72).

Sempre houve uma preocupação em buscar um sistema psicológico e naturalista

de valores, que fosse o mais próximo possível da natureza do homem. Mas até hoje

nenhum dos sistemas se mostrou fiel à nossa verdadeira natureza. Nas palavras de

Maslow temos: “A luz de conhecimentos recentemente adquiridos, praticamente todas

elas (as teorias) são falsas, inadequadas, incompletas ou, de uma forma ou de outra,

deficientes” (Maslow, 1996, p. 181).

Questionamentos sobre a origem e continuidade da bondade humana fizeram

com que Maslow buscasse nas novas descobertas nos campos das Ciências e da

Psicologia uma explicação adequada.

Partindo dos conhecimentos acerca da Homeostase, capacidade de auto-

regulação metabólica de um organismo, verificou-se uma aptidão universal inata em

todas as espécies de animais, em selecionar o mais adequado para satisfazer suas

necessidades corporais. Existe uma sabedoria inata e confiável também a nível

psicológico. Ele nos diz: “Parece evidente que todos os organismos são mais auto

governados, auto regulados e autônomos do que se pensava há tempos atrás” (Maslow,

1996, p. 183).

Porém, ao se considerar pessoas enfermas mental e fisicamente, estas nem

sempre conseguem fazer boas escolhas e seguir um caminho de equilíbrio interno. Para

uma melhor avaliação, Maslow baseou seus estudos em pessoas sadias, seus valores e

suas preferências, conforme suas diversidades culturais. As capacidades de cada um


82

representam seus valores e necessitam ser expressos. Tais valores são intrínsecos ao ser

humano.

Maslow chamou de necessidades básicas do ser humano as necessidades

fisiológicas e psicológicas “[...] que devem ser satisfeitas de forma ótima pelo meio

ambiente, a fim de evitar doença e o mal estar subjetivos” (Maslow, 1996, p185). Essas

necessidades obedecem a uma hierarquia conforme o processo de individuação pelo

qual passa cada ser humano, como amor, fome, segurança entre outros21.

Parece que há um único valor básico para a humanidade, um objetivo que todos

os homens desejam alcançar, recebendo diferentes nomes conforme cada autor:

individuação, autonomia, auto-realização, integração, saúde psicológica, criatividade,

produtividade. Existe uma concordância geral que isto equivale à realização de

potencialidades da pessoa. Em outras palavras à plenitude humana, ou seja, tudo o que

ela pode vir a ser.

Para Maslow, o ser humano vive em busca dessa plenitude e, quando alcança um

valor, segue em busca de outro em grau superior. Estaríamos fadados a viver

constantemente insatisfeitos, sempre buscando o inalcançável. Porém, o que se verifica

é que “o céu [...] aguarda-os ao longo da própria vida” (Maslow, 1996, p186). Pois

experenciamos momentos de grande prazer, que, apesar de circunstanciais, nos dão

sustentação para seguirmos adiante além do fato de que podem ser acessados sempre

que assim o desejarmos.

Parece existir uma tendência do ser humano para buscar a plenitude, a

individuação, a sua própria identidade, por meio de bons valores como a serenidade,

gentileza, coragem, amor, altruísmo, bondade, entre outros.

21
Ver cap. I p. 17
83

Maslow (1996) decidiu estudar a personalidade de pessoas bem-sucedidas, com

grande capacidade de pensar, escrever, compor, pintar e administrar grandes

corporações. Percebeu que essas pessoas eram muito mais saudáveis, felizes e sábias do

que o normal eram abertas para a vida e criavam seu próprio destino. Acreditavam nisto,

bem como no valor do Self, ao qual se recorria quando enfrentavam algum problema. A

solução estava dentro de si mesmo na maioria das vezes. Eram pessoas, não mais que

1% da população, que “descobriram a conexão psicofisiológica sozinhas” (Chopra,

1989, p. 130).

Chopra (1989) compactua com as idéias de Maslow ao dizer que, ao contrário do

velho paradigma onde a ciência menosprezava a minoria analisada, mesmo se apenas

uma pessoa em dez milhões encontra a cura para o câncer ou para a aids, devemos

tentar compreender que caminho de cura é esse para tentar reproduzi-lo.

Assim fez Maslow, observando indivíduos “saudáveis” e também os indivíduos

normais, mas em estado de “experiências culminantes”, e descreveu 10 características

do ser humano sadio. Para isso baseou-se em “caracteres objetivamente descritíveis e

mensuráveis...”, como fazem os cientistas ao procurar espécimes típicos para um

exemplar. Diz ele:

[...] entre as características objetivamente descritíveis e mensuráveis do


espécime humano sadio contam-se:
1 – Uma percepção mais clara e mais eficiente da realidade.
2 – Mais abertura à experiência.
3 – Maior integração, totalidade e unidade da pessoa.
4 – Maior espontaneidade, expressividade; pleno funcionamento;
vivacidade.
5 – Um eu real; uma firme identidade; autonomia, unicidade.
6 – Maior objetividade os e, desprendimento, transcendência do eu.
7 – Recuperação da criatividade.
8 – Capacidade para fundir o concreto com o abstrato.
9 – Estrutura democrática de caráter.
10 – Capacidade de amar, etc. (Maslow, 1969, p 189).

Maslow verificou que “a maioria das pessoas é capaz de individuação”, e,

portanto, integrar esses valores ao longo do processo. É essa unidade, essa rede de
84

intercorrelações positivas que se desintegra, se fragmenta em divisões e conflitos

quando a pessoa fica psicologicamente doente, que leva o indivíduo aos valores de

“recaída”. Buscamos ambos os valores em maior ou menor grau, conforme nossa

necessidade, mas estão sempre presentes no comportamento manifesto.

Leonardo Boff (2003) explica essa dimensão dualista do ser humano no nível

pessoal através do “simbólico” e “diabólico”. Segundo ele, a dimensão simbólica é feita

de amizades, de amores, de solidariedades, de uniões, e de convergências, enquanto que

a dimensão diabólica, as inimizades, ódios, impiedades, desuniões e divergências.

Nesse contexto, podemos permanecer na satisfação das nossas necessidades

primárias (biológicas) e, nos fixarmos nos aspectos regressivos do comportamento

humano, criando dissociações de personalidade, onde o indivíduo pode até cometer

crimes num momento de intensa ira, por exemplo. Este fato justifica a preocupação de

Boff “com a possibilidade de o ser humano “demens”, a sua dimensão destrutiva se

fazer “ecocida” e “geocida”, vale dizer, de eliminar ecossistemas e de acabar com a

Terra”(Boff, 2003, p. 19).

.Maslow (1996) também nos fala das necessidades secundárias, que nos levam a

buscar a auto-realização, vivenciando e amor e as relações em sua dimensão afetiva.

Poderíamos viver felizes e realizados, como “homens medianos” por muito tempo. Mas

a inquietação que acompanha o ser humano parece conduzi-lo ao “transcendente”, à

busca de aspectos mais elevados do ser.

Buscamos o sentido maior da vida que nos remete à espiritualidade com retorno

aos valores mais superiores, sem a qual toda tecnologia e avanços científicos serão em

si um grande mal, caso não sejam acompanhados de amorosidade, solidariedade,

compaixão, ética e outros valores que caracterizam o ser saudável, (Maslowm 1996).
85

Maslow diz que o homem, fundamentalmente, não é moldado ou talhado na

condição humana, nem ensinado para ser humano. Segundo ele o meio ambiente apenas

deve possibilitar ao homem manifestar suas próprias potencialidades, que são

inerentemente suas, como braços e pernas.

Baseado nos estudos de Maslow, Chopra, nos diz: “Quando a sociedade se

elevar ao nível das melhores pessoas que já produzem, a saúde perfeita se tornará uma

realidade” (2002, p. 130). Para Chopra, o “ser saudável” é aquele que identifica seus

talentos únicos e pode expressá-los com todo o seu potencial criativo. Diz ainda que,

além de trazer felicidade, satisfação e realização, acaba fortalecendo seu sistema

imunológico.

As idéias de Deepak Chopra foram fundamentadas a partir das antigas tradições

orientais de sabedoria (fontes consideradas por Maslow como básicas para o trabalho

futuro em Psicologia), pelas novas descobertas científicas e por sua experiência pessoal

e profissional. Como médico cita também o exercício regular e a alimentação

balanceada e preparada de forma prazerosa, estratégias para se melhorar a saúde

circulatória e ainda contribuir para a diminuição da pressão sanguínea.

Chopra (1989) nos chama atenção para o sistema “mente-corpo”, para a

influência que nossos pensamentos exercem sobre nosso corpo. A ciência hoje nos diz

que “cascatas neuronais”, derramamento de substâncias químicas no cérebro em

resposta aos estímulos do meio, os neurotransmissores, interferem diretamente em

nosso corpo físico como uma rede de informações que não se limitam a mandar

impulsos em linhas retas pelos axônios, mas, circulam. “[...] inteligência livre através

de todo o espaço interior do corpo” (Chopra, 1989, p. 81).

Mesmo tendo uma visão otimista da natureza humana e suas possibilidades,

Maslow também se considerava realista, e algumas perguntas o preocupavam:


86

- Por que um maior número de pessoas não realiza seu pleno potencial de vida?

- O que internamente se interpõe no meio do caminho?

Em 1996 Maslow oferece uma resposta profissional e fascinante com um artigo

em seu livro “Visões do Futuro”, apresentando à comunidade científica da época “O

complexo de Jonas”, inspirado num personagem bíblico do antigo testamento.

A maioria dos psicólogos humanistas e existencialistas acreditava que um

aspecto universal da natureza humana é o impulso de crescer e realizar-se; ser o melhor

em suas potencialidades. O modelo mais útil para resolver este problema é o velho

conceito freudiano que aborda a existência de um impulso e a resistência contra sua

expressão real. Existiriam bloqueios, defesas que se interpõem durante este caminho até

a plena realização. O medo de crescer, por exemplo. Mas, hoje em dia temos novos

conceitos acerca do comportamento humano.

Percebemos que, através do chamado “inconsciente sadio”, não só reprimimos

nossos impulsos negativos (perigosos ou desagradáveis) como nossos melhores e mais

nobres impulsos. Por exemplo: em nossa sociedade existe um tabu generalizado sobre

ternura e é comum as pessoas sentirem vergonha de serem altruístas, amorosas e terem

compaixão. Podemos ver nos meninos adolescentes este comportamento, pois não

querem parecer afeminados, iniciando atitudes mais rudes e frias no contato social, o

que também acontece infelizmente na sociedade em geral.

Ao estabelecermos um paralelo com a Abordagem Integrativa de Vera Saldanha,

que nos remete às Barreiras Grupais, que constituem oposição ao crescimento, como o

cinismo, a crítica destrutiva, a indiferença, o humor mordaz, a superficialidade, o

ceticismo, e outros. No ambiente escolar foram caracterizados como Bullyng

(provocação de um grupo sobre o outro, como no filme “Um Amor Para Recordar”).
87

Os indivíduos normalmente fogem de seu chamado interior assemelhando-se

com o personagem bíblico Jonas. Demoram a reconhecer seu talento e colocá-lo em

prática.

É comum atualmente a pessoa com maior capacidade profissional, usar de falsa

modéstia ou humildade. Perde sua capacidade de expressão espontânea de dizer: “sou

inteligente”; porque teme a represália de seu grupo considerá-la orgulhosa, tirando de si

méritos com essa atitude.

Sem dúvida temos que ter muito amor próprio, a fim de podermos alcançar

nossas metas e realizar nossos potenciais. As pessoas que não desenvolvem esse amor

próprio tornam-se neuróticas, reprimidas, pois são as que mais se impressionam com a

possibilidade de receber um castigo do grupo.

Este é o conflito mais freqüente em psicanálise, podendo causar até

“personalidade múltipla” onde as possibilidades negadas suprimidas e reprimidas,

emergem na forma de personalidade dissociada, fugindo de seu destino.

O historiador Frank Manuel também chamou esse fenômeno de “Complexo de

Jonas” (Maslow, 1996). Vamos recordar o relato bíblico:

Jonas foi chamado por Deus para exercer o dom da profecia, ou seja, pregar a

palavra divina, mas teve medo de fazê-lo. Tentou fugir, mas não havia como se

esconder de sua tarefa. Ao final, entendendo que teria que aceitar seu destino teve que

realizar o que estava sendo chamado a fazer. “Vá pregar a palavra d’Aquele que É ao

povo de Nínive”. O povo de Nínive, escutando as palavras de Jonas, começou a jejuar,

vestiram-se de sacos, desde o maior até o menor. E neste dia, eles ficaram todos iguais,

não havia ricos nem pobres.

Assim como Jonas, todos nós recebemos uma tarefa particular que combina com

nosso modo de ser. Cada vez que nos afastamos deste chamado interior, provocamos
88

reações neuróticas, psicossomáticas de todos os tipos. Ao invés de avançarmos para a

auto-realização, ficamos perdidos e paralisados no meio do caminho.

1. Educação e valores - Abraham Maslow

Maslow (1994) ressalta a necessidade de uma integração da comunicação interna

e externa, sendo fundamental o estudo da personalidade. Sustenta que as maiores

dificuldades em comunicação seriam as barreiras dentro das pessoas. Estas partes

internas foram chamadas por ele “instintóides”, é um fenômeno biológico da nossa

natureza, em que a cultura não pode eliminar, mas reprimir.

Constituem, ainda, aspectos emocionais como, imaturidade e maturidade,

exigências racionais e impulsividade, necessidades sociais e espirituais. São

características intrínsecas, que determinam o ser humano de forma geral Contudo,

baseado no aprendizado intrínseco é que o ser humano desperta as próprias

potencialidades e valores internos.

Como as dificuldades internas são paralelas às externas, justifica que a medida

que o ser se integra e se liberta dos conflitos e divisões internas, melhorara sua

comunicação com o meio exterior. É interessante frisar sua frase a seguir: “As partes

rejeitadas não deixam de existir, não morrem por melhor que se sepultam” (Maslow

1994 p.157).

Enfatiza a saúde psicológica da pessoa sã que é mais espontânea, expressiva,

fácil no trato, honesta em seus princípios, tendo uma percepção melhor de si mesma e

de seu semelhante. Estes aspectos facilitariam a recepção e emissão da comunicação e

integração com seus pares e nos apresenta educação como um meio que favoreça o

desenvolvimento da natureza superior do individuo, permitindo a descoberta de seus

valores mais elevados.


89

Para ele a meta da educação é levar o individuo a auto-realização, a ser

plenamente humano e ser melhor do que se é capaz. Esta possibilidade de sermos

infantis, travessos e, ao mesmo tempo, cidadãos sóbrios, responsáveis e ficarmos

atentos ao nosso mundo interior assim como ao gozo, à poesia e sensações do mundo

exterior, nos abre para a transcendência da dicotomia presente em pessoas auto-

realizadas.

Em sua teoria de educação criativa, humanista, verbal e não verbal (arte/dança)

deve-se dar atenção especial aos valores superiores e facilitar sua emergência. Os

educadores além de ensinarem inúmeros, conhecimentos, deveriam colocar mais foco

no porque e para que estariam ensinando determinada matéria, visando sempre o

pensamento do educando, sua conduta e comportamento.

Este novo tipo de ser humano orientado no processo humanista possibilitaria um

desabrochar de pessoas criativas, espontâneas, expressivas, improvisadoras e confiantes,

corroborando de maneira significativa para uma sociedade saudável e ética.

Dentre os atributos da psique humana explorados por Maslow ressaltamos o que

ele denominou de criatividade primária, aquela que surge do inconsciente, que é a fonte

de novas descobertas e herança de todas as crianças. Já criatividade secundária é toda

classe de produtividade, a realidade no qual se concretizam as idéias. Conforme ele

deixou: “[...] as escolas devem ajudar as crianças a olharem dentro de si mesmas, e

deste auto-conhecimento se deriva uma série de valores.” (Maslow, 1990 p.181).

Observamos em suas contribuições a dimensão da unidade entre educando e

educador, e destes com a sociedade e vice versa. Valoriza as potencialidades humanas e

ressalta e que é a partir do próprio educando que se inicia o processo de ensino e

aprendizagem. Pois, para ele, todo ser humano tem em sua natureza um impulso ao

crescimento e à transcendência.
90

2. Educação Sathya Sai Baba: sobre Valores Humanos para crianças e jovens

Fazendo um paralelo entre o programa em Valores Humanos de Sathya Sai Baba

e de Maslow podemos observar que ambos têm uma visão humanista e a preocupação

em criar uma sociedade melhor, dando sempre prioridade a descoberta e incentivo dos

valores humanos inerentes aos seres.

Segundo Priddy (2002), Sathya Sai Baba educador indiano, premiado em 2000

como Homem da Paz do Ano pela UNESCO, nos diz que a educação é uma preparação

para a eterna busca por auto-conhecimento e pelo sentido da vida. Isso envolve viver de

acordo com o que é certo, bom, verdadeiro e belo ao invés de ser preparado primeiro

para ganhar dinheiro. Educar para que se produzam bons cidadãos e uma boa

sociedade, não apenas bons cérebros.

As pessoas tidas como educadas e diplomadas pelo modelo cartesiano, com uma

formação universitária, não tem nem sinal do auto-conhecimento e nem qualidades que

seriam inerentes ao ser humano, como; misericórdia, solidariedade ou compaixão.

O amor significa o sentido de inter-relacionamento e envolvimento do indivíduo

com a comunidade, o que o faz reconhecer o parentesco que existe entre ele e os outros.

Para Sai Baba a educação espiritual não é uma disciplina distinta e separada, mas sim

parte integrante de todos os tipos e níveis de educação.

Deve-se indagar: Por que é que com a educação superior sendo mais acessível

no mundo todo, do que em qualquer outra época, muitos problemas humanos terríveis e

crises reais estão longe de serem resolvidos e reconhecidos?

As universidades de hoje converteram-se em fábricas que produzem graduados,

o que não pode ser o verdadeiro propósito da educação.

A visão psicanalista da ciência e o orgulho do “know-how” intelectual

acrescentaram à aridez, ou melhor, ainda, alienação do coração no sistema educacional


91

vigente. A Educação deve reforçar as fontes de alegria, amor e paz de espírito que são

inerentes ao coração, e poderíamos dizer, à alma humana.

Destes milhares de alunos do Programa Sathya Sai Baba sobre Valores Humanos

implantados em 157 países, muitos estão para assumir posições de influência e poderão

começar a limpar as nações de corrupções generalizadas, opressões e muitas outras

doenças morais. Eles abrirão caminho para o resto do mundo em uma nova era de paz e

desenvolvimento espiritual.

3. Educação para o Ser Integral

Um novo paradigma educacional emerge nesse sentido, a relevância deste tema

resulta de um conjunto de mudanças na realidade planetária que temos assistido. O

homem, que se viu como centro do universo, mostrou também sua imensa capacidade

de autodestruição através de lutas insanas pelo poder e, pior, cometendo homicídios em

massa em nome de ideais religiosos. Este mesmo ser, detentor de ilimitada criatividade,

foi capaz de levar seu planeta a uma devastação sem precedentes na história da

humanidade.

Consideramos de extrema relevância a indagação de Boff (1998) que nos diz:

“Como construir o humano se nele convivem o anjo da guarda e o diabo

exterminador?” (p. 19). E continua: “Precisamos construir pontes, integrando nossas

dimensões opostas [...] numa lógica dialógica que se realiza estabelecendo conexões

em todas as direções” (Boff, 1998, p.21).

No processo de globalização competitiva em que nos encontramos, já não há

barreiras físicas, já sentimos a teia de que somos formados. Devemos, pois, passar à

globalização cooperativa onde, “[...] estamos todos sob o mesmo arco-íris da

solidariedade, do respeito e valorização das diferenças e movidos pela “amorização”

que nos faz irmãos e irmãs...” (Boff, 2003, p. 46).


92

Somos filhos e filhas da Terra, com a qual temos, ao longo desses 15 bilhões de

anos, misturado nossas matérias mais básicas. Fazemos parte de um todo, do qual

somos co-criadores. Ansiamos por um mundo mais ético, sustentável e amoroso,

integrando o feminino, esquecido numa civilização patriarcal, reducionista e dualista.

Segundo Leonardo Boff (2003), o novo ser deverá criar condições materiais, culturais e

espirituais, que garantam o destino humano, articulado com o destino do planeta.

A educação humanista de Maslow ajudaria os indivíduos a se libertarem dos

condicionamentos impostos pela cultura, desabrochando o sentimento de amor pela

humanidade. Nesse sentido, sentimos que a educação para o ser integral pode nos trazer

a re-ligação com nosso ser mais essencial, o respeito e a sacralidade, perdidos em

detrimento dos avanços tecnológicos.

As crianças, segundo Maslow, têm facilidade em vivenciar experiências

culminantes; deve-se evitar impedi-las, tornando a aprendizagem uma experiência de

prazer, acrescida de segurança, dignidade, amor, respeito e estima. Incentivar o

equilíbrio entre liberdade e o controle, mas evitando-se a repressão. A educação seria

dirigida ao desenvolvimento do caráter das pessoas, mais do que só um processo de

aprendizagem, colocando-se sua atenção no aqui e agora ou na capacidade de ver, ouvir

e expressar o que está ocorrendo no momento presente.

Segundo os conceitos de Maslow (1996), uma escola humanizada, cuja

pedagogia segue uma abordagem holística, pode-se incluir a Psicologia Transpessoal

em sua Abordagem Integrativa, proposta por Vera Saldanha numa área do

conhecimento transdisciplinar, a transdisciplinaridade.

A partir de sua experiência na clínica e na formação de profissionais de diversas

áreas tornando acessível a Psicologia Transpessoal para todos que buscam o “terceiro

incluído”. Saldanha (2006) sistematizou o processo de desenvolvimento e aprendizagem


93

do ser em sete etapas (reconhecimento, identificação, desidentificação, transmutação,

transformação, elaboração e integração) permeadas por quatro níveis de percepção

existentes (razão, emoção, intuição e sensação). Há um corpo teórico evidenciado sob

esse enfoque constituído por cinco elementos que são: conceito de unidade, conceito de

ego, conceito de vida, estados de consciência e cartografias da consciência que se

articulam dinamicamente no eixo evolutivo e experiencial. 22

Conhecendo esses conceitos e a vasta gama de vivencia aplicadas às diferentes

disciplinas propostos por Saldanha (2006), compreendemos que a transdisciplinaridade

pode ser uma diretriz extremamente eficaz, no processo educacional contemporâneo.

Esta abordagem garante um processo de aprendizagem criativa, auto-organizadora onde,

o elemento norteador é o aluno e o aprender obedece a um fluxo. Morais; La Torre

(2004) nos lembra que cada viajante descobre o caminho ao caminhar.

O surgimento da interdisciplinaridade, abordagem que já faz parte das teorias

educacionais atuais, se deu em resposta à fragmentação pela qual passaram as ciências,

com a necessidade de diálogo entre as disciplinas que surgiram por conseqüência.

Outras noções correlatas foram formadas, como a intradisciplinaridade, que corresponde

à relação interna entre a disciplina “mãe” e a disciplina “aplicada” e

pluridisciplinaridade, onde a natureza do próprio fato ou ato educativo exige uma

compreensão de várias disciplinas.

Mas foi a interdisciplinaridade, na década de 80, que trouxe a integração

curricular, onde não bastava apenas integrar conteúdos, mas buscar envolvimento,

atitude de busca, reciprocidade diante do conhecimento, ação que se desenvolve num

trabalho cooperativo e reflexivo. Havia a necessidade de posicionar-se diante da

informação, de interagir de forma crítica e ativa, com o meio físico e social; trabalhar as

22
Ver cap. II.
94

disciplinas de forma coletiva preservando seus interesses próprios, utilizando-se dos

temas transversais como ética, meio ambiente, saúde, pluralidade cultural, orientação

sexual, entre outros.

Capra (2002), ao se referendar as décadas vindouras, prenuncia que a

sobrevivência da humanidade irá depender da nossa capacidade de compreender e

conviver com os princípios básicos da ecologia. Segundo ele, a “eco-alfabetização” é

condição básica para a qualificação de líderes em todas as esferas e a parte mais

importante da educação em todos os níveis. Esse sistema traz uma pedagogia real de

contato do aprendiz com a natureza que, desde os seus primórdios sustenta a vida, hoje

sabemos, “[...] pela organização em redes” (Capra, 2002, p. 240).

Moraes; la Torre (2004), também dão ênfase à educação ambiental ou ecológica

como tema do presente e do futuro, sinalizando para uma educação que prepare o ser na

dimensão do saber e da responsabilidade em relação ao planeta que é sua casa.

[...] formar pessoas que respeitem a vida, que compreendam as diferentes


formas de interdependência existente entre os seres que habitam o planeta
para que todos se sintam responsáveis pela vida na terra, em todas as suas
manifestações (Moraes; la Torre, 2004, p. 137).

Estes postulados nos levam a considerar o mundo quântico em que nos situamos

hoje, princípios básicos da física quântica se resumem em cinco pontos:

1. No reino quântico não há objetos fixos, apenas possibilidades;


2. No reino quântico tudo está entrelaçado e forma algo único, indivisível;
3. Os avanços espetaculares são um aspecto do reino quântico; quem dá tais
saltos possui a capacidade de ir de uma localização no espaço ou no tempo
para outra, sem ter de passar por nenhum outro lugar ou época nesse ínterim;
4. Uma das leis do reino quântico é o Princípio da Incerteza, que estabelece
que um fato é uma partícula (matéria) e uma onda (energia)
simultaneamente. Sua intenção determina se o que você vê é partícula ou
onda;
5. No reino quântico, é necessário um observador para se criar um fato.
Antes de uma partícula subatômica ser observada, ela só existe de forma
virtual; todos os fatos são eventos virtuais até o momento em que são
observados (Chopra, 2002 p. 20).

Dentro desse novo paradigma devemos considerar a multidimensionalidade do

ser, que amplia seus cinco sentidos para o desenvolvimento das percepções de sua
95

intuição, espiritualidade, emoções e sentimentos no processo de elaboração do

conhecimento.

Na evolução do conhecimento disciplinar para a transdisciplinaridade,

observamos características do pensamento sistêmico23 assume lugar privilegiado,

explicar algo implica em considerar todo o contexto deste conhecimento. “A

transdisciplinaridade transforma a arrogância do saber na humildade da busca”

(D’Ambrosio in Silva, 2004, p. 66).

Nesse sentido a transdisciplinaridade poderá embasar trabalhos no processo de

aprender, visto que o relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre

Educação para o século XXI, Jacques Delors (2000) aponta para Os Quatro Pilares da

Educação, pautados em: aprender a aprender..., aprender a fazer..., aprender a viver... e

aprender a ser...”. (Silva, 2004, p. 55).

Desde 1992 a UNESCO vem apoiando manifestações ligadas a

transdisciplinaridade pelo mundo, até que em 1994 se deu o primeiro Congresso

Mundial sobre transdisciplinaridade, ocorrido em Portugal, que culminou na execução

da “Carta da transdisciplinaridade”, um contrato moral de atitudes compatíveis com

nosso tempo, que são citadas ao longo do nosso trabalho.

Ao aprender sozinho, se utilizando da tecnologia na pesquisa, o aluno será capaz

de refletir, conectar idéias e ter visão crítica, desenvolvendo habilidades para atuar em

diversas situações, bem como no trabalho em grupo. Faz se necessário desenvolver a

compreensão do outro e a percepção das interdependências. “Ah! outro: esse difícil, este

lado de mim que não sou eu. Como olhar-te, outro e te querer neste rosto que eu sou, e

não é meu?” (Brandão in Silva, 2004, p. 143).

23
O pensamento sistêmico se fundamenta nas inter-relações de seres vivos e meio ambientes numa
perspectiva de redes (Silva, 2004, p. 66).
96

Cabe aos educadores, gestores e facilitadores considerar tais processos e

estimular esta rede de trocas. Acerca do papel do professor nos convém refletir sobre:

”Se nos encontramos, hoje, num sistema arcaico de ensino, baseado no velho

paradigma cartesiano, onde a distância entre professor e aluno é tão grande, há que se

pensar de forma emergencial, na saúde integral do professor” (Goleman, 2006, p. 273).

Segundo Goleman (2003), o estresse manifestado pelos cuidadores acelera a

velocidade do envelhecimento celular, aumentando em anos sua idade biológica. O

professor, então, intensifica a fragmentação no nível de si mesmo e do aluno e se sente

desmotivado, decepcionado, o que desencadeia a insatisfação emocional. Urge que os

professores atuais procurem ao menos seus grupos de apoio, enquanto estamos na fase

de transição de paradigma e que tenham o apoio de suas instituições no sentido de

capacitar esse profissional à nova realidade.

Vê-se, então a necessidade urgente de uma escola geradora de mudanças, dotada

de uma pedagogia transpessoal, com métodos interativos e criativos, que oportunizem o

treino de reflexão e de observação do sentimento tanto do professor quanto do aluno,

tornando as críticas mais afetivas, dando sentido às práticas do dia a dia, permeando um

o caminho do outro. O objetivo é levar o professor a realização pessoal e,

consequentemente, a realização profissional e, á partir daí, contagiar o aluno rumo ao

ser.

As crianças e os professores são igualmente inteligentes e igualmente


capacitados em seu emocionar, embora distintos em suas preferências e na
direção de suas curiosidades, bem como em seus hábitos e no fazer e no
pensar, porque tiveram histórias de vida diferentes (Maturana, 2003, p. 16).

Para Maturana (2003), o aprendizado deve ser pautado pela biologia do amor,

assim o aluno estará mais apto a estabelecer metas e fazer escolhas baseadas na ética,

numa corporeidade que permeia não só a si mesmo, mas também o caminho do outro,

dentro de um processo terciário, que vivencia prazer e consciência. “Se quiser conhecer
97

a emoção, observe a ação; se quiser conhecer a ação, veja a emoção” (Maturana in

Moraes; la Torre, 2004, p. 58).

Tornam-se emergentes profundas transformações nos processos educacionais,

para que assim, possam ser satisfeitas plenamente as necessidades dos seres do terceiro

milênio. Faz-se necessário:

Educar para o re-encontro do EU com a Natureza nos leva a refletir sobre a


concepção de que somos parte de Gaia (visão ecossistêmica da Terra como
um sistema vivo e qu obedece à ciclos contínuos), e como tal, a importância
de educar para a sensibilidade, para o amor, para a conexão do ser humano
com ele mesmo e com o meio planetário e cósmico (Silva, 2004, p.169).

Que se institua nas escolas o seguinte anúncio: “Prezados alunos e professores:

sintam-se livres para se tornarem pessoas com sorriso amplo e bom humor e

preencham todos os espaços dessa escola com alegria” (Silva, 2004, p. 93).

Concluímos ao longo desta pesquisa que a educação transforma o indivíduo ao

nível do ser, ao mesmo tempo em que ele pode buscar essa transformação em direção ao

ser superior, bem como satisfazer suas metanecessidades através da educação.

Verificamos que as contribuições da psicologia humanista de Maslow, Maturana, Silva,

Priddy e a sistematização da Abordagem Integrativa da Psicologia Transpessoal,

possibilitam essa educação que vai além, através e entre as disciplinas existentes, e é

perfeitamente aplicável nos dias atuais.

O objetivo geral de nossa pesquisa deseja saber se a Pós Graduação em

Psicologia Transpessoal transforma pessoas e, sendo a formação citada um processo

educacional poderá estender nossas conclusões após a apresentação do capítulo VI no

qual apresentaremos a análise e interpretação dos resultados obtidos em nossa pesquisa.

A pesquisa bibliográfica nos permite concluir que a educação seria um

movimento para a saúde psicológica, para a paz espiritual e harmonia social, ou seja

corrobora para o desenvolvimento do ser integral.


98

CAPÍTULO V

TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

O crescimento e auto-aperfeiçoamento contínuo podem e devem ser metas


desenvolvidas pelo ser humano. Mesmo que tais metas nunca se realizem
por completo, cada passo em direção a elas, é um passo em direção ao
melhor de cada um de nós, a um conhecimento e aprimoramento mais
significativo de nossa espécie (Saldanha, 2006, p. 180).

A Psicologia Transpessoal tem se apresentado na atualidade como ciência que

traz uma visão bio-psico-socio-espiritual do homem. Ocupa-se do estudo e

desenvolvimento humano visando seu crescimento a partir de transformações no nível

do ser.

Neste sentido não estamos falando apenas de mudanças comportamentais, mas

de transformações dos processos internos que envolvem a psicodinâmica, interações,

elementos de percepção e consciência, culminando num processo de individuação que,

para Maslow (1996), é o ápice do desenvolvimento humano, tornando possível a

transcendência das necessidades pessoais e secundárias ascendendo as meta

necessidades.

Na medida em que processos individuais acontecem em “redes”, temos

conseqüências coletivas que trazem alterações culturais. Lembremo-nos de Maturana:

[...] na qualidade de rede particular de conversações – é uma configuração


especial de coordenações de coordenações de ações e emoções (um
entrelaçamento específico do linguajear com o emocionar). Ela surge
quando uma linguagem humana começa a conservar, geração após geração,
uma nova rede de coordenações de coordenações de ações e emoções como
sua maneira própria de viver [...] (Maturana, 2004, p. 34-5).

O curso de Pós Graduação em Psicologia Transpessoal, enquanto processo

educacional é norteado pela Abordagem Integrativa Transpessoal, que conforme

citamos no capítulo II a partir de seus aspectos estruturais, dinâmico, dinâmica

integrativa e demais técnicas entrelaçadas com posturas dinâmicas e vivências que

trabalham as “coordenações de coordenações,” conforme citamos Maturana acima,


99

propiciando a emergência de virtudes e valores no resgate do ser integral. É esse ser

integral que transforma o meio em que vive.

Ao finalizarmos o curso de Pós Graduação em Psicologia Transpessoal, no

último módulo, a coordenadora convidou o grupo a uma reflexão sobre a percepção de

si ao término do ciclo de aprendizagem proposta na Pós Graduação.

O objetivo dessa reflexão constituiu-se na partilha espontânea das percepções

sobre si. No transcorrer dessa partilha os depoimentos pessoais estavam plenos de

manifestações de emergência de valores e virtudes do ser integral.

Essas manifestações geraram um questionamento coletivo das possíveis

influências da Abordagem Integrativa nesses processos de transformação.

Diante do posicionamento do grupo refletimos que seria amplamente proveitoso

um trabalho de pesquisa, por meio de uma metodologia acadêmico-científica, que

revelasse o alcance e os aspectos contemplados por esse enfoque, conforme citado na

introdução desta monografia.

Para nortear o início do trabalho estabelecemos como objetivo geral identificar

se ocorreu transformação nos formandos do curso de Pós Graduação em Psicologia

Transpessoal e possíveis relações com a didática utilizada. Enquanto que o como

objetivo específico estabeleceu-se:

- descrever transformações que possam ter ocorrido;

- identificar se ocorreu transformações no âmbito pessoal;

- identificar se ocorreu transformações no âmbito profissional;

- verificar possível relação entre as transformações ocorridas e a didática utilizada;

- observar se as transformações promoveram emergência dos valores do Ser; (Maslow);

- perceber se há manifestação de virtudes e valores no âmbito do arquétipo do feminino.


100

A metodologia escolhida foi a análise de conteúdo segundo Bardin (1977),

conforme estaremos discorrendo a seguir neste capítulo.

1. Coleta de dados

Num universo de profissionais de áreas diferentes, nem todas restritas a área da

saúde, passando por empresários, bancários, advogados, professores e terapeutas de

diferentes formações o vínculo comum foi a busca pelo crescimento e auto-

aperfeiçoamento contínuo, e o sucesso dessa busca, sentido por muitos, em diferentes

formas e níveis, foi o vínculo que uniu uma parte do grupo na realização de um trabalho

que pudesse validar a técnica de abordagem da Psicologia Transpessoal.

Os próprios alunos do curso de pós-graduação se ofereceram como depoentes,

uma vez que somente a vivência dessas teorias e práticas poderia certificar a eficiência e

valor do curso como ferramenta do sucesso das buscas pessoais e profissionais.

Do grupo de 35 alunos apenas 29 responderam à questão proposta, uma vez que,

a participação como sujeita da pesquisa foi opcional e não obrigatória. Dos 29 que

participaram dos depoentes 10 assumiram a tarefa de realizar a pesquisa e apresentá-la

como trabalho de conclusão de curso. Participaram. Formou-se então uma equipe

constituída por: Adriana Cabello, Arlete da Silva, Carmem S. Sartori, Maria de Fátima

Araújo, Marly Adame, Nora Selma Balduino Macedo, Patrícia Novak Savioli de

Freitas, Rosangela Aparecida Rinaldi, Sandra Sepulveda e Solange Zecchini.

Na mesma data o grupo se reuniu e estabeleceu um cronograma de trabalho.

1 - pesquisa bibliográfica;

2 - coleta de dados;

3 - análise de conteúdo;

4 - reflexões e interpretações do grupo;

5 – considerações finais individual;


101

6 – apresentação final da monografia individual.

As etapas seriam realizadas em encontros da equipe na Alubrat-Campinas

durante três meses com reuniões quinzenais por um período de quaro horas, sendo que

haveria três encontros com duração de oito horas. As tarefas seriam compartilhadas

entre todos da equipe, com comunicação e envio de material produzido no período entre

um encontro e outro por meio eletrônico. Todo material produzido seria compartilhado

entre todos.

Estabeleceu-se que o trabalho final seria entregue individualmente e poderia

variar na apresentação física, considerações finais, refinamento na correção das normas

acadêmicas, notas de rodapé, gráficos e seguir de complementos individuais. Contudo

todos os trabalhos seriam constituídos dos mesmos capítulos e com os mesmos dados de

pesquisa.

Realizou-se então a coleta de dados. A questão apresentada aos sujeitos da

pesquisa foi a seguinte: “Descreva como você se percebe ao final do curso em

Psicologia Transpessoal”. 24

Essa questão foi colocada de uma forma bem ampla para possibilitar que as

respostas fossem os mais abrangentes possíveis e sem nenhum tipo de indução, para que

os depoentes pudessem ser os mais verdadeiros e espontâneos. Foi solicitado aos

depoentes que respondessem à questão num tempo relativamente curto para que

houvesse um mínimo de contaminação mental possível, ou seja, que a resposta não

estivesse sujeita a um processo de racionalização.

No final do verso da página25 pedimos alguns dados que foram utilizados para

situar-nos no nosso universo de pesquisa e caracterizar os sujeitos através do perfil

individual.

24
Ver apêndice 1.
25
Ver apêndice 2.
102

O perfil geral dos depoentes consiste nas características: sujeitos de ambos os

sexos, na sua maioria do sexo feminino, com idades variando entre 35 e 60 anos, todos

de nível superior completo, classe média em geral, onde a grande maioria declara

possuir algum tipo de prática espiritual. Todos com o mínimo de 16 módulos

concluídos, do Curso de Pós-Graduação em Psicologia Transpessoal, reconhecido pelo

MEC, estruturado em 18 módulos, norteado pela didática da Abordagem Integrativa

Transpessoal descrita no Capítulo II.

Numeramos de forma aleatória os depoimentos de 1 a 29 e passamos a tratar

cada sujeito pelo número do depoimento respectivo (D1, D2 [...] D29) mantendo, assim,

o sigilo dos nomes dos participantes.

Tendo em mãos os depoimentos, a sugestão de nossa orientadora, Dra. Vera

Saldanha, foi de que a análise desse material seguisse a metodologia de Laurence

Bardin para a análise do conteúdo.

2. Análise de conteúdo.

Segundo Bardin, análise de conteúdo tem como objeto a palavra. Ela nos diz a

respeito disso:

[...] a análise de conteúdo toma em consideração as significações


(conteúdo), eventualmente a sua forma e a distribuição destes conteúdos e
formas (índices formais e análise de co-ocorrência) [...] A análise de
conteúdo procura conhecer aquilo que está por trás das palavras sobre as
quais se debruça (Bardin, 1977, p. 43-4).

Seguindo a metodologia de Bardin, essa análise de conteúdo passa por três fases

distintas:

2.1. Pré-análise

É a fase de organização dos dados. É uma fase intuitiva mas fundamental para

que se trace um programa que seja flexível para que, possivelmente sejam introduzidos
103

novos procedimentos no decorrer da análise. Nessa fase as idéias são sistematizadas

para que se obtenha o passa a passo a ser seguido durante a análise.

[...] a pré-análise tem por objetivo a organização, embora ela própria seja
composta por atividades não estruturadas, <abertas>, por oposição ‘a
exploração sistemática dos documentos (Bardin, 1977, p. 9).

A pré-análise é composta por diferentes etapas, que compreendem:

a) leitura flutuante, quando se estabelece um primeiro contato com o documento,

deixando-se invadir pelas impressões;

b) escolha dos documentos, que nada mais é que a demarcação do universo a ser

analisado. Muitas vezes essa escolha implica numa seleção que deve seguir a algumas

regras. São elas:

b.1) regra da exaustividade: nenhum elemento que compõe o universo a ser analisado

deve ser deixado de fora por qualquer razão que não seja justificada no plano do rigor;

b.2) regra da representatividade: qualquer análise pode ser feita através de uma

amostragem, desde que essa amostragem seja fielmente representativa do universo

inicial;

b.3) regra da homogeneidade: os documentos devem se homogêneos, referindo-se todos

ao mesmo tema, obtidos através de técnicas idênticas e indivíduos semelhantes;

b.4) regra da pertinência: os documentos devem ser fonte adequada de informação para

cumprir o objetivo da análise;

c) a formulação das hipóteses e dos objetivos. Bardin nos diz que:

Uma hipótese é uma afirmação provisória que nos propomos verificar


(confirmar ou infirmar) recorrendo aos procedimentos de análise. Trata-se
de uma suposição cuja origem é a intuição e que permanece em suspenso
enquanto não for submetida ‘a prova de dados seguros (Bardin, 1977, p. 98).

Trata-se então, de nos interrogarmos sobre a questão que se deseja conhecer,

explorar e pesquisar.
104

d) a referenciação dos índices e elaboração dos indicadores: escolher os índices em

função das hipóteses e organizá-los sistematicamente em indicadores;

e) preparação dos materiais: é a parte prática de organizar os materiais de forma que

fiquem de fácil acesso e organizados da forma mais conveniente para que possam ser

trabalhados e analisados de forma eficiente.

2.2. Exploração do material

Esta fase é essencialmente a codificação, enumeração e organização que ocorre

de acordo com, e em função das regras previamente estabelecidas para a análise dos

documentos.

2.3. Tratamento dos resultados obtidos e interpretação

Os resultados obtidos são tratados através de agrupamentos, análises estatísticas

e diagramas de maneira a se tornarem significativos e válidos. Na elaboração deste

trabalho estaremos trabalhando especificamente com a análise de conteúdo numa

perspectiva qualitativa.

2.4. Codificação

Corresponde a uma transformação, efetuada segundo regras precisas, dos dados

brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração, permitem

atingir uma representação de conteúdo, ou da expressão susceptível de esclarecer o

analista acerca das características do texto, que podem servir de índices. Essa agregação

é feita em unidades que descrevem o conteúdo analisado. São elas:

a) unidades de registro: correspondem à unidade de base, pequenos segmentos do

conteúdo geral visando à categorização e contagem freqüencial;

b) unidades de contexto: são maiores que as unidades de registro e dão sentido aos

segmentos das unidades de registro;


105

c) categorização: é a agregação das unidades de contexto em grupos ou categorias de

acordo com critérios pré-estabelecidos, de acordo com referências comuns presentes nas

unidades de contexto.

2.5. Descrição dos dados obtidos

Contextualizada a escolha da metodologia utilizada para a realização do nosso

trabalho, passamos a explicitar a forma prática como ocorreu o desenvolvimento dessa

metodologia.

Os documentos foram selecionados de acordo com critérios já colocados no

início deste capítulo.

Recolhemos os documentos e passamos à fase de leitura, para tanto, seguimos a

recomendação de Bardin (1997), que diz que para facilitar o processo de leitura para

análise cada depoimento deve ser digitado numa seqüência sem parágrafos.

Após a digitação fizemos seguidas leituras de cada depoimento, um por vez. As

leituras seguidas e pausadas facilitam a fluência do texto de forma que idéias contextos

e sensações possam emergir vindo à tona sob a forma de palavras, frases ou sentenças

plenas que representem os aspetos a serem analisados.

Identificadas às unidades de registro, seguimos com a leitura para contextualizar

essas unidades através das unidades de contexto. Elegemos como unidades de registro

palavras que fossem substantivos, adjetivos ou verbos e nossas unidades de contexto

foram às frases e sentenças relacionadas a elas que exprimem um pensamento, idéia ou

opinião.

Numa próxima etapa agregamos as unidades de contexto em categorias prévias

de acordo com elementos que foram surgindo. Após essa categorização inicial

reagrupamos, por similaridade, as categorias prévias até obter as categorias terminais


106

que resultam desses seguidos reagrupamentos até sairmos do relativamente geral para o

mais específico.

Tendo essa etapa finalizada seguiu-se a análise e interpretação dos resultados

apresentados no capítulo VI e discutidos, individualmente nas considerações finais.


107

CAPÍTULO VI

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

1. Classificação e categorização dos dados obtidos

Após submetermos os depoimentos (anexo 1) ao método da análise de conteúdo,

conforme descrito no capítulo V, das etapas do processo de classificação resultou obter

as classificações designadas pelas letras do alfabeto, em ordem crescente citadas abaixo:

a) sentimento de retorno do ser integral;

b) sentimento de renascimento;

c) emergência de valores do ser;

d) sentimento de segurança/confiança;

e) mudança no relacionamento interpessoal;

f) sentimento de mudança;

g) percepção e compreensão de si;

h) manifestação da intuição;

i) ampliação da auto-percepção/consciência;

j) explicitação do sentimento de liberdade;

k) valorização do grupo;

l) mudança na vida onírica (sonhos);

m) mudança e transformação;

n) aprimoramento pessoal e profissional;

o) relação entre a prática profissional e espiritualidade;

p) inefabilidade (sem palavras);

q) sentimento de gratidão;

r) relação entre auto-conhecimento e auto-percepção transpessoal/espiritual;

s) importância da teoria/ curso como elemento organizador e estruturante;


108

t) sentimento de esperança, expectativa positiva em relação ao futuro;

u) transformação externa gerada a partir da transformação interna;

v) relação entre sentimento e sensação (corpo);

w) conexão com o sagrado;

x) conexão com o feminino;

y) conexão com o silêncio;

z)aceitação da vida/viver o presente;

aa) valorização e reconhecimento do físico como Divino;

ab) conexão com a criança divina/Interior;

ac) mais forte e preparada para enfrentar os desafios da vida;

ad) processo de cura;

ae) aprendizado contínuo;

af) processo de mudança com preservação do Eu;

ag) experiência com as sete etapas (reconhecimentos, identificação, desidentificação,

transmutação, elaboração e integração), eixo experiencial e evolutivo propostos pela

abordagem transpessoal relacionada a processo de desenvolvimento;

ah) aprendizagem intrínseca;

ai) sincronicidade;

aj) sentimento positivo pelo curso de Pós Graduação em Psicologia Transpessoal;

ak) prática da unidade na diversidade;

al) reconhecimento de aspectos internos a serem trabalhados e transformados;

am) pós graduação como processo terapêutico;

an) maior interesse no auto-conhecimento que na aplicação profissional da transpessoal;

ao) aplicação interdisciplinar da Psicologia Transpessoal;

ap) desenvolvimento do Eu observador;


109

aq) feedback de mudanças percebidas pelas pessoas com as quais convive;

ar) valorização da didática transpessoal;

as) dificuldades por entrar no curso em andamento;

at) ampliação da visão;

au) auto-conhecimento que promove mudanças saudáveis;

av) experiência/sentimento de unidade;

aw) evolução espiritual.

Logo abaixo apresentamos um quadro que aponta os depoimentos em que foi

identificada cada uma das classificações. Este quadro surgiu a partir de um quadro

inicial (anexo 2) onde está transcrita a unidade de contexto com indicação do

depoimento em que foi classificada.

Quadro da classificação
Classificação Depoimentos

a) sentimento de retorno do ser integral 2, 4, 5, 24, 27

b) sentimento de renascimento 5, 7, 13, 20


2, 7, 8, 9, 11, 13, 17, 20,
c) emergência de valores do ser 23, 24, 25, 26, 27, 29

d) sentimento de segurança/confiança 5, 6, 7, 1117, 23, 27


1, 2, 5, 6, 17, 19, 21, 24,
e) mudança no relacionamento interpessoal 25, 27,

f) sentimento de mudança 1, 11, 18, 27, 28, 29


1, 2, 3, 7, 8, 11, 14, 16,
g) percepção e compreensão de si 17, 21, 22, 23, 24, 25, 27,
28

h) manifestação da intuição 5, 27, 29

i) ampliação da auto-percepção/consciência 16, 19, 21, 25, 29

j) explicitação do sentimento de liberdade 5

k) valorização do grupo 8, 11, 12


110

l) mudança na vida onírica (sonhos) 25


2, 4, 5, 11, 15, 20, 21, 22,
m) mudança e transformação 25, 27, 28

n) aprimoramento pessoal e profissional 6, 13, 21, 24

o) relação entre a prática profissional e espiritualidade 11

p) inefabilidade (sem palavras) 11

q) sentimento de gratidão; 4, 5, 8, 11, 12, 13, 22

r) relação entre auto-conhecimento e auto-percepção 7, 9, 15, 23


transpessoal/espiritual

s) importância da teoria/ curso como elemento organizador 6, 7, 12, 15, 24, 25, 28
e estruturante

t) sentimento de esperança, expectativa positiva em relação 3, 4, 7, 8, 11, 15, 17, 21,


ao futuro 26

u) transformação externa gerada a partir da transformação 7, 20, 28


interna

v) relação entre sentimento e sensação (corpo) 8, 27

w) conexão com o sagrado 3, 8, 9, 14, 25

x) conexão com o feminino 12, 17, 19, 21, 22, 23, 26

y) conexão com o silêncio 27

z) aceitação da vida/viver o presente 2, 3, 9, 25, 26

aa) valorização e reconhecimento do físico como Divino 3

ab) conexão com a criança divina/Interior 13, 19

ac) mais forte e preparada para enfrentar os desafios da 4, 18


vida

ad) processo de cura 4, 15, 27

ae) aprendizado contínuo 2, 4

af) processo de mudança com preservação do Eu 5


ag) experiência com as sete etapas (reconhecimentos,
identificação, desidentificação, transmutação, elaboração e
111

integração), eixo experiencial e evolutivo propostos pela 1, 2, 6, 15, 19, 22, 24, 29
abordagem transpessoal relacionada a processo de
desenvolvimento;

ah) aprendizagem intrínseca 6, 20, 21

ai) sincronicidade 4, 25

aj) sentimento positivo pelo curso de Pós Graduação em 4, 12, 13, 18, 23, 26
Psicologia transpessoal

ak) prática da unidade na diversidade 4, 12

al) reconhecimento de aspectos internos a serem 7, 14, 19, 21, 23, 27


trabalhados e transformados

am) pós graduação como processo terapêutico 18, 26

an) maior interesse no auto-conhecimento que na aplicação 18


profissional da transpessoal

ao) aplicação interdisciplinar da Psicologia Transpessoal 18

ap) desenvolvimento do Eu observador 19, 20, 26

aq) feedback de mudanças percebidas pelas pessoas com as 20


quais convive

ar) valorização da didática transpessoal 20, 23, 25, 27, 29

as) dificuldades por entrar no curso em andamento 20

at) ampliação da visão 1, 16, 20

au) auto-conhecimento que promove mudanças saudáveis 15, 20 25

av) experiência/sentimento de unidade 12, 15, 16

aw) evolução espiritual 14, 17

Quadro nº 1: Quadro da classificação inicial.

A partir dos dados da enumeração alfabética acima apresentada, realizou-se um

processo de agrupamento das classificações, dando origem às categorias prévias

apresentadas abaixo, que foram enumeradas com números naturais em ordem crescente:
112

1) emergência de valores do ser com experiências de renascimento, resgatando o ser

integral (a, b, c);

2) percepção e compreensão de si (g);

3) reconhecimento de aspectos internos a serem transformados (al);

4) aspectos relacionados às relações interpessoais (e, aq);

5) mudanças e transformações (f, m);

6) mudanças pessoais (u, af);

7) processo de auto-conhecimento (ad, au);

8) mudança na vida onírica (sonhos) (l);

9) mudança na vida profissional (n, o);

10) aspectos positivos e saudáveis em relação ao curso de Pós Graduação em Psicologia

Transpessoal (aj, am);

11) importância da teoria (curso) como elemento organizador e estruturante (s);

12) valorização da didática transpessoal (ao,ar);

13) relações com processo de aprendizagem (ae, ah, an, as);

14) Experiência com as sete etapas, eixo experiêncial (REIS) e evolutivo relacionados a

processo de desenvolvimento (ag);

15) valorização do grupo (k);

16) desenvolvimento da percepção com ação do Eu observador (i, ap, at);

17) explicitação de unidade (ak, av);

18) expressão de mais força, confiança, segurança (d, ac);

19) sentimentos positivos em relação ao futuro (t);

20) aceitação da vida/viver o presente (z);

21) sentimento de gratidão (q);

22) inefabilidade, conexão com o silêncio (p, y);


113

23) experiência de conexão com corpo físico (v, aa);

24) conexão com o sagrado e evolução espiritual (w, aw);

25) relação entre auto-conhecimento e espiritualidade (r);

26) conexão com a criança Divina/Interior(ab, j);

27) conexão com o feminino (x);

27) aspectos ligados à intuição e sincronicidade (h, ai).

Obs.: as letras entre parênteses se referem à classificação que deu origem a

categoria prévia.

A seguir apresentamos um quadro que aponta os depoimentos em que foram

identificadas cada uma das categorias prévias. Este quadro surgiu a partir de um quadro

inicial (anexo 3) onde está indicado quais as classificações que deram origem a cada

categoria prévia, bem como encontra-se transcrita a unidade de contexto com indicação

dos depoimentos em que foi encontrada.

Quadro das categorias prévias


Categorias prévias Depoimentos
1) emergência de valores do ser com experiências de 2, 4, 5, 7, 8, 9, 11, 13, 17,
renascimento, resgatando o ser integral (a, b, c) 20, 23, 24, 25, 26, 27, 29
1, 2, 3, 7, 8, 11, 14, 16,
2) percepção e compreensão de si (g) 17, 21, 22, 24, 25, 27, 28
3) reconhecimento de aspectos internos a serem
transformados (al) 7, 14, 19, 21, 23,25
1, 2, 5, 6, 17, 19, 20, 21,
4) aspectos relacionados às relações interpessoais (e, aq) 24, 25, 27
1, 2, 4, 5, 11, 15, 18, 20,
5) mudanças e transformações (f, m) 21, 22, 25, 27, 28, 29

6) mudanças pessoais (u, af) 5, 7, 20, 28

7) processo de auto-conhecimento (ad, au) 4, 15, 20, 25, 27

8) mudança na vida onírica (sonhos) (l) 25

9) mudança na vida profissional (n, o) 6, 11, 13, 21, 24


10) aspectos positivos e saudáveis em relação ao curso de
114

Pós Graduação em Psicologia Transpessoal (aj, am) 4, 12, 13, 18, 23, 26
11) importância da teoria (curso) como elemento
organizador e estruturante (s) 6, 7, 12, 15, 24, 25, 28

12) valorização da didática transpessoal (ao,ar) 18, 20, 23, 25, 29

13) relações com processo de aprendizagem (ae, ah, an, 2, 4, 6, 18, 20, 21
as)

14) Experiência com as sete etapas, eixo experiencial


(REIS) e evolutivo relacionados a processo de 1, 2, 6, 15, 19, 22, 24,29
desenvolvimento (ag)

15) valorização do grupo (k); 8, 11, 12

16) desenvolvimento da percepção com ação do Eu 1, 16, 19, 20, 21, 25, 26,
observador (i, ap, at) 29

17) explicitação de unidade (ak, av) 4, 12, 15, 16

18) expressão de mais força, confiança, segurança (d, ac) 4, 5, 6, 7, 11, 17, 18, 23,
27

19) sentimentos positivos em relação ao futuro (t) 3, 4, 7, 8, 11, 15, 17, 21,
26

20) aceitação da vida/viver o presente (z) 2, 3, 9, 25, 26

21) sentimento de gratidão (q) 4, 5, 8, 11, 12, 13, 22

22) inefabilidade, conexão com o silêncio (p, y) 11, 27

23) experiência de conexão com corpo físico (v, aa) 3, 8, 27

24) conexão com o sagrado e evolução espiritual (w, aw) 3, 8, 9, 14, 17, 25

25) relação entre auto-conhecimento e espiritualidade (r) 7, 9, 15, 23

26) conexão com a criança Divina/Interior(ab, j) 5, 13, 19

27) conexão com o feminino (x) 12, 17, 19, 21, 22, 23, 26

28) aspectos ligados à intuição e sincronicidade (h, ai) 4, 5, 25, 27, 29


Obs.: as letras entre parênteses se referem à classificação que deu origem a categoria
prévia.

Quadro nº 2: Quadro das categorias prévias.


115

Dando continuidade ao processo de codificação, de forma progressiva as

categorias foram reagrupadas e agregadas por convergência e similaridade, dando

origem as categorias finais, convergindo para um material passível de interpretação com

base na análise realizada.

A seguir apresentamos as categorias finais enumeradas com números naturais

em ordem crescente:

1) emergência de valores do ser com experiências de renascimento, resgatando o ser

integral (1:a,b:c, 22:y, 26:ab, j);

2) evidência de percepção e compreensão ampliadas (auto-conhecimento) (2:g; 3:al;

16:i,ap,ay);

3) mudança no relacionamento interpessoal, emergindo sentimentos de valorização

grupal e estados de unidade (4:e,aq; 15:k; 17:ak,av);

4) mudança pessoal e profissional (transformação) (5:f,m; 6:u,af; 9:n,o);

5) validação do Curso de Pós Graduação em Psicologia Transpessoal (8:l; 11:s;

12:ao,ar; 13:al,ah,an,as);

6) referências à abordagem integrativa transpessoal (sete etapas, eixo experiencial e

evolutivo) relacionada a processo de desenvolvimento (14:ag, 23:v);

7) relação entre cura, auto-conhecimento (7:ad, au;));

8) aceitação da vida presente com postura saudável em relação ao futuro(19:t; 20:z);

9) explicitação da dimensão espiritual (23:aa, 24:w,aw; 25:r);

10) Interdependência entre virtudes do feminino e intuição (26:ab,j; 27:x; 28:h,ai);

11) emergência de valores e cognição S (ser) e expressões afetivas validando a

aprendizagem da Psicologia Transpessoal (10:aj,am; 18:d,ac; 21:q; 22:p,y; 23:v);

12) relações com o processo de aprendizagem (intrínseca e extrínseca) e interesses

relacionados com o curso (12:ar; 13:al,ah,am,as).


116

Obs.: os dados entre parênteses ao final de cada categoria equivalem aos

números, que se referem às categorias prévias que deram origem a categoria final, e as

letras, que se referem à classificação que deu origem as categorias prévias.

No quadro abaixo apresentamos as categorias finais e os respectivos

depoimentos nos quais se encontram presentes. Este quadro surgiu a partir de um

quadro inicial (anexo 4) onde está indicado quais as classificações que deram origem a

cada categoria prévia e quais categorias prévias deram origem as categorias finais, bem

como encontra-se transcrita a unidade de contexto com indicação do depoimento em foi

classificada.

Quadro das categorias finais

Categorias finais Depoimentos

1) emergência de valores do ser com experiências de 2, 4, 5, 7, 8, 9, 11, 13, 17,


renascimento, resgatando o ser integral (1:a,b,c, 22:y, 19, 20, 23, 24, 25, 26, 27,
26:ab, j) 29

2) evidência de percepção e compreensão ampliadas 1, 2, 3, 7, 8, 11, 14, 16, 17,


(auto-conhecimento) (2:g; 3:al; 16:i,ap,ay) 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25,
26, 27, 28, 29

3) mudança no relacionamento interpessoal, emergindo 1, 2, 4, 5, 6, 8, 11, 12, 15,


sentimentos de valorização grupal e estados de unidade 16, 17, 19, 20, 21, 24, 25,
(4:e,aq; 15:k; 17:ak,av); 27

4) mudança pessoal e profissional (transformação) (5:f,m; 1, 2, 4, 5, 6, 7, 11, 13, 15,


6:u,af; 9:n,o) 18, 20, 21, 22, 24, 25, 27,
28, 29

5) validação do Curso de Pós Graduação em Psicologia 6, 7, 12, 15, 18, 23, 24, 25,
Transpessoal (8:l; 11:s; 12:ao,ar; 13:al,ah,an,as) 27, 28, 29

6) referências à abordagem integrativa transpessoal (sete 1, 2, 6, 15, 19, 22, 24, 27,
etapas, eixo experiencial e evolutivo) relacionada a 29
processo de desenvolvimento (14:ag, 23:v);

7) relação entre cura, auto-conhecimento. (7:ad, au;)); 4, 15, 20, 25, 27


117

8) aceitação da vida presente com postura saudável em 2, 3, 4, 7, 8, 9, 11, 15, 17,


relação ao futuro (19:t; 20:z) 21, 25, 26,

9) explicitação da dimensão espiritual (24:w,aw; 25:r) 3, 7, 8, 9, 14, 15, 17, 23, 25

10) Interdependência entre virtudes do feminino e intuição 4, 5, 12, 17, 19, 21, 22, 23,
(27:x; 28:h,ai) 25, 26, 27,29

11) emergência de valores e cognição S (ser) e expressões 4, 5, 6, 7, 8, 11, 12, 13, 17,
afetivas validando a aprendizagem da Psicologia 18, 22, 23, 25, 26, 27
Transpessoal (10:aj,am; 18:d,ac; 21:q; 22:p,y; 23:v)

12) relações com o processo de aprendizagem (intrínseca 2, 4, 6, 18, 20, 21


e extrínseca) e interesses relacionados ao curso (12:ar,
13:al,ah,am,as)

Obs.: os dados entre parênteses ao final de cada categoria equivalem aos números, que
se referem às categorias prévias que deram origem a categoria final, e as letras, se
referem à classificação que deu origem as categorias prévias.

Quadro nº 3: Quadro das categorias finais.

2. Tratamento, inferência e interpretação dos resultados

Categoria 01 - Emergência de valores do ser com experiências de renascimento,

resgatando o ser integral

Nessa categoria observam-se processos de transformação interior com

emergência de valores humanos que se encontra em ressonância com os valores

propostos por Maslow (1996) para o homem auto-realizado, evidenciando profunda

conexão interior, resgate do que reconhece como ser essencial em si para uma vida mais

plena, revelando um novo olhar.

[...] sinto um reencontro, uma sintonia maior entre o pensar, agir e sentir [...]
ocorreu um reencontro com a minha essência [...] existe um olhar mais
tolerante, mais amoroso que julga e critica menos [...] (D2).
118

Nos depoimentos abaixo são revelados processos de transformação denominados

pelos depoentes de “renascimento”, ficando implícitas experiências de renovação

interior, com indícios de ascensão a estados saudáveis.

[...] caminhando em direção ao meu encontro com o Eu Superior [...] (D4).

[...] voltei a sentir que a vida sempre traz novas possibilidades, renasceu em
mim e nos outros [...] sinto-me resgatada [...] (D5).

[...] não sei dizer ao certo o que causou o que e quais foram todas as reais
influências do curso em si no meu processo, mas sinto que durante este
período de quase 2 anos, uma pessoa morreu em mim para que outra
completamente diferente, pudesse nascer [...] sinto-me com outra qualidade
de Ser, mais desperta, mais lúcida, mais integrada comigo mesma e
conseqüentemente, com a vida [...] é apenas um processo de crescimento, já
que estamos anos conhecer, a nos treinar para sermos cada vez melhores,
nos tornando um dia, em SUPER-HUMANOS [...] (D7).

[...] morremos e renascemos muitas vezes durante o curso e tenho claro para
mim que renasci sempre num nível mais elevado [...] foi realmente um
renascimento para uma vida mais saudável e plena [...] (D20).

Observamos nos depoimentos abaixo referência significativa à dimensão

amorosa, com expressiva conotação integradora de diferentes aspectos do ser e da vida.

[...] resgatar este olhar sem julgar mas acolhedor é resgatar amorosidade
simplicidade, harmonia e respeito pela vida que é este Presente Precioso [...]
(D8).

[...] e, como ser humano, preparado para me amar cada vez mais, me
conhecendo, e transbordando este amor ao mundo [...] (D9).

[...] que me levou para o caminho do Amor, da troca, da gratidão, da


espiritualidade [...] (D13).

[...] descobri que na partilha do amor, recebemos em dobro [...] (D17).

[...] sinto que o amor será e é o guia condutor em todas as áreas do meu
viver [...] (D24).

Referencias do resgate de valores superiores, humanização e conexão com

dimensão do essencial, correlacionadas a processo de crescimento e evolução foram

evidenciadas nos depoimentos apresentados abaixo de maneira expressiva. Nota-se a

caracterização da dimensão transpessoal onde os depoentes revelam experiências de

humanização e amorosidade.
119

[...] resgate de valores superiores, de partes essenciais de meu ser integral


das quais eu andava afastada [...] (D20).

[...] foi uma experiência de humanização [...] (D23).

[...] de um retorno à minha essência [...] sinto que o amor será e é o guia
condutor em todas as áreas do meu viver [...] (D24).

[...] sinto-me feliz porque tornei-me ainda melhor ser humano! [...] (D25).

[...] sem julgamento apenas constatando e ajustando a rota quando me vejo


desviando da minha meta que é não permitir, ou melhor só permitir que o
amor me conduza, para uma vida plena e útil, um servir vindo do coração
[...] (D26).

[...] validou o que mais de verdade estava em meu coração, me mostrando


que é possível [...] é possível amar, ser feliz, estar em paz e harmonia, que
tudo acontece para o nosso crescimento e evolução [...] (D27).

[...] todos os trabalhos, vivências, cada módulo que participei foi como se eu
recebesse mais uma parte de mim mesma que estava a ser descoberta [...] e
muito para ser revelado ao encontro cada vez mais do meu Ser Essencial de
Luz [...] (D27).

[...] consigo enxergar a humildade que desejo alcançar em cada atitude [...]
(D29).

Observou-se também a emergência de conteúdos relacionados à criança divina

como fonte original de poder e de transformação. As experiências de nascimento e

infância podem ter deixado marcas dolorosas na psique, deixando um registro de

criança ferida. Maslow (s.d.) sugere que a contenção dessa criança ferida impediria a

criança divina, espontânea, de emergir.

[...] enfim, quero continuar crescendo sem deixar de ser criança e se me


chamarem de ‘louca”, sou louca sim quero ser louca [...] (D5).

[...] ter me encontrado e me permitido a entrar em contato com a minha


criança interior, me proporcionou um resgate para a minha essência [...]
(D13).

[...] cada vez mais amorosa com minha criança e me perdoando, deixando
para trás e me abrindo para o novo [...] (D19).

Categoria 2 - Evidência de percepção e compreensão ampliada (auto-conhecimento)

Esta categoria revela de maneira significativa que a questão norteadora foi

compreendida e o pedido foi acolhido, pois observamos a natural disposição dos

depoentes em revelar suas percepções sobre como se sentem ao final do curso. E de


120

maneira geral, como podemos observar nos depoimentos abaixo, desencadeou-se uma

compreensão ampliada de si, principalmente de aspectos evolutivos.

[...] me percebo mais tranqüila, menos ansiosa, mais alerta, mais atenta no
“aqui e agora” [...] me percebo mais serena ao ter que tomar decisões, pois
vejo que qualquer que seja o caminho escolhido, este será o necessário para
trilhar o meu caminho evolutivo [...] (D1).

[...] fatos que antes me atingiam de maneira negativa, hoje eu os vejo como
oportunidade de crescimento [...] (D1).

[...] sinto-me feliz, satisfeita, completa, iniciada, capaz, corajosa, grata, leve,
enfim, poderia colocar inúmeros adjetivos para descrever a percepção desse
momento [...] (D2).

Como podemos observar nos depoimentos abaixo, é estabelecida relação direta

entre o Curso de Pós Graduação em Psicologia Transpessoal e as percepções ampliadas

e o auto-conhecimento e crescimento.

[...] quando vim fazer Transpessoal o meu desejo era me tornar “gente
grande”, assumir meu lugar em minha vida [...] descobri também que sou
aquele que se criou e se experimenta o tempo todo fingindo ter esquecido de
quem é [...] sei que em alguns momentos me lembrare