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SENADO FEDERAL

DIRETORIA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

Anais da Constituição
de 1967
DISCURSOS PRONUNCIADOS EM SESSÕES
DO SENADO FEDERAL E DA CÂMARA DOS
DEPUTADOS

3. 0 VOLUME

BRASlLIA - D. F.
1968
SENADO FEDERAL

DIRETORIA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

Anais da Constituição
de 1967
DISCURSOS PRONUNCIADOS EM SESSÕES
DO SENADO FEDERAL E DA CAMARA DOS
DEPUTADOS

3. 0 VOLUME

BRASlLIA - D. F.
1968
íNDICE DE ORADORES

SENADOR AFONSO ARINOS


(Sessão de 14-12-66) Pág.
- Louva a preocupação salutar do Presidente da República de coroar sua
passagem pela chefia do Govêrno revolucionário com a instauração de
um documento que corresponde, de fato, ao assentamento do estado de
Direito em nosso País, terminando a fase do poder arbitrário e inau-
gurando a fase do poder legal. Lembra que a Revolução de 1964 foi uma
revolução nitidamente política. Estabelece a diferença existente entre
as revoluções políticas e as revoluções de tipo social. Atribui à nossa
revolução política dois aspectos: foi uma revolução restritiva no sentido
administrativo e repressiva no sentido limitadamente político. Acentua
que a restrição e a repressão, no caso brasileiro, não se poderiam exercer
num estado de Direito. Concorda em que vivemos, durante dois anos,
em uma era de arbítrio revolucionário, constituindo a remessa do Pro-
jeto de Constituição ao Congresso, intenção manifesta de se pôr têrmo
a essa era. Antes de entrar na matéria do Projeto pràpriamente dito,
caracteriza os tipos de constituições em função das situações políticas.
Apresenta-as sob as categorias de constituições-suma e constituições-
instrumento. Define-as, analisa-as. Aponta como exemplos de Constitui-
ções-instrumento as Constituições do Brasil de 1824 e 1937. Aponta como
constituição-suma a de 1946. Discorre sôbre o movimento civilista di-
rigido pelo Conselheiro Rui Barbosa, face a aparte do Senador Aloysio
de Carvalho. Considera o Projeto uma Constituição-instrumento, des-
tinada a compendiar tôda a carga de dinamismo da revolução e acrescenta
que a Constituição-Instrumento tem, nesta hora, a importância de
manifestar o empenho do Presidente da República em passar ao seu
sucessor um Estado de Direito. A aparte do Senador Josaphat Marinho
sôbre a institucionalização do arbítrio pelo Projeto, acentua que certa
dose de arbítrio é inerente a todo documento político. Faz restrições,
entretanto, ao Ato Convoca tório. Diz ser fato inédito na História
Constitucional do Brasil reunir-se o Congresso Nacional· com podêres
constituintes, tendo seu sistema de trabalho limitado pelo Poder
Executivo, mas justifica a circunstância excepcional que reconhece ser
devida, menos à intenção do Govêrno do que ao processamento anterior
que o colocou nesta alternativa.
(D.C.N. -Sessão I I - 15-12-66, pág. 6.409) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
(Sessão de 15-12-66)
- Afirma que as condições especiais em que foi elaborado o Projeto de
Constituição multo contribuíram para os seus defeitos. Considera que
o Projeto teve uma fase de preparo estranha, eis que ficou submetido
a prazos iniciais pràticamente ilimitados e a um prazo final intrans-
ponível, o que O.eterminou um desequilíbrio entre a fase de preparação
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e a fase de ultimação. Nestas circunstâncias, concorda em que o Con-
gresso não tem condições para intervir de forma eficaz na tramitação
da Carta Constitucional. Refere-se ao fato de o Ministro da Justiça, na
introdução ao Projeto, haver salientado a incumbência do Congresso no
sentido de discutir e votar o mesmo projeto, omitindo-se quanto à com-
petência para modificá-lo ou emendá-lo. Quanto ao Texto, considera-o
como o produto, não de uma síntese, mas de uma soma inorgânica de
uma série de reivindicações e de uma série de opiniões, além de criticar-
lhe a indigência total no que tange à linguagem. Aponta a inexistência
de uma série de princípios comuns de Filosofia do Direito, de Ciência
Política, de Teoria do Estado - que levassem a um desenvolvimento con-
seqüente e alude à falta de um núcleo de pensamento comum. Afirma
que, dada a inexistência de unidade na concepção e desenvolvimento
do raciocínio que preside a confecção do Projeto, é êle contraditório
consigo mesmo. Aponta como contradição básica a que existe entre o
poder civil e o poder militar. Chama a atenção de civis e militares no
sentido de que, num sistema democrático, não há contradição entre poder
político, poder civil e poder militar, mas existe um só poder que é o do
Estado. Define o poder e tece considerações em tôrno da definição apre-
sentada. Discorre, longamente, a respeito da participação militar na
orientação política civil e a explica como a resultante de um apêlo de
facções civis que, incapazes de resolver juridicamente os problemas in-
ternos do País, recorrem à intervenção das fôrças militares. Entende
que o trabalho político do Congresso deve ter como meta construir
aquêle tipo de instituição que supere essa divergência e que faça do
poder civil e do poder militar dois ramos de um só poder - o poder
jurídico nacional.
m.c.N. - Sessão 11 - 16-12-66, pág. 6.425) .. .. .. .. .. .. . . . . . . . . .. .. . 40
(Sessão de 16-12-66)
- Tece comentários sôbre as revoluções políticas e deduz que o Projeto
de Constituição expressa a evolução natural dêsse tipo de revoluções
que se caracterizam, na primeira etapa, pela absorção do poder po-
lítico, na função executiva ou, como manifestação dessa absorção,
pelo domínio do Executivo sôbre o Legislativo. Declara que o texto que,
por um lado, diminui consideràvelmente as atribuições do Legislativo,
a sua iniciativa, o seu poder de contrôle, por outro lado, mantém a in-
tegridade das atribuições do Poder Judiciário. Não deixa, entretanto,
de expressar que, no terreno da competência dêsse Poder e de acôrdo
com as tradições do nosso Direito, houve certas distorções. Alude: a
recriminações levantadas contra os podêres de fiscalização do Tribunal
de Contas; a atribuições especiais concedidas ao Supremo Tribunal
Federal, como, por exemplo, a de se manifestar sôbre as decisões to-
madas pela Justiça Militar, em relação a acusados civis. Neste par-
ticular, manifesta-se favorável, se bem que declare a inovação con-
trária à nossa tradição jurídica. Focaliza a participação do Supremo
Tribunal Federal em decisões sôbre cassações de direitos políticos,
acentuando que o que pode ser incriminado não é, propriamente, a
participação do Tribunal, mas a extensão do processo cassatório, a am-
pliação dêsse poder de policia política. Encarando os fatôres referentes
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ao Poder Executivo, diz aparecer aí a primeira grande contradição do
texto: o fortalecimento do Executivo, a transformação dêle em poder
oligárquico, em poder emanado de uma eleição indireta. Assinala que se
vai instituir no Brasil um sistema de govêrno oligárquico, e que a elei-
ção para Presidente da República será uma eleição "menos que censi-
tária", uma eleição saída de um eleitorado composto de um colégio elei-
toral, constituído de uma oligarquia para manter o predomínio de uma
situação militar. Respondendo a aparte do Senador José Guiomard,
discorre sôbre a eleição do Presidente da República dos Estados Unidos
da América, dizendo não ser adotada naquele País a eleição indireta.
Aponta, em seguida, outros aspectos negativos do Projeto, tais como: a
fragilidade política do Executivo, porque investido de mandato que a
Nação não reconhece e a contradição entre o autoritarismo político
e o liberalismo econômico. Entende que a filosofia do capitalismo pro-
gressista está ausente do Projeto; que a filosofia do Projeto o leva a
proibir a intervenção supletiva do Estado desde que corretiva. Chama
a atenção da Casa para o art. 157, § 8.0 que, no seu entender, põe
em risco a PETROBRAS. Manifesta-se pela manutenção do monopólio
estatal, com o aprimoramento da administração do aludido regime.
<D.C.N. - Sessão II - 17-12-66, pág. 6.447) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
(Sessão de 19-12-66)
- Analisa a importância do capítulo dos direitos e garantias individuais,
quer no sistema das Constituições escritas do ponto de vista técnico,
quer no Direito Constitucional democrático, sob o ponto de vista ju-
rídico. Transmite o conceito de "Direito da Constituição". Remonta
ao Cristianismo onde encontra a primeira afirmação concreta da idéia
da existência dos direitos do homem contra o Estado. Acompanha esta
idéia no decurso da evolução do pensamento político. Apresenta re-
flexões sôbre a noção de liberdade citando Platão, Aristóteles e Cícero
e depois Santo Tomás. Focaliza a idéia de uma declaração de direitos
e se reporta à tradição do pensamento anglo-saxônico e à Revolução
Francesa. Refere-se à diminuição da ilimitada acepção de certos direi-
tos, mais sociais do que humanos, em função da configuração de um
quadro em que os direitos se apresentam em número menor, sendo,
entretanto, mais bem definidos e mais bem defendidos no direito de-
mocrático. Respondendo a aparte do Senador José Ermí.rlo, apresenta
esclarecimentos sôbre a diferença entre as Constituições Brasileira e
Americana. Passa a analisar o art. 149 do Projeto em que vê apenas
um ponto de partida da noção de declaração de direitos individuais,
mas repudia a técnica utilizada pelo Projeto, a qual, no seu entender,
não pode subsistir. Esclarece que ali não se reconhece o caráter au-
to-aplicável de nenhum direito, quando entre os direitos públicos in-
dividuais há numerosos que são auto-aplicáveis. Exemplifica com a in-
violabilidade do domicílio e aponta as graves possibilidades que nesse
setor poderão surgir, face à técnica adotada. Alude a outros direitos
que poderão também ser violados, referindo-se em particular à liber-
dade de imprensa. Acentua que a técnica empregada pelo Projeto criará
a figura legal é jurídica, mas repugnante, da censura prévia, que nunca
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existiu no nosso Direito. Mostra que a técnica da sujeição dos textos
constitucionais aos azares da legislação ordinária sempre foi repelida
pelo nosso Direito Público.
(D.C.N.- Sessão l i - 20-12-66, pág. 6.461) . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . 67
(Sessão de 20-12-66)
- Analisa o capítulo do Projeto de Constituição que trata dos direitos e
das garantias individuais. Critica acerbamente o art. 151 do Projeto.
Passa a analisar o capítulo do estado de sítio. Aponta as possibili-
dades existentes no Projeto, de se limitarem os direitos individuais;
chama a atenção para o § 3.0 do art. 152 onde, por sugestão do orador,
foram limitadas ao estabelecido em lei as medidas que poderão ser
adotadas pelo Presidente da República na vigência do estado de sítio.
Salienta que o art. 151 e o § 3.0 do art. 152 constituem duas inova-
ções do Projeto, no capítulo do estado de sítio; respondendo a aparte
do Senador Aloysio de Carvalho, detém-se sôbre o art. 206 da Cons-
tituição de 1946; refere-se à liberdade de reunião e de associação. Passa
a discorrer sôbre os podêres de emergência. Reporta-se ao art. 16 da
Constituição Francesa atual. Critica o fato de, no Projeto, o problema
da emergência ter ficado restrito ao problema da ordem, uma vez que,
segundo o Direito Constitucional, êsses podêres de emergência são, mui-
tas vêzes, podêres de outra natureza, que nada têm a ver com a de-
sordem. Cita, como exemplo, o poder de emergência parlamentar, exis-
tente na Constituição alemã de Bonn. Apela para o Senado no sentido
de que tome conhecimento de emenda de sua autoria que visa à ins-
tituição do govêrno parlamentar no Brasil. Salienta que o problema
do País é a transferência do poder político e que as mentalidades ju-
rídicas e políticas devem encontrar a solução, a fim de que ela se
faça legítima e pacificamente. Defende o sistema parlamentar e expõe
as características da emenda apresentada.
(D.C.N. - Sessão l i - 21-12-66, pág. 6.492) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
DEPUTADO ANIZ BADRA
(Sessão de 14-12-66)
- Lê estudo de juristas de São Paulo relacionado com a reforma da
Constituição, no Capítulo referente ao Tribunal Regional Eleitoral.
m.c.N.- sessão I - 15-12-66, pág. 7.179) . .. . .. .. .. .. . .. .. .. .. . .. .. 137
DEPUTADO ANTONIO BRESOLIN
(Sessão de 17-12-66)
- Tece críticas ao Projeto de Constituição considerando que alguns de
seus dispositivos ferem as liberdades fundamentais da criatura huma-
na. Protesta contra a não-percepção de remuneração pelos vereadores
consignada no § 2. 0 do art. 15 e alude a emenda de sua autoria, que
visa à supressão do referido parágrafo. Refere-se à necessidade de
simplificação da legislação concernente a estrangeiros no País, assunto
sôbre que pretende oferecer emenda, a fim de facilitar-lhes a natura-
lização. Discorre sôbre os problemas da fronteira Sudoeste e põe em
relêvo a necessidade da destinação de recursos para essa região, co-
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municando que apresentará emenda obrigando o Govêrno Federal a
aplicar, em favor dela, anualmente, durante o prazo de 20 anos, quantia
não inferior a 1% de sua renda tributária.
m.c.N. - Sessão I - 18-12-66, pág. 7. 328) . . .. .. .. .. .. .. .. . .. .. .. .. . 141

(Sessão de 6-1-67)
- Defende emendas ao Projeto de Constituição. Uma, restabelecendo a
remuneração para os Vereadores; outra, que visa a facilitar a natura-
lização do estrangeiro, e uma terceira, obrigando o Govêrno a aplicar,
anualmente, quantia não inferior a 1% de suas rendas tributárias,
para execução dos planos da Superintendência do Plano de Valorização
Econômica da Região Fronteira do País. Registra informação segundo
a qual a Comissão Especial teria decidido que a matéria relativa à re-
muneração dos vereadores seria regulada em lei especial. Refere-se à
legislação atinente ao estrangeiro residente no País; alude à Lei da
Faixa de Fronteiras e aponta os prejuízos que a legislação acarreta
àqueles que ali residem. Discorre sôbre as possibilidades de recuperação
da Região Fronteira, de intensificação de sua produção e do fortaleci-
mento daquela área para tranqüilidade da população do Sul.
<D.C.N. - Sessão I - 7-1-G7, pág. 33) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151

DEPUTADO ANTUNES DE OLIVEIRA


(Sessão de 13-12-66)
- Afirma que o Projeto de Constituição não corresponde à cultura jurí-
dica, aos anseios sociais nem às necessidades econômico-financeiras do
Brasil. Reporta-se à emenda à Carta de 1946 que destina 3% da arre-
cadação total do País ao desenvolvimento da Amazônia e estranha que,
no texto do Projeto, nada exista a respeito, não só no tocante à Ama-
zônia como à Bacia do São Francisco.
m.c.N. - Sessão I - 14-12-66, pág. 7 .157) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133

SENADOR ARGEMIRO DE FIGUEIREDO


<Sessão de 19-12-66)
- Afirma que votará contra o Projeto de Constituição, não apenas por
motivos de ordem partidária ou ideológica, mas especialmente por razões
de caráter jurídico. Assinala que não se deterá na apreciação do mérito
do Projeto, uma vez que para invalidá-lo, é suficiente, a preliminar da
incompetência do Presidente da República, no tocante ao direito de
iniciativa e participação no processo de elaboração e promulgação da
nova Constituição Federal. Cita a Constituição de 194G nos seus dis-
positivos que tornam a iniciativa da emenda constitucional, atribuição
privativa do Poder Legislativo. Alega que a Revolução de 31 de março
não estruturou nova ordem jurídica, não se investiu nas atribuições de
Poder Constituinte que facultasse ao Presidente da República, a inicia-
tiva da elaboração de nova Carta, eis que manteve a Constituição de
1946, as Constituições Estaduais e próprio Congresso Nacional. Observa
que se criou uma situação jurídico-constitucional de interessante sin-
gularidade: a coexistência entre o Poder Constituinte e o Poder Cons-
X

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tituído, entre a Revolução dominante e a ordem constitucional vigente.
Confessa que, pelo Ato Institucional n. 0 1, art. 3.0 , estava a Lei Magna
sujeita a ser emendada por iniciativa do Presidente da República, mas
chama a atenção no sentido de que o referido Ato perdera a vigência,
a 31 de janeiro de 1966. Refuta o argumento de que a Revolução
teria tido continuidade e de que outros Atos poderiam ter sido editados
a partir de 31 de janeiro de 1966. Conclui pela impossibilidade de o
Congresso Nacional conhecer e processar o Projeto remetido pelo Pre-
sidente da República.
(D.C.N.- Sessão l i - 20-12-66, pág. 6.465) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
(Sessão de 5-1-67)
- Argumenta que o Presidente da República, tendo enviado ao Congresso
nôvo projeto de Constituição, eximiu-se da responsabilidade dos pe-
cados que lhe pudessem atribuir. Assinala que "se a Carta, na ver-
dade, não vem em ordem, se a Carta, na verdade, não consulta prin-
cípios normais da Democracia e não respeita as altas prerrogativas do
Congresso Nacional e mais, atenta contra direitos individuais e é con-
traditória no seu conteúdo, a responsabilidade não cabe ao Sr. Pre-
sidente da República." "Perante a História, à Câmara e ao Senado cabe
a responsabilidade pela aprovação da Carta Constitucional - boa ou
má - pela sua promulgação para restabelecer a ordem jurídico-cons-
titucional no País." Afirma que quem examina o projeto verifica as
maiores contradições, os maiores atentados, as anomalias mais eviden-
tes. Condena: a eleição indireta para o Presidente da República; a
nomeação de prefeitos para as Capitais dos Estados; a gratuidade da
função de Vereador; a exclusão de dispositivo constitucional que obri-
gava a União a empregar certa percentagem da renda tributária na
defesa dos nordestinos, contra os efeitos das secas; a exclusão de dis-
positivo concernente ao desenvolvimento da Amazônia.
<D.C.N. - Sessão li - 6-1-67, pág. 13) .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 101

DEPUTADO ARGILANO DARIO


(Sessão de 14-12-66)
- Anuncia a apresentação de emendas ao Projeto de Constituição. Uma
delas concedendo autonomia às Capitais dos Estados; outra, prevendo
a remuneração para os Vereadores em tôdas as cidades do Brasil.
<D.C.N.- Sessão I - 15-12-66, pág. 7.176) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
(Sessão de 5-1-67)
- Critica o nôvo Projeto de Constituição, cujas premissas diz constituírem
uma seqüência do tratamento dispensado pelo Govêrno ao País. Refe-
re-se a modificações operadas nas áreas econômicas e sociais da Nação,
em detrimento das conquistas obtidas nessas áreas. Menciona o ser-
vidor público e a diminuição de sua capacidade aquisitiva. Defende o
ponto de vista de que o Presidente da República e os Prefeitos das
capitais dos Estados devem ser eleitos pelo povo. Reivindica o res-
tabelecimento da remuneração do Vereador.
(D.C.N. - Sessão I - 6-1-67, pág. 12) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
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SENADOR AURÉLIO VIANNA
<Sessão de 29-11-66)
- Afirma que defenderá a tese de que a Oposição deverá participar do
processo de elaboração da nova Carta da República, mas condenará a
sua colaboração com os atuais detentores do Poder. Assinala, ainda,
que a Oposição vem pleiteando sejam eliminados, do Ato Institucional
n.0 2, os artigos 14 e 15, porque representam uma ameaça, garroteiam
a liberdade do constituinte no período de elaboração constitucional.
Critica o voto a descoberto. Declara que a Oposição pleiteará, não a
aceitação de suas reivindicações, mas o direito de emendar, de defender
suas emendas, o direito de serem elas discutidas, aprovadas ou rejeita-
das, mas dentro de um processo democrático legítimo.
m.C.N. - Sessão li - 30-11-66, pág. 6. 327) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
DEPUTADO BENJAMIN FARAH
<Sessão de 13-12-66)
- Anuncia e justifica a apresentação de emenda ao Projeto de Cons-
tituição, a fim de conceder aos servidores públicos a aposentadoria aos
30 anos de serviço.
m.C.N.- Sessão I - 14-12-66, pág. 7.153) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
(Sessão de 5-1-67)
- Congratula-se com os servidores civis eis que, a emenda de sua au-
toria sôbre a aposentadoria aos 30 anos de serviço recebeu parecer fa-
vorável da Comissão Constitucional. Refere-se à pesquisa levada a
efeito pelo IBGE e à transferência dos militares para a reserva, itens
que falam a favor da aprovação da emenda, também, pelo Plenário.
<D.C.N.- Sessão I - 6-1-67, pág. 7) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
(Sessão de 9-1-67)
- Congratula-se com o funcionalismo civil, pelo acolhimento que a Gran-
de Comissão Constitucional deu à emenda que dispõe sôbre a efetiva-
ção de funcionários que contem ou venham a contar cinco anos de
exercício.
<D.C.N. - Sessão I - 10-1-67, pág. 74) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156
(Sessão de 11-1-67)
- Tece considerações a respeito da Emenda n. 0 2, de sua autoria, que
concede aposentadoria aos servidores civis, aos 30 anos de exercício
e assinala que o Movimento Democrático Brasileiro tomou posição fa-
vorável à mesma em recente Convenção. Esclarece que a emenda é
pertinente aos artigos 98 e 99 do Projeto, lamentando a rejeição, pela
Comissão Especial, da parte que tange ao art. 98, referente à aposen-
tadoria dos funcionários civis aos 30 anos de serviço.
<D.C.N. - Sessão I - 12-1-67, pág. 146) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 160
DEPUTADO BRtGIDO TINOCO
(Sessão de 27 de abril de 1966)
_ Considera a Carta de 1946 alheia à realidade brasileira. Alude à Co-
missão de Juristas encarregada de concretizar a consolidação cons-
titucional e pronuncia-se pela convocação de uma Constituinte. De-
XII

Pág.
clara que as leis que circundam as instituições de um povo devem
ser modeladas em consonância com os hábitos e a formação das so-
ciedades em que atuam. Alega que temos, sempre, copiado normas
legais tanto da Europa como da América do Norte, o que nos tem man-
tido em marginalismo jurídico. Aponta nossos erros relativamente à
concepção de nossas leis desde o Brasil-Colônia até a Constituição Re-
publicana e tece considerações e cita exemplos em tôrno das conse-
qüências dêsses erros. Faz uma análise de tôdas as Constituições Brasi-
leiras. Critica-as, considerando-as afastadas da nossa realidade social.
Apresenta sugestões aos elaboradores da reformulação constitucional.
(D.C.N. - Sessão I - 28-4-66 - Suplemento ao n. 0 54, pág. 6) . . . . . . . . 4
DEPUTADO CARVALHO SOBRINHO
(Sessão de 20-12-66)
- Comenta as omissões do nôvo Projeto de Constituição e lê cartas onde
são formuladas críticas ao mesmo Projeto.
<D.C.N.- Sessão I - 21-12-66, pág. 7.413) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
DEPUTADO CESARIO COIMBRA
(Sessão de 23-8-66)
- Apela ao Presidente da República para manter no nôvo projeto de
Constituição, o artigo 153 incluído na nossa atual Carta Magna pelo
Dr. Artur Bernardes, a fim de evitar que o País sofresse a influência
da ação de companhias estrangeiras.
<D.C.N.- Sessão I - 24-8-66, pág. 5.326) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
DEPUTADO CLóVIS PESTANA
(Sessão de 19-12-66)
- Demonstra sua grande tristeza, ao constatar que o Projeto de Cons-
tituição não aborda o tema do planejamento, nem toma posição clara
relativamente à luta contra o subdesenvolvimento.
m.C.N. - Sessão I - 20-12-66, pág. 7 .368) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
DEPUTADO CUNHA BUENO
(Sessão de 13-12-66)
- Deixa consignado nos Anais o seu protesto pela fórmula regimental en-
contrada para a tramitação do Projeto de Constituição.
<D.C.N. - Sessão I - 14-12-66, pág. 7 .157) . . . .. . . . . . . . . . . . .. . . .. .. . . 133
DEPUTADO DERVILLE ALEGRETTI
(Sessão de 19-9-66)
- Comenta a posição do Presidente da República, contrária à revogação
dos artigos 14 e 15 do Ato Institucional n.0 2, durante o período de
discussão da Reforma Constitucional. Entende que, cerceado o direito
dos Srs. Congressistas, de alterar a nova Constituição, o melhor sEria
que o Congresso fechasse suas portas, deixando o Brasil à mercê do
Presidente Castello Branco.
m.c.N. - Sessão I - 20-9-66, pág. 5. 931) . . . .. .. .. .. . . . . .. .. . . .. .. . 17
XIII

Pág.
DEPUTADO DIAS MENEZES
(Sessão de 20-12-66)
- Rende homenagens ao Dr. Francisco de Paula Vicente de Azevedo
pelo ~trtigo, intitulado "O Fim da Federação", publicado no Diário de
São Paulo, em que o autor critica o Projeto de Constituição.
m.C.N. - Sessão I - 21-12-66, pág. 7. 414) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1'16
SENADOR EDMUNDO LEVI
(Sessão de 6-1-67)
- Assinala que o atual Projeto de Constituição tem o propósito de des-
truir o sistema federativo brasileiro, apontando o art. 28 do Projeto,
como um atestado dêsse propósito, eis que, aí, se muda o nome do
Senado Federal, para Senado da República. A seguir faz um histórico
das riquezas e dos problemas da Amazônia. Reclama, veementemente,
a ausência de recursos, no texto constitucional, para o Plano de Va-
lorização Econômica dessa Região, chamando a atenção para o fato
de não constar do Projeto o dispositivo 196 da Carta em vigor. Analisa
os conseqüentes e funestos efeitos dessa omissão sôbre a SUDAM,
sôbre a Operação Amazônica lançada pelo próprio Govêrno. Critica o
art. 20, I, do Projeto, sôbre a instituição de tributos pela União e propõe
emenda que ressalve, neste particular, as peculiaridades sócio-econômi-
cas das diferentes regiões. Conclama as Bancadas da Amazônia e do
Nordeste no sentido de se unirem para obter, na Carta em elaboração,
dispositivo equivalente ao da Constituição de 1946.
m.C.N. -- Sessão II - 7-1-67, pág. 17) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
DEPUTADO EUCLIDES TRICHES
(Sessão de 9-1-67)
- Manifesta seu ponto de vista contrário à gratuidade do mandato dos ve-
readores. Aponta o exemplo dos grandes Municípios onde as Câmaras dos
Vereadores se assemelham, em suas funções, a certas Assembléias Es-
taduais. Indaga de como poderiam os Vereadores abandonar suas ati-
vidades particulares para exercer cargo público gratuito. Antevê a pos-
sibilidade de a vereança passar a ser prerrogativa dos ricos, com o
conseqüente afastamento dos pobres dessa alta missão na vida de-
mocrática do País. Prevê, também, o afastamento da Câmara de Ve-
readores, dos homens residentes no interior dos Municípios, eis que os
gastos com transportes e refeições lhes tornariam impossível o exercício
da função gratuita. Manifesta-se pela emenda que restabelece os
subsídios para os Vereadores.
(D.C.N. - Sessão I - 10-1-67, pág. 76) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156

DEPUTADO EURICO DE OLIVEIRA


(Sessão de 13-12-66)
- Anuncia à Casa a apresentação de quatro emendas ao Projeto de Cons-
tituição: a primeira, anexando Brasília ao Estado de Goiás, como sua
capital efetiva; a segunda, tornando obrigatório para as mulheres,
XIV

Pág.
entre 18 e 25 anos, um estágio, em hospitais e casas de saúde, a fim
de se fazerem enfermeiras socorristas de emergência; a terceira, sôbre
o combate ao desemprêgo e a quarta, sôbre a socialização da medicina.
(D.C.N.- Sessão I - 14-12-66, pág. 7.155) .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 131
DEPUTADO EWALDO PINTO
(Sessão de 13-12-66)
- Critica a eliminação da gratuidade do ensino superior, que fica restrito
à concessão de bôlsas no nôvo Projeto de Constituição. Manifesta-se
pela ampliação da rêde de escolas oficiais com ensino inteiramente
gratuito para todos os graus. Aplaude, porém, o art. 168 do projeto
que garante a liberdade de cátedra.
(D.C.N. - Sessão I - 14-12-66, pág. 7 .152) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
(Sessão de 13-12-66)
- Critica a eleição indireta para o Presidente da República; a volta
do regime de nomeação de prefeitos para as Capitais e a subordinação
da nomeação dos Prefeitos dos Municípios declarados de interêsse para
a segurança nacional à prévia aprovação do Presidente da República.
<D.C.N. - Sessão I - 14-12-66, pág. 7 .158) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
(Sessão de 14-12-66)
- Reclama a ausência, no nôvo projeto, de quota constitucional para a
aplicação no desenvolvimento do ensino e da cultura. Lamenta que, de
acôrdo com o texto do Projeto, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
nicípios estejam desobrigados da aplicação de parcela de sua arreca-
dação em função dêsses setores fundamentais. Aponta o exemplo de
diversos países que consideram a pesquisa científica e tecnológica como
objetivo máximo. Assinala que é sua intenção incluir dispositivo que
restabeleça a vinculação existente na Constituição de 1946, ampliando
a percentagem de 10 para 12%, destinada ao desenvolvimento do ensino,
da educação, como também, estabelecer a vinculação de 2% para a
aplicação na pesquisa científica e tecnológica.
<D.C.N. - Sessão I - 15-12-66, pág. 7 .157) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
<Sessão de 20-12-66)
- Critica a omissão do Govêrno do Estado de São Paulo, no momento em
que se discute uma Constituição para a República.
<D.C.N. - Sessão I - 21-12-66, pág. 7 .413) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
(Sessão de 6-1-67)
- Deplora a decisão da Comissão Constitucional, rejeitando a emenda que
visa a manter a autonomia dos Municípios das Capitais. Tacha de re-
trógrado o dispositivo do Texto e o considera equivalente à cassação
dos direitos de milhões de brasileiros. Diz acalentar esperanças no
sentido de que, por ocasião da votação do Plenário, o dispositivo do
Projeto seja rejeitado, mantendo-se a autonomia dos Municípios das
Capitais e das estâncias hidrominerais.
<D.C.N. - Sessão I - 7-1-67, pág. 31) .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 150
XV

Pág.
(Sessão de 6-1-67)
- Considera tecnicamente desaconselhável a receita vinculada, entre-
tanto, aceita-a, tendo em vista a falta de sensibilidade dos nossos go-
vernos às necessidades do País. Refere-se, especialmente, ao problema
da educação e neste sentido defende emendas ao Projeto. A primeira,
visando a manter a vinculação para a aplicação no desenvolvimen-
to do ensino; e a segunda, estabelecendo outra vinculação com o obje-
tivo específico de aplicação no desenvolvimento da pesquisa científica
pura e aplicada.
(D.C.N.- Sessão I - 7-1-67, pág. 59) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156

DEPUTADO FLôRES SOARES


(Sessão de 13-12-66)
- Sustenta a preliminar da inoportunidade e da inexistência de clima,
de ambiente, para a elaboração constitucional. Protesta contra a usur-
pação do Poder Executivo, determinando normas ao Congresso Na-
cional para a tramitação do projeto de Constituição que qualifica de
totalitário. Opina no sentido de que se faça a nova Constituição com
o nôvo Presidente eleito, com o nôvo Congresso, com o povo.
m.C.N. - Sessão I - 14-12-66, pág. 7 .153) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128

DEPUTADO FRANCELINO PEREIRA


(Sessão de 30-11-66)
- Reclama a publicação imediata do nôvo Projeto de Constituição antes
de sua remessa ao Congresso, a fim de que se inicie um amplo debate
sôbre o assunto e a matéria possa atender tanto quanto possível às
aspirações do povo brasileiro.
m.C.N. - Sessão I - 1-12-66, pág. 7. 076) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
(Sessão de 13-12-66)
- Solicita o apoio dos Srs. Congressistas para a emenda que vai apre-
sentar ao Projeto de Constituição, no sentido de que o Govêrno con-
tinue obrigado a traçar o plano de aproveitamento total das possibili-
dades econômicas do Rio São Francisco.
m.C.N. - Sessão I - 14-12-66, pág. 7 .153) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130

DEPUTADO GERALDO FREIRE


(Sessão de 19-8-1966)
- Em aparte ao Deputado Getúlio Moura, afirma ser a Comissão de Juris-
tas composta de homens dos mais eminentes e dos mais conspícuos que
temos tido no Brasil. Presume que obteremos, se não uma Constituição
perfeita, pelo menos a que mais se aproxime da perfeição, dentro das
contingências humanas. Enaltece os propósitos do Presidente da Re-
pública lembrando que, num processo revolucionário, é o primeiro a se
apressar em fazer com que o País reencontre os caminhos normais da
constitucionalidade.
m.c.N. - Sessão I - 20-8-66, pág. 5 .196) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
XVI

Pág.
DEPUTADO GETúLIO MOURA
(Sessão de 19-8-66)
- Combate a exigüidade de tempo para a elaboração de uma nova Cons-
tituição que afirma não ser documento que se possa elaborar para aten-
der a situações de emergência. Analisa as Constituições da República,
dizendo que na Carta de 1946, havia preocupação de justiça social.
Confessa estar inquieto quanto ao sentido da nova Carta, face à de-
claração do Senhor Ministro da Justiça de que o Projeto da Comissão
de Juristas seria revisto pelo Poder Executivo e de que a redação final
seria dada pelo Ministério da Justiça. Teme a desfiguração do Projeto
pelo Poder Executivo. Rejeita a idéia de uma Carta outorgada, mas a
considera menos penosa do que a da tramitação do Projeto num Con-
gresso sem meios para imprimir-lhe o verdadeiro sentido democrático.
Receia que a futura Carta não reflita a realidade brasileira mas, tão-
sàmente, a diretiva do Poder Executivo. Apela ao Presidente da Re-
pública no sentido de que o Projeto seja submetido aos novos repre-
sentantes do povo, eleitos no dia 15 de novembro. Lamenta que o atual
Congresso seja pressionado a aceitar, homologar e promulgar a Carta
em elaboração. Apela para que a Revolução, que considera improfícua,
ajude pelo menos os constituintes no estudo e aprovação de uma
Carta capaz de bem orientar os destinos do Brasil. Finaliza dizendo
esperar que essa Constituição não reflita os erros dos atos institucionais
e complementares e possa atender, pelo menos em parte, os anseios de
liberdade, de justiça social, que são os anseios legítimos do povo bra-
sileiro.
<D.C.N.- Sessão I - 20-8-66, pág. 5.195) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
(Sessão de 29-11-66)
- Tece considerações face à convocação extraordinária do Congresso Na-
cional para elaborar a nova Carta, apoiando-se em noticiário do jornal
O Estado de São Paulo. Refere-se, de inicio, ao problema da Presidên-
cia do Senado, deduzindo, pelo noticiário em aprêço, que os trabalhos
da Constituinte seriam dirigidos por nova Mesa. Enaltece, no ensejo,
a figura do Presidente Moura Andrade. Ressalta, em seguida, que o
Govêmo, atribuindo ao Congresso podêres constituintes, retira-lhe a
faculdade de legislação ordinária o que deixa o Presidente da República
de mãos livres para continuar a expedir decretos-leis. Critica o prazo
concedido ao Congresso para apresentar emendas a uma constituição,
considerando-o irrisório em face daquele concedido à Comissão de Ju-
ristas. Admite a hipótese de a Oposição participar da elaboração cons-
titucional, salvo se o Govêmo houver estabelecido normas que tomem
inócuos os esforços no sentido de melhorar o texto do Projeto. Tece
considerações sôbre as principais normas que presidirão a reforma cons-
titucional, nos têrmos do noticiário publicado pelo O Estado de São
Paulo: a atribuição ao Congresso de podêres constituintes; a atribui-
ção de funções legislativas ao Executivo no período destinado à elabo-
ração constitucional; o prazo concedido ao Congresso para o estudo da
nova Carta; a aprovação automática do Projeto, na hipótese de o
Congresso não votar a Constituição até o término da convocação. Volta
XVII

Pág.
a discorrer sôbre a possibilidade de eleição de Mesa especial para dirigir
os trabalhos, ainda segundo a apreciação de O Estado de São Paulo,
considerando que, de acôrdo com aquêle órgão da imprensa paulista, o
Senador Auro Moura Andrade estaria condenado por haver preferido
ater-se às normas constitucionais e regimentais, a subordinar-se aos
interêsses políticos do Govêrno. Prevê a instalação, no País, de um re-
gime de fôrça institucionalizado por uma Carta. Diz ter o Govêrno
optado pelo atual Congresso para a votação do Projeto, por temer que
os novos Deputados apresentem idéias outras que não as dêle, Govêrno,
e porque dêste Congresso logrou medidas contrárias às nossas tradições
republicano-liberais. Conclama os congressistas no sentido de resisti-
rem a tôda e qualquer espécie de coação, a fim de que a nova Cons-
tituição represente, pelo menos, algo de melhor que o atual estado de
fato.
(D.C.N.- Sessão I - 30-11-66, pág. 7.001) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
(Sessão de 6-1-67)
- Argumenta que o atual Congresso, não tendo recebido podêres cons-
tituintes, não poderia votar uma Constituição e que tais podêres po-
deriam ter sido dados ao Congresso pelo Presidente da República, se
fôsse sua intenção fazer votar um texto necessário à continuidade de-
mocrática no Brasil.
<D.C.N. - Sessão I - 7-1-67, pág. 32) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
(Sessão de 7-1-67)
- Tece considerações sôbre o Projetá de Constituição. Apela aos Srs.
Congressistas para que aprovem emenda relativa à valorização dos Mu-
nicípios da Baixada Fluminense, apontando as necessidades da região.
Assinala que a boa técnica repudia as vinculações constitucionais em
matéria de verbas, mas considera que a prática, no Brasil, tem de-
monstrado o contrário. Afirma que o Projeto lhe merece reservas sob
os aspectos político, jurídico e econômico e apela no sentido de que,
ao menos, se procure salvar os recursos destinados à Amazônia, ao
Nordeste, ao sul do País e à Baixada Fluminense. Analisa a impor-
tância do Rio Paraíba, relativamente à Baixada Fluminense e chama
a atenção para o abandono a que tem sido relegado. Volta a criticar o
Projeto taxando-o de documento autoritário. Conclama as Bancadas
do Norte e do Sul, a fim de se unirem para que alguma coisa se salve
em benefício do povo brasileiro.
(D.C.N.- Sessão I - 8-1-67, pág. 58) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154

DEPUTADO HUMBERTO EL-JAICK


(Sessão de 17-8-66)
- Afirma que, se o Senhor Presidente da República garantir que o Con-
gresso não vai referendar uma Carta outorgada e que a participação dos
Congressistas nesses trabalhos será para ajustar a nova Constituição
à realidade nacional, o MDB estará pronto a prestar a sua colaboração
leal e desinteressada.
(D.C.N. - Sessão I - 18-8-66, pág. 5.024) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
XVIII

Pág.
DEPUTADO JAMIL AMIDEN
(Sessão de 19-12-66)
- Anuncia a apresentação de emenda ao Projeto de Constituição asse-
gurando ao funcionário público e autárquico, ex-combatente da Fôrça
Expedicionária Brasileira, do 1.0 Grupo de Caça da Fôrça Aérea Bra-
sileira, da Marinha de Guerra e Marinha Mercante, que tenha parti-
cipado da 2.a Guerra Mundial, o direito à aposentadoria após 25 anos
de serviço e demais vantagens previstas na legislação em vigor, à data
da promulgação da nova Carta.
m.C.N. - Sessão I - 20-12-66, pág. 7 .372) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
DEPUTADO JOÃO MENDES
(Sessão de 19-9-66)
- Afirma que nem o atual ou mesmo o futuro Congresso pode transfor-
mar-se em Constituinte, pois somente o povo tem capacidade para
atribuir a seus mandatários poder constituinte. Argumenta que, assim
como o Presidente da República fêz baixar o Ato Institucional n. 0 2,
pode outorgar uma Constituição.
m.c.N. - Sessão I - 20-9-66, pág. 5. 948) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
DEPUTADO JOÃO MENEZES
(Sessão de 26-8-66)
- Comenta a confusão reinante na elaboração do nôvo Projeto de Cons-
tituição. Critica o silêncio que se fêz em tôrno do documento elaborado
pela Comissão de Alto Nível, assim como a opinião emitida por figuras
do Govêrno sôbre o mesmo documento. Entende que se cria um clima
de confusões incompatível com o debate, que acarreta a deturpação
da vida pública brasileira e determina a inquietação em todos os setores.
(D.C.N.- Sessão I - 27-8-66, pág. 5.439) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

SENADOR JOSAPHAT MARINHO


(Sessão de 29-11-66)
- Estranha a edição de um Ato destinado a regular o encaminhamento
ou a tramitação de emenda constitucional. Entende que há preceito
constitucional ou institucional regulando a matéria. Reporta-se ao
art. 217, § 2.0 da Carta de 1946, que prescreve a discussão e votação
de emenda constitucional em sessão legislativa ordinária. Lembra que
o Congresso Nacional, por um Grupo de Trabalho designado pelo Se-
nador Moura Andrade, elaborara estudo sôbre a reforma do Poder
Legislativo e que tal estudo que fôra encaminhado ao Senhor Presiden-
te da República, fixara normas referentes a emenda constitucional.
Considera que o A. I. n. 0 2/65 adotou algumas disposições dêsse es-
tudo. Conclui, quanto à tramitação de emenda constitucional, que há
preceito de ordem institucional regulando-a, inclusive no sentido de que
ela pode ter curso em sessão legislativa extraordinária. Pronuncia-se,
entretanto, pela competência soberana e exclusiva do Poder Legis-
lativo no tocante à parte adjetiva ou processual do estudo da emenda.
Prevê a hipótese de substituição da Carta de 1946, caso em que caberá
XIX

Pág.
ao Congresso capacidade plena para decidir, uma vez que estará exer-
cendo a tarefa soberana de Constituinte. Tacha de ato de subversão
o presumir-se uma Constituinte sem poder pleno de decisão.
<D.C.N.- Sessão II- 30-11-66, pág. 6.326) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
SENADOR JOSÉ CANDIDO
(Sessão de 11-1-67)
- Analisa as dificuldades do Estado do Piauí e defende emenda de sua
autoria ao Projeto de Constituição, destinando meio por cento da re-
ceita da União à valorização e ao aproveitamento do Vale do Parnaiba
<D.C.N. - Sessão II- 12-1-67 - n. 0 5, pág. 60) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
SENADOR JOSÉ ERMíRIO
(Sessão de 19-12-66)
- Critica o anteprojeto de Constituição. Declara que pontificam desa-
certos em todos os capítulos da pretendida Carta, dizendo divisar-se no
documento, tão-somente, uma pretensão retrógrada de fazer com que
o País seja um padrasto para com os próprios filhos e o doador bene-
merente para com os interêsses alienígenas. Fala sôbre o capítulo
que se refere à defesa mineral do País, que considera precária e sem
garantias para o interêsse nacional. Alude à emenda que ofereceu sôbre
a matéria. Estabelece um estudo comparativo entre o Brasil e outros
países a fim de dar uma idéia da ausência de conscientização politica
que emana do Projeto. Cita o México e suas emprêsas supernacio-
nalizadas. Respondendo a aparte do Senador Attílio Fontana, tece con-
siderações sôbre os investimentos estrangeiros no País, os quais, afirma,
só se concretizam quando há grande vantagem para os investidores.
Dá a soma atingida pelos investimentos a partir de 1959. Reporta-se
às Instruções 289, 276 e 113. Cita o exemplo da composição da Com-
panhia de Fertilizantes Ultrafertil onde o capital estrangeiro predo-
mina, apesar da Resolução do GEIQUIM. Tece considerações sôbre a
PETROBRÁS, Volta Redonda. Analisa a fragmentação da Resolução
n.o 2/66, do GEIQUIM. Volta a falar do México e do encampamento da
Azufera Pau-Americana Sociedade Anônima. Aponta o exemplo do Chi-
le relativo à compra da maioria das ações da Braden Coper Company.
Cita publicação segundo a qual minério brasileiro de exportação proi-
bida é transferido para o patrimônio de outro Govêrno e oferecido ao
mercado internacional. Refere-se ao comércio do manganês, mercúrio,
estanho, enxôfre, apresentando dados retirados de publicações norte-
americanas. Conclama os responsáveis pela feitura das leis a se unirem
em função da defesa das riquezas minerais do País. Alude à acumu-
lação de reservas no estrangeiro, além do limite da segurança nacional.
Responde a apartes dos Senadores Attílio Fontana e Aurélio Vianna.
Conclui com referências elogiosas ao Líder do Govêrno, Senador Daniel
Krieger, pela maneira como se desencumbe de suas responsabilida-
des e formula um voto de confiança ao País e ao Congresso no sentido
de que continuem como sentinela avançada na fronteira dos protestos
em função de um Brasil mais independente e mais feliz.
(D.C.N. - Sessão II - 21-12-66, pág. 6.489) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
XX

Pág.
DEPUTADO JOSÉ MANDELLI
(Sessão de 19-12-66)
- Tece considerações em tôrno de duas emendas suas ao Projeto de
Constituição. A primeira, concedendo isenção de impôsto para a ope-
ração do pequeno produtor nacional; a segunda isentando de qualquer
tributo, mesmo do impôsto territorial, a propriedade até 25 hectares.
(D.C.N. - Sessão I - 20-12-66, pág. 7. 367) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
(Sessão de 10-1-67)
- Demonstra tristeza pela rejeição, na Comissão Constitucional, de emen-
da que restabelece preceito da Constituição de 1946, no seu artigo 19 e
seu parágrafo 1.0 , com a finalidade de amparar o pequeno agricultor.
Discorre sôbre o abandono em que vive esta classe e conclama os lí-
deres da ARENA e MDB, no sentido de que seja sua emenda destacada
e aprovada, dispensando-se, dessa maneira, ao rurícola, um pouco
de justiça e reconhecimento.
<D.C.N. - Sessão I - 11-1-67, pág. 104) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
DEPUTADO LINO BRAUN
(Sessão de 20-12-66)
- Comunica que na votação do Projeto de Constituição adotará na ín-
tegra o voto do MDB, emitido na Comissão Especial.
<D.C.N. - Sessão I - 21-12-66, pág. 7 .408) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
DEPUTADO ~IANOEL NOVAIS
(Sessão de 13-12-66)
- Afirma que apresentará emenda restabelecendo o art. 29 do Ato das
Disposições Transitórias da Constituição de 1946, que assegura ao São
Francisco 1% da renda tributária do País.
<D.C.N. - Sessão I - 14-12-66, pág. 7 .155) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
DEPUTADO MARIO TAMBORINDEGUY
(Sessão de 14-12-66)
- Manifesta esperança de que a nova Constituição se constitua em ins-
trumento capaz de assegurar a prosperidade e o bem-estar de todo o
povo brasileiro. Afirma que pretendia reivindicar um elenco de me-
didas em favor do Estado do Rio, com a destinação de um percentual
de aplicação obrigatória para a Valorização do Rio Paraíba e da Bai-
xada Fluminense. Entretanto, subordinado às diretrizes fixadas no
nôvo projeto de Constituição, aguarda o momento oportuno para de-
fender as reivindicações do povo fluminense.
(D.C.N. - Sessão I - 15-12-66, pág. 7 .176) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
DEPUTADO MEDEIROS NETO
(Sessão de 16-12-66)
- Examina a luz da História as denominações "Estados Unidos do Brasil"
e "Brasil", face à preferência do Projeto Constitucional pela última.
Manifesta-se pelo exame do Texto por parte de um filólogo à guisa
do que foi feito em 1946.
(D.C.N.- Sessão I - 17-12-66, pág. 7.285) .......................... 138
XXI

Pág.
(Sessão de 20-12-66)
- Apela no sentido de que se restaure, no texto da Constituição que o
Congresso vai aprovar, os artigos 76, 77 e parágrafos da Constituição
de 1946.
(D.C.N. - Sessão I - 21-12-66, pág. 7 .411) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
(Sessão de 10-1-67)
- Congratula-se com a Comissão Constitucional pela aprovação das
· emendas que atendem às reivindicações formalizadas pela Igreja Cató-
lica. Demonstra apreensões com a adoção do casamento religioso de
efeitos civis. Refere-se à necessidade de se dispensar assistência re-
ligiosa às Fôrças Armadas em tempo de paz e de guerra, expressando
satisfação por se tratar de matéria constante de emenda oferecida pelo
Deputado Arruda Câmara, já aprovada pela Comissão. Reivindica in-
serção, no texto Constitucional, de preceito que torne obrigatória a
representação diplomática do nosso País, junto ao Vaticano.
m.c.N. - Sessão I - 11-1-67, pág. 106) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158

DEPUTADO NELSON CARNEffiO


(Sessão de 9-1-67)
- Expressa seu pesar pela rejeição, na Comissão Constitucional, de emen-
da no sentido de manter, no Poder Legislativo, a atribuição de regular
o pagamento dos vencimentos de seus funcionários. Lamenta que o
Poder Legislativo, cada dia, abra mão de suas prerrogativas. Critica
o poder unipessoal do Presidente da República.
(D.C.N. - Sessão I - 10-1-67, pág. 82) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157

DEPUTADO NORONHA FILHO


(Sessão de 13-4-66)
- Dá conhecimeto à Casa de telegrama que enviou ao Professor Orozimbo
Nonato, diante das notícias de que fará parte da Comissão de Juristas,
com a finalidade de outorgar uma nova Constituição Fascista à Nação
brasileira.
m.c.N. - Sessão I - 14-4-66, pág. 1. 706) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

DEPUTADO OSCAR CORRf:A


(Sessão de 26-8-66)
- Acentua a inoportunidade da reforma constitucional que se quer fazer
num final de legislatura, num ambiente de intranqüilidade, insegu-
rança, incerteza e de perigos para o próprio regime democrático. Ana-
lisa o gabarito, a idoneidade moral, a competência, o espírito público
dos membros da Comissão de Juristas, mas reconhece-lhes a quali-
dade de "presidencialistas" o que, no entender do orador, constitui
falha que se refletirá sôbre o Anteprojeto da Constituição. Critica o re-
gime presidencialista a que atribui os fracassos da vida pública bra-
sileira. Declara que a Comissão de Alto Nível carece de vivência do
problema político. Exalta a vivência política e contrapõe a modelos de
XXII

Pág.
constituições calcadas no tecnicismo jurídico (a austríaca, devida a
Kelsen; a de Weimar, devida a Preuss), a Constituição americana,
fruto da vivência política de Maddison, Hamilton e James, alegando
que as primeiras não resistiram ao tempo e a última permanece. Cri-
tica: as limitações impostas ao Congresso, quanto ao poder de legis-
lar e de fiscalizar, consagradas pelo anteprojeto; a assimilação dos dis-
positivos da E. C. n.0 18, em detrimento dos fundamentos financeiros
dos Estados e Municípios; a competência do Supremo Tribunal Federal
para decidir, em tese, sôbre inconstitucionalidade de leis federais. Ex-
pressa temores ante a nova Carta e adverte o Govêrno no sentido de
que não imponha à Nação uma Carta Maior que cristalize as defor-
mações da hora presente.
(D.C.N. -Sessão I - 27-8-66, pág. 5.441) .. .. . .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 15

(Sessão de 23-11-66)
- Demonstra seu aprêço pela Constituição de 1946, acentuando que os
nossos grandes documentos políticos padecem sempre de efemeridade
e não por culpa imanente à sua elaboração, mas por nossa incapacidade
de aplicá-los, de nos adaptarmos a êles quando convenha e de entendê-
los quando preciso. Atribui a efemeridade dos nossos grandes documen-
tos à volubilidade do temperamento brasileiro, pouco afeito a moldes
rígidos. Sob êsse aspecto, analisa as constituições republicanas, de 1891
a 1946. Detem-se na Constituição de 1946, que considera documento
eficiente, fazendo referência a diversos pontos, especificamente criti-
cados por muitos: a atuação política da Capital Federal; a delegação
de atribuições. Discorre sôbre as Seções: "Das Atribuições do Poder
Legislativo", "Das Leis" e sôbre o Capítulo e Seção, respectivamente,
"Do Poder Executivo" e "Da Responsabilidade do Presidente da Re-
pública". Alude aos Títulos "Da Declaração dos Direitos" e "Da Ordem
Econômica e Social", estendendo-se sôbre a controvérsia que se esta-
belece sôbre a atuação do Estado na ordem econômica e na orien-
tação neo-capitalista daquela Carta. Conclui afirmando que a nova
Constituição enfrenta um dilema: ou repete a atual, ou a modifica
fundamentalmente, criando novos motivos de conflitos,. não devendo,
nesta hipótese, ser discutida ou votada antes que amadureça. Formula
críticas à nossa sofreguidão e afoiteza na tarefa legislativa. Exempli-
fica essa sofreguidão com o fato de o Presidente da República haver
baixado no último dia do recesso manu militari a que levou o Congresso,
quarenta decretos-leis e apela no sentido de que se deixe em paz a
carta de 1946, incorporando-se-lhe ao texto a matéria que se julgar
conveniente.
(D.C.N. - Sessão I - 24-11-66, pág. 6.815) .. .. .. .. . .. .. .. . .. .. .. .. .. 17

DEPUTADO OSMAR DUTRA


(Sessão de 17-8-66)
- Congratula-se com o Presidente da República pela feliz iniciativa de
mandar codificar a nossa Carta Magna.
(D.C.N.- Sessão I - 18-8-66, pág. 5.024) .. .. .. .. .. . .. . .. .. .. . .. .. .. 11
XXIII

Pág.
DEPUTADO PADRE NOBRE
(Sessão de 17-12-66)

- Lembra a oportunidade de se fazer inserção definitiva, na Carta Magna,


dos direitos que assistem aos advogados de terem uma representação
nos Tribunais Regionais do Trabalho, em todos os Estados da Federação.
(D.C.N. - Sessão I - 18-12-66, pág. 7. 327) .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 140

DEPUTADO PEDRO MARÃO


(Sessão de 13-12-66)
- Protesta violentamente contra o dispositivo do nôvo Projeto de Cons-
tituição que dá ao funcionário público a aposentadoria aos 35 anos de
serviço.
m.c.N. - Sessão I - 14-12-66, pág. 7 .157) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130

DEPUTADO PEDROSO JúNIOR


(Sessão de 11-1-67)
- Demonstra sua estranheza quanto ao acolhimento, por parte da Co-
missão Mista que estuda as emendas ao projeto de Constituição, da
alteração que se refere à participação dos empregados nos lucros das
emprêsas. Assinala que na Constituição de 46 o dispositivo é em tê r-
mos de rigorismo - participação obrigatória e direta - e a despeito
da clareza, 20 anos depois os empregados ainda não participam do
lucro das emprêsas. Entende que, se com êsse dispositivo rigoroso e
taxativo, a participação no lucro das emprêsas foi esquecida, nada se
poderá esperar da nova Carta Magna, que apenas diz: "partieipação
dos empregados no lucro das emprêsas". Reporta-se à proposição de
sua autoria inspirada na Constituição de 1946, referente à concessão de
gratificação anual a todo trabalhador e solicita a consignação em Ata,
dos pareceres da Comissão de Constituição e Justiça e de Legislação
Social elaborados face àquela proposição.
(D.C.N. - Sessão I - 12-1-67, pág. 148) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
DEPUTADO RENATO CELIDôNIO
(Sessão de 14-12-66)
- Afirma que não entende como, num final de mandato, o atual Con-
gresso pode votar uma Constituição inspirada num Govêrno que não
foi, na realidade, um Govêrno democrático - numa fase da vida po-
lítica que também não se caracterizou pela paz e pela tranqüilidade
que devem anteceder a tão importante manifestação do Congresso,
qual seja a de elaborar a 6.a Constituição do Brasil.
(D.C.N.- Sessão I - 15-12-66, pág. 7.177) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136
XXIV
Pág.
DEPUTADO ROMULO MARINHO
(Sessão de 11-1-67)

- Congratula-se com a Comissão Mista pela aprovação da Emenda n. 0 14


que garante aos funcionários públicos da União, dos Estados e Muni-
cípios que contem ou venham a contar 5 anos de exercício, sejam au-
tomàticamente efetivados ou considerados estáveis na data da pro-
mulgação da Constituição.
(D.C.N. - Sessão I - 12-1-67, pág. 140) . . . . . . . .. . . . . .. . .. . .. . . . . . . . . 160
SENADOR SILVESTRE PÉRICLES
(Sessão de 19-12-66)
- Manifesta-se contrário à maneira pela qual se processa a reforma cons-
titucional, especialmente no que se refere à exigüidade do prazo para
tramitação da matéria no Congresso Nacional. Aplaude o art. 95 do Pro-
jeto que permite a acumulação de dois cargos privativos de médico.
(D.C.N.- Sessão l i - 20-12-66, pág. 6.464) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
DEPUTADO UNtRIO MACHADO
(Sessão de 19-12-66)
- Apela aos Congressistas no sentido de apresentarem emenda ao Projeto
de Constituição, a fim de que seja concedida aos funcionários públicos
a aposentadoria aos 30 anos de serviço.
(D.C.N.- Sessão I - 20-12-66, pág. 7.370) . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . .. 145
íNDICE DE ASSUNTOS

Pág.
ACUMULAÇAO DE CARGOS
- Aplaude o art. 95 do Projeto que permite a acumulação de dois cargos
privativos de médico. Senador Silvestre Péricles - Senado Federal -
Sessão de 19-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
ADVOGADOS
- Lembra R oportunidade de se fazer a inserção definitiva, na Carta
Magna, dos direitos que assistem aos - - - de terem uma representa-
ção nos Tribunais Regionais do Trabalho. - Deputado Padre Nobre -
Câmara dos Deputados. - Sessão de 17-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
AGRICULTOR
- Refere-se à rejeição, pela Comissão Constitucional, de emenda que res-
tabelece preceito da Carta de 1946, visando a amparar o pequeno pro-
dutor.
- Defende a isenção de tributos para a propriedade que não ultrapasse 25
hectares, assim como para a operação do pequeno produtor nacional.
Deputado José Mandelll Câmara dos Deputados Ses-
são de 19-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
AMAZôNIA
- Critica a inexistência, no Projeto, de recursos, não só para a - como
para a Bacia do São Francisco.
- Reporta-se à emenda à Carta de 1946 que destina 3% da arrecadação
total do País ao desenvolvimento da - - - . Deputado Antunes de Oli-
veira - Câmara dos Deputados - Sessão de 13-12-66 . . . . . . . . . . . . . . 133
- Condena a exclusão, do texto do Projeto, de dispositivo concernente ao
desenvolvimento da - - - . Senador Argemiro de Figueiredo. Senado
Federal - Sessão de 5-1-67 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
- Reclama a ausência de recursos no Texto Constitucional para o Nor-
deste e para o Plano de Valorização Econômica da - - - Senador Ed-
mundo Levi - Senado Federal - Sessão de 6-1-67. . . . . . . . . . . . . . . . . 107
- Formula apêlo no sentido de que se procure salvar, no Projeto de Cons-
tituição, os recursos destinados à - - - ao Nordeste, ao sul do País e
à Baixada Fluminense. Deputado Getúlio Moura - Câmara dos Depu-
tados - Sessão de 7-1-67. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
APOSENTADORIA
- Anuncia a apresentação de emenda ao projeto de Constituição, a fim
de conceder aos servidores públicos a - - - aos 30 anos - Deputado
Benjamin Farah - Câmara dos Deputados - Sessão de 13-12-66 . . . . 130
XXVI

Pág.
- Protesta contra o dispositivo do nôvo projeto de Constituição que dá ao
funcionário público a - - - aos 35 anos de serviço - Deputado Pedro
Marão - Câmara dos Deputados - Sessão de 13-12-66. . . . . . . . . . . . . 130
- Anuncia a apresentação de emenda que visa a assegurar ao funcio-
cionário público e autárquico ex-combatente da Fôrça Expedicionária
Brasileira o direito à - - - após 25 anos de serviço - Deputado Jamil
Amiden - Câmara dos Deputados - Sessão de 19-12-66 . . . . . . . . . . . . 146
- Defende emenda ao projeto de Constituição no sentido de conceder aos
funcionários públicos a - - - aos 30 anos de serviço - Deputado
Unírio Machado - Câmara dos Deputados - Sessão de 19-12-66. . . . . 145
- Congratula-se com os servidores civis pelo parecer favorável, do Sub
Relator da Comissão Constitucional, à emenda sôbre a - - - aos 30 anos
de serviço - Deputado Benjamin Farah - Câmara dos Deputados -
Sessão de 5-1-67 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
- Assinala que o M.D.B tomou posição favorável a emenda que concede
aposentadoria aos servidores civis, aos 30 anos de exercício - Deputado
Benjamin Farah - Câmara dos Deputados - Sessão de 11-1-67 . . . . . . 160

ASSIST:í!:NCIA RELIGIOSA
- Refere-se à necessidade de se dispensar - - - às Fôrças Armadas em
tempo de paz e de guerra. Deputado Medeiros Neto- Câmara dos Depu-
tados - Sessão de 10-1-67. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158

ATO CONVOCATóRIO
- Critica o - - - Senador Afonso Arinos - Senado Federal - Sessão
de 14-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

ATO INSTITUCIONAL N.0 2


- Comenta a posição do Presidente da República contrária à revogação dos
arts. 14 e 15 do - - - , Deputado Derville Alegretti - Câmara dos Depu-
tados - Sessão de 19-9-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
- Pleiteia a revogação dos arts. 14 e 15 do ---Senador Aurélio Vianna
-Senado Federal- Sessão de 29-11-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

BACIA DOSAO FRANCISCO (Vide SAO FRANCISCO, VALE DO)


BAIXADA FLUMINENSE
- Declara que, subordinado às diretrizes do Projeto de Constituição, aguar-
da o momento oportuno para defender reivindicações que visam à Valo-
rização do Rio Paraíba e da - - - . Deputado Mário Tamborindeguy -
Câmara dos Deputados - Sessão de 14-12-66 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
- Apela aos Srs. Congressistas para que aprovem emenda relativa à va-
lorização dos municípios da - - - Deputado Getúlio Moura - Câmara
dos Deputados - Sessão de 7-1-67. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154

BRASIL - DENOMINAÇAO
- Examina à luz da História as denominações "Estados Unidos do Bra-
sil" e "Brasil". Deputado Medeiros Neto - Câmara dos Deputados -
Sessão de 16-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138
XXVII

Pág.
BRASíLIA
\
- Apresenta emenda que visa a tornar - - - "anexada ao Estado de Go.ás,
como sua Capital efetiva." Deputado Eurico de Oliveira - Câmara dos
Deputados - Sessão de 13-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
CAPITAIS, AUTONOMIA DAS (Vide "MUNICíPIOS")
CARTA OUTORGADA
- Afirma que se o Sr. Presidente da República garantir que o Congresso
não vai referendar uma - - - e que o trabalho dos Srs. Congressistas
será para ajustar a nova Constituição à realidade nacional, o M.D.B.
estará pronto a prestar a sua colaboração leal e desinteressada - Depu-
tado Humberto El-Jaick- Câmara dos Deputados -Sessão de 17-8-66 11
CASAMENTO RELIGIOSO
- Demonstra apreensão quanto à adoção na Carta, do - - - com efeitos
civis. Deputado Medeiros Neto - Câmara dos Deputados - Sessão
de 10-1-67. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158
CASSAÇõES DE DIREITOS POLíTICOS (Ver SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL)
CENSURA PRÉVIA (Ver IMPRENSA)
CODIFICAÇÃO DA CARTA MAGNA
-
Congratula-se com o Presidente da República pela iniciativa de mandar
codificar a nossa Carta Magna - Deputado Osmar Dutra - Câmara
dos Deputados - Sessão de 17-8-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
COMISSÃO DE JURISTAS
- Dá conhecimento à Casa de telegrama que enviou ao Professor Orozimbo
Nonato, diante das notícias de que fará parte d a - - - Deputado Noro-
nha Filho - Câmara dos Deputados - Sessão de 13-4-66. . . . . . . . . . . 4
- Alude à - encarregada de concretizar a consolidação constitucional.
Deputado Brígido Tinoco - Câmara dos Deputados. Sessão de 27-4-66 4
- Enaltece os membros da - - - e os propósitos do Presidente da Repú-
blica fazendo com que o País reencontre os caminhos normais da cons-
titucionalidade - Deputado Geraldo Freire - Câmara dos Deputados
- Sessão de 19-8-66 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
- Analisa o gabarito, a idoneidade moral, a competência, o espírito pú-
blico dos membros da - - - , reconhecendo-lhes, entretanto, a qualidade
de "presidencialistas" o que, no entender do orador, constitui falha que
se refletirá no Anteprojeto. Deputado Oscar Corrêa - Câmara dos
Deputados - Sessão de 26-8-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
COMPANHIA DE FERTILIZANTES ULTRAFERTIL (Ver INVESTIMEN-
TOS ESTRANGEIROS)
CONGRESSO NACIONAL (Vide também "PODER LEGISLATIVO")
- Critica as limitações impostas ao - - - quanto ao poder de legislar e
de fiscalizar, consagradas pelo Anteprojeto. Deputado Oscar Corrêa
- Câmara dos Deputados - Sessão de 26-8-66 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
XXVIII

Pág.
- Alude à omissão, na introdução ao Projeto, quanto à competência do
- - - para modificá-lo e emendá-lo. Senador Afonso Arinos - Senado
Federal - Sessão de 15-12-66 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
- Assinala que se a Carta, na verdade, não vem em ordem, não consulta
princípios normais da Democracia e não respeita as altas prerrogativas
do - - - e mais, atenta contra direitos individuais e é contraditória no
seu conteúdo, a responsabilidade não cabe ao Sr. Presidente da Repú-
blica; perante a História, à Câmara e ao Senado cabe a responsabilidade
pela aprovação da Carta Constitucional, boa ou má, pela sua promulgação
para restabelecer a ordem jurídico-constitucional no País - Senador
Argemiro de Figueiredo - Senado Federal - Sessão de 5-1-67 . . . . . . 101

CONSTITUIÇAO-INSTRUMENTO
- Considera o projeto uma Constituição Instrumento. Senador Afonso
Arinos - Senado Federal - Sessão de 14-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

CONSTITUIÇõES
- Tipos de - - - segundo as situações políticas. - - - Suma. - - - Ins-
trumento. Senador Afonso Arinos - Senado Federal - Sessão
de 14-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

CONSTITUIÇõES BRASILEIRAS
- Analísa as - - - afirmando que sempre copiamos normas legais, pro-
cessos europeus e estadunidenses e que não podemos manter êsse velho
marginalismo jurídico- Deputado Brígido Tinoco- Câmara dos Depu-
tados - Sessão de 27-4-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
- Analisa as Constituições da República, pondo em evidência a preocupa-
ção de justiça social existente na Carta de 1946. Deputado Getúlio Mou-
ra - Câmara dos Deputados - Sessão de 19-8-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
- Demonstra seu aprêço pela - - - de 1946 e entende que o Govêrno deve
dominar seu furor legislativo.
- Atribui a efemeridade das - - à volubilidade do temperamento do
nosso povo, pouco afeito a moldes rígidos.
-Analisa a s - - Republicanas de 1891 a 1946.
- Discorre sôbre diversas Seções, Títulos e Capítulos da - - - de 1946,
elogia a aludida Carta e formula apêlo no sentido de que seja preser-
vada, incorporando-se-lhe ao texto a matéria que se julgar conveniente.
Deputado Oscar Corrêa -Câmara dos Deputados- Sessão 23-11-66 17

CONSTITUINTE
- Alude à Comissão de Juristas encarregada de concretizar a consolidação
constitucional e pronuncia-se pela convocação de uma - - - Deputado
Brígido Tinoco - Câmara dos Deputados - Sessão de 27-4-66. . . . . . . 4
- Afirma que nem o atual nem o futuro Congresso podem transformar-se
em Constituinte, pois somente o povo tem capacidade para atribuir a
seus mandatários poder constituinte - Deputado João Mendes - Câ-
mara dos Deputados- Sessão de 19-9-66. ............................ 17
XXIX

Pág.
DECRETOS - LEIS
- Critica a sofreguidão legislativa do Presidente da República que, no re-
cesso manu militari imposto ao Congresso, baixou quarenta - - - . Depu-
tado Oscar Corrêa- Câmara dos Deputados - Sessão de 23-11-66 17
DELEGAÇAO DE ATRIBUIÇõES
- Manifesta-se desfavorável à - - - no regime presidencial, tanto quanto
a admite no regime parlamentarista. Deputado Oscar Corrêa - Câ-
mara dos Deputados - Sessão de 26-8-66 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
DESEMPR:Ê:GO
- Anuncia a apresentação de emenda que diz respeito ao combate ao -
Deputado Eurico de Oliveira - Câmara dos Deputados - Sessão
de 13-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS
- Analisa a importância do Capítulo dos - - - . Focaliza o art. 149 do
Projeto. Esclarece que ali não se reconhece o caráter auto-aplicável de
nenhum direito, quando entre os direitos públicos individuais há nume-
rosos que são auto-aplicáveis. Critica e considera insubsistente a técnica
empregada no dispositivo. Senador Afonso Arinos - Senado Federal -
Sessão de 19-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
- Continua analisando o Capítulo do Projeto de Constituição que trata dos
- - - . Senador Afonso Arinos -Senado Federal- Sessão de 20-12-66 78
EDUCAÇAO
- Critica a eliminação da gratuidade do ensino superior, que fica restrito
à concessão de bôlsas, no projeto de Constituição. Aplaude, porém,
o art. 168 do projeto que garante a liberdade de cátedra - Deputado
Ewaldo Pinto - Câmara dos Deputados - Sessão de 13-12-66 . . . . . . . . 132
- Assinala que é sua intenção incluir dispositivo que restabeleça a vin-
culação existente na Constituição de 1946, ampliando a percentagem de
10 para 12%, para o desenvolvimento do ensino, da - - - , como tam-
bém estabelecer a vinculação de 2% para aplicação na pesquisa cientí-
fica e tecnológica - Deputado Ewaldo Pinto - Câmara dos Depu-
tados - Sessão de 14-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
- Defende emenda que visa a manter na nova Carta percentual que se
destine ao desenvolvimento da - - - . Deputado Ewaldo Pinto, Câ-
mara dos Deputados- Sessão de 6-1-67 .............................. 150
ELABORAÇAO CONSTITUCIONAL
- Comenta a confusão reinante na elaboração da nova Carta - Depu-
tado João Menezes - Câmara dos Deputados - Sessão de 26-8-66 . . . . 14
- Formula apêlo a todos os Congressistas no sentido de que, durante a
- - - , esqueçam as prevenções, resistam a qualquer espécie de coação,
considerando que a futura Carta será promulgada pela Mesa do Congres-
so e tendo em vista a necessidade da obtenção de um Texto que possa
servir de instrumento à prosperidade do Brasil. Deputado Getúlio Mou-
ra - Câmara dos Deputados - Sessão de 29-11-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
XXX

Pág.
- Afirma que defenderá a tese de que a Oposição deverá participar do
processo de elaboração da nova Carta da República, mas condenará a
sua colaboração com os atuais detentores do Poder - Senador Aurélio
Viana- Senado Federal- Sessão de 29-11-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
- Afirma que não entende como, num final de mandato de congressistas, se
possa votar uma Constituição inspirada num Govêrno que não foi, na
realidade, um Govêrno democrático - Deputado Renato Celidônio -
Câmara dos Deputados - Sessão de 14-12-66 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136

ELEIÇAO INDIRETA
- Critica a - - para o Presidente da República - Deputado Ewaldo
Pinto - Câmara dos Deputados - Sessão de 13-12-66 . . . . . . . . . . . . . . 132
- Discorre sôbre a transformação do Executivo em poder oligárquico,
em poder emanado de uma - - . Diz não serem os Estados Unidos
da América governados por via de - - . Senador Afonso Arinos -
Senado Federal - Sessão de 16-12-66 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
- Condena a - - para Presidente da República. Senador Argemiro de
Figueiredo - Senado Federal - Sessão de 5-1-67. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

EMENDA CONSTITUCIONAL (Ver também "PODER LEGISLATIVO")


- Estranha a edição de um Ato destinado a regular o encaminhamento
ou a tramitação de - - . Senador Josaphat Marinho - Senado Fe-
deral - Sessão de 29-11-66 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

EMENDA CONSTITUCIONAL N. 0 18/65


- Critica a assimilação, pelo texto do Projeto, d a - - , em detrimento dos
fundamentos financeiros dos Estados e Municípios. Deputado Oscar
Corrêa - Câmara dos Deputados - Sessão de 26-8-66. . . . . . . . . . . . . . . . . 15

EMPREGADOS (Vide "PARTICIPAÇAO DOS EMPREGADOS NOS LUCROS


DAS EMPR:I!:SAS") EMPR:I!:SAS (Vide "PARTICIPAÇAO DOS EMPREGA-
DOS NOS LUCROS DAS EMPR:I!:SAS")

ENERGIA HIDRAULICA (Ver "RECURSOS MINERAIS E ENERGIA HI-


DRAULICA")
ESTADO DE SíTIO (Ver também "POD:I!:RES DE EMERG:I!:NCIA")
- Discorre sôbre o Capítulo "Do Estado de Sítio." Senador Afonso Arinos.
Senado Federal. Sessão de 20-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

ESTADOS (Ver "EMENDA CONSTITUCIONAL N. 0 18")


ESTRANGEIROS (Vide "NATURALIZAÇAO")
EX-COMBATENTES (Ver APOSENTADORIA)

FEDERAÇAO
- Rende homenagens ao Dr. Francisco de Paula Vicente de Azevedo por
seu artigo, intitulado "0 Fim da Federação" - Deputado Dias Menezes
- Câmara dos Deputados - Sessão de 20-12-66 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
XXXI

Pág.
- Assinala que o atual projeto de Constituição tem o propósito de destruir
o sistema federativo brasileiro- Senador Edmundo Levi- Senado Fe-
deral - Sessão de 6-1-67 ooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo 107

FRONTEIRA DO SUDOESTE
- Defende emenda de sua autoria ao projeto de Constituição que obriga
o Govêrno Federal a aplicar, anualmente, durante 20 anos, quantia
não inferior a 1% de sua renda tributária, para execução do Plano de
Valorização Econômica da região da - - - do País - Deputado An-
tônio Bresolin - Câmara dos Deputados - Sessão de 17-12-66 oooo 141

FUNCIONARIOS (Vide também "APOSENTADORIA")


- Menciona o servidor público e a diminuição de sua capacidade aquisiti-
tivao Deputado Argilano Dário - Câmara dos Deputados - Sessão de
5-1-670 o o oooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo 147

FUNCIONÁRIOS, EFETIVAÇAO DE
- Congratula-se com o funcionalismo civil, pelo acolhimento que a Comis-
são Constitucional deu à emenda que dispõe sôbre a efetivação de fun-
cionários - Deputado Benjamin Farah - Câmara dos Deputados -
Sessão de 9-1-67 oooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo. oooooooooo 156
- Congratula-se com a Comissão Constitucional pela aprovação da Emen-
da no 0 14, que regula a - - - Deputado Rômulo :Marinho - Câmara
dos Deputados- Sessão de 11-1-67 ooooooooooooooooooooooooooooooooooo 160

FUNCIONÁRIOS - Estabilidade, (Ver FUNCIONÁRIOS, efetivação de)


GEIQUIM - Resolução no 0 2
- Analisa a fragmentação da ---0 Senador José Ermírio - Senado Fe-
deral - Sessão de 19-12-66 ooooooooooooooooooooooooooooooooo. ooooooo 92

GOV~RNO DO ESTADO DE SAO PAULO


- Critica a omissão do - - - , no momento em que se discute uma Cons-
tituição para o Brasil - Deputado Ewaldo Pinto - Câmara dos Depu-
tados - Sessão de 20-12-66 ooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo 146

IGREJA CATóLICA
- Congratula-se com a Comissão Constitucional pela aprovação de emen-
das contendo as reivindicações formalizadas pela - - - Deputado Me-
deiros Neto - Câmara dos Deputados - Sessão de 10-1-67 oooooooooo 158
IMPEACHMENT
- Critica o Anteprojeto por conservar o instrumento do - - - Deputado
Oscar Corrêa - Câmara dos Deputados - Sessão de 26-8-660 oooooooo 15
IMPOSTO
- Afirma que apresentará emenda ao projeto de Constituição que concede
isenção de impôsto para a operação do pequeno produtor nacional _
Deputado José Mandelli- Câmara dos Deputados- Sessão de 19-12-66 145
XXXII

Pág.
IMPOSTO TERRITORIAL
- Afirma que apresentará emenda ao projeto de Constituição, que isenta
de qualquer tributo, mesmo do impôsto territorial, a propriedade até 25
hectares - Deputado José Mandelli - Câmara dos Deputados - Sessão
de 19-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
IMPRENSA
- Analisando o Capítulo "Dos Direitos e Garantias Individuais", alude a
direitos que poderão ser violados, referindo-se em particular a liber-
dade d e - - . Acentua que a técnica empregada pelo Projeto criará a
figura legal e jurídica, mas repugnante, da censura prévia que nunca
existiu em nosso Direito. Senador Afonso Arinos - Senado Federal
- Sessão de 20-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
INCOMPET:tl:NCIA DO PRESIDENTE DA REPúBLICA (Vide "PRESI-
DENTE DA REPúBLICA")
INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS
- Tece considerações sôbre os - - no País. Senador José Ermírio - Se-
nado Federal - Sessão de 19-12-66 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
JURISDIÇAO MILITAR
- Considera absurda a jurisdição militar sôbre os civis - Senador Afon-
so Arinos - Senado Federal - Sessão de 16-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
MEDICINA, Socialização da
- Anuncia a apresentação de emenda referente à - Deputado Eurico de
Oliveira- Câmara dos Deputados -Sessão de 13-12-66. . . . . . . . . . . . . . . 131
MINERAL, Defesa
- Critica, no Projeto de Constituição, o Capítulo que se refere à - -
Senador José Ermírio- Senado Federal- Sessão de 19-12-66. . . . . . . . . 92
MINÉRIO, Exportação de
- Comenta que minério brasileiro de exportação proibida é transferido
para o patrimônio de outro Govêrno e oferecido ao mercado interna-
cional. Senador José Ermírio - Senado Federal - Sessão de 19-12-66 92
MULHER
- Anuncia a apresentação de emenda que torna obrigatório para as mu-
lheres, entre 18 e 25 anos, um estágio em hospitais e casas de saúde a
fim de se fazerem enfermeiras socorristas de emergência. Deputado
Eurico de Oliveira- Câmara dos Deputados- Sessão de 13-12-66 131
MUNICíPIOS (Ver também "EMENDA CONSTITUCIONAL N. 0 18")
- Critica o regime da nomeação de prefeitos para as Capitais, assim como
a subordinação da nomeação de prefeitos de municípios declarados de
interêsse da segurança nacional, à prévia aprovação do Presidente da
República. Deputado Ewaldo Pinto - Câmara dos Deputados - Sessão
de 13-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
XJG'XIII

Pág.
- Anuncia emenda ao Projeto de Constituição que concede autonomia às
Capitais dos Estados. Deputado Argilano Dário - Câmara dos Deputados
- Sessão de 14-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
- Condena a nomeação de prefeitos para as Capitais dos Estados - Se-
nador Argemiro de Figueiredo- Senado Federal- Sessão de 5-1-67 . . 101
- Defende a autonomia das Capitais - Deputado Argilano Dário - Câ-
mara dos Deputados - Sessão de 5-1-67 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
- Deplora a decisão da Comissão Constitucional rejeitando a emenda que
visa a manter a autonomia das Capitais - Deputado Ewaldo Pinto -
Câmara dos Deputados - Sessão de 6-1-67 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150

NATURALIZAÇÃO DE ESTRANGEIROS
- Defende emenda que visa a facilitar a - - - residentes no Brasil -
Deputado Antônio Bresolin - Câmara dos Deputados - Sessão
de 17-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
- Defende emenda ao projeto de Constituição que facilita a - - - Depu-
tado Antônio Bresolin - Câmara dos Deputados - Sessão de 6-1-67 151

NORDESTE (Ver também "AMAZôNIA")


NORDESTE, S~CAS NO
- Condena a exclusão de dispositivo constitucional que obrigava a União
a empregar certa percentagem da renda tributária na defesa dos nor-
destinos, contra os efeitos das sêcas - Senador Argemiro de Figueiredo
- Sessão de 5-1-67. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

PARLAMENTAR,GOV~RNO

- Defende emenda que apresentou ao projeto de Constituição para a ins-


tituição do - - - Senador Afonso Arinos - Senado Federal - Sessão
de 20-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

PARTICIPAÇÃO DOS EMPREGADOS NOS LUCROS DAS EMPR~SAS

- Demonstra estranheza quanto ao acolhimento, por parte da Comissão


Mista, da alteração que se refere à - - - . Analisa o dispositivo da
Carta de 1946 sôbre o assunto. Deputado Pedroso Júnior- Câmara dos
Deputados- Sessão de 11-1-67 .. . .. . .. ....... .. .... ... ............... 161

PESQUISA CIENTíFICA
- Defende emenda que tem por objetivo manter na nova Carta percentual
destinado ao desenvolvimento da - - - pura e aplicada. Deputado
Ewaldo Pinto - Câmara dos Deputados - Sessão de 6-1-67 . . . . . . . . . . 150

PETROBRAS
- Vê no art. 157, §8.0 do projeto de Constituição perigo para a - - - Se-
nador Afonso Arinos- Senado Federal - Sessão de 16-12-66. . . . . . . . . 53
- Tece considerações sôbre a - - - . Senador José Ermírio - Senado Fe-
deral - Sessão de 19-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
XXXIV

Pág.
PIAUí- Estado do (Ver VALE DO PARNAíBA)
PLANEJAMENTO
- Demonstra sua tristeza ao constatar que o projeto de Constituição não
aborda o tema do planejamento- Deputado Clóvis Pestana - Câmara
dos Deputados - Sessão de 19-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
PODER CIVIL E PODER MILITAR
- Declara existir, no texto do Projeto, contradição entre o poder civll e
o poder militar e discorre sôbre o assunto. Senador Afonso Arinos - Se-
nado Federal - Sessão de 15-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
PODER EXECUTIVO
- Examina o problema da atribuição de funções legislativas ao Executivo
no período destinado à elaboração constitucional. Deputado Getúlio
Moura -Câmara dos Deputados- Sessão de 29-11-66. . . . . . . . . . . . . . . . 23
- Sustenta a preliminar da inoportunidade da elaboração constitucional e
protesta contra a usurpação por parte do - - - , determinando normas
ao Congresso Nacional para a tramitação do projeto de Constituição -
Deputado Flôres Soares- Câmara dos Deputados- Sessão de 13-12-66 128
- Discorre sôbre o fortalecimento do - - - , como conseqüência da institu-
cionalização das revoluções políticas. Senador Afonso Arinos - Senado
Federal -Sessão de 16-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . .. . . . . 53

PODER JUDICIARIO
- Assinala que o Projeto de Constituição mantém a integridade das atri-
buições do - - - , aludindo, porém, a distorções existentes no terreno da
competência dêsse Poder. Senador Afonso Arinos - Senado Federal -
Sessão de 16-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

PODER LEGISLATIVO
- Pronuncia-se pela competência soberana e exclusiva do - - - no to-
cante à parte adjetiva ou processual do estudo da emenda Constitu-
cional. Senador Josaphat Marinho - Senado Federal - Sessão
de 29-11-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
- Esclarece que constitui característica da revolução política o fato de o
Projeto diminuir consideràvelmente as atribuições do - - - , a sua ini-
ciativa, o seu poder de contrôle, transferindo a soma destas atribuições,
desta iniciativa e dêste poder de contrôle para as mãos do Executivo.
Senador Afonso Arinos - Senado Federal - Sessão de 16-12-66 . . . . . 53
- Expressa seu pesar pela rejeição na Comissão Constitucional de emenda
no sentido de ser mantida no - - - a atribuição de regular o pagamento
dos vencimentos de seus funcionários - Deputado Nelson Carneiro -
Câmara dos Deputados - Sessão de 9-1-67. .. .. .. . .. . .. .. .. .. .. .. .. .. 157
POD:tl:RES CONSTITUINTES
- Ressalta que o Govêrno, atribuindo ao Congresso - - - , retira-lhe a
faculdade de legislação ordinária. Deputado Getúlio Moura - Câmara
dos Deputados - Sessão de 29-11-66. .. . .. .. . .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . 23
XXXV

Pág.
- Argumenta que o atual Congresso não tendo recebido - - - , não pode-
ria votar uma Constituição - Deputado Getúlio Moura - Câmara
dos Deputados - Sessão de 6-1-67 . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151

POD:íl:RES DE EMERG:íl:NCIA
- Critica o fato de, no Projeto, o problema da emergência ter ficado res-
trito ao problema da ordem. Senador Afonso Arinos. Senado Federal -
Sessão de 20-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

PRAZO PARA TRAMITAÇAO DO PROJETO DE CONSTITUIÇAO


- Combate a exiguidade de tempo para a elaboração da nova Constituição.
Deputado Getúlio Moura - Câmara dos Deputados - Sessão
de 19-8-66 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
- Critica o prazo concedido ao Congresso para apresentar emenda à Cons-
tituição, considerando-o irrisório, em face daquele concedido à Comissão
de Juristas. Deputado Getúlio Moura - Câmara dos Deputados - Ses-
são de 29-11-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
- Considera ilimitados os prazos iniciais e exíguo o prazo final a que foi
submetido o Projeto. Senador Afonso Arinos - Senado Federal - Ses-
são de 15-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
- Manifesta-se contrário à maneira pela qual se processa a Reforma Cons-
titucional, especialmente no que se refere à exiguidade do prazo para
a tramitação da matéria no Congresso. Senador Silvestre Péricles - Se-
nado Federal - Sessão de 19-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

PRESID:íl:NCIA DO SENADO
- Alude ao problema da - - - , e à hipótese de os trabalhos da Consti-
tuinte serem dirigidos por nova Mesa. Deputado Getúlio Moura - Câ-
mara dos Deputados - Sessão de 29-11-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

PRESIDENCIALISMO
- Critica o regime presidencialista a que atribui os fracassos da vida pú-
blica brasileira. Deputado Oscar Corrêa - Câmara dos Deputados - Ses-
são de 26-8-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

PRESIDENTE DA REPúBLICA (Vide também ELEIÇAO INDIRETA PARA


PRESIDENTE DA REPúBLICA)
- Assinala que não irá deter-se no mérito do Projeto, uma vez que para
invalidá-lo, é suficiente a preliminar da incompetência do - - - , no to-
cante ao direito de iniciativa e participação no processo de elaboração
e promulgação da nova Constituição Federal - Senador Argemiro de Fi-
gueiredo- Senado Federal - Sessão de 19-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
- Defende o ponto de vista de que o - - - deve ser eleito pelo povo. Depu-
tado Argilano Dário - Câmara dos Deputados - Sessão de 5-1-67 . . . 147
- Critica o poder unipessoal do - - - . Deputado Nelson Carneiro _ Câ-
mara dos Deputados- Sessão de 9-1-67. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
XXXVI

Pág.
PROJETO DE CONSTITUIÇÃO (Vide também "TRAMITAÇÃO" - "ELA-
BORAÇÃO CONSTITUCIONAL" - "VOTAÇÃO" "PRAZO PARA TRAMI-
TAÇÃO DO PROJETO DE CONSTITUIÇÃO")
- Afirma que o - - não atende às necessidades econômico-financeiras
do Brasil - Deputado Antunes de Oliveira - Câmara dos Deputados
- Sessão de 13-12-66 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
- Assinala o desequilíbrio existente entre a fase de preparação e a fase de
ultimação do - - Senador Afonso Arinos - Senado Federal - Sessão
de 15-12-66 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

PROJETO DE CONSTITUIÇÃO, OMISSõES DO


- Comenta as omissões do projeto de Constituição - Deputado Carvalho
Sobrinho - Câmara dos Deputados - Sessão de 20-12-66 . . . . . . . . . . . . 146
PROJETO DE CONSTITUIÇÃO, PUBLICAÇÃO DO
- Reclama a publicação imediata do nôvo projeto de Constituição a fim
de que se inicie um amplo debate e a matéria possa atender tanto quan-
to possível às aspirações do povo brasileiro - Deputado Francelino Pe-
reira - Câmara dos Deputados - Sessão de 30-11-66. . . . . . . . . . . . . . . . . 27
PROJETO DE CONSTITUIÇÃO, REDAÇÃO
- Critica a linguagem do projeto de Constituição - Senador Afonso Ari-
nos - Senado Federal - Sessão de 15-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
PROJETO DE CONSTITUIÇÃO, TEXTO TRANSITóRIO DO
- Observa que o texto do projeto de Constituição é transitório - Senador
Afonso Arinos -Senado Federal- Sessão de 15-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . 40
RECEITA VINCULADA
- Considera tecnicamente desaconselhável a - - , aceitando-a, entre-
tanto, em vista da falta de sensibilidade dos nossos governos às neces-
sidades do País. Deputado Ewaldo Pinto - Câmara dos Deputados -
Sessão de 6-1-67. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150
- Assinala que a boa técnica repudia as vinculações de verbas nas consti-
tuições, mas considera que a prática, no Brasil, tem demonstrado o con-
trário. Deputado Getúlio Moura - Câmara dos Deputados - Sessão
de 7-1-67. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
RECURSOS MINERAIS E ENERGIA HIDRAULICA
- Apela ao Presidente da República no sentido de manter no nôvo Pro-
jeto de Constituição, o art. 153 incluído na Carta de 1946 pelo Dr. Artur
Bernardes, a fim de evitar que o País sofresse a influência da ação de
companhias estrangeiras. Deputado Cesário Coimbra - Câmara dos
Deputados - Sessão de 23-8-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
REFORMA CONSTITUCIONAL, INOPORTUNIDADE DA
- Tece considerações sôbre a - - . Deputado Oscar Corrêa - Câmara
dos Deputados - Sessão de 26-8-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
XXXVII

Pág.
REGIAO FRONTEIRA
- Defende emenda ao projeto de Constituição que obriga o Govêrno a apli-
car, anualmente, durante 20 anos, quantia não inferior a 1% de suas
rendas tributárias para execução dos planos da Superintendência do
Plano de Valorização Econômica da - - - do País - Deputado Antônio
Bresolin - Câmara dos Deputados - Sessão de 6-1-67 . . . . . . . . . . . . . . . 151

REPRESENTAÇAO DIPLOMATICA
- Reivindica inserção no Texto Constitucional, de preceito que torna obri-
gatória a - - - do País, junto ao Vaticano. Deputado Medeiros Neto -
Câmara dos Deputados - Sessão de 10-1-67. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . . . . 158

REVOLUÇAO DE 1964 (Ver "REVOLUÇõES POLíTICAS")


REVOLUÇõES POLíTICAS
- Estabelece a diferença entre as - - - e as de tipo social. Aponta a
Revolução de 1964 como uma revolução nitidamente política. Senador
Afonso Arinos - Senado Federal - Sessão de 14-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . • 28
- Tece comentários sôbre as--- e deduz que o Projeto de Constituição
expressa a evolução natural dêsse tipo de revolução. Senador Afonso
Arinos - Senado Federal - Sessão de 16-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

RIO PARAíBA (Ver "BAIXADA FLUMINENSE")


SAO FRANCISCO, VALE DO RIO
- Critica a ausência, no projeto de Constituição, de recursos para a valo-
rização da bacia do rio São Francisco - Deputado Antunes Oliveira
- Câmara dos Deputados - Sessão de 13-12-66 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
- Afirma que vai apresentar emenda ao Projeto de Constituição, no sen-
tido de que o Govêrno continue obrigado a traçar o plano de aproveita-
mento total das possibilidades econômicas do - - - Deputado Franceli-
no Pereira - Câmara dos Deputados - Sessão de 13-12-66. . . . . . . . . . 130
- Reclama a ausência de quotas constitucionais no nôvo projeto de Cons-
tituição, afirmando que apresentará emenda restabelecendo o art. 29 do
Ato das Disposições Transitórias da Constituição de 1946 - Deputado
Manoel Novais- Câmara dos Deputados- Sessão de 13-12-66. . . . . . . . . 131

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


- Critica a competência do - - - para decidir, em tese, sôbre a incons-
titucionalidade de leis federais. Deputado Oscar Corrêa - Câmara dos
Deputados - Sessão de 26-8-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
- Qualifica de inovação estranha o fato de o Projeto conceder certas
atribuições especiais ao - - - , tal como a de se manifestar sôbre as
decisões tomadas pela Justiça Militar, em relação a acusados civis.
- Considera que a participação do - - - , em decisões sôbre cassações de
direitos políticos é matéria que talvez suscite controvérsias fundadas.
Senador Afonso Arinos - Senado Federal - Sessão de 16-12-66 - - 53
XXXVIII

Pág.
TRABALHADOR - GRATIFICAÇAO ANUAL DO
- Reporta-se a proposição de sua autoria, inspirada na Constituição de
1946 referente à concessão de - - . Deputado Pedroso Júnior - Câ-
mara dos Deputados- Sessão de 11-1-67 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161

TRAMITAÇAO DA MATÉRIA CONSTITUCIONAL (Ver "PRAZO PARA


TRAMITAÇAO DO PROJETO DE CONSTITUIÇAO"l
TRIBUNAL DE CONTAS
- Refere-se aos podêres de fiscalização - - . Senador Afonso Arinos
- Senado Federal - Sessão de 16-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
- Apela no sentido de que se restaure, no texto da Carta que o Congresso
vai aprovar, os artigos 76 e 77, e parágrafos da Constituição de 1946 -
Deputado Medeiros Neto- Câmara dos Deputados- Sessão de 20-12-66. 146

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL


- Lê estudo de juristas de São Paulo relacionado com a reforma da Consti-
tuição, no Capítulo referente ao - - Deputado Aniz Badra - Câmara,
dos Deputados- Sessão de 14-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137

VALE DO PARNAíBA
- Analisa as dificuldades do Estado do Piauí e defende emenda de sua
autoria ao projeto de Constituição que destina meio por cento da
receita da União à valorização e ao aproveitamento do - - Senador
José Cândido - Senado Federal - Sessão de 11-1-67. . . . . . . . . . . . . . . . 118

VALORIZAÇAO ECONOMICA DA REGIAO FRONTEIRA (Ver "REGIAO


FRONTEIRA")

VALORIZAÇAO DO RIO PARAíBA E DA BAIXADA FLUMINENSE (Ver


"BAIXADA FLUMINENSE")
VEREADORES
- Anuncia emenda, ao projeto de Constituição, que concede remuneração
aos Vereadores de tôdas as cidades do Brasil - Deputado Argilano
Dário - Câmara dos Deputados - Sessão de 14-12-66 . . . . . . . . . . . . 135
- Anuncia à Casa a apresentação de emenda ,ao Projeto de Constituição,
concedendo remuneração aos ~ Deputado Antônio Bresolin -
Câmara dos Deputados - Sessão de 17-12-66 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
- Defende a remuneração para todos os - Deputado Argilano Dário
- Câmara dos Deputados - Sessão de 5-1-67. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
- Condena a gratuidade da função de Vereador - Senador Argemiro
de Figueiredo - Senado Federal - Sessão de 5-1-67 . . . . . . . . . . . . . . 101
- Defende emenda, ao projeto de Constituição, que restabelece a remu-
neração para os - - Deputado Antônio Bresolin - Câmara dos Depu-
tados - Sessão de 6-1-67. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
XXXIX

Pág.
- Manifesta-se contrário a gratuidade do mandato dos - - - Depu-
tado Euclides Triches - Câmara dos Deputados - Sessão de 9-1-67 156

VOLTA REDONDA
- Tece considerações sôbre - - - . Senador José Ermírio - Senado Fe-
deral - Sessão de 21-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92

VOTAÇAO DO PROJETO DE CONSTITUIÇAO


- Consigna seu protesto pela fórmula criada para a votação da nova
Constituição - Deputado Cunha Bueno - Câmara dos Deputados -
Sessão de 13-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
- Comunica que na - - - adotará, na íntegra, o voto do M.D.B., emitido
na Comissão Especial - Deputado Lino Braun - Câmara dos Depu-
tados - Sessão de 20-12-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146

VOTO
- Critica o - - - a descoberto. Senador Aurélio Vianna - Senado Fe-
deral - Sessão de 29-11-66. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
DISCURSOS PRONUNCIADOS NO SENADO FEDERAL E NA CAMARA
DOS DEPUTADOS ANTES DO ENVIO DO PROJETO DE NOVA
CONSTITUIÇÃO AO CONGRESSO NACIONAL

SENADO FEDERAL ra Andrade, cuidando da reforma do


Poder Legislativo. E no estudo en-
A Imprensa anuncia a edição de nôvo tão discutido e aceito por aquêle con-
Ato Complementar destinado a regular junto de Deputados e Senadores foi
a tramitação de matéria constitucional. fixado: Primeiro, que a Emenda
O Senador JOSAPHAT MARINHO (MDB Constitucional poderia ser também
Bahia) (1), em discurso na sessão de da iniciativa do Presidente da Repú-
29 de novembro de 1966, estranha essa blica. Segundo, se daria por aceita a
providência, dizendo: emenda que fôsse aprovada em dois
turnos, na mesma sessão legislativa,
"Por que um ato destinado a regu-
por maioria absoluta da Câmara dos
lar o encaminhamento ou a trami-
Deputados e do Senado Federal. E
tação de uma emenda constitucio-
nal? acrescentava o estudo: Aprovada
numa, a emenda será logo enviada
Não haverá na Constituição, nas à outra Câmara, para sua delibe-
emendas Constitucionais ou nos atos ração.
institucionais normas que discipli- Havia sido encaminhado êste estu-
nem a discussão e votação de emen- do, com tôdas as suas conclusões, ao
da constitucional restrita ou ampla? Sr. Presidente da República, para um
"Sabe-se que a Constituição, no seu exame conjunto de todos os aspec-
texto originário, prescrevia quais os tos da reforma entre os dois podêres.
elementos que podiam ter a iniciati- Sobreveio, porém , surpreendente-
va da revisão e a forma de processá- mente, o Ato Institucional n. 0 2, de
la. Aí se estabeleceu, taxativamente, 27 de outubro de 1965. Nesse do-
que a emenda deveria ser aprovada cumento discricionário, o Poder Exe-
em duas discussões, pela maioria cutivo incluiu várias normas das que
absoluta da Câmara dos Deputados h a viam sido estudadas e propostas
e do Senado Federal, em duas ses- pelo Grupo de Trabalho do Congres-
sões legislativas ordinárias e conse- so Nacional. Entre as disposições
cutivas. É o que preceitua o § 2. 0 do adotadas no Ato Institucional, ins-
art. 217 da Constituição. Havia, pois, creveram-se aquelas duas - a da
a proibição de discutir-se e votar-se concessão da iniciativa do poder de
emenda constitucional em sessão le- emenda ao Presidente da República
gislativa extraordinária. Limitada- e a de que a Emenda se consideraria
mente, a Constituição se referia, ape- aprovada quando aceita, em dois tur-
nas, à sessão legislativa ordinária. nos da mesma sessão legislativa por
Estava, porém, o Congresso Nacio- maioria absoluta da Câmara dos
nal, por um Grupo de Trabalho de- Deputados e do Senado Federal.
signado por V. Ex.a, Sr. Senador Mou- (1) D.C.N. (Seção li) de 30-11-66 - pág. 6.326
-2
Por igual, o Ato Institucional intro- Até êste instante, o Congresso vo-
duziu, no seu contexto a outra nor- tou emendas constitucionais, inclu-
ma: "Aprovada numa, a Emenda se- sive as que foram propostas pelo
rá logo enviada à outra Câmara, pa- Govêrno proveniente do movimento
ra sua deliberação. militar de março de 1964, sem que
Logo, salvo melhor entendimento, fôssem necessárias outras normas
além daquelas consubstanciadas nos
há preceito de ordem constitucional
atos institucionais em vigor. Enten-
ou institucional regulando a trami-
deu, assim o Poder Executivo que as
tação de Emenda, inclusive no sen-
normas estabelecidas eram bastan-
tido que ela pode ter curso em ses-
tes. Nem se poderia admitir que assim
são legislativa extraordinária. E as-
sim se há de entender porque é da não as considerasse, quando algumas
delas partiram de sua própria auto-
técnica legislativa o uso comum da
ridade discricionária."
expressão "sessão legislativa", ca-
racterizada, segundo sua natureza,
em ordinárias e extraordinárias.
"Dir-se-á segundo corre em determi-
Se atos posteriores, modificando a nados círculos, que não pretende o
Constituição, suprimem a expressão Govêrno mandar apenas uma emen-
ordinária, usando apenas a fórmula da mas uma Constituição, que subs-
"sessão legislativa", claro se torna titua a vigente. Mas se é disso que se
que a Emenda pode ter andamento trata, ainda melhor para investir-se
e decisão em sessão legislativa extra- o Congresso Nacional de capacidade
ordinária. plena para decidir, porque então não
Se assim é, como logicamente pare- estará o Poder Legislativo exercendo
ce ser, e se o Poder Executivo deseja, a faculdade de emendar, mas a ta-
neste instante, promover uma refor- refa soberana de Constituinte.
ma constitucional, mais não lhe ca- Presumir-se uma Constituinte sem
be do que encaminhar ao Congresso poder pleno de decisão é ato de sub-
a convocação extraordinária, com o versão, que não há de ser praticado
texto da proposição que pretende ser por um Govêrno que, segundo tem
discutida e votada." proclamado insistentemente, se criou
para condená-la. ~ do direito uni-
versal de todos os povos, dos desen-
"Se, porventura, houver necessidade volvidos como dos subdesenvolvidos,
de normas especiais, de uma reno- que a tarefa constituinte de elabo-
vação quanto à parte meramente rar um nôvo instrumento, e apenas
adjetiva ou processual do estudo da modificar o existente, implica um
emenda, trata-se de assunto da com- poder soberano. Só êle é capaz e au-
petência soberana e exclusiva do Po- têntico para impor ao povo uma no-
der Legislativo. va Carta disciplinadora de seus di-
Como em outras oportunidades já se reitos e de seus deveres."
tem verificado, se o Congresso pre-
cisar de norma distinta da que vem
regulando seus trabalhos, cuidará de "Quando uma nação corre o risco de
elaborá-la e aprová-la. Desde, porém, não discutir amplamente uma refor-
que se trate de regular os trabalhos ma constitucional é porque de ato
internos do Congresso, dêste é a com- dessa natureza não se trata, mas de
petência para a inovação que se tor- imposição de vontade de determina-
nar necessária. dos detentores do poder."
-3-
Acentuando que o M.D.B., como orga- çados, porque todos podem ser gar-
nização política, ainda, não fêz qualquer roteados, porque a votação do diplo-
pronunciamento, ainda não tomou qual- ma legal, será feita com a espada de
quer atitude sôbre a elaboração da nova Dâmocles sôbre o pescoço político de
Constituição, o Senador AURÉLIO VIAN- cada representante da Nação brasi-
leira.
NA (MDB-Guanabara) (2) expõe seu
pensamento face à questão: A discussão e votação de um diplo-
ma da altura de uma Constituição
"Defenderemos a tese de que a Opo- não pode ser maculada perante a
sição deve participar do processo de consciência nacional e a democrá-
elaboração da nova Carta da Repú- tica internacional. O voto é a desco-
blíca mas condenaremos a sua cola- berto, para que sejam marcados os
boração com os atuais detentores do votantes. Fôsse a descoberto. Mas
Poder: participar sim; colaborar quem vota está sob a ameaça de sus-
não! pensão dos seus direitos políticos ou
de cassação do seu mandato, tanto
A Constituição, se democrática ela
o que vota pertencendo aos quadros
é, não pertence, quanto à sua elabo-
da Oposição como o que vota per-
ração, aos detentores eventuais do
tencendo aos quadros do grupo ma-
Poder, no campo do Executivo, não
joritário.
pertence ao Partido da Maioria nem
tão pouco ao da Minoria. Em nome É bom que se esclareça êsse ponto.
do povo deve ser elaborada. E, in- Se, porventura, admitindo-se por
vestidos do poder constituinte, os re- absurdo, o Govêrno suspendesse os
presentantes dêle, povo, plenamente artigos 14 e 15, eliminando-os do Ato
garantidos devem emitir o seu pen- Institucional n. 0 2 para favorecer
samento, emitir a sua opinião livre- apenas a Oposição, esta estaria no
mente, discutir o nôvo diploma cons- direito de rebelar-se e, rebelando-se,
titucional, livremente votá-lo. Uma protestar.
oposição consciente dos seus deveres, Sr. Presidente e .Srs. Senadores, a
da sua responsabilidade perante o elaboração de uma Constituição é, ao
povo, não deve barganhar. Pleitear, certo, o ato mais importante prati-
sim, defender idéias, sim, manifestar cado pelo representante de um povo.
o seu pensamento sempre dentro da
ordem democrática, perfeitamente. Nós não vamos pleitear junto ao Par-
Mas não barganhar com aquilo que tido, isto é, à organização política,
é do interêsse coletivo, que é do ln- que a Oposição exija da Maioria se-
terêsse do povo, do interêsse do povo jam aceitas as suas principais rei-
atual, como da posteridade. vindicações. Nós vamos pleitear o di-
reito de emendar, de defender as
Nós, da oposição, vimos pleiteando nossas emendas, o direito de serem
sejam ab-rogados, sejam eliminados votadas depois de discutidas, de se-
do Ato Institucional n. 0 2, os artigos rem aprovadas ou de serem rejeita-
14 e 15, porque representam uma das, mas dentro de um processo de-
ameaça, porque são uma ameaça, mocrático legítimo, autêntico.
garroteiam a liberdade do constitu-
inte, quando da elaboração da Cons- Evitemos a palavra colaboracionis-
tituição. Mas não do constituinte mo e empreguemos a palavra parti-
oposicionista: do constituinte oposi- cipaÇão. Como membros da comuni-
cionista como do constituinte situa- dade nacional, em nome dela, iremos
cionista, porque todos estão amea- (2) D.C.N. (Seção II) de 30-11-66 - pãg. 6.327
-4
defender os seus direitos, participan- Mas, Sr. Presidente, o Ex.mo Sr.
do da elaboração de uma Constitui- Presidente da República acaba de
ção e combatendo todo o processo nomear uma comissão de notáveis
antidemocrático, todos os pensa- juristas, presidida pelo meu ilustre
mentos e idéias que firam os direi- e digno coqterrâneo, Professor Levi
tos fundamentais do homem brasi- Carneiro, para cuidar da consolida-
leiro, do cidadão brasileiro e porfi- ção constitucional, com o objetivo
ando e trabalhando para que a Cons- de consagrar um corpo institucional
tituição a ser elaborada represente uniforme.
aquêles ideais pelos quais se bateram Confesso, Sr. Presidente, sou pela
os brasileiros durante a última ca- convocação de uma Constituinte que
tástrofe universal, a segunda guerra modifique o teor dos nossos passos,
universal, defendendo aquêles prin- que proceda, pelo menos, a uma re-
cípios que estão esculpidos na Carta visão de práticas mentais. As leis
das Nações Unidas e que tiveram o que circundam as instituições de
nosso apoio, o nosso placet, o nosso um povo devem ser modeladas com
referendo." precaução, em consonância com os
hábitos e a formação das sociedades
CÂMARA DOS DEPUTADOS em que atuam. Sem isso, o Direito
O Deputado NORONHA FILHO (MDB- não poderá preservar seus princi-
Guanabara) (3) dá conhecimento à Câ- pais objetivos, tais como a justiça
mara dos Deputados de telegrama que e a segurança sociais.
enviou ao Professor Orozimbo Nonato, Sempre copiamos normas legais e
como seu antigo aluno e discípulo, estra- processos europeus, bem como esta-
nhando o seu silêncio diante das repe- dunidenses. Não podemos manter
tidas notícias de que fará parte da me- mais o velho marginalismo jurídico
lancólica e triste Comissão de Juristas, que nos proporcionou um conflito
de cultura e contradições que até
com a finalidade de outorgar uma nova
hoje laceram a alma do País. Na-
Constituição Fascista à Nação Brasileira. buco de Araújo dizia muito bem que
Na sessão de 27 de abril de 1966, o "a melhor qualidade das leis é a sua
Deputado BRtGIDO TINOCO (sem le- relação com as circunstâncias lo-
genda-Rio de Janeiro (4) faz um his- cais". Mas o Brasil ainda não se
quis aperceber desta realidade. Num
tórico de tôdas as Constituições brasi-
acinte ao espírito dominante, as
leiras. Vamos recordá-lo: transformações irrompem à sombra
"Sr. Presidente, como antigo Consti- de leis inadaptáveis. Não são orgâ-
tuinte, que pôde prestar serviços, nicas, não vêm de dentro para fora,
pequeninos embora, à nossa Carta o que redunda em permanente ins-
Magna, quero confessar que ela já tabilidade. Por indolência espiritual,
se encontra ultrapassada, batida não sistematizamos as ocorrências
pelo tempo, alheia à realidade bra- fundamentais de nossa história.
sileira. Além disso, a Revolução Nessa vilegiatura do espírito, com-
acrescentou emendas e atos que a plicamos problemas de clareza me-
tornaram paradoxal em alguns pon- ridiana, como São Bernardo, que,
tos. Devo proclamar, desde logo, com antes de descobrir os dramas da
espírito de justiça que a Revolução
também corrigiu alguns erros e dis- (3) D.C.N. (Seção I) de 14-4-66 - pág. 1.706
(4) D.C.N. (Seção I) - Suplemento ao n.o 54
torções. - 28-4-66 - pág. 6
5-
alma, dizia ser Deus incompreensí- seu mais alto sentido, no dizer de
vel. Assim, nossos males vêm dos Gurvitch, é fruto da experiência
homens e das instituições fantásti- crucial de populações organizadas e
cas que criamos. Montaigne, o irre- amadurecidas à pressão moduladora
verente Montaigne, dizia muito bem do meio. Na concepção de nossas
que o homem nunca deve afirmar leis, erramos no Brasil-Colônia; er-
que tem sarna no traseiro, antes de ramos com os Andradas na Consti-
saber o que é sarna e o que é tra- tuição projetada; erramos com Car-
seiro. neiro de Campos e Nogueira da
Gama, na Constituição outorgada
Pois bem, hoje, para o estudo dos que êles prepararam para D. Pedro
preceitos supremos do Estado, en- I, e voltamos a errar com Rui na
contra-se em pauta o método his- Constituição Republicana e nas de-
tórico-filosófico de que nos fala mais porque tivemos acima de tudo
Gaetano Mosca, o preclaro consti- o amor ao traslado, à cópia arbi-
tucionalista de Turim. Nêle mergu- trária e irreverente.
lham raízes os contingentes da so- É fácil demonstrar o que nos custa-
ciologia e da história. A Constitui- ram em tragédia todos êsses equí-
ção de um povo e sua atividade são vocos. No Brasil-Colônia não tratou
atualmente dissecados, tendo em o legislador português de conhecer
vista a dinâmica da política preco- o verdadeiro estado da consciência
nizada em largos moldes pelo escan- jurídica do povo que o habitava. No
dinavo Kilen. Por outro lado, o entanto, à revelia da própria me-
chamado Direito Social conseguiu, trópole fundá vamos nova ordem
em nossos dias, extraordinária res- econômica, social e política. Uma
sonância jurídica subvertendo de população inquieta reformulava
maneira sensível as regras do clas- quase insensivelmente, com os seus
sicismo liberal. Brethe de La Gras- erros e costumes, os dispositivos le-
saye, ao estudar o papel do coope- gais importados. O arbítrio e a in-
rativismo, já o sentia vivo, palpi- justiça, através dos anos, armaram
tante em suas autênticas dimensões os braços de índios, de negros e
diante de uma realidade indissimu- mestiços, de trabalhadores em geral
lável que punha por terra o indivi- e de homens de tôdas as classes,
dualismo fundamental de alguns para os movimentos de protesto e
juristas. Em seu "Tratado de Direi- de libertação que enriqueceram a
to Operário", Jesus Castorena põe História Pátria.
diante de nós o quadro atual da
Aqui se arraigou, de longa data, o
classe trabalhadora com sua norma
jurídica peculiar, intangível, emol- hoje conhecido direito de resistên-
durando uma nova fôrça política de cia, que foi nosso escudo na vida
poder, espécie de constituição pro- dos pleitos, em face do descumpri-
letária paralela à constituição polí- mento ou da agressividade das leis.
tica. Tais direitos específicos que Autêntica revelação de desígnios
edificaram a democracia social pai- humanos, essas atitudes heróicas
ram acima dos interêsses profissio- entre nós modificaram, em plena
nais, projetam-se em sentido sócio- caminhada, o estalão assistencial, o
econômico na alma da Nação e conceito jurídico e a relação dos ho-
importam na preservação do regime mens entre si.
político. l!:sse direito social que con- E podemos exemplificar, para que
substancia o direito trabalhista no observem a fôrça do povo na orga-
-6

nização das leis de uma nação: no dias antes do seu supremo sacrifí-
Maranhão, há três séculos e meio, cio, desafiara o Conde de Assumar,
o Padre Luiz Figueira, à frente da nestes têrmos: "A lei não vos au-
arraia miúda, conseguiu revogar a toriza a agir sumàriamente, e em
Lei dos Machados, acêrca do cati- nome da lei nos rebelamos".
veiro perpétuo; no Ceará, à mesma
época, a classe média rebelada obri- Ainda neste ano de 1720, na cidade
gou o Governador a criar um qua- baiana de Ilhéus, João Figueira
dro de salários; no Recife, durante fundou a agremiação dos peixeiros,
o domínio holandês, o povo inva- que marcou o advento do sindica-
diu o Conselho dos Escabinos e fêz lismo no Brasil. Foi um protesto de
que os escultetas assinassem a de- homens pardos que provocou a Lei
cisão legislativa que modificava as de 1774, pela qual foram facultados
leis do trabalho. aos indivíduos de côr todos os ofí-
cios e dignidades. O idealismo de
Nas planícies goitacazes, em terras Tiradentes, ao postular o abono fa-
fluminenses a tirania dos Astecas miliar aos pais com mais de 5 fi-
levou-nos a proclamar a República lhos, floriu século e meio depois do
século e meio antes da instauração seu enforcamento. A República dos
do regime republicano. Há quase Palmares, a Inconfidência Mineira,
três centúrias protestos gerais mo- a Revolução Baiana de 1798 e o seu
tivaram o Aviso de 6 de agôsto de Estatuto de Trabalhadores, o Movi-
1681, que proibia a acumulação de mento de 1817, todos êles estão sa-
empregos. Em 1700 é apedrejada a turados de espírito de resistência e
Câmara do Maranhão, que anulara formulam estado d'alma ou um ato
a eleição de um almotacé por ser de julgamento. A nossa própria in-
mulato e vendedor de sardinhas e dependência política, logo a seguir,
berimbaus. Na Bahia, em outubro veio da reação nacional contra a
de 1711, à frente da população, João subversão de nossa organização po-
Costa, cognominado "Maneta", pro- lítico-administrativa pelas Côrtes
testou contra a opressão dos escra- de Lisboa, que retiraram podêres
vos e o encarecimento do custo de outorgados ao Príncipe Regente
vida. No Piauí, em 1713, o índio Ma- para assim retornar aos velhos tem-
nuel, educado numa aldeia de je- pos coloniais. Mas a nossa maiori-
suítas, arrebanha elementos e vai dade política não nos fêz caminhar
pedir ao Govêrno o descanso sema- de acôrdo com as circunstâncias do
nal obrigatório. Em 1716, no Morro País. A primeira Constituição do
Velho e na Vila Nova do Caeté, em Brasil independente, oferecida por
Minas Gerais, explode a sedição Pedro I à Nação, é de feitura mar-
contra a ajuda do quinto. Também ginalista. Tanto a projetada em 1823
nessa província, em 1719, o prêto como a outorgada em 25 de março
Francisco, cognominado Chico Rei, de 1824 não acusam qualquer iden-
convoca a negraria afro-brasileira e tidade com o meio nacional. A Cons-
funda em Vila Rica o reinado do tituição planejada pelos Andradas
Rosário. Ainda nas Gerais, em 1720, era ilógica, artificial, contraditória
a insurreição de Felipe dos Santos aos nossos costumes. O próprio An-
fêz cessar os despachos aviltantes e tônio Carlos, em 1840, confessou que
coibiu por meses o arremate do ne- copiara a Constituição brasileira da
gro em praça pública, desde o mo- Noruega e da França. Mas Carneiro
mento em que o tribuno popular, de Campos e Nogueira da Gama,
7-
que deram a Pedro I uma Consti- Acredito que os nobres juristas que
tuição para ser outorgada, copia- aí estão designados possam recolher
ram-na também da França, da No- os elementos necessários para dar
ruega e, ainda mais, de Cádis. ao Brasil uma Carta autêntica que
O Estado, Sr. Presidente, é a ordem não seja cópia de outras, mas, ao
normativa e não pode ser alicerça- contrário, possa refletir a realidade
do em bases falsas, mas mediante brasileira. Quero também aprovei-
pesquisas, desde que os fatos Já tar o ensejo para felicitar a Casa
constituem teoria, no dizer de Goe- e o Brasil por ter V. Ex.a novamente
the. Sem a visão dos fatos, dos ho- na tribuna que honrou por treze
mens e das épocas não pode a rea- anos."
lidade vir à superfície, e, assim sen- O SR. BRíGIDO TINOCO - "Muito
do, o Estado não se identifica com obrigado ao nobre Deputado e dileto
a coletividade. Princípios jurídicos amigo Getúlio Moura, que me co-
supõem círculos sociais a que per- move com seu aparte. Mas desejo,
tençam. já que V. Ex.a citou Oliveira Viana,
Sr. Presidente, assim, dentro dêsses falar também sôbre o eminente so-
mesmos equívocos, penetramos na ciólogo da nossa terra. A respeito
República. O advento da República justamente da Constituição de 1891,
não mudou a mentalidade. O libe- dizia Oliveira Viana que Rui Bar-
ralismo revolucionário substituiu ve- bosa era perdulário de talento, era
lhos dogmas e plasmou no papel as homem excepcional, fora do espaço
mais fagueiras reivindicações popu- acanhado de seu tempo, mas não
lares. Não obstante, o Brasil mudou conhecia Sociologia. E dizia que,
apenas de zona de influência. Os certa vez, enviou a Rui o seu livro
Estados Unidos, com o federalismo, "Populações Meridionais do Brasil".
quebraram o predomínio europeu."
O Sr. Getúlio Moura - "Queria tra- Depois, morto o mestre, quis Olivei-
zer em apoio ao seu formoso e eru- ra Viana conhecer a Casa de Rui
dito discurso, que está sendo ouvido Barbosa. Percorrendo os santuários
com muita atenção por esta Casa, de seus estudos, pediu o livro "Po-
uma observação de ilustre contem- pulações Meridionais do Brasil". Fi-
porâneo nosso, o saudoso sociólogo cou satisfeitíssimo, quando a funcio-
Oliveira Viana, que, comentando a nária o passou às suas mãos. Por
Constituição de 91, a apontou como certo, o dedo de Rui havia deslisado
um documento admirável de inteli- sôbre aquelas páginas. Mas, com
gência, de sabedoria, mas que, na grande decepção, verificou que tal
verdade nunca tivera aplicação no não ocorrera. Estava intacto o livro."
Brasil. E fazia o seguinte comentá- O Sr. Hamilton Nogueira - "Meu
rio: ela, como as crianças mal nas- caro colega Brígido Tinoco, esta
cidas, morreu do mal de sete dias. Casa está ouvindo, com encanta-
Mas, de qualquer forma, V. Ex.a há mento, o brilhante discurso de V.
de verificar que o maior mal de Ex.a E, para mim, é um prazer es-
nossas leis é não serem aplicadas. pecial estar ouvindo o velho colega
E faz muito bem o nobre colega, da Constituinte, que nos ajudou a
neste resumo retrospectivo, em tra- elaborar a Carta. V. Ex.a disse mui-
zer para nós, nesta hora tão ingra- to bem que as modificações trazidas
ta e tão difícil para o regime cons- pela Revolução tornaram-se contra-
titucional, êsse precioso subsídio. ditórias. Não vou entrar na polêmi-
-8
ca, porque se vê de que lado está a em conta êsse aspecto sôbre que
contradição. Mas estou de acôrdo V. Ex.a já falou, contrário ao libe-
com V. Ex.a sôbre todos os pontos ralismo, é diferente, é preciso não
de vista aqui reafirmados, sendo o confundir a nossa democracia hu-
primeiro o de que há necessidade manística de hoje, em que consta o
de uma nova Constituinte. Agora, direito trabalhista, com as democra-
Constituição verdadeira, legítima, cias em que Fulton Sheen, grande
com as suas bases populares. Por bispo americano, sociólogo e políti-
mais eminentes que sejam tôdas as co, condenava aquela liberdade de
pessoas que compõem essas Comis- interferência. Não pode ser. A liber-
sões Mistas para elaborar uma re- dade seria adequada aos direitos da
forma, uma readaptação da nossa pessoa humana."
Constituição às modificações trazi-
O SR. BRíGIDO TINOCO - "Agra-
das por várias reformas, por mais
deço ao meu prezado mestre e ami-
eminentes que sejam êsses ilustres
go, Deputado Hamilton Nogueira, a
brasileiros, êles não têm o poder le- gentileza do aparte. V. Ex.a citou
gítimo. :l!:ste poder só pode ser ou-
Barres e foi muito bom havê-lo ci-
torgado pelo povo."
tado, porque êle havia dito isto tam-
O SR. BRíGIDO TINOCO -"Estou bém que estamos afirmando - que
de acôrdo com V. Ex.a" sem realidade nacional não pode
O Sr. Hamilton Nogueira - "Disse haver Constituição nacional.''
muito bem V. Ex.a que tôdas as O Sr. Pedroso Júnior - "V.Ex.a re-
Constituições foram cópias. De ma- edita aqui uma daquelas memorá-
neira que só pode haver uma Cons- veis páginas da oratória que nos
tituição dentro daquele sentido do acostumamos a apreciar ao tempo
grande Maurice Barres, quando fa- da Constituinte, em que todos esti-
lava sôbre a França e se referia às vemos juntos. Mas dizia eu, antes
verdades francesas. Nós temos as de V. Ex.a assomar à tribuna, dos
nossas verdades brasileiras. E só le- meus receios de que viéssemos a in-
vando em conta essas verdades po- correr nos mesmos erros, nos mes-
demos estabelecer as leis de acôrdo mos riscos dos Constituintes que fi-
com a nossa índole, de acôrdo com zeram as Cartas anteriores. É que
as nossas instituições. V. Ex.a falou não temos um clima de tranqüili-
muito bem sôbre a questão da lei, dade. E para que possamos, real-
o conceito de lei. A de Montequieu, mente, elaborar uma Constituição
é, ao meu ver, a melhor definição: seria mister que os atos institucio-
A lei é a relação necessária que de- nais fôssem revogados.
riva da essência das coisas. Usando
uma linguagem filosófica, tomista E mais, que nos esquecessemos dos
ou aristotélica, a natureza é o prin- dias tão recentes, para não incor-
cípio da atividade dos seres e das rermos no êrro de 1946, em que a
coisas. É dêsses princípios vivos que Carta Magna foi elaborada com as
decorrem as leis legítimas para cada prevenções do regime anterior."
país. De maneira que estou de pleno O SR. BRíGIDO TINOCO - "Mas
acôrdo com V. Ex.a, em que qual- vamos animar-nos, meu caro Depu-
quer reforma, qualquer Constituição tado Pedroso Júnior, de expectativas
nova que seja elaborada deva ser de salutares. Muito grato pelo aparte
acôrdo com a realidade brasileira de V. Ex.a, meu prezado colega e
em tôda a sua extensão. E, levando amigo.
9-
Mas estávamos na República. En- rigível marginalismo jurídico. Mas a
tão, dizia, o advento da República República Corporativista prometida
não mudou a mentalidade. O libe- mantém também, para a euforia po-
ralismo revolucionário substituiu ve- pular, os princípios liberais da Car-
lhos dogmas. Não obstante, o Brasil ta de 1824 e das Constituições de
mudou apenas de zona de influên- 1891 e 1934; isto é: todos são iguais
cia, dizia eu. Mas D. Antônio Ma- perante a Lei; instrução para todos
cedo Costa, que havia sido mestre os brasileiros, de graça etc.
de Rui Barbosa, escreveu-me ime-
diatamente, logo depois de procla- Mas, chegamos à Constituição de
mada a República. Dizia êle: 1946. É a mais experimentada das
nossas Constituições. Entretanto, o
"Não seja a França de Gambetta legislador constituinte não mediu as
o modêlo do Brasil, mas a Cons- vicissitudes já enfrentadas pela Na-
tituição americana." ção, nem se lembrou de que o mun-
do não é estático. Fomos mais rea-
Quer dizer, sempre o espírito de imi- listas que o rei em nosso fetichismo
tação. E assim foi feito. No que con- pela Federação. E, nesse plano, a
cerne à elaboração da Carta Magna, política municipal tornou-se, em al-
a inexperiência de Rui venceu-lhe o guns setores, num antro de cobiças
talento e o sincero desejo de bem e disputas sem grandeza humana.
servir. Reservatório incomparável de
erudição, manipulou artificiosamen- Só adotamos o sistema do prefeito
te a Constituição Nacional. Ao exa- por eleição, quando a América do
minar a metodologia clássica de Norte admite a lei do tipo comum
Rui, Oliveira Viana enquadra-o en- que nós admitimos, o tipo "comis-
tre os homens marginais de que nos sion", o tipo gerencial. Isto é, o tipo
fala Park, os que vivem entre duas "comission" como função executiva
culturas, a do seu país, que lhes e legislativa, ou o tipo gerencial,
forma o subconsciente coletivo, e a com um grande engenheiro admi-
cultura estadunidense, ou da velha nistrando o município.
Europa, que lhes traça as diretrizes Mas, Sr. Presidente, eu desejava re-
do pensamento, as formulações po- sumir as minh~s considerações. E já
líticas e os paradigmas constitucio- que fiz críticas, desejava apresentar
nais. também algumas sugestões aos emi-
A ausência do conhecimento de so- nentes mestres - e peço perdão por
ciologia em Rui o levou a êsses esta ousadia - aos que estão fa-
deslises. Mas, Sr. Presidente, a Cons- zendo a nossa reformulação consti-
tituição de 1934 também desceu a tucional, ou consolidação constitu-
minúcias desnecessárias, e, como cional.
a de 1891, é diploma de intenções 1.0 ) As normas legais inspiram-se
teológicas. Não construiu o futuro; nos costumes. Isso pôsto, é mister
ratificou o passado, respeitada a considerar as tradições e os elemen-
conjuntura. Adotou certas regras e tos constitutivos do povo, a fim de
recusou outras tantas, sem procurar que a lei melhor regule o compor-
as causas, as funções sociológicas. tamento da sociedade.
A Carta de 1937 tinha um pouco do
rigorismo do então sistema polonês, 2.0 ) Atualmente, o princípio consti-
e uma dose mais forte da Carta dei tucional da separação dos podêres
Lavoro, para não fugirmos ao incor- é inflexível, aplástico, carece evo-
- 10

luir para delegação legislativa e am- Entretanto, não vamos negar a im-
pliação do poder normativo gover- portância da questão."
namental.
O SR. BRíGIDO TINOCO - "Não o
3.0 ) Desenvolvimento e difusão do nego. Apliquemos a Federação. De-
ensino capaz de transformar em vemos fazê-lo. Mas os Estados Uni-
realidade o dispositivo que o consi- dos têm um outro sentido quanto
dera dever do Estado, inclusive com ao regime federativo. Estamos sendo
o que se relaciona com a demanda mais realistas que o rei."
de mão-de-obra no Brasil.
O Sr. Hamilton Nogueira - "O que
4.0 ) Moderar os exagêros do regime temos de fazer são as nossas leis."
federativo, sem preocupação iguali-
O SR. BRíGIDO TINOCO - "As imi-
tária, considerando a autonomia tações salutares devem ser seguidas.
municipal em proporção maior ou
menor de conformidade com as pe- Há regras comuns a todos os povos,
culiaridades locais, de vez que onde desde que há necessidades comuns
há diversidade de cultura deve ha- a todos êles. Devemos distinguir o
ver pluralidade de sistemas eleito- essencial do subalterno."
rais."
O Sr. Hamiiton Nogueira - "Agora
O Sr. Hamilton Nogueira - "A nossa se completou nosso pensamento. Na-
Carta de 1946 tem aspectos bons e da de isolacionismo. Temos de acei-
novos, que não existiam nas outras, tar as contribuições. Estou de acôrdo
inclusive essa parte relativa ao mu- com V. Ex.a num ponto: o da atua-
nicipalismo. Há uma contradição lidade brasileira. V. Ex.a disse que
nas afirmativas do nobre colega; só admite prefeito eleito, não pre-
perdoe-me, talvez seja minha a in- feito nomeado. Com a nomeação de
compreensão. V. Ex.a disse muito prefeitos iríamos voltar ao totalita-
bem que não se pode confundir o rismo, que é sempre um espantalho
Estado com a coletividade e, depois, para todos nós, democratas legíti-
discorda da mística - não sei a pa- mos, nascidos na província das li-
lavra que usou - do federalismo. berdades, a Província do Rio de Ja-
neiro."
Quer dizer, ou admitimos a Fe-
deração ou então vamos admitir o O SR. BRíGIDO TINOCO - "Muito
que V. Ex.a condena - o Estado grato pelo aparte com que me hon-
totalitário, o Estado com letra rou o ilustre colega.
maiúscula, que se identifica, às vê-
Infelizmente, não poderei prosseguir
zes, com os ditadores: "l'État c'est
em minhas considerações. Pretendia
moi" de outras eras e dos tempos
falar, ainda, sôbre o aprimoramen-
de hoje em alguns países. De ma-
to da organização sindical, sôbre a
neira que a tônica municipalista foi
proibição de empréstimos estaduais
uma reação. Houve erros. Nós erra- e municipais externos, sôbre a mo-
mos e a experiência vem confirmar dificação do aparelho arrecadador,
o nosso êrro, porque fragmentamos
sôbre o aprimoramento dos partidos
demais os Estados."
etc. Mas, Sr. Presidente, devo ter-
O SR. BRtGIDO TINOCO - "Esta- minar, à vista da hora implacável.
mos, então, de pleno acôrdo."
Somos uma geração angustiada, que
O Sr. Hamilton Nogueira - "Nesse enfrenta o mundo já envolvida por
ponto, sim. todos os problemas da inquietação
-11

universal. Quero que o direito à vida Em 19 de agôsto de 1966, o Deputado


e que o direito ao trabalho, no dia GETúLIO MOURA (MDB - Rio de Ja-
de amanhã, seja um preceito medu- neiro) (7), na qualidade de Constituinte
lar que implique em felicidade para de 1946, combate a exigüidade de tempo
o homem. para a elaboração de uma Nova Consti-
tuição que não pode ser uma lei casuís-
Muitas vêzes as teorias revolucioná- tica, nem elaborada para atender a si-
rias que dominam o cérebro huma- tuações emergentes:
no são impulsos que o envolvem à
sombra da ausência de fatôres de "A Constituição é um documento
ordem moral nas grandes evoluções que, se não tem o sentido da eter-
que se processam. A liberdade, disse nidade, deve ter pelo menos uma
bem Renan, é como a verdade: mui- duração no tempo que permita que
to pouca gente a estima por sua tôdas as suas normas, bem estrati-
própria conta. Mas devemos preser- ficadas, possam corresponder aos
vá-la na luta de cada momento, nos anseios do povo. Salvo nos movi-
embates de cada hora, para que mentos revolucionários precedidos
possamos então nos nossos dias di- de uma filosofia ou tendo à frente
fíceis, diante de nossos inimigos, di- um grande chefe, tôdas as Consti-
zer como Gibran diante do povo de tuições devem refletir uma necessi-
Orfalase: "Podeis abafar os rufos dade exatamente reclamada pelo
dos tambores e destruir as cordas povo e, por isso, as Constituições,
da lira, mas ninguém poderá proibir via de regra, não podem ser fruto
a calhandra de cantar." de uma só corrente política, nem de
um só partido. A Constituição deve
O Deputado OSMAR DUTRA (ARENA significar, sobretudo, uma obra de
- Santa Catarina) (<>) na sessão de 17 compreensão, transigência, de har-
de agôsto de 1966, congratula-se com o monia para que todos os ângulos
Presidente da República "pela feliz ini- da opinião pública sejam nela re-
ciativa de mandar codificar a nossa presentados e possa ser o retrato
Carta Magna adaptando-a à realidade vivo do próprio país em que será
brasileira". aplicada."

Já o Deputado HUMBERTO EL-JAICK A seguir, o orador faz uma análise


(MDB - Rio de Janeiro) (ll) afirma que das Constituições de 1891, 1934 e 1946,
afirmando que a Constituição vigente é
não se legisla aprioristicamente, sem
singular em relação às outras.
considerar a realidade do povo, dizendo:
"Nela havia a preocupação da justiça
"Sr. Presidente, garanta-nos o Go- social. Todos os princípios econômi-
vêrno que não vamos, ao final de cos estão ali perfeitamente defini-
nosso mandato, chancelar, referen- dos, para que ela pudesse ancorar
dar uma Carta outorgada, mas que na realidade brasileira. E vivemos
a nossa participação nesses traba- um largo período de tranqüilidade
lhos será para ajustar a nossa Cons- e até de prosperidade sob a égide
tituição à realidade nacional abrindo
da Carta de 1946. Digo que vivemos
perspectivas novas para a redemo- porque, hoje, são apenas frangalhos
cratização, para o desenvolvimento
o que resta da Carta, porque profun-
e, não tenho dúvida, nós, do MDB,
estamos prontos a prestar a nossa <5 ) D.C.N. (Seção I) de 18-8-66 - pág. 5.024
(6 ) D.C.N. (Seção I) de 18-8-66 - pág. 5.022
colaboração leal e desinteressada." (7) D.C.N. (Seção I) de 20-8-66 - pág. 5.195
- 12
damente violada, deformada, acres- constitua amanhã para todos nós,
cida, e, pior que tudo isso, descum- Deputados, e para os Senadores, um
prida naqueles dispositivos não al- labéu que fira a nossa cultura, o
terados pelos Atos Institucionais e nosso patriotismo e até a nossa obri-
Complementares.'' gação de servir com lealdade a ês-
Em face dêstes argumentos, o Depu- ses princípios imortais de liberdade
tado Getúlio Moura frisa que o País está e de justiça social." ( ... )
inquieto com o sentido da nova Carta.
Será uma Carta autoritária? Será uma Ora, Sr. Presidente, disse inicial-
Carta em que o Executivo vai contar mente que só revoluções com che-
com excessivos podêres para que melhor fes autoritários costumam outorgar
aniqüile o Poder Judiciário e o Poder Cartas constitucionais. Fora daí, ês-
Legislativo? tes documentos são frutos sempre
do entendimento, da compreensão,
"Em princípio - conclui - podía- da transigência e da harmonia. Não
mos responder que não acreditamos podem nunca refletir tendência de
que uma Carta elaborada por Oro- uma só corrente política. Daí meu
zimbo Nonato, Levi Carneiro e Sea- receio de que a Constituição não
bra Fagundes possa ser um do- tenha êsse aspecto, não reflita a
cumento contrário à história e à atualidade brasileira, mas, apenas,
tendência democrática do País. Mas a ação e o pensamento, a diretiva
o Ministro da Justiça, com inteira do Poder Executivo, hoje com tan-
lealdade e com surprêsa para esta tos podêres que, sabemos, não pode
Casa, declarou que a obra daqueles comportar uma Carta democrática
juristas seria revista pelo Poder mas, apenas, uma Carta ditatorial,
Executivo e teria, então, sua reda- se é que podemos ter também, Cons-
ção final feita pelo Ministério da tituições ditatoriais. Por isso, seria
Justiça. tão fácil ao Presidente Humberto
Castello Branco, a quem tenho com-
Daí o nosso temor, Srs. Deputados,
batido vivamente, de cuja ação te-
de que a Carta, ora em elaboração,
nho discordado a cada passo, me-
possa sofrer na ação e no trabalho
ditar, um instante, na hora em que
do Poder Executivo, arranhões de
seu Govêrno vai terminar, e ter pelo
tal ordem que chegue a esta Casa
menos, neste final, um gesto alto
inteiramente desfigurada. Não dese-
que êste País lhe agradeceria: o de
jo, evidentemente, que aquêle Poder
permitir que a Carta que deve reger
outorgue a nova Carta, ainda que,
os destinos de 80 milhões de brasi-
de certa forma, para nós, seria me-
leiros e não de uma minoria privi-
nos penoso do que se ela tivesse de
legiada fôsse votada por autênticos
tramitar pelas duas Casas do Con-
representantes do povo, saídos das
gresso, sem que tenhamos meios e
eleições de 15 de novembro. Tudo
modos de inserir aquêles princípios
indica, porém, que isto não vai ocor-
sob os quais todos vivemos na época
rer. 1l:ste Congresso será como que
republicana.
pressionado, acuado, para aceitar,
Não dispondo a Oposição de maio- homologar, aprovar e promulgar a
ria suficiente para dar a essa Carta Carta em elaboração. E é lamentá-
o sentido democrático que todos re- vel que isso aconteça quando, reco-
clamamos, temos receio de que, pro- nheço, há no Govêrno grandes figu-
mulgada pelo Congresso Nacional, ras de juristas e até de democratas.
- 13
Causa espanto que homens que pas- não solucionou nenhum dos proble-
saram, inclusive neste Congresso, mas fundamentais dêste País, não
um largo período de vida na defesa logrou dar a esta Nação sequer a
das liberdades, percebendo a cada tranqüilidade necessária para o seu
passo, com uma sensibilidade à flor desenvolvimento, que ao menos por
da pele, tôda e qualquer lesão que isso ela pudesse dizer que valeu,
pudesse sofrer a Lei ou a Constitui- porque ajudou os constituintes no
ção, hoje orientadores do Govêrno, estudo e na aprovação de uma Car-
porque com êle solidários, não in- ta que sirva, em verdade, de bús-
terfiram, com a sua autoridade mo- sola para os destinos do povo bra-
ral, com a sua autoridade política, sileiro." ( ... )
para levar o Presidente Castello
Branco a dar um epílogo satisfa- "Vamos esperar que pelo menos
tório a essa revolução, tão dolorosa nesta matéria não se decida como
e tão sofrida pelo povo brasileiro. quem planta couve - devemos ser
plantadores de carvalho, que é a
Na verdade, Sr. Presidente, o que sombra do futuro. Vamos esperar
êste País deseja é que voltemos à que essa Constituição não reflita os
legalidade. erros dos atos institucionais e com-
Todos reconhecemos que as revo- plementares, que têm tido um sen-
luções são como as enchentes. Am- tido casuístico e, às vêzes, até per-
bas são difíceis de ser detidas: estas sonalista. Vamos acreditar que essa
porque a água se insinua pelos bai- Constituição possa refletir, pelo me-
xos e, aquelas, muitas vêzes porque nos em parte, os anseios de liber-
além do pensamento, da ação e do dade, de justiça social, que são os
desejo dos que as deflagraram. anseios legítimos do povo brasileiro."

Aí está a história do mundo para O Deputado GERA L D O FREIRE


mostrar desde a Revolução France- (ARENA - Minas Gerais) (S) em apar-
sa e até à Russa que ninguém em te ao discurso do Deputado Getúlio
verdade conseguiu deter o curso das Moura, afirma:
revoluções, traçar-lhes rumos certos
e determinados porque os seus pró- "0 anteprojeto foi elaborado por
prios mentores foram os primeiros juristas dos mais eminentes e dos
sacrificados. mais conspícuos que temos tido no
País. Não podemos acreditar que ês-
Mas neste País em que a revolução ses brasileiros na altura da vida
foi incruenta, pacífica, onde os bra- em que se encontram, fôssem ren-
sileiros têm uma boa vontade enor- der-se a ditaduras. Afinal de con-
me, em cooperar no sentido de que tas, homens como êsses pouca coisa
êle reencontre seus destinos, seria teriam de esperar do resto dos seus
muito fácil à revolução dar-nos, dias, se fôssem praticar uma traição
neste hiato constitucional, pelo me- contra seu passado. Então, a pre-
nos uma Carta realmente útil ao sunção que se nos impõe é de que
nosso desenvolvimento." teremos, se não uma obra perfeita,
pelo menos a que mais se aproxima
da perfeição, dentro das contingên-
"Esta Revolução que não nos deu o cias humanas. Vamos aguardar com
pão, mas ao contrário, reduziu a a confiança de que a obra possa vir
côdea de pão do pobre, diminuiu
multo o poder aquisitivo do povo, (8) D.C.N. (Seçlí.o I) de 20-8-66 - pág. 5.196
- 14
bem feita. Quanto aos propósitos do presentativos para, reunidos em
Govêrno chamo a atenção para um uma comissão a que se deu o pom-
ponto. Num processo revolucionário, poso nome de Comissão de Alto Ní-
o detentor do Poder Executivo é o vel, opinarem sôbre o assunto. Pois
primeiro que se apressa em fazer bem, êsse órgão, depois de uma ta-
com que o País reencontre os cami- refa Ingente, apresentou os resulta-
nhos normais da constitucionalida- dos das suas observações, em tra-
de. Em 1932, o glorioso Estado de balho entregue ao Poder Executivo.
São Paulo teve de fazer uma revo- Silêncio total sôbre o documento. A
lução para que o Brasil se reconsti- Comissão já não é mais de alto ní-
tucionalizasse, e não o conseguiu. A vel, está ultrapassada. Desejava-se
luta foi brava, heróica. Alguns di- a feitura de uma Constituição de
vergiram dela por motivos políticos acôrdo com a realidade atual. Mas,
evidentemente, mas o ideal então qual é a realidade atual? Será ela
perseguido pela gente paulista não democrática? Será que o ambiente
foi conseguido àquela altura. So- em que o povo brasileiro vive ofe-
mente dois anos depois, em 1934, rece condições para se organizar
tivemos a Constituição. Respeitando uma nova Constituição?
o direito de crítica que assiste a to-
Enfim, o que se vê é a confusão
dos os Deputados penso que se deve
em todos os sentidos. Figuras das
fazer justiça ao atual Presidente da
mais eminentes, do Govêrno que aí
República que, sponte sua, pediu a
está, têm dado opiniões esparsas,
uma Comissão dos mais conspícuos
aqui e acolá, sôbre êsse Projeto de
juristas dêste País uma Constitui-
Constituição, considerando que o es-
ção, depois de tantos anos de expe-
tudo feito pelos juristas é antiqua-
riência histórica, não para que tivés-
do, é démodé, como se democracia,
semos aquela bela Carta, romântica
como se liberdade, como se princí-
como a de 1891, mas que tivéssemos
pios gerais de Direito se mudassem
depois de larga vivência republica-
como se muda roupa.
na, um documento digno da tradi-
ção democrática e da necessidade O que se faz é criar um clima que
do povo do Brasil." não oferece condições para o deba-
te. Seria mais interessante, talvez,
Na sessão de 23 de agôsto de 1966, o que, ao invés de se estar idealizando
Deputado CESARIO COIMBRA (MDB - uma nova Constituição, se colocasse
Maranhão) (O) apela ao Presidente da um ponto final na edição de atos
República para manter no nôvo Projeto complementares, já expedidos em
de Constituição, o art. 153 incluído na número de 21, e de atos institucio-
Carta Magna de 1946 pelo Dr. Artur nais, já em número de 3. Na ver-
Bernardes, a fim de evitar que o País dade, tantos atos não têm feito se-
sofresse a influência da ação de compa- não estabelecer grande confusão no
nhias estrangeiras. País, pois, através dessa côlcha de
retalhos, apenas ficamos cientes da-
Na sessão de 26 de agôsto de 1966, o quilo que não podemos fazer.
Deputado JOAO MENEZES (MDB -
Pará) (lO) comenta a confusão reinante Se nós, que temos contato diário
na elaboração do nôvÓ Projeto de Cons- com essas leis, princípios e normas,
tituição, nos seguintes têrmos: que estão sendo editadas, não as
conhecemos tôdas, que dizer do povo
"Primeiro ouviu-se falar que o Go-
( 9 ) D.C.N. (Seçllo I) de 24-8-66 - pág. 5.326
vêrno havia escolhido homens re- (10) D.C.N. (Seçllo I) de 27-8-66 - pág. 5.439
- 15-

brasileiro, espalhado neste enorme Analisa, a seguir, o orador, a Comis-


território? Simplesmente não tem o são de Juristas composta de homens de
menor conhecimento do que está alto gabarito, idoneidade moral mais
passando. Por conseguinte, estamos ilibada, competência mais reconhecida,
perdendo, sobretudo, a nossa uni- do espírito público mais acentuado, mas
dade. todos êles afastados da vida pública bra-
sileira e reconhecidos neste País como
É nesse ambiente que se procura
Presidencialistas convictos. E prossegue:
oferecer ao País uma nova Consti-
tuição. Mas, como fazê-la nesta al- "Sr. Presidente, essa falta de vivên-
tura dos acontecimentos, em que cia popular e êsse apêgo ao. presi-
atos continuam de pé, em que a si- dencialismo marcarão desde logo o
tuação política é instável, em que a Anteprojeto da Constituição. Nós
incerteza domina o dia de amanhã? que tivemos a experiência de todos
Como elaborar uma Constituição êsses anos de presidencialismo, que
nessas circunstâncias? Homens do vimos a experiência do parlamenta-
maior gabarito, pertencentes a uma rismo, embora absolutamente mar-
comissão de alto nível, tiveram seus cado pelo desinterêsse e pela con-
estudos postergados, a um segundo tradição dos que o executaram, po-
plano, apenas porque pretenderam demos dizer isto sem mêdo de errar:
exprimir um pensamento e uma a experiência presidencialista no
idéia que refletissem, na realidade, Brasil tem sido o permanente mo-
a média da opinião do povo brasi- tivo dos fracassos e de todos os des-
leiro. temperos da vida pública brasileira.
Então, o que se tem, em todos ês- Quem conheceu os governos passa-
ses fatos, é apenas a deturpação da dos, quem viu os governos Juscelino
vida pública brasileira, com a in- Kubitschek, Café Filho, Jânio Qua-
quietação constante em todos os se- dros e João Goulart, e quem vê o
tores." atual Govêmo do Presidente Cas-
tello Branco, marcadamente presi-
O Deputado OSCAR CORRt!:A (sem le- dencialista, pode salientar que não
genda - Minas Gerais) (11) pronuncia é êste o regime que serve à Nação.
discurso argumentando da inoportuni- "Além disso, Sr. Presidente, marcou
dade da reforma constitucional que se a comissão aquêle outro equívoco: a
quer fazer neste final de legislatura, não vivência do problema político.
num ambiente de intranqüilidade, inse-
gurança, incerteza e de perigos para o A Constituição é, sem dúvida, um
próprio regime democrático. Salienta a aparelho técnico, uma aparelhagem
necessidade da publicação imediata, pelo ou instrumental técnico da realiza-
Govêmo, do texto do projeto da nova ção da vida política. É preciso a
Constituição a fim de ser estabelecido vivência do problema político; é
um amplo debate com as entidades ca- preciso o contato com o problema
pazes de opinar a respeito e para que político; é preciso ter-se amor à
todos neste País tenham conhecimento vida pública. Algumas das melhores
do que se prepara em matéria de defi- Constituições do mundo, sob o as-
nição de direitos e garantias e também pecto técnico - tomaremos a Cons-
para que os eleitores, antes de votarem tituição austríaca, devida a Kelsen,
nos seus candidatos, conheçam os pon- ou a alemã de Weimar, devida a
tos de vista, que sustentam sôbre deter- Preuss, ambas modêlo de tecnicismo
minadas matérias. (11) D.C.N. (Seção I) de 27-8-66 - pâg. 5.441
- 16
jurídico, modêlo de formalismo ju- Supremo Tribunal Federal para de-
rídico - não resistiram senão pouco cidir, em tese, sôbre inconstitucio-
tempo. Enquanto que outras como a nalidade de leis federais - o que é
americana, devida muito mais a ho- como se se estabelecesse um conluio
mens de vivência política do que a entre o Poder Executivo e o Poder
técnicos de Direito, porque juristas Judiciário para acabar com a com-
não eram Maddison, Hamilton, Ja- petência do Congresso para legislar.
mes, perdurou, e é ainda um mo-
numento de sabedoria política que Segundo se diz, implantaria um pre-
o mundo conhece. Por isso, Sr. Pre- sidencialismo à imagem e seme-
sidente, muito mais do que a obe- lhança dos presidencialistas ferre-
diência ao formalismo jurídico, ao nhos que a redigiram e do Presiden-
tecnicismo jurídico que levaram à te atual, que impera no Brasil com
deformação da própria realidade podêres francamente de rei e impe-
política, muito mais do que isso rador. Não podemos, pois, recebê-la
precisávamos e precisamos, num an- sem temores e sem uma advertên-
teprojeto constitucional, de uma cia séria e severa ao Executivo. Não
realidade jurídica que sirva à rea- tememos o desaparecimento do Con-
lidade política contemporânea que gresso, fôrça indestrutível contra a
estamos vivendo à nossa intranqüi- qual se esbatem tôdas as ondas mais
lidade, à nossa dificuldade da hora. violentas da autocracia. Não recea-
mos por sua sorte e seu destino,
E só no povo podem os que elabo- porque todos os que entre nós se
ram as Cartas constitucionais bus- levantaram contra o Congresso ti-
car um estímulo, um incentivo e a veram nisso o seu fim. Vejam-se os
base para a elaboração de obra tão exemplos unânimes, até o último,
importante." do Govêrno deposto, que marcou
seu destino trágico no instante em
que desejou impor ao Congresso sua
"Segundo se sabe, o anteprojeto vontade. Mas evitem-se os atritos c
consagra limitações ao poder de le- as pressões, as ameaças para se
gislar e ao poder de fiscalização do poupar à Nação novas convulsões.
Congresso, mantendo ilimitado o
poder de veto, e o alto "quorum" Todos os que agrediram o Congres-
para sua rejeição. Permaneceremos, so sucumbiram da agressão. Por
portanto, naquela deformação pre- mais que a vontade do Poder auto-
sidencialista e na diminuição cres- ritário cegue os homens, não se des-
cente que se vem fazendo dos podê- lembrem os que o usam, desta ver-
res desta Casa. Conserva, segundo dade: da mesma forma. que o Poder
se diz, o inócuo, inaplicável e risível se reforça, se fortalece, se enfra-
instrumento do "impeachment", que quece do uso indiscriminado e sofre
nunca foi aplicado neste País, não a erosão das frustrações. Se abas-
é, e não será aplicado. Conserva e tardam os que o desempenham, tor-
acolhe os disparates da Emenda nados sobre-humanos e inerrante,
Constitucional n. 0 18, em que os dentro de reinado terreno, rodeados
Estados e os Municípios são des- dos áulicos prestimosos, também
pojados, sem recursos, dos seus fun- corrói as fontes da permanência,
damentos financeiros e de sobrevi- que são os imanentes à obediência,
vência. Consagra o atentado ao ao poder soberano do povo, que só
Legislativo, que é a competência do êle as confere e sustém.
- 17
Quem oficia o Poder deve descon- menos esta Câmara já que a revolu-
fiar de si e dos que o endeusam, ção a legitimou.
que quase nunca perdura o mando, "Cerceado, assim, o nosso direito de
corrompido pelo próprio uso abu- alterar a nova Constituição, eviden-
sivo. temente nada temos a fazer aqui,
Esta a advertência que desejáva- o melhor é fecharmos esta Casa de
mos fazer ao Govêrno e à Nação, vez e retirar-nos para nossas resi-
nesta hora grave: os anseios popu- dências, deixando que o Brasil corra
lares estão constrangidos pelas me- como pretende o Sr. Castello Bran-
didas do Govêrno; as dificuldades co. t!:le é o Rei Sol; o Estado; êle e
dos que trabalham se acrescentam somente êle. É o apêlo que faço ao
a cada sol que se põe, ou a cada Presidente desta Casa e ao Presi-
alvorada que desponta. A insatisfa- dente do Senado; que o Congresso
ção domina todos os espíritos. deixe definitivamente de funcionar."
O Govêrno convenceu-se de que Afirmando que nem o atual ou mes-
tem o dom da inervância e perma-
mo o futuro Congresso pode transfor-
nece, e insiste nas medidas que
mar-se em Constituinte o Deputado
aterrorizam a Nação.
JOAO MENDES (sem legenda - Bahia)
Que, pelo menos, não lhe imponha pa) acentua:
agora, sem remédio, uma Carta
Maior que cristalize as deformações "Só e exclusivamente o povo, a essa
desta hora, hora passageira quere- altura da vida política nacional, tem
mos nós, mais difícil e atribulada." capacidade para atribuir a seus
mandatários, reunidos em assem-
Em 19 de setembro de 1966, o Depu- bléia com êsse específico objetivo,
tado DERVILLE ALEGRETTI (MDB - poder constituinte. É o que se cha-
São Paulo) (12) comenta a posição do ma, em Direito Constitucional, "po-
Presidente da República contrária à re- der constituinte originário".
vogação dos arts. 14 e 15 do Ato Insti- E adiante:
tucional n. 0 2, durante o período de
discussão da Reforma Constitucional. "Assim como S. Ex.a o Sr. Presiden-
te da República faz baixar o Ato
Afirma que diante dessa decisão a Câ- Institucional n.0 2, pode outorgar
mara terá de aceitar a proposta de revi- uma Constituição.
são da Carta Constitucional, nos têrmos
pretendidos pelo Marechal-Presidente. "O que se não justifica é compelir-
se o Congresso à prática de um ato,
Entende que é inútil a permanência dos inexcedível em gravidade na vida
Srs. Deputados na Câmara. Diz, a se- de um povo, para o qual lhe falece
guir, que competência."
"a Carta Suprema é a manifestação Em 23 de novembro de 1966, o Depu-
do povo. Do povo emana o poder tado OSCAR CORR:íl:A (sem legenda -
para reformar a Lei Maior do País. Minas Gerais) (14) pronuncia o seguinte
Atender apenas ao desejo do Pre- discurso:
sidente da República, nos têrmos "Sr. Presidente, Srs. Deputados, o
da proposta a ser enviada é Incons- tema que me traz à tribuna é dos
titucional e amoral, porque Sua Ex-
celência não representa o povo, eis (12) D.C.N. (Seção I) de 20-9-66 - pág. 5.981
(13) D.C.N. (Seção 1) de 20-9-66 - pág. 5.948
que o povo não o elegeu, e muito (14) D.C.N. (Seção I) de 24-11-66 - pág. 6.815
- 18
mais importantes dentre os de que liberal, mas é mal para a estabili-
poderia tratar nessa Casa. Anuncia- dade das nossas instituições.
se a votação de uma nova Consti-
Veja-se o nosso passado constitucio-
tuição para o Brasil. Ninguém sabe
nal num breve relance sôbre a his-
ao certo as linhas mestras dêste
tória republicana, para não irmos
documento. Poucos têm o privilégio
mais longe. A Constituição de 91 foi
de conhecê-lo; muitos poucos esta-
um admirável instrumento de estru-
rão talvez em condições de analisá-
turação institucional. Deu-nos for-
lo.
mulação de estrutura política e ad-
Não quero que se escoem os instan- ministrativa que, em seus traços
tes finais do meu manda to sem marcantes, perdura como conquista
dizer uma palavra que a muitos admirável do nosso gênio político.
parecerá estranha: de aprêço pela A Federação e a República se con-
Constituição de 1946, quando se fêz ciliaram esplêndidamente; assegu-
moda anatematizar-lhe a contextu- rou-se a continuidade territorial tão
ra, incriminar-lhe erros que não ameaçada pelas dificuldades da ex-
tem, repudiar a orientação que se- tensão imensa das terras; firmou-
guiu e clamar por que se revogue se a unidade indissolúvel da Pátria
e anule. e se venceram os obstáculos à com-
Os nossos grandes documentos po- preensão nacional.
líticos padecem sempre da efemeri- Pois bem, ainda hoje se anatema-
dade e não por culpa imanente à tiza aquêle documento, monumento
sua elaboração, por vícios congêni- jurídico admirável pela precisão,
tos, mas pela nossa incapacidade de pela forma, pela técnica, e, sobre-
aplicá-los, de lhes dar vida na exe- tudo, pelos efeitos políticos que pro-
cução, de nos adaptarmos a êles duziu e que asseguraram, para sem-
quando convenha, de entendê-los pre, nossa unidade nacional.
quando preciso. Temos uma afoite-
za constante, uma insatisfação per- Depois de anos e anos de ataques,
manente, uma instabilidade inata, em 1926 é a Constituição de 91 sub-
que nos leva a exigir que o texto metida a uma larga revisão, que
das leis mais perenes siga as nossas não duraria muito. A Revolução de
incertezas, os nossos avanços e re- 30 conduziria à renovação da estru-
cuos, as nossas suscetibilidades ins- tura constitucional com a Consti-
tantâneas. tuição de 34, que, instrumento bem
elaborado e obedecendo aos padrões
Nossas leis não podem durar, por da época, não resistiria aos impac-
melhor que sejam, por mais perfei- tos do autoritarismo nascente e su-
tas, por mais afeitas à nossa reali- cumbiria a 10 de novembro de 1937.
dade: ao primeiro desencontro com
Da Carta outorgada de 37 não fa-
o nosso desejo, à primeira discor-
lemos, que não chegou a viger no
dância com as nossas conveniências
que dizia respeito à estruturação
da hora, nos dispomos a revogá-Ias,
dos podêres, ao reconhecimento de
a anulá-las, eternizando o obstáculo
suas atribuições e prerrogativas. Até
à nossa vontade mutável e efemêra.
1946, vivemos muito mais da tradi-
Isso se deve ao nosso temperamento ção que fluía da Carta de 91, com
volúvel, pouco acostumado a adap- os influxos posteriores da de 34, e
tar-se a moldes rígidos, o que é um as restrições que o poder pessoal es-
bem como reflexo do nosso espírito tendeu sôbre o País, do que subor-
19 -

dinados a um instrumento de regu- velhos os conceitos mais aceitos e


larização jurídica, integro e seguro, vigentes, se os cotejamos com a di-
que fixasse os princípios da ordem nâmica de uma realidade que não
estabelecida. pára.
Pois bem. A 18 de setembro de 1946 Mas os instrumentos de estrutura-
fixava-se na Constituição a nova ção jurídica não podem mudar com
estruturação jurídica do Pais. Como a facilidade com que se transfor-
todos os documentos dessa impor- ma a realidade. Devem ser flexíveis
tância e dessa natureza, votados para admitir as mudanças, mas sem
pela representação popular, não ha- permitir que a alteração superficial
veria de ser a Nova Carta Magna do mutável atinja a segurança do
uma tessitura inconsútil, perfeita e arcabouço, que não pode ser atin-
inteiriça, obediente a um modêlo gida.
teórico ideal, subordinada a uma Por isso mesmo as Constituições
orientação uniforme. Haveria de ser apenas estabelecem as normas mais
- e assim são tôdas - fórmula de gerais, as vigas mestras da grande
compromisso, resultado de composi- armação da ordem jurídica, que as
ções de tendências, transação entre leis ordinárias completam e preen-
correntes diversas ou opostas, às chem. Para que se altere a carna-
vêzes pouco definidas ainda, mas dura mas não se modifique a cons-
documento representativo de uma tituição, o esqueleto, que se mantém
coletividade, de suas aspirações e rijo e seguro.
anelos, espêlho de uma realidade
às vêzes contraditória e de difícil Entre nós não se consegue isso, por
apreensão. mais que a estruturação tenha obe-
decido às condições da hora, impos-
Mas documento seguro, de alta ins- tas pela realidade. Não compreen-
piração patriótica, atento à nossa dem os que combatem o texto da
realidade histórica e às imposições Lei Maior que só se devem impor-
da conveniência nacional, obediente lhe modificações quando se tornar
às linhas da nossa evolução social e êle impeditivo da normalidade so-
jurídica, sem lanços de avanço in- cial e não ao primeiro desagrado
devido, sem recuos injustificados, que imponha.
obra do presente, como deveria ser,
sem se constituir em obstáculo ao Aquela dignidade eminente que a
futuro e sem rompimento com o Constituição tem, nem sempre ou
passado. quase nunca é reconhecida. Prefe-
re-se confundi-la com as leis co-
Pois bem; ainda não fôra promul- muns. E a qualquer oposição, fruto
gada, e já se armavam contra ela, de interêsses contrariados, de con-
já a apedrejavam, já a maldiziam, veniências passageiras, discordân-
e não faltaram os que afirmaram cias superficiais, desde logo se in-
que nascia velha. veste contra ela, se procura emen-
Velhos são, no mundo moderno, to- dar, alterar.
dos os instantes do presente, que E às emendas sucedem-se as emen-
ainda não foram e já estão suplan- das, nem sempre necessárias, indis-
tados pelo futuro que chega atro- pensáveis. A ponto de estarem a ela
pelando. Velhas as conquistas da incorporadas em vinte anos de atri-
ciência de ontem e de hoje, obsoleta bulada existência vinte emendas,
ao impacto das novas invenções; umas, inclusive, revogando outras.
-20

:G: bom que se diga, porém, que nossa deve ser vedada no regime presi-
Constituição de 1946 merecia e me- dencial, tanto quanto autorizada no
rece melhor tratamento e melhor regime parlamentarista. Permiti-la
sorte. Ela correspondeu não apenas no presidencialismo é armar de ins-
às tradições jurídicas nacionais, nem trumentos ainda mais poderosos e
só às conveniências da hora. Nem incontroláveis um Presidente já de
constituiu obstáculo ao nosso pro- si todo-poderoso.
gresso, ao nosso desenvolvimento. No capítulo das leis e da compe-
Pelo contrário. :G: instrumento legal tência do Legislativo, poucas dis-
eficiente para permiti-lo e facili- cordâncias haveria que fixar. E ain-
tá-lo. da assim poderiam elas, em muitos
Releia-se-lhe o texto. Medite-se sô- casos, resolver-se no Regimento In-
bre êle sem parti pris político ou terno das Casas do Congresso, sem
ideológico, e ver-se-á que é nosso, necessidade de recurso ao processo
atende à nossa realidade e não há de retalhamento constitucional.
por que denegri-lo ou invalidá-lo. No que diz respeito ao Poder Exe-
As críticas incidem sôbre vários cutivo, a disputa poderia estabele-
pontos. Façamos referência expres- cer-se quanto ao regime a adotar-
sa a alguns. se. Mas, escolhido o presidencialis-
A discriminação de rendas. Onde o mo (embora não nos pareça esta
êrro que demandasse correção? Aca- a melhor solução, parlamentarista
so a União reservou-se a melhor convicto que somos) não há como
parte? Mas tem ela os maiores ônus. recusar a procedência da formula-
O mal não é da discriminação, mas ção feita, inclusive pela assegura-
do nosso subdesenvolvimento, da ção da eleição direta do Presidente
nossa penúria de receitas, do irri- e Vice-Presidente da República;
sório do nosso produto nacional. E como não somos partidário do cri-
a prova é que as emendas que, de tério da maioria absoluta, que ofi-
qualquer forma, a alteraram, não cializa a "chantagem" nas eleições
eliminaram as queixas, nem melho- presidenciais, convida ao subôrno e
raram a sorte dos queixosos. Em à corrupção.
alguns casos, agravaram as difi- Se no capítulo da responsabilidade
culdades. do Presidente se poderia alegar a
A atuação política da Capital Fe- inocuidade da medida de impeach-
deral - Emenda foi votada, que não ment, o defeito não é do texto cons-
lhe alterou substancialmente o tex- titucional mas do exercício das ins-
to. No que se refere às Capitais dos tituições, que ainda não tornou pos-
Estados a melhor tese ainda é, a sível sua aplicação tal a soma de
nosso ver, a que sustentou entregar- podêres incontrastáveis de que dis-
se a solução do problema aos Esta- põe o Chefe do Executivo.
dos, nos têrmos do que, supletiva- O mal é do regime adotado, não da
mente, resolverem as respectivas formulação que se deu à matéria.
Constituições (art. 28, § 1.0 ). Quanto a outras matérias, discorde-
Delegação de atribuições - Ainda se da formulação, mas admita-se
aqui as discussões posteriores, em que, dentro de nossa realidade, ela
nosso entender, não invalidaram a atendeu aos reclamos da hora e
solução da Constituição de 46. Con- ainda hoje não é empecilho ao nos-
tinua a parecer-nos que a delegação so desenvolvimento.
- 21
A declaração dos direitos é ampla e Adotou-se nela fórmula de transa-
eficaz e marca o caráter liberal da ção, que concilia a livre iniciativa
Constituição assegurando aos cida- com intervenção do Estado, tendo
dãos uma ordem jurídica que lhes por base o interêsse público e por
garante a honra, a vida e a liber- limites os direitos fundamentais que
dade. a Constituição garante.
Sôbre a ordem econômica e social, O uso da propriedade foi limitado
de preferência investem os que que- pelo bem-estar social; os abusos do
rem anular a Carta de 46. Dedique- poder econômico reprimidos; disci-
mos-lhe, por isso, mais atenção. Diz- plinado o exercício de certas ativi-
se que ela é retrógrada, obsoleta, dades econômicas; vale dizer nem
individualista, século XIX etc. se anularam os direitos essenciais
do cidadão, nem se prejudicaram os
Para quem a leia sem ânimo pre- que representam o bem-estar social.
concebido, a recusa às acusações se
impõe. Que diz ela? As fórmulas brandas, as expressões
meio rígidas, são, nessas hipóteses
Garante o trabalho e a liberdade as mais convenientes. De nada vale
de iniciativa, valorizando o traba- querer estabelecer conceituações rí-
lho humano, e nisso não há quem gidas, ou limitações rigorosas, quan-
discorde. do a realidade não se prende em
Onde a controvérsia se estabelece é fórmulas e as conveniências gerais
na atuação do Estado na ordem suplantam os preconceitos ideológi-
econômica e na orientação neo- cos.
capitalista da Constituição. Não ve- Verdade é que, a não ser na URSS,
mos, entretanto, como se pudesse na China e um ou outro satélite,
fugir a essa orientação, a única, sem talvez, não haja essa preocupação
dúvida, compatível com a nossa tra- de atender a conceituações rigorosas
dição histórica, nossas vinculações em obediência a princípios ideológi-
ao regime ocidental de vida e às cos. Mesmo na zona de influência
próprias noções mais assentes da socialista as concessões, as fórmulas
ciência econômica. transacionais predominam. Isto para
Não faltam, porém, os que, discor- não se dizer que o próprio coleti-
dando dela, acusando-a de excessi- vismo soviético passa por uma fase
vamente liberal ou capitalista, de- de abrandamento, na vocação per-
sejariam transformá-la numa estru- manente de todo regime de se adap-
turação socialista, com o predomí- tar mais à realidade.
nio da ação largamente intervento- Por outro lado, todos os excessos
ra do Estado, retirando muitas das liberais e capitalistas dos países oci-
garantias que assegura a atuação dentais foi limitado pela ação in-
individual. tervencionista do Estado, que, em
Queremos deixar patente nossa dis- todos êles, procurou podar e impe-
cordância dêsses socialistas ou so- dir os abusos da concorrência, as
cializantes, para reafirmar nossa distorções da ação individual, os
convicção neo-capitalista de que a desbordamentos do interêsse dos
fórmula adotada pela Constituição grupos.
de 46 é a única possível nesta hora Não vemos, por isso, como, senão
e a única compatível com a nossa para mudar palavras menos do que
própria vocação histórica. o significado, se deseje alterar fun-
- 22
damentalmente as fórmulas consa- desnecessária e atende apenas à vai-
gradas na ordem econômica da dade de quem deseja ligar o nome
Constituição de 1946. à iniciativa despicienda; ou altera
fundamentalmente a atual, e é in-
Os temas gerais de discussão con-
conveniente, e criará novos motivos
tinuarão os mesmos de há muito
de conflito, e não deve ser discutida
tempo: os limites da intervenção do
nem votada agora, antes que ama-
Estado, na ordem econômica e no
dureça.
campo político; os limites à atuação
do Poder Executivo, cada vez mais O nosso mal, o nosso grande mal é
ampla, mais bem equipada e ins- não darmos tempo, em nossa sofre-
trumentada enquanto o Poder Le- guidão e afoiteza, não darmos tem-
gislativo sofre as dificuldades oriun- po a que a lei sofra o embate da
das de um despreparo para a super- realidade, a interpretação a amolde
visão e contrôle da ação adminis- aos fatos, a experiência a adapte ao
trativa e sente as deficiências de aplicá-la.
seus instrumentos de informação e Para isso se inventou a interpreta-
ação; os problemas da discrimina- ção sociológica, para isso os herme-
ção das rendas, quando enorme é o neutas existem, nisso está a sabe-
campo de intervenção do poder pú- doria do político.
blico em qualquer dos seus escalões,
e as receitas são insuficientes para Entre nós, não: a lei não atende ao
atender às solicitações; as matérias nosso desejo de hoje? Revoga-se.
políticas das atribuições do Executi- Altera-se. Substitui-se. Amanhã, va-
vo e do Legislativo, tendendo aquê- ria o desejo. Novamente se revoga,
le, cada vez mais, a fazer dêste mero altera-se. Substitui-se. Amanhã, va-
instrumento de ratificação de sua riamos aos sulcos profundos, dura-
vontade; a pendenga, a velha pen- douros. E acabamos mais ou menos
denga entre parlamentarismo e pre- onde começáramos. E poderíamos
sidencialismo, hoje transformada ter evitado o longo caminho das
numa luta pela contenção dos po- idas e vindas das reformulações le-
dêres do Executivo ou seu contrôle gislativas.
pelo Legislativo, não conservando as Também em matéria constitucionál,
anteriores características de debate infelizmente.
de princípios; o problema crucial
Estas minhas palavras são um apê-
das relações executivo-legislativas,
lo à paciência, à calma, à prudência
no que se refere à tramitação das
dos responsáveis pela vida política
leis e de que temos tido permanen-
brasileira, no momento em que dei-
tes exemplos: a vexata quaestio da
xo esta Casa do Parlamento Nacio-
responsabilidade presidencial com o nal.
inócuo impeachment sempre inapli-
cado e inaplicável etc. etc.; questões Deixem as leis como estão e tratem
fundamentais, que se subdistinguem de cumpri-las. Abandonem a vai-
em outras para as quais não há so- dade custosa da permanente elabo-
luções unânimes nem geniais, e que ração de textos novos para uma
continuarão na mesma indefinição realidade que varia muitas vêzes nos
sujeitas a outras fórmulas que nas- acessórios e não na substância.
cerão da mesma idade das atuais. Ainda hoje, Sr. Presidente, vi nos
A Nova Constituição está diante de jornais que o Sr. Presidente da Re-
um dilema: ou repete a atual, e é pública, valendo-se do último dia
- 23
do recesso manu militari a que le- o caráter de Constituinte, lograr
vou esta Casa, baixou, numa reme- aquilo que desejava há muito tem-
moração de 37, quarenta decretos- po: retirar da Presidência do Senado
leis sôbre matérias de alguma, de o Senador Auro de Moura Andrade.
muita ou de nenhuma importância.
Numa Constituinte teríamos a elei-
Isto demonstra que andamos longe ção de uma nova Mesa, que iria
daquela calma, daquela prudência dirigir êsses trabalhos de estudo da
dos bons cidadãos sempre atidos ao reforma constitucional. De modo in-
interêsse e à realidade nacional. direto, estaria afastado da Presi-
Apliquemos primeiro as leis. Lon- dência do Senado o Sr. Auro de
gamente. Pacientemente. E só nos Moura Andrade. E a atual Mesa
disponhamos a alterá-las, quando da Câmara, que se apartou de seu
evidente se fizer que não servem a ilustre Presidente na hora em que
nossas realidades, que impedem o êle avultou no cenário nacional, pela
nosso progresso. sua dignidade, pela sua coragem,
pela sua independência, também te-
Deixemos em paz a Constituição de ria existência muito curta, viveria
46 e as suas já superabundantes pouco mais que as rosas de Malher-
emendas. Não pense o atual Govêr- be, pois nesse ato, também, o que
no que é o último e que deve deixar resta da Mesa da Câmara seria in-
em todos os campos da atividade, teiramente dissolvido, para, em lu-
uma lei que a regule, com a sua gar de ambas as Mesas, o Govêrno
assinatura, o seu nome. eleger a Mesa da Constituinte.
Muito mais razoável seria consoli- Desejo, Sr. Presidente, ler a enun-
dar as matérias, rever as disposições
ciação dessas medidas, publicadas
e, se conveniente, incorporá-las ao em "O Estado de São Paulo", para
texto.
que os Srs. Congressistas possam
Domine seu furor legislativo, que, já conhecer as regras, os métodos que
se disse e repetiu, não é a abundân- o Govêrno vai adotar, para que êste
cia de leis que faz a felicidade dos Congresso aprove a reforma consti-
povos. tucional.
Pense mais na realidade do que na Desde logo ressalto um aspecto da
vaidade autocrática de tudo regular mais alta importância: é que, atri-
em leis novas. Ou estará desservin- buindo ao Congresso podêres cons-
do ao País. E ao Povo!" tituintes, vai dêle retirar a facul-
dade de legislação ordinária. De
Na sessão de 29 de novembro de 1966,
modo que, enquanto nós, no curso
o Deputado GETúLIO MOURA (MDB-
Rio de Janeiro) (1~) tece algumas con- de trinta dias, estivéssemos estu-
dando a reforma constitucional, o
siderações face à convocação extraordi-
ilustre Presidente da República te-
nária do Congresso para elaborar a nova
ria as mãos livres para continuar a
Carta Constitucional, apoiando-se em
sua safra de decretos-leis, êle, que
noticiário do jornal Estado de São Paulo.
se aproveitou tão bem do recesso
Diz o parlamentar: do Congresso, elaborando a média de
"Desde logo chama a nossa atenção um decreto para cada dia útil da
a malícia que aflora dêsse comen- semana. Assim a matéria que êle
tário. Diz êle ser intenção do Go- entenda ainda não estava devida-
vêrno, ao convocar o Congresso com (15) D.C.N. (Seçll.o I) de 30-11-66 - pág. 7.001
- 24

mente estudada ou elaborada, pas- Não compartilho da opinião de mui-


sará a ser objeto dos seus decretos- tos, que entendem não deveríamos
leis. Nisso é que, saliento, há ma- concorrer com o nosso voto, com o
lícia. nosso estudo, com a nossa crítica,
Mas êste Govêrno, que se iniciou no curso da tramitação da emenda
com atos de violência - e o último constitucional. Acho, ao contrário,
dêles, o mais grave, foi a ocupação que deveríamos todos, tanto quanto
do Congresso pelas três Armas que possível, nos interessar pela elabo-
servem à guarda e à defesa da Re- ração dêsse texto, mesmo porque,
pública - passou agora a medidas, afirmei ontem, aqui, uma Constitui-
se me permitem os mineiros, um ção não pode, nem deve ser fruto
pouco manhosas, numa espécie de de uma corrente política; ela deve
"mineirismo", realizando, por via refletir a média da opinião pública.
oblíqua, aquilo que êle não quis fa- Por conseguinte, deve ser uma obra
zer de frente. Vamos verificar os de transigência, de compreensão,
elementos que êste grande órgão que possa verdadeiramente servir
traz na sua edição de hoje, para aos altos interêsses dêste País. Logo,
podermos compreender que, enquan- em princípio, admito a hipótese de
to o Govêrno designou uma comis- participarmos dessa elaboração, se o
são de juristas que durante seis me- Govêrno não houver estabelecido
ses estudou o nôvo texto constitu- normas de tal ordem, que tornem
cional, e há mais de 120 dias os inócuos, inoperantes, todos os es-
órgãos do Executivo examinam êsse forços da Oposição no sentido de
texto, modificando-o, alterando-o, melhorar o texto constitucional que
apresentando-lhe emendas, nós va- nos vai ser enviado.
mos ter - isto não é pilhéria - três Sr. Presidente e Srs. Deputados, pen-
dias, setenta e duas horas, para so que para sairmos desta área
apresentar emendas a uma Consti- cinzenta em que vivemos, de ilega-
tuição em elaboração. lidade e de arbítrio, e para segu-
Como sabem os Srs. Deputados, rança dos direitos individuais e das
qualquer emenda constitucional de- franquias constitucionais é preferí-
verá ter o número de assinaturas vel cuidarmos da feitura de uma
previsto na Carta Magna. Só o tra- nova Carta, porque essa, por pior
balho de colhêr essas assinaturas que seja, será sempre melhor do que
bastaria para absorver as setenta e êste hiato em que nos encontramos,
duas horas; não restará, pois, prà- em que nenhuma garantia existe.
ticamente, tempo algum para for- Todos os direitos são suscetíveis de
mulação da emenda na sua parte derrogações e tôdas as violências
fundamental, no mérito, na parte podem ser praticadas, sem que para
jurídica, pois até agora o Govêrno corrigi-las haja o recurso ao Poder
não nos deu conhecimento do texto Judiciário.
que está sendo elaborado. Afirma-
se que no próximo mês êle será O Estado de São Paulo enumera
entregue à Liderança da Oposição, aquelas normas que considero as
para o primeiro exame perfunctório principais, sem contar as de menor
dêsse estudo, cuidadosamente efe- importância, que devem presidir
tuado, mas com a preocupação de essa elaboração constitucional.
outorgar ao Brasil uma Constituição "Primeiro, o Congresso funcionará
de sentido autoritário. na prática, como uma Assembléia
- 25
Constituinte, cuidando exclusiva- Não é preciso ser um "expert" em
mente do exame e da votação da política para compreender qual, em
nova Carta. Quer isto dizer que verdade, o desejo do Presidente da
a legislação ordinária ficará a República. Convoca o Congresso no
cargo apenas do eminente Sr. período menos propício a uma ela-
Presidente da República. boração da importância da Reforma
Segundo, tratando-se de um re- Constitucional, período das festas
gime especial de funcionamento, natalinas e de Ano Nôvo, em que os
seus trabalhos poderão não ser parlamentares não poderão dar as-
dirigidos pela Mesa normal, mas sistência ao Congresso Nacional. As-
por uma a ser especialmente eleita sim, o decurso do prazo vai verifi-
para isso." car-se fatalmente sem que tenha-
Aí está o grande golpe. Com o nôvo mos concluído o estudo dessa nova
Carta, e o Presidente da República,
Ato Institucional, o de n. 0 4, por-
que foi afastada a idéia de um Ato tranqüilamente, a promulgará, che-
Complementar, o Presidente irá des- gando ao mesmo resultado das suas
tituir sumàriamente as duas Mesas, especulações iniciais, que seria o da
outorga pura e simples de uma Car-
a da Câmara e a do Senado, para,
em lugar delas, eleger uma nova ta, sem qualquer consideração pelo
Mesa, que seria a da Constituinte. Congresso Nacional.
"3.0 - Nesse período, o Executivo Mas, dir-se-á, o Presidente convo-
atribuirá a si mesmo as funções cou o Congresso, o Presidente esta-
legislativas normais do Congres- beleceu prazos, a desídia foi do Con-
so." gresso que, num tão curto prazo,
E note-se que O Estado de São Pau- não logrou concluir os trabalhos de
lo é órgão da situação. Não se trata elaboração constitucional, e o Pre-
de jornal que tenha simpatias pela sidente da República viu-se na con-
Oposição; ao contrário, êle goza da tingência, para êle difícil, e até com
simpatia do Govêrno e dispõe de um pouco de constrangimento, de
elementos informativos da mais alta promulgar a Carta cuja elaboração
categoria. foi feita pelo ilustre Promotor Pú-
"4,0 - A nova Constituição será blico, Procurador-Geral da Repúbli-
votada em dois turnos. No primei- ca e Ministro aposentado do Supre-
ro, votar-se-á o projeto original e, mo Tribunal Federal, Dr. Carlos
no segundo, as emendas ofereci- Medeiros da Silva. Porque, se a
das no Congresso. Constituição a ser promulgada fôs-
se aquela elaborada pelos grandes
5.0 - O funcionamento do Con- juristas brasileiros, ainda que me-
gresso irá de 12 de dezembro a 20 reçam restrições muitos dos seus
de janeiro, com intervalo de dez dispositivos, seria uma Carta de
dias para as festas de fim de ano." sentido liberal, que não envergo-
Os Senhores verificam o que de útil nharia nem os nossos foros de civi-
vai restar, em matéria de dias, de lização, nem a cultura jurídica do
tempo, para a elaboração da Carta Brasil. Mas não sei agora o que vai
Constitucional. sair dêsse laboratório misterioso em
"6.0 - Ocorrerá a aprovação au- que pontifica Carlos Medeiros da
tomática da nova Constituição, se Silva e o bacharelismo nôvo do Pre-
o Congresso não votar a Carta sidente Castello Branco; que, no en-
até o término da convocação." tender de muitos, é o principal
-26-

constitucionalista; não sei o resul- preferiu ater-se aos dispositivos


tado dêsse estudo que tem, de um regimentais e constitucionais a
lado, o ilustre Marechal e, de outro, ceder às conveniências políticas
um homem cuja formação mental do Executivo."
deformou-se pelo hábito da promo- Verifica-se que o Senador Auro
toria pública e por ter sido quem Moura Andrade estaria inapelàvel-
datilografou a Carta de 37. Devemos mente condenado, porque preferiu
todos recear que o documento que cingir-se às normas constitucionais
vai surgir dêsse conúbio seja uma e regimentais, a subordinar-se aos
Carta contrária à nossa tradição, ao interêsses políticos do Govêrno.
nosso amor às liberdades e, sobre- Diz mais o j ornai:
tudo, um documento de sentido
totalitário, restringindo ao máximo "Foi êle também que, secundado
as liberdades públicas e retirando pelo Sr. Adauto Cardoso, reclamou
aquêles direitos e prerrogativas em do Presidente da República am-
cujo gôzo nos encontrávamos desde plas liberdades para o Congresso
a Carta de 1891. examinar e votar a nova Consti-
tuição. Depois solidarizou-se com
Mas O Estado de São Paulo, na sua o Sr. Adauto Cardoso no auge da
apreciação, adianta mais: crise das cassações. Representan-
"Dêsses pontos o que chamava tes do Govêrno na Câmara con-
mais atenção nos meios políticos, sideravam que a eleição de Mesa
hoje à tarde, porque menos co- especial para a fase de elabora-
nhecido, era o da possibilidade de ção constitucional era perfeita-
se eleger Mesa especial para diri- mente viável, dado o caráter pe-
gir os trabalhos do Congresso. culiar dessa convocação.
li:sse seria o recurso de que o Go- O Congresso - observou um ele-
vêrno lançaria mão para se ver mento governista - não será
livre da presença do Sr. Moura transformado formalmente numa
Andrade, que não se tem mostra- Assembléia Constituinte, mas fun-
do dócil às conveniências do Pa- cionará como tal. Não será um
lácio do Planalto." simples Congresso."
Ora, Sr. Presidente, srs. Deputados,
Verifica-se, assim, que, até numa aí está o que chamaríamos o esque-
hora que deveria ser augusta, aque-
ma do Govêrno para votar a Re-
la em que se busca elaborar uma forma Constitucional. Ficamos real-
Carta Constitucional, ainda se vai mente inquietos e de sobreaviso,
buscar, nesse momento histórico, o porque, quando o Govêrno, nas sim-
elemento para destituir a Mesa do ples medidas preliminares que pos-
Senado, e isso porque, no dizer sibilitem o estudo, a crítica e a
do grande órgão do Estado de São elaboração correta do texto consti-
Paulo, ela não se mostrou dócil às tucional, desde logo, surge com me-
manobras do Palácio do Planalto. didas que tendem a dissolver as
"Ainda recentemente -adianta o duas Mesas, da Câmara e do Senado,
jornal - recordava-se que o Sr. tem-se a impressão de que vamos
Moura Andrade se recusara a dar caminhar ainda desta vez para um
a tramitação especial de 30 dias, regime de fôrça, já então institu-
desejada pelo Govêrno, ao projeto cionalizado numa Carta ...
de lei que dispunha sôbre o siste- Quando digo que todos devemos tra-
ma tributário nacional. S. Ex. 6 zer a soma dos nossos conhecimen-
27 -

tos para a elaboração dessa Carta, qualquer espécie de coação direta


quero deixar bem claro que assim ou indireta, para que a Carta, que
devemos agir, se o Govêrno revelar não depende de sanção do Presiden-
boa-fé nas suas intenções, e não nos te da República, mas de promulga-
remeter uma Carta autoritária, de ção da Mesa do Congresso, seja
sentido fascista, não permitindo, aquela Constituição que desejamos,
através de medidas coercitivas e e, como acentuei de início, que tam-
com os dois terços que compõem sua bém almejo -, porque, mesmo que
maioria, o êxito das emendas que ela não represente o documento
possam dar ao texto aquêle sentido ideal, será pelo menos alguma coisa
nacional, amplo, sem paixão, isto melhor do que o estado de fato que
porque Constituição deve ser o re- estamos atravessando, sem garan-
positório das regras indispensáveis tias de qualquer natureza.
à felicidade do povo brasileiro, e Éste o apêlo que faço neste instante
nunca um regulamento ou um có- a todos os Congressistas do Brasil.
digo penal para punir os adversá- Não devemos esquecer que o povo,
rios do Govêrno e apenas prestigiar que sufragou a quase totalidade
aquêles que o servem. dêste Congresso, com a pequena di-
Já se disse que o Govêrno optou pelo ferença de um têrço, ou pouco mais,
Congresso atual no tocante à ela- revelou certa confiança ainda na-
boração da Carta, porque receia que queles que aqui se encontravam.
os novos Deputados que cheguem a Estamos com nosso mandato reno-
esta Casa tragam idéias outras con- vado; fomos buscar nas urnas os
trárias àquelas que êle, Govêrno, elementos indispensáveis a essa
tem como dogmas da sua própria construção de futuro. Sejamos, nes-
atuação. E, porque logrou dêste ta hora, dignos do Brasil. Sejamos,
Congresso medidas liberticidas e nesta hora, dignos da atenção e da
contrárias às nossas tradições repu- esperança do povo e vamos dar ao
blicano-liberais, entende que êste presente e ao futuro uma Carta
Congresso já se habituou a aceitar Constitucional que sirva a todos os
a imposição do Planalto e tem as brasileiros, e não um documento de
condições m1mmas indispensáveis uma corrente partidária, nem um
para votar, no prazo exíguo, por êle instrumento de oposição entre ten-
concedido, a Carta que nos vai re- dências políticas. A Carta Constitu-
meter. cional deve refletir a média das
duas correntes políticas nesse tra-
É o apêlo que faço a meus eminen- balho da elaboração, de transigên-
tes colegas; deixemos tôdas as nos- cia, o Brasil espera que não há de
sas prevenções de lado, esqueçamos faltar a inteligência, a cultura e o
mesmo que somos Oposição ou que patriotismo de todos os Congressis-
somos Govêrno, porque, com o es- tas."
pírito prevenido de tais tendências, Em 30-11-66, o Deputado FRANCE-
não seremos capazes de aqui elabo- LINO PEREIRA (ARENA - Minas Ge-
rar um texto que honra a nossa in- rais) (16) pede a publicação imediata do
teligência e cultura e possa servir Texto do Projeto de Constituição, antes
de instrumento à prosperidade do de sua remessa ao Congresso, a fim de
Brasil. propiciar um amplo debate sôbre a ma-
Que nós, na elaboração constitu- téria.
cional, saibamos resistir a tôda e (16) D.C.N. (Seção I) de 1-12-66 - pág. 7.076
DISCURSOS PRONUNCIADOS NO SENADO FEDERAL E NA CÂMARA
DOS DEPUTADOS NO PERlODO DE CONVOCAÇÃO EXTRAORDINÁRIA
DO CONGRESSO NACIONAL PARA APRECIAÇÃO DO
PROJETO DE CONSTITUIÇÃO

SENADO FEDERAL de enorme dos assuntos suscitados;


particularmente no caso presente,
Na sessão de 14 de dezembro de 1966, em que não se trata de uma emenda
o Senador AFONSO ARINOS (ARENA - simples, senão da votação de um
Guanabara) pronuncia o seguinte dis- verdadeiro projeto de Constituição.
curso: (17 )
Estas e outras circunstâncias fazem
"Sr. Presidente, Srs. Senadores, a com que as discussões de emendas
sessão extraordinária em curso, do constitucionais, quer decorram no
Congresso Nacional, foi convocada ambiente da Câmara dos Deputados,
pelo Excelentíssimo Senhor Presi- quer no recinto do Senado, se pro-
dente da República para discussão e cessem sempre de forma tumultuá-
votação do Projeto de Reforma ria e desatenta.
Constitucional que se encontra im- Esta é a razão primeira, Sr. Presi-
presso e distribuído aos Srs. Con- dente, em virtude da qual deliberei
gressistas. inscrever-me no Senado, nas sessões
Desde logo, cabe aqui uma primeira do Senado, para debater a matéria,
observação: na exposição de moti- dado que, pelo Ato Institucional n. 0
vos de que fêz acompanhar o Proje- 4, ficou previsto que as duas Casas
to, S. Ex.a. o Sr. Ministro da Justiça do Congresso se reuniriam separada-
enumera as duas atividades que são mente durante o decurso da sessão
solicitadas ao Congresso Nacional, extraordinária, para tratar dos as-
no decurso desta sessão extraordi- suntos da sua própria competência.
nária, e elas estão especificadas Assim sendo, achei de melhor alvitre
como sendo discussão e votação. En- utilizar a tribuna do Senado para
tretanto, Sr. Presidente, nada impe- debater os temas e os problemas li-
de que a essas duas atividades se gados à reforma constitucional. Uma
adicione uma terceira, que é a de outra razão - e esta não tanto de
transformação, de emenda ou de natureza formal mas de natureza
modificação do Projeto apresentado. substancial, e diria mesmo, Sr. Pre-
De qualquer maneira, o Congresso sidente, de natureza intima, de na-
se acha reunido em sessões diárias tureza pessoal - leva-me a optar
para o debate desta matéria. Acon- por esta alternativa. E esta razão é
tece, porém, que está ocorrendo atu- a de que desejo utilizar o tempo que
almente nas sessões vespertinas do me fôr facultado regimentalmente,
Congresso aquilo que é tradicional nas sessões do Senado, nesta fase
nas discussões de Emendas Consti- dos nossos trabalhos, para despedir-
tucionais - a limitação dos prazos me desta Casa.
fixados para os oradores; a varieda- (17) D.C.N. - S. II - 15-12-66 - pág. 6.409
- 29
Na verdade, Sr. Presidente, falar do Casa política do Brasil, a partir de
Senado desta tribuna que, no mo- 31 de janeiro do ano próximo, por-
mento, ocupo é uma honra que não que estou certo de que se formará,
me caberá mais, por muito tempo. no Congresso Nacional, aquêle
Ela correspondeu, na minha vida de núcleo diligente e capaz de audácia
vinte anos de presença no Parlamen- e de moderação, de iniciativa e de
to brasileiro ao coroamento de tôda experiência, de cumprimento dos de-
a minha atividade política. O exer- veres de oposição e de cumprimento
cício do mandato de Senador propi- dos encargos de apoio à situação.
ciou-me as horas mais gratas, mais Formar-se-á aquêle núcleo de legis-
plenas de satisfação cívica e de res-
ladores brasileiros q u e poderão
ponsabilidade funcional. Desligo-
acompanhar, até a sua ultimação
me, assim, desta Casa, ao fim do
frutuosa e pacífica, o processo de
período do meu mandato. Volvo às
restauração do estado de Direito no
minhas atividades, não direi priva-
nosso País.
das, mas especiais de Professor da
Universidade do Brasil, com a satis- É, portanto, não apenas com a des-
fação do convívio estimulante, do pedida aos meus atuais companhei-
convívio enriquecedor dos meus co- ros, mas com a minha palavra de
legas, com a profunda gratidão pe- estímulo e confiança aos futuros
las atenções, pelos ensinamentos, pe- componentes que saem da consa-
los conselhos e exemplos memoráveis gração eleitoral, que afirmo a minha
que dêles pude auferir no transcurso convicção de que ao Congresso vai
do meu mandato. caber ainda agora, como sempre
coube no passado, a tarefa final de
Retiro-me do Senado da República aperfeiçoamento das instituições
com a consciência - apesar do co- nacionais às contingências históri-
nhecimento das minhas insuficiên- cas do Brasil.
cias e das minhas limitações- com
a consciência do dever cumprido. Ao iniciar o exame do Projeto de
Faço-o com tristeza, com melanco- Constituição da República, não que-
lia, mas sem amargura, sem ressen- ro deixar, por outro lado, de mani-
timento. E deixo aqui, Sr. Presiden- festar uma palavra de aprêço, de
te, neste momento, a minha mensa- aplauso e de confiança à ação do
gem inicial de profunda amizade, de Govêrno e, particularmente, do Sr.
profunda atenção e admiração pelos Presidente da República, que se ex-
meus colegas e os meus votos para prime através da apresentação do
que aquêles que a esta Casa retor- documento que estamos começando
nem no decurso da próxima legisla- a analisar. Porque, Sr. Presidente,
tura o façam com todo êxito, com descontadas, superadas ou afastadas
tôda possibilidade de contribuir, com quaisquer divergências que possamos
a sua experiência, com as suas luzes, ter, e que temos, e que devemos ter,
com a sua capacidade e com o seu e que daqui, quanto a mim, procura-
patriotismo, para as tarefas memo- rei manifestar a respectiva existên-
ráveis que se abrem diante do Con- cia - quaisquer que sejam as diver-
gresso Nacional. gências, as objeções e as críticas que
possamos formular ou apresentar ao
Sr. Presidente, também desejaria texto do projeto que será votado pelo
aqui ter uma palavra de estímulo e Congresso, há uma consideração ini-
de confiança aos novos companhei- cial que é indubitável e que merece
ros que virão integrar esta grande ser salientada e exaltada pelos legis-
- 30
ladores. Essa consideração é o em- Ora, evidentemente, ninguém pro-
penho manifestado, o esfôrço conti- cura negar que o que ocorreu, em
nuado, a preocupação salutar do Sr. 1964, em nosso País, foi exatamente
Presidente da República de coroar a uma revolução política, foi o esfôrço
sua passagem pela chefia do govêr- de se adaptarem as instituições do
no revolucionário com a instauração Estado republicano no Brasil àque-
de um documento que corresponde, las tarefas que tradicionalmente in-
de fato, ao assentamento do estado cumbem à ação do Estado, em qual-
de Direito em nosso País, o assenta- quer país.
mento das linhas jurídicas que, de A nossa revolução política caracte-
certa maneira, terminam a fase do rizou-se por dois aspectos que me
poder arbitrário e inauguram a fase parecem igualmente indiscutíveis:
do poder legal. ela foi uma revolução restritiva, no
sentido administrativo, e ela foi uma
Esta posição não pode deixar de ser revolução repressiva, no sentido li-
reconhecida e proclamada, e ela, sem mitadamente político.
dúvida alguma, se inscreverá no
Ela foi restritiva no sentido admi-
acervo, no ativo, na contribuição que
nistrativo, nos esforços ingentes que
o Sr. Presidente Castello Branco
praticou no campo da economia e
prestou ao País e ao povo brasileiro
das finanças, no campo da regulari-
nos difíceis, nos tormentosos, nos
ásperos caminhos da sua gestão na zação da vida burocrática, no cam-
po da contenção de certos abusos
Presidência da República. Realmen-
te, a Revolução que colheu o Brasil que eram praticados por várias ins-
tituições estatais ou paraestatais. E
em março de 1964 foi uma revolução
foi repressiva no sentido político, na
nitidamente política. Nós devemos-
e isto é elementar - conceituar, medida em que teve de usar o poder
desde logo, devidamente, a diferença arbitrário para coibir, para reprimir.
para afastar, para liquidar a ativi-
existente entre as revoluções políti-
cas e as revoluções de tipo social. As dade de certos elementos que esta-
vam em desacôrdo aberto, ou que
revoluções políticas são precipua-
representavam perigo iminente para
mente aquelas que visam à trans-
o processo revolucionário.
formação das instituições do Estado,
seja porque estas instituições se de- Sei que estou tratando de assuntos
monstrem inadequadas às tarefas ainda polêmicos, sei que estas pala-
que incumbem ao Estado moderno, vras podem despertar justas resis-
seja porque elas tenham sido sub- tências e até mesmo justos ressenti-
vertidas pelo mau uso que delas te- mentos; mas sei, igualmente, que a
nham feito os detentores do poder. marcha do tempo conduz à sereni-
dade da História, e a serenidade da
De qualquer forma, a revolução po- História será sempre favorável a
lítica visa à transformação das ins- esta interpretação que acabo de atri-
tituições do Estado, enquanto que as buir aos desígnios verdadeiros da
revoluções sociais, como obviamente Revolução Política de 1964 - revo-
se depreende da própria expressão, lução repressiva no campo propria-
visa à transformação das condições mente político, revolução restritiva
da sociedade, da estrutura social, do no campo administrativo.
meio em que se desenvolve a coope- Mas a restrição e a repressão, no
ração e a vida das sociedades hu- caso brasileiro, não se poderiam
manas. exercer num estado de Direito, não
- 31
se poderiam exercer sem a ruptura Mas, Sr. Presidente, o que é êsse tra-
das garantias jurídicas e, conse- balho, o que é o Projeto de Consti-
qüentemente, tivemos um poder de tuição que temos em mãos?
arbítrio. Vivemos, durante dois anos, Eu aí diria - cedendo ao meu velho
quaisquer que sejam os eufemismos, hábito de professor - que devemos,
quaisquer que sejam os desvios ou para esclarecer a matéria, procurar,
as frases utilizadas para caracteri- desde logo, caracterizar os tipos de
zar ou para definir êsse poder - a Constituição em função das situa-
verdade substancial é que vivemos, ções políticas. E eu diria que, visua-
durante dois anos, em uma era de lizada dessa forma essa caracteriza-
arbítrio revolucionário. ção, não é difícil chegarmos a uma
Portanto, aqui volto ao que há pou- conclusão.
co dizia: que o passo inaugural desta
Em função das suas origens políti-
remessa do Projeto de Constituição
cas, as Constituições se apresentam
é exatamente a intenção manifesta
principalmente com dois aspectos.
de se terminar com a era do poder
Quaisquer que elas sejam, qualquer
de arbítrio, do arbítrio repressivo e
que seja seu conteúdo, quaisquer que
do arbítrio restritivo, para se esta-
sejam as suas diretrizes doutrinárias
belecer a vida administrativa e po-
ou filosóficas, as Constituições se
lítica do País na base de um trama,
apresentam inevitàvelmente sob
na base de uma composição, na base
duas categorias: Primeiro- A Cons-
de um alicerce de natureza jurídica.
tituição é a suma de um processo
J'!:sse é, portanto, o esfôrço mais me-
revolucionário, que declinou e se ex-
ritório da iniciativa do Sr. Presiden-
tinguiu. Segundo - A Constituição
te da República, através da ação do
é o instrumento de uma revolução
Sr. Ministro da Justiça e da coope-
que prossegue no seu processo evo-
ração de vários setores da inteli-
lutivo e dinâmico.
gência nacional, vários setores da
técniCa e da experiência nacionais, A Constituição pode, assim, ser uma
desde a formação da comissão de suma, pode ser um resultado, pode
juristas que primeiro trabalhou nes- ser a adição de todos aquêles fatôres
te sentido. Das sucessivas etapas que que se viram vitoriosos pelo decurso
atravessou o processo de elaboração de uma revolução que se extinguiu.
do anteprojeto e, finalmente, da Então temos aquilo que chamo a
contribuição que a essas etapas su- "Constituição-Suma". Mas também
cessivas foi sendo dada por vários pode ser um instrumento de prosse-
setores da atividade nacional, desde guimento e de fixação de certos as-
os setores da produção aos setores pectos de uma revolução que con-
das fôrças armadas, dos ministérios tinua em pleno desenvolvimento, e
técnicos, como os da Educação e da êste é exatamente o caso a que eu
Saúde, e finalmente pela apresenta- proponho se chame o da "Constitui-
ção de sugestões de alguns elementos ção-Instrumento".
do Congresso, prêviamen te ouvidos Devemos, por outro lado, observar o
pelas Lideranças do Govêrno, tudo seguinte: as Constituições que cha-
isso compõe uma espécie de aluvião, mei "suma" são aquelas que têm
tudo isso se estabelece numa espé- uma tendência mais conservadora -
cie de sedimentação sucessiva, que seria pleonasmo dizê-lo, quase era
vem configurar e caracterizar o tra- óbvio que se viesse a reconhecer -,
balho que hoje temos sob nossos uma doutrina mais duradoura. As
olhos. "Constituições-Suma" são aquelas
- 32
que estabelecem os lineamentos do Nós, no Brasil, temos exemplo disso.
Estado depois de aplacada a fôrça Para que nós não suponhamos que
revolucionária e de estabelecida esta observação se prende a países
aquela fase de adaptação demorada, com as dificuldades culturais, econô-
que se segue a um grande abalo po- micas, históricas do nosso, podere-
lítico. mos recorrer a exemplos tirados de
As "Constituições-Instrumento" são outras nações amadurecidas, nações
menos duradouras; trazem dentro líderes, nações construtoras, nações-
de si - pela sua própria natureza, exemplo em matéria constitucional.
pelo seu próprio espírito, pela pró-
De resto, tenho sempre sustentado,
pria chama da sua existência, pela
nas minhas aulas, que o Brasil não
sua própria razão de ser - aquela
é um país subdesenvolvido, nem
carga de emoção, de reivindicação
mesmo em vias de desenvolvimento,
e de exigência que a torna necessà-
no campo jurídico. O Brasil, no
riamente um documento transitório,
campo jurídico, é um país amadure-
um documento de transformação,
cido, sobretudo em Direito Público.
um documento de difícil sedimenta-
ção, um documento de evolução. E' país altamente desenvolvido na
Por quê? Porque o estado de Direito sua experiência, na sua doutrina e
não se coaduna com o processo re- na sua técnica. Nós não recebemos
volucionário. O dinamismo revolu- lições nesse particular; frequente-
cionário não se consegue fixar fàcil- mente as damos. A Constituição do
mente em composições de natureza Império serviu de lição para muitas
jurídica. O dinamismo revolucioná- Constituições européias do século
rio é necessàriamente instável, mu- XIX.
tável, caloroso, imprevisto, implacá- Mas, Sr. Presidente, não me vou
vel. Conseqüentemente, não é fácil perder nessas minúcias com que se
trazer o dinamismo revolucionário deleitariam, como que numa colhei-
para um texto que tenha a intenção ta de flôres, os meus colegas de cá-
da durabilidade. O texto da "Cons- tedra e de cadeira, Senadores Milton
tituição-Instrumento" é necessària- Campos e Josaphat Marinho, colegas
mente um texto evolutivo e transi- de Direito Constitucional Diria que
tório. Esta é a experiência. A cátedra é uma verdade adquirida. Citaria,
de Direito Constitucional e princi- como exemplo apenas, um país que
palmente a cátedra da História do nos tem servido tantas vêzes de mo-
Direito Constitucional, que, em mui- dêlo - a França - e recordaria que,
tos países, constitui uma disciplina de 1791 à data da Constituição re-
separada - a cátedra de Direito volucionária que se seguiu à grande
Constitucional Comparado, que cons- revolução até 1870, que é a inaugu-
titui, igualmente, matéria autônoma ração da Terceira República, a Fran-
em muitas Faculdades de Direito -, ça teve nada menos do que tre-
ensinam inevitàvelmente, ensinam ze Constituições diferentes. Treze
sem nenhuma discussão, que esta Constituições escritas, fora os Esta-
Constituição, que traz em si a carga dos em que não havia propriamente
das necessidades revolucionárias - um sistema constitucional delimi-
a "Constituição-Instrumento" -, é tado, estabelecido, mas onde havia
aquela que preside a uma época de uma espécie de prática de institui-
transformação, mas que não vincula, ções costumeiras, ou instituições
que não se liga a uma época da se- forçadas pela emergência de situa-
dimentação. ções políticas especiais.
-33

Conseqüentemente, êste exemplo De qualquer maneira, a Constitui-


pode ser uma espécie de batismo, de ção de 1824 não foi senão instru-
água lustrai, para que nós não te- mento de configuração, fixação e
nhamos nenhuma dúvida, nenhum apresentação do Império brasileiro
escrúpulo, nenhum acanhamento em independeu te.
lançar mão da História do nosso Ela não foi uma Constituição-Suma,
próprio País. não foi um documento que viesse in-
Então, direi que temos, no Brasil, corporar a seu texto uma experiên-
exemplos clássicos de Constituições cia terminada, uma experiência li-
a que acabo de me referir: de "Cons- quidada, uma experiência vivida. Ela
tituição-Suma" e de "Constituição- foi um texto que veio propulsionar o
Instrumento". A primeira Constitui- dinamismo de um movimento que
ção brasileira, de 25 de março de estava em plena ascenção.
1824, é tipicamente a "Constituição- Daí a sua dificuldade, daí a sua pou-
Instrumento". Foi elaborada por um ca durabilidade. Sei que poderei pro-
grupo de dez figuras eminentes, de- vocar a surprêsa dos Srs. Senadores
signadas pelo Imperador Pedro I, em falar na pouca durabilidade na
para atender à fixação do processo Constituição do Império, mas é que
revolucionário da independência. O estou falando nela em relação ao
de que se tratava, naquele momento, ano em que foi expedida, em 1824, e
era de instituir, através de um ins- não dez anos depois, em 1834, quan-
trumento constitucional, as conquis- do foi votado o Ato Adicional.
tas da independência nacional. E ~ste Ato Adicional é que veio incor-
por quê? porar à Constituição de 1824, ou seja,
de dez anos antes, aquela experiên-
Porque, Sr. Presidente, não era ape- cia do federalismo brasileiro, aquela
nas o problema interno que preva- necessidade de autonomia das auto-
lecia naquela época, mas, sobretudo, ridades estaduais. Enfim, aquela
o problema internacional. O Brasil série de reivindicações da nossa exis-
representava um dos maiores pro- tência e da nossa vida política que
blemas internacionais do princípio não tinham podido ser objeto de
do século XIX. O problema era o do considerações no preparo daquele
reconhecimento de um Estado inde- documento-instrumento. Então, a
pendente, com a quebra de todos os partir do Ato Adicional é que a Cons-
processos, tôdas as alianças, todos tituição do Império passou a ser uma
os tratados, assentados pela Europa Constituição-Suma, isto é, uma
Ocidental, no que diz respeito à mo- Constituição que integrava no seu
narquia legitimista, e o Congresso texto não apenas as razões da revo-
de Viena. lução, da Independência, mas as ra-
Então, a independência do Brasil zões da existência do Império.
significava a ruptura daqueles com- Temos, então, a grande vida da
promissos assumidos com a Coroa Constituição do Império, que vai até
portuguêsa, que prevaleciam no Di- a Proclamação da República.
reito Internacional da época. E esta Sr. Presidente, outra Constituição-
a razão por que êsse reconhecimento Instrumento é a de 1937. Foi feita
exigia que fôsse feito sob um do- para atender a uma situação nacio-
cumento constitucional de importân- nal, que era a repercussão, o reflexo,
cia mundial. Isso é coisa notória na a projeção de uma situação interna-
História do nosso Direito. cional. Foi feita igualmente por um
-34-

grupo de juristas, ou, mais especial- soltando Prestes e fazendo apêlo às


mente, por um jurista, um grande massas, procurando os sindicatos?
jurista, que elaborou o seu texto de Essa Constituição não durou juridi-
acôrdo com as idéias que na época camente porque nunca se completou
prevaleciam. Mas aquela Constitui- na integração dos órgãos previstos
ção visava à fixação de um revolu- no seu texto e não durou política-
ção que se processava no Brasil; e mente porque foi composta, foi so-
ela não durou. A idéia de que ela nhada, foi concebida para atender
durou o famoso, o "curto período" a uma situação política, e terminou
que medeia entre 1937 e 1945 é uma tendo que se apoiar na situação con-
ilusão. E não durou por várias ra- trária, na esperança de se salvar.
zões. A primeira, porque nunca foi
aplicada. Ela, para ser aplicada, pre- Portanto, a "Constituição-Instru-
cisava compor o instrumental da sua mento" de 1937 também não preva-
aplicação, que deveria partir do ple- leceu.
biscito. Ora, o plebiscito nunca se Já, Sr. Presidente, a Constituição de
operou. A reunião dos Podêres Legis- 1946 é "Constituição-Suma" por ex-
lativos elementares, que ela previa, celência. Ela corresponde à compo-
também nunca se verificou. sição, ao equilíbrio, à fixação -
fixação não estática, porque o Di-
A investidura do Presidente, de acôr- reito Constitucional não pode ser um
do com a composição do colégio elei- Direito está ti co - mas a fixação -
toral, nunca foi solicitada. E se ela falta-me a palavra, Sr. Presidente
nunca se realizou juridicamente, - digamos, plena. Ela corresponde
também a Constituição de 1937 nun- à fixação plena, ao equilíbrio da ple-
ca se realizou politicamente. Ela co- nitude de tôdas as razões, de tôdas
meçou - vemos isto pelo preâmbulo as fôrças, de todos os impulsos na-
que aparece no seu texto -, ela cionais em todos os estágios, em
começou para defender o Brasil tôdas as dimensões, em tôdas as di-
contra uma pretensa investida de reções e de tôdas as classes que se
esquerda. Digo pretensa não no sen- tinham manifestado desde 1922, e
tido polêmico; digo pretensa porque que vem terminar em 1945. A As-
esta era a alegação pretendida para sembléia Constituinte de 1945 - e
instauração daquele estado excep- posso falar, Sr. Presidente, porque
cional. Mas, como terminou a Cons- dela não fiz parte, cheguei à Câ-
tituição de 1937? Terminou com a mara em 1947, mas aqui vejo com-
libertação do Chefe comunista; o Sr. panheiros que a ela estiveram pre-
Luiz Carlos Prestes foi um prêso po- sentes -, a Assembléia Constituinte
lítico libertado no fim do chamado de 1945-1946 foi realmente o estuá-
Estado Nôvo, no fim do período da rio, o desaguadouro, a fôrça de união
Constituição de 1937, e para atender de todos aquêles componentes da
aos reclamos e necessidades da po- grande revolução brasileira. Aquêles
lítica dominante. componentes que partiam das rei-
vindicações políticas de representa-
E como dizer que durou politica- ção e justiça que começamos a en-
mente uma Constituição, a de 1937, contrar formuladas em certos parti-
se ela começou enfrentando a es- dos de oposição constituídos no âm-
querda contra a direita e acabou bito estadual - o Partido Libertador,
enfrentando a direita contra a es- no Rio Grande do Sul, e o Partido
querda, enfrentando os integralistas, Democrático, em São Paulo. A fun-
-35

dação do Partido Libertador, no Rio no Politeama Baiano, o grande pro-


Grande do Sul, e do Partido Demo- jeto de reforma constitucional do
crático, em São Paulo, em 1926, os conselheiro Rui Barbosa, constante
dois ao mesmo tempo, representou da famosíssima conferência no Po-
precisamente a transposição para o liteama da Bahia, estão as inspira-
plano jurídico das aspirações e da ções, as tendências, as preocupa-
ação política de âmbito nacional à ções que vieram, mais tarde, a se
fixação jurídica das aspirações e da corporificar na obra de 1946, mas
ação da Constituição de 1891, que não estão as soluções, nem a técnica
havia começado com o sangue nas operativa, porque Rui - permita-
areias de Copacabana. Portanto, Sr. me, reverentemente, meu ilustre co-
Presidente, estas foram as fôrças po- lega observá-lo -, demasiadamente
líticas libertadas, no sentido de dar prêso às suas próprias obras, às pró-
ao Estado brasileiro estruturação prias convicções que o tinham nor-
que correspondesse à formulação ju- teado na mocidade, não poderia, no
rídica do estado de Direito; não à esplendor da sua velhice, consagrar-
substância social, não à substância se às idéias novas; naquela velhice
do desenvolvimento econômico, mas que descambou para a eternidade
à sua formulação jurdica, aos seus como um sol descamba para o ocaso,
aspectos ligados às idéias de repre- desprendendo os seus mais belos cla-
sentação de justiça e autenticidade rões. Em 1910 êle suscitou as teses,
eleitoral. Esta foi uma das grandes êle levantou as hipóteses, êle agitou
correntes que vieram desaguar na as idéias. Mas, no programa do Po-
Assembléia de 1945." liteama Baiano, não estavam as so-
luções fundamentais da justiça elei-
O Sr. Aloysio de Carvalho - Talvez
torál, do estabelecimento de certas
pudéssemos remontar um pouco
condições especiais para o direito de
mais, lembrando como fator primor-
voto, das certas garantias oferecidas
dial inestimável dessa evolução no
sentido da reformulação da Consti- à justiça dos Estados, enfim, todo
aquêle acervo que vem tecnicamen-
tuição de 1891 o movimento civilista
te compor as idéias que formavam o
dirigido pelo Conselheiro Rui Bar-
ponto alto da sua pregação."
bosa.
O SR. AFONSO ARINOS- "Eu aten- O Sr. Aloysio de Carvalho - "Estou
do, prazerosamente, à óbvia reivin- certo de que V. Ex.a dá Interpreta-
dicação baiana. ção justa à contribuição das Idéias
De fato, o Conselheiro Rui Barbosa, de Rui Barbosa através dêsse movi-
na sua vida exemplar, na sua vida mento de 1910. Sua participação foi,
estelar - que não é feita apenas de sobretudo, notável, naquela ocasião,
trabalho, mas de coragem, que não é sob dois aspectos: primeiro, tendo
feita apenas de pena, mas também sido êle apontado, até então, pelo
de espada na mão, pois Rui não foi País inteiro, como o autor intelec-
o escritor nem o orador somente, tual da Constituição de 1891, vinha
mas o grande espadachim da Pri- a campo e defendia o movimento re-
meira República -, contribuiu para visionista, idéia a que se apegou
essa evolução. com tanta convicção que recusou,
Atendo, prazerosamente, à solicita- em certo momento, ser candidato à
ção do meu ilustre colega da Facul- Presidência da República apoiado
dade de Direito da Bahia. Apenas pelas fôrças majoritárias do Rio
diria que, no projeto de reforma lido Grande do Sul. Isto porque não
-36-

transigia com o ponto de vista de nacionais. Mas terei outra ocasião,


não se reformar a Constituição. Ou- por certo, de ouvir a palavra sem-
tro aspecto é o do seu pensamento pre tão respeitada do meu mestre e
sôbre a necessidade de se modificar colega, Senador Aloysio de Carvalho.
a estrutura do regime republicano, Sei, Sr. Presidente, que chegamos
substituindo a República presiden- ao meio-dia e meia e me sinto fati-
cialista - o que, em 1910, já se ad- gado; concluo, pois, que o Senado
mitia - pelo sistema parlamentaris- deve estar mais do que eu. Assim,
ta no Brasil. Afirmava, então, com prosseguirei, noutra sessão. Hoje, fa-
muita ênfase, que preferia, talvez, zendo esta introdução à minha pre-
a instabilidade que a irresponsabi- sença na tribuna, falarei apenas sô-
lidade dos governos." bre as premissas das reformas e sua
significação. Sobretudo, quero acen-
O SR. AFONSO ARINOS - "V. Ex.a,
tuar, como fecho ou como pré-fecho,
neste ponto, toca, particularmente,
se me permitem os juristas esta ex-
a minha sensibilidade. No decurso pressão, que considero êste projeto
destas intervenções terei oportuni-
uma Constituição-Instrumento, isto
dade de tratar precisamente, de
é, projeto destinado a compendiar
maneira objetiva, não de maneira tôda a carga de dinamismo da revo-
romântica, nem pessoal, nem ilusó- lução que ainda não terminou.
ria, nem passional, mas de maneira
objetiva, o problema da transfor- E' muito importante que os Srs.
mação do regime, ou seja, da insta- Congressistas, que os Srs. Senadores
lação do regime parlamentarista no reflitam - não digo que aceitem,
Brasil. porque não tenho tal vaidade -
sôbre a sugestão que ora faço. Peço-
Nessa ocasião, terei muito prazer em lhes que reflitam, um pouco, sôbre
recordar as palavras que V. Ex.a a observação que acabo de formular.
acaba de pronunciar sôbre assunto
que constitui, depois da Campanha A "Constituição-Instrumento", neste
Civilista, o programa do Partido Re- momento, tem grande importância:
publicano Liberal, do famoso progra- ela tem a importância de manifes-
ma do Partido Republicano Liberal, tar o empenho do Sr. Presidente da
que o nobre Conselheiro Rui Bar- República em passar, ao seu suces-
bosa elaborou e tentou instalar no sor, não um Estado de arbítrio, mas
País. um Estado de Direito, um Estado li-
mitado pelo Direito. As normas de
Depois do insucesso da campanha Direito, contidas nessa limitação, são
política de Rui Barbosa, como V. discutíveis e serão discutidas por
Ex.as sabem, essa tentativa de for- mim, que pertenço ao Partido da
mação do Partido Republicano Li- Maioria, como serão, naturalmente,
beral, na Primeira Repú,blica, em objetadas, com maior veemência,
contraposição com o Partido Repu- pelos nossos colegas da Oposição.
blicano Conservador, fundado por Serão, ainda, objeto de tentativa de
Pinheiro Machado, foi a demonstra- emendas que eu, inclusive, estou dis-
ção da inadequação das soluções que posto a apoiar, quando partam do
êles preconizavam, com o processo meu setor, ou iniciar - quem sabe?!
que queriam instituir. Não consegui- - na esperança de algum apoia-
ram criar, na Primeira República, mento. Mas esta observação prévia
ambiente propício, em tempo opor- me parece fundamental; não foi
tuno, para formação dos partidos apenas a psicologia social do bra-
-37-

sileiro; não foram os seus atributos arbítrio, mas dentro de um Estado


gentis- e eu gosto muito destapa- de Direito."
lavra gentil, Sr. Presidente, porque O Sr. Josaphat Marinho - "V. Ex.a
ela não tem nada de frágil nem de faz, sem dúvida alguma, observações
efeminada; é uma palavra que diz ponderabilíssimas, inclusive por par-
respeito à gentilhomeria, que diz te da oposição. Sobretudo, V. Ex.a
respeito à bravura generosa -, os fala com a serenidade mais de quem
atributos gentis do povo brasileiro; quer buscar acêrto e esclarecimento
não foram apenas êles que se mani- do que defender posição partidária.
festaram no processo revolucioná- E' evidente que a pronunciamentos
rio. Houve violências censuráveis, dessa natureza nós outros, da Opo-
houve injustiças gritantes e até sição, devemos dar a devida con-
mesmo repugnântes, mas, no con- sideração. Eu me permitiria, apenas,
junto, não podemos deixar de reco- lembrar a V. Ex.a que o projeto bus-
nhecer que êstes dois anos de pro- ca, em grande parte, institucionali-
funda transformação nacional, pro- zar o arbítrio, quer quanto aos direi-
cessada debaixo de pressão militar tos individuais, quer quanto ao poder
irrecusável e cheia de suspicácia, legislativo do Presidente da Repú-
cheia de falta de informação sôbre o blica, quer quanto à faculdade de
meio civil, não se processou, de ma- o Presidente da República estabele-
neira nenhuma, nos moldes que tem cer medidas excepcionais além das
oferecido a vida política de outros enumeradas na fase de estado de
países. É aquela gentileza, é aquela sitio. Claro que, como minoria, com-
graça generosa, é aquela tolerância preendemos que não podemos obstar
humana, é aquela cordura, é aquela a feitura da Constituição nem ela-
capacidade compassiva que caracte- borá-la segundo nosso pensamento.
rizam o povo brasileiro. Mas queria
Nem por isso, entretanto, deixare-
salientar também que a elite polí-
mos - segundo o tratamento que
tica do País, aquêles que estão com
recebermos - de oferecer a nossa
a responsabilidade do poder, tam-
contribuição para reduzir a parcela
bém procedem não pelas mesmas
de autoritarismo e de arbítrio que
razões psicológicas, mas por moti-
se encerra no projeto governamen-
vos da liderança, por convicção e
tal. Se essas modificações forem
boa-fé política, por direitura polí-
possíveis, se alterações adequadas
tica, a êste esfôrço de conter os im-
se tornarem oportunas, asseguro a
pulsos revolucionários, dentro de um V. Ex.a que a Oposição não pecará
quadro discutível, sim, de um quadro
por omissão."
frágil, sim, dentro de um quadro
inadequado, sim - e sou dos pri- O SR. AFONSO ARINOS - "Sr. Pre-
meiros a proclamá-lo -, mas, em sidente, eu me rejubilo, eu me feli-
todo caso, dentro de um quadro li- cito por ter dado oportunidade à
mitativo do arbítrio e impositivo das brilhante intervenção do meu cole-
regras do Estado de Direito. ga, Senador Josaphat Marinho, e es-
tou convencido de que o fino apare-
Mas esta observação ninguém no-Ia lho auditivo do Senador Daniel
pode tirar, ninguém no-la pode Krieger não terá estado alheio a
recusar à Situação ou ao Govêrno, esta mensagem circunloquial, que
êste empenho de terminar o proces- chegou à sua cadeira.
so e passar as responsabilidades do o nobre Senador Josaphat Marinho
poder não dentro de um estado de falou mais para V. Ex.a, Sr. Senador
-38-

Daniel Krieger, do que propriamente Esta é a função da Minoria.


para mim. E eu estou certo de que, Meu caro colega: fui o Líder da Mi-
na medida em que o meu querido noria que mais tempo ficou nessa
amigo e velho companheiro, Sena- posição, no Congresso. Fui, durante
dor Daniel Krieger, puder atuar nos sete anos, Líder da Minoria na Câ-
dois sentidos da sua responsabilida- mara dos Deputados. Senti, e multo
de: no sentido da obediência às bem, as suas dificuldades, as suas
suas inspirações e convicções pes- asperezas, as suas lutas, mas a gran-
soais, que são conhecidas e decor- de lição que tive na liderança da
rem da sua formação, e no sentido Minoria na Câmara dos Deputados
das suas responsabilidades de líder é que não há duas condições, nem
político, no conhecimento de fatôres duas espécies de ,brasileiros. Só exis-
que muitas vêzes não são do nosso te uma espécie e uma condição de
- na medida em que êle puder equi- homem público brasileiro, que é
librar estas duas condições de sua aquêle que deseja realmente traba-
missão aqui, e servir aos interêsses lhar, se esforçar, viver, sofrer, calar
- servir no melhor sentido - do seu sofrimentos em benefício do País e
grupo, êle, que eu conheço bem, será do seu povo. Estou certo de que V.
um fator de composição altiva, como Ex.a e os componentes da Minoria
que v. Ex.as desejam, já que não são dessa espécie de brasileiros com
desejam barganhas nem diminui- que me defronto desde os tempos da
ções, um fator de composição altiva minha infância, desde os tempos da
e construtiva para com a minoria minha juventude. Tenho assistido,
desta Casa, no sentido de atender Sr. Presidente, dentro de minha
às aspirações tão brilhantemente casa, da casa do meu pai, às lutas
enunciadas por V. Ex.a. dramáticas da Primeira República;
Apenas queria acentuar, Sr. Presi- assisti à Revolução de 1930 e às ter-
dente, que a dose de arbítrio é ine- ríveis dificuldades da Segunda
rente a todos os documentos políti- República, o desfecho dela, a luta da
cos e até mesmo a tôdas as leis de Terceira República; e, por isso, com
Direito Privado. E' a imposição de a segurança de que podemos ter o
certas diretivas políticas desejadas, orgulho que devemos ter, de que todo
democràtlcamente, pela maioria, nos brasileiro, qualquer que seja a sua
sistemas democráticos. posição, a sua etiquêta dentro de
uma Casa do Congresso, que ocupe
v. Ex.a dirá, com razão, e concordo uma ou outra ala dos assentos dos
com V. Ex.a, que essas diretivas não representantes do povo, estarão sem-
se puderam fazer sempre democrà- pre em condições de esperar, de
tlcamente, isto pelas limitações im- transacionar, de trabalhar para que
postas à tramitação do projeto no as reivindicações possam ocorrer,
Congresso. Vou falar em meu nome num sentido de consolidação da or-
pessoal, na posição de estudioso da dem política do Pais."
matéria, não só da História Consti-
tucional como do Direito Constitu- O Sr. Josaphat Marinho - "Conhece
cional. Quero salientar que é ine- a Casa e sabe V. Ex.a das restrições
rente a todo documento político que temos ao ato convocatório do
certa dose de arbítrio. V. Ex.a diz Congresso e aos têrmos do projeto
bem: há certa dose de arbítrio, to- encaminhado ao nosso exame. Mas
lerável democràticasmente, mas, posso adiantar a V. Ex.a que, preci-
além disso, devemos nos insurgir. samente pela esperança da boa con-
-39

duta dos homens esclarecidos e sen- missão dos Cinco, presidida por
satos, que os há do outro lado, deli- América Brasiliense e com a partici-
beramos participar da elaboração pação de Saldanha Marinho, Maga-
constitucional, ainda que resistindo lhães Castro e outros.
e combatendo, mas na justa expec- :esse processo, transformado, depois
tativa de que encontraremos aque- da revisão de Rui Barbosa, no cha-
las soluções que não sejam no inte- mado Projeto do Govêrno Provisó-
rêsse dos grupos partidários, mas do rio, foi longamente discutido pela
interêsse geral do País." Assembléia Constituinte de 1890.
O SR. AFONSO ARINOS - "Muito As dificuldades que a primeira
obrigado a V. Ex.a" Constituinte republicana teve com o
Sr. Presidente, vou terminar esta Poder Executivo não tiveram relação
fase, digamos, introdutória ou pro- alguma com o projeto votado. Fo-
pedêutica do tratamento que desejo ram devidas à questão da eleição
dar à discussão da matéria nesta do Presidente da República, em que
Casa. houve uma divergência entre o Ma-
E vou terminar exatamente com rechal Deodoro e o Presidente da
uma palavra de divergência e de Constituinte, Prudente de Morais.
restrição, no que diz respeito ao Ato De maneira que o processo de tra-
Convoca tório. balho do Congresso, como Poder
E' a primeira vez, Sr. Presidente, que Constituinte, não sofreu restrição
o Congresso Nacional se reúne com alguma, nem nenhuma limitação,
podêres constituintes, tendo o seu por parte do Poder Executivo.
sistema de trabalho limitado por ato A Constituição de 1934 é conhecida
do Executivo. Isto nunca aconteceu também. A Comissão do Itamarati,
na História Constitucional Brasi- presidida - permita-me o Senado
leira. dizer com emoção - pelo Ministro
Sabe o Senado que o choque, a luta, do Exterior Melo Franco, foi a fonte
entre a Constituinte de 1823 e o Im- de elaboração do anteprojeto, reme-
perador Pedro I foi fundada na cir- tido depois à Constituinte, que o vo-
cunstância de que a Constituinte tou como bem lhe aprouve, baseada
queria negar ao Imperador o direito no seu próprio processo de trabalho.
de sancionar as leis ordinárias, quer Na Reforma Arthur Bernardes de
dizer, ela negava à Coroa o direito 26, houve certa limitação aos podê-
de intervir no próprio processo de res do Congresso. Mas essa limitação
elaboração legislativa, sob o pretex- se fêz através de uma reforma do
to de que, sendo uma Constituinte, Regimento, votada pelo próprio
não estava subordinada a nenhum Congresso.
outro Poder. Evidentemente, não pude consultar,
Foi evidentemente êsse exagêro de na pressa de vir à tribuna, mas lem-
defesa de prerrogativas, que ainda bro-me muito bem - homens de
não estavam fixadas no texto, que idade não têm o privilégio de citar,
determinou a dissolução da Consti- mas de lembrar, é a tristeza da ida-
tuinte, pela fôrça armada, e a ou- de - que o processo de reforma do
torga do texto de 1824. Regimento foi feito com largo de-
Em 1891 é conhecida, também, a re- bate, principalmente dentro da Câ-
senha do processo de preparação do mara, em que avultavam os nomes
anteprojeto. Foi constituída uma Co- dos Deputados Leopoldino de Oli-
-40-

veira, Adolfo Bergamini, e creio que Justiça, cuidasse de um trabalho de


Maurício de Lacerda. Houve grande conjunto que foi a Comissão de ju-
oposição, e o processo de reforma do ristas.
Regimento do Congresso, para ado-
~ste trabalho demorou demais. Não
cão das emendas constitucionais, de-
{uorou largo espaço de tempo, creio faço qualquer restrição, ao contrá-
que mais de um ano. Foi o próprio rio. São meus mestres e amigos os
Congresso que se preparou para a componentes dela.
reforma preconizada e dirigida pelo Mas, dada a situação política em
Presidente Arthur Bernardes. que nos encontrávamos, o trabalho
foi demorado e pràticamente pôsto
A Constituição de 1946 está na me- à margem e, então, teve que se re-
mória de todos nós. Sabemos como fundir - e aqui volto ao início das
trabalhou a Constituinte de 1945 e minhas considerações -, refundir
1946. Muitos dos ilustres colegas que nos bons propósitos de instituir um
me ouvem, dela fizeram parte. Por- Estado de Direito, que viesse pôr
tanto, é a primeira vez que o Con- fim, através das limitações jurídicas
gresso Republicano se reuniu com
e econômicas, ao estado de arbítrio,
tarefa constituinte na obrigatorie-
anterior à Revolução. Mas, em vir-
dade de trabalhar de acôrdo com
tude das contingências históricas, o
uma limitação estrita que lhe vem
documento vem carregado daquele
do Poder Executivo.
dinamismo revolucionário, que o
Divirjo disso, nobre Senador Josa- tornou discutível e transitório.
phat Marinho, sou contra isso. Mas Estas, Sr. Presidente, as minhas úl-
reconheço que esta circunstância timas palavras neste dia, em que
excepcional é menos devida à inten- faço votos para que, não apenas
ção do Govêrno do que ao proces- aqui, com as limitações dos nossos
samento anterior que o colocou nes- podêres consentidos e restritos, con-
ta alternativa. O êrro foi não se ter feridos por êste Ato, mas depois,
cuidado disso antes. quando eu não mais aqui estiver,
quando não mais gozar da honra e
Em 1965 fiz reiteradas manifesta-
do desvanecimento do convívio com
ções em favor do trabalho de ~on~o­
lidação constitucional, de inst:tuc10-
v. Ex.as, no decurso do processo le-
gislativo da próxima legislatura,
nalização jurídica da Revoluçao. Dei
entrevistas, escrevi artigos, proferi possa o Senado continuar a contri-
buir, com as suas luzes, com seus
palestras na televisão. Entendia que
esforços e seu patriotismo, para a
desde 1965 deveríamos ter tratado
elaboração de uma Carta que cor-
disso. Falo com a autoridade que
responda ao nosso passado, que dig-
esta precedência cronológica me po-
nifique o nosso presente e que possa
de dar.
abrir as portas do nosso futuro."
A verdade é que o choque entre Na sessão de 15 de dezembro de 1966,
facções militares e correntes civis, o Senador AFONSO ARINOS (ARENA -
as dificuldades criadas à administra- Guanabara (18), pronuncia o seguinte
ção por várias contingências, que discurso:
são do conhecimento de todos, fize-
ram com que o Govêrno só muito "Sr. Presidente, prossigo, na sessão
tarde, já na gestão do nobre colega de hoje, nas considerações que on-
Senador Mem de Sá, na Pasta da (18) D.C.N. (Seção li) de 16-12-66 - pág. 6.425
- 41
tem iniciei, com referência ao Pro- tradição: uma nucleação intelectual
jeto de Reforma Constitucional sub- desconchavada e anárquica, e uma
metido à apreciação do Congresso, aprovação parlamentar rigorosamen-
para tramitação no decurso desta te fixada em etapas e em prazos.
sessão extraordinária.
Isto, para mim - e eu ontem, no dis-
Ontem, procurei delinear certos as- curso que aqui proferi, salientei o
pectos introdutórios ligados a pro- mérito da iniciativa governamental
blemas gerais atinentes à reforma no sentido de evoluir do estado de
que se preconiza. Hoje, Sr. Presiden- arbítrio para o estado de direito e,
te, embora não possa ainda, em vir- portanto, o mérito da iniciativa de
tude do desenvolvimento natural do confeccionar uma lei constitucional,
meu plano de apreciação desta ma- ainda no prazo de vigência do atual
téria, entrar na análise pormenori- govêrno -, isto, entretanto, deter-
zada do texto, já procurarei, entre- minou um desequilíbrio entre a fase
tanto, situar certos aspectos concre- de preparação e a fase de ultimação
tos que configuram uma aproxima- do projeto, que faz com que o Con-
ção maior da tarefa. Para fazê-lo, eu gresso, realmente, não tenha condi-
lembraria, em primeiro lugar, que as ções para intervir, de forma eficaz,
condições especiais em que foi ela- na tramitação dêste mesmo projeto
borado o projeto de reforma muito em seu seio.
contribuíram para os seus defeitos
e, conseqüentemente, para as críticas E isto é tanto mais verdade quanto,
que, em relação a êle, será licito le- por uma espécie de traição do sub-
vantar. consciente, o próprio Ministro da
Justiça, na introdução com que
Na verdade, o projeto teve uma fase
acompanha o projeto, salienta que o
de preparo estranha, submetido que
dever do Congresso ou a incumbên-
ficou a prazos iniciais pràticamente
cia do Congresso será a de discutir e
ilimitados e a um prazo final in-
votar êste mesmo projeto, sem fazer
transponível.
S. Ex.a nenhuma referência à com-
Na primeira fase de sua elaboração, petência do Congresso para modifi-
os estudos foram caprichosos e erra- cá-lo ou emendá-lo.
dios. Não obedeciam a uma orienta-
ção predeterminada. Sr. Presidente, as Constituições são
sempre, é claro, um trabalho de equi-
Ouviu-se uma Comissão, submeteu- pe. As Constituições elaboradas indi-
se o trabalho desta Comissão ao crivo vidualmente são muito raras. Temos,
da apreciação de várias personalida- é claro, alguns exemplos na História,
des e de vários órgãos. Finalmente, inclusive do nosso País. Temos, por
em obediência à orientação do Go- exemplo, a Constituição do Estado do
vêrno, de terminar o mandato do Rio Grande do Sul, na Primeira Re-
atual Presidente da República com pública, que foi pràticamente o tra-
a existência de um texto constitu- balho de um só pensador político, de
cional aprovado, fêz-se com que essa um só constitucionalista - Júlio de
fase inicial, que eu chamél erradia, Castilhos. Mas, habitualmente, as
de preparação, fôsse seguida de uma constituições se fazem através de
outra fase, angustiada e fatal, que é trabalhos de equipe. Entretanto, tra-
a da tramitação dêste trabalho no balhos de equipe que se compõem em
selo do Congresso Nacional. Então, tôrno de uma liderança coordena-
desde logo se estabeleceu esta con- dora e organizadora .
-42
Quero dizer com isto que, embora na de fato, aquêle repositório, aquêle
sua distribuição de matéria os textos conglomerado de dados que não cor-
constitucionais provenham da coope- respondem, a meu ver, de maneira
ração de muitas inteligências, habi- alguma, ao que se pode chamar o es-
tualmente essa cooperação obedece fôrço pela institucionalização de uma
a um centro de recebimento e de dis- doutrina e de uma aspiração política.
tribuição de impulsos e de inspira- Isto determinou, Sr. Presidente, em
ções: um centro de confecção coor- primeiro lugar, uma grande deficiên-
denada de um documento que seja, cia da linguagem. Não sou filólogo,
no fundo, uma transação entre várias não chego mesmo a ser gramático.
correntes, uma transação entre vá-
rias fôrças sociais e políticas, mas Confesso que não sou um conhece-
uma transação que se assente na dor da língua. Mas sou um ledor per-
base de um corpo de doutrinas, de manente dos textos castiços, dos
princípios, de aspirações e de pro- textos altos da nossa literatura, tan-
cessos comuns. to política como de outra natureza,
enfim, o acervo da obra impressa da
Uma Constituição não é uma uni- inteligência brasileira. E confesso a
dade, mas é sempre uma união. O V. Ex.a• - e tenho a impressão de
que aconteceu, entretanto, com êsse que esta será a opinião generalizada
projeto, foi que, dadas as condições - que, no que toca à linguagem, o
de sua elaboração, como venho de Projeto de Constituição é de uma in-
mencionar , não se procedeu a essa digência total, é de uma afrontosa
espécie de nucleação centralizada, no insuficiência. Acredito mesmo que
sentido de obediência ao esfôrço co- não exista texto constitucional, na
mum, baseado em certos princípios, História do País, nem mesmo texto
de que participassem os elaboradores, de uma legislação importante e sig-
de que fôssem conscientes e cientes nificativa que seja tão mal redigido
os elaboradores, e que tivesse, então, quanto o projeto que temos em
um desenvolvimento normal decor- mãos.
rente da própria existência dêsses
princípios. Insisto em que não sou crítico auto-
rizado, sou apenas um leitor surprê-
O que se deu foi que o texto é pro- so, um leitor espantado, um leitor
duto não de uma síntese, não de uma golpeado pelos assaltos de solecismos
composição, mas de uma adição au- e de construções sintáticas inespe-
tomática, de uma soma inorgânica de radas, ousadas e de deficiências esti-
uma série de reivindicações e de uma lísticas que comprometem não ape-
série de opiniões. nas a feitura formal do documento,
E isto fêz com que o texto chegasse mas a sua própria lógica, o seu pró-
às nossas mãos sem representar prà- prio entendimento, com prejuízos
ticamente nada. Se é que queiramos evidentes quando chegarmos à fase
que o texto constitucional represen- da sua inteligência e da sua inter-
te um corpo de doutrinas, de idéias, pretação.
de técnica e de desenvolvimento ope- Eu poderia pegar o texto e citar aqui,
rativo. ~le não representa isto. O tex- com facilidade, alguns trechos e in-
to representa uma adição ocasional cisos que viessem a corroborar esta
de uma série de sugestões que pro- afirmativa que venho fazendo. Mas
vêm de opiniões divergentes, de in- creio ser perfeitamente inútil êste
tenções divergentes e de concepções trabalho, não apenas porque não me
divergentes. Isto faz com que êle seja, cabe a mim, como porque as lacunas
-43

que saliento terão, evidentemente, tre, está fazendo discurso que todos
ocorrido àqueles Srs. Senadores que nós ouvimos com a maior atenção.
se dedicam mais ao trato da filolo- V. Ex.a advoga a tese de que o mé-
gia e da lingüística. rito está em que o Presidente daRe-
pública deseja o estado de direito,
E, desde logo, isso me parece muito através do envio de um Projeto de
importante: uma revisão completa do Constituição, reconhecendo, porém,
texto, ainda que mantendo o con- que o prazo para análise dêsse pro-
teúdo discutível, o conteúdo inacei- jeto é extremamente exíguo. No de-
tável. É uma tarefa que se impõe, correr da sua exposição, V. Ex.a afir-
desde logo, embora ela seja penosa, ma que há gritantes contradições
esmagadora, porque seria uma reda- dentro do projeto que nos chega.
ção a bem dizer total, uma recompo- Então, passaríamos de um estado de
sição total em prazo muito exíguo. arbítrio para um estado de direito,
Mas não é tanto isto que interessa. cujo estado de direito se caracteri-
zaria pela anarquia que está dentro
As condições em que foi preparada do próprio texto constitucional. ~sse
a reforma, baseando-se nas observa- estado não poderia permanecer, em
ções que há pouco fiz, deram em re- virtude das contradições tôdas que
sultado um outro tipo de defeito, v. Ex.a vem apresentando. Ou en-
quer dizer, a inexistência de uma tendi mal?"
série de princípios comuns de Filo- O SR. AFONSO ARINOS - "Não, V.
sofia de Direito, de Ciência Políti- Ex.a entendeu bem. Apenas eu gos-
ca, de Teoria do Estado, que levas- taria de precisar melhor meu pensa-
sem a um desenvolvimento conse- mento.
qüente. A inexistência de um núcleo Procurarei demonstrar que, de qual-
de pensamento comum determinou quer maneira, do ponto de vista po-
resultados contraditórios, porque en- lítico, a limitação de podêres, ainda
tão a Constituição vai apresentar, no que contida num documento defici-
seu contexto, em estado prévio, em ente, é preferível à ilimitação de po-
estado preliminar, aquêle choque de dêres, ou utilização de arbítrio. É o
opiniões e de fôrças que, nas elabo- primeiro passo.
rações constitucionais, são o perío-
do de adaptação e de transação do A segunda observação, que ontem
trabalho de equipe. Mas, como não salientei, é que êsse texto é transi-
houve êsse período de adaptação e tório, e, portanto, o fundo dos meus
de transação, as contradições figu- discursos é exatamente o de dar
ram inerentes ao texto. ~le não é aquelas impressões que um parla-
uma combinação, como eu disse, não mentar, que chega ao fim do seu
é uma síntese, êle é um conglome- mandato, pode dar, no sentido de
rado de elementos muitas vêzes opos- contribuir, muito modestamente,
multo humildemente, para o pensa-
tos - e eu digo no sentido das aspi-
mento e julgamento daqueles que
rações jurídicas, no sentido da ne-
cessidade que têm as instituições aqui vão continuar: no sentido de re-
jurídicas dentro do Direito Público conduzir o conjunto àquelas condi-
ções mínimas que ensejem o nosso
- e isto faz com que o texto se
progresso, a nossa cultura e o nosso
apresente essencialmente contradi-
tório consigo mesmo." desenvolvimento. Isto, partindo do
princípio de que o poder está limi-
O Sr. Aurélio Vianna - "V. Ex.a, Se- tado pelo Direito e de que ao Con-
nador Afonso Arinos, que é um mes- gresso cabe, na 6.a Legislatura, fun-
-44-

ção da maior relevância. A êle com- que passam a prejudicar a substân-


petirá mostrar quais são os pontos cia mesma do desenvolvimento de-
principais em que as atividades do mocrático.
Congresso se podem desenvolver. Eu vou, no decorrer dos meus dis-
Quanto à anarquia, tomaria a ex- cursos - se puder proferi-los no
pressão do nobre Senador no sentido plano que estabeleci -, mostrar que
coloquial, mas não no sentido jurí- esta contradição é permanente, é bá-
dico, no sentido científico da palavra sica, em todo o desenvolvimento do
"anarquia", porque a existência de projeto: a aspiração por um Govêrno
limitações do Poder é a negação do de democracia e justiça e a execução
princípio da anarquia. A anarquia é de medidas que tornam pràticamen-
a inexistência do Poder. Anarquia, te irrealizável esta aspiração. Mas,
no sentido técnico da expressão é a hoje, eu pretendia abordar, desde
inexistência do Poder e, portanto, a logo, uma contradição que não está
esperança de que a sociedade viva expressa, que não está consignada,
bem com as aspirações naturais de literalmente, no texto, mas é de
cada indivíduo. Esta, a filosofia do grande importância, porque ela cons-
anarquismo, que, V. Ex.a sabe, é, titui o fundamento, a influência pro-
desde o século passado, concepção funda, básica, que vem tornar ine-
puramente romântica. vitável a contradição superior.
Agradeço, assim, a V. Ex.a, meu no- Eu sei que o assunto é delicado, mas
bre colega, a oportunidade de ter precisamente porque o assunto é
dado êste esclarecimento especial à delicado é que êle deve ser abordado
dúvida que suscitou. com a objetividade, com o respeito
e com a serenidade que são o apa-
Mas dizia eu que as contradições nágio do Senado.
existem em função da falta de uni-
dade na concepção e desenvolvimen- Quero, Sr. Presidente, tratar, hoje,
to do raciocínio que preside a con- como tema do meu discurso, da con-
fecção do projeto. Essa contradição tradição básica de tudo isso - a con-
eu salientaria, como disse, em pri- tradição entre o poder civil e o poder
meiro lugar, entre os propósitos po- militar.
líticos delineados, no sentido da res- No dia em que transcorreram, neste
tauração da democracia representa- edifício, os acontecimentos recentes,
tiva e os meios preconizados para que todos deploramos, ou seja, o ato
esta restauração. que suspendeu o funcionamento do
É o que se poderia chamar contradi- Congresso, o Comandante das fôrças
ção entre a esperança e o mêdo. militares, que cumpriu a ordem que
recebera, teve - segundo foi noti-
Existe, em nossa geração, sobretudo ciado - um diálogo curto e fulgu-
nos grupos dominantes, a esperança rante com o Presidente da Câmara
e o empenho do restabelecimento do dos Deputados, na saída dêste edi-
regime de liberdade e de justiça. No fício.
entanto, também existe a idéia de
que a liberdade evoluiu para a anar- Disse o Presidente da Câmara: -
quia e para a corrupção. Então, essa "Eu sou o poder civil". Respondeu o
contradição psicológica, que está em Comandante das Fôrças Armadas:
todos os responsáveis, faz com que - "Mas eu sou o poder militar".
os anseios democráticos sejam con- Estas expressões encontraram, evi-
tidos por uma série de repressões dentemente, uma guarida sensacio-
-45-
nal na Imprensa diária, porque elas pode conceber o poder senão através
têm o aspecto de sensação. Têm, en- daquele grupo de homens que o
tretanto, outra significação não sen- exerce. Mas por que êsse grupo de
sacional, que é significação político- homens é o poder? Aí respondem os
jurídica, importante. Exatamente sociólogos: é um grupo de homens
esta contradição que se esboçou no autorizados a falar em nome de to-
diálogo entre o Presidente da Câma- dos os outros: Isto é o poder. E que
ra e o Comandante das Fôrças em é o poder jurídico? É a investidura
operação, é o que eu queria hoje, de um determinado grupo de ho-
neste discurso, procurar acompa- mens, civis e militares, para falar em
nhar um pouco melhor. nome de todos, dentro do quadro es-
tabelecido pela lei. Portanto, a idéia
Começaria, Sr. Presidente, chaman- de que possa haver uma duplicidade
do a atenção de civis e de militares, de poder num sistema jurídico é
porque num sistema democrático não idéia perfeitamente insensata.
há contradição entre poder político,
poder civil e poder militar. Na reali- Não estou falando com o intuito de
dade, só existe um poder, que é o po- fazer crítica ao diálogo a que me re-
der do Estado, que é o poder jurídico. portei, porque êsse diálogo é apenas
uma troca de palavras, num momen-
Ou o Estado é organizado, juridica- to de emoção, entre duas personali-
mente - esta é a aspiração das per- dades ilustres. Estou dizendo que
sonalidades militares que levaram a isso não pode servir de filosofia para
efeito a Revolução de 64, aspiração a confecção de Constituição nenhu-
reiteradamente proclamada em do- ma. Qualquer Constituição que se
cumentos de tôda natureza -, ou pretenda erigir sôbre uma contra-
marchamos, com o apoio das Fôrças dição não compensada, não declara-
Armadas, para a restauração de um da, mas permanente, mas contínua
sistema democrático, limitado pelo entre o poder civil e o poder militar,
Direito- e, então, não há civil nem não é uma Constituição democrática
militar, senão o poder da Constitui- - é uma Constituição submetida aos
ção, do Direito, o poder jurídico -, impulsos da ditadura ou da rebel-
ou vamos imaginar que se possam dia."
defrontar, permanentemente, no
O Sr. Aurélio Vianna - "Penso que
funcionamento das instituições, as
não estou entendendo bem o raciocí-
influências contraditórias do ele-
nio de V. Ex.a Em primeiro lugar,
mento civil com o do elemento mili-
V. Ex.a compreendeu muito bem que,
tar. Isso me parece o maior de todos
quando falei em anarquia, não me
os erros, o êrro de tudo aquilo que na
estava reportando à filosofia adota-
Constituição corresponde às contra-
da, no século passado, pelos anar-
dições profundas, às contradições ín-
quistas, por aquêles que não admi-
timas, aquelas que estão no nosso
tiam a existência, digamos, do Estado
pensamento e que não conseguimos
organizado nos moldes conhecidos.
dissipar. Tudo aquilo que na Cons-
Mas então V. Ex.a advoga a tese de
tituição corresponde a essa contradi-
que, se essa Constituição fôr aprova-
ção civil-militar é o pior.
da como veio do Executivo, teremos
Sr. Presidente, o que é o poder? Po- um conflito insanável: o Estado será
der - dizem os sociólogos, porque é de direito mas não será um Estado
problema mais de ordem sociológica democrático. Teremos, então, um Es-
do que de direito -é, historicamen- tado de direito, ditatorial. Logo, deve
te, um grupo de homens. Não se haver alteração profunda para que,
-46

entre a esperança e a realidade, se O SR. AFONSO ARINOS - "V. Ex.a


chegue a uma conclusão que dê na verá, no decurso destas interven-
Constituição de um Estado de direito, ções, é claro.
democrático. Talvez seja o objetivo
Dizia - em primeiro lugar, uma ob-
de todo o discurso e de tôdas as in- servação a essa pergunta que V. Ex.a
tervenções de V. Ex.a Como demo-
fêz há pouco - que o caráter totali-
crata, deseja o Estado de direito, de
tário e formidável dos conflitos in-
fundo democrático. Entendi?"
ternacionais ocorridos no Século XX
O SR. AFONSO ARINOS - "Obriga- tiveram uma primeira conseqüên-
do a V. Exa cia, também geral, que foi o esvazia-
Vou procurar responder à objeção mento das diferenças existentes en-
de V. Ex.a. Lembro a V. Ex.a que, tre população civil e organização mi-
quando falei nessa oposição entre a litar.
filosofia do poder civil e a filoso- Se existe uma conseqüência visível,
fia do poder militar, esclareci que ela principalmente nos grandes países
não estava expressa no texto, que ela que foram teatro das maiores guer-
era, por assim dizer, um estado de ras do nosso tempo, é esta: o tipo de
espírito subjacente, tanto no meio guerra, o tipo de ação militar e,
civil quanto no meio militar. conseqüentemente, a concepção de
E voltando ao que eu dizia há pouco: segurança nacional, eliminou tôdas
não percebendo grandes possibilida- as diferenças entre a tarefa civil e a
des de que estejamos em condições tarefa militar, fazendo com que a ta-
de fazer essas alterações profundas a refa conjunta seja precisamente a
que V. Ex.a se referiu, no decurso da tarefa nacional, a tarefa de seguran-
tramitação atual, era mais uma ça nacional.
idéia, que procurarei desenvolver, no
sentido de que isso sirva de base para Isto é uma afirmativa óbvia. Mas há
o trabalho de V. Ex.a e de outros ilus- outra afirmativa, que não é comum
tres parlamentares, na próxima le- para todos os países e que se aplica
gislatura. mais precisamente aos países do tipo
do nosso, de organização política ins-
Porque não existe no texto nenhuma tável, desenvolvimento econômico
observação concreta no sentido de desigual, educação pública insufi-
oposição entre as duas concepções ciente e tradição histórica agitada.
de poder. O que digo é que existe, da É que não existe - isso devemos re-
nossa parte, como civis, e da dêles, conhecer, nós, políticos civis - es-
como militares, certa tendência a pontaneidade na intervenção militar.
reivindicar situações parciais, de
um lado e de outro, sem compreen- Nos cursos que se têm feito a respei-
der que o poder jurídico é a fusão de to do assunto, isto é, a respeito da
tôdas as fôrças da sociedade, dentro participação do elemento militar na
de objetivos comuns. orientação política civil - e hoje
É isto precisamente o que desejo ex-
êsse é um assunto que se estuda mui-
primir no discurso de hoje, de for- to, especialmente nas universidades
ma mais concreta, fazendo referên- americanas nas universidades dos
cia a dados mais concretos." Estados Unidos é assunto corrente,
porque a matéria começa a tornar-
O Sr. Aurélio Vianna - "Que tem se importante também lá -, no to-
isso a ver com o texto constitucio- cante à intervenção direta do ele-
nal? mento militar na constituição dos
Qual a relação de causa e efeito?" podêres civis, na sua transformação
- 47
-digamos numa palavra- nas re- são os que apresentam um panora-
voluções civis, não é habitualmente ma sócio-econômico, institucional e,
- quase podemos dizer nunca - principalmente, cultural, com gran-
uma iniciativa do elemento militar. des ilhas de desenvolvimento, com
uma grande complexidade de pro-
O que há é um apêlo de facções civis blemas que os tornam muito diferen-
ao apoio e à intervenção das fôrças tes dos países especificamente subde-
militares; é o apêlo de facções de senvolvidos, como certos países do
grupos civis, de correntes de opiniões continente africano, do sudeste asiá-
civis incapazes de resolver, juridica- tico e mesmo da América Latina. Nos
mente, os problemas internos do países subdesenvolvidos ou em vias
País, problemas de natureza política, de desenvolvimento existem certos
e que lançam mão, então, do apêlo fatôres dignos de menção. Primei-
às fôrças militares, para a interven- ramente, a superioridade da organi-
ção, seja na pacificação do País em zação militar sôbre a civil. Os mi-
têrmos de uma convulsão, seja do litares constituem um grupo com
predomínio de determinadas fôrças maior capacidade, maior preparo,
em face de outras. maior operosidade, maior ,presteza
Essa não é uma situação peculiar ao na ação. Quer dizer, a própria tarefa
Brasil, é situação que se repete em militar está condicionada a uma per-
todos os países mais ou menos do manente atuação no sentido do seu
tipo do nosso, e mesmo em países de preparo, do seu aprimoramento téc-
desenvolvimento histórico e cultural nico e do seu encerramento dentro
superior ao nosso, como temos exem- de um determinado ambiente limi-
plo recente, inclusive, na República tado em que age com maior eficiên-
Francesa. cia do que a dispersão natural dos
grupos correspondentes civis. Qual o
Essa é uma primeira consideração resultado em nosso País? É que o
que trago para enfatizar a respon- maior número de atividades e fun-
sabilidade do meio civil no tocante ções, exercidas anteriormente por
à criação de situações e de proces- civis, passam a ser exercidas por mi-
sos jurídicos que possam desenlaçar litares , porque êles têm uma for-
as crises sem que seja necessária esta mação, um trabalho mais solidário a
rotineira, esta repetida solução do uma capacidade maior de atuação.
apêlo feito pelos civis à intervenção
militar. A essa atuação dos militares vem-se
Mas, Sr. Presidente, por que se faz, juntar, com maior possibilidade de
permanentemente, nos países do tipo êxito e de influência em tarefas que
do nosso, êsse apêlo à intervenção habitualmente seriam confiadas aos
civis, a permanente solicitação dos
militar?
grupos civis conflitantes para in-
Temos que considerar - e eu fiz tervenção militar no campo político.
uma tentativa de síntese nessa ma-
téria - que os países são divididos O que acontece,então, é que grupos
em duas grandes categorias: os paí- militares mais capacitados, mais uni-
ses realmente subdesenvolvidos e os dos, solicitados pelos civis para in-
países em processo de desenvolvi- tervirem no processo político, con-
mento ou em vias de desenvolvimen- tam com maiores responsabilidades
to, como dizem atualmente os econo- nas atividades governativas. Passam
mistas, como é o caso brasileiro. Os a ter e a justificar uma presença
países em vias de desenvolvimento maior nas atividades governativas.
-48

Isto, como disse, não é uma obser- não têm, para uma vida digna,
vação peculiar ao nosso País. O grupos civis apelam para os milita-
Brasil se enquadra numa categoria res para manutenção e em defesa
geral, em que êsses fatôres são no- da velha ordem, muitas vêzes supe-
tórios e preponderantes. O nosso rada. Nos Estados organizados, de
País tem uma situação um pouco di- economia forte, Isso não acontece,
ferente, como salientei no princípio não vem acontecendo. V. Ex.a de-
desta fase da minha exposição, ou clarou que não é propriamente êste
seja, não é um País subdesenvolvido, o caso do Brasil. Nunca tivemos mi-
é um País em vias de desenvolvimen- litarismo no Brasil; nunca tivemos
to; um País onde os problemas polí- uma casta propriamente militar no
ticos e administrativos se apresen- conceito que se deu noutros países.
tam com uma complexidade multo
maior, com necessidade de vivência Mas eu gostaria que V. Ex.a se apro-
muito mais ampla, com necessidade fundasse mais sôbre êsse assunto,
de uma - vamos dizer - atuação porque o conceito de segurança na-
política, no verdadeiro sentido da cional, por exemplo, no atual pro-
palavra, mais eficaz. jeto de Constituição, é tão elástico
que talvez esteja aí o conflito a que
Nestes países, o predomínio exclusi- V. Ex.a, no início, se referiu."
vo da casta militar não se opera com
grande facilidade. Ela encontra difi- O SR. AFONSO ARINOS - "Eu res-
culdades no seu próprio exercício. pondo a V. Ex.a V. Ex.a revelou, sem
Quando o poder é conquistado pelos dúvida, uma opinião procedente, mas,
militares, a conquista não é difícil, diria, parcialmente procedente."
mas o exercício dêsse poder, em têr-
mos de orientação política e de ori- O Sr. Aurélio Vianna - "Sim!"
entação administrativa, já se torna O SR. AFONSO ARINOS - "É uma
hem mais difícil, porque o País já é assertiva, feita em relação aos paí-
muito mais complexo." ses do tipo do nosso por escritores es-
O Sr. Aurélio Vianna- "Nobre Sena- trangeiros. A tese sôbre desenvolvi-
dor, não acha V. Ex.a que êsse apêlo mento e subdesenvolvimento do
dos civis aos militares é, na verdade, grande economista sueco, que teria
um apêlo de grupos civis a grupos de dar um curso no Brasil no ano de
militares, tôda vêz que os países sub- 1967, GUNARD MIRDAL, tem muito
desenvolvidos ou em desenvolvimen- ponto de contato com as idéias ex-
to ameaçam a ordem vigente para pressas por V. Ex.a. E eu mesmo, no
uma transformação da ordem econô- discurso que fiz aqui logo depois do
mica e social? Para a manutenção dia 1.0 de abril e que foi publicado
do statu quo, daquela situação con- em revistas não parlamentares, ma-
tra a qual se vai rebelando o povo, no nifestei a opinião que V. Ex.a está
seu desejo de felicidade econômica emitindo. Dizia que tinha assistido
e de segurança social? Não sei se é em minha vida a êsse conflito per-
êste o entendimento que V. Ex.a dá à manente na busca da ordem e do
tese que defende, mas historicamen- desenvolvimento econômico, que não
te sempre foi assim. HistOricamente chegam a um ponto de encontro des-
é assim. Tôda vez que um país quer sas duas correntes - a ordem ba-
furar a barreira do subdesenvolvi- seada nas inspirações jurídicas e o
mento econômico, tôda vez que as desenvolvimento, baseado nas neces-
massas se transformam em povo e sidades populares sem limitações de
passam a solicitar vantagens que direito.
- 49

Esta é, no fundo, a idéia do discurso. O SR. AFONSO ARINOS - "E do ou-


Mas, no Brasil, não é tanto assim que tro lado, também, declarei que sim.
aconteceu, e a tanto responde a nossa E posso trazer os textos."
experiência pessoal. Chegamos a uma O Sr. Aurélio Vianna - "E nós iría-
idade e a um trânsito na vida polí- mos à pergunta - que não vai ser
tica que nos permite utilizar nossas feita: qual dos dois apelos foi aten-
próprias recordações, para conceituar dido pelas Fôrças Armadas? Ou ne-
êste problema .No Brasil o apêlo à in- nhum dos dois foi atendido? Aí já é
tervenção militar já se fêz pelos dois outra questão, porque seria confir-
lados, tanto pelo lado que é conside- mada a tese. Mas, que o apêlo é feito,
rado o guardião da ordem conserva- é. Muito bem! Há quem pense, há
dora, como pelo lado que é conside- quem discuta que, na conjuntura in-
rado o campeão da ordem progres- ternacional, os países estão sendo
sista. obrigados a tomar posição, e os gru-
pos mais organizados dêsses países,
Em 1954, o apêlo foi feito pelos civis, principalmente dos em desenvolvi-
pelos chamados conservadores, e eu
mento ou subdesenvolvidos, lançam-
era Líder da União Democrática Na- se na luta, numa posição definida
cional nesse momento. Em 1955 foi e clara. O mundo está dividido e
feito pelos civis da chamada ordem cada grande potência pede aos seus
revolucionária, do movimento em aliados uma definição clara e em
prol do progresso, liderado pelo Par- nome da segurança nacional, pelo
tido Trabalhista Brasileiro. Não vou mêdo daquelas ideologias que favo-
citar nomes. A Casa, porém, tem reciam certas potências, contrarian-
presente vários discursos inflamados do interêsses de outras. Então há
de muitos parlamentares, inclusive transformações. Mas, de qualquer
de alguns cassados e exilados pela maneira, há apelos de civis para que
Revolução, que apelavam freqüente- os militares tomem uma posição.
mente para a intervenção militar.
No Brasil, por exemplo, foi declarado
De maneira que a conceituação não que havia uma ameaça em potencial
é muito procedente no que toca ao às instituições democráticas, demo-
nosso País. Ela vem mais dos funda- cráticas liberais, pelo avanço dos
mentos que procurei enunciar, isto é, subversivos: um grupo tentava levar
a falta de discernimento político e a o Brasil a tomar uma posição, no
falta de resignação jurídica do melo campo internacional, contrária às
civil, para processar, dentro dos tradições políticas, às tradições do
quadros constitucionais, a marcha povo brasileiro. Então se deu a inter-
do progresso nacional, sem fazer venção. A inclusão na Constituição,
apêlo à intervenção da fôrça, porque do conceito amplíssimo de seguran-
êsse apêlo - repito aqui - já foi ça nacional - nos nossos últimos
feito pelos dois lados - pelo lado textos repetidos -, vem justamente
do centro-direita e pelo lado do para isso: impedir a subversão, isto
centro-esquerda." é, impedir que, no campo da sua
O Sr. Aurélio Vianna - "Mais uma política internacional e de sua polí-
pequena e última intervenção, no- tica interna, de ordem econômica,
bre Senador. É uma questão a se haja qualquer alteração, haja qual-
discutir: foi feito apêlo e V. Ex.a de- quer modificação. Estou satisfeito
clarou que sim. V. Ex.a mesmo, em por V. Ex.a, homem da "ARENA",
nome de uma corrente política, o fi- mas como tantos outros muito inde-
zera." pendente, trazer para o debate êsses
-50

assuntos que são de impressionante mado de um bloco contra outro leva,


objetividade e grandeza. É por isso também, à conseqüência de que não
mesmo que nós, que constituímos a há possibilidade de uma guerra total
Oposição no Senado e na Câmara, de um bloco contra outro, porque a
desejaríamos um prazo mais longo guerra total só se realiza quando
para um debate mais objetivo, mais existe a possibilidade de um esmaga-
claro, a fim de que pudéssemos cons- mento total. Ora, o esmagamento
tituir a base de um sistema autên- total é bilateral no caso de uma ca-
ticamente democrático, que pràtica- tástrofe nuclear - que é uma ex-
mente, nunca houve no Brasil." pressão utilizada pelos especialistas.
O SR. AFONSO ARINOS - "Obriga- Esta simples consideração mecânica-
do a V. Ex.a mente realista é que me leva à con-
vicção de que não existe essa divisão.
Sr. Presidente, o Senador Aurélio
Vianna, meu prezado amigo, pro- Hoje, nós votamos aqui, no Senado,
curaria, talvez, levar-me para o dis- um Projeto de Resolução autorizan-
curso que a sua generosidade espe- do um bravo anti-comunista, o Go-
rava que eu fizesse, mas não consigo vernador João Agripino, a fazer um
me desprender, como hábito que te- empréstimo com um país da "Cortina
nho de preparar os meus assuntos e de Ferro". :t!:sses fatos, que se repe-
desprender-me do roteiro que eu me tem, são evidentes. Existe, é claro,
tracei. um jôgo diplomático, uma posição de
Então, a esta objeção responderia que radicalismo que se chama "guerra
no meu ponto de vista, que nem fria", mas essa posição funciona ape-
sempre é coincidente com o ponto de nas nas votações das Assembléias.
vista do Govêrno - e o meu querido Não está na mente dos dirigentes,
colega Senador Daniel Krieger, des- não pode estar.
de o início da nossa tarefa depois da De maneira que peço apenas per-
Revolução, conhece isto e com a sua missão para essa explicação. Tôda a
liberdade de pensamento e a sua ge- minha gestão no Itamarati foi nesse
nerosidade de coração deu-me carta sentido. Sei que depois foi mal inter-
branca para agir e votar como penso pretada em certos setores e contra-
em matéria de política externa -, ditada em outros. Sei que não es-
que a minha opinião não é absoluta- tou de acôrdo com muitas posições
mente aquela que aqui foi apresen- assumidas depois de mim. Mas mi-
tada pelo meu ilustre colega como nha posição é esta: não existe possi-
sendo a que determinou a adoção de bilidade de divisão irremediável que
certos princípios da Constituição. Eu leve à guerra fatal, porque essa po-
não participo da idéia de que o mun- sição irremediável corresponde ao
do esteja irremediàvelmente dividido desaparecimento da civilização e do
em dois blocos, não porque eu tenha próprio gênero humano.
qualquer razão de natureza filosófica
para assim pensar, mas por uma Voltando ao plano que eu próprio me
consideração brutalmente realista: é tinha traçado, Sr. Presidente,· quero
a de que se o mundo estivesse irre- prosseguir, nestes poucos minutos que
mediàvelmente distribuído em dois me restam, acentuando que, no pon-
blocos, a humanidade desaparecia to em que tinha ficado, isto é, que
debaixo da arma nuclear. Essa con- nos países de desenvolvimento rela-
sideração elementar de que não há tivo, e portanto de complexidade
possibilidade de um predomínio ar- maior nos problemas políticos, a ta-
- 51
refa militar no monopólio do Govêr- gloire, no Haiti; Rojas Pinilla, na
no é extremamente mais difícil, é Colômbia; Jimenez, na Venezuela;
pràticamente impossível. Baptista, em Cuba (Baptista não era
bem ditador militar, mas oprimiu
Por uma razão. Porque um grupo -
Cuba através das fôrças militares);
mais bem preparado sem dúvida,
Lemos, no Salvador - e quatro ti-
mais solidário na atuação sem dú-
nham sido assassinados: Ramon, no
vida - mas um grupo limitado no Panamá, Somoza, na Nicarágua,
número, não pode ocupar as posi-
Castilho Armas, na Guatemala, e
ções decisivas em um Estado das
Trujillo, na República Dominicana.
proporções territoriais e populacio-
nais do nosso. E, em segundo lugar, Havia, portanto, em 1961 - ano em
porque êste monopólio é gritante- que no Brasil houve aquêle grande
mente ilegítimo e, portanto, a ilegi- impulso popular, em que, numa das
timidade do poder é uma fórmula de raras vêzes da História da Repú-
enfraquecimento dêsse poder se se blica, tôdas as fôrças conservado-
quiser exercê-lo livremente. Em ou- ras se uniram às fôrças populares,
tras palavras, o poder ilegítimo para a eleição de um candidato à
só se exerce através da fôrça dita- chefia do Estado -, não apenas no
torial, e a declaração reiterada dos País, como em todo o Continente,
elementos militares, dos mais cate- uma atmosfera de otimismo com
gorizados e melhores, sôbre a signi- relação à recuperação do poder ju-
ficação da Revolução de março e do rídico nas nações. Mas essa atmos-
texto constitucional é exatamente fera, infelizmente, não se confirmou,
no sentido da restauração dos prin- porque nós tivemos a volta da in-
cípios de liberdade. tervenção militar, sempre seguindo
Dizia então que a tarefa é complexa, ao apêlo de facções civis dissiden-
demorada, que depende da compre- tes ou dissentidas: na Argentina,
ensão do que significa o poder jurí- em 1962, com a deposição do Presi-
dico, que é, exatamente, a composi- dente Frondizi; no Peru, em 1962,
cão a combinação, a união entre com a deposição do Presidente Pra-
~quflo que o Coronel Meira Matos do; na Guatemala, em 1963; no
chamou poder militar e o que o Equador ,em 1963; na República Do-
Deputado Adauto Cardoso chamou minicana, em 1963, com a deposição
poder civil. do Presidente Bosch; em Honduras,
em 1963, e no Brasil em 1964.
Sem dúvida, na América Latina,
hoje, as perspectivas não são ani- Como vêem os Srs. Senadores, isto é
madoras. um processo que corresponde a cer-
tas contingências básicas, não tanto
Fiz aqui uma pequena resenha, que de natureza sociológica, de natureza
consegui compendiar e que talvez econômica, exclusivamente, como es-
já esteja em atraso, sôbre a situação tava querendo salientar o eminente
do nosso continente no momento Senador Aurélio Vianna, ainda pre-
atual e nos seus antecedentes ime- sente neste recinto, mas de natureza
diatos. estritamente de cultura política, de
Em 1954, das vintes Repúblicas do concepção política, de atuação polí-
Continente, doze eram governadas tica. Porque, como eu procurei es-
por ditadores mlitares. Em 1961, sete clarecer, na resposta ao aparte que
dos doze ditadores tinham sido der- me deu, o nosso País é uma de-
rubados: Peron, na Argentina; Ma- monstração de que esta fermentação
-52

e êste apêlo são sucessivamente fel- Vou empregar a palavra verdadeira


tos pelos representantes das duas - porque, Sr. Presidente, realmente
correntes em que se divide a política cheguei àquela idade em que a gente
civil - a corrente progressista e a não tem mêdo das palavras; eu as
corrente conservadora. digo com a maior candura: Nasse-
rismo.
Não é, por outro lado, uma verda-
de indiscutível que o apêlo aos mi- Esta palavra é cheia de conotação
litares tenha sempre o propósito de política importante. Ela representa
manutenção de uma estrutura eco- o contrário daquilo que o nobre Se-
nômica anárquica. E digo que não é, nador pela Guanabara procurou
porque tenho conhecimento com nu- classificar; ela representa a insatis-
merosos oficiais jovens das fôrças fação de grandes setores militares
armadas brasileiras, conhecimento ou, pelo menos, de setores influ-
superficial, mas, enfim, conversas entes, altamente inteligentes, pro-
com rapazes que me procuram na fundamente informados, cultivados,
minha casa - não para conspirar, com referência à lentidão e às difi-
pode ficar tranqüilo o Serviço Na- culdades encontradas nos processos
cional de Informações, mas para de salvaguarda da soberania nacio-
conversar, para ouvir de um velho nal, de defesa da economia nacional,
professor, em vésperas de sua apo- de atendimento ao bem-estar do
sentadoria política, uma outra opi- povo brasileiro.
nião sôbre êste e aquêle assunto de Claro que o nasserismo especifica-
natureza geral. Como aqui estamos
mente, limitadamente, é uma filoso-
debatendo: a céu aberto. Porque hoje fia política condicionada a uma sé-
preveni o meu querido Líder de que rie de fatôres que não intervêm no
vinha debater êste assunto, assunto Brasil.
delicado, polêmico, mas que o faria
a céu aberto, numa Casa de menta- Lemos o livro do Presidente Nasser
lidades responsáveis, amadurecidas, sôbre a revolução egípcia - e êsse
serenas, para deixar alguns traços, livro foi amplamente divulgado e até
algumas posições, alguns fatos, algu- foi traduzido para o português - e
mas sugestões sôbre êste assunto percebemos que os fatôres da ação
que não aparece no texto constitu- revolucionária foram dois: a derro-
cional, mas que é, no fundo, aquilo ta diante de Israel, e o espírito de
que determina uma série de confli- união islâmica pan-arabista. Então
tos e contradições dentro dêle. é o fator religioso e racial árabe e o
fator do ressentimento ante a der-
Dizia, voltando ao que afirmava há rota.
pouco, que na mentalidade oficial
jovem existe uma preocupação aço- Isto, graças a Deus, não tem influ-
dada com os problemas de desenvol- ência num país como o nosso, que
vimento e bem-estar do povo, tão tem multiplicidade racial e que não
açodada, diria, que um velho liberal tem problemas internacionais com
como eu se sente um pouco pre- seus vizinhos. Mas o que depois
ocupado com a impaciência com que condicionou o desenvolvimento da
certos setores vêem as dificuldades doutrina nasserista foi a presença
da marcha liberal no sentido do das fôrças armadas como estimulan-
atendimento a estas justas reivindi- te ao processo de desenvolvimento,
cações de desenvolvimento e bem- cerceando a liberdade, isto é, fazen-
estar. do o contrário do que se diz, que o
-53
cerceamento da liberdade pelas fôr- aquêle tipo de instituição que supere
ças armadas é sempre a maneira de essa divergência e que faça do poder
restringir o bem-estar do povo. Não! civil e do poder militar, assim cha-
Pode atingir também o outro extre- mados, dois ramos de um só poder,
mo, pode chegar ao outro setor, ao que é o poder jurídico nacional."
outro campo, da mesma maneira co-
mo procurei aqui chamar a atenção Na sessão de 16 de dezembro de 1966,
para o fato de que os apelos feitos o Senador AFONSO ARINOS (ARENA -
pelos civis à intervenção militar si- Guanabara) ('"), pronuncia o seguinte
tuavam-se em dois campos." discurso:
O SR. AFONSO ARINOS - "Sr. Pre-
O Sr. José Guiomard - "Desejava sidente, Srs. Senadores, na primeira
saber se V. Ex.a, no que está dizendo, parte dêste discurso, dividido em
poderia ter em conta não só a tradi- várias seções, com que eu me des-
ção histórica do Exército brasileiro peço dos meus companheiros de Se-
como sua formação, suas classes, seu nado, procurei estabelecer uma dis-
recrutamento no 'Seio mesmo do tinção fundada, não imaginativa ou
povo."
ilusória, sôbre as revoluções, segun-
O SR. AFO:SSO ARINOS - "V. Ex.a do o seu caráter político e social.
tem tôda razão. Quer dizer, os dois Salientei, então, que a revolução po-
grandes vultos do Exército brasileiro lítica é aquela que tende à transfor-
representam precisamente êste equi- mação das instituições do Estado,
líbrio entre a aristocracia e o ele- enquanto que a revolução social é
mento popular. Caxias, dizia-se, obviamente a que procura modificar
nasceu nos degraus do trono, e Osó- as condições de vida da sociedade.
rio é o homem da tropa, é o homem
da cavalaria, é o homem do povo. Na institucionalização das revolu-
ções políticas, o desfecho é asseme-
Sr. Presidente, estas descosidas con- lhado, porém bipartido. Ou bem o
siderações - eu sei - são extrema- seguimento das revoluções políticas
mente insuficientes; elas procuram conduz ao estabelecimento de uma
apenas situar um dos fatôres pro- ditadura, com a supressão do Esta-
fundos, e é esta minha reflexão fi- do de Direito e a instalação de um
nal: elas procuram apenas situar poder arbitrário, ainda que sob a
um dos fatôres profundos da con- aparência de uma delimitação jurí-
tradição permanente em que se de- dica - e êste foi o caso das diferen-
senvolvem o estímulo à liberdade e tes manifestações do fascismo euro-
o apêlo à repressão, que constituem peu -, ou bem as revoluções políti-
a trama íntima, a trama invisível do cas conseguem emergir do pélago
projeto. Isso decorre da idéia, da ditatorial, mas se organizam sempre
necessidade ou da inevitabilidade de na base do fortalecimento do Poder
uma oposição constante entre o po- Executivo.
der civil e o poder militar, e todo o
meu esfôrço - que sei inteiramente É uma experiência pràticamente
insuficiente - foi apenas no sentido sem exceção na história moderna de
de lembrar que essa contradição não tôdas as revoluções políticas, que li-
existe, porque êsses dois podêres não quidam o seu balanço em benefício
existem. E que, portanto, o trabalho do fortalecimento do que os juristas
político do Congresso deve ser exclu- chamavam, antigamente, o Poder
sivamente fundado em construir (19) D.C.N. (SeçA.o II) de 17-12-66 - pág. 6.447
-54

Executivo, e a que hoje preferem chamar verificação -, à constata-


dar o nome de função executiva. ção rotineira que eu aqui estava fa-
zendo; é a característica da revolu-
Por que isto? Porque o Poder Exe- ção política. Não se processou atra-
cutivo, no processo da revolução po- vés dêle nenhuma mudança subs-
lítica, tende a se transformar, real- tancial no processo social; ao con-
mente, num poder, isto é, êle vai trário, o que se pode observar, como
deixando de parte, como uma ativi- procurarei salientar mais adiante,
dade subordinada ou secundária, as foi exatamente uma filosofia, não
suas atribuições administrativas, as manifestações claras e eficazes, mas
suas características de poder admi- uma filosofia que tende a demons-
nistrativo, para se ir investindo, aos trar o desejo de se impedir essa evo-
poucos, do caráter de um verdadei- lução social. Mas a transformação
ro poder político, e êste caráter de política - e insisto, pedindo descul-
poder político se concentra, especi- pas nesta observação -, a transfor-
ficamente, no domínio da legislação. mação política constante da trans-
Só é político, ou só é predominante- ferência da legislação para o Exe-
mente político o poder que domina cutivo se operou claramente no pro-
o processo legislativo. Quem legisla jeto.
é quem governa. Qualquer que seja
a forma assumida pela lei, seja a Devemos, por outro lado, reconhe-
lei individual ou o ucasse, da perso- cer, imparcialmente, equânimemen-
nalidade soberana, que encarna em te, que neste projeto existe um fa-
si todos os podêres do Estado, seja tor a meu ver altamente destacável,
a lei democrática, elaborada segun- que é o da manutenção da integri-
do os cânones e as normas de direi- dade das atribuições do Judiciário.
to público democrático, a verdade é
que o domínio da legislação é o do- Considero um dos traços importan-
mínio do govêrno. tes, mais significativos, dos mais ex-
pressivos da continuidade de uma
Ora, as revoluções políticas - dizia substância democrática no sistema
eu - se caracterizam, na primeira de Govêrno que se vai instaurar, a
etapa, pela absorção do poder polí- permanência das atribuições confe-
tico, na função executiva, ou como ridas clàssicamente ao Poder Judi-
manifestação dessa absorção pelo ciário.
domínio do Executivo sôbre a legis-
lação. Sem dúvida, quando entrarmos na
análise dêsse capítulo - se é que a
o Projeto de Constituição que esta- êle chegaremos; se tivermos tempo
mos examinando é, no tartamudear -, veremos que houve certas distor-
de sua linguagem canhestra, a ex- ções na configuração da competên-
pressão dessa evolução natural. O cia do Judiciário de acôrdo com as
projeto diminui consideràvelmente tradições do nosso Direito.
as atribuições do Legislativo, a sua
iniciativa, o seu poder de contrôle, Não é da minha especial competên-
e transfere a soma destas atribui- cia manifestar-me sôbre êsse assun-
ções, desta iniciativa e dêste poder to; não sou um bom conhecedor
de contrôle para as mãos do Exe- dessa matéria. Vejo, no Plenário do
cutivo. É, assim, uma situação que Senado, colegas que têm sôbre o as-
corresponde, indubitàvelmente sunto informações muito mais im-
não à verificação, que não quero portantes do que aquelas que eu po-
-55

deria veicular. Mas, de qualquer ma- arrepio da nossa tradição jurídica,


neira, o fato geral, a situação glo- é antes de se aceitar do que de se re-
bal, de conjunto, me parece irre- pelir, embora se possa estranhar.
cusável: a Constituição respeitou o
Poder Judiciário. Outra matéria que talvez suscite
controvérsias fundadas é a partici-
A criação de mais dois Tribunais de pação do Supremo Tribunal Federal
Recursos, que dizem será contrasta- em decisões sôbre cassações de di-
da ou eliminada por uma das emen- reitos políticos. Mas também consi-
das já aceitas ou, pelo menos, já en- dero que, da mesma maneira, assun-
caminhadas pelas Lideranças res- to que merece antes ser acatado,
ponsáveis desta Casa, a criação de porque o que está em discussão, o
mais dois Tribunais de Recursos é que pode ser incriminado não é,
matéria de processo que não me pa- propriamente, a participação do Su-
rece de grande significação. Haverá premo Tribunal Federal, mas a ex-
vantagens e desvantagens. Não sei, tensão do processo cassatório, a am-
nunca fui advogado de fôro, não co- pliação dêsse poder de polícia polí-
nheço bem essa questão. tica. Então, se se põe uma barreira
ou um anteparo à plenitude dêsse
As recriminações levantadas contra poder, claro que também deveremos
os podêres de fiscalização do Tribu- aceitar com satisfação essa solução.
nal de Contas possivelmente tam-
bém serão procedentes. Não me Mas, dizia, eu, êsses são aspectos,
compete examiná-las; não sou co- como vê o Senado, de natureza se-
nhecedor dêsses aspectos financei- cundária, circunstancial. A verdade
ros do Direito Constitucional. Co- é que a competência dos Tribunais,
nheço-os superficialmente. Entre- a majestade da Justiça, a garantia
tanto, não me parece seja matéria dos magistrados, ficaram indubità-
de grande relêvo, visto que a pró- velmente asseguradas no projeto de
pria natureza da Côrte de Contas se reforma. E tanto mais é de se res-
insere num terreno de permeio en- saltar isso quanto, no meio da con-
tre a legislação e a judicatura. fusão, da destruição e da ineficácia
das demais disposições de natureza
Certas atribuições especiais conce- genérica, a manutenção dêsse bloco,
didas ao Supremo Tribunal Federal, o respeito a êsse chão, a êsse palmo
como, por exemplo, a de se mani- de terra limpa me parece uma ra-
festar sôbre as decisões tomadas pe- zão que suscite otimismo e con-
la Justiça Militar, em relação a fiança.
acusados civis, já é inovação muito
estranha. Não corresponde à tradi- Direi mais: êste projeto não pode
ção nem à técnica da competência ser incriminado no estrangeiro de
do Supremo Tribunal. Mas, de qual- projeto antidemocrático, de projeto
quer maneira, é uma inovação salu- confuso e autoritário, de projeto de
tar. Se não pudermos evitar esta implantação de um regime inomi-
implantação, que considero absurda, nável e ilegítimo, exclusivamente
da jurisdição militar sôbre os civis, porque o brasileiro, no exterior, po-
em quaisquer casos, dada a nature- derá mostrar o capítulo em que se
za de jurisdição militar - e eu não inserem os artigos referentes do Po-
vou, aqui, me estender sôbre ela -, der Judiciário.
se não pudermos evitar isso, então Um país que mantém a Instituição
essa medida, tomada um pouco ao Judicial nos têrmos que aqui estão
- 56
não pode ser considerado um país A primeira delas, a que ressalto des-
desviado completamente da órbita de logo, é a seguinte: tendo o pro-
democrática. Quero dizer, com isso, cesso da revolução política levado à
que as responsabilidades do Judiciá- natural conseqüência do fortaleci-
rio Político são enormes no prosse- mento do Poder Executivo, nós for-
guimento da vida dêste projeto, talecemos o Executivo e o transfor-
quando transformado em Lei Cons- mamos em poder oligárquico, em
titucional. poder emanado de uma eleição indi-
Grandes são as responsabilidades do reta. Essa contradição vulnera de
Legislativo, porque elas se enqua- morte o espírito da nova Consti-
dram na obrigação de transformar tuição.
isto que aqui está, no decurso da No momento em que, seguindo o
primeira Legislatura que se seguir a processo de fortalecimento do Exe-
esta, mas grandes serão também as cutivo, levamos ao máximo as atri-
responsabilidades do Judiciário, por- buições do Presidente da República,
que elas significam a manutenção tornamos essa autoridade saída de
do que aqui existe de respeito às um conchavo político em que o povo
tradições de liberdade e de justiça não se manifesta.
da República Brasileira.
Mas, Sr. Presidente, se deixarmos Senhores Senadores, perdoem talvez
a apreciação desta parte referente a rispidez excessiva destas palavras,
ao Poder Judicial - como se dizia mas elas correspondem exatamente
na Constituição do Império -, e no- ao que estou pensando. Vai-se ins-
vamente entrarmos nos fatôres re- tituir no Brasil um sistema de Go-
ferentes ao Poder Executivo, então vêrno oligárquico. Não é uma elei-
aparece aqui a primeira grande con- ção indireta que se vai fazer; elei-
tradição do texto. ção indireta é coisa diferente. Não
voltarei a repetir os argumentos de
Os Srs. Senadores que me têm pre- que lancei mão na ocasião em que
miado com a bondade de sua aten- fiz um discurso em divergência do
ção hão de se recordar que tenho meu Partido neste sentido, e a mi-
enfatizado especificamente as con- nha abstenção na eleição presiden-
tradições que se manifestam no tex- cial que então se verificou. Não
to que vamos aprovar. Quando di- quero voltar à análise das razões
go vamos aprovar, refiro-me ao nem à exposição daqueles motivos.
Congresso; muitos de nós não o
aprovarão, mas é fatal que o texto Seria longo. O que quero é ressaltar
seja aprovado. Essas contradições êsse aspecto: vai ser uma eleição
decorrem das observações que aqui menos que censitária. Eleição cen-
fiz sôbre a falta de unidade na ela- sitária é aquela que se processa
boração do projeto, a falta de uma através de um eleitorado reduzido
filosofia política diretora, a falta de por motivo de natureza econômica.
coordenação dos trabalhos prepara-
tórios, e, finalmente, essa dicotomia, O que se vai processar é uma eleição
essa dissenção terrível que perdura oligárquica, eleição saída de um
em nosso País, a dissenção do poder eleitorado composto de um colégio
civil com o poder militar. Essa é eleitoral, constituído de uma oligar-
uma das razões da fragilidade e das quia para manter o predomínio de
contradições inerentes ao documen- uma situação militar. Esta a reali-
to que estamos examinando. dade. Enquanto houver a eleição in-
-57-

direta, a República estará entregue Então, a figura do Presidente da Re-


a Governos militares. Com a adoção pública foi uma incógnita, uma es-
da eleição direta, restabelecer-se-á finge que começou a se desenhar na
o poder jurídico civil. consciência coletiva daquela Assem-
bléia. O que seria aquela persona-
Não sou presidencialista. Sou con-
lidade, aquêle monstro?
tra o sistema presidencial. Sustenta-
rei aqui, no decurso ainda desta dis- Sabe V. Ex.a que, segundo os comen-
cussão, a possibilidade e a conve- tadores mais antigos da Constitui-
niência da implantação do regime ção americana, a figura do Presi-
parlamentar. Mas, se se quer adotar dente foi transferida ou foi projeta-
o regime presidencialista e, ainda da pela figura do Rei inglês, e dos
mais, o presidencialismo baseado na mais fortes, o Rei Jorge III.
revàlução política que leva ao forta-
lecimento do Executivo, é uma con- Então, criaram, instituíram uma es-
tradição intolerável que se rapte ao pécie de soberano popular. Depois,
povo o direito de escolher aquêle que não se sabia nem mesmo o tempo que
vai governar a Nação." êle iria ficar no Govêrno. Houve
uma dúvida constante.
O Sr. José Guiomard - "V. Ex.a,
quando se refere à eleição indireta, Sabe o Senado que, quando adotada
sabe muito bem que, na República a Constituição americana, não havia
Norte-Americana, não se deu êste prazo para permanência do Presi-
predomínio da casta militar; nela dente da República. O prazo de qua-
êsse perigo parece cada vez mais tro anos foi dado pelo que se cha-
longe." mava a Comissão de Estilo, e aqui
chamamos Comissão de Redação.
O SR. AFONSO ARINOS - "Agra-
deço muito ao meu querido conter- Foi a Comissão de Redação - não
se sabe quem indicou ou escreveu -
râneo e velho amigo, Senador José
que estabeleceu o prazo de quatro
Guiomard, mas divirjo completa-
anos. Era um funcionário saido da
mente de sua opinião. Não acho que
imagem soberana para governar um
a República Americana seja gover-
grupo, sem saber como nem por quê.
nada por eleição indireta. O que se
deu na República Americana foi Poderia ficar governando a vida in-
precisamente o contrário disso. teira, porque muitos dos redatores da
Na ocasião em que se processou a Constituição e outros membros não
confecção, a redação do processo de menos ilustres diziam que George
indicação do Presidente da Repúbli- Washington poderia governar a vi-
ca, muito discutido foi êsse proces- da inteira. E não governou porque
so. Talvez tenha sido o ponto ne- não quis - o Senado sabe isso. Não
vrálgico de dúvida, de ansiedade, na governou porque renunciou. A in-
elaboração da Constituição de Fila- vestidura dêsse homem era pela
délfia. eleição Indireta. V. Ex.a tem tôda ra-
zão. Alexandre Hamilton - creio que
Em primeiro lugar, a figura do Pre- êle, não tenho certeza -, em um
sidente da República não existia. capítulo do "Federalista", explicou
Antes de ser instituída na Consti- longamente por que a eleição deve-
tuição americana, não havia Presi- ria ser indireta. É porque aquela es-
dente da República: era entidade colha deveria caber a um grupo re-
desconhecida. duzido de cidadãos que tivessem a
-58

consciência alertada para a gravi- bro do colégio eleitoral - isto por


dade dos problemas que iriam ser volta de 1870 - tem uma carta fa-
geridos por aquela pessoa. Então, mosa em que explica como não lhe
êsses cidadãos deveriam pertencer à era possível proceder dessa maneira.
alta escala intelectual, à alta esca-
la social. Seria uma escolha feita no O eleitor do colégio eleitoral ameri-
vértice da pirâmide social america- cano não pode mudar de voto; nun-
na. Pois bem! Isso nunca se reali- ca aconteceu mudar de voto. V. Ex.a
zou. Depois de Washington, segura- sabe que não é preciso ser america-
mente desde o princípio do século no nato para integrar êste colégio
passado, jamais um delegado esco- eleitoral. Pode ser estrangeiro.
lhido para integrar o colégio eleito- V. Ex.a conhece os Estados Unidos,
ral votou contra o mandato que re- lá estivemos juntos. Quando se reú-
beu, de escolher o candidato para ne o colégio eleitoral, ninguém mais
cuja eleição êle, delegado, foi eleito." fala na decisão A notícia sai na
quinta, sexta página dos jornais.
O Sr. José Guiomard - "Pode votar
contra." Por que? Porque a reunião dêsse co-
légio é inteiramente formal, não tem
O SR. AFONSO ARINOS - "Podem
importância e não é possível que o
votar contra, formalmente, meu ca-
delegado vote contra o mandato que
ro colega, mas nunca aconteceu is-
recebeu. Tanto que existe no Con-
to. Há até um caso famoso de certo
gresso dos Estados Unidos, ou existia
delegado - lamento estar falando
há pouco tempo, emenda constitu-
sem elementos para consultar, pois
cional fartamente apoiada, reco-
estou hospedado em hotel - cujo
mendando que se termine com esta
nome eu poderia dizer, se não o
brincadeira, com esta farsa que é o
houvesse esquecido neste momento."
colégio eleitoral dos Estados Unidos.
O fato é relatado no livro American Portanto, o que existe nos Estados
Papers, que contém uma coletânea Unidos é eleição direta em dois
de documentos dos mais importan- graus; não é eleição indireta. E o
tes da História Constitucional dos que vai existir aqui é eleição direta
Estados Unidos. Houve momento em procedida por um colégio eleitoral
que um dos Presidentes americanos reduzido ao extremo de uma oligar-
foi eleito com a maioria de votos quia. O que se vai instituir nesta
eleitorais e a minoria de votos po- Constituição é o maquinismo de uma
pulares. Ficou manifesto isto, coi- oligarquia militar."
sa que pode acontecer em circuns-
tâncias muito especiais. Então, êsse O Sr. José Guiomard - "V. Ex. a,
Presidente - de cujo nome, no mo- creio, insinua, com a diplomacia que
mento, infelizmente não me lembro caracteriza o Embaixador que tem
- teve a sua investidura contesta- sido tão brilhante, em tôdas as par-
da, porque era manifesto que êle ti- tes do mundo, que receia as candi-
nha um eleitorado popular menor daturas dos Ministros da Guerra."
do que o do seu adversário, embora O SR. AFONSO ARINOS- "Exata-
um eleitorado colegial maior. Pois mente. É o que estou procurando
bem, foi solicitado a um dos mem- declarar. Exatamente isto, o que re-
bros do colégio eleitoral que mudas- ceio. Não a candidatura do anteces-
se de voto, porque, se mudasse de sor do atual Ministro da Guerra, o
voto, elegeria o outro. E êste mem- candidato eleito, porque isto é a li-
-59-

quidação de um processo revolucio- cessàriamente fortalecido no Poder


nário. O meu discurso de ontem foi Executivo, mas composto, através de
exatamente para mostrar que não um sufrágio oligárquico, cuja fina-
pode haver a preocupação de se es- lidade é manter, na República, o do-
tabelecer um dissídio entre o meio mínio militar.
militar e o meio civil. E não se po-
de estabelecer um critério mediante É contra isto que, ontem, comecei
o qual o Congresso pode ser levado minha dissertação, para chegar à
a dar apoio a um candidato militar. conclusão de hoje.
Sr. Presidente, estou falando since- Ninguém mais do que eu respeita,
ramente, estou falando no fim do admira, reconhece e venera as gló-
meu mandato, estou deixando aqui rias militares do nosso País. Sou es-
um depoimento que, acho, deve ser tudioso da História e, antes de ser
respeitado." professor de Direito Constitucional,
fui professor de História.
O Sr. José Guiomard - "Um grande
e notável depoimento, faça-se justi-
Não é possível que nós tenhamos
ça a V. Ex.a"
idéia da formação da nacionalidade
O SR. AFONSO ARINOS - "Agrade- brasileira se não tivermos o respei-
ço muito a V. Ex.a V. Ex.a sabe que to devido à participação histórica
minha afeição por V. Ex.a é antiga, que teve nela a coletividade militar
amigo do meu pai que foi. Tenho - na Marinha, no Exército e, mais
por V. Ex.a a estima, o respeito, a recentemente, na Aeronáutica -,
afeição, não do coestaduano apenas, coletividade ligada, pela trama da
mas de velho amigo da mocidade. sua formação, ao povo brasileiro, co-
letividade exposta, pelas dificulda-
O que eu estou dizendo obedece a des da sua vida, aos azares do des-
injunções que me parecem conduzi- tino de uma nação pobre, coletivi-
das pelo meu mais estrito espírito dade sofrida, coletividade admirá-
de dever, de dever parlamentar, de vel na sua dedicação, no seu minis-
dever político, de dever funcional. tério, na sua pureza, na sua cora-
Estou dizendo, aqui, aquilo que mui- gem, na sua humildade, na sua mo-
tos pensam, mas que têm situações déstia.
políticas que os impedem de dizer.
Tudo isto eu sei, tudo isto reconhe-
Eu não as tenho mais. Estou desli- ço, proclamo, mas nada disto me
gado, neste instante, de quaisquer impede de dizer que, numa organi-
compromissos políticos. Estou falan- zação política, jurídica, constitucio-
do como Senador, da tribuna do Se- nal, democrática, nós, legisladores,
nado." temos o dever de organizar o País
O Sr. José Guiomard- "V. Ex.a está para ser governado de acôrdo com
falando para a História." as nossas tradições.
O SR. AFONSO ARINOS - "Muito No período em que tínhamos maior
obrigado a V. Ex.a necessidade, no período em que ti-
Como dizia eu, Sr. Presidente, a pri- vemos a mais ampla participação,
meira e a mais grave das contradi- no período em que nos defendemos
ções que, desde logo, se manifestam com o sangue e a espada das Fôr-
no problema político da Revolução ças Armadas brasileiras, durante as
é esta: de se fazer um Govêrno ne- grandes guerras da nossa formação,
-60-

da independência, do Império, du- O SR. AFONSO ARINOS - "Vós o


rante os grandes movimentos da dissestes". Realmente, é outra ma-
nossa consolidação política, no prin- téria. O Senado deve compreender e
cípio da República, tivemos, sempre, perdoar o desconchavo de discursos
a possibilidade de nos manter den- feitos sem preparação teórica, sem
tro de um quadro de instituições li- livros, baseados em notas apressa-
vres. É o que desejo, é o que preco- das, tomadas no tempo roubado ao
nizo. Estou certo de que, no decorrP.r sono, pela noite, com um livro ape-
da próxima legislatura, êste Con- nas, que é o texto das Constituições.
gresso tal fará, com o apoio das Fôr- O Senado há de perdoar as insufi-
ças Armadas. ciências, mas há de reconhecer que
as proclamo, de antemão.
Mas, Sr. Presidente, há outro aspec-
to que queria salientar, além da Uma das conquistas da idade é esta
contradição política que mencionei: - a capacidade de dizer "eu não
o fortalecimento do Executivo, com sei". Quando se é môço, tem-se a
fragilidade da liderança popular do tendência de dizer o que se sabe ou
Executivo. o que não se sabe, ou pelo menos
omitir o que se ignora, mas, depois
Temos um Executivo funcionalmen- de certa idade, esta afirmativa pas-
te poderoso, extremamente podero- sa a ser defesa. O Senado tem tes-
so, mas politicamente frágil, sem li- temunhado que sou dos primeiros a
derança popular alguma, porque in- reconhecer minhas insuficiências.
vestido de mandato que a Nação não
reconhece. Então, é uma autoridade Há pouco, ainda, o fazia em relação
com pés de barro; os pés da demo- a certas obras de Direito Processual,
cracia são de barro. e agora o faço, prazerosamente, com
referência às instituições econômi-
Passando a outro aspecto, gostaria co-financeiras.
de mencionar, exatamente, a con- Não as conheço bem, nunca foram
tradição na apresentação do proble- da minha especialidade, mas a ver-
ma econômico, a contradição entre dade é que, mesmo para um leigo
êste autoritarismo político a que ve- como eu, a comparação dos textos
nho de me reportar e o liberalismo indica a observação geral que há
econômico da Constituição. Isto pouco fiz, isto é, que a segunda con-
atribui certo sabor reacionário. A tradição fundamental que saliento
Constituição pode ser definida como no texto é exatamente esta: o auto-
social e econômicamente reacioná- ritarismo político equilibrado por
ria por esta razão: porque fortalece, uma negligência do Estado em rela-
indiscutivelmente, o poder político ção ao terreno da vida econômica.
do Executivo, e afrouxa, enorme-
mente, o contrôle do Estado, no Pode ser que eu esteja enganado,
campo da economia e no campo das mas vou procurar basear essa asser-
relações sociais." tiva com a citação dos textos.

O Sr. Aloysio de Carvalho - "Quer O art. 162 do projeto diz:


dizer que uma das justificativas, se- "Art. 162 - As atividades econô-
não a melhor justificativa de refor- micas serão preferencialmente or-
çamento do Poder Executivo, seria a ganizadas e exploradas por em-
do contrôle do Estado numa área prêsas privadas com o estímulo e
econômica?" o apoio do Estado."
- 61

Essa definição me parece razoável. para manter os princípios autênti-


cos da democracia capitalista, tal
Vejamos dentro do quadro da de- como se dá na França, nos Estados
mocracia capitalista. Não sou, abso- Unidos, na Alemanha. E não trans-
lutamente, contrário à democracia formar o País em exploração colo-
capitalista. Entendo que ela é uma nial por nós mesmos, uma espécie de
alternativa da nossa geração. Acho colônia brasileira, uma espécie de
mesmo, pela experiência superficial terra ocupada por estrangeiros, e
que tenho do mundo - digo super- por nacionais em benefício dêsses
ficial porque minhas viagens são oligopólios, dos monopólios e dos
rápidas, apressadas -, tenho a im- seus patrimônios.
pressão de que, nas democracias ca-
pitalistas altamente evoluídas, a si- A filosofia do capitalismo progres-
tuação do trabalhador é, dentro do sista é que me parece estar ausente
conjunto da população, muito me- do projeto. Não consegui encontrar
lhor do que ela se apresenta nos paí- no meu quadro comparativo - por-
ses de democracia socialista. que não quero interromper o veio
dessas considerações - a parte do
Esta afirmação é feita por um leigo, art. 162 do projeto em relação com
mas é sincera. Não sou contra; ao a anterior legislação constitucional.
contrário, sou a favor da evolução
social da democracia, dentro do qua- Mas, o § 1.0, queria salientá-lo bem:
dro capitalista, mas esta evolução
da democracia capitalista prevê uma Diz êle:
série de situações, de medidas e, so- "§ t.o - Sàmente para suplemen-
bretudo, de convicções, que não me tar a iniciativa privada o Estado
parecem esposadas pelo projeto. organizará e explorará diretamen-
te atividade econômica."
Quer dizer, a democracia capitalis-
ta, hoje, é feita também, é pratica- l!:sse princípio, trazido à consagra-
da também, é acreditada também, ção de cânone constitucional, pare-
no sentido do benefício do bem-es- ce-me multo discutível, eu diria até
tar do maior número. mesmo muito perigoso.
Não é um capitalismo instituído pa- Agora, por gentileza de uma funcio-
ra fazer feliz, poderosa e opulenta nária da Casa, tenho em mãos o
uma pequena classe, senão que pa- quadro comparativo. Não o disse an-
ra utlllzar o gênio desta classe em- tes porque não tinha certeza, mas o
presarial, o seu espírito público, a quadro comparativo que tenho em
sua fôrça de operosidade, a sua so- mãos mostra: não existe precedente
lidariedade se invista de uma fun- nem semelhança dêsse preceito na
ção pública, e faça com que, dessa legislação constitucional anterior.
fonte de energias produtivas, saia,
então, o bem-estar de todos. E para Então, a filosofia do projeto foi no
isto é indispensável reconhecer-se a sentido de proibir a intervenção su-
hegemonia do Estado, o direito do pletiva do Estado, desde que ela se-
Estado, a preocupação do Estado, a ja corretiva - corretiva dos exces-
intervenção potencial do Estado. In- sos que se podem verificar no jôgo
tervenção do Estado, não para trair das fôrças capitalistas desencadea-
os princípios da democracia socia- das. E querem V. Ex.as ver como isto
lista, mas a intervenção do Estado é mais digno de atenção?
-62

Está no art. 157, § 8.0 , o seguinte: impossível o desenvolvimento da


emprêsa no regime de competição
"É facultada a intervenção no do-
ou de liberdade. Ao contrário, aquê-
mínio econômico e o monopólio de
les que sustentam a terminação do
determinada indústria ou ativida- monopólio estatal declaram, perma-
de, mediante lei da União, quan-
nentemente, que o bom é o regime
do indispensável por motivo de se- de liberdade de competição.
gurança nacional, ou para organi-
zar setor que não possa ser desen- De maneira que êsse artigo me pa-
volvido com eficiência no regime rece obedecer a determinada filoso-
de competição e de liberdade de fia econômica, a determinada filo-
iniciativa, assegurados os direitos sofia de govêrno. Mas põe em risco
e garantias individuais." uma coisa concreta, conquistada pe-
Aqui, vejo em risco a PETROBRAS. lo Congresso Nacional, porque tam-
bém na Constituição de 46 não era
Aqui neste artigo, que também não obrigatório o monopólio das jazidas
existia com esta forma, vejo em ris- de petróleo. Foi uma conquista da
co, não em risco imediato, mas é lei, em virtude de determinada
uma declaração de filosofia do Go- orientação filosófica.
vêrno que põe em risco a filosofia
adotada pelo Congresso, ao estabele- Srs. Senadores, é o que receio. Es-
cer o monopólio da exploração do tou muito receoso dessa contradição
petróleo pelo Estado. do autoritarismo político com o li-
Quando é que o Estado pode inter- beralismo econômico, que se mani-
vir e utilizar determinada indústria festa dessa maneira, uma pouco flo-
- a indústria petrolífera - ou ati- rida, um pouco prolixa."
vidade econômica? O Sr. Mem de Sá - "Dou razão a
Quando isto fôr determinado por lei V. Ex.a Creio que seria uma das
da União, por motivos indispensá- emendas necessárias: acrescentar
veis à segurança nacional e, ainda um parágrafo a êsse artigo, assegu-
mais, "para organizar setor que não rando, entretanto, o monopólio da
possa ser desenvolvido com eficiên- exploração do petróleo e dos miné-
cia no sistema de competição ... " rios atômicos. Participo desta filo-
sofia. Acho também que, sempre que
Ora, a utilização de emprêsa es- fôr possível dar à atividade privada
trangeira na exploração de petróleo a exploração industrial, ela deve ser
não compromete, ou, pelo menos, é dada, a fim de que o Estado tenha
multo discutível que comprometa a mais recursos para o desempenho de
segurança nacional. funções que lhe são específicas e ex-
Fui partidário da PETROBRAS, era clusivas, privativas dêle, como, por
Líder do meu Partido, e fiz fôrça exemplo, o ensino, a saúde, o com-
muito grande pelo monopólio esta- bate às endemias etc. De modo que,
tal. Mas, evidentemente, seria de- embora esteja de acôrdo com a re-
magógico de minha parte, seria dação dêsse artigo, penso que, para
pouco ponderado que eu viesse aqui evitar as dúvidas que V. Ex.a tão
proclamar, sem provas, que tenho bem aponta, haveria todo cabimen-
certeza de que a exploração do pe- to para um parágrafo que torne ex-
tróleo por emprêsa estrangeira com- presso o monopólio do petróleo e
promete a segurança nacional. Por dos minerais atômicos. São os dois
outro lado, não se pode dizer seja assuntos - a meu ver -, embora
-63
discutíveis, como também diz Vossa a respeito do qual estou muito ma-
Excelência, a respeito dos quais en- goado com V. Ex.a pelas referências
tendo que a segurança, se não de- menos respeitosas que lhe fêz."
termina, pelo menos aconselha o
monopólio." O SR. AFONSO ARINOS- "Vamos
terminar esta conversa, em tôrno de
O SR. AFONSO ARINOS - "Sr. Pre- uma coca-cola, ou mesmo de um uís-
sidente, a minha satisfação, o meu que, se quiser ... "
júbilo, a minha consciência de ter
acertado - e não é esta uma decla- O Sr. Mem de Sá - "Assis Brasil gos-
ração formal; gostaria que fôsse ti- tava muito de uma frase, que re-
da por uma expansão sinceramente petia quase diàriamente: "A pressa
profunda - se vêem coroados com a é inimiga da perfeição." Essa Cons-
intervenção do nobre Senador Mem tituição é uma demonstração disso."
de Sá, não apenas pela sua tradição O SR. AFONSO ARINOS - "O velho
de economista e de financista, mas Assis Brasil me dizia também - eu
pela posição política que ocupou no o conheci na minha mocidade -
Govêrno e pela autoridade moral de uma frase de que nunca me esqueci
que desfruta entre os seus compa- e que é profundamente sábia: "Não
nheiros. acredito em informações." Só acre-
ditava naquilo que via e sentia."
Senador, V. Ex.a realmente me con-
venceu de que tenho razão. Estava O Sr. José Ermírio- "Desejo lembrar
um pouco hesitante e V. Ex.a defi- a V. Ex.a que já apresentei uma
niu melhor do que eu o problema, emenda com relação a urânio e tó-
trazendo as razões pelas quais con- rio, ao mesmo tempo incluindo os
sidero a intervenção do Estado ne- metais raros que são usados duran-
cessária. V. Ex.a traduziu nas pala- te o desenvolvimento da energia
vras do economista, as sugestões ta- atômica - por exemplo, o berílio.
teantes do estudioso de Direito
Constitucional, que não chegava a Exportamos todo o berílio. O Brasil
precisar. Veja V. Ex.a como é defi- não produz um grama. Por essa
ciente, como deve ser deficiente és- emenda, há obrigatoriedade de fa-
te projeto, em matéria de Direito bricação de, pelo menos, um têrço
Constitucional, na falta de constitu- do minério exportado. Porque, sem
cionalistas que o houvessem elabo- êsses produtos, não temos condições
rado. de desenvolver a energia atômica.
Fico satisfeitíssimo, e só peço a esta O tório, o urânio e a Petrobrás, por-
Casa que acompanhe a emenda que tanto, já estão ressalvados na minha
solicito ao Senador Mendes de Sá emenda, inclusive os minérios de
redija ainda hoje." metais raros, para que êstes sejam
produzidos no Brasil na quantidade
O Sr. Mem de Sá - "Não farei ne- de, pelo menos, um têrço do que j:'i
nhuma emenda a essa Constituição." é exportado."
O SR. AFONSO ARINOS - "Mas, O SR. AFONSO ARINOS - "Muito
pelo menos, redigirá para mim o tex- obrigado a V. Ex.a Eu não o acom-
to dela, o seu esbôço." panharei na sua emenda, porque, co-
O Sr. Mem de Sá - "Isso sim, por- mo digo, não sou conhecedor da ma-
que · esta Constituição faz lembrar téria e, assim, prefiro cingir-me a
muito o dito do grande Assis Brasil, um ponto - como é minha tradição,
-64

nesta Casa - que, neste caso, é o ideológica, mas, especialmente, pe-


problema do monopólio do petróleo, las razões de caráter jurídico que
acrescentando a êste o da energia passo a expor.
atômica, suscitado pelo nobre Sena-
dor Mero de Sá. Não irei deter-me na apreciação do
mérito do Projeto, uma vez que pa-
Estou certo de que a Petrobrás tem ra invalidá-lo, é suficiente, ao que
cometido erros. Tenho até aqui - entendo,· a preliminar da incompe-
em contrário à opinião de Assis Bra- tência do Presidente da República,
sil - informações sôbre muitos erros no tocante ao direito de iniciativa
da Petrobrás. Sei, por exemplo, que, e participação no processo de ela-
neste instante, a Refinaria de Ca- boração e promulgação da nova
xias, as fábricas que lá existem, de Constituição Federal.
borracha sintética, enfim, da parte
de petroquímica, estão com cêrca de A Constituição de 1946, que honra
mil e oitocentos trabalhadores para a cultura jurídica dêste País esta-
uma produção que corresponde, belece, de modo expresso, no art.
mais ou menos, àquela de uma em- 217 e seus parágrafos, o processo de
prêsa privada, em São Paulo, com emenda constitucional. Por êsses
quinhentos. Sei de uma porção de textos, claros e inequívocos, eviden-
vícios, erros, de muitas coisas que cia-se que o Poder Constituinte de
precisam ser examinadas. Sei que a 1946, atento aos princípios da sobe-
frota da Perobrás, a FRONAP- ati- rania do povo (art. 2. 0 da mesma
vidade que em outros países fêz a Constituição) e da independência
fortuna de um Onassis, um dêsses dos Podêres da União (art. 36), tor-
grandes armadores gregos -, é uma nou a iniciativa da emenda consti-
fonte de prejuízo calamitoso. Tudo tucional atribuição privativa do Po-
isto eu sei. Agora, isto não me des- der Legislativo da República. Está
vincula de minha convicção de que expresso no § 1. 0 do art. 217 que
temos de manter o regime do mono- a emenda "só poderá ser proposta
pólio estatal. Temos é que aprimo- pela quarta parte, no mínimo, dos
rar a administração dêsse regime. membros da Câmara dos Deputados
ou do Senado Federal, ou por mais
Vou terminar, Sr. Presidente. Estou da metade das Assembléias Legis-
na. tribuna há uma hora. Agradeço lativas dos Estados, no decurso de
muito a V. Ex.a a gentileza de me dois anos". O Presidente da Repú-
haver dado a palavra, e aos Srs. Se- blica, na estrutura do sistema, é
nadores, a grande honra que me fi- estranho ao processo. Suas atribui-
zeram, ao acompanhar-me neste ções estão prescritas no art. 87 com
discurso. Se houver sessão amanhã. os seus parágrafos e alíneas. E, com
peço a V. Ex.a me inscreva como um relação às leis ordinárias, se lhe
dos oradores do dia. Muito obrigado." cabe o direito de iniciativa (art.
Na sessão de 19 de dezembro de 1966, 67), não se estende o mesmo, a atri-
o Senador ARGEMIRO DE FIGUEIREDO buição de emenda à Lei Magna da
(MDB - Paraíba) (20) pronuncia o se- República, matéria regulada de mo-
guinte discurso: do especial pela Constituição de
1946 no art. 217, já citado.
"Sr. Presidente, irei votar contra o
Projeto de Constituição. E o farei Dir-se-á que a Revolução de 31 de
em plena consciência, não apenas março de 1964, destruiu a ordem ju-
por motivos de ordem partidália ou (20) D.C.N. (Seção li) de 20-12-66 - pág. 6.465
- 65

rídica vigente no País e estruturou Tudo, então, poderia ser feito no


uma nova ordem, em nome do povo, sentido de se dar ao Brasil uma
e investida nas atribuições de Poder nova organização constitucional.
Constituinte. É verdade que poderia
fazê-lo. Mas, não o fêz, com a ex- Mas, a Revolução limitou-se a si
tensão e limites que lhe querem dar, mesma. "Para não radicalizar, diz
assegurando-se ao Presidente da ela, o processo revolucionário" man-
República, neste momento, o direito teve a Constituição de 1946 e as
de iniciativa na elaboração de uma Constituições Estaduais. E foi além.
nova Lei Maior. Manteve o Congresso Nacional.
Nem mesmo lhe cabe a iniciativa Leia-se o art. 1.0 do Ato Institu-
no processo de emendas parciais à cional:
Constituição. E aqui, passarei ao
exame da matéria, no seu ponto "Art. 1.0 - São mantidas a Cons-
substancial. tituição de 1946 e as Constituições
As reformas constitucionais e as Estaduais e respectivas emendas
novas constituições ou se processam com as modificações constantes
de modo pacífico, pelos representan- dêste Ato."
tes do povo através dos Podêres Criou-se, por essa forma, uma situa-
Constituintes ou já Constituídos, ou ção jurídico-constitucional de inte-
decorrem das revoluções que se in- ressante singularidade: - a coexis-
vestem naqueles podêres e dão ao tência entre o Poder Constituinte
País, em nome do povo nova orga- e o Poder Constituído, ou seja, entre
rxização constitucional. Refiro-me a Revolução dominante e a ordem
às revoluções de espírito democrá- constitucional vigente, com a ma-
tico. nutenção do Congresso "legitimado"
A Revolução de 31 de março afirmou pelo poder revolucionário.
êsse caráter. Basta ler o Manifesto
O Ato ampliou, de logo, as prerro-
que justificou o Ato Institucional.
gativas do Executivo, reduziu as
Eis um dos seus trechos: atribuições do Congresso, e, além
de outras medidas destinadas a ins-
"A Revolução se distingue de ou-
titucionalizar o pensamento revolu-
tros movimentos armados pelo fa-
cionário, estabeleceu no art. 3. 0 que:
to de que nela se traduz, não o
"O Presidente da República poderá
interêsse e a vontade de um gru- remeter ao Congresso Nacional pro-
po, mas o interêsse e a vontade jetos de emenda da Constituição."
da Nação."
De certo, não se poderia negar a Era o meio engenhoso de conciliar
possibilidade da investidura da Re- os dois Podêres - Constituinte e
volução em Poder Constituinte, de Constituído e ainda o de estabelecer
vez que a ela, vitoriosa pela fôrça o processo adequado para modificar
das armas, seria impossível a reação a Lei Maior de 1946, introduzindo
de qualquer outro poder. E a Revo- nela o que significasse o ideal refor-
lução assim compreendeu, como se mista da Revolução.
vê nesta outra parte do Manifesto: Isso vale dizer que ficara em pleno
"A Revolução vitoriosa se investe vigor a Constituição de 1946, com
no exercício do Poder Constituin- as restrições constantes do Ato Ins-
te". titucional.
- 66

Forçoso é confessar que, pelo Ato Revolução, como único elemento re-
Institucional (art. 3.0 ), estava aque- gulador das emendas. E o direito
la Lei Magna sujeita, como disse- de iniciativa para propô-las nas
mos, a faculdade de ser emendada mãos exclusivas do Congresso.
por iniciativa do Presidente da Re-
pública. Era uma prerrogativa ex- Só êste, nos têrmos inequívocos do
cepcional outorgada pela Revolução art. 217, daquela Lei Magna, tem
e editada nos limites de sua com- atribuições para propor emendas à
petência, como Poder Constituinte. Constituição, processá-las e promul-
gá-las.
Mas, dentro do espírito de limitar-se
a si mesmo o próprio Poder Revo- É, por essa forma incompetente o
lucionário, estabeleceu e precisou de Presidente da República para pro-
modo inequívoco o tempo de vigên- por ao Legislativo a nova Consti-
cia do Ato Institucional. Transcrevo, tuição, que ora está submetida à
para evidenciar a afirmativa, o tex- apreciação do Congresso Nacional.
to claro do art. 11 daquele Ato, que Dir-se-á que a Revolução teve con-
assim dispõe: tinuidade e outros Atos Institucio-
"Art. 11 - O presente Ato vigora nais poderiam ser editados, a partir
desde a sua data até 31 de ja- de 31 de janeiro de 1966.
neiro de 1966, revogadas as dis- Não é aceitável o argumento.
posições em contrário."
O Ato Institucional da Revolução
Está evidente que o Poder Consti- investida em Poder Constituinte, foi
tuinte, no exercício efetivo da sobe- o primeiro, e só êle. Os demais nada
rania nacional fixou o prazo, inal- valem juridicamente.
terável, para se processarem as re-
formas institucionais. Após êsse Contestá-lo, seria desconhecer a dis-
prazo, teria o País de retormar à tinção entre Poder Constituinte e
normalidade juridica. Isso vale di- Poder Constituído. Constituinte foi
zer que, a partir de 1966, os podêres a Revolução, ao elaborar o Ato Ins-
excepcionais concedidos pela Revo- titucional de abril de 1964, estabe-
lução, e tudo mais que se contém lecendo o prazo desta data a 31 de
no Ato Institucional não mais te- janeiro de 1966, para se processa-
riam validade. O Ato teria exaurido rem as reformas que teriam de ins-
o seu conteúdo; perdera a vigência, titucionalizar o pensamento revolu-
no dia 31 de janeiro de 1966, revo- cionário. Poder Constituído é o Con-
gadas as disposições em contrário. gresso Nacional mantido, homologa-
do ou legitimado pela Revolução,
A prerrogativa de propor emendas como se lê do Manifesto justifican-
à Constituição, concedida ao Presi- do o Ato Institucional.
dente da República pelo instrumen-
to da vontade soberana da Revolu- "Poder Constituinte é por natu-
ção, investida no Poder Constituinte, reza o poder primário, inicial au-
não mais existia (nem existe) a par- tônomo e incondicionado, ou seja
tir de 31 de janeiro de 1966, eis que a própria soberania nacional na
neste dia, se extinguira a vigência sua elementar ação de se orga-
de tudo quanto se dispunha no A.to nizar" - João de Oliveira Filho
Institucional. Ficara, portanto, a - Repertório Enciclopédico de Di-
Constituição de 1946 mantida pela reito Brasileiro - vol. 12, pág. 31.
-67-

Não se pode admitir a sobrevivência Guanabara) (22), pronuncia o seguinte


de Poder Constituinte, após a data discurso:
de 31 de janeiro de 1966, estabele-
cida pelo Ato Institucional, como "Sr. Presidente, é tradição no sis-
limite final de sua vigência. tema das Constituições escritas, do
ponto de vista técnico, e é tradição
E seria contra-senso admitir hoje a do Direito Constitucional democrá-
existência dêsse Poder, quando já tico, do ponto de vista jurídico, atri-
está em pleno funcionamento o Po- buir-se uma importância primacial
der Constituído ou seja, o Congresso ao capítulo dos direitos e garantias
Nacional, com tôdas as atribuições individuais. Faz mesmo parte da sis-
que lhe são asseguradas pela Cons- tematização dos estudos do Direito
tituição de 1946, mantida pela pró- Constitucional clássico a divisão do
pria Revolução. texto das Constituições, pràticamen-
Se o Presidente da República não te, em três setores principais, ou
usou dos podêres que lhe foram ou- seja, a definição dos podêres do Es-
torgados pelo Poder Constituinte, no tado e a fixação das suas respectivas
prazo legal estabelecido (de 29 de competências, as relações que inter-
abril de 1964 a 31 de janeiro de ligam êsses podêres no seu funcio-
1966), não nos cabe a responsabili- namento e a parte destinada à de-
dade por essa omissão. Culpados claração dos direitos e garantias in-
também não somos por não ter êle dividuais.
aproveitado bem aquêle periodo, em
que lhe era assegurado o direito de Assim, haveria, nas Constituições,
iniciativa para propor ao Congresso uma parte que poderíamos chamar
reformas constitucionais. de anatômica, que é a da descrição
dos podêres; outra que denomina-
Não pode assim, o Congresso Na- ríamos de fisiológica, que é a do
cional conhecer e processar o Pro- funcionamento conjunto dêsses três
jeto remetido pelo Presidente da podêres - a sua fisiologia; e, final-
República para dar ao País uma mente, aquela que não mais diz res-
nova Carta Constitucional. peito ao Estado nem aos seus podê-
O Executivo não tem competência res, porém reservada ao indivíduo,
para essa iniciativa. ao homem, no Direito Constitucio-
nal.
É o meu pensamento, Sr. Presidente.
Mais recentemente, o Direito Cons-
É a razão do meu voto. titucional ampliou-se naquilo que os
Era o que tinha a dizer." autores costumam chamar o Direito
da Constituição, através da introdu-
O Senador SILVESTRE PÉRICLES ção, no texto das leis constitucio-
(MDB- Alagoas) (21) manifesta-se con- nais, de muitas medidas, muitas pro-
trário à maneira pela qual se processa vidências e muitas iniciativas que
a reforma constitucional, especialmente são ligadas à ampliação progressiva
a exigüidade do prazo para tramitação da ação do Estado na vida social
da matéria no Congresso. Aplaude o art. e que não são, propriamente, depen-
95 do projeto que permite a acumulação dentes daquela noção clássica do
de dois cargos privativos de médico. Direito Constitucional.
Na sessão de 19 de dezembro de 1966,
(21) D.C.N. - S. II - 20-12-66 - pág. 6.464
o Senador AFONSO ARINOS (ARENA- (22) D.C.N. - S. II - 20-12-66 - pág. 6.461
- 68
Então, para distinguir as duas Esta idéia de que há, dentro do ho-
idéias, chamou-se a êsse nôvo alu- mem, uma parte que se furta à in-
vião de preceitos que costumam en- fluência de César, esta idéia de que
cher as Constituições dêste século existe dentro da personalidade hu-
de o "Direito da Constituição", isto mana um reduto permanentemente
é, a preocupação de fixar, de ma- livre de qualquer coação do Estado
neira mais duradoura, certos prin- é o germe cristão do princípio do
cípios relativos à ação do Estado. direito individual.
Mas, Sr. Presidente, mesmo nos tex- No decurso da evolução do pensa-
tos mais recentes, dentro do pensa- mento político, terá tomado esta no-
mento dos autores mais modernos, ção outras designações, principal-
nunca se pretendeu diminuir a im- mente a de Direito Natural, a de
portância daquele capítulo referente Superdireito, a de Direito Racional
aos direitos públicos individuais. e, mais recentemente, pelos estudos
Por que êles assim são chamados - dos juristas, dos publicistas de maior
direitos públicos individuais? Por- tomo nesta matéria, a de Direito
que, evidentemente, são aquêles que Público Individual. Mas, no fundo,
o homem pode apresentar ou reivin- o de que se trata é do reconheci-
dicar contra o Poder Público e não mento de que o homem, pela sua
contra uma competição verificada condição humana, pelo seu próprio
ou instalada no seio da vida social. destino, pelas próprias origens do
seu ser, pelos próprios atributos da
Não é um direito que se ergue con-
sua personalidade e da sua forma-
tra outra pessoa física ou jurídica;
ção, constitui um mundo dentro do
é um direito que se levanta contra
mundo, constitui uma partícula de
a própria ação do Estado - é o di-
uma presença imanente e perma-
reito do homem contra o Estado.
nente, que não pode ser totalmente
Esta idéia da existência dos direitos subordinada às mutáveis relações
do homem contra o Estado não é, em sociais e às frágeis deliberações do
si mesma, uma idéia recente; é uma poder político.
idéia antiga. Apenas, ela foi, em uma
época relativamente recente, estru- Isto representou, talvez ou segura-
turada de maneira técnica para se mente, a maior contribuição do Cris-
inserir nos textos das Constituições tianismo ao Direito Público. Porque,
escritas. quando refletimos sôbre a noção de
liberdade tal como conceituada no
Mas esta idéia, Sr. Presidente, se pensamento greco-romano, em Pla-
insere, se enraíza na própria con- tão, Aristóteles ou Cícero, concluí-
cepção cristã do homem. Então po- mos que, para o pensamento político
deremos aqui realmente falar em da Grécia e de Roma, mesmo nos
civilização cristã. momentos do seu mais indiscutível
A primeira luz, a primeira sugestão, esplendor, a liberdade era concedida
a primeira afirmação concreta e im- como uma forma de integração no
pressionante desta idéia do homem Estado. Em A República, de Platão,
contra o Estado está naquela sen- e em A Política, de Aristóteles, na
tença de Jesus, quando :l!:le, em res- República de Cícero a idéia de ser
posta a uma indagação insidiosa, livre é a idéia de contribuir para
ensina aos seus opositores: "Dai a a formação da vontade coletiva. Na
César o que é de César e a Deus o medida em que o cidadão participa-
que é de Deus." va das deliberações de polis, era li-
- 69
vre, e é por isso mesmo que a cida- ciocínio: a existência do mundo so-
dania era privilégio dos homens li- cial e a existência do mundo indi-
vres. vidual. A existência do mundo social
condicionando o exercício da auto-
Mas a grande inovação do pensa-
ridade; a existência do mundo indi-
mento ou do sentimento cristão foi
vidual defendendo o princípio da
exatamente esta: a de mostrar que
liberdade. É exatamente isto. E isto
o homem era livre na medida em
- como eu dizia - é a maior con-
que também podia impedir que sô-
quista do pensamento político cris-
bre todo o seu ser influísse a ação
tão.
do Estado. Então, a liberdade cristã
e a liberdade democrática - e exa- Santo Tomás, na Suma Teológica,
tamente por isso é que chamamos defende precisamente essa idéia.
democracia cristã e ocidental - es-
tão no reconhecimento, no respeito Quando Santo Tomás fala da liber-
e na salvaguarda jurídica de uma dade do homem, da sua possibilidade
parte da personalidade que não se de desenvolver-se no sentido dos
pode submeter, de maneira alguma, seus atributos essenciais, êle está
à ação do Estado. É a definição des- configurando, organizando, raciona-
ta parte da personalidade, é a ex- lizando a palavra de Jesus, aquela
plicação dos pontos em que a per- palavra de Jesus que diz que César
sonalidade se libera da influência, tem o direito de exigir até certo
da coação, das restrições, dos limites ponto, mas de um certo ponto em
da ação estatal, que constitui, pre- diante há uma parte do homem que
cisamente, a chamada declaração de não está submetida à dominação de
direitos e garantias." César.
O Sr. Argemiro de Figueiredo As declarações de direitos e garan-
"V. Ex.a vai descrevendo, com brilho tias são feitas para definir, num
de jurista e sociólogo, aquilo que texto permanente e invulnerável,
poderíamos envolver em dois prin- essas situações nas quais o homem
cípios dominantes no Direito Cons- não cede à presença do Estado.
titucional, que são exatamente o
princípio da coexistência social e, A idéia de uma declaração de direi-
por outro lado, o equilíbrio entre tos, apesar de fundada principal-
liberdade e autoridade. Estamos ou- mente na tradição do pensamento
vindo, com a máxima atenção, a anglo-saxônico, do pensamento po-
exposição de V. Ex.a" lítico que vem com Locke, não foi,
entretanto, configurada no texto da
O SR. AFONSO ARINOS - "Agra- Constituição dos Estados Unidos,
deço a lúcida e encorajadora inter- que é a primeira. Mas ela apareceu
venção do meu ilustre colega Arge- como grande glória, como grande
miro de Figueiredo. S. Ex.a, que é vitória, como grande iniciativa da
um dos estudiosos dos problemas do Revolução Francesa. Ela vem do
Direito e da Filosofia do Direito ... " Marquês de Lafayette. O Marquês
O Sr. Argemiro de Figueiredo - de Lafayette, que tinha a experiên-
"Muito obrigado." cia heróica dos dois mundos, o ho-
mem que tinha participado da Re-
O SR. AFONSO ARINOS - " ... acaba volução da Independência America-
de situar, de maneira concreta, o na e o homem que tinha participado
desdobramento natural do meu ra- da revolução política e social que
-70

destruiu a Monarquia Francesa - o olvido de certos aspectos formais


segundo informam os seus biógrafos e que viesse consultar mais certas
-, foi o grande iniciador desta idéias e certos sistemas fundamen-
idéia, foi quem propôs que se con- tais, porque, nas declarações de di-
substanciasse, no texto definitivo, a reitos, havia muito preço pago às
Declaração dêsses Direitos Humanos. aparências das idéias da época. Por
Esta declaração nós todos a conhe- exemplo: no Brasil, um dos grandes
cemos. É dos mais belos textos da problemas era o dos cemitérios reli-
história humana. Ela pode ser tida, giosos, dos cemitérios seculares. Des-
no processo da Revolução Francesa, de o tempo da colônia havia dis-
como um documento equiparável, cussões eruditas sôbre o caráter se-
como um documento do mesmo ní- cular das administrações das necró-
vel, da mesma altitude, da mesma poles. A conquista da inclusão dêsses
beleza formal da Declaração da In- cemitérios em um dos deveres da
dependência Americana, redigida administração municipal foi uma
por Thomas Jefferson. certa conquista de direito humano.
São ambas, portanto, dêsses marcos Daí figurar na Constituição do Im-
definitivos, dessas tábuas de bronze pério e vir sendo repetida até à
que se inserem na tradição do Di- Constituição de 1891 a secularização
reito Democrático. Daí a preocupa- dos cemitérios.
ção, que sempre tiveram os redato- Claro é que, hoje, o problema não
res destas Declarações, com a beleza
tem mais significação. Assim, tam-
formal, com a pompa, com a apre-
bém a configuração do direito de
sentação grandiosa do tema. propriedade, que obedecia, no século
Os Direitos Humanos sempre foram passado, a certas aparências ou a
configurados em textos que parecem certos cânones ligados ao processo
de teatro clássico. Tem-se a impres- de desenvolvimento da economia li-
são de que o redator é como um beral.
daqueles atores de Corneille e Ra- Então, a idéia era de que a proprie-
cine, que chegam ao proscênio, e dade não poderia ser restringida em
lançam, através de palavras lapida- nenhum de seus atributos, porque
res, imagens e idéias eternas. essa restrição feria o interêsse so-
cial, defendido na tese de Adam
Portanto, Sr. Presidente, a beleza
formal, a deliberada procura do Smith.
êxito do estilo fazem parte, na tra- Encontramos ainda, na feitura da
dição do Direito Democrático e, es- Constituição de 1891, aquela preo-
pecificamente, na tradição do Di- cupação de Rui Barbosa - porque
reito Brasileiro, das declarações de foi dêle - inserir no texto com a
garantias e direitos individuais. sua letrinha "a propriedade será
garantida em tôda a sua plenitude".
Com o passar do tempo, o que se foi
inovando nesses documentos foi a Isto é de Rui. Não que fôsse um
sua limitação. Não limitação muti- reacionário, pois estava dentro do
ladora, não limitação no sentido do quadro das idéias liberais.
abandono de certos aspectos subs- Depois, foi-se compreendendo que a
tanciais, mas ao contrário: uma li- propriedade era função social, que
mitação nucleadora, uma limitação só se justificava a garantia do di-
condicionadora que viesse permitir reito humano na medida em que
-71
fôsse uma participação da persona- Por exemplo: prevê a manutenção
lidade, conseqüentemente, que não da armada. Mais nada. Aqui dividi-
influísse nas outras pessoas que mos, subdividimos e fazemos tanta
compõem a Sociedade. coisa que, no fundo, quem não é ju-
rista como V. Ex. a, conhecedor pro-
Então, começamos a encontrar nas fundo do assunto, se perturba ao
Constituições modernas, inclusive ler a Constituição brasileira. A nos-
na brasileira, aquêles roteiros que sa, agora, tem cento e oitenta arti-
diminuem o caráter absoluto, o ca- gos. Não sei por que o número de
ráter pleno da propriedade e colo- artigos é tão elevado, quando a do
cam êsse direito individual no qua- país mais desenvolvido do mundo
dro de uma certa relatividade. contém, apenas, sete artigos e foi
Sr. Presidente, isso ocorreu, no sen- emendada apenas vinte e três vêzes.
tido de se diminuir a ilimitada
Assim, agradeceria a V. Ex.a se me
acepção de certos direitos, mais so-
pudesse orientar. Nunca li tanto a
ciais do que humanos. Uma das
Constituição do Brasil como hoje.
grandes conquistas da Ciência Po-
lítica moderna é consectária disto, Não sou jurista e sim um simples
ou seja, naquilo que diz respeito aos engenheiro. Nesta condição, consi-
direitos humanos, propriamente, aos dero muito difícil interpretar a
direitos à defesa dos atributos ima- grande diferença entre essas duas
nentes da personalidade. Então, as Constituições. Gostaria, pois, que
garantias foram-se aprofundando, V. Ex.a me esclarecesse a respeito."
as definições foram-se tornando
mais claras, mais cheias de con- O SR. AFONSO ARINOS - "Agra-
teúdo, de conseqüência e de respon- deço a V. Ex. a. Procurarei, da ma-
sabilidade. Começamos a ter o qua- neira mais sucinta, responder ao
dro em que os direitos são em nú- nobre Senador.
mero menor, porém cada vez mais
pessoais, cada vez mais ligados aos A Constituição americana tem, de
atributos essenciais da personalida- fato, êste número de artigos. É,
de, porém, cada vez mais bem defi- porém, dividida em várias seções.
nidos e mais bem defendidos no di- Os artigos correspondem quase que
reito democrático. Não há demo- àquilo que chamamos de capítulos.
cracia sem uma definição adequada
e sem a apresentação de garantias Isto não implica em que ela não seja
eficazes para os direitos individuais. mais, muito mais reduzida do que
a nossa. Seus artigos são, portanto,
A ausência disso é a ausência de divididos em várias seções. Além
democracia." disso, tôda a construção da Consti-
O Sr. José Ermírio - "Tem V. Ex.a tuição americana é uma construção
falado, inúmeras vêzes, sôbre a jurisprudencial. Esta a divisão fun-
Constituição americana. Esta Cons- damental entre a tradiçã.o do Di-
tituição, feita em 17 de setembro reito Público anglo-saxônico, tanto
de 1787, consta, apenas, de sete ar- o inglês como o americano, e o Di-
tigos. Durante todo êsse tempo foi reito Público latino. Nós procuramos
emendada somente vinte e três vê- estabelecer esquemas racionais mi-
zes. Ora, notei que no art. 1.0 - nuciosos e ideais, através de movi-
Podêres do Congresso - são real- mentos políticos sucessivos, destru-
mente muito simples as subdivisões. indo o que havia antes. Os saxônicos
-72-

estabelecem esquemas operacionais, parado, nem às tradições do nosso


esquemas realistas, através de mo- próprio Direito. Não vou negar que
dificação constante, que se processa exista, na definição ou no desenvol-
no texto da Constituição, por meio vimento do art. 149 do projeto, uma
da interpretação judicial. espécie de germe das idéias, uma
espécie de semente, uma espécie de
O que fazemos, emendando e escre- ponto de partida das noções de de-
vendo no nôvo texto, êles o fazem claração de direitos individuais. Mas
emendando o que o texto significava a técnica utilizada pelo projeto é
antes da nova interpretação. São que, ao meu ver, não pode subsistir.
numerosos os exemplos.
A Suprema Côrte, que tem dito sô- É, neste momento, que digo que ela
bre a Constituição coisas completa- não pode subsistir. Procurarei de-
monstrar, realmente, a impossibili-
mente contraditórias - por exem-
plo, no caso da discriminação racial dade de êsse texto ser mantido como
-, sustentava, até o fim do século constitucional. Impossibilidade subs-
tancial, com referência ao conteúdo
passado ou até o princípio dêste, a
dos artigos, e impossibilidade pro-
teoria da discriminação propriamen-
cessual, com referência ao funciona-
te, quer dizer, igualdade de oportu-
mento dêsses artigos e às atribuições
nidades para as duas raças. Tal era,
que sôbre êles são concedidas ao
segundo se pensava, permitido pela
Supremo Tribunal Federal.
Constituição.
Pode haver separação, desde que se Eu faço daqui um apêlo não aos
ofereçam oportunidades iguais. meus ilustres colegas da Oposição,
que têm motivos políticos para pro-
Hoje, a Suprema Côrte, depois do mover a transformação do projeto,
famoso julgamento do Presidente mas, sobretudo, aos meus correligio-
Warren, diz o contrário: que não é nários do Partido majoritário, para
possível estabelecer-se uma separa- que reflitam bem - ao nosso que-
ção entre as duas raças, ainda que rido companheiro e Líder, Senador
ofereçamos oportunidades idênticas. Daniel Krieger; ao Lide r da Câmara
De modo que o que existe não é dos Deputados, o ilustre e também
diferença de tratamento, mas dife- meu velho amigo, Deputado Ray-
rença de psicologia: psicologia dos mundo Padilha; ao Presidente da
saxões, que procuram marchar, de Grande Comissão de Reforma, o
acôrdo com interpretações constru- eminente e ilustre co-estaduano
tivas longas enquanto a nossa con- Deputado Pedro Aleixo, Vice-Presi-
cepção latina procura reduzir o as- dente eleito da República; ao Sr.
sunto a um esquema convulsivo, Presidente da República, o ilustre
porque importa em atos de convul- Marechal Castello Branco; ao Sr.
são revolucionária. Ministro da Justiça, o ilustre jurista
Carlos Medeiros da Silva -, para
Mas, agradecendo ao nobre Senador que vejam se eu tenho ou não tenho
a honra do seu aparte, procurarei razão nas considerações que, neste
prosseguir na linha que me tinha momento, vou iniciar, porque, o que
traçado. Queria dizer que o texto me parece é que o que aqui está não
que vamos votar não corresponde, poderá funcionar. Então, se não po-
de maneira alguma, nem às tradi- de funcionar, não é nenhuma humi-
ções do Direito Constitucional com- lhação, nenhum recuo, nem mesmo
-73

é uma medida de desconformidade separação, uma discriminação entre


política: é apenas o atendimento aos direito individual e garantia indivi-
interêsses substanciais da democra- dual. :í!:le demonstra que o direito
cia brasileira." individual é a substância da reivin-
dicação que o indivíduo pode opor
O Sr. Aloysio de Carvalho- "V. Ex.a ao Estado e demonstra ainda que
diria muito bem que tôdas as ga- a garantia é o recurso processual
rantias individuais estão aí apenas que o Estado oferece ao indivíduo
indicadas. Não há um conceito, uma para fazer prevalecer seu direito in-
definição, uma idéia; nenhuma des- dividual. A importância de que êste
sas garantias individuais independe recurso conste da Constituição é
de uma lei geral que as faça respei- exatamente a de impedir que êle
tadas e executadas." seja iludido através das interpre-
O SR. AFONSO ARINOS - "Exata- tações políticas de uma lei ordiná-
mente. O ilustre Senador Aloysio de ria. Mas na técnica ordinária no
Carvalho acaba de dar a síntese do texto utilizado pelo projeto, o que
raciocínio que passo a desenvolver. vemos é o seguinte: ao enunciar,
com muita brevidade, ao indicar, de
A técnica utilizada pelo projeto ci- forma estritamente resumida, o di-
fra-se no seguinte: indica, como dis- reito, e ao fazer remissão para uma
se o Senador Aloysio de Carvalho, lei geral, mutila êsse direito, porque,
muito resumidamente, a idéia de como dizia há pouco, se retira o ca-
cada um dos tradicionais direitos ráter auto-aplicável.
individuais ou da sua garantia e,
em seguida, faz remissão a uma lei Vou dar um exemplo: um dos di-
geral que vai oferecer os elementos reitos individuais auto-aplicáveis de
definidores dêsse direito e dessa ga- maior importância é a inviolabili-
rantia. dade do domicílio. Isto é tradicional
no Brasil. Está na Constituição de
Ora, Sr. Presidente, o que acontece 1824, está na Constituição de 1891,
é que, se nós não fizermos constar está igualmente na Constituição de
do texto constitucional os elementos 1934, e se encontra, finalmente, na
que configuram, na sua descrição, a Constituição de 1946. Quando a
substância do direito, nós estaremos Constituição estabelece a inviolabi-
mutilando potenci_almente êsse di- lidade do domicílio, define o proces-
reito. so do exercício dêsse direito. E, por-
A razão primeira é a seguinte: não que esta definição faz parte da in-
se reconhece o caráter auto-aplicá- violabilidade, a Constituição diz as-
vel de nenhum direito e é sabido sim: a casa é o asilo inviolável do
que, entre os direitos públicos indi- indivíduo; ninguém poderá entrar
viduais, há numerosos que são auto- nela à noite, senão para atender
aplicá veis. a casos de crime ou desastre. As
palavras utilizadas na Constituição
Um dos melhores trabalhos, a meu do Império eram um pouco dMeren-
ver, de Rui Barbosa sôbre os pro- tes mas tinham a mesma idéia: a
blemas do Direito Constitucional ge- idéia do crime ou sinistro. E durante
ral, e também do Direito Consti- o dia; a não ser com a ordem escrita
tucional brasileiro é, exatamente, da autoridade competente. Se dis-
aquêle em que o grande tribuno e sermos apenas, como diz o projeto,
político brasileiro estabelece uma "inviolabilidade do domicílio", então
-74-

nos reportamos a uma lei ordinária se traduz, concretamente, no seguin-


para estabelecer elementos dessa te: desde antes da Independência,
inviolabilidade. Podemos, através de quando se instituiu no Brasil uma
uma lei ordinária, permitir que a espécie de imprensa (não no sentido
casa seja invadida à noite pela au- moderno, mas uma espécie de publi-
toridade, com o desassossêgo da fa- cação de periódicos, na Côrte), des-
mília e o terror do morador, com a de o tempo do Brasil Reino, de Dom
opressão do cidadão. Podemos per- João VI - e me lembro dêste par-
mitir que a visita domiciliar feita ticular porque, em certa ocasião fiz,
pela Polícia não seja através de na Câmara dos Deputados, um pa-
ordem escrita da autoridade, senão recer sôbre a liberdade da imprensa,
apenas através de uma decisão pu- procurando debater um projeto qne
ramente momentânea de um dele- vinha do Govêrno e que visava res-
gado de Polícia. Em suma, o Senado trições a esta liberdade, incompa-
tem aí o quadro das possibilidades tíveis com as tradições do nosso Di-
gravíssimas que se depreendem dês- reito - desde essa época, está ex-
se processo técnico, de fazer uma pressa, nas leis de imprensa, a de-
remissão muito limitada e deixar claração de que a manifestação de
para a lei ordinária o cuidado da pensamento não está subordinada à
definição. censura prévia.

Mas há também outra conseqüência Apelo para o nobre Senador Aloy-


que me parece igualmente impor- 'sio de Carvalho, porque posso estar
tante: é que esta técnica torna pos- enganado, mas tenho quase certeza
sível a violação de outros direitos de que sempre se fêz apelação à
que não tenham a importância dês- inexistência da censura.
se direito individual, da inviolabili- Ora, se nós, no texto da Consti-
dade do domicílio, mas que são tuição, apenas nos referimos, de pas-
igualmente de grande majestade sagem à liberdade de manifestação
porque dizem respeito aos atributos de pensamentos e deixamos a exe-
intelectuais do homem. Por exem- cução dêsse princípio ao cuidado da
plo, a liberdade de expressão, de lei ordinária, então vamos tranqüi-
pensamento, que recentemente está lamente permitir que a lei ordinária
completada pela liberdade de infor- institua, sem infringir a Constitui-
mação. Mas quero me situar, aqui, ção, a censura prévia dos jornais. E
especialmente no campo da liberda- por que não?"
de manifestação de pensamento, va-
mos dizer, da liberdade da imprensa, O Sr. Aloysio de Carvalho - "Exa-
como atualmente se diz. tamente por isso é que as Consti-
tuições brasileiras anteriores distin-
Sabe o nobre Senador Aloysio de guiram a censura prévia em relação
Carvalho - e a êle me refiro pes- às diversões públicas, excluindo ex-
soalmente porque S. Ex.a é professor plicitamente, do exercício da liber-
de Direito Penal - que a liberdade dade de pensamento, através da im-
de imprensa, na legislação brasileira, prensa."
sempre foi contida pela idéia da res- O SR. AFONSO ARINOS - "Exata-
ponsabilidade e, conseqüentemente, mente!"
pela punição dos abusos, através da
incidência da lei penal, baseada no O Sr. Aloysio de Carvalho - "Outro
princípio da responsabilidade. Isto reparo que V. Ex.a poderá - e, es-
-75

tou certo, irá fazer - é que não ção de 46, é um dos mais belos capí-
há liberdade de pensamento sem a tulos do nosso Direito Constitucional.
sua contraprestação, que é respon-
sabilidade pelos abusos dessa liber- Em todos os seus desdobramentos,
dade. Nada disso, realmente, no inclusive na proibição do anonimato
projeto de Constituição está esta- na imprensa, sentimos o espírito li-
belecido." beral brasileiro. No que está no pro-
jeto não sentimos nada realmente
O SR. AFONSO ARINOS - "O Se- que possa traduzir uma intenção
nador Aloysio de Carvalho acaba de nobre de estabelecer em bases certas
confirmar, com sua experiência e e duradouras o princípio da liber-
seu conhecimento, aquilo que vinha dade de manifestação do pensamen-
dizendo: será possível instituir-se to pela imprensa."
legalmente, por lei que não seja
constitucional, a censura prévia no O SR. AFONSO ARINOS - "Muito
nosso País? Na França, por exem- grato a V. Ex.a. Incorporo, com gran-
plo, a liberdade de imprensa não é de satisfação, os seus ensinamentos
garantida, especificamente, por uma ao meu discurso.
disposição constitucional - se não
Quanto à questão do anonimato
estou enganado - mas é garantida
eu me permito, aqui, uma pequena
por determinação do Código Penal
divergência, não com Rui, mas com
e do Código do Processo Criminal.
a época de Rui. O problema do ano-
E, assim, na França ocorrem muitas nimato entrou na Constituição de
vêzes apreensões e censura de jor- 1891, e foi sendo repetido nas pos-
nais. Mas nunca o sistema francês teriores, também muito em função
serviu de modêlo, em tais casos, à da filosofia positiva. Rui não era
tradição brasileira, que sempre se positivista - sei disso - mas havia
apoiou na tradição saxônica, na tra- um ambiente de idéias que influiu
dição inglêsa e na tradição norte- nas idéias da Constituinte. Então,
americana. E tôda a cultura brasi- a idéia de que o "escritor público"
leira, tôda a evolução do drama da - como então se chamava o jorna-
política brasileira sempre foi ligada, lista - poderia emitir opinião sem
jungida, associada à liberdade de se denunciar, sem se qualificar, sem
imprensa. Então, o que queria sa- se declarar, era uma idéia conside-
lientar é que a técnica utilizada pelo rada pouco democrática. Mas, de-
projeto vai ter as conseqüências que pois, a imprensa de opinião foi ga-
citei, apenas para exemplificar, em nhando uma aparência diversa. Na
dois casos: no caso da inviolabili- medida em que o artigo é assinado,
dade do domicílio, colocando possi- passa a ser menos importante, por-
velmente o cidadão diante dos aza- que transfere ou transmite apenas
res da opressão, da autoridade polí- uma posição individual; na medida
tica ou policial; e no caso da liber- em que o artigo não é assinado - é
dade de pensamento, criando a fi- o chamado "artigo de fundo" -
gura legal e jurídica, mas repug- êle passa, pelo menos na aparência,
nante, da censura prévia, que nunca a exprimir uma idéia geral."
existiu no nosso direito."
O Sr. Aloysio de Carvalho - "Aí
O Sr. Aloysio de Carvalho - "O item o artigo não assinado é chamado
da liberdade de pensamento pela editorial. A proibição do anonimato
imprensa, cristalizado na Constitui- visa, sobretudo, aos ineditoriais, em
-76-

que através de uma acusação gra- Então, esta técnica é inaceitável.


tuita, de uma calúnia, se esconde
o autor da ofensa." O Senado não pode concordar com
isto. O Presidente da República -
O SR. AFONSO ARINOS - "Ah! e a êle faço um apêlo - também
agora estou· compreendendo. Con- não pode. Os Líderes do Govêrno,
fesso a V. Ex. a que recebo, com nesta Casa, não podem aceitar isto.
muito agrado, esta lição."
Sr. Presidente, salientei com a
O Sr. Aloysio de Carvalho- "Não é maior boa-fé, no primeiro ou no se-
lição, absolutamente. V. Ex. a pode gundo discurso que aqui fiz - não
sentir isso na obrigação contempo- me lembro bem -, a importância
rânea." que tem para a nossa honra política,
para a nossa tranqüilidade jurídica,
O SR. AFONSO ARINOS - "Do di-
reito de resposta." social e até pessoal, a manutenção
do Poder Judiciário, neste projeto,
ó Sr. Aloysio de Carvalho - " ... com as atribuições que conservou e
que têm todos os jornais de indicar com as garantias que manteve. Acho
os responsáveis pela parte editorial, que o Poder Judiciário aparece neste
de todos os artigos de colaboração projeto como uma demonstração de
serem assinados, e os de matéria que o Congresso tem diante de si
paga só serem recebidos pelos jor- um documento com raízes democrá-
nais através do reconhecimento de ticas, que depende de aperfeiçoa-
firma." mento, de uma adaptação. O capi-
tulo dos direitos e garantias não é a
O SR. AFONSO ARINOS - "E o
conseqüência disto, da importância
direito de resposta, que está assegu-
e da independência do Judiciário: é
rado também."
a causa disto. O Judiciário só tem
O Sr. Aloysio de Carvalho - "Exa- razões para ser independente e im-
tamente." portante na medida em que exista
O SR. AFONSO ARINOS - "Dizia o capítulo de direitos e garantias
individuais.
eu, Sr. Presidente, que esta técnica
não pode prevalecer. Está claro. Para que manter um aparelho que
Parece-me não haver nenhuma in- não tem como ser aplicado? Para
tenção polêmica nesta afirmativa. O que manter a integridade, a impor-
que estou procurando deixar eviden- tância, a independência e honra
te para o Senado é que, mantida a tradicionais do Judiciário brasileiro
redação tal como se encontra, isto se, no momento em que fôr traba-
é, se a cada artigo não corresponder lhar, estiver prêso a tôdas as insí-
uma definição que integre imedia- dias, a tôdas as paixões, a todos os
tamente o conteúdo da sua garan- provisórios e a todos os equívocos de
tia; se em cada artigo não aparecer uma lei política? Para que criar-se
um desdobramento de noções, se o instrumento de defesa da liber-
não fôr êle próprio êsse desdobra- dade humana e da tranqüilldade do
mento, uma parte do direito defi- cidadão, se esta liberdade e esta
nido, o Direito desaparece, o Direito tranqüilidade não se acham con-
fica nas mãos do arbítrio do poder venientemente definidas no texto
político, que poderá, através de leis constitucional?
ordinárias, suprimi-lo, extingui-lo, Portanto, Sr. Presidente, êste é o
exterminá-lo. apêlo que faço, com tôda humildade,
-77-
com a segurança de que me estou das liberdades públicas no nosso
desincumbindo apenas dos últimos País.
deveres que eu possa ter com o Poder
ao qual durante tantos anos per- Sr. Presidente, continuarei mostran-
tenci. É o a pêlo que faço aos nossos do que a técnica da sujeição dos
companheiros da Maioria, à Lide- textos constitucionais aos azares da
rança da Minoria, aos companheiros legislação ordinária sempre foi re-
da Comissão Constitucional, ao nos- pelida pelo nosso Direito Público -
so ilustre colega Senador Antônio e aqui me permito ler o artigo da
Carlos Konder Reis, que é o relator, Constituição do Império que trata
ao Presidente Pedro Aleixo, ao Go- exatamente do assunto. Como sabe
vêrno, para que examinem se tenho o Senado, a Constituição do Império
ou não razão nestas humildes, nestas era flexível, não rígida, não .costu-
modestas sugestões que aqui venho meira. Era uma Constituição escrita,
desconchavadamente enumerando, porém, não rígida; Constituição
eis que êles terão condições muito escrita e flexível, não uma Constitui-
mais amplas e muito mais sólidas ção costumeira, como a inglêsa, que
para apoiar ou para corrigir." pode ser alterada por legislação or-
dinária. Não era Constituição rígida,
O Sr. Aloysio de Carvalho - "Esta
como a americana, que precisa ser
interferência é para afirmar a V.
alterada por emenda, ou como as
Ex.a que a sua crítica a êste Capí-
Constituições Republicanas brasilei-
tulo é brilhantíssima. Leva-nos a
ras que se seguiram. Era uma Cons-
pensar que nada se pode corrigir ali,
tituição flexível, assim chamada
senão com um substituição total do
porque tinha um corpo de doutrina
que figura no Projeto, restabelecen-
inalterável, a não ser por emenda
do-se inteiramente o Capítulo da
constitucional e com uma parte
Constituição de 1946. Fazendo esta
complementar de disposições que
crítica, V. Ex.a, além de confirmar
poderiam ser modificadas por lei
seus merecimentos de jurista, rea-
ordinária.
firma perante o Senado sua cons-
ciência de velho liberal que, em todo É uma grande sabedoria da Consti-
o exercício de mandatos eletivos, tuição do Império. Ainda hoje, os
estêve sempre na brava, intrépida autores do Direito Constitucional
defesa das liberdades públicas." costumam a ela se referir como mo-
O SR. AFONSO ARINOS - "Sr. Pre- dêlo desta noção de Constituição
rigida que influiu sôbre outras Cons-
sidente, raramente me terá ocorrido, tituições da Europa, em meados do
na tribuna, o que neste momento século passado.
acontece. A consagradora declara-
ção do meu querido companheiro o chamado Estatuto Albertina -
Constituição do Reino Piemonte-
vem como prêmio, como estímulo a
Sardenha, depois adaptada em Cons-
que eu prossiga, não com os atri- tituição do Reino da Itália, após a
butos de brilho ou de saber a que unificação italiana - sofre direta-
S. Ex.a se referiu, mas com o em- mente a influência da Constituição
penho e a boa-fé que nortearam do Império brasileiro, com êsse jôgo,
êsse molejo da flexibilidade jurídica:
minha vida parlamentar e que são
uma parte inatingível, imutável, e
herança de um nome que recebi e uma parte transformável, com certa
que transmiti, no sentido da defesa liberalidade.
-78-

Diz a Constituição o seguinte: estou na tribuna. Assim, eu me re-


"Art. 178 - É só constitucional o tiro, Sr. Presidente, para prosseguir
que diz respeito aos limites e atri- e completar amanhã, se possível,
buições respectivas dos podêres esta sugestão, êste apêlo à Maioria
políticos e aos direitos políticos e e ao Govêrno. E, como sempre tenho
individuais do cidadão. Tudo o feito, penitencio-me perante os
que não é constitucional pode ser meus colegas do tempo que lhes to-
alterado, sem as formalidades re- mei e agradeço, do fundo do co-
feridas, pela legislatura ordinária." ração, a honra da atenção com que
vêm acompanhando êstes discursos."
Veja o Senado a importância desta Na sessão de 20 de dezembro de 1966,
contribuição que não sou eu quem o Senador AFONSO ARINOS (ARENA -
está trazendo, e sim a História do Guanabara) (23), pronuncia o seguinte
Direito Constitucional Brasileiro. discurso:
Mesmo a Constituição chamada
flexível, aquela Constituição extre- "Sr. Presidente, na sessão de ontem,
mamente dúctil que permitia a sua procurei acompanhar, com comentá-
própria transformação, através de rios adequados, o capítulo do Pro-
lei ordinária, mesmo nesse tipo de jeto de Constituição que trata dos
lei constitucional, vem o reconheci- direitos e das garantias individuais.
mento, vem a afirmativa consentâ- Hoje, tentarei prosseguir no exame
nea com a consciência e com desta matéria, analisando o capítu-
a boa-fé na adesão aos princípios lo e os incisos nos quais se estabe-
jurídicos da democracia, ao declarar lecem os processos de limitação ou
que tudo pode se alterar por lei de suspensão dessas mesmas garan-
ordinária, exceto o que diz respeito tias e direitos, processos analisados
aos direitos e garantias individuais. tais como estão consignados no pro-
O que fêz a República? Depois de jeto de reforma constitucional.
tantos juristas, depois de tantos es- Desde logo temos que considerar esta
critores, depois de tantos políticos, matéria, nos têrmos do projeto, dis-
depois de tantos oradores parlamen- tribuída em dois setores: um, aquêle
tares, depois de tantos professôres setor clássico no Direito brasileiro,
e estadistas, vem a República e diz: do estado de sítio; o outro, uma nova
"os direitos e garantias individuais concepção introduzida no Projeto de
poderão ser transformados, modifi- Constituição, estabelecendo uma li-
cados, configurados pela lei ordiná- mitação aos direitos e garantias,
ria". mas que não funciona em conse-
Não acredito possa haver uma de- qüência do estado de sítio, e sim
monstração mais clara de incon- obedecendo a outras razões e a ou-
formidade, de oposição, de subver- tros procedimentos. É o art. 151 do
são, Sr. Presidente -esta é exata- projeto em exame que diz o seguinte:
mente a palavra, subversão - da "O abuso de direito individual ou
ordem democrática brasileira. político de qualquer pessoa natu-
Teria a intenção ainda de prosseguir ral com o propósito de subversão
em observações e considerações que do regime democrático ou de cor-
seriam o desenvolvimento do que foi rupção importará na suspensão,
hoje assentado. Mas verifico que já por dois a dez anos, daqueles di-
decorreu cêrca de uma hora que (23) D.C.N. (Seçiio II) de 21-12-66 - pág. 6.492
-79-

reitos, declarada mediante repre- E por aí, vamos passando pelas ga-
sentação do Procurador-Geral da rantias de liberdade, garantia de
República ao Supremo Tribunal respeito aos direitos adquiridos, e fi-
Federal, sem prejuízo da ação civil nalmente, como salienta o nobre Se-
ou penal que couber." nador Heribaldo Vieira, a proibição
da pena de morte.
~ste artigo, Sr. Presidente, tem as-
pectos muito estranhos. Proponho De maneira que, se tomarmos o art.
ao Senado que o sigamos no seu de- 151, tal como se encontra redigido
senvolvimento redacional. Aqui se - não làgicamente, mas textual-
diz que os abusos dos direitos indi- mente -, verificamos o absurdo de
viduais e políticos, no propósito da se suspender o direito à vida. As-
subversão ou da corrupção, impor- sim, mediante representação do Pro-
tarão na suspensão, por dois a dez curador-Geral da República, o Su-
anos, daqueles direitos. Quer dizer, premo Tribunal Federal autorizaria
indiscriminadamente, sem qualquer o que se pode chamar de "a morte
enumeração, os abusos no exercício provisória": o indivíduo seria con-
dos direitos individuais e politicos denado à morte pelo prazo de 2 a
determinarão a suspensão de qual- 10 anos e, decorrido o prazo proces-
quer dos direitos individuais e polí- sual, aconteceria o que aconteceu
ticos consignados no texto da refor- com Lázaro, que subiu do seu tú-
ma constitucional. Ora, isso começa mulo, restituído à vida pela palavra
por ser absurdo, e, em função dêsse sacramentada de um nôvo Presi-
caráter de anomalia, conclui-se por dente.
ser inaplicável. Ora, Sr. Presidente, não quero dizer
que isso tivesse ocorrido à intenção
O Supremo Tribunal Federal, feito dos redatores do projeto, que êles ti-
para garantir e não para suspender vessem chegado a essa conclusão in-
direitos - mas isto é uma observa- teiramente risível e que transcende
ção a latere -, não terá condições os limites do permitido pela análise
de executar êsse artigo na amplitu- séria de um texto, para entrar fran-
de em que se encontra redigido. Se- camente no território do cômico. O
não, vejamos. fato denota a necessidade de uma
revisão dêsse texto."
Quais são os direitos individuais pre-
vistos no próprio texto da reforma? O Sr. Heribaldo Vieira - "E interes-
São: igualdade perante a lei, cha- sante ressaltar ainda que o indivíduo
mado princípio de isonomia. Já na perde, também, o direito a trabalhar,
História de Heródoto se diz que o pois o art. 149 diz que ficam assegu-
princípio da isonomia é a caracterís- rados a liberdade de consciência,
tica da liberdade humana ... " crença e culto; livre manifestação
do pensamento e de informação; in-
O Sr. Heribaldo Vieira - "Pelo ar- violabílldade de domicílio; liberdade
tigo, perde-se até o direito à vida!" de reunião e de associação; livre es-
O SR. AFONSO ARINOS- "Exata- colha de trabalho e de profissão;
mente. Ia chegar lá. inviolabilidade da correspondência.
Assim, concluímos que até o direito
Depois: liberdade de consciência e
ao trabalho o indivíduo perderá."
culto; livre manifestação do pensa-
mento; inviolabilidade do domicílio; O SR. AFONSO ARINOS - "Real-
liberdade de reunião e associação. mente, perdendo o direito à igualda-
-80-

de perante a lei, inclusive perderá o explicados ou justificados. Acredito


direito à inviolabilidade do domicí- que o Congresso Nacional terá a
lio, perderá o direito ao trabalho, acuidade necessária e a experiência
perderá o direito à liberdade de indispensável para modificar o teor
consciência, intrisecamente um dos do texto que V. Ex. a critica, mui jus-
direitos mais nobres da natureza tamente."
humana, que ficaria também desa-
parecido. O SR. AFONSO ARINOS - "Muito
obrigado, prezado colega. De fato,
Então, insisto, Sr. Presidente, insisto essa disposição consta da lei funda-
sem ira, nem ironia; insisto apoiado mental da República Federal Ale-
apenas nas muletas acolchoadas do mã, da Alemanha Ocidental chama-
bom senso; insisto no sentido de da. Mas não se tratou, precisamente,
que os responsáveis pelo andamento de uma tradução. O que ocorreu foi
dêsse projeto, no Congresso Nacio- uma espécie de amálgama, de con-
nal, tenham cuidado. Isto denota centração, de apanhado de uma
redação atabalhoada e desatenta, idéia que a Constituição alemã ado-
uma redação sôfrega, ansiosa, des- tou de maneira conseqüente, de ma-
preocupada e ilógica, e não ficaria neira lógica.
nada bem para o nosso País com O que se contém na Constituição
foros de tradição jurídica, com tra- alemã?
dição de elementar aprendizado nas
regras do bem-escrever, nas regras Não a tenho aqui; não a possuo en-
do bem-pensar e nas regras do bem- tre os elementos com que me apa-
dizer, não ficaria, dizia eu, satisfa- relhei hoje. Só tenho os textos das
tório para um País como o nosso, Constituições brasileiras. Mas, V.
com as responsabilidades que temos, Ex.a, Sr. Presidente, poderá, caso
que surgisse no mundo jurídico in- seja possível, fazer vir da Biblioteca
ternacional, e mesmo no mundo das o volume do jurista naturalizado
traduções, quaisquer que sejam, um francês, Guetzevitch, que tem, entre
documento jurídico de instituição do as diversas Constituições compen-
Estado brasileiro de limitação de po- diadas no livro Constituições da Eu-
dêres da autoridade brasileira pelo ropa de Hoje, a chamada Constitui-
Direito e de preparação de uma exis- ção de Bonn, e lá encontraremos a
tência na nossa sociedade, fundado disposição da Constituição alemã.
em declarações desta superficialida-
de, desta incongruência e desta co- Ela é enumerativa. Diz que, em caso
micidade." de subversão ou utilização de deter-
minados direitos no sentido da sub-
O Sr. Jefferson de Aguiar - "Aliás, versão da liberdade democrática, do
a expressão "abuso" tem elastério sistema democrático do Govêmo,
próprio, segundo conveniências pes- compete a medida ao Tribunal Cons-
soais e circunstâncias de fato. Além titucional, que não é precisamente o
disto, evidentemente, como anotou que nós chamamos o nosso Supre-
V. Ex. a, a tradução do texto alemão, mo Tribunal Federal, mas é qual-
parece-me, não foi apropriada. quer coisa assemelhada. Diz: "O Tri-
bunal Constitucional poderá suspen-
Se não me falha a memória, o texto der o uso, o benefício dos seguintes
é reprodução da Constituição alemã direitos". Em seguida, vem a enu-
de 1959, incluindo no texto do pro- meração daqueles direitos cujo abuso
jeto os atos que não são conhecidos, pode constituir um elemento de sub-
- 81
versão e cuja supressão não leva o por dois a dez anos daqueles di-
indivíduo para fora do gênero hu- reitos, declarada mediante repre-
mano, não torna o indivíduo um sentação do Procurador-Geral da
marginal, um relegado na sociedade. República ao Supremo Tribunal
Federal, sem prejuízo da ação civil
Mas, Sr. Presidente, êste episódio ou penal que couber."
serve apenas para marcar a impos-
sibilidade da manutenção do texto Não é propriamente isso que se con-
- e aqui reitero o apêlo, o caloroso tém na idéia da Constituição alemã.
apêlo, sincero, que formulei às altas
autoridades da República, a começar O que se contém na Constituição
pelo eminente Presidente da Repú- alemã é a iniciativa da autoridade
blica, Marechal Castello Branco, pelo do Ministério Público perante a Su-
seu Ministro da Justiça e pelos Li- prema Côrte para que esta declare
deres do meu Partido nesta Casa -, ou não, conforme fôr o caso.
a fim de que seja acomodada uma
redação que, realmente, corresponda A declaração não é obrigatória como
aos intuitos dos preceitos que são aqui parece estar escrito, que se diz
consignados na Constituição alemã, que a suspensão será "declarada me-
ou seja, a enumeração daqueles di- diante representação do Procurador-
reitos que poderão ser suspensos em Geral da República ao Supremo Tri-
primeiro lugar, sem lesão dos atri- bunal Federal", como uma espécie
butos essenciais da individualidade, de carimbo ou de chancela aposta à
cujos direitos são também aquêles representação do Procurador-Geral.
que podem ser objeto de utilização
abusiva, no sentido da subversão. Nós todos temos a certeza de que o
Procurador-Geral, sobretudo com os
Mas tal como está, da maneira como atributos morais do que atualmente
se encontra, é evidente, como se diz se encontra no cargo, iniciaria uma
na linguagem de hoje, "está na diligência nesse sentido, apenas
cara", que isto não pode ficar. quando as hipóteses previstas na
Constituição se confirmassem. Mas,
Temos, portanto, a primeira parte mesmo que essa iniciativa do Minis-
do art. 151. A segunda parte tam- tério Público fôsse baseada em pres-
bém mereceria um reparo. Aí já é supostos aceitáveis, é claro que a de-
um problema de lingüística, mas pa- cisão final ficaria com o julgamento
rece-me que, permitido o texto atual do Supremo Tribunal Federal e não
como se encontra no projeto, fica- como está dito aqui, que uma vez
ria uma espécie de intimação, de iniciado o processo receberá a chan-
obrigação do Supremo Tribunal Fe- cela do Supremo Tribunal Federal, o
deral. que não se coaduna com a idéia que,
evidentemente, ocorreu ao redator
Perderia o caráter de judicatura, de
do texto e que está consignada na
decisão livre, a declaração de perda Constituição alemã."
ou suspensão de direitos políticos por
parte da Côrte Suprema. O Sr. Aurélio Vianna - "Nobre Se-
O projeto diz assim: nador Afonso Arinos, pode estar cer-
to de que a série de observações de
". . . com o propósito de subversão V. Ex.a sôbre o Projeto de Constitui-
do regime democrático ou de cor- ção que ora se debate no País inteiro
rupção importará na suspensão vem causando efeito impressionante
- 82
-não quero dizer surpreendente-, Quanto à segunda parte da sua in-
no Brasil que lê, no Brasil que se tervenção eu diria que ela repre-
interessa pela solução dos seus pro- senta uma grande esperança, neste
blemas mais sérios e mais graves. momento. O nobre Senador Aurélio
Vianna, com a importância e a res-
Não sei por que razão, havendo aqui ponsabilldade de que desfruta, no
homens constitucionalistas da estru- seio da Bancada minoritária, não
tura de V. Ex.a, cultores do Direito poderia ir ao microfone, político co-
como o Senador Aloysio de Carvalho, mo é, experiente que é, fazer uma
por exemplo; constitucionalistas co- advertência desta natureza se não
mo o Professor Josaphat Marinho, e estivesse respaldado pela opinião de
mais alguns outros que poderia citar, seus companheiros. Quando diz que
da ARENA como do MDB, não se é necessário uma composição de es-
promove um entendimento a fim de forços, com a participação da Mino-
que, dessa conjugação de esforços, ria, traz S. Ex.a elementos de gran-
saia uma Constituição que proteja o de importância nesta hora angus-
Estado democrático, o Estado de di- tiada e tumultuosa de preparação do
reito que garanta os direitos indi- texto final. Não tenho condições po-
viduais do homem e do cidadão, que líticas e funcionais para poder ori-
honre nosso País e que o faça res- entar ou participar da orientação
peitado perante tôdas as Nações! desta sugestão que formula S. Ex.a,
mas é com o coração aberto a qual-
Por que não haver êsse entendimen- quer entendimento que eu a procla-
to? Tenho a impressão - senão a mo extremamente importante e que
certeza - de que tôda a Oposição chamo a atenção da Casa e da dire-
receberia, com a maior das satisfa- ção do Partido majoritário para o
ções, entendimento dessa espécie, à que acaba de dizer o Senador Auré-
base da honestidade, da sinceridade, lio Vianna. Não podemos negar a
da cultura e dos interêsses patrióti- importância de uma contribuição
cos daqueles que compusessem êsse franca da Oposição, nesta Casa, no
tipo de comissão de harmonização. sentido da confecção de um texto
V. Ex.a estaria muito bem colocado comum, texto que corresponda, de
numa posição como essa, como mui- imediato, à realidade brasileira; tex-
tos outros acêrca dos quais não fa- to que venha manter certas posi-
lamos por não estar cansando os ções tomadas pela Revolução, que
demais." são irretratáveis, mas que venha
O SR. AFONSO ARINOS- "Sr. Pre- restaurar as liberdades reclamadas
sidente, em primeiro lugar desejo pela Oposição e que são também in-
agradecer multo sincera e emocio- dispensáveis. Então, as conquistas
nadamente as palavras com que ga- da Revolução e as liberdades da
lardoou o meu esfôrço dêstes últi- Oposição deveriam ser objeto de um
mo dias o meu companheiro e velho tratamento conjunto, de um trata-
amigo Senador Aurélio Vianna, com mento desprendido de qualquer rei-
quem mantenho as mais respeitosas vindicação pessoal ou de qualquer
e afetuosas relações desde o tempo sentimento de vaidade, em beneficio
em que freqüentávamos a tribuna do Brasil.
da Câmara dos Deputados e que,
hoje, me honra como colega de Ban- Outros países têm atravessado crises
cada na representação da Guana- semelhantes. Ainda ultimamente,
bara. estive relendo o volume segundo das
- 83

memórias do General De Gaulle, Constituição americana. A Consti-


que se chama precisamente "A tuição americana só tem um artigo
União", e que diz respeito ao esfôrço em que faz referência à suspensão
tremendo que aquêle grande homem do habeas corpus e outras medidas
de Estado empreendeu no sentido da contra a garantia da liberdade In-
união daquelas duas correntes que dividual - em caso de motim ou
se debatiam e que dividiam a Fran- de rebeldia.
ça, visando à formação do bloco que
Mas a idéia de estado de sítio nos
constituiria a unidade francesa, nos
anos da libertação. :tl:ste volume, vem do direito francês, idéia surgida
mais do que uma narrativa histó- das lutas da Revolução Francesa.
rica, é uma espécie de vademecum O fundamental, no estado de sítio
político, e representa ensinamento da tradição francesa, é o princípio
constante no sentido do abandono do deslocamento do poder político
de tôdas as questões pessoais, que das mãos da autoridade civll para
tantas vêzes nos dividem, em bene- as mãos da autoridade militar, cor-
fício da união geral que só poderá respondendo a uma ficção de cidade
servir à boa causa do povo brasi- sitiada, de cidade em guerra. Dai a
leiro. idéia de estado de sítio.
Daí por que eu entendo que a de- Todos os estudantes de Direito
claração do Senador Aurélio Vianna Constitucional sabem o que foi a
deve ser tomada em têrmos pelos larga, a lenta elaboração dos princí-
dirigentes da Maioria, a fim de que pios referentes ao estado de sitio.
se consiga fazer o que S. Ex." pre-
coniza. Na Primeira República, havia uma
publicação para a qual chamo a
Mas, Sr. Presidente, eu falava que, atenção de V. Ex.", como Presidente
depois dêste artigo, iremos entrar do Senado, no sentido de estudar a
no capítulo que diz respeito à tradi- possibilidade de refazê-la. Eram os
ção clássica da limitação e da sus- "Documentos Parlamentares", pu-
pensão dos direitos lndlviduals - o blicados pelo Congresso na Primeira
capitulo do estado de sítio. República, e constituem repositório
dos mais importantes estudos produ-
Em primeiro lugar, chamo a atenção zidos no seio do Parlamento, como
para um aspecto. No projeto atual, temas fundamentais da Constitui-
existem duas posslbilldades de se li- ção braslleira. Nesses documentos
mitarem os direitos individuais: fundamentais, que andam por volta
uma, fora do estado de sítio, median- de 200 volumes, há uma série - se
te a aplicação do art. 151, retirado não me engano 16 dêles - referente
da Constituição alemã; depois, os a estado de sítio. Então acompanha-
aspectos constantes da enumeração mos tôda a elaboração da teoria
dos artigos referentes ao estado de brasllelra de estado de sítio, feitas
sítio, que, como sabe o Senado multo em grande parte dentro do Con-
bem, é uma tradição que vem do gresso.
direito francês. O estado de sítio,
que, pela própria expressão - état Aproveitando a hora que me é con-
de siege -, vem do direito francês, cedida, relembro ao Congresso a Im-
não corresponde, de maneira algu- portância que têm o Senado e a Câ-
ma, à nossa tradição constitucio- mara dos Deputados na elaboração
nal, na parte em que incide na do nosso direito público.
-84-

Os estudos da Comissão de Consti- pedido que examinasse alguns as-


tuição e Justiça da Câmara e do pectos do projeto, uma das sugestões
Congresso, com relação aos proble- que formulei, de início, foi a da não-
mas fundamentais da Constituição aplicação dêstes podêres de emer-
brasileira - o estado de sítio, a in- gência sem uma lei que os definisse.
tervenção nos Estados, todos os pro-
blemas políticos da época -, são Não poderia deixar de haver refe-
contribuições da maior significação, rências ao estabelecimento anterior
pelo menos tão importantes - di- das situações, mediante as quais ês-
go-o sem desrespeito - como as que ses podêres de emergência poderiam
foram trazidas pelo Supremo Tri- ser aplicados e o estabelecimento
bunal Federal. anterior só o poderia ser por via de
lei. Houve então de minha parte a
O Congresso sempre estudou, o Con- sugestão do acréscimo destas pala-
gresso sempre analisou, o Congresso vras:
sempre participou da solução dêsses
problemas, e a evolução da teoria "Tomar outras medidas estabele-
brasileira do estado de sítio está cidas em lei."
consignada nas disposições referen-
tes a êsse assunto, que se vem se- Isto foi incluído no texto. l!: passo
guindo nas Constituições presiden- da maior importância. Preferiria, se
cialistas até hoje. Mas não vou en- pudesse influir, que esta expressão
trar na análise delas. Como estou "estabelecidas em lei" fôsse com-
dizendo, é asunto se não corriqueiro, pletada pela palavra "complemen-
corrente, no estudo dos nossos pro- tar" - "estabelecidas em lei com-
blemas, e os que fizeram esta Cons- plementar" - porque a lei comple-
tituição, os redatores, evidentemen- mentar, pela sua significação, pela
te, estão muito bem informados a sua hierarquia, pela sua importân-
respeito. cia, seria feita com um cuidado mais
apurado e as hipóteses apareceriam
Chamo a atenção para o § 3.0 do em condições talvez mais satisfató-
artigo 152, que diz: rias para o equilíbrio entre o uso da
autoridade, por parte do Presidente,
"A fim de preservar a integridade e a preservação da liberdade, com
e a independência do país, o livre referência ao cidadão.
funcionamento dos podêres e a
prática das instituições, quando Mas, Sr. Presidente, feita essa res-
gravemente ameaçados por fatô- salva preliminar e tendo mostrado
res de subversão ou corrupção, o que êsse projeto, no momento, está
Presidente da República, ouvido o já em condições muito melhores do
Conselho de Segurança Nacional, que estava antes, queria acentuar
poderá tomar outras medidas es- · que êste inciso representa uma ino-
belecidas em lei." vação no nosso Direito. De fato elas
são duas: há uma inovação que
Desde já, quero trazer daqui, de pú- consta do art. 151, isto é, a possibi-
blico, uma palavra de agradecimento lidade de se suspenderem os direitos
ao Líder Daniel Krieger. Quando foi individuais fora da crise, da desor-
da discussão da primeira fase dêsse dem, fora da comoção intestina que
projeto, ainda antes da instalação provocaria o estado de sítio, apenas
dêste período extraordinário, tendo pelo abuso pessoal do responsável,
o eminente Presidente da ARENA que traria, evidentemente, uma res-
-85

ponsabilidade pessoal para êle, atra- pressão "comoção intestina". Então,


vés da manifestação do Supremo nada haveria, neste particular, a al-
Tribunal. A outra é coisa diferente, terar ou a substituir no texto da
é a responsabilidade, vamos dizer, Constituição de 1946, que V. Ex.a
coletiva, conseqüente a uma situa- tem em mãos e que poderá ler, den-
ção de anormalidade na ordem pú- tro em pouco. Outra alteração -
blica que determinou a vinda do es- que pode ser de texto, mas não en-
tado de sítio. Então, neste caso de tendo que o seja- é a supressão do
crise, que não é apenas o abuso in- qualificativo de "externa" para
dividual, que é de crise política, de "guerra" que dá motivo ao estado de
crise social, funciona outro sistema sítio. A Constituição de 46 se refere
coercitivo, além das medidas previs- a guerra externa, como em outro
tas e enumeradas na Constituição, ponto se refere a guerra com país
o de outras medidas de que poderá estrangeiro, para mostrar exata-
lançar mão o Presidente da Repú- mente que se trata de uma guerra
blica para atender a situações de do Brasil com outro país, e não co-
extrema gravidade. mo está simplesmente no projeto, de
guerra, cujo sentido pode ser asso-
Isto, como disse, é uma inovação le- ciado, amanhã, até ao de guerra
vantada com referência à anterior. civil, ou a uma guerrilha dentro do
país. Outro ponto que me parece
Não há dúvida de que foi inovação, importantíssimo no parágrafo que
atenuada pela referência à lei. Ain- discrimina algumas das garantias
da ontem o Deputado Gustavo Ca- individuais, que podem ser suspen-
panema, conversando comigo, sali- sas pelo estado de sítio, é o relativo
entava a importância da inclusão à liberdade de reunião e associação.
dêste pequeno acréscimo "estabele-
cidas em lei".
Ora, duas são essas liberdades: uma
O Sr. Aloysio de Carvalho - "Con- é a liberdade de reunião, outra é a
cordo com V. Ex.a em que essas são liberdade de associação, desde que
as duas inovações do projeto, no em associações para fins lícitos. Mas,
capítulo de estado de sítio. V. Ex. a inadvertidamente ou propositada-
está fazendo uma dissertação bri- mente, o projeto suspende a liber-
lhante, fugindo embora dos porme- dade de reunião, mesmo dentro de
nores, e eu me animo a pedir a uma associação. O que se suspende
atenção de V. Ex.a para dois pontos é a liberdade de reunião, que tanto
dêste capítulo, que, não represen- pode ser realizada a céu aberto, nos
tando inovação, constituem altera- comícios geralmente falados, como
ções perigosas para a estabilidade em reuniões dentro de uma associa-
dali instituições e a garantia dos di- ção. Mas suspender a liberdade de
reitos civis, mesmo em período de associação, impedir que, durante o
estado de sítio. Preferiria, por exem- estado de sítio, alguns homens se
plo, que se tivesse conservado a ex- reúnam e resolvam fundar uma as-
pressão "comoção intestina". sociação livre, isso eu não compre-
endo."
O SR. AFONSO ARINOS - "De que
lancei mão, há pouco." O SR. AFONSO ARINOS - "O Sena-
dor Aloysio de Carvalho acaba de
O Sr. Aloysio de Carvalho - "Exata- tocar em alguns pontos do projeto
mente. V. Ex.a há pouco usou a ex- com grande precisão - e pontos, de
-86-

fato, muito significativos. Não me cional. A guera civil, inclusive, pode


demorei sôbre êles, a princípio, por- abranger todo o território nacional;
que, como S. Ex.a salientou muito a guerra civil é uma luta entre ir-
bem, estou sendo levado mais por mãos. A comoção intestina é uma
considerações de ordem geral a fim perturbação temporária da ordem
de não me prolongar demasiada- pública, que se pode restringir a de-
mente na tribuna. terminado ponto do território nacio-
nal. Daí o estado de sítio poder ser
O que S. Ex.a diz sôbre a expressão
decretado para aquêle ponto do ter-
"guerra externa" é absolutamente ritório nacional."
certo.
O art. 206 da Constituição de 46, diz: O SR. AFONSO ARINOS - "Conve-
nho plenamente com o que acaba de
"Art. 206 - O Congresso Nacional declarar o nobre Senador Aloysio de
poderá decretar o estado de sítio Carvalho.
nos casos:
Quanto à segunda parte, a que versa
I - de comoção intestina grave sôbre a liberdade de associação, é
ou de fatos que evidenciem exatamente aquilo que se amalgama
estar a mesma a irromper; no projeto.
11 - de guerra externa."
Na Constituição atual a liberdade de
O projeto atual retirou a expressão reunião e de associação são conside-
"externa" e tornou possível a de- radas em situações diferentes, e a
cretação do estado de sítio em casos dissolução de uma associação só po-
de guerra c ivil. derá ser feita por sentença judicial.
Não atribuí uma importância exage- Se não estou enganado, a palavra
rada ao fato porque o que houve foi "sentença" é a que consta da Cons-
uma espécie de tautologia, isto é, re- tituição de 46. Acho, aliás, sentença
petição do que foi dito anteriormen- judicial uma expressão um pouco
forte. Poderia haver uma decisão
te de forma diferente, ou seja, con-
judicial que não fôsse sentença.
siderou-se a comoção intestina co-
mo guerra civil. Fui relator, na Câmara dos Deputa-
dos, do projeto apresentado pelo
É um caso curioso porque é uma saudoso Deputado João Mangabeira,
ampliação concedida por uma su- regulando o direito de reunião. Fui
pressão. Suprimiu-se uma palavra e o seu relator. Nesse projeto estão
ampliou-se um conceito, mas êste previstos certos casos realmente
conceito ampliado está contido no convenientes e até necessários como
item 1, que é exatamente o da Cons- o da possibilidade de a autoridade
tituição de 46." pública fixar o local da reunião.
O Sr. Aloysio de Carvalho- "V. Ex.a Aceito. Esta parte poderla constar
há de convir que guerra civil é uma do texto constitucional. Mas a li-
comoção intestina muito mais grave berdade de associação deve ser tra-
na sua extensão, quer dizer grave zida para o seu terreno especifico.
no espaço e no tempo. Uma como-
ção intestina é uma perturbação da É assunto muito estudado o proble-
ordem que pode estar limitada a de- ma da liberdade de associação. Eu
terminado espaço do território na- me permito esta pequena digressão,
-87-

Sr. Presidente - o conteúdo destas bolo, a utilização de determinadas


expressões, em Direito Constitucio- prerrogativas.
nal, tem uma maturação muito len- Além disso, ao exigir, como disse
ta, estão conformadas por uma série
bem o Senador Aloysio de Carvalho,
de pensadores, de pesquisadores, de
essa inclusão, o General De Gaulle
legisladores, e não se podem utilizar, não se esqueceu de que a posse dês-
assim muito ligeiramente, desastra-
tes atributos correspondia ao exer-
damente, essas expressões, que são
cício de uma liderança popular in-
tradicionais, sem saber o que querem
discutível.
dizer. Então, um que não seja leigo,
pega o texto e o lê, percebe imedia- Então foi por isso que o Presidente
tamente a carência ou a intenção de da República francesa passou a ser
desvirtuar o conteúdo. A carência eleito diretamente pelo povo, por
de conhecimentos sôbre o instituto maioria absoluta. Quer dizer, só pode
ou a intenção de desvirtuá-lo. O Se- dispor dêsse tipo de poder um ho-
nador Aloysio de Carvalho colocou mem que o povo tenha consagrado
o problema perfeitamente. numa escolha indiscutível."
Sr. Presidente, essa disposição de- O Sr. Aloysio de Carvalho- "V. Ex.a
corre do art. 16, creio eu, da Cons- frisou perfeitamente a razão por que
tituição francesa atual, que atribui o General De Gaulle pediu, na Fran-
ao Presidente francês podêres de ça, uma eleição direta. Pediu ao po-
emergência em situações excepcio- vo, na totalidade dos que podiam
nais. votar, um julgamento da sua decisão
em relação à Constituição e sobre-
Em primeiro lugar, temos que partir tudo a essa disposição, muito menos
desta consideração inicial: êsse po- grave no seu texto na Constituição
der foi incluído na Constituição francesa do que no projeto brasi-
francesa em função da personali- leiro."
dade d General De Gaulle."
O SR. AFONSO ARINOS- "Sim, por-
O Sr. Aloysio de Carvalho - "Foi êle que na Constituição francesa existe
quem pediu." o seguinte: a utilização dêsses podê-
res depende da ruptura, quer dizer,
O SR. AFONSO ARINOS - "Sim, foi se não estou enganado, a Constitui-
êle quem pediu. ção francesa diz: "Quand le pouvoir
se trouve interrompo" - quando os
O General De Gaulle não é perso- podêres estejam interrompidos, que
nalidade que se encontre à venda não estejam funcionando mesmo.
por atacado. ]j: uma personalidade não exista possibilidade de funcio-
que manifesta raramente em cada namento do Poder Legislativo - o
século, é uma das figuras pinacula- Judiciário lá não é muito importan-
res do seu tempo. A sua vida, a sua te, não é poder político - mas o Le-
atuação no destino do seu povo, o gislativo e o Executivo estejam com
significado da sua presença gigan- seus podêres interrompidos."
tesca, militar e civil, condicionaram,
O Sr. Aloysio de Carvalho - "E isso
em grande parte, a possibilidade de
em circunstâncias excepcionalís-
transferência para êsse árbitro, para simas."
essa figura tutelar, para essa espé-
cie de homem que já não é mais O SR. AFONSO ARINOS - "Em cir-
propriamente um ser, mas um sim- cunstâncias excepcionais.
-88

E aqui diz o Projeto de Constituição: Hoje, como conseqüência de sua vi-


"A fim de preservar a integridade sita ao México, fêz empréstimo de
e a independência do País, o livre 150 milhões de dólares para estabe-
funcionamento dos podêres e a lecer a petroquímica no México, sem
prática das instituições, quando exigir condição alguma. E volta-se
gravemente ameaçados por fatôres para a América do Sul e para a Amé-
de subversão ou corrupção, o Pre- rica Latina procurando auxiilar nos-
sidente da República, ouvido o so desenvolvimento. É a França de
Conselho de Segurança Nacional, hoje."
poderá tomar outras medidas es- O SR. AFONSO ARINOS - "Muito
tabelecidas em lei." grato ao nobre Senador José Ermírio.
São situações muito graves, reconhe- Sr. Presidente, dizia eu, êsses po-
ço. Estas situações previstas no ar- dêres de emergência são necessários
tigo são muito graves, mas não da ao Estado moderno, muitas vêzes são
gravidade das situações previstas no necessários, mas nem sempre estão
texto francês. ligados ao problema da ordem.
Em segundo lugar, o texto francês A minha reserva, a minha restrição
foi feito sob a medida da farda do é a idéia de que se inseriu, no Ca-
General De Gaulle. É uma farda que pítulo da Concessão do poder de
nem todo mundo pode usar, porque emergência ao Executivo, uma fa-
pode ficar muito grande nas man- culdade a mais, para conter a desor-
gas, nas calças ... " dem - a desordem material, a de-
O Sr. Pedro Ludovico- "Aliás, o Ge- sordem política, a preocupação com
neral De Gaulle não é grande so- a subversão.
mente na altura: conversando com Ora, o que o Direito Constitucional
êle, uma pessoa perguntou: Como ensina é que êsses podêres de emer-
vai a França? Em outros têrmos, re- gência são muitas vêzes podêres de
petiu êle a frase de Luiz XIV, "L'etat outra natureza, que nada têm a ver
c'est moi", ao responder: "Je suis la com a desordem. Um poder de emer-
France". gência poderia funcionar há um ano,
O SR. AFONSO ARINOS - "Quando na ocasião em que no meu Estado,
da visita que fêz ao Congresso, e eu no Estado que tenho a honra de re-
tive a honra de falar em nome do presentar, a Guanabara, ocorreu
Senado Federal, uma das coisas que aquela espécie de ira atmosférica que
lembrei ao General é que êle tinha o inundou e que trouxe terrível con-
dito "Eu assumo a França". E di- seqüência para a população pobre
zia isso fora da França. Como podia da cidade. Numa invasão, numa epi-
dizer "Eu assumo a França", estan- demia, em suma - não posso pre-
do na Inglaterra? ver - os podêres de emergência po-
dem ser utilizados, serem circuns-
Era um homem que estava tão se- tanciais, sem relação direta com a
guro de seu destino, que dizia as- ordem.
sumir o seu País como alguém as-
sume um cargo de datilógrafo." Nesse sentido, muitas Constituições
modernas tiram a figura dos podê-
O Sr. José Ermírio - "O General De res de emergência do Executivo. Da-
Gaulle tem feito coisas extraordi- rei um exemplo: na Constituição que
nárias. A França tinha omitido a já citamos tantas vêzes - a Cons-
América Latina quase inteiramente. tituição alemã de Bonn, a Consti-
-89

tuição da Alemanha Ocidental -, Na Alemanha existe o caso de emer-


existe um tipo de poder de emergên- gência parlamentar. E a transferên-
cia muito interessante de que lança cia do assunto da Câmara para o
mão o Executivo - e lá o Executi- Senado não tem nada que ver com
vo é o Parlamento, é o Chanceler do o problema da ordem.
Reich - que é o poder de emergên- Aqui no projeto ficou consignado
cia parlamentar.
restrito exclusivamente ao problema
Como sabe o Senado, a Constituição da ordem. Não podemos fazer mais
da Câmara dos Deputados no Reich nada, assim já foi feito e é impossí-
alemão não é bipartidária. Há vá- vel mudar.
rios partidos. Em certas circunstân- Se eu tivesse podido participar de
cias as posições tomadas por êsses qualquer influência na redação, tra-
partidos podem ser de tal maneira ria o problema da emergência do
acentuadas, aprofundadas, que tor- Executivo para seus devidos têrmos,
nem impossível a legislação solicita- que não estão sempre ligados a ques-
da pelo Govêrno, porque - e isso tão de ordem pública.
seria outro problema que teríamos
de admitir - a legislação hoje é Apenas considero que esta matéria
quase tôda solicitada pelo Executi- é inovação, como acentuou o nobre
vo. Esta é a verdade tanto no re- Senador Aloysio de Carvalho, e ela
gime presidencial como parlamentar. foi atenuada com referência às me-
didas estabelecidas em lei. Poderia
Quando se estabelece a paralisia do sugerir, se me fôr permitido, enfim,
funcionamento da Câmara em vir- que esta lei seja de tipo especial.
tude de conflitos interpartidários e Então, acrescentar-se-ia a expressão
da impossibilidade da Câmara de- "complementar".
liberar, então o Chanceler do Reich
estabelece o que êle chama emer- O Sr. Jefferson de Aguiar - "Pela
gência legislativa: êle retira o as- própria natureza ela o será."
sunto do conhecimento da Câmara O SR. AFONSO ARINOS - "O Se-
e transfere para o Senado. nador Jefferson de Aguiar acaba de
dizer uma coisa muito exata."
O Senado alemão é muito parecido
com esta Casa, que vejo funcionar O Sr. Aloysio de Carvalho - "Eu me
com esta generosidade para com o permito discordar da idéia de que
orador, esta possibilidade de enten- poderia ser uma lei complementar,
dimento, esta fôrça de composição. porque uma lei complementar é fei-
ta para uma duração mais longa,
Então transfere-se a deliberação d't estabelecendo medidas que podem
matéria que ficou paralisada pela ser previstas com uma certa exten-
divisão da Casa jovem, ebuliente, ca- são. Parece-me que aí "estabeleci-
lorosa - como é a nossa Câmara - das em lei" fica uma disposição mais
para a atmosfera serena do Senado. flexível, portanto, permitindo me-
Vemos a discussão da emenda cons- lhor que se atenda a determinadas
titucional da Câmara e vemos como circunstâncias que podem ser cir-
é no Senado. O que foi a sessão de cunstâncias simplesmente ocasio-
ontem, anteontem, com grandes ar- nais. Não sei se me fiz compreen-
roubos oratórics, grandes violências der."
de atitudes - e como ela se proces- O SR. AFONSO ARINOS- "Perfei-
sa no Senado. tamente."
-90
O Sr. Aloysio de Carvalho - "Quer eu também já me estou sentindo,
dizer, uma lei complementar teria com a ocupação da tribuna tantas
um esquema de providências que vêzes seguidas, um pouco consciente
acabariam intocáveis. E, talvez, de de que não estou mais nos meus
acôrdo com a aplicação na evolução tempos de liderança na Câmara. Lá
do estado de sítio, estas providências se vão tantos anos! Mais de doze
se tornassem muito rígidas, delas po- anos! Então eu podia permanecer
dendo lançar mão o Chefe da Nação. um dia na tribuna. Hoje, receio que
um dia na tribuna me custe meio
Ao passo que uma lei ordinária, que dia de cama, pelo cansaço em que
pode ser modificada a qualquer mo- costumo ficar, depois que dela me
mento, uma lei feita exclusivamen- aparto.
te para a hipótese do estado de sítio
emergente, ou em execução, talvez Portanto, quero concluir não êste
fôsse melhor, para melhor garantir discurso, mas êstes discursos. E que-
os direitos individuais." ro concluir fazendo um apêlo final,
fazendo uma admoestação, manifes-
O SR. AFONSO ARINOS - "Com- tando uma esperança, levantando
preendo a posição de V. Ex. a, mas uma bandeira. Sei que esta esperan-
me permito divergir dela. Acho que ça, no momento, é irrisória. Sei que
a lei feita mais fàcilmente no calor êste apêlo não encontrará recepti-
dos acontecimentos pode também vidade. Sei que esta bandeira se le-
ser feita para atender a certas emo- vanta fora do tempo; mas eu aqui
ções políticas, determinadas pelos a deixo, eu aqui a planto, neste ter-
acontecimentos que venham a exi- reno que é o Senado Federal, neste
gir o agravamento de medidas em terreno que tem tôdas as condições
função daqueles casos, o que talvez para guardar, para fazer com que
não fôsse necessário. Então a lei esta bandeira ou com que o mastro
poderia fazer da providência aquilo desta bandeira possa depois se trans-
que o fogo faz com o metal. Pode- formar em uma árvore que venha a
ria amolecer o metal, mas também frutificar para o futuro. O meu
queimar. O metal quente também apêlo é para que o Senado tome co-
queima. nhecimento da emenda para insti-
Tenho a impressão de que uma lei tuição de govêrno parlamentar, s
feita ao sabor e sob a imediata in- que tive a honra de apresentar aos
fluência da crise poderia criar um funcionários da Mesa.
tipo de medida mais grave do que A medida que me aproximo do fim
aquela que tivesse transitado em do meu mandato, vou-me conven-
tempo de paz, pelo Congresso, atra- cendo, sinceramente, sem qualquer
vés de lei especial. preocupação teórica, sem nenhumn.
Mas nós dois temos razão e só a idéia de influir, que esta é a solução
História, afinal, poderá vir a dizer para o Brasil.
qual de nós dois tem mais razão do
que o outro. Vou concluir, Sr. Pre- O problema do Brasil, neste momen-
sidente, não apenas êste discurso, to, se manifesta de maneira fulgu-
mas esta série de discursos. rante, de maneira ofuscante. O pro-
blema do Brasil é a transferência
Confesso ao Senado que, além d;:> legal do poder político. Jl:ste do-
respeito e do receio que tenho de cumento, que temos em mãos, esta
cansar, de fatigar os Srs. Senadores, tentativa de reforma não resolveu
- 91

êsse problema. Ela omitiu êsse pro- brasileiro é a solução para a trans-
blema, ela evitou êsse problema, ela ferência do poder, a fim de que ela
girou em tôrno dêsse problema atra- se faça legítima e pacificamente.
vés da eleição indireta, mas ela gi-
rou em tôrno dêsse problema esta- Quando o poder se transfere peh
belecendo uma solução contraditó- fôrça das armas e pela eleição indi-
ria: como disse num dos discursos reta, a transferência pode dar-se
aqui proferidos, ela aumentou, enor- com aparência de transferência pa-
memente, as atribuições do poder cífica, mas não legítima; e quando
Executivo mas retirou-lhe a lideran- o poder se transfere por eleição, a
ça popular, retirou-lhe a legitimi- transferência é legítima, porém, ho-
dade autêntica, ela lhe retirou a fôr- je, no sistema presidencial, já não
ça histórica que vem do reconheci- se transfere pacificamente. Porque
mento do povo nos regimes demo- hoje a eleição se transformou num
cráticos. Então, Sr. Presidente, não cataclismo, num terremoto, numa
resolveu o problema, o grande pro- inundação emotiva que faz com que
blema brasileiro que é o da transfe- os candidatos, para serem eleitos, te-
rência periódica do poder político. nham que se transformar em chefes
de uma espécie de subversão nacio-
Aliás, êsse é o problema que tem nal, prometendo o que não podem
tornado difíceis as vidas de muitos fazer, aliciando todo tipo de apoio,
grandes países. Grandes países têm transformando-se ou reduzindo-se a
vivido êste drama. Assim o Império uma espécie de porta-vozes de uma
Romano, na sua decadência, nas suas catástrofe, de um cataclismo de es-
convulsões, em suas desordens tão peranças inatingíveis.
bem descritas no estilo pomposo e
estupendo de Gibbon no famoso li- Esta é a situação do Brasil: ou o
vro "A Decadência do Império Ro- poder legítimo do presidente traz o
mano"- vemos que o problema cen- terremoto, ou o poder do Govêrno
tral do Império Romano era o da oligárquico traz a Ditadura nas fon-
inexistência de solução para a trans- tes do poder. Ditadura eventual, com
ferência do poder. Talvez eu esteja a sufocação do povo, com a ausênci!l.
primàriamente esquematizando de- do povo.
mais um grande drama do mundo,
mas nesse livro aparece aos olhos Então, Sr. Presidente, não vou fa-
dos leitores a impossibilidade de se lar aqui sôbre as qualidades do sis-
encontrar uma solução legal e con- tema parlamentar. Venho dizer que
suetudinária para a transferência do o que se diz sôbre o sistema parla-
poder supremo. Em outros países mentar de govêrno é prova do pre-
que se situam na órbita dos grandes conceito ou da falta de conhecimen-
impérios modernos, como a União to. Não é Govêrno fraco; não é Go-
Soviética, por exemplo, a transfe- vêrno que abandona os interêsses da
rência do poder é, sempre, o proble- defesa nacional; não é Govêrno que
ma central que gera as grandes cri- se apresenta contra os interêsses da
ses. Iremos assistir, talvez, a uma Federação.
grande crise histórica, quando o pro- Eu considero perfeitamente inútil
i:>lema se colocar na China de hoje. voltar a repisar ainda, a insistir sô-
Então, Sr. Presidente, a solução que bre êsse assunto, mas deixo aqui a
as mentalidades jurídicas e políticas minha emenda que institui o Govêr-
do País devem encontrar para o caso no parlamentar no Brasil, e que pro-
-92

curei fazer da maneira mais flexível, as demonstrações mais impressivas


caracterizada em dois artigos. No do desencanto aos têrmos do ante-
primeiro, institui-se o Govêrno par- projeto da nova Constituição políti-
lamentar; no segundo, faz-se com ca que o Govêrno enviou ao Con-
que o Congresso que se inaugura no gresso Nacional.
próximo ano, na 6.a Legislatura,
componha êsse Govêrno parlamen- Vários e os mais contundentes têm
tar votando, em leis complementares sido êsses pronunciamentos e o Con-
orgânicas, aquelas condições neces- gresso não poderá fazer ouvidos
sárias ao seu funcionamento, a de- moucos à grita cívica que se armou
finição dos podêres, a inter-relação nas mais ilustres cátedras, nas ban-
entre os podêres e as demais con- cas dos eminentes jurisconsultos e,
dições básicas do funcionamento de com a rapidez de um raio, empolgou
um regime. Isto pode ser feito. A tôda a consciência jurídica da Na-
instituição do Govêrno far-se-á por ção.
emenda constitucional, mas o afei- Os desacertos pontificam em todos
çoamento, a construção do Govêrno os capítulos da pretendida Carta, na
far-se-á por leis complementares. qual por previsão ou por omissão,
se desenhou o perfil de um país
Isto foi o que fêz a Revolução Fran-
alienado sob o impulso negativo do
cesa em 1875.
retrocesso.
A Constituição Francesa de 1875 não A Carta Constitucional, nos têrmos
era senão a soma de três leis com- em que foi proposta, deixou de guar-
plementares votadas, em épocas di- dar o traço marcante de uma pátria
versas, pela Assembléia Nacional. soberana para se configurar em es-
Tecnicamente, historicamente, isto é pelho nítido de um regimento inter-
possível de ser feito. no de uma "terra de ninguém".

E é com estas palavras, Sr. Presiden- A história dos povos civilizados vê


te, que me despeço da tribuna do na reforma política orgânica uma
Senado, fazendo aos meus compa- motivação para o desgarramento da
nheiros, parlamentaristas e presi- rotina, para a estruturação da so-
dencialistas, um apêlo para que pro- berania e para o deslanchamento no
cedam a um exame de consciência estuário da emancipação econômica.
e procurem, na próxima legislatura, Neste documento, no entanto, en-
a possibilidade da instalação do tregue ao estudo responsável do
Govêrno Parlamentar neste País, Congresso Nacional, divisa-se tão-
para honra de nossa vida pública, somente uma pretensão retrógada
para a paz da nossa vida social P. de fazer com que o nosso País seja
para o engrandecimento da nossa um padrasto, de ímpeto totalitário,
nacionalidade." para com os próprios filhos, e o doa-
Na sessão de 20 de dezembro de 1966. dor gracioso e benemerente para com
o Senador JOSÉ ERMtRIO CMDB - os interêsses alienígenas.
Pernambuco) (24) pronuncia o seguinte Falo a Vossas Excelências, Senhores
discurso: Senadores, sôbre o capítulo consti-
tucional que se refere à defesa mi-
- "Senhor Presidente, Senhores Se-
neral do País, guarnecida inteira-
nadores, conhecem-se, partidas de
todos os setores da opinião pública, (24) D.C.N. (Seçl!.o li) de 21-12-66 - pág. 6.489
-93

mente por uma vocabulação lírica e No entanto, tôdas as emprêsas me-


vazia que está longe, muito longe, xicanas s ã o super-nacionalizadas
de representar garantia para o in- uma vez que lá se exige o mínimo
terêsse nacional. de 51% de capital nacional, para
existéncia de qualquer delas.
Ao título próprio, ofereci várias
emendas que serão consideradas a E o Brasil?"
seu tempo e o fiz convencido de que
O Sr. Attílio Fontana - "V. Ex.a dá
o escrúpulo revisionista desta Casa
licença para um aparte?"
há de pontificar em todos os trâmi-
tes da proposta, opondo as altera- O SR. JOSÉ ERMíRIO - Com mui-
ções ditadas pelo interêsse do País. to prazer.
Para que se tenha uma idéia da au- O Sr. Attílio Fontana - "Nobre Se-
sência completa de conscientização nador, na realidade, em lugar de in-
política e do bolor que tresanda do vestimentos estrangeiros, deveríamos
documento, enviado a esta Casa, se- usar os investimentos nacionais.
rá útil estabeleçamos um estudo Mas V. Ex.a, como industrial, pode
comparativo com os outros países, avaliar muito bem a situação dos
que souberam reagir sob o suporte
industriais brasileiros e das emprê-
de suas próprias riquezas.
sas privadas brasileiras, e concluir
Repito, com prazer, o esplêndido que no Brasil, infelizmente, empo-
exemplo do México, onde a seguran- brecidos como estamos, não temos
ça nacional se faz ao compasso da condições para aumentar os nossos
própria emancipação, o que veio res- capitais. E a causa é a inflação que
tituir a plenitude de tôda a grande- descapitaliza as emprêsas privadas.
za de um "México para os mexica- Portanto, não havendo capitais na-
nos". cionais e havendo grande necessi-
O México é hoje um país respeitado, dade de desenvolver vários setores
procurado pelos povos de todo o da nossa atividade, temos que recor-
mundo, centro exemplar do inter- rer, forçosamente, a capitais estran-
câmbio com as grandes potências, geiros de investimento e financia-
visitado e cercado pelos maiores es- mento. É o que o Govêrno está fa-
tadistas do mundo. O próprio pre- zendo. No momento em que possa-
sidente dos Estados Unidos da Amé- mos ter capital próprio, seguiremos
rica visitou a nação mexicana 3 vê- o exemplo do México, a que V. Ex.a
zes, durante o ano presente. se refere ou o da Europa, onde a
Alemanha vem comprando os patri-
Nós outros, assinamos o "Acôrdo de mônios dos industriais americanos.
Garantias de Washington" no qual Mas no momento, V. Ex.a sabe mui-
tudo se garantiu aos outros e a nós to bem o que se passa no Brasil. .. "
nada mais se garantiu do que o di-
reito a continuarmos a triste expec- O SR. JOSÉ ERMíRIO - "É que
tativa de um desenvolvimento pro- V. Ex.a não observa como o capital
metido. O México, de sua parte, fêz estrangeiro entra no nosso País. Eu
no ano passado investimentos na vou ler, mais adiante, o que acon-
ordem de 3 bilhões de dólares e, êste teceu com a indústria dos fertilizan-
ano, atingirão 3 bilhões e 600 milhões tes. Se um barril de petróleo ou um
de dólares, dos quais 53,6% foi feito metro cúbico de gás, é vendido com
pelas emprêsas privadas. o combustível, o mesmo transforma-
- 94

do na petroquimica, dá sete a dez Ainda há outro exemplo de fazer


vêzes mais do valor do que utilizan- corar um "frade de pedra": na com-
do o combustível da Petrobrás. posição da Companhia de Fertilizan-
Daí porque êles vêm para cá. Mais tes Ultrafértil a Philips Petroleum
adiante mostrarei a V. Ex.a e acre- participa com 60% do capital, a In-
dito que concordará comigo. Caso ternacional Financiai Corporation
contrário, concederei nôvo aparte a com 10% e a Ultragás com 30%.
V. Ex.a Tudo foi feito e celebrado com uma
O México não quer empréstimos a garantia de 44 milhões de dólares
não ser de Govêrno para Govêrno. dada pelo Ministro da Fazenda que,
para tanto, viajou até Washington.
Aqui nós fazemos o contrário. Os
investimentos são feitos no País por E, o mais grave, Senhores Senado-
firmas particulares." res, é que a Resolução n. 0 2-66, de
O Sr. Attílio Fontana- "V. Ex.a ci- 13 de janeiro de 1966, do Geiquim,
que dispõe sôbre a concorrência, ha-
tou os investimentos feitos no Mé-
via determinado, no item I do Edi-
xico, dos quais 53% são de capital
tal, que os concorrentes não pode-
nacional."
riam solicitar aval ou financiamen-
O SR. JOSÉ ERMtRIO - "E o resto to governamental.
é do Govêrno Federal."
Tal dispositivo tirou do páreo todos
O Sr. Attílio Fontana - "Nós não os interessados, notadamente dois:
podemos ter investimentos nessa a FERTICAP e QUIMPETROLL que,
proporção, nobre Senador." se tivessem a certeza da obtenção
O SR. JOSÉ ERMtRIO - "Um país do aval do Govêrno Brasileiro, não
forte faz como o México. Com tôda se desinteressariam, jamais, pelo ne-
essa doação que estamos fazendo o gócio. Ora, se havia empenho fun-
nosso País retrocedeu a uma políti- damental, se o Govêrno deveria fi-
ca donatária de capitanias e, no ano nanciar, se o Govêrno teria de arcar
de 1965, os investimentos nacionais com a solidariedade de um aval, por
foram nulos e os estrangeiros al- que não foi beneficiária a Petrobrás,
cançaram a ordem ínfima de 6,5 mi- que é nossa?
lhões de dólares. Se temos de dar garantias, que se-
Por tudo isso se deduz que os inves- jam dadas ao que é nosso, à Petro-
timentos estrangeiros só são feitos brás, que é uma emprêsa de alto pa-
quando há grande vantagem para drão de desenvolvimento e de admi-
êles. Isto para nós não serve. Vou nistração. Como vemos, até a Petro-
dizer, mais adiante, o que aconteceu brás foi esbulhada.
com os fertilizantes. Ademais, há outro fato especialmen-
Ao lado disso, estarreçam-se os Se- te grave: a ULTRAFÉRTIL aceitou
nhores Senadores, os financiamen- in totum as bases iniciais da Reso-
tos atingiram a uma soma recorde lução do GEIQUIM, assim resumi-
desde 1959, pois estão na ordem de das:
316 milhões e 300 mil dólares. Isto
1.0 ) as emprêsas deveriam ter maio-
devido às célebres Instruções 289 e
ria de capital brasileiro.
276, sendo que a última substituiu
a celebérrima 113, revogada por fôr- (Já não têm. Possuem apenas
ça do próprio mal que fêz .ao País. trinta por cento.)
-95

2. 0 ) As emprêsas se comprometiam nacionais e o Govêrno ainda man-


a vender os seus produtos a pre- dou o Ministro da Fazenda a Was-
ços não superiores ao custo CIF hington dar um a vai de 44 milhões
de similares importados não para uma emprêsa dessas."
tendo sido computados nestes
qualquer proteção aduaneira. O Sr. Aurélio Vianna - "Tenho a
impressão de que a questão foi mui-
3.0 ) As emprêsas se comprometiam a to mal posta, data venia, pelo Sena-
suprir de matérias-primas os dor Attílio Fontana. A tese funda-
demais fabricantes de modo a mental é esta: a Petrobrás vem dan-
assegurar-lhes condições efeti- do resultados positivos ou negativos
vas para a participação do mer- aos interêsses nacionais? Essa é a
cado." tese fundamental. A VASP, que é
uma emprêsa estatal, vem servindo
O Sr. Attílio Fontana - "O motivo bem ou não ao Estado de São Paulo?
de minhas constantes intervenções
é o desejo de debater o problema e Recebi um relatório em que a dire-
deixá-lo da forma mais esclarecida ção da Companhia Siderúrgica Na-
possível, e mesmo para chegar-se a cional, defendendo-se, demonstra,
uma conclusão. V. Ex.a citou, há positivamente os resultados notáveis
pouco, que devia ser favorecida a que ela trouxe a economia nacional.
Petrobrás em lugar de se dar o aval
Quer dizer que essa questão de maior
a firmas estrangeiras."
ou menor número de empregados é
O SR. JOSÉ ERMíRIO - "Deve-se uma questão muito interessante pa-
dar a uma emprêsa nossa e não a ra ser analisada, porque é de infra-
uma de fora. Se são capitalistas de estrutura. Quer dizer, num país em
fora por que o aval nosso?" desenvolvimento, seus melhores téc-
nicos vão procurar melhores lugares
O Sr. Attílio F{)ntana- "V. Ex. a deve e, inclusive, há aquêles que procuram
ter ouvido o discurso em que o no- Não defendo o empreguismo. Não
bre Senador Afonso Arinos citou que defendo a tese de que uma em-
a Refinaria Duque de C a x i a s prêsa que precisa de quinhentos em-
poderia funcionar com quinhentos pregados deva ter cem mil. Mas é
funcionários e está com mil e oito- através dêsse argumento que se vem
centos. v. Ex.a sabe muito bem que procurando desmoralizar a Petrobrás
tôdas as emprêsas estatais são dis- - e esta vem dando bom resulta-
pendiosas, não são econômicas no dos ao País."
seu funcionamento. De sorte que
concordo em que êsse aval devia ser O SR. JOSÉ ERMíRIO - "A Petro-
dado a emprêsas nacionais mas não brás vem tendo tal desenvolvimento
a emprêsas estatais, porque estas que êste ano atingirá à produção de
são dispendiosas, administram mal 150 mil barris diários, o que é extra-
e tudo que elas fazem custa mais ordinário. Houve um aumento de
caro." 100 mil barrís êste ano, e que é um
grande trabalho dêste Govêrno, va-
O SR. JOSÉ ERMíRIO - "V. Ex.a mos reconhecer.
viu que, apesar da ULTRAFÉRTIL
Indiscutivelmente Volta Redonda é
ter preenchido os requisitos da le-
outra emprêsa que honra o Brasil.
gislação em vigor, poucos meses de-
pois mudou pelo avesso: passou a O General Presidente da Companhia
ser 70% de estrangeiros e 30% de mandou-me um relatório igual ao
- 96

que enviou a V. Ex.a., sôbre os deba- para os mexicanos e 34% para os


tes travados aqui no Senado. lt um norte-americanos pois, no caso, não
homem que sabe o que vale Volta lhes conviria uma maioria de ape-
Redonda. Portanto, não vamos ven- nas 51%.
der essas ações no exterior, como
E, não é sàmente o México que co-
aliás queriam fazer e disso dei ciên-
loca em têrmos de altiva indepen-
cia ao Govêrno.
dência os problemas pertinentes à
Agora peço que o nobre Senador sua emancipação econômica.
Attílio Fontana ouça o que vou
dizer: Também o Chile tem dado demons-
tração inequívoca de patriotismo
Com o transcorrer do tempo, toda- com que defende o patrimônio polí-
via - ninguém sabe como, nem por- tico e mineral de seu povo. Ainda
que - fragmentou-se a resolução agora, o Presidente Eduardo Frei ce-
governamental, diante do monopólio lebrou, em cerimônia solene em Ran-
pretendido, tendo sido revistos todos cágua, a compra da maioria das
os critérios anteriormente adotados. ações da Braden Coper Company
Inicialmente, tolerou a alteração da que passou inteiramente ao contrô-
condição da maioria de capital na- le do Govêrno daquele país.
cional - que era condição sine qua A BRADEN, anteriormente, contro-
non para a vitória da concorrência lava a seu talante as minas de El
- quando oferecida nos projetos. Teniente, cujas reservas atingem a
Em segundo lugar, concordou em 1 bilhão e 700 milhões de toneladas
oferecer garantia governamental pa- de minério de cobre.
ra financiamento do Exterior para Ao lado de tantas informações há
o único projeto de fabricação de outras tão espantosas que já se
amônia, embora a negativa dessa transformaram em rotina, não ten-
garantia houvesse, anteriormente, do nem mesmo fôrças para sensibi-
afastado outros componentes da lizar o comportamento alienista do
concorrência. Govêrno. Vejamos, por exemplo a
Em terceiro lugar, deixou de exigir informação dada pelo GSA - Go-
obrigação, para venda dos produtos vernment Services Agency - enti-
dos fertilizantes, em preços não su- dade do Govêrno americano que
periores ao custo dos similares im- exerce o contrôle da política mine-
portados, não computando, nesse ral, que afirma o oferecimento de
preço, qualquer proteção aduaneira; 18.235 toneladas de Baddelyte, em
e, finalmente, em último lugar, dei- cuja composição entra o zircônio,
xou de regular a necessária segu- assim como 0,05% de U3-08 de ori-
rança da quota, pelo preço de com- gem brasileira, conforme especifica-
pra, para propiciar condições ãc do na concorrência de venda. O ne-
concorrência no mercado. gócio será efetivado hoje, dia 20 de
dezembro.
E, enquanto as dotações se sucedem
E, sabem os Senhores Senadores, e
neste dadivoso solo brasileiro, o Mé- tôda a Nação também o sabe, mas
xico, através do Presidente Ordaz,
não sabe só o Govêrno, que está
encampa a Azufera Pan-Americana
proibida a exportação de urânio.
Sociedade Anônima, subsidiária da
Pan American Sulfur Corporation, Como, com que passe de mágica, a
de Houston, Texas, à base de 66% nossa riqueza mineral de exportação
- 97

proibida se transfere para o patri- E, quando se verifica uma exceção,


mônio de outro Govêrno e é com o como a tantalita, de que há falta e
maior desplante oferecido ao mer- que o "GSA" não pode aviltar o
cado internacional, sem sequer o preço por falta de estoque, surge
pejo de encobrir a sua procedência? para os aproveitadores internacio-
nais uma terceira e dócil solução:
Tenho aqui a revista Market que o contrabando.
publica exatamente isso. ~sse fato
é muito lamentável porque a expor- Ainda agora, o episódio de Três Ma-
tação de urânio é proibida. O que rias constituiu mais um fato que
verificamos é que o próprio Govêrno deixa à mostra as dimensões terrí-
americano vende o urânio brasilei- veis de uma luta entre a impostura
ro! Está aqui nesta publicação, livre contra um país sem fiscaliza-
Market, de 21 de novembro. ção. Há o empenho, uma obsessão
mesmo, em desvalorizar o que é
Como é que êsse minério, cuja ex- nosso. O Brasil, que já vendeu o seu
portação é proibida, sai do Brasil? minério de ferro a 18 dólares a to-
Ninguém sabe. nelada, hoje o está doando a 7,40
A publicação Metal and Mineral dólares a tonelada. E, enquanto a
Markets, de 21 de novembro, está matéria-prima deixa os nossos por-
propagando que o mesmo "GSA" ar- tos a preços cada vez mais avilta-
rasa com o comércio do manganês, dos, o equipamento que ela vai ge-
vendendo abaixo do preço do mer- rar no Exterior retoma à pauta de
cado. importação a preços cada vez mais
caros.
Assim sendo, a Unlon Carbide, apro-
veitando dêsse "distress price", já O enxôfre é outro exemplo: é mer-
conseguiu adquirir a 57,5 centavos cadoria que não temos e o Sr. Mi-
por dez quilos, quando o preço do nistro das Minas e Energia afirmou
mercado era de 80. Bem como, a que iria explorar em Santa Catari-
Lavino, por seu turno, conseguiu na, mas não o fêz até agora. Nós
comprar na índia manganês a 14 dó- vendemos barato e compramos caro."
lares a tonelada, minério que era O Sr. Attílio Fontana - "Nobre Se-
vendido a 27 dólares a tonelada. nador, todos nós devemos convir que
E, como decorrência disto, vai lan- os preços não são apenas para o
çar no mercado 300. 000 toneladas de Brasil, são preços internacionais.
manganês ao ano com o objetivo de São os mesmos para a Rússia e ou-
aviltar o preço do minério. tros países grandes produtores. Para
Aliás, Sr. Presidente, já fizeram o acumular divisas, devemos vender
mesmo com o minério de ferro, que, mais em conta no mercado interna-
cotado a 18 dólares a tonelada, hoje cional."
está a 7,40 dólares. O SR. JOSÉ ERMtRIO - "A Rússia
O mesmo ocorre com o mercúrio e passou a exportar petróleo e é a ra-
o estanho. zão por que o petróleo baixou de
preço no Brasil. Mas, o enxôfre, não.
Pobre da Bolívia! Já estão baixando
a cotação internacional do estanho, O que eu digo é o seguinte: não se
aviltando-lhe o preço e, assim, pro- compreende que os Estados Unidos,
vocam a diminuição da renda de país que se diz nosso maior amigo,
divisas daquele país amigo. tenha enxôfre para o seu consumi-
- 98

dor a 28,50 dólares e para nós a envia aos outros um retrato em tra-
38,88. E mais: pôsto lá, excluído o jes de luxo, aqui permanece famin-
frete. to e maltrapilho, roendo sua condi-
ção de superdesenvolvido.
O enxôfre, também exemplo edifi-
cante, é vendido dentro dos Estados Enquanto deixamos lá fora reservas
Unidos a 28,50 dólares a tonelada correspondentes a nove meses, o
e, para atender ao interêsse ameri- Japão e a Suécia, países ricos e sem
cano, nos é vendido a 38,88 dólares, problemas, mantém reservas apenas
mais de dez dólares acima. para três meses."
Atentem bem, Srs. Senadores, para O Sr. Attílio Fontana - "Realmente,
as informações que presto a esta concordamos em que V. Exa esteja
Casa, tôdas elas retiradas de publi- bem informado. Acumular divisas
cações norte-americanas que recebo no estrangeiro não é de boa orien-
diàriamente e acompanho, não sen- tação."
do, portanto, produto de uma ma-
quinação malévola, urdida com a fi- O SR. JOSÉ ERMtRIO - "Até um
nalidade de criar incompatibilidade certo limite, o da nossa segurança,
entre grupos econômicos ou entre mais nada."
governos.
O Sr. Attílio Fontana - "O fato é
Jamais faria isso. Admiro os Esta- que, antes da Revolução, como esta-
dos Unidos como país de grande va o Brasil? V. Ex. a sabe. Não tinha
projeção; nós é que não sabemos nos mais crédito, estava em condições
colocar em posição de defesa de de pedir moratória, sem disponibi-
nossos in terêsses. lidade alguma. Hoje, Inverteu-se a
Estamos efetivamente sem reação de situação. O Brasil desfruta de cré-
defesa pois, ou as autoridades lêem dito pràticamente amplo, tem divi-
as reações do mercado ou, o que será sas disponíveis, o valor da nossa
mais grave, se acumpliciam com esta moeda há mais de um ano está es-
cruzada de saque que, dia a dia, pin- tabilizada. Conseqüentemente, pode-
ta a negra face de nosso empobre- mos ter segurança em nossos negó-
cimento. cios, em nossas operações cambiais,
o que não acontecia antes na condi-
É mister, pois, que haja uma reação ção caótica em que a Revolução en-
dos responsáveis pela feitura das leis controu o Brasil. V. Ex.a sabe muito
e, num certo objetivo, unirmo-nos bem disso, nós sabemos quanto já
todos para que, com aquêle mesmo tem conseguido o Govêrno brasilei-
afã com que defendemos o nosso ro para financiamentos de indústria
chão, batalhemos em defesa do que básica da infraestrutura, como a da
debaixo dêle existe. energia elétrica, de estradas, proces-
É necessário, portanto, que abando- sos vários que conseguimos ativar
nemos essa amarga vocação para a graças ao crédito que o Govêrno
pobreza, assim como a falsa osten- conseguiu no estrangeiro. De sorte
tação que faz com que o Govêrno que é boa medida. V. Ex. a critica
mantenha no exterior reservas para por que estamos vendendo nossos
nove meses de importação - dinhei- produtos minerais a baixo preço pa-
ro êsse que está servindo para o de- ra o estrangeiro. Em parte concor-
senvolvimento dos países superde- do, mas acredito que são vendidos
senvolvidos, enquanto o Brasil, que ao preço do mercado internacional."
-99

O SR. JOSÉ ERMíRIO - "Por que fendendo, porque V. Ex.a é empresá-


não se faz um convênio mundial rio nacional dos mais conhecidos ... "
para valorizar o nosso minério de
ferro?" O SR. JOSÉ ERMíRIO - "E que
nunca pedi favor do Govêrno."
O Sr. Attílio Fontana- "Já o temos
para o café, dando divisas, como ja- O Sr. Aurélio Vianna - ". . . dentro
mais aconteceu, ao Brasil. No ano e fora do Brasil. Mas convenha o
passado foi da ordem de 820 mi- nobre Senador Attílio Fontana que
lhões, antes era de 500 e 600 mi- o mundo de hoje não é o mundo
lhões. Assegura-se que neste ano do Século XIX, XVII ou XVIII. É
obteremos o mesmo volume de di- muito diferente. O exemplo típico
visas com o café. Nossa exportação do capitalismo moderno sáo os Es-
de açúcar também aumentou, devi- tados Unidos da América do Norte e
do, em grande parte, ao convênio quem vai ao Tennessee encontra em-
internacional há pouco celebrado prêsas impressionantemente fortes
com o govêrno americano." e que, na verdade, são controladas
O SR. JOSÉ ERMíRIO - "Senador pelo Estado, por via direta ou indire-
Attílio Fontana, ninguém criticou ta, dando resultados formidáveis à
mais o Govêrno passado do que eu. economia daquela Nação, naquela
grande Região."
Disto poderiam dar testemunho os
Senadores Argemiro de Figueiredo, O SR. JOSÉ ERMíRIO- "Muito bem,
Arthur Virgílio e outros." nobre Senador. Falando em Ten-
nessee, é caso em que o Brasil devia
O Sr. Attílio Fontana - "Então
se espelhar. Quando Franklin De-
V. Ex.a não pode criticar hoje o
lano Roosevelt comprou a emprêsa
Govêrno."
de Southern Corporation Wendell
O SR. JOSÉ ERMíRIO - "Posso. Wilkie e transformou-a em emprêsa
estatal, o fêz para baixar o preço
V. Ex.a critica os erros do passado e da energia; aqui no Brasil compra-
não os do presente. ll:ste o grande mos a emprêsa e aumentou o preço
êrro do atual Govêrno: criticar o da energia de 5 para 41."
passado e não admitir que se criti-
que o presente. Estão ocorrendo O Sr. Aurélio Vianna - "Devemos
coisas terríveis neste País. A histó- imitar as coisas boas dos Estados
ria da AMFORP, quando levantada, Unidos e condenar as coisas más,
vai fazer corar "frade de pedra", como os próprios americanos as con-
porque foi das transações mais sé- denam."
rias que já se fizeram neste País". O SR. JOSÉ ERMíRIO - "Basta di-
Não poderia terminar esta oração zer que, no Senado americano, o
sem uma referência incisiva a um Senador Fulbright não fêz outra
condutor que tem sôbre os seus om- coisa senão criticar as coisas er-
bros uma grave responsabilidade que radas."
dela está se desincumbindo com pru- O Sr. Aurélio Vianna - "A França
dência, sabedoria e boa vontade." não é país liberal democrático, é de
O Sr. Aurélio Vianna - "Tenha a regime forte, mas verificamos que
bondade, nobre Senador. V. Ex. a é grandes empreendimentos na Fran-
um dos homens mais insuspeitos ça de De Gaulle são estatais. E os
para defender a tese que vem de- empresários privados, naquele país
-100
-, porque suas cabeças não estão, dene -já que falou em energia elé-
repito, no século XVI, XVII, XVIII trica - a Hidrelétrica de São Fran-
ou XIX - reconhecem a necessida- cisco?"
de de que certos e determinados em-
preendimentos sejam controlados ex- O Sr. Attílio Fontana - "Absoluta-
clusivamente pelo Estado, porque o mente!"
Estado moderno precisa de ter os O SR. JOSÉ ERMíRIO - É a sal-
meios de defesa da soberania na- vação do Nordeste.
cional."
O Sr. Aurélio Vianna - "Mas são
O SR. JOSÉ ERMíRIO - "É o que emprêsas que não foram construídas
fazem todos os países do mundo." com capitais privados."
O Sr. Attílio Fontana- "V. Ex.a me O SR. JOSÉ ERMtRIO - "Eu vou
permite, nobre Senador, apenas pa- citar a CHESF, que fornece energia
ra responder ao Senador Aurélio mais barata do que é fornecida em
Vianna, que falou a meu respeito. São Paulo."
- Com referência à energia elétri- O Sr. Attílio Fontana - "O Govêrno
ca, realmente o Govêrno americano tem feito por desenvolver as gran-
explora o grande potencial do Ten- des emprêsas hidrelétricas."
nessee, mas deixa a distribuição às
emprêsas privadas. A distribuição O SR. JOSÉ ERMtRIO- "A CHESF
não é feita pelo Govêrno. Éle cons- vende energia, em Pernambuco, no
trói as usinas e as entrega a firmas Nordeste, talvez 30% mais barato do
particulares, e cobra ao distribuidor que em São Paulo e Guanabara.
o preço justo por aquêle investimen- Portanto, é uma emprêsa estatal que
to. O Govêrno brasileiro está se- está cumprindo o seu dever."
guindo a mesma orientação."
O Sr. Attílio Fontana - "É uma
O SR. JOSÉ ERMíRIO- "O Govêrno questão de tempo em que foi cons-
brasileiro está concedendo o forne- truída."
cimento de energia a emprêsas que
cobram caro. Se as emprêsas ope- O SR. JOSÉ ERMíRIO- "Não, nobre
rassem à base de preço justo, esta- Senador! A Light começou muito
ria certo." antes."

O Sr. Attílio Fontana - "Atualmen- O Sr. Attílio Fontana -"A Light re-
te tôdas as emprêsas pertencem ao cebe, hoje, grande quantidade de
Govêrno." energia elétrica produzida por usi-
nas estatais."
O SR. JOSÉ ERMíRIO- "Tôdas, não.
O SR. JOSÉ ERMíRIO - "Tem dois
Só as recentes: Furnas, Três Marias milhões ou mais de quilowatts. Mas
e Peixoto. E as três não somam um não vou discutir o assunto, porque
milhão e meio de quilowatts. Nós considero a Light uma emprêsa que
podemos defender a emprêsa priva- ajudou o Brasil, uma emprêsa real-
da quando ela cumpre o seu dever, mente boa. Mas, não sei por que,
do contrário, temos que reagir." depois da Revolução, o preço da
O Sr. Aurélio Vianna- "Será possí- energia elétrica subiu de maneira
vel que o Senador Attílio Fontana nunca vista. Quem autorizou tal au-
condene, por exemplo, Volta Redon- mento? Não sei. Talvez alguém que
da? Será possível que S. Ex. a con- não entenda bem do assunto.
- 101

Não poderia terminar esta oração balhos, tomando algum tempo dos
sem uma referência incisiva a um Srs. Senadores para pronunciar al-
condutor que tem sôbre os seus om- gumas palavras em relação à situa-
bros uma grave responsabilidade, ção política em que estamos vi-
que dela está se desincumbindo com vendo.
prudência, sabedoria e boa-vontade.
Depois do movimento revolucioná-
Refiro-me, Sr. Presidente, ao emi- rio, para mim a fase mais impor-
nente Líder do Govêrno, Senador tante, mais delicada para a vida
Daniel Krieger, que, envolvido como nacional é exatamente esta em que
foi, por uma atmosfera tumultuária estamos envolvidos no momento -
e tumultuada, provinda de um pro- e a elaboração de uma nova carta,
jeto imperfeito e cambaio, está con- de uma nova lei magna, de um~
seguindo, aos poucos, dissolver a lei maior, ou, por outra, a lei subs-
cerração, desfazer o protesto da tancial da ordem jurídica do País.
consciência cívica do País e buscan-
Sr. Presidente, Srs. Senadores, fui
do adaptar o diploma básico em têr-
constituinte em 1946. Tive a honra
mos de respeito ao mundo jurídico.
de participar da Grande Comissã::>
Espero, Sr. Presidente e Senhores dos 21 Membros, um de cada Estado,
Senadores, que o trabalho do emi- a que organizou e que elaborou a
nente Líder frutifique no espírito Constituição de 1946. Devo dizer a
dos seus liderados e dos que lhes são V. Ex. a que quem vem dessa época
contrários para que possamos fugir nota, naturalmente, diferença subs-
à ameaça da borrasca para um cli- tancial entre aquêle cenário, passa-
ma saudável onde uma Constituição do há tantos anos, e êste em que
legítima possa interpretar, com fi- estamos vivendo nestes dias.
delidade os anseios nacionalistas de
Quer da Imprensa, quer de parla-
todo o povo brasileiro.
mentares- alguns compondo a mi-
É, pois, com um voto de confiança nha bancada, a do MDB, bancada
em meu País, e ao seu Congresso que oposicionista -, muitos se têm
preocupado em formular críticas as
continuamos como sentinela avan- mais severas ao eminente Sr. Pre-
çada na fronteira do protesto para sidente da República pelo fato de ter
defender um Brasil mais próspero, êle elaborado um projeto de Cons-
mais independente e mais feliz. tituição e remetido ao Congresso
eivado de princípios ou de textos in-
Quero dizer aos Srs. Senadores que compatíveis com o regime republi-
tudo quanto li está documentado e cano e com a própria Federação.
à disposição daqueles que o dese-
jarem." Para mim, Sr. Presidente, quaisquer
que sejam as circunstâncias, o Sr.
Na sessão de 5 de janeiro de 1967, o Presidente da República está peran-
Senador ARGEMIRO DE FIGUEIREDO te a História com a sua defesa pre-
<MDB - Paraíba) (25) pronuncia o se- parada: elaborou um projeto de
guinte discurso: Constituição através de seus assessô-
"Sr. Presidente, o número de Sena- res jurídicos e através do seu Mi-
dores presentes é relativamente pe- nistro da Justiça e o remeteu ::10
queno. E eu não irei, naturalmente, Congresso Nacional.
perturbar a marcha normal dos tra- (25) D.C.N. - S. li - 6-1-67 - pág. 13
- 102
Sustentei, desta tribuna, a incom- gor a Constituição de 1946 com as
petência de S. Ex.a o Presidente da alterações constantes daquele ato.
República, para ter a iniciativa de
remeter ao Congresso Nacional, em Ora, Sr. Presidente, isso vale dizer
pleno funcionamento, um projeto de - quero repetir - que a partir de
Constituição. E sustentei com fun- 1966, o que estava vigente ou vi-
damento jurídico, Sr. Presidente, gindo ou existindo para o processo
data venia dos que pensam de modo de emenda à Constituição ou da ela-
contrário, porque, para mim, a dis- boração de uma Constituição nova,
tinção entre Poder Constituinte c era só e exclusivamente, a Consti-
Poder Constituído seria o bastante tuição de 1946, porque, a partir -
para se evidenciar que S. Ex. a o repito - de janeiro de 1966, esta-
Presidente da República, é poder in- vam exauridos, por fôrça de um ato
competente para elaborar projeto de constituinte, todos os podêres con-
uma nova constituição e remetê-lo cedidos ao Presidente da República
ao Congresso Nacional. Até certo para medida de tal na tu reza.
ponto, vale dizer dentro do ponto de
Levantei esta tese, Sr. Presidente,
vista jurídico-constitucional, S. Ex.a
como preliminar, para demonstrar
não tinha competência para tal.
que o Congresso Nacional não po-
A Revolução de 31 de março lan- deria funcionar em razão de ini-
çou, editou o Ato Institucional que ciativa partida de um poder incom-
não tinha número. Os próprios as- petente para tanto. Mesmo admi-
sessôres jurídicos do Presidente da tindo-se que nada disso possa valer
República disseram que aquêle era - diante das circunstâncias de or-
o ato do poder constituinte; só êle dem material que nos cercam, dian-
poderia valer para reforma que c;e te da inexistência de respeito à or-
quisesse ou desejasse fazer, institu- dem jurídico-legal do País - to-
cionalizando aquilo a que podería- mando o Congresso, como tom~u, a
mos chamar o pensamento revolu- iniciativa de conhecer do projeto C:e
cionário, o ideal da revolução, ou os Constituição procurando reformá-la
objetivos da revolução. Nesse Ato procurando elaborá-la, afinal, teri~
Institucional previa-se, no último de processá-Ia e promulgá-Ia pelas
artigo, se não me engano, no art. 11, Mesas das duas Casas do Congresso
que aquêles podêres constituintes se- Nacional.
riam extintos em janeiro de 1966. Mas dizia eu, Sr. Presidente, que
Isso vale dizer que, a partir de ja- têm surgido críticas ao Presidente
neiro d,e 1966, estavam exauridos da República pelo ato por Sua Exce-
todos os podêres excepcionais conce- lência praticado e pelos textos cons-
didos ao Presidente da República, in- titucionais agressivos à Democracia
clusive aquêle de remeter ao Con- aos Direitos Individuais, aos prin-
gresso emendas à Constituição. cípios que regulam a Federação, e
outras tantas anomalias que, na ver-
Por outro lado, está expresso no Ato dade, constam do projeto de cons-
I n s t i t u c i o n a 1 Revolucionário tituição enviado ao Congresso. Es-
- aquêle a que já hoje dão o n.0 1, sas críticas, para mim - digo !1.
mas que foi - repito - editado sem V. Ex. a, ao Senado e à Nação - são
número como o único do poder cons- injustas, porque, perante a Histó-
tituinte revolucionário -, está ali ria, o Presidente da República tem
expresso que continua em pleno vi- sua defesa ampla, ilimitada, mesmo
- 103

que por trás do pano, circunstâncias Após o envio do Projeto de Cons-


outras estejam compelindo o Con- tituição ao Congresso, eximiu-se de
gresso a adotar a orientação seguida tôda responsabilidade perante a
por Sua Excelência na elaboração da História. É, hoje, elemento estranho
nova Constituição da República. pois, não elabora leis, não toma par-
te no processo constitucional. São
Contudo, na verdade, quem um dia os Deputados e Senadores, com a
rebuscar os arquivos do Congress'J responsabilidade decorrente do man-
Nacional, há de encontrar consigna- dato que exercem, que têm, perante
do que Sua Excelência, o Presidente a História, missão grave, séria, de
da República, enviou ao Congresso adaptar o projeto constitucional que
Nacional nôvo projeto de constitui- nos foi enviado pelo Presidente da
ção, demonstrando, por esta forma República, às boas normas, às nor-
a intenção de restabelecer a ordem mas compatíveis com a nossa cultu-
jurídico-constitucional do País, exi- ra , com os princípios de civilização
mindo-se da responsabilidade dos adotados por todos os países cultos.
pecados que lhe pudessem atribuir.
Pesa- repito -, sôbre cada um de
Se a Carta, na verdade, não vem nós, esta responsabilidade. Ao Pre-
em ordem, se a Carta, na verdade, sidente da República não, por maio-
não consulta princípios normais da res que tenham sido os absurdos e
Democracia e não respeita as altas as violências por êle praticados. No
prerrogativas do Congresso Nacional trabalho que ora preocupa o Con-
e mais, atenta contra direitos indi- gresso, só a êste cabe a responsabi-
viduais e é contraditória no seu con- lidade, perante os pósteros do que
teúdo, a responsabilidade não cabe se fizer de bem ou de mal.
ao Sr. Presidente da República.
Ora, Sr. Presidente, quem examina
Êste o objetivo das palavras que, o texto constitucional há de verifi-
neste instante, Sr. Presidente, dirijo car as maiores contradições, os
ao Congresso Nacional. Perante a maiores atentados as anomalias
História, à Câmara e ao Senado cabe mais evidentes.
a responsabilidade pela aprovação da
Carta Constitucional, boa ou má, É certo que, do texto do Projeto
pela sua promulgação para restabe- de Constituição enviado pelo Presi-
lecer a ordem jurídico-constitucio- dente da República, consta que todo
nal no País. poder emana do povo. Se o regime
fixado em textos do Projeto de
Cada Senador, cada Deputado tem, Constituição é exatamente o demo-
sôbre seus ombros, a responsabilida- crático, não seria possível admitir-
de máxima pelo trabalho que ora se a necessidade de se estabelecer
se elabora no Congresso Nacional. uma exceção para a eleição do Pre-
Será êle quem perante a História ar·- sidente da República, caso o Chefe
cará com a responsabilidade daqui- da Nação fôsse eleito pelo processn
lo a que se possa chamar de anoma- indireto, afastando-se, dêste modo,
lia jurídico-constitucional e que ve- o povo do processo mais importante
nha, porventura, a compor textos da na vida democrática do País, que é
nova Carta da República. ll:ste o aquêle em que se permite, à Nação
meu pensamento: o Sr. Presidente inteira, ao eleitorado nacional, es-
da República, perante a História, fi- colher, por sua vontade, por sua li-
ca eximido de sua responsabilidade. vre deliberação, o Chefe supremo, o
-104-

Presidente da República, para diri- te, mais violento ao princípio f e·


gir os destinos do País. derativo. Basta a nomeação de uru
Prefeito Municipal para se quebrar
Adota-se, pois, um princípio que, na o sistema federativo da República.
verdade, constitui um atentado à de·
mocracia. Democracia, pela sua his · Negar-se ao povo o direito de ele-
tória, pela sua origem, é o Govêrno ger seus Governadores nas comu-
do povo - na definição dos pró- nas, nos Municípios, sejam Capita!s
prios americanos - pelo povo e pa·· ou não sejam Capitais, é quebrar
ra o povo ou melhor, democracia, princípio federativo. Entretanto, vê
pela sua própria origem etimológica, V. Ex. a que a própria Constituição
é o govêrno da autoridade do povo. de 1946 e o próprio projeto enviado
pelo Presidente da República ~o
Suprimir-se ao povo o direito de ele- Congresso Nacional, ambos, êsses
ger, diretamente, o Chefe da Nação, instrumentos constitucionais, pres-
é um atentado à democracia con- crevem expressamente que a Cons-
cebida por todos os países cultos. tituição é inalterável naquilo que
Mas vê V. Ex. a que uma Constitui- diz respeito à República e à Fe-
ção não é uma colcha de retalhos, deração.
uma Constituição é uma obra coor-
Repito o argumento: basta dar ao
denada, é uma obra sistematizada, é
Presidente da República ou ao Go-
uma coordenação de princípios har-
vernador do Estado, seja qual au-
mônicos, é uma obra que se ajusta
toridade fôr, o direito de nomear um
no funcionamento orgânico, perfei-
Prefeito para se quebrar o princípio
to, para que ela não venha oferecer
Federativo; e é isto o que está es-
dificuldades àquilo que chamamos,
tabelecido no projeto de Constitui-
em síntese, de ordem jurídico-cons-
ção remetido ao Congresso Nacio-
titucional do País. nal pelo Sr. Presidente da República.
Enquanto se suprime ao povo o di-
E as capitais, Sr. Presidente! É pos-
reito de eleger o seu Presidente, o
sível negar-se ao povo de uma ca-
que é um atentado à legitima demo-
pital como São Paulo e outras ca-
cracia, permite-se contraditóriamen-
pitais de população culta, capitais
te que os governadores de Estado
que são sempre cabeça-pensante dos
sejam eleitos diretamente pelo povo.
Estados, onde se centraliza tôda a
Ora, Sr. Presidente, se ao povo se cultura, negar-se ao povo que nes-
nega o direito de eleger o Presiden- sas capitais reside o direito de ele-
te da República por que se dá ao ger seu Governador?
povo o direito de eleger os gover-
nadores de Estados? Quebra-se o Ainda com relação aos Municípios,
sistema, desarticula-se a Constitui- vê V. Ex. a um absurdo maior que
ção naquilo que há-de mais perfei- é o de estabelecer o princípio d·1.
to, que é a sua coordenação, que ~ gratuidade da função de Vereador.
sua harmonia, que é a coerência do3 Não estou em causa, Sr. Presidente,
seus princípios. porque, na verdade, sou Senador da
Ademais, se estabelece em outr0 República e com subsídios e remu-
texto do projeto de constituição a neração suficientes para o exercí-
nomeação de prefeitos Municipaic;, cio de minha função. Não houves-
até nas cidades dos Estados. I!:sse se remuneração, talvez eu não
princípio é o atentado mais flagran- pudesse deslocar-me do longínquo
- 105-

Estado onde exercia minha profissão te da República, para o Executivo,


de advogado, para vir trabalhar, Judiciário e Podêres Legislativos fe-
exercer meu mandato com as prer- deral e estadual, por que se excluir
rogativas que me cabem. E o ve- dessa remuneração o mandato d~
reador? Por que há subsídios para vereador?
os Senadores, para os Deputados fe-
derais, para os Deputados estaduais Que essa remuneração se faça, é jus-
e se excluem os vereadores de qual- to e indispensável, em função das
quer remuneração? condições econômico-financeiras de
cada Comuna; mas dar-se caráter
Dentro da democracia, Sr. Presiden- de gratuidade a uma função públi-
te, não é possível - dizem os mes- ca, repito, é um atentado à demo-
tres, os doutrinadores - função não cracia.
remunerada. Até na América do
Norte há casos interessantes em que Por outro lado, como nordestino, não
se dá uma remuneração de caráter posso deixar de lamentar profun-
simbólico: homens milionários que damente que o Congresso, em gran-
sobem à Presidência da República, de parte composto de elementos da
recebem uma insignificância. Creio polígono das sêcas, venha a aceitar
que até um dêles, um Presidente ja a admitir a eliminação daquilo que
Repúplica, recebia um dólar para foi incluído na Carta de 46 - a de-
não violar o princípio da democra- fesa contra os efeitos das sêcas.
cia, de que tôda a função pública
Sabe V. Ex. a, todo o Senado e a Na-
deve ser remunerada.
ção também conhecem o que são as
E o que irá ocorrer, então, Sr. Pre- sêcas nordestinas. O que sofre o
sidente, nas comunas, desde as ca- nordestino. Estão aí os livros cheios
pitais até aos Municípios mais mo- do drama dantesco da retirada dos
destos do interior, com êste disposi- nordestinos na época das sêcas.
tivo constitucional válido ou figu-
Pois bem, com a colaboração, o pa-
rando em uma Constituição que se-
triotismo e os sentimentos de hu-
ja promulgada? Quem será verea-
manidade de todos os Congressistas
dor, Sr. Presidente? Naturalmente
que elaboraram a Constituição de
os potentados, os ricos. É o poder
46, inseriu-se nos textos constitu-
econômico que vai influir, que vai
cionais um dispositivo obrigando os
tomar parte, que vai dirigir os des··
podêres centrais a uma ajuda per-
tinos das Comunas, porque os po··
manente aos nordestinos, através do
bres, os homens humildes, aquêles
combate às sêcas pelos órgãos es-
que não têm possibilidades finan-
pecializados que então existiam.
ceiras, naturalmente irão eximir-se
dessas funções, irão preocupar-se Foi uma conquista de todos nós, nor-
com outras que lhes permitam man- destinos, com a solidariedade e o
ter, custear dignamente as famílias patriotismo dos representantes de
de que fazem parte ou sob sua guar- tôdas as regiões nacionais, que
da. É uma injustiça. Não é possí- apoiaram, de coração aberto, essa
vel que o Congresso aceite uma ajuda; na verdade de caráter ex-
anomalia dessa ordem, quebrando cepcional, para o nordeste brasileiro.
também o sistema, violando a har-
monia, o princípio orgânico que de- Entretanto, o Sr. Presidente da Re-
ve presidir tôda constituição. Se pública, homem do nordeste e de um
remuneração existe para o Presiden- dos Estados mais assolados pela in-
- 106
clemência das sêcas, mais assolado sêca, repercute na Amazônia. De
pela desgraça que periodicamente maneira que o drama a que V. Ex. a
desorganiza a nossa economia, pro- se refere neste instante, é o mesmu
vocando dramas verdadeiramente drama da Amazônia. Nordeste e
dantescos, êle, um homem do Ceará, Amazônia devem estar irmanados,
remete ao Senado um projeto de nesta parte, para que venhamos a
constituição excluindo o que era restabelecer na Constituição que se
obrigação constitucional da União, vota aquêles princípios que os cons-
isto é, o emprêgo de certa percenta- tituintes de 1946 consagraram com
gem da Renda Tributária da União objetivo de salvar aquela região, evi-
na defesa dos nordestinos, contra os tando, não só o desespêro daquelas
efeitos das sêcas. populações, como também impedin-
do que, amanhã ou depois, a pró-
A mesma coisa se dá com relação pria contingência internacional,
à Amazônia. Por que se desvincular vendo o abandono, o descaso, o de-
do orçamento da República, por que sinterêsse do povo brasileiro, da Re-
se excluir da Constituição êsse dis- pública brasileira por aquela região,
positivo que obriga os podêres cen- encontre motivos para a intervenção
trais a cumprir êsse dever de hu- e posse, por utilidade pública inter-
manidade, direi melhor, de patrio- nacional; isso, enfim, pela nossa in-
tismo, conseguido, conquistado ou competência em diminuir e resolver
estabelecido pelo patriotismo e pela os problemas daquela vasta região,
compreensão de todos os parlamen- em benefício não só do nosso povo,
tares e todos os constituintes mas também da humanidade.
dé 1946?"
V. Ex. a tem o meu apoio nas pala-
O Sr. Edmundo Levi - "Nobre Se- vras que está proferindo e amanhã,
nador, estava ouvindo, com todo res- se Deus permitir, estarei também
peito, o pronunciamento de V. Ex. 1\ cooperando com V. Ex. a, no sentido
Não interferi antes para não quebrar de combater êsses erros que o pro-
a clareza e o nexo da exposição que jeto de constituição traz e que
com tanto brilho V. Ex. a está fa- V. Ex.a tão bem vem apontando."
zendo."
O SR. ARGEMIRO DE FIGUEIREDO
O SR. ARGEMIRO DE FIGUEIREDO - "Agradeço o aparte de Vossa Ex-
- "Muito obrigado a Vossa Exce- celência, que vem ilustrar o meu
lência." discurso. Por isso, Sr. Presidente,
é que me referi à Amazônia, além
O Sr. Edmundo Levi - "Vossa Exce- do Nordeste brasileiro, porque o pro-
lência mencionou uma série de fa- blema não é só da nossa região -
tos sôbre os quais tive vontade de é da Paraíba, do Rio Grande do
pedir permissão para trazer minha Norte, do Ceará, do Amazonas. Re-
colaboração, mas, respeitando êsse almente, ali se concentram proble-
prazer de continuar a ouvi-lo, mas de natureza que impõem ao Go-
sempre encantado, na sua lúcida vêrno medidas de natureza na-
preleção, abstive-me de pronunciar- cional.
me. No entanto, V. Ex.a fala agora
a respeito da Amazônia que é uma O problema é de caráter nacional
região que, nesse aspecto, se com- e assim entenderam os Constituin-
pleta com o Nordeste. O que acon- tes de 1946. E eu não acredito, Sr.
tece no Nordeste relativamente à Presidente, que haja um recuo do
-107-

Congresso, qualquer que seja a fôr- Sr. Presidente, estas palavras pro-
ça que pretenda intervir na elabo- nunciadas numa sessão em que ve-
ração desta Carta Constitucional, rificamos talvez não haja número
na exclusão dêsses textos que dão para votação, pronunciadas desa-
essa preferência, essa prerrogativa, taviadamente, vêm, em síntese, sig-
êsse direito de o nordestino ter a nificar um apêlo que formulo ao
ajuda que já lhe havia sido assegu- Congresso para que compreenda a
rada pela Constituição de 1946. sua responsabilidade perante a His-
tória, esqueça o partidarismo, es-
Não acredito que êsses homens, nas- queça as correntes de .opinião que
cidos nessa região, com deveres fun- estão em jôgo e, sobretudo, tenha a
damentais com o povo que os ele- coragem de resistir a qualquer pres-
geu, não acredito que êsses homens, são externa capaz de influir, preo-
patriotas, nordestinos, sobretudo ês- cupando-se em elaborar uma Cons-
tes, venham a recuar diante de qual- tituição digna dos nossos filhos e
quer poder, de qualquer imposição, que represente bem a cultura bra-
para deixar fora dos textos consti- sileira diante das demais nações do
tucionais aquilo que, na verdade, foi Mundo.
uma das mais belas e mais pa-
trióticas conquistas do nordestino, Era o que tinha a dizer, Sr. Pre-
conseguida pelo patriotismo, pela sidente."
compreensão de todos os represen- Na sessão de 6 de janeiro de 1967, o
tantes dos Estados do Brasil. Senador EDMUNDO LEVI (MDB- Ama-
Não sei, Sr. Presidente, que pode- zonas) (26) apóia e elogia os argumen-
ríamos dizer de um nordestino que tos expendidos pelo Senador Argemiro
viesse votar contra a emenda que de Figueiredo, a respeito da Carta Cons-
estabelece essas garantias constitu- titucional, em elaboração no Congresso
cionais para as nossas regiões - Nacional.
Amazônia, Nordeste, São Francisco A seguir afirma:
-, enfim, essas verbas que estão
"Há entretanto, Srs. Senadores, uma
destacadas, essas garantias financei-
particularidade que sintetiza todo
ras que estão destacadas para asse-
êsse propósito de destruição do sis-
gurar o desenvolvimento dessas re- tema federativo brasileiro; é a pró-
giões desamparadas, desprotegidas e pria mudança da denominação do
sujeitas às calamidades. órgão a que pertencemos. O proje-
Não acredito, Sr. Presidente, que to contém, no seu artigo 28, a se-
um homem nordestino, congressista, guinte disposição:
deixe figurar nos Anais desta Casa "O Poder Legislativo é exercido
o seu nome, votando contra aquilo pelo Congresso Nacional que se
que é interêsse fundamental de mais compõe da Câmara dos Deputados
de 50 milhões de brasileiros talvez, e do Senado da República".
porque só na região nordestina, 20
milhões de brasileiros habitam os Vejam V. Ex.as que esta simples mu-
campos e precisam de que essa verba dança, aparentemente inocente, re-
continue, embora muitas vêzes vela, em verdade, o propósito de
desviada de suas verdadeiras fina- destruir o sistema federativo brasi-
lidades para obras que não se encar- leiro. Muda-se o nome de Senado
tam naquilo que está nos textos Federal para o Senado da Repúbll-
constitucionais. (26) D.C.N. - S. n - 7-1-67 - pág. 17
- 108
ca. Aos leigos ou àqueles que não todos do País, o início da Operação
querem aprofundar assunto, há do Amazônia. Essa operação seria a im-
parecer que Senado da República plantação de um sistema legal cons-
seria uma expressão mais apropria- tituído de quatro diplomas, para o
da do que Senado Federal, porque qual todo o Congresso, sobretudo os
Senado Federal se contraporia à hi- homens da Amazônia, dedicaram
pótese da existência de Senado Es- todo seu esfôrço, todo seu patriotis-
tadual, como em tempos sob o regi- mo no sentido de melhorar as pro-
me da Constituição de 1891. posições e aprová-las; para que a
Amazônia pudesse, realmente, de·
Entretanto, Srs. Senadores, Vossa senvolver-se. Entretanto Sr. Presi-
Excelências sabem perfeitamente dente, Srs. Senadores, a Constituição
que Senado não se opõe a Senado que já estava em elaboração, quan-
Estadual. Senado Federal quer dizer do o Govêrno para o Congresso man-
Senado da Federação, porque "fe- dou êsses quatro diplomas legais
deral" vem da expressão latina foe- que consubstanciam a Operação
dus, foederis, que quer dizer trata- Amazônia, põe por terra, pràtica-
do, laço, união. Daí por quê Senado
te tudo o que poderia vir em conse-
Federal significa Senado da União, qüência da aplicação dêsse sistema.
o Senado representa a União, que
representa a Federação. Mas o Sena- Sabem V. Ex.as que a Constituição
do representa, no seu conjunto, o de 46, muito sàbiamente, contém
sistema constitutivo não propria- dois dispositivos de alta significa-
mente do Estado, mas do País, d~ ção para a integridade e para a se-
própria Nação, que é o sistema fe- gurança nacional: os arts. 198 e 199;
derativo. Daí por quê é uma impro- o primeiro dêles diz respeito ao Nor--
priedade mudar de Senado Federal deste, dava recursos para o comba-
para Senado da República, o que te ao chamado fenômeno das sêcas;
traduz, além disso, o propósito pre- o outro -- o 199 -- refere-se especi-
concebido de destruição do prinví- ficamente à Amazônia, proporcio-
pio federativo. nando recursos também para que
aquela Região saísse da letargia, do
Mas, Srs. Senadores, eu apenas, com abandono, do estado primitivo em
êsse argumento, queria reforçar que tem permanecido até hoje, e se
aquela brilhante exposição ontem integrasse na comunidade brasilei-
feita pelo meu eminente mestre, Se- ra, não só pelo simples fato de sua
população falar a língua nacional
nador Argemiro de Figueiredo." mas também por integrar-se no si:s-
O Sr. Argemiro de Figueiredo tema econômico brasileiro, usufru-
"Obrigado a V. Ex. 6 " indo das mesmas vantagens que
usufruem os seus irmãos do Sul.
O SR. EDMUNDO LEVI - "Porque
o meu objetivo, neste instante, é Pois bem, Sr. Presidente, o próprio
mostrar que, por trás dêsses propó- Projeto Governamental estranha-
sitos, que não aparecem claramen- mente elimina, veda a possibilidade
te, há um que é flagrante e que re- de que a Amazônia se realize, como
sulta da contradição entrej aquilo também de o Nordeste se integrar
que se diz e aquilo que se faz. através daqueles recursos constitu-
Srs. Senadores, há poucos dias, no cionais que a Carta de 1946 assegu-
comêço de dezembro, o Govêrno, com ra.
tôda a' propaganda, com o máximo O projeto governamental não con-
de alarde, anunciou, aos quatro ven- tém qualquer referência ao plano
- 109

de valorização econômica da Ama- xoràvelmente êsse diploma, cujo art.


zônia, como também nada encerra 1.0 declara que a sua finalidade é a
que possa assegurar ao Nordeste a execução do art. 199, êsse diploma
continuidade das obras de sua re·· desaparece, cai por terra, não há o
cuperação. Muito ao contrário, proí- que executar.
be, no art. 64, § 3. 0 qualquer vincula- O instrumento que criou a SUDAM
ção de receita da União com planos não terá vigência a partir da pro-
regionais. Vejam, por conseguinte, mulgação da nova Constituição por-
que a contradição do projeto gover- que tem por finalidade executar o
namental não é apenas doutrinária, art. 199 da Constituição em vigor.
mas é de atitude de filosofia políti-
ca, de filosofia administrativa. Desde que êsse artigo não exista,
não há o que executar."
Ora, se pretendemos fazer com qu~
a Amazônia seja realmente uma O Sr. Cattete Pinheiro -"Releve V.
unidade viva - e não apenas um Ex.a interromper o seu discurso
território econômico, uma fronteira quando ainda o inicia, mas desde
econômica, uma região em que ape- logo sinto-me no dever de manifes-
nas colhamos matérias-primas - tar a minha integral solidariedade
uma unidade atuante no concêrto à tese que V. Ex.a defende. E justa-
nacional, com repercussão dos seus mente interrompo no momento em
recursos não só para a populaçã;> que V. Ex.a faz comentários sôbre a
nacional como para a do mundo in- chamada Lei da SUDAM porque, no
teiro, como poderíamos admitir que nosso entender, causa pasmo que o
o Govên1o, tendo lançado aos qua- mesmo govêrno que há 30 dias con-
tro ventos, com fanfarras, a Opera- vocava a Nação festivamente para
ção-Amazônia seja o primeiro a eli- proclamar o início de uma chamada
minar tôdas as possibilidades de Operação Amazônia, 30 dias depois
que essa operação se realize? remeta ao Congresso um projeto de
Constituição representando, real-
A exclusão do dispositivo - atual- mente, o que V. Ex.a acaba de ex-
mente sob o n. 0 199 da Constituição, pressar: a anulação total da lei tão
que reserva 3% da renda tributada festivamente anunciada à Nação há
da União para o Plano de Valoriza- cêrca de um mês atrás."
ção Econômica da Amazônia, é ine-
vitàvelmente um golpe de morte, é O SR. EDMUNDO LEVI - "Muito
a eliminação total do sistema legal agradecido ao nobre Senador Catte-
vigente, ultimamente votado. te Pinheiro. Sabia que S. Ex.a, não
só como brasileiro, mas sobretudo
A lei que criou a "SUDAM", publi- como amazônico, não poderia calar
cada no Diário Oficial do dia 31 de o seu protesto com essa expoliação
outubro, em seu art. 1.0 estabelece: que se faz à Amazônia em particular
"O Plano de Valorização Econô- e ao Brasil na sua integridade.
mica da Amazônia a que se refe-
Abandonarmos a Amazônia é cor-
re o art. 199 da Constituição da
rermos o risco de ver executada
República obedecerá as disposi-
muito breve, aquela profecia de Eu-
ções da presente Lei."
clides da Cunha em que êle diz que
Ora Srs. Senadores, se o projeto da mais tarde ou mais cedo a Amazô-
Constituição não inclui nenhum dis- nia se desmembrará do Brasil como
positivo que equivalha ao artigo 199 a nebulosa se desmembra para for-
da Constituição ainda em vigor, ine- mar novos mundos. Mas a profecia
- 110

de Euclides da Cunha não será exe- mente à execução do plano da


cutada como conseqüência de uma SUDAM, e entregando 1% ao Ban-
lei natural porque nós da Amazônia co da Amazônia, para execução do
fazemos questão, antes de tudo, de financiamento de planos que se pre-
ser brasileiros. Por isso, lutamos tenda executar na Amazônia."
para que amanhã, o mundo não te-
nha razão, não tenha motivos, para, O Sr. Aurélio Vianna - "Nobre Se-
invocando a nossa incapacidade, a nador Edmundo Levi, V. Ex.a está
nossa incompetência, a nossa impre- defendendo uma tese que não pode
vidência, o nosso descaso, a nossa deixar de ser aceita por quantos se
falta de ocupação da região, desa- preocupem pelo desenvolvimento
propriá-la - vamos usar o têrmo pela ocupação do grande vazio na-
- desapropriá-la por utilidade pú- cional que é a Amazônia que deve
blica internacional. ser preservada não somente para as
gerações presentes como e parti-
Não se pode compreender que uma cularmente, para as gerações futu-
região tão vasta que corresponde a ras dêste País. Mas nós nos permi-
mais da metade do Brasil, continue, tíriamos sugerir a V. Ex.a que usas-
na sua quase totalidade, com pouco se a tribuna na reunião do Congres-
mais de 5 milhões de habitantes. E so Nacional, para como que repro-
as populações amazônicas estão con- duzir não somente êste como outros
centradas nas Capitais. Assim, uma discursos sôbre a Constituição que
região tão vasta, que contem mals V. Ex.a tem pronunciado e que po-
da metade da superfície do Brasil, dem impressionnar o Plenário do
abandonada como está, constitui Congresso Nacional. Já temos emen-
convite permanente a que a cobiça das destacadas de diversos compa-
internacional, ou melhor a conti- nheiros, sejam da ARENA, sejam do
gência internacional volte suas vis- MDB, no sentido de favorecer o de-
tas para aquelas terras, capazes de senvolvimento da Amazônia mas há
alimentar populações superiores ao necessidade de que alguns colegas
dôbro daquela que morre de fome nossos, capazes, doutos, probos, idô-
na índia. neos, ocupem a tribuna lá, na reu-
nião do Congresso Nacional, para
Srs. Senadores, ainda mais, a lei,
exporem pensamentos como os que
cujo art. 1.0 se fundamenta, que
V. Ex. a expõe para nós. A reper-
tem como suporte enfático o próprio
cussão não somente seria maio:::,
artigo 199 da Constituição - e, por-
como, também, por uma questão de
tanto, se não existe artigo não há
tática política, êstes discursos iriam
execução, se não há dispositivo
despertando aquêles que vão votar
constitucional não há sua execução
a Constituição da República."
- cria ainda no art. 45 - creio eu
o FIDAM (Fundo para Investimen- O SR. EDMUNDO LEVI - "Nobre
tos Privados no Desenvolvimento da Senador Aurélio Vianna, agradeço a
Amazônia), que representa um têr- intervenção de V. Ex.a e vou dar
ço da renda tributária prevista no uma informação para que V. Ex.a
art. 199 da Constituição. O sistema saiba de certas particularidades que
introduzido por êsse diploma, para estão acontecendo a respeito dêste
cuja votação todos dedicamos o me- Projeto.
lhor dos esforços, e que se transfor-
mou na Lei n.O 5.173, de 27 de ou- Quando se votava a Lei que vai en-
tubro, baseia-se nos 3% da renda trar em vigor dentro de breves dias,
tributária, reservando 2% exclusiva- que institui nova política econômi-
-111

ca da borracha, introduzi emenda que nos expôs uma emenda que tra-
mandando reservar 7% dêsse 1% que ~uzia o nosso pensamento. Mas, a
vai constituir o FIDAM para incenti- esse tempo, como informei, eu e o
vo à heveacultura na Amazônia. Ti- Senador Wilson Gonçalves já obje-
nha o objetivo de transformar serin- tivávamos apresentar outro proje-
gais nativos em seringais de cultivo, to. Atualmente, o que nos infor-
com rendimento maior, possibilidade mam, é que a Emenda-Sarasate não
de assistência ao trabalhador, assim passará. Não haverá nenhum recur-
provocando sua concentração e con- so, nenhuma vinculação de renda
seqüentemente a plena ocupação para combate aos flagelados da
daquela área. Amazônia e do Nordeste.

Pois bem, Sr. Senador, êsse dispo- A emenda não passará, porque, se-
sitivo teve inclusive a concordância, gundo dizem, e de acôrdo com o que
porque é companheiro da Amazônia, lemos em alguns jornais que pràti-
do eminente Relato r na Comissão camente são porta-vozes oficiais, é
de Projetos do Executivo, Senador propósito do Sr. Ministro do Plane-
jamento não permitir nenhuma vin-
José Guiomard.
culação de receita que isso impor-
A princípio, segundo informação taria esclerosamento do orçamen-
que tive por fora, havia certa sim- to, dificultando a sua execução. Dai
patia também no Planalto. Entre- por que, embora tivesse tido idéia
tanto quando se soube que se trata- de me pronunciar no plenário do
va de uma emenda de elemento da Congresso a êsse propósito, senti-
Oposição, tal dispositivo foi pôsto me desencorajado, eis que apenas
abaixo na Câmara, apesar da luta iria agravar o problema, estimulan-
dos elementos da Amazônia. Por do o rôlo compressor do govêrno a
isto, nobre Senador, conversei com fixar-se com maior violência nos
o Senador Wilson Gonçalves, para. seus propósitos."
estudarmos uma emenda que aten- O Sr. Oscar Passos - "V. Ex.a ex-
desse à Amazônia e ao Nordeste. Os pressa a nossa vontade sôbre êste
fenômenos cíclicos do Nordeste re- assunto, e espero que neste momen-
percutem na Amazônia; as conse- to V. Ex.a esteja marcando a posi-
qüências dos acontecimentos recla- ção da nossa Bancada."
mam uma emenda que viesse aten-
der às regiões, em conjunto. O Sr. Josaphat Marinho - "O ponto
de vista que V. Ex.a está sustentan-
Chegamos a articular uma reunião. do, nobre Senador Edmundo Levl, é
tanto mais relevante, é tanto mais
Mas eu, como Presidente da Comis- necessário e se torna tanto mais in-
são de Valorização da Amazônia não dispensável sustentá-lo quanto o
quís tomar a dianteira do movimen- projeto de Constituição, desvin-
to, justamente pela experiência que culando assim tôdas as verbas, como
tive a respeito da emenda que apre- consta de suas ponderações, reser-
sentara sôbre a heveacultura. O Se- va, entretanto, ao Poder Executivo
nador Cattete Pinheiro tomou a a faculdade de elaborar planos, pro-
frente dos entendimentos, promo- gramas e orçamentos plurianuais,
vendo uma reunião com elementos independentemente de leis. Quer di-
das regiões da Amazônia e do Nor- zer, as vinculações clara e objetiva-
deste. Contamos com a presença do mente propostas em texto constitu-
eminente Deputado Paulo Sarasate, cional ou legal não são admissíveis ,
- 112

mas o govêmo ficaria com o arbí- O Sr. Josaphat Marinho - "A sua
trio de dispor como quisesse de to- observação é de rigorosa proprieda-
dos os recursos da nação. Há emen- de. E é lamentável que não esteja
das, inclusive da nossa autoria, sub- presente no plenário, neste instan-
metendo todo êsse plano-program1. te, o nobre Senador Vasconcelos
e orçamento plurianuais a leis. Mas Tôrres, Relator da parte do Poder
insista V. Ex.a. no seu ponto de vista, Legislativo, para que ouvindo-o, êle
que êle tem muitos partidários." se convencesse, desde logo, de que
precisa reformar seu parecer qu'.!
O SR. EDMUNDO LEVI - "Muito negou aprovação a essa emenda que
obrigado pelo apolo de V. Ex.a." substitui a denominação de Sena-
do da República para Senado Fe-
O Sr. Cattete Pinheiro- "Ainda em deral."
relação ao pensamento atribuído ao
Sr. Ministro do Planejamento, nem O SR. EDMUNDO LEVI- "Veja por-
isso seria verdadeiro, porque o pro- tanto V. Ex.a. que aquêles que estu-
jeto de constituição estabelece vin- dam o problema encontraram, real-
culações de receita de vez que man- mente, essa falha, que é mais uma
tem, entre outras, a do Fundo Rodo- demonstração dos propósitos do Go-
viário Nacional, por exemplo. Por- vêrno, e só nisso há coerência.
tanto, nem sistemática se pode ale- Quanto ao demais, o projeto é um
gar porque esta alegação não seria amontoado de incoerências.
verdadeira."
Há contradição em se impor um sis-
O SR. EDMUNDO LEVI- "Nobre Se- tema legal a toque de caixa, votado
nador Cattete Pinheiro, eu disse re- aqui em prazos institucionais para
almente, reforçando a argumenta- que se pudesse implantar, quanto
ção do eminente Senador Argemiro antes, a Operação Amazônia, ao
de Figueiredo, que êsse projeto é so- mesmo tempo em que se cuidava
bretudo um amontoado de incoerên- elaborar, ou, vamos usar a expres-
cias. são, em que estava em gestação, há
nove meses, projeto constitucional
Citei, a propósito, o fato de se mu-
para destruir todo o sistema que se
dar a denominação do Senado Fe-
dizia querer implantar, com fanfar-
deral para Senado da República. Is-
ras e alegorias."
to revela o propósito cabal de des-
truir o sistema federativo, porque O Sr. Josaphat Marinho -''O pior é
com a expressão Senado Federal, que o projeto é um abôrto ... "
disse eu, se quer significar Senado
da Federação, que não é a mesma O Sr. José Ermírio - "Estou ouvindo
coisa que Senado da República. Se- o discurso de V. Ex.a. No tocante a
nado da República mais indica um indústria extrativa, V. Ex.a. realmen-
sistema, da origem de um sistema te tem razão. Hoje, as plantações
de govêmo, ao passo que a designa- de seringais de Belterra já concor-
ção Senado Federal abrange a cons- rem a borracha sintética, artificial.
tituição da nação, de Estado, do so- Mas a Amazônia não tem sàmente
lo, até. Senado da República não é madeira nem hévea; tem muitos
a mesma coisa. Quando se muda o produtos que poucos conhecem.
nome Senado Federal para Senado
da República, é que se tem por ob- Quando acabar o petróleto, podere-
jetivo a destruição do sistema fe- mos ter produto similar: quem es-
derativo." tuda Micrologia, sabe que, na for-
- 113

mação de algas, pode haver substi- onde há a melhor borracha, serin-


tuto do petróleo, e o lugar ideal, gais mais densos, geralmente, exis·-
no Mundo, é a Amazônia. E quanto tem cordas de dez árvores típicas
a minerais há, ali, produtos vários, por hectare.
como estanho, o ouro, o diamante Para que se coloque um homem em
que representam para o Brasil quan- condições de trabalhar e produzir
tidade de dinheiro suficiente, mas econômicamente, êle precisa daqm-
que não estão sendo explorados. Pos- lo que os homens da amazônia cha-
so afirmar, com a experiência que mam de mais "estradas".
tenho, de há muito, nos vários seto-
res da vida nacional, que todo o di- Necessita êle, assim, de três "estra-
nheiro aplicado na Amazônia é re- das", que nada mais são do que ve-
versível em pouco tempo, além de redas, picadas no meio da selva que
garantir nossas fronteiras - o que interligam as seringueiras a serem
é primordial para a independêncin. utilizadas.
econômica àa Nação. Há também Cada estrada - para poder produ-
a posição do petróleo: tôda a Re- zir o suficiente a fim de que o ho-
gião Amazônica, especialmente a mem se mantenha no subestado em
zona do Xingu até Santarém, é pro- que vive o seringueiro - deve te:,
vàvelmente grande zona petrolífe- pelo menos, 120 seringueiras. Assim,
ra. Deve-se procurar investir, cada observamos que, sozinho, precisa o
vez mais naquela área, e dar-lhes homem cortar 120 seringueiras, no
meios, administrando corretamente mínimo.
os bens, sem dilapidá-los e em pou-
co tempo teremos ali posição defi- Ora, as três estradas comportam,
nida, como podemos ter. portanto, 360 árvores. Um hectare
contém, no máximo, 10 seringuei-
Renovo o que disse anteriormente: ras. Verificamos, assim que um ho-
todo o dinheiro aplicado na Ama- mem, para poder trabalhar em con-
zônia voltará ao Brasil, em muito dições de sobrevivência vegetativa
pouco tempo, possibilitando à região - porque a vida do homem da Ama-
posição não só de defesa das fron- zônia é forçosamente vegetativa -
teiras como ainda de desenvolvi- necessita de 36 hectares.
mento do próprio país."
Se implantássemos a heveacultura,
O SR. EDMUNDO LEVI - "Para se realizássemos, realmente, a subs-
completar o aparte com que me tituição dos seringais nativos pela
honrou o nobre Senador José Ermí- cultura intensiva, conseguiríamos,
rio, vou dar pequena explicação inicialmente, cultivar 400 árvores. A
àqueles que não têm a obrigação de medida que crescessem e tornas-
entender, de saber de certas parti- sem adultas, iriam sendo elimina-
cularidades da Amazônia. das aquelas menos produtivas, re-
sultando o número ideal de 250 se-
O seringal nativo é, para a menta- ringueiras altamente produtivas.
lidade do Sul, para o homem habi-
tuado à agricultura racional, um Fazendo a comparação, verificamos,
latifúndio horroroso, monstruoso. que, enquanto o seringueiro, na si-
tuação atual, necessita trabalhar
Mas, em verdade, trata-se de explo- em 36 hectares, contendo 360 árvo-
ração de floresta nativa. No Acre, res nativas, com a cultura racional
por exemplo, região dos nobres cole- e intensiva êle necessitaria de ape-
gas Oscar Passos e Adalberto Senna nas 2 hectares, contendo 500 árvo-
- 114

res adultas, em condições de produ- va antes de mais nada querendo


zir satisfatoriamente. Um hectare servir à França, o seu País.
cultivado produz, anualmente, um::t
tonelada. Recentemente em trabalhos poste-
riores o ilustre Professor Pierre Gou-
Então, o homem que produz hoje, roux, reconsidera sua o p in i ã o,
na Amazônia, na região do Acre, 500 achando que, nos trópicos há futu-
quilos médios em 36 hectares, iria ro não só para a agricultura, como
produzir com l/3 do trabalho e com. para a própria industrialização. Tive
l/3 da despesa atual, duas tonela- o prazer de assistir, certa vez, bre-
das por ano, em apenas dois hecta- ve conferência sua em Manaus.
res. Vejam o que isso representaria
não só para a Amazônia, mas para A França, portanto, perdendo as
o Brasil, que readquiriria a hegemo- suas colônias tropicais, já não tem
nia no mercado internacional da interêsse em combater o desenvolvi-
goma elástica. mento dos trópicos, pois já não há
o receio da competição, relativamen-
Dadas estas explicações, quero reto- te ao domínio continental.
mar as considerações que vinha fa-
zendo, a propósito dêsse dispositi- Sr. Presidente e Senhores Senadores,
vo. Nós sabemos que há certa men- se nós pensarmos que a Amazônia
talidade a respeito dos trópicos. é uma região que nos poderá enri-
quecer e nos libertar de tôdas as ne-
Eminente professor francês, um dos
cessidades, não só no que tange a
mais abalisados mestres da Sor-
agricultura, à pecuária e às maté-
bone, especialista em regiões tropi-
rias-primas, como também, no pro-
cais, o Professor Pierre Gouroux, que
cesso de desenvolvimento industrial
tem uma série de trabalhos nos
das suas riquezas naturais, não po-
quais pretende demonstrar a im-
deremos compreender que o Govêr-
praticabilidade dos trópicos na in-
no brasileiro neste instante deseje
dustrialização e até na agricultur:t
cortar os recursos que permitem o
não acredita nos trópicos. No seu li-
desenvolvimento daquela reg1ao;
vro famoso "Les Pays Tropicaux",
principalmente no momento em que
procura demonstrar que a fertilida-
estamos pedindo os necessanos
dade tropical é apenas aparente, re-
meios, às organizações internacio-
presentando, apenas, uma camada
nais, para desenvolver as áreas sub-
de poucos centímetros de humus.
desenvolvidas, Amazônia e Nordes-
Desde que se faça o desmatamento, te.
o solo torna-se improdutivo, trans- Que moral temos nós, que condições
forma-se num outro deserto do Saa- temos nós, perante o mundo, para
ra. Mas, o eminente Professor Pier- recorrermos àquelas instituições no
re Gouroux - com todo o respeito sentido de apoio ao nosso desenvol-
que me merece pois é um grande vimento, quando somos nós os pri-
mestre da ciência da Geografia - meiros a negar a nossa parcela?
fêz tais afirmações possivelmente,
querendo servir ao seu sentimento Há, ainda, a respeito desta Consti-
patriótico. A França tinha seu im- tuição, dispositivo que, infelizmen-
pério colonial, quase todo na faixa te, vem sendo copiado das outras
tropical: e, como acredito, profun- Constituições. A seu respeito, apre-
damente, no patriotismo do francês sentei emenda. Infelizmente, quan-
julgo talvez seja uma leviandade do cheguei ao Plenário da Comissão
minha - que o mestre ilustre esta- para pedir destaque, já havia passa-
- 115-

do a oportunidade. Trata-se do art. O propósito - parece-me é êste:


20, da Constituição. Inciso I, que diz deixar que cada vez mais nos sinta-
o seguinte: mos desesperados e que aceitemos
até como bênção os arreganhas que
"Art. 20 - É vedado: se fazem hoje no mundo com o ob-
I - à União, instituir tributo que jetivo de arrebatar à soberania bra-
não seja uniforme em todo o terri- sileira talvez a mais rica jóia de sua
tório nacional, ou que importe dis- coroa."
tinção ou preferência em relação a
O Sr. Cattete Pinheiro - "Sabemos,
determinado Estado ou Município".
mesmo aquêles que não são técnicos
Sabemos que a uniformidade é um em desenvolvimento econômico, que
princípio geral. Mas, uniformidade foi justamente nos últimos vinte
não quer dizer aplicação rigorosa- anos que tôda esta teoria do desen-
mente igual, em condições desiguais. volvimento econômico se processou
e se alargou entre as nações mais
Em que consiste a igualdade? Já di- desenvolvidas. Se analisarmos o
zia eminente Professor, se não me problema em função das chamadas
engano, português, que a igualdade grandes Nações, como Estados Uni-
consiste em tratar desigualmente, dos, França, por exemplo, verificare-
as condições desiguais. mos que todo o planejamento nacio-
nal foi e está sendo colocado em
Ora, como pretendermos que no in-
função do desenvolvimento regional.
terior do Amazonas, do Acre ou do
Piauí o homem que se inicia com Somente a tecnocracia instituída no
tôdas as dificuldades em uma ativi- Ministério do Planejamento no Bra-
dade possa pagar, em condições d~ sil pretende, com relação à Amazô-
desigualdade, os mesmos tributos nia e ao Nordeste, negar êste fato.
que pagaria no Rio de Janeiro, em
São Paulo ou no Rio Grande do Sul? E ainda mais, como muito bem dis-
Então, propus emenda que ressalva. se V. Ex.a é como que se pretendes-
ria as peculiaridades sócio-econômi- se abrir as portas destas regiões não
cas da Região, para que se permitis- ocupadas à cobiça internacional,
se uma gradação impositiva, con- que não pode ser negado.
siderando as regiões menos favore- Nós, que representamos essas áreas
cidas em relação às mais favoreci- subdesenvolvidas, precisamos não si-
das. É até princípio de solidarieda- lenciar neste momento decisivo, e
de humana, sobretudo quando se principalmente não esquecer que a
trata de uma comunidade nacional. consignação dêste dispositivo que se
As mais favorecidas devem contri- pretende, representará um retroces-
buir um pouco mais para ajudar as so de cêrca de 30 anos de Direito
menos favorecidas. Constitucional do Brasil. Na Consti-
tuição de 1934 as representações do
Pois bem, o dispositivo também foi Nordeste, preocupadas com as sêcas
rejeitado. da região conseguiram incluir o pri-
Por conseguinte, vejam os Senhores meiro dispositivo que demonstrou a
Senadores, há propósito preconce- preocupação do Brasil com a gran-
bido de fazer permanecer naquele de Região Nordestina e os Consti-
estado de primitivismo, aquele esta- tuintes de 1946, pela união das ban-
do estacionário não só da Amazônia cadas do Nordeste e da Amazônia,
mas também do próprio Nordeste. conseguiram a inclusão do disposi-
- 116

tivo relacionado com o desenvolvi- de, a cada um, e todos se unindo e


mento econômico da Amazônia. Ti- se amparando acarretou a maravi-
vemos, então na Carta de 1946, a lha da nossa unidade nacional. Por
consagração de um princípio inici- conseguinte êsse regionalismo que
almente estabelecido na Carta de a Constituição de 1946 visionou e
1934. Como justificaríamos nós, do implantou considerou como que em
Nordeste e da Amazônia, represen- grandes áreas as primitivas capi-
tantes destas regiões no Congresso, tanias, dando um tratamento geral
a nossa posição, se admitíssemos êste nos seus problemas que são mais ou
retrocesso de 30 anos no nosso Di- menos iguais em cada região, e as-
reito Constitucional, nós, que nos sim possamos manter a unidade, a
levantamos contra isso que repre- firmeza ela unidade nacional.
sentará talvez a espoliação da nos-
sa região?" A idéia que se tem, quando se lê o
projeto constitucional é de afasta-
O SR. EDMUNDO LEVI- "Nobre Se- mento de todos êsses organismos já
nador, já se disse que a Constitui- criados.
ção de 1946 tem dois aspectos: um
federativo e outro reforçativo, da Qualquer lei ordinária poderá liqui-
Federação, que seria o regionalismo, dá-los daí para diante. Aliás, terá
isto é, a Constituição de 1946 seria de se reformular tudo que aí está.
regionalista, porque considerou as
:t!:sse propósito de eliminar no que
regiões brasileiras, a fim de lhes po-
aí está, significa acabar com o sis-
der dar um tratamento adequado. tema que agrupava, num regionalis-
A propósito, acode-me à memória mo útil as nossas diversas áreas, com
um pronunciamento de eminente o sentido de dar maior fôrça e uni-
professor brasileiro, grande estudio- formidade ainda com as desigual-
so, embora lusófobo tremendo, cha- dades das regiões à unidade nacio-
mado Manoel Bonfim. :t!:le achava nal."
que Portugal tinha feito tudo para
desmembrar o Brasil e transformá- O Sr. Ruy Carneiro - "V. Ex.a faz
lo em uma série de republiquetas. O muito bem em tratar dêsse assunto
sistema de capitanias não teria tido na hora em que estamos estudando
outro objetivo senão o de transfor- a Carta Magna proposta pelo atual
mar nosso País numa série de pe- Govêrno. Vim do Nordeste a semana
quenas colônias. Graças, entretanto, passada, onde fui receber o diploma
ao espírito do brasileiro, à tradição, de Senador pelas eleições que venci
isso não se fêz, isso não ocorreu. Em no dia 15 de novembro, graças a
verdade, nós, que examinamos o fa- Deus e ao meu povo. Lá observei um
to sem êsse espírito de animosidade verdadeiro pavor em face do silên-
cio do Projeto da Carta quanto à si·-
contra a ação lusitana verificamos
que isso não corresponde à verdade. tuação do Norte e Nordeste. Tem
tôda oportunidade o discurso que v.
Possivelmente dessas peculiaridades Ex.a está fazendo nesta hora por-
regionais, formando as capitanias, é que nós, os representantes do Norte
que promovem a unidade nacional. e Nordeste, deveremos lutar pelas
nossas regiões. Deveremos nos unir,
Nós não tínhamos tradição, nós não a partir da gloriosa Bahia ao Acre,
tínhamos história, nada tínhamo~. para que nossas revindicações sejam
O reconhecimento das peculiarida- atendidas. Temos condições de fazê-
des regionais, dando responsabilida- lo se nós nos unirmos; se as gran-
- 117

des figuras da nossa região se uni- O Sr. Odalberto Sena - "Obrigado a


rem faremos sentir o nosso valor. A V. Ex.a mas não se trata disso. O
propósito do silêncio a que me refe- que êle conclamou foi a congrega-
ri no início dêste aparte, os técni- ção de todos os nossos esforços na
cos acham que a nossa região não defesa intransigente dessas reivindi-
merece aquêle tratamento que as cações -eu diria mesmo desses di-
Cartas anteriores deram. Salvo en- reitos - da nossa Amazônia. Devo
gano, há uma emenda assinada pelo informar a V. Ex.a que também
Deputado Paulo Sarasate, hoje elei- apresentei emenda, que tomou o
to Senador, ou pelo Senador Eurico n. 0 89, em que, prudentemente, pedi
Rezende, restabelecendo a parte re- apenas que se integrasse no texto
lacionada com a Amazônia e a par- da nova Constituição aquilo que já
te relacionada com o Nordeste. De- figurava na atual. E mais do que
vemos lutar nesse sentido. Devemos isso; porque correspondia exatamen-
trabalhar nesse sentido e V. Ex.~ te a uma recente emenda constitu-
pode contar com nossa solidarieda- cional, de n. 0 21, que reproduziu por
de, com nosso apoio, não somente mais um periodo, pois se havia es-
aqui como lá na Comissão Especial, tendido a um período de vinte ano~
onde estamos liderados, como aqui, aquêle dispositivo que mandava des-
pelos nossos companheiros, Sena- tinar certo percentual da nossa ren-
dor Josaphat Marinho e o Líder Au- da tributária para a execução dos
rélio Vianna, nosso Presidente, Se- planos de valorização da Amazônia.
nador Oscar Passos, que é da mesma Devo também informar ao eminen-
região de V Ex.a Devemos pois lutar te colega que essa emenda teve pa-
por isso, porque o grande Presiden- recer favorável do Sub-Relator, em-
te Juscelino Kubitschek, quando fêz bora tivesse parecer contrário do
a estrada ligando Belém a Brasília, Relator, porque o nobre Senador
e tentou fazer a estrada Acre-Bra- Antônio Carlos adotou critério ge-
sília, foi porque êle, que era homem ral, pelo qual, parece, não estar dis-
de descortino, via a necessidade de posto a aceitar qualquer emenda que
se prestigiar, de se engrandecer importe em vinculação ao orçamen-
aquela região. Basta de sofrimento to, desta ou daquela despesa desti-
para nós." nada às regiões do Brasil. Nós, po-
rém, estamos, lá vigilantes e isso
O SR. EDMUNDO LEVI - "Agrade-
que o Senador Ruy Carneiro acaba
ço o aparte do eminente Senador
de afirmar é uma verdade: há uma
Ruy Carneiro. Como vejo que S.
Ex.a, o Sr. Presidente, já me adver- articulação entre os elementos do
Nordeste e os da Amazônia, no sen-
te de que estou esgotando o tempo
tido de cooperação comum em de-
regimental, peço permissão a S. Ex.~
fesa dos interêsses das suas Re-
para conceder o aparte que me foi
solicitado pelo eminente Senador giões."
Adalberto Sena." O Sr. Ruy Carneiro - "Sem preo-
r.upação partidária, mas em defesa
O Sr. Adalberto Sena - "Nobre Se- das nossas regiões!"
nador Edmundo Levi, fiquei viva- O Sr. Adalberto Sena - "Em defesa
mente impressionado com o aparte das nossas regiões e sem preocupa-
do nosso colega Ruy Carneiro." ções partidárias. Então, temos espe-
O Sr. Ruy Carneiro - "Quero dizer- rança de que pelo menos na Comis-
lhe que houve um lapso de minha são Mista essas outras emendas se-
parte quanto ao nome de V. Ex.a" jam aprovadas. Sei que outras
- 118

emendas foram apresentadas no O SR. EDMUNDO LEVI - "Nobre


mesmo sentido. Quanto à minha de- Senador Adalberto Sena, não há,
vo confessar que fui realmente mo- propriamente pessimismo em mi-
desto. Nada inovei. Apenas propus, nhas palavras. O que existe apenas
e vou ler a emenda, porque são pou- é o senso da realidade. Sei dos altos
cas palavras. É a de n. 0 89: propósitos dos eminentes parlamen-
tares da Amazônia e do Nordeste na
"Na execução do plano de valori- conjugação de esforços nesta opor-
zação econômica da Amazônia, a tunidade, porque o que desejamos é,
União aplicará, em caráter per- realmente, defender as nossas re-
manente quantia não inferior a giões. Por isso estamos sendo tão
3% da sua renda tributária." regionalistas."
Não inovei, apenas reproduzi. E O Sr. Adalberto Sena - "É patrio-
disse na justificação que "o ob- tismo também."
jetivo da emenda é não deixar omis-
O SR. EDMUNDO LEVI - ":E:sse re-
so no texto da nova Constituição
gionalismo, êsse patriotismo, é alta-
aquilo que já consta da Emenda
mente louvável porque, neste instan-
Constitucional n.O 21, promulgada
em novembro do ano recém-findo". te, em que ouço as manifestações
dos eminentes colegas, estou certo
Chamei a atenção para o aspecto de que não estou interpretando um
cronológico. Ora, acabávamos de pensamento isolado, mas o pensa-
aprovar emenda constitucional nesse mento da coletividade das Bancadas
sentido. Mas vem imediatamente o da Amazônia e do Nordeste. Daí por-
projeto de reforma constitucional e que espero que, embora sem nenhu-
faz tabula rasa de tudo isso. A emen- ma pretensão, mas apenas querendo
da fôra promulgada em novembro ajudar a esclarecer o problema, as
"depois de ex a u s t i v a m e n t e nossas Bancadas se unam ainda
justificada da tribuna do Congres- mais e obtenham o apoio das demais
so, no decurso da tramitação do pro- a fim de que consigamos fazer cons-
jeto que lhe dera origem. Assim, na tar da Constituição em elaboração
época em que estão sendo parti- o dispositivo equivalente ao da
cularmente focalizados problemas Constituição de 46.
de desenvolvimento e de proteção a Multo grato, Sr. Presidente."
região amazônica, e para ela se vol-
tam, inclusive as atenções do pró- Na sessão de 11 de janeiro de 1967, o
prio govêrno, é incompreensível ter- Senador JOSÉ CANDIDO (ARENA -
se omitido no projeto governamen- Piauí) (27) afirma que
tal disposição necessàriamente já "O País testemunha a cada momen-
consagrada na nossa Carta Magna to o denodado empenho do Senhor
há mais de vinte anos". Foram es- Presidente da República de pre-
tas as poucas palavras com que jus- encher o seu mandato na plenitude
tifiquei a emenda. E pronunciei jus- da sua autoridade e no desempenho
tamente poucas palavras para que a dos deveres que lhe estão cometidos.
justificação pudesse ser lida. Não
obstante, porém, o pessimismo que Aqui mesmo, nesta Casa, participa-
V. Ex.a revela em seu discurso, eu o mos de atividades transcendentais a
conclamo a se aliar a êsse grupo que que nos convocou a convicção de Sua
está lutando em defesa daquelas Excelência de que é um imperativo
nossas indeclináveis e justas preten- da Revolução deixar em nossas nor-
sões." (27) D.C.N. - S. II - 12-1-67 - pág. 60
- 119

mas constitucionais a marca dos ob- quer circunstância, não deixasse ao


jetivos do movimento de 31 de desamparo, no momento de passar o
março. cargo, a terra piauiense, na qual o
nome Castello Branco finca suas
E é na manutenção dêsse roteiro
raízes.
presidencial, sem aclives nem decli-
ves, mas uma reta a nos oferecer a O conceito de desamparo, no caso, é
garantia do que ainda está por vir, relativo, porque se poderia compa-
é nessa firmeza de propósitos que o rar aos receios de um filho dileto.
meu Estado, Senhor Presidente, en-
contra a razão para, em tão curto Com efeito, é hora de se reconhecer
prazo de tempo, ainda esperar tanto que, sendo o seu território a sede da
de quem já tanto lhe deu. mais importante das obras empre-
endidas pelo Govêrno Castello Bran-
Senhor Presidente, na devida opor- co - a barragem da Boa Esperança
tunidade, apresentei ao exame do - o Piauí encontrou sob a atual
Congresso emenda constitucional administração a grande promessa de
que destina meio por cento da re- prosperidade por que anseia, sempre
ceita da União à valorização e ao desassistido, desde o Império.
aproveitamento do Vale do Parnaí-
ba. Tal iniciativa, correspondendo Somos - e o fato tem sido procla-
às mais justas e sentidas aspirações mado - o mais pobre Estado da Fe-
do povo que habita aquela região, deração . Marcado por dois ciclos
nele se incluindo a minha gente Econômicos singelos, o do gado e o
piauiense, suscitou um volume no- da carnaúba, o primeiro dêles fi-
tável de manifestações de interêsse gurando na própria origem da pro-
pela sua aprovação e não devo dei- víncia, surgida dos descaminhos da-
xar de registrar a emoção com que queles que, partindo de São Paulo
vi partilharem da minha iniciativa, através do Recôncavo Baiano, de-
com a solidariedade que deram, os mandavam o Maranhão - nunca
Governadores Helvídio Nunes e José encontrou o Piauí, nem no gado nem
Sarney, o Arcebispo de Teresina e as na carnaúba, uma base econômica
diversas associações de classe do pelo menos razoável que, correspon-
Piauí. dendo à sua autonomia política, pos-
A emenda ainda será objeto de deli- sibilitasse o mínimo de progresso
beração, e mantenho intacta a espe- para fugir à invariável tristeza de
rança de que o Congresso a aprova- ostentar o mais baixo rendimento
rá, mas, sem embargo de sustentar "per capita" do Brasil. Sempre re-
tal esperança, devoto-me, também, correndo à ajuda federal, insufici-
na medida das minhas fôrças, a en- ente até mesmo para suplementar
contrar alternativas que impeçam o suas despesas de custeio, o Piauí,
fechamento, para o meu Estado, das por penoso que seja reconhecê-lo, na
portas da redenção econômica. realidade vegetou pelas décadas afo-
ra, até que, de dois anos a esta parte,
Há dias, Sua Excelência o Senhor viu, cheio de esperanças, surgir o
Presidente da República recebeu-me gigantesco canteiro de obras da bar-
em audiência, e, então, com a visão ragem, onde se acumularão as águas
realista do duro caminho que minha do Parnaíba, para irrigar o meu Es-
emenda teria de percorrer, preten- tado e para fornecer-lhe, em todos
dia eu fazer um derradeiro apêlo a os quadrantes, a energia sem a qual
Sua Excelência para que, em qual- é impossível pensar em progresso.
- 120
É êste, porém, um salto tão grande seios do povo piauiense. E .imediata-
no desenvolvimento econômico, que mente incumbiu o Ministro para os
pode, por contraditório que pareça, Organismos Regionais, Sua Excelên-
tornar-se até prejudicial, em vez de cia o Doutor João Gonçalves de Sou-
benéfico para a minha gente, se não za, a cujas virtudes rendo preito de
fôr acompanhado da assistência per- homenagem, de proceder com a ur-
manente da União, que ali realiza gência necessária para que a Co-
agora a obra redentora. O Piauí não missão de Valorização e Aproveita-
tem condições econômicas para dar mento do Vale do Parnaíba venha a
destinação àquela energia. Sem os surgir ainda no atual Govêrno.
recursos que, num fluxo permanen- Ora, Senhor Presidente, não há
te, lhe permitam distribuir a ener- como disfarçar o otimismo diante de
gia e organizar a infra-estrutura de tais circunstâncias. De um lado, mi-
uma e c o no m i a agro-industrial, nha emenda constitucional, graças
aquela magnífica obra de engenha- ao entendimento com que se encer-
ria pode converter-se, para nós, em raram os trabalhos da Comissão
verdadeiro engôdo, e, para a União Mista do Congresso, vai à delibera-
Federal, em indisculpável desper- ção do plenário. É certo que órgãos
dício. técnicos opinaram contra a minha
Foi essa perspectiva sombria num iniciativa, mas nem por isso posso
quadro tão promissor que me indu- considerá-la derrotada em face da
ziu a oferecer emenda ao projeto de certeza de que a sensibilidade polí-
Constituição e também foi ela que tica, o patriotismo e o espírito pú-
me moveu a colocar nas mãos do Se- blico serão demonstrados pelo Con-
nhor Marechal Castello Branco a gresso no mesmo grau em que o fo-
sorte do meu Estado, que é a terra ram, ao longo de seu exaustivo tra-
dos seus antepassados, desde Fran- balho, pelo relator, nosso compa-
cisco da Cunha Castello Branco. Na nheiro Senador Antonio Carlos Kon-
audiência que, estou certo, não por der Reis, e os demais membros da-
minha causa mas pelos assuntos tra- quele órgão."
tados, se converterá num episódio O Sr. Eurico Rezende - "Permite
marcante do futuro do Piauí, expus V. Ex.a um aparte?"
a Sua Excelência as razões da mi- O SR. JOSÉ CANDIDO - "Com pra-
nha emenda e pedi-lhe que, a se não zer."
viabilizar a aprovação daquele texto, O Sr. Eurico Rezende - "V. Ex.a de-
tomasse o Senhor Presidente da Re- fende a conexão do desenvolvimento
pública a iniciativa de criar, com os de regiões do Pais ao orçamento, em
podêres de que dispõe, a Comissão regime de vinculação permanente.
de Valorização e Aproveitamento do
Vale do Parnaíba, para que, como Dou meu testemunho de que V. Ex.a
ocorre com o São Francisco, possam tem sido até impertinente ao reivin-
as populações do Vale contar com dicar essa vinculação em têrmos do
os recursos da União para ajudá-las Piauí. Aliás, tem sido uma constante
decisivamente no caminho do pro- de V. Ex.a nesta Casa a pertinácia
gresso. na defesa daquele Estado. V. Ex.a
acentuou, em seu discurso, uma mo-
O Senhor Marechal Castello Branco, tivação sentimental que obrigaria o
para minha alegria, assegurou-me a Sr. Presidente da República a aten-
compreensão para o que ali era ex- der ao Piauí, porque lá estão aden-
posto e o desejo de atender aos an- tradas as raízes da sua natalidade.
- 121
:tl:sse fato valeu até antes do Mare- sentamento dos orçamentos plu-
chal Castello Branco ser Presidente rianuais, a União destinará os
da República; agora o local do nas- investimentos públicos por todo o
cimento de S. Ex.a foi o Brasil. O País, mas dentro dos seguintes cri-
Chefe da Nação, naturalmente, não térios: população, superfície e re-
irá pensar apenas em têrmos do gião prioritária em matéria de de-
Piauí, mas o interêsse de S. Ex.a de- senvolvimento econômico. A outra
ve cobrir por igual tôda a geografia emenda é genérica, diz que os orça-
brasileira. De modo que louvo e mentos plurianuais serão mobiliza-
compreendo o egoísmo sentimental dos em direção às regiões geo-
de V. Ex.a, que está com a sua aten- econômicas menos desenvolvidas. De
ção tão somente pespegada nos in- modo que V. Ex.a pode ficar de pé,
terêsses do Piauí - o que, repito, é porque já terminei o meu aparte."
louvável -, mas é bom que fique
O SR. JOSÉ CANDIDO- "Agradeço
claro, o Presidente da República não
nasceu em cidade nem município as carinhosas e irônicas palavras do
nenhum, o Presidente da República meu dileto e fraterno amigo, Sena-
nasceu foi no território brasileiro e dor Eurico Rezende, no seu aparte,
terá que dedicar seu afeto, seu es- que foi um discurso paralelo.
pírito público, dando oportunidade a
todos os Estados. Neste particular, É natural que S. Ex.a compreenda
quero salientar, o Espírito Santo, como todos nós do Nordeste temos
nunca teve vinculação orçamentá- o dever de sustentar a vinculação
ria, nunca teve o seu desenvolvi- orçamentária na Constituição.
mento tutelado por percentuais da O Senador Eurico Rezende, na qua-
lei de meios da União. V. Ex.a não lidade de Vice-Líder do Govêrno
se iluda: apesar de seus esforços e, nesta Casa e de Vice-Presidente da
como disse, da sua impertinência Comissão Mista que estudou o Pro-
nessa matéria, a vinculação cairá. jeto de Constituição, sabe muito bem
que foi instrumento do Govêrno
Apresentei em e n d a estabelecendo apresentando emenda contornativa
vinculação para os vales do !tape- que vai permitir que o Govêrno atual
mirim, do Itabapoana e de São Ma- e o futuro estabeleçam o que se con-
teus, no meu Estado. Se ocorrer isto, vencionou chamar de orçamentos
plurianuais.
que V. Ex.a espera - face ao senti-
mentalismo do Sr. Presidente daRe- Mas, Sr. Presidente, quando verifica-
mos que, se há 22 anos, por exemplo,
pública com relação ao Piauí, que é
na Região Amazônica, em que a
terra natal dos ancestrais de S. Ex.a vinculação é específica, é peremp-
-, então vou defender a minha tória ela não foi cumprida, como é
emenda de vinculação em favor do que vamos esperar mais das chama-
Espírito Santo. Agora, quero tran- das aplicações específicas de verbas,
qüilizar V. Ex.a: apresentei duas sobretudo no Govêrno que se vai ini-
ciar e que, naturalmente, terá seus
emendas visando ao atendimento próprios projetos.
dos objetivos da de V. Ex.a, mas
Vou defender minha emenda como
para todo o Brasil. V. Ex.a vai estou certo o farão todos os Repre-
permitir a extensão do aparte. A sentantes da Região Amazônica, da
primeira emenda reza que no as- Região do Rio São Francisco e do
- 122
Nordeste inteiro. Mas depois de vin- :ll:sse é o dever dos representantes do
te anos de mandato legislativo não povo e dos Estados. A mim não cau-
tenho ilusões sôbre como se proces- sou qualquer surprêsa, nem descon-
sam as coisas nesta Casa. E sei que fôrto na função de Relator, haver
o nobre Senador Antônio Carlos sen- encontrado inúmeras emendas plei-
tir-se-á constrangido, por um impe- teando o restabelecimento das vin-
rativo maior, a não vir ao encontro culações da Carta de 46, ou pleitean-
do desejo que hoje é do Piauí intei- do ainda o estabelecimento de ou-
ro. Entretanto, caso as contingências tras. O critério, porém, adotado pelo
sejam desfavoráveis ao meu vaticí- relator tinha que ser aquêle que se
nio, estou seguro de que a situação compadecesse com a sistemática do
será atendida pelo organismo a ser projeto. Ora, nêsse particular êle é
criado na lei ordinária. inovador, cria a figura dos orçamen-
tos plurianuais, que serão votados
Por isto mesmo, o fato de estar em pelo Congresso, e nêles estarão in-
mãos do Ministro João Gonçalves de cluídas tôdas as dotações para in-
Souza o equacionamento do problema vestimentos, programas e obras cuja
para o meu Estado é um seguro fa- execução se prolongue por mais de
tor de tranqüilização, pois sei do
um exercício. E, no orçamento anual,
profundo conhecimento que Sua Ex-
as dotações destinadas aos investi-
celência tem daquela Região, agu-
mentos, obras e programas só pode-
çado ainda mais pela sua experiên-
rão figurar se antes estiverem con-
cia na direção da SUDENE, que se
signadas nos orçamentos pluri-
converte no penhor de que o Nor-
anuais. Dêsse modo, o relator-geral,
deste Ocidental, que é a parte mais
pura e simplesmente, não acolheu
pobre do pobre Nordeste, será gran-
nenhuma dessas emendas sôbre vin-
demente beneficiado como canse- culações."
seqüência dos estudos que já estão
sendo feitos por determinação do
O Sr. Eurico Rezende - "Sem ne-
Senhor Presidente da República, a nhum constrangimento!"
quem a História prestará o merecido
tributo." O Sr. Antônio Carlos- "Exatamente,
O Sr. Antônio Carlos - "Cheguei a sem nenhum constrangimento. Mes-
êste plenário quando V. Ex.a já pro- mo porque elas alcançavam a peri-
nunciava o seu discurso. Diante dis- gosa cifra dos 38% da receita! E o
so, o meu aparte talvez não abranja relator-geral não tinha condições de
tôdas as considerações que V. Ex.a estabelecer uma seleção. De modo
está produzindo. A questão das vin- que o parecer foi contrário a essas
culações da receita da União, na vinculações: primeiro, porque atin-
Constituição Federal, teve, por parte giriam a êsses 38% da receita, o que
da Comissão Mista, que examinou o comprometeria fatalmente qualquer
projeto, o tratamento que me pare- execução orçamentária; s e g u n d o
ceu prudente. Inicialmente, para porque no sistema de orçamentos
justificar esta minha afirmativa, de- plurianuais, que serão discutidos e
sejo louvar a iniciativa de V. Ex.a e votados pelo Congresso, com aquelas
de tantos quantos, através de emen- reservas e condicionamentos cons-
das ao Projeto de Constituição, pro- tantes da emenda do nobre Senador
curaram preservar aquelas vincula- Eurico Rezende, pela qual o Govêrno
ções já existentes no texto da Cons- tem que dar preferência a progra-
tituição de 46, ou incluir outras. mas de integração e de desenvolvi-
- 123
mento econômico nas zonas menos tanto, se a ARENA teve em Pernam-
desenvolvidas do País, estabelecer- buco vitórias espetaculares, como em
se-á um sistema, a meu ver, mais efi- todo o Nordeste, acredito eu que um
ciente do que o das simples vincula- dos fatôres decisivos para êsse êxito
ções que, de resto, não são cumpri- eleitoral foi o fato de as verbas vin-
das. Ocorreu, porém, que o assunto culadas e aquelas destinadas à SU-
despertou na Comissão Mista um vi- DENE virem sendo aplicadas com
vo interêsse, e houve, então, uma mais rigor em benefício da região
decisão unânime no sentido de o que começa a apresentar aspecto de
Relator-Geral e a Comissão Mista desenvolvimento acentuado. Basta
emitirem parecer favorável a tôdas referir que o próprio Ministro do
as emendas que tratavam da vin- Planejamento, nos seus estudos,
culação, para que o Plenário pudesse, sempre atribui ao Nordeste um índi-
na sua sabedoria, decidir. De acôr- ce de crescimento 7% maior que no
do com essa deliberação, a emenda Brasil todo. Até psicolàgicamente
apresentada por V. Ex.a mereceu pa- causaria impacto para o Nordeste
recer favorável da Comissão, embora pretender nesta hora, neste clima de
com o parecer contrário do Relator- euforia - psicolàgicamente, repito,
Geral. Assim, o Plenário do Con- se outra razão não houvesse - ado-
gresso, quando da votação das tar medida no sentido de extinguir
emendas à Constituição, vai decidir as verbas vinculadas. Se alguém
bàsicamente se aceita o sistema de conversar com o Ministro João Gon-
orçamento plurianuais ou se deseja çalves a respeito da SUDENE, há de
prosseguir no sistema de vincula- verificar que S. Ex.a declara sempre
ções orçamentárias. Era o aparte que que aquêle órgão tem trabalhado
desejava dar a V. Ex. a" muito mais com verbas vinculadas
do que com as que lhe são próprias.
O Sr. Manoel Villaça - "Acompanho
o discurso de V. Ex.a com o interêsse Há ainda o argumento de que os
natural de quem pertence à Região incentivos fiscais estão realmente
Nordestina. Dou aqui o meu teste- desenvolvendo o Nordeste, isto no
munho a respeito dessas vinculações sentido da iniciativa privada. Per-
gunto a V. Ex.a qual a situação, do
de verbas orçamentárias. O Nordes-
Nordeste à falta de vinculações, se
te - região que se transformou na êsses programas plurianuais não se
grande área ameaçadora da integri-
efetivarem?"
dade nacional, aquela que poderia
trazer conseqüências mais graves - O SR. JOSÉ CANDIDO - "É o caso
ultimamente vem gozando um clima da Amazônia, para onde nunca fo-
de euforia face às iniciativas gover- ram canalizadas as verbas, na sua
namentais, levadas mais a sério des- totalidade, mesmo sendo dispositivo
de o advento da revolução de 31 de constitucional."
março. E tanto é fato essa euforia O Sr. Eurico Rezende- "O orçamen-
resultante da melhor aplicação dos to anual, o Govêrno não é obrigado
recursos destinados à SUDENE, ou a executar. É lei autorizativa; de
através de vinculações orçamentá- qualquer maneira, depende do Go-
rias, ou através de incentivos fiscais, vêrno."
que basta referir o seguinte: espera-
va-se que em Pernambuco, núcleo O Sr. Manoel Villaça - "Será im-
maior da subversão, o MDB tivesse plantada a estrutura necessária a
votação acima da que teve. No en- estimular a iniciativa privada? Por-
- 124
que, com os incentivos fiscais a SU- manifestação, há uma injustiça com
DENE não tem autorização legal para uma região que deseja também
empregar êsses recursos em estradas, acertar o passo no sentido de mar-
eletrificação etc. Pergunto: à falta char com o progresso do País. Quem
de recursos, como ficaremos? Ade- examinar, nas suas origens, o sen-
mais, não vejo choque entre o orça- tido dessas vinculações constitucio-
mento vinculado e orçamento plu- nais, haverá de encontrar exata-
rianual. Não vejo choque. Poderão mente o próprio prestígio das ban-
ambos ser perfeitamente executados. cadas do Norte e do Nordeste. O Go-
vêrno Federal sempre carreou re-
De modo que é necessária melhor cursos para os Estados do Sul. Para
discriminação na aplicação dos re- êsses não se precisava de vínculo
cursos. Não é o caso, por exemplo, constitucional que valesse o prestí-
da Amazônia o que ocorre no Nor- gio pessoal dos seus representantes,
deste. Dou meu testemunho de que mas, para nós outros, foi preciso que
a situação se modificou de modo que se colocasse na Constituição êsse
o povo do Nordeste começa a ter vínculo, para que o Govêrno Fe-
confiança nos destinos da região. É deral fôsse obrigado a destinar re-
um apêlo que faço, como nordestino, cursos para obras que acelerassem
para que êsse impacto, pelo menos o progresso da Região."
sob o aspecto psicológico, não venha
numa hora em que estamos confian- O SR. JOSÉ CANDIDO "Ainda
tes, vendo surgir as chaminés das assim, não o foi na totalidade."
fábricas, as estradas, os postes de
eletrificação, confiantes na integra- O Sr. Wilson Gonçalves - "Essa a
ção nacional. Não se quebre no nor- razão da vinculação. E se se pode
destino a esperança de uma vida aumentar o volume, devemos dar
melhor, pelo bem do Brasil." maior destinação para os pequenos
Estados, os mais pobres do País. Pre-
O Sr. Antônio Carlos - "O nobre Se- cisamos dar à Nação desenvolvi-
nador Manoel Villaça colocou o pro- mento global. No momento em que
blema com rara felicidade. Mas, eu perdermos a vinculação, vamos ficar
perguntaria: foi a vinculação orça- novamente mendigando recursos,
mentária, que vem de 1946, que per- que ficarão à mercê da boa vontade,
mitiu êsse desenvolvimento no Nor- da compreensão dos futuros gover-
deste, essa aplicação de recursos em nantes. Considero nossa posição
favor do desenvolvimento econômico questão vital para a Região e está
daquela região, ou os Planos da SU- precisamente ligada à própria legi-
DENE, discutidos e votados pelo timidade da representação nesta
Congresso, que são verdadeiros orça- Casa."
mentos plurianuais?"
O Sr. Edmundo Levi- "Nobre Sena-
O SR. JOSÉ CANDIDO- "Havia uma dor José Cândido, V. Ex.a. defende
dotação específica consignada." ponto de vista absolutamente certo.
O Sr. Wilson Gonçalves - "As pala- Quero apenas dar testemunho ares-
vras do nobre Senador Antônio Car- peito do que ocorre na Amazônia,
los, no aparte primeiro que deu a do que tem ocorrido naquela região,
V. Ex.a, poderão ser consideradas apesar da verba vinculada. Todos os
como um primor de técnica finan- governos, não só êste - vamos dizer
ceira, mas, através dessa aprimorada a verdade -, têm incluído, sistemà-
-125-

tlcamente, uma verba constitucional, O Sr. Antônio Carlos- "O aparte do


que é a do art. 199, no plano de eco- nobre Senador Edmundo Levi vem,
nomia. Veja V. Ex.a, trata-se de justamente, em socorro da posição
verba constitucional e não de verba do Relator da Comissão Constitucio-
ordinária ou orçamentária. No en- nal. Desde 1943 que a Amazônia
tem uma vinculação orçamentária e
tanto, o Govêrno a inclui em plano
S. Ex.a acaba de declarar que era
de economia, deixando de cumprir comum, era praxe a inclusão dessas
dispositivo constitucional, o que não verbas no plano de economia. É
aconteceria se as verbas fôssem me- preciso procurar a causa dêsse fenô-
ramente orçamentárias. Poderá, sim, meno. E a causa justamente reside
a qualquer momento, por questão de na falta de um plano, de um pro-
economia, suspender completamente grama. Quando visitamos a Região
a execução de qualquer obra, sob a Amazônica em 1963 ouvimos queixas
alegação de que há necessidade de dos dirigentes da SPVEA. Uma de-
se fazer economia. A vinculação, las versava sôbre as dotações da
apesar de o Govêrno cometer o SPVEA que eram atomizadas. Tal
abuso de suspender obras, sob a des- número de pequenas dotações objeto
culpa de economia, importa na ga- de emendas aprovadas dos represen-
rantia de que as organizações regio- tantes à Câmara e ao Senado, que
nais contarão com verbas suficien- as verbas da Região Amazônica se
tes para executar, dentro do possí- dividiam por centenas e até milha-
vel, os seus planos. O que tem acon- res de rubricas. Tive o cuidado de
tecido na Amazônia não é em vir- compulsar a proposta orçamentária
tude de as verbas da SUDENE serem do exercício de então, e verifiquei
ou não vinculadas. O êrro foi a im- que a proposta já incluía mais de
plantação inicial, o que não ocorreu 600 dotações. E essa atomização era
com a SUDENE, mais feliz, porque o resultado da falta de um plano.
os erros da SPVEA permitiram ao
Eu não sou contrário às vinculações.
Govêmo evitar que nêles incorresse
a SUDENE, quando da sua implan- Apenas acho que os orçamentos plu-
tação, e os próprios erros da SU- rianuais irão suprir a necessidade de
DENE concorreram para que se me- uma vinculação. Por outro lado, não
lhorasse o projeto que iria ser exe- me poderia manifestar, como Rela-
cutado e que não terá mais objetivo, tor, favoràvelmente a essas emen-
desde que não conste, na Carta das, determinando vinculações, por-
Magna, um artigo equivalente ao que atingiam a 38% da receita. Eu
n.0 199 da Constituião. Não existin- pergunto ao Senado: é possível vin-
do mais êste artigo, não existe mais cular 38% da receita orçamentária?
objetivo. De maneira que, eu queria,
dando êste testemunho a V. Ex.a, Tanto não sou contrário que, na úl-
dizer que devemos lutar, juntos, tima reunião da Comissão, quando
Norte e Nordeste, sem partidaris- se estabeleceu um critério de enten-
mos, sem compromissos governa- dimento para que as emendas pu-
mentais ou doutrinários, ou mesmo dessem chegar ao plenário, dentro
oposicionistas, mas, sobretudo, com do prazo estabelecido pela Presidên-
o compromisso regionalista, pela cia do Congresso Nacional, com pa-
manutenção dos dispositivos vin- receres favoráveis ou contrários, eu
culatórios de verbas referentes à não tive qualquer dificuldade em
nossa região." concordar em que, por maioria, a
- 126
Comissão aprovasse tôdas aquelas volver os seus trabalhos apenas na
emendas que visavam à vinculação fase do projeto, e os recursos con-
da Receita. Também longe de mim signados não atendiam à Região co-
o propósito de ser contra tais vin- mo era de se desejar. Assim, tem
vulações para prejudicar quaisquer V. Ex. a nosso aplauso. É mais do
regiões. Tanto assim que as únicas que justo que a nossa região man-
emendas nesse sentido que não me- tenha aquilo que conquistou, há
receram parecer favorável da Co- muito tempo, nos governos passa-
missão, porque não suscitei o pro- dos, em épocas passadas."
blema, foram as duas que visavam
à vinculação existente para o Plano O Sr. Joaquim Parente - "Quero,
do Carvão e que beneficiam, direta- nesta oportunidade, solidarizar-me,
mente, o Estado que represento nes- não só em meu nome mas em nome
ta Casa. A vinculação para a Fron- de tôda a Bancada piauiense e em
teira Sudoeste, que beneficia o Rio nome do Estado do Piauí, pelo bri-
Grande, Santa Catarina, Paraná e lhante discurso que V. Ex.a está fa-
Mato Grosso, esta figurou na Emen- zendo, onde faz alusão à emenda de
da do Deputado Paulo Sarasate e na sua iniciativa, que diz respeito à
Emenda do Deputado Adolpho Oli- vinculação de recursos para o Piauí.
veira. Mas à vinculação para o Pla-
no do Carvão, que era objeto ape- Estou certo de que esta solidarie-
nas da Emenda do Deputado Alvaro dade não será só do Piauí, mas de
Catão e do Deputado Dionísio de todos os elementos ligados às Ban-
Freitas eu não suscitei o problema cadas do Norte e Nordeste, e de que
porque estou convencido de que os nossos dignos representantes do
dentro da sistemática do projeto, as Sul não nos faltarão também com
regiões do Nordeste, da Amazônia e o seu apoio. Receba, pois, V. Ex. a
outras menos desenvolvidas serão minha solidariedade, em nome da
atendidas através dos orçamentos Bancada do Piauí e do povo piaui-
plurianuais e, principalmente, serão ense."
atendidas de modo legítimo, porque
certamente serão discutidos nos Ple- O SR. JOSÉ CANDIDO - "Senhor
Presidente, encerrando minhas con-
nários da Câmara e do Senado."
siderações, desejo congratular-me
com a Casa pelo fato de, ao pronun-
O Sr. Ruy Carneiro "Não quero nunciar êste discurso, haver, pràti-
deixar de apartear V. Ex.a para dar camente, aberto o debate sôbre uma
a minha solidariedade, que deve ser das mais palpitantes questões ora
a de todos os que nasceram da Bahia discutidas e votadas na nova Cons-
ao Acre, e acredito que a de todos os tituição . A interferência honrosa dos
Estados. Na realidade, o Senador Srs. Senadores Antônio Carlos, Ma-
Antônio Carlos, relator-geral do Pro- nuel Vilaça, Wilson Gonçalves, Ed-
jeto de Constituição, na Comissão mundo Levi, Rui Carneiro e Joaquim
Mista, se portou da maneira como se Parente deram brilhantismo e im-
está referindo agora - dou meu portância ao tema que venho aflo-
testemunho. Devemos unir-nos, no rando.
plenário, para que seja mantida a
vinculação. Sabe V. Ex. a que mesmo Sr. Presidente, o Senado e o Estado
através dela, os recursos não eram de Santa Catarina já conheciam de
aplicados no Nordeste. ultimamente sobejo a invulgar capacidade de tra-
é que a SUDENE começou a desen- balho, a inteligência e o comporta-
- 127
mento do nobre Senador Antônio favorável, mas continuo no meu pon-
Carlos. Mas acredito que somente to de vista e o Plenário é que vai
agora o País tem conhecimento da decidir soberanamente. O que a Co-
importância, do mérito dêsse Sena- missão fêz, é importante que o Bra-
dor. A atuação de S. Ex. a na grande sil saiba - não somente o Relator
comissão constitucional é penhor se- como os Sub-Relatores e todos seus
guro do que êle ainda pode dar a Membros, o que fêz e que eleva o
êste país. Congresso e que representa um tra-
balho do Poder Legislativo, é o ter-
Só um homem do brilho, da vivaci- mos dado grandeza à discussão e vo-
dade e da capacidade de argumen- tação do projeto e das emendas à
tação do Senador Antônio Carlos é Constituição. Isto é que é impor-
que teria condições para contradi- tante, acima das questões que pode-
tar-nos e nós nos conformamos com rão ser discutidas em plenário. Sa-
a recusa de apoiar a tese em que be V. Ex.a das dúvidas, dos ressaibos,
nos empenhamos com tôdas as fôr- dos temores que cercaram a apre-
ças do nosso patriotismo. sentação dêsse projeto."

S. Ex.a já encontrou uma fórmula O SR. JOSÉ CANDIDO - "Dou meu


que me parece exeqüível, dadas as testemunho do que foi o trabalho
circunstâncias, mas creio que as in- de V. Ex.a"
junções políticas, vamos ser claros,
possam induzir o Govêrno a ceder, O Sr. Antônio Carlos - "Mas, o tra-
a fazer uma composição, no momen- balho da Comissão Mista fêz com
to da votação, do mesmo jeito que que a discussão e votação da Cons-
foi possível, ao encerrar-se o prazo tituição tivesse a seriedade necessá-
de apreciação dos destaques na ria, e é o documento que vai valer
grande Comissão Mista." para o desenvolvimento do progresso
e da paz do Brasil."
O Sr. Antônio Carlos - "Peço licença
O SR. JOSÉ CANDIDO - "Sei talvez
para interromper V. Ex.a, ainda uma
mais que outros, nobre Senador An-
vez, a fim de agradecer as generosas
tônio Carlos, de que V. Ex.a não se
referências que fêz à minha pessoa deixou jungir às pressões."
e declarar ao Senado, como declarei
na Comissão, que apenas cumpri O Sr. Antônio Carlos - "Grato a
com o meu dever. Pude chegar ao V. Ex.a"
fim do trabalho com relativo êxito,
graças ao apoio dos Srs. Sub-Relato- O SR. JOSÉ CANDIDO - "Só desejo
res e de todos os Membros daquela afirmar que não falo como piauiense
Comissão, pois que fizemos um tra- nem como filho do Nordeste, senão
balho de equipe - os resultados a como brasileiro, animado das fôrças
que chegaram as emendas de vin- que me vêm do raciocínio e do sen-
culação é uma prova do trabalho de timento, e que me impelem a decla-
equipe. Não tenho questões fecha- rar que o futuro do nosso País de-
das, nem poderia tê-las em assunto pende não apenas do esfôrço de de-
como êste, de discussão e votação da senvolvimento regional, mas da se-
Constituição. Defendi um ponto de gurança de que a integração nacio-
vista. Meu ponto de vista não foi nal é o penhor insubstituível para a
vitorioso com relação às emendas de realização da grandeza do nosso
vinculação, que receberam parecer porvir.
- 128
CAMARA DOS DEPUTADOS Antes de mais nada, eu sustento,
portanto, a preliminar da inoportu-
Na sessão de 13 de dezembro de 1966, nidade e da inexistência de clima, de
o Deputado FLôRES SOARES (ARENA ambiente, para se elaborar a Magna
Rio Grande do Sul) (28) pronuncia o Carta. Por que se fazer com êste
seguinte discurso: açodamento? Por que se fazer com
- "Sr. Presidente, Srs. Deputados, essa· pressa? Por que se fazer sem
vive o Congresso Nacional uma das serenidade e sem equilíbrio? Por que
horas mais importantes, mais gra- não deixar, então, para o próximo
ves, mais transcendentes de sua his- Congresso, para a próxima legisla-
tória, na presente legislatura. - tura, também com maior tempo, a
Trata-se, nada mais, nada menos, fim de que não saia, como diria o
de elaborar a Magna Carta, a Lei grande Rui, um trabalho ataman-
das Leis, que deve disciplinar tôda cado?
a vida de um povo e de uma Nação, Um dos males dêste País, nesta qua-
desde os direitos inalienáveis do ci- dra tormentosa que temos vivido,
dadão, os direitos de família, até a é legislar, legislar muito e legislar
ordem econômica. mal. O resultado são leis apressa-
Eu pergunto, desde logo: Neste cre- das, leis mal feitas, leis que nunca
púsculo melancólico de fim de go- chegam a ser executadas; leis como
vêrno e de fim de legislatura, com a reforma agrária, que se tornou
um Congresso mutilado, perseguido, apenas instrumento escorchante do
ameaçado, aterrorizado, será possí- trabalhador rural; leis como a re-
vel, Sr. Presidente, elaborar a sério forma tributária, um salto nas tre-
uma Carta Magna? Eu entendo, Sr. vas, que ninguém sabe o que virá a
Presidente, que êste Congresso, co- ser e que pode liquidar de vez a Fe-
mo um sismógrafo sensível, deveria, deração.
antes de mais nada, sentir a vonta- Por isso, desejaria que se fizesse uma
de do povo, os anseios do povo. Constituição com o povo e para o
povo, com amplo debate popular e
Dêle deve vir tôda a soberania. í!.:le
com tempo, para que todos pudes-
é que nos mandou para cá. í!.:le é
sem pensar livremente, pensar ma-
que permite que nós aqui retornemos
duramente e trabalhar descansada-
pelos seus sufrágios. í!.:le é que torna
mente. Não é isto que se pretende.
válidos os mandatos, todos os man-
datos. Devo ainda referir-me en passant,
pela angústia de tempo, ao Ato Ins-
í!.:le somente êle. Antes de mais na- titucional n. 0 4.
da, Sr. Presidente, oiça-se o povo
todo, os estudantes, os trabalhado- Sr. Presidente, recorde-se a tradi-
res, as classes sociais, os doutos, os ção brasileira no Império e na Re-
institutos, os advogados, as univer- pública. A Constituinte do Império
sidades. Oiça-se tudo e discuta-se, foi dissolvida pelo Imperador. E por
amplamente, a feitura dessa Cons- quê? Porque não se sujeitou à san-
tituição, se é que se quer fazer uma ção das leis pelo Imperador. Julgou
Constituição de verdade, se é que se isso uma usurpação.
quer fazer uma Constituição para
valer. Mas, parece que não é isto o Na República, em tôdas as Consti-
que se pretende; parece que não é tuintes, em tôdas elas, as normas
isto o que se quer. - --
(28) D.C.N. - S. I - 14-12-66 - pág. 7.154
- 129-

de tramitação do projeto de Carta tador outorgou uma Constituição -


Magna foram traçadas - e não po- a Constituição de 37. Então, eu di-
dia deixar de ser assim - pelos pró- ria como Otávio Mangabeira, quan-
prios Constituintes. Agora não, Sr. do lhe declararam: "Vamos revogar
Presidente. Agora, o Govêmo, o Po- essa Constituição". :l!:le disse: "Não,
der Executivo usurpa atribuições do vamos deixá-la, para que se apllque
Congresso e impõe as normas de tra- só sôbre os que a fizeram".
mitação.
Agora, porém, todo o povo brasilei-
Daí a questão de ordem que ontem ro terá de sofrer. Todavia, antes de
levantei perante o Presidente do mais nada, sofremos nós a usurpa-
Congresso, o nobre Sr. Aura Soares ção de atribuições do Congresso Na-
de Moura Andrade, pedindo a S. Ex.a cional. Ademais, Sr. Presidente, eu,
defenda o Legislativo, para que não que venho da Revolução de 30, quan-
sofra mais essa usurpação. do sustentamos ao preço de sangue
a representação e a justiça; eu, que
Realmente, não é possível que nós, venho da Revolução de 32, com os
acocorados, de cabeça baixa, aga- paulistas, sob a chefia de Borges de
chados, soframos mais êsse insulto, Medeiros, para sustentar uma Cons-
de imporem a nós as normas de tra- tituição legítima, uma Constituição
mitação, discussão e elaboração da autêntica, uma verdadeira Consti-
Carta Magna. Já começa mal, já tuição; eu, que venho da União De-
começa de mal a pior. mocrática Nacional; eu, que sou des-
Contra isso, Sr. Presidente, lavro, cendente dos Farrapos rio-granden-
de nôvo, meu protesto; e, a propó- ses, não me posso conformar com
sito, pergunto: Onde está a União um projeto como êste de Constitui-
Democrática Nacional, que para cá ção, mais do que autoritária, Cons-
nos mandou com seus votos, a União tituição totalitária, em que cabe ao
Democrática Nacional com sua vo- Poder Executivo decretar leis sôbre
cação llbertária, os bacharéis da segurança nacional e sôbre política
União Democrática Nacional, que econômico-financeira - é abranger
sempre defenderam as fórmulas ju- todo o campo legislativo. Que so-
rídicas? Onde está a União Demo- brará então para o Congresso Na-
crática Nacional dos lenços brancos, cional?
da campanha da libertação nacional
É uma Constituição tão totalitária,
do Brigadeiro Eduardo Gomes? Onde
está a União Democrática Nacional Sr. Presidente, que a Mesa da Câ-
de Otávio Mangabeira, de Prado mara, como um colégio primário,
Kelly, de Afonso Arinos, de Carlos pode suspender por um mês o man-
Lacerda? Essa União Democrática dato do Deputado; Constituição tão
Nacional, cuja bandeira ainda sus- totalltária, Sr. Presidente, que con-
tento, e hei de sustentar aqui, não tinua o Presidente da República com
pode conformar-se com a usurpação o poder de cassar mandatos, como
de atribuições do Congresso, preci- uma espada de Dâmocles em cima
samente quando devemos elaborar a de cada representante do povo legi-
Carta Magna. E o Executivo a nos timamente eleito, apenas na depen-
impor a camisa de fôrça do Ato Ins- dência da palavra final, da decisão
titucional n. 0 4. Isso não aconteceu final do Supremo Tribunal Federal.
nem no Império, nem na Repúbllca, Mas, Sr. Presidente, êste Congresso,
a não ser uma vez, quando um di- mesmo depois da Revolução - e se
- 130-

explora muito essa palavra revolu- o apoio dos Congressistas para a emen-
ção, como se fôsse Maravilha Cura- da que vai apresentar ao projeto, no
tiva de Humfreys; ela serve para sentido de que o Govêrno continue obri-
tudo, resolve tudo essa revolução que gado a traçar o plano de aproveitamen-
nós fizemos, de que os que não a to total das possibilidades econômicas do
fizeram tomaram conta e que ex- Rio São Francisco, visando com essa
ploram - êste Congresso teve po- providência a permitir que aquelas po-
der para eleger o atual Presidente pulações continuem recebendo os exce-
da República, que agora usurpa atri- lentes trabalhos da Comissão do Vale de
buições dêste mesmo Congresso que São Francisco.
o elegeu, dêste Congresso que teve
poder para eleger um nôvo Presiden- Já o Deputado BENJAMIN FARAH
te da República, que poderá rasgar (MDB - Guanabara) (31) anuncia a
novos horizontes e que faz acender apresentação de emenda ao projeto a
grandes esperanças no coração dos fim de conceder aos servidores públicos,
brasileiros, o grande patriota e meu uma de suas mais sentidas reivindica-
coestaduano, Marechal Arthur da ções, a aposentadoria aos 30 anos.
Costa e Silva. Se se quer fazer uma Justifica sua emenda nos seguintes
Constituição, que se faça com êste têrmos:
nôvo Presidente que se faça com o
nôvo Congresso, que se faça com "Manter a aposentadoria aos 35 anos
o povo, discutindo amplamente a de serviço é sepultar as ambições da
Constituição, que é para êle, povo, laboriosa classe dos servidores pú-
e não para ditadores, que se faça a blicos, já proclamados em 5 Con-
nova Constituição, no entanto, sem gressos Nacionais.
a usurpação de atribuições do Con-
gresso Nacional. Todos sabem que a idade predomi-
nante do serviço público é na faixa
Concito V. Ex. a, Sr. Presidente, con-
de 30 a 45 anos de idade, com uma
cito os colegas para que defendam
êste Poder tão espezinhado, tão sa- de tempo de serviço de 2,54 anos a
crificado, êste Poder do povo, que 7,48 anos, o que significa dizer que
é o Congresso Nacional." somente continuarão a gozar do ins-
tituto de aposentadoria os que al-
O Deputado PEDRO MARAO <MDB -
cançarem os 63 anos de idade, no
São Paulo) (:.!9) protesta violentamente
mínimo, quando se sabe que poucos
contra o dispositivo do nôvo projeto que
atingem êste limite.
dá ao funcionário público a aposentado-
ria aos 35 anos de serviço e, com muito A êste respeito, o IBGE, em pesqui-
favor, aos 30 anos para a funcionária, sa realizada apurou que se implan-
tada a aposentadoria aos 30 anos
mulher. Considera êste dispositivo uma
25% chegaria a receber o prêmio de
calamidade, uma afronta ao ser huma- sua aposentadoria ainda com vida;
no, bastando para justificar o seu pen- 5% com vida, mas doentes, e 70%
samento inquérito feito, e já compro- mortos.
vado, de que a média de vida do bra- Arrebatar de milhares de servidores
sileiro é de 50 anos . estaduais e municipais a grande con-
O Deputado FRANCELINO PEREIRA (29) D.C.N. S. I 14-12-66 pág. 7.157
(30) D.C.N. S. I 14-12-66 pág. 7.153
(ARENA - Minas Gerais) (30) solicita (31) D.C.N. S. I 14-12-66 pág. 7.153
- 131

quista da aposentadoria aos 30 anos, Terceira - incluindo a declaração dos


já consagrada em direito constitu- direitos dos trabalhadores e a utiliza-
cional de 11 Estados da Federação, ção de comandos de trabalho para com-
é negar a luta pela vida que todos bater o desemprêgo.
travam e, em decorrência anular a
evolução social do povo brasileiro. Quarta - sôbre a institucionalização,
no País, dos princípios de socialização
Os trabalhadores já obtêm a sua da medicina, em seus aspectos preven-
aposentadoria com os 30 anos de tivos e curativos."
serviço, mesmo que com sua remu-
neração ainda não integralizada. Co- O De p u ta do MANOEL NOVAIS
mo então negá-Ia ao servidor públi- (ARENA - Bahia) (33) reclama a au-
co que se constitui na máquina que sência de quotas constitucionais no nôvo
aciona a entidade ESTADO, e com Projeto de Constituição, dizendo:
sua efetiva presença mantém os ser- "Sr. Presidente, como autor parla-
viços públicos na sua mais variada mentar que sou da emenda de que,
forma. na Assembléia Constituinte de 1946,
Observe-se que pela Carta de 1946, resultou o art. 29 do Ato das Dis-
art. 191, § 2. 0 , os vencimentos da posições Constitucionais Transitó-
aposentadoria compulsória eram in- rias, venho perante esta Casa ma-
tegrais desde que o funcionário nifestar a minha estranheza diante
contasse 30 anos de serviço, admi- dêste fato. E sobretudo, Sr. Presi-
tindo apenas a proporcionalidade se dente, reclamo o restabelecimento
contasse tempo menor. O projeto em do art. 29 do Ato das Disposições
exame anula êste direito já consa- Transitórias, que assegura ao São
grado, impondo a proporcionalidade Francisco 1% da renda tributária do
até os 35 anos de serviço." País, para aplicação num plano de
desenvolvimento regional.
O Deputado EURICO DE OLIVEIRA
(MDB - Guanabara) (~!!) anuncia à Não se compreende que aquela obra
Casa a apresentação de 4 emendas ao de projeção nacional, como também
Projeto de Constituição. são as da Amazônia e do Polígono
Primeira - "tornando Brasília, dada das Sêcas, possa ser eliminada do
a falta de comunicações e habitações e texto de uma Constituição, quando
atualmente Capital simbólica do Brasil, entendemos ser a nossa iniciativa
anexada ao Estado de Goiás, como sua em 1946, a única forma capaz de res-
Capital efetiva. guardar os interêsses da região do
São Francisco. ftste País atravessou
Segunda - atendendo a que os ho- mais de 150 anos de regime consti-
mens são obrigados ao serviço militar tucional sem que tivesse sido ofe-
obrigatório, assim as mulheres deverão recida oportunidade ao São Francis-
também ser forçadas a se transforma- co para que conquistasse um lugar
rem em enfermeiras socorristas de emer- ao sol nas terras brasileiras.
gência. Para isso, entre 18 e 25 anos,
deverão fazer estágio de 6 meses nos Ora, Sr. Presidente, tendo os cons-
hospitais e casas de saúde do País, a fim tituintes de 1946 resolvido integrar
de se tornarem aptas a aplicar inje- o São Francisco no texto constitu-
ções, fazer curativos de emergência e cional, como a única garantia capaz
puericultura, na defesa das suas famí- de assegurar a aplicação de recur-
lias e do País em caso de calamidade pú-
(32) D.C.N. S. I 14-12-66 - pág. 7.155
blica. (33) D.C.N. - S. I - 14-12-66 - pág. 7.155
- 132-

sos naquele Vale brasileiro, e estan- das restrições estabelecidas pelo Ato Ins-
do a obra ali realizada à vista de titucional n. 0 4, o Congresso muito pou-
todos, reconhecida pelo Govêrno re- co ou quase nada poderá fazer para in-
volucionário, eu não entendo por que troduzir modificações no texto elabora-
o Presidente Castello Branco, que do pelo Ministro da Justiça. Detendo-se
tem sido tão solícito com as coisas no Título IV- "Da Família, da Educa-
da nossa região, tenha consentido ção e da Cultura", diz o orador:
no seu afastamento do texto da
Constituição que ora vamos votar. "Ao primeiro exame, destaca-se a
ellminação da gratuidade do ensino
superior, que fica restrito à conces-
Sr. Presidente, deixo aqui a segu-
são de bôlsas .
rança de que, ao meu lado, aquêles
velhos companheiros da Assembléia
Constituinte de 46 que ainda parti-
Sabemos quanto é precária a con-
cipam desta Casa, bem como aquê-
cessão de bôlsas de estudos, quer no
les outros que representam os Esta-
ensino de grau médio, quer no en-
dos são-franciscanos, estarão aqui a
sino superior. Atualmente, para co-
postos para, mais uma vez, defen-
légios cujas anuidades vão a 400 e
der, perante a Nação e perante êste
500 mil cruzeiros, o poder público,
Congresso, o restabelecimento do
através do Ministério da Educação,
art. 29 do Ato das Disposições Tran-
está oferecendo bôlsas da ordem de
sitórias, que assegura a tranqüilida-
apenas 80 mil cruzeiros, o que re-
de, a paz, o progresso e a prosperi-
presenta contribuição irrisória, que,
dade do São Francisco.
em verdade, não permite à família
manter os filhos nem mesmo na es-
Hoje, à tarde, Sr. Presidente, ini- cola secundária.
ciarei a tomada de assinatura para
apresentação da emenda constitu-
cional que restabelece, pura e sim- Portanto, a concessão de bôlsas de
plesmente, o texto da Constituição estudo, embora iniciativa louvável,
de 1946. Não precisamos de novas vem-se revelando, na prática, insu-
alterações. Basta que os Congressis- ficiente para atender às exigências
tas de hoje se atenham às razões mesmo do ensino secundário. O de
e à orientação seguida pelos consti- que se necessita é do aumento das
tuintes de 1946 para nesta oportu- oportunidades de educação através
nidade, todos êles, se colocarem ao da ampliação da rêde de escolas ofi-
nosso lado, procurando dar ao São ciais de grau médio e superior, com
Francisco aquilo que já era um di- ensino inteiramente gratuito, e não
reito seu e que agora se procura, de adstrito à concessão de bôlsas de es-
forma sumária, eliminar da Consti- tudo. Isso não importa, evidente-
tuição." mente, restrição à iniciativa parti-
cular, que deve ser também esti-
O Deputado EWALDO PINTO (MDB mulada, merecendo especial atenção
- São Paulo) (34) assinala que sem o e exigindo mesmo um esfôrço he-
tempo necessário para o exame do Pro- róico, em face das necessidades da
jeto de Constituição submetido à apre- população, a ampliação de escolas
ciação do Congresso Nacional - sub- secundárias, de escolas de grau mé-
metido teoricamente, submetido em têr- dio e de escolas de nível superior.
mos, diante das regras, das limitações, (34) D.C.N. - S. I - 14-12-66 - pág. 7.152
- 133-

Em São Paulo já se verifica todos grandes problemas nacionais, também


os anos o êxodo de estudantes que devem interferir em todos os documentos
são obrigados a procurar escolas su- que digam respeito ao interêsse nacio-
periores fora do Estado. Ainda êste nal. Afirma que não discute se é boa ou
ano, milhares de jovens de São Paulo má essa Constituição, mas em hipótese
tiveram de bater às portas de esco- alguma, como Deputado, poderia aceitar
las superiores do Paraná, do Rio de a fórmula regimental que foi encontra-
Janeiro, da Guanabara, de Minas. da para a tramitação dessa matéria.
Tivemos mesmo aquêle oferecimen- • **
to, até certo ponto desprimoroso pa-
ra o Brasil, de um Ministro de nação Assinalando que o nôvo projeto não
estrangeira, que, visitando o Brasil corresponde à cultura jurídica, aos an-
e tomando conhecimento da insufi- seios sociais nem às necessidades econô-
ciência de vagas no ensino superior mico-financeiras do Brasil o Deputado
em nosso País, prontificou-se a con- ANTUNES DE OLIVEIRA (MDB - Ama-
ceder vagas nas escolas superiores zonas) (3G) esclarece:
de sua terra a jovens brasileiros. "Aqui está Sr. Presidente, nobres
Portanto, é a primeira observação colegas, nossa palavra de admira-
resultante da leitura inicial do Pro- ção e de protesto, porque veio à Câ-
jeto de Constituição no Capítulo da mara dos Deputados um projeto de
Família, da Educação e da Cultura. Carta Maior que exclui teses, exclui
princípios consagrados, não apenas
O art. 168 estabelece que é garan- no mundo mas entre nós através de
tida a liberdade de cátedra. É de se nossa História, quer no Império,
esperar que êsse dispositivo, efeti- quer na República.
vamente necessário, e que deve cons-
tar de tôda a Constituição de um "Projeto de Constituição que, pos-
país civilizado, seja respeitado na terga direitos vitoriosos do trabalha-
prática, pois, em verdade, nestes úl- dor, do funcionário público, do elei-
timos anos o que se verificou em tor e do Congresso .
nosso País foi a violação ostensiva "Sentimo-nos admirados, Sr. Presi-
da liberdade da cátedra a criação dente, outro dia, 30 do mês transato,
de um clima absolutamente negati- quando se transformou uma emen-
vo, profundamente nocivo ao desen- da em texto constitucional, isto é a
volvimento dos trabalhos de ensino emenda que determina se use 3% da
e de pesquisa, o que causou a emi- arrecadação total do País em favor
gração de numerosos pesquisadores, do desenvolvimento da Amazônia
cientistas e professôres do mais alto Brasileira .
gabarito, que foram obrigados a pro-
curar em outros países condições "Pois bem, Sr. Presidente, nós a pro-
mais favoráveis ao desenvolvimento mulgamos, reunido o Congresso Na-
dos trabalhos do ensino e da pes- cional, outro dia com júbilo, quando
quisa." falamos, o Deputado José Esteves e
eu, desta alta Tribuna. Falamos sô-
O Deputado CUNHA BUENO (ARENA bre tudo isso. Até vimos ali uma
- São Paulo) (35) deixa consignado nos corajosa posição do legislador bra-
Anais o seu protesto pela fórmula cria- sileiro contra a internacionalização
da para a votação da nova Constitui- da Amazônia.
ção, pois acredita que os Srs. Congres-
(35) D.C.N. S. I - 14-12-66 - pág. 7.157
sistas além de suas preocupações com os (36) D.C.N. - S. I - 14-12-66 - pág. 7.157
- 134
"Foi promulgada a emenda para ser terrível retrocesso, pois o ato mais
texto da Constituição de 1946. Pro- importante da história política de
mulgamos algo presente em nossa um povo que é a escolha do Chefe
vivência, de acôrdo com a realida- Supremo do País ficará limitado a
de brasileira . um restrito colégio eleitoral integra-
do pelos membros do Congresso Na-
"Sim, nesse Projeto de Constituição cional e por representantes de as-
atual, nada se diz sôbre isso, como sembléias legislativas.
não se diz sôbre os recursos para a
valorização da bacia do Rio São O projeto estabelece a eleição di-
Francisco. reta para Governador de Estado em
seu art. 13, § 2. 0 , Capítulo 111 -
Da Competência dos Estados e Mu-
nicípios."
"Aqui, está, pois, nosso protesto na
esperança de que se faça no País
uma Constituição à altura de nos- "No que se refere aos prefeitos das
sos destinos, de nossa cultura; mas Capitais, a medida estabelecida no
não essa que nos apresentaram; essa art. 15, § 1.0 , representa um terrível
sem a inspiração da Democracia au- retrocesso; significa, em verdade
têntica." uma cassação da autonomia dos mu-
Volta a falar o Deputado EWALDO nicípios das Capitais e uma cassa-
PINTO (MDB - São Paulo) (37) anali- ção dos direitos de milhões de elei-
sando, agora, o capítulo relativo à elei- tores que residem nas Capitais das
ção do Presidente da República, do Go- Unidades da Federação."
vernador de Estado e à supressão das
autonomias de Capitais. "Desejo, portanto, deixar inscrita,
desde logo, nos Anais dêste período
Diz o orador:
de convocação extraordinária do
"A Constituição consagrou - pre- Congresso Nacional, a minha mani-
tende consagrar - o princípio da festação incisivamente contrária a
eleição indireta para o Presidente da êsses dispositivos do Projeto de
República. O Movimento Democrá- Constituição: o que estabelece a
tico Brasileiro combateu êsse prin- eleição indireta do Presidente da
cípio e certamente combaterá com a República e o que pretende estabe-
maior intensidade, se lhe fôr dada lecer o retôrno ao regime de pre-
oportunidade, porque até isso é ne- feito nomeado, para as Capitais, o
gado e vedado pelo Ato Institucio- que representa, repito, uma cassação
nal n.O 4. Pretende-se negar à Opo- da autonomia, um golpe terrível na
sição o direito de, efetivamente, autonomia dos Municípios das Ca-
combater, de defender os seus pon- pitais e uma espécie de cassação de
tos de vista. A matéria será objeto direitos de todos os seus eleitores.
de exame, na tarde de hoje, por
parte da Comissão do Diretório Na- Também quanto à nomeação de pre-
cional do Movimento Democrático feitos de municípios declarados de
interêsse da segurança nacional se
Brasileiro. A eleição indireta do Pre-
ficar subordinada à aprovação do
sidente da República representa, no
Presidente da República, consigna-
entender da Oposição e, certamen-
mos nosso protesto. Mas, embora
te, no entender da esmagadora maio-
ria da opinião pública brasileira, um (37) D.C.N. - S. I - 14-12-66 - pág. 7.158
- 135-

compreendamos que o Poder Exe- tituição "se constitua em instrumento


cutivo Federal tome tôdas as pre- capaz de assegurar, de fato, a prospe-
cauções e medidas para assegurar e ridade e o bem-estar de todo o povo
criar as condições necessárias à efe- brasileiro". Pleiteia, em favor do Estado
tiva segurança nacional, não acre- do Rio de Janeiro, "muitos dos benefí-
ditamos possa o Executivo, na nova cios que a Carta de 1946, já havia asse-
Constituição ficar com os seus po- gurado a outras regiões brasileiras, como
dêres ainda mais hipertrofiados e a Amazônia e o Vale do São Francisco,
acentuados, o que representa quase ao lhes destinar um percentual da ren-
uma anulação do Poder Judiciário da tributária tia União em favor do seu
e do Poder Legislativo. Principal- desenvolvimento econômico". Nesse sen-
mente no que toca ao Legislativo, tido pretendia reivindicar "um elenco
ferido fundamente nas suas prerro- de medidas em favor do Estado do Rio
gativas, na sua autonomia, ficará de Janeiro, com a destinação de um
pràticamente letra morta a harmo- percentual equivalente, de aplicação
nia e independência dos podêres. O obrigatória, para a valorização do Vale
Poder Executivo já dispõe de meca- do Rio Paraíba e da Baixada Fluminen-
nismos de defesa, de contrôle, de se- se". Entretanto, "as diretrizes fixadas
gurança, que ao meu ver, tornam para a presente tarefa de elaboração
desnecessária essa medida de subor- constitucional fizeram retirar do texto
dinar a nomeação de prefeitos à pré- da nova Carta Magna os dispositivos
via autorização do Presidente da dessa natureza, deixando-as para a le-
República. Em verdade, não seria gislação ordinária". Conclui o Deputado
um simples prefeito, com seus po- Mário Tamborindeguy afirmando que
dêres limitados, restritos, cerceados, se subordina a esta orientação a qual
submetido permanentemente à vigi- reconhece ser mais consentânea com a
lância dos órgãos de observação, dos doutrina que deve inspirar uma obra
órgãos de segurança das repartições constitucional e aguarda o momento
do Govêrno federal e do Govêrno es- oportuno para defender as reivindica-
tadual, que poderia colocar em ris- ções do povo fluminense.
co a segurança nacional, a ponto de O Deputado ARGILANO DARIO
estabelecer-se como condição para a (MDB - Espírito Santo) (39) anuncia
sua nomeação a prévia autorização a apresentação de emendas ao Projeto
do Sr. Presidente da República. de Constituição, uma no sentido de con-
Portanto, Sr. Presidente, quero dei- ceder autonomia às Capitais dos Esta-
xar, desde logo, inscrita nos Anais dos e outra que prevê a remuneração
a minha manifestação contrária à para os Vereadores em tôdas as cidades
eleição indireta do Presidente da do Brasil. Salienta que faz esta comu-
República, vigorosamente contrária nicação à Casa para pedir o apoio dos
à volta do regime de prefeito no- Srs. Congressistas e da Comissão Espe-
meado para as Capitais, e contrá- cial, pois estas medidas são importantes
ria, também à subordinação da no- no ponto de vista político-democrático.
meação de prefeito à prévia apro- O Deputado EWALDO PINTO (MDB
vação do Sr. Presidente da Repú- -São Paulo) (40) procede um confron-
blica." to entre o texto da Constituição de 1946
Em 14 de dezembro de 1966, o Depu- e o texto adotado pelo projeto enviado
tado MARIO TAMBORINDEGUY pelo Govêrno.
<ARENA - Rio de Janeiro) (38) mani- (38) D.C.N. - S. I - 15-12-66 - pág. 7.176
(39) D.C.N. - S. I 15-12-66 pág. 7.176
festa sua esperança de que a nova Cons- (40) D.C.N. - S. I - 15-12-66 - pág. 7.157
- 136-

Detém-se no art. 169 da Carta de 1946 aplicação de recursos substanciais


que assim reza: "Anualmente a União no campo da pesquisa científica e
aplicará nunca menos de 10%, e os Es- tecnológica, condição para o efetivo
tados, o Distrito Federal e os Municípios desenvolvimento de um país. A
nunca menos de 20% da renda resul- França, no Quarto Plano de Desen-
tante dos impostos na manutenção e volvimento Econômico e Social, lar-
desenvolvimento do ensino." gamente divulgado e comentado ul-
timamente em nosso País, colocou
Entretanto, diz o orador: a pesquisa científica e tecnológica
"Dentro do projeto enviado pelo no tôpo de suas realizações. E es-
Govêrno ao Congresso, no Título IV, forços extraordinários, esforços he-
Da Família, da Educação e da Cul- róicos vêm sendo desenvolvidos nes-
tura, os arts. 166 a 169 são os únicos se campo pràticamente em todos os
que tratam do assunto, e nêles não países. Não só a França mas tam-
se encontra a menor referência f1. bém os Estados Unidos, Inglaterra,
essa necessidade de vinculação de Alemanha Ocidental, União Sovié-
parcela da arrecadação para a apli- tica, os países socialistas e os países
cação no desenvolvimento do ensino, do Ocidente colocam a pesquisa
no desenvolvimento da cultura. científica e tecnológica como obje-
tivo da maior importância, como
Trata-se, Sr. Presidente, evidente- meta fundamental. Da mesma for-
mente, de retrocesso deplorável, ma, os países de menores recursos,
praticado a despeito da advertência como a Grécia e a Iugoslávia, vêm
feita pelo próprio Ministro da Edu- ultimamente dedicando somas subs-
cação, Professor Muniz de Aragão, tanciais ao desenvolvimento da pes-
que, tão logo foi publicado o texto quisa científica e tecnológica.
do anteprojeto de Constituição, em
entrevista divulgada por todos os É minha intenção, portanto, incluir,
jornais do País, manifestou seu de- tentar incluir, mais exatamente,
sapontamento ante a exclusão dêsse dispositivo que restabeleça a vin-
dispositivo do texto do Projeto de culação, ampliando a percentagem
Constituição. de 10 para 12%, para o desenvol-
vimento do ensino, da educação,
Nos têrmos do projeto enviado ao como também estabelecer a vincula-
Congresso Nacional, tanto a União ção de 2% para aplicação na pes-
quanto o Distrito Federal, os Esta- quisa científica e tecnológica."
dos e os Municípios, estão comple-
tamente desobrigados da aplicação O Deputado RENATO CELIDONIO
de parcela de sua arrecadação no (MDB - Paraná) (41) não vê, neste
desenvolvimento do ensino, no de- final de mandatos do atual Congresso,
senvolvimento da cultura, o que é como se pode votar uma Constituição
profundamente lamentável, ainda "inspirada ainda num Govêrno, que não
mais quando não faltou sequer a foi, na realidade, um Govêrno democrá-
advertência de ilustre membro do tico, numa fase da vida política de nos-
Govêrno, o próprio Ministro da Edu- so País que também não se caracterizou
cação e Cultura." pela tranqüilldade e pela paz que de-
vem anteceder tão importante manifes-
tação do Congresso, como esta de elabo-
"Está comprovada, Sr. Presidente, rar a 6.a Constituição do nosso País".
Srs. Deputados, a necessidade da (41) D.C.N. - S. I - 15-12-66 - pág. 7.177
- 137
"1!: lamentável que, sob a inspiração Daí a alteração introduzida pela
de um Ato Institucional, seja quase Emenda Constitucional n. 0 16, pas-
forçado o Congresso Nacional a to- sando a constituírem-se êles pela
mar agora esta posição em face de seguinte forma:
uma nova Constituição. Por maio-
res que sejam os esforços, tanto dos 2 desembargadores;
meus nobres companheiros de Par- 1 juiz do Tribunal de Alçada onde
tido de Oposição como daqueles que houver;
realmente tenham inspirações de-
mocráticas pertencentes ao Partido 1 juiz de direito estadual, ou dois,
onde não houver Tribunal de Al-
do Govêrno, não sei se será possível,
çada;
nesta fase da nossa vida política, e
tendo como ponto de partida o pro- 1 juiz federal;
jeto apresentado pelo Govêrno, ela- 2 juristas.
borarmos uma Carta Magna que
realmente represente o interêsse do A alteração, consistente na introdu-
povo brasileiro e que dite normas ção de representante do Tribunal
para inspirar uma nova fase de de Alçada, parece ter resultado de
progresso ao nosso País, tanto no paralelismo com o fato de haver no
setor econômico como no setor so- Tribunal Superior Eleitoral um re-
cial ou político, uma vez que, como presentante do Tribunal Federal de
já disse inicialmente, a inspiração Recursos. Não se atentou, entretan-
dessa Carta, infelizmente, não é de- to, para a circunstância de inexistir
mocrática." aquêle paralelismo entre a posição
do aludido Tribunal Federal de Re-
O Deputado ANIZ BADRA (ARENA- cursos na Justiça Federal e o Tri-
São Paulo) (42) lê estudo minucioso de bunal de Alçada na Justiça Esta-
juristas de São Paulo relacionado com dual. Enquanto aquêle é o órgão
a reforma da Constituição, no Capítulo representativo da Justiça Federal
referente ao Tribunal Regional Eleito- de segunda instância, o segundo é
ral, nos seguintes têrmos: um Tribunal que, embora autôno-
mo quanto à sua organização in-
"TRIBUNAL REGIONAL ELEITO-
terna, não tem a representação da
RAL
Justiça do Estado, que cabe ao ór-
Compunham-se os Tribunais Regio- gão de cúpula, o Tribunal de Jus-.
nais Eleitorais, nos têrmos do art. tiça.
112 da Constituição, com a redação
Resulta disso que não se justifica
originária, do seguinte modo:
a supressão de um desembargador
3 desembargadores; na composição do Tribunal Regio-
nal Eleitoral e menos, ainda, a in-
2 juízes de direito; dicação feita pelo próprio Tribunal
2 juristas. de Alçada. A supressão de um de-
sembargador reduziu o teor de qua-
Todos os componentes deviam ser lidade representativa do Tribunal,
indicados pelo Tribunal de Justiça pois diminui nele a qualificação da
do Estado. Justiça de segunda instância, o que
Ao ser criada a Justiça Federal, en- aqui vai dito em puro aspecto de
tendeu-se que devia ela ter também doutrina, sem qualquer restrição ao
representação em tais Tribunais. (42) D.C.N. - S. I - 15-12-66 - pãg. 7.179
-138-

valor jurídico e intelectual dos emi- garantia que eventualmente deixa-


nentes juizes do Tribunal de Alça- ria de existir nas indicações feitas
da. A indicação por êste último Tri- por outros órgãos.
bunal, além de violar o princípio de
hierarquia - pois só o Tribunal Dêste modo, mantido o critério da
de Justiça, como órgão de direção, representação federal nos Tribunais
tem competência para outorgar a Regionais Eleitorais com a presença
juízes atribuições fora da órbita es- do respectivo juiz, a composição dos
tritamente judiciária - traz o in- referidos Tribunais, ressaltada a
conveniente de confusões e perple- presença de juízes de 2.a instância,
xidades quando venham a existir como é da tradição de nossa orga-
dois ou mais Tribunais de Alçada, nização judiciosa, deverá ser a se-
como já se delineia no Estado de guinte:
São Paulo. 3 desembargadores (Presidente,
Vice-Presidente e Corregedor) in-
Finalmente, deve ser mantida a in- dicados pelo Tribunal de Justiça.
dicação dos juristas pelo Tribunal
de Justiça. Do mesmo modo como As indicações feitas por eleição,
não se pode admitir a intromissão segundo o regimento interno dos
do Judiciário nos atos de composi- Tribunais.
ção dos órgãos de classe dos advo- 1 juiz estadual (podendo ser com-
gados (órgãos que irão disciplinar ponente do Tribunal de Alçada,
a atuação dêles perante a Justiça), mas indicado pelo Tribunal de
também não se pode admitir a in- Justiça).
tromissão daqueles órgãos nos atos
de composição de Tribunais, ainda 1 juiz federal indicado pelo Tri-
que para essa composição devam ser bunal Federal de Recursos, onde
chamados componentes da classe houver mais de um.
dos advogados. A seleção de nomes
que devem compor Tribunais, é e 2 juristas (indicados pelo Tribu-
deve continuar sendo ato de exclu- nal de Justiça)."
siva competência do órgão de re- Na sessão de 16 de dezembro de 1966,
presentação da respectiva justiça. o Deputado MEDEIROS NETO (ARENA
- Alagoas) (43) pronuncia o seguinte
Seria, assim, em relação à justiça discurso:
eleitoral, em princípio, da compe-
tência de seus próprios Tribunais. "Sr. Presidente, a propósito da tra-
mitação regimental do Projeto de
Acontece, porém, que os Tribunais Constituição que nesta Casa se ar-
Eleitorais, como órgãos da justiça güi, têm os jornais trazido à baila
especial, são na verdade uma ex- matéria que deve ser examinada
tensão da justiça comum, e isso jus- não só à luz da História, senão tam-
tifica a indicação pelo Tribunal de bém à: luz da Filologia. Farei, Sr.
Justiça, que é o órgão de maior re- Presidente, à luz da História, o exa-
presentação no Estado, mais apto a me relativamente à caracterização
conhecer os element~s entre os preferente que traz o texto do proje-
quais deve ser feita a escolha. A to constitucional com atinência ao
indicação pelo Tribunal de Justiça nome Brasil ao de Estados Unidos
tem ainda ampla justificação no do Brasil. Sou modesto professor de
critério apolítico de que se reveste, (43) D.C.N. - S. I - 17-12-66 - pág. 7.285
- 139-

História do Brasil na Universidade tados Unidos da Venezuela. Como


Federal do meu Estado e no Colégio tal, o Brasil poderia aceitá-lo para
Estadual. Talvez com esta condição, bem caracterizar que o sentido pre-
na mesma louvado, possa, então, ponderante nas Américas era o de
trazer o meu depoimento com refe- que cada país que tivesse sentido
rência a êste assunto, que acho de federativo usasse do prenome Esta-
pouca importância em face de tan- dos Unidos. Mas, pergunto eu, hou-
to alarde, através da imprensa ma- ve sentido histórico, senão apenas
tutina e vespertina do Pais inteiro. preocupação de Rui Barbosa em dar
a êste País aquêle caráter de fe-
Primeiramente, Sr. Presidente, ao deração que tanto prejudicou, in-
examinar o texto da Carta Outor- contestàvelmente, o progresso dêste
gada do Império, verificamos que, País? Se olharmos para o Império,
em que tínhamos as Províncias, lá
realmente, lá já se encontra apenas, encontramos dentro do sentido uni-
a expressão - Império do Brasil. tário uma realidade homogênea e
integral dêste País com a visão lar-
Muito têm examinado alguns da- ga do seu progresso uniforme. E por
queles que estão vinculados ao pro- que, então, Sr. Presidente, trazer a
blema histórico do Brasil e que di- federação para um país realmente
zem esta ser a denominação fun- de dimensões fisicas continentais
damental. í!:ste foi o nome que mas sem possibilidade de manter,
também o Vice-Reinado já tivera nesta autonomia dos Estados-Mem-
quando da unificação, para carac- bros o sentido de não serem êstes
terizar bem a posição do Brasil paralisados, senão através da in-
chamado de Vice-Reinado do Bra- fluência das finanças da União? É
sil. Mas, Sr. Presidente, em 1891, o que verificamos hoje. Não há Es-
ao ensejo da Assembléia Nacio- tados neste País, com exceção de
nal Constituinte, fôra precisamen- São Paulo e Paraná, que hoje não
te Rut Barbosa quem trouxera dependam do Orçamento da União,
quase que o Projeto de Consti- da República, enfim, quase em ra-
tuição para o exame do Plená- zão do múltiplo, em face da Receita
rio daquela Casa. ~le quase se que cada Estado realmente coleta.
escudara no texto da Constituição
Americana e, sob as inspirações da Ademais, a Constituição de 1934,
mesma, conseguiu que, para melhor inspirada, talvez ainda naquele es-
fixar a Federação, e se estabelecer pírito federativo que Rui Barbosa
o teor de autonomia dos Estados- tanto defendia, ainda manteve o
Membros, deveria figurar o preno- topônimo Estados Unidos do Brasil.
me, ou seja, bem definida expres-
são Estados Unidos do Brasil. Houve, A Constituição outorgada de 1937
ao ensejo da Assembléia Nacional igualmente conservou o prenome:
Constituinte de 1891, quem protes- Estados Unidos do Brasil. A de 1946
tasse contra isso, chegando mesmo - eu lá no Rio de Janeiro me
a dizer e afirmar que, para ser man- encontrava, no Palácio Tiradentes,
tida a inspiração de uma nação quando da sua elaboração, e fui sa-
realmente federativa, não precisaria ber a razão por que ainda ela man-
do uso do prenome de Estados Uni- teve o topônimo Estados Unidos. E
dos. Mas já se invocava que a Ve- o grande e ilustre Professor Agam-
nezuela também trazia o nome Es- menon Magalhães, conversando in-
- 140
timamente, me dizia: "Por que va- Carta Magna, depois de elaborada,
mos quebrar essa tradição?" Mas não possa sair à luz do tempo e da
protestei, naquela época, porque não História, levando eivas fiagrantes
encontrava sentido histórico para 9. de erros palmares de gramática.
manutenção dêsse prenome. Ade-
mais, agora, em verificando a tra- São êstes, Sr. Presidente, os peque-
mitação do Projeto de Constituição nos apelos e sugestões que estou a
que aqui se encontra, à luz de uma formular nesta hora em que come-
realidade nova, à mercê de uma vi- çarei a examinar o Texto Constitu-
são mais larga dos acontecimentos cional."
nacionais, acho que o Ministro da Em 17 de dezembro de 1966, o Depu-
Justiça teve muita razão em supri- tado PADRE NOBRE (MDB - Minas
mir êsse prenome e manter apenas Gerais) (44) lembra a oportunidade de
o nome de Brasil. ll:ste, realmente, se fazer inserção definitiva na Carta
é o teor geográfico e histórico que Magna dos direitos que assistem aos
dá o sentido de emancipação, de advogados de terem uma representação
unidade, de libertação, de grandeza nos Tribunais Regionais do Trabalho,
para êste País, que é um todo pe- em todos os Estados da Federação.
rante os olhos do mundo e sempre
invocado apenas como Brasil. É uma Diz o parlamentar:
das coisas sérias que essa Consti- "Como sabemos, Sr. Presidente, é
tuição insere, porque no resto há tradição no Direito brasileiro terem
uma grande inspiração positivista, os advogados seus representantes
uma grande inspiração comtista, de nos tribunais, tais como o Tribunal
que tenho mêdo, pelos reflexos que de Justiça, o Tribunal Eleitoral, o
nos poderá trazer no dia de ama- Tribunal Marítimo etc. Apenas nos
nhã. Para alguém que vislumbre um Tribunais do Trabalho tal fato não
pouco de filosofia, êste teor positi- ocorre. A inclusão dos advogados
vista, que bem caracteriza, será a nos Tribunais Regionais do Traba-
fôrça inspiradora da atual Consti- lho, na proporção de 1/5 dos seus
tuição. membros, contribuiria, sem dúvida,
para corrigir mais uma falha na
E por fim, Sr. Presidente, queria dar estrutura das instituições nacionais,
um conselho àquêles membros da assim como viria dar nova extensão
Grande Comissão, que está sendo e valorização a uma classe que tan-
responsável pelo exame desta ma- to tem contribuído ao longo da his-
téria. tória para desenvolver a Nação bra-
sileira.
É que em 1946, em tendo à Mesa,
na Presidência, aquela figura de Ne- Creio de justiça a inserção dos
reu Ramos, êste se responsabilizara advogados nos Tribunais Regionais
por trazer, para o policiamento ver- do Trabalho e creio ter sido incrivel
nacular, para a expressão gramati- e incompreensível omissão que êles,
cal da Constituição de 1946, o Pro- até hoje, não tenham sido cha-
fessor Sá Nunes, ilustre cultor da mados para compor o quadro da-
língua. Igualmente, é preciso que a queles que estão nesses tribunais.
Grande Comissão de logo comece
a cogitar de procurar um filólogo, Sr. Presidente, os advogados pres-
uma das grandes expressões de res- tariam serviço quase incomensurá-
ponsabilidade dêste País, para que a (44) D.C.N. - S. I - 18-12-66 - pág. 7.327
- 141

vel aos tribunais se incluídos, como rentes setores da atividade humana,


representantes da classe, na pro- mas, aprovada a Constituição com
porção de 1/5 dos membros, na êsse parágrafo, êles não terão qual-
composição dêsses tribunais. quer interêsse em ser represen-
tantes daqueles Municípios, e mui-
Fica à Comissão Mista esta suges- tos dêles não poderão sequer ser
tão. Examine-a para ver se de jus- vereadores, porque não dispõem dos
tiça ou não e medindo, sem dúvida recursos necessários para custear as
as proporções de grandeza que est~ despesas com sua representação.
inserção poderá traduzir na Cons-
tituição Federal." Além disso, é um flagrante desres-
peito à própria Constituição da Re-
Ocupa a tribuna o Deputado ANTO-
pública, que estabelece igualdade
NIO BRESOLIN (MDB - Rio Grande
para todos. Se um Senador, um
do Sul) (4 5) combatendo o nôvo Projeto
Deputado Federal, um Deputado es-
de Constituição, nos seguintes têrmos:
tadual percebe subsídios e ajuda de
"Sr. Presidente e Srs. Deputados, no custo, por que os vereadores não
decorrer desta sessão extraordiná- devem ter o mesmo direito?
ria, já tive oportunidade de abor-
dar, reiteradas vêzes, diferentes as- Observo, aqui, por exemplo, o meu
pectos do projeto da nova Consti- eminente amigo, Deputado Mário
tuição da República e, inclusive, de Maia, representante de um Estado
criticar alguns dos seus dispositivos com Municípios de extensão imen-
que, no meu modo de entender, não sa. Pois bem, êsses Municípios, a
apenas ferem as liberdades funda- exemplo do que vai verificar-se em
mentais da criatura humana, mas, muitos dos Municípios do Estado de
também, prejudicam a Nação no que tenho a honra de ser represen-
seu desenvolvimento harmônico e tante nesta Casa, ficarão sem man-
principalmente, as representaçõe~ datários na Câmara de Vereadores.
do povo na Câmara Federal, nas Por isso, Sr. Presidente,e considero
Assembléias Legislativas dos Esta- êsse dispositivo completamente di-
dos e nas Câmaras de Vereadores. vorciado daquilo que se estabelece
Já tive ensejo de afirmar aqui que dentro de uma Constituição, onde
sou visceralmente contra o § 2.o, do se preconiza, inclusive, o restabele-
art. 15, que estabelece: cimento da democracia no Brasil."
"Os Vereadores não receberão re- O Sr. Mário Maia - "Neste sentido,
muneração." gostaria de trazer ao conhecimento
Aprovada a Constituição com o que da Casa e de V. Ex.a emenda que
determina êsse parágrafo, a popu- estamos apresentando ao Projeto de
lação do interior ficará sem repre- Constituição encaminhado ao Con-
sentantes nas Câmaras de Vereado- gresso Nacional pelo Poder Executi-
res. Isso, pelo menos, é aquilo que vo, no seguinte teor: "Redija-se o
§ 2.0 do art. 15 do seguinte modo:
se verificará no meu Estado, na
esmagadora maioria dos Municípios "Os vereadores não perceberão re-
do Rio Grande do Sul. Muitas vêzes, muneração fixa, recebendo, porém,
no interior do Estado e dos Muni- jeton por sessão realizada, cujo va-
cípios, existem verdadeiros líderes lor não poderá ultrapassar ao es-
rurais, comerciantes esclarecidos ou tabelecido para os membros das
elementos que trabalham em dife- 143) D.C.N. - S. I - 18-12-66 - pâg. 7.328
- 142
Assembléias Legislativas dos respec- Mais tarde, o Senador Mem de Sá,
tivos Estados". Isso porque no texto também à época Ministro da Jus-
original encaminhado pelo Presiden- tiça, em resposta a requerimento de
te da República está o seguinte: "Os minha autoria, informou-me que
vereadores não perceberão remune- anteprojeto com o mesmo objetivo
ração." Complementamos com esta estava pràticamente concluído e
redação, que me parece justa e vem dentro em breve seria encaminhado
em socorro dos argumentos que V. ao Congresso.
Ex.a, com tanta precisão, está apre-
sentando à Casa e à Nação, através Infelizmente, Sr. Presidente, até
da tribuna o povo brasileiro." hoje essa mensagem governamental
não deu entrada no Congresso Na-
O SR. ANTONIO BRESOL!N cional.
"Agradeço a V. Ex.a a grande contri-
buição que traz ao meu modesto Quem conhece de perto aquilo que
pronunciamento e posso assegurar se passa no interior do Brasil, prin-
ao eminente colega e amigo que já cipalmente na chamada região da
estão tramitando nesta Casa outras faixa da fronteira, onde existe uma
emendas de teor semelhante. Eu série de implicações para os estran-
mesmo tenho uma, assinada junta- geiros que lá residem, sabe da pre-
mente com o nobre Deputado Paulo mente necessidade de uma legisla-
Macarini, esta simplesmente supri- ção mais consentânea com nossos
mindo o parágrafo segundo, do item dias, que melhor atenda aos inte-
segundo, do artigo quinze. Espera- rêsses dêsses estrangeiros. Não me
mos que uma dessas emendas, 'lo refiro àquêles estrangeiros que em
menos, venha a ser acolhida, prin- nossa Pátria são camelôs, mascates
cipalmente pela representação do ou coisas que o valham. Refiro-me
Govêrno nesta Casa, e, desta ma- àqueles elementos que aqui vieram
neira, seja corrigida esta falha na. trazendo o mais sadio idealismo,
Constituição e atendida uma das àqueles que desembarcaram às mar-
mais justas reivindicações dos Ve- gens do Rio dos Sinos e subiram os
readores de todo o Brasil, que vai Apeninos; refiro-me aos açorianos,
ao encontro dos interêsses da massa aos descendentes de outras grandes
imensa do povo que vive no interior pátrias, a cuja valiosa contribuição
da nossa Pátria e que, via de regra, muito deve o Brasil; refiro-me a
apenas é lembrada às vésperas das homens que estão integrados no
campanhas eleitorais. País, homens que aqui casaram com
brasileiras, homens, cujos fllhos
Outro assunto que tenho abordado aqui nasceram. Muitos dêles até de-
reiteradas vêzes nesta Casa é a sim- fenderam a Bandeira Nacional nos
plificação da lei que trata dos es- Apeninos da Itália. Outros dêsses,
trangeiros residentes no País. ou seus fllhos, lutaram pela defesa
do território nacional na Guerra do
Já tive oportunidade de manter pa- Paraguai e, hoje, vivendo dentro
lestra com o ex-Ministro da Justiça, do Brasil, ainda sofrem uma série de
Senador Milton Campos. S. Ex.a, restrições.
inclusive, prometeu mandar a esta
Casa projeto que cria o estatuto do Pior do que isso, Sr. Presidente, Srs.
estrangeiro, simplificando, assim, a Deputados, a legislação atual, que
legislação, a exemplo do que tem trata da situação dos estrangeiros
sido feito em outros países. residentes no Pais, é um verdadeiro
-143
cipoal, um intrincado labirinto, onde condições para que essa gente, com
o alienígena luta com tôdas as di- o maior entusiasmo, possa continuar
ficuldades para conseguir o seu re- dando o melhor dos seus esforços,
gistro, a sua naturalização. Tenho inclusive em favor da solução dos
aqui mesmo os nomes de dois es- problemas fundamentais de nossa
trangeiros, de cujos processos tratei Pátria. Aquêles que conhecem a.
junto ao Ministério da Justiça: Ro- fundo, por exemplo, o que são os
sângelo Tissot - Processo n.0 5.552 Estados de São Paulo, Paraná, San-
- e Gildar Celim Ajá - Processo ta Catarina, a região colonial do
n.O 5.665/66. Isso para citar somen- Rio Grande do Sul, sabem o que
te dois casos, porque quase tôdas as significa a presença do estrangeiro
semanas recebo apelos dessa natu- dentro da nossa Pátria. Trata-se <le
reza, Sr. Presidente. homens que não apenas estão tra-
balhando nos diferentes setores da
Não se concebe que, num país como atividade humana. :t!:les, como seus
o nosso, que tem recebido tão va- descendentes, quando o Brasil ne-
liosa contribuição por parte de ele- cessitou de sua participação na de-
mentos estrangeiros, .das mais dife- fesa da nossa soberania, na defesa
rentes origens étnicas, se continue do território nacional, na defesa da
criando tôda sorte de dificuldades nossa bandeira, desfraldada nos
para a naturalização, para a con- Apeninos da Itália, fizeram-se pre-
cessão a essa gente, dos direitos in- sentes, e seu sangue generoso, mis-
dispensáveis a fim de melhor con- turando-se ao dos demais brasilei-
tribuírem para o progresso de nossa ros, tomou o Brasil respeitado, mes-
Pátria. Por isso também apresentei mo no velho mundo.
sôbre a matéria, em companhia do
meu eminente colega Paulo Maca- Esperamos, agora, Sr. Presidente,
rini, emenda ao projeto da nova que o Congresso Nacional saiba re-
Constituição da República, esperan- tribuir a dedicação dessa gente, que,
do que os eminentes colegas a exa- com tanto carinho, tão perfeita-
minem com a máxima atenção e mente se integrou na comunidade
nos dêem o seu apoio. A emenda brasileira, e, num gesto de verda-
está consubstanciada nos seguintes deira justiça, aprove essa emenda,
têrmos: que é, inclusive, do mais alto inte-
"Os estrangeiros residentes no País, rêsse nacional.
desde que proprietários ou casa-
dos com mulher brasileira, ou, Nesta Casa, as Bancadas do Sul -
ainda, com filhos brasileiros, ad- de Mato Grosso, do Paraná, de San-
quirirão a nacionalidade, se opta- ta Catarina, do Rio Grande do Sul
rem, no prazo de seis meses, con- -sempre estiveram presentes, sem-
tado da data da promulgação pre estiveram com as Bancadas do
desta Constituição, mediante jus- Norte e do Nordeste, quando estas
tificação judicial no fôro de sua necessitaram do nosso apoio e da
residência, pela cidadania brasi- nossa solidariedade. Votamos a fa-
leira." vor de grandes créditos por ocasião
da sêca do Nordeste; votamos a fa-
Consideramos do mais alto interêsse vor de grandes créditos por ocasião
nacional esta emenda, que não só das enchentes; votamos a favor da-
beneficiará os estrangeiros residen- quela emenda que concede recursos
tes no Brasil, mas, sobretudo, criará especiais à Região Amazônica, ain-
- 144
da em tramitação nesta Casa, e os benefícios que a civilização mo-
consideramos essa emenda não ape- derna proporciona.
nas do interêsse da Região Amazô-
nica, porém do mais alto interêsse No particular, há entre o Brasil e a
nacional. Aquêles que leram o livro Argentina, verdadeiro contraste. Por
de Arthur Reis- "A Amazônia e a exemplo: a maioria dos nossos fu-
Cobiça Internacional" - sabem da zileiros navais vive nessa região em
importância da iniciativa daqueles casas algumas vêzes pôdres, de ma-
bravos nordestinos que aqui trouxe- deira, em condições anti-higiênicas,
ram essa emenda e pediram a nossa sem o mínimo de confôrto e sem
colaboração. equipamento adequado. Basta dizer
que as barcaças, por ocasião das
Não tenho dúvida, Sr. Presidente e enchentes, não puderam ser utiliza-
Srs. Deputados, em fazer a afirma- das, porque imprestáveis. Enquanto
ção de que, se a Amazônia não fôr isso ocorre, na fronteira da Argen-
efetivamente conquistada pelos bra- tina os gendarmes usam embarca-
sileiros, dentro de quatro ou cinco ções modernas, dispõem de condições
anos essa imensa área territorial de trabalho, e contam com o melhor
dificilmente continuará a fazer par- e mais aperfeiçoado equipamento
te do território nacional. Daí a im- técnico.
portância desta emenda.
Por outro lado, Sr. Presidente e Srs.
Esperamos, portanto, contar com a Deputados, em todo o Vale do Uru-
mesma compreensão, com o mesmo guai, não centenas, mas milhares e
apoio e com a mesma solidariedade milhares de famílias de caboclos na
das Bancadas do Norte e do Nor- maior miséria, no maior abandono.
deste do Brasil em relação a outra
emenda que apresentaremos, desti- Não há energia elétrica, nem estra-
nando recursos para a fronteira su- das, assistência técnica, assistência
doeste. médica, nada há. Se houvesse re-
cursos, essa fronteira poderia ser
Ninguém ignora que a fronteira fàcilmente recuperada. O Vale do
subdesenvolvida é fronteira vulne- Uruguai produz tudo: banana, man-
rável, é fronteira fraca, é fronteira ga, jaca, abacate, goiaba, abacaxi.
fàcilmente atravessada pelos estran-
geiros. Fronteira pobre é fronteira Poderíamos ter ali grandes usinas
que não resiste; fronteira onde cam- de açúcar, industrializar o milho na
peia a fome, a miséria constitui sua própria fonte de produção, en-
vergonha para o próprio país. fim, criar novas e melhores condi-
ções de vida para aquela gente, for-
Esta fronteira a que me refiro, Sr. talecendo tôda a fronteira e, desta
Presidente, é a que parte de Mato maneira, tranqüilizando o País em
Grosso e vai até aos confins do Rio relação à cobiça de povos estran-
Grande do Sul. É todo o Vale do geiros.
Uruguai, sobretudo a parte do Vale
do Uruguai que, no futuro, será uma É isso que objetivamos e preconiza-
espécie de Nilo do Brasil, mas que mos nesta emenda, que, esperamos,
hoje, em todo o interior do Rio receberá o acolhimento não apenas
Grande, é a região mais abandona- da Comissão Especial, mas, sobre-
da, a região mais pobre, a região tudo, dos eminentes colegas de todos
onde o povo vive à margem de todos os Estados da Federação.
- 145 -
A emenda, assinada por mim e pelo Srs. Congressistas a volverem seus olhos
Deputado Paulo Macarini, está con- para o produtor nacional no momento
substanciada nos seguintes têrmos: de elaboração da nova Carta Constitu-
cional. Salienta que, de acôrdo com a
"O Govêrno Federal fica obrigado, Constituição de 1946, "o pequeno pro-
durante o prazo de 20 anos, a dutor estava isento do impôsto sôbre a
contar da data da promulgação pequena operação por êle efetuada".
desta Constituição, a aplicar,
anualmente, quantia não inferior Entretanto, no anteprojeto, "os doutos
a 1% de sua renda tributária, constitucionalistas, os jurisconsultos e o
para execução do plano da Supe- próprio Executivo omitiram essa isen-
rintendência do Plano de Valori- ção bem como aquela relativa à peque-
zação Econômica da Região Fron- na propriedade, de até 20 hectares, tam-
teira do Sudoeste do País." bém preceito constitucional". Conclui
Esta emenda, Sr. Presidente, Srs. que, "no sentido, pois, de fazer justiça
Deputados, se aprovada, não bene- aquêle homem que, com sua família,
ficiará apenas imensa região dos sem horário de trabalho, sujeito ao sol e
Estados do Sul do Brasil, mas virá, à chuva, se dedica com afinco a deitar ao
sobretudo, resolver um dos proble- solo a semente generosa e a colhêr os
mas fundamentais da nossa Pátria. seus frutos" apresentará duas emen-
das ao projeto. "A primeira concede
Aquela região, altamente promisso- isenção de impôsto para a pequena ope-
ra, tem condições de produzir tudo, ração; a segunda isenta de qualquer
conforme afirmei, faltando para isso tributo, mesmo do impôsto territorial, a
apenas, atualmente, a presença do propriedade de até 25 hectares."
Govêrno Federal, através de recur-
sos fundamentais. O Deputado C L ó V I S P E S TA NA
(ARENA - Rio Grande do Sul) (47)
Sr. Presidente, Srs. Deputados, era
demonstra "a sua grande tristeza, ao
isso que desejava dizer nesta opor-
constatar que o Projeto de Constituição
tunidade. Era êste o apêlo que que-
enviado ao Congresso não aborda o
ria transmitir, em nome dos Estados
tema do planejamento ou, melhor ain-
do Sul, aos colegas de outros Esta-
da, faz referências que dão a entender
dos da Federação: busquem sinto-
que a concepção dos autores da nova
nizar com o nosso pensamento, e
Constituição é a de um planejamento
dêem a sua cobertura a esta emen-
flor de laranjeira, de um planejamento
da. Podem estar certos de que as
ultrapassado, já cientificamente com-
Bancadas do Sul, a exemplo do que
provado ineficaz". Conclui, expressando,
fizeram até hoje, estarão solidárias
a sua decepção "ante a ausência de uma
com seus colegas de outros Estados
posição clara em relação a êsse proble-
da Federação, sempre que neces- ma fundamental do Brasil, que é a luta
sário.
contra o subdesenvolvimento".
Aos que nos acompanharem nesta
luta, aqui deixo, principalmente em Aguardando a decisão do M. D. B. sô-
nome do meu Estado, o Rio Grande bre a participação de seus membros na
do Sul, desde já o meu muito elaboração da nova Carta, o Deputado
obrigado." UNtRIO MACHADO (MDB - Rio Gran-
de do Sul) (4 R) apela aos Srs. Congres-
Na sessão de 19 de dezembro de 1966,
o Deputado JOSÉ MANDELLI (MDB (46) D.C.N. - S. I - 20-12-66 - pág. 7.367
(47) D.C.N. S. I - 20-12-66 - pág. 7.368
Rio Grande do Sul (4fi) conclama os (48) D.C.N. - S. I - 20-12-66 - pág. 7.370
- 146 -
sistas no sentido de apresentarem emen- Afirma que traz êste apêlo formalizado
da atendendo a uma velha reivindicação, pelo Presidente do Tribunal de Contas
um denominador comum da opinião de Alagoas e que o próprio Presidente
pública nacional, a aposentadoria aos 30 do Tribunal de Contas da União, Mi-
anos de serviço para os funcionários nistro Freitas Cavalcante, está também
públicos. assustado e preocupado com o que possa
ocorrer: "que o Tribunal de Contas passe
O Deputado JAMIL AMIDEN (MDB- a ser exclusivamente um aprovador, sem
Guanabara) (40) anuncia a apresenta- maiores conseqüências, das contas da
ção da seguinte emenda ao texto da União."
nova Constituição:
O Deputado CARVALHO SOBRINHO
"Fica assegurado ao funcionário pú- (ARENA - São Paulo) (52) comenta que
blico e autárquico, ex-combatente a nova Constituição é uma caixinha de
da Fôrça Expedicionária Brasileira, segredos surpreendendo a todos pelas
do 1.0 Grupo de Caça da Fôrça Aé- suas omissões. A seguir, lê carta que
rea Brasileira, da Marinha de Guer- recebeu do Dr. Raul Renato Cardoso de
ra e Marinha Mercante, que tenha Melo Tucundoc criticando o atual Pro-
participado da 2.a Guerra Mundial, jeto de Constituição.
o direito à aposentadoria após 25
anos de serviço e demais vantagens O Deputado DIAS MENEZES (MDB-
previstas na legislação em vigor à São Paulo) (53) rende homenagem ao
data da promulgação desta Consti- Dr. Francisco de Paula Vicente de Aze-
tuição." vedo pelo seu artigo, publicado no Diário
de São Paulo, intitulado "O Fim da Fe-
Na sessão de 20-12-66, o Deputado deração", criticando o Projeto de Cons-
LINO BRAUN (1\IDB - Rio Grande do tituição.
Sul) (uO) comunica à Casa que na vo-
tação do Projeto de Constituição adota- O Deputado EWALDO PINTO (MDB
rá, na íntegra, o voto do MDB, emitido - São Paulo) (54) registra, com muita
na Comissão Especial. Assinala que ela- tristeza, a omissão do Govêrno do Es-
borou algumas emendas e subscreveu tado de São Paulo, no momento em que
outras da representação da Oposição se discute, em condições anormais é ver-
"tendentes a melhorá-lo, dêle expungin- dade, uma Constituição para a Repúbli-
do e expurgando defeitos inadmissíveis." ca. Salienta que "não se conhece uma
opinião do Govêrno do Estado de São
O De p u ta do MEDEIROS NETO Paulo. É a omissão, a ausência, a indi-
(ARENA- Alagoas) (õl) argumenta que ferença apenas do Govêrno do Estado
o atual Projeto de Constituição "talvez de São Paulo. E a Bancada de São
tenha recuado em tempo e espaço, pro- Paulo está inteiramente abandonada, in-
curando evitar que os Tribunais de Con- teiramente desassistida, sem subsídios,
tas do País, seja o da União, seja o sem elementos técnicos, para apreciar a
dos Estados-membros, não tenham mais Constituição, para oferecer emendas à
aquela específica competência de que Constituição.
antes desfrutavam". Desta maneira es-
tá havendo um clamor por todos os Es- Na sessão de 5 de janeiro de 1967, o
tados da Federação, no sentido de que Deputado BENJAMIN FARAII (MDB -
se restaurem, no texto da Constituição (49) D.C.N. - S. I - 20-12-66 - pág. 7.372
que o Congresso vai aprovar, os arts. 76 (50) D.C.N. - S. I - 21·12-66 - pág. 7.408
(51) D.C.N. - S. I - 21-12-66 - pág. 7.411
e 77, com parágrafos, que emergem da (52) D.C.N. - S. I - 21-12-66 - pág. 7.413
Constituição de 18 de setembro de 1946. (53)
(54)
D.C.N.
D.C.N. -
S.
S.
I
I
-
-
21-12-66
21-12-66
-
-
pág,
pág.
7.414
7.413
- 147
Guanabara) (5") congratula-se com os Quer dizer, se essa aposentadoria fôr
servidores civis, pois a emenda por êle reduzida para 30 anos, apenas 25%
apresentada sôbre a aposentadoria aos serão beneficiados: então uma parte
30 anos de serviço mereceu parecer fa- já estaria enfêrma, c outra grande
vorável do Sub-Relator na Comissão que parte não alcançaria essa aposen-
está examinando a nova Constituição. tadoria em vida. Mas, se deixarmos
Diz êle: a aposentadoria aos 35 anos, vamos
aposentar uma legião de mortos.
"Nessa emenda, Senhor Presidente,
que, constitui uma das mais senti- Será isso o que o Govêrno pretende?
das aspirações dos servidores em ge- Os militares são reformados aos
ral, além de reduzir a aposentadoria 30 anos - até outubro do ano pas-
de 35 para 30 anos, também procurei sado podiam passar para a reserva
corrigir o defeito que estava no Pro- com 25 anos de serviço.
jeto de Constituição. No seu art. 98,
§ 1.0 , vemos:
Ora, Sr. Presidente, se damos a
transferência para a inatividade aos
"No caso do número IH o prazo trinta anos aos militares, às mulhe-
é reduzido a trinta anos, para as res, aos magistrados, por que, en-
mulheres." tão, não dá-la a todo o funciona-
lismo?
Mas o Govêrno deu com uma e ti-
rou com a outra mão, pois o item H Espero que o nobre Relator da Co-
do art. 99 diz o seguinte: missão aceite a sugestão do Sub-
Relator, o nobre Deputado Accioly
"Os proventos da aposentadoria se- Filho, cujo parecer é brilhante e me-
rão: rece os nossos aplausos. Espero que
11 - Proporcionais ao tempo de o Govêrno, através das suas lide-
serviço, quando o funcionário con- ranças, não crie dificuldades para
tar menos de 35 anos de serviço," a aprovação dessa emenda, que é,
realmente, humana e justa. O Go-
Assim, inclusive a aposentadoria da vêrno deve fazer justiça, sobretudo
mulher ficou prejudicada. Então, àquêles que dão o melhor dos seus
corrigi o item H do art. 99 para: esforços para que êle leve a bom
". . . 30 anos de serviço." têrmo os seus grandes objetivos."
A aposentadoria para a funcionária, O Deputado ARGILANO DARIO (MDB
segundo a minha emenda, será in- - Espírito Santo) (r>«) pronuncia o se-
tegral, e não proporcional. guinte discurso:
Sr. Presidente, esta constitui, repito, "Senhor Presidente, nobres Depu-
uma das sentidas aspirações dos ser- tados, durante a discussão da Cons-
vidores. Quero ler apenas um trecho tituição, que se está processando
da justificação da minha emenda: nesta Casa, ainda não me foi pos-
sivel tratar desta matéria, eis que
"A êste respeito, o IBGE, em pes-
outros assuntos não me permitiram
quisa realizada, apurou que, se
fazê-lo.
implantada a aposentadoria aos
30 anos e é o caso, 25% chegariam Hoje, aproveito-me desta oportuni-
a receber o prêmio da sua apo- dade para observar alguma coisa sô-
sentadoria ainda com vida; 5% bre a nova Constituição, e tratar
com vida, mas doentes; e 70%,
(55) D.C.N. - S. I - 6-1-67 - púg. 7
mortos." (5G) D.C.N. - S. I - 6-1-67 - pág. 12
- 148

também de outros assuntos que me Vimos, no entanto, Sr. Presidente


vêm à memória, dada a ausência de e Srs. Deputados, uma constante de
disputa dos oradores. atos e medidas voltados contra os
trabalhadores de nossa Pátria. Suas
As premissas da nova Constituição grandes conquistas, quando não eli-
que o Govêmo da revolução preten- minadas, foram modificadas para
de impor a êste País, constituem pior. A política social foi desenvol-
uma conseqüência daquilo que du- vendo-se de mal a pior. Nos conta-
rante dois anos vimos advertindo a tos mantidos com as áreas assala-
Nação. Todo o País assistiu ao in- riadas, quer dos trabalhadores co-
terêsse dos homens que dirigem a muns, quer dos servidores públicos
Nação, a partir da revolução de abril municipais, estaduais e federais, im-
de 1964, em modificar tudo o que peram as reclamações. As medidas
havia de conquista, nas áreas sociais econômicas impostas pelo Govêmo
e econômicas de nossa Pátria. foram, tôdas elas ou em sua grande
É muito natural. Um nôvo grupo do maioria, prejudiciais ao bem-estar
pensamento brasileiro dirige êste comum.
País. Conseqüentemente seus dese-
jos devem prevalecer, eis que êles se O servidor público, por exemplo,
impuseram pela fôrça, acham que quando obtinha um aumento, como
estão certos e, especialmente atra- o que recentemente se verificou, já
vés dessa Carta que se discute no estava com seus proventos muito
Congresso, agora nas Comissões, aquém do poder aquisitivo necessá-
querem deixar à posterioridade os rio à vida de um servidor público.
seus princípios.
E, se acontecia tal com o servidor
Nós, entretanto, que acompanhamos público, muito pior se verificava com
a vida política desde o evento Ge- o trabalhador em geral. Os traba-
túlio Vargas, deixamos nesta opor- lhadores da cidade, das indústrias,
tunidade, registrada nos Anais des- para não falar nos do campo, atra-
ta Casa a nossa contrariedade às vessaram, e estão atravessando, os
pretensões que, sabemos, serão tor- dias mais difíceis de sua vida. Quan-
nadas realidade dentro em pouco, do se falou na Constituição que nes-
uma vez que o Govêrno da Repúbli- te instante comentamos e critica-
ca conta com maioria esmagadora mos, esperávamos do Govêrno, espe-
nesta Casa. cialmente na área social, no trato
Várias foram as oportunidades, Sr. que deveria dispensar para com o
Presidente, em que, desta tribuna, trabalhador de nossa Pátria, algo de
comentamos o tratamento do Go- nôvo e de importante, embora a
vêrno para com as áreas sociais. nossa expectativa fôsse no sentido
negativo, uma vez que as medidas
Chegamos a dizer várias vêzes tam- já adotadas de eliminação e poster-
bém que o Govêmo do Sr. Castello gação daquelas mesmas conquistas
Branco, logo que se instalou nesta tão difíceis obtidas pelos trabalha-
Nação, apressara-se em afirmar an- dores já tinham sido uma demons-
te o clima existente no meio dos tração de que nada de bom poderia
trabalhadores de nossa terra, que a advir. E o que está aí, Sr. Presi-
revolução nada faria para contra- dente, apenas é sacrifício para tôda
riar as pretensões e conquistas das a Nação, é, tanto na área social co-
áreas trabalhistas. mo na área econômica, uma verda-
- 149
deira camisa de fôrça para todo ho- pedra angular da vida democrática
mem público de nossa Pátria. de nossa Pátria. Mas é apenas pro-
pensão, não é certa a sua aprovação.
:t!:sse tratamento, que julgávamos
fôsse outro, está aí na Constituição. Vimos aqui os Srs. Deputados -
repito - de tôdas as correntes luta-
O número de emendas - quase qua- rem àvidamente pela coleta de assi-
tro mil - colocadas juntas à Cons- naturas para essas emendas, a fim
tituição do Sr. Presidente Humberto de que os Srs. Vereadores nos mais
Castello Branco, na sua maioria diversos rincões de nossa Pátria, nos
pelos i I u s t r e s representantes da longínquos municípios da hinterlân-
ARENA, são bem, repito, a demons- dia brasileira, tivessem a recompen-
tração de que algo de errado, e mui- sa do seu indormido trabalho, a re-
to errado, existe nessa Carta. A Co- compensa de um trabalho que é
missão Especial que examina a ma- maior, mais efetivo e mais democrá-
téria, assoberbada com as emendas tico do que muitos imaginam."
e quedando-se, na maioria dos casos
especiais, à aceitação de muitas de-
las, está sendo pressionada pelo Go- "Sr. Presidente, Srs. Deputados, ou-
vêrno para que não aceite tais e tro assunto que já abordei levemen-
quais medidas, que visam ao pro- te, reputando-o dos mais importan-
gresso e ao desenvolvimento econô- tes, é o da autonomia das Capitais
mico de nossa Pátria. e dos Municípios. As Capitais dos
Estados que não podem contar com
Na área democrática, Sr. Presiden- o prefeito eleito diretamente pelo
te, há várias emendas que visam, por povo estão fadadas à estagnação e
exemplo, ao voto direto para Presi- ao descaso. Com os entendimentos
dente da República e para Prefeito nos campos políticos para as eleições
das Capitais de nossos Estados. Há dos Governadores e de outros cargos
necessidade de têrmos os Prefeitos e majoritários, as prefeituras são sem-
o Presidente desta grande Pátria li- pre objeto das acomodações de di-
vremente eleitos, diretamente pelo versos partidos. Há, por exemplo, a
povo. seguinte arrumação: o chefe políti-
co de um partido, desejando o apoio
Mas a pressão é a mais efetiva, a de outra área política poderosa pa-
mais constante, contra essa justa ra conquista de uma posição almeja-
pretensão do povo brasileiro, expres- da, vai àquela área e propõe que, se
sa nesta Casa pelos representantes eleito, dela sairá o prefeito nomeado
das correntes que hoje formam o sis- pelo Govêrno. Desenvolvida a ação
tema bipartidário. política, eleito aquêle que propôs o
Temos, por exemplo, Sr. Presidente, negócio, é nomeado aquêle que foi
emendas - e são muitas - que se indicado pelo partido apoiado r. Daí
referem à remuneração dos Verea- por diante, sabendo-se nomeado pelo
dores. Uma oposição ferrenha se faz Governador do Estado, o prefeito
sentir a que algumas das mesmas outra coisa não faz senão procurar
sejam apoiadas. Há, contudo, Sr. acolitar da melhor maneira possível
Presidente, possibilidade de que uma as pretensões do Governador, ou da-
delas, pela boa vontade, pelo espe- queles que formam o seu staff. E o
cial acatamento da Comissão, venha atendimento dos interêsses da admi-
a ser aprovada, restabelecendo-se a nistração, do povo de modo geral,
remuneração para aquêles que são a fica para as calendas gregas.
- 150-

Quero aqui particularizar, com um Mas deixo aqui o meu protesto a


caso verificado durante muitos anos essa ação, a essa pretensão, ao mes-
no meu Estado. Por mais de 100 anos mo tempo em que deixo o meu mais
a Capital do Espírito Santo, Vitória, veemente apêlo a tôda a Casa, e de
foi administrada por êsse sistema. maneira tôda particular à Comissão
Especial que examina a matéria, pa-
Os partidos entendiam-se: Um dava ra que, dentre as muitas pretensões
o candidato a Senador, o outro o dos Srs. Deputados, se permita a
Governador, e o mais fraco, mas que aprovação da autonomia das Capi-
tinha significação nacional, no im- tais do País, como igualmente se
bróglio seria aquêle que ofereceria permita a cobertura total às preten-
o homem para ser nomeado Prefei- sões dos vereadores, que trabalham,
to. Então, verificava-se que o Pre- como nós trabalhamos, e que por isso
feito de nomeação, com mêdo da de- mesmo têm direito aos proventos
missão, procurava sempre agradar pelo trabalho desenvolvido a bem
ao chefe político do Estado e, quan- das suas municipalidades.
do não o conseguia, era demitido. É o apêlo que nós deixamos no final
dêste nosso curto discurso, aprovei-
No meu Estado, por exemplo, Srs. tando-nos desta vaga que se nos
Deputados, tivemos um ano em que oferece neste Grande Expediente."
quatro prefeitos foram nomeados
para Vitória do Espírito Santo. O Na sessão de 6 de janeiro de 1967, o
resultado disso foi a estagnação da Deputado EWALDO PINTO (MDB- São
Capital e, após uma luta indormida Paulo) faz à Casa a seguinte comunica-
de vários anos sustentada pela As- ção: (57)
sembléia Legislativa do meu Estado, "Sr. Presidente, Srs. Deputados, de-
conseguimos impor a autonomia de sejo deplorar a decisão da Comissão,
Vitória.'~ que examina o projeto de Constitui-
ção, de rejeitar a emenda de inicia-
tiva de vários Deputados - êste que
ocupa a tribuna neste momento,
Portanto, a autonomia das Capitais, mais os Deputados Adolpho Olivei-
dentro da Constituição que se es- ra, José Barbosa, Dias Menezes e ou-
tuda e que breve será votada nesta tros eminentes colegas - visando a
Casa, bem como o direito aos pro- manter a autonomia das Capitais.
ventos para os vereadores, são uma O projeto do Govêrno faz retroceder
grande necessidade. A autonomia ao regime de prefeito nomeado, as
das Capitais, que sabemos está sen·· Capitais dos Estados, as estâncias
do postergada, está sendo omitida hidrominerais - casos em que são
para negociações de in terêsse do nomeados, mediante aprovado da
mandonismo atual, é um crime. E Assembléia Legislativa- e determi-
os jornais já comentam que no pró- nados municípios, considerados de
prio Estado do Ceará já começaram importância para a segurança nacio-
as negociações para amparar os nal, - hipótese em que a nomeação
derrotados, para dar cobertura àquê- dependerá da aprovação do Presi-
les que mesmo pelo dinheiro, mesmo dente da República. Ésse dispositivo
pelo derrame escandaloso do di- retrógrado, que o Govêrno incluiu
nheiro, como se verificou agora nas na Constituição - retrógrado prin-
eleições, não conseguiram a sua elei- cipalmente no que diz respeito às
ção. (57) D.C.N. - S. I - 7-1-67 - pnrr. 31
- 151

Capitais - não apresenta justifica- fator a mais de desestímulo, um fa-


tiva consistente, nenhuma explica- tor a mais de abstenção, um fator a
ção razoável, nenhum motivo digno mais de alheamento, sem que nin-
do maior exame para cassar parcial- guém tenha a ganhar com isso, ~
mente os direitos dos milhões de não ser os que pretendem usar as
eleitores. Em verdade, o que ocorre prefeituras das Capitais como tram-
é exatamente isso: uma cassação de polim para a conquista do Govêrno
direitos de milhões de brasileiro3, do Estado.
que, uma vez vitoriosa a tese no ple- Espero, no entanto, Sr. Presidente,
nário, no que não acredito, se verão que, por ocasião da votação no Ple-
impedidos de escolher os seus pre- nário onde pretendo solicitar desta-
feitos. que para a referida emenda os Sr:3.
Em São Paulo tivemos, ainda recen- Senadores e os Srs. Deputados, re-
temente, uma eleição memorável, na jeitem êsse dispositivo do projeto de
qual um empolgante movimento po- Constituição, mantendo a autono-
pular levou à chefia do Executivo mia dos J),lunicípios das Capitais e
paulistano um homem com autênti- das estâncias hidrominerais."
cas vinculações populares, o Prefeito Já o Deputado GETúLIO MOURA
José Vicente de Faria Lima. (MDB - Rio de Janeiro) (5S) ussinala
E assim, em tôdas as capitais de Es- que o atual Congresso não tendo recebido
tado, milhões de brasileiros se ve- podêres constituintes não poderia evi-
rão impedidos de exercer o direito dentemente votar uma Constituição. En-
de escolha de prefeito. Claro que in- tende que "teria sido fácil ao Presiden-
terferem no problema os inter~sses te da República, que usa e abusa dos de-
de determinadas cúpulas; os inte- cretos-leis, dos atos complementares,
rêsses de elementos ligados a gover- dos atos institucionais, ter dado tam-
nadores não eleitos, impostos atra- bém, se a sua intenção fôsse em verda-
vés das Assembléias Legislativas, que de fazer votar um texto necessário e in-
vêem nas prefeituras um pôsto po- dispensável à continuidade democráti-
lítico de excepcional importância tica no Brasil, a êste Congresso exan-
para a preparação de sua sucessão. gue os podêres constitucionais indispen-
A exclusão do eleitorado das Capi- sáveis, para que não se alegue amanhã
tais do processo de escolha do pre- que aquilo que se vai votar contraria
feito importaria, sem dúvida algu- frontalmente as regras basilares da
ma, num desestímulo ainda muito Constituição Brasileira, em matéria de
maior para o já desestimulado elei- emenda ou de reformulação constitu-
torado brasileiro. cional."
O Deputado ANTôNIO BRESOLIN
Assistimos ainda no último pleito ao (MDB - Rio Grande do Sul) (59) co-
espetáculo profundamente melancó- menta o lnterêsse em seu Estado pelo
lico, que deve preocupar a todos, de Projeto de Constituição e sobretudo pelas
um contingente enorme de brasilei- emendas apresentadas pelos Srs. Con-
ros voltando as costas para o pro- gressistas. Sôbre o assunto lê telegramas
cesso eleitoral, deixando de nêle par-
reivindicatórios da Câmara Municipal do
ticipar, abstendo-se, votando em
Rio Grande, da Federação e Associação
branco, ou anulando deliberadamen-
Comercial de Pôrto Alegre e do Presi-
te o seu voto, em razão de descrença
dente da União Nacional dos Ferroviá-
e desestímulo. rios.
Essa medida de exclusão do eleito-
(58) D.C.N. - S. I - 7-1-67 - pág. 32
rado das Capitais seria, repito, um (59) D.C.N. - S . I - 7-1-67- pág. 33
- 152

A seguir afirma o orador: Só imagino a satisfação que milhares


"Sr. Presidente, Srs. Deputados, con- de vereadores de todo o Brasil, ho-
forme já tive oportunidade de dizer mens abnegados, homens que cum-
desta tribuna, apresentei, com a co- prem o seu dever no desempenho do
laboração do eminente colega e ami- seu mandato, hão de sentir, quando
go Deputado Paulo Macarini, três tomarem conhecimento de que esta
Casa do povo foi sensível não ape-
emendas, que considero do mais alto
nas às suas aspirações, mas sobre-
interêsse, duas delas para o País e
tudo aos homens que vivem no in-
outra para os Estados do Sul liga-
terior, porque, se êsse artigo tivesse
gados à Fronteira Sudoeste. A pri-
permanecido dentro da Constitui-
meira delas, a que atende às justas
ção, proibindo o vereador de receber
reivindicações dos vereadores de to-
subsídio, o interior do Brasil ficaria
do o Brasil, está consubstanciada
sem representante na Câmara dos
simplesmente nisto:
Vereadores.
"Suprima-se o § 2. 0 do Item 2, do
art. 15." A outra emenda, Sr. Presidente e
Srs. Deputados, a que desejo refe-
Essa emenda é das mais justas. Não rir-me nesta oportunidade é aquela
se concebe que enquanto ao Sr. Pre- que estabelece o seguinte:
sidente da República, enquanto aos
Senadores, enquanto aos Deputados "Os estrangeiros residentes no
Estaduais sejam atribuídos subsídios, Brasil, desde que proprietários ou
os Vereadores, simplesmente porque casados com mulher brasileira, ou
atuam numa esfera menor, não re- ainda com filhos brasileiros, ad-
cebam subsídios pelo trabalho que quirirão a nacionalidade, se opta-
prestam à sua comunidade. rem, no prazo de 6 meses, conta-
dos da data da promulgação des-
É com satisfação que posso regis- ta Constituição, mediante justifi-
trar nesta Casa a informação, que cação judicial no fôro de sua re-
recebi há poucos instantes do nosso sidência, pela cidadania brasilei-
eminente colega e grande amigo ra."
Deputado José Barbosa, membro da
Comissão Especial, de que a maté- Esta emenda também, Sr. Presiden-
ria foi apreciada ontem e ficou de- te e Srs. Deputados, é uma manifes-
cidido que o disposto neste artigo da tação do anseio das necessidades
Constituição será regulamentado das centenas de milhares de estran-
numa lei complementar. Foi acolhi- geiros que vivem no nosso País, a
da, neste sentido, uma emenda do maioria dêles enleados no cipoal da
nobre e eminente colega Nelson legislação vigente. Posso fazer essa
Carneiro, com aproveitamento par- afirmação aqui porque, antes de ir
cial do que se contém em outras à Assembléia Legislativa do Estado,
emendas, que veio traduzir aquilo no desempenho de meu mandato,
que todos nós desejamos. como jornalista, na Cidade de Ijuí,
A matéria relativa à remuneração dedicava muitas horas do meu tra-
dos vereadores será, por isto, regu- balho fazendo naturalizações e sen-
lada em lei especial e, desta manei- ti de perto o quanto é complicada
ra, fica atendida uma justa reivin- no Brasil a legislação que trata dos
dicação. A nossa emenda serviu de estrangeiros aqui residentes. Não me
ponte, alcançando o resultado dese- refiro propriamente àquêles estran-
jado. geiros que aportaram ontem ao
- 153

Brasil, elemento que na maioria são criando novas e melhores condi-


"camelots", mascates, muitos dêles ções de vida para milhares de fa-
inclusive, dedicados a um ramo d~ mílias que, muitas delas, vivem
atividades prejudicial aos interêsses na maior miséria e no mais com-
da pacata população que vive no in- pleto abandono. Por outro lado, a
terior. medida contribuirá para fortale-
cer a economia ao Rio Grande do
Refiro-me aos elementos que há Sul, fazendo com que o nosso Es-
largos anos vêm prestando os me- tado, multiplicando sua produção
lhores serviços ao nosso País. e incrementando sua indústria,
Como representante de um Estado volte a participar mais ativamen-
que tem uma faixa imensa do seu te dos benefícios da União."
território atingida pela chamada Além disso, a propositura vai ao en-
Lei da Faixa da Fronteira, tenho contro da política do próprio Poder
condições de dizer que a legislação Executivo federal. Tanto é verdade
é profundamente prejudicial aos in- que, a cada passo, o Sr. Presidente
terêsses do Brasil. O estrangeiro re- da República proclama, com acêrto,
sidente na faixa da fronteira para que deseja fazer a recuperação eco-
fazer uma simples operação de com- nômica do Brasil através do aumen-
pra ou venda de área de terra tem
do da produção.
que recorrer ao serviço especial da
faixa da fronteira, gastando dinhei- Aprovada esta emenda, feita a re-
ro e perdendo tempo. Isso para citar cuperação do Vale do rio Uruguai,
um fato. como do resto das fronteiras dos Es-
tados de Mato Grosso, Paraná, San-
Outra emenda que considero do mais ta Catarina, nessa vasta e riquíssi-
alto interêsse não apenas para o Rio
ma região, pràticamente inexplora-
Grande do Sul mas para os Estados da, dos Estados do Sul, poderemos
de Santa Catarina, Paraná e Mato intensificar, multiplicar muitas vê-
Grosso, é, a parecida com aquela, zes a produção. Desta maneira, ire-
que tambem assinamos e à qual da- mos ao encontro da política do pró-
mos nosso apoio, em relação a Re- prio Presidente da República.
gião Amazônica.
Cumpre salientar mais, Sr. Presi-
A emenda está consubstanciada nos dente e Srs. Deputados, que, com ês-
seguintes têrmos: ses recursos, recuperando tôda essa
"O Govêrno Federal fica obrigado, região na fronteira com a vizinha
durante o prazo de 20 anos, a con- República da Argentina, teremos a
tar da data da promulgação da possibilidade, Inclusive, de fortale-
Constituição, a aplicar, anualmen- cer imensamente as fronteiras do
te, quantia não inferior a 1% de País e, assim, tranqullizar, ainda
suas rendas tributárias para exe- mais, a população do Sul.
cução dos planos da Superinten-
Esperamos, por tudo isso, que a Co-
dência do Plano de Valorização
missão Federal e todos os Deputados
Econômica da Região Fronteira
desta casa sejam sensíveis aos in-
do País."
terêsses dos Estados do Sul, acolhen-
"Esta emenda, se aprovada, per- do as medidas previstas nas emen-
mitirá ao Rio Grande do Sul fazer das que acabo de referir. Incluindo
a recuperação do Vale do rio Uru- essas emendas no texto da Consti-
guai, fortalecendo a fronteira e tuição da República, prestaremos
- 154-

mais um serviço a êste País, - é que não consta na Carta Magna em ge-
tudo que espero de cada um dos bra- ral é desrespeitado. E todos sabem da
sileiros que aqui se encontram." luta da Amazônia e do Nordeste, para
que os orçamentos consignassem as ver-
Na sessão de 7 de janeiro de 1967, o bas respectivas, apesar do mandamento
Deputado GETúLIO MOURA (MDB-Rio constitucional".
de Janeiro) (60) faz veemente apêlo ao
Congresso Nacional para que aprove A seguir o orador tece considerações
duas emendas ao Projeto de Constitui- acêrca dos problemas e das necessidades
ção. Salienta que elas são de grande in- da Baixada Fluminense e finaliza seu
terêsse para o Estado do Rio de Janei- discurso dizendo:
ro, e sobretudo para a chamada Baixa-
da Fluminense. Uma delas é relativa à "Sr. Presidente, quando se vota uma
valorização dos Municípios da Baixada Constituição que nos merece tantas
Fluminense, que são cêrca de seis. reservas na sua parte política, na
sua parte jurídica, na sua parte eco-
Afirma que "muitos brasileiros não nômica, quero declarar que me da-
sabem que ali reside uma população so- ria por feliz se, nesse documento,
frida, sem recursos de qualquer nature- que, aliás, não vai honrar nossa sa-
za. Seus Municípios são de grande den- bedoria, nem a nossa experiência,
sidade demográfica, sem água, sem es- nem a nossa tradição, nem a nossa
gotos, sem calçamento e sem luz. Basta cultura, pudéssemos salvar êsses re-
dizer que o economista Jacy Magalhães, cursos para a Amazônia, para o
contratado pelo Govêrno do Estado do Nordeste, para o Sul do País e para
Rio para o levantamento sócio-econô- a Baixada Fluminense. Temos ainda
mico do Estado, concluiu que o proble- o Rio Paraíba. Somos autor, tam-
ma da Baixada Fluminense, sob o as- bém, de uma emenda que se encon-
pecto sócio-econômico, era mais grave, trava com parecer favorável na Co-
mais explosivo do que o do próprio Nor- missão de Constituição e Justiça,
deste. emitido pelo relator, Deputado José
Barbosa.
Sei, Sr. Presidente, que a tendência
do Govêrno é impedir vinculações de Não a reproduzimos agora, porque
verbas no Projeto de Constituição, nem S. Ex.11 aproveitou o trabalho que
mesmo aquelas que figuravam na Cons- havíamos feito e o consubstanciou
tituição de 1946 serão reproduzidas na numa emenda, dando-me prévia ci-
de 1967. Tenho, entretanto, esperanças ência do que la fazer, contando com
de que, estando aglutinados hoje em o meu apoio e aplauso. S. Ex.11 fêz
uma emenda do Deputado Paulo Sara- questão de na sua menda, repetir os
sate as emendas da valorização da Ama- argumentos que havíamos exposto
zônia, do Polígno das Sêcas, da Frontei- anteriormente na emenda que se en-
ra do Sudoeste, da Baixada Fluminen- contrava na Comissão de Justiça,
se e do Rio Paraíba, sejam levadas as em que S. Ex. 11 era o Relator.
bancadas dos Estados interessados a
uma justa rebelião nesta Casa, votando l!:sse Rio Paraíba, como todos sabem,
contra o Govêrno e a favor das suas po- é um traço líquido que atravessa o
pulações." meu Estado, desde o sul até o nor-
te. Não é apenas o rio que mereceu
Assinala, depois, que "pela boa técni- tanto a poesia dos nossos poetas. É
ca as Constituições não deveriam ter um rio que tem uma finalidade imen-
qualquer vinculação de verba. Mas a ex-
periência brasileira indicou que aquilo (60) D.C.N. - S. I - 8-1-67 - pág. 58
- 15.5

sa na minha terra. ftle é união; êle Sr. Presidente, tenho combatido


recolhe as imagens do sul para le- desde a primeira hora esta reforma
vá-las para o norte; êle recolhe das constitucional. Em verdade, faz-se
serras do sul e do centro o húml~S ao Brasil a imposição de uma nova
indispensável para jogá-lo na Bai- Carta Constitucional, sem raiz em
xada Fluminense e fertilizá-la. É um nossa terra, sem identidade com o
rio que representa o nosso Nilo, inc- nosso povo, afastada dos nossos
gàvelmente um rio extraordinário princípios de Direito, afastada da
para os interêsses fluminenses. Mas, nossa tradição, um documento auto-
apesar do sentido político dêsse rio ritário, como se diz, indispensável
porque, como disse, êle dá identida- ao fortalecimento do Poder Executi-
de às populações e torna próximas vo, mas com prejuízo de tôdas as
as que moram em Rezende e Itape- demais liberdades, em cujo gôzo nos
ruma, porque leva no seu dorso lu- encontramos desde o Império. Nem
zido as imagens do sul para encan- mesmo com Pedro li tivemos uma
tamento do centro e do norte, êste Carta tão autoritária, pois aquêle
rio extraordinário aí está abando- que a executava, o magnânimo Pe-
nado. De um lado, quase secou com dro li, foi o mais republicano de
as obras da Light, que passou a re- todos os reis. Mas que, ao lado do
tirar com bombas parte das suas inconveniente dessa nova Carta,
águas para a usina, que até, por ir- pelo menos ela represente uma es-
risão, tem o nome de um grande perança para a Baixada Fluminen-
fluminense, Nilo Peçanha. E depois se, porque as outras populações já
joga essas águas ao mar, reduzinda tinham as suas vinculações, e hoje
imensamente a parte líquida dessz se busca suprimir as vinculações.
rio, que nos períodos de sêca fica
em situação deplorável. Devemos, então, unir as bancadas
de São Paulo, que tem interêsse no
Mas era uma situação de emergên- rio Paraíba, às do Estado do Rio
cia àquêle tempo, e até antieconô- e da Guanabara, às bancadas do
mica, porque o que a Light despen-
Norte, do Nordeste e do Sul, e acre-
de com a retirada dessa água para
jogá-la em Piraí, segundo in- dito que teremos assim o quorum
formações que tenho - e não sou indispensável à aprovação dessa
técnico - representa mais de 50% emenda dentro, como disse, daquêle
da própria fôrça que produz através deserto de idéias que é esta Consti-
das bombas de sucção. Entretanto, tuição. Que pelo menos se salve
na ocasião, era a solução que diziam esta promissora vinculação, para
de emergência e indispensável. que possamos, na Baixada Flumi-
nense, ter um pouco de tranqüilidade
Hoje, evidentemente, tudo isto está no futuro. Aquelas populações te-
superado porque a grande usina de rão a certeza de que seus represen-
Furnas está com as suas tôrres no tantes procuraram cumprir com o
Estado do Rio e já chegou à Baixa- seu dever no Congresso Nacional,
da Fluminense, devendo ir até Ni- buscando, dentro do possível, do ra-
terói. Haverá portanto, energia em zoável, aquelas medidas indispensá-
abundância naquela região, porque veis à proteção daquela população
estão sendo construídas também que sofre desesperadamente, e que
as estações abaixadoras, as subes- não é constituída de vadios, mas,
tações indispensáveis ao uso da sim de trabalhadores sacrificados
baixa tensão . que saem pela manhã em demanda
- 156 -

da mão-de-obra na Guanabara, e Guanabara) (H2) congratula-se com o


regressam à noite sem o menor con- funcionalismo civil, pelo acolhimento
fôrto e a menor assistência do Po - que a grande Comissão Constitucional
der Público. deu à emenda de sua autoria, que dis-
ll:ste o apêlo que dirijo a essas ban- põe sôbre a efetivação de funcionários
cadas: vamos unirmos nesta hora, que contem ou venham a contar cinco
para que, pelo menos, dentro dêsse anos de exercício. Apela para que o Ple-
documento tão lamentável, possa- nário do Congresso Nacional ratifique
mos dizer que alguma coisa se sal- aquela decisão.
vou em benefício da tranqüilidade,
do progresso e do desenvolvimento O Deputado EUCLIDES TRICHES
harmônico da população brasileira." (ARENA - R. G. do Sul) (63) manifesta
seu ponto de vista contrário à gratuida-
O Deputado EWALDO PINTO (MDB- de do mandato dos vereadores. Acredi-
S. P.) (61) congratula-se com o Depu- ta que não passa de um sonho essa idéia
tado Getúlio Moura pelo seu brilhante de se voltar ao tempo dos Conselheiros
discurso, no qual tratou de assuntos re- Municipais, que eram homens honrados,
ferentes ao Estado do Rio e aludiu, com homens que mereciam o crédito das co-
muita oportunidade, ao problema que se letividades onde viviam e que se propu-
põe perante a Comissão Constitucional, nham a auxiliar os então Intendentes
da receita vinculada. Salienta que "não Municipais no exercício da espinhosa
haveria necessidade da vinculação, con- missão. Os tempos mudaram. Hoje é for-
siderada tecnicamente desaconselhável, çoso que se tenha Câmara de Vereadores
se tivéssemos a felicidade de contar em funcionamento e, por conseguinte,
com governos realmente sensíveis às ne- êsses homens precisam receber pelo
cessidades do País, à realidade brasileira, exercício de sua função. Justifica seu
tão proclamada nos últimos discursos. No pensamento nos seguintes, têrmos:
entanto, verifica-se uma falta de sensi-
bilidade até para o problema funda- "Para mostrar a razão de meu ponto
mental do País, o da educação. Assim, de vista, atenho-me ao caso dos
justifica-se plenamente a intervenção grandes Municípios. Na análise dês-
do próprio Ministro da Educação, alé~n se caso particular, verificamos o ab-
de eminentes figuras desta Casa, do surdo do artigo da Constituição que
MDB e do partido dQ Govêrno, para propõe a gratuidade para os verea-
que se mantenha na Constituição ora dores. Existem Municípios do Brasil,
em exame a vinculação para aplicaçã0 como os das Capitais de São Paulo,
no desenvolvimento do ensino. Espero Pernambuco, Rio Grande do Sul, on-
que o Congresso Nacional possa também de as Câmaras dos Vereadores exer-
acolher a emenda que tive oportunida- cem uma função que se asseme-
de de oferecer, estabelecendo a vincula- lha à de certas Assembléias esta-
ção com o objetivo específico de aplica- duais, e, até às vêzes, mais traba-
ção no desenvolvimento da pesquisa lhosa.
científica pura e aplicada. Assinala,
ainda, que "não é necessário insistir na Os Vereadores, de fato, precisam es-
necessidade de investimentos maciços tar o dia inteiro no exercício de sua
no campo da pesquisa científica pura e função. Ora, não é justo que êsses
aplicada, condição para o efetivo desen- homens abandonem suas atividades,
volvimento de um país e condição para seu ganha-pão para exercer êsse
a liberdade econômica do nosso País." cargo público gratuitamente. Nesse
Na sessão de 9 de janeiro de 1967, o (61) D.C.N. - S. I - 7·1-67 - pãg. 59
Deputado BENJAMIN FARAH (MDB - (62) D.C.N. - S. I - 10-1-67 - pág. 74
(63) D.C.N. - S. I - 10-1-67 - pág. 76
- 157-

caso, enveredaríamos para o exer- um Poder superior a todos os outros Po-


cício de vereança apenas pelos ho- dêres, o poder unipessoal do Presidente
mens ricos e afastaríamos os pobres da República, senhor de baraço e cutelo
dessa importante missão na vida de- dos membros do Poder Legislativo, do
mocrática brasileira. Poder Judiciário, de cada um dos ci-
Quem conhece a vida de um peque- dadãos brasileiros."
no Município - para reportar-me Na sessão de 10 de janeiro de 1967, o
agora às pequenas comunas - ve- Deputado JOSÉ MANDELLI (MDB -
rifica o sactifício que devem reali- Rio Grande do Sul) (65) faz à Casa a
zar os vereadores residentes no inte- seguinte comunicação:
rior, e que, por falta de transportes, "Sr. Presidente, Srs. Deputados, como
por uma dificuldade ou por outra representante de uma parcela do
são obrigados a perder, às vêzes, até povo rio-grandense, especialmente
um dia para poderem atender a do pequeno produtor, fico triste ao
uma sessão na Câmara de Vereado- saber que a Comissão Mista rejeitou
res; sem contar as despesas que são uma emenda que apresentamos, a
obrigados a realizar, com refeições qual incluía várias alíneas ao inciso
na sede municipal. E, com tudo isto, III do Art. 19 do Projeto.
quer a nova Constituição que seja
"Art. 19 - E' vedada à União, aos
gratuito o trabalho dêsses homens.
Estados, ao Distrito Federal e aos
Dêsse modo, afastará in limine to- Municípios:
dos os candidatos do interior. E, no
momento em que o Prefeito Muni-
cipal desejar auscultar os seus mu- 111 ... Cobrar impostos sôbre:
nícipes, a propósito de determinado
assunto, não terá nem a quem ou- e) a primeira operação do peque-
vir; a não ser que realize um ple- no produtor.
biscito, porque as Câmaras de Ve- f) O impôsto territorial de lotes
readores, pela nova mentalidade, rurais ou sítios de área não exce-
deixarão de expressar o pensamen- dente a 25 hectares, cujo proprie-
to real dos Municípios. tário os cultive só ou com sua fa-
Por isto, desejo aqui apresentar meu mília e que não possua outro imó-
ponto de vista contrário a tal idéia, vel."
e favorável à emenda que restabele- Idêntica emenda foi apresentada
ce os subsídios para os Vereadores pelo ilustre Senador Dinarte Mariz,
municipais." a qual tomou o n.0 308, com a se-
O Deputado NELSON CARNEffiO (MDB guinte redação:
- Guanabara) (64) expressa seu pesar Emenda 308 - Inclua-se o seguinte
pela rejeição na Comissão Constitucional parágrafo:
de emenda de sua autoria, no sentido de "!'i 6. 0 - O impôsto territorial não
manter no Poder Legislativo a atribui- incidirá sôbre glebas inferiores a
ção de regular o pagamento dos venci- 25 hectares, quando as cultive, só
mentos de seus funcionários. Entende ou com sua família, o proprietário
que "é um ato de submissão desnecessá- que não possua outro imóvel ru-
rio, que não exalta os que o praticaram, ral."
e que certamente constituirá um despri- Sr. Presidente, Srs. Deputados, o atu-
mor para os que o aprovarem neste Ple- al projeto de Constituição ficou in-
nário. Cada dia mais, o Poder Legisla- sensível à parte que diz respeito ao
tivo abre mão de suas prerrogativas, de
(64) D.C.N. - S . I - 10-1-67- pág. 82
tal sorte que, a bem dizer, só há hoje (65) D.C.N. - S . I - 11-1-67- pág. 104
- 158

nosso agricultor. A Comissão Mista Faço desta tribuna, Sr. Presidente e


não atentou para êsse problema, es- nobres Srs. Congressistas, um apêlo
pecialmente o Sr. Relator, o nobre afim de que os líderes dos partidos,
Deputado Oliveira Brito. A emenda da ARENA e do Movimento Demo-
quis restabelecer aquêle preceito crático Brasileiro, façam com que
constitucional da Constituição de essa emenda seja destacada e apro-
1946, no seu artigo 19 e seu pará- vada, fazendo justiça ao nosso ho-
grafo 1.0 • Os Constituintes de 46 cui- mem rural, com a inclusão dos seus
daram em proporcionar ao pequeno dispositivos no texto da Constitui-
proprietário todo o apoio por parte ção, a fim de dar ao rurícola ao me-
do Govêrno Federal, mas, infeliz- nos um pouco de justiça e reconhe-
mente, em nossos dias, vemos que o cimento.
pequeno agricultor está completa-
mente desamparado, abandonado à Era o que tinha a dizer, Sr. Presi-
própria sorte. dente."

Os governos estaduais, na ânsia de Ocupa a tribuna o Deputado MEDEI-


arrecadar tributos, não cumpriram ROS NETO (ARENA - Alagoas) (66)
na sua íntegra o preceito do art. 19 nos seguintes têrmos:
da Constituição de 46. Vimos, então, "Sr. Presidente, no dia 1.0 de feve-
aquêles pequenos agricultores explo- reiro de 1946, instalava-se a Assem-
rados, espoliados pelo fisco estadual. bléia Nacional Constituinte, que to-
Daí resulta que, na maioria dos ca- mara a iniciativa de elaborar a Cons-
sos, desesperançados, vão em busca tituição, ainda vigente neste País, a
de novas terras em outros Estados qual fôra precisamente promulgada
que os protejam com carinho e com- no dia 18 de setembro do mesmo
preensão. ano.
Lembro-me, Sr. Presidente, jovem
O nosso agricultor, Sr. Presidente,
que era àquele tempo, de que fôra
além de não dispor de meios, de se-
constituída a Grande Comissão, en-
mentes selecionadas, de crédito fá-
tre outras expressões da cultura ju-
cil, luta constantemente, sob o sol e
rídica dêste País, por inesquecíveis
a chuva, sob o frio e o calor, para
homens públicos como Agamenon
produzir o alimento indispensável à
Magalhães e muitos outros.
vida humana.
Como responsáveis de uma parcela Salientava-me, certa vez, o então
do povo, devemos lutar a fim de Deputado Agamenon Magalhães,
proporcionar àqueles que alimentam que a Grande Comissão tinha nos
as populações meios e facilidades seus melhores propósitos, não só de-
para que minorem suas dificuldades. fender, senão também fazer inserir
no texto constitucional tôdas aque-
:e:les estão abandonados no interior las reivindicações mínimas que pos-
do País, carentes de eletricidade, de tuladas sempre foram pela Igreja
meios de transporte, enfim, de tudo Católica.
o que lhes possa proporcionar o
mundo moderno. No entanto, na sua E, realmente, a atual Constituição aí
fama, na sua tenacidade, continuam está, consubstanciando tôdas aque-
a trabalhar. Não se limitam apenas las reivindicações formalizadas e ar-
às oito horas diárias, mas labutam güidas pela Liga Eleitoral Católica,
de sol a sol, para alimentar o povo daquele tempo.
brasileiro. (66) D.C.N. - S. I - 11-1-67 - pág. 106
- 159-

Passam-se, Sr. Presidente, êsses vin- aquêles que ainda não se definem
te e um anos e, agora, em nôvo pe- nem se afirmam com conteúdo reli-
ríodo constituinte nos encontramos. gioso idêntico ao nosso, que não pos-
sua como definitiva a assistência re-
Novamente estamos a prelibar e a ligiosa junto às Fôrças Armadas. Por
postular sejam insertos na Cons- isso, tornou-se estranho o ponto de
tituição todos aquêles princípios vista inicial, não incluindo no texto
normativos da vida social da Igreja, constitucional aquela determinante,
no País. no sentido de que fôsse conservada
a assistência religiosa às Fôrças Ar-
Lamentàvelmente, no projeto de lei
madas. Mas, com a aprovação que a
por Mensagem conduzido a esta
Grande Comissão fizera com êxito,
Casa, unidade do Congresso brasilei-
da emenda oferecida pelo Sr. Depu-
ro, alguns princípios ainda à mar-
tado Arruda Câmara, já estamos
gem ficaram. Mas, nesta altura, já
tranqüilos. Ademais, notei que no
temos razões para congratular-nos
projeto de lei inicial, oferecido pelo
com a Grande Comissão Constitu-
Sr. Presidente da República, faltava
cional pela aprovação das emendas
aquela disposição com atinência à
apresentadas pelo ilustre e nobre
missão diplomática brasileira junto
Deputado Arruda Câmara, contando
ao Vaticano. Em 1946, constituiu-se
com o meu apoio e de todos aquelou-
árdua luta para que, no meio da in-
tros que como êle pensam.
diferença, da apatia de tantos, que
Com esta medida adotada pela ainda se encontravam, ali, em face
Grande Comissão, estamos certos de da realidade brasileira, lográssemos
que tôdas as reivindicações formali- a sua aprovação.
zadas pela Igreja já estão incluídas
definitivamente. Apenas, para o Conseguimos inserir aquêle preceito
placet dêste Plenário, as reivindica- constitucional, que tornava obriga-
ções tais e quais realmente configu- tória a representação diplomática do
rarão os nossos postulados e princí- nosso País junto ao Vaticano. Já
pios condutores da vida social da não é simplesmente um centro reli-
Igreja. gioso; não é apenas uma meca con-
figurada no mundo moderno. Ali es-
Devo salientar que ainda esta- tá, além do Estado de direito, um
mos a sentir preocupação quanto à Estado de fato. E sôbre isto ali está,
adoção do casamento religioso com incontestàvelmente, presente um
os efeitos civis. Constitui isso não só ponto de referência para a humani-
um prolongamento daquilo que já dade, no sentido de dar dimensão
fizemos, com tanto êxito, como tam- nova a essa estrutura social que aí
bém com os melhores resultados em está, claudicante e indecisa.
face da própria legislação civil do
País. As inspirações de Roma, para nós
que estamos a verificar pelas pes-
A outra, Sr. Presidente, a reivindi- quisas históricas a sua presença -
cação que ainda não estava con- e a sentimos, principalmente no
substanciada no projeto de lei, en- Brasil - seria um desdoiro e uma
caminhado a esta Casa pelo Poder injustiça afastá-Ias. Não deixo de
Executivo, precisamente refere-se à me lembrar, na última pesquisa his-
assistência religiosa às Fôrças Ar- tórica, que fiz nesta Casa mesmo de
madas, em tempo de paz e de guer- que em 1517, na ocorrência do Coló-
ra. Não há qualquer país, mesmo quio de Poissy, na França, se dera
- 160-

a separação entre as fôrças cristãs, der que um cidadão, mesmo nomeado


que configuravam a árvore de Cristo para o serviço público de maneira er-
no tempo. De um lado ficou a Igreja rada, disso não tem culpa. Acha que a
Católica e do outro o protestantis- medida é de "inteira justiça, para que
mo. não se lancem ao desespêro êsses ho-
Após duzentos anos, precisamente mens já habituados a certo nível de
em 1717, em Londres, os pedreiros vida, ou para que não continue pesando
fundavam a maçonaria, o que criou sôbre suas cabeças o receio ·de que um
ainda mais um obstáculo para que dia possam ser sumàriamente demi-
se concluísse, em função da huma-· tidos."
nidade, o sentido cristão da vida. O Deputado BENJAMIN FARAH (MDB
Precisamente duzentos anos depois, - Guanabara) (68) salientando que en-
num círculo fechado, em 1917, as tre outras emendas ao Projeto de Cons-
patas dos cavalos dos cossacos en- tituição ofereceu a de n.0 2, que concede
travam nas igrejas de Moscou, e aí aposentadoria aos servidores civis, aos
se plantava o sentido hegemônico do 30 anos de exercício, assim se expressa:
materialismo histórico e dialético "Essa Emenda atingiu dois artigos:
para composição de um mundo des- o 98 e o 99. No artigo 99, há uma
conhecido. referência ao pagamento integral da
Assim, se olharmos êstes seis sé- aposentadoria à funcionária pública.
culos: em 1517, o mundo procurava Essa emenda foi atendida em parte,
uma solução sem Roma; em 1717, o porque, aprovada a redação do emi-
mundo procurou uma solução sem nente companheiro, Deputado José
Cristo: e em 1917 o mundo procurou Barbosa, e, nesse mesmo passo, uma
uma solução sem Deus. outra, do Deputado Raymundo Pa-
Mas, nesta altura, Sr. Presidente, é dilha.
o próprio Deus quem pode então Sr. Presidente, a primeira parte, no
perguntar à Humanidade: Se nada que tange ao artigo 98, que se re-
fizestes, só Comigo agora pedereis fere à aposentadoria dos funcioná-
restaurar a Paz, o Direito e a Jus- rios civis aos 30 anos de serviço, por
tiça." diferença mínima, não foi foi aceita
Na sessão de 11 de janeiro de 1967, o pela Comissão Especial da Consti-
Deputado ROMULO MARINHO (S/Leg. tuição. No entanto, essa decisão da
Guanabara) (67) afirma que, embora Comissão causou verdadeiro pânico
seja contrário a nomeações para o ser- no seio do funcionalismo. Tôdas as
viço público, sem prestação de concurso, organizações da classe, no Brasil, se
não pode deixar de congratular-se com movimentaram neste sentido, em
a Grande Comissão Constitucional, pela São Paulo, no Rio de Janeiro, na
aprovação da Emenda n.0 14, que ga- Bahia, no Rio Grande do Sul, em
rante aos atuais funcionários públicos Minas Gerais. A respeito tenho re-
da União, dos Estados e Municípios, '1UC cebido telefonemas e telegramas,
contem ou venham a contar 5 anos de e sei dos protestos que têm feito es-
exercício, que sejam automàticamente sas entidades, cujos líderes se diri-
efetivados ou considerados estáveis na gem para Brasília, com o fim de for-
data da promulgação da Constituição. mular um apêlo dramático ao Par-
lamento, para que aprove a Emenda
Salienta que, embora pareça paradoxal n.0 2, uma vez que a aposentadoria
o seu regozijo com a aprovação dessa
emenda, isto deve-se ao fato de enten- (67)
(68)
D.C.N. -
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S. I -
S .I -
12-1-67 -
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pág. 140
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- 161

dos servidores civis, aos 30 anos de propus à Câmara a concessão de


exercício, constitui uma das mais uma gratificação anual a todo tra-
sentidas aspirações. balhador. l!:sse privilégio, êsse bene-
Ontem, Sr. Presidente, na 2.a Con- fício, os empregados o têm tido cté
venção do Movimento Democrático agora, não a título de participação
Brasileiro, apresentei uma indicação no lucro das emprêsas, mas inspi-
para que o partido tomasse posição rado, isto sim, naquela proposição
diante dêsse dispositivo e a mesma de minha autoria, que data de 1946.
foi aprovada. o M.D.B. está, pois, a Foi concedido pelo Congresso por
favor da Emenda n. 0 2, que dá apo- volta de 1958. Mas, de 1946 até 1958,
sentadoria aos servidores civis aos evoluiu a proposição, amadureceu a
30 anos de exercício." idéia, e os empregados, de modo ge-
O Deputado PEDROSO JúNIOR (MDB- ral, têm hoje sua gratificação anual,
São Paulo) ((19) demonstra sua estra- que lhes é paga ao término de cada
nheza quanto ao acolhimento por parte ano.
da Comissão Mista que estuda as Emen- Quero deixar consignado nos Anais
das ao Projeto de Constituição da alte- desta Casa, Sr. Presidente, o texto
ração no que se refere ao texto sôbre a dos pareceres das Comissões de
participação dos empregados nos lucros Constituição e Justiça e de Legisla-
das emprêsas. Diz êle: ção Social, à minha proposição da-
"De acôrdo com o que está noticiado, quela época, porque, então, ambos os
aquela Comissão acolheu emenda ao ilustres relatores, o Deputado Her-
artigo 158, item IV, acrescendo à mes Lima, na Comissão de Justiça,
proposta do Govêrno: "participação e o Deputado Paulo Sarasate, na Co-
dos empregados nos lucros das em- missão de Legislação Social, anali-
prêsas apenas o seguinte: "e, quando sando o meu projeto, viram nele,
possível, na sua administração." também, um dos meios de assegurar
aos trabalhadores essa participação
Sr. Presidente, a Constituição de 46 constitucional no lucro das cm-
foi rigorosa e explícita ao assegurar prêsas.
aos empregados o direito de partici-
pação nos lucros das emprêsas, e o Mas, Sr. Presidente, trouxe-me a es-
fêz em têrmos de rigorismo; parti- ta tribuna o propósito de pedir a
cipação obrigatória e direta. o que atenção do Congresso para a reda-
vimos, a despeito da clareza do tex- ção dada a êsse dispositivo consti-
to, é que, 20 anos depois os empre- tucional na nova Carta. Na de 46,
gados ainda não participam do lu- a participação é obrigatória e di-
cro das emprêsas. reta. No texto em elaboração, fala-
se em participação do empregado no
Ora, Sr. Presidente, se naquela lucro das emprêsas, sem torná-la
Constituição o texto, que era rigo- obrigatória. Foi o motivo que me
roso e taxativo, foi violentado, vio- trouxe a esta tribuna: pedir a refle-
lado, esquecido, infringido, o que xão de todos sôbre o assunto. Se,
poderemos dizer com relação ao sendo a participação obrigatória,
texto da nova Carta Magna, que vinte anos depois o Congresso ainda
apenas diz: "participação dos em- não legislou a respeito, pois depende
pregados no lucro das emprêsas"? de lei ordinária, imaginemos, agora,
Foi inspirado nesse dispositivo da se a participação deixa de ser obri-
Constituição de 1946, Sr. Presidente, gatória."
que em sessão de 6 de novembro (69) D.C.N. - S. I - 12-1-67 - pág. 148
SERVIÇO GRÁFICO DO SENADO FEDERAL
BRASíLIA- D. F.

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