Você está na página 1de 23

OS PROGRAMAS DE PESQUISA LAKATOSIANOS E A METODOLOGIA

DA ECONOMIA NEOCLÁSSICA: CONTRIBUIÇÕES E CRÍTICAS

Ricardo Agostini Martini


Mestrando em Economia/CEDEPLAR – UFMG)

Resumo: A obra de Imre Lakatos procurou proporcionar um refinamento à abordagem


falsificacionista popperiana, que o inspirou, mediante a incorporação de conceitos desenvolvidos
por Thomas Khun, mas sem negar algumas das hipóteses clássicas do falsificacionismo, como os
critérios demarcacionistas e a ênfase na investigação e nos testes empíricos. As principais idéias
do autor consistem na noção de programa de pesquisa como uma estrutura dotada de um núcleo
irredutível de hipóteses básicas das teorias levantadas, protegido por um cinturão protetor de
hipóteses auxiliares e por heurísticas positivas e negativas que guiam o processo de investigação
científica. O pensamento de Lakatos foi muito discutido na metodologia da economia por parecer
defender boa parte do trabalho, teórico e empírico, dessa profissão. Contudo, apesar de um
entusiasmo inicial, a aplicação dos programas de pesquisa lakatosianos na ciência econômica
passaram a ser criticados pela bibliografia em geral a partir dos anos oitenta. Parte dessas críticas
dirigiram-se diretamente a Lakatos; outras dirigiram-se ao pensamento falsificacionista; e outras
críticas atacaram os próprios critérios demarcacionistas da metodologia científica. O presente
estudo busca realizar uma revisão bibliográfica sobre os principais pontos destacados nesse
debate.
Palavras-Chave: Metodologia da Economia, Imre Lakatos, falsificacionismo, História do
Pensamento Econômico

Classificação JEL: B31, B41

Abstract: The work of Imre Lakatos intended to present a refinement to popperian


falsificationism approach, that inspired himself, incorporating concepts developed by Thomas
Khun, but without denying some of the classical hypothesis of falsificationism, as demarcationist
rules and emphasis on investigation and on empirical tests. The author’s main ideas consists in
the notion of a research program like a structure endowed with a hardcore of basic hypothesis
about raised theories, and protected by a belt of auxiliary hypothesis end by positives and
negatives heuristics that guide the scientific investigation process. Lakatos thought was very
discussed in methodology of economics because it appeared to explain the main work, theoretical
and empirical, of this profession. However, despite a initial enthusiasm, the application of
lakatosian research programs in economics was criticized as of the eighties. Some of these critics
addressed directly to Lakatos; some addressed to falsificationist thought; and some critics
attacked the demarcationist rules of scientific methodology. The present paper intend to do a
bibliographical revision about the main ideas outstanding in this discussion.
Key Words: Economic Methodology, Imre Lakatos, falsificationism, History of Economic
Thought
JEL Classification: B31, B41

I – Introdução

Imre Lakatos foi um dos principais nomes da filosofia da ciência no século XX.
Basicamente, sua obra procurou proporcionar um refinamento à abordagem falsificacionista
popperiana, que o inspirou, mediante a incorporação de conceitos desenvolvidos por Thomas
Khun, mas sem negar algumas das hipóteses clássicas do falsificacionismo, como os critérios
demarcacionistas e a ênfase na investigação e nos testes empíricos. Para a ciência econômica, o
pensamento de Lakatos é interessante não pelo fato apenas desse autor estar ligado a London
School of Economics, mas também a sua visão parecer defender boa parte do trabalho, teórico e
empírico, de sua profissão.

A primeira parte do presente trabalho procurará descrever, suscintamente, a história da


filosofia da ciência ao longo do século XX, começando pelo positivismo lógico, passando pela
crítica falsificacionista de Popper, as estruturas das revoluções científicas de Thomas Kuhn e,
enfim, a metodologia dos programas de pesquisa de Lakatos. Com isso, espera-se demonstrar o
contexto histórico em que o pensamento do autor se insere.

Na segunda parte, serão explicados os conceitos e idéias mais fundamentais da


metodologia da ciência em Imre Lakatos. A noção de programa de pesquisa como uma estrutura
dotada de um núcleo irredutível de hipóteses básicas das teorias levantadas, protegido por um
cinturão protetor de hipóteses auxiliares e por heurísticas positivas e negativas que guiam o
processo de investigação científica será detalhadamente explicada. Além disso, os critérios
demarcacionistas para o autor, relacionados com o progresso da ciência, serão explicados com
rigor.

Na terceira parte, serão apontadas as principais tentativas de aplicação da obra de Lakatos


na economia neoclássica. Sobretudo, serão investigados o trabalho de Weintraub (1985), que
aplicou os conceitos lakatosianos à economia neowalrasiana teórica, os estudos de De Marchi
(1976) e de Hendry (1993), aplicados à economia empírica, e o artigo de Blaug (1976), voltado à
aplicação dos conceitos lakatosianos para a apreciação e diferenciação de programas de pesquisa
na história do pensamento econômico.

Por fim, o presente artigo se encerrará com as principais críticas realizadas ao trabalho de
Lakatos e suas aplicações à economia. Segundo será relatado, essas críticas podem ser divididas
entre discordâncias voltadas ao próprio pensamento de Lakatos, discordâncias ao
falsificacionismo que o inspirou, e discordâncias aos próprios objetivos da metodologia da
ciência que orientou a obra do autor.

II – Contextualizando Lakatos: Breve História da Filosofia da Ciência no Século XX

Os debates sobre a questão da metodologia têm sua origem no próprio desenvolvimento


da filosofia da ciência moderna, sobretudo a partir dos séculos XVII, com a revolução científica,

2
e XVIII, com o Iluminismo. A preocupação fundamental dessa discussão foi a procura da
definição de um método científico considerado apropriado para a investigação científica e para a
busca de conhecimento científico. Isto é, os filósofos procuravam regras pelas quais a pesquisa
científica deveria ser conduzida de modo a produzir um conhecimento crível1.

No final do século XIX e início do século XX, o desenvolvimento de novas teorias e


pesquisas avançadas na física provocou mudanças de paradigma do que se supunha ser
conhecimento científico até então, e isso suscitou novas discussões acerca da metodologia da
ciência. Segundo Machamer (2002, pg. 2), “Relativity and, later, quantum theory caused
scientists and philosophers alike to reflect on the nature of the physical world, and especially on
the nature of human knowledge of physical world”. As questões envolvidas na filosofia da
ciência tornaram-se cada vez mais voltadas à aplicação da epistemologia científica para outras
áreas do conhecimento humano, já que se supunha que o saber científico, assim como o método
de pesquisa científico era o mais apropriado possível para a obtenção de verdades.

O pensamento predominante nesse período, dentro da filosofia da ciência, foi o


positivismo lógico, cujas idéias originavam-se no positivismo de Saint-Simon, Comte e Mill
(LÓPEZ, ?), no empirismo britânico de Locke e Bacon (MACHAMER, 2002), e na filosofia de
Kant. A preocupação fundamental desse pensamento era o demarcacionismo, isto é, a
diferenciação entre o que é conhecimento científico e o que é pseudociência, ou não ciência. Para
responder essa questão, os autores dessa corrente levantaram a importância da significância2 do
conhecimento obtido. Segundo Hands (2001, pg. 100), o positivismo lógico defendia que “there
are only two types of meaningful propositions, synthetic proposition that must satisfy the
verificationist criterion of meaning, and analytical propositions which say nothing about the
world, but are true by definition”. Ou seja, para ser significante, o conhecimento deve ser
empírico, baseado em fatos observados.

Em resumo, o positivismo lógico baseava-se em dois fundamentos. Em primeiro lugar, a


ciência empírica era vista como o único conhecimento significantemente verdadeiro, e a única
forma de conhecimento científico crível era o conhecimento empírico. Assim, teorias vindas de
outras fontes que não utilizam o método científico, isto é, baseadas em fontes não-empíricas, não
fundamentadas em fatos – como a religião e a filosofia – não teriam significância. Em segundo
lugar, o método científico, para proporcionar conhecimento significante, deveria ser descritivo e
empírico, procurando relações constantes entre os fatos observados e estabelecedo leis científicas
com base nessas relações.

Ou seja, a ciência estaria demarcada pelas observações dos fatos empíricos e pelos
experimentos que testam a validade das teorias formuladas com base neles. Para se resolver o
problema da significância, o positivismo lógico orientava que a pesquisa científica seguisse dois
passos. Primeiro, as teorias levantadas pela observação empírica deveriam ser escritas em uma
linguagem objetiva, isto é, uma linguagem lógica, na qual todas as hipóteses envolvidas nas
proposições estejam explícitas, e os postulados estejam definidos com precisão. Para isso, os
autores defendiam o uso da linguagem matemática (ou axiomização das hipóteses e das teorias

1
Em outras palavras, os filosofos discutiam como uma “boa ciência” deveria proceder.
2
Utiliza o termo “significância” do conhecimento como tradução para “meaningfulness”, presente na bibliografia
estudada.

3
científicas), como forma de se evitar quaisquer ambigüidades e confusões próprias da linguagem
corrente. Segundo, os pesquisadores deveriam desenvolver critérios para mostrar como suas
teorias, expressas em linguagem matemática, estão de acordo com o mundo observado, por
procedimentos de testes de significância. Isto é, as teorias, construídas pela observação empírica,
devem ser verificadas novamente pela sua contraposição aos fatos empíricos. Se, por acaso, a
teoria não é passível de verificação, então ela é dita como insignificante.

O processo de construção de conhecimento, para o positivismo lógico, pode ser descrito


brevemente da seguinte forma. Em primeiro lugar, observam-se os fatos empíricos de maneira
mais objetiva possível, livrando o pensamento de todo o tipo de preconceitos ou subjetividades
advindas do cientista. Com base na observação, pode-se, por raciocínio indutivo, formular teorias
para explicar e realizar previsões acerca dos fatos observados. Por fim, testando-se essas teorias
com base em novas observações empíricas, pode-se chegar à descoberta de leis científicas, as
quais são generalizações das teorias universalmente3 ou probabilisticamente corretas. Os fatos,
então, podem ser cientificamente explicados pela dedução de teorias particulares a partir dessas
leis científicas – verdades – universiais.

Contudo, a demarcação de método científico defendida pelo positivismo lógico não teve
os resultados e a aceitação desejada. Segundo Machamer (2002, pg. 4):

This view of science, as an idealized logically precise language which could have all its major
facets codified, never worked. Throughout the history of logical positivism there were debates
and re-formulations among its practitioners about the idealized language of science, the
relations of explanation and confirmation, the adequate formulation of the verification
principle, the independent nature of observations, and the adequacy of the semantic truth
predicate. The static, universalist nature of science that was idealized by positivism proved to
be wrong. The attempt to fix procedures and claims in a logically simplified language proved
to be impossible. The neat, clear attempts at explicating explanation, confirmation, theory and
testability, all proved to have both internal difficulties with their logical structures and external
problems in that they did not seem to fit science as it was actually practiced.

Um dos principais críticos do positivismo lógico foi Karl Popper. Segundo esse autor, o
poder explicativo e a observação empírica pura não são critérios válidos para a apreciação
científica de teorias. Pois, o autor constata que a astrologia, que não pode ser considerada uma
ciência, utiliza observações e evidência empírica para desenvolver explicações e previsões. Ou
seja, o conhecimento científico, na concepção popperiana, precisaria de uma outra demarcação,
além da observação empírica, para ser crível como verdadeiro.

Para o autor, o critério para a demarcação de uma teoria científica é o falsificacionismo,


isto é, a possibilidade dessa teoria ser testada e refutada pelas evidências4. Assim, o autor critica
fortemente o trabalho de autores como Marx, Freud e Alder, cujas teorias são tidas como
irrefutáveis, valendo para qualquer situação – verificáveis mais não falsificáveis.

3
Isto é, de veracidade irrestrita no tempo e no espaço.
4
“No código de honra do falsificacionista, uma teoria é científica somente se se puder fazer que ela seja
incompatível com um enunciado básico; e uma teoria deve ser eliminada se é incompatível com um enunciado
básico aceite”. (LAKATOS, 1978, pg. 28).

4
A metodologia falsificacionista da ciência, proposta por Popper, prossegue da seguinte
maneira. De início, o cientista apresenta o problema científico que quer solucionar ou esclarecer e
formula uma hipótese sobre esse problema. Em seguida, toma dados e testa essa hipótese contra
as evidências empíricas, de modo que, quanto mais severo for o teste realizado, mais provável
será a rejeição dessa hipótese. Se a hipótese não se ajustar aos dados, ela é rejeitada e, nesse caso,
o cientista deve formular outra hipótese e realizar outro teste frente aos dados empíricos. Ou seja,
segundo Popper, não existem leis científicas universalmente verdadeiras, apenas hipóteses,
suposições e conjecturas levantadas livremente pela criatividade5 dos cientistas e passíveis de
teste e de refutação. As teorias científicas são sempre provisórias, podendo ser sempre rejeitadas
por testes futuros e substituídas por hipóteses novas.

Portanto, o progresso da ciência, na visão do autor, não ocorre pela simples indução, isto
é, pelas descobertas obtidas por simples observações empíricas, tal como era visto no positivismo
lógico. Para Popper, a ciência evolui por uma série de criações de novas teorias que substituem
teorias antigas refutadas por testes empíricos cada vez mais severos.

Contudo, o falsificacionismo popperiano apresenta tantos problemas quanto o positivismo


lógico, que procurou criticar. Por um lado, em muitas áreas do conhecimento humano de
conteúdo mais complexo, especialmente nas ciências sociais, as teorias utilizam hipóteses
simplificadoras e assumem condições iniciais não passíveis de verificação falsificacionista, e nem
por isso merecem ser consideradas pseudociências6 (CHALMERS, 1981). Por outro lado, a sua
visão de desenvolvimento linear da ciência também foi muito criticada, já que os cientistas não
costumam abandonar suas teorias facilmente frente a refutações empíricas, tornando-se presos a
determinados pontos de seus objetos de estudo, ou paradigmas7. Esse ponto será explorado a
seguir.

O filósofo norte-americano Thomas Khun criticou o falsificacionismo popperiano em


duas grandes frentes. Em primeiro lugar, o autor definiu que a filosofia da ciência não deve se
ocupar apenas com questões demarcacionistas de ciência e não-ciência e com critérios
normativos referentes à formulação de teorias, hipóteses, leis e testes empíricos. A filosofia da
ciência deve também estudar as relações sociais entre os cientistas, entendidas como uma série de
compromissos assumidos entre os indivíduos que compartilham de uma mesma linha de pesquisa
(HAUSMAN, 1992). Em segundo lugar, a dinâmica do conhecimento científico não segue uma
trajetória linearmente evolucionária, ou em constante revolução, tal como definiu Popper, mas
segue um ciclo que alterna períodos de ciência normal, com teorias e práticas bem definidas, e
revoluções científicas.

5
Popper não enfatiza a necessidade de uma observação imparcial, livre de preconceitos e de subjetividades para a
formulação de teorias científicas, tal como no positivismo lógico. A possibilidade de falsificação seria um controle
natural para a refutação de hipóteses incorretas.
6
Particularmente no que diz respeito às ciências sociais, o próprio Popper (1985) chegou a assumir que hipóteses
não-testáveis poderiam ser adotadas nas análises. Nesse caso, o autor sugeriu uma metodologia denominada de
“lógica situacional”, próxima à da teoria econômica da escolha racional. Contudo, essa idéia popperiana não teve o
mesmo impacto, e a mesma aceitação, na filosofia da ciência do que o falsificacionismo.
7
Segundo Lakatos (1978, pg. 15), “os cientistas não são muito influenciáveis. Não abandonam uma teoria apenas
porque os fatos a contradizem. Normalmente, inventam qualquer hipótese auxiliar para explicar o que chamam de
mera anomalia ou, se não conseguem explicar a anomalia, ignoram-a e dirigem a sua atenção para outros
problemas.”

5
Para Kuhn, o trabalho científico em uma ciência madura não consiste em formular
hipóteses, realizar testes empíricos e substituir velhas teorias refutadas por idéias novas. Para o
autor, em uma ciência madura as convicções teóricas e práticas estão firmemente estabelecidas, e
as divergências metodológicas entre os cientistas podem se considerar resolvidas. Então, esse tipo
de procedimento não é visto como necessário por parte da comunidade científica. Nesse caso,
forma-se o que o autor denominou de paradigma da ciência, isto é, um comprometimento com as
teorias e com a heurística decorrente dessas teorias. No paradigma, os cientistas conhecem os
resultados e as conclusões aos quais os seus estudos devem chegar, realizando pesquisas de modo
a atingir as finalidades propostas pelas suas próprias teorias. Ou seja, o paradigma apresenta uma
heurística baseada em regras e em formalizações matemáticas para a resolução de exercícios
propostos pelo próprio paradigma.

A dinâmica da ciência em Kuhn consiste na alternância de duas situações distintas: o


período de ciência normal e as revoluções científicas. No período de ciência normal, existe um
paradigma bem definido vigente em uma determinada área da ciência e a atividade científica
consiste na resolução de problemas utilizando um mesmo marco analítico. Essa atividade
heurística, entretanto, pode revelar anomalias, que ocorrem quando detectam-se novos fatos que
não podem ser explicados ou resolvidos pelas teorias em voga no paradigma. Se as anomalias
forem recorrentes, isso pode abalar o comprometimento dos cientistas com o seu paradigma e
levar a uma crise científica. Nos momentos de crise, aumentam os volumes de recursos
destinados à tentativa de superação (e assimilação) das anomalias detectadas. Se, mesmo assim,
esses problemas não forem corrigidos, o paradigma pode ser abandonado pela comunidade
acadêmica, e novas teorias podem ganhar popularidade, em um processo definido pelo autor
como “revolução científica”. Assim, abre-se espaço para o surgimento de um novo paradigma
nessa ciência.

A atividade científica apresenta, para Kuhn, duas características ausentes em Popper. Em


primeiro lugar, uma ciência é historicamente contextualizada, já que suas atividades seguem as
teorias, os métodos e as práticas dentro de um determinado paradigma. Em segundo lugar, os
paradigmas, assim como a própria ciência, são socialmente construídos. O autor dá uma especial
ênfase no comprometimento dos indivíduos com o paradigma vigente. Isso passa desde o peso da
autoridade dos grandes círculos acadêmicos sobre as conclusões de cientistas individuais, o que
protege o paradigma de refutações popperianas, até mesmo à pedagogia das ciências, que induz
os novos estudiosos a se integrar ao paradigma vigente. Para Kuhn, a própria conversão de
pesquisadores de um paradigma para outro é um fenômeno associado à psicologia social,
semelhante a uma “conversão religiosa”, de modo que não ocorre em um único ponto do tempo,
mas sim de maneira progressiva, afetando mais sensivelmente as gerações mais jovens. O
trabalho de Kuhn, nesse sentido, popularizou o que veio a se chamar de “sociologia da ciência”.

Nesse contexto, Imre Lakatos tentou resgatar as idéias de Popper frente às críticas de
Kuhn8. Lakatos aceitou o falsificacionismo, mas propôs que as teorias científicas apresentam
“núcleos” de hipóteses que não podem ser testadas e refutadas por testes empíricos. Por outro
lado, defendeu que o processo no qual os cientistas escolhem seus paradigmas (que o autor

8
De acordo com Chalmers (1981, pg. 113), “Lakatos desenvolveu sua descrição da ciência como uma tentativa de
melhorar o falsificacionismo popperiano e superar as objeções a ele.”

6
denominou de “programas de pesquisa”) não é um fenômeno de psicologia social, mas sim uma
escolha racional, de modo que os indivíduos procuram pesquisar utilizando a metodologia que
lhes dê a maior possibilidade de sucesso. Segundo Lakatos (1978, pg. 19), “se tivermos dois
programas de investigação rivais, um deles progressivo e o outro degenerativo, os cientistas
tendem a aderir ao programa progressivo. Esta é a base racional das revoluções científicas.”

III – Filosofia e Metodologia da Ciência em Imre Lakatos

Para Lakatos (1978), a unidade primordial de estudo e análise na filosofia da ciência não
são teorias isoladas, tal como era para os positivistas lógicos e para Popper, mas sim os
programas de pesquisa. O autor define como um programa de pesquisa uma série, isto é, um
conjunto de teorias científicas afins por sua heurística e por um núcleo de hipóteses básicas que
orienta a pesquisa científica, positivamente e negativamente, por um conjunto de regras aceitas
por todos os cientistas individuais que aderem ao programa. Chalmers (1981) caracteriza a
definição lakatosiana de programa de pesquisa como uma estrutura, na qual as teorias científicas
são vistas como partes de um todo estruturado.

Lakatos afirma que cada programa de pesquisa apresenta um núcleo irredutível9,


composto por uma série de suposições básicas que não podem ser rejeitadas, ou modificadas,
pelos cientistas integrantes do programa. Segundo Chalmers (1981, pg. 113), “o núcleo
irredutível de um programa é, mais do que qualquer outra coisa, a característica que o define.
Ele assume a forma de uma hipótese teórica muito geral que constitui a base a partir da qual o
programa deve se desenvolver”. Além disso, “o núcleo duro de um PPC seria o locus de
princípios que estariam no âmago das convenções dos cientistas que o comungam. As
proposições contidas nesse núcleo não são contestáveis por uma decisão metodológica de seus
protagonistas” (Cavalieri, 2005, pg 17). Ou seja, o núcleo de um programa de pesquisa é um
conjunto de teorias ou hipóteses infalsificáveis no sentido popperiano10. Para defender seu núcleo
irredutível de possíveis anomalias observadas, cada programa de pesquisa conta com um cinturão
protetor, uma heurística positiva e uma heurística negativa que orientam os processos de
pesquisa.

O cinturão protetor consiste em um conjunto de suposições adicionais ao núcleo


irredutível que compõem a estrutura do programa de pesquisa, protegendo-o de qualquer
anomalia ou problema encontrado ao longo do trabalho científico. Chalmers (1981) aponta que o
cinturão protetor não consiste apenas em um conjunto de hipóteses adicionais ao núcleo, mas
também em proposições de testes de significância e de observações, e em descrições das
condições iniciais assumidas pelas hipóteses levantadas. Ao contrário do núcleo irredutível, as
afirmações incluídas no cinturão protetor podem ser falsificadas e substituídas por outras mais
capazes de defender o núcleo. Nas palavras do próprio Lakatos (1978, pg. 91):

9
O termo original no inglês é “hard core”, e foi traduzido na literatura em língua portuguesa como “centro firme”,
“núcleo duro”, “núcleo firme” ou “núcleo irredutível”. No presente trabalho, optou-se pela última tradução, proposta
em Chalmers (1981).
10
Hands (1993) chega a afirmar que as proposições incluídas no núcleo irredutível de um programa de pesquisa
lakatosiano têm um caráter metafísico.

7
Chamo a essa cintura uma cintura protetora porque ela protege o centro firme das refutações:
as anomalias não são encaradas como refutações do centro firme, mas de uma hipótese da
cintura protetora. Em parte, por influência da pressão empírica (mas, em parte, respeitando um
plano definido pela sua heurística), a cintura protetora é constantemente modificada,
melhorada, complicada, enquanto o núcleo firme permanece intacto.

Cada programa de pesquisa apresenta uma heurística negativa que orienta o procedimento
de um trabalho científico, de modo que o núcleo irredutível do programa seja mantido, isto é, não
refutado, não modificado e não afetado por qualquer anomalia observada.

A heurística positiva, por sua vez, orienta como pode ser desenvolvido um programa de
pesquisa, pela inclusão de suposições adicionais ao seu núcleoo, assim como técnicas de
mensuração matemática, de observação empírica e de testes, de modo a explicar fenômenos
passados e prever fenômenos futuros. Em outras palavras, a heurística positiva assume a
proposição de que, para que um programa de pesquisa seja capaz de explicar e de prever fatos, é
preciso que o seu núcleo irredutível seja complementado, e que o seu cinturão protetor seja
constantemente alterado de modo a superar qualquer anomalia encontrada ao longo do trabalho
científico11. De acordo com SILVEIRA (1996, pg. 3),

Como os programas de pesquisa têm desde o início um ‘oceano de anomalias’, a ‘heurística


positiva’ impede que os cientistas se confundam, indicando caminhos que poderão,
lentamente, explicá-las e transformá-las em corroborações. O desenvolvimento do programa
inclui uma sucessão de modelos crescentes de complexidade, procurando cada vez mais se
aproximar da realidade.

Para Lakatos, o mérito de um programa de pesquisa está relacionado com o seu caráter
dinâmico, isto é, com o comportamento de programa frente a novas descobertas e novos
problemas observados pelo processo de investigação científica. Isso inclui, para o programa, dois
fatores básicos. Em primeiro lugar, um programa de pesquisa deve manter um grau de coerência
de suas heurísticas capaz de orientar harmonicamente a investigação científica futura por parte
dos seus integrantes. Em segundo lugar, o programa de pesquisa não pode se limitar a explicar
fatos passados, mas deve ser capaz de prever fatos novos; o programa deve ser progressivo.

O autor estabelece que um programa é teoricamente progressivo se as modificações


realizadas no seu cinturão protetor, ao longo do processo de investigação científica e observação
de anomalias, permitem previsões de fatos novos. Se, além disso, essas novas previsões forem
confirmadas pelas evidências empíricas (observações), o autor define o programa como
empiricamente progressivo. Por outro lado, um programa de pesquisa é visto como estagnado, ou
degenerando, se as modificações no cinturão protetor adotadas servem apenas para explicar as
anomalias encontradas, sendo o programa incapaz de prever novos fatos. LAKATOS (1978, pg.
33) apresenta a seguinte diferenciação entre programas de pesquisa progressivos e estagnados:

Diz-se que um programa de pesquisa está a progredir enquanto o seu desenvolvimento teórico
antecipar o seu desenvolvimento empírico, ou seja, enquanto ele continuar a predizer fatos

11
Nas palavras do próprio Lakatos (1978, pg. 31), a heurística positiva de um programa de pesquisa “... define os
problemas, esboça a constução de uma cintura de hipóteses auxiliares, prevê anomalias e transforma-as
vitoriosamente em exemplos, tudo de acordo com um plano pré-concebido. O cientista registra as anomalias, mas
desde que o seu programa de investigação agüente o seu ímpeto, ele pode simplesmente pô-las de parte.”

8
novos com algum sucesso (alteração de problemas progressiva); ele estagna se o seu
desenvolvimento teórico ficar para trás do seu desenvolvimento empírico, ou seja, enquanto
fornecer somente explicações post hoc tanto de descobertas ocasionais como de fatos
antecipados e descobertos no seu seio por um programa rival (alteração de problemas
degenerativa). Se um programa de investigação explicar progressivamente mais do que um seu
rival, suplantá-lo-á, e o rival pode ser eliminado (ou, se preferirem, arquivado).

Ou seja, Lakatos coloca que os programas de pesquisa progressistas acabam superando os


seus rivais estagnados, em um sistema de competição entre os mesmos. Tal visão aponta uma
clara influência das “revoluções científicas” e dos “paradigmas” de Thomas Kuhn sobre esse
autor. Contudo, para Lakatos, a revolução científica, entendida como um processo de substituição
de programas de pesquisa estagnados por programas progressivos, não é um fenômeno de
psicologia social, como para Kuhn, mas sim um fenômeno histórico e racional. Isto é, o autor
aponta que os cientistas racionalmente preferem trabalhar em um programa de pesquisa com a
possibilidade de realizar novas descobertas do que naqueles programas estagnados. De acordo
com Backhouse (1994, pg. 175):

The Lakatosian accout of how one programme supersedes another places greater ephasis on
rationality than does Kuhn’s account of paradigm-shifts, and the irrational, ‘gestalt-shift’
aspect of the process is completely absent. In both the Kuhnian and Lakatosian frameworks,
however, the main force for change is the need to modify theoretical frameworks to take
account os anomalies and deal with new problems.

O caráter histórico das revoluções científicas para Lakatos está representado pela
inexistência de experimentos cruciais que possam refutar um programa de pesquisa inteiro de
uma única vez. Segundo o autor, a maleabilidade do cinturão protetor ajuda a absorção das
anomalias observadas pela investigação e isso torna os cientistas mais rígidos em sua cooperação
com um determinado programa de pesquisa. Nesse ponto, a visão de Lakatos aproxima-se da de
Kuhn. Contudo, Lakatos faz uma especial ênfase em um retorno ao demarcacionismo popperiano.
Isto é, ao contrário de Kuhn, Lakatos procura meios de comparação entre “boa ciência” e
“pseudociência” e “não-ciência” na dinâmica das revoluções científicas.

Tal ponto é explorado em sua visão sobre a metodologia do trabalho científico. Segundo
Lakatos, o trabalho no interior de um determinado programa de pesquisa consiste em explicar e
modificar a estrutura de seu cinturão protetor, de modo a alterar as hipóteses levantadas para
resolver os problemas encontrados ao longo da investigação científica. Preocupado com o
procedimento de uma “boa ciência”, Lakatos definiu que os movimentos realizados no cinturão
protetor não deveriam ser “ad hoc”, isto é, as novas hipóteses constantemente levantadas pelos
cientistas devem ser passíveis de serem testadas individualmente. Ou seja, agindo dessa forma, os
cientistas permitem que seus trabalhos sejam testados, e possivelmente falsificados e refutados, o
que permite o progresso da ciência como um todo. Hands (1993) aponta essa idéia levantada por
Lakatos como o “progresso heurístico” de um programa de pesquisa.

Comparando-se o pensamento de Lakatos com o de Popper, que assumidamente foi o seu


inspirador, observa-se que ambos concordam na importância do conteúdo empírico para as
teorias científicas. Isto é, para ambos, a relação entre fatos observados e teorias levantadas tem
um caráter falsificacionista; o conteúdo empírico de uma teoria científica é um conjunto de
observações que podem detectar anomalias, as quais promovem o progresso científico. Contudo,

9
Lakatos discorda de Popper ao defender que o núcleo irredutível de um programa de pesquisa é
imune a essas anomalias, e ao próprio falsificacionismo. Além disso, Lakatos faz uma maior
ênfase nos fatos novos para a demarcação de uma “boa ciência”, isto é, a capacidade de previsão
é uma melhor demarcação de ciência progressiva do que a possibilidade de falsificação de suas
hipóteses, como para Popper12.

IV – Tentativas de Aplicação dos Programas de Pesquisa Lakatosianos na Economia


Neoclássica

Hands (1993) cita três fatores principais pelos quais a metodologia dos programas de
pesquisa, proposta por Imre Lakatos, parece agradar aos economistas. Em primeiro lugar, pela
observação de que a teoria econômica, em todos os seus paradigmas alternativos, apresenta
núcleos irredutíveis de hipóteses metafísicas, sendo que as diferenças dessas hipóteses demarcam
esses próprios paradigmas13. Em segundo lugar, pelo fato de que a metodologia lakatosiana é
mais próxima do trabalho de investigação científica na economia do que o falsificacionismo
popperiano. Isto é, muitos economistas concordam que o falsificacionismo não é compatível com
a ciência econômica contemporânea, já que nem todas as hipóteses iniciais assumidas pelas
teorias têm condições de serem testadas empiricamente de modo isolado. Inclusive, como já
mencionado, muitas delas têm caráter metafísico. Contudo, nem por isso a economia deixa de ser
uma ciência empírica; os fatos observados e os dados são fundamentais para a análise econômica.
Contudo, o lado empírico da ciência econômica é mais complexo do que o proposto pelo
falsificacionismo popperiano, e se aproxima mais da visão lakatosiana de que as hipóteses
centrais de um programa de pesquisa estão protegidas de testes empíricos pelas heurísticas do
mesmo. Por fim, o autor aponta a importância da metodologia lakatosiana para a construção de
estudos na história do pensamento econômico. Isto é, para o autor, o desenvolvimento histórico
da economia pode ser estudado mediante a identificação e a diferenciação de programas de
pesquisa e o uso dos conceitos lakatosianos de núcleo irredutível, heurísticas e
progresso/estagnação para diferenciá-los14.

12
Outras diferenças entre as teorias dos dois autores são descritas por Hands (1993, pg. 67): “While Lakatos defines
empirical content in a thoroughly Popperian way, he has no respect for the role os falsification in science. For
Lakatos all theories are ‘born refuted’ (…) and the task of philosophy of science should be to develop a methodology
which starts from this fact. For Lakatos progress comes from the corroboration not falsification of novel facts.
Finally, Lakatos clearly embraces a historical meta-methodology whereby the actual history of science is used to
appraise various methodological proposals.”
13
Hands (2001) cita artigos nos quais a metodologia lakatosiana de programas de pesquisa é aplicada na economia
clássica, neoclássica, keynesiana, pós-keynesiana, novo clássica, austríaca, experimental, marxista e evolucionária.
14
Nas palavras do autor (HANDS, 1993, pg. 68), “...economists have recently been very sympathetic to
methodological proposals that are sensitive to the actual history of their discipline. Economists have produced an
extensive literature using the Lakatosian categories to reconstruct various parts of the history of economic thought.
Most of this literature focuses on a particular research programme in economic theory (past or present) and tries to
isolate the hard core, the positive and negative heuristics, and the type of theoretical activity ocurring in the
protective belt. Such work usually results in a positive or negative Lakatosian appraisal of the ‘progessivity’ of the
particular economic research programme. Examples of these reconstructions range widely over various topics in the
history of economic thought.”

10
Dentre as tentativas de aplicar diretamente a metodologia lakatosiana para a teoria
econômica neoclássica, destaca-se o trabalho de Weintraub (1985)15. Esse autor procurou utilizar
os conceitos da metodologia dos programas de pesquisa para identificar a estrutura da teoria do
equilíbrio geral walrasiano. O autor denominou o programa de pesquisa abordado como
“economia neowalrasiana”, e identificou o seu núcleo irredutível e o seu cinturão protetor. As
evidências empíricas testariam as possibilidades de aplicação do equilíbrio geral16, mas não as
suas hipóteses básicas. Segundo Weiss (2002, pg. 11-12), orientando de Weintraub:
The hard core suppositions are:
HC1. There exist economic agents;
HC2. Agents have preferences over outcomes;
HC3. Agents independently optimize subject to constraints;
HC4. Choices are made in interrelated markets;
HC5. Agents have full relevant knowledge;
HC6. Observable economic outcomes are coordinated, so they must be discussed with
reference to equilibrium theories.
And the positive and negative heuristics are:
PH1. Go forth and construct theories in which economic agents optimize;
PH2. Construct theories that make predictions about changes in equilibrium states;
NH1. Do not construct theories in which irrational behavior plays any role;
NH2. Do not construct theories in which equilibrium has no meaning;
NH3. Do not test the hard core propositions.

Ou seja, segundo esse estudo, a heurística positiva do programa de pesquisa


neowalrasiano consiste na definição de técnicas para a construção de teorias e modelos que
assumem a presença de agentes otimizadores, e que são capazes de prever o ponto de equilíbrio
de mercado. Já a heurística negativa orienta a não-teorização de modelos com irracionalidade, ou
nos quais o equilíbrio de mercado é irrelevante, ou ainda tentativas de testar empiricamente as
hipóteses básicas do núcleo irredutível.

Outro ponto destacado pelo autor é a importância da linguagem matemática nessa teoria.
Segundo o mesmo, a matematização da teoria do equilíbrio geral walrasiano se justifica por dois
pontos básicos. Em primeiro lugar, pelo processo de crescente refinamento sistemático da
interpretação das hipóteses que integram o seu núcleo irredutível, e que se baseia em uma procura
por cada vez maior consistência lógica. Em segundo lugar, pelo fato de que o próprio equilíbrio
geral é um fenômeno matemático, e deve ser representado como tal. Weintraub (1985) observa
que, pelo crescente refinamento da interpretação das hipóteses do núcleo por técnicas
matemáticas, e pela expansão de seu cinturão protetor mediante o desenvolvimento de teorias que
aplicam a noção de equilíbrio geral e que são passíveis de teste empírico, pode-se concluir que a
teoria do equilíbrio geral apresenta progresso teórico. E, se as teorias que compõem o cinturão
protetor não forem empiricamente descartadas, pode-se concluir que a economia neowalrasiana
como um todo é progressiva no sentido lakatosiano do termo.

Outro autor que procurou aplicar a metodologia dos programas de pesquisa na ciência
econômica foi De Marchi (1991). Segundo esse autor, os programas de pesquisa lakatosianos
atraem a simpatia de muitos economistas neoclássicos por dois motivos. Primeiro, por ser a

15
Esse trabalho é muito bem comentado por Hands (2001) e por Weiss (2002).
16
O autor cita como exemplos a teoria do capital humano, a economia da família e as teorias do comércio
internacional.

11
ciência econômica considerada racional, isso pode a identificar como progressiva
lakatosianamente. Segundo, as teorias que compõem a economia neoclássica são estruturadas, de
modo que não são passíveis de serem analisadas individualmente, tal como Lakatos aponta em
seus programas de pesquisa.

Ou seja, a metodologia lakatosiana parece defender o trabalho dos economistas


contemporâneos (Backhouse, 1994), que é procurar explicar e prever uma grande série de
problemas econômicos utilizando poucos pressupostos comportamentais para a ação dos agentes,
definidos como a sua racionalidade17. Além disso, esses pressupostos comportamentais são
assumidos, não sendo passíveis de testes empíricos.

Uma tentativa de aplicação da metodologia lakatosiana à economia empírica é realizada


por Hendry (1993). Segundo o autor, a metodologia lakatosiana fornece uma estratégia de
investigação científica, pois enfatiza a previsão de fatos novos18. Ou seja, o que realmente
interessa é que as teorias formuladas e assumidas funcionem, e não que sejam realistas e
falsificáveis. Assim, um programa de pesquisa na economia deve ter três objetivos: primeiro,
realizar previsões de fatos novos; segundo, explicar mais fenômenos do que os programas rivais,
em um ambiente científico competitivo; terceiro, demonstrar novas conexões entre fenômenos
econômicos, seguindo o que Lakatos denominou como progresso teórico do programa.

A proximidade entre a metodologia lakatosiana e a economia empírica também é


destacada por Backhouse (1994, pg. 181):

... Lakatosian ideas are expressed by economists deeply commited to economics being an
empirical science, driven by data. Prediction of novel facts is used, especially by Hendry, not
because it is a soft option, but because it is both feasible (in a way that naïve falsificationism is
not) and demanding. (…) prediction of novel facts has a history in economics that goes back
well before Lakatos. It is plausible to conjuncture that economists found Lakatos attractive
because the appraisal criterion he used was already, perhaps for good reasons, well
established.

Segundo Backhouse (1994), a ênfase na previsão de fatos novos para a definição do


progresso científico é o maior legado de Lakatos para à economia empírica por três motivos. Em
primeiro lugar, essa visão ajusta-se ao próprio trabalho dos economistas, já que, pelo menos na
economia neoclássica, na ausência de dados para testar todas as hipóteses assumidas, procura-se a
consistência dessas hipóteses com o critério da racionalidade dos agentes, o que decide se essas
teorias são ad hoc ou não. Em segundo lugar, a procura por previsões confiáveis é o principal

17
Nas palavras de Backhouse (1993, pg. 180), “... economists find Lakatosian methodology attractive because it
provides a way of defending wat they do, This arises from the nature os economic theorizing as it exists in the
mainstream of economics today. Economic theory is dominated by the attempt to explain a variety of economic
phenomena on the basis of a very limited range of behavoral assumptions. Explaining a phenomenon involves
demonstrating how it follows from the assumption of rational behaviour, any other assumption being viewed as ad
hoc, for agents ought to behave rationally. Furthermore, given that assumptions cas rarely be tested directly
(experimental work being both problematic and in its infancy, and econometric testing frequently being inconclusive)
the only option open to economists wishing to test theories is to derive further predictions which can be compared
with other evidence.”
18
Nesse ponto, a visão do autor aproxima-se bastante do trabalho clássico de Friedman (1953). Por outro lado,
distancia-se de algumas das idéias do próprio Lakatos, para quem o realismo das proposições científicas é
considerado importante.

12
trabalho de economistas profissionais, já que para a tomada de decisões econômicas (como de
política econômica), os resultados devem ser conhecidos e esperados. Nesse sentido, o autor
aponta que Lakatos diferencia os tipos de previsões que um programa de pesquisa pode realizar
no que diz respeito a fatos novos, que podem ser tanto fatos desconhecidos para o pesquisador,
como também fatos desconhecidos para a própria teoria à luz da qual a previsão é realizada. Por
fim, como na economia não há a possibilidade de se realizar experimentos controlados para isolar
fenômenos e associar teorias com os fatos observados, a capacidade de previsão, conforme
proposto por Lakatos, torna-se um importante método de se testar a qualidade das teorias, sejam
elas novas, sejam elas as mais aceitas no presente. Ou seja, segundo o autor, uma teoria mostra
sua qualidade quando é capaz de realizar previsões, mesmo quando é aplicada a novas situações.

Backhouse (1994) ainda destaca a importância que a metodologia desenvolvida por


Lakatos dá à relação entre a história e a filosofia da ciência. Tal visão aponta uma nova função
para a metodologia da ciência, isto é, a procura de explicações para o desenvolvimento histórico
de teorias científicas. Segundo o autor (pg. 184), essa função envolve as seguintes tarefas:

Lakatos’s MHRP19 involves the following four stages: (1) Obtain agreement on a list os
successful scientific achievements. (2) Provide a history of these scientific achievements as
though they had developed in accordance with the methodology one is trying to appraise –
what Lakatos calls a ‘rational reconstruction’ of history. (3) Compare this rational
reconstruction with the actual history. (4) If the two histories are very different, conclude that
the methodology is inappropriate: that it is incompatible with the decisions made by practising
scientists.

Nesse mesmo sentido, Hausman (2004) aponta uma contribuição de Lakatos para
solucionar o que esse autor chama de “Problema de Mill”, permanentemente em discussão na
economia. Segundo Hausman, esse problema consiste na possibilidade de se poder tomar
deduções corretas a partir de premissas não-observáveis, não-testáveis, ou mesmo falsas. Nesse
sentido, “Lakatos appears to solve Mill’s problem by arguing that what matters is empirical
progress or retrogression rather than empirical sucess or failure” (HAUSMAN, 2004, pg. 9).
Assim, as hipóteses básicas da economia neoclássica, que não são testáveis empiricamente, mas
sempre são tidas como aceitas nos trabalhos científicos dessa linha de pesquisa, acabam sendo
associadas ao núcleo irredutível de um programa de pesquisa20.

Uma das mais conhecidas tentativas de aplicação da metodologia dos programas de


pesquisa, proposta por Lakatos, para a descrição da história do pensamento econômico é o
trabalho realizado por Blaug (1976). O autor, em resumo, procurou comparar os paradigmas
dentro da ciência econômica ao longo de seu desenvolvimento histórico demarcando-os como
programas de pesquisa e caracterizando-os utilizando os conceitos desenvolvidos por Lakatos.
Por exemplo, ao comparar a economia política clássica e a economia positiva neoclássica como
programas de pesquisa, o autor observou que o núcleo irredutível de ambos (presença de noção
de equilíbrio, comportamento otimizador por parte dos agentes) é muito semelhante. O que
diferencia os dois programas seria a heurística positiva, a ênfase da investigação científica;

19
Methodology of historical research programmes.
20
“The fact that economists do not give up basic theoretical postulates that appear to be false might be explained
and justified by regarding them as part of the ‘hard core’ of the neoclassical research programme” (HAUSMAN,
2004, pg. 9).

13
enquanto que na economia clássica os economistas voltam sua atenção à produção e distribuição
de riqueza em uma sociedade, na economia clássica o foco de interesse é o funcionamento dos
mercados, isto é, a alocação de recursos escassos entre fins alternativos.

Por outro lado, a revolução keynesiana, na década de 1930, afetou o núcleo irredutível da
ciência econômica, e definiu uma nova heurística positiva e um novo cinturão protetor. Por isso,
o autor identificou a revolução keynesiana como uma revolução científica lakatosiana, pela
superação de programas de pesquisa estagnados por aqueles progressistas21.

Um outro estudo aplicado relacionando os programas de pesquisa de Lakatos e a ciência


econômica foi realizado por DE MARCHI (1976), e denominado “O Paradoxo de Leontief”. Esse
estudo proveio de uma anterior investigação empírica realizada por Leontief, que pareceu
falsificar a teoria do comércio internacional de Hecker-Ohlin22, bastante aceita pelos economistas
neoclássicos. De Marchi procurou observar como que a comunidade internacional de
economistas reagiu a essa conclusão. Segundo o autor, a maioria dos estudiosos procurou
defender a teoria e atacar o estudo de Leontief, ou seja, a teoria não foi descartada mesmo com
uma evidência empírica contrária a ela. De Marchi chegou à conclusão de que os economistas
tiveram um comportamento semelhante ao de integrantes de um mesmo programa de pesquisa, ao
qual essa teoria do comércio internacional é parte de seu núcleo irredutível, tornando-se
relutantes em abandonar, ou modificar o núcleo de seu programa.

V – Críticas à Metodologia Lakatosiana na Ciência Econômica

Conforme destacado por WEISS (2002), e confirmado por toda a bibliografia, após um
surto inicial de otimismo durante a segunda metade da década de 197023, a partir dos anos 90 o
interesse geral dos economistas pela metodologia dos programas de pesquisa lakatosianos caiu
bruscamente. Os trabalhos dirigidos a investigar correlações entre a metodologia lakatosiana e a
metodologia da economia neoclássica como é feita realmente deixaram de ter um tom tão
entusiasta, e passaram a ser mais críticos. De acordo com Backhouse (1994), todas as críticas
realizadas aos programas de pesquisa de Lakatos podem ser reunidas em três grupos. Primeiro, as
críticas realizadas diretamente aos conceitos e definições levantados pelo autor. Segundo, as
críticas realizadas ao método falsificacionista como um todo, o qual influenciou e inspirou
Lakatos. Terceiro, as críticas realizadas à própria metodologia da ciência, e à tentativa de
generalizar teorias que descrevem o processo de geração de conhecimento, e de procurar

21
Na verdade, nesse ponto de seu trabalho, Blaug (1976) procurou comparar os programas de pesquisa lakatosianos
com os paradigmas kuhnianos para verificar qual seria a melhor metodologia para descrever o desenvolvimento
histórico do pensamento econômico. Como o autor observou que a revolução keynesiana nao suplantou totalmente o
paradigma da economia neoclássica, sobretudo porque essa teoria não consiste em um paradigma unificado, mas sim
um conjunto de teorias interdependentes configuradas em um programa de pesquisa, concluiu que a visão lakatosiana
seria mais apropriada para esse fim.
22
Segundo essa teoria, os países, operando em livre comércio internacional, tendem a se especializar na produção e
exportação de bens compatíveis com a abundância interna relativa de fatores de produção. Isto é, países intensivos
em capital tendem a se especializar em produtos cuja produção é intensiva em capital, e o mesmo vale para outros
bens. O estudo de Leontief, que contrastou essa teoria, obsevou que, apesar da economia norte-americana ser
intensiva em capital, a pauta de exportações do país é baseada em bens cuja produção é intensiva em trabalho.
23
Principalmente após a publicação da coletânea de artigos sobre a metodologia da ciência econômica por Spiro
Latsis, em 1976, que explicitamente procurou paralelos entre esse tema e as idéias de Lakatos.

14
demarcar aquilo que pode ser considerado “boa ciência” das chamadas “pseudociências” e “não-
ciências”.

5.1. Críticas a Lakatos

Uma primeira crítica que pode ser realizada aos conceitos levantados por Imre Lakatos
refere-se à visão do autor sobre a presença, em cada programa de pesquisa, de um núcleo
irredutível de hipóteses básicas fixas e não-alteráveis entre os cientistas. De acordo com
Backhouse (1994) tal argumento não procede na ciência econômica, já que é observável que os
chamados núcleos das principais correntes de pensamento econômico são dinâmicos, variando ao
longo do tempo24. Por isso, a relação entre o programa de pesquisa e o seu núcleo irredutível, que
o caracterizaria na visão de Lakatos, é bem mais complexa na economia do que o autor
originalmente supunha.

Outra fonte de críticas, por diversos autores, é o trabalho de Weintraub (1985). Segundo
Backhouse (1994), o que o autor originalmente definiu como o núcleo irredutível da economia
neowalrasiana – o assumido comportamento otimizador dos agentes econômicos guiado pela sua
racionalidade – consiste, na verdade, mais em uma questão metodológica para a modelagem de
teorizações, do que em hipóteses metafísicas com conteúdo econômico significante. Hands
(2001) faz uma crítica ainda mais aguda a esse trabalho. Segundo esse autor, não fica esclarecido
no estudo original de Weintraub se o equilíbrio geral walrasiano é o núcleo de um programa de
pesquisa próprio, ou se consiste em um cinturão protetor de um programa de pesquisa
neoclássico mais genérico. Além disso, apontar como observação de progresso teórico no
programa de pesquisa neowalrasiano o simples progresso da formalização matemática de suas
hipóteses não é uma concordância unânime entre os estudiosos do pensamento de Lakatos. E
ainda, a noção de que o progresso empírico do mesmo programa de pesquisa pode ser
comprovado pela observação do desenvolvimento de outras teorias econômicas que aplicam a
noção de equilíbrio geral parece seguir uma visão mais positivista ou popperiana do que
propriamente lakatosiana. Pois, para Lakatos, o progresso empírico de um programa de pesquisa
está relacionado com a sua capacidade de realizar previsões empiricamente significantes de fatos
novos, isto é, fatos descobertos, e não apenas refinamentos da própria teoria. E mais ainda, o
trabalho de Weintraub não aponta explicitamente qual seria o cinturão protetor do programa
neowalrasiano, e tampouco como esse cinturão se relaciona com o núcleo irredutível,
protegendo-o de refutações empíricas.

Mas a principal crítica que pode ser realizada ao estudo, na visão de Hands (2001), é o
fato de que Weintraub utiliza a metodologia lakatosiana para justificar a teoria do equilíbrio geral
walrasiano como um programa de pesquisa progressivo. Todavia, a grande maioria dos
metodólogos de visão lakatosiana presentes na ciência econômica são exatamente contra essa
noção. Segundo eles, a economia é uma ciência empírica, e o equilíbrio geral, por ser um
instrumental matemático abstrato, é muito pouco empiricamente testável, o que não o pode tornar

24
Um exemplo pode ser a própria teoria do comércio internacional de Hecker-Ohlin, que mesmo sendo muito
posterior ao desenvolvimento do equilíbrio geral walrasiano, acabou se incorporando ao seu núcleo irredutível, de
acordo com o já referido trabalho de De Marchi (1976).

15
um programa de pesquisa empiricamente progressivo no sentido lakatosiano do termo25. De
acordo com Blaug (1992, pg. 169):
Enormous intellectual resources have been invested in is endless refinements, none of which
has even provided a fruitful starting point from which to approach a substantive explanation of
the workings of economic system. Its leading characteristic has been the endless formalization
of purely logical problems without the slightest regard for the production of falsiable theorems
about actual economic behavior, which, we insist, remains the fundamental task os economics.
The widespread belief that every economic theory must be fitted into the GE mold if it is to
qualify as rigorous science has perhaps been more responsible than any other intellectual force
for the purely abstract and nonempirical character of so much of modern economic reasoning.

Tal conclusão levou muitos dos economistas simpatizantes da metodologia lakatosiana a


rever os seus conceitos, e a tomar uma atitude mais crítica e realista em relação a esse autor.

Segundo essa mesma linha, Hausman (1994) aponta que a definição da estrutura de um
programa de pesquisa na economia é uma atividade complexa. Segundo o autor, para se encontrar
o núcleo irredutível, o cinturão protetor e as heurísticas de qualquer programa de pesquisa que
possa ser identificado dentro da ciência econômica, não basta utilizar apenas a observação, mas
também é preciso ajustar a própria teoria econômica aos conceitos lakatosianos, e essa tarefa
nunca foi bem explicada por estudos. Por exemplo, o próprio trabalho de Weinstraub (1985)
utiliza uma construção do núcleo irredutível neowalrasiano muito fraca, na visão de Hausman.
Segundo esse autor, as hipóteses HC1, HC2 e HC4, apesar de verdadeiras para um núcleo de
programa de pesquisa econômico não diferenciam a economia neowlrasiana de outras correntes
de pensamento. Por outro lado, as hipóteses HC5 e HC6 na verdade não consistem em um núcleo
irredutível, já que muitos trabalhos de economia neoclássica utilizando o conceito de equilíbrio
geral podem explorar teorias econômicas com a possibilidade de informação imperfeita entre
agentes econômicos e desequilíbrios de mercado no curto prazo. Por isso, a única hipótese que
inegávelmente consiste em um pressuposto inviolável da economia neowalrasiana é a HC3,
relacionada ao comportamento dos agentes econômicos, que otimizariam independentemente
suas funções-objetivo sujeitas a restrições. Entretanto, isso traz uma noção de que o núcleo
irredutível desse programa de pesquisa é muito estreito.

Segundo o autor (HAUSMAN, 1994, pg. 204), os trabalhos da economia neoclássica


podem variar muito em suas hipóteses assumidas, tornando muito complexa a identificação de
um núcleo irredutível estável em seu programa de pesquisa26:

25
“For these authors, the problem with economics lies in its lack of empirical discipline – falsificationism is a little
too strict in practice, but its empirical spirit is right – Lakatos is desirable because his approach allows us to keep
much of modern economics (which a strict application of falsificationism would force us to condemn as uncientific),
while still providing tough empirical rules for scientific progress in economics” (HANDS, 2001, pg. 294).
26
HAUSMAN (1994, pg. 205) procura identificar uma estrutura alternativa para a ciência econômica: “1 Economics
is defined in terms of the casual factors with which it is concerned, not in terms of a domain; 2 Economics has a
distinct domain, in which its casual factors predominate; 3 The ‘laws’ of the predominating causal factors are
already reasonably well known; 4 Economic theory, which employs these laws, provides a unified, complete, but
inexact account of its domain”. Segundo o autor, os fatores causais centrais na teoria econômica relacionam-se com a
existência da escassez de recursos, e o seu domínio é o conjunto de escolhas racionais individuais sobre decisões de
consumo e produção. O conceito de racionalidade não é fixamente definido na ciência econômica, significa apenas
que há uma coerência entre as ações e as preferências individuais. O autor conclui que o único pressuposto que
explicitamente governa a investigação econômica é o individualismo metodológico, isto é, a noção de que as
decisões tomadas são provenientes de fenômenos individuais aos agentes, e não de grupos.

16
For there is very little that is shared by every neo-Walrasian theory or model. The hard core
cannot include the claim that preferences are complete or transitive, for there are neo-
Walrasian theoretical explorations which involve incomplete and intransitive preferences…
The hard core cannot include self-interest, for there are neo-Walrasian models with altruism.
One cannot include diminishing returns, because there are neo-Walrasian models with fixed
production coefficients. One cannot include profit maximization, for there are neo-Walrasian
models … without profit maximization. If one insists on characterizing neo-Walrasian
economics by those features shared by all neo-Walrasian theories and models, then one cannot
do much better than Weintraub…

Complementando, Weiss (2002) aponta que definir um programa de pesquisa em qualquer


paradigma dentro da economia é difícil, simplesmente porque Lakatos pensou sua teoria para a
física e outras ciências exatas, e não para a economia. O autor reforça a idéia de que a definição
de núcleos irredutíveis para a investigação econômica é problemática devido a dois fatos. Em
primeiro lugar, os programas de pesquisa, na economia, são interdependentes, e um pode estar
contido no outro (como, por exemplo, a economia neoclássica e a economia novo-clássica). Em
segundo lugar, não se pode decidir com firmeza o tamanho exato de um programa de pesquisa na
economia, pela existência de sub-programas, e pela dificuldade de se diferenciar núcleos e
heurísticas de programas semelhantes27.

Uma outra crítica à aplicação da metodologia de programas de pesquisa na economia


refere-se à possibilidade de sobreposição de programas de pesquisa nessa ciência. Por exemplo,
Backhouse (1994) cita a comparação entre um programa de pesquisa da economia neowalrasiana
e um programa de pesquisa da economia da Escola de Chicago28. Ou seja, programas distintos,
ou mesmo rivais, podem ser indeterdependentes, no sentido do que é núcleo irredutível para um
pode ser cinturão protetor ou heurística do outro, e assim por diante. As relações entre as
diferentes correntes de pensamento econômico, fora a rivalidade explícita entre programas
progressivos e estagnados, não é explicada apropriadamente pela metodologia de Lakatos.

No que diz respeito ao progresso empírico da ciência econômica, Hausman (2004) aponta
que esse fator é muito duvidoso, pelos motivos já referidos anteriormente por Hands (2001). Ou
seja, a economia contemporânea é muito menos empírica do que aquilo Lakatos idealizou que
uma ciência deveria ser. Portanto, a ênfase do autor na descoberta e previsão de fatos novos para
a apreciação de uma teoria científica não foi considerada por Hausman como uma solução
satisfatória para o problema de Mill, referido no capítulo anterior do presente estudo.

Por outro lado, autores como Fawundu (1991) criticaram o uso da metodologia dos
programas de pesquisa lakatosianos para a apreciação da evolução histórica de paradigmas de
pensamento econômico, conforme realizado no artigo de Blaug (1976). Segundo Fawundu, Blaug
27
“Lakatos supplied a method of delineating programs, arguing that if a new theory did not include all of the
unrefuted content of an earlier theory then it could be described as a separate research program. However, this
distinction was inadequate to address a large literature in which one program’s hard core contents may be the
protective belt or positive heuristic of another.” (WEISS, 2002, pg. 15).
28
Segundo Backhouse (1993, pg. 177), “... it cannot be argued that Chicago economics forms a sub-programme
within neo-Walrasian economics: the commitment to formal modelling and mathematical rigour are missing.
Friedman’s ‘Marshallian’ methodology, stressing the importance of empirical evidence and simple models, is clearly
not Walrasian. There is thus a strong case for speaking in terms of two overlapping programmes, with work
conducted within one programme providing a crucial input into another programme.”

17
acabou por distorcer os principais conceitos estabelecidos por Lakatos como forma de melhor
ajustá-los ao objetivo de seu trabalho. Em primeiro lugar, Fawundu coloca que a heurística
positiva, de acordo com o trabalho original de Lakatos, é sempre dinâmica, se ajustando
conforme anomalias são descobertas no trabalho de investigação científica. Por isso, ao contrário
do que Blaug apontou, a mudança da heurística positiva da economia política clássica para a
economia positiva neoclássica não pode ser considerada um fator que indique uma revolução
científica nessas condições. Em segundo lugar, a heurística positiva, de acordo com Lakatos,
pode ser testada pelos fatos empíricos, o que pode levar inclusive a sua falsificação, refutação e
substituição por novas hipóteses. Contudo, a história do pensamento econômico não sugere que
houve uma refutação empírica da heurística clássica, ou mesmo que a heurística neoclássica,
sobretudo o que diz respeito à teoria da utilidade marginal, possa ser testada e corrobada por fatos
empíricos. E ainda, Fawundu aponta que, segundo Lakatos, a defesa apaixonada de um
determinado programa de pesquisa frente aos seus rivais é um sinal evidente de sua estagnação.
Contudo, Fawundu (1991, pg. 31) observa que

Yet the alleged neo-classical change of positive heuristic was established on the teeth of
opposition. (...) The resistance was not even mainly in the form of using ad hoc procedures to
defend classical political economy (…) against the new theory: its adherents were, (…), in
danger of losing their academic positions or forfeiting hopes of appointments and promotions.

Como última crítica, Fawundu aponta que, de acordo com o conceito lakatosiano de
revolução científica, um programa de pesquisa progressivo acaba superando totalmente um rival
estagnado. Porém, no caso entre o programa neoclássico e o keynesiano, isso não aconteceu. Por
um lado, o mainstream econômico logo após Keynes tornou-se uma síntese de seu pensamento
com os antigos pressupostos neoclássicos. Por outro lado, os chamados economistas pós-
keynesianos, considerados mais fiéis às teorias originais do autor, nunca chegaram a dominar
debates na macroeconomia, tendo sempre se considerado heterodoxos, isto é, contrários ao
mainstream.

Por fim, Gonzales (2001) critica o paralelo que muito comumente se faz entre o
instrumentalismo da teoria econômica, como o defendido por Friedman (1953), e a metodologia
lakatosiana. De acordo com o autor, Lakatos não pode ser caracterizado como um
instrumentalista no que diz respeito a sua visão de filosofia da ciência, mas sim como um realista
crítico. Lakatos defendeu que a capacidade de previsão de fatos novos era critério para o
progresso de um programa de pesquisa, mas também considerou que uma teoria científica deveria
ser capaz de explicar a realidade (ou os fatos passados) e as conexões entre diferentes fenômenos
observados. Além disso, como um programa de pesquisa progride pelos seus avanços teóricos e
empíricos, cada passo nessa progresso vai tornando as teorias científicas mais próximas da
realidade, isto é, a heurística positiva do programa tende a simular a realidade com cada vez mais
precisão. Por isso, Gonzales conclui que um programa de pesquisa, na visão de Lakatos, não tem
a única utilidade de realizar previsões, mais também de, com seu progresso, aproximar o
conhecimento humano da realidade29.

5.2. Críticas ao Falsificacionismo

29
Esse ponto é explorado por autores que criticam não apenas Lakatos, mas o falsificacionismo metodológico como
um todo.

18
Uma outra fonte de críticas à aplicação das idéias de Lakatos na ciência econômica tem
foco na própria metodologia falsificacionista, que influenciou e baseou as teorias da metodologia
dos programas de pesquisa.

Nessa linha, um primeiro ponto de discussão trata-se da rejeição, por parte da


metodologia falsificacionista, como forma de se obter conhecimento verdadeiro. De acordo com
Popper, maior pensador falsificacionista, todo o conhecimento científico é provisório e incerto,
pois nunca se pode saber se um próximo teste empírico não rejeitará as teorias e hipóteses
presentemente tidas como verdadeiras. Tal ponto, no entanto, é tido como demasiadamente
radical, na visão de outros autores. Segundo eles, a contínua falsificação e substituição de teorias
mediante a realização de testes de significância empírica cada vez mais severos levaria a uma
crescente verossimilhança do conhecimento científico. Ou seja, pela observação empírica, a
ciência evoluiria, tornando-se cada vez mais próxima da realidade30.

Outra crítica às limitações do falsificacionismo refere-se à ausência, nas discussões sobre


a metodologia da ciência, de preocupação com o contexto em que as descobertas científicas são
realizadas. De acordo com Backhouse (1994), Popper chegou até mesmo a considerar esse ponto
irrelevante, afirmando que o contexto da descoberta é um fenômeno predominantemente
psicológico, relacionado ao raciocínio e à criatividade do cientista, e sem relevantes dimensões de
cunho filosófico. Por isso, autores como Mäki (1980, pg. 79) chegam a afirmar que
“epistemological questions related to rational theory choice or rational theory development,
formulated in the the dynamic but anti-inductivist and asocial framework of Karl Popper or Imre
Lakatos, have dominated the field.”

Em outras palavras, a questão da sociologia da ciência, que envolve o estudo do contexto


social nas quais as teorias científicas são criadas e apreciadas, foi subestimada e negligenciada
pela metodologia falsificacionista. Contudo, Backhouse (1994) argumenta contra essa
discriminação, por três motivos. Primeiro, pelo fato de que o estudo dos métodos de se produzir
teorias científicas é uma questão tão filosófica quanto a justificativa dessas mesmas teorias.
Segundo, pelo fato de que o contexto social em que a criação de idéias se insere é fundamental
para a sua divulgação e aceitação por parte da comunidade científica. Terceiro, mais
particularmente ao caso da ciência econômica, o estudo do contexto social em que as teorias
estão inseridas ajuda a se entender com mais profundidade as idéias que envolvem essas teorias.
“For example, it is impossible to evaluate the results of econometric work without knowing the
beliefs and convictions of the economists undertaking the work” (BACKHOUSE, 1994, pg. 178).

Por outro lado, Hands (1993) chega a afirmar que a maior vantagem de se aplicar a
metodologia lakatosiana dos programas de pesquisa na ciência econômica deve-se ao simples
fato de que essa abordagem é mais verossímil do que a de Popper. Isto é, para o autor, Lakatos
ajuda a aliviar a prática da investigação científica da economia aos critérios falsificacionistas, no

30
Referindo-se a Popper e Lakatos, Hausman (2004, pg. 9) aponta que “Both defend the startling thesis that there is
no such thing as empirical confirmation. Popper and Lakatos deny that the results of testing can give one reason to
believe that statements are true, and both deny that results of tests can justify relying on statements in practical
endeavours or in theoretical inquiry. They would accordingly regard as mistaken any claim that there is better
evidence for one unfalsified proposition than for another. Someone who questions whether there is enough evidence
for some proposition to justify relying on it in theoretical studies or for policy purposes would be making the
methodological "error" of supposing that there can be evidence in support of hypotheses”.

19
sentido de que o aspecto empírico da ciência econômica, mesmo sendo de caráter fundamental,
tem sua importância considerada de um modo mais complexo do que o tido pela visão
popperiana. Assim, podem-se identificar núcleos de hipóteses não-testáveis empiricamente nos
paradigmas de pensamento econômico, assim como heurísticas e cinturões protetores de
hipóteses testáveis, mesmo que sua identificação não seja simples e direta, conforme já relatado
anteriormente.
A maior crítica que Hands (1993) faz a Lakatos deve-se a sua noção de progresso como
forma de apreciação de teorias científicas. De acordo com o autor, esse progresso teórico e
empírico, associado à capacidade de uma teoria científica ser capaz de prever fatos novos, de
acordo com o sentido original do conceito levatado por Lakatos, é muito raro na economia. O
progresso teórico na economia, conforme relatado por autores como Weinstraub (1985), se faz
por maneiras distintas, como, por exemplo, pelo crescente refinamento da formaliação
matemática das hipóteses levantadas pelas teorias. Essa visão é reforçada por Weiss (2002),
segundo o qual a ênfase que Lakatos faz sobre a capacidade de prever fatos novos para considerar
um dado programa de pesquisa progressivo acaba afastando-o da metodologia da economia, uma
vez que pouco da teoria econômica contemporânea consegue, de fato, descobrir fatos novos.

5.3. Críticas à Metodologia da Ciência

Uma última fonte de críticas à visão de Imre Lakatos se dá a partir da possibilidade da


filosofia da ciência poder levantar argumentos precisos para caracterizar e demarcar o que se
pode considerar “boa ciência” e aquilo que seria “pseudociência” e “não-ciência”.

Segundo muitos autores, não existem critérios filosóficos decisivos e infalíveis para
qualificar teorias científicas, pois isso supõe que os filósofos já conhecem privilegiadamente uma
noção precisa do que se pode considerar como “conhecimento verdadeiro”. Diversos autores
consideram que o conhecimento não é um conceito filosófico rígido, mas sim uma prática social,
o que faz com que a investigação científica seja uma atividade socialmente construída. De acordo
com Backhouse (1994, pg. 179),

The conclusion has been drawn that in writing the history of economic thought, we should not
ask about whether or not there has been progress, but that we should provide accounts of the
social processes underlying the construction of economic knowledge (...). The tension between
positive and normative methodology that we find in Lakatos has been resolved by completely
abandoning any normative aims.

Como alternativas para a metodologia demarcacionista, Backhouse (1994) cita correntes


construtivistas e pós-modernistas, referentes à filosofia da ciência, exatamente por elas serem
mais relativistas no que diz respeito à definição da qualidade de uma teoria científica.

Ou seja, pode-se concluir que a metodologia lakatosiana não é melhor do que a de Popper,
e nem que nenhum outro demarcacionismo filosófico, para decidir o que é “boa ciência”, e o que
não é31. Pois, como não existem critérios universalmente válidos para demarcar o que seria “boa

31
“The botton line is that if one wants the methodology of scientific research programs to serve demarcationst ends
– to provide strict methodological rules for demarcating good/scientific economics from bad/nonscientific economics

20
ciência”, isso faz com que cada tentativa sempre carregue uma alta dose de arbitrariedade. E, no
caso lakatosiano, o “progresso” do programa de pesquisa só pode ser observado em uma
perspectiva histórica, quando os fatos novos que devem ser previstos já são conhecidos. No
período presente, não se pode decidir quais programas de pesquisa vigentes são progressivos e
quais estão estagnados, simplesmente porque não se sabe quais os fatos novos que eles irão (ou
mesmo se irão) descobrir.

Por outro lado, as premissas não estão satisfeitas na ciência econômica, já que os
economistas tendem a discordar entre si em questões metodológicas mesmo dentro de programas
de pesquisa semelhantes. Além disso, a própria atividade profissional do economista, assim como
os contextos individuais, tende a distorcer as suas práticas de investigação científica pessoal, e
não é possível descobrir qual economista utiliza a técnica que o permite se aproximar da
realidade com maior precisão.

Por fim, Weiss (2002) destaca a importância dos estudos de filosofia e metodologia da
ciência que dão importância para as convenções da linguagem e da retórica entre os cientistas.
Segundo o autor, muitos dos problemas verificados no processo de investigação científica tendem
a ser acomodados nos seus programas de pesquisa por meio do uso da retórica, isto é, por
representações de idéias utilizando figuras de linguagem, e pelo uso de técnicas de cunho literário
para defender e/ou criticar idéias. Tais práticas podem ser consideradas mais importantes do que
discussões puramente metodológicas, na filosofia da ciência.

VI – Considerações Finais

O presente trabalho procurou fazer uma breve discussão das idéias de filosofia e
metodologia da ciência em Imre Lakatos, assim como do seu contexto histórico dentro da
filosofia da ciência, para então apresentar as propostas levantadas pela literatura de aplicação
dessas idéias na metodologia da economia, assim como suas críticas. Mesmo com a grande
diversidade de opiniões e visões sobre as teorias do autor encontradas na bibliografia estudada, é
possível tirar conclusões sólidas sobre as discussões abordadas.

Em primeiro lugar, é bastante observável o contexto filosófico em que o pensamento de


Lakatos se insere. O autor procurou defender a metodologia científica falsificacionista
popperiana, empírica e demarcacionista, contra os ataques estruturalistas de Thomas Kuhn. Desse
autor, Lakatos incorporou a noção de que as teorias científicas se agrupam em estruturas
(denominadas de paradigmas, para Kuhn, e programas de pesquisa, para Lakatos), e não são
passíveis de apreciação individualmente. Além disso, Lakatos aceitou a rigidez da confiança e do
comprometimento dos cientistas individuais com as teorias às quais trabalham. Contudo, para o
autor, ao contrário do que Kuhn apontava, essa rigidez demonstra um comportamento racional
por parte dos indivíduos, os quais buscam se agregar a aqueles programas de pesquisa que
consideram progressivos. Contudo, como Backhouse (1994) muito bem observa, esses dois
pontos não são os mais importantes da obra de Kuhn. A questão da sociologia da ciência, isto é, a
noção de que o conhecimento científico é uma atividade socialmente construída e apreciada é

– then it fails in its task; (…), nothing else in contemporary science theory does the job either.” (HANDS, 2001, pg.
296).

21
muito bem desenvolvida por Kuhn, mas é negligenciada por Lakatos. Isso, conforme a própria
bibliografia explica, é uma grave limitação na obra desse autor já que, principalmente na
economia, as idéias presentes nas teorias levantadas tendem a estar relacionadas com o contexto
histórico e social em que foram formuladas. Contudo, a metodologia de Lakatos pode ser
considerada um avanço em relação ao falsificacionismo popperiano, predominante até então.

Em segundo lugar, o maior problema da metodologia de Lakatos, e que em grande parte


explica o progressivo desinteresse da comunidade acadêmica pela obra do autor a partir dos anos
noventa foi a sua insistência nos critérios demarcacionistas para a filosofia da ciência, presentes
no falsificacionismo popperiano e no positivismo lógico. Atualmente, essa discussão já é tida
como superada nos meios científicos, já que não há um critério universalmente válido que
diferencie uma chamada “boa ciência” de uma “pseudo-ciência” e que não esteja impregnada de
arbitrariedade. O demarcacionismo acabou dando lugar a visões mais relativistas para a
metodologia da ciência. Além disso, o próprio conceito de Lakatos para o mérito de uma ciência,
relacionado ao seu progresso teórico e empírico, é problemático, sobretudo quando tenta-se
aplicá-lo na ciência econômica, na qual raramente novos fatos são descobertos.

Por fim, apesar de suas falhas, a teoria de Lakatos não está descartada da ciência
econômica na visão de muitos autores. Se, por um lado, o seu critério demarcacionista pode ser
considerado abandonado, os demais conceitos lakatosianos, como o núcleo irredutível,
heurísticas, cinturão protetor, ou mesmo o progresso científico, podem ser muito úteis para a
apreciação de distintos paradigmas em estudos da história do pensamento econômico.
Obviamente, deve-se controlar todos os problemas não previstos originalmente no pensamnento
do autor, como a sobreposição de programas de pesquisa e o aspecto dinâmico das hipóteses
incluídas nos núcleos ditos irredutíveis. Contudo, mesmo sendo complexa, essa tarefa parece ser
frutífera para trabalhos nessa área do conhecimento econômico. Como diz Hands (1993, pg. 69):

In certain respects, Lakatos’s work is much better suited to economics than Popper’s; it seems
that looking for the types of things whick Lakatos suggests one should look for in the history
of economics has helped guide a number of important historical studies. Certainly this
historical research has drawn attention to the metaphysical hard core of certain economic
research programmes and it has motivated enquiry into the important methodological question
of the relationship between econometrics and economic theory.

Referências Bibliográficas

BACKHOUSE, R. (1994) The Lakatosian Legacy in Economic Methodology. In:


BACKHOUSE, R. New Directions in Economic Methodology. London: Routledge.
BLAUG, M. (1976) Kuhn Versus Lakatos or Paradigm Versus Research Programmes in the
History of Economics. In: LATSIS, S. Method and Appraisal in Economics. Cambidge
University Press, Cambridge.
CAVALIERI, M. A. R. (2005) Como os Economistas Discordam: Ensaio sobre o “Contexto da
Descoberta” em Economia – A Metodologia. Texto de Discussão do CEDEPLAR-UFMG.
Belo Horizonte.
CHALMERS, A. (1981) O Que É Ciência Afinal? 1a Edição. Ed. Brasiliense, São Paulo.

22
DE MARCHI, N. (1976) Anomaly and the Development of Economics: the Case of the Leontief
Paradox. In: LATSIS, S. Method and Appraisal in Economics. Cambidge University Press,
Cambridge.
FAWUNDU, F. (1991) Blaug on Kuhn versus Lakatos and the Marginalist Revolution. In:
Atlantic Economic Journal vol. 19 n. 1.
FRIEDMAN, M. (1953) The Methodology of Positive Economics. In: FRIEDMAN, M. Essays
in Positive Economics. The University of Chicago Press. Chicago.
GONZALES, W. (2001) Lakatos’s Approach on Prediction and Novel Facts. In: Theoria –
Segunda Época vol. 16/3. La Coruña.
HANDS, D. W. (1993) Popper and Lakatos in Economic Methodology. In: MÄKI, U.;
GUSTAFSSON, B. & KNUDSEN, C. Rationality, Institutons and Economic Methodology.
HANDS, D. W. (2001) Reflection without Rules: Economic Methodology and Contemporary
Science Theory. Ed. Cambridge.
HAUSMAN, D. (1994) Kuhn, Lakatos and the Character of Economics. In: BACKHOUSE, R.
New Directions in Economic Methodology. London: Routledge.
HAUSMAN, D. (2004) Economics, Philosophy of. Disponível em
http://philosophy.wisc.edu/hausman/papers/67.htm.
HENDRY, D. (1993) Econometrics: Alchemy or Science? Oxford: Basil Blackwell.
LAKATOS, I. (1978) História da Ciência e Suas Reconstruções Racionais. Edições 70, Lisboa.
LÓPEZ, V. Breve Revisión a los Puntos Fundamentales de los Programas de Investigación de T.
S. khun y Karl Popper. In: Revista FACES, Universidad de Carabobo, Fac. Ciencias
Economicas y Sociales. Carabobo.
MACHAMER, P. (2002) A Brief Historical Introduction to the Philosophy of Science. Blackwell
Sinergy.
MÄKI, U. (1980) Methodology of Economics: Complaints and Guidelines. In: Finnish Economic
Papers vol. 3 n. 1.
SILVEIRA, F. (1996) A Metodologia dos Programas de Pesquisa: a Epistemologia de Imre
Lakatos. In: Caderno Catarinense de Ensino de Física v. 13 n.3. Florianópolis.
WEISS, M. (2002) The Best Way to Do Economics: Moves and Countermoves in the History of
Economic Methodology. Texto de Discussão da Duke University. Durham.
WEINTRAUB, R. (1985) General Equilibrium Analysis. Cambidge University Press,
Cambridge.

23

Você também pode gostar