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O Ensino da Fotografia para Surdos:

Estado da Arte
Marcos, Janaina Ramos1; Cinelli, Milton José2;
1 – Departamento de Design, UDESC, jana.ramosdesign@gmail.com
2 – Departamento de Design, UDESC, milton.cinelli@udesc.br
*- Correspondência: Av. Madre Benvenuta, 2007 - Itacorubi, Florianópolis / SC
CEP: 88.035-901
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<omitido para revisã o O tema deste artigo é o ensino da fotografia para surdos e o objetivo
cega> principal, apresentar em uma revisão bibliográfica o panorama do ensino
desta disciplina no Brasil. A questão central foi procurar por materiais
didáticos já utilizados nesta disciplina. A metodologia buscou artigo e
publicações dos últimos 5 anos com palavras-chave específicas. O
resultado demonstrou que o Brasil é deficitário quanto à produção
material didático de ensino de fotografia adequado para alunos surdos, de
ensino médio e graduação. Sendo então, papel das instituições de ensino,
proporcionar a estes alunos suporte para que sejam melhor preparados
nos ambientes de ensino.

Palavras-chave: Surdos, Fotografia, material didático, metodologia de


ensino
ABSTRACT

The abstract should be presented in a single paragraph, with at


maximum 100 words. The first sentence should present a synthesis of the
context / object of study. The second sentence should present the
objectives of the study. The third sentence should present a summary of
the methodological procedures used. The fourth sentence should present
a summary of the results achieved. The fifth sentence should provide a
summary of conclusions or contributions to the area of the Assistive
Technology, Design, Engineering and health.

Palavras-chave: palavra-chave 1, palavra-chave 2, palavra-chave 3.

1. INTRODUÇÃO

No sistema educacional brasileiro nos deparamos com paradoxos e


discrepâncias no que diz respeito ao acesso de pessoas com deficiência,
sobretudo a surdez, tanto do ponto de vista estrutural, quanto do ponto de
vista metodológico e de ensino-aprendizagem. Uma das principais
discrepâncias é a necessidade de adequação e acessibilidade, onde as
instituições devem oferecer instrumentais adequados para o ensino de
alunos surdos, como a presença de intérpretes em sala de aula e
disponibilização de recursos educacionais. Mas, na prática, não é a
realidade de muitas delas, onde há deficiências em pontos-chave que a lei
exige que seja atendida.
A legislação brasileira denomina a língua gestual como Língua
Brasileira de Sinais (LBS) ou simplesmente LIBRAS. LIBRAS é
considerada a língua natural e oficial dos surdos, reconhecida pela Lei n°
10.436, de 24 de abril de 2002 (QUADROS, 2005). Segundo o censo do
IBGE de 2010no Brasil, cerca de 1,1% possui deficiência auditiva.
(IBGE EDUCA, 2019, sp)
Outra reflexão que se faz, reside no fato de que alunos surdos, por
terem sido primeiramente alfabetizados em Libras e por conta de suas
referências visuais, filosóficas e cotidianas serem diferenciadas, estes
alunos necessitam de metodologias específicas de ensino, sobretudo da
fotografia, uma disciplina técnica que, muitas vezes implica na criação e
difusão de sinais específicos e que ainda não existem na cultura surda.
A fotografia então, por se tratar de uma disciplina técnica, recorrente
em cursos superiores e técnicos de comunicação, tais como design,
publicidade, moda, entre outros, carece de um material didático para o
ensino de surdos, justamente pelo fato do aluno, além de treinar ainda
mais o "ver", mais importante para o surdo do que para o ouvinte em seu
processo comunicacional, deve treinar também o seu "olhar artístico"
para produzir composições fotográficas para expressar-se artisticamente e
posicionar-se diante do mundo, difundindo sua cultura.
Segundo Barthes (1981) a fotografia e sua apreciação tem dois
caminhos: o primeiro remete ao olhar do espectador, à sua familiaridade
com a cena retratada na imagem e sua bagagem cultural. Já o segundo
caminho é traçado pelo fotógrafo segundo sua arte ou sua oportunidade
de estar no lugar e na hora certa para fazer a "imagem perfeita", aquela
que é capaz de produzir o que o autor (1971, p. 46) chama de efeito
punctum, ou seja, "é esse acaso que nela me punge (mas também me
mortifica, me fere)."
Em uma das aulas de fotografia ministradas em 2017, sobre
composição, um dos alunos captou uma imagem com o tema elementos
rítmicos que foi capaz de provocar no espectador este efeito citado em
Barthes (1971). A figura abaixo mostra esta fotografia, produzida por um
aluno da turma de surdos do ensino técnico médio integrado do Instituto
Federal de Santa Catarina, campus Palhoça.
Figura 1 - Exemplo de trabalho fotográfico de um aluno sobre elementos rítmicos intitulado
"COPO"
Fonte: Acervo do Autor (2017)

Na figura acima podemos considerar que o "artista/aluno" teve a


sensibilidade de enxergar em um copo o "acaso", o punctum buscado por
Barthes (1981) que impacta e "mortifica" pela sua simplicidade.
Campello (2007) defende uso intenso de recursos visuais na educação
dos surdos, devido às suas especificidades no entendimento do mundo ao
seu redor, onde muitas vezes seu processo de alfabetização tanto em
libras, quanto em português é precário. Sendo assim, o autor caracteriza
tais recursos como parte da chamada “pedagogia visual”, ou seja, aquela
que faz uso da língua de sinais e elementos da cultura surda como:

[...] contação de história ou estória, jogos educativos,


envolvimento da cultura artística, cultura visual,
desenvolvimento da criatividade plástica, [...] e das artes
visuais, utilização da linguagem de Signwriting (escrita
de sinais) na informática, recursos visuais, sua pedagogia
crítica e suas ferramentas e práticas, concepção do
mundo através da subjetividade e objetividade com as
“experiências visuais (CAMPELLO, 2007, p. 129).

Um grande problema experienciado pelos professores é a ausência de


materiais didáticos específicos para alunos surdos, ou minimamente
adequados à eles, uma vez que a apreensão de conhecimento por parte
deles, se dá somente em sala de aula, com o uso do intérprete e com
material didático não adequado, prejudicando em parte, seu processo de
aprendizagem.
Chartier (2002 apud Galasso et al., 2018, p. 60) salienta que o
"conceito de material didático desenvolve-se a partir do tipo de suporte
que irá promover o acesso a um conteúdo específico, pois o texto ou
vídeo não existem fora dos suportes materiais que permitem sua leitura
e/ou visão."
Kelman (2011) reflete nos processos de ensino/aprendizagem para
alunos surdos são utilizadas além da linguagem oral e da língua de sinais,
lançar mão de recursos visuais variados pode auxiliar de modo
significativo para a aprendizagem alunos surdos, reforçando a
importância de que esses recursos sejam pensando utilizando estratégias
diferenciadas para os alunos.
Sendo assim, surge a questão desta pesquisa: existe material didático
específico para surdos e para o ensino da disciplina de fotografia, e qual a
metodologia mais adequada para o desenvolvimento deste material?

2. DESENVOLVIMENTO E DISCUSSÕES

Com base no tema da pesquisa - Material didático de fotografia


para surdos - os procedimentos metodológicos para condução da revisão
sistemática foram definidos de acordo com os seguintes parâmetros:

 Objetivo: buscar por projetos similares, métodos de ensino da


fotografia para surdos, metodologias de ensino para surdos e
materiais didáticos para surdos;
 Idiomas: Português, Inglês;
 Tipos de referências: artigos de periódicos e congressos últimos
10 anos e capítulos de livros.

A pesquisa deverá atender ainda aos seguintes critérios de inclusão e


exclusão:
Critérios de inclusão (escopo): procurar por materiais didáticos para
surdos que ensinam fotografia nos seguintes meios de pesquisa:
 google acadêmico;
 scopus;
 web of science;
 Capes;
 Research gate;

Os critérios de exclusão:
 não descreve o método utilizado para produção do material;
 não tem figuras do modelo produzido de material didático;
 artigos pagos;
 pesquisar até a página de busca que muda de assunto, quando as
palavras encontrarem muitos resultados

A partir do fechamento de todos os critérios e requisitos para a


pesquisa, seguiu-se para a etapa de definição das principais palavras-
chave que irão nortear todo o trabalho. O quadro 1 abaixo traz a primeira
parte da pesquisa onde foram aplicados os primeiros filtros nos artigos,
por título, resumo e figuras. Alguns artigos foram excluídos pelo critério
de artigos pagos e fora do período de pesquisa. O resultado total chegou a
1984 artigos no total. Passando pela primeira filtragem, Título e
palavras-chave, chegou-se 79 artigos; na segunda filtragem, leitura dos
resumos, o total qualificado foi de 40 artigos, destes na terceira filtragem
que deveria conter figuras ou métodos, resultou em 17 artigos para
análise final. A pesquisa por resultados com as strings de busca
concentrou-se nas primeiras 15 páginas no caso do Google Schoolar,
uma vez que após estes resultados distanciam-se muito das palavras-
chave, mostrando apenas uma palavra ou assuntos diferenciados. Nas
outras bases de pesquisas, onde os resultados encontrados foram mais
baixos, optou-se por filtrar todos os artigos.
Os resultados passaram por filtragens conforme o título, os resumos,
as figuras; os modelos pedagógicos e a metodologia adotada. Nesta
primeira análise pode-se notar que para o tema desta pesquisa, há uma
hipótese a ser estudada e uma grande lacuna de conhecimento a ser
preenchida.
Após todas as filtragens, foram selecionados 17 trabalhos, entre teses,
monografias, dissertações e artigos - tanto de periódicos quanto de
congressos - que mais se aproximavam do tema: material didático de
fotografia para surdos ou metodologia para o ensino de alunos surdos.
Foram lidos em sua totalidade, alguns foram descartados em uma nova
triagem, onde não foram descritos os métodos nem apareceram figuras do
material didático. Foram atribuídos códigos para os artigos selecionados,
sendo A para os artigos com maior relevância e apresentados neste
artigo.

Cód. Título Autor(es) Ano Métodos e


Objetivos

A1 Infografia e ARI, S. H. P. 2015 mapeamento


Educação de S. bibliográfico.
Surdos: uma KRUSSER, tema: “diafragma”,
Aproximação   R. da S. um mecanismo da
câmera fotográfica,
fotografia,
Objetivos Lobach
(2001): Preparação,
Geração, Avaliação,
Realização.  

A2 Livro digital SILVA, C.W.  2014 análise descritiva 


bilíngue para TEIXEIRA, de dois eBooks 
crianças D.J.,  para surdos,
surdas: uma BATISTA, mostrar  critérios e
análise na V.J. princípios  de
perspectiva do GONÇALVE design visual de
design visual S, B.S interface,
de interface TRISKA, R.  especificamente o
em tela design de tela, que
poderão contribuir
para a produção de
livros digitais com
mais qualidade. 

A3 Processo de Bruno José 2018 apresentar as


Produção de Betti diversas etapas de
Materiais GALASSO  produção de
Didáticos Monica materiais didáticos
Bilíngues do Raquel de bilíngues do
Instituto Souza Instituto Nacional
Nacional de LOPEZ  de Educação de
Educação de Rafael da Surdos (INES),
Surdos Mata analisadas em seus
SEVERINO aspectos teóricos e
Roberto técnicos (pré-
Gomes de produção, tradução
LIMA  e pós-produção)
Dirceu Esdras
TEIXEIRA 

A4 DESIGN E MORAES, L. 2014 Objetivo:


EDUCAÇÃO M. de desenvolver projeto
DE de Livro Digital, a
SURDOS: partir da tradução de
projeto de um livro técnico da
livro área do Design, de
traduzido do português para
Português LIBRAS.
para LIBRAS  metodologia:
Análise do
Problema,
Conceituação,  
Geração de
Alternativas,
Produção e
Avaliação.  
Tabela 01
Triagem final dos artigos escolhidos
Em uma análise parcial verificou-se que entre os três artigos de
maior relevância apresentam como metodologia em comum, a utilização
de recursos visuais como infográficos e imagens. Para efeitos de revisão
sistemática, vamos nos concentrar no artigo A 1, o objeto de pesquisa foi
justamente o ensino da fotografia usando infográfico, mas o trabalho
deixou lacunas importantes, uma vez que não foi concluída a pesquisa e
nem publicado o trabalho. Ele foi considerado de relevância por se tratar
de um trabalho vinculado ao IFSC Palhoça Bilíngue, onde serão
efetuados os estudos futuros da pesquisa.

4. CONCLUSÕES

Existe no campo do design e da educação bilíngue uma grande e sensível


lacuna de conhecimento, onde o aluno surdo chega em desvantagem à
universidade e muitas vezes ao mercado de trabalho por não dispor de
materiais de estudo adequados às suas necessidades de aprendizagem,
que são diferentes dos alunos ouvintes, e que por si só, entre surdos e
ouvintes, ainda existem diferentes níveis de cognição e aprendizagem.
No caso do infográfico mostrado no A1 como ainda está somente
esquematizado, seu layout carece de ajustes e não se pode afirmar os
níveis de eficácia, eficiência e satisfação do usuário, sendo neste caso
uma possível lacuna de conhecimento a ser explorada. Até o momento,
não foram encontrados materiais e pesquisas completas que tratam
especificamente do tema em questão, demonstrando assim, seu caráter
inédito, uma das premissas de um projeto de pesquisa de doutorado.
Dessa forma, o grande desafio desta pesquisa será propor um material de
estudo condizente com suas especificidades, para que ele possa dispor e
consultar fora dos limites escolares, sem a necessidade do professor ou
do intérprete, podendo assim, inserir-se como um cidadão com
autonomia e referencial cultural, podendo mostrar à sociedade sua
identidade surda através da fotografia, uma forma hoje tão democrática
de expressão artística.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARTHES, R. A câmara clara. Lisboa: Ed. 70, 1981.


CAMPELLO A. R. e S. Pedagogia Visual: sinal na educação dos surdos. In:
QUADROS, Ronice Müller de; PERLIN, Gladis (orgs). Estudos Surdos II.
Petrópolis: Arara Azul, 2007, p. 100-131.
IBGE EDUCA, 2019. Conheça o Brasil - População: Pessoas com Deficiência.
GALASSO, B. J. B. et al . Processo de Produção de Materiais Didáticos Bilíngues
do Instituto Nacional de Educação de Surdos. Revista Brasileira Educação
Especial, Bauru , v. 24, n. 1, p. 59-72, mar. 2018 .
MORAES, L. M. de. Design e Educação de Surdos: projeto de livro traduzido do
Português para Libras. P&D Congresso Brasileiro de Pesquisa e desenvolvimento
em design, Gramado, 2014.
PEREIRA, R. de C. de S.. As representações gráficas como recurso metodológico
em situações de sala de aula com alunos surdos. 2014. 148 f. Dissertação
(Mestrado Acadêmico em Desenho Cultura e Interatividade) - Universidade
Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2014.
QUADROS, R. M. O ‘bi’ do bilingüismo na educação de surdos. In: Surdez e
bilinguismo. 1 ed., v. 1, p.26-36. Porto Alegre: Mediação, 2005.
SCOLARI, Sérgio Henrique Prado Scolari; KRUSSER, Renata da Silva.
INFOGRAFIA E EDUCAÇÃO DE SURDOS: UMA APROXIMAÇÃO. In: XV
Congresso Internacional de Ergonomia e Usabilidade de Interfaces Humano-
tecnologia - Congresso Internacional de Ergonomia e Usabilidade de Interfaces
Humano-computador. 2015.
KELMAN, C. A. Significação e aprendizagem do aluno surdo. In MARTÍNEZ, A.
M. & TACCA, M. C. V. R. (Orgs.) Possibilidades de aprendizagem: ações
pedagógicas para alunos com dificuldade e deficiência. Campinas, SP: 2011.

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