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DESIGN E TECNOLOGIAS ASSISTIVAS: AVALIAÇÃO DA

REALIDADE INCLUSIVA NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE


FLORIANÓPOLIS, SC

Design and Assistive Technology: Evaluation of inclusive reality in


public schools of Florianópolis, SC

Janaina Ramos Marcos - Mestranda em Design - Universidade do Estado de Santa


Catarina - UDESC - jana.ramosdesign@gmail.com

Profª. Drª. Susana Cristina Domenech - Orientadora - Universidade do Estado de Santa


Catarina - UDESC - scdomenech@gmail.com

Prof. Dr. Flávio Anthero Nunes Vianna dos Santos – Co-orientador - Universidade do
Estado de Santa Catarina - UDESC - flavioanvs@hotmail.com

Prof. Msc. Elton Moura Nickel - Colaborador - Universidade do Estado de Santa


Catarina - UDESC - eltonnickel@gmail.com

Prof. Dr. Marcelo Gitirana Gomes Ferreira - Colaborador - Universidade do Estado de


Santa Catarina - UDESC - marcelo.gitirana@gmail.com

Resumo

Este artigo apresenta um estudo descritivo sobre a avaliação da gestão das tecnologias
assistivas em unidades educativas da rede municipal de Florianópolis que possuem em suas
turmas alunos com algum tipo de deficiência.
O estudo consiste em levantar dados referentes as atuais condições da gestão de
tecnologias assistivas nas escolas, sob o ponto de vista de professores do atendimento
educacional especializado, o qual é realizado por meio das salas multimeios. Estas são pólos que
atendem alunos com deficiência auxiliando na comunicação e aprendizagem.
Os resultados apresentados nortearão pesquisas multidisciplinares em design e
ergonomia, no sentido de propor soluções em tecnologias assistivas e de comunicação que
permitam o constante aprimoramento e formação dos professores e que consequentemente
melhorem a capacidade de aprendizagem e inclusão social de crianças deficientes.

Palavras Chave: Design, Tecnologias Assistivas (TA), Escolas Municipais


Abstract

1
This article presents a descriptive study on the evaluation of assistive technology in
management of educational facilities in the municipal Florianópolis in their classes that have
students with a disability. The study is to collect data regarding the current management
conditions of assistive technologies in schools, from the point of view of teachers in special
classes, which is accomplished by means of multimedia rooms. These poles are serving students
with disabilities assisting in communication and learning. The results presented will guide
multidisciplinary research in design and ergonomics, to propose solutions in communication
and assistive technologies that allow for continuous improvement and training of teachers and
thus improve learning ability and social inclusion of disabled children.

Keywords: Design, Assistive Technologies (AT), Public Schools

1. Introdução

A Lei Brasileira nº 7853/89 e a Lei Catarinense nº 9.394/96 tratam e exigem que sejam
matriculadas crianças com deficiência em escolas da rede pública de ensino. Mas na realidade, o
que se constata é que estas escolas não se encontram adequadamente adaptadas às necessidades
do indivíduo com deficiência, no que diz respeito à acessibilidade, mobilidade e execução de
atividades cotidianas. Esta ausência de adequação, de ações concretas e efetivas pode ocasionar
déficits ainda maiores nos indivíduos, além de inúmeras implicações no seu desenvolvimento.
Segundo Salomão (2008) a inclusão nas escolas regulares de crianças com necessidades
educacionais especiais, com diferentes problemas físicos, sociais, psicológicos e de diferentes
etnias, gêneros e condições socioeconômicas está deixando de ser uma utopia e começando a se
tornar realidade nas escolas públicas do país.
O Ministério da Educação (2011, p.05) argumenta que:

Vivemos em uma sociedade democrática que tem por definição a


pluralidade, o convívio e a interlocução na diversidade. O direito de
participar nos espaços e processos comuns de ensino e aprendizagem
realizados pela escola está previsto na legislação, e as políticas educacionais
devem estar compatíveis com esses pressupostos que orientam para o acesso
pleno e condições de equidade no sistema de ensino.

Diante deste atual processo, tem-se procurado utilizar ferramentas que auxiliem os
alunos no processo de aprendizagem, mobilidade e independência. Estas ferramentas são
chamadas Tecnologias Assistivas que Bersch (2008, p. 02) argumenta que “é um termo ainda
novo, utilizado para identificar todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para
proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e consequentemente
promover vida independente e inclusão.”

Michels (2010) esclarece que:

A inclusão, na prática, depende de vários fatores. Se por um lado, a


existência de leis e o acesso à educação visam eliminar barreiras de ordem

2
político-social e atitudinais, por outro lado, são necessárias mudanças
físico-espaciais que garantam o acesso e o bom desempenho das atividades
humanas através de um desenho adequado, tanto de equipamentos, quanto de
espaços e ambientes construídos. (DISCHINGER, 2004, p. 05)

Em Florianópolis, este cenário de “tentativas” de inclusão não é diferente, mas ainda


desconhece-se qual a realidade atual e os principais problemas enfrentados pelas escolas e pelos
professores em relação à gestão das tecnologias assistivas.
Este trabalho é um estudo exploratório realizado em três escolas da Rede Municipal de
ensino de Florianópolis - SC, conduzido com educadores dos núcleos de atendimento
especializado (salas multimeios), de modo a apresentar informações em relação ao histórico de
uso de tecnologias assistivas e do processo de gestão das mesmas, as quais poderão subsidiar
estudos para a criação de soluções em design e ergonomia nesta área.   

2. Métodos

Por se tratar de um estudo descritivo exploratório, limitou-se a levantar informações


sobre a realidade atual das escolas municipais de Florianópolis, no que diz respeito à tecnologias
assistivas que garantam a mobilidade, a independência para realização das atividades cotidianas
e consequentemente o processo de aprendizagem de alunos portadores de algum tipo de
deficiência.
A pesquisa foi realizada no ano de 2011, com professores das salas multimeios, em três
instituições educacionais (2 Escolas Básicas e 1 creche) da Rede Municipal de Ensino de
Florianópolis - SC, as quais tinham incluídos entre seus alunos, crianças com algum tipo de
necessidade especial. As salas multimeios são núcleos de estimulação e apoio para crianças
deficientes que conta com dois educadores auxiliando os professores de sala de aula no processo
de ensino destas crianças.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de ética em pesquisa em Seres Humanos da
Universidade do Estado de Santa Catarina sob o número de protocolo 150/2011.
As escolas e os educadores foram primeiramente contatados para explicação dos
procedimentos da pesquisa, e uma vez assinado o termo de consentimento livre e esclarecido,
pelos educadores, procedeu-se à coleta de dados que consistiu de uma entrevista estruturada
com os sujeitos da pesquisa, realizada em duas partes: 1) um levantamento das características
gerais da escola, (ASEMD1, elaborada pelos pesquisadores), a qual tinha por intuito obter
informações sobre a caracterização geral da escola, espaço físico, planejamento das atividade
diárias, brinquedos e materiais existentes, rotina de atividades; 2) levantamento do histórico de
tecnologias assistivas (Histórico de TA, elaborada pelos pesquisadores).
Foram adotados alguns métodos macroergonômicos para este levantamento de dados,
tais como o método de entrevista e o grupo de foco. O método de entrevista segundo Stanton

1
Affordances in the School Enviroment Motor Development
3
(2005) procura entender o comportamento dos entrevistados, para tal foi realizado aplicação de
questionário estruturado e gravação de áudio. Já o grupo de foco procura descobrir as
necessidades do público a partir da interações entre pessoas ou produtos, neste caso, o grupo de
foco adotado foram educadores das salas multimeios.
Neste artigo, serão apresentados os resultados da segunda parte da entrevista, realizado
com os professores e coordenadores de três salas multimeios. Estes resultados foram
organizados e apresentados empregando-se medidas descritivas.

3. Resultados e discussão para futuros trabalhos

3.1 Caracterização geral das escolas

Foram questionados educadores oriundos de três unidades de ensino municipais: 2 EB


(escola A - smA, Escola B - smB) 1 Creche (smC), de diferentes regiões do município de
Florianópolis, Santa Catarina. Estes professores são responsáveis pelos pólos regionais
multimeios, que atendem crianças com diferentes tipos de deficiência. Estas salas atuam no
processo de comunicação, estimulação e aprendizagem das crianças, através do uso de
tecnologias assistivas (TA).

3.2 Histórico de Tecnologias Assistivas

O quadro abaixo apresenta as transcrições das respostas dos entrevistados. Elas servirão
de referência para proposição de discussões e trabalhos futuros:

Tabela 1 – Transcrição dos Resultados da entrevista estruturada

Perguntas SM1 SM2 SM3

1. Atualmente, quais são as etapas envolvidas no processo Matrícula Aluno Matrícula - Matrícula -
de solicitação e entregas de produtos e serviços para Observação e AFLODEF -
alunos com deficiência? Análise, Gerência/APAE
Planejamento

2. Quem são os profissionais envolvidos neste trabalho? Prof. Auxiliar Professor – APAE
– Secr. Educação – Prof. auxiliar -
TO

3. Estes profissionais recebem treinamento em relação a Sim Sim Não -


conhecer a demanda existente de pessoas com deficiência
no Brasil, bem como da legislação envolvida? Como o
assunto é tratado?

4. Além dos profissionais envolvidos nesse trabalho, há a Sim SIM Não


necessidade de desenvolver outras competências ou
estabelecer parcerias para a realização de determinadas
atividades?

5. Existem atividades de planejamento, por parte da Sim SIM Sim

4
instituição, para cada caso a ser atendido? Se sim, de que
maneira é realizado? Se não, por quais motivos?

6. Para cada caso a ser atendido, são pesquisadas as Sim Sim Sim
necessidades das pessoas envolvidas e do contexto do uso
dos recursos a ser entregue ao aluno? Se sim, de que
maneira é realizado? Se não por quais motivos?

7. Como é feita a avaliação do perfil de funcionalidade de Avaliação da Através de uma Avaliação em


um educando com deficiência que necessita de um criança em parceria proposta de parceria
equipamento ou serviço a ser solicitado ao Estado? com TO trabalho

8. Após o diagnóstico realizado no educando, como os Especificação Especificados Através da


produtos e serviços adequados a ele são especificados? pelo MEC e Gerência de
outras parcerias Educação
Inclusiva

9. Após a especificação dos recursos como ocorre o A compra é Plano de Ação - Plano de ação -
processo de compra, ou desenvolvimento destes? mediada através da Regulação do MEC - orçamento
FCEE MEC - e licitação

10. Como é realizada a entrega destes recursos solicitados Recursos próprios - AFLODEF Ainda não
ao educando?

11.É comum serem necessárias adaptações nos recursos SIM - SIM - Sim
adquiridos?

12. Existem serviços de apoio relacionado à manutenção, Sim SIM Sim


assistência técnica ou monitoramento do desempenho do
recurso adquirido?

13. É realizada alguma avaliação da satisfação das pessoas Não formal Não formal Não formal
envolvidas no contexto do recurso adquirido?

14. Que pontos positivos você tem observado no processo Avanços Verba para Verba para
atual de solicitação e entrega de produtos e serviços para consideráveis acessibilidade - acessibilidade -
alunos com deficiência através do Estado? MEC MEC

15. O que você acha que pode ser melhorado no processo Burocracia Burocracia Burocracia
atual?

16. Você acha que um processo prescritivo padronizado, SIM SIM SIM
que descrevesse as atividades que devem ser realizadas
para a correta solicitação de TA ao Estado e sugerisse
ferramentas e documentos de apoio para esse processo,
facilitaria o trabalho dos gestores nas unidades de ensino?

Fonte: Arquivo pessoal

3.3 Análise dos resultados obtidos

Analisando os dados levantados, definiu-se alguns pontos principais que poderão servir
de referência para o desenvolvimento pesquisas, produtos ou serviços relacionados ao design e à
ergonomia e que consequentemente promovam melhoras significativas no desempenho das
crianças deficientes e seus professores:

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a) Estes profissionais recebem treinamento em b) Além dos profissionais envolvidos nesse
relação a conhecer a demanda existente de trabalho, há a necessidade de desenvolver outras
pessoas com deficiência no Brasil, bem como da competências ou estabelecer parcerias para a
legislação envolvida? (Q3) realização de determinadas atividades? (Q4)

Gráfico 1 – Resultados da entrevista estruturada Gráfico 2 – Resultados da entrevista estruturada


Q3 Q4

Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo pessoal

c) Que pontos positivos você tem observado no d) É comum serem necessárias adaptações nos
processo atual de solicitação e entrega de recursos adquiridos? (Q11)
produtos e serviços para alunos com deficiência
através do Estado? (Q14)

Gráfico 4 – Resultados da entrevista


Gráfico 3 – Resultados da entrevista
estruturada Q11
estruturada Q14

Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo pessoal

e) O que você acha que pode ser melhorado no processo atual? (Q15)

Gráfico 5 – Resultados da entrevista estruturada Q15

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Fonte: Arquivo pessoal

3.4 Discussão para futuros trabalhos

Os resultados apresentados pela entrevista com os professores mostram que o processo


de inclusão das crianças portadoras de necessidades especiais evoluiu um pouco deste a
implementação a lei, contudo ainda existe um longo e penoso caminho a ser percorrido para a
inserção real destes alunos na sociedade. Este caminho esbarra na burocracia, na ausência de
gestão e planejamento adequados, na falta de informação e capacitação dos professores e na
situação econômica da família.

Diante de tantos fatores e problemas, pode-se concluir que, quanto á tecnologias


assistivas, existe um campo fértil e pouco explorado para atuação multidisciplinar do design, da
arquitetura, da ergonomia e da educação.

O design, com o auxílio da ergonomia, pode concentrar-se no projeto de produtos que


estimulem e facilitem o acesso de deficientes á tecnologias da informação e comunicação, que
auxiliem a mobilidade e o transporte e que promovam o bem-estar dessa grande parcela da
população brasileira que hoje em dia, cada vez mais se insere no mercado de trabalho e
consumo.

4. Conclusões

A burocracia é um problema crônico no Brasil, que muitas vezes atrasa ou impede


completamente o desenvolvimento das crianças. Muitos professores citaram este fator como um
dos grandes entraves no processo de aprendizagem e acesso dos alunos às tecnologias assistivas.
Cadeiras de rodas e equipamentos, em alguns casos, chegam aos alunos após um ano de espera,
onde, na maioria das vezes, já nem se adequa mais o seu tamanho e às suas necessidades. Nestes
casos, os designers pouco ou quase nada podem fazer.

Outro problema enfrentado por essas crianças são as barreiras físicas das escolas.
Muitos professores comentaram dificuldades de acesso ao lazer, por não haverem rampas e os
parques infantis instalados, não são adequados, nem tão pouco seguros, até mesmo para crianças
ditas “normais”. Outra item arquitetônico citado foi a ausência de banheiros adaptados e barras

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protetoras.

Para sanar esses problemas, O Estado, os professores, médicos e familiares precisam


estar conectados e focados nas necessidades destes alunos, para que sua permanência nas
escolas seja o mais feliz, tranquilo e produtivo possível.

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