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PROJETO #TIPOGRAFISMOS: ANÁLISE SEMIÓTICA, PERCURSOS DE

SENTIDO E O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM BILINGÜE

Janaina Ramos Marcos, MsC.1


Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) - Câmpus Palhoça - Bilingüe

Resumo

Este artigo é resultado de um projeto didático pedagógico implementado


durante o primeiro semestre de 2018, na disciplina de Tipografia, Curso Comunicação
visual, IFSC Câmpus Palhoça Bilingüe. Neste trabalho estão descritas todas as etapas
do projeto, bem como recursos e métodos aplicados na disciplina. O projeto
#tipografismos é uma exposição digital de 5 trabalhos: letra pessoal, conceituação,
painel semântico, família tipográfica e estampa de camiseta com lettering, produzidos
ao longo do semestre. A disciplina conta com um total de 54 alunos, divididos em duas
turmas, sendo uma turma composta somente por de surdos. Na pesquisa foi feita uma
análise quali-quantitativa comparando os temas das estampas produzidas, buscando
também analisar semioticamente sua construção de referências e percursos de
sentidos.

Palavras-chave: tipografismos, percursos de sentido, semiótica, leitura de imagens,


bilingüe.

Introdução

O presente artigo tem como objetivo apresentar o projeto tipografismos e


fazer uma análise semiótica a partir dos estudos Greimasianos, dos trabalhos
produzidos pelos alunos da disciplina de tipografia. Atualmente podemos
discutir o tema da semiótica, sobretudo a apreciação de uma obra de arte ou
um projeto didático, nas escolas, em cursos de comunicação visual, tanto de
nível técnico, quanto superior, visto os trabalhos solicitados em disciplinas
claramente da área do design, mas que poderiam render belas apreciações no
campo da arte, alterando-se apenas seus percursos de sentido.
Schilita (2009, p.8) defende claramente a "não-necessidade" de
catalogação entre cultura visual, arte visual ou representação artística, na
verdade, segundo a autora:

1
Professora de Semiótica, Design de Interface e Identidade Visual do IFSC - Câmpus Palhoça Bilíngue.
Mestre em design pela UDESC e designer gráfico também pela UDESC.
"é preciso definir a diferença entre o fazer do artista - a criação
de novas maneiras de representação da realidade
humano-social por meio das linguagens artísticas - e a tarefa
do educador - abordar de forma didática, contínua e sistêmica
o conhecimento teórico-prático sobre as representações
artísticas".

Sendo assim, surge o projeto Tipografismos, uma atividade educacional


proposta no módulo III, no primeiro semestre de 2018, na disciplina de Tipografia do
Câmpus IFSC Palhoça Bilingüe. A disciplina contou com duas turmas, uma composta
por alunos ouvintes e outra por alunos surdos. Seguindo a proposta do bilinguismo e
da integração, todos as turmas participaram do projeto.
O projeto nasceu da necessidade de propor aos alunos muito mais do que
simplesmente a teoria ou fundamentos da tipografia, mas aplicar estes conhecimentos
em objetos “usáveis”, tendo a camiseta como meio de expressão artística, social e
cultural, tendo como objetivo principal, divulgar a produção e a criação discente para
além das fronteiras do câmpus ou da sala de aula, propondo diferentes aplicações e
visando novos sentidos e novos significados.
O nome #tipografismos surgiu a partir das primeiras atividades propostas em
sala em aula, onde os alunos puderam experimentar o desenho manual de letras,
observando sua própria letra, seus traços, curvas e conceitos que transmitem. Dos
trabalhos apresentados, surgiram “tipografismos” ou seja uma palavra não existente,
uma junção de typo (letra) + grafismo (desenho). A justificativa do uso da "#" (hashtag)
junto ao nome serve para reforçar o DNA digital e moderno do projeto. A exposição
dos trabalhos foi interativa e totalmente digital, em forma de imagens e conteúdos
postados em um website.
Dessa forma, surge o objetivo do trabalho, unir práticas inter e
transdisciplinares de Design, Moda, Semiótica e Artes Visuais na produção do
conhecimento teórico e prático na disciplina de Tipografia, ministrada no Curso
Técnico Integrado de Comunicação Visual, Câmpus Palhoça Blingüe.

Justificativa
A disciplina foi ministrada para um total de 54 alunos. Justificando o fato de
uma das turmas ser composta exclusivamente por alunos surdos, que possuem uma
diferença no processo de comunicação, onde a Língua Portuguesa é sua segunda
língua, a metodologia da disciplina teve de ser um pouco diferenciada, utilizando
recursos da pedagogia visual, uma vez que autores afirmam que os meios visuais são
mais eficazes no processo de produção de conhecimento de alunos surdos.
(NASCIMENTO, 2014).
Campello (2007) defende uso intenso das metodologias visuais na educação
dos surdos, caracterizando a “pedagogia visual” como aquela que faz uso da língua de
sinais e elementos da cultura surda como:

(...) contação de história ou estória, jogos educativos,


envolvimento da cultura artística, cultura visual,
desenvolvimento da criatividade plástica, [...] e das artes
visuais, utilização da linguagem de Sign Writing (escrita de
sinais) na informática, recursos visuais, sua pedagogia crítica e
suas ferramentas e práticas, concepção do mundo através da
subjetividade e objetividade com as “experiências visuais”
(CAMPELLO, 2007, p. 129).

Assim, aliar a pedagogia visual à moda, design gráfico e artes torna-se um


recurso a mais no escasso meio de disponibilização de conteúdos acessíveis e
bilíngues para alunos surdos.
No campo do design, o ensino da tipografia para os alunos procurou evidenciar
os diversos uso das letras, além da escrita textual, podendo ser aplicada em produtos
artísticos e de moda, comunicando uma mensagem.
Sendo assim, esta pesquisa e projeto tipografismos se justificam nas esferas
social, acadêmico e econômico.
Na esfera social, o projeto buscou mostrar aos alunos novas possibilidades de
criação, ressignifcação, aplicação e uso de peças de vestuário e conceitos de moda.
No âmbito acadêmico, os discentes puderam experienciar todas as etapas de
um processo de criação de um projeto de design, justificando assim, a
interdisciplinaridade do projeto e sua viabilidade na construção de aprendizado voltado
ao mercado de trabalho.

Referencial Teórico

A tipografia é uma disciplina que tem por objetivo estudar a arte e a técnica de

compor com uso de tipos. Por tipos compreendemos as letras, de diversas formas,
cores e texturas. "A origem das palavras está nos gestos do corpo. As primeiras fontes
foram modeladas diretamente sobre as formas da caligrafia." (LUPTON, 2006)
Seguindo este raciocínio, podemos sustentar o argumento do projeto de
transpor as barreiras das palavras, levando a tipografia para outros suportes, como a
camiseta e atribuindo novos sentidos.

O conceito norteador da pesquisa #tipografismos foi a construção de sentidos e


referências por parte dos alunos, uma vez que trata-se em sua maioria de
adolescentes, em plena formação sociocultural, sendo importante que percebam
símbolos, índices e ícones e que façam associações mentais usando o pensamento
relacional, onde "a concepção de conhecimento não como um fato, mas como um ato,
abarca outra faceta peculiar da arte: trabalho criador". SCHILITA (2009, p.14)

O percurso gerativo de sentido é estudo da chamada semiótica Greimasiana


ou Francesa e

"[...] parte de um patamar mais simples e abstrato ao mais


complexo e concreto. Tem três níveis que podem ser descritos
[...] o sentido do texto só possa ser apreendido relacionando-se
esses níveis. A primeira etapa, mais simples e abstrata,
compreende o nível fundamental ou das estruturas
fundamentais, em que o sentido se traduz por uma oposição
semântica mínima. A segunda é o nível narrativo ou das
estruturas narrativas, no qual a narrativa organiza-se sob o
ponto de vista de um sujeito, e a terceira, o nível discursivo ou
das estruturas discursivas em que a narrativa é assumida por
um sujeito da enunciação." (CARVALHO, 2012)

Na semiótica francesa, também chamada neste artigo de Greimasiana, uma


referência a Greimas, referência nesta pesquisa, iremos analisar o nível fundamental
ou das estruturas fundamentais, o nível narrativo ou das estruturas narrativas, no qual
a narrativa organiza-se sob o ponto de vista de um sujeito, e a terceira, o nível
discursivo.

● fundamental: define a maneira de ser fundamental de um indivíduo ou


de umas sociedade e determinam as condições de existência dos
objetos semióticos”

● narrativo: constitui uma gramática semiótica que ordena, em formas


discursivas, os conteúdos susceptíveis de manifestações.

● discursivo: produz e organiza os significantes.


Sendo relatados os principais referenciais teóricos norteadores deste
artigo/pesquisa e também do projeto #tipografismos, parte-se para o relato dos
procedimentos metodológicos da pesquisa.

Procedimentos Metodológicos

A pesquisa com o projeto tipografismos foi feita com 54 alunos, distribuídos em


turmas de ouvintes, chamada aqui CV3B e turmas de alunos surdos, chamadas CV3A.

Para publicação das imagens dos alunos, tanto nesta pesquisa, quanto no site
do projeto, foram solicitadas aos pais, responsáveis e alunos maiores de idade, que
assinassem um termo de autorização de imagem.

O procedimento metodológico para este artigo foi quanti-qualitativo, onde serão


apresentados, analisados e discutidos os resultados do projeto tipografismos, do ponto
de vista da construção de efeitos de sentido semiótico, estudando todo o material
produzido pelos alunos, entre rascunhos, imagens e estampas criadas.

Finalmente, foram analisadas semioticamente conjuntos de imagens, trabalhos


de alunos, tentando buscar suas referências, percursos de sentido.

O projeto #tipografismos

No início do semestre a ideia foi apresentada aos alunos, que prontamente se


engajaram no projeto e se mostraram dispostos a desenvolverem suas criações.

Alguns alunos da turma formaram uma equipe para criar a marca e a


identidade visual do projeto. A equipe de criação da identidade visual apresentou sua
solução para a marca do projeto e os alunos aprovaram por meio de votação. Os
alunos foram os responsáveis pela criação da marca do projeto. Seguindo os
conceitos Moderno, Clean, Fácil entendimento, Fácil aplicação e Integração com a
cultura surda. O resultado apresentado pode ser observado na figura a seguir:
Figura 1 - Marca tipografismos
Fonte: Arquivo Pessoal, 2018

Em seguida foi criado um perfil no Instagram® para seguir divulgando


semanalmente o desenvolvimento do projeto.

Figura 2 - Instagram® Tipografismos


Fonte: Arquivo Pessoal, 2018

Para a exposição digital dos trabalhos também foi desenvolvido um website,


onde foram feitas postagens semanais e a exposição dos trabalhos dos alunos.
Figura 3 - Website Tipografismos
Fonte: http://www.tipografismos.com.br

Todas as imagens coletadas foram previamente autorizadas pelos alunos


maiores de idades e pelos responsáveis dos alunos menores. As postagens foram
categorizadas em turmas para facilitar a usabilidade e o acesso aos trabalhos.\

Para garantir o acesso ao conteúdo das postagens e conhecer o trabalho dos


alunos surdos, a apresentação do projeto da camiseta foi gravada em vídeo com
LIBRAS pelos próprios alunos e pela professora. Os vídeos foram legendados em
português posteriormente para garantir a acessibilidade do conteúdo pelo maior
número possível de pessoas.
Figura 4 - Vídeos em LIBRAS legendados em Português - Website Tipografismos
Fonte: http://www.tipografismos.com.br

As atividades foram distribuídas ao longo do semestre, sendo a letra pessoal, a


busca de conceitos e referências, o painel semântico, Tipografia pessoal (fonte) e a
estampa da camiseta.

Letra pessoal

Como trabalho inicial, foi dado aos alunos um papel em branco e solicitado a
eles que desenhassem diversas palavras ou um texto, alterando sua letra pessoal
para caixa alta, caixa baixa, letra cursiva, letra manuscrita. Na sequência de imagens a
seguir são mostrados um exemplo da letra pessoal de um aluno da turma CV3A
(alunos ouvintes) e um exemplo do aluno da turma Cv3B (alunos surdos).

Figura 5 - Letra Pessoal - Turma CV3A


Fonte: Arquivo Pessoal, 2018
Analisando a letra deste aluno percebe-se conceitos como orgânico,
irreverência, entre outros. Vejamos agora um exemplo da letra pessoal de um aluno da
turma de alunos surdos.

Figura 6 - Letra Pessoal - Turma CV3B


Fonte: Arquivo Pessoal, 2018

Percebe-se que as duas letras se parecem em algumas formas, principalmente


as quadradas, denotando conceitos semelhantes, embora as "línguas maternas" sejam
diferentes.

Conceitos e referências

A segunda etapa do projeto envolveu a pesquisa de conceitos e referências


para suas letras pessoais, buscando em sites de download de fontes gratuitos, cinco
fontes de conceitos e formas similares à sua letra pessoal.

Uma vez definido os conceitos do projeto é hora de avançar para a etapa de


pesquisa de imagens e construção de um painel semântico.

Painel Semântico

Um painel semântico deve ser construído com a finalidade de traduzir,


significar visualmente, através de imagens, os conceitos de um projeto.
Conceitualização Abstrata (conceitualizar)

Sendo assim, cada aluno desenvolveu seu painel, buscando referencial em sua
letra e os conceitos definidos para ela.
Figura 7 - Painel Semântico
Fonte: Arquivo Pessoal, 2018

Tipografia pessoal (fonte)

Desenhar uma fonte requer adoção de alguns procedimentos e técnicas, além


de conhecimento de fundamentos como serifa, ascendente, descente, haste,
legibilidade e leiturabilidade. Para aplicar estes conceitos, usando foi solicitado aos
alunos que primeiramente desenhassem sua fonte em um papel e que fossem
mantidas as proporções e espaçamento de cada letras.

Figura 8 - Tipografia com base na letra pessoal desenhada em papel


Fonte: Arquivo Pessoal, 2018

Todos os trabalhos foram todos entregues em formato físico para


posteriormente serem digitalizados, tratados e publicados no website.

Finalizada esta etapa, os alunos observaram seus trabalhos e aplicaram todas


as atividades na criação de uma estampa de camiseta com a técnica do lettering.

Lettering

O lettering, atualmente é uma das técnicas mais empregadas na criação de


estampas para aplicação em camisetas. Para que os alunos surdos pudessem
conhecer está técnica e sua aplicação visual, foi solicitado a eles que buscassem
referências de camisetas com este tipo de estampa.

Uma vez pronta a parte de conceituação e pesquisa de referenciais a


próxima etapa do projeto tipografismos foi criar as estampas com os alunos.

Construção das estampas


Cada aluno deveria criar até 5 estampas diferentes, escolher até duas e
aplicar digitalmente em sua camiseta. Alguns alunos criaram estampas
primeiramente em formato manual, resultando em trabalhos com criatividade e
estilo pessoal.

Figura 9 - Estampas manuais em lettering criada pelos alunos


Fonte: Arquivo Pessoal, 2018

Análise e discussão dos Resultados

De maneira geral, entre todos os alunos os temas das estampas trouxeram


basicamente os grandes temas: amor, humor, futebol, esporte, motivacional, jogos,
livros, personagens2, causas, locais, alimentação e música. A quantidade apresentada
de criações com estes temas foi:

2
Aqui cabe ressaltar que nesta categoria incluem citações de personagens de filmes,
influenciadores e pensadores.
Figura 10 - Pesquisa de camisetas com lettering
Fonte: Arquivo Pessoal, 2018

Para discutir também mais este percurso de sentido citamos Pillar (2001, p. 14)
quando a autora argumenta que:

"Inicialmente, a criança tende a considerar tudo o que vê na


televisão - filmes, desenhos animados, fotografias, fantasias ou
notícias - como reais. A realidade é o pano de fundo sobre o
qual se destaca a fantasia. A realidade ou o conceito tradicional
de realidade diz respeito às vivências com pessoas ou objetos
reais, em situações concretas. A televisão faz parte do
cotidiano das crianças, e por isso fica difícil para ela delimitar o
real e a fantasia, pois ambos se misturam na tela".

Como este estudo foi publicado em 2001, quando estava iniciando a era digital,
os computadores, smartphones e outros dispositivos digitais ainda não influenciavam
cotidianamente os adolescentes, como acontece atualmente. Se trouxermos esta
análise para o contexto atual, ainda mantém-se contemporânea, apenas
acrescentando tais meios digitais.

Aprimorando um pouco mais essa discussão acerca da influência das mídias


nos temas das camisetas produzidas pelos alunos, podemos dividir a análise entre os
temas propostos pelos alunos surdos e ouvintes.

Dentre os alunos ouvintes os temas que mais se destacaram foram as frases


motivacionais, o amor, frases de personagens públicos e jogos digitais.
Podemos fazer aqui algumas considerações essenciais relacionadas ao
percurso de sentido da turma de ouvintes: o tema amor foi basicamente utilizado por
adolescentes do sexo feminino, mesmo secundário, quando a estampa se utilizou da
letra de uma música tratando do assunto, tornando-se então um nível narrativo da
análise, explicada pela fase adolescente feminina, onde se busca ainda "o príncipe
encantado" amplamente difundido pela mídia, para promover o consumo, em nível
narrativo. Tal fato, também é explicado pela biologia, chamando a análise semiótica
para o nível discursivo, uma vez que na adolescência os hormônios estão se
"encaixando" no corpo. Analisando a primeiridade, o tema amor está presente desde a
nossa mais tenra idade, no amor de mãe por exemplo.

Figura 11 - Pesquisa de camisetas com lettering - CV3A


Fonte: Arquivo Pessoal, 2018

Já o tema jogos e esportes foi amplamente citado nas criações masculinas,


evidenciando ainda questões ligadas ao gênero na sociedade e sua influencia no
percurso gerativo de sentido. O detalhe biológico também é hormonal, evidenciado
pela competitividade masculina.

Um tema que transitou entre os dois gêneros na turma de ouvintes foram as


frases motivacionais, remetendo ao senso comum de se buscar cada vez mais "ser a
melhor versão de você mesmo."

Dentre os alunos surdos os temas transitaram por personagens de desenho,


esporte, alimentação e jogos digitais. A ausência de outros temas, como aconteceu na
turma de ouvintes pode ser atribuído à barreira da língua portuguesa ser o segundo
idioma do aluno surdo, a dificuldade alfabetização tanto em Libras quanto em
português por parte de alguns alunos.

Outro dado trazido para discussão e análise trata da influência ainda da


televisão no referencial conceitual e imagético destes alunos, uma vez que a citação
de eventos esportivos, como o futebol e personagens televisivos, como a MInnie®,de
Walt Disney, reforça esta influência, evidenciada talvez pela dificuldade de
comunicação imposta pela sociedade ao sujeito surdo, que se vê na condição de
expectador passivo deste conteúdo, uma vez que na grande maioria das vezes tal
material não possui ainda recursos de acessibilidade.

“[...] existem poucos ícones culturais nos EUA que


possam se igualar ao poder de significação da Disney.
(...) A Disney não ignora a história; ela a reinventa como
um instrumento pedagógico e político para assegurar
seus próprios interesses e sua autoridade e poder.(...) A
inocência é um dispositivo para ensinar as pessoas a se
localizarem em narrativas históricas, representações e
práticas culturais particulares.” (PILLAR, 2001, p. 44)

E no caso do futebol podemos citar ainda a referência social, cultural e de


gênero, uma vez, que também ao sujeito surdo homem lhe é imposta a prerrogativa de
que "futebol é coisa de homem".

Para a análise semiótica das imagens produzidas pelo projeto foi escolhidas
para imagem final, tratada e simulada, comparando conceitos atribuídos pelo aluno e
analisando basicamente imagem sobre o ponto de vista da semiótica greimasiana,
tentando apenas atribuir percursos gerativos de sentido.

Conclusão
Em um momento geral, tanto a pesquisa quanto o desenvolvimento do projeto
tipografismos alcançaram seus objetivos e justificativas tanto social, quanto acadêmico
e econômico.

De acordo Santaella (1983, p. 10)


“o nosso estar-no-mundo”, como indivíduos sociais que somos,
é mediado por uma rede intrincada e plural de linguagem, isto
é, que nos comunicamos também através da leitura e/ou
produção de formas, volumes, massas, interações de forças,
movimentos; que somos também leitores e/ou produtores de
dimensões e direções de linhas traços, cores (...) Somos uma
espécie animal tão complexa quanto são complexas e plurais
as linguagens que nos constituem como seres simbólicos,
seres de linguagem.”

O projeto foi bem recebido pela comunidade do Câmpus, que se engajou,


compartilhou e curtiu, como uma grande rede social, o trabalho dos alunos.

Referências

CARVALHO, Fabília Aparecida Rocha de. Considerações básicas sobre o percurso


gerativo de sentido. Disponível em:
<https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3470462 > Acesso em: 08.jul.2018

CAMPELLO, Ana Regina e Souza. Pedagogia Visual / Sinal na Educação dos


Surdos. In Estudos Surdos II / Ronice Müller de Quadros e Gladis Perlin (org.).
Petrópolis, RJ: Arara Azul, 2007.

LUPTON, Ellen. Pensar com tipos: guia para designers, esctritores, editores e
estudantes; São Paulo: Cosac Naify, 2006.

NASCIMENTO, Lilian Cristine Ribeiro. A PEDAGOGIA VISUAL NA EDUCAÇÃO DOS


SURDOS: DAS POSSIBILIDADES À REALIZAÇÃO. EDUECE - Didática e Prática de
Ensino na relação com a Sociedade, [S.l.], v. 3, p. 614-625, jan. 2014. Disponível em:
<http://www.uece.br/endipe2014/ebooks/livro3/73%20A%20PEDAGOGIA%20VISUAL
%20NA%20EDUCA%C3%87%C3%83O%20DOS%20SURDOS%20DAS%20POSSIBI
LIDADES%20%C3%80%20REALIZA%C3%87%C3%83O.pdf >. Acesso em: 01 out.
2018.

PILLAR, Analice Dutra. Criança e televisão: leituras de imagens. Porto Alegre:


Mediação, 2001. 155 p.

SANTAELLA, Lucia. O que é Semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2007

SCHILICHTA, Consuelo. Arte e Educação: há um lugar para a arte no ensino médio?


Curitiba: Aymará. 2009.

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