Pedagogia do oprimido, escrito entre 1964 e 1968, quando Paulo Freire estava exilado no Chile, foi
proibido pela ditadura civil-militar do Brasil, onde permaneceu inédito até 1974. Ancorado em situações
concretas, este livro desvela as relações que sustentam uma ordem injusta, responsável pela violência dos
opressores e pelo medo da liberdade que os oprimidos sentem. É um livro radical, sobre o conhecer solidário, a
vocação ontológica, o amor, o diálogo, a esperança e a humildade. Aborda a luta pela desalienação, pelo trabalho
livre, pela afirmação dos seres humanos como pessoas, e não coisas. É destinado aos revolucionários, que se
comprometem com os oprimidos, para, com eles e ao lado deles, lutar para construir um mundo em que seja
mais fácil amar. Em 1963, em Angicos, interior do Rio Grande do Norte, trezentos trabalhadores rurais foram
alfabetizados em apenas 40 horas, pelo método proposto por Paulo Freire. Esse foi o resultado do projeto-piloto
do que seria o Programa Nacional de Alfabetização do governo de João Goulart, presidente que viria a ser
deposto em março de 1964. [...]
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MEDO DA LIBERDADE
Paulo Freire inicia Pedagogia do oprimido falando sobre o medo da liberdade, um medo de
que não tem consciência quem o possui. No caso dos opressores, há até aqueles que se dizem
a favor da liberdade, mas buscam qualquer justificativa para negá-la aos oprimidos. Seu temor
é, na verdade, comprometer seu status quo.
No caso dos oprimidos, que pensam e se comportam de acordo com o que lhes prescrevem os
opressores, a liberdade significaria substituir a prescrição dos opressores por outro conteúdo
— e este conteúdo seria elaborado pelos próprios oprimidos, agora autônomos.
Em resumo, um sujeito teme a liberdade porque prefere a estabilidade (mesmo que
desfavorável) a uma liberdade arriscada, a uma situação à qual não se sente preparado.
CONTRADIÇÃO OPRESSOR-OPRIMIDO
Os opressores agem sobre os oprimidos impondo-lhes sua consciência, suas ideias, suas
vontades. Exploram, violentam, desumanizam os outros e, ao mesmo tempo, se desumanizam
nessa desumanização.
Os oprimidos, por sua vez, hospedam os opressores em si mesmos, já não se veem como
sujeitos da sua própria história, dos acontecimentos do mundo, muitas vezes acreditando
(sendo levados a acreditar) no destino ou na vontade de Deus como explicação para sua
miséria, para seu sofrimento, para as injustiças de que são vítimas. Também podem se
identificar com os opressores, querendo se tornar iguais a eles, atraídos por seu padrão de
vida.
EDUCAÇÃO BANCÁRIA
A educação bancária, um conceito muito conhecido de Paulo Freire, se refere a uma prática de
ensino que reproduz a sociedade opressora, em que o educador se coloca em posição superior,
de dono do saber — um saber que ele transfere, deposita nos educandos.
Aos educandos, os recipientes, não resta outra coisa a não ser arquivar os depósitos,
memorizá-los, sem qualquer possibilidade de pensar autenticamente e de criar. Só lhes resta
se adaptar.
Na medida em que esta visão “bancária” anula o poder criador dos educandos ou o
minimiza, estimulando sua ingenuidade e não sua criticidade, satisfaz aos interesses dos
opressores: para estes, o fundamental não é o desnudamento do mundo, a sua
transformação (p. 83).
É importante destacar que nem todos os educadores que praticam a educação bancária sabem
que estão a seu serviço, já que também são fruto dessa mesma concepção de educação.
DIALOGICIDADE
É no diálogo que os seres humanos se encontram e se reconhecem seres humanos. É no
diálogo que conquistam o mundo e se libertam a si mesmos e uns aos outros. Assim, sendo o
diálogo uma atividade tipicamente humana, nenhum ser humano é o dono da palavra, da
mesma forma que nenhum ser humano pode ser proibido de pronunciá-la.
O diálogo verdadeiro não é a transferência de conceitos de um sujeito a outro, nem a troca
vazia de ideias, tampouco uma discussão para se saber quem tem razão ou para um indivíduo
conquistar o outro. “É um ato de criação” (p. 110). Só há diálogo quando existe amor ao
mundo e aos homens, quando existe humildade e fé na capacidade das mulheres e dos
homens.
HOMEM INCONCLUSO
Os seres humanos são seres inacabados (seres que “estão sendo”) vivendo uma realidade
histórica — e, portanto, também inacabada — e têm consciência de sua inconclusão. Homens
e mulheres estão sempre em busca do “ser mais”.
Isso quer dizer que, seja qual for a fase da nossa vida, não devemos imaginar que chegamos
ao seu fim. Sempre haverá um caminho a percorrer, uma descoberta. Estamos sempre em
movimento, sempre em transformação, em um mundo que também não é estático.
É nesse contexto que se insere a educação permanente, que não deve ser uma educação que
acomoda, mas uma educação que destaca e estimula a mudança.
quanto mais pessoas sem cultura ( educação) melhor para nossos governantes. o que vamos
questionar se não sabemos o q questionar, não sabemos dos nossos direitos.
Realmente o professor é um agente transformador desse contexto, mas tem seu poder
cruelmente podado por um tal “currículo” que na verdade representa o SISTEMA. Cabe a
decisão se queremos ser transformadores da realidade social ou meramente seguidores do
sistema, reprodutores de alienação. Nosso queridíssimo Paulo Freire nos alerta dessa
decisão.
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