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Nelson Motta

NOVA YORK É AQUI

( MANHATTAN DE CABO A RABO )

Editora Objetiva, 1997

Para Costanza,
paz, amor e alegria

À memória de Paulo Francis,


o mais carioca dos novaiorquinos

PASSAPORTE

Nova York está cada vez maior e melhor, mais divertida e menos perigosa.
E para brasileiros está cada vez mais presente, mais perto e mais acessível.
Para gostar e aproveitar não é preciso muito, além de um mínimo de
curiosidade, um pouco de inglês e algum dinheiro. Há cidades boas, médias e
ruins, mas sem dinheiro algum são todas péssimas, embora algumas fiquem
mais péssimas do que as outras. E falando inglês fica tudo muito melhor, tudo
faz muito mais sentido, fica tudo mais fácil. Ou menos dificil. Mas não precisa
ter vergonha do seu sotaque, porque aqui todo mundo tem um. Latinos,
negros, orientais, europeus, eslavos, árabes, judeus, irlandeses, índios, fazem
Nova York ser o que é, maior, mais diversa e mais intensa. Uma das graças da
cidade é esta, a mistura, a variedade, a diversidade de raças, origens e culturas.
Se todo mundo aqui é meio estrangeiro, então todo mundo se sente um pouco
menos estrangeiro aqui.
Não conheço Nova York como a palma de minha mão. Ninguém conhece.
Por seu volume e potência, por sua vitalidade e diversidade e sobretudo por
sua permanente e vertiginosa transformação. O que estava não está mais, onde
era bom não é mais, o que era isso virou aquilo. A metro, a toneladas, aos
montões: ou então esgotou. Do melhor e do pior, tudo é grande, variado,
exagerado: há gosto para tudo, há para todos os gostos. Mas mesmo assim a
cidade às vezes pode ser chatissima, às vezes é feia e triste, às vezes parece
mesquinha e provinciana, mas é quase sempre vigorosa e vibrante,
freqüentemente emocionante. Às vezes dá a sensação (como em Tóquio) de
que se está vivendo no futuro, numa espécie de quase-futuro, um tempinho à
frente.
Isto não é exatamente um guia nem um livro de crônicas, é mais uma coleção
de impressões e sugestões, de reflexões e conexões, de descobertas e
informações. Pessoais e transferiveis. Guias de Nova York há vários ótimos,
completos e detalhados, como os de Katia Zero ou o célebre Zagat, de
restaurantes. Há até guias de restaurantes só para fumantes, como o Smoker's
Guide. Guias de " clubes de cavalheiros", de gays, de bares, de compras e
museus, guia de tudo. Esta é uma seleção de experiencias, lugares, eventos,
serviços, diversões e artes, absolutamente pessoal, arbitrária e transitória, já
que - como o autor - tudo aqui está mudando o tempo todo, cozinheiros estão
trocando de restaurantes, lojas estão trocando de estoques e de endereço,
shows e peças estão entrando e saindo de cartaz, milhões estão entrando e
saindo da cidade. Só as ruas, os rios e os parques continuam (quase) sempre os
mesmos. O resto é risco: telefone, confira, reserve. Em Nova York tem
telefone em tudo que é lugar e todos dão linha e todos atendem.
Uma boa dica para não gostar, não entender e não aproveitar é ver, ouvir e
andar com deslumbramento, paranóia ou ressentimento. A cidade é segura,
prática e eficiente. Mas como bem sabem os brasileiros, olho vivo e faro fino
são indispensáveis. Com voces, o melhor e o pior de Manhattan. Divirtam-se:
Nova York é aqui.

RODANDO EM MANHATTAN
Com seus 12 mil carros celebremente amarelos, Nova York tem um dos
melhores serviços de táxi do mundo, tanto em quantidade como em conforto e
preços - e alguns dos piores taxistas do planeta, vindos de todos os confins da
Terra. Mesmo assim, ou por isso mesmo, tenha compaixão e dê sempre
gorjeta: eles vivem disso e é um emprego que não se deseja a um inimigo.
Como são todos tão estrangeiros como você, não se envergonhe de dar seu
itinerário bem ex-pli-ca-do, mesmo que pareça que você não sabe falar inglês
direito. Eles também não sabem. E não tente impressionar esses pobres diabos
com seu inglês maravilhoso: eles não vão entender nada. Mas fique tranqüilo:
ninguém vai te roubar, ninguém vai "envenenar" o taxímetro, ninguém vai
fazer o caminho mais longo de propósito para tomar-lhe uma grana: as
corridas em que eles ganham mais são as curtinhas, por causa da bandeirada.
Para eles é melhor várias curtinhas do que uma longa, ao contrário do Brasil,
onde o cara fica furioso porque você paga uma bandeirada (muito mais cara
que a de Nova York) para uns poucos quarteirões.
Mas se estiver chovendo ou for entre 16:30 e 18:30 hs, esqueça. E dê graças
a Deus que Nova York é uma cidade maravilhosa para se caminhar e que tem
um dos maiores e melhores metrôs do mundo, razoavelmente limpo, muito
eficiente, absolutamente seguro (pelo menos até as 22 h) e relativamente fácil
de usar para sair de um sufoco. O básico é você saber se quer ir para cima de
onde está ou para baixo: uptown e downtow, cada um tem sua entrada
separada. Preste bem atenção porque essa é a bobeira-básica. Depois é
simples: voce compra um "token" sem se assustar com o mau-humor da
negona atrás do guichê, que é um clássico local, paga U$ 1,50 e pronto. Se
errar, não tem problema: salta na estação errada e vai para o outro lado pegar o
trem certo. Todo mundo anda de metrô em Manhattan, onde punks e
estudantes se juntam a senhoras elegantes e senhores respeitáveis no empurra-
empurra geral na hora do rush, quando não adianta você ter uma Mercedes
com motorista porque vai apodrecer no trânsito alucinante, onde o mau-humor
e a grosseria nova-iorquina imperam. Melhor o metrô. Ou então o sonho de
consumo de Paulo Francis: um helicóptero com chofer.
Às vezes - quando são quatro pessoas - é mais jogo alugar um carro com
motorista para um programa noturno, tipo um show no Teatro Apollo no
Harlem, ou para ir a um jogo ou um show no Giants Stadium, na base de U$
40 por hora. Para o aeroporto são U$ 30 e eles são melhores que os táxis
amarelos ( mesmo preço ), porque seus motoristas estão mais familiarizados
com as "quebradas" e itinerários alternativos em vez de enfrentar os
engarrafamentos exasperantes das freeways que levam ao Kennedy.
YES: 1-800-2215249 - o dono é brasileiro, falam português, tem bons
carros, são corretos e eficientes. Ou as inesquecíveis TEL-AVIV: 777-7777 e
CARMEL 666-6666. Mesmos preços, só que não falam português. É bom
reservar um pouco antes.
Fiquem tranqüilos com os motoristas de taxi, que ladram mas não mordem:
como são todos imigrantes em situação precária (senão não pegariam um
rabo-de-foguete desses) a última coisa que querem é aprontar alguma.
E não se assute quando entrar no taxi e ouvir uma voz gravada fazendo
gracinhas, elogiando a sua aparencia e pedindo para voce colocar o cinto de
segurança. E quando for sair também: a voz recomenda recolher o que é seu e
pedir o recibo ao motorista. São vozes de vários comediantes locais e estrelas
internacionais e a idéia é do prefeito Giuliani, em momento techno-maia. A
gravação de Placido Domingo é a melhor porque faz qualquer um perder a
vergonha do sotaque.

JORNAL DOS BAIRROS

Para se situar na cidade é básico saber que as ruas se dividem em West (


da Quinta até a 12a. Avenida ) e East ( da Quinta até a Primeira Avenida e até
o rio ). O que indica a direção North ( Uptown ) é o Central Park e o que
indica o rumo South ( Downtown ) são as torres do World Trade Center. Pela
agulha do Empire State voce sabe onde é Midtown e a Broadway não serve de
referencia para nada porque cruza a cidade na diagonal, da Nona Avenida à
Terceira
Nova York não tem bairros, tem “ neighborhood “, a vizinhança, a área.
E como não tem praia o Central Park é Avenida Atlantica deles, com a
vista mais valorizada da cidade, dinheiro velho e novo se misturando
freneticamente em apartamentos antigos e modernos nas quatro margens do
parque.
Como tudo em Nova York, o Central Park também tem North, South, East
e West. Começa na Rua 59, que se chama Central Park South, e termina na
Rua 110, Central Park North, inicio do Harlem. A parte mais chique é a East,
na Quinta Avenida, onde morava Jacqueline Kennedy. Do lado oposto do
parque, no Central Park West, com vista tão cara e deslumbrante quanto,
moram Yoko Ono e Madonna. Ficou claro ?
Midtown ( da Rua 59 até a Rua 14 ) é aquele miolão turistico e de
business, cheio de tudo, lojas, escritórios, teatros, cinemas e restaurantes. O
coração de Midtown é o Times Square - o clássico postal em movimento - em
permanente transformação: agora está deixando de ser bagaceiro e tornando-se
mais familiar e mais seguro. O comércio pornô da Rua 42 está se mudando, já
abriu a Virgin Megastore, a Disney e a MTV estão chegando. Os camelôs
continuam lá. E as armadilhas-de-turista também.
Da Rua 60 até a Rua 90, do lado East, é a área mais rica e mais elegante, do
Metropolitan e do Guggenhein, do alto fashion e dos antiquários, de tudo que
é bom e caro, restaurantes, lojas, hotéis, consultórios, supermercados, nem
tudo é melhor mas é tudo mais caro no Upper East Side.
Já o Lower East Side, o Baixo East, ( da Rua 14 até a Houston ) é reduto
punk e funk, latino, heavy, contemporaneo, alternativo, independente, ou seja,
prá lá de moderno. É lá que Caetano Veloso tem seu apartamento. Já o de Gal
Costa é no Upper East Side. Não que a área seja tão pesada quanto parece,
como gosta de parecer, mas não é mais o wild side dos passeios de Lou Reed.
Muito jovem, muito barulho, muitos mini-clubes, muita atividade, muita droga
na rua. E, naturalmente, muita polícia. É o Baixo Manhattan, também
conhecido como East Village. Animado àààà beça !
Enquanto isto, no outro lado da cidade, à Oeste da Quinta Avenida, se
concentra a maior comunidade gay da cidade: o West Village, que começa na
Houston e vai até a Rua 14 do lado West. Se bem que o dominio gay já se
estende até Chelsea, que começa na Rua 14 e vai até a Rua 23. É a área de
maior progresso, renovação e valorização da cidade, triunfo administrativo do
gay and lesbian no poder.
Já o Upper West Side, da Rua 60 até a Rua 90, é área tipicamente oitentina
de base yuppie, com seu estilo casual sofisticado e suas modernidades. Area
culta da cidade, cool, liberal, pós-graduada, Lincoln Center, Museu de
História Natural, a comunidade é de jovens de sucesso e bem sucedidos de
meia idade, com alto teor de new-yorkicidade.
Da Rua 110 para cima já é Harlem, o legendário e histórico bairro negro,
que ao contrário do que se pode pensar não é um favelão mas uma área
também de classe média, com apartamentos muito modernos e confortáveis e
algumas vizinhanças limpas e seguras. Outras áreas mais para cima ainda
estão entre as mais pobres da cidade e, dizem, mais perigosas. Mas o Centrão
do Harlem, em torno da Rua 125, é muito animado e absolutamente pacífico.
Muito pior que o pior do Harlem é o Baixo Harlem, o Spanish Harlem, que é
bom saber muito bem onde é - para nunca ir lá: da Rua 110 até a Rua 125 no
lado East.
Outra área charmosíssima, cenário habitual de Woody Allen, é a do
Gramercy Park, que começa na Lexington Avenue com a East 21st St., com
seu belíssimo parque privê, o National Arts Club, construções clássicas e
elegantes, oh, tão old New York. Do Gramercy Park sai uma pequena rua
também muito charmosa e pouco conhecida, a Irving Place, cheia de
restaurantes: a área em volta do Gramercy Park é conhecida pela quantidade
assombrosa de restaurantes para todos os bolsos e paladares. Voce se sente
ultra novaiorquino no Gramercy Park.
O Village, bem, é o bairro boêmio, como se dizia antigamente, no tempo
do existencialismo. Mas é sempre charmoso, simpático, meio europeu, meio
hipponga, meio alternativo, meio jazzy. Reduto sessentino e setentino, o
Village tem seu centro na Washington Square e também se divide em West e
East, jazz e punk, artesanato e piercing, maconha e heroina, respectivamente.
O lado West é talvez a área mais charmosa da cidade, com seus brownstones
antigos, suas árvores, seus bares, cafés, restaurantes e lojinhas elegantes, seu
charme anglo-parisiense no coração de Manhattan. Vai da Houston até a Rua
14.
Depois do Village é o So-Ho ( que quer dizer SO-uth of HO-uston e
começa na Houston St. e vai até a Canal St. ), que há 20 anos só tinha
armazens decadentes que viraram lofts e lojas chiques e hoje é uma área mais
moderna, mais descolada, mais "artística", mais "conceitual", e mais cara, que
o vizinho Village. E também muito mais animada, especialmente aos sábados.
É onde se vê a moda-de-ponta, se ouve o ultimo grito, se vê e se é visto. O
clima é mais relaxado e mais europeu: tem padarias que abrem às 11 da
manhã. Parece que a cada dia abre uma nova galeria ou um novo restaurante
no So-Ho.
Tri-Be-Ca é o TRI-angle BE-llow ( abaixo de ) CA-nal St., que é a rua da
bagaceirada falsificada, o grande bagulhódromo da cidade. Depois é que
começa Tri-Be-Ca, que é o So-Ho do So-Ho, mais moderno ainda, mais
sofisticado, tão caro quanto: John Kennedy Jr. e Carolyn Besset moram lá. É o
máximo do minimal, a área low profile ( e high price ) mais visivel e
prestigiada de Manhattan.

PS - Não confundir jamais "Park Avenue" com "Park Avenue South", que é
como a célebre avenida se denomina do tunel da Rua 45 para baixo, até a
Union Square. É a mesma rua, com nomes diferentes, mas os numeros são
iguais e se repetem nas duas, podendo levar um desavisado ao desespero: o
150 da Park Avenue é uma coisa e o 150 da Park Avenue South é outra e
assim por diante.

CAMA & BANHO


Todo mundo sabe que Nova York tem uma vasta e eficientissima rede de
hoteis e quase todo mundo sabe quais são os melhores hoteis de Nova York e
que, não coincidentemente, são também os mais caros: THE MARK (25 East
77th St., tel. 744-4300 / $ 350), PIERRE (795 Fifth Avenue, tel. 838-8000 / $
320), CARLYLE (35 East 76th St., tel. 744-1600 / $ 360 ), SHERRY
NETHERLAND (781 Fifth Avenue, tel. 533-2800 / $ 400 ), FOUR
SEASONS (57 East 57th St., tel. 758-5700 / $ 500), o chique e low profile
STANHOPE, em frente ao Metropolitan (995 Fifth Avenue, tel. 288-5800 / $
320), o PLAZA ATHENEE ( East 64th St. e Madison Avenue, tel.734-9100 /
$ 350 ), classicos, elegantes, charmosos, com ótimos quartos e servicos. O
PARK LANE ( Central Park South e Sexta Avenida / $ 280 ) não está nesta
turma mas é discreto e tem quartos grandes com lindissima vista para o
parque. Quartos de fundos, nem de graça. O ST. REGIS, ( Quinta Avenida e
55th St. / $ 280 ), reformado, no point dos points, também tem o seu valor,
pelo bar e o restaurante. Todo renovado e agora parte da cadeia Westin de
Chieko Aoki (Caesar Park) o histórico, clássico e legendário ALGONQUIN
(59 West 44th Street, tel. 840-6800 / $ 250 ) está vivo e ainda lá, e cada vez
mais, com seu Oak Room, a Broadway ao lado, no coração da cidade oh tão
old New York. Gente de teatro adora. Arnaldo Jabor fica lá.
O PLAZA(768 Fifth Avenue, tel. 759-3000 / $ 260) e o WALDORF
ASTORIA (301 Park Avenue, tel. 355-3000 / $ 280 ), bem, são históricos, são
antigos, são monumentos da cidade, são até emocionantes de se ver ( por fora,
como nos filmes de Woody Allen ) e fingem que ainda são chiques. Suites e
super suites são naturalmente grandes, confortáveis e mega-bregas, caríssimas,
mas os apartamentos comuns são acanhados e feiosos e o serviço assim-assim
( pessoal atencioso, mas poucos elevadores, filas, muita gente) e os dois
definitivamente não estão mais entre os mais-mais, embora sejam quase tão
caros quanto os melhores. O Waldorf Astoria, onde viveu Cole Porter, é tão
brega que Bill Clinton fica lá nas suas passagens pela cidade. E o Plaza, bem,
o Plaza é Trump. Chiques são os outros.
Como o discreto, pequeno e elegante, art-decô e low profile, clássico
LOWELL ( 28, East 63rd St., tel.838-1400 / $ 360 ). Ou como o discretissimo,
ultra-low profile IRVING INN (56 Irving Place, tel. 533-4600 / $ 320 ), um
pequeno hotel de estilo ingles numa charmosissima brownstone na vizinhanca
do Gramercy Park. São só 3 andares e 10 apartamentos, todos diferentes,
todos decorados com antiguidades, e todos com alta tecnologia: elegancia e
eficiencia, talento e formosura. Bichinhas simpáticas e educadas pilotam a
portaria e os salões de chá, "old New York" do melhor. Tem meio o clima do
legendário L'Hotel de Paris, mas os quartos são muito melhores. O hotel é tão
discreto que não tem sequer o nome na porta, apenas uma pequena placa
dourada, onde tem escrito, minimo, o numero 56. É dificílimo de achar. E
mais ainda conseguir uma reserva.
Como também é dificil conseguir lugar no novo hotel do So-Ho, o SOHO
GRAND HOTEL ( 310, West Broadway, tel.965-3000 ) no coração da
modernidade. Só com bastante antecedencia, o que não é hábito muito
brasileiro.
Quem quer ficar ali na área do Lincoln Center, de frente para o Central Park,
tem sua melhor opção no MAYFLOWER ( Central Park West com West 61th
St., tel. 265-0060 / $ 200 ), que é semi-chique e muito confortável e eficiente.
O pessoal que se acha mais descolado e yuppies de todas as idades adoram
o pós-modernismo do ROYALTON (44 West 44th St., tel. 869-4400 / $ 280 )
e do PARAMOUNT (235 West 46th St., tel. 764-5500 / $ 200 ) . Tem muita
gente de musica, modelos, fotografos, o que naturalmente já lhes tira parte da
classe. Quartos acanhados, servico precário, frequencia barulhenta. Vale uma
passada pelos bares para ver a fauna. E fazer pipi nos famosos banheiros de
Philip Stark no Royalton.
O GRAMERCY PARK (2 Lexington Avenue, tel. 475-4320 / $ 160 - as
suites), antiquissimo e que já teve seu charme (João Gilberto morou lá nos
anos 70, Walter Salles Jr. gostava muito, eu mesmo fiquei lá, feliz, muitas
vezes quando ainda era não-residente) continua numa região adorável, com
direito à chave do Gramercy Park, que é pequeno e lindo e exclusivo, mas o
hotel está caidaço. É barato, mas se voce ficar num dos quartos velhos vai ter
saudades de pensões brasileiras tipo penico-e-moringa. Mas eles tambem tem,
pelo mesmo preço, suites reformadas (renovated) que são grandes e claras,
com vista para o parque: ou elas ou nada. Pelo tamanho, são muito baratas.
Não, o velho Gramercy não tem baratas, mas quase.
Para quem tem estômago forte e gosta de viver perigosamente o indicado é
o centenário, histórico e decadente CHELSEA HOTEL ( 222, West 23th
St.,tel. 243-3700 / $ 160 ), ainda belo com seus balcões de ferro batido, o
favorito de Janis Joplin, ex-pouso de artistas plásticos e intelectuais rebeldes
nos anos 70, onde Sid Vicious esfaqueou Nancy Sprungen e grandes
personagens do rock e do punk tiveram suas overdoses. Courtney Love, claro,
morou lá durante um tempo, no início de sua carreira. De suas carreiras, no
caso.
Um caso a parte é o DELMONICO (502 Park Avenue, tel. 533-2500 / de $
250 a $ 400 ), que está num ponto maravilhoso e tem ex-ce-len-tes suites,
algumas gigantescas, todas confortaveis e bem equipadas, por um preço muito
razoável. Eu diria até que no custo-beneficio é o melhor negócio da cidade.
Não tem room service mas todos os apartamentos tem cozinha e geladeira e
você pode encomendar tudo em qualquer das muitas "delis" 24 horas da
vizinhança. E ainda desfrutar desse maravilhoso prazer banal americano que é
uma visita a um supermercado. É o hotel de Mirtia Galotti, o que diz muito de
sua qualidade. Eles tem representante do Rio de Janeiro para reservas, com
ótimos preços conforme a estação (021-240-4068). Talvez a unica
inconveniencia seja a grande quantidade de brasileiros.
Uma opção mais barata, mas interessante, com muitos prós e contras, é o
WESTPARK ( 308 West 58th St., tel.246-6440 / $ 110 ), um hotel velho e
pequeno porém de frente para o Central Park, na esquina com Nona Avenida,
onde voce pode conseguir uma suite espaçosa, clara e confortável por U$ 140.
Sim, com vista para o Central Park e para Columbus Circus: o máximo. Claro,
a decoração é pavorosa e pior, exuberantemente colorida, tipo tapetes roxo
batata/cortinas limão. E os banheiros são velhos e apertados. E só tem dois
elevadores, pequenos e lentissimos. E a recepção é uma decepção. E não tem
room service. Mas também por esse preço o que é que voce queria ? Se for
uma suite, de frente, vale as penas. Se não, fuja correndo.
Os jovens animados e com espirito esportivo se dão bem no GERSHWIN (
7 East 27th St., tel.545-8000 / $ 85 ), que é todo moderno, com decoração
pop/alternativa clima Warhol/Lichtestein e relativo conforto, bem relativo, e o
ponto não é lá essas coisas. Mas é muito simpático e muito movimentado.
Pelo preço, está sempre cheio de jovens do mundo inteiro. Animado ààà beça.
Na mesma linha alternativa-jovem, de mais simpatia e informalidade que
conforto e eficiencia, só que num ponto muito melhor ( no coração do Village,
em plena Washington Square ), mas com acomodações mais antigas do que o
Gershwin, fica o legendário ex-beat, ex-hippie, ex-punk WASHINGTON
SQUARE HOTEL ( Washington Square com MacDougal St., tel.777-9515 / $
90 ). A boa é que o hotel, parte dele, foi renovado. O jogo é saber que parte.
A grande vantagem do baratíssimo OLCOTT ( Central Park West com
West 72nd St., tel.877-4200 / $ 90 ) é a proximidade do Central Park, e a
grande desvantagem é que fica à altura da Rua 72, meio longe de tudo. Menos
do Museu de História Natural. E dá para ir à pé até o Lincoln Center. É uma
espécie de apart-hotel dos anos 50, quartos grandes, cozinha, conforto básico.
Bem básico. O melhor é uma suite, que sai por U$ 115. Mas é bom lembrar
que um taxi de lá para o So-Ho sai mais de U$ 10.
SHERATON ( Sétima Avenida e West 52th St. / $ 180 ) e HILTON (
Sexta Avenida e West 54th St. / $ 180 ), bem, são Sheraton e Hilton,
impessoais, enormes, confortáveis e eficientes, americanissimos como
qualquer Holliday Inn. Chatissimos. Evite também decididamente o
Pennsilvania, em frente ao Madison Square Garden, que embora tenha quartos
enormes, conforto relativo e preços convidativos, fica num lugar horroroso,
tem péssimos serviços e tem tantas lojas vagabundas no seu mega-lobby que
parece um bazar. Quando se chamava Ramada Inn recebeu de Rita Lee o
apelido de Roubada Inn.
Como última advertencia, que deveria estar na seção "Ciladas", os hotéis
baratos "de brasileiros" na Rua 46 (Remington e Wentworth) ou o Doral Inn,
na Lexington. Evite se puder, se o "pacote" tornar inevitável, fique o menos
possivel no quarto e não diga a ninguém que está lá. E não volte nunca mais.

PS - Os prêços indicados são aproximados, para um apartamento de casal


standard. E variam conforme a temporada. Telefonar é um must. É claro que
num mesmo hotel sempre existem apartamentos muito melhores e muito
piores, pelo exato mesmo preço. Sorte e conversa ( e gorjetas na portaria, ao
chegar ) ajudam. E também é bom lembrar que sobre o preço da diária tem a
taxa de 16.2% e mais U$ 2 por dia de "taxa de ocupação".

CORREÇÃO ALIMENTAR

- Por favor, eu queria um omelete sem colesterol, com bacon vegetal, duas
torradas de pão sem trigo e um café descafeinado com leite sem lactose. Com
adoçante, por favor.
Parece sketch de humor mas é o breakfast que muitos americanos -
alimentarmente corretos - estão pedindo. E comendo !
O novo ôvo chama-se "egg beaters" e é o nosso bom e velho ôvo em nova
embalagem ( como se pudesse ser criada uma melhor do que a original) e nova
composição - já com todo o colesterol eliminado ( sabe Deus como ! ). Tem
gosto de coisa amarela. Não serve nem pra jogar em politicos abusados,
quanto mais para comer.
O leite sem lactose, ou é de soja ou de arroz ou de outras coisas que não se
sabe bem o que são mas que com certeza não são produzidas por nossas irmãs
vacas ou cabras. É branquinho, encorpado e parece igualzinho ao original.
Mas naturalmente tem gosto de uma coisa branca sem gosto. Claro: também
não tem uma gota de gordura, mas isto o "skim milk" também não tem -
embora tenha gosto de água.
Para evitar a maligna cafeína a moda é o café descafeinado. Mas quando
voce fica sabendo quais os processos, as quimicas, as reações, a porcariada
que faz o café, pateticamente, descafeinar...melhor pedir uma coca-coca.
Não uma "classic", que é comprovadamente veneno cafeinado. Mas uma
coca-cola que naturalmente é diet, sem açucar (mas com pavorosos adoçantes
quimicos), e agora com a novidade: sem cafeína. Sem açucar e sem cafeína (
que substituiu, diz a lenda, a cocaína dos primeiros tempos) a coca virou uma
água preta, embora não seja politicamente correto falar pejorativamente desta
cor. A coca tem tanta cafeína quanto um copo de café "do bão" e os
alimentarmente corretos dispensam os dois.
Falsas manteigas então nem se fala. Não, não se fala de margarinas - que
perto do que é vendido como "substituto de manteiga" - são consideradas
manjar dos deuses. A mais popular chama-se " You dont believe it's not butter
" ( Voce não acredita que não é manteiga ), isto mesmo, o nome já é uma
frase, um slogan. O gosto daquela pasta amarela e gordurosa não pode ser
descrito em ambientes familiares. No entanto vende como água e é consumido
- acreditem - como manteiga.
Vender como água não é modo de dizer: água está vendendo muito nos
Estados Unidos, um país onde em qualquer lugar se pode beber água da
torneira com absoluta segurança - embora se tenha que tapar o nariz para não
sentir o cheiro de cloro. Àguas minerais do mundo inteiro, aos borbotões, em
qualquer supermercado: águas francesas, italianas, australianas, canadenses,
algumas delas, como a Perrier e a San Pellegrino, nos bares chegam a U$ 3,50
a garrafinha de um copo.
Carne de soja não é novidade, depois da ascenção do vegetarianismo. Mas o
bacon vegetal é absoluta novidade e faz sucesso. Juro: são fatias de uma coisa
esbranquiçada e com umas faixas vermelhas que voce coloca no micro-ondas
e em cinco minutos se transforma em bacon borbulhante, mas sem gordura,
sem colesterol, sem açucar, sem sal, sem porco, sem bacon. Mas - acreditem -
o gosto e a textura são parecidissimos com o original - embora tudo seja
colorido e aromatizado artificialmente. Com o que, não se sabe. Só se sabe
que coisa boa não pode ser.
Aqui perto da minha casa - na Union Square - tem uma famosa feirinha de
"fazendeiros" duas vezes por semana. São aqueles caminhões enormes,
refrigerados, poderosos, cheios de verduras e frutas e vegetais "organicos",
isto é, foram plantados e cultivados ( diz a lenda ) sem fertilizantes, pesticidas,
sem nada. E porisso custam o dobro - embora quase nunca sejam melhores (
pelo menos de gosto ) do que os "não-organicos". Vendem barbaridades, o
pessoal acha chique e saudável. Coisas de cidade grande.
Enquanto aguardo o cigarro sem nicotina, o uisque sem alcool e o lexotan
vegetal, não posso deixar de pensar que nos anos 60 e 70, antes do sexo com
camisinha, todo mundo comia tudo ( e todos ! ) sem maiores consequencias.
Não se "morria mais" naquele tempo do que agora, apesar do açucar, do
colesterol, da cafeína, da lactose, dos pesticidas, dos fertilizantes, do alcool e
da nicotina - e se vivia com mais alegria.

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