Aula 3 - Ciência normativa da língua x Filosofia da Linguagem

Uma coisa é a gramática - como já foi definida no curso - e outra coisa é aquilo que
podemos chamar de "Filosofia da Linguagem". A gramática, como vimos, serve à linguagem.
Sendo ciência serviçal, ordena-se a algo. Cabe à filosofia da linguagem investigar o quanto um
conceito - que é uma abstração da realidade - corresponde a esta e em que grau - isto é filosofia
da linguagem.

Para Pachá, a maior ameaça à integridade da lingua portuguesa, não são os

estrangeirismos (que são inevitáveis), nem as gírias (que em alguns casos são extremamente bem
vindas), a maior ameaça é sintática, passa por esse eixo sintagmático.

A língua é movimento. A língua é o movimento conceitual em forma de palavras que

espelham o movimento das coisas reais. É movimento porque tem verbo, é movimento pois
flexiona-se e cada frase que falamos, desde o mais prosaico grunhido, até a exposição dogmática
de uma tese, ela é aquilo que Aristóteles chamava de "trânsito de uma potência ao ato", ou seja,
de uma possibilidade real para uma atualidade. A língua, portanto, é transitiva. Falando em
transitividade, o que seria um objeto direto em português? O conceito de objeto direto está
inteiramente ligado ao conceito de transitividade. Nós falamos de transitividade em linguagem
quando um verbo, sozinho, não é suficiente para dizer tudo o que se quer dizer do sujeito. O
objeto direto é um elemento indispensável para a plena compreensão daquilo que foi expresso
pelo verbo. O objeto direto, portanto, é um signo desse "movimento da língua". Há, deve-se
salientar, o objeto direto preposicionado. E esta preposição é, quase sempre, de caráter afetivo,
por exemplo: Amar a Deus sobre todas as coisas.

Para aqueles que querem bem escrever, aconselham os professores, que se busque os
modelares. O conhecimento normativo é indispensável, mas só ele não basta. É indispensável
conhecermos a língua tal como ela é utilizada na realidade. Mal comparando, por uma analogia,
a gramática é o livro de anatomia; os textos, o corpo.

O gerúndio, entre várias outras características, tem a de pertencer sempre a uma oração
subordinada - e esta oração é reduzida. Há, na nossa língua, um vício: o gerundismo.