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Cardiopatias Congênitas:
Orientações e Condutas
de Tratamento
*Conteúdo destinado a profissionais da área da saúde
Cardiopatias Congênitas: Orientações e Condutas de Tratamento

Índice
Introdução ........................................................................................................................ 4
Principais Cardiopatias Congênitas............................................................................... 5

1 Comunicação Interatrial (CIA) ................................................................................... 6


2 Comunicação Interventricular (CIV) ..........................................................................7
3 Persistência do Canal Arterial (PCA)......................................................................... 9
4 Defeitos do septo atrioventricular (DSAV) .............................................................. 11
5 Coarctação de Aorta (CoAo) ...................................................................................... 12
6 Estenose Aórtica (EAo) ............................................................................................... 13
7 Estenose Valvular Pulmonar...................................................................................... 14
8 Tetralogia de Fallot (T4F) ........................................................................................... 15
9 Patologias semelhante à T4F com correção biventricular possível ..................... 16
10 Patologias semelhantes à T4F com correção biventricular não possível .......... 17
11 Transposição de Grandes Arterias (TGA) .............................................................. 18
12 Drenagem venosa anômala de veias pulmonares (DVAVP) ............................... 19
13 Truncus Arteriosus ................................................................................................... 20

Orientações sobre a operabilidade em lesões com shunt ........................................ 22

Referências Bibliográficas .............................................................................................. 23

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Cardiopatias Congênitas: Orientações e Condutas de Tratamento

Introdução
As Cardiopatias Congênitas são definidas como anormalidades na estrutura, e/ou na função
cardiocirculatória presentes antes mesmo do nascimento, apesar de algumas serem diagnosti-
cadas tardiamente. A doença atinge aproximadamente 1% das crianças nascidas vivas.

As anormalidades na formação da estrutura cardíaca alteram a As crianças com cardiopatias congênitas apresentam sintomas
anatomia normal do coração, podendo estar relacionadas às vál- como pele de coloração roxeada, choro constante e/ou cansaço
vulas, paredes internas ou mesmo artérias do coração. A maioria ao mamar. Geralmente os sinais despertam a atenção durante a
das cardiopatias congênitas são diagnosticadas e tratadas ainda consulta com o pediatra, que tem condições de identificar proble-
na infância, ou até mesmo logo após o nascimento. No entanto, há mas como sopro ou frequência cardíaca alterada. Nestes casos, o
casos em que a doença é identificada apenas na vida adulta, po- profissional indica o acompanhamento com um cardiopediatra.
dendo também ser tratada nessa fase. Apesar dos avanços no tra-
tamento, ainda existem defeitos congênitos que são incompatí- Após o diagnóstico clínico, a solicitação de exames físicos e com-
veis com a vida e levam ao óbito. plementares como eletrocardiograma, RX de tórax e ecocardio-
grama o cardiopediatra é necessária para confirmar o diagnóstico
Dentre as causas mais comuns destacam-se os medicamentos, a e determinar o tipo de cardiopatia congênita, além de indicar a
radiação, algumas patologias como a rubéola e o vírus Cosakie B e conduta de tratamento. Em casos específicos, pode ser avaliada a
intenções de abortos. Fatores genéticos, fatores maternos, que realização de cateterismo como exame complementar para o
incluem as doenças crônicas como a diabetes ou a fenilcetonúria diagnóstico antes da definição do tipo de tratamento necessário.
mal controladas, consumo de álcool, exposição a toxinas ambien-
tais e infecções também podem aumentar, consideravelmente, a Boa leitura!
probabilidade de uma anomalia cardíaca.

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Principais Cardiopatias Congênitas


Os defeitos cardíacos congênitos podem provocar ou não cianose (sinal ou
sintoma marcado pela coloração azul-arroxeada da pele, leitos ungueais
ou das mucosas), sendo classificados em cianóticos e acianóticos. Dessa
classificação, compreende-se melhor as diversas manifestações clínicas,
que vão desde um sopro assintomático até quadros de insuficiência
cardíaca biventricular importante.

Cardiopatias Acianóticas Problemas mais graves podem necessitar de um transplante de


São mais frequentes que as cianóticas. Entre as manifestações coração para evitar complicações fatais. A forma mais comum da
clínicas estão: Comunicação Interventricular (CIV), Comunicação doença é conhecida como tetralogia de Fallot. Nas cardiopatias
Interatrial (CIA), Persistência do Canal Arterial (PCA) e Coarctação não corrigidas, o aumento do volume sanguíneo e o consequente
de Aorta (CoAo). aumento do retorno venoso, associados à diminuição da resis-
tência vascular periférica, provocam um aumento do shunt D-E,
Cardiopatias Cianóticas com o aumento também da cianose.
A característica mais evidente de cardiopatia cianótica é a tonali-
dade azulada nos lábios e pele, um sinal claro de que não há oxi- Entre as manifestações clínicas estão: Tetralogia de Fallot, a
gênio suficiente no sangue. Muitos casos são leves e podem ser Transposição das Grandes Artérias e a Atresia Tricúspide, Ano-
tratados com cirurgia e medicamentos. malia de Ebstein e defeitos do septo atrioventricular (DSAV).

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Principais Cardiopatias Congênitas


1. Comunicação Interatrial, (CIA) diferente do tipo ostium primum
Etapas do diagnóstico: Exame físico, ECG, radiografia de Indicação ideal para fechamento:
tórax, ecocardiograma transtorácico e, em casos selecionados, ∙ Criança assintomática: 2–4 anos. Para o tipo seio venoso a
transesofágico. cirurgia pode postergar-se ate os 4-5 anos.

Fechamento espontâneo: não é frequente em defeitos maio- ∙ Criança sintomática na infância (insuficiência cardíaca,
res que 8mm ao nascimento e depois dos 2 anos de idade. Rara- hipertensão pulmonar severa): vista em 8-10% dos casos, e
mente o defeito aumenta durante o seguimento clínico. indicada o fechamento precoce.

Foramen oval patente: Detectado através do ecocardiogra- ∙ Criança diagnosticada: após a idade ideal, é indicado o
ma, é considerado um defeito pequeno na região da fossa ovale fechamento eletivo independente da idade, entanto se apresente
com um flap, sem evidência de sobrecarga volumétrica direita. É com sobrecarga volumétrica direita e a resistência vascular pul-
um achado normal nos neonatos. monar esteja em níveis de operabilidade.

Indicação de fechamento: CIA com sobrecarga volumétrica Método de fechamento:


direita. ∙ Cirúrgico: com sutura de um patch no defeito com o uso de
circulação extracorpórea.
∙ Endovascular: com uso de um dispositivo colocado por cate-
terismo em pacientes com peso acima de 10kg e presença de de-
feito central.

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Principais Cardiopatias Congênitas


2. Comunicação Interventricular (CIV)
Etapas do Diagnóstico: Exame físico, ECG, radiografia de tórax Localização do defeito:
e ecocardiograma. ∙ Tipo I: Subarterial (via de saída, subpulmonar, supracristal
o infundibular)
Tamanho do CIV: ∙ Tipo II: Perimembranoso (subáortico)
∙ Grande (não restritivo): diâmetro do defeito é igual ao do ∙ Tipo III: Via de entrada
orifício aórtico, pressão no ventrículo direito em valores sistémi-
∙ Tipo IV: Muscular
cos, e o valor do shunt esquerda a direita dependente da resis-
tência vascular pulmonar.
Historia Natural: Cerca de 10% das crianças dos CIV não res-
∙ Moderado (restritivo): diâmetro menor que o orifício aórti- tritivos morrem no primeiro ano de vida, principalmente devido à
co, com pressão ventricular direita metade a dois terços da sistê- insuficiência cardíaca.
mica, e shunt esquerda a direita maior a 2:1.
∙ Pequeno (restritivo): diâmetro do defeito menor a um terço Fechamento espontâneo: é incomum em CIVs grandes. Já em
do orifício aórtico, pressão ventricular direita normal, e shunt es- 30-40% casos dos moderados e pequenos (restritivos) fecham
querda a direita menor a 2:1. espontaneamente, na fase dos 3-5 anos. A diminuição do tama-
nho do defeito é observado em 25% das crianças.

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Indicação ideal para fechamento: ∙ CIVs pequenas com prolapso de cúspide valvar aórtica
∙ CIVs grandes com insuficiência cardíaca congestiva: com regurgitação aórtica maior a leve: indicação de cirurgia
assim que possível. assim que diagnosticada a insuficiência aórtica.
∙CIVs grandes com hipertensão pulmonar severa: 3-6 ∙ CIVs pequenas com um ou mais de um episodio de en-
meses. docardite infecciosa: recomenda-se o fechamento precoce do
∙ CIVs moderadas com pressão sistólica pulmonar defeito.
50-60% do valor sistêmico: entre 1-2 anos de vida, ou antes se
apresenta um episodio de risco de vida, infecções do trato respi- Método de Fechamento:
ratório baixo ou déficit de crescimento ponderal. ∙ Cirúrgico: com uso de patch assistido com circulação extra-
∙ CIVs pequenos com pressão pulmonar arterial normal, corpórea.
e shunt de esquerda a direita maior a 1.5:1: fechamento entre ∙ Endovascular: com dispositivos para CIVs musculares em
os 2-4 anos. crianças com peso maior a 15kg, e em alguns defeitos perimem-
∙ CIVs pequenos de via de saída (<3mm) sem prolapso da branosos selecionados.
valva aórtica: avaliação anual ou bianual procurando o apareci- ∙ Bandagem pulmonar: é indicado para CIVs múltiplos ou
mento de prolapso valvar aórtico. muito grandes, configurando quase um ventrículo único; crianças
∙ CIVs pequenos de via de saída com prolapso da valva de baixo peso (<2kg), e aquelas com comorbidades associadas
tais como infecção torácica.
aórtica sem regurgitação: fechamento no 2-3 anos de vida
independente do tamanho e da magnitude do shunt esquerda a
direita.
∙ CIVs pequenos de via de saída com qualquer grau de re-
gurgitação valvar aórtica: indicação de cirurgia assim que de-
tectada a insuficiência aórtica.
∙ CIVs pequenas perimembranosas com prolapso aórtico
com pequena o nenhuma regurgitação aórtica: recomenda--
se a avaliação anual ou bianual para detecção do aumento do
grau de regurgitação.

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Principais Cardiopatias Congênitas


3. Persistência do Canal Arterial (PCA)
Etapas do diagnóstico: exame físico, ECG, radiografia de tórax Fechamento espontâneo: PCAs pequenos em crianças a
e ecocardiograma. termo podem fechar próximo ao terceiro mês de vida. As PCAs
grandes raramente fecham.
Tamanho do PCA:
∙ PCA grande: associado à sobrecarga volumétrica cardíaca Indicação ideal para fechamento:
esquerda significativa, insuficiência cardíaca congestiva e hiper- ∙ PCAs grandes ou moderados, com insuficiência cardía-
tensão arterial pulmonar severa. Apresenta sopro contínuo e ra- ca congestiva, e hipertensão pulmonar: fechamento precoce
ramente alto. no período entre o terceiro e sexto mês de vida.
∙ PCA moderado: presente algum grau de sobrecarga cardí- ∙ PCAs moderados, sem insuficiência cardíaca congesti-
aca esquerda, hipertensão arterial pulmonar leve a moderada, va: 6 meses–1 ano. Caso apresente déficit de crescimento, o
ausência ou leve insuficiência cardíaca congestiva. Apresenta fechamento pode ser antecipado.
sopro continuo. ∙ PCAs pequenos: 12-18 meses de vida.
∙ PCA pequeno: sobrecarga cardíaca esquerda mínima ou ∙ PCAs silenciosos: fechamento não recomendado.
ausente, sem hipertensão pulmonar ou insuficiência cardíaca.
Sopro continuo ou só sistólico.
∙ PCA silencioso: ausência de sopro e hipertensão pulmo-
nar. Diagnosticado somente pelo ecocardiograma.

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Método de fechamento: Deve ser individualizado.


∙ Cirúrgico: em menores de 6 meses de vida, em maiores de
6 meses de vida pode ser cirúrgico ou por dispositivo endovascu-
lar.
∙ Endovascular: em menores de 6 meses em casos selecio-
nados. Medicamentos como Indometacina/ Ibuprofeno não
devem ser usados em crianças a termo.
∙ PCA em neonato prematuro: a intervenção é indicada
quando há presença de sinais de insuficiência cardíaca (PCAs pe-
quenos costumam fechar espontaneamente) e o uso dos medi-
camentos Indometacina ou Ibuprofeno é indicado, se não houver
contraindicação. A intervenção cirúrgica é uma opção se as
drogas falham ou estiverem contraindicadas.

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Principais Cardiopatias Congênitas


4. Defeitos do septo atrioventricular (DSAV)
Etapas do diagnóstico: Exame físico, ECG (QRS com desvio a Indicação ideal para correção:
esquerda), radiografia de tórax e ecocardiograma. ∙ DSAV Total com insuficiência cardíaca congestiva des-
controlada: indicação de cirurgia - assim que possível-, correção
Tipos: total ou bandagem da arterial pulmonar dependendo do proto-
∙ Total: CIA primum, CIV de via de entrada (não restritivo), colo cirúrgico da instituição.
shunt esquerda à direita importante, hipertensão arterial pulmo- ∙ DSAV Total com insuficiência cardíaca controlada: cor-
nar. Presença de insuficiência cardíaca congestiva frequente. reção total aos 3-6 meses de vida. A bandagem pulmonar é indi-
∙ Parcial: CIA primum com ou sem CIV de via de entrada. Ra- cada somente se o risco do uso de circulação extracorpórea é
ramente apresenta insuficiência cardíaca ou hipertensão arterial considerado alto.
pulmonar. ∙ DSAV Parcial estável: indicação de cirurgia aos 2-3 anos
∙ Ambos tipos: podem estar associados com um grau variá- de vida.
vel de regurgitação atrioventricular ou a Síndrome de Down.
Estas crianças podem desenvolver hipertensão arterial pulmo- Observação: a associação de regurgitação atrioventricular
nar. pode antecipar a correção cirúrgica.

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Principais Cardiopatias Congênitas


5. Coarctação de Aorta (CoAo)
Etapas do diagnóstico: Exame do pulso femoral (pode ser re- Observação: a intervenção não esta indicada se o gradiente no
gular em neonatos com PCA), pressão arterial em membros su- segmento coarctado é menor a 20mmHg em presença de função
periores e inferiores, radiografia de tórax, ecocardiograma. Em ventricular normal.
casos específicos, exames como angiotomografia ou ressonância
magnética nuclear podem ser necessários. Método de Intervenção:
∙ Dilatação por balão ou cirurgia: para crianças maiores a
Indicação ideal para intervenção: 6 meses de vida.
∙ Crianças com disfunção ventricular esquerda ou insufi- ∙ Cirurgia reparativa: em crianças maiores a 6 meses de
ciência cardíaca esquerda, ou hipertensão arterial severa vida.
nos membros superiores (para a idade): Intervenção imediata. ∙ Dilatação por balão com implante de stent: pode ser
∙ Crianças com função ventricular esquerda normal, sem considerada em crianças maiores a 10 anos se necessário.
insuficiência cardíaca, e com hipertensão arterial leve nos
membros superiores: Intervenção depois dos 3-6 meses de
vida.
∙ Crianças sem hipertensão, sem insuficiência cardíaca,
com função ventricular normal: Intervenção com 1-2 anos de
vida.

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Principais Cardiopatias Congênitas


6. Estenose Aórtica (EAo)
Etapas do diagnóstico: Exame físico, ECG, ecocardiograma. Observação: Caso haja dúvida sobre a severidade ou sintomas,
há a possibilidade de de indicação de teste de esforço em crian-
Indicação para intervenção: EAo Valvular ças maiores selecionadas.
∙ Para neonatos: recomenda-se a dilatação por balão se
Para infantes e crianças maiores: sintomáticos, presença de disfunção ventricular esquerda, ou
∙ Com disfunção ventricular esquerda: recomenda-se hipoplasia ventricular esquerda leve, ou gradiente pico
intervenção imediata com dilatação por balão, independente do >75mmHg.
gradiente valvar.
∙ Função ventricular normal: é indicada a dilatação por Indicação para intervenção: EAo subvalvar por membrana
balão se apresentar: subaórtica
∙ Cirurgia: se o gradiente pico >64mmHg; ou regurgitação
aórtica maior que leve.
∙ Gradiente pico >80mmHg e gradiente médio
de 50mmHg pelo ecodoppler;
∙ Se apresentar mudanças no ST-T no ECG com
gradiente pico >50mmHg;
∙ Se apresentar sintomas de estenose aórtica com
gradiente pico >50mmHg.
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Principais Cardiopatias Congênitas


7. Estenose Valvular Pulmonar
Etapas do diagnóstico: Exame físico, ECG, ecocardiograma.

Indicação para intervenção:


∙ Disfunção ventricular direita: recomenda-se intervenção
imediata, independente do gradiente.
∙ Função ventricular normal: recomenda-se dilatação por
balão se o gradiente pico >60mmHg.
∙ Em neonatos: a dilatação por balão está indicada nos
casos de disfunção ventricular direita, hipoplasia ou presença de
hipóxia.

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Principais Cardiopatias Congênitas


8. Tetralogia de Fallot (T4F)
Etapas do diagnóstico: exame físico, ECG e ecocardiograma. Indicação de Cirurgia: Todos os pacientes precisam correção
Em casos específicos, podem ser necessários exames como cate- cirúrgica.
terismo cardíaco, angiotomografia e/ou ressonância magnética. ∙ Estáveis, com cianose mínima: correção total no período
de 1-2 anos de vida, ou antes dependendo dos protocolos da ins-
Tratamento médico: tituição.
∙ Manter Hb >14 g/dL (com uso de aporte oral ou transfusão ∙ Cianose significativa (SaO2 <70%) ou historia dispneia com
sanguínea). hipóxia a pesar do tratamento.
∙ Uso de beta bloqueador nas doses mais altas toleráveis ∙ Menores de 3 meses de idade: shunt sistêmico-pulmo-
(usualmente 1-4 mg/kg/d divididos em 2 ou 3 doses). nar.
∙ Acima de 3 meses de idade: shunt sistêmico-pulmonar ou
cirurgia corretiva, dependendo da anatomia e do protocolo da
instituição.
∙ CIV com atresia pulmonar, artérias pulmonares ade-
quadas: correção no período entre 3-4 anos. Se necessário um
conduto do ventrículo direito para o tronco pulmonar. Recomen-
da-se o shunt sistêmico-pulmonar na presença de sintomas pre-
coces. O reparo sem conduto ventrículo direito ao tronco pulmo-
nar não é possível.
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Principais Cardiopatias Congênitas


9. Patologias semelhante à T4F com correção biventricular possível (Dupla via de saída do ventrículo
direito (DVSVD), Transposição de grandes artérias (TGA), e outras com derivação do ventrículo
direito possível)
Indicação de cirurgia:
∙ Para crianças estáveis com leve cianose: correção no pe-
ríodo entre 1-2 anos de vida, nos casos em que não há necessida-
de de conduto; e quando for necessário o conduto, a correção é
indicada no período entre 3-4 anos. Recomenda-se a realização
do shunt sistêmico-pulmonar se a criança apresenta precoce-
mente cianose (SaO2<70%).

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Principais Cardiopatias Congênitas


10. Patologias semelhantes à T4F com correção biventricular não possível (atresia tricúspide,
DVSVD/TGA com ventrículo direito não derivável)

Indicação da cirurgia:
∙ Estável, cianose leve: Fontan (Anastomose cavopulmonar
total) aos 3-4 anos.
∙ Estável, cianose leve: Glenn (Anastomose cavopulmonar
parcial) no primeiro ano de vida seguido por Fontan aos 3-4 anos.
∙ Cianose significativa (SaO2 <70%) e menor de 6 meses:
Shunt sistêmico pulmonar, seguido por Glenn no período entre 9
meses a 1 ano de idade e Fontan aos 3-4 anos.
∙ Cianose significativa (SaO2 <70%) e maior de 6 meses:
Glenn bidirecional seguido de Fontan aos 3-4 anos.

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Principais Cardiopatias Congênitas


11. Transposição de Grandes Arterias (TGA)
Etapas do diagnóstico: exame físico, radiografia de tórax, eco-
cardiograma.
Atrioseptostomia por balão: Indicada (se CIA é restritiva) em:
TGA com septo interventricular íntegro; TGA com CIV e/ou PCA se
a cirurgia deve ser postergada por umas semanas.

Indicação da Cirurgia:
∙ TGA com septo interventricular íntegro:

∙ Se idade <3-4 semanas: Cirurgia de Jatene (switch arte-


rial) imediatamente.
∙ Se idade >3-4 semanas: Determinar via ecocardiograma
o preparo do ventrículo esquerdo: Se o ventrículo es-
querdo estiver despreparado, realizar um switch arterial
em dois estágios (com preparo rápido ventricular); se o
ventrículo esquerdo estiver preparado realizar o switch
arterial direto.

∙ TGA com CIV: Cirurgia de Jatene aos 3 meses de idade. 18


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Principais Cardiopatias Congênitas


12. Drenagem venosa anômala de veias pulmonares (DVAVP)
Etapas do diagnóstico: exame físico, radiografia de tórax, Indicação da cirurgia:
ECG, ecocardiograma. Em casos específicos, pode haver a neces- ∙ Tipo Obstrutivo: cirurgia de emergência
sidade de cateterismo e angiotomografia. ∙ Tipo não obstrutivo: assim que possível, após o período
neonatal se a criança estiver estável clinicamente.
Tipos de DVAVP ∙ Casos diagnosticados após 2 anos de idade: cirurgia ele-
∙ Tipo I: Supracardíaca (a veia inominada o veia cava supe- tiva quando diagnosticado, entanto a resistência vascular pulmo-
rior) nar permita a cirurgia.
∙ Tipo II: Intracardíaca (ao seio coronário o átrio direito)
∙ Tipo III: Infradiafragmática (a veia porta ou veia cava infe-
rior)
∙ Tipo IV: Drenagem em dois ou mais níveis.

Observação: cada tipo pode ser obstrutivo ou não obstrutivo,


sendo o Tipo III quase sempre obstrutivo.

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Principais Cardiopatias Congênitas


13. Truncus Arteriosus
Etapas do diagnóstico: exame físico, radiografia de tórax, eco-
cardiograma.

Indicação da cirurgia:

∙ Cirurgia corretiva total: com uso de conduto ventrículo


direito a artéria pulmonar.

∙ Se insuficiência cardíaca descontrolada apesar do


tratamento medicamentoso: cirurgia assim que possível.
∙ Se estável, insuficiência cardíaca controlada: as 6-12
semanas de vida.

∙ Bandagem da artéria pulmonar: se a correção total não


é possível.

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Orientações sobre a operabilidade em


lesões com shunt (CIA, CIV, PCA, DSAV)
Avaliação clínica
Idade: em geral crianças com shunt e abaixo dos 2 anos são ECG: a presença de sobrecarga volumétrica do ventrículo es-
operáveis, incluindo as que apresentam hipertensão pulmonar querdo pode indicar shunt importante esquerda à direita em
severa. casos de CIV e PCA.

Exame físico: cardiomegalia, insuficiência cardíaca congestiva, Ecocardiograma: a dilatação do átrio esquerdo e ventrículo es-
presença de terceira bulha e sopro médio-diastólico são indicati- querdo sugere shunt significativo de esquerda a direita em CIV e
vos de shunt importante esquerda à direita. PCA. Pressão arterial pulmonar sub-sistêmica descarta a síndro-
me de Eisenmenger nas CIVs e PCAs.
Tipo de defeito: crianças com CIAs raramente desenvolvem
Eisenmenger. A presença de hipertensão pulmonar pode ter
outras causas.

Radiografia de tórax: a cardiomegalia com congestão pulmo-


nar favorece operabilidade.

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Orientações sobre a operabilidade em


lesões com shunt (CIA, CIV, PCA, DSAV)
Avaliação clínica
Cateterismo cardíaco: os cálculos de resistência vascular pul- Biópsia pulmonar: a relação entre o IRVP e o estágio da
monar (RVP) e do cociente da RVP dividido pela resistência vascu- doença vascular pulmonar na biópsia pulmonar não é linear.
lar sistêmica (RVS), não devem ser tomados isoladamente. Testes Existe uma grande variabilidade nos resultados. Desta forma,
de vasodilatação com oxigênio 100% e oxido nítrico não tem de- alguns pacientes operáveis tem mostrado danos avançados em
mostrado valor preditivo suficiente para serem considerados na biópsias pulmonares, o que diminuir a indicação cirúrgica da
decisão da indicação cirúrgica. Independente destas limitações, o biópsia nesses casos.
valor do IRVP (RVP indexado a superfície corpórea) menor que 6
unidades Wood, e o quociente RVP/RVS menor que 0,25 colocam Observação: Na dúvida, pacientes com IRVP marcadamente
a criança em condição de operável. IRVP acima de 10 unidades elevados não devem ser enviados para cirurgia pois o prognósti-
Wood e RVP/RVS maior a 0,5 determinam inoperabilidade. co destes pacientes é pior que os dos pacientes com Síndrome
de Eisenmenger.
Observação: a decisão de operabilidade das crianças com valo-
res entre estas duas opções é difícil e deve ser tomada correlacio-
nando os dados clínicos, geralmente em centros de referência.

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Cardiopatias Congênitas: Orientações e Condutas de Tratamento

Referências Bibliográficas
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atresia. In: Kirklin/ Barratt- Boyes Cardiac Surgery. Third edition. Philadelphia: Churchill Livingstone; 2003. p. 1011-1012.

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