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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CAMPUS CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM


CURSO DE ENGENHARIA DE MINAS

YAN TAFFNER BINDA

ESTUDO E ANÁLISE DE CUSTOS DE UMA PEDREIRA DE QUARTZITO

CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM-ES
2021
YAN TAFFNER BINDA

ESTUDO E ANÁLISE DE CUSTOS DE UMA PEDREIRA DE QUARTZITO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Coordenadoria do Curso de Engenharia de Minas
do Instituto Federal do Espírito Santo, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Engenharia de Minas.

Orientador: Prof. Me. Gleicon Roberto de Sousa


Maior

CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM-ES
2021
(Biblioteca Carlos Drummond de Andrade do Instituto Federal do Espírito Santo)

B612e Binda, Yan Taffner.


Estudo e análise de custos de uma pedreira de quartzito. /Yan
Taffner Binda. – 2021.
58 f.: il.; 30 cm

Orientador: Gleicon Roberto de Sousa Maior

Monografia (graduação) – Instituto Federal do Espírito Santo,


Coordenadoria do Curso de Engenharia de Minas, Curso de Engenharia
de Minas, Cachoeiro de Itapemirim, 2021.

1. Rochas ornamentais. 2. Quartzito. 3. Geologia econômica. I. Maior,


Gleicon Roberto de Sousa. II. Instituto Federal do Espírito Santo.
CDD: 549.114
YAN TAFFNER BINDA

ESTUDO E ANÁLISE DE CUSTOS DE UMA PEDREIRA DE QUARTZITO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Coordenadoria do Curso de Engenharia de Minas
do Instituto Federal do Espírito Santo, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Engenharia de Minas.

Aprovado em 30 de março de 2021


Dedico este trabalho a meu pai Silvio
Antônio Binda e minha mãe Renata
Taffner, por acreditarem em mim e nunca
medirem esforços para que este sonho se
tornasse possível. Ao meu tio (in
memoriam) José Antônio Binda, por todo o
incentivo, paciência, e dedicação
prestados a todo momento. Por fim, a toda
minha família e amigos, que sempre
acreditaram e torceram por mim.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, meu refúgio e fortaleza, socorro presente nas


tribulações e na hora da angustia, pois sem Ele nada disso seria possível. Aos meus
pais, por sempre me incentivarem e apoiarem, sem medir esforços para que este
sonho, um dia, se tornasse possível. Ao meu tio (in memoriam) José Antônio Binda,
por todas as conversas e palavras de sabedoria, que levarei para sempre comigo. A
toda minha família; irmãos, tios, primos e avós, fica aqui minha eterna gratidão.
A todos os colaboradores da Bibom Mineração, pelo companheirismo e parceria. Aos
meus amigos e colegas da turma de Engenharia de Minas 2013/2 por todos os anos
de convivência e troca de conhecimento. Agradeço a todos os professores do Ifes –
Campus Cachoeiro de Itapemirim, principalmente ao coordenador do curso de
Engenharia de Minas e meu orientador Gleicon R. de S. Maior, pelo apoio, dedicação
e puxões de orelha.
Por fim, sou grato a todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para minha
formação, tanto pessoal quando acadêmica.
“O homem não pode refazer-se sem sofrer,
pois é ao mesmo tempo o mármore e o
escultor.”
(Alexis Carrel)
RESUMO

O setor de rochas ornamentais no Brasil tem desempenhado, já há alguns anos, um


papel de extrema importância, destacando-se pela relevância econômica e social de
sua cadeia produtiva. Como área de atividade essencialmente exercida por pequenas
e médias empresas, o setor também se destaca pela capacidade de geração de
empregos, interiorização do desenvolvimento e captação de divisas para o país. Do
ponto de vista mercadológico, as rochas ornamentais podem ser divididas em três
grandes grupos: granitos, mármores e quartzitos. Estes últimos são considerados
materiais exóticos, e estão se consolidando cada vez mais no mercado, devido ao seu
padrão cromático e elevada resistência. A recuperação média nas pedreiras de
quartzito varia muito de material para material, podendo em alguns casos atingir
valores que não passam dos 20%. A empresa simulada no presente trabalho produz
35 m³/mês de quartzito, e o vende a um preço médio de US$ 1.600,00/m³. Apesar da
pequena produção, e do elevado investimento inicial, incluindo as licenças, pesquisas
e aquisição de equipamentos, de R$ 1.250.000,00, o Valor Presente Líquido para o
projeto de 10 anos é de R$ 9.114.293,97 e a Taxa Interna de Retorno de 370,54%.
Atualmente o quartzito é um material que tem seu foco voltado para o mercado
externo, e seu valor cotado em dólar, ou seja, variações bruscas na moeda americana
afetam diretamente neste tipo de empreendimento e podem ser determinantes em seu
sucesso ou fracasso.

Palavras-chave: Análise de Custos. Rocha Ornamental. Quartzito. Pedreira. Valor


Presente Líquido.
ABSTRACT

For many years now, the ornamental rock sector had played an extremely importante
role in Brasil, highlighting the economic and social relevance of its production chain.
As an activity area mainly carried out by small and medium-sized enterprises, the
sector also stands out for its capacity to generate jobs, internalize development and
capture foreign exchange for the country. From the market point of view, ornamental
rocks can be divided into three large groups: granites, marbles, and quartzites. The
latter are considered exotic materials and are consolidating more the market due to
their chromatic pattern and high strength. The average recovery in quartzite quarries
varies from material to material, and in some cases, can reach values that do not go
more than 20%. The company simulated in this work produces 35 m³/month of
quartzite and sells it at an average price of US$ 1,600.00/m³. Despite a small
production, and the high initial investment including the licenses, research, and
acquisition of equipment, of R$ 1,250,000.00, the Net Present Value for the 10-year
project is R$ 9,114,293.97 and the Internal Rate of Return of 370.54%. Currently,
quartzite is a material that expresses its focus on the foreign market, and its value
quoted in dollars, the sharp variations in the American currency directly affect this type
of enterprise and can be determinant in its success or failure.

Keywords: Cost Analysis. Ornamental Rock. Quartzite. Quarry. Net Present Value.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 12

2 OBJETIVOS ................................................................................................. 13

2.1 GERAL ......................................................................................................... 13

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................ 13

3 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................... 14

3.1 ROCHA ORNAMENTAL ............................................................................... 14

3.2 LAVRA DE ROCHAS ORNAMENTAIS ........................................................ 15

3.3 MERCADO DE ROCHAS ORNAMENTAIS .................................................. 18

3.3.1 Exportações Brasileiras de Rochas Ornamentais ................................... 20

3.3.2 Dados Setoriais........................................................................................... 22

3.4 QUARTZITOS............................................................................................... 22

3.4.1 Formação Geológica .................................................................................. 22

3.4.2 Aplicações e Usos ...................................................................................... 24

3.5 ECONOMIA MINERAL ................................................................................. 26

3.5.1 Cálculo Financeiro Aplicado à Avaliação Econômica de Projetos ........ 31

3.5.1.1 Juros ............................................................................................................. 31

3.5.1.2 Valor do Dinheiro no Tempo ......................................................................... 31

3.5.1.3 Fator de Acumulação de Capital................................................................... 31

3.5.1.4 Fator de Desconto ou Fator de Valor Atual .................................................. 32

3.5.1.5 Valor Atual da Série Uniforme ...................................................................... 32

3.5.1.6 Recuperação de Capital ............................................................................... 32

3.5.1.7 Acumulação de Capital da Série Uniforme ................................................... 33

3.5.1.8 Formação de Capital da Série Uniforme ....................................................... 33

3.5.1.9 Amortização de Empréstimos e Financiamento ........................................... 33

3.5.2 Métodos de Avaliação Econômica de Projetos........................................ 34

3.5.2.1 Método dos Períodos de Payback ................................................................ 35


3.5.2.2 Método do Valor Presente Líquido (VPL) ou Valor Atual (VA) ...................... 35

3.5.2.3 Método do Valor Anual Equivalente (VAE) ................................................... 36

3.5.2.4 Método da Taxa Interna de Retorno (TIR) .................................................... 37

3.5.2.5 Análise de Sensibilidade ............................................................................... 37

4 METODOLOGIA........................................................................................... 38

4.1 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA, PLANEJAMENTO E LAVRA .............. 38

4.1.1 Pesquisa e Planejamento ........................................................................... 38

4.1.2 Plano de Lavra ............................................................................................ 39

4.2 ANÁLISE ECONÔMICA ............................................................................... 40

4.2.1 Produção e Receitas Esperadas ............................................................... 48

5 RESULTADOS ............................................................................................. 49

5.1 FLUXO DE CAIXA ........................................................................................ 49

5.2 VALOR PRESENTE LÍQUIDO (VPL) OU VALOR ATUAL (VA) ................... 51

5.3 VALOR ANUAL EQUIVALENTE (VAE) ........................................................ 52

5.4 PERÍODO DE PAYBACK ............................................................................. 52

5.5 TAXA INTERNA DE RETORNO (TIR).......................................................... 52

5.6 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE .................................................................... 52

5.7 SÍNTESE DOS RESULTADOS E PERSPECTIVAS..................................... 54

6 CONCLUSÃO............................................................................................... 55

REFERÊNCIAS ............................................................................................56
12

1 INTRODUÇÃO

Devido a sua diversidade de aplicações, propriedades e características, as rochas


ornamentais sempre foram, desde os tempos mais remotos, um produto de alto
interesse, sendo empregadas, com maior relevância, na construção civil como produto
de acabamento, na arquitetura, em obras urbanas, em decorações e arte.
(MONTEIRO, 2014).
O setor de rochas é, em sua maioria, formado por micro e pequenas empresas de
lavra, beneficiamento, acabamento e serviços (CHIODI FILHO & CHIODI, 2014).
Apesar do pequeno porte da maioria das empresas, de acordo com informe 01/2020
da ABIROCHAS, as exportações de materiais rochosos naturais em 2019 foram
estimadas em valores da ordem de US$ 1,0 bi e 2,15 mi de toneladas, com variação
positiva de 1,97% no faturamento e negativa de 1,94% no volume físico frente a 2018.
O preço médio dos produtos exportados teve uma elevação de 4%, o que demonstra
a importância do setor para a economia nacional.
Os recursos minerais em solo ou subsolo Brasileiro pertencem à União e para efeito
de exploração ou aproveitamento devem obedecer aos regimes de aproveitamento
descritos no Código de Mineração de 1967 que são geridos pela Agência Nacional de
Mineração (ANM).
A extração de rochas ornamentais compreende uma série de segmentos, tais como:
pesquisa geológica, caracterização tecnológica, operações de lavra, transporte,
beneficiamento e comercialização. Porém, todo o esforço e empenho depositados em
um projeto podem ser desperdiçados se não houver uma competente avaliação
econômica que assegure a viabilidade do empreendimento.
A avaliação econômica de projetos de investimentos tem por finalidade prover critérios
objetivos para a tomada de decisões, baseado na análise ampla de aspectos técnicos,
econômicos, financeiros, de risco e intangíveis (BAUDSON, 2008).
Os avanços tecnológicos no setor de rochas ornamentais estão, em sua maior parte,
concentrados nos processos de beneficiamento. O processo de lavra tem
apresentado, de maneira bastante lenta, a inserção de novas tecnologias em sua
cadeia produtiva, como o emprego de maquinas de fio diamantado de diversas
potencias, bolsas de ar para o tombamento de bancadas, perfuratrizes hidráulicas e
elétricas de maior desempenho, entre outros.
13

A lavra de quartzitos maciços em formato de blocos pode ser considerado um


processo relativamente novo e em evolução, visto que somente após a inserção de
novas tecnologias e avanços na área de pesquisa mineral, possibilitou-se a
comprovação da viabilidade técnica e econômica deste tipo de empreendimento.
O presente trabalho busca realizar um estudo de caso e análise de custos, simulando
a abertura de uma pedreira de quartzito e seus anos iniciais.
Foram levantados os dados necessários para estimar os custos da atividade desde a
fase de licenciamento, compreendendo os investimentos em pesquisa, aquisição e
consumo de equipamentos, gastos com pessoal e mão de obra, dentre outros.
O Fluxo de Caixa do projeto de 10 anos foi elaborado considerando todas as receitas
e custos da pedreira e os métodos de avaliação econômica usados foram o Valor
Presente Líquido (VPL), o Payback, o Valor Anual Equivalente (VAE) e a Taxa Interna
de Retorno (TIR).

2 OBJETIVOS

2.1 GERAL

Realizar um estudo e análise econômica, durante os primeiros anos de uma pedreira


de quartzito, diferenciando este tipo de rocha de materiais básicos já consolidados no
mercado. Ao mesmo tempo, desenvolver um plano de pesquisa e lavra, que possibilite
a abertura de uma pedreira de rocha ornamental.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Analisar a produção de rochas ornamentais no Brasil, as exportações de


quartzitos e o mercado brasileiro de rochas;
• Determinar o VPL, o VAE, o Payback, a TIR e o Fluxo de Caixa do
empreendimento;
• Identificar as principais dificuldades encontradas pelo minerador para abrir uma
pedreira de quartzito.
14

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 ROCHA ORNAMENTAL

De acordo com Vidal et al. (2014), “as rochas ornamentais são materiais rochosos
extraídos e beneficiados, em maior ou menor grau, para serem utilizados com funções
de revestimento, decorativas ou estruturais”. Estes materiais tem sido usados pelo
homem desde a antiguidade e nas mais diversas finalidades, tendo desempenhado
inicialmente função estrutural e de alvenaria.
Devido à ampliação da variedade de materiais e avanço nas técnicas de construção
ao longo do tempo, suas funções foram suplantadas pela de revestimento tanto de
pisos e paredes como de fachadas, além de também constituírem elementos
ornamentais (arte funerária e estatuária) ou funcionais (balcões, pias e mesas)
(FRASCÁ, 2014).
Sob o olhar geológico, as rochas podem ser separadas em três grandes grupos:
ígneas, sedimentares e metamórficas. As rochas ígneas são aquelas que resultam da
solidificação do magma, em diferentes profundidades da crosta terrestre. As rochas
sedimentares se formam sob temperaturas e pressões relativamente baixas, pela
desagregação de rochas pré-existentes seguida de transporte e de deposição dos
detritos ou, menos comumente, por acumulação química. Rochas metamórficas se
formam a partir de transformações sofridas por rochas pré-existentes, submetidas a
alterações em suas estruturas por ação da pressão ou de elevadas temperaturas.
Tanto as rochas ígneas quanto as rochas sedimentares podem passar por esses
processos e mudar suas condições originais.
Do ponto de vista comercial, as rochas comercializadas em forma de chapas ou
recortes menores, com diferentes espessuras e acabamentos, recebem usualmente
e erroneamente, apenas duas denominações: “mármores” (rochas carbonáticas, de
origem metamórfica ou sedimentar) e “granitos” (rochas ígneas e metamórficas). Os
outros tipos comerciais são as chamadas “pedras naturais”, comercializadas em
placas rusticas, de espessura irregular e sem polimento (VIDAL et al., 2014).
Contudo, o termo “quartzito” vem ganhando destaque nos últimos anos, devido à sua
ascensão no mercado internacional e já figura entre as principais designações
comerciais.
15

Por ser utilizado como revestimento ou ornamento, o principal fator de escolha desses
materiais é o estético, seguido das características técnicas e da disponibilidade
comercial. Porém, o fato de o padrão estético ser o fator determinante na escolha de
uma rocha, pode resultar em problemas posteriores devido a aplicações inadequadas
por parte dos profissionais que a especificam (VIDAL et al., 2014).
A qualificação comercial de uma rocha depende diretamente de seu padrão cromático.
De acordo com essa característica os materiais são enquadrados como: clássicos,
comuns e exóticos. Os clássicos incluem mármores brancos e pretos, bem como
granitos verdes, brancos, pretos e amarelos e não costumam sofrer influência de
modismos. Os comuns, mármores beges e acinzentados, além de granitos
acinzentados, têm seu uso focado na aplicação em larga escala em obras de
revestimento (CHIODI FILHO & RODRIGUES, 2009).
Os materiais exóticos podem ser compreendidos como pegmatitos, mármores de
coloração excepcional, quartzitos azuis, verdes e pretos e granitos azuis. Seus usos
se fazem de forma mais pontual, em ambientes específicos.

3.2 LAVRA DE ROCHAS ORNAMENTAIS

A lavra de rochas ornamentais pode ser compreendida como uma atividade cujo
objetivo é o aproveitamento de material rochoso, na forma de blocos retangulares,
com dimensões que proporcionem o melhor aproveitamento do material e a maior
utilização da capacidade produtiva dos equipamentos (VIDAL et al., 2014).
Para que este tipo de atividade de mineração tenha êxito, algumas fases para sua
execução devem ser obedecidas. Uma das principais é a de pesquisa mineral, que
tem por objetivo a localização e identificação da ocorrência mineral, bem como
avaliação do potencial de aproveitamento da jazida. Uma pesquisa bem executada
diminui riscos com eventuais problemas e aumenta a segurança e credibilidade do
empreendimento.
Após a fase de pesquisa, tem-se início os trabalhos de lavra, que são as atividades
produtivas da extração desenvolvida, aplicando-se metodologias apropriadas às
características do material e da formação geológica da jazida, sempre buscando um
equilíbrio entre aproveitamento, meio ambiente e aspectos econômicos.
16

A extração dos blocos de rochas ornamentais pode ser realizada tanto por lavra à céu
aberto como por lavra subterrânea. O primeiro tipo, por ser mais simples e demandar
menos capital inicial, ocorre com maior frequência.
Tendo em vista os diferentes métodos e suas variações, VIDAL et al. (2014) afirma
que:
Na maioria das jazidas de rochas ornamentais, os métodos de lavra são
descendentes seja nas pedreiras a céu aberto, seja naquelas em
subterrâneo. No caso da lavra a céu aberto os trabalhos preliminares
destinados a preparação das pedreiras referem-se especialmente à retirada
da cobertura de solo dos afloramentos desenvolvendo-se através da
instalação de praças contendo uma ou mais bancadas. A espessura de
capeamento dos depósitos de rochas ornamentais lavrados a céu aberto é
relativamente pequena e na maioria dos casos é totalmente inexistente ou
consistente em um pequeno capeamento de material areno-argiloso. Em tais
situações, a retirada do capeamento pode, em alguns casos, revelar uma
camada de material rochoso fraturado e alterado, que atinge espessuras
superiores a alguns metros. Existem casos em que as espessuras das rochas
alteradas assumem valores tão elevados que tornam a lavra a céu aberto
economicamente inviável.

A escolha correta do método de lavra depende da morfologia dos afloramentos, dos


volumes da reserva mineral, da geologia estrutural da jazida, de seu estado de
fraturamento, da localização da área, e das características intrínsecas do material
objeto da exploração (VIDAL et al., 2014).

Figura 1 – Pedreira de rocha ornamental em maciço rochoso.

Fonte: Autor (2021).


17

Em qualquer instante do seu desenvolvimento, a aplicação de um método de lavra


permite a definição da geometria espacial da mina e suas peculiaridades. Inicialmente,
as operações tem por objetivo a identificação dos volumes, para que em seguida
sejam determinadas as sequências de extração, uso de tecnologias, equipamentos
ou materiais e energia (VIDAL et al., 2014).
O segmento extrativo no brasil, favorecido pelos aspectos de qualidade técnica e
estética dos materiais, encontra-se em um estágio de amadurecimento, tendo
incorporado a evolução tecnológica do setor, modificando e aperfeiçoando os métodos
de lavra ao longo do tempo, de acordo com utilizações que se tornaram cada vez mais
específicas. Este fato tem permitido que os produtores brasileiros sejam,
provavelmente, os melhores conhecedores da aplicação de diversas tecnologias e
métodos de extração, além de difundir uma certa sensibilidade no que se refere à
proteção dos valores ambientais, antes ignorados (VIDAL et al., 2014).

Figura 2 – Pedreira de quartzito em bancadas e seus diferentes níveis.

Fonte: Rocha Bahia Mineração (2020).

No que se refere aos principais estados brasileiros produtores de rochas ornamentais,


podemos destacar: Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia e Ceará, especificamente,
18

relacionados aos métodos de lavra e tecnologias utilizadas, condicionando as


operações de extração ao custo e escala de produção na mina.
Vidal et al. (2014) salienta que, embora recente, o setor de rochas ornamentais no
Brasil precisa superar alguns erros iniciais cometidos por empresários que, na sua
maioria, não possuíam a cultura minerária e deixavam de cumprir o processo
desenvolvimentista necessário para produção de materiais de excelente qualidade,
utilizando tecnologias de lavras adequadas ao tipo de jazida.
O autor ainda complementa, afirmando que:

Para que haja desenvolvimento e competitividade da indústria brasileira de


rochas ornamentais não basta somente dispor de equipamentos de alta
tecnologia, mas é de fundamental importância a transferência e a aplicação
dos conhecimentos técnicos e científicos alcançados ao longo dos anos no
que se refere aos problemas de identificação das reservas, introdução de
metodologias que racionalizem a atividade produtiva, escolha de tecnologias
adequadas, formação de recursos humanos nos diferentes níveis,
valorização e agregação dos materiais, além da garantia de qualidade unidas
a uma política comercial eficaz e abrangente.

Além disso, algumas inovações tecnológicas que podem contribuir muito ainda com o
melhor aproveitamento das jazidas de rochas ornamentais são equipamentos para
análise do estado tensional dos maciços e acompanhamento da criação ou expansão
de fraturas devido ao alívio de tensões proporcionado pelo avanço da lavra. Um fator
importantíssimo na hora de se produzir rochas ornamentais do maciço é o estado
tensional deste (VIDAL et al., 2014).

3.3 MERCADO DE ROCHAS ORNAMENTAIS

Impulsionado na década de 1990 por um adensamento de atividades e avanços nos


principais segmentos da cadeia produtiva do setor de rochas ornamentais, o Brasil
atingiu, em 2006, a marca de quarto maior produtor e exportador mundial, superando
potências europeias tradicionais e notabilizando-se pela excepcional geodiversidade
de suas matérias-primas (CHIODI FILHO & CHIODI, 2014).
De acordo com Maia (2013), em 2012 a produção mundial de rochas ornamentais
atingiu 123,5 Mt. No mesmo ano, o Brasil teve a produção estimada em 9,3 Mt,
19

representando 7,5% da produção mundial. Essa produção inclui granitos, pegmatitos,


quartzitos maciços e foliados, rochas silicáticas em geral, além de mármores,
ardósias, pedra-sabão e pedra-talco, calcários, cherts, xistos e outros, divididos em
mais de 1.400 frentes ativas de lavra, responsáveis por cerca de 1.200 variedades
comerciais de rochas nos mercados interno e externo.
O perfil da produção brasileira, por tipo de rocha, é mostrado na Tabela 1, observando-
se que os materiais comercialmente classificados como granitos correspondem a 50%
do total produzido. A distribuição regional dessa produção é mostrada na Tabela 2,
salientando-se que a Região Sudeste do Brasil responde por praticamente 65% do
total.

Tabela 1 – Perfil da Produção Brasileira por Tipo de Rocha, 2012.

PRODUÇÃO PARTICIPAÇÃO
TIPO DE ROCHA
(Mt) (%)

Granito e similares 4,6 49,5

Mármore e Travertino 1,7 18,2

Ardósia 0,6 6,5

Quartzito Maciço 0,6 6,5

Quartzito Foliado 0,6 6,5

Pedra Miracema 0,2 2,1

Outros (Basalto, Pedra-Sabão, etc.) 1,0 10,7

Total Estimado 9,3 100


Fonte: Chiodi Filho (2013).
20

Tabela 2 – Distribuição Regional da Produção Bruta de Rochas Ornamentais no Brasil,


2012.

PRODUÇÃO PARTICIPAÇÃO
REGIÃO
(Mt) (%)

Sudeste 6,0 65,0

Nordeste 2,4 26,0

Sul 0,4 4,0

Centro-Oeste 0,4 4,0

Norte 0,1 1,0

Total Estimado 9,3 100


Fonte: Chiodi Filho (2013).

Segundo dados do Anuário Mineral Brasileiro (2010), as reservas medidas em


território nacional são da ordem de 27,1 bilhões de toneladas. Já as reservas lavráveis
se apresentam na ordem de 7,3 bilhões de toneladas.

3.3.1 Exportações Brasileiras de Rochas Ornamentais

De acordo com Chiodi Filho (2020), no ano de 2019 as exportações de materiais


rochosos naturais somaram aproximadamente US$ 1 bi e 2,15 mi de toneladas, com
variação positiva de 1,97% no faturamento e negativa de 1,94% no volume físico frente
a 2018, fato este que comprova uma elevação de 4% no preço médio dos produtos
exportados. O desempenho das exportações refletiu o aumento da participação de
produtos com maior valor agregado, destacando-se as chapas de mármores (US$
970/t), e sobretudo as chapas de quartzitos (US$ 2.000/t). O recuo registrado para o
volume físico das exportações de blocos e chapas de granito, está reproduzindo a
pressão de porcelanatos e materiais rochosos artificiais no mercado internacional,
particularmente nos EUA.
21

Gráfico 1 – Exportações Brasileiras por País de destino em 2019 (US$ 1.000)


800.000

629.001
Valor das Exportações (US$ 1.000)

600.000

400.000

200.000 122.286
64.233
30.368 17.696 15.078 10.029 8.490
0

México

Canadá
EUA

Itália

Espanha

Alemanha
China

Reino Unido
Países Importadores
Fonte: ABIROCHAS (2019).

O Brasil exportou rochas ornamentais para 119 países em 2019. Os EUA


responderam por 62% do total do faturamento dessas exportações, seguindo-se a
China (12,1%), Itália (6,3%), México (3%), Reino Unido (1,7%), Canadá (1,5%) e
Espanha (1%). Os demais 112 destinos representaram apenas 12,4% das
exportações.
As vendas para os EUA, México e Canadá são essencialmente de chapas, enquanto
para a China vende-se blocos. Itália e Espanha compram blocos, chapas e produtos
de ardósia. O Reino Unido compra principalmente telhas de ardósia. Os EUA também
constituem um bom mercado para ardósias de revestimento de tampos, pisos e
paredes/fachadas (CHIODI FILHO, 2020).
Com relação aos principais estados exportadores, o Espírito Santo permaneceu com
grande destaque em 2019, respondendo por um faturamento de US$ 827,7 milhões e
um volume físico de 1,66 milhões t. Isso correspondeu a 82% do total do faturamento
e 77% do total do volume físico das exportações brasileiras de rochas ornamentais.
Abaixo do Espírito Santo figura o estado de Minas Gerais, com US$ 114 milhões e
348,2 mil t, respectivamente correspondentes a 11,3% e 16,2% das exportações
brasileiras. Os demais estados exportadores responderam assim por apenas 6,7% do
faturamento e 6,8% do volume físico das exportações brasileiras de rochas (CHIODI
FILHO, 2020).
22

3.3.2 Dados Setoriais

Diante desses dados, Chiodi Filho (2020) nos fornece o seguinte cenário:

• A produção brasileira de rochas ornamentais e de revestimento totalizou 9,2


milhões de toneladas em 2019, reproduzindo os mesmos números de 2017;
• As exportações ultrapassaram a marca de US$ 1 bilhão e, pela primeira vez desde
2013, registraram variação positiva de faturamento frente ao ano anterior;
• Com uma ligeira queda no volume físico exportado, a variação positiva do
faturamento foi devida ao aumento da participação de produtos com maior valor
agregado nas exportações, destacando-se aqueles de quartzitos, mármores e
pedra-sabão;
• O consumo interno, também estimado em m² equivalentes com 2 cm de
espessura, evoluiu de 67,8 milhões m² em 2018 para 70,5 milhões m² em 2019;
• O perfil da produção brasileira, por tipo de rocha, traduz um ligeiro declínio da
lavra de granitos, quartzitos foliados e ardósias, em relação a um crescimento
mais significativo dos quartzitos maciços e mármores;
• O incremento das lavras de quartzitos maciços e mármores na Bahia elevou a
estimativa de produção desse estado, aventando-se redução da produção em
Minas Gerais e no Espírito Santo.

3.4 QUARTZITOS

3.4.1 Formação Geológica

O quartzito é uma rocha metamórfica, composta quase que inteiramente de grãos de


quartzo e possui alta resistência a intemperismos químicos e físicos. Sua origem está
relacionada com a ação de processos metamórficos desenvolvidos principalmente
sobre rochas sedimentares ricas em quartzo, tais como arenitos e cherts (rochas ricas
em sílica). De maneira subordinada, podem também derivar do metamorfismo de
veios de quartzo ou de rochas vulcânicas muito silicosas (BABISK et al., 2010).
Os arenitos podem se transformar em quartzitos de duas maneiras. A primeira, através
da circulação de fluídos, desenvolvida em condições de pressão e temperatura baixas,
23

que preenchem os espaços existentes entre os grãos de quartzo do arenito com um


cimento rico em sílica (SiO2). Quando a rocha formada sob estas condições é
quebrada, as fraturas se desenvolvem sobre os grãos originais.
A outra maneira se dá em condições de alta pressão e temperatura, geralmente
encontradas quando os arenitos são tectonicamente colocados em zonas profundas
da terra. Neste caso, os grãos de quartzo dos arenitos se recristalizam, e todos os
vestígios dos sedimentos originais são apagados. O resultado é uma rocha
metamórfica, chamada quartzito.
Considerando a petrografia, sabe-se que os quartzitos com alto grau de recristalização
e granulação predominantemente fina, quando constituídos essencialmente por
quartzo, podem apresentar propriedades tecnológicas que são típicas dos granitos
verdadeiros. Nesses casos, a extração se dá por meio de blocos, sendo possível a
obtenção de chapas regulares, em teares apropriados, com posterior processo de
beneficiamento envolvendo o polimento, por exemplo (COSTA, 2018).
A variação na cor dos quartzitos, assim como na maioria das rochas ornamentais, é
fruto de sua diversidade mineralógica. Na imagem abaixo, podemos ver um exemplo
de quartzito e sua coloração escura, que varia de cinza a preto.

Figura 3 – Bloco de quartzito maciço.

Fonte: Autor (2021).


24

Ao contrário desses primeiros, os quartzitos com alto conteúdo em minerais micáceos,


como o Quartzito São Tomé e Quartzito Lages, podem apresentar foliação bem
desenvolvida em função da disposição preferencial destes filossilicatos, não
permitindo a extração de blocos e o corte regular de chapas (COSTA, 2018).

Figura 4 – Lajes irregulares de quartzito foliado.

Fonte: Vidal et al. (2012).

3.4.2 Aplicações e Usos

Na construção civil, a aplicabilidade do quartzito é vasta, pois o mesmo agrega as


melhores qualidades de outras rochas. Mostra-se mais resistente do que os granitos
e ao mesmo tempo oferece características visuais requintadas como a dos mármores.
Por ser mais resistente a riscos e manchas, além de apresentar baixa porosidade,
pode ser aplicado em pisos, paredes, bancadas para cozinha, móveis, até painéis
decorativos, em áreas internas e externas.
25

Figura 5 – Quartzito aplicado em um Painel decorativo.

Fonte: Stock Rock Brazil (2020).

Figura 6 – Aplicação de quartzito foliado.

Fonte: Autor (2021).

Por ser um material mais duro e, portanto, de maior custo produtivo, possui valor
comercial mais expressivo que a maioria das demais rochas. Por enquanto, seu preço
médio é relativamente alto, chegando a custar, em média, o triplo de um granito e
mais do que o dobro de um mármore.
26

Figura 7 – Bancada de cozinha em quartzito White Santorini.

Fonte: Granduvale Mineração (2020).

Com a popularização e consequente aumento nas extrações de quartzito, espera-se


uma queda no preço de materiais mais padronizados, como são os casos de alguns
brancos e acinzentados.

3.5 ECONOMIA MINERAL

De acordo com Baudson (2008), a avaliação econômica de projetos tem por objetivo
apresentar critérios econômicos que auxiliem investidores na tomada de decisão e
busquem direcionar os investimentos aos projetos que apresentem as melhores
rentabilidades, baseados numa análise ampla dos seguintes aspectos:
27

• Técnicos: análise da localização do empreendimento, das necessidades de


infraestrutura, dos recursos materiais, de mão de obra, de produção, tecnológicos,
entre outros; com o intuito de se concluir sobre possíveis custos necessários ao
investimento e a operação do empreendimento;
• Econômicos: análise, com base nas projeções do fluxo de caixa, dos resultados
econômicos referentes à liquidez, a rentabilidade e aos riscos do projeto;
• Financeiros: análise dos recursos disponíveis para serem aplicados nos projetos,
buscando-se o equilíbrio na utilização de capital próprio e de terceiros;
• De risco: análise das possíveis consequências das decisões dos investimentos e
financiamentos a serem realizados no projeto, de forma a se obter uma maior
compreensão dos riscos envolvidos e um maior conhecimento dos aspectos mais
sensíveis do projeto e, assim, dispor de maior segurança na tomada de decisão;
• Intangíveis: análise de fatores não quantificáveis, tais como: instabilidade
política, regras econômicas claras, opinião pública, impactos ambientais, etc.

Ainda segundo Baudson (2008), “o processo de avaliação de um projeto de mineração


consiste em comparar as alternativas econômicas, para selecionar aquela mais
rentável entre as apresentadas, após o estudo de sensibilidade e a análise de riscos”.
As alternativas de investimento são avaliadas a partir da projeção dos Fluxos de Caixa
(FCs), considerando:

a) As características geológicas da reserva mineral;


b) Os aspectos de produção tendo em vista os desembolsos e receitas que deverão
ocorrer ao longo da vida útil do projeto;
c) A análise de mercado através do acompanhamento de suas necessidades e
possíveis demandas;
d) Os fatores relacionados aos aspectos da política governamental (carga tributária,
incentivos fiscais, financeiros, etc.).

Assim, a partir desses elementos, são montados os Fluxos de Caixa (FCs) do projeto
relativo aos anos de implantação e de produção. Dessa forma, o FC líquido anual é a
diferença entre todas as “entradas anuais de caixa” e todas as “saídas anuais de
caixa” (SOUZA, 2005).
28

Segundo Baudson (2008), a avaliação econômica de jazidas minerais envolve uma


grande quantidade de variáveis. Assim, no estudo de viabilidade econômica do projeto
é necessário levantar os seguintes elementos:

a) Vida útil da mina: é o número de anos que o projeto deve ser mantido em
operação, podendo ser condicionada a uma exigência contratual, a reserva de
minério lavrável, nível de produção, restrições ambientais, etc.;
b) Investimento de Capital (CAPEX): compreende os investimentos iniciais para
aquisição e instalação de equipamentos, a infraestrutura da jazida, os projetos de
pesquisa e engenharia, as despesas pré-operacionais e o capital de giro que
representa a quantia necessária para manter o empreendimento em
funcionamento por um período de tempo;
c) Receitas: são as entradas de caixa decorrentes das vendas dos produtos gerados
pelo investimento. Da receita anual estimada, abatem-se os tributos indiretos
(ICMS, PIS, IOF, COFINS e CFEM) que incidem sobre a mesma, obtendo-se a
receita operacional líquida;
d) Custos e demais Despesas Operacionais: são as saídas de caixa resultantes
do processo de produção (OPEX – Operational Expenditure), como, custo de mão
de obra, insumos, gastos com energia, diesel, água e etc., custos administrativos
e os custos com a reabilitação ambiental. Os custos são geralmente classificados
como: Custos Fixos - não dependem do volume de produção e comumente estão
ligados às decisões administrativas - e Custos Variáveis - são custos que variam
diretamente com o volume de produção, como combustíveis, explosivos,
manutenção de equipamentos, etc.
e) Encargos de Capital: podem ser consideradas as despesas não monetárias, pois
não envolvem saídas efetivas de caixa, ou seja, são apenas dedutíveis do lucro
antes dos tributos diretos para se obter o lucro tributável. Os encargos de capital
são representados pela depreciação, amortização e exaustão.
• Depreciação: É a redução de valor dos bens do ativo, resultante do desgaste
pelo uso, pela ação da natureza ou por obsolescência. Ocorre devido a causas
técnicas ou econômicas e pode ser determinada pela equação 1:
29

Valor de aquisição do ativo - Valor Residual


Depreciação = (1)
Vida Útil

• Amortização: Incide sobre o valor dos bens incorpóreos (direitos) com prazo
legal ou contratualmente limitado: patentes de invenção, direitos autorais,
licenças, etc. Do ponto de vista econômico, a amortização é a redução do
valor do direito devida à extinção gradativa do mesmo com o passar dos anos.
A quota anual de amortização é calculada em função do custo de aquisição e
do número de anos da existência ou uso do direito.
• Exaustão: A quota de exaustão da jazida corresponde a uma compensação
devido à diminuição das reservas, motivada pela extração anual do minério.
A exaustão anual (Ea) poderá ser calculada de acordo com a equação 2:

(Va - Vr)
Ea = . Pa (2)
R

Sendo:
Va = valor de aquisição do ativo;
Vr = valor residual;
Pa = produção anual;
R = reserva geológica.

f) Tributos: podem ser diretos ou indiretos. Os diretos são aqueles incidentes sobre
o lucro, sendo representados pela Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
(CSLL) e o Imposto de Renda (IR). Já os tributos indiretos são aqueles incidentes
sobre o faturamento, sendo representados por: Imposto sobre Operações
relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de
Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), Imposto
sobre Operações Financeiras (IOF), Contribuição para Financiamento da
Seguridade Social (COFINS), Programa de Integração Social (PIS) e
Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM).
30

A partir dos elementos descritos anteriormente, é montado o quadro 1, que representa


o Fluxo de Caixa (FC) de um projeto de mineração.

Quadro 1 – Fluxo de Caixa (FC) de um Projeto de Mineração.


(1) Investimento Inicial
(2) Reposição de Equipamentos
(3) Capital de Giro
(4) Investimento Total: (1) + (2) + (3)
(5) Valores Financiados
(6) Amortização do Financiamento
(7) Juros do Financiamento
(8) FC do Financiamento: (6) + (7) + (8)
(9) Investimento com Recursos Próprios: (4) + (8)
(10) Receita Operacional Bruta
(11) Impostos sobre o Faturamento (Alíquota) x 10
(12) CFEM (2%) * ((10) – (11))
(13) Receita Operacional Líquida: (10) + (11) + (12)
(14) Receita Não Operacional
(15) Receita Total: (13) + (14)
(16) Custo Operacional
(17) Lucro Antes do IR: (15) – (16)
(I) Fluxo de Caixa Antes do IR: (9) + (17)
(18) Depreciação
(19) Amortização Fiscal
(20) Exaustão Mineral
(21) Encargos de Capital: (18) + (19) + (20)
(22) Lucro Tributável: (17) – (21) + (9)
(23) Tributos Diretos: (Alíquota) x (22)
(24) Lucro Após IR: (17) – (23)
(II) FC Após IR: (9) + (24)
Fonte: Modificado de Souza (2005).
31

3.5.1 Cálculo Financeiro Aplicado à Avaliação Econômica de Projetos

3.5.1.1 Juros

A noção mais básica de juro é a do “dinheiro pago pelo uso do dinheiro”. A teoria
econômica considera juro como remuneração do fator capital, isto é, para produzir
qualquer bem ou prestar qualquer serviço, o agente econômico combina os fatores de
produção capital, trabalho e recursos naturais, a um nível de tecnologia disponível,
devendo cada um desses fatores ser remunerado: o trabalho, através dos salários; o
capital, pelos juros; e, os recursos naturais, pela renda (SOUZA, 2005).

3.5.1.2 Valor do Dinheiro no Tempo

Para uma correta avaliação econômica dos fluxos de caixa, faz-se necessário levar
em consideração o valor do dinheiro no tempo, pois uma determinada quantia
monetária hoje não tem o mesmo valor em outra data, considerando-se que o capital
cresce ao longo dos períodos devido à existência dos juros. Assim, financeiramente é
incorreto realizar operações como somar, subtrair ou comparar valores monetários
que ocorram em datas diferentes. Portanto, para realizar essas operações, deve-se
capitalizar ou descontar os valores para uma mesma data, utilizando a mesma taxa
de juros (BAUDSON, 2008).

3.5.1.3 Fator de Acumulação de Capital

Capitalização é o processo pelo qual os juros se incorporam ao capital, podendo ser


simples ou composta. Na capitalização composta, no final de cada período, os juros
se incorporam ao capital, formando um novo capital que passa a render juros no
período subsequente, dessa forma, também os juros gerados passam a render juros
(SOUZA, 2005). Esse processo é dado pela equação 3.

VF = VA . (1 + i)n (3)
32

Sendo:
VF = Valor Futuro;
VA = Valor Presente;
i = Taxa de Juros por período;
n = Número de Períodos.

3.5.1.4 Fator de Desconto ou Fator de Valor Atual

A operação financeira que permite determinar o valor presente, de um valor futuro


conhecido, é chamada de Desconto. Sendo simplesmente a operação inversa da
capitalização (FAZOLO, 2014). Assim, temos a equação 4.

VF
VA = (4)
(1 + i)n

3.5.1.5 Valor Atual da Série Uniforme

O fator de valor atual de uma série uniforme é utilizado para calcular o valor atual
numa data zero de uma série uniforme de n pagamentos/recebimentos (FAZOLO,
2014). Dada pela equação 5.

(1 + i)n - 1
VA = R . (5)
(1 + i)n . i

3.5.1.6 Recuperação de Capital

O fator de recuperação de capital é utilizado para calcular uma série uniforme de


pagamentos/recebimentos periódicos que serão gerados por uma dada quantia
investida agora (FAZOLO, 2014). Conforme equação 6.

(1 + i)n . i
R = VA . (6)
(1 + i)n - 1
33

3.5.1.7 Acumulação de Capital da Série Uniforme

O fator de acumulação de uma série uniforme é utilizado para calcular o valor futuro
de uma série uniforme de n pagamentos/recebimentos periódicos (FAZOLO, 2014).
Visto na equação 7.

(1 + i)n - 1
VF = R . (7)
i

3.5.1.8 Formação de Capital da Série Uniforme

O fator de formação de capital de uma série uniforme é utilizado para calcular uma
série de n pagamentos/recebimentos periódicos uniformes, o qual acumulará uma
dada quantia ao término de n períodos (FAZOLO, 2014). Mostrado na equação 8.

i
R = VF . (8)
(1 + i)n - 1

3.5.1.9 Amortização de Empréstimos e Financiamento

A alocação de recursos para a implantação de empreendimentos pode ser realizada


com o capital próprio da empresa, ou por meio de capital de terceiros, via
empréstimo/financiamento realizado por meio de instituições financeiras, ou através
de uma combinação de ambos (BAUDSON, 2008).
Segundo Fazolo (2014), os financiamentos e empréstimos deverão ser restituídos à
instituição financeira, acrescidos de sua remuneração que são os juros. As diferentes
maneiras de devolução do principal e mais os juros chamam-se Sistemas de
Amortização. Os principais sistemas de amortização praticados pelos bancos são:
Sistema de Amortização Constante (SAC) e Sistema de Amortização Francês (Tabela
Price).

• Sistema de Amortização Constante (SAC):

As parcelas de amortização são constantes em todo o prazo de operação. Nesse


sistema, o financiamento é pago em prestações periódicas decrescentes, constituídas
34

de duas parcelas: amortização e juros. O valor da amortização é calculado mediante


a divisão do principal pelo número de prestações (BAUDSON, 2008).

• Sistema de Amortização Francês (Tabela Price):

As prestações são constantes, periódicas e sucessivas, correspondendo, pois, a uma


série uniforme de pagamentos. Os juros incidentes sobre o saldo devedor são
decrescentes e as parcelas de amortização assumem valores crescentes a cada
período (BAUDSON, 2008). Para o cálculo da prestação é utilizada a equação 9.

(1 + i)n . i
PMV = VA . (9)
(1 + i)n - 1

Em que:
PMV = Valor da Prestação;
VA = Valor Atual do Financiamento;
i = Taxa de Juros;
n = Número de Parcelas.

3.5.2 Métodos de Avaliação Econômica de Projetos

Segundo Souza (2005), os métodos de avaliação e seleção de projetos combinam os


conceitos de fluxo de caixa e de valor do dinheiro no tempo no seu desenvolvimento.
Os projetos podem ser classificados em Mutuamente Excludentes, Independentes e
Condicionados. Os projetos Mutuamente Excludentes ocorrem quando a seleção de
uma alternativa exclui a seleção das demais do grupo de alternativas mutuamente
excludentes. As alternativas Independentes ocorrem quando a sua escolha não afeta
as demais alternativas. Já as alternativas Condicionadas ocorrem quando a aceitação
da alternativa está condicionada a aceitação de uma alternativa inicial (FAZOLO,
2014).
Após analisar os indicadores de rentabilidade das alternativas, o investidor tem a
opção de aceitar ou recusar a proposta, selecionar a melhor alternativa ou combinar
alternativas independentes do investimento (FAZOLO, 2014).
35

3.5.2.1 Método dos Períodos de Payback

É o número de períodos que uma empresa leva para recuperar o investimento original,
a partir do Fluxo de Caixa. Pode ser calcular o Payback simples ou o Payback
descontado. O Payback descontado leva em conta o valor do dinheiro no tempo, fato
que não acontece com o Payback simples. Do ponto de vista econômico, quanto
menor o Payback melhor será o projeto (BAUDSON, 2008).
De acordo com Souza (2005), o método tem como vantagem a simplicidade do
cálculo, resultando em um número a ser usado como parâmetro da alternativa. Como
desvantagem, citam-se as de não considerar a vida útil da alternativa e a velocidade
de recuperação do investimento dentro dos períodos de Payback.
Como técnica, apresenta muitas inconveniências ao ser aplicado isoladamente.
Assim, na prática, não é considerado um método de avaliação propriamente dito e sim
um parâmetro da estratégia de investimento (FAZOLO, 2014).

3.5.2.2 Método do Valor Presente Líquido (VPL) ou Valor Atual (VA)

Para o investidor decidir aceitar ou rejeitar uma alternativa isolada de investimento é


necessário que ele tenha à sua disposição uma alternativa comparativa, no qual ele
possa aplicar a sua disponibilidade de recursos a uma taxa de juros, conhecida como,
taxa mínima de atratividade (FAZOLO, 2014).
Sendo assim, o Valor Presente Líquido ou Valor Atual é a diferença entre o valor
presente das quantias futuras envolvidas e o investimento inicial. No cálculo do VPL
é utilizada a taxa mínima de atratividade.
Segundo Baudson (2008), quando o resultado obtido é positivo, isto significa que as
quantias futuras, descontadas à taxa mínima de atratividade, superam todo o capital
investido, o que torna atrativa a proposta. Ao contrário, quando é negativo, isto
significa que se está investindo mais do que se irá obter, o que é indesejável; dessa
forma, a mesma quantia, se fosse aplicada à taxa mínima de atratividade, renderia
mais do que no projeto em estudo.
O método tem como vantagem o fato de se considerar o valor do dinheiro no tempo e
a unicidade no seu resultado. E como desvantagens, a dificuldade do investidor de
estabelecer a taxa de atratividade e o fato de projetos com investimentos iniciais
diferentes poderem ter o mesmo Valor Atual (FAZOLO, 2014).
36

O método do VA pode ser determinado pela equação 10.

n
FCj
VA = ∑ (10)
(1 + i)j
j=0

Sendo:
VA = Valor Atual;
FC = Fluxo de Caixa;
n = Duração do projeto;
j = Período;
i = Taxa de Desconto.

Quando o VA for maior ou igual a “0” (zero) o projeto é atrativo, caso contrário, o
projeto não é atrativo.

3.5.2.3 Método do Valor Anual Equivalente (VAE)

O método do VAE consiste em transformar a distribuição de FC’s, representativo de


cada alternativa de análise, em uma série periódica uniforme equivalente de duração
igual à sua vida útil. Para calcular os termos da série deve-se usar a taxa mínima de
atratividade (SOUZA, 2005).
As vantagens e desvantagens desse método são as mesmas apontadas para o
método do VA. Assim, para calcular o VAE, aplica-se o fator de recuperação de capital,
conforme equação 11.

(1 + i)n . i
VAE = VA . (11)
(1 + i)n - 1

Quanto a alternativa do VAE resultar em valor positivo deve-se aceitar o projeto, caso
contrário, a alternativa deve ser rejeitada em favor da alternativa comparativa
(FAZOLO, 2014).
37

3.5.2.4 Método da Taxa Interna de Retorno (TIR)

De acordo com Fazolo (2014), a Taxa Interna de Retorno ou Taxa de Rentabilidade é


definida como a taxa de desconto que anula o VA de sua distribuição de Fluxo de
Caixa. A equação 12 define a TIR.

VA (TIR)=0 (12)

Caso a TIR seja igual ou maior que a taxa mínima de atratividade, a alternativa é viável
economicamente, pois, a rentabilidade do projeto será maior que o custo dos recursos
aplicados ao investimento (BAUDSON, 2008).
Segundo Souza (2005), a vantagem desse método é que para o cálculo da TIR não é
necessário o uso de elementos externos (taxa mínima de atratividade), apenas os
dados internos (FC’s) do projeto. Como desvantagem cita-se a possibilidade de um
FC ter nenhuma ou mais de uma TIR, tornando a avaliação prejudicada ou impossível
por esse método.

3.5.2.5 Análise de Sensibilidade

De acordo com Souza (2005), a análise de sensibilidade é o elo de ligação entre a


avaliação econômica (baseada nas “melhores estimativas” pontuais de cada
parâmetro de entrada) e a análise de risco (baseada na distribuição dos valores
assumidos por cada variável estratégica com respectivas probabilidades de
ocorrência). Esse estudo consiste em verificar o que ocorre com o retorno do projeto,
quando um elemento do FC, doravante denominado parâmetro do projeto, assume
valores diferentes em torno da sua “melhor estimativa”.
Ainda segundo o autor, a análise de sensibilidade é útil para identificar os parâmetros
de entrada que são consideradas variáveis estratégicas do projeto. A oscilação das
variáveis estratégicas, ou críticas, provocam uma intensa modificação no retorno do
projeto. A análise de sensibilidade também permite delimitar o limite de um valor para
cada variável estratégica, a partir do qual o projeto é economicamente viável.
Uma crítica à análise de sensibilidade é a de que uma variável não assume um valor
de forma isolada; no entanto, essa crítica não invalida a utilidade de tal análise, tendo
em conta que, se há correlação entre duas ou mais variáveis estratégicas, a análise
38

de sensibilidade permite indicar o parâmetro em relação ao qual o retorno apresenta


maior sensibilidade (SOUZA, 2005).

4 METODOLOGIA

4.1 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA, PLANEJAMENTO E LAVRA

4.1.1 Pesquisa e Planejamento

O primeiro passo para a abertura de uma pedreira de quartzito é a seleção de áreas


que contenham este tipo de jazimento. Minas Gerais, Bahia e outros estados da região
nordeste, são algumas das regiões com potencial de ocorrência. O estudo de mapas
geológicos, imagens de satélites, infraestrutura, geologia regional, etc., juntamente
com a análise das áreas de interesse junto à Agencia Nacional de Mineração (ANM),
compreendem a parte inicial da pesquisa, e permitem que o minerador faça sua
seleção.
Feita a seleção da área de interesse e mediante autorização do órgão mineral e
ambiental, os trabalhos técnicos podem ser iniciados, com o objetivo de se conhecer
melhor o jazimento da forma quantitativa e qualitativa. Trabalhos como sondagens,
caracterização do maciço, indicação de afloramentos, remoção da cobertura e
capeamento, etc., possibilitam o cálculo de reservas e análise de pré-exequibilidade
econômica de lavra, tendo em vista que este tipo de empreendimento pressupõe o
conhecimento integrado de todos os segmentos de atividades, tanto de pesquisa
geológica, caracterização tecnológica e lavra, quanto de transporte, beneficiamento,
marketing e comercialização.
A legislação brasileira distingue o solo do subsolo quando o assunto é a extração
mineral, ou seja, o proprietário da terra é dono apenas da parte superficial do terreno,
mas não do subsolo. Logo, faz-se necessário que o minerador e o proprietário do
terreno assumam um acordo com o objetivo de compensar o proprietário devido aos
trabalhos na área. O mais comum é o minerador pagar uma mensalidade fixa ou uma
porcentagem do lucro da venda dos blocos ao dono da terra para poder extrair no
local desejado.
39

Ainda durante a fase de pesquisa, o minerador poderá solicitar a Guia de Utilização


(GU), que permite, em caráter excepcional, o aproveitamento da substância mineral,
respeitando a legislação ambiental e as máximas quantidades fixadas pela ANM.
Para que o titular do direito consiga todas as licenças, minerárias e ambientais,
necessárias para o início do empreendimento, estima-se um gasto de R$ 40.000,00.

4.1.2 Plano de Lavra

O método de lavra é o fator condicionante nos custos e na escala de produção de uma


mina, ditando, portanto, toda a coordenação necessária aos trabalhos de
desenvolvimento e produção. O método utilizado na pedreira em questão será a céu
aberto, com o sistema convencional de bancadas e gavetas com a individualização
dos blocos através de cortes distintos de pranchas, que são destacadas do maciço
através do método de corte com fio diamantado.

Figura 8 – Desenho esquemático mostrando uma gaveta aberta no maciço, para


retirada de blocos.

Fonte: Autor (2021).

Considerando o método de lavra previsto e práticas utilizadas em outras pedreiras de


quartzitos na mesma região, pode-se estimar a recuperação nesta lavra em valores
que variam de 30% a 40%, devido a dificuldades técnicas, topográficas, ambientais,
etc.
40

No que diz respeito à extração de rochas ornamentais, o porte do empreendimento


está diretamente ligado ao tipo de material. Materiais básicos demandam alta
produção; materiais exóticos, como os quartzitos, tendem a uma produção mais baixa.
Diante deste fato, para uma produção mensal média de 35 m³ de blocos, considerando
uma recuperação de 30%, será necessário o desmonte mensal de 117 m³ de rocha
bruta. Portanto, teremos uma produção anual de aproximadamente: 1.404 m³/ano x
30% = 421 m³/ano, com geração total de 980 m³/ano de rejeitos.
Para que se iniciem os trabalhos de lavra, são necessários serviços de
desenvolvimento que garantam a continuidade das operações de lavra sem
interrupções. Assim, tornam-se necessários os seguintes serviços:

• Abertura de Acessos: Possibilitam o tráfego dentro da pedreira e o escoamento


dos blocos;
• Decapeamento: Retira a camada de terra e sedimentos sobre a rocha;
• Pátio de Serviço: Local situado na frente de lavra, destinado à manobra de
equipamentos e carregamento dos blocos;
• Depósito de Estéreis: Deverá ser construído em área próxima à frente de lavra,
de forma a não comprometer a expansão futura desta;
• Obras Civis: Prevê-se a construção de um pequeno refeitório dotado de
instalações sanitárias.

4.2 ANÁLISE ECONÔMICA

Com as devidas licenças em mãos e provada a exequibilidade técnica e econômica


da atividade, o minerador pode, então, dar início a atividade de lavra. Porém, quando
comparada com as outras minerações, a pedreira de rocha ornamental tem uma
particularidade no que se refere a sua vida útil. A vida útil de uma pedreira não
depende somente do tamanho da sua reserva e da produção, ela depende também
do mercado. Por mais que ainda haja material a ser extraído, se o mercado não aceitar
mais o padrão do material, a pedreira terá dificuldades em suas vendas, chegando em
alguns casos a ter suas atividades suspensas. Para a empresa simulada, a vida útil
para a produção mensal de 35 m³ vai ser de 10 anos.
41

Devido a localização do empreendimento e sua distância de grandes centros urbanos,


a consequente falta de mão de obra especializada em manutenções e dificuldade em
adquirir certos insumos e equipamentos, a empresa optou pela compra de
equipamentos novos.
Durante uma análise, chegou-se à conclusão de que o risco que se corre ao adquirir
um equipamento ou maquinário usado e ter seu uso interrompido devido a uma
possível manutenção seria inviável. Os investimentos com a aquisição de
equipamentos, maquinário e obras preliminares foram calculados em R$ 1.100.000,00
e estão detalhados conforme a tabela abaixo.

Tabela 3: Investimento inicial com aquisição de equipamentos e obras preliminares.


VALOR UNITÁRIO VALOR TOTAL
EQUIPAMENTOS QUANTIDADE
(R$) (R$)
Escavadeira Hyundai 260 R$ 600.000,00 1 R$ 600.000,00

Grupo Gerador AGF GS165 R$ 80.000,00 1 R$ 80.000,00

Compressor AGF CP420 R$ 100.000,00 1 R$ 100.000,00

Máq. de Fio Diamantado AGF 75 CV R$ 100.000,00 1 R$ 100.000,00

Máq. de Fio Diamantado AGF 25 CV R$ 40.000,00 1 R$ 40.000,00

Perfuratriz Fundo e Furo R$ 40.000,00 1 R$ 40.000,00

Martelete RH658 R$ 4.000,00 2 R$ 8.000,00

Pau de Carga R$ 25.000,00 1 R$ 25.000,00

Insumos R$ 80.000,00 1 R$ 80.000,00

Contêiner R$ 12.000,00 1 R$ 12.000,00

Obras Preliminares R$ 15.000,00 1 R$ 15.000,00

TOTAL R$ 1.100.000,00
Fonte: Autor (2021).

A Hyundai 260 é uma escavadeira de esteiras com capacidade de 26 toneladas. Se


equipada com uma concha graniteira (diferencia-se da concha convencional no seu
formato e dimensões, próprios para o trabalho de movimentação de blocos) torna-se
um equipamento capaz de efetuar a maioria das atividades, como o decapeamento,
42

abertura de praças de trabalho, tombamento de bancadas, manejo e carregamento


de blocos, além de auxiliar em outras atividades complementares.
No terceiro ano de produção, está previsto nos planos da empresa a aquisição de uma
carregadeira, em bom estado de conservação, que complementaria os serviços da
escavadeira, tornando as operações ainda precisas para cada tipo de equipamento.
A região onde se localiza o empreendimento não possui fornecimento de energia, tão
pouco trifásica, portanto, faz-se necessário a compra de um gerador a diesel para
alimentar as máquinas de fio diamantado de 75 e 25 cavalos. O AGF GS165 atende
bem estes requisitos.
A tecnologia atual mais avançada de corte de rochas é o fio diamantado. Uma
máquina de fio diamantado com 75 cv tem força suficiente para realizar os cortes
maiores e auxiliar no esquadrejamento dos filões em blocos. A máquina de 25 cv é
menor e mais leve, e é indicada para subdivisão da prancha em blocos, e muitas vezes
mostra-se mais eficiente para este serviço do que uma máquina maior.

Figura 9 – Máquina de Fio Diamantado realizando o esquadrejamento de um bloco.

Fonte: Autor (2021).

O compressor selecionado é o AGF CP420 com vazão de 420 PCM. Por ser móvel
possui grande versatilidade e é capaz de tocar a perfuratriz fundo e furo juntamente
com até dois marteletes.
43

A perfuratriz fundo e furo ou DTH (Down The Hole), como também é conhecida, é
responsável pela realização dos furos verticais e horizontais na rocha, permitindo a
passagem do fio diamantado e o corte das bancadas. O diâmetro de furação é de 90
mm e sua precisão é consideravelmente maior do que a dos marteletes. Em pedreiras
de quartzito os marteletes são pouco utilizados devido a alguns fatores como a dureza
do material. Seus usos se concentram em casos pontuais.

Figura 10 – Compressor pneumático e perfuratriz fundo e furo realizando furo


horizontal.

Fonte: Autor (2021).

Figura 11 – Abertura de uma frente de lavra e principais equipamentos utilizados em


uma pedreira de quartzito.

Fonte: Autor (2021).


44

Na foto 11, logo acima, podemos ver a limpeza realizada na área para o acesso à
rocha, juntamente com a maioria dos equipamentos anteriormente mencionados.
O pau de carga pode ser feito de aço e deve possuir um laudo que comprove sua
capacidade de suporte para realizar o carregamento dos blocos. A operação de
carregamento é considerada uma das de risco mais elevado em uma pedreira, pois
os blocos de até 35 toneladas são erguidos a mais ou menos 2 metros de altura, para
que então a carreta manobre e se posicione abaixo do bloco, efetuando a operação.
O contêiner é utilizado para guardar equipamentos, peças e insumos usados na
pedreira, e sua vantagem é que ele pode ser realocado dependendo das
necessidades.
Os insumos para a pedreira incluem o fio diamantado, os equipamentos de perfuração
em geral, as mangueiras, os lubrificadores de linha, cabos de aço, EPI’s, entre outros.
As obras preliminares incluem a abertura de acessos, a construção da praça de
trabalho e um pequeno refeitório com banheiro para uso dos funcionários.
Para realizar as operações na pedreira são necessários 6 funcionários, conforme
tabela 4.

Tabela 4 – Quadro de funcionários da Pedreira.

CARGOS QUANTIDADE SALÁRIO UNITÁRIO (R$)

Engenheiro de Minas 1 R$ 4.000,00

Encarregado de Produção 1 R$ 4.000,00

Operador de Escavadeira 1 R$ 3.000,00

Operador de Máq. de Fio Diamantado 1 R$ 2.500,00

Operador de Perfuratriz Fundo e Furo 1 R$ 2.500,00

Ajudante 1 R$ 1.500,00

TOTAL 6 R$ 17.500,00
Fonte: Autor (2021).

O Engenheiro de Minas é o responsável técnico da pedreira. Ele deve planejar a curto,


médio e longo prazo a extração de forma mais eficiente para atender o mercado e
preservar o meio ambiente. Além disso, o Engenheiro de Minas é responsável pelos
45

projetos pertinentes ao empreendimento e atua como consultor mineral perante a


ANM.
O Encarregado de Produção é o funcionário que executa as recomendações do
Engenheiro de Minas. Ele é responsável por comandar e coordenar as operações
dentro da pedreira, de forma a obter o melhor aproveitamento possível.
O Operador de Escavadeira comanda a escavadeira de esteiras. O Operador de
Máquina de Fio é responsável pelos cortes na rocha e deve estar bem alinhado com
o Operador de Perfuratriz Fundo e Furo, cuja responsabilidade é realizar os furos na
rocha permitindo a passagem do fio. O Ajudante desempenha um trabalho mais
braçal, mas não menos importante, dando suporte a todos os outros funcionários e
organizando o contêiner de peças.
Para calcular os custos e montar o fluxo de caixa, devem-se considerar ainda os
encargos sociais incidentes sobre o salário dos funcionários.
O capital de giro calculado para manter a pedreira em funcionamento é de R$
110.000,00. Para se calcular o capital de giro levou-se em conta o estoque do material
de manutenção, o estoque dos insumos e o dinheiro em caixa para o pagamento de
contas e eventuais necessidades.
Por tanto, o CAPEX de uma pedreira de quartzito de pequeno porte, com
equipamentos novos é de R$ 1.250.000,00. Para chegar a esse valor devem-se
considerar todos os gastos com pesquisa, com a aquisição dos equipamentos e com
o capital de giro, demonstrado na tabela 5.

Tabela 5 – CAPEX.

INVESTIMENTOS VALOR (R$)

Pesquisa + Taxas + Licenças R$ 40.000,00

Aquisição de Equipamentos + Obras R$ 1.100.000,00

Capital de Giro R$ 110.000,00

TOTAL R$ 1.250.000,00
Fonte: Autor (2021).

Os trabalhos de pesquisa mineral, as taxas, os emolumentos e os honorários dos


profissionais para conseguir as licenças nos órgãos mineral (ANM) e ambiental (IEMA)
estão orçados em R$ 40.000,00. Para chegar a esse valor, também foram
46

considerados os honorários para elaborar o relatório final de pesquisa e o


requerimento de lavra, com a apresentação do plano de aproveitamento econômico
(PAE).
Devido ao grande investimento, o mais comum é o financiamento de boa parte do
montante total. No presente trabalho, simulou-se um financiamento de R$
1.000.000,00, parcelados em 60 meses, a uma taxa de juros de 7,0% a.a e uma
inflação projetada em 3,5% com 12 (doze) meses de carência. O sistema de
amortização do financiamento é o sistema Francês.
Utilizando a equação 9 para o cálculo das prestações do financiamento de R$
1.000.000,00, temos:

(1 + 0,005654)60 . 0,005654
PMV = 1.000.000,00 . = R$ 19.699,82
(1 + 0,005654)60 - 1

As 60 parcelas de R$ 19.699,82 geram um montante de R$ 1.181.989,20, ou seja, o


empreendedor vai pagar R$ 181.989,20 de juros do financiamento.
A depreciação dos bens varia de equipamento para equipamento, as edificações, por
exemplo, têm vida útil de 20 anos. A depreciação de todos os equipamentos está
detalhada na tabela 6.

Tabela 6 – Depreciação dos Equipamentos


INVESTIMENTO DEPRECIAÇÃO
EQUIPAMENTOS V. Res (%) V. Res (R$) ANOS
(R$) MENSAL (R$)
Escavadeira R$ 600.000,00 25 R$ 150.000,00 10 R$ 3.750,00

Grupo Gerador R$ 80.000,00 10 R$ 8.000,00 10 R$ 600,00

Compressor R$ 100.000,00 10 R$ 10.000,00 10 R$ 750,00


Máq. de Fio 75
R$ 100.000,00 10 R$ 10.000,00 10 R$ 750,00
CV
Máq. de Fio 25
R$ 40.000,00 10 R$ 4.000,00 10 R$ 300,00
CV
Perfuratriz Fundo
R$ 40.000,00 10 R$ 4.000,00 10 R$ 300,00
e Furo
Martelete R$ 8.000,00 10 R$ 800,00 5 R$ 120,00

Pau de Carga R$ 25.000,00 10 R$ 2.500,00 10 R$ 187,50

TOTAL R$ 6.757,50
Fonte: Autor (2021).
47

Logo, teremos uma depreciação mensal de equipamentos no valor de R$ 6.757,50, e


consequentemente uma depreciação anual de R$ 81.090,00.
Os custos operacionais da pedreira foram calculados em R$ 143.757,50 por mês.
Para a produção de 35 m³ mensais, o custo unitário é R$ 4.107,36/m³. A tabela 7
exemplifica esses custos.

Tabela 7 – Custos Operacionais Mensais

ITEM CUSTO MENSAL (R$)

Mão de Obra (com encargos) R$ 25.000,00

Combustíveis e Lubrificantes R$ 20.000,00

Fio Diamantado R$ 25.000,00

Peças de Perfuração R$ 10.000,00

Manutenção Mecânica R$ 25.000,00

Peças de Reposição de Equipamentos R$ 7.000,00

Depreciação R$ 6.757,50

Royalties ao Superficiário R$ 10.000,00

Encargos Financeiros R$ 5.000,00

Outros R$ 10.000,00

TOTAL R$ 143.757,50
Fonte: Autor (2021).

O óleo diesel é usado na escavadeira, no compressor e no gerador. Considerando um


consumo dos três equipamentos para produzir a meta mensal de blocos, o gasto vai
ser de R$ 20.000,00/mês, incluindo os lubrificantes, que são necessários para manter
o bom funcionamento de quase todos os equipamentos dentro da pedreira.
Atualmente, um bom fio diamantado custa cerca de US$ 60,00/m a US$ 70,00/m. Seu
rendimento médio varia de 10 a 15 m²/m, podendo ser ainda menor devido à dureza
do quartzito. Considerando a produção líquida de 35 m³/mês, dólar em R$ 5,30 e um
consumo mensal de 65 m de fio, chegamos a um custo mensal de R$ 25.000,00.
48

As peças de perfuração incluem os custos de perfuração tanto da perfuratriz fundo e


furo (DTH) quanto do martelete. Considerando o desgaste das hastes e das brocas
de perfuração, o custo mensal será de R$ 10.000,00.
A manutenção mecânica engloba a revisão e conserto de todos os equipamentos
dentro da pedreira, desde o martelete à escavadeira. Seu custo de R$ 25.000,00/mês
é reflexo do porte dos equipamentos e a necessidade de uma mão de obra
especializada.
O restante dos custos inclui as peças de reposição devido ao desgaste natural,
depreciação dos equipamentos, royalties ao dono do terreno, encargos financeiros e
outros, como equipamentos de proteção individual (EPI’s), alimentação, etc.

4.2.1 Produção e Receitas Esperadas

Diante dos fatos apresentados anteriormente, a empresa projeta uma produção de 35


m³/mês de material. A medida dos blocos geralmente segue um padrão de
“comprimento x altura x largura” que é de 3,0 m x 1,8 m x 2,0 m, totalizando 10,8 m³
por bloco.
Muitas vezes, devido à natureza da rocha e suas imperfeições, não é possível produzir
blocos com a largura de 2,0 m. É aí que surgem as chamadas “enteras”, que são
blocos de mesmo comprimento e altura, porém com metade da largura. Não existe
nenhum problema na produção e comercialização de “enteras” e muitas vezes elas
são até preferidas pelos compradores por distribuírem melhor o peso durante o
transporte.
Considerando que o preço de venda de um bloco de 1ª qualidade seja de US$
1.700,00, de 2ª qualidade seja de US$ 1.500,00, e que 60% dos blocos extraídos
sejam de 1ª qualidade e, consequentemente, 40% sejam de 2ª qualidade, a receita da
empresa será estimada conforme a tabela abaixo.
49

Tabela 8 – Produção Líquida e Receitas Estimadas


PRDUÇÃO PRDUÇÃO RECEITA RECEITA
QUALIDADE PREÇO DE
MENSAL ANUAL BRUTA MENSAL BRUTA ANUAL
DO BLOCO VENDA (US$)
(m³) (m³) (US$) (US$)
1ª Qualidade 21,0 m³ 252,0 m³ US$ 1.700,00 US$ 35.700,00 US$ 428.400,00

2ª Qualidade 14,0 m³ 168,0 m³ US$ 1.500,00 US$ 21.000,00 US$ 252.000,00

TOTAL 35,0 m³ 420,0 m³ US$ 56.700,00 US$ 680.400,00


Fonte: Autor (2021).

Adotando uma estratégia mais conservadora para a venda de blocos, iremos


considerar o valor do dólar em R$ 5,00. Com isso, obteremos uma receita bruta
mensal de R$ 283.500,00, e anual de R$ 3.402.000,00.
É importante destacar que o quartzito é um material voltado para exportação, e por
esse motivo seu valor é cotado em dólar. Uma queda brusca no valor da moeda
americana pode resultar na inviabilidade do empreendimento.
A empresa simulada está inserida no regime do Simples Nacional, que é um regime
de tributação simplificado, voltado principalmente para as pequenas e médias
empresas, que recolhe todos os impostos municipais, estaduais e federais mediante
uma única guia. A porcentagem recolhida varia de acordo com o ramo de atividade e
considerando a arrecadação bruta anual do negócio. Segundo a lei complementar nº
155, de 27 de outubro de 2016, para uma arrecadação anual de R$ 3.402.000,00 a
tributação é de 14,70%.
A CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais) é
calculada sobre o valor do faturamento líquido, quando o produto mineral for vendido.
Entende-se por faturamento líquido o valor de venda do produto mineral, deduzindo-
se os tributos e as despesas que incidem no ato da comercialização. Sua alíquota é
de 1% sobre a receita líquida.

5 RESULTADOS

5.1 FLUXO DE CAIXA

Fluxo de Caixa é um Instrumento de gestão financeira que projeta para períodos


futuros todas as entradas e as saídas de recursos financeiros da empresa, indicando
50

como será o saldo de caixa para o período projetado. De fácil elaboração para as
empresas que possuem os controles financeiros bem organizados, ele deve ser
utilizado para controle e, principalmente, como instrumento na tomada de decisões.
O Fluxo de Caixa deve ser considerado como uma estrutura flexível, no qual o
empresário deve inserir informações de entradas e saídas conforme as necessidades
da empresa. Seu objetivo é verificar a saúde financeira do negócio a partir de uma
análise e obter uma resposta clara sobre as possibilidades de sucesso do
investimento e do estágio atual da empresa.
Com os valores dos investimentos, das receitas, das tributações e dos custos, foi
possível montar o Fluxo de Caixa da empresa.

Gráfico 2 – Fluxo de Caixa

Fluxo de Caixa
R$ 1.600.000,00

1.466.206,98
1.356.206,98
1.356.206,98

1.356.206,98
R$ 1.200.000,00
1.178.908,60

1.178.908,60
1.172.908,60
Receita Líquida

953.854,98

953.908,60

R$ 800.000,00
776.556,60
-250.000,00

R$ 400.000,00

R$ 0,00
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

-R$ 400.000,00
Anos

Fonte: Autor (2021).

O ano “0” teve o FC negativo devido ao investimento inicial feito pelo titular do título
minerário com pesquisa, licenças e aquisição de equipamentos. O resultado final do
FC do ano “0” é a diferença do investimento total inicial com o empréstimo, totalizando
R$ 250.000,00 negativos.
No ano “1”, iniciou-se a extração de quartzito. Como a empresa dispunha de todos os
equipamentos novos, considerou-se que ela, já no primeiro ano, atingiu a produção
51

esperada. Durante o período de carência do financiamento, a pedreira obteve um FC


positivo em mais de R$ 950.000,00.
O pagamento do financiamento se iniciou no ano “2” e estendeu até o ano “6”. Porém,
no ano “3” a empresa realizou a compra de uma carregadeira, no valor de R$
300.000,00, resultando em um aumento na produção de aproximadamente 20%. Este
aumento foi crucial e possibilitou que a empresa pudesse quitar mais um ano de
financiamento, pagar a nova máquina e ainda terminar o ano com um FC positivo de
mais de R$ 950.000,00.
No ano “4” verificou-se um leve aumento no FC, e não houveram variações
significativas até o ano “6”, que consequentemente foi o último ano de pagamento das
parcelas do financiamento.
A partir do ano “7”, a empresa, vendendo toda a produção, atingiu sua melhor fase e
gerou FC’s superiores a R$ 1.350.000,00 anuais.
Como o projeto analisado era de apenas 10 anos, e o mercado de rochas exóticas
varia de acordo com as tendencias, no último ano do projeto o capital de giro foi
descontado, resultando em um FC de R$ 1.466.206,98.

5.2 VALOR PRESENTE LÍQUIDO (VPL) OU VALOR ATUAL (VA)

Com os resultados obtidos a partir do FC da empresa, é possível determinar o Valor


Presente Líquido através da equação 10. A taxa de atratividade usada foi a taxa Selic,
que é um índice pelo qual as taxas de juros cobradas pelos bancos no Brasil se
balizam. Atualmente essa taxa é de 2,0% a.a, porém, alterações nesse valor já são
esperadas e podem causar variações nos resultados aqui obtidos.

10
FCj
VPL (2,0%, 10 anos) = ∑ = R$ 9.114.293,97
(1 + 0,02)j
j=0

O resultado positivo significa que o projeto é economicamente viável, ou seja, a


empresa vai conseguir, no final de 10 anos do projeto, uma riqueza de R$
9.114.293,97 em valores atuais.
52

5.3 VALOR ANUAL EQUIVALENTE (VAE)

O VAE do Fluxo de Caixa da empresa pode ser calculado usando a equação 11. Para
o cálculo considerou-se a taxa mínima de atratividade de 4,0%. Para os 10 anos do
projeto o VAE encontrado foi de R$ 1.127.408,39.

(1 + 0,04)10 . 0,04
VAE = 9.114.293,97 . = 1.127.408,39
(1 + 0,04)10 - 1

5.4 PERÍODO DE PAYBACK

Com a produção e o preço praticados pela empresa, o tempo de retorno descontado


do investimento total do projeto de R$ 1.250.000,00 é de 2 anos e 7 meses.

5.5 TAXA INTERNA DE RETORNO (TIR)

Com o FC montado e o Valor Atual definido é possível calcular a TIR usando a


equação 12. A Taxa Interna de Retorno é a taxa que anula o VPL do Fluxo de Caixa
do investimento, ou seja, o valor atual da série.

VA (TIR)=0

O valor da TIR para zerar o VPL é de 370,54%. Como a TIR calculada foi superior a
taxa mínima de atratividade, que é de 4,0%, o projeto se mostra economicamente
atrativo.

5.6 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE

De acordo com Souza (2005), a análise de sensibilidade consiste em verificar o que


ocorre com o retorno do projeto, quando um elemento do FC assume valores
diferentes em torno da sua “melhor estimativa”. Tal recurso é útil para identificar os
parâmetros de entrada, que são as variáveis críticas e estratégicas, cujas mudanças
provocam uma intensa variação no retorno do projeto.
O parâmetro usado para esta análise de sensibilidade será a taxa de câmbio.
53

Sendo o quartzito um material voltado principalmente para o mercado externo, seus


preços são cotados em dólar. No momento desta análise, a moeda americana vale
R$ 5,47 reais brasileiros. Entretanto, valores mais baixos foram registrados em anos
anteriores, como mostra a tabela a seguir:

Tabela 9 – Taxa de câmbio comercial para venda: Real (R$) / Dólar americano (US$)
– Média.

ANO TAXA DE CÂMBIO MÉDIA (R$/US$)

2016 R$ 3,4901

2017 R$ 3,1920

2018 R$ 3,6542

2019 R$ 3,9451

2020 R$ 5,1558
Fonte: Modificado de IPEADATA (2021).

Como vemos, o valor do dólar americano deu um salto no último ano, tendo
influenciado diretamente no valor de alguns materiais, como fio diamantado e aço,
bem como no valor de venda do quartzito.
Para esta análise se sensibilidade, consideraremos um cenário onde o dólar vale R$
3,80, ou seja, 24% a menos do que o valor antes proposto de R$ 5,00. Com isso,
chegaremos nos seguintes resultados:

Tabela 10 – Reflexos da variação do dólar no projeto.


TAXA DE
VPL VAE PAYBACK (ANOS) TIR (%)
CÂMBIO (R$)
R$ 5,00 R$ 9.114.293,97 R$ 1.127.408,39 2,6 370,54%

R$ 3,80 R$ 3.509.071,80 R$ 432.636,78 5,5 147,82%


Fonte: Autor (2021).

O Valor Presente Líquido do projeto teve uma queda considerável de 61,5%,


passando de 9 para 3,5 milhões. O Valor Anual Equivalente também diminuiu
consideravelmente, em menos da metade. O Período de Payback, tempo necessário
54

para a empresa recuperar seus investimentos, mais que dobrou, passando de 2,6 para
5,5 anos.
A Taxa Interna de Retorno caiu de 370,54% para 147,82%, demonstrando que mesmo
com todas essas quedas o projeto ainda é economicamente viável.

5.7 SÍNTESE DOS RESULTADOS E PERSPECTIVAS

Quando se fala em quartzitos, cada rocha é única e possui suas particularidades.


Muitas vezes, dentro de uma mesma formação, a rocha exibe diferentes padrões de
movimento e até mesmo de composição, fazendo com que seu aproveitamento seja
relativamente baixo. E é justamente por causa dessa variação que a pesquisa mineral
deve ser feita de forma eficiente e confiável, com o auxílio de profissionais capacitados
para tal, objetivando o máximo conhecimento do maciço, diminuindo os riscos e
possíveis imprevistos.
Materiais exóticos e básicos se diferenciam em diversos aspectos, porém um aspecto
chama bastante atenção: a produção. Como vimos, a produção média da pedreira
simulada é de 35 m³/mês, e consequentemente 420 m³/ano. Extrações de materiais
verdes e brancos, por exemplo, podem variar de 1000 a 2000 m³/mês, ou seja, estas
produzem, em um único mês, mais que o dobro da produção anual de um quartzito.
Logicamente que a disparidade de preços dos materiais comparados influencia
diretamente no fator produção.
Outro aspecto que se relaciona com a baixa produção é o baixo número de
funcionários que o empreendimento necessita. Para a empresa de pequeno porte
simulada, são necessários apenas 6 funcionários.
Por se tratar de um material que se popularizou a relativamente pouco tempo, e vive
agora seu melhor momento, cabe aos mineradores e empreendedores, enxergarem
essas oportunidades. O mercado varia constantemente, e o que hoje é considerado
belo e raro, pode não ser mais daqui a alguns anos.
Uma rocha que tem sido classificada por arquitetos e profissionais da área como
sendo possuidora da resistência dos granitos e da beleza dos mármores, mostra-se
altamente promissora, e este fato revela o tamanho do potencial que o quartzito tem
no mercado.
55

6 CONCLUSÃO

A extração de rochas ornamentais, principalmente de materiais exóticos como o


quartzito, é um empreendimento de alto risco. As dificuldades iniciais encontradas
pelo minerador que deseja implantar este tipo de extração são diversas, desde à
aquisição das licenças ambientais e minerárias, o elevado investimento inicial com os
equipamentos, e toda a logística que envolve o funcionamento de uma pedreira, que
geralmente se localiza em áreas remotas.
A produção brasileira de rochas ornamentais, juntamente com o mercado de rochas,
teve uma leve retomada no ano de 2019, reproduzindo os mesmos números de 2017.
Verificou-se, também, um aumento na produção e comercialização de quartzitos,
resultado de uma maior demanda por este tipo de material.
Por meio da análise financeira do empreendimento, os seguintes resultados foram
obtidos: Valor Presente Líquido (VPL): R$ 9.114.293,97; Valor Anual Equivalente
(VAE): R$ 1.127.408,39; Período de Payback: 2 anos e 7 meses; Taxa Interna de
Retorno (TIR): 370,54%. Ou seja, a análise se mostrou atrativa em todos os aspectos,
apresentando valores mais que satisfatórios.
Fatores estratégicos como a recuperação, produção e taxa de câmbio se mostraram
cruciais para o sucesso do empreendimento. A análise de sensibilidade permitiu-nos
verificar que uma redução no valor da moeda americana para níveis de anos
anteriores implicaria numa variação direta no projeto, reduzindo a TIR de 370,54%
para 147,82%. Isso mostra que mesmo que a rocha apresente boas qualidades e
quantidades, fatores externos podem torna-la economicamente inviável.
56

REFERÊNCIAS

BABISK, M. P.; VIDAL, F. W. H.; CORREIA, J. C. G. Estudo de aproveitamento de


resíduos finos de quartzito da Região de Seridó. II Simpósio de Minerais
Industriais do Nordeste. CETEM/UFPE, 2010.

BAUDSON, A. J. G. S. Aplicativo para a avaliação econômica de jazidas


minerais. 2008. 145 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Mineral,
Departamento de Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto,
2008.

BRASIL. Lei Complementar nº 155, de 27 de outubro de 2016. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp155.htm>. Acesso em: 20 dez. 2020.

CHIODI FILHO, C.; CHIODI, D. K. Designação Comercial das Rochas


Ornamentais e Classificação Fiscal de Seus Produtos. Belo Horizonte - MG:
ABIROCHAS, 2018. 25p. (Informe ABIROCHAS 04/2018).

CHIODI FILHO, C.; CHIODI, D. K. O setor de Rochas Ornamentais no Brasil. In:


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