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UERJ – Faculdade de Direito

Disciplina: Direito Administrativo I


Data da Aula: 03/11/2004 (Quarta-feira)
Professora: Patrícia Baptista
Transcritora: Raquel Trindade

Agentes Públicos (cont.)

Na sexta-feira nós estávamos tratando ainda, dentro daquele “esqueminha” do Oswaldo


Aranha e Bandeira de Mello que eu coloquei no quadro, dentro do grupo que ele nomeia servidores
públicos, a gente falou dos contratados temporários, a gente falou que os empregados públicos, e
hoje nós vamos falar dos funcionários públicos propriamente ditos, dentro daquele “esqueminha”,
quem são os funcionários públicos. Na verdade, ele nomeia os funcionários públicos e essa
nomenclatura vai ser mais ou menos uniforme. Não se chama de funcionário strictu sensu, quem não
tenha este vínculo que eu vou falar agora.
Funcionários públicos são aqueles que têm com a Administração Pública um vínculo
estatutário. Basicamente são de dois tipos:

1) Estatutários

Os chamados servidores ou funcionários estatutários merecem este nome tanto aqueles


que ocupam cargo de provimento efetivo (funcionários efetivos), como aqueles que ocupam as
chamadas funções de confiança. São estatutários os que ocupam cargo efetivo. A gente fala cargo
efetivo mas, na verdade, é uma diminuição de cargo de provimento efetivo e aqueles que ocupam
cargos de provimento em comissão, ou funções de confiança, ou funções gratificadas. Todos
estes três nomes querem designar a mesma coisa. Então eu tenho dois tipos de vínculo estatutário: o
vínculo efetivo e o vínculo em confiança ou em comissão. O que quer dizer que alguém é um
funcionário estatutário? O que quer dizer que alguém é um funcionário público, portanto, tem vínculo
estatutário? Por que tem este nome? Porque este não é um regime contratual. O regime de trabalho é
um regime legal. Estatutário quer dizer vinculado ao estatuto. O nome estatuto, é normalmente
atribuído à Lei básica que rege estes funcionários. Lei, vale dizer, federal, estadual, municipal. Lei de
cada um dos entes da federação. Cada ente da federação necessariamente tem que ter um estatuto,
se adotar o regime estatutário. Na verdade nem sempre é uma lei só. Muito freqüentemente, o regime
estatutário é fixado em mais de uma lei. Você costuma ter uma lei básica. Este regime estatutário,
legal, portanto, tem uma característica fundamental que o distingue de outros regimes, sobretudo que
os distingue dos regimes contratuais: ele é um regime mutável, por vontade unilateral da
Administração Pública. Há uma mutabilidade essencial neste regime, conforme determinação da
Administração Pública. Conforme o princípio da supremacia do interesse público.
O Supremo tem uma jurisprudência pra lá de consolidada que afirma o seguinte: “Os
servidores públicos, mas neste caso ele está querendo mencionar licitamente os funcionários públicos
(na verdade se usa muito a expressão servidor público como sinônimo de funcionário, às vezes dá
uma acepção mais ampla), não têm direito adquirido a regime jurídico”. Esta é uma jurisprudência
consolidada do Supremo, não é acumulada, mas é quase como se fosse. Essa frase é repetida em
inúmeros julgados pelo STF, “os servidores públicos não têm direito adquirido a regime jurídico”. Hoje
os profissionais de saúde do estado do RJ, quer dizer, os médicos do Estado, as enfermeiras, por
exemplo, têm um regime de carga horária de 30 horas semanais, acho até que tem médico que é 24,
vem amanhã uma lei, estadual, que determina que eles vão ter uma carga horária de 40 horas
semanais. Existe direito adquirido à manutenção desta carga horária original? Não. O funcionário vai
poder reclamar de alguma coisa? Não.

Pergunta inaudível
Professora: Alguns. O art. 39 da CF tem os direitos que se aplicam aos funcionários públicos. Não
são todos. Tem uma regra no art.39 que diz quais os direitos do art 7° que são extensíveis aos
funcionários públicos. Art.39, §3°.

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Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão conselho de política
de administração e remuneração de pessoal, integrado por servidores designados pelos
respectivos Poderes.
§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX,
XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos
diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir.
Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 04/06/98.

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria
de sua condição social:
IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas
necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde,
lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração
variável;
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;
IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da
lei;
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro
semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou
convenção coletiva de trabalho;
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do
normal; (Vide Del 5.452, art. 59 § 1º)
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário
normal;
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e
vinte dias;
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos
da lei;
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e
segurança;
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por
motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;

Isso é uma regra da CF/88, que nem isso antigamente tinha. Funcionário público não tinha
adicional de férias, não tinha 13° assegurado, não tinha nada disso antes da CF/88. Na verdade, isso
tem uma razão de ser: o regime é radicalmente diferente, então você não pode querer equiparar em
nada. O empregado não tem estabilidade, o funcionário tem. Só a diferença decorrente da
estabilidade já justifica um regime completamente diferente. Não dá pra equiparar o regime contratual
ao regime estatutário. O funcionário público ele sabe que, nas condições de trabalho dele, ele tá
muito mais sujeito às determinações unilaterais da Administração, pra fixar um regime conforme se
entenda melhor pro interesse público, do que os empregados contratados. Em contrapartida, o
funcionário público, eu vou chegar lá, tem o que se chama de estabilidade. Nem todos, quer dizer, os
ocupantes de cargo de provimento efetivo. Mas, enfim, a principal característica do regime estatutário
é a responsabilidade unilateral pela Administração. É que este regime não terá direito adquirido
para esse servidor. Ele não tem direito à manutenção das condições de trabalho. Não tem o direito
subjetivo. Hoje em dia, por força deste dispositivo, ele tem direito à irredutibilidade de vencimentos,
coisa que antes da CF 88 ele também não tinha. Irredutibilidade é uma garantia até pro magistrado. E
hoje os funcionários têm a garantia da irredutibilidade de vencimentos. E aí, uma coisa curiosa, eu vi
um parecer uma vez, em que se discutia a seguinte questão: é um parecer até do Celso Bandeira de
Mello: nitidamente foi contratado pelo município. Esse município aprovou uma lei, diminuindo a carga
horária de um determinado grupo de servidores, funcionários. E, conseqüentemente, o que o
município queria fazer? Diminuir proporcionalmente a remuneração. E aí se punha a questão se essa
redução proporcional seria possível. Lógico que neste caso, acho que o Celso Antônio disse que
seria possível porque se teria um padrão de remuneração hora trabalhada. Isso é discutível, mas é
uma questão. A questão da irredutibilidade de vencimentos, o Supremo também tem uma

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jurisprudência muito consolidada, que diz o seguinte: “a garantia da irredutibilidade de vencimentos é
nominal, você não tem garantia da irredutibilidade, nem os juízes”. O supremo tem essa
jurisprudência pra todos. A garantia da irredutibilidade de vencimentos do funcionário público,
inclusive os magistrados, ela é uma garantia nominal, não é uma garantia de manutenção do salário
real, dá pra entender, você não tem direito a que seu salário tem sempre o mesmo padrão
remuneratório. Nominalmente, você não pode ganhar menos, o valor nominal não pode ser reduzido.
Então eu tenho minhas dúvidas se um caso desse, como desse parecer, passaria no crivo da
jurisprudência do Supremo, mas que é uma discussão interessante. Não tem direito adquirido à
manutenção do regime jurídico, nem às formas de remuneração. Quer ver uma coisa interessante?
Um determinado grupo de servidores em São Paulo tinha uma determinada gratificação, uma
determinada vantagem assegurada por lei. Aí veio a lei e revogou esta gratificação, essa vantagem.
Essa vantagem era dada em percentuais à medida que se fosse adquirindo tal e qual. Uma lei, lá de
SP, e a gente vai ver que esse regime estatutário, ele é um regime legal e essencialmente um regime
de lei formal, essas condições de trabalho, essas condições remuneratórias, é tudo matéria de lei
formal. A Administração Pública brasileira adora descumprir isso, adora passar normas por decreto,
regular condições de trabalho por decreto, e isso a CF veda expressamente. Regime estatutário é um
regime legal mesmo. Cabe à lei formal fixar as condições de trabalho, as condições de remuneração
e etc.. É matéria de lei, não há outro meio cabível para regular isso. Aí a lei paulista foi e revogou
aquela lei que concedia aquela gratificação. Era um grupo de professoras de SP, elas foram então a
juízo, dizer, olha, a gente tem direito a essa vantagem porque se tirar essa vantagem, os vencimentos
vão ser reduzidos, e isso não pode. Qual foi a saída do Supremo? Muito engenhosa por sinal.
Servidor não tem direito à manutenção do regime jurídico, nem à manutenção do regime
remuneratório. Não tem qualquer direito a manter esta gratificação. Mas o salário não pode ser
totalmente reduzido. A cada remuneração, o que exceder, essa parcela, fica uma parcela fixa,
autônoma, no salário, sem sofrer nenhum reajuste doravante, ela não pode ser nominalmente
reduzida, mas a gratificação desaparece. Conciliou as duas jurisprudências, a da irredutibilidade de
vencimentos e a da inexistência de direito adquirido a regime jurídico.
Então, é bom vocês terem noção de como essas jurisprudências são consolidadas. O
Supremo consegue achar soluções pra compatibilizar as duas. Quem também se espanta ao saber
que os ocupantes de cargo de provimento em comissão são estatutários, mas são, não tem outro
regime possível, que não seja o estatutário. Cargo de provimento em comissão, função de confiança,
função gratificada. Três expressões que querem dizer a mesma coisa. O que é um cargo de
provimento em comissão, o que é uma função gratificada, o que é uma função de confiança? O
cargo de provimento em comissão é aquele cargo no qual se dá a nomeação e exoneração
ad .....Ou seja, a nomeação e exoneração se fazem por vontade exclusiva, por razões exclusivas da
chefia do poder executivo. Cargo de provimento, de nomeação e exoneração de ofício. Também é
outra designação. É um dos poucos atos no Direito Administrativo que dispensam motivação
obrigatória, motivo a gente sabe que tem, a motivação, revelar o motivo, isso não é necessário. Cabe
à chefia do poder executivo, ou a quem o chefe do poder executivo delegar. Muito freqüentemente há
delegação neste campo, por exemplo, no governo federal, o ministro chefe da Casa Civil tem
delegação pra nomear e exonerar funções de confiança até um determinado nível, por delegação do
Presidente da República, desde que o estatuto assim admita essa delegação, ou seja, como a gente
comentou, a delegação tem que ser prevista em lei, permitida pela lei, então, desde que o estatuto
assim preveja, o chefe do executivo pode delegar essa função de nomear e exonerar de cargo de
confiança. São estatutários porque o vínculo deles é o estatuto, o regime deles é o regime da lei.
Alguns estatutos fazem a distinção entre função de confiança, função gratificada e cargo
em comissão. Basicamente, os três se referem a cargos ou funções em que se é nomeado e
exonerado de ofício, que não se tem vínculo efetivo com o poder público. Mas há estatutos, isso é
matéria de lei infralegal, em que faz diferença. O estatuto do estado do RJ, por exemplo, você tem um
gênero, a função de confiança e tem duas espécies: cargo de comissão e função gratificada. Cargos
em comissão são os cargos de maior hierarquia, função gratificada, o estatuto reserva pra funções de
menor hierarquia, assessor, uma coisa assim, mais subalterna. No estatuto federal, a denominação é
completamente diferente: o nomen iuris empregado, a distinção que se faz no estatuto federal é
completamente diferente. Volto a insistir, a rigor, as três querem dizer exatamente a mesma coisa. Os
estatutos podem fazer diferenças qualitativas de que é cargo em comissão e função gratificada. Uma
das grandes críticas que se fez à Emenda Constitucional 19/98 (emenda da reforma administrativa),
que mudou bastante essa parte de servidor público, arts 37,38,39,40 da CF, estes fizeram muitas
alterações, várias delas muito ruins. Uma das muito ruins, é o art 37, V, (leitura).

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Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo
efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos,
condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de
direção, chefia e assessoramento;

Esse dispositivo, ele tem uma boa intenção, mais tem um enorme defeito, que é fato de ter
trazido pro texto constitucional uma distinção entre função de confiança e cargo em comissão. Que é
uma distinção que não tem qualquer unidade de tratamento. Ele importou da Lei 8112 essa distinção.
Nenhum outro estatuto estadual ou municipal repete a mesma distinção. Essa distinção não tem
qualquer utilidade. A não ser uma utilidade legal, simplória. Já que eu falei nesse dispositivo, qual é a
utilidade desse dispositivo aqui? Por que essa regra entrou aqui no texto constitucional? Por duas
razões: em primeiro lugar, por aquilo que eu falei pra vocês, o tal aparelhamento da máquina
administrativa. O que se tem aqui? É que os ocupantes de função de confiança, dos cargos em
comissão, sejam essencialmente servidores de carreira, efetivos, que ocupam cargos efetivos, de
modo que vocês não tenham servidores de determinação política, você tenha, majoritariamente,
mesmo ocupando funções de confiança, servidores que pertencem ao quadro estável da
administração. O objetivo é esse.
Outro objetivo, que tá na parte final, “destinam-se apenas às atribuições de função, chefia e
assessoramento”. Que acontece? Eu estou careca de ver isso em qualquer Administração Pública,
estadual então, nem se fala. Não faz concurso, o estado não preenche os cargos efetivos e precisa
de gente pra trabalhar. Além da saída da contratação temporária, que não serve pra tudo porque as
hipóteses legais são muito restritas, começa a ampliar, pega um cargo em comissão, que ganha 3 mil
reais, previsto na lei, e a próxima lei é um decreto, aliás pode ser por decreto, isso, fraciona aquele
cargo em dez que ganham 300 reais. Pra quê? Pra nomear secretária, agente administrativo, aí o
cara tem um cargo, assistente, assistente é qualquer coisa, e aí você enche a Administração de
cargos em comissão, gente ocupante de função de confiança, que não exerce função que deveria ser
de confiança. Cargos que precisam ser função de confiança, secretário de estado, subsecretário de
estado, assessor, isso é um cargo de confiança, ele tá lá porque o vínculo que ele tem é de
confiança, ele tá lá porque o supremo confia nele, exerce uma função que é digna de confiança.
Outra coisa é você encher a administração de função de confiança, pra exercer funções cotidianas,
ordinárias da Administração. Esse dispositivo tem essa dupla finalidade: esse é um dispositivo que
até hoje não saiu do papel, por quê? Porque ele tem brechas, qual é a brecha? Percentuais mínimos
previstos em lei. A lei não tem, fazer o quê? Até hoje...

Pergunta inaudível
Professora: Exatamente, não tem percentual nenhum, até hoje não saiu do papel.

Tô falando de cargo de provimento efetivo e cargo de provimento em comissão. Quem tem


com a Administração o vínculo do provimento efetivo, o que é efetividade? O candidato de
provimento efetivo é aquele que foi nomeado em decorrência da aprovação em concurso público, tem
efetividade. À nomeação em decorrência de concurso público, é que se dá o nome de efetividade.
Efetividade não se confunde com estabilidade. O que é a estabilidade? Quem tem estabilidade?
Os efetivos, após três anos de serviço público, devidamente aprovados em avaliação de
desempenho, têm estabilidade (art 41, CF 88).

Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo
de provimento efetivo em virtude de concurso público.
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o servidor estável ficará em
disponibilidade, com remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado
aproveitamento em outro cargo.
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obrigatória a avaliação especial de
desempenho por comissão instituída para essa finalidade.
Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 04/06/98.

A estabilidade é a qualidade dos servidores após 3 anos de exercício efetivo do cargo e


aprovação em avaliação de desempenho. Portanto, nem todo efetivo é estável. Esse prazo de 3 anos
é conhecido como estágio probatório. A CF não usa esse termo, esse é um termo doutrinário. Na

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verdade pode ser até um pouco mais de 3 anos, porque a confirmação depende da aprovação (§ 4°).
Como era antes da EC 19, era um prazo de 2 anos, e findo o qual, aprovado ou não no estágio
probatório fosse, ele ganhava estabilidade. No primeiro dia depois de 2 anos ele ganhava estabilidade
automaticamente. Agora, sem a aprovação na avaliação, a estabilidade não se dá.

Pergunta inaudível.
Professora: Logo depois da aprovação, em que se fala em efetivo exercício, foi questionado isso. Eu
entendo que, se houver licença médica, a licença médica provoca interrupção do estágio probatório,
porque você não pode avaliar o desempenho, licença médica é isso aqui, licença gestante. Eu já dei
um parecer sobre isso. Você não tem como aferir, vai ficar alguém com licença médica seis meses,
vai ficar grávida em casa 4 a 7 meses, como é que pro serviço público é possível aferir a avaliação de
desempenho? Isso é interessante, pela seguinte razão, todo estatuto diz assim, considera-se em
efetivo exercício do cargo o servidor em gozo de férias, licença médica, licença gestante... Efetivo
exercício pra que efeito? Tempo de serviço, promoção, há uma série de efeitos estatutários, para os
quais se considera esse tempo como de efetivo exercício. A lei diz isso, e a CF fala, 3 anos de efetivo
exercício. Se você fizer uma leitura apressada e rápida vai entender que se licença médica é efetivo
exercício, então eu vou contar, não interessa se eu tiver de licença. Agora, imagina, e isso é possível,
o servidor tem licença médica de 2 anos. Entre os vários autores, costuma haver uma distinção,
existe um efetivo exercício ficto, que é o estatutário, ou seja, você conta o efetivo exercício para
vários efeitos estatutários, mas esse não pode ser confundido com o efetivo exercício real que exige
um tipo .......... para atuar (art 41, §§ 3° ou 4°). Esta é uma discussão que eu já tive que fazer um
parecer uma vez, justamente porque se pôs isso. Eu tenho plena convicção de que esse efetivo
exercício deve ser real, se não você não tem como avaliar o desempenho.

Pergunta inaudível.
Professora: Em princípio, a leitura rigorosa, entenderia que, não sendo o efetivo exercício das
funções do cargo para o qual ele foi aprovado, como é que vai avaliar o desempenho dele no cargo?
A avaliação de desempenho não é no serviço público, é no cargo. Tanto, que há interpretação que diz
assim: eu já sou servidor, se eu mudo de cargo, eu me submeto novamente a um estágio probatório,
porque o estágio probatório é pra aferir as condições de exercício do cargo, e não do serviço público.

Então a leitura mais rigorosa diria que ficaria impedida essa avaliação de desempenho. Isso,
em alguns casos comporta alguma flexibilização, por exemplo, você exerce uma função de confiança
no próprio órgão em que você iria trabalhar, no seu cargo, você fica um pouco prejudicado, por
exemplo, você tá exercendo funções, não interessa se são funções de confiança, mas são as funções
que você exerceria normalmente no cargo, então, tem alguma flexibilidade. Mas eu quero voltar aqui
ao problema da efetividade e estabilidade. Nem todo efetivo é estável, a gente já viu que alguém
pode ser efetivo, sem ter adquirido ainda a estabilidade. Mas todo estável é efetivo? Eu falei pra
vocês que a CF, lá no art 19 , da ADCT, criou a figura da estabilidade excepcional, deu estabilidade a
quem, na data da promulgação da CF 88, tinha 5 anos de serviço público. Não interessa a forma pela
qual tivesse ingressado. Inclusive aqueles que ingressaram, não na forma do art 37 II, não por
concurso público. Então, hoje existe na Administração quem tenha esta estabilidade excepcional do
art 19 da ADCT, mas que não é efetivo, porque a forma de ingresso no serviço público não foi o
concurso público. Então, essa é a única exceção. Em regra, hoje não é possível ninguém ganhar
estabilidade sem ser efetivo. A efetividade, em princípio é uma condição de aquisição da
estabilidade. Na verdade, a gente tem que entender os momentos políticos, a CF, ela teve um efeito,
um espírito de grande ............ . Vamos esquecer o passado, tudo para trás ficou. Vamos acertar
daqui pra frente, todos são bem vindos, cabe tudo na Constituição, um pouco do espírito do texto
constitucional foi esse. Além dos grandes lobbies, a gente tem que considerar isso, mas esse art 19
da ADCT, veio com esse espírito.
O que é estabilidade? Efetividade é uma qualidade que decorre da nomeação para cargo de
provimento efetivo em decorrência da aprovação em concurso público. E o que é estabilidade? § 1°
do art 41 (leitura).

Art. 41, § 1º O servidor público estável só perderá o cargo:


I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
II – mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa;
III – mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei
complementar, assegurada ampla defesa.

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Hoje eu tenho 3 hipóteses de demissão de servidor estável, com a novidade, que é por
avaliação de desempenho, mediante procedimento de avaliação, na forma de LC e assegurada a
ampla defesa. A lei complementar veio, até então, sem lei complementar, isto ainda é norma de
eficácia limitada. Demissão pra servidor público é sempre pena . É sanção. O desfazimento do
vínculo com a Administração que não é sanção se chama exoneração. Exoneração a pedido, de
ofício, enfim, a gente vai ver depois.
Qual a diferença entre estabilidade e vitaliciedade? Os juízes têm vitaliciedade. A coisa é
mais normal e menos material, vamos dar uma olhada lá no artigo 95, I (leitura).

Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:


I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício,
dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver
vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado;

Então, o juiz só perde o cargo por sentença oficial transitada em julgado ou, nos primeiros
dois anos de efetivo exercício. Vejam que, para o juiz, o estágio probatório não passou de 2 para 3
anos. Após dois anos, dependendo, a perda do cargo, de deliberação do tribunal a que juiz estiver
vinculado. Então a diferença é basicamente essa, o juiz só perde o cargo por decisão do tribunal ou
sentença transitada em julgado. O tribunal a que ele estiver vinculado nesses primeiros dois anos,
ou em outro caso por decisão transitada em julgado, decisão judicial, ou decisão administrativa
nos primeiros dois anos. A diferença é essa, diferença de forma.

Pergunta inaudível.
Pergunta: O tribunal avalia nos dois anos. Se a coisa fosse séria, existem meios, procedimentos e
mais garantias. Mas não tem nenhuma proteção contra besteiras, besteiras são besteiras, e levam a
sanções de diversos graus, sanção, advertência, enfim. Tudo previsto no estatuto da magistratura, na
lei orgânica da magistratura. Tem previsão pra isso tudo. O juiz pode sofrer sanção. Tanto é que
existe, e aí é cultural, e não difere, isso eu posso garantir, seja no serviço público, seja nos
funcionários estatutários, seja nos magistrados, a cultura é a mesma. Existe uma cultura da contra
punição dos servidores públicos, você imagina se fosse um pouquinho mais rigoroso com os
servidores, como é que a coisa não ia ser. É impressionante, eu em alguns casos, faço revisão dos
processos, por mais diversas razões, e aí eu faço revisão dos processos disciplinares, o que você
tem de espírito de porco. Eu tenho um caso, um processo, que é surreal: sumiu um carro da
Administração, foi roubado, um servidor levou o carro pra casa, estacionou o carro na rua. No outro
dia, o carro não tava mais lá. A Secretaria de Estado da Administração. O que fez a Administração?
Ele foi na polícia, registrou a ocorrência do furto, etc.. A administração instalou uma sindicância, pra
apurar o furto do carro. Na verdade a sindicância não é pra apurar o furto do carro, a sindicância era
pra apurar porque aquele servidor levou o carro pra casa. Porque isso contraria as normas, normas
que obrigam que os veículos da administração estadual sejam recolhidos diariamente, no fim do
expediente, às garagens dos carros, tem lugar pra guardar os carros. Os carros do estado somente
podem ser dirigidos por motoristas com designação específica. Uma série de normas legais que
tinham sido descumpridas no caso. Aí o cara do carro contou uma história “longuíssima”, que tinha
levado o carro pra casa, porque mora em Niterói, e em Niterói ele ia fazer uma diligência, não sei
aonde, aí ele dizia que tinha sido autorizado pelo chefe imediato dele a levar o carro. Que aquilo era
de conhecimento do chefe. Foi o único depoimento que a comissão de sindicância ouviu. Veio o
relatório da comissão de sindicância, conclusão: concluímos que irregularidade houve, mas que nós
não sabemos o seu autor. Qual era a irregularidade? O furto! E não sabiam o autor. Aí foi pra mim, eu
descasquei, evidentemente, mandei botar a comissão de sindicância em sindicância. Mandei instalar
uma comissão de sindicância contra a comissão de sindicância, porque, no mínimo é aviltar a
inteligência alheia, e mandei reabrir tudo de novo, vai convocar o chefe imediato, todo mundo sabia,
então todo mundo é responsável por essa irregularidade. A irregularidade é grave, o servidor não
tinha habilitação para dirigir esse carro do estado, não podia ter deixado o carro na rua sem qualquer
cuidado, quem roubou o carro, isso é outro problema. A responsabilidade funcional não é a
responsabilidade civil, ou responsabilidade criminal. A gente vai tratar disso. É só pra dizer pra
vocês a cultura com a qual a gente lida. Isso não faz diferença muito se é um auxiliar administrativo
qualquer, ou é um juiz, é de alto a baixo. A não punibilidade e a falta cultural de punição, é de alto a
baixo. Tem instrumentos pra punir.

Virou a fita

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Eu tava falando de estabilidade. Efetividade é uma coisa, estabilidade é outra, vitaliciedade é
outra. Vitaliciedade só os juízes têm e aqueles que são equiparados, os juízes dos tribunais de
contas, vitaliciedade é uma característica específica da magistratura e dos que a ela são equiparados.
Nem todo efetivo é estável, nem todo estável é efetivo, embora na maior parte dos casos as duas
características se reúnam. A gente já viu que o estável só pode perder o cargo em determinadas
circunstâncias. Por que se dá estabilidade? Por que a estabilidade é necessária?

(comentário inaudível)
Professora: Não é 100% continuidade, não. Na verdade, a estabilidade é uma garantia da isenção
da atividade do servidor e ela é tipificada nas tais funções típicas do Estado. Nas funções, como a
gente já comentou aqui, em que o Estado, a atividade estatal é exercida com figura estatal. O Estado
está presente como Estado. Ius imperium, poder de império, órgão de controle, fiscalização, em todas
as atividades do Estado em que o poder público tá ligado, tá vinculado à legalidade, em que a
atuação do Estado é estritamente ligada à legalidade, a estabilidade serve pra isso.

Você pensa na seguinte situação: o prefeito quer aumentar a arrecadação do município. Quer
triplicar a arrecadação das multas de trânsito. A gente sabe que multa de trânsito não tem finalidade
arrecadatória, as sanções do poder de polícia têm um caráter sancionador, ou seja, têm um caráter
educativo, inibidor, mas não é pra arrecadar dinheiro. Qual é a garantia do servidor e a garantia dos
cidadãos de que esta sanha arrecadatória da Administração não vai se configurar? Que se vai
respeitar a finalidade destas sanções? O servidor tem estabilidade ele pode dizer: eu aplico as
sanções previstas de acordo com a lei, eu cumpro a lei e só essa. Pra isso existe estabilidade. Pra
isso, em determinadas funções públicas, a estabilidade é absolutamente necessária. Por exemplo: eu
freqüentemente recebo lá minuta de edital de licitação e minuta de edital de contrato pra fazer a
análise jurídica. Vou dizer se aquele contrato é possível, se aquela licitação é legal, se aquilo observa
as formas legais, etc.. Imagina vocês se eu não tenho estabilidade? Vou dizer não pro secretário que
quer fazer o contrato assim? Essa independência, independência é coisa pro MP, não é bem essa a
palavra. É isenção funcional. Vinculação à legalidade. Então, algumas funções públicas precisam
da estabilidade como garantia da Administração e garantia dos administrados . Eu quero que o
policial militar seja estável. Eu preciso que o fiscal do imposto de renda seja estável. É um pouco da
garantia que eu tenho de que ele não vai atuar em função do gosto do administrador, ou do governo,
ou fora da legalidade. A estabilidade é necessária, mas, como a gente viu, não é necessária em todas
as funções públicas. Por isso, o tal regime jurídico único, estatutário com estabilidade não era legal
nesse ponto de vista prático. Por isso eu acho que coexistirem dois regimes de emprego,
determinadas funções, que não são as funções fim e sim atividades meio da Administração Pública, a
estabilidade, a meu juízo, não faz muito sentido. Datilógrafo, servente, motorista, enfim. Aqueles
tantos lá que a gente já viu alguns que nem se interessam mais.
Eu vou voltar aos funcionários públicos, que existem inúmeras situações que a gente tem que
comentar em relação a eles. O que nós vamos estudar mais detidamente é o regime remuneratório,
regime de acumulação, o regime estrutural dos funcionários (servidores) públicos . Mas eu
queria terminar o “esqueminha” do Oswaldo Aranha e do Bandeira de Mello, com o grupo que eles
chamam de particulares em colaboração com o poder público. Ele fala em agentes políticos,
servidores públicos e particulares em colaboração com o poder público. E dentro deste grupo quem
ele inclui na categoria dos particulares em colaboração com o poder público ? Todos aqueles,
pessoas físicas ou jurídicas, que não mantém nem vínculo empregatício, nem vínculo estatutário com
o poder público, mas que colaboram com a Administração de um modo geral. E podem ser
remuneradas ou não. Exemplo: meu estagiário na procuradoria (comentários sobre estágio).
Particulares em colaboração com o poder público, então. Em primeiro lugar, os delegados de
serviços ou de ofícios públicos. Os concessionários, os permissionários, os tabeliães, notários,
registradores, esse pessoal é agente público latu sensu. Eles não são remunerados diretamente
pelos cofres públicos.
Uma discussão muito interessante envolvendo os tabeliães, registradores, notários, esse
povo todo, dono de cartório, pra simplificar a nossa vida, é uma discussão muito interessante que se
travou na redação original do texto constitucional. Esse pessoal, eles eram tidos como vitalícios, o
cartório era dado como presente, e o cara ficava como dono de cartório até morrer. Veio a CF 88, e
sustentou a seguinte tese: tinha uma interpretação que se fazia dos dispositivos que caminhava
exatamente pra isso. Tabelião é servidor público. Todo servidor público tem que se aposentar
compulsoriamente aos 70 anos. Então não é vitalício, não existe este regime pra esse tipo de
pessoal. Esse pessoal tem que se aposentar aos 70 anos, e aos 70 anos o cartório fica vago. Essa
tese foi acolhida pelo Supremo. Isso foi em 94, por aí. O Supremo equiparou esse pessoal a servidor

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público pra fins de aposentadoria. E a partir daí começou a vagar cartório, por outras razões começou
a se fazer concurso público também pra esses ofícios. Hoje em dia, por conta das alterações da
emenda da previdência, a EC 20/98, e isso levou a uma alteração na legislação infraconstitucional, já
se estava sustentando a tese contrária. E eu desconheço se o Supremo já chegou a apreciar isso,
mas a associação nacional dos registradores, tabeliães e etc... desenvolveu um argumento contrário
e levou isso para os tribunais.
Essa discussão estava nos tribunais e eu sei que eles tiveram algum ganho de causa no STJ.
Só desconheço se isso já foi julgado pelo STF, acho que ainda não. Diziam assim, pera lá, a gente
não se aposenta pelos cofres públicos, a gente não recebe aposentadoria do Estado, o regime é
outro, a gente não tem aposentadoria compulsória, de modo que este prazo de 70 anos não existe.
Essa é uma discussão que interessa por quê? Qual o vínculo? Qual o regime desse pessoal? Esse
regime cartorário nosso é você imaginar que alguém ganha dinheiro por atos essencialmente
públicos, atos que você tem que praticar, você não é livre pra praticar, porque a lei obriga a esses mil
registros, a essas mil escrituras, são formalidades da lei, o cidadão não tem liberdade pra escolher se
ele quer ou não praticar esses atos. A lei é que obriga a ele a praticar. Você imaginar que alguém
possa receber privadamente por um serviço, é meio esquisito. É esquisito que esses serviços de foro
extrajudicial seja explorado por regime privado, mas meio público, e aí tem uma série de discussões
sobre qual é caráter híbrido desse meio regime. Uma dessas é a que eu contei pra vocês da
aposentadoria. Segundo tipo de gente que pode ser incluído como particulares em colaboração
com o Estado são aqueles que recebem requisições, nomeações ou designações para o exercício
de funções públicas. É o caso dos jurados, dos peritos, mesários na eleição, você tem uma enorme
quantidade de gente que recebe, é o caso do meu estagiário, que recebe nomeação, denominação,
requisição pro exercício de funções públicas transitoriamente e que tem um regime, é agente público
equiparado, tem um regime meio público enquanto exercendo aquelas funções. Eles são agentes
públicos latu sensu, a maioria dos casos não é remunerado pelos cofres públicos, mas, por exemplo,
os estagiários da procuradoria recebem dos cofres públicos. É bolsa, mas recebem. E, por último,
gestores do negócio.

(comentário inaudível).
Professora: Delegado de serviço, não, não é agente público quem ........ sob contrato não é agente
público.

Gestores de negócios, essa é uma figura que eu nunca vi na vida, mas a classificação do
Oswaldo Aranha e do Bandeira de Mello chegou a mencionar. Gestores de negócios são pessoas
que, espontaneamente assumem funções públicas, em situação de emergência e calamidade pública,
situações emergenciais ou transitórias, seria uma figura análoga ao gestor de negócios do direito civil,
ou seja, aquele que, espontânea e voluntariamente, assume uma função pública numa situação
emergencial. Nunca vi isso acontecer, de modo que eu não sei dizer pra vocês quais seriam as
conseqüências e as circunstâncias, enfim, nunca vi isso na prática. Mas o Oswaldo Aranha e o
Bandeira de Mello cogitaram, vale a pena mencionar.
A gente vai ver na sexta-feira, vai continuar vendo funcionários públicos, especialmente. O
que eu vou me deter daqui pra frente é o regime jurídico dos servidores públicos.

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