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(Ed)HSIlIDaiBA ( ( p DlBS 1

ACERCA

HI IMME III) ALLEITA1ENT0 IIITEIIVIL


F.

DOS MALES

PROVENIENTES DO DESPRESO DF.STE GRANDIOSO DEVER

Qoe foi iprrirotida »' Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro , e indented « em


10 de Dezembro de 1844 ,

POR

3osc Augusto (Ecoar Rabuco b’ 3lraujo .


Natural do P» , • filbo legitimo do Senador Joe* Thomai NibuCo d’irauje.
rt

DOCTOR EM MEDICINA PELA MESMA FACCLDADE.

.
SU m foui I« ciel un objet qui mérite I« regarda
.
e «t un contredit un« mè re qui allaite too enfant
Aenal
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Motor
Die mite ,

RIO DE JANEIRO
TYPOGRAPHIA UNIVERSAL DE LAEMMERT
Rua do Lavradio IV .* 83
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F ICH ,mm; HE «mmI mi iiitt ne MIIIII
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I

DIRECTOR .

*.
0 Sa . I > a . JOSE M ARTINS » A CRUZ JOB 1 M. [ Strip interietamcnle a r Ur Joaquim Jose da Viha ) . .
LENTES PROPRIET Á RIOS .
Os Sts. DooToais: *
.
I * &MO .
F. o « P. CAND1 D0 Phyaica Medica .
Bolanica Medica , c pnncipius elementares de
F. F. ALLEM À O.
í Zoologia.
S.* Aist .
. . TORRES HOMEM
J \
f Chvmica Medica , e princ í pios elementares de
Mineralogia.
J . M . NU NES GARCIA Anatomia geral e descriptif a .
3.* Anno.
J . M . NUNES GARCIA Anatomia geral e descriptif «.
!.. os A. P . Ds CUNUA . PbysiaJogi».
4. * Asso.
.
.
L. F. FERREIRA Presidente .
J . J . o SILVA
Pathologie extema .
Pathologie interna
f Pharmacia , Materia
.
Medica , wpecialmente
J . J . o t CARVALHO , Exapmnador . ( .
Brasileira Theiapcntica c Arte de formular .
5.* Aano.
C. B MONTEIRO , Supplente . Operações , Anatomia topographies e Apparelhok .
F. J . XAVIER , Examinador. f Partos , Moléstias de mulheres pejadas e paridas ,
e de meninos recem - nascidos .

6. Anno. ®

T. G. « * SANTOS.
H .. Hygiene e Historia de Medicina .
J . M . o » C. JOUIM .. Medicina Legal .
. .
2 » ao 4 * M . F P. D « CARVALHO . .. Clinica extern * e Anal. Palholugica respectif *.
5.« an 6.* M . o t V PIMENTEL. ... .. Clinica interna e Anat. Pathologies reaper tifa.
LENTES SUBSTITUTOS.
. .
V. G . ..
A M. o* MIRANDA a CASTRO , Supplanta >
HOCHA FREIRE
R 0SA
* *
,
! * '*
>t IM Medica .
J B
.
A . F. MARTINS

.
I » 4 C FBI JO’
. Examinador
D . M . o A . AMERICANO Examinador
.. . f
.
Si;cr 4o Ci it
.. . ,
SECRETARIO .
lia . LLJZ CARLOS o * FONSECA .
.
Em firlude de uma rrsoUiçáo a"a a FVtsUaiU n* • appiova , uem reprut a as opini ões
emitlida» nas Theses , as quaes dffcm ser cottuiituadas CUOiv propria* de seas authores.
ft

DOLOROSA RECORDACAO

DE MIMIA ADORADA E M \ C \ ASSAZ CHORADA Mil

D . íltaiia Ü arbosa Costa Scxxtixa Habuco.

ft

DE MEUS IRM ÃOS QUERIDOS

3ost íflaria flabuco òc Ara ú jo ,


3oit loaquim ttabuco be Ara ú jo.
A HEL) CARO E INESTIM Á VEL PAI ,
E MEU MELHOR AMIGO ,
0 ©r.nio Sr. José (Eljomaj Uabuco bc Jlraujo ,
.
«e ad •< do Imper* . ridalr» <MWn da ÙM .
de S M I ..
Commend«Jor da Ordem de Chriatn
.
Ordem do Crtlleir > e BOM .
. e . .
Catallo m da Impera»

Exigua proxa de eterna gratid ã o , reconhecimento c amor filial.

A MIMIA MADRASTA
© r. roa Sra. D. Joanna Paula be Castro Uabuco ,

Pequeno signal de respeito e reconhecimento .

A MEUS IRHAOS,
COM PARTICCLARIDAOC O
* . 1RS

Dr. José Cljomaj Uabuco be 2lraujo Junior ,


fidalgo Caralltiro da Cua de S. II. I. , Carailciro da Ordem de Cbrilto , Juii do Citei da Cidade do Brcife.
e

José Ceopolbo Uabuco bc 2lraujo ,


4liefet de Catallerí a.

D. filaria Garbosa Uabuco Caibas ,


D . lí ita Cljomasia Uabuco be 2lraujo ,

Limitado signal de amor fraternal.

A MIMIA CIMIADA
21 Sr a. D. 2lntonia filaria íromlo Uabuco ,

A MED CUNHADO
© Sr. Augusto Francisco Caibas ,

Pequeno signal de amizade c reconhecimento.


A HEli PADRIMIO
0 <£ ï .mo e lien . IUO
Hr. D. Uomualbo Antonio be Hciras ,
I»u I ..
.nvU . d, S. M. I. . Crin . .
Cru « du Onkm d Clin«« , (Mo Difi iUn» d» d* KM» . .» . . .
I O M UnpnliUnn 1" Kti
AIT > | *
.. .
l A

-
Ilotut naqcni do mai* profundo respeito ao sal>er e à* virtude* .

A NEES PRIMOS
0 <£ r . '" Hr . Jose
u
Paulo be .figucir ô n llabuco be Ara ú jo .
.
II* Pidil
*» . .
1» I J» d* S . M. I., do S*o CMIMIIHI , Mimalio do Sufmnô Tribunal d* Jutira , Caumwndado
. .. .
d » Chr lt. . CmlMn d »» Imperil Ord do Cruicir • Roa.
nl »
.. 1* Orl o

0 Hr . 3otlo (Carlos Ceopolbo be Jigueir ó a llabuco bc franjo ,


. . ..
Uo» ' Fidalgo da tau d f> M , I .
Troint » d"Artilbtrii d Marinha.

íliuto <lo amizade.


Tr

A AIEIS AMIOOS
0s Hrs. Dr. 3oilo Duarte Dias ,
ílíajor íllanoel Antonio Pereira ,
Dr. Domingos Sampaio Uangel í f ubrc pereira ,
î enente Antonio Pcbro íllontciro Drummonb ,

Pequeno «iqual « le muita amizade.


AO ILL - SR . DR

Ciiij jfrcmcisco /crreira ,


.... .
, 11 ,, da Ordern de Ckri*o , Lente de Pathologie ctterna .. -
Fecola d » Medicine dette Carle
Mcntbro Titular da Academia Imperial de Medicina .

AOS ILL. met SRS. DRS.

Antonio Sdix fllartins .


UlH JmbililtitO da Zetola de Medicina d’eita COrte , Vereador da Camara Municipal . • Protedor da Sande do Par »
.
d'eau Capital

JDomingos illarinljo if ' cocbo Americano ,


^
Leole Subilituto da Eacola de Medicina de«la Glrtr .

liomeoagem da mai« alta consideração ao tale»lo.


Para obtermos o honroso Titulo dc Doutor cm Medicina , a lei
-
jmpõe nos o dever de apresentar uma These sobre qualquer ponto
desta Sciencia : preferimos o Allcitamcnto Maternal a muitos ,
que se nos antolhar ã o ; e se ousá mos escrever nossa These sobre
esta materia , que tem sido agitada no recinto da Escola , e
Sociedade Real de Medicina de Pariz , e brilhantemente desen -
volvida por tantos Medicos celebres , e por dois Brasileiros , també m
Medicos c muito illustrados , o Sr. Doutor Julio , nosso digne »
Mestre , c o Sr. Doutor Maia , é por termos principalmente en »
vista o despertar nos corações de nossas patr í cias os bellos sen -
ti men tos do amor materno , que as vozes eloquentes desses doi >
Brasileiros já despertar ão em algum tempo , e que hoje , desgra-
çadamente . quasi que se ach ão apagados ! Feliz n ós , se aquellct .
2
que devem

julgar-nos , receberem
VI

este imperleitissimo trabalho com
alguma indulgência !
Terminaremos agradecendo ao III."* Sr. Doutor Luiz Francisco
Ferreira a nenhuma repugn â ncia , que teve , antes muita bondade ,
em aceitar a Presidê ncia desta These.

.
J . A . C. N de A.
MAS CONSIDERA ÇÕES
ACERCA

DO ALLEITAMENTO MATERNAL

.
S'il rtf xml I« cid un «bjcl qui m nit lr > rr (inl« dt U Ditunlt ,
c'ctf un coutrtdil unt nult qui dUile Mm tnfanl .
A »»»t MlLLOt .

A natureza tem incontestavelmente imposto ãs mais a obriga çã o de nutrir


seus filhos. Para qualquer parte que volvamos as vistas , veremos esta lei
-
respeitada : visitem sc essas cavernas profundas , essas immensas plan í cies ,
que o Oceano banha com suas aguas , todos os monstros que povoã o estes
abysmos , todos , sem excepçã o , allcilão os filhos , o vigiã o - os com o maior
cuidado. Veja se a lô ba nas florestas , no meio dos desertos a leda feroz ;
-
quando m ã i nenhum outro cuidado a occupa ; indifferente a tudo quanto
ainda agora a agitava , n ão se arreda do lado dos tenros filhiuhos , e em
quanto lhes d á de mamar , os enche de caricias lambendo-os. É em vã o que
uma m ã o temeraria quer scparal-a de objectos t ã o queridos , á menor ten -
tativa , á sombra mesmo de tamanho perigo , um furor legitimo lhe presta
forças sobrenaturaes. Intré pida , bramindo dc raiva , acommette , despeda ça ,
lan ça por terra tudo que se lhe oppõe , c quando cmflm vencida , ferida ,
-
succumbe ao mortifero ferro de seu perseguidor , vèdc a arrastrar se peni- -
-
velmentc para onde estã o os filhinhos , cobril os com o corpo , e derramar
sobre elles a ultima gotta dc sangue 1 Ella n ã o existo mais . entretanto sua
attitude amea çadora ainda faz tremer ao vencedor !
E a mulher , esta obra prima da crca ção , que faz cila n’cslas circuns-
tancias ? No momento em que o filho esl ú mais exposto a perder a vida
— fi -
no inomrnto mesmo rm quo os cuidados mais delicados lhe sá o indispen
sá veis ella o abandona ! Que crueldade ! Poderá uma tal m ã i exigir um dia
reconhecimento d’aquelle , a quem no berço deo a primeira liçã o de ingra -
tid ã o ? Esposos , pensai bem n’ isto! Que virtudepóde lan çar profundas raizes
no cora çã o de uma mulher insens í vel ás a Afeições maternaes ?
( ) costume desgra ç ado dc confiar os sagrados deveres da maternidade a
m ã os estranhas , maxime a escravas , deve ter sem duvida concorrido para
afrouxar a uniã o das familias , c para a corrupçã o dc nossos costumes. Nascidos
com tã o fatal prejuizo, seus tristes resultados, infelizmente, nos parecem menos
evidentes ; mas para o philosophe , para o homem illustrado , é elle a vio-
la çã o d' uni a das primeiras leis da natureza .
N’esses séculos , em que os povos conservavã o em toda sua pureza os
costumes, e as felizes inclina çõ es que inspira a natureza , nunca as mulheres ,
qualquer que fosse sua posiçã o na sociedade , conscntiã o que seu leite fosse
.
substitu ído pelo de uma estranha A impossibilidade physica absoluta era a
unica causa , que podia obrigal-as a ter um tal comportamento ; achava-se
uma ou outra que quizesse allcitar o filho de uma estranha , nutrir outro
que n ã o fosse seu filho , era cobrir-se dc infamia .
Durante os hellos séculos dc Roma todas as mulheres alleitavã o os filhos ;
c que orgulho n ã o tinh ã o por isso ! Os Chineses só considcrã o boa m ã i a que
.
exerce as funeções do alleitamcnto É o alleitamcnto maternal , que garanti o
por muito tempo o mais hello sanguo ás Gcorgianas , ás Circassianas , cuja
formozura é tã o gabada , e que ha merecido as honras da poesia Na Hol . -
landa e Allemanha , as mulheres sã o orgulhosas de nutrir seus filhos ; entre
os Escossezes é deshonra para a m ã i n ã o occupar -se dc deveres tã o sublimes .
Na França estes deveres já forã o seguidos religiosamente : os felizes tempos
d « reinado da rainha Branca for ão de todo olvidados. A corrupçã o dos cos -
•tados mais ou menos.
umes tudo faz esquecer ! Nos outros paizes tão sagrados deveres sã o respei -
No nosso paiz , com d ô r de cora çã o o diremos , bem poucas sã o as mais
que amamcnlã o os filhos , ainda levadas dos preju í zos c erros , c lendo cm
vista só e só seus prazeres , julgã o que o circulo dos deveres maternaes sc
lermina com o parlo , e é por isso que estando ellas em muito favorá veis circuits
tancias de criar os filhinhos , n ã o o fazem , e alien ã o obriga ções tã o invejadas
d escravas. Quem accreditar ã ! Nos nossos circulos civilisados é onde estes
sentimentos sublimes sã o desconhecidos . c até despresados ! As nossas patrícias
da alta sociedade , enervadas pelo luxo , seduzidas pelos enganadores pra
/ crci . encorajadas por vergonhosos exemplos , n ã o sentem a menor comuioçã o
-
quando < ntregã o os filhinhos a uma escrava ignorante , e muita » vexes iuununda .
a Inn
—. —0
de poderem mais a vonlade pastar o tempo roubado a seu » devei < * » com
theatres , passeios , bailes , fogos , dcc Entro os povos selvagens (diz Manquait ) .
-
a > mãis d ã o de mamar aos lilhos : entre os povos civilisados as raSis os cnln p á o
a cuidados de outrem ! Entre, os animaes o pai c m ã i cri ã o juntamente os filho»
entre os homens , ambos sc colligã o para furtarem se a deveres t ã o grandes .
-
Que origem de reflexã o para o philosopho , ver que a primeira educar ã o
da qual depende sempre nosso destino à confiada a aquellas , que s ã o menos
capazes dc interpretar as leis da natureza ! Que costumes!
Sc uma mulher, tem entranhas de m ã i , como conceber que depois dc tci
trazido durante nove mezes cm seu seio um ser que cila n ã o conhecia , possa
confial-o a m ã os mercen á rias , a uma escrava , logo que o v ò cheio devida ,
necessitando dc seus soccorros , e occupando já um lugar no mundo ? •Não .
( diz M. Virey ) nunca as balêas , as ledas , as panlhé ras recusar ã o suas mam -
mas a seus filhos ; isto estava reservado para a mulher , n ã o para a pobre ,
e desculp á vel por sua misé ria , porque esta n ã o é tã o desnaturalisada , mas
para a rica rodeada dc todos os favores , dc todos os bens da fortuna : morra
seu filho , com tanto que cila goze de todos os prazeres ! » Que importa !
Uma m ã i , se compenetrasse bem , que a sa ú de do íilho depende sempre de
seus cuidados , certo n ã o o confiaria a amas. « Os philosophos e os medicos
( diz o nosso distinclo mestre o Sr. Dr. Julio , na sua These ) em todos os
tempos tem sentido a necessidade do alleitamento maternal ; elles tem bra-
dado , elles tem pintado com as mais tristes cores o abuso de nossa especie
civilisada , que faz entregar a mã os estranhas seus filhos recein-nascidos. Citar
Favorim , Locke , Rousseau , Fourcroy , Virey , Desormeaux e outros , seria
citar os mais eloquentes , e ao mesmo tempo os mais zelosos bemfeitores da
humanidade. Eu n ã o juntaria a minha fraca voz a seus eloquentes e s á bios
discursos , se no s é culo cm que vivemos, o egoismo , a avidez dos prazeres ,
e divertimentos da sociedade n ã o tivessem quasi completamente apagado no
cora çã o das mulheres os sentimentos do amor materno , que ahi devião sei
gravados com caracteres os mais indeleveis. »
Para a mulher que n ã o tem occupacõcs diarias , os deveres da maternidade
p ódem prcserval a dos perigos da ociosidade. A vista do filhinho torna se para
- -
cila o mais hello cspcctaculo ; cada instante reclamando novos cuidados , lhe
prepara tombem novos prazeres. Oh! mulher , sc cedeis ás inspira ções da
natureza , vêde qual será vossa recompensa! Cada dia será para vós uma aurora
dc felicidade , por vossos cuidados malcrnacs apertareis , n ã o o duvideis , os
la ços de hymenco: vos transformareis muitas vezes a indifferen ça na mais tenra
afleif /ã o, desde entã o sereis respeitada e honrada. Ah! o que é preciso mais para
-
tornai vos feliz!
*
'Poda . — io —.
miii que quizer alleitar que qui /.cr desempenhar funeções t ã o elevadas,
.
achará mais d’ uma recompensa Assegurando a seu lillio uma sa ú do perfeita .
devr esperar tambcin formar um cora çã o digno de ternos cuidados Aquclla .
a o contrario que dedigna -se dc cumprir esta obriga çã o , corre o risco de
perder o mais bel lo dos seus direitos.
Se unia m ã i é docil , previdente c caritativa , ella penetrará este joven cora çã o
de todos os sentimentos que a anim ã o ; o fogo do amor filial acendendo-se
por seus cuidados p ódc fazer germinar na alma dc tã o interessante crcatura
as preciosas sementes que ella encerra , e que abortariã o por falta d’este rico
elemento.
O amor filial 6 a mais valiosa obra dc uma m ã i , é o fundamento de suas
esperan ças , pois que ella deve esperar tudo d’elle. N ã o ó sómente o mais
poderoso la ço das familias , mas na ordem social é sempre o movei de acções
generosas , e a origem de virtudes sublimes. Despertando o sentimento da
honra p ú de arrefecer o fogo da mocidade , e lornar-se no infort ú nio a mais
doce consolaçã o.
Oh ! mais que abjurais , que despresais os encargos da mais nobre das
occupa çõcs , e que assim vos collocais inferiores ás feme as dos animaes ferozes,
se podesseis calcular as consequ ê ncias sempre funestas de vossa ingratid ã o ,
tremer íeis com a id éa de entregardes o filho dc vossas entranhas a amas.
Cuidai antes dc tudo que seu amor será a medida dc vossos disvcllos e at-
ten ções , porque n ão é possivel crê r que a rasã o substitua nunca a ternura
natural. O menino conhece logo aquella que lhe prodigalisa cuidados c cari-
nhos ; a primeira imagem , que se pinta a seus olhos , é d’aquclla que lhe da
dc mamar , que elle conhece logo , o primeiro uzo que faz de seus lá bios ,
de suas m ã osinhas , e de sua voz , é de surrir -lhe , de caricial-a , c balbuciar
o nome de m ã i que n ã o é o d’ ella.
De que preço n ã o sã o para uma m ã i as primeiras expressões d’este amor
nascente ? A necessidade cmlim de gosar dc tamanha felicidade se faz sentir ;
que de lagrimas n ã o derramar á este scr amável , para quem a verdadeira mã i
n ã o é ainda mais que uma estranha ? Se o querem separar d aquella , que até
este momento lhe ha prestado cuidados , logo o surrir innocente fugirá de
seus l á bios , os solu ç os subslituiràõ os doces acccnlos de sua voz nativa : se
lhe escapa algum nome pertencente ainda a aquclla que elle não vê mais ,
recusa e rcpellc o quo se lhe oiTcrccc ; perde o appetite , o encarnado das
faces é substitu ído pela pi Ilide / , e todos estes phenomenos sã o frequente
mente de funestos |iriís. i » .
-
Estas rasões c outr; I » is que desenvolveremos cm outros pontos d esta
— il —
.
Huso sà o bastante« para persuadirem As mais , á s nossas patr í cias , de aliei*
tarem ellas proprias os filhos .
Seriamos injusto sc accusassemos unicamente as m ã is de n ã o nutrirem .
Maridos insensatos , como conhecemos muitos , impõe algumas vezes a uma
m ãi sensivel e terna a priva çã o de cumprirem os deveres maternaes , e isto
para não terem a supportar os incommodos da primeira infancia , como
se a felicidade « la paternidade podesse scr adquirida sem alguns sacrifícios !

I
— — 12

Inconvenientes do Alleitamento pelas amas

Na epocha do parto é quando as funcçõcs elevadas do alleitamento maternal


sã o melhor apreciadas. Logo que a crcan ça nasce , seus primeiros grilos .
gritos ao mesmo tempo compungentes , c suaves , ferem os ouvidos da m ã i ,
e fazem palpitar-lhe o cora çã o , é o primeiro appello á sua ternura.
-
Quem , sen ã o cila , póde prestar lhe os mais delicados cuidados , e as atlen -
ções necessá rios a este fraco ser ? Será uma ama , uma escrava ? Ah ! n ã o é
possí vel ; a amisade e o amor de m ã i , que se quer achar cm uma estranha ,
n à o são sen ã o chim é ras ; estes dois sentimentos n ã o podem ser objecto de
um voto , os cuidados podem quando muito serem substitu ídos.
Muitos sã o os males , que acommcttem os meninos , logo que aquclla que
os concebeo , os confia aos cuidados de amas ; o maior numero sã o victimas
dc tã o culp á vel , quanto deshumano proceder.
A historia abunda de factos tacs para que queiramos pô - los em duvida ,
c entre n ós os ha em n ã o pequeno numero. Que de males n ã o so Arena
esses infelizes !
Desejá ramos apresentar o quadro completo de tantas desgra ças á Cm de
lazer sentir com mais força ás mais , que despresã o seus deveres, a necessidade
de corrigir-se , restabelecendo os filhos em seus direitos naturacs ; mas os
acanhados limites de uma These nos n ã o permittem , m ã o grado nosso , tal
desenvolvimento ; alguns mencionaremos , que serã o sullicientes.
Podemos avan çar , sem medo de errar , que bem poucas sã o as amas , que
tem dedica çã o para o thesouro que lhes é confiado : sã o sempre insensí veis
i sua bella voz , e negligentes a respeito at é das mais pequenas coisas.
-
N ã o é raro o verem se crcan ças com hernias , rupturas de vasos , convul -
sõ es , &c. , em consequ ê ncia das amas deixarem-as chorar desesperadamente.
Outras soflrcndo de voinilos , embara ç os gástricos , diarrheas , por que essas
cru éis , para faze- las calar , quando coiladiuhas chor ã o , sobrccarrcgão thes o
-
esto ma go de grande quantidade de alimentos. Muitas vexes os deixão chafurdar se
' rn seus excrementos , at é o instante em que lhes aprouve mudar lhes de roupa .
r isso
— —
18
mesmo quando n &o as limp ã o sómenlo ! Entã o a sua delicada pelle se
inflamma c excoria. Outras vezo» quando sc veem importunadas pelos grito*
-
d estes innocentes , para faze los cessar os amea çã o , e saccoden » violentamente ;
ellas altingem o seu fim , mas é piando as viclimas succumbcm de fadiga e de
(

dores ! Esta agita çã o repetida atordoa as crcau ças , c demora o sangue no


cerebro , pódo assim ser a origem de uma fraquesa moral , ou nervosa , incu
rável. O cerebro n ã o é o unico orgã o que corre risco nas agita ções fortes ,
-
os membros n ão tem adquirido bastante firmesa , os ossos ainda cartilaginoso
*
n ã o podem supportar os esforç os , que estes movimentos necessilã o , e sua
violê ncia pódo destruir a symetria do que a sa ú do , c bellcsa do corpo
dependem igualmcnte. Ora fazem-os ingerir bebidas espirituosas á fim de
adormece-los ; d’aqui provem lesã o dc todas as v ísceras abdomiuacs , que na
infancia sã o sempre dc tristes consequências. Algumas lia que d ã o opio ás
crean ças. Ora por sua negligencia esses infelizes sã o presas das chammas .
cabem , e seus membros delicados sã o fraclurados , c , dignos dc compaixã o ,
ficã o defeituosos para sempre ! Esc n ã o , que o digã o esses individuos rachi-
ticos c aleijados , que encontramos lodos os dias n’ esta cò rte .
Diremos agora alguma coisa sobre os males , que prové m da natureza.
Todos conhecem a rela çã o evidenlissima que ha entre as necessidades do
recem - nascido , c a natureza do leite de sua m ãi .
Na epoeba do nascimento os orgâ os digestivos cont é m uma mat é ria parti-
.
cular chamada mcconio O leite que fornecem as mamas , logo depois do
parlo , é , segundo grande numero de Medicos , a substancia mais propria
.
para evacua - lo A natureza e a arte n ã o conhecem um só meio que possa
.
substituir vantajosamente este precioso liquido Em Londres estã o os medicos
t ã o persuadidos d’esta verdade , que osDirectores dos Expostos n ã o os recebem
sen ã o quando elles tem sido nutridos doze ou quinze dias com o leite materno .
O leite materno , por sua natureza e tempo , é o unico alimento que é sempre
o que deve ser. N ã o só mente é o unico meio c ílicacissimo para desembara ç ar
os orgã os das maté rias , que os obstruem , mas adquire consist ê ncia e torna -se
mais nutritivo a medida que o menino sc desenvolve , e demanda um nutri"
mento mais solido .
E que outro alimento , com e ífeito, pode ser mais conveniente para a crcan ça ,
que aquelle , cujos materiacs sã o cxlrahidos do sangue quo o ha formado , c
-
nutrido at é uhi ? Acrcdila se , que o menino , dc quem toda a substancia c
desenvolvimento , em quanto eslava no seio da m ã i , sã o devidos aos suecos ,
que cila lhe fornecia , possa sem perigo cessar esta maneira dc sc nutrir
.
imrucdiatamente ao nascimento ? N ã o , sem duvida E preciso , que tire ainda
seu » alimentos da mesma origem ; toda mudan ça , toda substituiçã o , é oviden
«
-
— —
in
temente contraria ã natureza , 6 produzir um mal tanto maior , quanto a
constituiçã o d ó menino é mais delicada .
O leite do uma ama possue estas qualidades beneficas ? S .
» im , respondei -se - h: •

mas é preciso , e muito preciso , que ella tenlia parido ao mesmo tempo cm
que a m ã i da crean ça , que se lhe quer confiar ; condiçã o rar í ssima entre n ós ,
onde as nossas patrícias n ã o tem o menor escrupulo em admittir para amas
dos filhos escravas paridas de seis , oito mezes , e olé de um anno c mais.
Eis explicada a revolu çã o subita que se op é ra na constituiçã o fraca do
menino , revolu çã o d’onde procede essa serie de males que os persegue.
Etna observa ção incontest á vel é ( diz Bruni ) que a mortandade dos meninos
é maior nos paizes , onde as m ã is os entregã o a cuidados estranhos.
Se por é m o menino poude resistir a esta revolu çã o por que foi obrigado a
passar , moléstias hediondas e terr íveis elle conlrahe sueçando um leite impuro.
-
É ocioso repetir , porque é commurn , verem se desgra çados meninos , cuja
constituiçã o tem recebido d’esta maneira a affccçã o mais profunda.
Emquanto o filhinho soffrc , a verdadeira m ã i , aquella cujo amor poderia
evitar tantas desgra ças , est á longe d’elle , esquecida inteiramente d’elle , entre-
gue a prazeres , cuja lembran ça um dia a envergonhar á .
Eis os males a que est ã o sugeitos os meninos confiados a amas , males ,
cujos resultados funestos muitas m ã is h ã o testemunhado , mas que , todavia ,
persistem na immoral resolu çã o de furtar-se aos deveres do alleitamento !
Trataríamos també m dos males, que comprehendem a parte moral e pol í tica ,
n ã o o fazemos porque nos falta espa ço , e mesmo porque esta important íssima
maté ria já ( oi brilhantemente tratada por grande numero de philosophos , e
. -
os mais not á veis Cpntentar-nos hemos com citar as palavras seguintes de
Rousseau , aqucllc de todos , cuja eloqu ê ncia é o melhor incentivo para os
cora çõ es das m ã is . —
« QueirSo as m ã is ( diz este sabio ) nutrir seus filhos
• os costumes reformar-se-hã o por si mesmos ; os sentimentos da natureza
.
» se despertarã o em todos os cora ções ; o Estado augmentar á de popula çã o .
» este ponto , este ponto só , resume tudo.
• O atlractivo da vida domestica é o melhor antidoto para os m ã os costumes :
-
» a bulha dos meninos que sc julga incommoda , tornar-se ha agradavel , fara

• o pai e mãi mais necessá rios , mais caros um ao outro. Quando a fam ília
• estiver alegre e animada , os cuidados domésticos farã o a mais bella oceu -
• pnç uo da mulher , c o mais agradavel divertimento do marido. Assim deste
» unico abuso corrigido resultar á logo uma reforma geral , a natureza relia -

• bilitar ú seus direitos > .


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Inconvenientes que soffrem as Mais que não alleitäo.

Os mais caros int é resses das mais as devem persuadir de alleitarem seu »
filhos , já que os dias d’ esses innocentes fructos de seus amores são para
.
ellas de pouco preço Mas n ã o se infira do que temos dito , que queiramos ,
.
que o fa çã o , quando motivos justos e plausí veis as impossibilitem ; n ã o tã o
impertinente n ã o somos n ós.
-
As m ã is n ão poderáõ eximir se dos hellos cuidados , que lhes a natureza
impô z , sem sacrificarem sua vida , acabando victimas de males funestos.
Desenvolveremos esta ultima parte de nossa These. A natureza n ão espera
o termo do parto para dispor as mamas ás funeçõ es , que lhes ó propria.
Ella ahi forma ou transporia leite algum tempo antes que esta cpoclia che-
gue por uma especie de previdência ; mas quando o parto se termina para
ahi conduz por torrentes , algumas vezes assás impetuosas para fazer appa-
rècer tumesccncins , c dôr , este licô r precioso. O instincto ensina ao recem-
nascido a altritar com a cabeça , c m ã osinhas , a mama , que elle chupa ,
para o leite correr mais copiosamente. As irrita çõ es leves , e mesmo agra-
dareis , produzidas d’est’arte sobre este orgã o , repelindo-se muitas vezes ,
entretem e íixã o uma corrente de humores , que p õe cm equilibrio as outras
evacua ções particulares da mulher. D’aqui so conclue quanto é funesto ás m ã is
n ã o se caplivarem dos cuidados do alleitamento .
Alé m Ja tumefa çâ o mais ou menos consider á vel , que se nota no seio , e
que se estende á s axillas , a parte anterior do thorax acha-se dolorosa ; o
inamillo , que se apresenta vermelho , e inflammndo , pódc ulcerar-se em
consequência da uccumula çã o do leite , que distende este orgã o , determi -
.
nando agud í ssimas d ô res , inflainma çã o , que vai augmenlaudo de intensidade
cuja terminaçã o nem sempre ó feliz , e pódc trazer cm resultado abcessos
dolorosos , c dc muita dura çã o , c que á s vezes desenvolvendo- se com o ca
racler cbronico desdo o principio , ou tomando esta fô rma depois do estado
-
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agudo . irá pouco a pouco dcsorganisando o tecido da glandula mamaria ,
at é quo cm fim com a cessa çã o da menstrua çã o se declare o cancro d ’ est«'
orgã o .
Mas acontecendo que os liquidos demorados nas mamas sejã o retirados
pela absorpçã o , c por este meio levados á circula çã o geral , alé m doestado
de plethora , que far ã o apparccer , produzir áõ congestões , se houverem pre -
disposições para ellas. Segundo a opini ã o de grande numero de Medicos ,
molé stias , cuja marcha havia-se suspendido durante o tempo da gesta çã o ,
progridem espantosamente depois do parto quando as mulheres deixã o de
alleitar.
O utero é um dos orgã os que soffrem quasi sempre , quando por ventura
a mulher se esquece de que é m ã i . Concebe-se ass ás bem , que este orgã o .
que se acha já cansado pela prenhez , e trabalho do parlo , sendo sobrecar
regado d’um novo estimulante , devem suas funeçõ es alterar-se ; daqui nas -
-
cem metrites intensas , que podem produzir p é ritonites puerperaes , cancros ,
fluorés brancos , &c.
Muitas Brasileiras , que frequent ã o com assiduidade as altas sociedades ,
dizem que n ã o podem alleitar porque perdem o bello de suas fô rmas ,
destruindo a firmeza das carnes c os encantos , que as torn ã o tã o vaidosas.
Quanto é grande seu erro ! Longe de destruir os atractivos o allcitamento os
conserva , e lhes d á toda a bclleza. Quereis uma prova ? V ôde as nossas
-
bellas patr í cias Rio-Grandenscs , e as Mineiras , cuja maior parte occupa se
com alegria dos encargos da amamenta ção , c dizei-me se seus engra çados
contornos sollrem a menor injuria por seguirem os impulsos da natureza :
as bonitas , e rom â nticas Hespanholas Americanas ; vé de mesmo as Flumi-
nenses , que criã o seus filhos , como se conserv ã o bonitas e atractivas.
Emquanto o luxo", e a immoralidade nã o acommetlôrã o as mulheres da
antiga Grécia , e da soberba Roma , quanto suas bellas proporções e regu -
laridade de suas fôrmas n ã o cr ã o celebres ! Todas entã o alleilavã o os íillii-
nhos , todas conservav ã o longo tempo esta abundancia de tecidos , esta
firmeza elaslica que tanta paixã o incute e origina. Que se compare mesmo
entre n ós a saude de que gosa uma boa m ã i de familia . que n ã o teme nutrir
,

«:11 a propria sua numerosa prole , com o estado deplorá vel em que vai mur -

chando na mesma idade , a senhora do grande tom « à qui la condition de


• m è re parut on é reuse , et qui , recommen çant sans cesse un ouvrage quelle
« sut rendre inutile , tourna au pr é judice de l ’espèce l’attrait donn é pour
.
* la multiplier. » ( J . 1. Rousseau. )
Mais Brasileiras , caras patrícias , a razã o e a expericncin provà o que o
interesse bem entendido de vossos filhos , de v ós mesmas , da sociedade em
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geral , exige quo cumprais cm Ioda sua extensã o os deveres d ’este grandioso
nome ; que calqueis aos pés esses usos absurdos , esses preju ízos golhico* ,
fructos deplorá veis da nossa civilisação ; que temais a illusão dos prazeres
ephemeres c enganadores , que um cego costume n ã o vos obrigue a perdei
-
encantos , sa ú de , c a vida mesmo , sacrificando lhe vossos deveres : isto seria
chamar sobre vós males terrí veis , que desde a mocidade vos perderiã o sem
remedio , e que tantas victimas fulmina lodos os dias ; e longe de evitardes
as privações que o alleitamento vos imp õ e , lembrai-vos sempre , que este
uso salutar pôde só conservar por muito tempo vossa sa ú de , attractivos e
mocidade , proporcionando- vos gosos niais dur á veis , mais vivos e mais puros ,
que aquelles que vos seduzem talvez agora.

is
HIPPÖCIIATIS APIIOHIS31I .

I.

Mulieri . nienstriiis deficientibus . e naribus sanguine ») fluere ,


bonum . — Sect. V , Aph. 33.

II.

Mulieri menstrua si velis cohibere cucurbitani qua in maximal» .


ad mammas oppone . —
Ibid , Aph . 50. .
HI .

Si fluxui mulicbri convulsio , el animi deliquium superveniat ,


malum .
— Ibid. , Aph. 56.

IV .

Si mulieri in ulero gerenti purgationes prodeant , foetum sanum


esse impossibile . —
Ibid Aph 60. .. .
V.

L bi somnus delirium sedat , bonum.


'

— Seel. II , Aph. 2.

VI.

In morbis acutis exlremarum partium frigus , malum.


Aph. I .
— Sect. Ml .

.
a 4 , ln«n. mi. -T p -
) |r » pki« <l < LXENUt.IT , m 4 , »X
Esta Those est á conforme os Estatutos. Rio de Janeiro , 22 de
Outubro de 184 h .
O OR . LDI /. FRANCISCO FI.FIRI:IRA.

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