Aconselhamento Pastoral

APRESENTAÇÃO
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados e eu vos
aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e
humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é
suave e meu fardo é leve” – Evangelho segundo São Mateus 11.28 – R. C.

situação. Desse modo, aconselhar,

O aconselhamento pastoral é uma
tarefa que essencialmente é seu desenvolver é tarefa árdua e que
desenvolvida há séculos pela Igreja
através dos sacerdotes. Durante anos
toda a atividade de aconselhamento
pastoral, em razão procura, passou a
exigir técnicas e organização. Muitas
pesquisas e estudos revelaram a
importância de pautar o imprescindível para o conselheiro.
aconselhamento a determinados
métodos com o intuito de aprimorar o
que já existia.
Desde os tempos mais antigos o ser
humano sofre angústias e conflitos
internos sobre si e o ambiente em
que vive. Interessante observar que o
crescimento dos conflitos só
aumentou. Com o advento da
tecnologia e novas possibilidades
nessa “hipermodernidade” as
angústias, os medos, as incertezas e
tantas outras mazelas de ordem
emocional, social e familiar
expandiram assustadoramente.
Nesse panorama, aconselhar não é
simplesmente verbalizar para quem
está próximo o que você faria em
determinada situação ou
circunstância. Aconselhar, da
perspectiva pastoral, é “ouvir” o
depoimento, “interpretar” e buscar em
princípios bíblicos o “norte” para tal
acompanhar e auxiliar as pessoas no
precisa de cuidados especiais que
devem ser prestados com temor e
sabedoria. Ser responsável e
encaminhar o indivíduo para um
caminho que lhe traga segurança
espiritual e emocional é tarefa
À medida que os dias vêm e vão,
pessoas de todas as classes sociais,
acadêmicas e espirituais são
“assaltadas” por momentos cruciais
em todo seu “mapa” de vida.
Problemas no cotidiano, tais como
sentimentais, financeiros, solidão,
familiares, afetivos, de ordem clínica
e tantos outros, são corriqueiros em
todos os endereços da vida. Todas
essas situações e outras que não
foram mencionadas deixam as
pessoas confusas, sem saber o que
fazer ou que decisão tomar. Buscar
estabilidade emocional, espiritual,
social ou familiar é o que move as
massas a recorrerem ao
aconselhamento, para que os
conflitos sejam solucionados, se
possível, imediatamente.
Parafraseando Freud em sua teoria
sobre o ID: “o ser humano tem dois

Aconselhamento Pastoral - 2
campos de ação – a fuga da dor e a
busca pelo prazer”.
A técnica do aconselhamento
pastoral precisa ser organizada. Os
conselheiros ou agentes pastorais
necessitam enfatizar a palavra
“cuidar”. O conselheiro é aquele que
provê o “antídoto” para o entanto, de forma antecipada, a
aconselhando. Esse antídoto só pode
ser encontrado na Palavra de Deus –
Escrituras Sagradas – a qual conduz
a formação de Cristo na vida do
indivíduo. O aconselhamento pastoral
como “cuidado” vai acontecer em um
campo aberto, no qual pensamentos,
anseios, sentimentos e valores estão
diante do aconselhador e do
conselheiro.
Leonardo Boff (2001, p. 33) disseca o
vocábulo “cuidado” interligando-o à
palavra “cura”. Em sua forma mais
antiga, no latim, cura escrevia-se
“coera” e era usada num contexto de
relações de amor e amizade. Boff,
porém, lembra que pesquisadores a
consideram derivada de “cogitare-
cogitatus”, no latim, cujo sentido é o
mesmo de cura – cogitar, pensar,
direcionar atenção, mostrar interesse,
revelar uma atitude de carinho e
preocupação. Esse cuidado surge
quando a existência de alguém tem
importância pessoal.
Paul Tillich (1959, p. 21) afirma que
cuidar é amplamente humano. “O
cuidar é universalmente humano.
Ninguém pode cuidar de si mesmo
em todas as situações. Ninguém
pode até mesmo falar a si próprio se
que lhe tivesse sido falado por
outrem”.
Veremos, no decorrer desse estudo,
algumas definições sobre
“aconselhamento pastoral”, no
intenção desse trabalho é adiantar
que o sentido de aconselhamento
pastoral, em sua forma abrangente, é
definido como um processo através
do qual o indivíduo precisa dividir
suas lutas e desafios. Sua esperança
é confiada à pessoa do conselheiro
que, por sua vez, precisa estar
preparado para lidar com qualquer
situação. O objetivo do
aconselhamento pastoral basilar deve
servir para acelerar o crescimento da
personalidade e auxiliar as pessoas a
remodelar padrões de vida com os
quais estão insatisfeitas.
O conselheiro não é ou não precisa
ser necessariamente o pastor da
igreja. Independente de quem venha
a ser o conselheiro, o treinamento
teórico e prático deve ser priorizado
para equipá-lo a ajudar aqueles que
precisam.
Seja bem vindo, Conselheiro
Pastoral!
Aconselhamento Pastoral - 3
Definição Etimológica Científica e Teológica
para a Nomenclatura “Aconselhamento”

“Que tempos os nossos! E que costumes!” – Cícero

apreensão para a necessidade de

Será útil a prática do aconselhamento
sustentar os fiéis diante das
pastoral na contemporaneidade?
perplexidades e desafios cotidianos.
Exportado dos Estados Unidos para
Naquele tempo, a “teologia pastoral”
outras nações e com intensa ênfase
surgiu como resposta/solução para a
no século XX, o aconselhamento
demanda; já nos dias de hoje, nesse
pastoral tem sofrido profundas
cenário biopsicossocial e
mudanças no século XXI. Com o
multidisciplinar, temos inúmeras
advento da tecnologia e a velocidade
correntes que apontam para o
com que evolui, o aconselhamento
individualismo subjetivo e o
pastoral tradicional (com raízes no
virtuosismo religioso pessoal. Desse
pensamento grego primitivo acerca
modo, a psicologia da religião tem se
da natureza da humanidade) tem
avolumado em razão do vasto
recebido um “novo verniz” e
crescimento de patologias
produzido “brotos”, que ramificaram e
emocionais, fruto de um “culto a si
continuam dividindo-se em
mesmo”, de “direitos intensos” e
perspectivas no que diz respeito à
“deveres em déficit”.
sociedade hodierna.
Behaviorismo, Psicanálise,
Revirando o “baú histórico”, no
Psicologia, Pessoalismo,
tocante ao aconselhamento pastoral,
Transpessoalismo e Psicologia
verificamos, desde o fim do século
Analítica, misturam-se com uma
XVIII, que a prática de
grande variedade de métodos
aconselhamento sofre influência do
psicoterapêuticos de funcionamento
Iluminismo – movimento de revolução
duvidoso e, por vezes, danosos, mas
intelectual que marcou a história em
que sustentam certa popularidade
virtude de oferecer plena relevância à
ulterior. A ciência e tais terapias
razão como “o árbitro decisivo nas
alternativas são abordagens clínicas
questões de fé e de moralidade”.
que se mostram suscetíveis de uma
Assim como na época das “luzes” –
aproximação com a perspectiva
Iluminismo –, na contemporaneidade
religiosa, sendo usadas com a
a supervisão pastoral intensifica sua
proposta de alcançar
“necessitados”.
Não há como fazer o relógio
retroceder! A história está atarefada e
acaba por repetir-se. Sistemas
alternativos que concorrem com o
ministério da Igreja estão em voga e
cada vez mais florescendo. Cabe ao
conselheiro, compreender esses
fenômenos, rejeitar o que se torna
nocivo, discernir o que possui a digital
divina e doar-se proporcionalmente à
sua responsabilidade para o cuidado
emocional daqueles que foram e são
“sugados” pela hipermodernidade.
O que é aconselhamento?
Partindo do enfoque científico,
ACONSELHAMENTO é uma
expressão derivada da palavra
inglesa counseling. Assim, originado
nos Estados Unidos,
aconselhamento tinha como proposta
primeira a orientação de crianças e
adolescentes, mas, posteriormente,
foi metamorfoseada como
psicodiagnóstico comportamental. Na
Europa e no Brasil,
aconselhamento começa a tomar
forma no final da década de 1960 e
começo da década de 1970, com o
objetivo de clarear opções em
determinados momentos de crise
pessoal e/ou profissional, sendo
assim uma espécie de “GPS” pontual,
através de uma dialética terapêutica.
Um dos grandes responsáveis pela
disseminação do aconselhamento foi
o teórico americano Carl Rogers
os (1902–1987), que desenvolveu a tese
da abordagem centrada na pessoa e
em seus conflitos existenciais, tais
como sentimentos e percepções. Um
dos conceitos desenvolvidos por
Rogers tinha o interesse de investigar
a potencialidade do homem, bem
como compreender determinados
fenômenos que lhe abarcam,
consequentemente, transcendê-los e,
assim, dar novo significado à sua
vida. Carl Rogers, portanto, focou
toda a atenção no indivíduo
primariamente e não no problema
que se apresenta diante da pessoa.
Assim, ele valorizou o relacionamento
humano.
A força motriz do aconselhamento
rogeriano é pertinente à solução de
problemas e a tomada de decisões
em determinadas instâncias da vida.
Através do autoconhecimento [aqui
há a influência da filosofia de
o Sócrates (470 a.C. – 399 a.C.) –
“Conhece-te a ti mesmo”], o indivíduo
trabalha com recursos pessoais
provendo em um espaço menor de
tempo para o encontro das respostas
de certas perguntas conflitantes.
o Dentre muitos aspectos da teoria de
Carl Rogers, é preciso destacar o
cerne da ação educativa, preventiva e
situacional, que se volta para a
solução de conflitos imediatos. A
ênfase nessa continuidade está mais
direcionada à ação do que a reflexão
e leva o selo preventivo.
Ainda na plataforma científica,
aconselhamento não é “prover
conselhos”, mas seu objetivo principal
é propiciar o processo de escolhas do
Aconselhamento Pastoral - 5
“aconselhando” em decisões as quais
o mesmo precisa tomar em frentes
específicas de sua vida, tais como
família, trabalho, relacionamentos,
dentre outras. Em razão de haver a
possibilidade e trânsito livre para o
aconselhamento, algumas pessoas
buscam esse recurso para
conversarem simplesmente, em
virtude de uma solidão subjetiva.
Entretanto, outras querem
desmistificar seus quadros de ordem
emocional resultados de
dispensações remotas. Do ponto de
vista científico, o aconselhamento é
visto como um mecanismo que provê
soluções aos inconvenientes na
conduta humana e fornece direções
claras ao aconselhando a respeito de
seus conflitos.
Em tempos hodiernos,
aconselhamento tem a chancela de
um processo de aprendizagem com
objetivos de flexibilizar o indivíduo em
harmonia com os valores que atribui
à vida. O ser humano traz consigo
capacidades e potencialidades que
podem ser mensuradas
distendidas, por isso, há plenas
possibilidades de evolução
transição da feição crítica para a
feição pós-crítica. O papel do
conselheiro, nesse episódio, deve
assumir o lugar de template,
organizando normas de conduta,
valores sociais e hábitos de cidadania
de forma ativa e direta.
Entrementes, a principal finalidade do
aconselhamento, sob a ótica
científica, é limitar os riscos na saúde
do aconselhando como procedente
de mudanças plausíveis, prolongando
a singularidade e tonificando a
individualidade, além de remodelar o
comportamento conflituoso em
qualidade de vida do aconselhando,
levando-o a um estado superior de
maturidade.
Perspectiva teológica
O enfoque teológico ao
aconselhamento ganha certa
“roupagem” de cristãos que assumem
um papel de vocacionados ao
exercício do ministério de aconselhar
pessoas através de recursos
extraídos das Escrituras Sagradas,
de personagens que fornecem
princípios norteadores para a solução
o de conflitos e respostas às perguntas
mais diversificadas que se mesclam à
vida do indivíduo. Entre essas
personagens encontra-se Jesus
Cristo, sendo para o cristianismo o
próprio Deus encarnado, que nos
ensina, através do método de
e demonstração prática, como ser
moralmente maduro nas escolhas.
e
Sob o prisma teológico, buscaremos
abrir um caminho em meio ao
emaranhado de vereditos
questionadores que exigem respostas
pragmáticas e clareadoras em torno
desta temática. Quer exemplos?
Vejamos:
• Pode o aconselhamento na
atualidade ser visto como um
vínculo histórico do cuidado
pastoral?
Aconselhamento Pastoral - 6
 • Qual a relação entre Em tempos hipermodernos, o
aconselhamento cristão e aconselhamento da perspectiva
evangelização? São teológica eclesiástica deve ser
sinônimos? São distintos? centrado em Cristo, de forma
Sobrepõem-se? abrangente e contextualizado em
harmonia com a cultura vigente.
• Psicoterapia e Apelando para a apologia cristã, o
aconselhamento é a mesma aconselhamento bíblico, como é
coisa? chamado, deve depender do Espírito
Santo de Deus, pois só assim
conseguirá estabelecer uma conexão
Os tópicos dos exemplos saudável entre verdade bíblica e
supracitados abarcam questões soluções para os conflitos humanos,
sobre a essência da nossa condição tendo como objetivo principal
humana, tais como a substância das capacitar os indivíduos para que
dificuldades cotidianas e a melhor e cresçam em maturidade, externem os
mais eficaz maneira de resolvê-las. “frutos” do cristianismo e sirvam a
Entram em cena, então, as inúmeras Deus por intermédio de cultos e
perspectivas de aconselhamento que comunhão com os demais membros
acabam vinculando conceitos e da comunidade cristã. Esta é a
valores diversificados, formando um definição operacional, visto que após
labirinto em grande escala tortuoso tudo o que foi descrito acima, uma
em virtude da quantidade de definição final e oficial para
equívocos, como pensamentos aconselhamento da concepção
desorganizados, imediatismo (“tempo teológica pode ser dúbia, deixando,
é dinheiro”), rivalidades literárias e portanto, em aberto tal elucidação.
afins.

Premissas fundamentais do
aconselhamento
“Quando um homem não se encontra a si mesmo, não
encontra nada.” – Johann Goethe.

para a expressão “premissa”. Desse

Como “pontapé” inicial, gostaríamos
modo, vejamos a seguir:
de começar buscando uma definição

Aconselhamento Pastoral - 7
PREMISSA: sua etimologia é latina – estruturais enraizados em princípios
praemissa –,significando a ideia ou que permitem uma construção sólida.
fato inicial de que se parte para
Partindo desse pressuposto,
formar um estudo e/ou raciocínio; seu
observamos que não se faz
significado gira em torno de
aconselhamento apoiado em
informações essenciais que servem
premissas próprias ou em
de base para um raciocínio, o qual o
“achismos”. Anteriormente, fizemos
levará a uma conclusão. Na lógica
menção com o intuito de provocar
aristotélica a premissa significa cada
reflexões sobre o que Gilles
uma das proposições de um
Lipovetsky (filósofo e teórico francês)
silogismo. Elas são os fundamentos
sacramentou o momento atual das
de fato e os fundamentos de direito,
relações humanas como
pressupostos lógicos do pedido. As
“hipermodernidade”. A pergunta é:
premissas serão as responsáveis
em tempos de hipermodernidade,
diretas pela conclusão. (Dicionário
como “aconselhar” com eficácia?
Léxico de Português)
A tarefa, a ação, o ministério, a
vocação, o chamamento, a liderança,
O que significa “fundamental”? a responsabilidade ou qualquer outro
verbo para o aconselhamento não
FUNDAMENTAL: sua etimologia deve ser confundindo com opinar,
também é latina – fundus – e significa sugerir ou dividir conceitos pessoais a
“vasto”, “fundo”, “parte de baixo”, alguém. Aconselhamento exige
“alicerce”, “profundeza”. Entendido “profundidade”. Aconselhamento não
por “essencial”. (Dicionário de é transferir “valores”, mas
Etimologias). proporcionar “princípios” para o
aconselhando. É bom lembrar que
Já discorremos sobre o significado de
valores são relativos – na
“aconselhamento”. Num segundo
hipermodernidade temos um cardápio
momento verificamos a etimologia
exacerbado de valores –, mas os
das palavras “premissa” e
princípios são absolutos – e esses só
“fundamental”. Portanto, podemos
podem ser encontrados nas
somá-las e, como resultado, teremos
Escrituras Sagradas. Desse modo,
o entendimento etimológico do
percebemos que o terreno do
assunto seguir.
aconselhamento é um tanto quanto
Premissas fundamentais do sinuoso, por isso, um bom preparo é
aconselhamento é muito mais do que imprescindível.
lemos, ou até o presente momento
Para ser um conselheiro, deve-se
havíamos compreendido. Ousamos
levar em conta o preparo, o
afirmar que premissas fundamentais
treinamento e o tempo de
do aconselhamento são os alicerces
investimento em todo o processo. O

Aconselhamento Pastoral - 8
conselheiro, seja ele pastor de uma
Igreja ou não, não tem o privilégio de
escolher se irá ou não aconselhar as
pessoas que virão lhe procurar.
Inevitavelmente, as pessoas vão
levar-lhe seus respectivos problemas
com o intuito de receber direção e um
porto seguro. O conselheiro não tem
opção entre aconselhar e não
aconselhar. Sua única opção gira em
torno do eixo central do
aconselhamento eficaz que exige
disciplina e habilidade.
Em tempos de hipermodernidade,
não é fácil aconselhar
disciplinadamente e com habilidades
específicas. São intermináveis as
técnicas de aconselhamento que
estão disponíveis nesse “mercado”
terapêutico. Livros de autoajuda,
técnicas encontradas na internet,
redes sociais com mensagens
simulacros, literaturas com receitas
prontas (10 passos para... ou 7
maneiras adequadas de...), pessoas
que estão e são influentes na mídia,
teorias e abordagens das mais
diversas possíveis compõem o
chamado “auxílios de
aconselhamento”. Com essa gama de
informações (muitas delas mais
deformam do que informam), até
mesmo o conselheiro de tempo
integral pode sentir-se confuso.
Nesse panorama, algo a ser
interpelado é a desistência no
processo tanto da parte do
conselheiro quanto do aconselhando,
por motivos diversos. Há, porém, um
elemento nefasto no processo de
aconselhamento chamado
“imediatismo”. Pelo lado do
conselheiro ele deve orientar o
aconselhando a se deter no processo
que está em execução e não avocar
outras ou mais técnicas entre os
encontros. Pelo lado do
aconselhando, ele deve entender que
há um tempo para que as coisas
aconteçam e a “nuvem de conflitos”
se dissipe. A desistência por parte do
conselheiro e do aconselhando não é
uma boa “conselheira”, fazendo um
trocadilho com nosso tema principal.
O aconselhamento é o veículo que
amadurece e amolda o indivíduo
segundo a semelhança do próprio
Cristo.
Penso que o grande desafio para as
partes é a hipermodernidade, na qual
estamos inseridos e que oferece essa
incalculável medida de opções para
“se viver melhor”. Nas Escrituras
Sagradas, o aconselhamento não é
opção, mas um requisito para todo o
cristão.
O papel central do conselheiro deve
prezar em ser “humano”,
manifestando ao aconselhando um
relacionamento genuinamente
humano. Para evitar qualquer
ineficiência em seus conselhos, o
conselheiro deve pautar suas
técnicas não no que faz, mas na
maneira com que faz.
Aconselhamento Pastoral - 9
A CORRELAÇÃO DO ACONSELHAMENTO E
A PSICOTERAPIA

“Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar

um autor da própria história”. (Augusto Cury)

Recorrendo à elucidação no que Prosseguindo, queremos hastear a

tange a expressão “aconselhamento”, seguinte pergunta: o que é
recapitulamos, de forma sintética, que Psicoterapia?Para a resposta a essa
“aconselhamento pastoral” indagação, recorreremos ao
ordinariamente é um processo de psiquiatra e acadêmico húngaro
instrução espiritual e psicológico Thomas Stephen Szasz, o qual se
envolvendo no mínimo dois posiciona contra a ideia de que a
indivíduos, sendo um deles o psicoterapia seria uma atividade
conselheiro e o outro o médica. Já outros estudiosos afirmam
aconselhando, atribuindo ao primeiro que “aconselhamento” e
a incumbência por sua posição e “psicoterapia” são palavras
capacidade, justapor conhecimentos sinônimas. Defendem a tese que a
plausíveis com o objetivo e intenção ligação entre as duas expressões foi
de compreender, orientar, influenciar estabelecida em fins da década de
e remodelar o ofício intelectual do 1950 e começo da década de 1960.
segundo, nesse caso o Para Szasz (1979, p. 9)
aconselhando.

[...] psicoterapia é o nome que damos a um tipo específico de

influência pessoal. Fazendo uso da comunicação, uma pessoa
identificada como psicoterapeuta, exerce influência supostamente
terapêutica sobre outra pessoa, identificada como paciente. Esse
processo, claro, nada mais é que constituinte especial de uma classe
muito mais ampla – aliás, uma classe tão imensa que praticamente
todas as interações humanas nela se enquadram. Em inúmeras
outras situações, as pessoas influenciam umas às outras.

realizada por um psicólogo com o

Em uma definição mais técnica,
efeito de tratar questões pessoais,
“psicoterapia” é uma assistência

Aconselhamento Pastoral - 10
tais como dificuldades psicoterapeutas que não possuem
comportamentais, emocionais e/ou formação em psicologia, mas
cognitivas. O papel do psicoterapeuta formação instrumental em
é uma espécie de gestor de psicoterapia.
processos de intervenção emocional,
No que diz respeito à associação
psicológica e comportamental. Ele
entre aconselhamento e psicoterapia,
presta atendimento individual ou
Roger F. Hurding (1985, p. 32),
coletivo. O psicoterapeuta,
conselheiro e psicoterapeuta
normalmente, tem formação
britânico, certifica que “... existe um
acadêmica em psicologia e atua
continuum que passa da forma mais
como profissional da área. Um
simples de aconselhamento para os
psicólogo que atua em RH não
níveis mais profundos da
necessariamente é um
psicoterapia”.
psicoterapeuta, como também é
relevante salientar que há

Hurding(1985) insiste afirmando que:

[...] essa gradação é percebida no imenso exército de pessoas da

sociedade ocidental que se dedicam na qualidade de conselheiros ou
psicoterapeutas: clínicos gerais, assistentes sociais, enfermeiros,
terapeutas ocupacionais foniatras, arte terapeutas, psicólogos clínicos
e educacionais, psiquiatras, conselheiros matrimoniais, terapeutas
sexuais, terapeutas familiares, capelães hospitalares, outros clérigos
e ministros religiosos e uma ampla gama de voluntários em todas as
áreas imagináveis da necessidade humana. Por trás da grande
variedade de atividades de assistência desses profissionais e leigos,
existem maneiras diversas de encarar a condição humana.

Talvez você já tenha se perguntado Na psiquiatria usa-se com frequência

qual a função da psiquiatria em todo as expressões “neurose” e “psicose”.
esse imbróglio. A psiquiatria, Estudos revelam em âmbitos
disciplina considerada de âmbito discriminados que essas
médico, recebe uma definição como nomenclaturas não estão bem
sendo o “campo de estudo que demarcadas e, por isso, certa
abrange tudo que contribui para o distinção elementar entre as
reconhecimento, a elucidação, categorias (neurose/psicose) se faz
prevenção e o tratamento das necessária no que se refere a
anomalias mentais.”(HURDING, distúrbios correlacionados. Definindo
1985, p. 34). a primeira, concluímos que se trata
de uma reação que afeta os aspectos

Aconselhamento Pastoral - 11
de uma pessoa, ao passo que a empregados os fenômenos de
segunda implica a dilaceração de transferência (o aconselhando delega
toda a personalidade do indivíduo. ao conselheiro terapeuta suas
mazelas passadas envolvendo
Isso posto, retomaremos a teoria do
situações ou circunstâncias nas quais
“continuum” de Hurding de ajuda
ele foi circunscrito), prestando auxílio
terapêutica ao não psicótico (nesse
àquele que busca “conselhos” a
caso, que não se faz necessária à
deixar os padrões ultrapassados e
intervenção da psiquiatria). R. H.
inúteis de relacionamento. Este é o
Cawley (1977, p. 19-36.)fez menção
território no qual o profissional tem
a quatro tipos de psicoterapia, nos
argumentos muito mais profundos de
quais se pode empregar o termo
interação, comumente entendido por
aconselhamento com referência ao
aconselhamento.
primeiro tipo. A classificação a seguir
leva em conta a experiência, o Quarto tipo de psicoterapia – esse
treinamento e os objetivos do é o arquétipo que trata da
conselheiro ou psicoterapeuta: psicoterapia comportamental. Nele
entende-se que as perplexidades do
Primeiro tipo de psicoterapia –
aconselhando têm relação com
esse arquétipo assinala aos médicos
“maus hábitos”. O objetivo principal
e também aos leigos que tenham
desse modelo é auxiliar o
inclinação e um pouco de experiência
aconselhando a reaprender os
a prestar auxílio a outras pessoas.
valores de comportamento através
Todo o processo psicoterapêutico
dos quais ele poderá adaptar-se na
mostra-se com um alto grau de
sociedade. Algumas fobias podem
acatamento, apoio e incentivo ao
ser mitigadas por meio desse
aconselhando. Este nível trata de
processo.
forma estreita aquilo que se
denomina “aconselhamento”.

Segundo tipo de psicoterapia – Dennis Brown e Jonathan

esse arquétipo conduz o Pedder(1979, p. 91.), incluem os
aconselhando a uma categoria mais seguintes aspectos na “plataforma”
profunda no tocante aos seus de Cawley:
conflitos e problemas. Outrossim,
• Tipo um – alívio do peso dos
nesse estágio, pode-se desafiar
problemas diante de um
aquelas máscaras psicológicas, as
ouvinte compreensivo;
quais por vezes são denominadas de
defesas. • Tipo dois – vazão de
Terceiro tipo de psicoterapia – sentimentos num
nesse modelo de psicoterapia, relacionamento de apoio;
verifica-se uma dinâmica mais aguda.
Nos processos inconscientes são

Aconselhamento Pastoral - 12
 • Tipo três – discussão de
problemas existentes com um
ajudador que não assuma a
posição de juiz.
Pode-se concluir, após
abordagens supracitadas, no que
concerne à correlação
aconselhamento e à psicoterapia,
que a junção de tais métodos soma-
se ao objetivo de produzir uma
mudança construtiva
comportamento e da personalidade.
Na voz de Anthony Storr(1979, p.7),
psicoterapia “... é a arte de aliviar as
dificuldades pessoais com o uso de
palavras e de um relacionamento
pessoal e profissional”.
Como vimos em Cawley, o nível de
perícia profissional é volúvel na arte
do aconselhamento e no influxo da
psicoterapia, muito embora seja
louvável a necessidade inerente de
um profissionalismo tênue em níveis
mais profundos da psicoterapia. Em
contrapartida, com relação aos
as níveis mais precípuos, o
aconselhamento pode ser
do consumado por não profissionais
com bons resultados.
Para atermar os componentes
sobreditos definiram o
do
aconselhamento pastoral
psicoterapêutico como uma atividade
com o objetivo de ajudar aos outros
em todo e qualquer aspecto da vida,
dentro de um relacionamento de
cuidado, mediante ESTÍMULO (tipo
um), mediante EXORTAÇÃO (tipo
dois) e mediante
ESCLARECIMENTO (tipo três).

O BEHAVIORISMO E A PSICANÁLISE

“Seja como o sândalo que perfuma o machado que o

fere”.(Siddhartha Gautama – Buda).

enfrentar as pressões da vida e,

Dentre tantos conceitos e definições
consequentemente, crescer em
sobre aconselhamento, grosso modo,
maturidade e adquirirem
ele faz parte de concepções que
autoconfiança assertiva.
utiliza mas experiências com o
objetivo de auxiliar pessoas que se Abordaremos determinadas
encontram em conflitos, em concepções da perspectiva
quaisquer áreas de sua vida, a psicológica (definições e conceitos)
planejar melhor, decidir melhor, sequencialmente, entretanto,

Aconselhamento Pastoral - 13
objetivamos de aludir determinados
aspectos no entorno da psicologia
como parte de nosso conteúdo
vigente.
A psicologia, na qualidade de
conhecimento científico, tem seu pilar
de “suscitação” através do psicólogo
Wilhelm Maximilian Wundt em 1879
em Leipzig, na Alemanha. Foi ele
quem formou o primeiro laboratório
de psicologia. Antes disso, na Grécia
Antiga, a alma e o corpo eram
entendidos como componentes
distintos. Nos séculos XV e XVI,
tendo como expoente principal
Descartes (filósofo e matemático
francês),desenvolveu-se a teoria
psicofísica (distinção entre corpo e
alma), que se embasava na
compreensão da alma a partir de uma
perspectiva acadêmica muito mais
abrangente. A partir de então, a
psicologia passou a ser entendida
como o “estudo da alma, da mente ou
da consciência humana”, até sua
elaboração como ciência.
Nos séculos XVIII e XIX, a mente era
objeto de estudo somente por parte
da filosofia com duas extensões
prevalecentes: o empirismo inglês e o
racionalismo alemão. O primeiro
acreditava que o conhecimento era
adquirido pelas sensações, ou seja,
os órgãos dos sentidos recebiam o
estímulo do mundo exterior e os
nervos conduziam essas sensações
ao cérebro; o resultado dessa
percepção dos objetos era o
conhecimento. Um de seus principais
expoentes foi o inglês John Locke
(1632–1704). Por sua vez, o segundo
acreditava que a mente independente
formava ideias autonomamente de
estímulos sensoriais. O conhecimento
era adquirido pela razão, pois tal
faculdade tinha a ação de perceber,
raciocinar, desejar e recordar. O
importante para o racionalismo é o
que a mente faz e não o que ela tem.
Isso sendo imprescindível para
chegar-se ao conhecimento. Um de
seus principais expoentes foi o
alemão Georg Wilhelm Friedrich
Hegel (1770–1831).
Retornaremos a Wundt em um
próximo momento, como citado
anteriormente. Agora, gostaríamos de
nos aproximar do “Behaviorismo”
como uma área da psicologia que
tem o “comportamento” como seu
principal objeto de estudo.
A partir da psicologia científica no
século XX, surgiram como
desdobramentos, várias “escolas
psicológicas”, a saber:
• Estruturalismo: método de
introspecção; analisa o
conteúdo da mente.
• Funcionalismo: questiona as
várias atividades da mente;
método de adaptação.
• Behaviorismo: investe tempo
no estudo do comportamento
e não na experiência; método
de experimentação objetiva.
• Gestalt: comportamento e
experiência são objetos
legítimos de estudo da
psicologia; os métodos devem
Aconselhamento Pastoral - 14
 ser ajustados ao problema e Behaviorismo – também conhecido
com reservas a fim de evitar como “Teoria do Conhecimento”
certa fragmentação do (behavior– comportamento/conduta),
fenômeno sobre o qual se essa teoria foi elaborada pelo
trabalha. americano John Broadus Watson
(1878–1958), nos Estados Unidos.
• Psicanálise: sua proposta é a Segundo estudiosos de Watson,
compreensão dos processos Figueiredo e Santi (2000), a proposta
fundamentais da mente psicológica de Watson não visava
consciente e inconsciente e os amente, conforme abordava o
estímulos sutis que funcionalismo, mas, sim, o objeto
influenciam a personalidade; como o próprio comportamento e
método de associação livre e suas conexões com o ambiente. Para
de análise de sonhos. isso, apelava-se para o método de
observação e experimentação de
comportamento. Como escola, o
Como sugerido no tema, trataremos behaviorismo sofreu influencia de três
do behaviorismo e da psicanálise tendências:
como componentes do
aconselhamento pastoral que • Filosofia empirista /
possuem maior engajamento e objetivista e do
influência no conhecimento e na mecanicismo;
prática psicológica, em terapia ou em
• psicologia animal;
aconselhamento.
• psicologia funcional.

O axioma de Watson ajuda a entender qual era sua perspectiva de conhecimento:

Dêem-me uma dúzia de crianças sadias e de boa constituição e a

liberdade de poder criá-las à minha maneira. Tenho a certeza de que,
se escolher uma delas ao acaso puder educá-la convenientemente,
poderei transformá-la em qualquer tipo de especialista: médico,
advogado, artista, grande comerciante e até mesmo mendigo e
ladrão, independentemente de seus talentos, propensões,
tendências, aptidões, vocações e da raça de seus ascendentes.
(FREIRE, p.54).

sumária, analisaremos cada uma

O behaviorismo tem três grandes
delas.
predisposições: cognitivo,
metodológico e radical. De forma

Aconselhamento Pastoral - 15
• Behaviorismo cognitivo – e
correlato que conjectura a
existência de uma relação
entre o ambiente externo
(mundo) e o indivíduo, aquele,
por sua vez, provoca nestes
pensamentos e sentimentos
que determinarão seu
comportamento através de
demonstração em seu
contexto de vida.
• Behaviorismo metodológico –
tendência que postula a
atuação das medidas do
comportamento e sua relação
com o ambiente em questão.
O behaviorismo metodológico
é também conhecido como a
psicologia S – R (abreviação
dos termos em latim stimulus e
responsio), em que o “S”
operacionaliza o ambiente e o
“R” o comportamento.
• Behaviorismo radical – linha
de pensamento desenvolvida
a partir dos estudos de
Burrhus Frederic Skinner,
psicólogo americano (1904–
1990), que na década de 1940
elaborou essa teoria. Como
principal propositor do
behaviorismo radical, Skinner
reveste sua teoria com uma
“roupagem” filosófica sobre o
comportamento do homem.
Fazendo uso da prerrogativa,
“radical”, Skinner atuou na
contramão das causas
internas (mentais) para
explicar a conduta humana,
negando também a realidade
ação dos elementos
resultantes da cognição e
opondo-se, dessa forma, a
teoria de Watson, que
estagnou em seus conceitos
no status quo teórico, não
compreendendo os fenômenos
mentais. Ele ainda reprovou a
existência de variáveis de
intervenção externas. Em
suma, Skinner defendeu a
tese que o indivíduo é único, e
não heterogêneo, constituído
de corpo e de mente.
Nos últimos anos, o behaviorismo foi
perdendo campo em psicologia, muito
embora até hoje tenha boa parcela de
influência nesta esfera. O avanço das
neurociências – que possuem um
papel deuma melhor compreensão
sobre o que ocorre na mente do ser
humano e determinadas críticas de
estudiosos comportamentais que
fragmentam seu prestígio –levou o
behaviorismo a desintegrar-se entre
as principais teorias psicológicas.
Psicanálise – em hebraico é ‫המשנ‬
(nephesh – fôlego), em grego é ψυχή
(psyché – vida) e em latim é animu
(queanima) – Dicionário Bíblico
Universal. É o nome científico para o
procedimento de investigação de
processos mentais que se fazem
praticamente inacessíveis se
perscrutados de outra maneira.
Através da psicanálise e de seus
métodos investiga-se a forma ideal
para tratamento de distúrbios
neuróticos. A psicanálise também
pode abranger uma série de
concepções psicológicas adquiridas
Aconselhamento Pastoral - 16
por esse meio e que se juntam umas A psicanálise e os níveis de
às outras para suscitar com uma consciência: estado consciente, pré-
configuração progressiva nova consciente e inconsciente.
corrente científica. A psicanálise
ainda é considerada um método de
investigação que tem por proposta • Estado consciente: para a
principal evidenciar o significado do psicanálise esse estado é
inconsciente no que diz respeito a apenas uma parte de nosso
palavras, ações, fantasias, sonhos e funcionamento mental. É a
determinados delírios do indivíduo. parcela da identidade
Podemos resumir a definição de consciente, daquilo que
psicanálise nas seguintes palavras: a pensamos ou do que
psicanálise é uma ciência que sentimos, do que falamos ou
procura tornar consciente aquilo que do que fazemos. Constitui-se
é inconsciente, ou seja, é um exame pelas ideias contextualizadas
do inconsciente. no momento que estamos
vivendo.
Sigismund Scholomo Freud –
(1856–1939) ou simplesmente • Pré - consciente: esse é um
Sigmund Freud, austríaco, médico, estado composto por ideias
neurologista e criador da psicanálise. inconscientes que pode
Iniciou seus estudos utilizando a transformar-se em conscientes
prática da hipnose como canal de se concentramos atenção para
acesso aos conteúdos mentais no elas; podem ser detectadas
tratamento de perturbações da em sonhos ou em atos falhos.
mente. Esse pressuposto alicerçou
para construção de conceitos • Inconsciente: esse é o estado
variados como o do inconsciente. A que nos passa despercebido –
tese freudiana é que o inconsciente é não são conscientes. É nessa
a fonte de energias e de desejos condição que ficam
reprimidos do indivíduo. É como se armazenados os desejos
fosse um porão na mente humana reprimidos, os conteúdos
onde se guarda velhas lembranças. censurados e os impulsos
inacessíveis à consciência. De
O objetivo primeiro de estudo da acordo com a psicanálise, o
psicanálise é o inconsciente e a inconsciente embaraça nosso
característica analítica é empreendida cotidiano influenciando
por meio da associação livre. Freud diretamente nosso
conseguiu êxito com sua teoria comportamento e nossas
realizando auto análise, canalizando ações de forma imperceptível
em sonhos de si mesmo e de seus para nós mesmos.
pacientes resultados altamente
satisfatórios.

Aconselhamento Pastoral - 17
A psicanálise e os níveis de conduzem a volúpia. É de sua alçada
inconsciência – essa é a segunda gerar para o ser proibições e impor
frente principal do método limites por meio de autoridade.
psicanalítico. Freud distinguiu o
consciente e o inconsciente e propôs
os conceitos de Id, Ego e Superego. Principais elaborações da
ID: o Idtrata do nosso desejo libidinal. psicanálise
Segundo Freud, são energias
• Fases do desenvolvimento
psíquicas e desejos direcionados ao psicossocial – oral, anal, fálica,
campo hedonista. O ID tem um
latente e genital. O indivíduo a
objetivo único de se obter prazer.
medida de seu
EGO: o Ego serve como uma espécie desenvolvimento possui
de ponte na tentativa de consignar necessidades e que quando
equilíbrio entre os desejos para o satisfeitas o levam ao
prazer do Ide às imposições da crescimento em direção à
realidade e ordens morais do maturidade psicológica.
Superego (a seguir). O ser humano
• O inconsciente – é um dos
tem uma forte tendência a alimentar e
conceitos mais importantes da
prontamente atender o Id, sendo
ciência psicanalítica como
nesse momento que entra em cena o
vimos acima.
Superego para estabelecer certo
equilíbrio. • A estrutura da personalidade –
constituída de três
SUPEREGO: como supracitado
interagentes, o ID, EGO e
acima, entendemos que o Superego
SUPEREGO, também
tem o papel daquele “pai proibidor
verificados acima.
moralista”. O Superego representa as
regras morais as quais nos impedem • O método catártico e o
de realizar as pulsões que nos mecanismo de defesa.

Aconselhamento Pastoral - 18
A PSICOLOGIA
PSICOLOGIA EXISTENCIAL
O que é psicologia?
Essa pergunta feita com frequência
por aqueles que se defrontam com tal
ciência ou demonstram interesse em
investigar academicamente o
conhecimento psicológico.
Etimologicamente, a palavra
PSICOLOGIA tem suas raízes na
língua grega – ψυχή – “psyché” –
“alma” +λογοσ “logos” – “tratado”,
“estudo”. Entretanto, a definição por
si só parece não ajudar muito no
entendimento. Outro agravante é
compreender a psicologia com as
definições contidas nos dicionários da
própria ciência, uma vez que trazem
consigo significados tais como:
“estudo científico do pensamento, da
percepção, da emoção, da
aprendizagem e do comportamento
dos seres humanos e das suas
relações e interações com o ambiente
físico e social.” (Dicionário online
Priberam, 2008).
Se as definições contidas nos
dicionários parecerem voláteis e que
interpolam umas as outras, é
imprescindível construir explicações
detalhadas para ter sentido e
aplicabilidade em seus devidos
contextos científicos.
Da perspectiva do aconselhamento
pastoral, o uso da psicologia em todo
HUMANISTA E A
o processo é de extrema importância
para se chegar a um resultado
satisfatório. Podemos afirmar que a
psicologia é uma malha de
conhecimento riquíssimo, vasto,
complexo e com objetivos sublimes,
pois abrange o comportamento do ser
humano.
Estudioso da psicologia atual, Luís
Cláudio M. Figueiredo (2000),
compara a psicologia na qualidade de
conhecimento a um arquipélago. Em
português, entendemos “arquipélago”
como coletivo, é entendido como um
“conjunto de ilhas”. Na analogia de
Figueiredo, a psicologia também é
um conjunto de conhecimento variado
em sua forma, mas que em sua
estrutura está conectado a um “tronco
comum” – nesse caso, conjunto de
ilhas, arquipélago, que estuda o
comportamento humano de acordo
com suas devidas proporções.
Exemplificaremos o que estamos
abordando para o caro aluno.
Apelando para a Filosofia, imagine
um objeto qualquer. Quando
observamos esse objeto, o qual você
imaginou, determinamos sua utilidade
futura a partir das primeiras
referências construídas ou obtidas
primariamente. Esse inquérito então
será do interesse com o sentido mais
Aconselhamento Pastoral - 19
pertinente, que pautará uma Segundo Teles (1991, p. 22) a
compreensão inicial adequada, psicologia tem três objetivos
levando, quem indaga, a entender o principais como estudo do
termo “psicologia” e, dessa forma, comportamento humano, a saber:
acompanhar realisticamente nos
eventos do cotidiano o tal • Descrição – argumenta a
conhecimento, como se foi necessidade de tornar-se
processando. explícitas as condições
através das quais o
Quanto ao comportamento, é
fenômeno ocorre sem
necessário entendermos essa
nenhuma alusão ao
nomenclatura em seu sentido amplo,
significado.
ou seja, não apenas como reações
externas, mas também como • Predição – a psicologia é
atividades da consciência e mesmo capaz de prever em algumas
do próprio inconsciente, fazendo uso áreas, por exemplo, como
de um plano indiretamente hipóteses foram reafirmadas
observável (TELES, 1991, p. 9).
e relações de causa e efeito
No campo científico, a psicologia foram estabelecidas através
pode ser compreendida como a de estudos ponderados.
ciência que procura entender o
• Controle – a psicologia pode
homem e seu comportamento para
atender esse quesito
facilitar a convivência consigo
manipulando o
mesmo e com outros.Esse contexto
comportamento dos
de psicologia estabelece esse
indivíduos por meio de certas
conhecimento no campo das
técnicas.
ciências humanas intimamente
vinculadas a outros ramos, tais
quais ciências naturais, sociais e
A psicologia é reconhecida como
exatas.
um “conhecimento científico”, ainda
Em tempos acadêmicos hodiernos, que por vezes seja um tema
o tema “psicologia” tem gerado recorrente de discussões nos meios
debates em razão de vasto campo acadêmicos.
que a própria psicologia oferece,
No que diz respeito a fazer uso da
mas todos os especialistas
psicologia ou de determinadas
envolvidos com essa ciência
técnicas correlatas a essa ciência
concordam que a psicologia tem
para a tarefa do aconselhamento,
seu principal interesse voltado ao
são necessárias condições básicas
homem, ao ser humano.
de discernir o método psicológico,
pois sem observar tal regra,

Aconselhamento Pastoral - 20
equívocos poderão ser suscitados
em todo o processo.
O leigo, em qualquer frente do ramo
psicológico, não tem
desenvolvimento em seu próprio ato
de conhecer, pois não tem
experiência própria nesse aspecto.
Requer-se do conselheiro ativo a
observação do ato de conhecer os
meandros psicológicos e tornar
esse um momento de encontro e
aperfeiçoamento em seu “arsenal”
de argumentos pró-aconselhamento
pastoral. Deve haver por parte do
conselheiro, abertura, disciplina e
interesse em conhecer
determinadas estruturas
psicológicas, seus componentes e
perspectivas as quais tornarão a
materialização do aconselhamento
pastoral mais relevante e eficaz.
A psicologia humanista
A psicologia humanista surgiu com
o propósito de substituir a corrente
comportamental e a psicanálise. Foi
durante o século passado, na
década de 1960, que a psicologia
humanista teve uma proeminência
no meio acadêmico. Bastante
influenciada pelas guerras e lutas
pela tomada de poder, a psicologia
humanista inclina-se com uma
linguagem científica ao ser humano.
Alguns teóricos envolvidos com a
Filosofia da Ciência não
reconhecem a psicologia humanista
como uma escola propriamente dita,
mas em um ramo de experiência
controversa que sofre influência de
filósofos como Sören Kierkegaard
(1813–1855) e Edmund Husserl
(1859–1938) como os mais
relevantes. Além destes, há também
a ingerência de psicólogos com Carl
Rogers (1902–1987) e Maslow
(1908–1970) como os mais
predominantes.
A psicologia humanista trabalha
com duas ideias elementares, a
saber:
• A realidade define-se pelo
movimento em sua
simplicidade inseparável e
em sua totalidade e não por
seus aclaramentos
racionalistas. Aquelas,
portanto, incorporam estas
dando sentido e significado e,
por sua vez, o movimento é
conduzido pelo impulso vital,
ou impulso original da vida, o
qual define como uma
tendência a agir sobre a
massa ríspida. Vida e
matéria, portanto, segundo
esse contexto, são
indivisíveis (ROSA, E. Z. e
KAHHALE, E. M. P., 2002).
• O ser humano e o seu
psiquismo são marcados pelo
“eu de superfície”. Dessa
forma, esse ser humano
caracteriza-se por um “ser
em repouso”, mecanizado e
exíguo podendo ser
Aconselhamento Pastoral - 21
 caracterizado como “eu
social” do indivíduo e pelo
“eu profundo”, o qual se
caracterizapor sua duração
pura e acabada, em
permanente mudança
qualitativa e sem repetir-se,
mantendo sua identidade por
intermédio da memória.
A psicologia humanista traz em seu
bojo, pelo menos, quatro
combinações ordinárias. Sendo
elas:
• Alto relevo na experiência
consciente;
• Crença na natureza integral e
na conduta do ser humano;
• Concentração na liberdade,
na espontaneidade e no
poder criativo do indivíduo;
• A perscrutação daquilo
considerável e significativo
para a condição humana.
Dessa forma, para a psicologia
humanista, o ser humano é
favorecido pelas possibilidades de
desenvolver e realizar-se, tendo
capacidade de equilíbrio e auto-
organização, com a atribuição de
caminhar nesse rumo.
A psicologia existencial
O existencialismo é uma corrente
filosófica que reúne em si um
conjunto de teorias formuladas no
século XX, sendo considerado seu
principal formulador o filósofo e
teólogo dinamarquês Sören Aabye
Kierkegaard (1813–1855), que
criticou veementemente as teorias de
Hegel, interpretando-as como as
formalidades ocas da Igreja naquelas
circunstâncias. O existencialismo
kierkegaardiano caracteriza-se pela
inclusão da realidade concreta do
indivíduo (suas angústias, ser no
mundo, morte, dentre outras) como
relevo da especulação filosófica em
contraste com doutrinas racionalistas
que dissolvem a subjetividade
individual em sistemas conceituais
abstratos e universalistas.
Foi com Jean Paul Sartre, filósofo e
crítico francês (1905–1980), que o
pensamento existencialista
disseminou-se de forma encorpada e
duradoura. Para Sartre, o ser humano
existe como uma coisa em si, mas
também como uma consciência para
si, que sabe da existência das coisas,
sem ser ela mesma uma em si com
tais coisas, mas sendo sua negação,
ou seja, o nada. A consciência do
homem localiza-o ante a
possibilidade de escolher o que ele
será. Esta é a condição da liberdade
humana. Escolhendo sua ação, o
homem escolhe a si mesmo, mas não
escolhe sua existência, que já lhe
vem concedida e é requisito de sua
escolha. Desse conceito, surge o
axioma filosófico existencialista de
Aconselhamento Pastoral - 22
grosso calibre: “a existência precede psicofísica resultante do movimento
a essência”. do sujeito no mundo, na existência
tangível do indivíduo na relação com
Enquanto movimento, o
a materialidade dos outros. Cada
existencialismo rapidamente emergiu
ação e reação do indivíduo implicam
como uma grande força no
em um significado e em um fim. Por
pensamento moderno associando-se
isso, a finalidade da psicologia
a psicologia e a psiquiatria.
existencialista é decodificar o esboço
A psicologia existencialista procura e desejo de ser de cada indivíduo que
fundamentar-se no método define o que são e qual o fluxo de
progressivo regressivo que uma pessoa no mundo segundo os
pressupõe que a verificação da diferentes movimentos.
realidade considere as situações
Dentro desse método, o objetivo é
singulares do sujeito registradas no
atingido pela verificação dos
contexto universal,
fenômenos de sua vida nas relações,
concomitantemente, conceituando o
tais como incidentes concretos
impacto das situações universais
organizados por ocorrências
individuais e em grupos. A
materiais que se interagem.
psicopatologia é entendida por esse
Considera-se também que o indivíduo
viés, ou seja, a partir do homem
só pode ser compreendido
concreto, a partir do núcleo da vida e
observando sua história concreta que
da história concreta do indivíduo,
ocorre por episódios, assim como
visto que a psicopatologia é
levar em conta a sua conjuntura
considerada uma perturbação
familiar e atmosfera antropológica.

A NEUROCIÊNCIA E AS NOVAS TERAPIAS

“Jamais me olharás lá de onde te vejo, inversamente, o que olho

nunca é o que quero ver”. (Jacques Lacan)

com milhares de funções. Com

O que é Neurociência? aproximadamente 1,5 Kg, o cérebro é
A neurociência estuda o cérebro considerado o órgão mais complexo
humano e tem por proposta principal da “máquina humana”, sendo
descobrir o funcionamento cerebral organizado por incontáveis células. A

Aconselhamento Pastoral - 23
expressão “neurociência”, como
desdobramento da psicologia, surgiu
na década de 1970 com a missão de
dissecar o processo de aprendizagem
através de um caminho semelhante
ao que fora proposto por grandes
teóricos da filosofia e psicologia de
outrora.
O prefixo “neuro”, nesse caso, pode
ser substituído ou até mesmo
associado ao prefixo “psico”. A
moderna “neurociência/psicociência”
Observe-se que a maioria dos
vocábulos com prefixo neuro pode
ser substituído ou associado ao
prefixo “psico”. A moderna
neurociência tende a reunir as
produções isoladas face ao risco de
perder a visão global do seu objeto
de estudo: o sistema nervoso, que,
contudo,sua complexidade, e em
especial do sistema nervoso central
da espécie humana, exige o estudo
isolado de cada campo e o exercício
da inter-relação de pesquisas.
Não poderíamos deixar de mencionar
um pouco de história nesse processo.
Ainda que a neurociência seja
“novata” no campo científico, o
interesse sobre o cérebro humano é
perscrutado há muitos anos atrás,
desde a filosofia grega antes de
Cristo, com ênfase maior à medida
que o homem vai evoluindo social e
tecnologicamente. Filósofos gregos
desenvolveram teorias sobre o
cérebro por meio de observações de
acordo com os recursos disponíveis.
Por sua vez, os romanos, deram
continuidade a esse processo
dissecando cobaias. No século XVIII,
influenciado pelo Iluminismo,
surgiram novos estudos muito mais
aperfeiçoados envolvendo o sistema
nervoso. A teoria da evolução de
Darwin, o descobrimento dos raios-X
e da tomografia computadorizada
foram elementos fulcrais para que se
chegasse a perícope precisa
denominada “neurociência”.
A neurociência investiga o sistema
nervoso, seu desenvolvimento, seu
funcionamento, ao que se assemelha
e no que são diferentes entre
indivíduos e demais espécies. É
através da neurociência que se chega
ao conhecimento do comportamento
do indivíduo.
Em tempos hipermodernos, a ciência
alega que emoções interferem no
processo de retenção de informações
recebidas. Um antídoto para esse
distúrbio é buscar motivação para
aprender. Não se aprende nada se
não dispensar no processo de
aprendizagem ATENÇÃO! O cérebro
modifica-se em contato com o meio
em questão durante toda a vida.
Preste atenção! A formação da
memória é mais imediata quando
uma informação inédita é associada a
um conhecimento precedente. Para
refletir: “com esse tsunami de
informações disponíveis através da
internet e seus correlatos, como reter
alguma coisa”?
A perspectiva da neurociência
hodierna faz apologia de uma
aprendizagem que se assemelha ao
que os teóricos apontavam por
Aconselhamento Pastoral - 24
diferentes caminhos. A evolução das pseudoconceitos e, por fim, conceitos
metodologias de pesquisa e da verdadeiros.
tecnologia permitiu que novas
David Ausubel (1918 –
descobertas viessem compor o que já
2008),estadunidense, criador do
existe. Vasculhemos alguns
conceito de “aprendizagem
expoentes primeiros a título
significativa”, defendeu a tese de que
contextualização.
“quanto mais sabemos, mais
Jean William Fritz Piaget (1896 – aprendemos”. O behaviorismo
1980), suíço, psicólogo e prevalecia quando Ausubel propôs
epistemólogo dos mais relevantes do sua teoria. Ele acreditava a influência
século XX. Criador da “Teoria dos do meio sobre o indivíduo. O que o
Estágios”,com suas descobertas aprendiz já trazia em seu bojo, de
Piaget impulsionou a teoria cognitiva certa forma, não era considerado,
de até então. Ele propôs a existência mas entendia-se nesse processo que
de quatro estágios de o mesmo aprenderia se fosse
desenvolvimento cognitivo no ser ensinado por alguém. O parecer de
humano, a saber: sensório motor, ensino e aprendizagem do nosso
pré-operacional, operatório concreto pensador em questão segue a linha
e operatório formal. Sua teoria foi oposta à do behaviorismo. Para
impactante para a educação. Piaget Ausubel aprender significativamente
defendia que crianças só podem é ampliar e reconfigurar ideias já
aprender aquilo que estão existentes na estrutura mental e com
preparadas a assimilar e ao professor isso ser capaz de relacionar e
cabe aperfeiçoar esse processo. acessar novos conhecimentos.

Lev Semenovich Vygotsky (1896 –

1934), bielorrusso, foi um psicólogo AS NOVAS TERAPIAS
pioneiro na tese de que o
No século passado, durante as
desenvolvimento intelectual das
décadas de 1950 e 1960, os Estados
crianças é resultado das interações
Unidos foram invadidos por uma
sociais e condições de vida. Para
“coletânea” de novas terapias,as
esse pensador, o desenvolvimento
quais bebiam na mesma fonte do
mental das crianças é um processo
humanismo e existencialismo ateus.
contínuo de aprendizagem de
Seus idealizadores, conhecidos
controle ativo sobre funções
também como formadores do
primariamente passivas. Esse
“movimento do potencial humano”,
processo parte do desenvolvimento
renunciaram o histórico psicanalítico
de um agrupamento conceitual, no
com uma perscrutação afunilada da
qualháprimariamente um acúmulo de
mente humana, abarcando o
conceitos passando para um
momento presente do seu tempo no
complexo de conceitos e depois para

Aconselhamento Pastoral - 25
que diz respeito à experiência
cotidiana. A psicoterapia que até
então era para poucos, com esse
movimento, abriu espaço para o
crescimento e realização de muitos.
Aclamada por leigos e profissionais, a
visão em questão foi exportada para
a Europa ocidental sem nenhuma
resistência crítica. Muitas técnicas
introduzidas por essas novas terapias
ampliaram a matriz de maneiras de
prestar auxílio para as pessoas, muito
embora com cosmovisões diferentes,
mas, sobretudo eficientes.
Evidentemente, não vamos tratar a
imensa gama de metodologias
resultantes de novas descobertas
dentro do assunto em questão. Mas
sim, queremos propor a análise de
três concepções relevantes para o
aconselhamento pastoral. São elas:
• Terapia racional emotiva:
concepção foi desenvolvida
por Albert Ellis, psicólogo
estadunidense (1913 – 2007)
que fora influenciado pelo
pensamento psicanalítico. Seu
objetivo primário era servir
como psicoterapeuta no
aconselhamento matrimonial,
familiar e sexual. Ellis fez uso
das técnicas freudianas
clássicas da associação livre,
da interpretação de sonhos e
da resolução da neurose de
transferência.
• Análise transacional:
concepção que teve como
autor Eric Berne, médico e
psiquiatra canadense (1910 –
1970) que se deteve mais na
psicologia do ego em seus
estudos nos Estados Unidos.
Berne afirmou que a análise
transacional tem duas
pressuposições: os seres
humanos podem passar de um
estado de ego para outro e as
interações entre as pessoas
podem ser avaliadas e
testadas.
• Gestalt terapia: a “psicologia
da Gestalt” origina-se com
base no “pensamento
fenomenológico”. “Gestalt”, em
alemão, significa “forma”e foi
empregada pela primeira vez
em 1890 pelo psicólogo e
filósofo austríaco Christian von
Ehrenfels (1859–1932) que
afirmou haver uma “forma”
presente na totalidade de uma
estrutura e ao mesmo tempo
ausente em qualquer das
partes que constituem essa
totalidade. Já a “Gestalt
Terapia” tem com pano de
fundo a tentativa de recuperar
a percepção humana sem a
influência do behaviorismo
através da escola da Gestalt.
Concomitante a esse
processo, a Gestalt Terapia
voltava-se também para
influências psicanalíticas
humanistas, existenciais e
transpessoais. Seu idealizador
foi Frederick Perls (1893–
1970), um dos figurantes do
chamado “Movimento do
Potencial Humano” da
Aconselhamento Pastoral - 26
 Califórnia – EUA, na década de 1960 no século passado.

A RESPOSTA CRISTÃ – O
ACONSELHAMENTO BÍBLICO

“A Bíblia está viva, ela fala comigo; tem pés, corre atrás de mim; tem
mãos, me segura”. Martinho Lutero

o Iluminismo que as psicologias

Gostaríamos de aludir em sinopse o
seculares tomaram “corpo” e
esforço da tradição cristã de apoiar,
permitiram que a Igreja não
orientar, curar e reconciliar o povo de
permanecesse à margem dos
Deus. Essa tarefa exibiu a Igreja aos
desdobramentos que ameaçavam
ciclos da nova ciência no âmbito da
rivalizar com sua posição
psicologia. Desde o Antigo
inquestionável de principal fonte de
Testamento o zelo em aconselhar já
consolo e orientação. Esse cenário
havia sido demonstrado, constituindo,
exigia ATITUDE.
assim, o “cuidado pastoral” como
parte elementar para a “saúde A ciência psicológica, então,
emocional” do povo de Deus. começou a volver seu olhar para a
Interessante observar que esse “zelo” Igreja e suas “reclamações”. Com
a que me refiro sempre foi isso, surgiu a psicologia da religião
influenciado pelas “psicologias”, as como disciplina acadêmica. O povo
quais mais predominavam em cada de Deus, ao mesmo tempo em que
época, sendo muitas vezes inaudível se sente amparado nessa área com
e em tantas outras, patente. mais técnica e consequentemente
resultados mais satisfatórios, tornou-
Durante toda a história da Igreja,
se “cobaia” dos estudos empíricos.
percebe-se que ao menor “vento de
Concomitantemente, as ideias
mudança”, no que se refere às suas
ateístas e naturalistas sobre a
frentes doutrinária, hermenêutica,
personalidade humana ganharam
pastoral, dentre outras, a Igreja reage
ímpeto e começaram a inundar a
muitas vezes com resistência ou
consciência de inúmeras pessoas
concordância, ou ainda com
que raciocinavam. Nesse imbróglio
tolerância. Em todos os casos, há
religioso/acadêmico o caminho para
debates, discórdia e concórdia, os
uma integração é marcado por uma
favoráveis e os desfavoráveis. É com

Aconselhamento Pastoral - 27
interpretação religiosa da vida em resultado da própria natureza,
linhas gerais. de forma alternada e
manifesta-se numa situação
Necessário lembrar que o clínica ou de sala pastoral.
aconselhamento pastoral consiste
na possibilidade do pastor
ajudar/auxiliar as pessoas a
Encontrar uma saída nesse “labirinto”
ajudarem/auxiliarem a si próprias
das psicologias seculares e descobrir
pelo processo de aquisição de um “GPS” através de uma resposta
entendimento de seus conflitos cristã é nosso maior desafio. Esse
interiores. Aquilo acima citado, para desafio acontece em virtude de uma
se chegar a isso. Nesse contexto, a divisão com relação a, pelo menos,
organização do cuidado pastoral duas posições, a saber:
tinha por objetivo alcançar
elementos característicos que • Ecléticos – aqueles que
incluiriam basicamente dois escolhem técnicas e seções
aspectos: em atitudes para com a
teologia e psicologia; são
• Cura das almas ou aqueles que selecionam o que
orientação pastoral – visando parece ser súpero em
o interesse pelo bem-estar doutrinas, métodos ou estilos.
espiritual do indivíduo de
• Tenazes – aqueles que
forma permanente e manifesto
assimilam diante de um
dentro da vida do corpo de
método em particular ao
Cristo.
mesmo tempo em que procura
• Aconselhamento pastoral – um meio de integração entre
implica em um envolvimento tal método e a perspectiva
com o indivíduo passivo ao bíblica.
estresse e em crise como

O Aconselhamento Bíblico

“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que

qualquer espada de dois gumes e penetra até ao ponto de dividir
alma e espírito, juntas e medulas e é apta para discernir os
pensamentos e propósitos do coração” (Hebreus 4.12).

Aconselhamento Pastoral - 28

Nosso conteúdo a seguir será da
perspectiva do aconselhamento
bíblico. A partir da Bíblia, vamos
percorrer o viés do relacionamento
entre conselheiro e cliente, a
sondagem interior e a experiência
primeira. Evidentemente faremos
esse “percurso” em uma configuração
simplificada, uma vez que a gama de
enfoque do ponto de vista cristão
abarca centenas de recursos
correlatos, tais como o Espírito Santo,
os dons, as Escrituras,
sacramentos, a comunhão do povo
de Deus, orientações espirituais,
discipulado e, ainda não menos
importante, a experiência pessoal.
Com essa vasta variedade de
“auxílios” no contexto
aconselhamento pastoral queremos
enfatizar quatro “linhas mestras” de
cuidado pastoral que figuram entre os
cristãos, estruturadas na Palavra de
Deus, no relacionamento, na vida
interior e no passado. Esses
conceitos serão centrados em Cristo,
inspirado no Espírito Santo e
respaldado na Bíblia.
As palavras gregas nouthétesis
/noutehsia, que transliterado é
conhecido como “noutético” em
português, equivale a “admoestar”,
“exortar” e ensinar. É uma expressão
rica de significação e não possui
equivalente exato em nossa língua.
Em Colossenses, capítulo 1, verso 28
está escrito: “A quem anunciamos,
admoestando a todo o homem, e
ensinando a todo o homem em toda a
sabedoria; para que apresentemos
todo o homem perfeito em Jesus
Cristo” – R. A.
Nesse texto a palavra “noutético”
(admoestar) revela tanto um poder
teórico quanto prático. Não seria algo
que se sabeatravés de Deus, mas
algo que tem o poder de renovar
minha mente e consequentemente,
alinhar a minha vontade a Dele.
Ao conselheiro que “beber dessa
fonte” explicitará três aspectos
principais de problemas no
os
aconselhando: a influência do poder
das trevas, o pecado pessoal e
enfermidades físicas. Esses aspectos
estão inter-relacionados entre si e
nenhum deles é desprezado, mas
tratados à luz da revelação de Deus.
do
Em 2 Timóteo, capítulo 4, verso 2,
está escrito: “Prega a Palavra, insta,
quer seja oportuno, quer não, corrige,
repreende, exorta com toda a
longanimidade e doutrina” – R. A.
Esse texto serve de base para
sustentar um estilo mais confrontador
no aconselhamento. O apóstolo
Paulo instrui a seu discípulo Timóteo
para que o mesmo use as Escrituras
concretamente, de acordo com os
propósitos “noutéticos” que lhe estão
disponíveis.
O aconselhamento bíblico precisa ser
executado em uma atmosfera de fé,
esperança e amor (1 Coríntios 13.13),
na dependência da Palavra de Deus
e em conformidade com três
princípios, a saber:
• Ouvir / falar – o ouvir aqui é
compreendido como uma
 resposta da pessoa em sua • Pensar / compreender – em
totalidade e o falar é o que se exercitam uma
feedback (efeito retroativo) sabedoria piedosa e um
que inclui a ação verbal do espírito de discernimento.
próprio Senhor.

• Confessar / aceitar – a
Para indagações se há um sistema
aceitação do aconselhando
perfeito de aconselhamento pastoral,
por parte de Cristo, sem
poderíamos afirmar que esse sistema
justificar o pecado do mesmo,
de valores encontra-se dentro da
prepara o caminho da
Palavra de Deus. Junto com seu
confissão, do perdão e da
sistema de valores, há o Espírito
purificação.
Santo, o qual convence, fortalece e
equipa para a obra do ministério.

O Aconselhamento Interativo

“Levais as cargas uns dos outros e assim, cumprireis da lei de Cristo”

(Gálatas 6.2).

são componentes fundamentais para

Em toda a história envolvendo
a interação satisfatória.
aconselhamento há certa ponte de
comunicação bidirecional, ou seja, a Muitos conselheiros cristãos
interação daquele que cura e o que é defendem o contato face a face em
curado, entre o orientador espiritual e seus métodos de aconselhamento.
o discípulo, entre o que media o
Os objetivos gerais do
perdão e o perdoado, entre o pastor e
aconselhamento interativo são
a ovelha apoiada. Está no âmago do
descritos pela maioria de estudiosos
processo o relacionamento entre
como sendo alvo para o crescimento,
conselheiro e aconselhando, inclusive
libertação e integridade. Esses alvos
da perspectiva totalmente científica,
que se sobrepõem devem ser
ou seja, terapeuta e paciente. A
perseguidos de forma pessoal,
qualidade e característica das partes
relacional e institucional.

Aconselhamento Pastoral - 30
A Cura Interior
“Todos nós nascemos originais e morremos cópias” (Carl Jung).
Posto que haja pedante coincidência
entre aconselhamento bíblico e
relacionamento, não se deve ignorar
a diferença de tônica. No primeiro
caso, vemos um enfoque mais
cognitivo e comportamental e, no
segundo caso, há um forte
pessoalismo.
A maioria das práticas de terapia
apresenta naturalmente dimensões
sobrenaturais relevantes, mas é na
“digressão ao interior” que
encontramos maior reverberação com
o transpessoalismo de Carl Jung.
Carl Gustav Jung – psiquiatra e
psicoterapeuta suíço (1875–1961)
responsável pela psicologia analítica.
Uma de suas propostas foi o conceito
“Pois Tu formaste o meu interior, Tu me teceste no seio de minha
mãe” – Salmos 139.13.
de personalidade extrovertida e
introvertida.
Adeptos das teorias de Jung afirmam
que sua cosmovisão é fundamental,
incluindo nossos dias para o
aconselhamento pastoral em razão
de ser semelhante a visão que Jesus
usou quando esteve entre os homens
e também dos primeiros chamados
“pais da Igreja”. Quando Jesus em
seus discursos envolvendo
aconselhamento tornou “acessíveis”
as “profundezas misteriosas”, é nesse
ponto que Jung se faz necessário
com seu modelo. Este que pode ser
definido como aquelas ideias inatas
do inconsciente que organizam a
experiência em padrões
predeterminados.
Aconselhamento Pastoral - 31
JESUS – MODELO DE CONSELHEIRO

“Ele se tornou aquilo que somos para que pudesse fazer de nós
aquilo que Ele é” (Atanásio).

aconselhamento abrange todas as

Caro aluno queremos concluir esse
percepções, conhecimento,
texto fazendo menção à pessoa do
sagacidade e “vãs sabedorias”. O
Senhor Jesus. Como transmutar em
conselheiro cristão deve ter
palavras Suas obras, Seu ensino,
convicção que Jesus como
Seus aconselhamentos, Suas
paradigma é capaz de transmitir
máximas? Gostaríamos de epitomar
conselhos profundos e oportunos a
alguns encontros entre Jesus e as
quem necessitar. Cada faceta de
pessoas necessitadas, explícitas nas
quem Jesus É – Rei, Salvador, Filho,
Escrituras Sagradas.
Libertador, Servo, Ungido, etc. –
O relacionamento de Jesus com poderia ser estudada com rendimento
aqueles que O acompanhavam era extraordinário. No entanto, queremos
envolvido pela compreensão que o versar em quatro feições de Seu
Pai lhe concedeu a respeito da ministério frente às pessoas: Profeta,
natureza humana. Sua Teologia e Pastor, Sacerdote e Paracleto.
Sua Antropologia eram cirúrgicas.
• Profeta – “E entrando ele em
Destarte o conselheiro pastoral deve
Jerusalém, toda a cidade se
tomá-Lo como paradigma principal
alvoroçou, dizendo: Quem é
em sua tarefa dentro de sua missão.
este? E a multidão dizia: Este
Entenda-se que “paradigma”, nesse
é Jesus, o profeta de Nazaré
caso, refere-se a uma pessoa ou obra
da Galileia” – Mateus 21.10,11
que serve para pautar uma
– N.V.I.
“construção” posterior.
• Pastor – “Eu Sou o bom
É a medida que tomamos Jesus
pastor e o bom pastor dá a
como “modelo” único de conselheiro
vida pelas ovelhas” –João
e da forma pela qual Ele tratou as
10.11 – N.V.I.
pessoas necessitadas que nossas
conjecturas, objetivos e métodos • Sacerdote – “Tu és meu Filho;
podem ser eficazes, deixando de lado Eu hoje te gerei; e revela em
todo padrão de teorias pouco outra passagem: Tu és
eficientes. sacerdote para todo o sempre,
conforme a ordem de
A sabedoria pela qual Jesus tratou as
Melquisedeque” – Hebreus
pessoas nos processos de
5.5,6 – N.V.I.

Aconselhamento Pastoral - 32
 • Paracleto – “Quem é que qual está à direita de Deus e
condena? Pois é Cristo quem também intercede por nós” –
morreu, ou antes, quem Romanos 8.34 – N.V.I.
ressuscitou dentre os mortos o

O “COACHING CRISTÃO”: O DESENVOLVIMENTO DO

INDIVÍDUOESEUS RESULTADOS

“coaching” começou a figurar naquele

O que é “coaching”? tempo, ilustrando o “cocheiro”
Em inglês, o termo “coaching” (dirigente de carruagens – “coche”).
(treinador – coach) pode ser Alguns desses “cocheiros”
traduzida também por “instrutor”.O acumulavam a função de treinar
coaching assinala uma dinâmica de cavalos para que esses fossem
formação pessoal em “instruir” seu usados para puxar os “coches”.
“educando” (coachee – cliente, aluno)
Em tempos remotos, como conceito,
a atingir níveis avançados em o coaching nasce no meio acadêmico
determinadas áreas de sua vida. Em
nas Universidades dos EUA,
português, essa locução tem sido indicando um curador (tutor)
utilizada para indicar “o processo de
particular. Nesse contexto, o
treinamento pessoal de subordinados coaching preparava seus alunos em
em liderança secular” -
determinadas disciplinas com um fim
wordreference.com.
específico (provas, concursos e
Não cabe uma tradução literal, afins). Esse conceito foi sendo
porque a palavra “treinador” não tem ampliado e apadrinhado pela
a mesma conotação em português e linguística, estendendo-se para
não existe uma palavra simples que outras frentes, tais como times de
expressa a atividade de um futebol americano, basquetebol,
“treinador” como existe em inglês. atletas em particular, atores e atrizes,
“líder capacitador” é outra tradução cantores, empreendedores, etc. O
viável em nossa língua. papel principal do coachem todas
essas frentes é impelir, estimular,
encorajar, enfim, motivar seu “aluno”
a alcançar seus objetivos através de
Vocábulo, conceito e ofício:
técnicas envolvidas direta e
Recorrendo à história, defende-se a indiretamente no processo de
ideia que na Idade Média o vocábulo assimilação.

Aconselhamento Pastoral - 33
No que tange ao ofício de
coaching,apelamos para uma visão
panorâmica de todo esse processo,
que de certa forma torna-se relativa
pela pluralidade de desenvolvimentos
do termo coachingque temos
disponíveis na contemporaneidade.
Recorrendo à plataforma americana
(o vocábulo, o conceito e ofício
suscitado nos EUA como vimos), são
três passos dentro do processo de
coaching, a saber:
• Aconselhamento
(counseling): pode ser
também traduzido ou
entendido como “discipulado”
em alguns contextos.
• Coaching: é o capacitador,
aquele que treina, que motiva,
que ajuda a alcançar níveis
superiores em determinadas
interfaces da vida.
• Mentoria:do inglês mentoring,
o vocábulo refere-se “a
inteligência por traz de um
plano; um pensador que
desenvolve a estratégia para o
sucesso num
empreendimento; pessoa que
orienta, aconselha, ensina ou
guia”(wordreference.com).
No que diz respeito ao “mentor”
recorro à origem dessa nomenclatura
na Filosofia. Encontra-se na mitologia
grega. Na obra “Odisseia” de
Homero, Ulisses, grande herói,
confiou a guarda de seu filho,
Telêmaco, ao seu melhor amigo,
Mentor, antes de partir para a guerra
de Tróia. Mentor ficou responsável
por ensinar Telêmaco “não somente
os ensinamentos contidos em livros,
mas também conhecimento do
mundo”. A tarefa de Mentor era
providenciar a educação não só na
mente, como também na alma e no
espírito, ou seja, uma educação em
sabedoria e não somente em
informação, preparando ele para
assumir o papel do pai no comando
de suas terras se ele porventura não
retornasse. Há muito tempo, a
“mentoria” é conhecida no contexto
acadêmico, processo pelo qual um
professor adota um aluno investindo
nele e o auxiliando a avançar para
outros aprendizados.
Na contemporaneidade, o termo foi
estendido para outras atividades, tais
como, empresas, artes, IGREJAS,
economia, etc.
Portanto, fazendo uma conexão entre
as três expressões:
• Aconselhamento
(counseling) – clarifica
opções numa altura de crise
pessoal do aconselhando
ajudando o mesmo de maneira
rápida e pontual através do
aconselhamento.
• Coaching – desbloqueia dons
e habilidades já existentes no
aconselhando.
• Mentoria – aquisição de
sabedoria e preparo para
possibilidades em potencial.
Aconselhamento Pastoral - 34
Diferença básica entre “coaching Quais os benefícios que o
secular” e o “coaching cristão” coaching pode oferecer?
São diferenças “estreitas” entre o
Indubitavelmente são inúmeros
“coaching secular” e o “coaching
benefícios de ser e de se ter um
cristão”. Enquanto o primeiro enfatiza
“coaching cristão”. Queremos
através de ferramentas e técnicas o
enumerar apenas cinco em nosso
desenvolvimento de pessoas a
conteúdo:
alcançarem seus objetivos de ordem
profissional, social, familiar, dentre • O “coaching cristão” promove
outros, visando à felicidade e desenvolvimento e
realização pessoal, percorrendo competências a título pessoal;
valores éticos e práticos, esse último,
tem como meta usar ferramentas e • O “coaching cristão” promove
técnicas básicas em um processo de desempenho individual e
avanço e conquista de objetivos, coletivo;
visando descobrir o “propósito de
• O “coaching cristão” motiva
Deus” e, consequentemente,
pessoas a impactar ambientes
encontrar a felicidade e realização
e ser agentes de mudanças;
para si, segundo os princípios das
Escrituras Sagradas em um contexto • O “coaching cristão” auxilia
eclesiástico. Seus valores éticos têm pessoas em modificar
o alicerce em Cristo. O coaching “sonhos” em objetivos
secular tem sua proeminência mensuráveis;
totalmente voltada e centrada no
indivíduo (visão humanista); já o • O “coaching cristão”
coaching cristão tem sua notabilidade correlaciona identidade,
em Cristo a qual se revela no ser realização e propósito.
humano (visão cristocêntrica) – Prof.
Emerson.

Aconselhamento Pastoral - 35
Algumas propriedades
cristão”:
“Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu
nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar-se de
tudo quanto vos tenho dito” (João 14.26 – R. A).
O evangelista João registra nesse
texto uma “espécie” de estratégia
para os seus discípulos. O Espírito
Santo (coaching) daria continuidade
ao Seu ministério, liberando poder
aos discípulos para que os mesmos
crescessem na graça e no
conhecimento de Deus em Cristo e
encorajassem outros a percorrer esse
caminho durante tempos complexos e
desafiadores. Características de um
“coaching cristão”:
Objetivos Claros:
• Ser proativo;
• Ter empatia;
• Ser sinérgico;
• Administrar com excelência os
recursos materiais;
• Administrar com excelência o
tempo.
O coaching cristão deve prezar por
dois aspectos norteadores em suas
do “coaching
tarefas cotidianas: as questões
URGENTES e as questões
IMPORTANTES. As primeiras são
questões que requerem atenção
imediata. O indivíduo precisa deixar
de fazer algumas coisas para atender
essa inquisição. Já as últimas
referem-se a questões que podem
ser dissecadas mais paulatinamente.
Normalmente são questões
relacionadas a resultados. A essência
da gestão efetiva do tempo é
organizar e executar nossas
atividades de acordo as prioridades
bem equilibradas.
O coaching é um processo que
produz mudanças positivas e
duradouras em um curto espaço de
tempo. Todo o processo de coaching
visa desvendar de forma clara e
objetiva os pontos individuais de cada
qual e potencializar a autoconfiança
ao mesmo tempo em que se quebram
barreiras de limitação fazendo dessa
forma o indivíduo atingir seu potencial
máximo e alcançar metas de forma
intencional.
Aconselhamento Pastoral - 36
CONSIDERAÇÕES FINAIS
frentes de determinadas
De fato, há vasto material sobre
igrejas,valendo-se do conhecimento
aconselhamento pastoral disponível
científico para uma tarefa eficaz e
àqueles que direta e indiretamente
exitosa na atividade do
estão envolvidos com tal atividade,
aconselhamento, tem sido crescente
dentro de seus respectivos
na última década. Entrementes, há
ministérios. Penso que há
alguns líderes religiosos que resistem
necessidade de uma dialética entre
à apropriação do conhecimento
Teologia e Psicologia, o que, de certa
científico para um aconselhamento
forma, abre espaço para
mais eficaz. É preciso fazer alusão a
investigações e pesquisas posteriores
“hipermodernidade” e sua “exigência”
nas esferas biológica, sociológica,
no que tange a novas experiências,
psicológica, filosófica e espiritual,
novos desafios e aprofundamentos. A
levando-se em consideração o ser
cada dia somos desafiados com
humano como um todo e não um ser
novas situações e o líder religioso
fragmentado, dividido em subáreas
não pode limitar-se apenas ao
de interesse especializado.
“conhecimento bíblico” e deixar de
Reputar o aconselhamento a uma lado as múltiplas possibilidades
tarefa de sensibilidade e amor disponíveis.
possivelmente beneficiará de maneira
Toda e qualquer informação para
colossal muitas pessoas quem têm
agregar o aconselhamento pastoral
em seus conflitos diversificados os
deve ter cunho consciente e honesto
maiores obstáculos para seu
concernente à fé que se professa e a
crescimento espiritual. Muitas
deferência das Escrituras Sagradas.
pessoas buscam “ouvidos” para as
A dialética entre Teologia e Ciência
ouvirem e empatia para caminhar
nessa conjectura deve ser ponderada
com auxílio de alguém, dessa forma,
com o propósito de opulentar o
libertarem-se de “algemas” que ferem
cuidado com pessoas em crise,
a alma e impedem de efetuar “seu
fragilizadas e que se negam em
papel no mundo”.
continuar nesse estado de
O interesse de líderes religiosos e escravidão.
daqueles que estão envolvidos em

Aconselhamento Pastoral - 37
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Aconselhamento Pastoral - 40